Primeira Edição do Campus 2/2009

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Campus SEGUNDA-FEIRA - Brasília, 28 de setembro de 2009 | Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE | ANO 39, EDIÇÃO 339 UnB investe menos de 2% nos campi Dos R$ 28,8 milhões previstos para Ceilândia, Gama e Planaltina no orçamento de 2009, apenas R$ 425 mil foram utilizados até agora 3 Vendedores dizem não Mais baladas GLS Polêmica URP Violência na CEU Maioria dos comerciantes do Minhocão se opõe ao fim do Ceubinho e Udefinho. Projeto será implementado em 2010 Nos últimos dois anos, foram feitas pelo menos cinco transferências de alunos ameaçados na Casa do Estudante 4 7 A discussão por trás das siglas que quase pararam a UnB neste semestre Aumenta número de paradas, concursos e público em festas na capital 4 Ana Carolina Seiça Pág 5

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O Campus é o jornal laboratório da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, produzido pelos alunos do sexto semestre. O jornal é feito pensando nos leitores. Ajudem-nos a melhorá-lo. Mandem suas críticas e sugestões para o email [email protected]

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Campus SEGUNDA-FEIRA - Brasília, 28 de setembro de 2009 | Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UnB | WWW.FAC.UNB.BR/CAMPUSONLINE | ANO 39, EDIÇÃO 339

UnB investe menos de 2%

nos campiDos R$ 28,8 milhões previstos para Ceilândia,

Gama e Planaltina no orçamento de 2009, apenas R$ 425 mil foram utilizados até agora

3Vendedores dizem não Mais baladas

GLS

Polêmica URP

Violência na CEU

Maioria dos comerciantes do Minhocão se opõe ao fim do Ceubinho e Udefinho. Projeto será implementado em 2010

Nos últimos dois anos, foram feitas pelo menos cinco transferências de alunos ameaçados na Casa do Estudante

47A discussão por trás

das siglas que quase pararam a UnBneste semestre

Aumenta número de paradas, concursos e público em festas na capital

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Ana Carolina Seiça

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Perspectiva

O inexorávelANA RITA CUNHA

EDEMILSON PARANÁ

MARIANA TOKARNIA

Ombudskvinna*

*Ombudskivinna, feminino de Ombudsman. Na imprensa, pes-soa que analisa o jornal do pon-to de vista do leitor

Carta do editor

Carta do leitor

Expediente Opinião

Editora-chefe: Mel Bleil GalloSecretário de Redação: Guilherme OliveiraDiretor de Arte: Heitor AlbernazDiagramação: Juliana Reis, Laís Miranda, Marcela Ulhoa, Marcella Cunha, Marina RochaFotografia: Rafaela Felicciano (editora), Ana Carolina Seiça,Fabiana Closs, Lucas Leon, Ludmilla AlvesPerspectiva: Mariana Tokarnia (editora)Cotidiano: Cláudio Vicente (editor), Alessandra Watanabe, Maíra MoraisContexto: Isabela Horta (editora), Camila Santos, Mariana Niederauer, Rafaella Vianna, Renata Zago, Plácida Lopes, Vanessa VieiraLaboratório: Priscila Crispi (editora), Bárbara Lopes, Verônica HonórioBloco C: Gabriel de Sá (editor), Luana Richter, Mariana de Paula, Mariana HaubertContra Capa: Igor Miguel (editor), João Paulo Vicente, Ludmilla AlvesProjeto Gráfico: Ana Clara Martins, Heitor Albernaz, Juliana Reis, Laís Miranda, Marcela Ulhoa, Marcella Cunha, Marina RochaRevisão: Ana Clara Martins, Manuela Marla, Tiago PadilhaProfessor responsável: Solano NascimentoJornalista: José Luiz SilvaMonitor: Leonardo MunizSuporte Técnico e assistência em Fotografia: Pedro FrançaIlustrações: João Francisco Teixeira, Luisa Malheiros

Campus Darcy Ribeiro, Faculdade de Comunicação, ICC Ala Norte.Contato: (61) 3307-2519 Ramal 207/241 – Caixa Postal 01660 CEP: 70910-900 - [email protected]

Nada original. Hoje, os professores e ser-vidores encaram a possibilidade de uma redução salarial e ameaçam paralisação.

Sabemos que isso não é algo inédito na UnB. A edição nº 246, de maio de 2000, do Campus traz na capa uma grande interrogação: entrar ou não em greve? A pergunta se desfez em 2001, quan-do 60% dos funcionários cruzaram os braços em busca principalmente de reposição das perdas sa-lariais acumuladas entre 1995 e 1999. O resulta-do foi positivo, houve a incorporação da Gratifi-cação de Atividade Executiva (GAE) às folhas de pagamento. Nesse período, a tradição da greve seguia os anos pares. Antes, ela deu as caras em 1996 e 1998. Os últimos foram ímpares, 2003, 2007... E dessa vez, voltamos aos pares?

Campus 40 anos

O Campus deve voltar seu olhar mais profun-damente para o universo

acadêmico e a comunida- de que o cerca. Pensar na criação, na experimenta-ção aberta e pedagógica do fazer jornalístico, sem esquecer que presta im-

portante serviço à comuni-dade acadêmica: informa-ção. Esse serviço demanda grandes responsabilida-des. Espero encontrar no Campus um jornalismo

cada vez mais contamina-do pelo verdadeiro espíri-to universitário.

Ao longo das edi-ções, a equipe do primeiro semestre

de 2009 do Campus rea-lizou um belo exercício de tirar a terceira perna para conseguir andar. Entretan-to, no n°338 do Campus, o grupo colou a perna de volta e fez um jornal tripé firmado no clichê, na fór-mula pronta e na superfi-cialidade.

A matéria de capa par-te de um ótimo assunto,

mas fica perdida ao apon-tar os responsáveis pela falta de assistência médica em Formosa. Além disso, a fonte base para pesqui-sa é o banco de dados do Ministério da Saúde, Da-tasus, o mesmo usado em duas matérias de edições anteriores. A galinha dos ovos de ouro acaba por explicitar mais a pregui-ça dos repórteres que o caráter investigativo do grupo.

Outra fórmula pronta aparece nas matérias de ciência. Elas mantêm o

esteriótipo de que ciência existe apenas na área das ciências exatas e da saúde. O caminho mais fácil tam-bém é o que os repórteres usam para escrever sobre meditação, na editoria de Comportamento e sobre teatro de improviso, na de Cultura. As matérias pou-co acrescentam ao leitor e detêm-se em um caráter mais publicitário que jor-nalístico.

Na matéria sobre os re-sidentes na CEU (Casa do Estudante Universitário), o jornal não vai além do

óbvio e pouco acrescenta sobre a complexa questão que existe no local. É la-mentável também que o assunto tenha menos es-paço que a matéria super-ficial sobre o aumento do lucro do comércio próxi-mo aos campi da UnB. Fa-zer um jornal é difícil, pois, inexoravelmente,pensar dói, mas para que serve um jornal acéfalo?

Eles são elegantes. Pelos corredores da UnB, os homens andam sempre de terno e gravata e as mulheres de salto alto e maquiagem. Estudam no

chamado “Olimpo”, que como se já não bastasse ser separado do Minhocão por uma longa rampa, ainda abriga salas com ar condicionado e cadeiras acolcho-adas. Mas, recentemente, eles, que pareciam distantes, desceram do monte sagrado para se juntar à voz do movimento estudantil. O motivo é simples: atingiram o calcanhar de Aquiles, os futuros advogados dobrarão em número a partir do semestre que vem.

O caso do Direito é um claro reflexo de como estu-dantes estão lidando com o Reuni. Embora saibamos que mais vagas devem ser criadas e que um novo mode-lo de universidade é quase um grito de desespero, não queremos perder o conforto físico, piorar o que já não temos, e muito menos lotar a agenda dos professores. No entanto, no caso do Direito, serão contratados a partir do semestre que vem 10 novos professores, o que, dividido para os novos 60 alunos, dá um professor para cada seis estudantes no primeiro semestre. Um número bem inferior ao que é exigido pelo MEC.

Estamos em um momento bastante crítico para a universidade e não apenas para a UnB, mas para as 41 federais que aderiram ao projeto. É possível e quase ine-vitável que a mudança seja desconfortável, que tempora-riamente as salas fiquem cheias e que o ar condicionado não chegue a todos. Devemos continuar pressionando a Universidade, exigir qualidade e infra-estrutura, e que essa situação seja de fato temporária. Abriremos mão do nosso bem estar, mas queremos uma resposta da ins-tituição.

Os deuses de paletó

Aluno do 5º semestre de Jorna-lismo da UnB

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O Campus é diferente de qualquer jornal. É um espaço destinado à experimentação e ao apren-dizado. Às vezes, é difícil alcançar unidade na

equipe do sexto semestre do curso de Jornalismo. No entanto, a vontade de mostrar o que outros veículos não publicam fez a diferença.

Ao contrário do que ocorre na maioria dos estágios em redações, no Campus podemos aprofundar nossas reportagens. Só assim foi possível descobrir os ínfimos gastos aplicados na expansão universitária, conhecer melhor a realidade da CEU e até explicar, enfim, os pro-blemas por trás dos salários dos professores.

A experiência do Campus não se restringe a grandes furos. O papel social do jornalista também é debatido nas aulas. Reativamos o Conselho de Leitores do jor-nal, de forma a ampliar o debate com a comunidade acadêmica. E enfrentamos o polêmico dilema da impar-cialidade. Até que ponto o jornalista pode estar pesso-almente envolvido com sua pauta? Essa é a pergunta que vamos tentar responder ao longo do semestre. Não perca as próximas edições!

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Gráfica Guiapack - 4000 exemplares

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Cotidiano

Projeto de transferência deixa a maioria dos vendedores insatisfeita

MAÍRA MORAIS

A novidade que veio em forma de boato ao campus Darcy

Ribeiro pareceu não agra-dar muito aos comercian-tes do Instituto Central de Ciências (ICC): o Ceubi-nho e o Udefinho vão aca-bar. Três prédios serão construídos no segundo semestre de 2010 para substituí-los. A notícia de que o projeto, criado em 1985, sairia do papel tor-nou-se pública há um mês. A maioria dos vendedores é contra a mudança.

Levantamento feito pe- lo Campus localizou 18 vendedores atuando nos dois locais de comércio. São sete lanchonetes, três copiadoras, duas bancas de revista, duas papela-rias, uma livraria, uma loja, uma banca de açaí e uma doceria. Desses 18 vendedores, 11 (61%) são contra a transferência, e os sete restantes se dividem entre a favor e indecisos.

Muitos vendedores a-cham que a distância dos prédios, que ficarão fora do Minhocão, vai diminu-ir as vendas. E mais: nin-guém garante que não se-rão outros a ocupar o no-vo espaço, já que vai ser feita uma licitação. “Na é-

Uma quadra que tira férias Comerciantes da 406/407 Norte dependem tanto da UnB que poderiam parar junto com ela

Fim do comérciono Minhocão

ALESSANDRA WATANABE

Agosto a novembro. Gente entrando e saindo, descendo

do ônibus, indo a pé. Di-nheiro, cartão de crédito, vale refeição. Dezembro a março. Funcionários pa-rados, dívidas crescendo e poucos clientes. O co-mércio local da 406/407 Norte é sazonal e muito dependente da UnB. É o

que mostrou levantamento feito pelo Campus, entre os dias 3 e 9 de setembro, com os 83 estabelecimen-tos em funcionamento.

A menos de um quilô-metro do Minhocão estão restaurantes, salões de be-leza, livrarias, lojas de in-formática e de artigos es-portivos. Das 62 empresas que responderam à pesqui-sa, 35% poderiam até falir sem a presença da Univer-sidade, uma vez que 40%

ou mais de sua receita de-pende dela. Quase a meta-de dos restaurantes dali se encontra nessa situação.

“De toda a minha clien-tela, 60% são estudantes, professores e servidores da UnB. O restaurante foi co-locado aqui com o pensa-mento na Universidade”, conta Wellington Rios, pro-prietário do Ki-Sabor. Ele se queixa da significativa queda do movimento nas férias, 40%. Os cursos de

verão e o funcionamento de alguns serviços nos de-partamentos não são sufi-cientes para manter as lo-jas nessa época. A situa-ção é tão extrema que, na avaliação de estudiosos em economia comportamen-tal, como Paulo Loureiro, compensa fechar as por-tas junto com a UnB. “Há empresas que pagam para trabalhar e acabam crian-do ou aumentando dí-vidas”, explica Loureiro.

Cerca de um quarto das empresas reclama da redu-ção ou até mesmo da ine-xistência das vendas quan-do o semestre letivo chega ao fim. Questionado sobre o que acontece nesses me-ses, Rodrigo Borges nem precisa pensar muito. “Dí-vidas, só dívidas”, garante o funcionário da Planet Cópias, que conta com os alunos em 80% de seu fa-turamento. Copiadoras, que lideram o ranking das que são mais prejudicadas

com a ausência dos compra-dores universitários, jun-tamente com os estabele-cimentos de alimentação (confira no gráfico).

Para Roberto Ellery, professor do Departamen-to de Economia da UnB, o impacto refletido na pes-quisa é inegável. “Um ter-ço dos estabelecimentos reportam 50% ou mais de sua receita vindo da UnB. É um comércio com uma demanda maior e garan-tida se comparado com o de outras quadras”, afir-ma. Porém, para Ellery, o problema dessa dependên-ia não está nos fins de se-mana nem nas férias, mas nas greves da instituição. “Não é problema sua re-ceita se concentrar em al-guns meses do ano.”

Essa é a chamada sua-vização do consumo, ex-plica Ellery. “O lojista se endivida quando o co-mércio está em baixa e se capitaliza quando está em

poca de chuva ninguém vai sair do Minhocão para tirar xerox. Vão deixar pa-ra xerocar em outros lu-gares. Não adianta melho-rar a estrutura, se não tiver para quem vender”, preo-cupa-se Benonis Piassava, funcionário da LM Comu-nicação Visual.

Para se garantirem no novo espaço, alguns ven-dedores já estão se mobi-lizando. “Será criada uma associação dos permissio-nários para discutir isso. Nós também fazemos par-te da UnB”, informa o do-no do Caloria Certa, Feli-pe Jaber. Porém, outros nem enxergam essa reali-dade, como Neide Quei-roz, da Unibanca, que, simpática, fica séria ao to-

car no assunto. “Nem sei se vai haver mesmo essa mu-dança. Merecemos um co-municado, por respeito, e a Universidade não avisou nada”, reclama.

Talvez o aviso espera-do seja somente o da lici-tação, no Diário Oficial. A transferência dos permis-sionários e os critérios le- gais de escolha estão a car-go da Secretaria de Ges-tão Patrimonial (SGP) da UnB, mas a análise dessas questões ainda não co-meçou. “Não há previsão para a apresentação ofici-al do novo plano aos co-merciantes e alunos”, ex-plica José Augusto Abreu, diretor da SGP.

Longe dessa discussão,o arquiteto do Centro de

Planejamento Oscar Nie-meyer (Ceplan), Alberto Faria, responsável pelo projeto dos novos prédios, acredita que a transferên-cia trará mais conforto aos estudantes e vendedores. “Quando há concursos e eventos, eles são obriga-dos a fechar. Se estivessem em um bloco específico e adequado, poderiam ficar abertos”, afirma.

A principal explicação para a demora de 23 anos na execução do projeto é a falta de recursos. Com o Reuni (Programa de Rees-truturação e Expansão das Universidades Federais) e o consequente aumento na quantidade de alunos, o dinheiro veio. “O núme-ro total de estudantes de-

Ana Carolina Seiça

Centenas de estudantes passam pelo Ceubinho todos os dias. Poucos sabem sobre o seu fechamento

““Aspas

ve dobrar até 2012”, afir-ma o prefeito da UnB, Sil-vano Pereira.

Cada bloco do novo co-mércio vai custar R$ 1,1 milhão e terá espaço para três lanchonetes equipa-das com cozinha e encana-mento (atualmente nenhu-ma loja tem isso), seis lojas para outros serviços, ves-tiários e bicicletário. Um bloco ficará próximo aos

pavilhões, outro ao lado do novo prédio do Institu-to de Química, e o último, perto da entrada do ICC Norte. Alberto Faria acre-dita que a novidade não vai diminuir a freqüência dos alunos nas lojas. “Es-ses lugares ficarão a cerca de dez metros de distância de onde já há lanchonetes. Não fará tanta diferença”, reitera o arquiteto. •

O ideal seria tentar regu-larizar o espaço onde os vendedores estão. Em vez de substituir, deve-se com-plementar. RAUL CARDOSO Coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE)

A construção desses novos prédios é necessária, mas as pessoas que já têm estabe-lecimento na UnB deveri-am ter seu espaço garanti-do. COSMO BALBINOCoordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub)

É possível fazer um proces-so transparente e demo-crático que pode dar pre-ferência às pessoas que já ocupam o minhocão. FLÁVIO BOTELHO Presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (Adunb)

FOTOS: Fabiana Closs

alta. Os comerciantes vi-vem assim e se programam para isso. O inesperado é que traz efeitos ruins”, fi-naliza. Apesar das exce-ções, a regra da 406/407 é ter dinheiro de gentebem próxima entrando em seus caixas, geralmente daUniversidade de Brasília. Muitos fazem cálculos de quanto perderiam se es-tivessem em uma outra quadra qualquer.

Mesmo contando com lojas que não dependem diretamente da UnB, o co-mércio dali não pode, de forma alguma, desprezar seu valor. Nos 200 dias le-tivos, um único restauran-te chega a faturar mais de R$ 700 mil. Destes, quaseR$ 600 mil vêm da comu-nidade acadêmica, consi-derando um gasto diário de R$ 9 por consumidor. Pelos dados de apenas um estabelecimento, já se tem uma noção do potencial da quadra. •

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* Farmácia, pet shop, escritórios, distribuidora

Dependência da UnB Confira o percentual máximo de receita que cada segmento do comércio recebe da comunidade universitária

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A cicatriz no braço de João* marca uma história violenta, de medo e ameaça. No apartamento em que morava, na Casa do Estudante Univer-

sitário (CEU), ele ouviu a sentença: “Só um de nós dois sai vivo daqui”. A ameaça partiu de André*, um rapaz que dividia o imóvel com ele. No dia seguinte, durante outra briga, André sacou uma faca de cozinha. “Só vi o sangue escorrendo”, lembra João, que levou 15 pontos no braço. O universitário foi retirado da CEU pelo De-canato de Assuntos Comunitários (DAC) da UnB, em 2007, para ter sua vida preservada.

Histórias de violência na Casa do Estudante assustam moradores

RAFAELLA VIANNA

RENATA ZAGO

Ameaçados por colegas de quarto, moradores da CEU que correm risco de morte são transferidos pela UnB

Outra “exceção”

Após várias noites sem dormir, Célia*, Daniela* e Maria* ameaçaram tornar público o que estava acon-tecendo na CEU para que a decana tomasse uma provi-dência. Maria conta que o morador mais antigo do seu apartamento, Oswaldo*, era bagunceiro e acumulava livros, revistas e jornais velhos em um canto da sala do

Nos últimos dois anos, foram registrados pelo me-nos três casos de ameaças entre moradores da CEU, que provocaram a transferência de cinco pessoas para outro imóvel da Universidade. Dois dos casos resultaram em agressões físicas. Procurados pelo Campus, os acusados das agressões não quiseram se manifestar. Os relatos nesta reportagem são as versões das vítimas.

João conta que os conflitos começaram quando, in-comodado com o barulho das conversas, festas e jogos que adentravam a madrugada, ele fez reclamações para André e outros dois universitários que moravam no apartamento. As discussões entre João e André torna-ram-se rotina. O ex-morador da CEU afirma que a gota d’água foi quando André trocou a fechadura do aparta-mento sem avisá-lo. “Os moradores falaram que eu não tinha o perfil da casa, não me queriam mais lá.”

Depois de ser ameaçado e esfaqueado, João foi dor-mir em um salão desocupado no térreo do edifício da CEU, com autorização do Serviço de Moradia Estudan-til (SME). “Fiquei com medo de continuar morando com ele, então preferi dormir embaixo do prédio, num sofá. Me sentia mais seguro”. No entanto, a confiança de que as coisas iriam melhorar durou pouco.

Um dia, enquanto estudava do lado de fora do sa-

Uma briga de siglas TCU quer tirar URP de RTs e Gemas. UnB, Sintfub e ADUnB são contra, e caso pode acabar no STF

CAMILA SANTOS

lão, João recebeu uma pancada na cabeça e desmaiou. “Quando abri os olhos não vi ninguém, só as manchas de sangue nos papéis em cima da mesa”, lembra. Ele foi levado para o hospital e registrou ocorrência na 2ª DP da Asa Norte, mas o crime prescreveu sem que fosse encontrado culpado. André também registrou um bo-letim de ocorrência, no qual afirma ter sido agredido fisicamente por João.

Logo que saiu do hospital, João decidiu buscar ajuda com o então decano de Assuntos Comunitários da UnB, Pedro Sadi. “Percebi que precisava de proteção, estava sendo perseguido dentro de um lugar que considerava minha casa”, desabafa. Sadi providenciou um novo lo-cal para João morar, no qual o universitário vive até hoje. “Não pretendo sair daqui antes de me formar.”

A decana de Assuntos Comunitários, Rachel Nunes, afirma que situações como a de João são exceções. Ela esclarece que em nenhum dos casos a UnB acionou a polícia e que foram instaurados processos administra-tivos para resolver o problema internamente. “Nós tra-balhamos com a lei, mas nem sempre a lei é a polícia.”

O perigodorme ao lado

Percebi que precisava de proteção, estava sendo perseguido dentro de um

lugar que considerava minha casa

qual ninguém podia se aproximar.Oswaldo acordava perto das 5h30 para trabalhar.

No banheiro, fazia “barulhos altos e esquisitos” e ficava escarrando. Não ajudava a comprar nada para o apar-tamento e também não limpava. “Tudo empilhado em cima da cama, no chão, tudo sujo. Era todo dia isso”.

Segundo a universitária, Oswaldo dizia que ela o es-tava perseguindo e que aquilo não iria ficar assim. “Fi-camos com medo de dormir sozinhas com ele. Fomos ao porteiro avisar que, se ele escutasse alguma coisa, podia chamar a polícia.” Oswaldo chegou a defecar so-bre a tampa do vaso sanitário e disse às meninas: “Da próxima vez, vou fazer no chão”.

Incomodada, Maria procurou o então diretor do De-partamento de Desenvolvimento Social (DDS), Rubens Campos, que a encaminhou ao Decanato de Assuntos Comunitários, com relatos dos acontecimentos e fotos do local. “No dia da Aula da Inquietação, ameacei a de-cana. Disse que ia pegar o microfone e ‘rodar a baiana’.Ela nos levou à reitoria, conversamos e ficou acertado que Oswaldo sairia em 15 dias.”

A UnB providenciou hospedagem para as meninas e durante um mês elas moraram fora da CEU. Só volta-ram quando Oswaldo foi despejado. Depois de trocadas as fechaduras, Maria pôde finalmente dizer: “Eu sentia ódio e medo dele. Era uma pessoa capaz de fazer qual-quer coisa, não quis esperar que fizesse algo comigo”. O Decanato de Assuntos Comunitários pretende fa-zer um pedido à administração da UnB a fim de que um apartamento seja disponibilizado para alunos em situa-ção como essa. Para a diretora do DDS, Maria Terezi-nha da Silva, a decisão de remover o aluno da CEU é de caráter emergencial. “Sabemos que tirar a pessoa não é a melhor forma de resolver, mas fazemos isso porque é uma vida que está em risco”, afirma. “Eles só foram retirados em função da situação de perigo em que esta-vam, mas estamos tentando reintegrá-los à CEU.” •

*Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos entrevistados

’Contexto

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“Com salários menores, faremos a greve”, avisa Flávio Botelho, presidente da AdUnB. Tanto a asso-ciação quanto o Sindica-to dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub) plane-jam recorrer novamente ao STF se o TCU manti-veram a decisão de cortar os salários. •

Reunidos em assembleia, professores discutem a mudança de cálculo da URP sobre seus salários

Vinícius Pedreira | Campus Online

Ana Carolina Seiça

Nas últimas sema-nas, referências a siglas como URP,

Gemas, RTs, TCU e STF se tornaram comuns nos corredores da UnB. O mês de setembro começou com uma assembleia geral da Associação dos Docentes da Universidade de Brasí-lia (ADUnB), que aprovou um indicativo de greve e terminou com a discussão sendo adiada para 2010.

O cálculo da Unidade de Referência de Preços (URP), benefício concedi-do a todos os concursados da UnB desde 1991, é a causa de toda a polêmica. Em fevereiro, o reitor José Geraldo de Sousa incluiu a Gratificação Específica do Magistério Superior (Gemas) e a Retribuição

de Titulação (RT) no cál-culo da URP sobre os sa-lários dos professores. Em setembro, essa decisão foi cancelada pela reitoria.

O problema é definir so-bre o que calcular a URP, que equivale a 26,05%. Para o Tribunal de Contas da União (TCU), o valor deve ser calculado sobre o salário sem gratificações. Já a UnB defende o cálcu-lo sobre o salário total dos funcionários.

Caso o cálculo do TCU seja seguido na elabora-ção da folha, cerca de 1.700 docentes efetivos da Universidade poderão ter seus salários reduzidos em até R$ 2 mil. A perda esti-mada para os quase 2.500 técnicos-administrativos da UnB é de R$ 600, para os concursados de nível superior, e de R$310 para os de nível médio.

Argumentos do TCU

Em 2006, a ministra do Supremo Tribunal Fede-ral (STF) Cármen Lúcia garantiu aos professores, por meio de liminar, o pa-gamento da URP da for-ma como sempre foi feita - 26,05% sobre o salário com gratificações.

“Os professores que en-traram na Universidade após novembro de 2006 não são contemplados pela decisão da ministra Cármen Lúcia”, explica o secretário de Fiscalização de Pessoal do TCU, Ales-sandro Giuberti Laranja. “Dessa forma, eles não têm direito a receber o be-nefício da URP.”

Paulo César Marques, assessor da reitoria, escla-rece a decisão de José Ge-raldo de cancelar o cálculo da URP com as novas gra-

tificações. “O reitor seria responsabilizado pelo Tri-bunal de Contas da União caso os cálculos não fos-sem alterados”. Essa ex-plicação é contestada por Flávio Botelho. “A reitoria recuou antes da determi-nação do TCU.”

Depois de receber repre-sentantes da UnB, o con-selheiro do TCU Augusto

Nardes, relator do caso, resolveu suspender a de-cisão até uma definição do plenário do tribunal, o que não deve ocorrer antes de fevereiro do próximo ano. Até lá, serão ouvidos pro-fessores, reitoria e os ex-reitores Roberto Aguiar e Timothy Mullholland .

Os funcionários da UnB continuarão mobilizados.

Vinícius Pedreira | Campus Online

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didade.” Além disso, os kits dos calouros distribu-ídos semestralmente pela reitoria da UnB incluirão canecas. Há também a proposta de montar pon-tos de venda subsidiados, onde as canecas custariam entre R$ 0,50 e R$ 2,00.

Agora, a questão é o uso de sacos plásticos pa-ra embalar os talheres. A utilização de saquinhos a cada refeição pulou de 0,8 em 2007 para 2,26 em 2009. Só este ano, fo-ram consumidos 907 mil

Afaste de mim esse copoCom a baixa adesão ao uso de canecas, UnB cortará distribuição de copos descartáveis no RU, no próximo ano. O desperdício de saquinhos plásticos ainda é preocupante

UnB investe menos de 2% do valor previsto para as expansões dos novos campi em 2009. Decanato culpa lentidão dos processos licitatórios

MARIANA NIEDERAUER

Apesar das campa-nhas de incentivo do Núcleo da Agenda

Ambiental, vinculado ao Decanato de Extensão da UnB, o uso da caneca não contagiou os usuários do Restaurante Universitário (RU). Dados da diretoria do restaurante mostram que, em 2008, o consumo foi de 1,94 copo por refeição servida. Este ano, o núme-ro aumentou para 1,97.

MEL BLEIL GALLO

’Já se passaram mais de

oito meses do ano e dos R$ 28,8 milhões

de investimentos previstos para a expansão da UnB, os campi de Ceilândia, Gama e Planaltina, apenas R$ 425 mil foram pagos. Isso significa que foram utilizados menos de 2% do orçamento de 2009. Os dados, atualizados até o dia 14 de setembro, fo-ram obtidos pelo Campus no portal da Câmara dos Deputados, que reúne nú-meros oficiais do Sistema Integrado de Administra-ção Financeira (Siafi).

A situação é pior no campus de Ceilândia, que usou menos de 1% do previsto no orçamento. O campus de Planaltina usou pouco mais de 1%, e o do Gama foi o que mais utilizou recursos, cerca de 6%. Também é baixo o percentual de recursos empenhados, ou seja, a quantia que ainda não foi paga, mas que a admi-nistração pública reserva para determinada despesa após a conclusão do pro-cesso licitatório. Os campi de Ceilândia e Planaltina empenharam cerca de 9% dos recursos, e o do Gama comprometeu aproxima-

damente 20%. Se o em-penho não ocorrer até o final do ano os valores previstos não poderão ser utilizados pela UnB.

Recursos para investi-mentos são todos os que se referem a obras e novos projetos. Não abrangem pagamento de funcionári-os e despesas de manuten-ção. As construções dos três novos campi ainda não foram concluídas e as instalações temporárias estão no máximo da capa-cidade física. O de Planal-tina já tem um prédio pró-prio e aguarda o término da construção da Unidade Acadêmica (UAC), previs-ta para março de 2010. “Aumenta o número de alunos, mas a estrutura é a mesma. Tem que ex-pandir, mas expandir com qualidade”, reclama o estudante Felippe Dami-ão, 20 anos, aluno do 2º semestre de Gestão do Agronegócio. O vice-dire-tor do campus, Jean-Louis Le Guerroué, também se queixa. “Estamos no limi-te do espaço físico.”

No Gama, alguns alu-nos têm aula no vão da ar-quibancada do estádio de futebol Bezerrão. “É mui-to aberto. Tem projetor e tudo, mas não tem pare-de”, diz Evandro Neto, 19 anos, estudante do 3º semestre de Engenharia Eletrônica. Segundo o di-retor do campus, Alessan-dro Oliveira, a previsão é que o prédio esteja pron-to para receber os novos alunos no ano que vem. Segundo ele, dos R$ 4 mi-

lhões em investimentos no campus, R$ 3,5 milhões ainda estão em processo de licitação.

Em Ceilândia, os alu-nos também reclamam da estrutura. “Falta espaço, não cabe mais ninguém”, conta Fernanda Victorio, 21 anos, aluna do 2º se-mestre do curso de Terapia Ocupacional. A diretora do campus Diana Lúcia Pinho acredita que o es-paço onde o campus está instalado é suficiente para os alunos. “Na situação que ele está hoje, atende bem aos 720 alunos que nós temos. Para ter que fazer outro semestre, esse espaço não é suficiente”.

Promessa

Marta Emília Teixeira, assessora do Decanato de Administração (DAF), ex-plica que o processo licita-tório é demorado e acaba dificultando o empenho dos recursos. No entanto, a assessora garante que este ano os orçamentos dos três campi terão o empenho an-tes do fim de dezembro. “Estamos fazendo con-tatos periódicos com os diretores para não per-der os prazos”, afirma.

No ano passado, mais de R$ 15 milhões do or-çamento destinados a in-vestimentos no campus de Ceilândia não foram empenhados. A diretora do campus também apon-tou o atraso no processo licitatório como principal problema. “Nós corremos e fizemos a solicitação

dos equipamentos, mas o MEC (Ministério da Edu-cação) só liberou os recur-sos em dezembro. O DAF só pode liberar a licitação depois e não houve tem-po de concluir o processo licitatório”, afirma Dia-na. O Campus entrou em contato com o MEC, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

Esses recursos, porém, entraram no orçamento de 2009 como créditos adicionais e remanejamen-tos. Segundo a diretora, o MEC fez uma repro-gramação dos recursos e há dois meses eles foram acrescidos ao orçamento da UnB. Ela garante que o atraso não atrapalhou a continuidade das ativida-des acadêmicas, já que os recursos eram destinados principalmente à compra de equipamentos para o novo campus, que deve fi-car pronto apenas em ja-neiro do ano que vem.

O mesmo problema o-correu com o campus de Planaltina, que deixou de empenhar cerca de R$ 2,5 milhões do orçamento do ano passado, recursos que foram incluídos este ano em créditos adicionais e remanejamentos. Essa re-programação não é regra. Segundo a Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados, a chance de os recursos não empe-nhados em um ano serem resgatados no orçamento do ano seguinte é baixa.

O problema não é ex-clusivo da Universidade de Brasília. O Campus Fonte: DRM/UnB

Contexto

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Em 2010, o RU deixará de distribuir copos plásti-cos, e serão economizadas mais de 1 milhão de uni-dades anuais. Para An-derson Paz, estudante de Biologia e integrante do projeto de extensão Tome Consciência, isso não deve ser um problema. “Todo mundo tem copo ou cane-ca em casa e muitas vezes não traz por comodidade. Apesar de poder pare-cer impositiva, a medida serve para os estudantes questionarem essa como-

saquinhos plásticos. Cris-tiane Moreira, diretora do RU, explica que no projeto de reforma do restauran-te está sendo estudada a possibilidade de comprar carrinhos especiais para o ano que vem. Com eles, os talheres já ficam pro-tegidos e dispensam uma embalagem. “Dessa for-ma a gente acaba com o desperdício, preservando o meio ambiente, e ainda economiza com gastos em mão de obra”, explica a diretora do refeitório. •

Em Planaltina, obras de futuras instalações estão em andamento

Funcionários do RU embrulham talheres em plásticos individuais

Ana Carolina Seiça

elaborou um ranking com todas as 68 expan-sões do Ensino Superior registradas no Orçamen-to da União de 2009, e é possível constatar que 45 não usaram nem 10% do orçamento autorizado. As 11 primeiras não pagaram nada até hoje e, dessas, nove sequer tiveram re-cursos empenhados. •

Ilustração: Luísa Torres

Expansãolimitada

Vinícius Pedreira | Campus Online

Page 6: Primeira Edição do Campus 2/2009

Os ansiosos que se cuidem

Multiusos do bambu

As exigências do cotidiano transformam a ansiedade em um sério problema, muitas vezes agravado pelo contexto universitário

Pesquisa utiliza planta para fazer casas e instrumentos musicais

VERÔNICA HONÓRIO

BÁRBARA LOPES

Rafa

ela

Felic

cian

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Começou com uma latinha de energé-tico. No final do

semestre, o estudante de Direito Alípio Coelho che-gava a tomar quase oito latas de Red Bull todos os dias. A meta era conseguir ficar acordado para ler textos e fazer trabalhos. “Fui reprovado em uma matéria por falta”, diz o estudante, que depois de um tempo nessa rotina dormia tarde e não conse-guia mais acordar cedo.

Alípio trabalha duran-te o período da tarde e faz matérias de manhã e à noite na Universidade. O tempo que sobra ainda é reduzido pelo fato de mo-rar em Santa Maria, longe do campus Darcy Ribeiro. Ele aproveita a viagem de quase uma hora no ôni-bus para estudar. “Fico ansioso, pensando se vou conseguir fazer tudo o que tenho para fazer”, conta o estudante.

As pressões e as co-branças diárias têm trans-formado a ansiedade em uma doença crônica. O psicólogo Alder Bonfim explica que o sentimento é algo natural. “É uma emo-ção de todo ser humano, que ocorre em determina-dos períodos para a pes-soa ficar ligada”, explica. O problema, segundo ele, é quando a pessoa vive em um estado ansioso, trans-formando a ansiedade em patologia e interferindo nas atividades cotidianas.

A doença pode ocasio-nar sintomas psíquicos, fí-sicos e comportamentais. O ansioso tende a ficar ir-ritado facilmente, apreen-sivo, com medo de situa-ções, preocupado, sempre achando que alguma coisa ruim vai acontecer. Por fi-car em constante estado

de alerta, o sono e a con-centração acabam sendo prejudicados.

Além disso, o paciente pode apresentar taquicar-dia, falta de ar, dor de ca-beça, tremores, sudorese, vontade de ir ao banheiro constantemente e compul-são por alimentos, jogos ou sexo. A ansiedade ainda pode levar a desen-volver outras doenças re-lacionadas à emoção. “A origem da depressão em 40% a 50% das pessoas está ligada a problemas de ansiedade”, afirma o psicólogo. Fobia, trans-torno do pânico e ciúme patológico também estão relacionados.

A boa notícia é que há tratamento para a doença. “Em primeiro lugar a pes-soa precisa se ajudar. Tem que perceber a situação em que se encontra, obser-var o seu comportamento e refletir sobre como era e como está agora”, expli-ca Bonfim. Depois disso, deve procurar um psicólo-go ou psiquiatra. O trata-mento geralmente é feito à base de medicamentos e psicoterapia.

Doença e estudos

Pedro Vianna está no 11º semestre de Artes Plásticas. Há um ano ele foi jubilado do curso, por não conseguir conciliar suas atividades acadêmi-cas e profissionais. “Vie-ram muitas oportunida-des e não me programei direito. Era teatro, UnB e ainda uma bolsa perma-nência como programa-dor visual. Foi um se-mestre tenso”, conta. No semestre seguinte, voltou como aluno em condição e pegou o mínimo de cré-ditos ofertados.

Ter que realizar as ati-vidades que a graduação impõe, unidas ao traba-

lho ou estágio, é uma das principais fontes de apre-ensão. Além disso, outras características da univer-sidade contribuem para o quadro. “É um contexto totalmente diferente do Ensino Médio. Há seis ou sete professores, que co-bram de formas diversas, as cobranças pessoais e familiares, a preocupa-ção com a escolha pro-fissional, com o mercado de trabalho. Também é o lugar onde o jovem passa pela fase de transição para a vida adulta”, explica a professora de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Katie Almondes.

Em busca de resultados concretos sobre o nível de ansiedade encontrado em estudantes universitários, a professora Katie, junto com um grupo de estudos, realizou uma pesquisa em 2004 com alunos de vários cursos da UFRN. A versão final do estudo foi publicada em 2007. Os resultados demons-travam que as médias de ansiedade estavam dentro do esperado. No entanto, constatou-se que alguns estudantes apresentavam níveis a-cima do padrão.

“A pessoa pode ter um histórico que pre-dispõe àquela situa-ção, é difícil definir uma causa específi-ca”, explica a psi-cóloga Karen Wel-zenmann. Ela faz parte do Plantão Psicossocial, que funciona no Hos-pital Universitário de Brasília (HUB) e atende o pú-blico interno da UnB. Ali é forne-cido atendimen-to psicológico e psiquiátrico, na hora da necessi-dade, não sendo preciso agendar consulta. De maio a agosto deste ano, foram aten-didos 22 alunos, a maioria com algum problema relacionado à an-siedade. •

SERVIÇOPlantão Psicosocial no Ambulatório II do HUBAtendimento: segunda a sexta-feira, de 8h às 18h.

Versátil, resistente e flexível. Essas são as caracterís-

ticas que fazem com que o interesse por produtos de bambu cresça cada vez mais. Ele pode ser encon-trado na fabricação de pa-pel, móveis, instrumentos, objetos de decoração e até mesmo na indústria ali-mentícia e farmacêutica. No Brasil são 80 espécies nativas conhecidas.

Com o objetivo de in-tegrar todas as pesquisas ligadas ao bambu disper-sas pelas unidades acadê-micas, em 2006 a UnB cri-ou o Centro de Pesquisas e Aplicação de Bambu e Fibras Naturais (CPAB). Atualmente existem linhas de pesquisas na Faculda-de de Arquitetura (FAU), com o estudo direcionado para estruturas arquite-tônicas e construções; na Engenharia Florestal, que trabalha com a utilização sustentável dos recursos florestais; na Botânica, que estuda a anatomia da planta, e no Departamen-to de Música.

Duas frentes

Jaime Almeida, co-ordenador do CPAB, explica que o centro, além de oferecer cursos básicos de capacitação e cursos de extensão de artesanato, tem duas frentes de trabalho: a i-dentificação de bambus nativos, trabalho reali-zado em parceria com o SEBRAE/Acre, e a apli-cação do bambu como material de construção. Um dos resultados al-cançados pelas pesqui-sas, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, foi o desen-

volvimento do Bam-bu Laminado Colado (BLC), que é transformado em chapas ou tábuas e pode ser usado para substituir a madeira.

O próximo projeto do centro é realizar uma construção de 60 m² no campus Darcy Ribeiro, to-talmente estruturada em BLC. O projeto, chamado de Casa do Visitante do Campus da UnB, estará em funcionamento no pri-meiro semestre de 2010.

No semestre que vem, o CPAB será responsá-vel pela disciplina Ofici-na Básica de Bambu 1. A matéria de graduação será ofertada para os cursos de Arquitetura e Urbanis-mo, Biologia e Engenharia Florestal. A disciplina tra-rá conhecimentos bási-cos e atividades práticas, utilizando-se da oficina de protótipo do centro.

Som pela vibração

O músico e professor Carlos Augusto de Melo também é um entusiasta da planta. Há seis anos ele criou o grupo musical Bambuzal, hoje fechado por falta de patrocínio. O intuito era mostrar que os instrumentos de bambu funcionavam. “Não bas-tava só fazê-los. As pesso-as precisavam ver que po-dem realmente substituir a madeira pelo bambu”, explica. Melo também mi-nistra na UnB o curso de confecção de instrumentos musicais ideofônicos, nos quais o som é produzido pela vibração do corpo do próprio instrumento. “Por ser um dos materiais mais versáteis para o tra-balho artesanal, em duas semanas o aluno está em condições de criar os mais diversos instrumentos de bambu”, completa. •

Laboratório

Funcionários do CPAB afinam os instrumentos durante a aula

Fabiana Closs

6

João Francisco Teixeira

Page 7: Primeira Edição do Campus 2/2009

Bloco C

Malabarismos Conheça pessoas que rifaram leitoa, venderam doces com recheio rosa e parafusaram móveis no teto para fazer filmes

MARIANA DE PAULA

Diversão sem homofobia Com sete paradas gays e público crescente em festas, a capital amplia seu circuito GLS

LUANA RICHTER

Neste ano, Brasília voltou a realizar o concurso Miss

Gay e aumentou de dois para sete o número das paradas homossexuais no DF. Festas GLS chegam a ter cinco mil pessoas, das quais grande parte é heterossexual, e um site especializado no assunto registra mais de 60 mil acessos por mês. Esses são alguns dos indicativos de um novo fenômeno no circuito de entretenimento na cidade.

Foram instituídas para-das LGBTTTS (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Trangêneros e Simpatizantes) em So-bradinho, Ceilândia, Ga-ma, Recanto das Emas e Paranoá. As paradas de Brasília e Taguatinga, que já existiam, mobilizaram juntas quase 35 mil pesso-

as nas edições deste ano. “Brasília não é um destino gay, mas a cena GLS é mui-to bem desenvolvida aqui. Como capital da Repúbli-ca, é importantíssimo que a gente tenha essa visibili-dade”, diz Ricardo Lucas, promotor de festas.

Um levantamento di-vulgado no último dia 12 pela Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Traves-tis e Transexuais (ABGLT) revelou que o Brasil é o país que tem o maior nú-mero de paradas gays no mundo. Esse título é bra-sileiro pelo terceiro ano consecutivo.

O DF não realizava nenhuma edição do Miss Gay desde 2005. Já neste ano, foram eleitas Miss Gay Sobradinho e Miss Gay Taguatinga. “Em 2010, a edição de Brasília vai escolher a participante que irá para o concurso nacional”, diz a organi-zadora do evento, a drag

queen Nicole Franciny.Thales Sabino, editor-

chefe do portal especiali-zado Parou Tudo, acredi-ta que sempre existiram eventos GLS em Brasília e o que está aumentando é a divulgação. “Desde que nós abrimos o por-tal e passamos a divulgar o que acontece em nosso universo, trouxemos mais visibilidade e mais público para os eventos”, comen-ta ele. “Nós recebemos 60 mil visitas por mês. São milhares de pessoas que se informam da agenda cul-tural gay de Brasília.”

De cinco anos para cá, as chamadas baladas GLS se tornaram sinônimo de multidão. Um dos eventos que mais atrai pessoas em Brasília é a Festa da Lili, uma noite eletrônica que só é anunciada pela inter-net, poucos dias antes de acontecer. “Nós já tive-mos edições com mais de cinco mil pessoas”, conta

a produtora Liliane San-tana, a Lili. Uma das ca-racterísticas das festas é a mistura de heterossexuais e homossexuais. “Isso é muito positivo, diminui o preconceito e naturaliza as relações humanas”, diz Ricardo Lucas.

Thiago Rodrigues, o DJ Tits, diz que é comum

ver homens heterossexuais nas baladas. “Eu já escu-tei muito homem dizendo que é bem mais fácil para conquistar as mulheres.” Para ele, a mistura gera pessoas mais tolerantes. “Essa democratização só tende a aumentar. Quanto mais as pessoas aceitarem a diversidade, mais elas

serão felizes consigo mes-mas”, acredita.

“É uma questão de evo-lução, a mudança dessa ditadura de que só o hete-rossexual é o certo, de que só sendo heterossexual se é feliz”, comenta Evaldo Amorim, secretário-geral da Federação LGBT do DF e Entorno. •

MARIANA HAUBERT

Site

Livro

Álbum

ForgottenBooks.orgO objetivo do site é pre-servar obras raras esque-cidas, que abordam de folclore a mitologia. Po-rém, o material está dis-ponível apenas em inglês.

Cinefilô (2009)O livro de Ollivier Pour-riol, que tem como subtí-tulo As mais belas ques-tões da filosofia no cinema, analisa dilemas por trás de filmes consagrados, como Clube da Luta e O Sexto Sentido.

Ruido Blanco (2008)Já ouviu falar em música instrumental minimalista? O terceiro trabalho do projeto espanhol Bosques de mi Mente é um bom começo. O álbum lança-do pela licença Creative Commons pode ser bai-xado online.

Fabiana Closs

Gabriel de Sá

A estudante Nina mostra o sonho e a camiseta feitos para o filme

Em plena quinta-feira, festa na Oficina Club atrai uma multidão de homossexuais e simpatizantes

pelo cinemaDicas

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Ah, se só com uma câmera e uma boa história fosse pos-

sível fazer um filme... Na vida real, para se ter um produto de qualidade, é preciso muito mais do que isso. As preocupações vão desde a comida no set até o aluguel de equipamen-tos, mas os cineastas não se intimidam com as difi-culdades e batem de por-ta em porta. Pechincham daqui, choram dali, pe-dem ajuda para familiares e amigos. E, quando não têm, improvisam.

Alunos da disciplina Laboratório de Realiza-ção em Cinema do curso de Audiovisual da UnB estão abusando da criati-vidade para conseguir di-nheiro para seus filmes. Serão dois curtas durante este semestre: Menarca e Grande Amigo Santo An-tônio. O primeiro foi or-çado em R$ 16 mil. Para a arrecadação, além de uma festa batizada de Minha Primeira Menstruação, que gerou cerca de R$ 4 mil, os jovens produtores opta-ram por rifas, a R$ 2 cada uma. Os prêmios não fo-ram nada convencionais: jantares para dois, um dia

em um salão de beleza ou um banquete em um bar de temática medieval. A previsão é conseguir pelo menos R$ 3 mil.

Para o segundo filme, foram vendidas bolsas e blusas com a logomarca do Grande Amigo Santo Antônio. “A divulgação do filme é lucro. O obje-tivo mesmo é juntar o di-nheiro”, diz Nina Esselin, 22, produtora executiva do Menarca e diretora de arte do outro curta. Serão vendidos, também, sonhos de padaria com recheio rosa - que é o que a prota-gonista da película come -, tortas e bombons.

As produções contam com a contribuição de várias pessoas, como pais e professores. “Criamos também o fundo Amigos do Grande Amigo Santo Antônio, para as pessoas doarem dinheiro. Já que não temos como pagar, a gente faz as coisas nasce-rem no nada”, conta Nina. De Mojimirim, interior de São Paulo, veio uma das ajudas mais inusitadas. O avô de Mariana Tesch, di-retora do Menarca, rifou uma leitoa, o que rendeu R$ 1 mil para o filme.

De improvisos, Caro-lina Olivon, 24, entende bastante. Mesmo sendo estudante de Publicidade

e Propaganda da UnB, ela participa da produção de filmes. “É muito difícil conseguir patrocínio se não for pelas leis de incen-tivo à cultura, então nós tentamos convencer as pes-soas de que elas devem acreditar em nossos proje-tos e nos ajudar de algu-ma forma”, explica.

Carolina já teve que correr atrás de uma Kom-bi na avenida W3 para conseguir um frete mais barato. “Levamos um bolo do pessoal da UnB que fi-cou de levar nossos equi-pamentos até a locação do filme. No desespero, vi uma Kombi passando, dei uma fechada e gritei pela janela por quanto o mo-torista faria o frete. Ficou barato e fechamos o negó-cio ali mesmo”, recorda.

De pedir coisas para amigos e parentes, ela já se cansou. “Fomos filmar no escritório de um amigo, durante o final de semana. Só que o prédio desligava automaticamente a ener-gia e a água. Ficamos pre-sos, sem elevador e sem banheiro. Tivemos que ficar lá até ligarem tudo”, lembra ela.

Falando em fria, Pedro Lucena, 23, se meteu em uma das boas. No último semestre de Jornalismo do Centro Universitário de

Brasília (UniCeub), ele re-solveu fazer um documen-tário na tribo indígena Kraho, no Tocantins, para participar de um concur-so. O problema é que ele foi sem avisar e não foi aceito logo de cara: teve de passar por uma espécie de julgamento.

Nem voltar ele podia, porque tinha usado todo o dinheiro na viagem de ida. No final deu tudo cer-to. Pedro foi aceito pelos índios depois de 24 horas trancado em uma escola da tribo, fez o documentá-rio e ficou em 12º lugar no concurso. “O filme foi se-lecionado para um festival de cinema da Amazônia”, conta ele.

Dizo Dal Moro, 43, é um apaixonado pela pro-fissão: “Se cinema desse dinheiro, vivia só disso”. Formado em Rádio, Cine-ma e TV e Jornalismo pela UnB, ele lembra de um fil-me sobre um aparelho de televisão que andava pelo teto. “Pedimos emprestada a casa do cunhado de uma menina da produção. Fala-mos que íamos ficar algu-mas semanas e acabamos ficando alguns meses. Pe-gamos os móveis do cara e parafusamos no teto”, relembra. “Acho que ele nunca mais vai emprestar a casa para ninguém.” •

Page 8: Primeira Edição do Campus 2/2009

Pala

vras

per

dida

sContraCapa

Comprei este livro em Londres, numa loja de livros velhos. Fiquei fascinada por ele. Pertenceu a uma

Marcia, em 1909. Acho tudo isso misterioso e belo. Passou pra mim setenta anos depois, atravessou o

mar e agora é teu. Põe teu nome e data

No começo de um livro, no espaço de pági-nas que ainda não conta, do conteúdo, muito mais do que título, autor e edição, bem ali, no-mes, datas e palavras feitas à mão marcam o traço de outra história. Guardado na estante do sebo, o livro acumula o cheiro do tempo e se distancia dos personagens reais da mensa-gem assinada.

Deslocadas da ocasião em que, talvez, te-nham signi�cado um tanto para alguém, as de-dicatórias podem se perder nos caminhos do tempo, virar lixo, virar rasura. Podem passar por alguém que não as perceba, ou por alguém a quem incomode o escrito no livro de segun-da, terceira mão.

As palavras ou a simples assinatura datada, em livro importante ou qualquer, podem ser en-contradas por alguém que olha e, reparando, sente que um livro assim já vivido vale mais. E talvez inscreva, no papel, mais um pedaço de história a ser contada em silêncio, pelos dias.

Na entrada do sebo Cope Espaço Cultural, Tiago Botelho carrega uma caixa cheia de li-vros. Pretende vendê-los porque em casa já começa a faltar espaço. Enquanto separava as brochuras, conferia um por um, arrancando com estilete as páginas com mensagens pes-soais. Sobrou algum com memórias perdidas? Tiago prefere acreditar que não.

A memória de um livro não guarda apenas dedicatórias. Vendidos – ou perdidos – porque o dono morreu, o dinheiro acabou, o uso já não interessa ou porque o amor, virado des-prezo, prefere distância dos tempos de roman-ce, os livros quase sempre chegam aos sebos carregando um tanto mais que as páginas. Ivan da Presença, dono do Quiosque Cultu-ral, tem uma caixa povoada de etiquetas, fo-togra�as e cartas. Vai escrever um livro sobre o assunto, um dia.

Tem foto do glorioso time do Gama nos anos 80 – com a lembrança, na parte de trás, de alguém que, hoje senhor, era atleta; tem calendário maia; cartões com mensagens de amor; telefones perdidos; re�exões existen-ciais. Uma carta, redigida à máquina, tem re-comendações a serem trazidas, do Recife, para Brasília. A urgência era tanta que o remetente até diz não poder esperar pelo correio, vai ao aeroporto ver se algum desconhecido leva a correspondência em tempo.

O livreiro caiu na gargalhada. Um cliente que estava na loja, interessado, perguntou o que era. Acabou comprando o livro só por causa da anotação.

O curso da vida de um livro jamais se revela por inteiro. Deparar com esses fragmentos de histórias desperta interesse, curiosidade, imagi-nação. Quem não demora, um pouco que seja, tentando imaginar os eventos que acompanha-ram a frase ali escrita? Como nas melhores �c-ções, a realidade que se apresenta transforma em co-autor quem nela deseja aventurar-se.

De mães para �lhos, de professores para alunos, de amigos, desconhecidos, amantes. As dedicatórias, fragmentos de vidas correndo na páginaw, carimbam o livro de uma marca úni-ca: nenhum outro passou pelos mesmos olhos, foi presenteado ou comprado pelo mesmo mo-tivo. E assim os livros, feito pessoas, não vivem nem repetem a mesma vida.

Nessa vida eu queria morrer igual a um rabo de vaca. Em

cima de uma buceta

Se a dedicatória escapa, ganha vida própria, vira protagonista do acaso alheio. Elizabeth Hazin falava ao telefone com uma colega que nunca encontrara pessoalmente. Na falta de papel para uma anotação, puxou um livro da estante. Aberto casualmente na última página, o exemplar levava a assinatura da pessoa que estava do outro lado da linha. Esse livro, perdi-do em um avião que ia do Rio de Janeiro para a Bahia, ainda percorreu caminhos maiores: foi parar no Recife e, comprado em uma loja de usados, hoje �gura na casa de Elizabeth, em Brasília.

Nem sempre tais coincidências são possí-veis. Se uns donos de sebo preservam as dedica-tórias, outros optam por apagá-las ou mesmo rasgar a página. Alguns só apagam os nomes. Assim a rasura, com ar de estrago na página, ganha um tanto de beleza: vira dedicatória de ninguém, pra qualquer um.

Gilvan Ema, proprietário do Sebão, costu-ma apagar dedicatórias. Faz isso porque não gosta da situação constrangedora que é, para o escritor, encontrar ali um livro com seu au-tógrafo. Lembra a ocasião em que um famoso poeta da cidade achou, na prateleira, um livro seu que havia dedicado a um conhecido. Com-prou-o na mesma hora e mandou de volta ao desparceiro.

Bem humorado, Gilvan conta outra. Confe-ria alguns livros recém-adquiridos e, na página de rosto, a frase:

JOÃO PAULO VICENTE

LUDMILLA ALVES

Ensaio Fotográfico: Ludmilla Alves

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Julinho querido nunca se esqueça que o lugar mais místico e mais importante

do mundo sempre será seu coração. Leia com carinho, sua mãe.

(retirada do livro Lugares Místicos, Mistérios do desconhecido)