Princípios Da Economia

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Resumo da Apostila "Princípios da economia política" - Direito - Mackenzie

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIEFaculdade de DireitoRESUMO: APOSTILA DE ECONOMIA POLTICA

Prof. Dr. lvaro Roberto Labrada Bado

So Paulo2011DEZ PRINCPIOS DA ECONOMIA

A palavra economia deriva do grego aquele que administra o lar. Dessa forma, uma sociedade deve decidir quais tarefas sero executadas e quem as far. A administrao dos recursos da sociedade importante porque os recursos so escassos. Escassez significa que a sociedade tem menos a oferecer do que aquilo que as pessoas desejariam ter.

Economia o estudo da forma pela qual a sociedade administra seus recursos escassos. Os economistas, portanto, estudam como as pessoas interagem entre si e como tomam decises: o quanto trabalham, o que compram, quanto poupam como investem suas poupanas. Os economistas tambm analisam foras e tendncias que afetam a economia como um todo incluindo o crescimento da renda mdia e a taxa qual os prees aumentam.

Princpio #1: Pessoas enfrentam tradeoffs

Como nada de graa, em geral temos que abrir mo de alguma coisa que gostamos para obter outra. Tomar decises exige comparar um objetivo com outro. Na sociedade, o tradeoff que significa dilema, em ingls clssico aquele entre armas e manteiga: quanto maior o gasto em defesa nacional, menos o oramento a ser gasto com o bem-estar social.

Outro tradeoff que a sociedade enfrenta o da eficincia (propriedade que uma sociedade tem de receber o mximo possvel pelo uso de seus recursos escassos) e equidade (justa distribuio da prosperidade econmica entre os membros da sociedade). Muitas vezes, quando se formulam polticas governamentais, esses dois objetivos entram em conflito.

Princpio #2: O custo de alguma coisa do que voc desiste para obt-la

O custo de oportunidade de um item aquilo de que se abre mo para obter aquele item.

Princpio #3: Pessoas racionais pensam na margem

Muitas decises na vida envolvem a efetivao de pequenos ajustes incrementais a um plano de ao existente. Os economistas os denominam alteraes marginais. Em muitas situaes, as pessoas tomaro decises melhores se pensarem na margem.

Um exemplo que podemos citar: em uma viagem de avio, gasta-se US$ 100 mil, e tem-se 200 lugares; portanto o custo mdio de US$ 500. Em uma determinada situao, na qual o avio est prestes a decolar, um passageiro oferece US$ 300 para comprar a passagem. Mesmo assim, a venda da passagem lucrativa, pois o custo marginal do cliente apenas o refrigerante e o amendoim.

Como esse exemplo demonstra, pessoas e empresas podero tomar decises melhores pensando na margem. Um tomador de decises racional empreende uma ao se e somente se o benefcio marginal de tal ao exceder seu custo marginal.

Princpio #4: Pessoas respondem a incentivos

Como as pessoas tomam decises comparando custos e benefcios, seu comportamento pode mudar quando os custos ou benefcios se alteram. Isto , as pessoas respondem a incentivos. Quando o preo das mas aumenta, por exemplo, as pessoas decidem comer mais peras e menos mas, porque o custo de comprar mas est maior. Ao mesmo tempo, os produtores de mas decidem contratar mais gente e colher mais maas, porque o benefcio de vender ma tambm maior.

O papel central dos incentivos na determinao do comportamento importante para quem formula polticas pblicas. Frequentemente as polticas pblicas podem alterar os custos ou benefcios de aes privadas. Quando os formuladores de polticas pblicas deixam de considerar a mudana de comportamento, suas polticas podem ter efeitos no pretendidos.

Princpio #5: O comrcio pode melhorar a situao de todos

O comrcio entre dois pases pode beneficiar a ambos. O comrcio permite que cada pessoa (ou pas) se especialize nas atividades em que mais apta, seja na agricultura, na confeco de roupas ou na construo. Comerciando com outras, as pessoas podem comprar uma maior variedade de bens e servios a um custo menor. Valido tambm para pases.

Princpio #6: Os mercados so, em geral, uma boa forma de organizar a atividade econmica

Em uma economia de mercado as decises do planejador central so substitudas pelas decises de milhes de famlias e empresas. As empresas decidem quem contratar e o que produzir. As famlias decidem em que empresas trabalhar e o que comprar com os seus rendimentos. Essas empresas e famlias interagem no mercado, no qual o preo e o interesse prprio orientam as decises. Os preos refletem tanto ao valor em que uma sociedade atribui a um bem quanto aos custos em que ela incorre para produzi-lo.

As economias de mercado tem-se mostrado muito bem sucedidas em organizar a atividade econmica de modo a promover o bem-estar econmico geral. Smith fez a mais famosa observao de toda a teoria econmica: as decises so guiadas por uma mo invisvel que conduz a resultados de mercados desejveis.

Princpio #7: Os governos podem s vezes melhorar os resultados dos mercados

H duas razes de ordem geral para que o governo intervenha na economia: promover a eficincia e promover a equidade. Isto , muitas polticas econmicas visam ou aumentar o bolo econmico ou alterar a sua diviso.

A mo invisvel orienta o mercado, mas s vezes, o mercado s por si no consegue alocar recursos eficientemente, isto chamado de falha de mercado. Uma das possveis causas de falhas de mercado so as externalidades: impacto das aes de algum sobre o bem-estar dos que esto em volta.

Outra possvel causa de falhas de mercado o poder de mercado. Poder de mercado a capacidade que uma nica pessoa (ou pequeno grupo de pessoas) tem para influenciar indevidamente os preos de mercado.

Dizer que o governo pode melhorar os resultados de mercado no significa que ele sempre o far. As polticas pblicas no so elaboradas por anjos, mas por um processo poltico que est muito longe da perfeio.

Princpio #8: O padro de vida de um pas depende de sua capacidade de produzir bens e servios

Quase toda variao nos padres de vida pode ser atribuda a diferenas na produtividade isto , a quantidade de bens e servios produzida em uma hora de trabalho. Nos pases onde os trabalhadores podem produzir grande quantidade de bens e servios por unidade de tempo, a maior parte das pessoas tem um alto padro de vida; nos pases onde os trabalhadores so menos produtivos, a maior parte das pessoas vive com menor conforto. Da mesma forma, a taxa de crescimento da produtividade em um pas determina a taxa de crescimento da renda mdia.

Quando se pensa em como qualquer poltica afetar o padro de vida, a questo-chave como ela afetar a capacidade de produzir bens e servios. Quando o governo precisa financiar seu dficit oramentrio, o faz tomando emprstimos nos mercados financeiros, reduzindo a quantidade de fundos disponveis para atender outros tomadores. Assim, o dficit oramentrio reduz tanto o investimento em capital humano quanto em capital fsico. Como o menor investimento de hoje a menor produtividade futura, considera-se que os dficits reduzem as melhorias dos padres de vida.

Princpio #9: Os preos sobem quando o governo emite moeda demais

A inflao acontece quando h um aumento no nvel geral de preos na economia. Como a inflao impe vrios custos sociedade, a manuteno de baixos nveis de inflao um dos objetivos da poltica econmica em todo o mundo.

Qual a causa da inflao? Em muitos casos de inflao longa ou persistente, o culpado sempre o mesmo aumento na quantidade de moeda. Quando um governo emite grandes quantidades de moeda, seu valor cai.

Princpio #10: A sociedade enfrenta um tradeoff de curto prazo entre inflao e desemprego

Uma das razes est em que quase sempre o combate inflao parece estar associado a um aumento temporrio no desemprego. Este tradeoff entre inflao e desemprego denominado curva de Phillips.

De acordo com uma explicao comum, este tradeoff surge porque alguns preos demoram a se ajustar, diz-se que os preos so rgidos no curto prazo. O tradeoff entre inflao e desemprego apenas temporrio, mas pode durar vrios anos.

Como os preos so rgidos, vrias polticas econmicas tm resultados diferentes no curto e no longo prazo. Quando o governo reduz a quantidade de moeda, por exemplo, reduz o montante que as pessoas podem gastar. Despesas menores, e preos que continuam em nvel alto, reduzem as vendas das empresas. Vendas menores, por sua vez, levam as empresas a demitir seus funcionrios. Assim, a reduo na quantidade de moeda aumenta temporariamente o desemprego, at que os preos se ajustem totalmente s mudanas.

O PROBLEMA ECONMICO

Economia , essencialmente, o estudo de um processo que encontramos em todas as sociedades humanas; o problema econmico , simplesmente, o processo de prover o bem-estar material da sociedade. Em seus termos mais simples, a economia o estudo de como o homem ganha o po de cada dia.

O Indivduo e a Sociedade

Assim, podemos ver que a histria econmica deve projetar seu foco sobre o problema central da sobrevivncia e sobre o modo como o homem tem resolvido esse problema.

O homem habituado a viver sozinho ou em pequenos agrupamentos, como o esquim, o bosqumano, o indonsio ou o nigeriano solitrio, entregue a seus prprios recursos, sobreviver por tempo considervel. Vivendo perto do solo ou de sua presa animal, esse indivduo pode sustentar sua prpria vida sem ajuda de ningum, ao menos por algum tempo. Essa vasta parcela da humanidade sofre grande pobreza, mas tambm conhece certa independncia econmica. Se assim no fosse, j teria sido eliminada h muitos sculos.

Quando, por outro lado, nos voltamos para o habitante de cidade grande, somos impressionados exatamente pela condio oposta, por uma facilidade predominante da vida material conjugada a uma extrema dependncia dos outros; eles estariam irremediavelmente destreinados e despreparados. Paradoxalmente, talvez, quanto mais rica a nao, mais evidente essa incapacidade de seu habitante comum para sobreviver sozinho e sem ajuda.

Diviso do Trabalho

A enorme diviso do trabalho aumenta milhares de vezes nossa capacidade, porquanto nos habilita a beneficiar-nos tanto de nossas prprias aptides quanto das de outros. Entretanto, quando, de tempos em tempos, nos defrontamos com uma greve demorada, toda a nossa mquina econmica titubeia porque um grupo estratgico deixa de executar suas tarefas habituais. Nossa abundncia s assegurada na medida em que podemos contar com a cooperao organizada de gigantescos exrcitos de pessoas.

Economia e Escassez

A origem da maioria dos nossos problemas econmicos o homem e no a natureza. O prprio problema econmico ou seja, a necessidade de lutar pela existncia deriva, em ltima instncia, da escassez da natureza. Se no houvesse escassez; os bens seriam to livres quanto o ar que respiramos, e a economia pelo menos numa acepo dessa palavra deixaria de existir como preocupao social.

Em todas as sociedades industriais que, na medida em que aumentou a capacidade de elevar a produtividade da natureza, o mesmo aconteceu com o repertrio de necessidades humanas; nossos desejos de possuir os frutos da natureza ultrapassam com larga margem nossa crescente capacidade de produzir bens.

Portanto, a escassez no somente atribuvel natureza, mas tambm natureza humana; e a economia, em ltima anlise, no est meramente preocupada com as restries do meio ambiente fsico, mas tambm com o apetite do ser humano e a capacidade produtiva da comunidade.

As Tarefas da Sociedade Econmica

Uma sociedade deve:

1. organizar um sistema que assegure a produo de bens e servios suficientes para sua prpria sobrevivncia, e

2. ordenar a distribuio dos frutos de sua produo, de modo que mais produo possa ter lugar.

Essas duas tarefas parecem ser simples, mas uma simplicidade enganosa. A histria da economia mostra como as sociedades procuraram solucionar seus problemas e a maioria delas resultou em fracassos parciais.

Produo e Distribuio

Mobilizao de Esforos

O problema bsico da produo consiste em criar instituies sociais que mobilizem a energia humana para fins produtivos. A mobilizao original do prprio esforo produtivo um desafio para sua organizao social, e do xito ou fracasso dessa organizao social depender o volume do esforo humano que pode ser dirigido para a natureza.

Alocao de Esforos

Alm de assegurarem uma quantidade suficientemente grande de esforo social, as instituies econmicas da sociedade devem garantir uma alocao vivel desse esforo social.

As necessidades bsicas da sociedade alimentos e fibras so precisamente os bens que a produo camponesa produz naturalmente. Numa sociedade industrial, porm, a alocao adequada de esforos torna-se tarefa imensamente complicada. As pessoas pedem muito mais que po e algodo, precisam de, por exemplo, automveis. Entretanto, ningum produz naturalmente um automvel. Pelo contrrio, para se produzir um, deve-se executar um extraordinrio espectro de tarefas especiais.

Dessa forma, a sociedade no precisa apenas fornecer bens, mas bens certos. E a questo da alocao alerta-nos para uma concluso ainda mais ampla. Mostra-nos que o ato de produzir, em si e por si mesmo, no responde plenamente aos requisitos para a sobrevivncia. Tendo produzido em quantidade suficiente os bens certos, a sociedade deve agora distribuir esses bens para que o processo de produo possa ter continuidade.

Distribuio do Produto

Tal como no caso de falhas no processo de produo, as deficincias distributivas no acarretam necessariamente um colapso econmico total. As sociedades podem existir e a maioria delas existe com esforos produtivos e distributivos seriamente distorcidos. S raramente que a m distribuio interfere ativamente na capacidade real de uma sociedade para prover de pessoal seus postos de produo. Mais frequentemente, uma soluo inadequada do problema de distribuio revela-se na intranqilidade social e poltica, ou mesmo em revolues.

Trs Solues Para o Problema Econmico

A Tradio

As sociedades baseadas na tradio resolvem os problemas econmicos de maneira muito exequivel. Em primeiro lugar tratam do problema da produo o problema de assegurar que as tarefas indispensveis sero realizadas transmitindo aos filhos os ofcios dos pais. A tradio no s proporciona uma soluo para o problema de produo da sociedade, mas tambm regula o problema da distribuio.

A tradio frequentemente alocou s mulheres, em sociedades no-industriais, a poro mais escassa do produto social. Mas, por muito que o produto final da tradio possa concordar com nossas concepes morais vigentes ou delas divergir, devemos compreender que se trata de um mtodo vivel de dividir a produo da sociedade.

O Custo da Tradio

Sua soluo para os problemas de produo e distribuio esttica. Uma sociedade que adota o caminho da tradio em sua regulao dos assuntos econmicos o faz em detrimento da mudana social e econmica rpida e em larga escala. A tradio resolve o problema econmico, mas o faz em detrimento de progresso econmico.

Mando

Uma segunda maneira de resolver o problema da continuidade econmica tambm revela uma linhagem antiga. o mtodo da autoridade imposta, do mando econmico. Trata-se de uma soluo baseada no tanto na perpetuao de um sistema vivel pela reproduo imutvel de seus mtodos, mas na organizao de um sistema de acordo com as ordens estabelecidas por um comandante-em-chefe econmico.

De forma menos drstica, o mesmo modo autoritrio de organizao econmica est tambm presente em nossa prpria sociedade; por exemplo, na forma de impostos ou seja, o direito de preempo de parte de nossa renda pelas autoridades pblicas para fins pblicos.

O mando econmico, tal como a tradio, oferece solues para os problemas gmeos de produo e distribuio. Em tempos de crise, como guerra ou fome, pode ser a nica maneira pela qual uma sociedade tem possibilidade de organizar sua fora de trabalho ou distribuir seus bens efetivamente.

O Impacto do Mando

Se a tradio o grande freio mudana social e econmica, o mando econmico pode ser o grande incentivo para mudana.

O Mercado

a organizao de mercado da sociedade uma organizao que, de modo verdadeiramente notvel, permite sociedade assegurar seu prprio aprovisionamento com um mnimo de recurso tradio ou ao mando. Numa economia de mercado, ningum designado para qualquer tarefa. De fato, a principal idia de uma sociedade de mercado que se permite a cada pessoa decidir por si mesma o que fazer.

Economia e Sistema de Mercado

Ao contrrio do caso da tradio e do mando, em que apreendemos rapidamente a natureza do mecanismo econmico da sociedade, quando nos voltamos para uma sociedade de mercado estamos perdidos se no temos um conhecimento da cincia econmica. Pois, numa sociedade de mercado, no est absolutamente claro que at os mais simples problemas de produo e distribuio sejam resolvidos pela livre interao de indivduos sem orientao da tradio ou do mando; tampouco est claro como e em que medida o mecanismo de mercado deve ser responsabilizado pelos males da sociedade; no final das contas, tambm podemos encontrar pobreza, m alocao e poluio em economias no orientadas pelo mercado.

A ECONOMIA PR-MERCADO

Os mercados da antiguidade no eram o meio pelo qual essas sociedades resolviam seus problemas econmicos bsicos. Eram subsidirios dos grandes processos de produo e distribuio em vez de constiturem suas partes integrantes; estavam acima da maquinaria econmica decisiva, no dentro dela.

A Organizao Econmica da AntiguidadeFundamentos Agrcolas das Sociedades Antigas

Todas as sociedades antigas eram basicamente economias rurais. Isso no impediu, como veremos, que houvesse uma sociedade urbana muito brilhante e rica, nem uma extensa rede de comrcio internacional. Entretanto, a personagem econmica tpica da antiguidade no era o comerciante nem o residente urbano. Era um cultivador da terra, e era em suas comunidades rurais que as economias das antiguidades estavam, em ltima instncia, baseadas.

Vida Econmica das Cidades

Quer nos voltemos para o Egito antigo, a Grcia clssica, ou Roma, impossvel deixar de ficar impressionado com esse contraste entre o campo relativamente esttico e a cidade ativa e dinmica. Mas no devemos ser induzidos a concluir que se tratava de uma sociedade de mercado semelhante nossa. Em pelo menos dois aspectos, as diferenas eram profundas.

A primeira delas era o carter e o mbito essencialmente restritos da funo de mercado da cidade. Diferentemente da cidade moderna, que no apenas receptora de bens fornecidos pelo interior, mas tambm importante exportadora de bens e servios para o campo, a tendncia das cidades antigas era assumirem um papel economicamente parasitrio em face do restante da economia.

As cidades eram os veculos de civilizao; mas, como centros de atividade econmica, estavam separadas por um vasto abismo do resto do pas, o que as tornava enclaves de vida econmica em lugar de componentes alimentadores de economias rurais-urbanas integradas.

Escravatura

Ainda mais importante era uma segunda diferena entre a economia da cidade antiga e a sociedade de mercado contempornea: seu esteio no trabalho escravo. Pois a escravatura em escala macia foi, efetivamente, pilar fundamental de quase todas as sociedades econmicas antigas.

que a florescente economia de mercado da cidade repousava sobre uma estrutura econmica governada pela tradio e pelo mando. Nada semelhante ao livre exerccio e ao efeito recproco dos interesses prprios guiava o esforo econmico bsico da antiguidade.

Riqueza e Poder

Na civilizao antiga, a riqueza era geralmente a recompensa do poder ou status poltico, militar ou religioso, e no da atividade econmica. Nas sociedades pr-mercantis, a tendncia da riqueza era para acompanhar o poder; s com a criao da sociedade de mercado que essa tendncia se inverteria: o poder acompanharia a riqueza.

A sociedade ainda no integrara a produo de riqueza com a produo de bens. A riqueza era ainda um excedente a ser obtido por conquista ou a ser sugado da subjugada populao agrcola; no era ainda um complemento natural de um sistema de produo em contnuo crescimento, no qual certa parte do produto social total poderia caber a muitas classes da sociedade.

Cincia Econmica e Justia Social na Antiguidade

Se havia um problema econmico a parte os eternos problemas de safra ruins, azares da guerra etc. , ele estava indissoluvelmente ligado ao problema da justia social.

Por oeconomia, o filsofo grego entendia a arte da administrao domstica, a administrao do prprio patrimnio, o emprego judicioso de recursos. Por outro lado, chrematistik implica o uso de recursos da natureza ou de habilidades humanas para fins aquisitivos; chrematistik era o comrcio pelo comrcio, a atividade econmica que tinha por motivo e finalidade, no o uso, mas o lucro. Aristteles aprovava a oeconomia, mas no a chrematistik.

A Sociedade Econmica na Idade MdiaA Queda de Roma

Com a queda de Roma, a Europa ficou vulnervel, os campos foram retalhados e a grande estrutura administrativa da lei e da ordem viu-se substituda por uma colcha de retalhos de entidades polticas em pequena escala: sem lngua nica, nem governo centralizado, nem sistema codificado de leis, nem moeda corrente unificada.

Quando a segurana deu lugar autarquia local e anarquia, as longas viagens com mercadorias tornaram-se extremamente arriscadas e a vida outrora vigorosa das grandes cidades ficou impossvel. Tendo as doenas e invases despovoado o campo, os homens recorreram por necessidades s mais defensivas formas de organizao econmica, s formas que almejavam a pura sobrevivncia atravs da auto-suficincia.

Organizao Senhorial da Sociedade

Era uma vasta extenso de terra, incluindo frequentemente muitos milhares de acres, da qual era dono um senhor feudal, espiritual ou temporal. Numa entidade social e poltica em que o senhor no s era o proprietrio da terra, mas tambm protetor, juiz, chefe de polcia e administrador.

Os servos (ou viles) de um senhorio, embora no fossem escravos, eram em muitos aspectos uma propriedade do senhor, tanto quanto suas casas, rebanhos ou colheitas. Os servos tinham centenas de obrigaes e tributos para com o senhor, como cuidar de seus campos, trabalhar em oficinas, fornece-lhe uma parcela de suas colheitas, pagar para usar o forno.

A Garantia de Segurana

O senhor, em troca, oferecia a segurana militar aos camponeses, sendo estes muito vulnerveis, j que no eram guerreiros. O senhor tambm oferecia segurana econmica: em tempos de fome, era o senhor que alimentava seus servos com as reservas existentes nos prprios celeiros e armazns da manso senhorial.

A Economia da Vida Senhorial

Em primeiro lugar, como essas sociedades anteriores, tambm a feudal era claramente uma forma de sociedade econmica organizada pela tradio.

Na ausncia de um governo central forte e unificado, at o exerccio do mando era relativamente dbil. Em consequncia disso, o ritmo da mudana econmica, do desenvolvimento econmico, embora este no estivesse ausente, foi extremamente lento durante os primeiros anos do perodo medieval.

Em segundo lugar, ainda mais que na antiguidade, a forma de sociedade medieval caracterizou-se por uma flagrante ausncia de transaes monetrias.

Cidade e Feira

Cada cidade tinha suas tendas, aonde os camponeses levavam uma parcela de suas colheitas para venda. Mais importante ainda, as cidades eram claramente uma unidade social diferente dos senhorios, e as leis e costumes dos senhorios no se aplicavam aos seus problemas.

A feira era uma espcie de mercado itinerante, estabelecido em localidades fixas durante datas fixas, no qual mercadores provenientes de toda a Europa realizavam autnticas trocas internacionais.

Corporaes

Mesmo na Idade Mdia existiam minsculos centros da produo industrial, porque o domnio senhorial no conseguia sustentar todos os suplementos necessrios. Essas instituies eram as corporaes organizaes comerciais e profissionais de artes e ofcios, de origem romana. As corporaes eram as unidades de negcio da Idade Mdia; de fato, ningum podia usualmente estabelecer-se nos negcios se no pertencesse a uma corporao.

Funes da Corporao

As corporaes eram reguladoras no s da produo, mas tambm do comportamento social. As corporaes representam um aspecto mais moderno da vida feudal, mas ainda assim est muito longe do carter de uma empresa industrial e comercial. Seu objetivo no era o crescimento, mas a preservao, a estabilidade e a ordem. Existindo margem de uma sociedade relativamente alheia circulao monetria, as corporaes procuravam forosamente eliminar os riscos em suas pequenas empresas.

Economia Medieval

Na sociedade medieval, a economia era um aspecto subordinado da vida, no um aspecto dominante. O aspecto dominante era a Igreja, o grande pilar da estabilidade que constitua a autoridade suprema em assuntos econmicos, como em tantos outros.

Mas a economia do catolicismo medieval no se preocupava tanto com os crditos e dbitos de um negcio bem-sucedido quanto com os crditos e dbitos das almas dos negociantes.

O Preo Justo

O que era o preo justo? Era vender uma coisa pelo que ela valia e no mais. Mas qual era o valor de uma coisa? Presumivelmente, o que custa adquiri-la ou fabric-la. Suponha-se, porm, que um vendedor tivesse pagado excessivamente por um artigo qual seria ento o justo preo pelo qual poderia revend-lo? Ou suponha-se que um homem tivesse pagado muito pouco estaria ele, nesse caso, correndo o risco de perda espiritual, como contrapartida de seu ganho material?

Essas foram interrogaes sobre as quais os telogos-economistas medievais cogitaram longamente, e so testemunho da mistura de economias e tica caractersticas da poca.

O Desprestgio do Ganho

Pela primeira vez, ganhar dinheiro associou-se a culpa. Ao contrrio do ganancioso da antiguidade, que se deleitava abertamente e sem remorsos em seus tesouros, o explorador medieval contava seus ganhos sabendo que podia estar pondo em perigo sua alma.

Mas o que sempre fora uma atividade impopular e vagamente desprestigiada tornou-se, sob o domnio da Igreja, uma atividade profundamente malfica. Foi decretado que a usura era pecado mortal. Muitas das imposies da Igreja contra a usura e o lucro decorreram das mais seculares realidades, como: a fome, o flagelo endmico da Idade Mdia. Por isso que era inaceitvel haver lucro em uma sociedade to carente.

A ideia de uma economia em expanso, de uma escala crescente de produo, de uma produtividade crescente, era to estranha ao mestre de uma corporao ou ao mercador de feira quanto ao servo e ao senhor. O comum na sociedade medieval era a perpetuao, no o progresso.

Pr-requisitos da Mudana

Temos agora uma ideia de uma sociedade pr-mercantil, uma sociedade em que existem mercados, mas que no depende ainda de um mecanismo de mercado para resolver o problema econmico.

1. Ser necessria uma nova atitude em relao atividade econmicaPara que tal sociedade funcione, os homens devem ter liberdade de procurar o ganho. A suspeita e o constrangimento que cercavam as ideias de lucro, mudana e mobilidade social devem dar lugar a novas ideais que encorajem essas mesmas atitudes e atividades. Por seu turno, isso significou, nas famosas palavras de Sir Henry Maine, que a sociedade de status deve ceder o lugar sociedade de contrato, ou seja, que a sociedade em que os homens nasciam para ocupar seus postos na vida deve dar lugar a uma sociedade em que eles tenham liberdade de definir por si e para si mesmos esses postos.

2. A monetarizao da vida econmica ter de prosseguir at sua concluso final

Para que exista uma sociedade de mercado, quase todas as tarefas devem ter remunerao monetria. Provavelmente 70% a 80% da populao trabalhadora de uma economia antiga ou medieval trabalhavam sem qualquer coisa que se assemelhasse ao pagamento integral em dinheiro.

3. As presses de um livre jogo de demanda do mercado tero de assumir a regulamentao das tarefas econmicas da sociedade

Um fluxo abrangente de demanda monetria, ela prpria decorrente da total monetarizao de todas as tarefas econmicas, deve tornar-se o grande mecanismo propulsor da sociedade.

O SURGIMENTO DA SOCIEDADE DE MERCADO

O Mercador Itinerante

Os mercadores itinerantes ocupavam os mais baixos nveis da hierarquia social. Alguns deles, sem dvida, eram filhos de servos ou mesmo servos foragidos. Sempre andavam empoeirados; muitos deles vinham de grandes distncias. Em seus fardos e sacos estavam artigos que tinham, de qualquer modo, feito uma perigosa viagem de uma ponta outra da Europa, ou mesmo iniciado sua jornada na Arbia ou na ndia, para serem vendidos de cidade em cidade, ou de parada em parada, medida que esses mercadores aventureiros avanavam pelos campos medievais.

Se o mercador era um fermento perturbador na mistura da vida medieval, tambm era uma pitada de ingrediente ativo, sem o qual a mistura teria sido deveras inspida. Pois o que eles traziam, junto com as mercadorias, era o primeiro alento de comrcio e de intercmbio comercial para uma Europa que mergulhara na estagnao senhorial, quase destituda de comrcio e auto-suficiente.

Urbanizao

Um importante subproduto da ascenso do mercador itinerante foi a lenta urbanizao da vida medieval, a criao de novas cidades e vilas. Quando um mercador parava, escolhia naturalmente o local protegido de um castelo ou burgo local, ou de uma igreja. Aninhados junto s muralhas do castelo ou da catedral para proteo, os novos burgos ainda no estavam inteiramente desligados do senhorio feudal. Os habitantes do burgo tinham, na melhor hiptese, uma relao anmala e insegura com o mundo senhorial do lado de dentro das muralhas.

Em decorrncia disso, algumas cidades em desenvolvimento comearam a cercar-se de muralhas. Durante os mil anos da Idade Mdia, quase mil cidades foram fundadas na Europa um tremendo estmulo comercializao e monetarizao da vida.

Cruzadas

Se considerarmos as Cruzadas, no do ponto de vista de seu impulso religioso, mas simplesmente como grandes expedies de explorao e colonizao, seu impacto econmico torna-se muito mais compreensvel. Pois as cruzadas serviram para pr em sbito e surpreendente contato dois mundos diferentes: o do feudalismo europeu e a brilhante sociedade de Bizncio e Veneza, com sua vitalidade urbana e seus refinados mtodos de negociar.

Assim, as Cruzadas proporcionaram imensa experincia fertilizante para a Europa. A velha base fundiria da riqueza entrou em contato com nova base monetarizada que provocou ser muito mais poderosa. Com efeito, a antiga concepo da prpria vida foi inevitavelmente revista, diante do espetculo de uma existncia no s mais rica, mas tambm mais alegre e vital.

Crescimento do Poder Nacional

Uma das mais impressionantes caractersticas da Idade Mdia e um dos obstculos mais perniciosos ao desenvolvimento econmico foi a colcha de retalhos de reas de governo isoladas e compartimentadas na era medieval.

Com efeito, entre as naes europias, s a Inglaterra desfrutava de um mercado internamente unificado a partir de meados da Idade Mdia. Esse foi um fator que contribuiu poderosamente para o surgimento da Inglaterra como a primeira grande potncia econmica europia.

Foram os burgueses que se tornaram aliados das monarquias nascentes, assim se dissociando ainda mais de seus senhores feudais locais, ao mesmo tempo em que forneciam aos ainda pouco firmes monarcas um pr-requisito absolutamente essencial para que pudessem consolidar seus reinos: dinheiro vivo. Pois esquadras tinham de ser construdas, exrcitos tinham de ser equipados, e essas novas foras armadas nacionais.

ExploraoDurante os longos anos da Idade Mdia, alguns aventureiros intrpidos, como Marco Polo, tinham aberto caminho at regies remotas em busca de uma rota mais curta para as lendrias riquezas da ndia; e, de fato, em incios do sculo XIV, a rota para o Extremo Oriente era suficientemente conhecida para que a seda da China custasse metade do preo daquela proveniente da rea do Cspio, apenas metade da distncia.

Colombo e Vasco da Gama, Cabral e Magalhes no se aventuraram em suas viagens, marcos de uma poca, como mercadores itinerantes, mas como exploradores embargados em esquadras construdas e equipadas com dinheiro da Coroa, ostentando o timbre real de aprovao, e que se faziam ao mar na esperana de engordar os cofres reais. Vale lembrar que isso aconteceu, inauguraram um revigorante fluxo de metais preciosos para Europa que resultou em preos altos e inflao.

Mudana no Clima Religioso

A Igreja Catlica estava profundamente imbuda de averses teolgicas ao princpio do ganho e, em especial, cobrana de juros ou usura. Atravs de seus dzimos e benefcios, a Igreja era o maior coletor e distribuidor de dinheiro em toda a Europa; e, numa poca em que os bancos e cofres de segurana no existiam, era a depositria de muitas fortunas feudais.

O Calvinismo

O calvinismo era uma severa filosofia religiosa, que acreditava na predestinao e que o dinheiro vindo do trabalho era uma beno de Deus e um aviso de salvao. Dessa maneira, os calvinistas conclamavam os crentes a uma vida de retido, austeridade e, mais importante de tudo, diligncia. Cresceu entre os calvinistas a ideia de um homem dedicado ao seu trabalho: vocacionado; a noo de que, quanto mais bem-sucedido um homem fosse na vida, mais virtuoso e mais valor ele tinha.

Assim, o calvinismo propiciou uma atmosfera religiosa que, em contraste com o catolicismo, encorajava a busca de riqueza e a tmpera indispensvel a um mundo de negcio. A riqueza devia ser acumulada e posta em bom uso, no esbanjada.

Colapso do Sistema Senhorial

Um importante aspecto dessa profunda alterao foi a gradual monetarizao das obrigaes feudais. Numerosas causas esto subjacentes nessa converso dos pagamentos feudais. Uma delas foi a crescente demanda urbana de alimentos, quando a populao de cidades e vilas comeou a se expandir. Em crculos concntricos em torno da cidade, o dinheiro era escoado para o campo, simultaneamente aumentando a capacidade do setor rural para comprar bens urbanos e aguando seu desejo de faz-lo.

O resultado foi que a nobreza rural, a qual dependia agora cada vez mais de rendas da terra e tributos para obter seus rendimentos, perdia seu poder econmico. Com efeito, a partir do sculo XVI, assistimos ao nascimento de uma nova classe: a nobreza empobrecida.

Ascenso da Economia Monetria

Evidentemente, o sistema senhorial era incompatvel com uma economia monetria; pois enquanto a nobreza se via espremida entre, por um lado, preos e custos crescentes e, por outro, rendas estticas, as classes mercantis, em torno das quais o dinheiro naturalmente gravitava, aumentavam constante seu poder.

Aparecimento do Aspecto Econmico da Vida

Por trs de todos esses eventos profundamente perturbadores, podemos discernir um imenso processo de mudana que literalmente revolucionou a organizao econmica da Europa. Ao passo que no sculo X as transaes monetrias eram apenas perifricas para a soluo do problema econmico, nos sculos XVI e XVII elas j estavam comeando a fornecer a prpria fora molecular da coeso econmica.

A Configurao do Trabalho, Terra e Capital

Agora, o trabalho era, meramente, certa quantidade de esforo, mercadoria a ser oferecida no mercado pelo melhor preo que se puder obter, inteiramente desprovida de quaisquer responsabilidades recprocas por parte do comprador, alm do pagamento de salrios. Se esses salrios no eram suficientes para prover a subsistncia, no era de responsabilidade do comprador. Ele tinha comprado o trabalho e era s.

A terra tambm era agora vista em seu aspecto econmico como algo a ser comprado ou arrendado pelo retorno econmico que produzia. Os tributos, pagamentos em espcie, a intangibilidade do prestgio e do poder que outrora decorriam da propriedade de terras deram lugar a uma nica remunerao sob a forma de renda da terra, ou seja, um retorno lucrativo da terra.

A propriedade tornou-se capital, j no se manifestando em objetos especficos, mas como soma abstrata, de uso infinitamente flexvel, cujo valor era sua capacidade de gerar juros ou lucros.

O Cercamento dos Campos

Particularmente importante na Inglaterra, a aristocracia fundiria, pressionada pelas necessidades de dinheiro, comeou a cercar os pastos que antes eram considerados terras comuns, convertidos em pastio de ovelhas e carneiros. Porque a crescente demanda de tecidos de l estava fazendo da criao de ovinos uma profisso altamente lucrativa.

No seu trmino, cerca de dez milhes de acres, quase metade das terras cultivveis da Inglaterra tinha sido cercados. De um ponto de vista estritamente econmico, o movimento de cercamento dos campos foi indiscutivelmente salutar, na medida em que deu emprego produtivo a terras que, at ento, apenas produziam uma bagatela. Mas quando os campos comuns foram demarcados e cercados, tornou-se cada vez mais difcil para o campons sustentar-se.

O processo de cercamento dos campos propiciou uma fora poderosa para a dissoluo dos vnculos feudais e a formao das novas relaes de uma sociedade de mercado. Ao despojar o campons, criou nova espcie de fora de trabalho: sem terra, sem as fontes tradicionais de rendimentos, ainda que magros, impelida a buscar trabalho a troco de salrio, onde quer que o encontrasse.

Surgimento de um Proletariado Urbano

Comeamos a ver surgir um proletariado urbano, gerado pelas crescentes corporaes em firmas mais empresarias e pelo campesinato sem terra. A partir de meados do sculo XVIII, uma populao crescente (atribuvel, em grande medida, ao aumento da produo de alimentos resultante dos cercamentos) comeou a despejar quantidades cada vez maiores de indivduos no mercado de trabalho. Surgiu o problema do pobre errante, assim foi o surgimento de um sistema orientado para o mercado que produziu a duras penas uma fora de trabalho.

Fatores de Produo

O escravo no trabalhador, o mestre de corporao no capitalista nem o senhor proprietrio. S quando se estabelece um sistema social em que o trabalho vendido, a terra arrendada e o capital livremente investido que iremos encontrar as categorias da economia emergindo do fluxo da vida. Essas fora criaes da grande transformao de uma sociedade pr-mercantil numa sociedade de mercado.

Propriedades em Homens

Na moderna sociedade comercial, cada pessoa tem propriedade sobre si mesma. Um trabalhador que se tornou fator de produo dono de seu prprio trabalho, que ele tem liberdade de vender do modo mais vantajoso possvel, algo que o escravo ou servo no podia fazer. Ao mesmo tempo, o trabalhador livre, que no propriedade de ningum, tambm no obrigao para ningum. O empregador compra o trabalho de seus empregados, no suas vidas.

Ascenso do Motivo de Lucro

Na linguagem do economista, o motivo de lucro era o impulso de cada indivduo para maximizar sua prpria renda (ou minimizar seus prprios dispndios) mediante a concluso das melhores transaes possveis do mercado vender caro e comprar barato.

A Inveno da Cincia EconmicaA Filosofia do Comrcio

A maioria dos filsofos discordava. Na Inglaterra, os mercantilistas, propunham uma explicao da sociedade econmica que enfatizava a importncia do outro e louvava o papel do mercador cujas atividades tinham maior probabilidade de carrear o tesouro para o Estado vendendo mercadorias aos estrangeiros. J na Frana, os fisiocratas, exaltavam as virtudes do lavrador, no do mercador. Mas foi Adam Smith que deu ao mundo a primeira exposio integral de algo que ele queria encarecidamente conhecer: como funcionava seu prprio mecanismo econmico.

A Crescente Riqueza das Naes

Dois problemas principais ocuparam a ateno de Smith. O primeiro est implcito no ttulo de seu livro. a teoria de Smith sobre a mais importante tendncia de uma sociedade de liberdade perfeita: sua tendncia ao crescimento. Smith concluiu que existia um mecanismo oculto que operava para a ampliao da riqueza das naes; o que impelia a sociedade a aumentar suas riquezas era a tendncia a encorajar um constante aumento na produtividade de seu trabalho.

O Modelo de Crescimento de Adam Smith

Smith nos mostra uma fora propulsora que colocar a sociedade numa trajetria ascendente de crescimento, ao lado de um mecanismo autocorretivo que a manter nessa trajetria. Esse seria o desejo de melhoria de vida, que impele cada fabricante a expandir seu negcio a fim de aumentar os lucros, pois a trajetria para o crescimento est no que Smith chamou de acumulao, processo de investimento de capital.

A Dinmica de Sistema

A par de um aumento na demanda de trabalhadores, d-se um aumento de oferta. Esse aumento do nmero de trabalhadores disponveis significava que a competio por empregos aumentaria. Portanto, o preo do trabalho no subiria, pelo menos no o bastante para sufocar o crescimento subsequente. semelhana de vasta mquina auto-reguladora, o mecanismo de acumulao de capital forneceria precisamente aquilo de que necessitava para continuar sem estorvos: uma forma de impedir que os salrios devorassem os lucros. E assim o processo de crescimento poderia prosseguir sem perturbaes.

Mecanismo de Mercado

Smith descreveu o mecanismo de mercado, onde a concorrncia desempenhava papel fundamental para impedir que os indivduos exigissem dos compradores qualquer preo que lhes agradasse. O mecanismo de mercado tambm revelou como a variao na demanda de bens alteraria a produo de bens, de modo a atender essa demanda. Assim, o coroamento do tratado de Smith foi a demonstrao da natureza auto-reguladora de um mercado competitivo, em que uma mo invisvel gera finalidades socialmente teis a partir de meios privados e egostas.

Mercado e Alocao

Smith chamou por mo invisvel o mecanismo onde os motivos egostas dos homens so convertidos para produzirem o mais inesperado dos resultados: o bem-estar social.

O Sistema Auto-Regulador

Smith tambm mostrou que o sistema de mercado um processo auto-regulador: se os preos, lucros ou salrios se afastam dos nveis determinados pelo sistema de mercado, existem foras que os recolocam na linha, no h recurso nem concesso que influa sobre as presses annimas do mercado competitivo.

O Sistema de Mercado e a Ascenso do Capitalismo

Assim, em pleno sculo XVIII, encontramos a grande revoluo do mercado ainda incompleta; ou melhor, veremos o processo quase completo de monetarizao e comercializao inconfortavelmente contido num quadro de organizao jurdica e social que ainda no lhe estava inteiramente adaptado. Teremos de observar o modo como o capitalismo desmantelou as restries da era mercantilista, pr-capitalista, antes de podermos apreciar o maravilhoso mecanismo de mercado de Adam Smith em pleno funcionamento.

INTRODUO HISTRIA DAS IDIAS ECONMICAS

Adam Smith

Para entender Adam Smith inicialmente, preciso coloc-lo em seu momento histrico, Inglaterra em 1960, ali, afastados os olhos da burguesia ascendente, era encontrado uma sociedade com uma luta brutal pela existncia, tudo era rapacidade, crueldade e degradao. Londres: negra, barulhenta, ineficiente e perigosa. Cenas normais como crianas tomando conta de maquinas em longas jornadas, de at 14 horas, ou grvidas que vinham a dar a luz em minas. E Smith conseguia ver ordem e finalidade em todo esse processo.

Mas quem era Adam Smith:

Conhecido em sua poca por sua distrao, Adam Smith nasceu em 1723, na cidade de Kirkealdy, na Esccia. Desde pequeno, um aluno capaz, que lhe propiciou uma bolsa de Oxford aos 17 anos, importante frisar, que essa faculdade no tinha tanto status como atualmente. Em 1751, j formando, foi oferecida uma vaga de professor de Lgica, na Universidade de Glasgow, umas das melhoras e mais conceituadas da poca. L, em 1959 publicou seu livro A teoria dos sentimentos morais, logo adentrando na colocao de filosofo ingls. A tese desse livro era e pergunta: Por que razo o homem, que uma criatura de interesses egostas, pode formar julgamentos morais nos quais o interesse individual parece ser posto de lado? Smith afirmava que conseguimos isso por nos colocarmos em situao de 3 pessoa, um observador.

Em 1754, Charles Townshend, grande homem da poca e admirador de Smith, props a Smith o cargo de ser tutor de seu filho, o que propiciaria mais dinheiro do que Smith j havia ganhado. A viagem durou cerca de dois anos (1764-66), durante ela Smith comeou a escrever um tratado de economia poltica, o que se tornou posteriormente seu clebre livro, a Riqueza das naes. Enquanto estava na Frana, conheceu Quesnay, que propunha uma escola econmica chamada tableau economique, na qual contrariando o pensamento mercantilista e falava que a riqueza, derivava da produo e circulava pelo pas, de mo em mo, revigorando o corpo social, ou seja, somente as classes agrcolas produziam uma riqueza considervel. Smith no pode concordar com a idia de que a indstria era estril e intil. Aps a viagem se concluir, em 1766 e voltou para Kirkcaldy, onde permaneceu o resto de sua vida e onde publicou seu livro.

Livro

Em 1766, a Riqueza das Naes foi publicada, foi considerada uma exploso, no apenas de uma grande mentalidade, mas tambm de uma poca. No pode-se dizer que seja um livro original, mas sim uma mescla, uma analise, uma interpretao de obras de Locke, Stewart, Law, Mandeville, Petty, Quesnay e Hume. H mais de cem atores mencionados ao longo da obra, enquanto esses esclareciam pontos e pontos, Smith iluminou toda a passagem. Ao terminar a leitura das 900 paginas, h uma imagem viva da Inglaterra da poca de 1770. A argumentao to detalhada e cheia de observaes que constantemente o leitor tem de afastar a ornamentao para encontrar as vigas de ao que mantm a estrutura. Mas apesar de seu peso, o texto est cheio de percepes, observaes e frases bem torneadas que do vida essa grande exposio.

A riqueza das naes no , em qualquer sentido, um livro didtico. escrito para sua poca, no para seus alunos: expos uma doutrina que julgava importante para o governo de um imprio e no um tratado abstrato para distribuio escolar, e sem duvida um livro revolucionrio.

Smith admira seu trabalho, mas suspeita de seus motivos e se preocupa com as necessidades da grande massa trabalhadora. Seu objetivo no defender os interesses de qualquer classe, mas promover a riqueza de toda a nao, que consiste nos bens que todas as pessoas da sociedade consomem. TODAS uma filosofia democrtica, no qual o fluxo de bens e dos servios consumidos por todos constitui objetivo ultimo e a finalidade da vida econmica.

Ento, aonde Smith chega? Ele chega a formular leis do mercado! Buscava a mo invisvel, como chamava a auto regulao do mercado. Mas surge a duvida para onde a sociedade est caminhando. Essa vista como um rgo com sua historia prpria. Descobrir a forma das coisas que viro, isolar as forcas que impelem a sociedade em sua marcha esse o grande objetivo da economia poltica.

As leis do mercado so simples, primeiro afirmam que as conseqncias de certa forma de procedimento dentro de certo meio social provocaro resultados perfeitamente definidos e previsveis. Mostram mais que a competio resultar na produo dos bens necessrios a sociedade, na quantidade que a sociedade deseja e pelos preos que essa capaz de pagar. Isso acontece pois o interesse individual atua como uma fora que leva os homens a qualquer espcie de trabalho que a sociedade esteja pronta para remunerar. Por exemplo: uma comunidade que girasse somente em torno do interesse individual seria uma comunidade de aproveitadores impiedosos. Esse elemento de equilbrio a competio, a conseqncia socialmente benfica dos interesses individuais em conflito. Cada homem que se prope conseguir o melhor para si mesmo, sem qualquer preocupao sobre seu custo social, encontra muitos outros indivduos com seus propsitos semelhantes.

Mas as leis do mercado no impe apenas um preo de competio de produtos, tambm fazem com que os produtores atendam as necessidades da sociedade, no que tange as quantidade de mercadorias, o que seria a lei da oferta e da procura, atravs do mecanismo do mercado, a sociedade ter modificado a distribuio de seus elementos de produo, para atender a seus novos desejos. Mas tambm, haver concorrncia, se os lucros forem demasiadamente grande numa indstria haver uma corrida de outros industriais para aquele setor.

Em primeiro lugar, Smith explicou por que os preos no podem fugir arbitrariamente ao custo da produo. Seguidamente explicou como a sociedade pode levar os produtores de artigos de consumo a fornecer-lhe o que deseja. Terceiro, mostrou como os preos altos so uma molstia que se cura a si mesma, pois leva ao aumento da produo dos artigos super valorizados. Descobriu no mecanismo do mercado um sistema que explica o funcionamento ordenado da sociedade, um sistema como j mencionado, auto regulado. O mundo de Adam Smith foi chamado de concorrncia atomstica, no qual nenhuma parte do mecanismo de produo era bastante forte para interferir nas presses da concorrncia. Era um mundo no qual cada agente era obrigado a lutar por seus interesses dentro da mais ampla liberdade social.

Hoje, no vivemos mais na concorrncia atomstica, onde ningum pode lutar contra a corrente: o mecanismo do mercado de hoje caracteriza-se pelo tamanho dos seus participantes: empresas e sindicatos gigantescos que obviamente no agem como se fossem proprietrios ou trabalhadores isolados. Suas propores lhe possibilitam resistir a presso da concorrncia a no observar os sinais dos preos e a levar mais em conta os seus interesses futuros do que a presso imediata da compra e venda diria.

Dizia Smith: Nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz se a maioria dos que a constituem so pobres e miserveis Avanava porque havia uma dinmica oculta sob a superfcie das coisas que fazia andar o conjunto social como um gigantesco motor.

Qual a fora que leva a sociedade a essa maravilhosa multiplicao dos bens de riqueza? Em parte o prprio mecanismo do mercado, pois o mercado reveste o poder criador do homem de um meio que o estimula, at o mesmo a fora, a inventar, inovar, expandir, correr riscos. Na verdade, Smith v as leis profundas da evoluo que impelem o sistema de mercado numa espiral ascendente de produtividade. A revoluo industrial, em suas primeiras fases, proporcionou a riqueza a todos os que foram bastante rpidos, bastante ousados e industriosos para acompanharem seu fluxo.

Smith via na acumulao de capital, um beneficio para a sociedade, ou seja, o capital aplicado as maquinas, proporcionava precisamente aquela maravilhosa diviso do trabalho que multiplica a energia produtiva do homem. Havia porem, uma dificuldade. A acumulao logo levaria a uma situao em que seria impossvel qualquer nova acumulao. Isso por que o acumulo significava mais maquinas e mais maquinas significam mais necessidade de trabalhadores. Isso por sua vez levaria a salrios cada vez maiores, at que os lucros seriam consumidos. Para superar esse problema surgiu a Lei da Populao: Se os salrios fossem altos, o numero de trabalhadores multiplicaria. Se cassem, o numero de trabalhadores seria reduzido. Mas para entend-lo, preciso pensar na poca, onde havia um alto ndice de mortalidade infantil. Assim, embora salrios mais altos pudessem ter atingido o ndice de natalidade apenas de leve, podia-se esperar que tivesse uma considervel influencia sobre o numero de crianas que chegariam a idade de trabalhar.

Mas alm de tudo, a sociedade dinmica. De seu ponto de partida, a acumulao da riqueza aumentar, aumentando as instalaes de produo e a maior diviso do trabalho. A populao aumenta, e a concorrncia entre os trabalhadores pressionar os salrios no sentido de sua reduo. Isso no um ciclo econmico, um processo a longo prazo, uma evoluo secular. A Riqueza das naes, um programa de ao, no uma utopia. Os capitalistas florescentes e lembramos que essa classe ascendente no tinha as idias do sculo XX sobre a igualdade ou justia econmica encontram no livro de Smith a justificativa terica perfeita de sua oposio a legislao industrial.

Todos somos escravos do sistema, Smith no era nem anti trabalhista nem anticapitalista, dizia que o consumo era a nica finalidade e objetivo de toda produo. Para ele, quanto menos governo, melhor. Esses so perdulrios, irresponsveis, improdutivos, mas no contrario a TODA ao governamental, realmente combate a interferncia do governo no mecanismo do mercado, e tambm o monoplio. Mas Smith nunca precisou enfrentar o problema, que o governo est enfraquecendo ou fortalecendo o mecanismo de mercado quando nele intervm com sua legislao beneficente. O mercado deve ficar livre para encontrar nveis naturais de preos, salrios, lucro e produo. O grande sistema opera no porque o homem o dirija, mas porque o interesse e a concorrncia se encarregam disso, o consumidor o rei, ele decide como operar o sistema.

O que acontece, que Smith imaginou que o contexto da Inglaterra do sculo XVIII continuaria para sempre o mesmo, ele fez a financia de uma comunidade esttica, que cresce, mas nunca chega maturidade.

A riqueza das naes mostra que toda a luta pela riqueza e pela glria tem uma justificativa final no bem-estar do homem comum.

No fim de sua vida, Smith teve honrarias, respeito e sucesso. Morrendo, ento, em 1790 aos 67 anos.

Malthus e Ricardo

Na Inglaterra, no sculo XVIII, debatiam-se quantas pessoas deviam existir no pas. Em 1696, foi feito o primeiro censo, que estimou que o nmero de habitantes seria em volta, de 5 milhes e meio, o que veio a ser quase exato. Conforme os anos foram passando, foi visto que a sociedade nos prximos 600 anos, e assim por diante, fazendo todos imaginarem que em 3500, haveria cerca de 22 milhes. Na poca, todos concordavam que uma populao crescente era uma fonte nacional de riqueza.

Em 1793, o ministro William Godwin lanou uma teoria, que apesar do mundo daquela poca ser vulgar e ruim, o futuro teria boas perspectivas, era uma promessa de um futuro distante onde no haveria desigualdade, mortes, doenas, uma grande utopia. No muito longe da Londes, em Albuny House, travava-se um duelo intelectual entre pai e filho Daniel e Thomas Malthus - sobre a utopia a cima. O mais velho sentia simpatia pela teoria de Godwin, mas o jovem Malthus no era to otimista, esse dizia que havia uma barreira intransponvel entre a sociedade humana tal como existia e essa adorvel terra imaginaria de paz e abundancia permanentes. Assim, ele publicou suas idias em um livro, seu pessimismo tirou o sossego dos pensadores complacentes da poca e, em no lugar do progresso lhes oferecia uma perspectiva magra, estril e atemorizada.

Em detalhes, o livro diz que a populao cresce em progresso geomtrica, assim superando todos os meio possveis de subsistncia, que cresce em progresso aritmtica. A sociedade estava num poo sem esperanas. Malthus no era nico em seu pessimismo, David Ricardo tambm devastou a tranqilidade otimistas dos filsofos. Esse dizia que a escada do progresso tinha efeitos diferentes sobre classes diferentes, que alguns chegavam triunfantemente ao alto, enquanto outros conseguiam elevar-se apenas alguns degraus, sendo em seguida derrubados. H uma luta furiosa para defender um lugar seu lugar na escada. A sociedade uma luta amarga pela supremacia.

Para entender o pssimo que circundam ambos atores, preciso tambm entender o que se passava na poca. A Inglaterra no tinha cereais suficientes para atender a oferta, portanto houve a quadruplicaro no preo. Mas como a governo no queria que comprassem cereais do exterior, eles colocar altas taxas alfandegrias, que fazia o preo do outro subir excessivamente. Analisando a forte crise que se passava no pas, mais com as guerras napolenicas fcil entender o pessimismo. Enquanto para Smith o mundo era um grande concerto, para Ricardo era um conflito malfico.

Sobre suas vidas:

Malthus era filho de um ingls excntrico da alta classe media, foi carinhosamente preparado para a faculdade, passou a vida fazendo pesquisas acadmicas e nunca foi rico. J Ricardo era filho de um comerciante judeu, foi trabalhar logo aos 14 anos de idade, e estabeleceu-se sozinho nos negcios a partir dos 22 anos, se tornou um homem financeiramente independente. Mesmo assim, era Malthus que se interessava pelos fatos do mundo real e Ricado pelo terico.

Malthus foi muito mal recebido, era considerado o homem mais execrado e sua poca, diziam que defendia a varola, a escravido, o infanticdio. Essa execrao levaria a runa o homem que defendia a austeridade moral para o mundo. De acordo com sua teoria, o problema bsico do mundo era a existncia de um excesso de populao e tudo que pudesse favorecer conjunes prematuras s poderia agravar a misria humana. No foi a insensibilidade que o levou a defender essa doutrina, mas apenas a conseqncia razovel de uma teoria predominantemente lgica, mas essa nem sempre popular. Nenhuma teoria foi jamais to censurada.

Ricardo j foi um homem de sorte. Suas exposies entusiasmadas e brilhantes que desconheciam a realidade dos acontecimentos e se concentravam na estrutura bsica da sociedade como se visse fosse de outro mundo. At mesmo seu radicalismo - era um fervoroso adepto da liberdade de expresso e de reunio, opunha-se a corrupo parlamentar e a perseguio catlica no diminura a venerao de que era objeto. Sua mensagem era evidente: os interesses dos capitalistas e dos latifundirios estavam inapelavelmente opostos e os latifundirios eram inimigos da comunidade. Enquanto Ricardo passava pela vida como um deus, Malthus era relegado a uma situao de inferioridade, por isso eles discutiam a qualquer pretexto. Uma situao curiosa o corretor terico contra o pastou prtico e mais curiosa ainda porque o terico sentia-se a vontade no mundo do comercio, no qual o homem dos fatos e dos nmeros estava perdido.

Mesmo assim, continuaram ambos escrevendo. Malthus, numa pesquisa, calculou e se surpreendeu com o poder da multiplicao humana, onde calculou o numero de seres no futuro, como j mencionado a cima. O numero de habitantes est destinado, cedo ou tarde, a superar a quantidade de alimentos produzida. Levando a concluso de que a divergncia incorrigvel e irreconcilivel entre as bocas e o alimento s podia ter um resultado: a maioria da humanidade viveria sempre presa a misria. Haveria fomes gigantescas para, num golpe, equilibrar o nvel de populao com o da alimentao.

Pode ser considerado uma doutrina do desespero, essa teoria. Nada pode salvar a humanidade da constante ameaa de asfixiar-se em seu prprio peso. Apesar de tudo, a teoria do Malthus estava correta, se aplicada em sua poca. Caso tudo permanecesse do mesmo modo, em poucos anos haveria o momento de terror descrito por ele. Mas, entretanto, ele no viu o futuro, no acompanhou a revoluo industrial, no viu as mulheres entrando no mercado de trabalho e se casando tardiamente, nem a medicina e os mtodos contraceptivos serem inventados, que tudo provocou uma baixa na taxa de natalidade. Ningum previa o futuro decrscimo da taxa de natalidade.

Para Ricardo, o mundo no era to atemorizados quanto o de seu amigo, mas era ainda rido, pobre e condensado, um sistema trgico. As pessoas so prottipos, que no vivem segundo o sentido dirio da palavra: seguem leis de procedimento. Os personagem podem ser divididos em 3.

Primeiro os trabalhadores, unidades idnticas de energia econmica, cujo nico aspecto humano o apego sem esperanas ao que chamado eufemisticamente de as delicias da sociedade domestica, Ricardo s via na auto conteno a soluo para as massas trabalhadoras. Seguidamente vem os capitalista, que so uma classe cinzenta e uniforme, cujo nico objetivo na terra acumular, ou seja, economizar os lucros e reinvesti-los contratando mais trabalhadores para suas industrias, so apenas maquinas para o auto crescimento. Concorrendo entre si, rapidamente absorvem qualquer lucro indevido que possa ocorrera um felizardo que tenha inventado novo processo ou encontrado um gnero de comercio excepcionalmente rendoso. E em terceiro, o latifundirio, o nico beneficirio da organizao. Esse apenas lucra com a fora do solo, e sua renda no limitada nem pela competio nem pela populao, ele ganha a custa de todos os outros. Para Ricardo, o arrendamento no apenas o preo pago pela utilizao do solo, assim como os juros so o preo do capital, ou o salrio o preo do trabalho. Ento, o mundo econmico tende a expanso. Mas a medida que a populao se expande, h necessidade de aumentar o cultivo da terra e nesse ponto que o mundo de Ricado se afasta ainda mais o de Smith: maior numero de bocas exige maior quantidade de alimentos, e isso por sua vez demanda maior extenso de campos cultivados. Desse modo, a crescente populao foraria o aumento da terra cultivada, o custo dos cereais aumentaria, e a medida que aumentasse para o trabalhador o preo dos gneros, ele teria de ganhar mais, para pagar o po e continuar vivo.

O capitalista o responsvel principal pelo progresso da sociedade se v imprensado entre duas foras. Primeiro, tem que pagar salrios mais altos, j que o po custa mais caro. Segundo os latifundirios ficam muito melhor de vida, pois as rendas aumentam nas terras boas, a medida que a terra ruim vem sendo cultivada. No mundo de Ricardo somente o latifundirio tem lucros.

E quem havia de se mostrar que Ricardo era injusto com a posio dos latifundirios , o pastou Malthus. Que em 1820, publicou que a recompensa do atual valor e da sabedoria bem como a fora passada, diariamente so compradas terras, com os frutos da industria e do talento. Apenas mostrava como as foras da evoluo econmica colocavam-no involuntariamente numa posio em que recebia os benefcios do crescimento da sociedade. Malthus examinava alem do processo de troca das mercadorias pelas rendas, e apareceu como uma estranha idia. No seria possvel, devido a necessidade de economizar, a procura passasse a ser muito pequena em relao a demanda?

Entretanto Malthus nunca levou na contenda. Seus argumentos eram confusos e seus contemporneos no foram culpados por no t-lo entendido. Para ele a questo mais importante era quanto h? para Ricardo, todavia, era quem recebe o que. Por isso discordavam sempre, estavam discutindo coisas diferentes.

A contribuio de Ricardo para o mundo evidente: na sua prpria irrealidade estava a sua fora, pois a estrutura nua de um mundo grandemente simplificado no somente revelava as leis da renda como elucidava tambm as questes vitais do comercio, ele deu a economia a poderosa ferramenta da abstrao - ferramenta essencial para superarmos a confuso da vida diria e compreender o seu mecanismo subjacente.

Mas Malthus e Ricardo realizaram algo assombroso: transformaram o mundo otimista em pessimista: as forcas naturais que antes pareciam destinadas a proporcionar a harmonia e a paz ao mundo pareciam agora malignas e ameaadoras. Foram to convenientes suas provas que os homens procuraram encontrar um caminho para a sociedade, no dentro das leis naturais, mas as desafiando-as. Eles no eram apologistas, muito o contrario, foram imparciais, mantiveram-se afastados e acima do fluxo social e com o olhar impessoal observaram sua corrente.

O belo mundo dos socialistas utpicos

Roberto Owen

O sistema econmico na Inglaterra depois das guerras napolenicas (1815) era um lugar triste. O sistema industrial burgus estava criando um estatuto social de propores atemorizadoras, e que o dia de reconhecimento desse estatuto no poderia ser adiado para sempre. Mas longe das greves, do abuso ao trabalho infantil, as longas jornadas, havia em New Lanark filas de casas de trabalhadores, limpas, ruas limpas, sem poluio, trabalhadores bem comportados e crianas nas escolas. Tudo isso, parecendo um mundo de sonhos era fruto do trabalho intensivo de Robert Owen, uma estranha mistura de homem prtico e ingnuo, de xito e fracasso, de bom-senso e loucura.

Nascido em 1771, Owen saiu da escola aos 9 anos para ser aprendiz de negociante de linho, logo com 20 anos entrou no mercado das fiaes, logo se tornando um jovem empreendedor na rea, seis meses depois sendo lhe oferecido uma participao no negocio. Por acaso, ele houveria falar de uma sria de fiaes a venda em New Lanarck, ento, tomou dinheiro emprestado e comprou a fbrica.

Ele se considerava antes um homem de idias, do que um simples homem de ao. New lanarck no foi somente uma ao de filantropia, mas tambm uma oportunidade para comprovar as teorias que formulara sobre o progresso da humanidade como um todo. Owen estava convencido de que a humanidade no era melhor do que o seu meio ambiente e que, se este fosse modificado, um verdadeiro paraso terrestre poderia ser conseguido.

Owen sugeria que a soluo do problema da pobreza estava em tornar os produtivos os pobres, imaginando um lugar onde as famlias viveriam em casas agrupadas, crianas estariam na escola, jardins bens cuidados. O problema foi que todos acharam a idia do terico ruim, e foi ignorada. Mas esse no se deixou abater, tentando diversas vezes transmitir suas idias. claro que Owen no desejava fazer uma comunidade de pobres, dizia ele que os pobres poderiam se tornar produtores de grande riqueza, se tivessem oportunidades de trabalhar, e que seus deplorveis hbitos scias podiam transforma-se em virtude. E as pessoas viam sua teoria como uma ameaa para a perturbao da ordem de coisas j estabelecidas.

Para continuar divulgando sua idia, Owen vendo New Lanarck e partir para a America, em 1824 para construir uma nova comunidade l. A empresa, infelizmente, no teve xito, nem podia devido que sua utopia deveria surgir de um mundo imperfeito da Inglaterra da poca. Em 1828, perdera j quarto quintos de toda sua fortuna e vendeu a terra na America, retornando assim a Inglaterra. Que se encontrava na poca dos primeiros sindicatos modernos, que comearam a ver em Owen um homem que podia defender seus interesses que podia vir at a ser lder. Estava em volta dos lideres da classe trabalhadora, o que foi denominado aps mudanas de Grade Nacional, e em 1833 foi lanando oficialmente o movimento trabalhista ingls. Owen discursos por todo o pas, em defesa de sua ultima causa. Foi um fiasco completo: os sindicatos locais no conseguiam controlar seus membros e greves locais enfraqueciam a organizao nacional, e dentro de dois anos, apenas, o sindicato estava morto.

Owen deu uma nova formulao a matria prima com que lida o economista. Sozinho, abriu caminho para a legislao fabril, colocando seus princpios em prtica e mostrando que funcionada. Teve a audcia de sugerir que os pobres poderiam ser melhor assistidos fazendo-se com que se tornassem produtivos, e que se ps em campo para prov-lo.

O homem fruto das circunstancias, ou seja, o mundo inevitavelmente bom ou mau, somos ns que o fazemos assim. Owen foi sem dvida a figura mais romntica que protestou contra o capitalismo, at morrer, com 87 anos, em 1853, ainda esperanoso.

Saint-Simon

Era um aristocrata, nascido em 1760 e foi educado na consciecia da nobreza. Fazia parte da corte de Luis XVI, mas estranhamente redimiu-se pelo amor a uma idia estranha a aquela corte, a democracia. Indo para a Amrica, lutando pela Guerra Revolucionaria e se apaixonando pelos princpios de liberdade e igualdade. Logo na volta, trombou-se com a revoluo francesa, onde na Assemblia Nacional, props a abolio dos ttulos e renunciou o seu, tornando apenas um bom cidado. Ele tinha sentimentos genunos para com seus concidados.

Aps anos, ele se empenhou em uma busca total pelos conhecimentos cientficos, filosficos, economistas, polticos e por todos os sbios da Frana. Financiou vrios estudiosos, que duvidavam que Saint-Simon pudesse abarcar o conhecimento intelectual que havia no mundo. Sua busca fora interessante, mas financeiramente desastrosa, que o levou a pobreza.

Mesmo assim, continuou-se firme. Chegou a criar uma religio industrial. No atravs de seus livros, mas o prprio homem havia inspirado uma seita e conseguido um pequeno grupo de adeptos, dando a sociedade uma nova idia do que ela poderia ser. Era uma religio semi mstica e desorganizada, mas ela logo se desmanchou em pouco mais do que um culto, pois logo elaboraram seu prprio cdigo de moral. Diziam principalmente que: o homem deve trabalhar, para assim participar dos frutos da sociedade.

Simon dizia que so os trabalhadores de todas classes e hierarquias que merecem a mais alta recompensa da sociedade e os ociosos (reis e nobres) que devem ter a menor. O governo deveria ser econmico e no poltico, devia orientar as coisas e no dirigir os homens. As recompensas deviam ser proporcionais a contribuio social, deviam recair sobre os que trabalha, nas fabricas, e no soube os observadores ociosos. No uma revoluo o que prega Saint-Simon, nem mesmo o socialismo como o compreendemos; uma espcie de hino do processo industrial e um protesto contra os ociosos que levam o premio pelo trabalho alheio.

Charles Fourier

Saint-Simon pode no ter dado certo, devido a falta de organizao, entretanto Fourier, que acreditava que nos encontrvamos em um mundo extremamente desorganizado, propunha uma soluo explicitamente ate o ultimo detalhe. Nascido em 1772, passou a vida como viajante comercial sem xito, e ficou sempre solteiro.

Ele foi um louco manso; seu mundo era uma fantasia: acreditava coisas ilgicas e que o mundo apenas viviam em seu quinto de oito estgios. Mas independente disso, acreditava ele que a sociedade deveria ser dividida por falanstrios, uma espcie de vila cooperativas, semelhantes a de Owen. Haveria um grade edifcio central, e em torno haveria campos e estabelecimentos industriais e sua eficincia seria obtida por meio da descentralizao. Todos teriam de trabalhar, decerto, por umas poucas horas dirias, ningum deveria fugir, por que todos fariam o que lhe mais fora agradvel. E tudo isso seria extremamente lucrativo. Nos estados unidos chegou a haver mais de 40 falanstrios, entretanto nenhuma dessas comunidade criaram razes solidas.

John Stuart Mill

Nascido em 1806, logo aprendeu grego. Com 7 anos j tinha lido os discursos de Plato e com 8 aprendeu latim. J com 12 comeou a estudar lgica e cincia poltica, tendo com 13 anos um amplo conhecimento no vasto campo desta matria. Muito incrvel como ele conseguiu evitar a destruio completa de sua personalidade. Entretanto somente em torno dos 40 anos publicou seu livro Princpios da economia poltica, que consiste em um levantamento total do assunto: toma a renda, os salrios, os preos e a taxa e refaz o caminho que tinha sido traado por Smith, Malthus e Ricardo. Realiza tambm uma descoberta sua, de importncia monumental. Mill revela um principio que de uma vez por todas afasta a Economia das outras cincias lgubres: consiste em demonstrar que a verdadeira essncia da lei econmica era a produo, e no a distribuio. Ou seja, as leis econmicas da produo pertencem a natureza, a escassez e a obstinao na natureza so coisas reais, e as regras econmicas do procedimento que nos ensina como elevar ao mximo os frutos de nosso trabalho so to impessoais e absolutas como as leis da expanso das fases ou da interao das substancias qumicas.

A distribuio da riqueza, portanto, depende das leis e costumes da sociedade. As regras que, a determinam so feitas pela opinio e pelos sentimentos da parte dominante da comunidade, e diferem segunda a poca e os pases, e podem ainda ser mais diferentes, se a humanidade quiser assim.]

Mill acreditava que as classes trabalhadoras chegariam a ver o espectro malthusiano e por isso controlariam alegre e voluntariamente o seu numero. O reconhecimento de que a distribuio no obdecia a leis que no fossem humanas permitia que se vises a possibilidade de progresso. O mundo chegaria finalmente num nvel estacionrio: os lucros teriam desaparecido, no haveria mais crescimento mas dentro da escala existente, ainda era possvel melhorar.

O sistema de Mill no integralmente socialista, ele reconhece que a propriedade encerra abusos, mas admite que o sistema ainda est na infncia e poderia melhorar: os abusos no lhe pareciam inseparveis da instituio. Mill falece em 1873, sendo venerado e cultuado.

Parecero ridculos esses utpicos?

Eram todos sonhadores, na verdade. Viviam em um mundo que no s era duro e cruel, mas que racionalizava sua crueldade a guisa de leis econmicas. Pois o mundo era dominado por leis, e estas no podiam nem deviam ser modificadas: simplesmente existiam, e protestar contra quaisquer injustias que pudessem ser consideradas como uma conseqncia infeliz do seu funcionamento era tolice to grande como lamentar o fluxo das mars. No de se admirar que os utpicos tivessem ido a tais extremos: as leis pareciam inexorveis, por isso os utopistas tomaram coragem para dizer que o sistema precisava ser modificado.

Nota-se que se chamavam socialistas utpicos, por que primeiramente, ao contrario dos comunistas, esperavam convencer os membros das classes superiores que a modificao social redundaria em beneficio deles. E em segundo por que era reformadores econmicos, idealizadores de utopias tem existido desde Plato.

Poucos deles pensaram em reformar dentro do sistema. preciso no esquecer que foi naquela poca que surgiram as primeiras leis sobre o trabalho industrial, e que tais reformas hesitantes, penosamente conquistadas, era freqentemente desrespeitadas. Os utpicos desejavam algo melhor do que a reforma, ele queriam uma nova sociedade onde o ama ao prximo pudesse ter prioridade sobre a mesquinha preocupao do homem consigo mesmo.

O mundo inexorvel de Karl Marx

Em meados de 1848, um fantasma pairava sobre a Europa o comunismo. Todas as potncias europias, no entanto, uniram suas foras para esconjur-lo do contexto europeu.

O Manifesto Comunista, publicado pela Liga Comunista em fevereiro de 1848, declarava que, posto que os operrios nada tinham a perder, empregariam a fora para alcanar seus objetivos. Esse dio comunista se originou da frustrao e do desespero de uma classe que foi esquecida e arremessada margem da sociedade.

Este desespero suscitou inmeros levantes nos pases europeus, tambm chamados de Primavera dos Povos. No obstante, as principais caractersticas destas revoltas foram espontaneidade, indisciplina, desordem e dificuldade de se estabelecer um propsito, um fim. Os lugares nos quais o fervor revolucionrio floresceu foram impiedosamente esmagados, a fim de combater o espectro comunista.

Neste contexto, surgiu a Liga Comunista um grupo lderes trabalhistas reunidos. Seus integrantes afirmavam que, apesar da represso dos levantes, no havia motivos para preocupaes, pois os motins de 48 eram apenas ensaios em pequena escala de uma gigantesca produo marcada para o futuro.

Com a divulgao do Manifesta veio tona um de seus objetivos uma filosofia da histria na qual uma revoluo comunista no s era desejvel, mas inevitvel. O documento oferecia uma anlise do lado vencedor, o proletariado, em detrimento dos grandes capitalistas.

Seus autores, Karl Marx e Friedrich Engels, o escreveram para o porvir. Marx e Engels encontraram no contexto poltico/social/econmico europeu daquela poca o cenrio perfeito para que uma revoluo se desenvolvesse futuramente.

O Manifesto Comunista pertence grande linha de vises e pensamentos econmicos que tem sucessivamente esclarecido e interpretado o mundo, entretanto no pode ser concebida desde um ponto de vista maniquesta: ou totalmente desprovida de mritos ou uma somatria de raciocnios perfeitos.

A obra transmitiu um legado importante desde o ponto de vista econmico, pois com Marx e Engels que o capitalismo se v em dificuldades. O autor alemo previu que o capitalismo iria, inevitavelmente, sucumbir; e foi sob a gide desta previso que o comunismo alicerou suas bases.

Engels se diferia consideravelmente de seu colega, Marx, no s quanto as aparncias fsicas, mas tambm quanto a personalidade. Enquanto Engels era alto, elegante e cultivava os prazeres burgueses; Marx era moreno, baixo, meticuloso e perfeccionista.

Engels era filho de um fabricante no Reno e a fim de iniciar-se na indstria do pai foi para Manchester. Ali, observou as condies nas quais viviam os trabalhadores fabris e como resultado deste estudo publicou As condies da classe trabalhadora na Inglaterra em 1844. Posteriormente, escreveu tratados que criticavam os economistas ingleses devido ao carter conservador que lhes caracterizavam. Ao largo de suas publicaes,causou particular impresso num jovem radical em Paris Karl Marx, que naquela poca dedicava-se ao jornalismo liberal, mas suas participaes nos jornais eram curtas j que, freqentemente, estas publicaes eram fechadas pelo governo.

Na sua maturidade, a situao financeira de Karl Marx era desesperadora. Engels lhe enviava, com freqncia, dinheiro a fim de apaziguar as dificuldades do amigo. Somente os ltimos anos lhe foram um pouco menos duros porque um velho amigo lhe deixou uma boa quantia, suficiente para mant-lo pelo resto de sua vida.

O frutfero encontro entre Marx e Engels possibilitou o desenvolvimento de uma filosofia batizada de materialismo dialtico. Dialtica porque mantinha a idia hegeliana de mutao permanente e Materialista porque no se baseava no mundo das idias, mas no meio ambiente social e fsico.

Segundo Engels, a concepo materialista da histria parte do princpio de que a produo, e como a produo o intercambio de produtos, a base de toda a ordem social. Que em toda sociedade j desaparecida na Histria a distribuio dos produtos e com ela a diviso da sociedade em classes ou camadas determinada pelo o que produzido e como produzido, e pela forma de intercmbio existente. Segundo essa concepo, as causas finais de todas as modificaes sociais e revolues polticas devem ser procuradas no no esprito dos homens, em sua crescente compreenso da verdade e justia eternas, mas nas modificaes, no modo de produo e intercmbio. Devem ser procuradas no na Filosofia, mas na Economia da poca em questo.

Marx diz que a sociedade est erguida sobre uma base econmica e que tal base pode se diferir de uma sociedade para outra; no entanto, seja qual for a organizao assumida para resolver os problemas econmicos, a sociedade demandar uma superestrutura de atividades no-econmicas, de pensamento necessitar de leis que a mantenham, de um governo que a supervisione, de uma religio e uma filosofia que a inspirem. Esta superestrutura deve refletir a base sobre a qual se apia; desta forma, doutrina materialista afirma que os pensamentos e as idias so produtos do meio, mesmo quando pretendem modificar o mesmo.

O materialismo, por si prprio, resumiria as idias ao simples resultado da atividade economia. Entrementes, Marx adicionou o conceito de dialtica teoria e, com isso, sups uma transformao constante e perene na qual as idias originadas de um perodo moldariam a moldar a prxima fase Sobre o golpe de Napoleo, Marx comentou: Os homens fazem a sua histria, mas no a fazem tal como querem, no a fazem em circunstancias previamente escolhidas, mas em circunstncias que lhes so transmitidas, determinadas e dadas pelo passado

Assim como o aspecto dialtico era mutvel, o mundo econmico tambm o era. Desta forma, na medida em que a economia se transformava, uma nova adaptao social ocorria. Estas modificaes traziam, em seu mago, diversas conseqncias, como um novo contexto scio-cultural, o surgimento de uma nova classe social, dentre outros.

A problemtica que envolve as transformaes da sociedade relaciona-se ruptura de uma ordem social j estabelecida. Conforme as condies tcnicas da produo se aprimoram e diferenciam (a destruio dos artesanatos pelas fbricas, por exemplo), ocorre um fenmeno de deslocamento das velhas classes sociais em favor do surgimento das classes novas. Aqueles que esto no alto podem vir a cair e os de baixo a se elevar um pouco. justamente neste ponto que reside o conflito as classes cuja posio est ameaada lutam contra as classes que surgem.

De acordo com as alteraes, as classes sociais se redistribuem na estrutura da sociedade, e em meio agitao configura-se a diviso da riqueza. Destarte, a histria uma sucesso de lutas incessantes entre classes, para a diviso social da riqueza, pois, quando se modificam as tcnicas da sociedade, nenhuma diviso da riqueza est isenta de modificaes.

A teoria de Marx se desdobrava no sentido de uma inevitvel revoluo. Este acontecimento se justificava porque a estrutura de um sistema econmico edificava-se em uma base tcnica da realidade econmica e uma superestrutura de idias; se sua base tcnica evolua, sua superestrutura estava, necessariamente, sujeita a uma crescente tenso. Ao aplicar-la ao sistema capitalista, tem-se que a base tcnica do capitalista a produo industrial; a sua superestrutura o sistema de propriedades privadas e o conflito se estabelece no fato de que ambas eram incompatveis.

A produo industrial era um processo altamente organizado, integrado e interdependente, ao passo que a propriedade privada era o mais individualista dos conceitos. Deste modo, a superestrutura e a base se chocavam: as fbricas exigiam um planejamento social, e a propriedade privada o abominava. O capitalismo se constituiu como um sistema demasiadamente complexo, contudo o capitalista insistia numa ruinosa liberdade.

Como resultado desta incompatibilidade, o sistema capitalista estava fadado extino j que o no-planejamento da produo deveria levar crise e ao caos social da depresso. Outra conseqncia seria o fato de que o capitalismo fomentaria, involuntariamente, o seu sucessor : dentro de suas fbricas, criaria a base tcnica do socialismo, a produo em massa e tambm uma classe organizada e disciplinada ( o proletariado). Sobre isso , o Manifesto Comunista declara: O desenvolvimento da industria moderna abala as bases da prpria fundao na qual a burguesia apia a produo e a distribuio dos produtos. O que a burguesia produz, acima de tudo, so os seus coveiros. Sua queda e a vitria do proletariado so igualmente inevitveis

O Manifesto no apenas reconheceu o operariado em sua interpretao histrica, mas tambm se props a orient-lo e gui-lo para que exercesse sua influencia mxima na histria. A tentativa, no entanto, no obteve xito. A Liga Comunista foi formada em concomitncia com a publicao do Manifesto, mas nunca passou de uma organizao de papel e com o fracasso das revoltas de 1848, a Liga tambm no resistiu.

Em 1864, surge a Associao Internacional dos Trabalhadores com 7 milhes de membros. A Internacional no formou um exercito disciplinado de comunistas, mas uma multido de owenistas, proudhonistas, fourieristas, socialistas, nacionalistas e sindicalistas. Marx ainda conseguiu mant-la por cinco anos, mas em 1874 foi realizada a sua ltima reunio.

Em 1865, Marx finalizou seu esperado livro: O Capital. a obra de um economista que leu todos os economistas at ento existentes, que padece de um pedantismo germnico em sua paixo pelas notas de rodap e define o capital como o trabalho morto, o vampiro que s vive sugando o sangue do trabalho vivo; e que surgiu no mundo gotejando de alto a baixo, de cada poro, sangue e sujeira. O grande mrito do livro, todavia, a completa abstrao de consideraes morais, por curioso que parea. O objetivo de Marx descobrir as tendncias intrnsecas do sistema capitalista, suas leis internas de movimento, e, ao procurar atingi-lo, ps de lado o recurso mais fcil de simplesmente apontar as deficincias manifestas do sistema. Ao invs disso, estabelece o mais rigoroso e mais puro capitalismo imaginvel e dentro desse rarefeito sistema abstrato busca suas respostas.

Desta maneira, ele dispe o cenrio: Em uma sociedade onde vigore o capitalismo puro no h monoplios, sindicatos, vantagens especiais a ningum uma mercadoria custa exatamente o preo devido, e esse preo o seu valor (o total de trabalho que representa). Se para fazer chapus necessrio o dobro do trabalho exigido pelos sapatos, os chapus custaro duas vezes o preo dos sapatos. Neste contexto, onde tudo custa exatamente o seu valor exato, como possvel a obteno de lucros?

A resposta se refugia em um diferente tipo de mercadoria, a mo de obra. O operrio, como o capitalista, vende o seu produto exatamente pelo o que ele vale. Sendo o valor o total de trabalho empregado na mo de obra, as energias vendveis do operrio valem o total de trabalho necessrio para mant-lo vivo. Desta forma, o verdadeiro valor de um operrio o salrio que necessita para viver. Se um operrio necessita de 6 horas dirias para a sua sobrevivncia, ento seu valor ser fixado em 6 dlares por dia ( tomando a referencia de um dlar por hora). Entretanto, a realidade no condiz com a teoria. O operrio concorda em trabalhar 10 ou 11 horas por dia e receber o equivalente a 6 horas. Mas porque o operrio aceita trabalhar estas horas no pagas? Tal fato ocorre porque o capitalista monopoliza o acesso aos prprios meios de produo; assim, se o trabalhador no quiser trabalhar 11 horas por dia, no consegue emprego. Essas horas no remuneradas denominam-se, segundo Marx, mais valia. Com o emprego da mais-valia, o capitalista vende seus produtos pelo valor real e ainda assim pode obter lucro porque h mais trabalho-tempo em seus produtos do que o trabalho-tempo que foi obrigado a pagar.

fato que todos os capitalistas possuem lucros, mas todos tambm esto em concorrncia; da procurarem acumular para expandir sua produo, a expensas dos concorrentes. Com o acirramento da concorrncia, os salrios tendem a aumentar e a mais-valia diminuir. Esse raciocnio, aos poucos, se torna o grande dilema dos capitalistas: seus lucros sero consumidos pelos aumentos de salrios. Marx diz que os capitalistas enfrentaro a ameaa dos salrios elevados introduzindo mquinas que economizam o trabalho em suas fbricas. Isso colocar no desemprego parte da fora do trabalho, como uma espcie de Exrcito Industrial da Reserva; e recolocar os salrios em seu valor anterior, ou seja, no nvel da subsistncia.

Ao substituir os homens pelas mquinas, o capitalista est ao mesmo tempo substituindo os meios de produo lucrativos pelos meios no lucrativos. Contudo, somente por intermdio do trabalho vivo o capitalista pode obter lucros, a partir das horas excedentes no pagas. Ao reduzir o nmero de operrios para empregar as mquinas, o capitalista est estreitando a sua prpria margem de lucro.

Com a reduo de seus lucros, o capitalista redobrar seus esforos para colocar na fbrica novas mquinas que economizem trabalho e reduzam os custos. Situao semelhante ocorre em todas as fbricas, pois todos os capitalistas tambm esto agindo desta forma. Em um determinado momento, os custos so eliminados ao ponto em que a produo j no lucrativa; o consumo diminui medida que as mquinas desempregam os homens e o nmero de empregados no pode consumir toda a produo. Surge, neste momento, a crise capitalista. Entrementes, esta situao no definitiva porque os operrios, desempregados, so forados a aceitar salrios inferiores ao seu valor para no morrer de fome e, depois de certo tempo, reaparece a mais-valia. Com o passar do tempo, todo o ciclo se repetir: desde a crise at a recuperao econmica.

Marx adverte, no entanto, que em um determinado momento, o ciclo no mais se perpetuar. O sistema desmorona-se proporo que perde sua fonte de energias, a mais valia. O desmoronamento apressado pela constante instabilidade gerada pela espontaneidade da produo. E o autor ainda pontua que se todas estas hipteses levantadas se aplicariam em um sistema capitalista puro, o que imaginar do sistema real (cheio de falhas, como os monoplios, os sindicatos, etc.) ?

O autor alemo, todavia, no escreveu muito sobre o sistema que sucederia o capitalismo, limitou-se a dizer que se constituiria como uma sociedade sem classes e que a diviso baseada na propriedade desapareceria.

Toda a teoria acima exposta estava colocada de forma abstrata no livro de Marx, mas de acordo com o raciocnio do economista alemo, todas as tendncias (tambm batizadas de leis do movimento) verificadas no nvel abstrato tambm se realizariam no mundo real. O modelo marxista foi, extraordinariamente, proftico e muitas de suas vises realmente se concretizaram. Na Rssia e na Europa oriental, o capitalismo realmente desapareceu. Na Escandinvia e na Inglaterra, foi parcialmente abandonado. Na Alemanha e na Itlia enveredou-se rumo ao fascismo. Na verdade, em toda parte, exceto nos Estados Unidos, o capitalismo se encontrou na defensiva.

Marx previu que o capitalismo ruiria devido a instabilidade provocada por uma sucesso de crises comerciais, agravadas pelas guerras e a falta de f no sistema. Mas os Estados Unidos tambm sofreram guerras, depresses, descrditos, entre outros sem deixar de vigorar com toda fora. A diferena consistiu em uma sutileza: o capitalismo no falhou s por motivos econmicos, mas por causas sociais. O autor afirmou que o capitalismo geraria uma situao social a qual nem mesmo o governo poderia equilibr-la. A inflexibilidade social provocou o enfraquecimento do sistema na Europa.

Os mesmos motivos acima expostos foram as causas do sucesso do sistema econmico nos Estados Unidos. Ali, o capitalismo se desenvolveu em uma terra virgem da mo morta da