Primitivac¸ao de func¸˜ ˜oes racionais - Técnico Lisboa - … · Primitivac¸ao de func¸˜...
Transcript of Primitivac¸ao de func¸˜ ˜oes racionais - Técnico Lisboa - … · Primitivac¸ao de func¸˜...
Primitivacao de funcoes racionais
Recorde que uma funcao racional f e um quociente de dois polinomios. Ou seja,
f(x) =P (x)
Q(x)
em que P e Q sao polinomios. E conveniente organizar a primitivacao de funcoesracionais em quatro passos:
(1) Divisao dos polinomios,
(2) Factorizacao do denominador,
(3) Decomposicao em fraccoes simples, e
(4) Primitivacao das fraccoes simples.
1. Dividir os polinomios
Se o grau do numerador for maior ou igual ao grau do denominador, comecamospor dividir os dois polinomios:
P
Q= D +
P
Q
em que o grau de P e inferior ao grau de Q.
Exemplo 1. Queremos primitivar a funcao
3x4 + 4x3 + x2 + 4x
x2 + 1
O grau do numerador e 4, maior que o grau do denominador que e dois. Comecamosassim por dividir os polinomios:
3x4 + 4x3 + x2 + 4x x2 + 1− 3x4 − 3x2 3x2 + 4x− 2
+ 4x3 − 2x2 + 4x− 4x3 − 4x
− 2x2
2x2 + 22
Assim,3x4 + 4x3 + x2 + 4x
x2 + 1= 3x2 + 4x− 2 +
2
x2 + 1e portanto
∫
3x4 + 4x3 + x2 + 4x
x2 + 1dx = x3 + 2x2 − 2x+ 2arctanx+ C �
Naturalmente a divisao de polinomios pode nao ser suficiente para calcular a pri-mitiva:
2
Exemplo 2. Queremos primitivar a funcao racional
2x5 + 4x3 − 2
x4 − 1
Como o grau do numerador e maior que o grau do denominador, comecamos pordividir os polinomios:
2x5 + 4x3 − 2 x4 − 1− 2x5 + 2x 2x
+ 4x3 + 2x− 2
Assim,2x5 + 4x3 − 2
x4 − 1= 2x+
4x3 + 2x− 2
x4 − 1
A primitiva de 2x e x2 portanto ficamos com o problema de primitivar
4x3 + 2x− 2
x4 − 1�
Veremos como primitivar esta funcao no exemplo 11.
2. Factorizar o denominador
O segundo passo e factorizar o denominador. Qualquer polinomio Q(x) pode serfactorizado como um produto
Q(x) = (x− a1)n1(x− a2)
n2 . . . (x− ak)nkQ1(x) . . . Qm(x)
em que a1, . . . , ak sao as raızes de Q com multiplicidades n1, . . . , nk e Q1, . . . Qm
sao polinomios da forma Qi(x) = (ax2 + bx + c)n em que ax2 + bx + c nao temraızes em R.
Exemplo 3. Para factorizar 2x2+x−3 notamos que este polinomio tem por raızesx = 1 e x = − 3
2 logo
2x2 + x− 3 = 2(
x− 1)(
x+ 32
)
�
Exemplo 4. Aproveitando o ultimo exemplo podemos facilmente factorizar (2x2+x− 3)(x− 1):
(2x2 + x− 3)(x− 1) = 2(
x− 1)2(
x+ 32
)
�
Exemplo 5. Para factorizar o polinomio x3 − 1 observamos que x = 1 e raiz destepolinomio. O polinomio e portanto divisıvel por x−1. Efectuando a divisao obtemos
x3 − 1 = (x− 1)(x2 + x+ 1)
O polinomio x2 + x + 1 nao tem raızes reais pelo que terminamos aqui a nossafactorizacao. �
Por vezes factorizar o denominador e tudo o que e necessario para primitivar afuncao:
Primitivacao de funcoes racionais 3
Exemplo 6. Para primitvar a funcao
1
(x+ 1)(x2 + 2x+ 1)
notamos que x2 + 2x+ 1 = (x+ 1)2 logo
1
(x+ 1)(x2 + 2x+ 1)=
1
(x+ 1)3
Esta funcao e facil de primitivar:
∫
dx
(x+ 1)3= − 1
2(x+ 1)2+ C �
3. Decompor o quociente em fraccoes simples
A ideia agora e simplificar o quociente escrevendo-o como uma soma das chamadasfraccoes simples. Para ilustrar a ideia vamos examinar um exemplo.
Exemplo 7. Vamos primitivar a funcao
f(x) =1
x(x− 1)
Para tal observamos que
1
x(x− 1)=
1− x+ x
x(x− 1)
=1− x
x(x− 1)+
x
x(x− 1)
= − 1
x+
1
x− 1
Decompusemos f como uma soma das fraccoes simples 1x e 1
x−1 (na pratica, a
decomposicao em fraccoes simples raramente e feita desta maneira directa). Agorae facil primitivar f :
∫
1
x(x− 1)dx =
∫
− 1
x+
1
x− 1dx
= − ln |x|+ ln |x− 1|+ C �
Este tipo de decomposicao e sempre possıvel. A cada factor do denominador associ-amos uma soma de fraccoes simples de acordo com a tabela 1, na qual Q(x) designaum polinomio de grau dois sem raızes. Nao nos vamos preocupar por enquanto coma justificacao da existencia desta decomposicao (ver a seccao 5).
4
x− aA
x− a
Q(x)Bx+ C
Q(x)
(x− a)nA1
x− a+
A2
(x− a)2+ · · ·+ An
(x− a)n
Q(x)nA1x+B1
Q(x)+
A2x+B2
Q(x)2+ · · ·+ Bnx+ Cn
Q(x)n
Tabela 1. Decomposicao em fraccoes simples
Os proximos exemplos ilustram o calculo das constantes Ai e Bi:
Exemplo 8. Vamos primitivar a funcao
x− 1
(x+ 1)(x− 4)
De acordo com a tabela 1 temos
(1)x− 1
(x+ 1)(x− 4)=
A
x+ 1+
B
x− 4
para algumas constantes A,B a determinar. Para determinar estas constantesreduzimos tudo ao mesmo denominador:
x− 1
(x+ 1)(x− 4)=
A(x− 4) +B(x+ 1)
(x+ 1)(x− 4)
Os denominadores sao iguais. Igualando os numeradores obtemos
x− 1 = A(x− 4) +B(x+ 1)
A maneira mais simples de prosseguir e dar valores a x. Os valores convenientessao as raızes do denominador. Para x = 4 obtemos
4− 1 = A(4− 4) +B(4 + 1) logo 5B = 3
Assim, B = 35 . A outra raiz do denominador e x = −1,
−1− 1 = A(−1− 4) +B(−1 + 1) logo − 5A = −2
Assim, A = 25 . Substituindo os valores de A e B na equacao (1) obtemos
x− 1
(x+ 1)(x− 4)=
2/5
x+ 1+
3/5
x− 4
Esta funcao e simples de primitivar:∫
2/5
x+ 1+
3/5
x− 4dx =
2
5ln |x+ 1|+ 3
5ln |x− 4|+ C �
Exemplo 9. Queremos primitivar a funcao
2x2 + 4x
(x2 + 1)(x2 + x+ 1)
Primitivacao de funcoes racionais 5
O denominador ja esta factorizado logo, de acordo com a tabela 1 temos
2x2 + 4x
(x2 + 1)(x2 + x+ 1)=
Ax+B
x2 + 1+
Cx+D
x2 + x+ 1(2)
=(Ax+B)(x2 + x+ 1) + (Cx+D)(x2 + 1)
(x2 + 1)(x2 + x+ 1)
Igualando os numeradores obtemos
2x2 + 4x = (Ax+B)(x2 + x+ 1) + (Cx+D)(x2 + 1)
Como os polinomios x2 + 1 e x2 + x + 1 nao tem raızes em R dar valores a x naoe muito conveniente. Procedemos de outro modo. Comecamos por desenvolver osprodutos:
2x2 + 4x = (Ax3 +Ax2 +Ax+Bx2 +Bx+B) + (Cx3 + Cx+Dx2 +D)
= (A+ C)x3 + (A+B +D)x2 + (A+B + C)x+ (B +D)
Agora igualamos potencias de x. Obtemos um sistema de quatro equacoes comquatro incognitas:
0 =Ax3 +Cx3
2x2 =Ax2+Bx2 +Dx2
4x =Ax +Bx +Cx
0 = B +D
Podemos calcular os valores de A,B,C,D resolvendo este sistema. A primeira e aultima equacoes dizem-nos que C = −A e D = −B. Substituindo na segunda e naterceira equacoes obtemos
2 = A+B −B = A
4 = A+B −A = B
Assim, A = 2, B = 4, C = −2 e D = −4. Substituindo os valores na equacao (2)obtemos
2x2 + 4x
(x2 + 1)(x2 + x+ 1)=
2x+ 4
x2 + 1+
−2x− 4
x2 + x+ 1
Agora∫
2x+ 4
x2 + 1dx =
∫
2x
x2 + 1dx+
∫
4
x2 + 1dx
= ln |x2 + 1|+ 4arctan(x)
Veremos na proxima seccao como primitivar a funcao −2x−4x2+x+1 (ver exemplo 14). �
Exemplo 10. Queremos primitivar
2x3 − 1
x(x− 1)3
De acordo com a tabela 1 escrevemos
2x3 − 1
x(x− 1)3=
A
x+
B
x− 1+
C
(x− 1)2+
D
(x− 1)3(3)
6
Agora reduzimos tudo ao mesmo denominador x(x− 1)3:
=A(x− 1)3 +Bx(x− 1)2 + Cx(x− 1) +Dx
x(x− 1)3
Como os denominadores sao iguais, igualando os numeradores obtemos
2x3 − 1 = A(x− 1)3 +Bx(x− 1)2 + Cx(x− 1) +Dx
Tomando x = 0 obtemos −1 = −A logo A = 1. Ponto x = 1 obtemos D = 1. Paraprosseguir precisamos de igualar potencias de x:
2x3 − 1 = A(x− 1)3 +Bx(x− 1)2 + Cx(x− 1) +Dx
= A(x3 − 3x2 + 3x− 1) +B(x3 − 2x2 + x) + C(x2 − x) +Dx
= (A+B)x3 + (−3A− 2B + C)x2 + (3A+B − C +D)x−A
Igualando potencias de x obtemos o sistema
2x3 = Ax3 +Bx3
0 =− 3Ax2 − 2Bx2+Cx2
0 = 3Ax +Bx −Cx +Dx
−1 = −A
Repare que a ultima equacao corresponde a tomar x = 0. Ja sabemos que A =D = 1. A primeira equacao diz-nos que B = 2− A = 1. Entao a segunda equacaodiz-nos que C = 3A+ 2B = 5. Substituindo os valores na equacao (3) obtemos
2x3 − 1
x(x− 1)3=
1
x+
1
x− 1+
5
(x− 1)2+
1
(x− 1)3
Agora e facil primitivar:∫
1
x+
1
x− 1+
5
(x− 1)2+
1
(x− 1)3dx
= ln |x|+ ln |x− 1| − 5
x− 1− 1
2(x− 1)2+ C �
Exemplo 11. Vamos agora completar o exemplo 2. Ficamos de primitivar a funcao
4x3 + 2x− 2
x4 − 1
Primeiro e necessario factorizar o denominador:
x4 − 1 = (x2)2 − 1 = (x2 − 1)(x2 + 1) = (x− 1)(x+ 1)(x2 + 1)
Como x2 + 1 nao tem raızes reais terminamos a factorizacao aqui. De acordo coma tabela 1 temos
(4)4x3 + 2x− 2
(x− 1)(x+ 1)(x2 + 1)=
A
x− 1+
B
x+ 1+
Cx+D
x2 + 1
=A(x+ 1)(x2 + 1) +B(x− 1)(x2 + 1) + (Cx+D)(x− 1)(x+ 1)
(x− 1)(x+ 1)(x2 + 1)
Obtemos assim a igualdade entre polinomios
4x3 + 2x− 2 = A(x+ 1)(x2 + 1) +B(x− 1)(x2 + 1) + (Cx+D)(x− 1)(x+ 1)
Primitivacao de funcoes racionais 7
Pondo x = 1 obtemos
4 · 13 + 2 · 1− 2 = A(1 + 1)(12 + 1) +B(1− 1)(12 + 1) + (Cx+D)(1− 1)(1 + 1)
logo 4 = 4A donde tiramos A = 1. O outro valor conveniente e x = −1:
4 · (−1)3 + 2 · (−1)− 2 = B(−1− 1)(
(−1)2 + 1)
logo −8 = −4B e portanto B = 2. Para prosseguirmos desenvolvemos os produtos
4x3 + 2x− 2 = A(x3 + x2 + x+ 1) +B(x3 − x2 + x− 1) + C(x3 − x) +D(x2 − 1)
e igualamos potencias de x:
x3 = Ax3+Bx3+Cx3
0 = Ax2−Bx2 +Dx2
2x = Ax +Bx −Cx
−2 = A −B −D
Ja sabemos que A = 1 e B = 2. A primeira equacao diz-nos que C = 4−A−B =4− 1− 2 = 1 e a segunda equacao diz-nos que D = B −A = 2− 1 = 1. Assim,
A = 1, B = 2, C = 1, D = 1
e portanto, substituindo na equacao (4) obtemos∫
4x3 + 2x− 2
(x− 1)(x+ 1)(x2 + 1)dx =
∫
1
x− 1+
2
x+ 1dx+
x+ 1
x2 + 1dx
= ln |x− 1|+ 2 ln |x+ 1|+∫
x
x2 + 1dx+
∫
1
x2 + 1dx
= ln |x− 1|+ 2 ln |x+ 1|+ 1
2ln |x2 + 1|+ arctanx �
4. Primitivacao das fraccoes simples
Finalmente e necessario primitivar as fraccoes simples. Primitivas envolvendo asfraccoes simples 1/(x− a)n sao simples de calcular:
∫
dx
x− a= ln |x− a| e
∫
dx
(x− a)n= − 1
n− 1
1
(x− a)n−1(n > 1)
Primitivas envolvendo polinomios Q(x) do segundo grau no denominador sao maiscomplicadas. A ideia e transformar Q(x) no polinomio u2+1 com uma substituicaou = g(x) adequada.
Exemplo 12. Queremos primitivar 1x2+4 . Pondo 4 em evidencia obtemos
∫
dx
x2 + 4=
∫
1
4
dx
x2/4 + 1=
∫
1
4
dx
(x/2)2 + 1
Fazemos agora a substituicao u = x/2, du = dx/2:∫
1
4
dx
(x/2)2 + 1=
1
2
∫
du
u2 + 1=
1
2arctanu
8
Substituindo u = x/2 obtemos
∫
dx
x2 + 4=
1
2arctan
x
2�
Para lidar com polinomios do segundo grau mais complicados usamos o procedi-mento chamado de “completar os quadrados”. Recorde que
(x± a)2 = x2 ± 2ax+ a2
Exemplo 13. Para primitivar 1x2+2x+2 notamos que
x2 + 2x+ 2 = (x2 + 2x+ 1) + 1 = (x+ 1)2 + 1
Fazendo a substituicao u = x+ 1, du = dx obtemos
∫
dx
(x+ 1)2 + 1=
∫
du
u2 + 1= arctanu = arctan(x+ 1) �
Exemplo 14. No exemplo 9 deparamo-nos com a fraccao simples
2x+ 4
x2 + x+ 1
que vamos agora primitivar. Completando quadrados temos
x2 + x+ 1 = x2 + 2 12 x+ 1
= x2 + 2 12 x+
(
12
)2 −(
12
)2+ 1
=(
x+ 12
)2 −(
12
)2+ 1
=(
x+ 12
)2+ 3
4
Fazendo a substituicao u = x+ 12 , du = dx, e notando que 2x+4 = 2u+3 obtemos
∫
2x+ 4
x2 + x+ 1dx =
∫
2x+ 4(
x+ 12
)2+ 3
4
=
∫
2u+ 3
u2 + 34
du
=
∫
4u
u2 + 34
du+
∫
4
u2 + 34
du
= 2 ln∣
∣u2 + 34
∣
∣+
∫
4
u2 + 34
du
Primitivacao de funcoes racionais 9
Pondo 34 em evidencia,
∫
4
u2 + 34
du =
∫
434
(
43u
2 + 1) du
=
∫
16/3(
2u√3
)2+ 1
du
=
∫
16/3
y2 + 1
√3
2dy
(
y = 2u√3
)
=8√3
3arctan y
Juntando tudo e substituindo y e u por x obtemos∫
2x+ 4
x2 + x+ 1dx = 2 ln
∣
∣u2 + 34
∣
∣+8√3
3arctan y
= 2 ln∣
∣(x+ 1/2)2 + 3/4∣
∣+8√3
3arctan
( 2(x+1/2)√3
)
�
5. Existencia da decomposicao em fraccoes simples
Vamos agora mostrar a existencia da decomposicao em fraccoes simples. Seja fuma funcao racional. Apos factorizar o denominador podemos escrever
f(x) =P (x)
Q1(x) ·Q2(x) · · ·Qk(x)
em que cada Qi(x) e da forma
Qi(x) = (x− a)n ou Qi(x) = (ax2 + bx+ c)n
sendo no segundo caso ax2 + bx + c um polinomio sem raızes. Vamos ver quepodemos eliminar os factores do denominador um a um:
• No caso em que Q1(x) = (x− a)n podemos escrever
P (x)
Q1(x) ·Q2(x) · · ·Qk(x)=
R(x)
Q2(x) · · ·Qk(x)+
A1
x− a+ · · ·+ An
(x− a)n
em que A1, . . . , An sao constantes e R(x) e um polinomio.
• Se Q1(x) = (ax2 + bx+ c)n podemos escrever
P (x)
Q1(x) ·Q2(x) · · ·Qk(x)
=R(x)
Q2(x) · · ·Qk(x)+
A1x+B1
ax2 + bx+ c+ · · ·+ Anx+Bn
(ax2 + bx+ c)n
em que A1, B,1, . . . , An, Bn sao constantes e R(x) e um polinomio.
Conseguimos assim eliminar os factores do denominador um a um, substituindo-ospor somas de fraccoes simples.
10
Comecamos com o caso em que Q1(x) = (x − a)n. Para simplificar a notacaoescrevemos Q(x) = Q2(x) · · ·Qk(x). Entao
f(x) =P (x)
Q(x)(x− a)n
Definicao 1: Dizemos que uma funcao racional f tem uma singularidade de or-dem n em x = a se f for da forma
f(x) =P (x)
Q(x)(x− a)n
em que P (a), Q(a) 6= 0. Ou seja, se a for um zero com multiplicidade n do deno-minador e a nao for um zero do numerador.
Para valores de x proximos de a, P (x)Q(x) ≈
P (a)Q(a) . Vamos ver que a diferenca
P (x)
Q(x)(x− a)n− P (a)
Q(a)(x− a)n
tem uma singularidade em x = a de ordem menor ou igual a n − 1. Conseguimosassim cancelar parte da singularidade.
Teorema 2: Dados polinomios P,Q tais que Q(a) 6= 0, existe um polinomio Ptal que
P (x)
Q(x)(x− a)n− P (a)/Q(a)
(x− a)n=
P (x)
Q(x)(x− a)n−1
Demonstracao. Escrevemos
(i)P (x)
Q(x)(x− a)n− P (a)/Q(a)
Q(a)(x− a)n=
P (x)− P (a)Q(a)Q(x)
Q(x)(x− a)n
Agora x = a e uma raiz do numerador logo o numerador e divisıvel por x − a.Chamando P ao quociente temos
(ii) P (x)− P (a)
Q(a)Q(x) = P (x)(x− a)
Substituindo (ii) em (i) obtemos
P (x)
Q(x)(x− a)n− P (a)/Q(a)
Q(a)(x− a)n=
P (x)(x− a)
Q(x)(x− a)n=
P (x)
Q(x)(x− a)n−1�
Iterando este procedimento chegamos ao:
Teorema 3: Dados polinomios P,Q tais queQ(a) 6= 0 existem constantesA1, . . . , An
e um polinomio R(x) tais que
P (x)
Q(x)(x− a)n=
A1
(x− a)+ · · ·+ An
(x− a)n+
R(x)
Q(x)
Demonstracao. A demonstracao e por inducao em n. Para n = 0 basta tomarR = P . Assumimos entao por hipotese de inducao que o resultado e valido para
Primitivacao de funcoes racionais 11
n − 1 e provamos o resultado para n. Pelo teorema 2, existe um polinomio P talque
(i)P (x)
Q(x)(x− a)n=
P (a)/Q(a)
(x− a)n+
P (x)
Q(x)(x− a)n−1
Por hipotese de inducao, existem constantes A1, . . . , An−1 e um polinomio R taisque
(ii)P (x)
Q(x)(x− a)n−1=
A1
(x− a)+ · · ·+ An−1
(x− a)n−1+
R(x)
Q(x)
Substituindo (ii) em (i)
P (x)
Q(x)(x− a)n=
P (a)/Q(a)
(x− a)n+
A1
(x− a)+ · · ·+ An−1
(x− a)n−1+
R(x)
Q(x)
Agora basta tomar An = P (a)/Q(a). �
Vamos agora estudar o caso em que temos como factores do denominador polinomiosdo segundo grau sem raızes em R. Vamos apenas considerar o caso do polinomiox2+1 pois, como vimos, e sempre possıvel reduzir a este caso com uma substituicaoadequada.
A demonstracao usa algumas propriedades muito elementares dos numeros comple-xos.
Comecamos por demonstrar o analogo do teorema 2. A primeira observacao e que,se
P (i) = A+Bi e Q(i) = C +Di
entao
P (−i) = A−Bi e Q(−i) = C −Di
Assim, se definirmos
Pr(x) = A+Bx e Qr(x) = C +Dx
temos
P (±i) = Pr(±i) e Q(±i) = Qr(±i)
Teorema 4: Se Q(i) 6= 0 entao existe um polinomio ‹P tal que
P (x)
Q(x)(x2 + 1)n− Pr(x)/Qr(x)
(x2 + 1)n=
‹P (x)/Qr(x)
Q(x)(x2 + 1)n−1
Demonstracao. A demonstracao e muito semelhante a do teorema 2. Comecamospor escrever
(i)P (x)
Q(x)(x2 + 1)n− Pr(x)
Qr(x)(x2 + 1)n=
P (x)Qr(x)− Pr(x)Q(x)
Q(x)Qr(x)(x2 + 1)n
12
Entao i,−i sao ambas raızes do numerador, pelo que o numerador e divisıvel porx − i e por x + i, sendo portanto divisıvel tambem por (x − i)(x + i) = x2 + 1.
Chamando ‹P ao quociente temos
(ii) P (x)Qr(x)− Pr(x)Q(x) = (x2 + 1)‹P (x)
Substituindo (ii) em (i) obtemos
P (x)
Q(x)(x− a)n− Pr(x)
Qr(x)(x2 + 1)n=
(x2 + 1)‹P (x)
Q(x)Qr(x)(x2 + 1)n
=‹P (x)
Q(x)Qr(x)(x2 + 1)n−1
o que termina a demonstracao. �
Ao comparar o teorema 5 com o teorema 2 vemos uma diferenca importante:
Pr(x)/Qr(X) e ‹P (x)/Qr(x) so sao polinomios se Qr(x) for constante. O que nosqueremos de facto provar e:
Teorema 5: Se Q(i) 6= 0 entao existe um polinomio “P e constantes An, Bn taisque
P (x)
Q(x)(x2 + 1)n− An +Bnx
(x2 + 1)n=
“P (x)
Q(x)(x2 + 1)n−1
Demonstracao. O teorema segue de imediato do teorema 4 no caso em queQ(i) ∈R pois nesse caso Qr(x) = C e uma constante e basta tomar “P (x) = ‹P (x)/C eescrever o polinomio de grau um Pr(x)/C na forma Pr(x)/C = An+Bnx. No casogeral, escrevendo Q(i) = C +Di temos
P (x)
Q(x)(x2 + 1)n=
(C −Dx)P (x)
(C −Dx)Q(x)(x2 + 1)n
e
(C −Di)Q(i) = (C −Di)(C +Di) = C2 +D2 ∈ R.
Pelo que dissemos acima, basta agora aplicar o teorema 4. �
Podemos agora mostrar que
Teorema 6: Existem constantes A1, B1, . . . , An, Bn e um polinomio R(x) taisque
P (x)
Q(x)(x2 + 1)n=
A1 +B1x
x2 + 1+ · · ·+ An +Bnx
(x2 + 1)n+
R(x)
Q(x)
Demonstracao. A demonstracao e por inducao em n. Para n = 0 basta tomarR = P . Assumimos entao por hipotese de inducao que o resultado e valido para
n− 1 e provamos o resultado para n. Pelo teorema 5, existe um polinomio “P (x) econstantes An, Bn tais que
(i)P (x)
Q(x)(x2 + 1)n=
An +Bnx
(x2 + 1)n+
“P (x)
Q(x)(x2 + 1)n−1
Primitivas com funcoes trigonometricas 13
Por hipotese de inducao existem constantes A1, B1, . . . , An−1, Bn−1 e um polinomioR(x) tais que
(ii)“P (x)
Q(x)(x− a)n−1=
A1 +B1x
x2 + 1+ · · ·+ An−1 +Bn−1x
(x2 + 1)n−1+
R(x)
Q(x)
Substituindo (ii) em (i) obtemos
P (x)
Q(x)(x2 + 1)n=
An +Bnx
(x2 + 1)n+
A1 +B1x
x2 + 1+ · · ·+ An−1x+Bn−1x
(x2 + 1)n−1+
R(x)
Q(x)
o que termina a demonstracao. �
Primitivas com funcoes trigonometricas
Vamos agora ver como primitivar expressoes envolvendo funcoes trigonometricas.
6. Primitivas envolvendo senos e cosenos
Muitas primitivas podem ser calculadas usando a formula sen2 x+cos2 x = 1 e umasubstituicao u = cosx ou u = senx:
Exemplo 15. Queremos primitivar sen2(x) cos3(x). Notamos que∫
sen2(x) cos3(x) dx =
∫
sen2(x) cos2(x)(cosx dx) =
∫
sen2 x(1−sen2 x)(cosx dx)
Assim, fazendo a substituicao u = senx, du = cosx dx obtemos∫
sen2(x) cos3(x) dx =
∫
u2(1− u2)du =
∫
u2 − u4 du
=u3
3− u5
5+ C =
cos3 x
3− cos5 x
5+ C �
Exemplo 16. Queremos primitivar a funcao
f(x) =sen5 x
3 + sen2 x
Notamos que
∫
sen5 x dx
3 + sen2 x=
∫
(
sen2 x)2
senx dx
3 + sen2 x=
∫
(
1− cos2 x)2
senx dx
3 + (1− cos2 x)
Fazendo a substituicao u = cosx, du = − senx dx obtemos
∫
(
1− cos2 x)2
senx dx
4− cos2 x= −
∫
(1− u2)2 du
4− u2
Deixamos ao cuidado do leitor verificar que
(1− u2)2
u2 − 4= u2 + 2 +
9/4
u+ 2− 9/4
u− 2
14
e portanto∫
(1− u2)2 du
u2 − 4=
u3
3+ 2u+
9
4ln |u+ 2| − 9
4ln |u− 2|
=1
3cos3 x+ 2 cosx+
9
4ln
∣
∣
∣
∣
cosx+ 2
cosx− 2
∣
∣
∣
∣
�
Exemplo 17. Queremos primitivar f(x) = (cosx)−1 = secx:∫
secx dx =
∫
1
cosxdx =
∫
1
cos2 xcosx dx =
∫
1
1− sen2 xcosx dx
Fazendo a substituicao u = senx, du = cosx dx obtemos∫
1
1− sen2 xcosx dx =
∫
1
1− u2du
Deixamos como exercıcio a verificacao que
∫
1
1− u2du = − 1
2 ln |1− u|+ 12 ln |1 + u| = ln
�∣
∣
∣
∣
1 + u
1− u
∣
∣
∣
∣
Falta apenas substituir u = senx:
∫
secx dx = ln
�∣
∣
∣
∣
1 + senx
1− senx
∣
∣
∣
∣
�
7. Primitivas envolvendo tangentes e secantes
Comecamos por ver como primitivar a tangente e a secante. Usando a substituicaou = cosx obtemos
∫
tanx dx =
∫
senx
cosxdx = −
∫
1
cosx(− senx dx)
= −∫
du
udu = − ln |u|+ C
= − ln | cosx|+ C = ln | secx|+ C
No exemplo 17 vimos como primitivar a secante:
∫
secx dx = ln
�∣
∣
∣
∣
1 + senx
1− senx
∣
∣
∣
∣
Podemos simplificar esta expressao notando que
1 + senx
1− senx=
(1 + senx)2
1− sen2 x=
Å1 + senx
cosx
ã2= (secx+ tanx)2
Assim,
ln
�∣
∣
∣
∣
1 + senx
1− senx
∣
∣
∣
∣
= ln»(secx+ tanx)2 = ln | secx+ tanx|
Resumindo:
Primitivas com funcoes trigonometricas 15
∫
tanx dx = ln | secx|+ C
∫
secx dx = ln | secx+ tanx|+ C
Tecnicas semelhantes as usadas na seccao 6 com o seno e o coseno podem ser usadaspara primitivar funcoes envolvendo a tangente e a secante. Neste caso as formulasrelevantes sao
sec2 θ − tan2 θ = 1, (tan θ)′ = sec2 θ e (sec θ)′ = sec θ tan θ
Exemplo 18. Para primitivar tan3 x sec4 x notamos que∫
tan3 x sec4 x dx =
∫
tan3 x sec2 x sec2 x dx
=
∫
tan3 x(
1 + tan2 x)
sec2 x dx
Fazendo a substituicao u = tanx obtemos∫
tan3 x(
1 + tan2 x)
sec2 x dx =
∫
u3(1 + u2) du =u4
4+
u6
6
Agora basta substituir u = tanx:∫
tanx sec4 x dx =1
4tan4 x+
1
6tan6 x �
Exemplo 19. Vamos primitivar tan3 x sec4 x de outra maneira. Desta vez notamosque
∫
tan3 x sec4 x dx =
∫
tan2 x sec3 x(
tanx secx dx)
=
∫
(
sec2 x− 1)
sec3 x(
tanx secx dx)
Fazendo a substituicao u = secx obtemos∫
(
sec2 x− 1)
sec3 x(
tanx secx dx)
=
∫
(u2 − 1)u3 du =u6
6− u4
4
Agora basta substituir u = secx:∫
tanx sec4 x dx =1
6sec6 x− 1
4sec4 x
Esta primitiva e diferente da obtida no exemplo 18 mas o leitor pode verificarfacilmente que as duas primitivas diferem por uma constante:
1
6sec6 x− 1
4sec4 x =
1
4tan4 x+
1
6tan6 x− 1
12�
16
Exemplo 20. Vamos primitivar tan3 θ.∫
tan3 θ dθ =
∫
tan3 θ
sec2 θsec2 θ dθ =
∫
tan3 θ
1 + tan2 θ(sec2 θ dθ)
Fazendo a substituicao u = tan θ obtemos∫
tan3 θ
1 + tan2 θ(sec2 θ dθ) =
∫
u3
1 + u2du
Deixamos ao leitor o cuidado de verificar que∫
u3
1 + u2du = 1
2u2 − ln
√
1 + u2
Substituindo u = tan θ obtemos∫
tan3 θ dθ = 12 tan
2 θ − ln√
1 + tan2 θ = 12 tan
2 θ − ln | sec θ| �
8. Algumas propriedades das funcoes trigonometricas
As tecnicas da seccao 6 permitem primitivar senn θ cosm θ desde que ou n ou msejam ımpares. Por exemplo, se m = 2k + 1 temos
∫
senn θ cos2k+1 θ dθ =
∫
senn θ cos2k θ cos θ dθ
=
∫
senn θ(
1− sen2 θ)k
cos θ dθ
=
∫
un(1− u2)k du (u = sen θ)
Para lidar com potencias pares podemos usar primitivacao por partes mas e maissimples usar as propriedades das funcoes trigonometricas que passamos a descrever:
Teorema 7 (Propriedades do seno e do coseno):
(1) cos2 θ = 12 (1 + cos 2θ)
(2) sen2 θ = 12 (1− cos 2θ)
(3) sen 2θ = 2 sen θ cos θ
Antes da demonstracao vamos ver algumas aplicacoes:
Exemplo 21. Podemos agora facilmente primitivar cos2 θ:∫
cos2 θ dθ =
∫
1 + cos(2θ)
2dθ
=θ
2+
1
4sen(2θ)
=1
2
(
θ + sen θ cos θ)
�
Primitivas com funcoes trigonometricas 17
Exemplo 22. Para calcular uma primitiva de sen4 x procedemos do seguinte modo:∫
sen4 x dx =
∫ Å1− cos 2x
2
ã2dx
=
∫
1
4dx− 1
2
∫
cos(2x) dx+1
4
∫
cos2(2x) dx
=
∫
1
4dx− 1
2
∫
cos(2x) dx+1
8
∫
(1 + 2 cos(4x)) dx
e nesta ultima expressao sabemos calcular todas as primitivas. �
Exemplo 23. Para calcular uma primitiva de sen2 x cos2 x notamos que
sen2 x cos2 x = 14 sen
2(2x) = 18 − 1
8 cos(4x)
logo∫
sen2 x cos2 x dx = 18x− 1
32 sen(4x) �
Vamos entao demonstrar o teorema 7:
Demonstracao. Se derivarmos (1) obtemos (3) e a identidade (2) segue de (1)usando a relacao sen2 θ = 1− cos2 θ. Portanto so temos que mostrar (1).
• Primeiro assumimos que θ ∈[
0, π2
]
. A identidade (1) pode ser escrita como
cos 2θ = 2 cos2 θ − 1. Como 2θ ∈ [ 0, π ], esta identidade e equivalente a
2θ = arccos(
2 cos2 θ − 1)
Seja agora x = cos θ. Entao θ = arccosx e obtemos a identidade equivalente
2 arccosx = arccos(2x2 − 1)
Para mostrar esta identidade vamos primeiro ver que as derivadas sao iguais.Usando a regra da cadeia e simplificando obtemos para x 6= 1
d
dxarccos(2x2 − 1) = − 4x
√
1− (2x2 − 1)2= − 4x
√
4x2(1− x2)
Como θ ∈[
0, π2 ], x = cos θ ≥ 0 logo
√4x2 = 2x. Assim,
d
dxarccos(2x2 − 1) = − 2√
1− x2=
d
dx2 arccosx (0 ≤ x < 1)
Duas funcoes com a mesma derivada diferem por uma constante. Provamosportanto que
arccos(2x2 − 1) = 2 arccosx+ C (0 ≤ x < 1)
Tomando o limite quando x → 1 obtemos arccos 1 = 2 arccos 1+C logo C = 0o que termina a demonstracao.
• Como as funcoes
cos2 θ e1
2
(
1 + cos(2θ))
18
sao ambas pares e sao iguais no intervalo[
0, π2
]
(como acabamos de ver), sao
tambem necessariamente iguais no intervalo[
− π2 , 0
]
. Assim, a identidade
(1) e valida em todo o intervalo[
− π2 ,
π2
]
.
• Dado φ ∈ R escrevemos φ = θ + kπ com θ ∈[
− π2 ,
π2
]
. Entao
cosφ = cos(θ + kπ) = (−1)k cos θ
cos 2φ = cos(2θ + 2kπ) = cos(2θ)
cos2 θ =1
2(1 + cos 2θ) pois θ ∈
[
− π2 ,
π2
]
logo
cos2 φ = cos2 θ =1
2(1 + cos 2θ) =
1
2(1 + cos 2φ) �
9. A substituicao u = tan θ
2.
Qualquer expressao envolvendo apenas somas, produtos e quocientes das funcoessen θ e cos θ pode ser transformada numa funcao racional mediante a substituicaou = tan θ
2 . A utilidade desta substituicao vem das formulas seguintes:
Teorema 8: Se u = tan θ2 entao
cos θ =1− u2
1 + u2, sen θ =
2u
1 + u2e dθ =
2du
1 + u2
Demonstracao. A observacao crucial e que
sec2(θ/2) = 1 + tan2(θ/2) = 1 + u2 logo cos2(θ/2) =1
1 + u2
Daqui tiramos de imediato que
du = 12 sec
2(θ/2)dθ = 12 (1 + u2)dθ
e portanto dθ = 2du/(1 + u2). Usando agora as formulas para o seno e coseno dodobro dum angulo (teorema 7) chegamos a
cos θ = 2 cos2(θ/2)− 1
=2
1 + u2− 1 =
1− u2
1 + u2
sen θ = 2 sen(θ/2) cos(θ/2)
= 2 tan(θ/2) cos2(θ/2)
=2u
1 + u2�
Primitivas com funcoes trigonometricas 19
Exemplo 24. Queremos calcular uma primitiva de 13 sen θ+4 cos θ . Usando a substi-
tuicao u = tan θ2 obtemos
∫
dθ
3 sen θ + 4 cos θ=
∫ 2du1+u2
3 2u1+u2 + 4 1−u2
1+u2
=
∫
du
6u+ 4− 4u2
O polinomio 6u+ 4− 4u2 tem raızes 2 e − 12 pelo que
6u+ 4− 4u2 = −4(u− 2)(
u+ 12
)
= −2(u− 2)(2u+ 1)
Deixamos ao leitor o cuidado de verificar que
∫
du
−2(u− 2)(2u+ 1)=
1
5
∫
du
2u+ 1− 1
10
∫
du
u− 2=
1
10ln
∣
∣
∣
∣
2u+ 1
u− 2
∣
∣
∣
∣
Agora so resta substituir u = tan θ2 :
∫
dθ
3 sen θ + 4 cos θ=
1
10ln
∣
∣
∣
∣
2u+ 1
u− 2
∣
∣
∣
∣
=1
10ln
∣
∣
∣
∣
∣
2 tan θ2 + 1
tan θ2 − 2
∣
∣
∣
∣
∣
�
A substituicao u = tan θ2 tem uma interpretacao geometrica em termos da chamada
projeccao estereografica. A projeccao estereografica associa a cada ponto θ 6= π docırculo trigonometrico um ponto sobre o eixo dos yy de acordo com a figura:
Figura 1. Projeccao estereografica
Mas o ponto sobre o eixo dos yy e precisamente o ponto y = tan(θ/2) como se podever observando a figura seguinte, na qual tan(θ/2) = OB:
20
A O D
B
C
θθ/2
Figura 2. A substituicao u = tan θ
2
10. A funcao arcsec
Recorde que a funcao arcsec : [ 1,+∞[→ R e a inversa da restricao da secante aointervalo
[
0, π2
[
. O arco-secante pode ser escrito em termos do arco-coseno:
arcsecx = arccos 1x
A sua derivada pode ser calculada por
(i) (arcsecx)′ =1
(sec θ)′=
1
sec θ tan θ
Agora tan2 θ = sec2 θ − 1. Para θ ∈[
0, π2
[
temos
(ii) tan θ =√
sec2 θ − 1 =√
x2 − 1
Substituindo (ii) em (i) obtemos
(arcsecx)′ =1
x√x2 − 1
Naturalmente, a esta formula esta associada a formula para primitivas∫
dt
t√t2 − 1
= arcsec t+ C
Funcoes hiperbolicas e as suas inversas
11. Funcoes hiperbolicas
As seguintes funcoes aparecem frequentemente em aplicacoes, sendo tambem bas-tante uteis para calcular primitivas:
Funcoes hiperbolicas e as suas inversas 21
Definicao 9: O seno hiperbolico e a funcao senh : R → R definida por
senhx =ex − e−x
2O coseno hiperbolico e a funcao cosh : R → R definida por
coshx =ex + e−x
2
E imediatamente claro que senhx e ımpar e que coshx e par. Alem disso, como ex
e sempre positiva, coshx > 0 para qualquer x. As derivadas sao faceis de calcular:
(senhx)′ = coshx e (coshx)′ = senhx
(senhx)′ = coshx > 0 logo o seno hiperbolico e estritamente crescente. Comosenh(0) = 0, o seno hiperbolico e positico para x > 0 e negativo para x < 0.Podemos agora estudar a monotonia e a concavidade das funcoes hiperbolicas:
x < 0 0 x > 0senh′ = cosh + + +senh′′ = senh − 0 +
senh ր ∩ infl. ր ∪
x < 0 0 x > 0cosh′ = senh − 0 +cosh′′ = cosh + + +
cosh ց ∪ min. ր ∪
Para analisar o comportamento assimptotico do seno hiperbolico repare que quandox → +∞, e−x → 0 logo senhx ≈ 1
2ex. Quando x → −∞, ex → 0 logo senhx ≈
− 12e
−x. Podemos agora esbocar o grafico:
-2 -1 1 2
-3
-2
-1
1
2
3
− 12e
−x
12e
x senhx
Figura 3. Grafico da funcao senhx
Para analisar o comportamento assimptotico do coseno hiperbolico observamos quequando x → +∞, coshx ≈ 1
2ex e quando x → −∞, coshx ≈ 1
2e−x. Obtemos assim
o seguinte grafico:
22
-2 -1 1 2
1
2
3
12e
−x12e
x
coshx
Figura 4. Grafico da funcao coshx
As funcoes hiperbolicas tem propriedades bastante semelhantes as das funcoes tri-gonometricas:
Teorema 10 (Propriedades das funcoes hiperbolicas):
cosh2 x− senh2 x = 1
cosh2 x = 12 + 1
2 cosh(2x)
senh2 x = − 12 + 1
2 cosh(2x)
2 senhx coshx = senh(2x)
A demonstracao e directa a partir da definicao e fica como exercıcio.
12. Primitivas envolvendo funcoes hiperbolicas
Tecnicas semelhantes as usadas com as funcoes trigonometricas podem ser usadaspara primitivar funcoes envolvendo senos e cosenos hiperbolicos:
Exemplo 25. Vamos primitivar cosh5 x:∫
cosh5 x dx =
∫
cosh4 x(coshx dx) =
∫
(1 + senh2 x)2(coshx dx)
Fazendo a substituicao u = senhx, du = coshx dx obtemos∫
(1+ senh2 x)2(coshx dx) =
∫
(1+ u2)2du =
∫
(1+ 2u2 + u4)du = u+ 23u
3 + 15u
5
Substituindo u = senhx obtemos∫
cosh5 x dx = senhx+ 23 senh
3 x+ 15 senh
5 x �
Exemplo 26. Vamos primitivar cosh2 x senh2 x. Comecamos por observar que
cosh2 x senh2 x =1
4senh2(2x) =
1
4
Å−1
2+
1
2cosh(4x)
ã
Assim,∫
cosh2 x senh2 x dx = −1
8x+
1
32senh(4x) �
Funcoes hiperbolicas e as suas inversas 23
13. Funcoes hiperbolicas inversas
A funcao senh e injectiva e a funcao cosh e injectiva no intervalo [ 0,+∞[ pelo quepodemos definir funcoes inversas:
Definicao 11: Chamamos argumento do seno hiperbolico a funcao inversa doseno hiperbolico e representamo-la por
argsenhx : R → R
Chamamos argumento do coseno hiperbolico, argcosh, a funcao inversa da restricaodo coseno hiperbolico ao intervalo [ 0,+∞[:
argcosh : [ 1,+∞[→ R
O teorema da derivada da funcao inversa permite-nos entao calcular:
Teorema 12 (Derivadas das funcoes hiperbolicas inversas):
(argsenhx)′ =1√
1 + x2e (argcoshx)′ =
1√x2 − 1
Demonstracao. Consideramos primeiro o argumento do seno hiperbolico. Afuncao f(y) = senh y esta definida em R, com inversa y = argsenhx. A deri-vada de f , f ′(y) = cosh y, nunca se anula logo a sua inversa f−1(x) = argsenhx ediferenciavel em todo o seu domınio com derivada
(argsenhx)′ =1
f ′(y)=
1
cosh y
Como cosh2 y = 1 + senh2 y e o coseno hiperbolico e sempre positivo, cosh y =»1 + senh2 y =
√1 + x2. Assim,
(argsenhx)′ =1√
1 + x2
Passemos ao argumento do coseno hiperbolico. Seja f : [ 0,+∞[→ R a restricao dafuncao x = cosh y ao intervalo [ 0,+∞[ . Entao f−1(x) = argcoshx definida parax ≥ 1. A derivada de f , f ′(y) = senh y, anula-se apenas em y = 0, que correspondea x = 1, pelo que argcoshx e diferenciavel para x ∈ ]1,+∞[ , com derivada
(argcoshx)′ =1
f ′(y)=
1
senh y
Como y > 0, senh y > 0. Como senh2 y = cosh2 y−1, entao senh y =»
cosh2 y − 1 =√x2 − 1 logo
(argcoshx)′ =1√
x2 − 1�
24
A estas formulas estao naturalmente associadas formulas para as primitivas:
•∫
dx√1 + x2
= argsenhx
•∫
dx√x2 − 1
= argcoshx (x ≥ 1)
•∫
dx√x2 − 1
= − argcosh(−x) (x ≤ −1)
E util escrever as funcoes argsenh e argcosh em termos do logaritmo. Para talresolvemos as equacoes
x = cosh y =ey + e−y
2(y ≥ 0)
x = senh y =ey − e−y
2
em ordem a y. Para o coseno hiperbolico temos a equacao
ey + e−y − 2x = 0
Multiplicando por ey obtemos a equacao
(
ey)2 − 2xey + 1 = 0
Fazendo a substituicao u = ey obtemos u2 − 2xu + 1 = 0. Usando a formularesolvente obtemos
u = ey =2x±
√4x2 − 4
2= x±
√
x2 − 1
Repare que x = cosh y ≥ 1 logo a raiz quadrada esta sempre definida. Para x = 1temos uma so solucao: ey = 1 logo y = 0. Para x > 1 temos que decidir qual dasduas solucoes tomar. Recorde que restringimos o cosh a regiao em que y ≥ 0 logoey ≥ 1. Vamos mostrar que x−
√x2 − 1 < 1 e portanto esta solucao e impossıvel:
√
x2 − 1 =√x− 1
√x+ 1 >
√x− 1
√x− 1 = x− 1
Assim,√x2 − 1 > x− 1 logo x−
√x2 − 1 < 1. Portanto a unica solucao possıvel e
ey = x+√
x2 − 1 ou seja y = ln(
x+√
x2 − 1)
Chegamos assim ao
Teorema 13:
argcoshx = ln(
x+√
x2 − 1)
e argsenhx = ln(
x+√
x2 + 1)
Deixamos a demonstracao da formula do argsenh como exercıcio.
Podemos interpretar as funcoes hiperbolicas do seguinte modo: observemos a figura:
Primitivacao por substituicao 25
R1
s
x2 + y2 = 1
R2
t
x2 − y2 = 1
Figura 5. Funcoes arccos e argcosh
A area do sector circular R1 e metade do angulo. O coseno do angulo e s logo
Area(R1) =1
2arccos(s)
Teorema 14: Area(R2) =1
2argcosh(t)
Demonstracao. O triangulo rectangulo com vertices na origem, em (t, 0) e em
(t,√t2 − 1) e a uniao da regiao R2 com a regiao por baixo do grafico de y =
√x2 − 1.
A area do triangulo e dada por
1
2base× altura =
1
2t√
t2 − 1
pelo que
Area(R2) =1
2t√
t2 − 1−∫ t
1
√
x2 − 1 dx
A area de R2 e argcosh(t) sao ambas zero para t = 1 pelo que basta mostrar queas derivadas sao iguais:
d
dtArea(R2) =
1
2
√
t2 − 1 +t2
2√t2 − 1
−√
t2 − 1
=1
2
Åt2√t2 − 1
−√
t2 − 1
ã
=1
2√t2 − 1
=1
2(argcosh)′(t)
donde concluımos que
Area(R2) =1
2argcosh t �
Primitivacao por substituicao
Recorde que, para usar uma substituicao u = g(x), substituımos no integral g(x)por u e g′(x) dx por du. Para este procedimento funcionar e necessario que aexpressao g′(x) dx faca parte do integral.
26
Exemplo 27. Para primitivar
2x√
x2 + 3
fazemos a substituicao u = x3 + 2. Entao du = 2x dx faz parte do integral e assim∫
2x√
x2 + 3 dx =
∫ √u du =
2
3u
3
2 =2
3(x2 + 3)
3
2 �
E possıvel no entanto fazer substituicoes em situacoes muito mais gerais desde queg seja injectiva. Seja x = h(u) a inversa de g. A derivada de h e h′(u) = 1
g′(x) peloque
du = g′(x) dx =1
h′(u)dx
Assim, e legıtimo usar a formula
dx = h′(u) du
numa substituicao, pois ela e equivalente a du = g′(x) dx. E usual chamar substi-tuicao inversa a este tipo de substituicao em que:
(1) Substituımos x por h(u)
(2) Substituımos dx por h(u) du
(3) Calculamos o integral e
(4) Substituımos u = h−1(x)
Exemplo 28. Na substituicao u = tan θ2 vimos que du = 1
2 sec2 θ
2 dθ = 12 (1+u2)dθ
e portanto dθ = 2du1+u2 . Esta formula pode ser facilmente deduzida escrevendo
θ = 2arctanu e calculando
dθ = (2 arctanu)′du =2du
1 + u2�
Exemplo 29. Vamos primitivar√x
1+√x. Vamos usar a substituicao u =
√x que
tem por inversa x = u2 com u ≥ 0. Entao dx = 2u du logo∫ √
x
1 +√xdx =
∫
u
1 + u2u du
Deixamos ao cuidado do leitor a verificacao que∫
2u2 du
u+ 1= u2 − 2u+ 2 ln |u+ 1|+ C
Substituindo u =√x obtemos
∫ √x
1 +√xdx = u2 − 2u+ 2 ln |u+ 1|+ C = x− 2
√x+ 2 ln(
√x+ 1) + C �
Primitivacao por substituicao 27
14. Racionalizacao
Em certas situacoes e possıvel, mediante uma substituicao, reduzir o problemado calculo duma primitiva a encontrar uma primitiva duma certa funcao racional.Ja encontramos uma dessas situacoes na seccao 5: a substituicao u = tan(θ/2)permite transformar qualquer expressao envolvendo somas, produtos e quocientesdas funcoes sen θ e cos θ numa funcao racional.
Exemplo 30. Para primitivar
f(θ) =cos θ
1 + cos θ
fazemos a substituicao u = tan(θ/2). Obtemos
∫
cos θ dθ
1 + cos θ=
∫
1− u2
1 + u2
2 du
1 + u2
1 +1− u2
1 + u2
=
∫
1− u2
1 + u2du
Dividindo os polinomios obtemos∫
1− u2
1 + u2du =
∫ Å2− 1
1 + u2
ãdu = 2u− arctanu
Basta agora substituir u = tan(θ/2):∫
cos θ dθ
1 + cos θ= 2 tan(θ/2)− θ/2 �
Expressoes envolvendo somas, produtos e quocientes de raızes q√xp podem ser trans-
formadas em funcoes racionais mediante a substituicao u = n√x em que n e o menor
multiplo comum das raızes que aparecem na expressao.
Exemplo 31. Para calcular∫
dx√x+ 3
√x
Fazemos a substituicao u = 6√x. Entao x = u6 donde dx = 6u5du. Assim,
∫
dx√x+ 3
√x=
∫
6u5du
u3 + u2=
∫
6u3 du
u+ 1
Dividindo os polinomios obtemos∫
6u3 du
u+ 1= 6
∫ Åu2 − u+ 1− 1
u+ 1
ãdu = 2u3 − 3u2 + 6u− 6 ln |u+ 1|
Finalmente substituımos u = 6√x:
∫
dx√x+ 3
√x= 2
√x− 3 3
√x+ 6 6
√x− 6 ln
∣
∣
6√x+ 1
∣
∣ �
Expressoes envolvendo somas, produtos e quocientes de exponenciais podem sertransformadas em funcoes racionais mediante a substituicao u = ex:
28
Exemplo 32. Vamos supor que queremos primitivar f(x) = 11+ex . Para tal vamos
fazer a substituicao u = ex. Entao x = lnu e assim dx = 1u du. Substituindo
obtemos∫
dx
1 + ex=
∫ 1u du
1 + u
=
∫
du
u(1 + u)
Deixamos ao leitor o cuidado de verificar que∫
1
u(1 + u)=
∫
du
u−∫
du
1 + u= ln |u| − ln |1 + u|+ C = ln
∣
∣
∣
∣
u
1 + u
∣
∣
∣
∣
+ C
Substituindo u = ex obtemos∫
dx
1 + ex= ln
∣
∣
∣
∣
u
1 + u
∣
∣
∣
∣
+ C = ln
∣
∣
∣
∣
ex
1 + ex
∣
∣
∣
∣
+ C �
O leitor pode encontrar outras situacoes em que e possıvel racionalizar nos exercıcios.
15. Substituicoes trigonometricas e hiperbolicas
Primitivas envolvendo raızes quadradas de polinomios quadraticos surgem frequen-temente nas aplicacoes. Vamos agora estudar uma tecnica para calcular este tipode primitivas.
A ideia e tirar partido das relacoes trigonometricas
1− sen2 θ = cos2 θ e 1 + tan2 θ = sec2 θ
Exemplo 33. Queremos calcular o integral
∫ 1
2
− 1
2
√
1− 4x2 dx
Queremos tirar partido da relacao√
1− sen2 θ = cos θ (cos θ ≥ 0)
para eliminar a raiz quadrada. Para isso fazemos a substituicao 4x2 = sen2 θ, ouseja, x = h(θ) = 1
2 sen θ. Entao dx = 12 cos θ dθ.
Para a substituicao ser valida, a funcao h tem que ser injectiva. Por isso restringi-mos θ ao intervalo
[
− π2 ,
π2
]
. Neste intervalo,
x = 12 sen θ ⇔ θ = arcsen(2x)
Para substituir os extremos de integracao, observamos que
se x = − 12 , entao θ = arcsen(−1) = −π
2
se x = 12 , entao θ = arcsen(1) = π
2
Primitivacao por substituicao 29
Assim,
Area = 2
∫ 1
2
− 1
2
√
1− 4x2 dx
= 2
∫ π2
−π2
√
1− sen2 θ(
12 cos θ dθ
)
Como θ ∈[
− π2 ,
π2
]
, cos θ ≥ 0 logo√
1− sen2 θ =√cos2 θ = cos θ
Assim,∫ π
2
−π2
cos2 θ dθ =
∫ π2
−π2
12 (1 + cos 2θ) dθ =
π
2�
E util representar este tipo de substituicoes num triangulo rectangulo. Recordeque para θ ∈
]
0, π2
[
podemos descrever as funcoes trigonometricas em termos dotriangulo rectangulo de referencia da figura 6.
A B
C
θ
Figura 6. Triangulo de referencia.
Temos
sen θ = BC/AC tan θ = BC/AB sec θ = AC/AB
cos θ = AB/AC cotan θ = AB/BC cosec θ = AC/BC
A substituicao usada no exemplo 33 esta representada na figura 7.
.
θ
2x
√1− 4x2
1
Figura 7. Exemplo 33
Repare que esta figura diz-nos de imediato que
sen θ = 2x e cos θ =√
1− 4x2
Vimos que a formula 1 − sen2 θ = cos2 θ nos permite primitivar expressoes envol-vendo
√u2 − 1. De forma analoga, as formulas
1 + tan2 θ = sec2 θ e sec2 θ − 1 = tan2 θ
permitem-nos primitivar expressoes envolvendo√1 + u2 e
√u2 − 1 respectivamente.
30
Exemplo 34. Vamos calcular uma primitiva de 1x2
√x2−16
assumindo que x ≥ 4.
Comecamos por desenhar um triangulo rectangulo de referencia:
.
θ
√x2 − 16
4
x
O triangulo indica-nos qual a substituicao que devemos fazer:
sec θ =x
4
(
0 ≤ θ < π2
)
tan θ =
√x2 − 16
4
Assim, dx = 4 sec θ tan θ dθ pelo que
∫
dx
x2√x2 − 16
=
∫
4 sec θ tan θ dθ
16 sec2 θ · 4 tan θ =
∫
dθ
16 sec θ
=
∫
116 cos θ dθ = 1
16 sen θ
O triangulo de referencia da-nos o valor do seno:
∫
dx
x2√x2 − 16
=1
16sen θ =
1
16·√x2 − 16
x=
√x2 − 16
16x�
Como outro exemplo vamos voltar ao problema de primitivar (1 + x2)−n queabordamos na seccao 4. Nessa seccao usamos primitivacao por partes. Vamosagora usar a substituicao x = tan θ. Obtemos
∫
dx(
1 + x2)n =
∫
sec2 θ dθ(
1 + tan2 θ)n
=
∫
sec2−2n θ dθ
=
∫
cos2n−2 θ dθ
Ja vimos na seccao 8 como calcular este tipo de primitivas usando a formula
cos2n−2 θ =
Å1 + cos(2θ)
2
ãn−1
.
Exemplo 35. Vamos calcular uma primitiva de 1(4x2+9)2 . Interpretando a soma
de quadrados como a hipotenusa dum triangulo rectangulo obtemos o seguintetriangulo rectangulo de referencia:
Primitivacao por substituicao 31
.
θ
2x
3
√4x2 + 9
O triangulo indica-nos qual a substituicao que devemos fazer:
tan θ =2x
3
(
− π2 < θ < π
2
)
, sec θ =
√4x2 + 9
3
Assim, x = 32 tan θ logo dx = 3
2 sec2 θ dθ e
∫
dx
(4x2 + 9)2=
∫ 32 sec
2 θ dθ
34 sec4 θ=
∫
dθ
54 sec2 θ
=
∫
154 cos
2 θ dθ =
∫
1108 (1 + cos 2θ)dθ
= 1108
(
θ + 12 sen 2θ
)
Precisamos agora de substituir θ por x. Como tan θ = 2x3 , x = arctan
(
32θ
)
. Por
outro lado, 12 sen 2θ = sen θ cos θ e o triangulo de referencia da-nos os valores de
sen θ e de cos θ:
sen θ =2x√
4x2 + 9cos θ =
3√4x2 + 9
Assim,∫
dx
(4x2 + 9)2=
1
108
(
θ + sen θ cos θ)
=1
108
Åarctan
3θ
2+
2x√4x2 + 9
· 3√4x2 + 9
ã
=1
108
Åarctan
3θ
2+
6x
4x2 + 9
ã�
Os tres tipos de substituicao trigonometrica estao sumarizados na tabela seguinte:
Expressao Substituicao√a2 − x2 (−a ≤ x ≤ a) x = a sen θ
(
− π2 ≤ θ ≤ π
2
)
√a2 + x2 (x ∈ R) x = a tan θ
(
− π2 < θ < π
2
)
√x2 − a2 (x ≥ 1) x = a sec θ
(
0 ≤ θ < π2
)
Tabela 2. Substituicoes trigonometricas
E muitas vezes mais conveniente usar substituicoes hiperbolicas. A ideia e aprovei-tar a identidade
cosh2 t− senh2 t = 1
32
Exemplo 36. Queremos calcular uma primitiva de√1 + x2. O leitor pode verificar
que uma substituicao trigonometrica nos conduz ao integral∫
sec3 θ dθ que e difıcilde calcular. Em vez disso usamos a substituicao hiperbolica
senh t = x cosh t =√
1 + x2
Entao dx = cosh t dt e obtemos∫
√
1 + x2 dx =
∫
cosh2 t dt =
∫
12 (1 + cosh 2t)dt
= 12
(
t+ 12 senh(2t)
)
= 12 (t+ senh t cosh t)
= 12 (argsenhx+ x
√
1 + x2) �
Como costume, para lidar com polinomios do segundo grau completamos os qua-drados:
Exemplo 37. Vamos primitivar 1√x2−3x+2
. Primeiro completamos os quadrados:
x2 − 3x+ 2 = x2 − 2(
32
)
x+ 2
= x2 − 2(
32
)
x+(
32
)2 −(
32
)2+ 2
=(
x− 32
)2 − 94 + 2
=(
x− 32
)2 − 14
Queremos portanto calcular∫
dx»(
x− 32
)2 − 14
Aqui e mais simples fazer uma substituicao hiperbolica. A raiz quadrada e da forma√u2 − a2 com u = x− 3
2 e a = 12 portanto fazemos a substituicao
x− 32 = 1
2 cosh t , dx = 12 senh t
Obtemos assim∫
dx»(
x− 32
)2 − 14
=
∫ 12 senh t dt12 senh t
=
∫
dt = t = argcosh(2x− 3) �
Podemos sumarizar as substituicoes hiperbolicas na tabela:
Expressao Substituicao√a2 + x2 (x ∈ R) x = a senh t
(
t ∈ R)
√x2 − a2 (x ≥ 1) x = a cosh t
(
t ≥ 0)
Tabela 3. Substituicoes hiperbolicas