Primeiro Capítulo - Dois Pesos, Duas Medidas

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Confira o primeiro capítulo do novo livro de Judith McNaught: Dois Pesos, Duas Medidas.

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DOIS PESOS,DUAS MEDIDAS

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Da Autora:

Todo Ar que Respiras

Dois Pesos, Duas Medidas

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Judith McNaught

DOIS PESOS,DUAS MEDIDAS

TraduçãoAlda Porto

A. B. Pinheiro de Lemos

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P HILIP WHITWORTH ERGUEU O OLHAR, COM A ATEN-

ção atraída pelo ruído de passos ligeiros que afundavam noluxuoso tapete oriental estirado em seu escritório presidencial.Recostado na poltrona giratória de couro marrom, examinou ovice-presidente, que avançava a passos largos em sua direção.

— Então? — perguntou, impaciente. — Já anunciaramquem deu o menor lance?

O recém-chegado apoiou os punhos cerrados na superfícieda escrivaninha de mogno polida de Philip.

— Sinclair deu o lance mais baixo — disse ele, sem pes-tanejar. — A National Motors vai lhe dar o contrato para ofornecimento de todos os rádios para os carros que fabricam,porque Nick Sinclair bateu o nosso preço em míseros trintamil dólares. — Inspirou furioso e expirou num assobio. —Aquele miserável nos tirou um contrato de cinquenta milhõesde dólares diminuindo em um por cento o nosso preço!

15.ª prova

Capítulo 1

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Apenas o leve enrijecimento do maxilar aristocrático dePhilip Whitworth denunciava a raiva que fluía em seu interior,ao dizer:

— É a quarta vez em um ano que ele nos tira um grandecontrato. Uma senhora coincidência, não?

— Coincidência! — repetiu o vice-presidente. — Não é nadadisso, diabos, e você sabe, Philip! Alguém em minha divisão estána folha de pagamentos de Nick Sinclair. Algum sacana deveestar nos espionando, descobrindo o valor do lance em nossoenvelope lacrado e repassando a ele essa informação, para queSinclair dê o seu, poucos dólares inferior ao nosso. Somente seishomens que trabalham para mim sabem o valor de nosso lancepara esse serviço, e um deles é o espião.

Philip reclinou-se mais na poltrona, e seus cabelos grisalhostocaram o alto espaldar de couro.

— Você mandou investigar os seis, e tudo que ficamos saben-do é que três deles traem as esposas.

— Então as investigações não foram completas o suficiente!Empertigando-se, o vice-presidente passou a mão pelos

cabelos e deixou pender o braço.— Escute, Philip, sei que Sinclair é seu enteado, mas você

vai ter de fazer alguma coisa para detê-lo. Ele está determinadoa destruí-lo.

A frieza ficou estampada nos olhos de Philip Whitworth.— Eu jamais o reconheci como “enteado”, e minha esposa

não o reconhece como filho. Agora, o que, precisamente, vocêpropõe que eu faça para detê-lo?

— Infiltrar um espião nosso na empresa de Sinclair, desco-brir quem é o contato dele aqui. Não me importa o que vocêvai fazer, mas, pelo amor de Deus, faça alguma coisa !

O áspero toque do interfone na escrivaninha cortou a res-posta de Philip, e ele enterrou o dedo no botão.

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— Sim, que foi, Helen?— Desculpe interrompê-lo, senhor — disse a secretária —,

mas uma tal de srta. Lauren Danner está aqui, dizendo quetem uma hora marcada com o senhor para falar sobre umemprego.

— Tem sim — ele suspirou irritado. — Concordei ementrevistá-la para talvez trabalhar conosco. — Desligou obotão e voltou sua atenção para o vice-presidente, que, embo-ra preocupado, olhava-o com curiosidade.

— Desde quando você entrevista candidatos, Philip?— Trata-se de uma entrevista de cortesia — explicou o pre-

sidente com outro suspiro de impaciência. — O pai dela é umparente distante meu, primo de quinto ou sexto grau, pelo queme lembro. Danner é um daqueles parentes que minha mãedesenterrou anos atrás, quando estava fazendo pesquisas para olivro dela sobre a nossa árvore genealógica. Toda vez que loca-lizava um novo grupo de possíveis parentes, convidava-os ànossa casa para “uma visitinha agradável” para que pudesseaprofundar-se na questão, obtendo mais dados sobre os ances-trais, com o intuito de descobrir se eram realmente parentes edecidir se valia a pena mencioná-los no livro.

“Danner era professor numa universidade de Chicago. Nãopôde ir, por isso mandou a esposa, uma pianista, e a filha emseu lugar. A sra. Danner morreu num acidente de carro algunsanos atrás, e jamais tive notícias dele depois disso, até a sema-na passada, quando me ligou e pediu que entrevistasse a filha,Lauren, para uma vaga de emprego. Ele disse que não há nadaapropriado para ela em Fenster, no Missouri, onde ele moraagora.”

— Um tanto presunçoso da parte dele ligar para você, não?A expressão de Philip foi tomada por um misto de resigna-

ção e tédio.

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— Vou conversar um pouco com ela e depois dispensá-la.Não temos emprego para ninguém com diploma universitárioem música. Mesmo que tivéssemos, eu não contrataria LaurenDanner. Jamais conheci, na minha vida, uma menina tão irri-tante, afrontosa, mal-educada e sem graça quanto ela! Era gordinha, sardenta, tinha cerca de nove anos e uma juba ruivaque parecia nunca ter visto um pente. Usava óculos horrendosde tartaruga e, valha-me Deus, olhava para nós com desprezo!…

A secretária de Philip Whitworth olhou de relance para a jovem,que usava um terninho azul-marinho engomado e uma blusabranca com uma prega larga sobreposta, sentada ali na sua frente.Tinha os cabelos de um tom de mel presos num elegante coque,com cachos delicados caindo sobre as orelhas, emoldurando umrosto de impecável e vívida beleza. Maçãs do rosto ligeiramenteelevadas, nariz pequeno, o queixo delicadamente arredondado,mas os olhos eram seu traço mais fascinante. Sob o arco dassobrancelhas, longos cílios curvados enquadravam os olhos deum surpreendente e luminoso azul-turquesa.

— O sr. Whitworth a receberá dentro de alguns minutos— disse a secretária, educadamente, com o cuidado de nãoencará-la.

Lauren Danner desviou o olhar da revista que fingia ler esorriu.

— Obrigada — disse e tornou a olhar para baixo, às cegas,tentando controlar aquela mistura de apreensão e nervosismode confrontar-se com Philip Whitworth.

Catorze anos não haviam atenuado a dolorosa lembrançados dois dias que passara na magnífica mansão de GrossePointe, onde toda a família Whitworth e até os criados haviamtratado Lauren e sua mãe com insultante desdém...

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O telefone na escrivaninha da secretária tocou, fazendo onervosismo de Laurem ir às alturas. “Como”, perguntou-se emdesespero, “fora parar naquela situação desagradável e insu-portável?” Se soubesse de antemão que seu pai ia ligar paraPhilip Whitworth, talvez pudesse tê-lo dissuadido. Mas, quan-do ficou sabendo, a ligação já havia sido feita e a entrevista,acertada. Quando tentou protestar, o velho respondera comtoda a calma que Philip Whitworth lhes devia um favor, e amenos que ela lhe apresentasse argumentos lógicos contra a idaa Detroit, ele esperava que ela cumprisse com sua parte nocompromisso.

Lauren largou a revista não lida no colo e deu um suspiro.Claro, podia ter lhe contado como os Whitworth se compor-taram catorze anos atrás. Mas, hoje, o dinheiro era a principalpreocupação do pai, e a falta deste punha-lhe rugas de tensãono pálido rosto. Havia pouco, os contribuintes do Missouri,apanhados no aperto de uma recessão econômica, haviamvotado contra um aumento desesperadamente necessário aoimposto escolar. Em consequência, milhares de professoresforam imediatamente demitidos, entre eles, o pai dela. Trêsmeses depois, ele voltara de mais uma infrutífera viagem embusca de emprego, dessa vez na cidade de Kansas. Largara a pasta na e mesa sorrira tristemente para Lauren e sua madrasta:

— Acho que hoje em dia um ex-professor não conseguearranjar emprego nem como faxineiro — dissera, parecendoexausto e estranhamente pálido. Massageara meio distraído opeito perto do braço esquerdo, e acrescentara com ar sombrio:— O que talvez seja melhor. Não me sinto forte o suficientepara varrer.

Sem mais avisos, sofrera um colapso, vítima de um forteataque cardíaco.

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Embora seu pai estivesse se recuperando agora, aquele acon-tececimento, mudara o rumo da vida de Lauren... “Não”, cor-rigiu-se a jovem, ela mesma mudara o rumo de sua vida”. Apósanos de incansável estudo e cansativos treinos ao piano, e depoisde obter o mestrado em música, decidira que não tinha a ambi-ção motivadora, a total dedicação necessária para alcançarsucesso como pianista de concertos. Herdara o talento musicalda mãe, mas não sua incansável dedicação à arte.

Lauren queria mais da vida além da música. De certaforma, essa arte lhe roubara tanto quanto lhe dera. Por causa daescola, dos estudos, dos treinos e por ter de trabalhar para pagaras aulas e a instrução, jamais tivera tempo para relaxar e diver-tir-se. Quando fizera vinte e três anos, havia viajado a váriascidades dos Estados Unidos, mas tudo que vira dessas cidadesforam quartos de hotel, salas de ensaio e auditórios. Conheceraincontáveis homens, porém jamais tivera tempo para mais queuma breve relação. Ganhara bolsas de estudo, prêmios e recom-pensas, mas nunca dinheiro suficiente para pagar todas as des-pesas sem o fardo adicional de um emprego em meio período.

Ainda assim, após investir tanto de sua vida na música,parecia errado, um desperdício, jogar tudo fora por outra car-reira. A doença do pai e a quantidade desconcertante de contasque se acumulavam haviam-na obrigado a tomar a decisão quevinha adiando. Em abril, ele perdera o emprego e, com isso, oconvênio médico; em julho, fora-se a saúde também. No pas-sado, ele dera-lhe muita ajuda financeira para a escola e asaulas; agora chegara sua vez de ajudá-lo.

Ao pensar nessa responsabilidade, Lauren sentiu como secarregasse o peso do mundo nas costas. Precisava de um em-prego, dinheiro, e precisava disso já. Olhou ao redor da luxuo-sa área da recepção e sentiu-se estranha e desorientada ao ten-tar imaginar-se trabalhando numa imensa empresa industrial.Não que isso importasse — se o pagamento fosse alto o bas-

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tante, aceitaria qualquer emprego que lhe oferecessem. Os bonsempregos, com oportunidades de promoção, quase não exis-tiam em Fenster, e os que estavam disponíveis pagavam umaquantia deplorável de tão baixa em comparação com outrossimilares em imensas áreas metropolitanas como Detroit.

A secretária desligou o telefone e levantou-se.— O sr. Whitworth a receberá agora, srta. Danner.Lauren seguiu-a até uma porta de mogno esplendidamente

esculpida. Quando a secretária abriu-a, Lauren fez uma breve edesesperada prece para que o parente do pai não se lembrassedela da visita de tanto tempo atrás, e entrou no escritório. Anosde apresentação diante de uma plateia haviam lhe ensinadocomo esconder o turbulento nervosismo, que agora lhe possi-bilitavam abordar Philip Whitworth com uma aparência exter-na de perfeito equilíbrio, quando ele se levantou, exibindouma expressão de perplexidade nas feições aristocráticas.

— Certamente, o senhor não se lembra de mim, sr.Whitworth — disse ela, estendendo com graça a mão por cimada escrivaninha —, mas eu sou Lauren Danner.

O aperto de mãos de Philip Whitworth foi firme, sua vozassumindo um tom de deleite mordaz:

— Na verdade, lembro-me muito bem, Lauren; você foiuma criança um tanto... inesquecível.

Ela sorriu, surpresa com esse humor franco.— É muita bondade sua. Poderia ter dito irritante, em vez

de inesquecível.Com isso, declarou-se uma tentativa de trégua, e ele ace-

nou com a cabeça indicando uma poltrona de veludo douradodiante da escrivaninha.

— Por favor, sente-se.— Trouxe-lhe meu currículo — disse Lauren, tirando um

envelope da bolsa ao sentar-se.

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Philip abriu-o e retirou as folhas datilografadas, mas per-maneceu com os olhos castanhos fixos no rosto da candidata,examinando minuciosamente suas feições.

— A semelhança com sua mãe é espantosa — disse apósum longo instante. — Ela era italiana, não é mesmo?

— Meus avós eram italianos — esclareceu Lauren. —Minha mãe nasceu aqui.

Philip balançou a cabeça.— Seu cabelo é muito mais claro, mas fora isso você tem

quase a mesma aparência. — Desviou o olhar para o currículoque ela lhe dera e acrescentou, calmamente: — Ela era umamulher extremamente bonita.

Lauren recostou-se na poltrona, um pouco perplexa pelainesperada direção que a entrevista tomava. Era um tanto des-concertante descobrir, apesar da atitude externa fria e distantecatorze anos antes, que Philip Whitworth parecia ter achadoGina Danner bonita. E agora estava dizendo a Lauren que aachava bonita também.

Enquanto ele passava os olhos no currículo, Laurendeixou-se divagar, ao mesmo tempo em que observava todo oesplendor daquele suntuoso escritório. Era dali que PhilipWhitworth comandava todo seu império. Ela aproveitou omomento para examiná-lo. Para um cinquentão, era extrema-mente sexy. Embora fosse grisalho, o rosto bronzeado não eramuito marcado por rugas e não havia sinal algum de excesso depeso no corpo alto e bem formado. Sentado atrás da imensaescrivaninha baronial, num terno escuro de corte impecável,ele parecia cercado por uma aura de riqueza e poder queLauren, com relutância, achou impressionante.

Visto agora pelos olhos de uma adulta, ele não parecia ohomem frio, presunçoso e esnobe de que ela se lembrava. Naverdade, parecia, nos mínimos detalhes, um homem distinto e

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elegante da alta sociedade. Tinha com ela uma atitude, semdúvida, cortês, e senso de humor também. Somando tudo,Lauren não pôde deixar de sentir que seu preconceito contraele durante todos aqueles anos talvez tivesse sido injusto.

Philip Whitworth voltou-se para a segunda página do cur-rículo dela, e Lauren sentiu-se um fracasso! Por que, exatamen-te, tinha essa súbita mudança de opinião quanto a ele?,perguntou-se, sentindo-se pouco à vontade. Era verdade queele se mostrava cordial e gentil agora — mas por que não seria?Ela não era mais uma menininha simplória de nove anos, e simuma jovem com um rosto e corpo que faziam os homens sevirarem para cravar os olhos nela.

Haveria mesmo cometido um erro de julgamento sobre osWhitworth durante todos aqueles anos? Ou deixava-se agorainfluenciar pela óbvia riqueza e agradável sofisticação de PhilipWhitworth?

— Embora seu desempenho na universidade seja excelen-te, espero que compreenda a inutilidade de uma formação emmúsica para o mundo dos negócios — ele disse.

Na mesma hora Lauren voltou a atenção para a questão ime-diata:

— Sei disso. Formei-me em música porque adorava, maspercebo que não há futuro nessa área para mim.

Com tranquila dignidade, ela explicou em poucas palavras osmotivos que a fizeram abandonar a carreira de pianista, incluin-do a saúde do pai e a situação financeira da família.

Philip ouviu com atenção, depois tornou a olhar para ocurrículo que tinha em mãos.

— Notei que também fez vários cursos de administraçãona faculdade.

Quando ele fez uma pausa, Lauren começou a achar, comexpectativa, que ele poderia estar realmente considerando con-tratá-la.

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— Na verdade, faltaram apenas alguns para eu me formarem administração.

— E enquanto fazia faculdade, você trabalhou depois dasaulas e nas férias de verão como secretária — continuouPhilip, pensativo. — Seu pai não falou disso ao telefone. Suasqualificações como estenógrafa e datilógrafa são mesmo tãoexcelentes como diz o currículo?

— São — respondeu Lauren, mas, à menção daquele antecedente como secretária, seu entusiasmo começou adefinhar.

Philip relaxou em sua poltrona e, após pensar por um ins-tante, pareceu chegar a uma decisão:

— Posso oferecer-lhe o emprego de secretária, Lauren, umcargo de desafio e responsabilidade. Nada mais posso fazer, anão ser que você realmente se forme em administração.

— Mas eu não quero ser secretária — disse ela com um sus-piro.

Um irônico sorriso entortou-lhe os lábios quando viucomo Lauren parecia desencorajada.

— Você disse que a sua principal preocupação agora é odinheiro, e no momento, por acaso, há uma tremenda escassezde secretárias executivas qualificadas e de alto nível. Por isso,são muito procuradas e muitíssimo bem pagas. A minha, porexemplo, fatura quase tanto quanto os executivos de nívelmédio da administração.

— Mesmo assim... — Lauren começou a protestar.O sr. Whitworth ergueu uma das mãos para silenciá-la.— Deixe-me concluir. Você trabalhava para o presidente

de uma pequena empresa industrial. Numa empresa assim,todos sabem o que todo mundo faz e por quê. Infelizmente,nas grandes corporações como esta, apenas os altos executivos

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e suas secretárias têm consciência do quadro geral. Posso dar-lhe um exemplo do que estou tentando dizer?

Lauren fez que sim com a cabeça, e ele continuou:— Digamos que você seja contadora em nossa divisão de

rádios e lhe peçam para preparar uma análise do custo de cadaaparelho que produzimos. Você passa semanas preparando orelatório sem saber por que está fazendo isso. Talvez porque este-jamos pensando em fechar essa divisão, pode ser que estejamospensando em expandi-la; ou ainda porque planejamos fazeruma campanha de publicidade para ajudar a vender maisrádios. Você não sabe quais são nossos planos, nem seu supervi-sor, nem o supervisor dele. As únicas pessoas que têm conheci-mento desse tipo de informação confidencial são os gerentes dedivisão, vice-presidentes e — concluiu com ênfase, sorridente— suas secretárias! Se você começar nessa posição aqui, teráuma boa visão geral da empresa, e poderá fazer uma escolhaesclarecida sobre possíveis metas futuras de carreira.

— Posso fazer qualquer outra coisa numa empresa como asua que pague tão bem quanto o cargo de secretária? — per-guntou Lauren.

— Não — ele respondeu com tranquila firmeza. — Sódepois de conseguir o diploma em administração.

Por dentro, Lauren suspirou, mas sabia que não tinha esco-lha. Precisava ganhar tanto dinheiro quanto possível.

— Não fique tão triste — disse ele —, o trabalho não seráchato. Ora, minha própria secretária sabe mais de nossosplanos futuros do que a maioria dos meus executivos. As secre-tárias executivas estão por dentro de todo tipo de informaçõesaltamente confidenciais. São...

Parou de falar por um instante, olhando fixamente paraLauren em um silêncio cheio de impacto emocional, e, quan-do voltou a falar, tinha na voz um tom calculado e triunfante:

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— Secretárias executivas ficam sabendo de informaçõesaltamente confidenciais — repetiu, e um inexplicável sorrisocruzou-lhe as aristocráticas feições. — Uma secretária! — elesussurrou. — Jamais suspeitariam de uma secretária! Nemsequer a investigam. Lauren — disse baixinho, os olhos casta-nhos brilhando como topázio —, vou fazer-lhe uma propostabastante incomum. Por favor, não discuta enquanto não ouviraté o fim. Bem, o que você sabe sobre espionagem industrialou corporativista?

Lauren teve a incômoda sensação de que pendia à beira deum perigoso precipício.

— O suficiente para saber que já mandaram muita gentepara a prisão por causa disso, e que não quero de jeito nenhum,nada com isso, sr. Whitworth.

— Claro que não — disse ele, com suavidade na voz. — E,por favor, me chame de Philip; afinal, somos parentes, e venhochamando você de Lauren.

Inquieta, ela fez que sim com a cabeça.— Não lhe peço que espione outra empresa, estou pedin-

do que espione a minha! Deixe-me explicar. Nos últimos anos,uma empresa chamada Sinco tornou-se nossa maior concor-rente. Toda vez que damos um lance em um contrato, a Sincoparece saber quanto vamos oferecer e dão um lance um porcento menor. De algum modo, descobrem o valor que colo-camos no envelope, que é lacrado, depois reduzem o preço daprópria proposta para que fique pouco abaixo da nossa e nosroubem o contrato.

“Voltou a acontecer ainda hoje. Só seis homens aqui pode-riam ter dito à Sinco qual era o valor de nosso lance, e um delesdeve ser um espião. Não quero demitir cinco executivos leaisapenas para me livrar de um traidor ganancioso. Mas se a Sincocontinuar a roubar-nos negócios desse jeito, vou ter de começar

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a despedir o pessoal”, continuou. “Eu emprego doze mil pes-soas, Lauren. Doze mil pessoas dependem das EmpresasWhitworth para ganhar a vida. Doze mil famílias contam coma empresa para ter um teto e comida na mesa. Há uma chancede você ajudá-las a manter o emprego e suas casas. Só lhe peçoque se candidate a um cargo de secretária na Sinco hoje. Deussabe que precisam aumentar a equipe para cuidar do trabalhoque acabaram de nos roubar. Com suas qualificações e expe-riências, na certa a considerarão para o cargo de secretária dealgum alto executivo.”

Indo contra seu maior bom-senso, Lauren perguntou:— Se eu conseguir o emprego... e depois?— Então lhe darei os nomes dos seis homens, um dos quais

deve ser o espião, e você só precisará ficar atenta para ouvir sealguém da Sinco os menciona.

Philip curvou-se para a frente em sua poltrona e cruzou asmãos sobre a escrivaninha.

— É difícil, Lauren, mas, falando francamente, estoudesesperado o suficiente para tentar qualquer coisa. Agora, eisa minha parte no acordo: eu planejava oferecer-lhe um cargode secretária, com um salário bastante atraente...

A cifra que citou espantou Lauren, e isso se revelou em suaexpressão. Era muito mais do que seu pai ganhava como pro-fessor. Ora, se vivesse com frugalidade, poderia sustentar afamília e a si mesma.

— Vejo que ficou satisfeita — disse Philip com uma risadi-nha. — Os salários em cidades grandes como Detroit sãomuito altos em comparação com lugares menores. Agora, sevocê se candidatar a uma vaga na Sinco hoje à tarde e lhe ofe-recerem um emprego de secretária, quero que aceite. Se o salá-rio for inferior ao que acabei de lhe oferecer, minha empresadará um cheque mensal a você no valor da diferença. Se você

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conseguir o nome do espião, ou qualquer coisa de verdadeirovalor para mim, pago-lhe uma gratificação de dez mil dólares.Dentro de seis meses, se não conseguir descobrir nada deimportante, pode largar o emprego na Sinco e vir trabalharcomo secretária para nós. Tão logo complete os cursos deadministração, eu lhe darei qualquer outro cargo que desejeaqui, desde que, claro, tenha competência para tal. — Ele per-correu o rosto dela com seus olhos castanhos, investigandosuas feições perturbadas. — Alguma coisa a incomoda —observou em voz baixa. — O que seria?

— Tudo isso me incomoda — admitiu Lauren. — Nãogosto de intriga, sr. Whitworth.

— Por favor, me chame de Philip. Pelo menos faça isso pormim. — Com um suspiro de cansaço, ele tornou a recostar-sena poltrona. — Lauren, eu sei que não tenho absolutamentedireito algum de pedir-lhe que se candidate a uma vaga naSinco. Talvez a surpreenda saber que tenho consciência decomo foi desagradável para você visitar-nos catorze anos atrás.Meu filho Carter achava-se numa idade difícil. Minha mãeestava obcecada com a pesquisa da árvore genealógica dafamília, e minha esposa e eu... bem, sinto muito por não ter-mos sido mais cordiais.

Em circunstâncias normais, Lauren teria recusado a ofertadele. Mas sua vida achava-se num completo tumulto, e as res-ponsabilidades financeiras eram opressivas. Sentia-se tonta,estava insegura e carregava um fardo inacreditável.

— Tudo bem — disse devagar. — Eu aceito.— Ótimo — disse Philip prontamente.Pegou o telefone, discou o número da Sinco, pediu para

falar com o gerente de pessoal e passou o telefone a Lauren,para que marcasse uma entrevista. Lauren secretamente esperava

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que a outra empresa recusasse a recebê-la, mas tal esperançafoi logo cortada pela raiz. Segundo o homem com quem elafalou, a Sinco acabara de ganhar um grande contrato e pre-cisava imediatamente de secretárias experientes. Como ele pla-nejava trabalhar até tarde da noite, instruiu-a a aparecer logopor lá.

Depois Philip se levantou, estendeu a mão e segurou a dela.— Obrigado — disse apenas. — Quando preencher o for-

mulário para a vaga, dê o endereço de sua casa no Missouri,mas este número de telefone aqui, para que a encontrem emminha casa. — Anotou o número num blobo de papel earrancou a folha. — Os empregados o atendem com um mero“alô” — explicou.

— Não — Lauren apressou-se a dizer. — Eu não gostariade me impor... Prefiro ficar num hotel.

— Não a culpo por sentir-se assim — respondeu ele,fazendo-a sentir-se rude e indelicada —, mas gostaria de com-pensá-la por aquela outra visita.

Lauren sucumbiu ao argumento:— Tem absoluta certeza de que a sra. Whitworth não fará

nenhuma objeção?— Carol terá enorme prazer.Quando a porta se fechou atrás de Lauren, Philip Whitworth

pegou o telefone e discou um número que tocava no escritórioparticular do filho, logo do outro lado do corredor.

— Carter, acho que vamos enfiar uma estaca na armadurade Nick Sinclair. Lembra-se de Lauren Danner...?

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