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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO ASHBEL GREEN SIMONTON CURSO DE TEOLOGIA ISRAEL BERNARDO DE OLIVEIRA FARIA PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO: A DOUTRINA BÍBLICA DO CULTO ADOTADA PELA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL RIO DE JANEIRO 2017

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO ASHBEL GREEN SIMONTON

CURSO DE TEOLOGIA

ISRAEL BERNARDO DE OLIVEIRA FARIA

PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO: A DOUTRINA BÍBLICA DO

CULTO ADOTADA PELA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

RIO DE JANEIRO

2017

ISRAEL BERNARDO DE OLIVEIRA FARIA

PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO: A DOUTRINA BÍBLICA DO

CULTO ADOTADA PELA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

Monografia apresentado ao Seminário TeológicoPresbiteriano Ashbel Green Simonton comorequisito para obtenção do título de Bacharel emTeologia.

Orientador: Rev. Carlos Lima

RIO DE JANEIRO

2017

Faria, Israel Bernardo de Oliveira

Princípio Regulador do Culto: a doutrina Bíblica do Culto adotada pela Igreja Presbiteriana do Brasil / Israel Bernardo de Oliveira Faria; orientado Por Carlos Antônio Lima – Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton; 2017.

Trabalho de Conclusão de Curso - Teologia

1. Princípio Regulador do Culto 2. Doutrina Bíblica do Culto 3. Culto Cristão 4. Culto Reformado 5. Igreja Presbiteriana do Brasil 6. Culto Puritano.

ISRAEL BERNARDO DE OLIVEIRA FARIA

PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO: A DOUTRINA BÍBLICA DO

CULTO ADOTADA PELA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Teologia, Curso de Teologia, do Seminário Teológico Presbiteriano Ashbel Green Simonton.

_______________________________________

Orientador: Rev. Carlos Lima

_______________________________________

Rev. Marcos Ocanha

_______________________________________

Ao meu pai (in memorian) e minha mãe pelo

amor e dedicação que me entregaram em todo

tempo. A minha amada esposa pela compreensão

e auxilio. A Maria, presente de Deus, por toda

alegria que proporciona. A meus irmãos. A minha

amada igreja pelas orações e amigos por toda a

ajuda. Muito obrigado!

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos pastores que me tutelaram e aos professores do seminário por toda dedicação

em partilhar valorosos conhecimentos. E mesmo nos momentos em que parecia haver inflexão

e cobranças compreendo que queriam o meu melhor. E me ensinaram a romper os meus

limites em busca da excelência. Agradeço por que me deram não só o preparo teológico, mas

também uma melhor capacidade para ultrapassar as dificuldades para compreender e executar

a tarefa do pastorado. E com isto percebo que em muitos momentos acreditaram mais em mim

do eu mesmo. Aos meus colegas de seminário, digo que alguns são como irmãos, e que

tornaram muitos momentos de dificuldade mais aprazíveis. A todos os meus sinceros

agradecimentos.

"Deus só é corretamente servido quando

sua lei for obedecida. Não se deixa a cada

um a liberdade de codificar um sistema de

religião ao sabor de sua própria

inclinação, senão que o padrão de piedade

deve ser tomado da Palavra de Deus.”

João Calvino

RESUMO

A atualidade apresenta uma multiplicidade de igrejas cristãs evangélicas. São muitas as

diferenças entre elas e uma delas é o culto. Os pensamentos são por vezes divergentes.

Diante deste cenário a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) tem um posicionamento

firme ao dizer que tem na Bíblia o seu Princípio Regulador do Culto (PRC). A IPB

utiliza-se dos seus símbolos de fé e também posicionou-se em 2009 por meio de uma

carta pastoral e teológica que fala sobre o Princípio Regulador do Culto. O PRC é a

doutrina reformada do culto. O reconhecimento da Palavra de Deus como reguladora de

todas as coisas surgiu na reforma. Quem trata disso é o fundamento “Somente as

Escrituras” (sola Scriptura). Neste fundamento a Palavra é declarada Inspirada por

Deus, autoridade para regular todos os aspectos da vida humana e, portanto, totalmente

suficiente. Vemos também nas Institutas e nos comentários bíblicos de Calvino que a

forma correta de adoração é por Deus, e somente por Ele, estabelecida. E através dos

puritanos esta doutrina, o Princípio Regulador do Culto, é nomeada e reconhecida de

fato. Os puritanos buscavam fazer o que a Palavra ordenava. Esta era a constatação de

que a Bíblia é quem regulava o culto e foi documentada nas confissões reformadas.

Várias tratavam da bíblia como reguladora do culto e que qualquer invenção humana ou

sugestão de satanás são, por Deus, totalmente rejeitadas. A Igreja Presbiteriana do

Brasil nasceu com toda esta herança e o PRC está dentro dos seus símbolos de fé, do

sistema presbiteriano e dos seus documentos. O PRC não é primariamente uma doutrina

presbiteriana, calvinista, puritana ou reformada. É sim uma doutrina Bíblica e

reconhecer isto é buscar a Deus em espírito e em verdade.

Palavras chave: Princípio Regulador do Culto, Doutrina Bíblica do Culto, Culto Cristão,

Culto Reformado, Igreja Presbiteriana do Brasil e Culto Puritano.

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................

METODOLOGIA ................................................................................................................

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14

1. CONCEITUAÇÕES CONCERNENTES AO PRC .................................................... 18

1.1. O PRC CONCEITUAÇÃO DE CULTO CRISTÃO .............................................. 1 8

1.1.1 O FENÔMENO DO CULTO CRISTÃO ............................................................... 1 8

1.1.2 DEFINIÇÃO DE CULTO CRISTÃO DE PENSADORES CRISTÃOS .............. 19

1.1.3 PALAVRAS CHAVE QUE DESIGNAM O CULTO CRISTÃO ......................... 20

1.2 O PRC NO CULTO SEGUNDO A BÍBLIA ............................................................ 21

1.2.1 O CULTO NA PERSPECTIVA DO ANTIGO TESTAMENTO .......................... 22

1.2.1.1 OS ENCONTROS COM DEUS .......................................................................... 21

1.2.1.2 O CULTO ESPONTÂNEO ................................................................................. 22

1.2.1.3 O PRC NO CULTO DO PACTO ........................................................................ 22

1.2.1.4 O PRC NO CULTO SACRIFICIAL ................................................................... 2 3

1.2.1.5. A GUARDA DO SÁBADO ............................................................................... 2 4

1.2.1.6 O CULTO NAS FESTAS .................................................................................... 2 4

1.2.1.7 O TABERNÁCULO E O TEMPLO ................................................................... 24

1.2.1.8 OS SACERDOTES E LEVITAS ........................................................................ 2 5

1.2.1.9 O CULTO NA SINAGOGA ............................................................................... 2 5

1.2.1.10 CONSIDERAÇÕES SOBRE PRC NO CULTO DO ANTIGO TESTAMENTO

......................................................................................................................................... 26

1.2.2 O CULTO NA PERSPECTIVA DO NOVO TESTAMENTO .............................. 2 7

1.2.2.1 JESUS COMO CUMPRIMENTO DO CULTO DO ANTIGO TESTAMENTO

......................................................................................................................................... 27

1.2.2.2 A MUDANÇA ENTRE O CULTO DO ANTIGO PARA O NOVO

TESTAMENTO ............................................................................................................... 2 9

1.2.2.3 O PRC NAS REUNIÕES DOS CRISTÃOS ....................................................... 2 9

1.2.2.4 CONSIDERAÇÕE SOBRE O PRC NO CULTO DO NOVO TESTAMENTO 30

1.3 O PRC E A FÉ REFORMADA ................................................................................. 30

1.4 O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO ............................................................. 3 2

1.4.1 DEFINIÇÃO DA PALAVRA PRINCÍPIO ........................................................... 32

1.4.2 DEFINIÇÃO DA PALAVRA REGULADOR ..................................................... 33

1.4.3 DEFINIÇÃO DE PRINCÍPIO REGULADOR DE CULTO ................................. 3 3

1.4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A DEFINIÇÃO DO TEMA ...................... 34

2. SOLA SCRIPTURA, CALVINO E OS PURITANOS – O RECONHECIMENTO

DA PALAVRA DE DEUS COMO PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO ............ 3 5

2.1 O PRC NO SOLA SCRIPTURA ............................................................................... 3 5

2.1.1 O QUE É O SOLA SCRIPTURA? ......................................................................... 35

2.1.1.1. ESCLARECIMENTOS DO SOLA SCRIPTUTRA .......................................... 3 6

2.2 O PRC NOS ATRIBUTOS DAS ESCRITURAS ..................................................... 36

2.2.1 A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS .................................................................. 37

2.2.2 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS ................................................................ 3 7

2.2.3 A SUFICIÊNCIA E PERFEIÇÃO DAS ESCRITURAS ....................................... 3 8

2.3 OS ESCRITOS DE CALVINO PRECEDEM O ENTENDIMENTO DO

PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO ....................................................................... 3 8

2.3.1 O PRC NOS COMENTÁRIOS BÍBLICOS DE CALVINO ................................. 3 9

2.3.1.1 O COMENTÁRIO DE CALVINO DE LEVITICOS 10.1-2 .............................. 39

2.3.1.2 COMENTÁRIO DE CALVINO DE LEVITICOS 22. 31-33 ............................. 40

2.3.1.3 COMENTÁRIO DE CALVINO DE ISAÍAS 29.13 ........................................... 40

2.3.1.4 COMENTÁRIO DE CALVINO DE MATEUS 15.1-9 ...................................... 41

2.3.1.5 COMENTÁRIO DE CALVINO DE COLOSSENSES 2.22-23 ......................... 42

2.3.2 O PRC NAS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ .......................................... 43

2.3.2.1 A ESCRITURA É MESTRE E GUIA PARA SE ACHEGAR A DEUS ........... 43

2.3.2.2. A SUPERIODADE REVELACIONAL DA BÍBLIA SOBRE A CRIAÇÃO ... 44

2.3.2.3 SOMENTE DEUS É TESTEMUNHA CONFIÁVEL DE SI MESMO ............. 44

2.3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESCRITOS DE CALVINO .............................. 45

2.4 OS PURITANOS: RECONHECENDO A AUTORIDADE DA PALAVRA NO

CULTO ............................................................................................................................ 46

2.4.1 EXEMPLOS DE HOMENS PURITANOS ........................................................... 47

3. A INFLUÊNCIA DO PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO NAS CONFISSÕES

REFORMADAS .............................................................................................................. 48

3.1 CONCEITO DE CONFISSÃO ................................................................................. 49

3.2 A IMPORTANCIA DAS CONFISSÕES NA TRADIÇÃO REFORMADA ........... 49

3.3 A CONFISSÃO BELGA (1561) ............................................................................... 50

3.3.1 UM BREVE HISTÓRICO DA CONFISSÃO BELGA ......................................... 50

3.3.2 AS ESCRITURAS SAGRADAS NA CONFISSÃO BELGA ............................... 50

3.4 O CATECISMO DE HEIDELBERG (1563) ............................................................ 51

3.4.1 UM BREVE HISTÓRICO DO CATECISMO DE HEIDELBERG ...................... 51

3.4.2 O CULTO NO CATECISMO DE HEIDELBERG ................................................ 51

3.5 SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA ................................................................. 51

3.5.1 UM BREVE HISTÓRICO DA SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA ............ 51

3.5.2 CONFISSÃO HELVÉTICA E SUA FIRMEZA NA PALAVRA ......................... 52

3.6 CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER (1647) .................................................. 52

3.6.1 UM BREVE HISTÓRICO DA CONFISSÃO DE WESTMINSTER .................... 52

3.6.2 A CFW E O PRC .................................................................................................... 53

3.6.2.1 CAPÍTULO I: DA ESCRITURA SAGRADA .................................................... 53

3.6.2.2 CAPÍTULO XXI: DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO ...................... 54

3.7 O BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER (1647) ........................................... 55

3.8 O CATECISMO MAIOR .......................................................................................... 56

4. IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL – HISTÓRIA, SISTEMA E

CONFESSIONALIDADE QUE APONTAM PARA O RECONHECIMENTO DO

PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO ....................................................................... 57

4.1 O SISTEMA PRESBITERIANO .............................................................................. 57

4.2 A HISTÓRIA DO PRESBITERIANISMO ............................................................... 59

4.2.1 O SURGIMENTO DO PRESBITERIANISMO COM JOHN KNOX .................. 59

4.2.2 A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL E O PRC ......................................... 60

4.2.2.1 IPB – A CHEGA DE SIMONTON, A AUTONOMIA DA IGREJA E A

ADOÇÃO DOS PADRÕES DE WESTMINSTER ........................................................ 60

4.2.3 A IPB E OS SÍMBOLOS DE FÉ ........................................................................... 61

4.3 O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO NA IGREJA PRESBITERIANA DO

BRASIL ........................................................................................................................... 62

4.3.1 OS PRINCÍPIOS DE LITURGIA DA IPB ............................................................ 63

4.3.2 O MANUAL DO CULTO DA IPB ....................................................................... 63

4.3.3 A CARTA PASTORAL E TEOLÓGICA SOBRE LITURGIA NA IPB .............. 65

4.3.4 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES DA CARTA ............................................ 66

4.3.4.2 O TEMPLO ......................................................................................................... 67

4.3.4.3 A IGREJA COMO COMUNIDADE SOCIAL ................................................... 67

4.3.4.4 CULTO E CULTURA ......................................................................................... 67

4.2.4.5 O CULTO PÚBLICO – O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO ................ 68

4.2.4.6 MUDANÇAS HISTÓRICAS NO CULTO ......................................................... 70

4.2.4.7 PRINCÍPIOS DO CULTO ACEITÁVEL A DEUS ........................................... 71

4.2.4.8 EXPRESSÕES CORPORAIS NO CULTO ........................................................ 71

4.2.4.9 ORIENTAÇÕES PASTORAIS A SEREM SEGUIDAS PELAS IGREJAS

LOCAIS ........................................................................................................................... 73

4.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IPB E O PRC ......................................................... 73

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 74

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INTRODUÇÃO

A Bíblia comprova que em todos os tempos ouve uma busca pelo Deus criador dos céus

e da terra, através da adoração. Nos escritos do Antigo Testamento vemos a oferta de

Abel sendo recebida por Deus e a de Caim sendo rejeitada (Gn 4.4,5). Temos o povo se

reunindo em volta do tabernáculo, e depois do Templo, onde estava a arca da Aliança e

o povo fazia sua adoração. No Novo Testamento encontramos o zelo do Senhor Jesus ao

expulsar os cambistas do Templo chamado de casa de oração (Mt 21.12). E também o

apostolo Paulo participando instruções sobre a forma correta da ministração da Ceia do

Senhor na reunião do povo de Deus. A bíblia fala da relação do povo adorador e seu

Deus. Ela fala do Culto!

O Brasil dito um país de maioria cristã. Tem dimensões continentais e uma bela e vasta

multiplicidade cultural. Cada estado tem suas peculiaridades quanto a cultura que dão

contornos únicos a culinária, as roupas, as músicas dentre outras coisas. Quando

trazemos esta multiplicidade cultural para o ambiente das igrejas cristãs evangélicas

também vemos diversidade semelhante. Tais igrejas apresentam múltiplas

configurações de elementos de culto. Algumas introduziram até a apresentação de

malabaristas e “shows” pirotécnicos aos moldes de um circo. Estes casos são extremos,

óbvio, mas é bem comum hoje vermos a introdução da dança ou mesmos ritmos que

induzem a sensualidade como o “funk gospel”. Tudo isto permitido pelas máximas “é

para a glória de Deus” e se “a bíblia não proíbe pode fazer”. Este pensamento é, sem

dúvidas, “mais prático do que teológico, sugerindo meios de tornar o culto mais

interessante e satisfatório do ponto de vista emocional, mais inteligível ou, de alguma

forma mais autentico como um encontro com Deus” (Frame, 2006, p. 15). Para muitas

igrejas a analise do coração do homem pode definir por si só se o culto é aceitável a

Deus.

Dentro deste contemporâneo cenário, a Comissão Executiva da Igreja Presbiteriana do

Brasil, recebeu uma série de pedidos de orientação sobre a inclusão de dança litúrgica

ou coreografia no culto. E a este respeito manifestou-se de forma proibitiva tendo como

base a doutrina do Princípio Regulador do Culto. Dentro de sua Carta Pastoral e

Teológica que trata do assunto. A carta diz que o Princípio Regulador do Culto é uma

doutrina bíblica e está presente nos Símbolos de Fé adotados pela IPB.

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O autor pretende apresentar, baseado na forma de culto a Deus da tradição reformada

presbiteriana, o desenvolvimento da doutrina do principio regulador. Tendo como

fundamento o culto definido na Confissão de Fé de Westminster (CFW).

Art.7° - O culto público é um ato religioso, através do qual o povo de Deusadora o Senhor, entrando em comunhão com ele, fazendo-lhe confissão depecados e buscando, pela mediação de Jesus Cristo, o perdão, a santificaçãoda vida e o crescimento espiritual. É a ocasião oportuna para a proclamaçãoda mensagem redentora do Evangelho de Cristo e para a doutrinação econgraçamento dos crentes. Art. 8 - O culto público consta ordinariamente deleitura da Palavra de Deus, pregação, cânticos sagrados, orações e ofertas. Aministração dos sacramentos, quando realizada no culto público, faz partedele. (MARRA, 1999, p. 1)

Portanto o culto é dever do homem a Deus e existe uma doutrina que regula sua forma.

Mais especificamente, existem princípios que balizam o culto. Assim o objetivo geral

deste trabalho é servir de orientação ao seguimento cristão que adota em suas liturgias

alguma forma de culto. Também observamos que as igrejas cristãs evangélicas, em sua

maioria, têm como sua principal programação o culto público. Já pela perspectiva

histórica da igreja, percebemos que nos relatos do Novo Testamento as primeiras igrejas

eram orientadas sobre a forma de Cultuar a Deus. Mas dentre os cristãos evangélicos

existem praticas litúrgicas variadas e que por vezes se contradizem. Por isso, o autor

tem a proposta de demonstrar que existe não uma única forma litúrgica, mas que

existem princípios litúrgicos que informam os elementos do culto. Existe uma doutrina

que a conduz o culto, a reunião do povo de Deus para a adoração, a mesma é conhecida

como: O Principio Regulador do Culto.

De forma específica o objetivo deste trabalho é orientar aos membros das igrejas

presbiterianas de que o culto é instituído por Deus para que seu povo entre em

comunhão com Ele através do serviço da adoração. E sendo a IPB uma igreja de

tradição reformada objetivamos, através da visão (reformada) de que a Palavra de Deus

é a única regra de fé e prática, orientar sobre as práticas do culto e o erro de não adotar a

bíblia como instrução única e fiel do culto. Também utilizaremos de importantes

escritos da fé reformada para explicar o que é o principio regulador do Culto. E com

segurança demonstrar a validade de tal princípio ainda em nossos dias. E que a IPB os

utiliza buscando, em fidelidade ao Deus Trino e sua Palavra, apresentar o culto

agradável.

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A apresentação deste trabalho surge da inquietação ao encontrar tantas formas

diferentes de culto entre as igrejas cristãs evangélicas. Algumas formas são simples e

seguidas a muito tempo. Outras podemos dizer que são contemporâneas e que

demonstram o que a sociedade é hoje. Assim, o Culto é, para muitos, fruto da

criatividade humana e sua aceitação passa somente por uma análise da intenção do

adorador. Segundo a Confissão de Fé de Westminster (CFW) este é um pensamento

equivocado. Por isso a necessidade de tratar sobre o assunto “Princípio Regulador do

Culto” a fim de auxiliar a compreensão de crentes em Jesus sobre como buscar a Deus

no culto público.

Cap. XXI.I. A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio esoberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deveser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, detoda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar overdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela suavontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações einvenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquerrepresentação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas SantasEscrituras. (CFW, p. 26, ’grifo do autor’)

A discussão se torna interessante e relevante ao cenário Cristão evangélico brasileiro

pelo de fato de que todos dias há o conhecimento de uma nova denominação evangélica.

Também porque há o acesso por meio da TV e internet de cultos das mais diversas

igrejas. É certo o crescimento do número de evangélicos. Através de uma pesquisa, no

site Google Acadêmico, tivemos a resposta de que o tema culto aparece em 559000

vezes, Culto a Deus 87800, culto protestante 885, culto reformado 141, teologia do

Culto 51 e culto presbiteriano 46. Com base nestes números corroboramos a relevância

do nosso tema para o trabalho. Vemos que o tema do culto é de forma muita vasta

abordado na academia porém os temas culto protestante e reformado necessitam de ser

mais explorados. E isto apesar de termos literatura reformada de boa quantidade e

qualidade que tratam do tema.

Com tantas igrejas diferentes e uma pluralidade de cultos, que não o reformado, sendo

abordado de muitas formas, existe um questionamento a fazer: será que dentro das

igrejas presbiterianas há o conhecimento de que o Culto é instituído por Deus e que o

Principio regulador do Culto é a doutrina que trata deste assunto? Esta pergunta não se

17

responde com facilidade pois os membros da IPB deveriam ter o conhecimento sobre o

que é o Princípio Regulador do Culto. Bem como da influencia reformada na Igreja

Presbiteriana do Brasil pelo fundamento chamado Somente as Escrituras, da Teologia de

Calvino, do pensamento puritano e dos Símbolos de Fé. Ou mesmo saber que tudo isto

contribuiu para a compreensão em nossos dias de um culto regido pelas Escrituras.

Este trabalho buscará demonstrar que o Principio Regulador do Culto é o

reconhecimento dos reformadores de uma doutrina bíblica que é hoje fundamento da

forma de culto da IPB. O mesmo nasce da inferência da Escritura como regra básica

para o culto. Isto pode ser visto de forma clara no pensamento sobre o culto a Deus de

Calvino. Ele nas Institutas da Religião Cristã, sua obra principal, e seus comentários

coloca as Escrituras como padrão da vida do homem e da igreja. Ele as coloca como

padrão do culto. Também busca provar que os puritanos reconheceram a doutrina do

PRC e a inseriram dentro dos padrões de Westminster. E que isto chegou até a Igreja

Presbiteriana do Brasil hoje através de seus fundadores.

Para o desenvolvimento deste trabalho o autor fará uso da metodologia de pesquisa

bibliográfica. Em função do imenso universo de material escrito sobre o assunto Culto.

O autor restringirá a sua pesquisa aos escritos de linha teológica calvinista reformada e

mais especificamente dos escritos que demonstrem a escritura como regulamentadora

do culto, ou que trate do Princípio Regulador do Culto o do sistema ou história da IPB.

A intenção é mapear dentro do campo reformado o conhecimento que dê sustentação ao

tema.

Não é intenção do autor apresentar uma forma litúrgica modelo ou analisar o culto de

outras igrejas que não a IPB. O objetivo do trabalho é responder por que a IPB faz uso

do PRC para as suas decisões diretoras do Culto. E também comprovar que este é o

modo bíblico de adoração.

18

1. CONCEITUAÇÕES CONCERNENTES AO PRC

O Princípio Regulador do Culto (PRC) é uma doutrina bíblica e portanto não é uma

invenção cristã ou reformada. O que ocorre tão somente é o reconhecimento da mesma

dentre as verdades bíblicas. Partindo deste princípio o PRC deve ser explicado dentro de

um contexto da Palavra. Este contexto partilha da definição das palavras que limitam e

esclarecem o tema. Com este objetivo trataremos neste capítulo sobre o panorama do

culto bíblico do Antigo e Novo Testamento, da definição de culto cristão através da

metodologia de James F. White e do significado dos vocábulos princípio e regulador

todos pertinentes e inseridos ao PRC. Depois de cumprida esta tarefa será então

explicado o que é o Princípio Regulador do Culto e porque o mesmo está inserido na

perspectiva reformada.

1.1 O PRC NA CONCEITUAÇÃO DE CULTO CRISTÃO

Quando pensamos em definir o que é “culto cristão”, de uma forma simples, podemos

dizer: “Culto é o serviço de reconhecimento e honra à grandeza de Nosso Senhor da

Aliança” (FRAME, 2006, p. 21). Mas para tal definição nos aprofundaremos usando a

metodologia de James F. White. Este, autor do Livro Introdução ao Culto Cristão, usa

uma metodologia tríplice que se compõe de: abordagem fenomenológica que é uma

descrição as praticas dos cristãos no culto, a exploração de definições de pensadores

sobre Culto Cristão e em terceiro lugar ele faz uma análise de palavras-chave as quais

os cristãos de vários lugares usam para referir-se ao Culto e o que experimentam no

mesmo (WHITE, 1997, p. 12). E veremos que esta metodologia aponta para a instrução

da Palavra, ou seja, para o Princípio Regulador do Culto.

1.1.1 O FENÔMENO DO CULTO CRISTÃO

Como parte da definição de culto cristão, verificaremos primeiramente os aspectos da

prática do Culto Cristão, aquilo que é visível. O trabalho realizado é facilitado, pois o

culto cristão utiliza-se de formas singulares, estáveis e permanentes. O autor usa dos

conceitos de estruturas e ofícios. Existem sinais da existência de um roteiro diário,

semanal e anual no Novo Testamento. Esta estrutura temporal rememorava eventos

19

como a morte e ressurreição de Cristo. Assim o domingo marca o dia mais importante

da semana pois nele Jesus ressuscitou. É o dia do Senhor! E anualmente a Páscoa é

período central e seu sentido principal é a libertação da morte e do pecado por meio da

morte vicária de Cristo (WHITE, 1997, p. 12 e 42). Toda esta estrutura temporal é

verificada como o princípio que ordena e conduz os cristãos a adoração. A este

chamamos PRC e coordena o tempo com base nas Escrituras.

Os cristãos também se preocuparam com a estrutura, o local do culto pode ser qualquer

um, mas precisa ser conhecido. Neste lugar Deus age por dois instrumentos, através de

vozes e mãos humanas. Precisa-se também de contato visual o que faz do espaço de

culto algo entre a sinagoga e um cenáculo. Pois este tipo de espaço proporciona tanto

contato visual quanto do uso das mãos nos sacramentos (WHITE, 1997, p. 13 e 69). A

estrutura do local tem papel relevante na comunicação do Culto Cristão.

Com relação aos ofícios temos poucos que são: ofício de oração publica diária com foco

na oração e louvor e o ofício liturgia da palavra com foco na leitura e pregação das

escrituras (WHITE, 1997, p. 13 e 111). A liturgia da palavra é o culto dominical da

maioria das denominações protestantes. E estes estão corretos porque não há outra base

para a liturgia do Culto além da Palavra de Deus.

1.1.2 DEFINIÇÕES DE CULTO CRISTÃO DE PENSADORES CRISTÃOS

O fundamento cristológico do Culto Cristão é sustentado por Jean-Jacques von Allmen,

autor do livro O Culto Cristão: Teologia e Prática. Em seu pensamento o culto cristão

cumpre seu papel salvífico quando proclama a Palavra de Deus. Ele enfoca Jesus como

Profeta, Sacerdote e Rei além da proclamação da Palavra.

“O culto, então, recapitula a história da salvação na medida em que forprofética, sacerdotal e real, em relação a Cristo, que é, que era e que há devir. O culto no qual é proclamada a palavra de Deus, recapitula e resume tudoo que Deus fez no sentido de reconciliar consigo o mundo” (ALLMEN, 2005,p. 37).

Através destes ofícios Jesus Cristo quebra a ignorância dos santos através da sua

revelação, restaura a comunhão através do seu sacerdócio e os santifica através do seu

poder. Para Allmen o culto só cumpre seu objetivo se proclama a Palavra de Deus. E só

20

proclama esta Palavra se atenta para o cumprimento da mesma no culto em tudo que a

mesma define como ordenança.

O culto cristão contesta os atos de justiça da humanidade e selando o fracasso dela que

só tem esperança nas promessas que vem da parte de Deus. (WHITE, 1997, p. 16). E

não crer nos próprios atos de justiça é o que busca o PRC. No livro O sistema

presbiteriano, o autor W. H. Roberts, declara que o culto é a essência da religião e que

nele os homens insistentemente e aguerridamente tentam intrometer-se na soberania de

Deus. A definição de Roberts sobre culto é:

Poderíamos definir culto como um movimento da alma humana para Deus,em nome de Jesus Cristo, no qual se adoram as perfeições divinas, exalta-se abondade de Deus, imploram-se bênçãos celestiais como o perdão dospecados. (ROBERTS, 2003, p. 13).

O Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa, ministro da igreja presbiteriana, em seu livro

Princípios Bíblicos de Adoração Cristã, trata sobre o tema do culto. E pela sua

declaração vemos que só ouvimos, conhecemos e somos edificados pela voz de Deus.

Esta voz que é expressa pela sua Palavra.

“O culto cristão é a expressão da alma que conhece a Deus e que desejadialogar com seu Criador; mesmo que este diálogo, por muitos instantes,consista num monologo edificante no qual Deus nos fale por meio de suaPalavra. (...) O culto é a resposta reverente e adoradora que só se tornapossível pela graça de Deus, que nos dá vida (Jo 10.10; Ef 2 2.1,5; Cl 2.13),capacitando-nos para este evento” (COSTA, 2009, p. 49).

Assim vemos que se abandonarmos a Palavra como condutora do culto não ouvimos a

Deus. Não expressamos o nosso conhecimento de Deus, pois não existe. Assim não há

outra forma de expressão de conhecimento e não há culto cristão sem a condução da

Palavra.

1.1.3 PALAVRAS CHAVES QUE DESIGNAM O CULTO CRISTÃO

21

Dentro deste tópico White analisa as palavras que a comunidade cristã utiliza para

referir-se culto ou a adoração1. A primeira palavra é serviço que é a prestação do

mesmo para outros, neste caso especifico Deus. Uma outra palavra é ofício que também

significa serviço e é utilizado para a tarefa do culto. Mas estas palavras estão longe do

significado dado pela palavra Gottesdienst que expressa o serviço do homem no culto e

um Deus que se esvaziou a si mesmo e assumindo a condição de servo (Fp 2.7). A

palavra liturgia também significa serviço, trabalho, realizado em benefício de outros

(WHITE, 1997, p. 19). Por este entendimento se o culto é um serviço deve ser feito aos

moldes daquele que chama. É Deus quem diz qual é o serviço e como deve ser feito.

Isto é servir a Deus com a condução da sua Palavra.

No novo testamento diversas palavras são utilizadas com a conotação de Culto. A mais

comum é latreia que é o vocábulo utilizado para o culto judeu no templo. Latreia tem

como significado obrigação religiosa, adoração de uma divindade ou serviço a um

mestre. Destacaremos outras duas: proskyneln (Mt 4.10) e threskeía (At 26.5). A

primeira destaca a adoração, culto, como um ato de submissão, o ato de se prostrar,

demonstrando a atitude corporal de submissão. A outra, threskéia, é traduzida por culto

ou ofício religioso (WHITE, 1997, p. 21). Este ato de submissão não deve ser somente

corporal, mas intelectual ao receber as Escrituras como direção para esta adoração.

Após tratarmos da definição do culto trataremos a seguir do panorama bíblico do culto.

1.2 O PRC NO CULTO SEGUNDO A BÍBLIA

A Bíblia nos dá informações importantes para compreensão do que é o culto na

perspectiva do princípio regulador do culto. Trataremos nesta parte do trabalho sobre o

culto ao Deus da Aliança em dois períodos chamados: Antigo Testamento e Novo

Testamento (FRAME, 2006, p. 37). Daremos um panorama do culto sob a perspectiva

bíblica.

1.2.1 O CULTO NA PERSPECTIVA DO ANTIGO TESTAMENTO

1 O vocábulo referente à adoração, na Bíblia, é muito extenso, porém o conceito essencial, tanto no ATcomo no NT, é o de “serviço”. Os termos usados no AT e no NT respectivamente, são o hebraico´avodah e o grego latreia, cada um dos quais originalmente significa o trabalho efetuado pelos escravosou empregados. E, a fim de prestar essa “adoração” a Deus, os seus servos devem prostra-se – nohebraico hishtahawah; no grego proskyneo – e assim manifestaram temor reverente e admiração erespeito próprios da atitude de adoração. (DOUGLAS, XXX, pg.16)

22

Ao tratarmos do Culto na perspectiva do Antigo Testamento serão examinadas as

formas que o texto bíblico apresenta como Culto prestado pelo povo de Israel. Este se

dá no Antigo Testamento através de encontros com Deus, culto espontâneo, culto do

pacto, do culto sacrificial, das festas e dos sábados. Além disto temos que analisar o

significado do templo, dos sacerdotes e levitas e da sinagoga. De onde vem todo

arcabouço do culto do povo de Israel? Vem de ordenanças do Deus da aliança. É disto

que trataremos nos tópicos a seguir.

1.2.1.1 OS ENCONTROS COM DEUS

As escrituras do Antigo Testamento apresentam o encontro de Deus com algumas

pessoas. Deus encontrou-se com Adão, Noé, Abraão, Moisés, Isaías e outros de forma

que a majestade do Senhor transformava tal ocasião em culto. Moisés, por exemplo,

recebeu uma ordem para tirar as sandálias pois o local em que Deus falara com ele

tornou-se santo. E também vemos entre Deus e Isaías outro exemplo de encontro. Isaías

foi abalado por uma visão em que reconheceu a santidade de Deus sendo confrontado

por sua condição de pecador. Nestes encontros o adorador era tomado de temor ao ver a

majestade de Deus. O poder e a autoridade de Deus eram patentes e, ao ouvir a voz do

Senhor, o adorador era levado a servi-lo. A autoridade da Palavra de Deus tinha como

resposta a adoração. O adorador identificava na Palavra dirigida a ele a resposta de

serviço de adoração requerida por Deus. (FRAME, 2006, p. 37-38). A autoridade de

Deus também é reconhecida pelo PRC e a resposta a esta doutrina é uma adoração que

ouve e cumpre a ordem de Deus.

1.2.1.2 O CULTO ESPONTÂNEO

É certo que Deus estabeleceu momentos especiais de culto, mas também vemos

manifestações de adoração de forma espontânea, ou seja, sem hora e lugar

determinados. Para o povo de Israel, o culto e a adoração ao Deus da Aliança, ocorrem

de forma naturalmente espontânea. Temos como exemplo a busca particular nas orações

(Dn 6.10;Mt 6.6). No livro de Salmos encontramos orações ao Senhor em momentos de

temor e dificuldade que levam ao louvor pelo livramento obtido (FRAME, 2006, p. 39-

40). Portanto a espontaneidade se dá em questão de hora e lugar e não de forma. A

adoração se dá por orações e salmos porque é isto que as Escrituras dizem. A forma

23

espontânea de culto não abre espaço a criatividade humana em propor outros elementos

de adoração.

1.2.1.3 O PRC NO CULTO DO PACTO

Na perspectiva do pacto o povo de Israel é o povo separado por Deus. Isto fazia de

Israel um povo santo e por isso devia ser fiel ao Senhor. Esta santidade característica do

povo é um conceito litúrgico e está presente no culto. “A vida total da nação era culto,

separada por Deus. Desta forma, as Escrituras introduzem o conceito de culto no sentido

amplo” (FRAME, 2006, p. 40). Este culto em sentido amplo é regido pela Lei de

Moisés. As Escrituras regulam a relação do povo e o Deus da Aliança (Pacto). Nela

vemos princípios que determinam a oração, o sacrifício, para, em obediência, cantar

louvores a Deus e cumprir os ritos religiosos. A circuncisão, dentre os ritos religiosos,

era um sinal distintivo e aos circuncidados era garantido o acesso a adoração no templo

(FRAME, 2006, p. 40). Portanto Deus regulava tanto a forma quanto o acesso a

adoração. Portanto deve ser reconhecido o PRC nas Escrituras desde a Aliança de Deus

e o povo de Israel.

1.2.1.4 O PRC NO CULTO SACRIFICIAL

O culto sacrificial é registrado desde o momento pós queda. Temos o exemplo nas

ofertas de Caim e Abel (Gn 4.2-5) e no sacrifício de Noé ao Senhor (Gn 8.20-22).

Abraão também sacrifica animais quando Deus estabelece um pacto com ele (Gn 15).

Posteriormente, quando Deus faz uma aliança com o povo de Israel, ele determina o

sacrifício do culto como parte integrante do pacto.

“Esse pacto incluía um elaborado sistema de ofertas de animais, grãos, vinho,óleo e incenso. Havia oferendas para toda a nação: diárias, semanais (aossábados), mensais (na lua nova), e durante as festas anuais (Nm 28,29). Haviaofertas apresentadas individualmente e ofertas para a consagração oucomunhão com Deus (Lv1-7). As ofertas para comunhão, ou “ofertaspacificas”, eram parcialmente comidas pelo adorador e pelo sacerdote comouma refeição de comunhão com Deus. Havia também oferendas em ocasiõesespeciais, como celebração de um pacto, a consagração de sacerdote e adedicação do templo” (FRAME, 2006, pg. 41).

24

Os sacrifícios não tinham eficácia em si mesmos. Eles apontavam para Jesus Cristo que

é o verdadeiro cordeiro de Deus. É no sacrifício de Jesus que os pecados são de fato

perdoados (FRAME, 2006, p. 41-42). A observação dos sacrifícios era a essencial e a

fidelidade a todos os princípios que regulavam o culto sacrificial era a condição de

aceitação do sacrifício por Deus.

1.2.1.5 A GUARDA DO SÁBADO Encontramos também dentro do chamado culto do Antigo Testamento a guarda do

sábado, de períodos ou ano. Antes da Lei já era sabido que Deus em sua atividade

criadora trabalhou seis dias e no sétimo descansou e portanto o homem deveria repetir

este padrão. Mas a Lei determinou um dia, o sábado, e nele o trabalho era suspenso.

Neste dia há santa convocação para a entrega de sacrifícios. Além do sábado, eram

guardados também outros períodos como a Páscoa e o ano do Jubileu (FRAME, 2006,

p. 42). Todos guardados por ordenança de Deus e não opção do povo. O tempo

relacionado ao culto é também entendido pelos que reconhecem na Palavra o PRC.

1.2.1.6 O CULTO NAS FESTAS

O povo de Deus, Israel, também prestava culto através das festas. O pentecostes era

celebração do encontro em que Deus, no monte Sinai, entregou as Tábuas da Lei. Já a

festa dos Tabernáculos era realizada após a colheita e trazia a lembrança de que o povo

peregrinou no deserto. No período desta festa o povo ficava em tendas para lembrar as

dificuldades do deserto. A última festa era a das Trombetas. Nela a Lei era lida para

todos e os pecados eram confessados. No Dia da Expiação o sumo sacerdote adentrava

o santo dos santos levando sangue para expiação dos pecados (FRAME, 2006, pg. 42-

43). O Dia da Expiação era o ponto alto do culto veterotestamentário; o sacrifício

oferecido naquele dia, pelos pecados do povo, prefigurava Cristo (HOEKEMA, 2011, p.

159). E qual destas festas era um ato de escolha do povo? A resposta é nenhuma! Todas

foram ordenadas por Deus. E todo o seu significado explicado por Deus.

1.2.1.7 O TABERNÁCULO E O TEMPLO

Durante a história do povo de Israel existiu dois locais separados para a “habitação de

Deus”. Eles foram o Tabernáculo e o Templo e serviam especialmente para o culto

25

sacrifical. Porém também eram locais de busca do Senhor da Aliança. Neste local o

povo suas fazia orações, juramentos e louvores. Estes locais especiais também serviam

para o ensino.

O próprio Deus determinou a construção de um tabernáculo e capacitou com seu Santo

Espírito a Bezalel e Oliabe para executarem a construção. Ela era divida em três partes:

o pátio, o lugar santo e o santo dos santos. No pátio, que ficava ao redor da estrutura,

havia um altar para as ofertas e uma bacia com água que servia para a purificação. A

tenda, tarbenáculo, era dividida por uma cortina em duas partes. Na primeira, chamada

de santo lugar, ficava o altar com incenso, os pães da proposição e o candelabro. O

santo dos santos representava a presença de Deus e nele ficava a arca da aliança e um

trono. Somente o sumo sacerdote podia entrar no santo dos santos e isto somente no Dia

da Expiação.

Outro lugar separado para a adoração, culto, do povo de Israel foi o Templo. Este tinha

uma estrutura fixa e com uma configuração semelhante a do Tabernáculo mas era maior

e com mais mobília(FRAME, 2006, p. 43-45).

1.2.1.8 OS SACERDOTES E LEVITAS

Levi era um dos filhos de Jacó e deu origem a tribo de mesmo nome. Esta Tribo,

separada por Deus para o serviço do culto, não recebeu terra como as outras mas

recebeu algo melhor. O Senhor era a herança deles e por isso tinham a tarefa exclusiva

de cuidar do santuário e do altar. O Rei Davi colocou também sob a responsabilidade

dos levitas a música. Eles eram os instrumentistas e cantores que atuavam no culto do

Templo. A responsabilidade do ensino da Lei era dos Levitas. E eles também recebiam

territórios dentro das outras tribos para cumprir esta responsabilidade em todo Israel.

Os sacerdotes também eram descendentes de Levi e foram separados dentre os filhos de

Arão. Eram os sacerdotes que ofereciam os sacrifícios e conduziam o culto. Eles

representavam, mediavam, o povo no culto a Deus. Os sacerdotes eram mestres do

ensino da Lei e responsabilizavam-se pela pureza cerimonial (FRAME, 2006, p. 45).

Deus escolheu a família e as funções executadas na manutenção e condução do culto.

1.2.1.9 O CULTO NA SINAGOGA Na época de Jesus os serviços de culto eram realizados na sinagoga além do templo.

Nas sinagogas os sacrifícios eram proibidos, mas nela os judeus podiam orar e estudar

26

as Escrituras. As sinagogas podiam ser edificadas em qualquer lugar onde existisse um

grupo de homens judeus acima de doze anos em número de dez ou mais. Os rolos

sagrados podiam ser lidos por um judeu e o texto seria exposto e aplicado a

congregação. Existiam várias recitações, bênçãos e respostas da congregação que eram

previstas (FRAME, 2006, p. 46-47).

A orientação ou permissão para a construção e funcionamento das sinagogas não fica

claro nas Escrituras. Mas nela vemos que Jesus freqüentava a sinagoga regularmente

não sendo necessária a discussão sobre a permissão de Deus para ela. Na sinagoga

prestava-se honra ao Deus da Aliança e por este aspecto consideramos a reunião para tal

na sinagoga um Culto. Podemos na sinagoga em partes como segue:

1. Recitação do Shema (ouve) – O Shema era repetido três vezes por dia. Ele

resume-se a leitura de Dt. 6.4-9;11.13-21 e Nm. 15.37-45).

2. Recitação do Shemone Esreh (Dezoito Bênçãos) – este ato constituía-se em

uma série de louvores a Deus. Estes louvores em forma de oração também eram

recitados três vezes ao dia.

3. Entoavam-se cânticos contidos nos salmos e no saltério bem como cânticos

com composição mais nova.

4. Orações silenciosas

5. A leitura da Lei e dos Profetas seguida de um “sermão expositivo”. Este era a

parte central do culto.

6. Encerrava-se com uma benção, caso estivesse presente um membro

sacerdotal. Na ausência deste encerrava-se com uma oração (COSTA, 2009, p.

57-58).

O culto da sinagoga era constituído por elementos ainda hoje usados na adoração

apontados pelo PRC. Estes são a leitura da palavra, as orações, os cânticos e a pregação

ou sermão. Todos apresentados na Escritura como forma requerida por Deus ao seu

povo no serviço de adoração.

1.2.1.10 CONSIDERAÇÕES SOBRE PRC NO CULTO NO ANTIGO

TESTAMENTO

Vemos nos aspectos sobre o Culto do Antigo Testamento tratados acima que Deus é

quem instituiu e instruiu o povo a respeito de como adorá-lo. Para tanto Deus instruiu o

27

povo através de sua Lei e determinou que em obediência o povo permanecesse puro na

adoração. E desta forma habilitava-se a desfrutar das promessas de Deus.

“O povo pactual de Deus evidenciava que tinha se apropriado dessaspromessas pela fé ao viver conforme a Palavra de Deus e adorar somente aele como o Deus verdadeiro. Sendo assim, embora seja Deus quem dá inícioao seu pacto, essa administração ou esse relacionamento também requermutualidade. Deus vai ao encontro de seu povo em graciosa promessa e seupovo responde pela fé, o que resulta em práticas de amor” (LUCAS, 2011, p.122-123)

O povo de Israel reconhecia que Deus era santo e digno da adoração. No culto existiam

orações, louvores e leitura da Palavra como serviço em honra a Deus. A mudança do

tabernáculo para Templo, a introdução de Levitas no louvor do Templo e as reuniões

nas sinagogas não feriram a essência do culto determinada por Deus. No templo eram

realizados os ritos por meio do sacerdote: a entrega de ofertas, a expiação e

determinação de pureza ou contaminação no culto. Tudo com relação ao culto ocorria

segundo os princípios pelos quais Deus regulava a adoração. Assim podemos afirmar

que no Antigo testamento o culto aceitável se dava pela obediência a Palavra. Se dava

pelo reconhecimento do PRC.

1.2.2 O CULTO NA PERSPECTIVA DO NOVO TESTAMENTO

O culto no Novo Testamento descortina as práticas do Templo como representavas de

Cristo. E trás ao culto cristão similaridade com as práticas da sinagoga. Jesus é o centro

do culto e neste fato ocorrem mudanças na perspectiva da adoração. A culto da sinagoga

se torna é a referencia da reunião dos cristãos na adoração. Nesta mudança Deus segue

conduzindo seu povo no culto através da sua Palavra.

1.2.2.1 JESUS NO CUMPRIMENTO DO CULTO DO ANTIGO TESTAMENTO

Na perspectiva do Novo Testamento o culto é centralizado em Jesus. É ele quem trás

libertação dos pecados sendo o Senhor do pacto. Estar com Jesus é partilhar de um

encontro com Deus e sua obra é motivação para o louvor.

28

Jesus cumpre o culto do Antigo Testamento em todos os aspectos. Ele é o sacrifício

perfeito e último. Em Jesus tem vitória sobre o pecado e suas conseqüências e nele todo

o povo é tornado santo. O sacerdote perfeito é Jesus que faz a mediação do povo e

Deus. Segundo Frame, em Jesus temos um sacerdócio inteiramente novo, não

relacionado a tribo de Levi, não construído segundo a Lei mas com um poder

indissolúvel de vida que o estabelece para sempre. E é por este motivo que Cristo salva

todo o que se achega Deus. E na presença de Deus, Jesus, está no verdadeiro

tabernáculo, na morada do Senhor, como sacrifício perene e perfeito. E por isto tem

poder para perdoar os pecados.

O Senhor Jesus também cumpre o culto pois, na adoração ele é o tabernáculo e o Deus

que se faz presente. Ou seja, tudo aponta para o Cristo.

“O altar das ofertas queimadas nos fala do sacrifício de si mesmo apresentadopor Cristo. A bacia, como o sacramento do batismo, aponta para Cristo comoo sacerdote inteiramente puro, livre de qualquer mácula, e que purifica seupovo. Os candelabros representam Cristo como a luz do mundo. O pão daproposição e maná, como o sacramento da ceia do Senhor, mostram Cristocomo aquele que alimenta seu povo. O altar de incenso de Arão representamJesus como sacerdote, cujas orações por seu povo constantemente ascendemao trono do Pai. O Santo dos Santos foi aberto para nós na morte de Cristo,no momento em que o véu se partiu ao meio. Por meio de Cristo entramoscom intrepidez (Hb 10.19-25). A arca, trono de Deus em Israel, representaJesus como “Deus conosco”, Emanuel. As tábuas da Lei falam de Cristocomo a Palavra eterna de Deus (FRAME, 2006, pg. 52).”

A guarda do sábado e a finalidade de todas as festividades é Jesus. O cordeiro da Páscoa

é representação dele. Ele é o verbo que se fez carne e habitou, tabernáculou, com seu

povo e é representado na festa dos tabernáculos. É Jesus quem no Pentecoste envia o

Espírito Santo o outro consolador. E no Dia da Expiação o sangue que o sacerdote

levava apontava para o sangue de Cristo e sacrifício perfeito. O sumo sacerdote, que era

um mediador na antiga aliança, era mera sombra do ofício sacerdotal de Cristo

(FRAME, 2006, pg. 52).

Os cristãos adoram ao Senhor do Pacto porque todos os que estão em Cristo são o novo

Israel que vive fielmente pela Palavra. Jesus é o remanescente fiel e o seu povo é eleito

nele. Aqueles que adoram a Deus em Espírito e que tem sua gloria em Cristo recebem a

verdadeira circuncisão. É por Cristo que se faz a separação perfeita de todos os povos.

29

No Novo Testamento não existe uma família especial para o sacerdócio como no Antigo

Testamento. Mas todos os eleitos são sacerdotes e se apresentam diante de Deus como

“sacrifícios espirituais” na forma de uma vida piedosa, de orações e louvores. Estes

sacerdotes também são o templo do Espírito Santo e por este motivo a igreja é o corpo

de Cristo. No culto cristão o povo olha para Jesus como salvador único e suficiente

meio para se achegar ao Pai. E é neste culto que Cristo deve estar em todas as

circunstâncias da adoração (FRAME, 2006, pg. 49-54).

O culto sacrificial, o templo e o sacerdócio estão em Cristo. O culto é em fidelidade a

ele que é a própria Palavra. É dele e por ele um culto que está firme as Escrituras. O

PRC aponta para a obediência a Palavra e a instrumentalidade da mesma.

1.2.2.2 A MUDANÇA ENTRE O CULTO DO ANTIGO PARA O NOVO

TESTAMENTO

As mudanças entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento influenciam diretamente

no Culto. Tudo o que Deus determinou a Israel cumprem-se em Jesus Cristo. Existe

agora em Jesus para todo cristão uma aliança, expiação, circuncisão, um tabernáculo e

festas. E por isto tanta diferença entre os dois cultos pois, na perspectiva do Novo

Testamento a redenção esperada cumpriu-se em Jesus. “Nossa vida toda é serviço

sacerdotal, nossa honra e nosso louvor ao nosso Senhor da aliança” (FRAME, 2006, pg.

55). E este serviço sacerdotal ainda se dá conforme regulação da Palavra de Deus. Não

existem mais as exigências cerimoniais do Antigo Testamento, o culto tem portanto um

sentido amplo em que há obediência a Palavra e uma vida de sacrifício à vontade de

Deus. (FRAME, 2006, pg. 54).

1.2.2.3 O PRC NAS REUNIÕES DOS CRISTÃOS

Como vimos a cima o culto é visto em sentido amplo que é a principal mudança do

culto entre os dois Testamentos. Mas também existe a ordenança para que os cristãos se

reunissem para louvar, orar e celebrar os sacramentos. Nesta ocasião Deus estava com

seu povo de forma especial. Os primeiros cristãos reuniam-se por ordenamentos

recebidos dos apóstolos. Portanto este culto era formatado, regulado, pela autoridade

apostólica.

30

O culto cristão do Novo Testamento encontrou seus elementos dentro da liturgia da

sinagoga que eram usados conforme a visão ensinada por Jesus de “adoração em

espírito e em verdade”(Jo. 4.24). A novidade neste culto eram os sacramentos, batismo

e santa ceia, instituídos por Jesus. Podemos encontrar como elementos do culto do Novo

Testamento, todos recepcionados pelo PRC, os seguintes:

1. Leitura e exposição das Escrituras

2. Orações de gratidão, intercessão e suplica

3. Cânticos

4. Celebração da Santa Ceia

5. Ofertas

6. Batismo

“A liturgia Cristã foi amadurecendo de acordo com o registro dos evangelhos”

(COSTA, 2009, pg. 57-58).

No culto do Novo Testamento havia regozijo na comunhão uns com os outros e

recebiam bênçãos especiais do Espírito Santo. E não há duvida que Deus também esteve

durante os aspectos temporários do culto do Antigo Testamento. Não existiu em

nenhum dos dois períodos a opção de não prestar o culto a Deus, mas o povo tinha o

dever reunir-se e prestar-lhe culto. Os cristãos hoje têm o dever e privilégio de cultuar

como Deus ordena que o façam. O escritor de Hebreus exorta a respeito disto dizendo:

não se deixe de congregar.

As reuniões dos cristãos eram em nome de Jesus. Isto acontece porque eles tinham em

seus propósitos ter um compromisso com Cristo. E neste compromisso o nome de Jesus

é exaltado. É no nome de Jesus que são batizados, ajudam os pobres e oram. E é nesta

maravilhosa perspectiva que o culto acontecia e a presença de Deus tornava-se real

(FRAME, 2006, p. 49-62).

1.2.2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PRC NO CULTO NO NOVO

TESTAMENTO

Tratamos até aqui sobre o que era o culto no Novo Testamento e vimos que não existe

uma ruptura com o do Antigo Testamento. Os acontecimentos como cerimônias do

templo, as festas e o sacerdócio cumprem-se plenamente em Cristo. Mas a adoração

continua um imperativo de Deus. Imperativo este que vincula à aceitação, por parte de

31

Deus, a obediência do adorador a Palavra como regente do culto. Em Jesus o nosso

culto se dá pela leitura e pregação da Palavra, pelas orações e cânticos porque isto é o

que nos revela as Escrituras. Veremos a seguir legado da tradição reformada que é o

“berço” da doutrina do PRC. Este legado é o retorno das Escrituras como norma diretiva

da igreja.

1.3 O PRC E A FÉ REFORMADA

Quando falamos do PRC dentro da fé reformada faz-se necessário a determinação do

termo “Reformado”. Historicamente o termo reformado foi dado para as igrejas e

pensadores que foram influenciados pelo monge Martinho Lutero e as 95 teses. Mas

após o Colóquio de Marburgo(1529), onde Lutero e Zuínglio divergiram sobre questões

Eucarísticas e Cristológicas, o termo reformado foi aplicado aos que divergiram de

Lutero neste evento. A partir de então os reformadores suíços Zuínglio e Calvino

ficaram conhecidos como Reformados. Estes eram mais rígidos quanto a Autoridade das

Escrituras e portanto a igreja não poderia fazer o que a bíblia condena ou mesmo não

prescreve. Este era um princípio para toda a vida! A Autoridade das Escrituras é basilar

para doutrina do Principio Regulador do Culto. Para os Reformadores a busca principal

era retorno as verdades bíblicas como padrão da vida cristã (SANTOS, 2006, pg. 124-

125).

No século XVII o desenvolvimento da Fé Reformada é denominado de Escolasticismo

Reformado retratado de forma relevante pelo movimento Puritano e o desenvolvimento

Cânones de Dort, da Confissão de fé e dos Catecismos como explicado abaixo nas

palavras do Rev. Valdeci da Silva Santos.

“Uma das principais contribuições daquele período foi à apresentação da féreformada sob a estrutura da teologia do pacto, que enfatiza a unidade dasEscrituras, analisa os decretos de Deus ao longo da história da redenção esustenta a relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade humana. Osprincipais documentos desse período incluem os Cânones do Sínodo de Dort(1618), e a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster (1647)”(SANTOS, 2006, p127).

Com relação ao aspecto Doutrinário são reformados os seguintes princípios: A) A

Majestade de Deus é a indicação de que Ele é o supremo legislador e Dele vem a

verdade e o homem não pode por vontade própria decidir pela salvação em Jesus Cristo.

32

B) A Autoridade das Escrituras nos diz que Deus se revela de forma especial através da

Bíblia e é ela quem estabelece toda doutrina, governo e vida para o cristão e para igreja.

C) A Condição espiritual do homem como doutrina diz que o homem é totalmente

depravado e portanto está em rebelião para com Deus. Neste estado todos os atos são

pecaminosos não há no coração a intenção de glorificar a Deus. O homem não tem

como instituir um culto santo e agradável por si mesmo se fazendo necessária a

observação da doutrina da Autoridade das Escrituras. D) A Suficiência de Cristo – o

pensamento reformado sustenta que a obra redentora de Deus atinge seu ápice na vida e

obra de Jesus Cristo. Isto é apresentado de maneira mais peculiar pois a redenção é

apontada pelos seguintes ofícios de Cristo: profeta, sacerdote e rei. E) A Soberania de

Deus na Salvação é a doutrina que diz que o homem pela sua condição espiritual é

dependente da vontade soberana de Deus para que seja salvo. O homem sem Deus está

morto em seus delitos e pecados e não coopera para sua salvação (SANTOS, 2006, p.

131-143). F) Centralidade da pregação nas missões – essa doutrina entende a igreja faz

missões através pregação do evangelho de Jesus Cristo. E esta é motivada pelo “o amor

a Deus e o zelo pela sua glória, obediência ao mandamento de Cristo e ao seu desejo de

que todos ouçam a mensagem do evangelho e pelo amor ao próximo” (SANTOS, 2006,

p. 143).

Como vemos a Soberania de Deus, a Autoridade das Escrituras, e a condição espiritual

do homem cooperam para o entendimento do PRC.

1.4 O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO

O Princípio Regulado do Culto é o reconhecimento de uma doutrina bíblica sobre o

culto cristão que ocorre dentro da tradição reformada. Esta compreende a soberania de

Deus e que Ele é o Supremo Legislador. Deus revela-se de forma especial na sua

Palavra e ela é a autoridade para a vida cristã. É a partir da compreensão de culto cristão

na visão reformada que trataremos a seguir sobre: Definição do vocábulo Princípio e

Definição do vocábulo Regulador para então tratarmos do que é da doutrina do

Princípio Regulador do Culto de forma mais explicativa.

1.4.1 DEFINIÇÃO DE PRINCÍPIO

33

A palavra princípio tem significados variados. Dentre eles podemos dizer que principio

é: idéia de começo, ponto de partida ou mesmo verdade primeira que serve de

fundamento para algo. A palavra princípio vem do latim principium e tem sua origem

em principal, primeiro, e, assim, demonstra a procedência de ação ou conhecimento. A

palavra princípio também pode significar regra ou norma, mas relativo ao tema é uma

diretriz e não uma ordem. Temos como exemplo a norma bíblica “Não matarás” que

não é absoluta. Esta norma, princípio, orienta sobre o valor da vida humana. Pois no

caso de defesa própria ou de inocente tal norma não se aplica. Assim informamos que

para o presente trabalho princípio é uma regra geral, uma diretriz de pensamento e

ações. (ERICKSON apud HENRY, 2007, p.467).

1.4.2 DEFINIÇÃO DA PALAVRA REGULADOR

Segundo o dicionário Aurélio de Português a palavra Regulador tem os seguintes

significados:

1. Instrumento ou dispositivo que serve para regular ou controlar algo.

2. Relógio de precisão pelo qual os relojoeiros regulam outros relógios.

3. Que regula ou serve para regular.

4. Diz-se de ou organismo que tem por função controlar e regular um campo de

atividade

No que diz respeito a este trabalho o autor entende o PRC tem por função regular o

campo de atividade chamado Culto Cristão. (https://dicionariodoaurelio.com/regulador

em 05/09/2017)

1.4.3 O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO

O Principio Regulador do Culto é uma doutrina que entende que é Deus quem instrui a

igreja a respeito do Culto. Isto é, Deus através da sua Palavra, a bíblia, com

mandamentos diretos, que podem ser compreendidos por uma dedução racional, ou

originar-se através de prática histórica estabelecida. O culto, portanto, se realiza, em sua

totalidade, em atos determinados pela Palavra de Deus. (SCHWERTLEY, 2017, p.2)

34

A fim de entender o Princípio Regulador do Culto de forma adequada, deve-se perceber a diferença entre ordenanças referentes ao culto e suascircunstâncias, ou aspectos secundários. As ordenanças do culto sãorecebidas por orientação divina. Toda ordenança do culto é prescrita porDeus. Qualquer coisa relacionada a ele, com significado religioso e moral,deve se basear em ordenanças divinas (explícitas ou implícitas) ou emexemplos históricos aprovados. A igreja recebe todas as ordenanças do cultoda parte de Deus, como foram reveladas na Bíblia. Ela deve obedecer a todasas ordenanças divinas e não possui autoridade para adicionar ou subtrair algoordenado por Deus. (SCHWERTLEY, 2017, p.3)

A confissão de Fé de Westminster é esclarecedora e corrobora o Princípio Regulador do

Culto ao expressar-se sobre o que é o culto aceitável a Deus:

“...o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo etão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo asimaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sobqualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nasSantas Escrituras”.( Confissão de Fé de Westminster)

Este trecho está ancorado em um dogma da reforma. A Sola Scriptura, Somente a

Escritura, preceitua a bíblia como regente de nossa fé e prática. Não há aspecto humano

algum que a escritura não regule. Dentre estes aspectos está o prestar culto a Deus.

Calvino, em seu comentário aos colossenses, diz que “o culto a Deus não deve ser

medido em conformidade com os nossos conceitos” (CALVINO, 2010, p. 77). A

concepção bíblica de Adoração, junto com uma soteriologia bíblica, eram basilares no

pensamento reformado. O culto deve ser criteriosamente analisado em busca da sua

pureza. Considerar o verdadeiro culto a Deus como o que há de mais importante é ter

uma compreensão Calvinista e Reformada (SCHWERTLEY, 2001, p 125). O que

também pode ser inferido do pensamento puritano quando Matthew Henry descreve a

importância do culto na fé reformado-puritana: “Religião é toda razão da nossa vida, e o

culto a Deus a Razão da nossa Religião” (HENRY apud ANGLADA, 1997, pg.7).

Quando falamos do PRC não queremos tratar o culto como uma cerimônia que envolve

somente atos externos. Mas que o culto é composto de atitudes internas e externas como

diz o teólogo sistemático Hermam Bavinck sendo todos estes atos determinados pelas

Escrituras: “O culto interno abrange os atos de fé, confiança, temor, amor, louvor, ação

de graças, etc., e o culto externo se manifesta em confissão, oração, cântico, no

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ministério da Palavra e dos sacramentos, na dedicação de votos, jejuns, vigílias, etc”

(BAVINCK, 2012, p. 244).

1.4.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE A DEFINIÇÃO DO TEMA

O culto como o serviço que reconhece e honra a perfeição e grandiosidade de todos os

atributos do Nosso Senhor da Aliança. Sempre foi pelo mesmo Senhor ensinado a

respeito de correta observação. Vimos isto no Antigo e Novo Testamento e que o PRC

nada mais do que o reconhecimento desta verdade. Veremos a seguir o retorno as

Escrituras, os escritos de Calvino e tradição puritana. Estes três assuntos são

fundamentais tanto para a explicação do surgimento da doutrina do PRC bem como da

sua consolidação e chegada até a Igreja Presbiteriana do Brasil nos dias de hoje.

2. SOLA SCRIPTURA, CALVINO E OS PURITANOS – A RECEPÇÃO DA

PALAVRA COMO PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO

O Princípio Regulador do Culto definido como temos hoje é sem dúvida formulação

puritana. Os puritanos com o seu amor a Palavra e intento de fazer, com relação ao

culto, só o que era ordenado na bíblia, que primeiro trataram da Palavra de Deus como

um princípio regulador. Mas veremos neste capítulo que isto foi um desenvolvimento

do fundamento da fé reformada chamado sola scriptura. E também veremos a mesma

concepção nos escritos de Calvino. Para ele a Palavra é o fundamento para o culto e que

nada além dela deve ser utilizado.

2.1 O PRC NO SOLA SCRIPTURA

A reforma buscou o retorno a fonte, Palavra, e assim “resgatou a suficiência das

Escrituras, só ela é a Palavra autoritativa e inerrante de Deus” (CANUTO, 2007, pg.4).

Ela é o princípio regulador da vida dos crentes e da igreja. A compreensão e recepção

deste fundamento reformado é o que trás luz ao PRC.

2.1.1 O QUE É O SOLA SCRIPTURA?

36

O Sola Scriptura é um dos fundamentos da reforma. E é ele quem define o PRC pois a

Escritura, Palavra de Deus, no pensamento reformado, é quem regula o culto.

“A doutrina protestante de sola scriptura ensina que a Bíblia (os 66 livros doVelho e do Novo Testamento) é a divina Palavra inspirada de Deus, e,portanto, infalível e absolutamente autoritativa para todos os assuntosreferentes à fé e à vida” (SCHWERTLEY, 2001, Pg.7).

A Escritura é a única e infalível autoridade para igreja. Tal doutrina afirma que com a

morte dos apóstolos as formas e revelação indireta cessaram. As autoridades e concílios

eclesiásticos estão subjugados a Escritura e nem estes ou qualquer homem pode

acrescentar ou subtrair algo.

“Agora que o cânon está fechado e a revelação direta cessou, as Escriturasinspiradas são a única regra de doutrina e prática. Embora a Bíblia seja aúnica regra que Deus nos deu para nos conduzir na maneira de O adorar egozar”(SCHWERTLEY, 2001, Pg.10).

As Escrituras são a regra de fé e prática que regulam a relação do cristão como filho de

Deus em todas as coisas. Os santos estão sob esta autoridade e reconhecendo-a tem

segurança no proceder requerido por Deus. Assim também o PRC reconhece a

autoridade das escrituras e de forma especifica as tratam no ambiente do culto.

2.1.1.1 ESCLARECIMENTOS DA SOLA SCRIPTURA

A doutrina tratada tem alguns aspectos a serem esclarecidos antes de prosseguirmos

com o assunto. O primeiro aspecto é que a doutrina da sola scriptura não exclui a

revelação natural. Encontramos na bíblia exemplos de que o homem pode aprender

sobre si e sobre Deus através da revelação natural. O segundo é a sola scriptura não

nega que os meios divinos de revelação anteriores ao fechamento do Canon foram

progressivos. Mas afirma que os mandamentos acrescidos antes vinham de Deus e não

do homem. E que este Deus é quem declara que a revelação escrita é suficiente para a

vida. E o terceiro aspecto é que a sola scriptura afirma que Deus é quem deu a igreja,

através das escrituras, todo o conselho que necessita.

37

“todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para aglória dEle e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamentedeclarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela, não éuma negação de que existiam muitas revelações e eventos históricos que nãoforam incluídos no cânon” (SCHWERTLEY, 2001, Pg.10)

As coisas de Deus não são tratadas pelo reconhecimento natural. Mas somente na

observação da especial revelação de Deus é que a glória ao seu nome é dada. Somente

por dedicação a um viver em conformação com as Escrituras. E em relação ao culto a

doutrina que aponta esta conformação é o PRC.

2.2 O PRC NOS ATRIBUTOS DA ESCRITURA

Toda a verdade a ser crida e vivida a cerca da salvação foi revelada por Deus de forma

progressiva. Ele revelou de forma direta e sobrenatural através do seu Santo Espírito por

meio de anjos, sonhos, visões, teofanias, pessoas inspiradas e por Jesus Cristo, o seu

filho, o que o homem caído por si não poderia conhecer a respeito de Deus. É desta

revelação que Paulo fala em Gl 1.11-12: “Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho

que por mim foi anunciado não é segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi

de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo.“ E o próprio Deus ordenou que

essa revelação fosse escrita e estivesse sempre disponível e preservada do homem e sua

natureza corrompida e da malicia de Satanás. A vida revelada na Palavra de Deus

também está na forma do culto. As verdades escritas são as palavras de instrução sobre

a salvação, sobre o culto conforme o PRC se empenha em buscar, também santificação,

o serviço e a vida do homem reconciliado com Deus (ANGLADA, 2013, pg.37).

As escrituras são o fundamento do culto e seus aspectos são garantidores de sua

confiabilidade e perfeição. Isto é explicado pelas seguintes aspectos a cerca da mesma:

inspiração, autoridade e suficiência. Temas que serão tratados a seguir.

2.2.1 INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS

A bíblia foi escrita por pessoas dirigidas pelo Espírito Santo e, portanto, é de natureza

divino-humana. É a revelação autoritativa de Deus e cada palavra dela vem Dele e,

38

portanto, é infalível e inerrante (ANGLADA, 2013, pg.73). “Só existe um único livro

que nos declara a mente e a vontade de Deus. Por ser inspirada pelo próprio Deus, a

Escritura é autoautenticada e absoluta” (SCHWERTLEY, 2001, Pg.12). A inspiração

para o culto é dada, palavra por palavra, do próprio Deus. Não cabendo ao arvorar-se

inspirado quando altera o ordenamento divino para o culto. Tal atitude fere o PRC, ele

fere a Palavra de Deus. Não há novas revelações diretivas para o culto.

2.2.2 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

Este atributo das sagradas Escrituras nos afirma que ela deve ser crida e obedecida. A

bíblia é a fonte suprema de autoridade sobre qualquer assunto nela tratado como, por

exemplo, o culto. Ela é a nossa única regra de fé e prática (ANGLADA, 2013, pg.76).

“A Bíblia é o único padrão absoluto e objetivo, pelo qual a ética, a doutrina, o governo

da igreja e a adoração devem ser julgados” (SCHWERTLEY, 2001, Pg.12). Esse padrão

absoluto não dá ao homem discricionariedade para formular um culto a Deus. Não pois

são as Escrituras

2.2.3 A SUFICIÊNCIA E PERFEIÇÃO DAS ESCRITURAS

Tudo que Deus requer da sua igreja pode ser encontrado em sua Palavra ou dela ser

logicamente inferido. Ela é completa e não cabe qualquer acréscimo de tradição ou nova

revelação. Por isso não é lícito ao homem ir além do que é prescrito por Deus na sua

Palavra em matéria de Culto (ANGLADA, 2013, p.91-98).

“A. A. Hodge escreveu: ―a Escritura ensina de fato um perfeito sistema dedoutrina e todos os princípios necessários à regulamentação prática das vidasdos indivíduos, das comunidades, e das igrejas. Quanto mais diligentes foremos homens no estudo da Bíblia, e mais freqüentemente puserem em pratica assuas instruções, tanto menos lhes será possível crerem que, qualquer item daregra perfeita, é incompleta quanto àquilo que o homem deve crer a respeitode Deus, e dos deveres todos que Deus requer do homem” (HODGE apudSCHWERTLEY, 2001, p.12-13).

Este aspecto nos faz perceber que existe que há um “Princípio Regulador das

Escrituras” de onde se infere um PRC. O homem deve, portanto, observar segundo a

bíblia, tudo o que diz respeito a sua existência no âmbito da fé e da prática. A Bíblia

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Sagrada é portanto suficiente em instrução para o culto. O PRC aponta e acata este

atributo da Palavra.

O PRC é a aplicação do fundamento reformado sola scriptura na esfera do Culto.

Porque a Palavra de Deus apresenta-se Inspirada, Autoritativa e suficiente para conduzir

igreja ao culto verdadeiro.

2.3 OS ESCRITOS DE CALVINO PRECEDEM O ENTENDIMENTO DO

PRINCIPIO REGULADOR DO CULTO

O maior expoente da Reforma é sem dúvida João Calvino (1509-1564). Ele como

teólogo e expositor bíblico é quem mais influenciou a doutrina do culto da igreja

presbiteriana. Dentre suas preocupações, Calvino, tratou sobre o culto como se vê

abaixo:

“Calvino escreveu no livro A Necessidade de Reformar a Igreja: ‘então, se sequestionar quais são as principais razões por que a religião cristã tem umaduradoura existência entre nós, saber-se-á que as duas seguintes, não sãoapenas as principais, mas compreendem em si mesmo todas as outras partes,e por conseguinte, toda a substancia do cristianismo, a saber: primeiro: oconhecimento do modo pelo qual Deus é devidamente adorado; esegundo, de qual fonte deve-se obter a salvação. Quando essas duas sãomantidas fora de perspectiva, embora possamos nos gloriar no nome decristão, as nossas profissões serão vazias e vãs’” (CALVINO apudSCHUWERTLEY, 2001, p. 125). (Grifo do autor)

Ele como excelente teólogo e expositor bíblico é quem mais influenciou a doutrina do

culto da igreja presbiteriana. Para Calvino ser reformado é mais do que ter uma

soteriologia com base bíblica, é “também uma concepção bíblica da adoração”

(SCHUWERTLEY, 2001, p. 125). O entendimento doutrinário de Calvino a respeito do

culto são preservados até os dias de hoje nas suas obras. Tanto nas Institutas da Religião

Cristã como em seus comentários bíblicos ele afirma ser Deus, através da sua Palavra,

quem determina a forma de adorá-lo. Deus é que instrui de forma definitiva e

inquestionável o culto ao seu nome. Este entendimento nada mais é o que mais tarde

“viria a se chamar de Princípio Regulador do Culto” (SCHUWERTLEY, 2001, p.

125). E como trataremos a seguir veremos que o PRC não é nomeado ou definido nos

escritos de Calvino. Mas o seu entendimento é que as Escrituras dirigem o culto.

40

2.3.1 COMENTÁRIOS BÍBLICOS DE CALVINO

Os comentários de Calvino sobre as Escrituras são considerados em alta conta até os

dias de hoje. E para este trabalho o autor utilizará das interpretações deste importante

homem de Deus. Como segue abaixo.

2.3.1.1 COMENTÁRIO DE CALVINO DE LEVÍTICO 10.1-2

Lv 10.1-2 - Nadabe e Abiú, filhos de Arão, pegaram cada um o seuincensário, nos quais acenderam fogo, acrescentaram incenso, e trouxeramfogo profano perante o Senhor, sem que tivessem sido autorizados. Entãosaiu fogo da presença do Senhor e os consumiu. Morreram perante o Senhor.

Calvino, ao comentar Levítico capítulo dez, declara que o ocorrido com Nadabe e Abiú

é um reflexo da abominação de Deus à corrupção da religião. A pureza da adoração foi

violada quando os filhos de Arão levaram fogo estranho diante do Senhor. O julgamento

de arrogantes pode pensar ser uma punição muito grande para o delito. Calvino, porém,

diz que o entendimento do texto passa, pelo quanto sagrada é a adoração a Deus e por

que “era necessário que sua religião fosse sancionada em seu próprio começo”

(CALVIN, 1998, p. 307 – tradução do autor). O pecado deles foi oferecer incenso sem

atentarem ao que a lei prescrevia. “Embora tenham errado em ignorância, ainda assim,

foram condenados pelo mandamento de Deus ao negligenciarem o que era digno de

Maior atenção” (Calvin, 1998, p. 307 - tradução do autor). O culto, a adoração a Deus, é

regulado por suas determinações e qualquer invenção humana é abominação. As

invenções humanas são “fogo estranho” corrompem a santidade do culto. (CALVIN,

1998, p. 307)

2.3.1.2 COMENTÁRIO DE CALVINO DE LEVÍTICO 22. 31-33

(Lv 22.31-33) "Obedeçam aos meus mandamentos e os coloquem em prática.Eu sou o Senhor. Não profanem o meu santo nome. Eu serei reconhecidocomo santo pelos israelitas. Eu sou o Senhor que os santifico e que os tiroudo Egito para ser o Deus de vocês. Eu sou o Senhor"

Calvino fala que a declaração de Deus quando diz “Não profanem o meu santo nome”

confirma o seu sentimento na punição de Nadabe e Abiú. A pureza e integridade do

culto deve ser mantida. Pois a santidade na adoração os leva a uma adoração legitima e

41

sincera. A imaginação no culto é superstição portanto um grave pecado contra Deus. E

por isso Ele determina pureza e se queixa das falhas do seu povo. (CALVIN, 1998, p.

262)

2.3.1.3 COMENTÁRIO DE CALVINO DE ISAÍAS 29. 13

Is 29. 13 - Senhor diz: "Esse povo se aproxima de mim com a boca e mehonra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração queme prestam só é feita de regras ensinadas por homens.

Deus está condenando o povo por sua hipocrisia e superstição que estão sempre

acompanhadas pela impiedade. Os homens maus pensam fazer tudo o que é necessário

em honra a Deus enquanto “os homens bons do sentimento mais profundo do coração,

se apresentam diante de Deus, e, enquanto cedem a sua obediência, confessam e

reconhecem o quão longe” estão da perfeição no cumprimento de todos os seus deveres

(CALVINO, 1998, p. 662-663). Calvino diz que a figura da boca e dos lábios denota o

todo e por elas a piedade é assumida. Mas o coração está longe de Deus o que

demonstra que estão inclinados a mentira e falsidade. Deus também condena a adoração

com base em invenções humanas por mais que se esforcem convencidos de uma

possível devoção. A reverencia da adoração é fundamentada e regulada por Deus em

sua Palavra e sem ela todo culto, devoção e reverencia são esvaziados e condenados.

Jesus confirma as palavras do profeta Isaías ao dizer: “Em vão me adoram; seus

ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens” (Mt15.9) (CALVINO, 1998,

pg. 663-664).

2.3.1.4 COMENTÁRIO DE CALVINO DE MATEUS 15.1-9

Mt 15.1-9 - Então alguns fariseus e mestres da lei, vindos de Jerusalém,foram a Jesus e perguntaram: "Por que os seus discípulos transgridem atradição dos líderes religiosos? Pois não lavam as mãos antes de comer! "Respondeu Jesus: "E por que vocês transgridem o mandamento de Deus porcausa da tradição de vocês? Pois Deus disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’ e‘quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá que ser executado’. Mas vocêsafirmam que se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Qualquer ajuda quevocês poderiam receber de mim é uma oferta dedicada a Deus’, ele não éobrigado a ‘honrar seu pai’ dessa forma. Assim vocês anulam a palavra deDeus por causa da tradição de vocês. Hipócritas! Bem profetizou Isaíasacerca de vocês, dizendo: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seucoração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos nãopassam de regras ensinadas por homens’".

42

Calvino ao comentar o texto reprova a forma com os homens em sua insolência tratam

com a lei. Manter o que Deus exige era algo trivial para os fariseus e mestres da lei.

Estavam sempre buscando novas formas de culto e tratavam suas criações como algo

mais perfeito que a Palavra de Deus. “Enquanto isso, a adoração de Deus é corrompida,

da qual o princípio primeiro e principal é a obediência. A autoridade dos homens é

preferida ao comando de Deus” (CALVIN, 1997, p. 189).

Com isso a majestade da lei é desconsiderada e a reverencia é diminuída. A transgressão

é a inclusão de uma tradição cerimonial humana sendo considerada como parte do culto.

Deus deve ser adorado como estabelecido em sua Palavra, portanto sem nenhum

aditamento. Estes homens, no que diz respeito as ofertas voluntárias, asseveraram a lei

ao ponto de desconsiderarem o quarto mandamento e por suas tradições deixavam seus

pais a própria sorte. Buscavam a santidade dentro de suas criações, mas a mesma é

obtida em, por fé, cumprir esta lei sem reservas crendo que a mesma é perfeita. A

verdadeira santidade consiste na sincera retidão do coração! Para Calvino o que o

Senhor Jesus declara é que uma vez que a adoração de Deus é espiritual deve ser

acompanhada de sinceridade no interior do coração. Assim, os que fazem exibição

externa, são hipócritas. E quando Jesus cita o profeta Isaías dizendo “em vão me

adoram” é porque não há honra a verdadeira religião. A verdade é que estes tolos

“homens se permitem vagar além dos limites da Palavra de Deus, quanto mais trabalho

e ansiedade aparecem ao adorá-lo, mais pesada é a condenação que eles desencadeiam

sobre si mesmos” (CALVIN, 1997, p. 188). O temor deles para com o Senhor era

fundamentado nos mandamentos de homens.

2.3.1.5 COMENTÁRIO DE CALVINO DE COLOSSENSES 2.22-23

Cl 2.22-23 - Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois sebaseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato,aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade eseveridade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsosda carne.

A questão tratada pelo Apostolo Paulo aos cristãos colossenses é a criação de filosofias

e tradições humanas. Coisas externas e falhas que são a base de sua religião, mas estas

nada tem relação com o reino espiritual de Deus. “O culto divino, a verdadeira piedade

e a santidade dos cristãos não consistem em bebida e comida e roupa, coisas essas

43

transitórias e passíveis de deterioração, e pelo mau uso perecem” (CALVINO, 1997, p.

77). São criticados o culto inventado pelos homens, a falsa humildade e a negligência

com o corpo. O primeiro tem sua falha na superstição que tem no grego um sentido de

serviço voluntário em causa própria e sem a autoridade de Deus. As tradições humanas

são alinhadas com a nossa forma de pensar e por isso são agradáveis. Em segundo lugar

estas tradições tem aparência de humildade pois “a obediência, seja a Deus seja aos

homens, é pretensa, de modo que os homens não recusam nem mesmo os fardos

irracionais” (CALVINO, 1997, p. 76-77). E terceiro para os que mortificam através da

negligencia com o corpo é uma obediencia “perversa e sacrílega que transfere aos

homens a autoridade divina; e negligenciar o corpo assim é de tão grande importância a

ponto de ser tido digno da admiração como se fosse um serviço prestado a Deus

(CALVINO, 1997, p. 77). Paulo arranca as máscaras para destes que se exibem em falsa

devoção.

2.3.2 O PRC NAS INSTITUTAS DA RELIGIÃO CRISTÃ

A maior obra de Calvino são as chamadas Institutas da Religião Cristã. Elas são como

uma manual para os cristãos. Tem o objetivo de ensinar tudo quanto a vida piedosa. As

Institutas foram a fonte doutrinária do que veio a se chamar calvinismo. Forma de

pensamento que influencio profundamente o que veio as igrejas reformadas e como

consequencia a IPB. Calvino, nas Institutas, fez uma série de criticas a Igreja de Roma

por encontrar auoridade em outro lugar que não as Escrituras. Vemos um exemplo

abaixo:

“... Mas se, sem levar em conta as circunstânicas, vós simplesmentereconhecem, qualquer que fosse a época, o caráter destas tradições humanas,que deviam ser condenadas pela igreja e condenadas por todo piedoso, adefinição que demos anteriormente é clara e certa – a saber que elas incluemtodas as leis promulgadas por homens, sem a autoridade da Palvra de Deus,com o propósito, tanto de determinar o modo como Deus deve ser adorado,ou, de instituir uma obrigação religiosa à consciência, como de impor coisasnecessárias a salvação.” (CALVINO, 2015, IV.X.16)

Para o Dr. W. Yong, Calvino, faz declarações que libertam os homens da imposição de

Roma. Essa força libertadora corta a força de imposições de homens com relação ao

44

culto e a adoração. Pois no âmbito do culto toda instituição é de Deus. Yong diz que isto

é o Príncipio Regulador do Culto Reformado ”(YONG, 2000, p.3).

2.3.2.1 A ESCRITURA É MESTRE E GUIA PARA SE ACHEGAR A DEUS

Deus a quem quer atrair para mais perto a fim de ter intimidade, a luz de sua Palavra,

revela a sua salvação. As Escrituras dissipam as trevas de nossa mente e por elas o

conhecimento verdadeiro de Deus é obtido com clareza. É pela Palavra que Deus instrui

a igreja proclamando que deve ser adorado e como deve ser adorado. As escrituras são

“a mais direta e segura marca para reconhecê-lo” (CALVINO, 2015,I.IV.3).

Portanto, por mais que ao homem, com sério propósito, convenha volver osolhos a considerar as obras de Deus, uma vez que foi colocado nesteesplendíssimo teatro para que fosse seu espectador, todavia, para que fruíssemaior proveito, convém-lhe, sobretudo, inclinar os ouvidos à Palavra(CALVINO, 2015, I. IV.2).

Para que o homem viva a verdadeira religião tem de ter a doutrina celeste, a Palavra,

como o princípio fundamental de todas as coisas. Pois o reto conheceimento daquele

que é luz e perfeição em todo o seu ser, Deus, nasce da obediencia as Escrituras. É ela

quem nos protege do erro! Conquanto que a mente humana é tendenciosa ao erro, tende

a criação de novas e fantasiosas religiões. Calvino diz que “Deus proveu o subsídio da

Palavra a todos aqueles a quem quis, a qualquer tempo, instruir eficientemente, porque

antevia ser pouco eficaz sua efígie impressa na formosíssima estrutura do universo”

(CALVINO, 2015, I.IV.3). Importa que nos apeguemos a Palavra porque e é dela que a

compreensão de Deus se torna real e viva. Não temos outro modo de nos dirigirmos no

culto ao Senhor diferente da Palavra (CALVINO, 2015, I.IV.3).

2.3.2.2 A SUPERIORIDADE REVELACIONAL DA BÍBLIA SOBRE A

CRIAÇÃO

O profeta que diz que a glória de Deus é proclamada pelos céus também faz menção a

Palavra quando diz: “A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma” e também “Por elas

o teu servo é advertido; há grande recompensa em obedecer-lhes” (Sl 19.7a e 11).

Calvino ensina que Deus convida todos a contemplação dos céus mas a sua

manifestação especial é a Escritura. Pois o homem está em total ignorancia e não pode

45

achegar-se a Deus a não ser por sua Palavra. Em Jo 4.22 Jesus diz a mulher samaritana

que seu povo adora o que não conhece e somente os judeus apresentavam o culto

verdadeiro (CALVINO, 2015, I.IV.4).

A autoridade da Bíblia provem de Deus e não da Igreja. E Ele decidiu por não enviar

seus oráculos diariamente, mas nas Escrituras consagrou sua verdade e lembrança de

forma perpétua. Portanto é um erro grave imaginar que as Escrituras estão sujeitas ao

julgamento da igreja como se ela, sendo perfeita, pudesse apoiar-se no arbítrio dos

homens. É por ela, Palavra, que encontramos solida certeza da vida eterna. A igreja não

tem decisões livres para serviço a Deus!

2.3.2.3 SOMENTE DEUS É TESTEMUNHA CONFIÁVEL DE SI MESMO

E assim na lei, após haver arrogado unicamente para si a glória da Deidade,quando visa a ensinar que gênero de adoração aprova, ou repudia, Deusacrescenta de imediato: ‘Não farás para ti imagem esculpida, nem qualquersemelhança” [Ex 20.4], palavras com as quais nos coíbe o desenfreamento,para que não tentemos representá-lo por meio de qualquer figura visível(CALVINO, 2015, I.XI.3).

Deus não admite que o limitado homem crie imagens de qualque material que

representem a Ele. O criador de todas as coisas não pode ser representado por nada

criado. Nem admite que seja adorado quaisquer das obras da criação como sol, lua ou

mesmo o homem. Toda e qualquer representação é um meio supersticioso. Tal atitude é

contradizer o ser de Deus. Calvino apoia-se nas palavras do apostolo Paulo: “Visto que

somos geração de Deus, não devemos pensar que o divino seja semelhante ao ouro, à

prata ou à pedra trabalhada pela arte ou invenção do homem” [At 17.29]. Esta proibição

de Deus segue também para imagens que tenham alusão a sua manifestação pois a

nuvem, a fumaça e a chama eram simbolos da glória celeste para o povo de Israel.

Tambem condena imagens e representações de Deus. As representações de Deus levam

a imediata adoração desta pois os homens julgam estar vendo o Senhor nas mesmas

(CALVINO, 2015, I.XI. 3-9).

Que culto Deus realmente requer se verá em seu devido lugar, em outra parte.Ora, mediante sua lei, quis ele prescrever aos homens o que é justo e reto, edessa forma que eles sejam restringidos por uma norma precisa, para que aninguém se permita forjar qualquer expressão cultual (CALVINO, 2015,I.XVII.3, ‘grifo do autor’)

46

A verdadeira religião, o culto com base no conhecimento de Deus, tem nas escrituras

seu fundamento. Pois sempre que frizam que há somente um Deus isto nos impõe não

transferir a nada o que compete a Deidade. E o homem que se aproxima Dele para um

culto legitimo, em obediência, deve entendê-lo único legislador da sua adoração

(CALVINO, 2015, I.XVII.1).

2.3.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESCRITOS DE CALVINO

A exposição acima do pensamento nos demonstra que Calvino tinha um sério

compromisso Deus. Compromisso em aplicar a Palavra a vida de forma que ela fosse a

vida no culto. “Calvino sabia que o culto é a preocupação central do cristianismo e da

nossa herança reformada. Por isso ele dizia que o âmago da Reforma foi uma reforma

na adoração, uma reforma no Culto (leitura da palavra/pregação/doutrina, sacramentos,

louvor, sacramentos, ofertório) a Deus” (CANUTO, 2007, p.4). Isto era a verdadeira

religião ensinada por Calvino, contido nos seus comentários e nas Institutas, porque as

Escrituras eram o fundamento do Culto. Os puritanos também voltaram no mesmo

sentindo. Eles consideravam as Escrituras como a bússola da adoração. E “concluíam

que nós precisamos adorar a Deus de conformidade com os preceitos do Novo

Testamento” (BEEKE, 2007, p.2). Este princípio puritano nada mais era do que o

desenvolvimento das bases lançadas por Calvino. A seguir trataremos do pensamento

puritano.

2.4 O PURITANISMO: RECONHECENDO A AUTORIDADE DA PALAVRA

NO CULTO

O puritanismo foi um movimento do século XVII influenciado pela Reforma que

buscava intensamente a prática bíblica. Os puritanos tinham como caracteristica a busca

de uma vida moral elevada. E pelo desejo que tinham de pureza na doutrina, pureza na

liturgia, pureza no governo e pureza na vida foram chamados Puritanos. Eles lutaram

em sua época contra uma realidade de império da ignorancia bíblica, imoralidade,

corrupção e incredulidade. Neste momento, estes servos fiéis a Deus, cheios do Espírito

Santo, empenharam-se por uma reforma na vida da igreja. Esta reforma se daria de

forma profunda. Toda existência, o relacionamento com Deus e com o próximo seriam

regulados pelas Escrituras Sagradas. “Esse prícípio bíblico foi chamado de Princípio

47

Regulador Puritano2: tudo no culto deveria ser regulado pelas Escrituras, mas trazia em

consequencias uma grande repercussão em todas as áreas da vida”(Canuto, 2007, p.4).

O entendimento puritano da suficiência das Escrituras os fazia focar somente nas

ordenanças da Palavra. A frase a seguir explica melhor este pensamento: “Não

queremos saber daquilo que pode ser feito só porque a Bíblia não proíbe, mas queremos

fazer só que ela ordena”(CANUTO, 2007, pg.4).

Martin Lloyd-Jones destaca quatro importantes fatores que definem a maneira de ser

puritano (LLOYD-JONES,1993, p. 266).

1) O puritano tem sua “raiz” na compreensão de todas as coisas a luz do ensino das

Escrituras.

2) O puritano declara que a visão de mundo apresentada pela fé evangélica não é

apenas mais uma, mas arraigada na Palavra, é a unica que tem validade.

3) Os puritanos enfatizam à comunhão e a espiritualidade do culto. “A Igreja reunida é

o coração da idéia puritana” (LLOYD-JONES,1993, p. 266).

4) “Os puritanos criam também na extirpação do pecado e numa rígida disciplina

eclesiástica” (LLOYD-JONES, 1993, p. 266).

Em decorrencia da busca dos ordenamentos bíblicos voltaram-se para um culto simples.

Rejeitaram tudo do culto católico-romano e do anglicano que não podiam encontrar

como ordenamento bíblico. O culto puritano era composto dos seguintes elementos:

1. Leitura bíblica

2. Oração

3. Cântico dos Salmos sem acompanhamento de instrumentos

4. Pregação como o mais importante

5. Santa Ceia

6. Batismo

O que determinou este formato de culto foi o Princípio Regulador do Culto

(ANGLADA, 1997, p. 10).

2 Entenda, neste caso, o Princípio Regulador Puritano e Princípio Regulador do Culto como a mesma a

mesma doutrina. Porem “A terminologia geralmente empregada (Principio regulador Puritano) não

expressa bem o assunto. Não porque os puritanos não defendessem o princípio que estamos

considerando. Mas porque não indica o assunto, e porque a defesa deste princípio não se limita a eles”.

(ANGLADA, 1997, pg. 10).

48

2.4.1 EXEMPLOS DE HOMENS PURITANOS

William Whittingham, apresentou um elevado empenho e amor pela Palavra,

“...indubitavelmentete foi o principal responsável pela tradução da “Bíblia de Genebra”

(LLOYD-JONES,1993, p. 254-255). Ele também redigiu, para igreja inglesa, uma

ordem de culto e instituiu um sistema de disciplina em que para os que queriam se unir

a igreja deviam declarar a sua fé. “Ele designou um pastor ou superintendente,

pregadores, presbíteros e diáconos. Serviu de modelo para a igreja inglesa - a igreja dos

exilados, como era conhecida” (LLOYD-JONES,1993, p. 254-255).

George Gillespie (1613-1649) foi um dos representantes ecoceses na Assembléia de

Westminster. No ano de 1637 escreveu um tratado criticando a imposição de cerimonias

religiosas. Um trecho do livro diz o seguinte:

“A igreja é proibida de acrescentar qualquer coisa que Deus nos deu,concernentes ao Seu culto e serviço, Deut.4:3; 12:32; Pv 30:6; pr conseguinteela não pode prescrever coisa alguma relacionada a prética do Culto divino,que ultrapasse mera circunstâcia: tudo é incluído naquele tipo de coisas quenão são tratadas nas Escrituras... A Igreja Cristã não tem maior liberdade paraacrescentar (coisas) ao mandamento de Deus do que tiveram os judeus; pois osegundo mandamento é moral e perpétuo, e nos proíbe, bem como a eles, asadições ou invenções humanas no Culto a Deus” (GILLESPIE apudANGLADA, 1997, p.16-17)

John Owen (1616-1683) foi, dentre os puritanos, o de mais destaque quanto a

capacidade, respeito e conhecimento. Seu escrito mais representativo foi a exposição da

carta aos hebreus. E assim como Gillespie escreveu contra a imposição de liturgias. Um

trecho do livro diz o seguinte:

“... a invenção arbitrária de qualquer coisa imposta como necessária eindispensável no culto público a Deus, como parte deste culto, e o uso dequalquer coisa assim inventada e ordenada no culto é ilegal e contraria aregra da Palavra... Portanto todo dever da igreja com Relação ao culto aDeus, parece consistir na precisa observação daquilo que é prescrito eordenado por Ele (Deus)” (OWEN apud ANGLADA, 1997, p.16-17)

Em termos teológicos, o maior legado deixado pela influencia puritana foram a

Confissão de Westminster, o Catecismo maior e o Breve catecismo. Estes documentos

49

tidos hoje como símbolos de fé da IPB trazem neles o sentido do PRC. Os mesmos

serão tratados no capítulo que segue junto a outras confissões reformadas.

3. A INFLUÊNCIA DO PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO NAS

CONFISSÕES REFORMADAS

As Confissões formuladas a partir do pensamento reformado foram instrumentos

preciosos para o ensino dos cristãos. Elas tinham como objetivo tornar a igreja firme,

unanime e conhecedora das doutrinas bíblicas. Assim, dentre tudo de importante que

tratam, ensinam também sobre o culto. E este é apresentado junto ao PRC. Assim

veremos neste capítulo a influencia do PRC na forma de culto das igrejas reformadas.

Forma esta totalmente apegada aos ensinamentos bíblicos.

3.1 – CONCEITUAÇÃO DE CONFISSÃO

A Confissão é uma declaração de fé sobre verdades bíblicas. Ela busca sistematizar o

conhecimento revelado na Palavra de Deus e visa, através de um registro criterioso,

preservar a instrução dos fiéis. Seja por surgimento de uma heresia ou para melhor

definição de uma doutrina, a igreja, pelo princípio da autopreservação, é forçada a

formular uma Confissão. Segundo A. A. Hodge os “Credos e confissões são necessário

em todas as épocas e em todos os ramos da igreja” (HODGE, 1999, p. 23). As

Confissões têm os seguintes efeitos quando bem utilizadas:

1) Preservam, delimitam e disseminam o conhecimento das verdades cristãs.

2) Fazem distinção entre a verdade e os comentários de falsos mestres.

3) Desenvolvem os fundamentos da comunhão da igreja, quando permanecem na

mesma doutrina, todos podem trabalhar em harmonia.

4) É uma grande ferramenta na obra do ensino.

Segundo Hermisten Maia, a partir do quarto século, introduziu-se nos cultos de forma

regular a recitação dos credos. Estes eram declarados após a leitura da Palavra e tinham

o objetivo de ensinar os cristãos e combater a heresias (COSTA, 2004, p. 59).

3.2 A IMPORTÂNCIA DAS CONFISSÕES NA TRADIÇÃO REFORMADA

50

Com o movimento da Reforma criou-se a necessidade de apresentar formalizadamente a

interpretação bíblica que a diferenciava da igreja de Roma. Assim foram criados

Confissões de fé e catecismos refletindo a teologia reformada. Essas criações ocorreram

nos séculos 16 e 17. Também ocorreram discordâncias entre as denominações que

surgiram e por isto outras confissões foram criadas.

As declarações de fé precisavam ter duas características: ser, na medida do possível,

completas, com uma linguagem acessível aos novos na fé e que pudessem ser

confrontadas com as verdades bíblicas. Os credos reformados tinham como

características:

1) Por em evidencia a fundamentação bíblica de seu ensino.

2) Comprovar que as doutrinas apresentadas alinhavam-se com os credos da Igreja

Antiga. Como os credos Apostólico, Niceno e Constantinopolitano.

3) Balizar seu posicionamento teológico anti os desvios da igreja romana.

As Confissões dos séculos 16 e 17 podem ser dividas em Reformadas (calvinistas) e

luteranas. Para este trabalho consideraremos somente as confissões reformadas

(COSTA, 2004, p. 59-63). São elas: Confissão Belga, Catecismo de Heidelberg,

Segunda Confissão Helvética, Canones de Dort, a Confissão de Westminster e o

Catecismo maior e breve de Westminster. Todos serão trados no que diz respeito as

Escrituras como norma supre e o culto.

3.3 A CONFISSÃO BELGA (1561)

3.3.1 UM BREVE HISTÓRICO DA CONFISSÃO BELGA

Esta é a confissão reformada mais antiga e foi chamada de Belga, pois se refere a todos

os Países Baixos. Este território corresponde hoje a Holanda e Bélgica. Ela data do ano

1561 e é também chamada de Confissão Walloon ou Confissão da Holanda.

A Confissão Belga tinha como principal objetivo defender os cristãos reformados

perseguidos pelo Rei Filipe II da Espanha, adepto a igreja de Roma. O Principal autor

desta Confissão foi Guido de Brès e seu intento era comprovar que os crentes

reformados eram fiéis as verdades bíblicas. Mas isto não deu certo pois as autoridades

da Espanha continuaram a perseguir os cristãos. Em 1567, de Brés tornou-se mártir mas

a sua obra perdura até os dias de hoje.

51

O Sínodo de Dort ( 1618-1619) adotou a Confissão Belga como padrão doutrinário das

igrejas reformadas.

3.3.2 AS ESCRITURAS SAGRADAS NA CONFISSÃO BELGA

A Confissão Belga declara a Palavra como regra perfeita para servir a Deus. Ela trata

sobre o assunto das Sagradas Escritos em quatro artigos que são:

“Artigo 3” – A Palavra escrita de Deus: declara que os escritos sagrados foram

produzidos por homens santos movidos pelo Espírito Santo.

“Artigo 4” – Os livros Canônicos das Sagradas Escrituras: Afirma que crêem nos 66

livros do Antigo e Novo Testamentos e que contra estes nada pode ser alegado.

“Artigo 5” – De onde as Sagradas Escrituras derivam sua dignidade e autoridade:

Declara que as Sagradas Escrituras regulam, fundamentam e confirmam a fé. Elas são

testificadas pelo Espírito ao coração que são de Deus

“Artigo 7” – A suficiência das escrituras sagradas para serem a única regra de fé:

Declara que as Escrituras são a perfeita vontade de Deus. Nela Ele, Deus, escreve todo

o modo de servi-lo.

3.4 O CATECISMO DE HEIDELBERG (1563)

3.4.1 UM BREVE HISTÓRICO DO CATECISMO DE HEIDELBERG

Esta obra foi um pedido do príncipe do Palatinado (Província Alemã) chamado

Frederico III. O escolhido para a tarefa foi o professor de teologia Zacarias Ursino da

Universidade de Heidelberg. O catecismo é dividido em 52 partes chamadas de “Dia do

Senhor” e estas eram utilizadas para as pregação de cada domingo do ano.

O Catecismo de Heidelberg foi aceito pelos sínodos de Wesel (1568), Emden (1571),

Dort (1578), Haia (1586) e de DORT (1618-1619). E foi traduzida para países da

Europa, Ásia e da África e por ter uma forma “pacífica” é considerado um livro de

conforto. Entre os catecismos reformados é o mais usado.

3.4.2 O CULTO NO CATECISMO DE HEIDELBERG

O Catecismo de Heidelberg demonstra com clareza que a Palavra é quem dirige a forma

do culto. Ele é enfático como vemos na pergunta que segue:

52

A pergunta 96 é: O que Deus exige no segundo mandamento? Na resposta temos

“Devemos adorá-Lo somente da maneira que Ele ordenou em sua palavra”.

A adoração ao Deus da Aliança é um dever do cristão isto de forma direta não

diferencia o reformado do católico. Mas a ênfase do termo somente trás uma restrição

entre eles. O segundo mandamento só se cumpre quando Deus é adorado pela forma

determinada em sua Palavra. Aí portanto está o erro da igreja de Roma.

3.5 SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA

3.5.1 UM BREVE HISTÓRICO DA SEGUNDA CONFISSÃO HELVÉTICA

A primeira Confissão Helvética foi criada em 1536 e foi apreciada por Lutero. Mas ela

foi rejeitada por discordâncias sobre a “presença real” de Cristo na Ceia. A Segunda

Confissão Helvética surgiu como uma confissão pessoal. Heinrich Bulinguer contraiu a

peste que assolava Zurique e revisou um trabalho antigo. Mas ele não morreu e o

príncipe Frederico III o pediu que elaborasse uma confissão de fé reformada.

A Segunda Confissão Helvética é formatada como um manual de teologia. Tem como

influência a versão definitiva das Institutas e seu ponto de partida são as Escrituras.

3.5.2 CONFISSÃO HELVÉTICA E SUA FIRMEZA NA PALAVRA

Esta confissão declara: “Cremos e confessamos que as Escrituras Canônicas dos santos

profetas e apóstolos de ambos os Testamentos são a verdadeira Palavra de Deus, e têm

suficiente autoridade de si mesmas e não dos homens”. É pelas Escrituras que igreja é

instruída a respeito da verdadeira piedade e sabedoria. Por isso são rejeitadas todas as

tradições humanas. Estas tradições podem ser belas e com títulos impotentes, ou

mesmo, se apresentar com títulos atraentes e delas se dizer “são divinas e apostólicas”.

Mas se não apresentarem provas bíblicas devem ser rejeitadas.

Como deve ser o culto. Embora se permita a todos os homens lerem asEscrituras particularmente em casa, pela instrução edificando-se mutuamentena verdadeira religião, no entanto, para que a Palavra de Deus seja anunciadaconvenientemente ao povo, e se façam publicamente orações e súplicas, bemcomo sejam os sacramentos administrados de modo próprio, e se levantemofertas para os pobres e para o pagamento de todas as despesas da Igreja, epara a conservação das relações sociais, é muito necessário que semantenham as reuniões de culto ou da Igreja. Pois, é certo que na Igreja

53

apostólica e primitiva, havia tais assembléias, freqüentadas por todos ospiedosos. (Confissão Helvética)

Este tratado também afirma em relação as “Obras de escolha humana” que os cultos não

são realizados por uma escolha, por nosso arbítrio, pois estes não são agradáveis a Deus.

3.6 CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER (1647)

3.6.1 UM BREVE HISTÓRICO DA CONFISSÃO DE WESTMINSTER

Este documento do sec. XVI é um dos mais influentes do período após a reforma da

Igreja. A Confissão de Fé de Westminster (CFW) foi produzida por teólogos de

Westminster e é uma exposição minuciosa da teologia reformada. Depois de muitos

anos de problemas com o rei Carlos I, o parlamento com majoritariamente puritano,

reuniu-se com o objetivo de uniformizar a fé praticada em todo o reino.

O Dr. William Twise foi presidente e junto aos delegados teve a tarefa de revisar os 39

artigos utilizados até então pela igreja da Inglaterra. E depois da assinatura da Solene

Liga da Aliança a assembléia direcionou-se para o enquadramento doutrinário que era

praticado na Igreja Presbiteriana da Escócia.

“A assembléia foram convidados 121 ministros (os "teólogos"), 10 membrosda Casa dos Lordes, 20 da Casa dos Comuns, mais 8 representantes daEscócia, sem direito a voto (mas influentes), sendo que esse último país eraaliado ao parlamento inglês por um tratado, a "Liga e Aliança Solene".Conceitos diferentes de governo eclesiástico foram representados, sendo queo presbiterianismo foi a posição dominante” (FRAME apud ELWELL, 2009,p 331)

O resultado prático dos documentos produzidos em Westminster foram: “A Confissão

de Fé e o Breve Catecismo influenciaram o presbiterianismo mais profundamente de

que as próprias Institutas de Calvino” (BEEKE, 1952, p. 13). A assembléia também

formulou um Diretório de Culto bem como uma forma de Governo Presbiteriano, mas

ambos foram rejeitados na Inglaterra.

“a assembléia produziu um padrão confessional que exerceu grandeinfluência em cada área da igreja presbiteriana, exceto aquela para a qual

54

tinha sido originalmente concebido -a igreja oficial da Inglaterra. Os Padrõescontinuam a exercer essa forte influência ainda hoje” (LUCAS, 2011, p.164).

A teologia produzida em Westminster é diretamente ligada ao pacto da Aliança. Sua

produção é notável, pois é prática e firme doutrinariamente. Ela é fruto de homens fiéis

a Palavra, com experiência na pregação e vida pastoral.

3.6.2 A CFW E O PRC

3.6.2.1 CAPÍTULO I: DA ESCRITURA SAGRADA

A confissão de Fé de Westminster (CFW) tem como ponto de partida a Palavra de Deus.

É o próprio Deus quem manifesta a sua vontade revelada na bíblia. Isto porque o

homem tem sua relação com Deus rompida pelo pecado. E embora a revelação natural

indique a natureza de Deus e das suas exigências bem como a condenação pelo pecado.

A mesma, revelação natural, não pode em nada ensinar ou mesmo auxiliar por si mesma

ao homem com relação a remissão, substituição, santificação e restauração dentre outras

coisas. Até mesmo os ritos religiosos são degradantes e imorais se não estão em

conformidade com a Palavra. “À luz do desígnio da Escritura. Ela declara que nos guia

a Deus. Tudo o que é necessário a este fim ela deve ensinar-nos” (HODGE, 1999, pg.

52-54,64). A seção VI da Confissão diz o seguinte.

“VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias paraa glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamentedeclarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. ÀEscritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações doEspírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, sernecessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadoracompreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumascircunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum àsações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz danatureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, quesempre devem ser observadas” .

As Escrituras são de fato quem regulamentam a fé e a vida do homem e, portanto,

regulam também o Culto. A Confissão de Westminster é uma declaração deste fato.

Como ela subsiste em função disto. A seguir vamos tratar sobre o culto na CFW.

55

3.6.2.2 CAPÍTULO XXI: DO CULTO RELIGIOSO E DO DOMINGO

A parte concernente ao culto na CFW caminha concordemente junto ao fundamento do

Somente a Escritura e também com os escritos de Calvino. Todos estes documentos

dizem que Deus em sua Palavra prescreveu o modo aceitável de cultuá-lo. Assim

constitui-se uma ofensa negligenciar esta forma ou servi-lo de outra maneira. Segue a

declaração da CFW capítulo XXI.I:

“I. A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e soberaniasobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido,amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a almae de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus éinstituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada , quenão deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ousugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou de qualqueroutro modo não prescrito nas Santas Escrituras”. (grifo do autor)

Como vemos que a CFW declara, a luz da Palavra, que todo ensino humano relativo a

doutrinas e mandamentos são conduzidos pela revelação especial de Deus. Isto é

determinante para CFW afirmar que toda a forma de culto não pode ir além da clara

autoridade da Escritura (HODGE, 1999, p. 369).

Abaixo segue a seção em que a CFW, capítulo XXI.V, declara o que deve ser feito no

culto. O culto devido a Deus compõe-se dos seguintes elementos:

“V. A leitura das Escrituras com o temor divino, a sã pregação da palavra e a

consciente atenção a ela em obediência a Deus, com inteligência, fé e

reverência; o cantar salmos com graças no coração, bem como a devida

administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo - são

partes do ordinário culto de Deus, além dos juramentos religiosos; votos,

jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais, tudo o que, em seus

vários tempos e ocasiões próprias, deve ser usado de um modo santo e

religioso”.

56

Deus nos fala através de sua Palavra quando ela é lida e pregada de forma apropriada.

Há nas Escrituras o ordenamento para oração, cântico de salmos e da ministração dos

sacramentos. A Seção VII afirma que ouve uma mudança de dia escolhido para

adoração. Desde o princípio existiu um dia para o culto. Este dia foi o sábado como

declarado no terceiro mandamento. Mas que desde a ressurreição de Cristo, o domingo,

chamado “Dia do Senhor”, passou a ser o dia determinado para a reunião do povo de

Deus para o culto solene. O fato da mudança é explicitar “o fato da ascensão do

Redentor crucificado e seu posicionamento à destra do poder, o grande fato central da

religião de Cristo” (HODGE, 1999, p. 365).

3.7 O BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER (1647)

A Assembléia de Westminster formulou, além da CFW, dois catecismos. O Breve

Catecismo de Westminster (BCW) é o menor dos dois e contem 107 perguntas com as

respectivas respostas. Ele segue os termos gerais da CFW, mas suas respostas teológicas

são concisas. O BCW foi desenvolvido pelos teólogos de westminster como base da

vida cristã, ou seja, aquilo que estes homens de Deus viam como lições indispensáveis.

Estas lições orientam como conhecer a vontade e Deus, a viver em Jesus e pela força do

seu Espírito seguindo todas as ordenanças reveladas nas Escrituras.

O BCW ensina nas três primeiras perguntas que o homem foi criado com a finalidade de

glorificar a Deus e gozar dele para sempre. Ensina que este Deus nos dá como regra

para dirigir esta adoração e gozo a sua Palavra. Diz também que Escritura tem contida

nela todo ensino sobre o que o homem deve crer a respeito de Deus, e o dever que Deus

requer dele.

A lei moral é tratada na maior parte do breve catecismo. Nele é ensinado que Deus é o

único verdadeiro e por isso deve-se adorá-lo e que é pecado devotar qualquer adoração

que não a Ele. No ensino do segundo mandamento é ensinado que o culto deve ser

mantido puro e integro como Deus instituiu em sua Palavra. As razões disto são a

soberania de Deus e o fato de sermos possessão dele. No terceiro mandamento o BCW

sobre o uso reverente dos nomes de Deus, seus atributos, das suas ordenanças, palavras

e obras. Já nos ensinos do quarto mandamento é apresentado o dever de guardarmos o

sábado cristão, ou seja, o domingo. Neste dia devemos santificá-lo com exercícios

particulares e públicos de adoração a Deus.

57

Concluímos que os teólogos de Westminster como lição indispensável a vida cristã um

culto que tem sua instituição e regras na Palavra de Deus. A seguir trataremos de outro

importante documento reformado o Catecismo Maior de Westminster.

3.8 O CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER

O Catecismo Maior de Westminster (CMW) é bem semelhante ao BCW só que com

uma teologia mais detalhada. Ele contem 196 perguntas sendo muitas de difícil

memorização. O valor dele está em ser um instrumento profundo de ensino. E o mesmo

serve como um guia muito útil para a pregação sobre temas doutrinários.

O CMW reafirma a finalidade do homem como catecismo menor. Mas é mais profundo

com relação a revelação de Deus. Lembra o fundamento do somente a escritura e

Calvino quando dizem que as obras de Deus se revelam na natureza, porém só na

Palavra e pelo Espírito é que se conhece sobre a salvação. Está revelação especial, a

Palavra de Deus, é a única regra de fé e prática. Ela também é a regra de culto.

Quanto da lei moral o CMW é muito claro sobre o dever de prestar-se culto a Deus. Ela

não difere em pensamento da CFW e BCW. Como se pode ver abaixo na pergunta 104

do CMW:

“104. Quais são os deveres exigidos no primeiro mandamento? Osdeveres exigidos no primeiro mandamento são - o conhecer e reconhecerDeus como único verdadeiro Deus e nosso Deus, e adorá-lo e glorificá-locomo tal; pensar e meditar nÊle, lembrar-nos dÊle, altamente apreciá-lo,honrá-lo, adorá-lo, escolhê-lo, amá-lo, desejá-lo e temê-lo; crêr nÊle,confiando, esperando, deleitando-nos e regozijando-nos nÊle; ter zêlo porEle; invocá-lo, dando-Lhe todo louvor e agradecimentos, prestando-Lhe todaa obediência e submissão do homem todo; ter cuidado de o agradar em tudo,e tristeza quando Ele é ofendido em qualquer coisa; e andar humildementecom Ele”.

Já quando trata dos pecados contidos no segundo mandamento é proibido “o

estabelecer, aconselhar, mandar, usar e aprovar de qualquer maneira qualquer culto

religioso não instituído por Deus”. O CMW volta-se para o fundamento reformado do

Somente a Escritura e confirma que é Deus por si mesmo que determina a forma

aceitável de culto. A ele devemos preservar e aderis “conforme determinado nas

Escrituras, evitando e impedindo cuidadosamente todas as corrupções ou modificações

humanas naquilo que Deus determinou em sua Palavra (VOS, 1997, p.335)

58

Encerramos assim a exposição das confissões reformadas. A seguir trataremos do

presbiterianismo e suas influencias reformadas, calvinistas e confessionais.

4. IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL – HISTÓRIA, SISTEMA E CONFESSIONALIDADE QUE APONTAM PARA O RECONHECIMENTO DO PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO

4.1 O SISTEMA PRESBITERIANO

Quando falamos a palavra “presbiteriano” remete-se, em primeiro lugar, ao sistema

governo. Sim o presbiterianismo tem sua forma de governo eclesiástico pautado na

liderança do presbítero. Porém é muito rasa esta definição, pois não corresponde ao todo

do Sistema Presbiteriano. Este sistema “é o corpo de verdades e leis religiosas que tem

como verdade fundamental a soberania de Deus” (ROBERTS, 2003, p. 8).

O princípio central do presbiterianismo é a soberania de Deus. Todos os cristãos

dizem ser a bíblia a revelação de Deus. Mas somente o segmento evangélico afirma que

a Bíblia, a Palavra de Deus, é a infalível e única regra de fé e prática. Assim dentro do

sistema presbiteriano “a soberania de Deus implica a soberania de sua Palavra”

(ROBERTS, 2003, p. 8). O que nos inferir que a soberania de Deus por sua Palavra

também alcança a esfera do culto.

“O sistema presbiteriano aceita como objeto de consideração permanenteapenas aquelas coisas cuja origem e autoridade decorrem das Escrituras.Poderíamos chamar à aceitação da soberania da Palavra de Deus o princípioorgânico. Vem ele exposto no primeiro capitulo da Confissão de Fé. Ospresbiterianos iniciaram sua Confissão de Fé colocando as SagradasEscrituras em primeiro lugar ”(ROBERTS, 2003, p. 8).

Outro aspecto do Sistema Presbiteriano é a sua confessionalidade. Toda pessoa tem o

direito de interpretar a Palavra com o devido respeito ao Senhor que a revelou. Este

Sistema, portanto, respeita esta liberdade dos cristãos que exercendo sua liberdade

associam-se a outra denominação. E ao exercer a sua liberdade o Sistema Presbiteriano

adota o governo de presbíteros entendendo que este é bíblico. E também por meio do

direito que tem como denominação exige a subscrição “pessoal da Confissão de Fé, do

Breve Catecismo e do Catecismo Maior como a sistematização do ensino bíblico”

59

(ROBERTS, 2003, p.9) de toda a sua liderança, ou seja, dos pastores, presbíteros e

diáconos.

Com relação a sua teologia podemos dizer que o Sistema presbiteriano é caracterizado

por três grandes elementos: “no primeiro estão as doutrinas aceitas por todos os cristãos;

no segundo, doutrinas mantidas por todos os protestantes; e no terceiro, as doutrinas

caracteristicamente calvinistas” (ROBERTS, 2003, p.10).

O aspecto mais direto a este trabalho é o Culto. O Sistema Presbiteriano é aplicado a

Igreja Cristã e nela o culto é parte central. As doutrinas que direcionam o culto neste

sistema são:

a) somente Deus deve ser adorado; b) deve ser adorado pela mediação deCristo apenas; c) Deus aceita o culto quando tributado em espírito e emverdade, sob a direção do Espírito Santo; d) somente no culto verdadeiropode O pecado ser perdoado e obtido O favor divino; e) no Evangelho, partealguma do culto religioso aparece subordinada a este ou aquele lugar; Í)dentre os sete dias da semana, Deus separou um para o descanso, devendoesse dia ser inteiramente consagrado a Deus; g) os princípios gerais do cultoestão expostos na Bíblia (ROBERTS, 2003, p.13-14) grifo do autor.

A soberania de Deus está presente em todas estas doutrinas. O culto, debaixo desta

soberania, segue a Palavra de Deus. E deve buscar atender obedientemente todas as

ordenanças quanto ao culto. Isto gera uma formatação de culto clara e simples. A

mesma foi usada no presbiterianismo desde o seu surgimento. Sobre isto veremos a

seguir na história do Presbiterianismo.

4.2 A HISTÓRIA DO PRESBITERIANISMO

4.2.1 O SURGIMENTO PRESBITERIANISMO COM JOHN KNOX

O presbiterianismo surgiu na Escócia com John Knox. Este nasceu em Handdington

entorno do ano 1513 e provavelmente na cidade de Glasgow. Knox foi influenciado por

George Wishart um dos precursores da reforma escocesa. Em St. Andrews (1547) foi

pregador por um tempo mas os franceses o capturaram e em 1549 o transferiram para

França. Quando conseguiu fugir, o que não levou muito tempo, Knox tornou-se capelão

de Eduardo VI na Inglaterra. E enquanto capelão cooperou na revisão do Livro de

60

Oração dando origem ao que se chamou de Segundo Livro de Oração. Com a chegada

de “Maria, a sanguinária”, perseguidora da fé reformada, Knox exilou-se em Genebra.

Knox tinha um profundo desejo de limpar a igreja e condenava abertamente os desvios

praticados pela igreja de Roma.

“Knox aplicou à adoração um dos solas da Reforma — sola scriptura.Somente a Escritura deve ser o guia para a adoração. Todas as práticas eobservâncias na igreja que não têm autoridade escriturística, devem serabolidas. Ao apelar para o princípio do sola scriptura para a adoração, Knoxestava confirmando o que desde então se tornou conhecido como o“Princípio Regulador do Culto”. (KLEYN, 2004. p.1) grifo do autor

A chegada de Knox em Genebra foi uma grande contribuição ao que seria o

presbiterianismo. “A Genebra de Calvino foi uma revelação para Knox: ali ele

encontrou o governo e a disciplina presbiteriana das igrejas, códigos morais aplicados

pela igreja, ordem e paz na sua direção” (LUCAS, 2011, p.160). Em 1559, quando

voltou definitivamente a Escócia, John Knox se tornou líder do Partido Reformador. No

ano que se seguiu ele escreveu a Confissão Escocesa e nela sua teologia ajudou a dar

forma ao pensamento presbiteriano. Além desta confissão Knox também escreveu o

Primeiro Livro de Disciplina (1560) e o Livro de Ordem Comum (1556-1564).

“Knox adotou as visões de Calvino sobre adoração, perfeitamente convencido de que

elas eram bíblicas e corretas. Ele entendeu que o homem por si mesmo não pode decidir

como Deus deve ser adorado” (KLEYN, 2004. p.2). E por sua insistência em despertar

na igreja da Escócia uma adoração bíblica, Knox promoveu uma reforma na adoração

do seu país. Assim “somente aqueles elementos de adoração que a Escritura prescrevia

foram admitidos, tais como oração, a leitura e pregação das Escrituras, o cântico dos

Salmos, e a administração apropriada dos sacramentos” (KLEYN, 2004. p.1)

4.2.2 A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL E O PRC (IPB)

4.2.2.1 IPB – A CHEGADA DE SIMONTON, A AUTONOMIA DA IGREJA E

ADOÇÃO DOS PADRÕES DE WESTMINSTER

A fundação da Igreja Presbiteriana do Brasil se dá com a chegada ao Brasil do

missionário da PCUSA Rev. Ashbel Green Simonton em 12 de agosto de 1859. Os

61

frutos, devido a adaptação de Simonton a língua e cultura, demoraram um pouco. Mas

logo que Simonton foi capaz de pregar aos brasileiros em português sentiu-se muito

feliz e grato a Deus. Suas primeiras realizações foram a Igreja Presbiteriana do Rio de

Janeiro (1862), O Jornal Imprensa Evangélica (1864), o Presbitério do Rio de Janeiro

(1865) e o Seminário Teológico (1867). E no final do ano da fundação do seminário,

Simonton, vítima da febre amarela, veio a morrer. Outros obreiros importantes que

auxiliaram Simonton foram o rev. Alexander L. Blackford e um pastor de origem alemã

chamado Francis C. Schneider.

A missão da PCUS, Igreja Presbiteriana do Sul, chegou ao Brasil em 1869. E os

obreiros pioneiros desta agencia missionária foram os Pastores Edward Lane e George

N. Morton. Estes fixaram-se em Campinas pois perto a este local existiam muitos

imigrantes. Uma característica muito importante destes pastores era o fato deles serem

calvinistas conservadores e valorizarem bastante as Confissões e catecismos de

Westminster.

Os missionários preocuparam-se desde a sua chegada com o preparo de pastores no

Brasil. E o primeiro pastor presbiteriano brasileiro foi José Manoel da Conceição, que

tinha sido padre, mas discordava da sua igreja de origem, que foi recebido por profissão

de fé e batismo pelo Rev. Blackford. Os primeiros pastores formados pelo Seminário do

Rio foram: Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa, Antônio Bandeira Trajano,

Miguel Gonçalves Torres e Antônio Pedro de Cerqueira Leite, os três primeiros de

origem portuguesa. A estratégia missionária também se preocupou com o analfabetismo

pois o culto tem por base a leitura e entendimento da Palavra e do hinos cantados.

“Os protestantes têm como postulado básico de sua fé que a leitura da Bíblia,por si só, não somente instrui os indivíduos na religião, mas é instrumento deconversão. Além disso, o próprio culto protestante exige a leitura, pois que oseu material litúrgico são a Bíblia e o livro de hinos” (MENDONÇA, 1984,p.95)

A Igreja do Norte (PCUSA) concentrou seus esforços no Sudeste e sul do Brasil mais

Bahia e Sergipe. Já a missão da Igreja do Sul (PCUS) concentrou-se em Campinas e

adjacências, Nordeste e parte de Minas Gerais. E após trinta anos de trabalho

missionário estas missões decidiram que era tempo da Igreja Presbiteriana brasileira ter

autonomia. Isto aconteceu de fato com a criação do Sínodo Presbiteriano em setembro

de 1888. Nesta ocasião a Igreja Presbiteriana do Brasil “adotou como padrões

62

doutrinários a Confissão de Fé e os catecismos de Westminster” (LUCAS, 2011, p.206).

No capítulo a seguir trataremos da relação da IPB com os Padrões de Westminster.

4.2.3 A IPB E OS SÍMBOLOS DE FÉ

A Igreja Presbiteriana organizou seu primeiro presbitério no dia 16/12/1865. O

presbitério nascente contava então com três pastores: A. G. Simonton, do Presbitério de

Carlile; A. L. Blackford, do Presbitério de Washington, e F. J. C. Schneider, do

Presbitério de Ohio. Por proposta do rev. Simonton o escolhido para moderador foi rev.

Blackford. Simonton foi escolhido como secretário permanente e Schneider o secretário

temporário. O então Presbitério do Rio foi organizado e ficou sob jurisdição do Sínodo

de Baltimore (COSTA, 2004, p.67).

No mesmo dia em que o Presbitério do Rio foi organizado o ex-padre José Manoel da

Conceição foi examinado para a ordenação de Ministro do Evangelho. Após declarar os

motivos que o influenciaram ele declarou receber a Confissão de Fé de Westminster

e o Governo da Igreja Presbiteriana. No dia seguinte José Manoel da Conceição foi o

primeiro pastor ordenado. Os primeiros pastores formados pelo seminário criado por

Simonton também foram examinados quanto ao conhecimento da Confissão de Fé

(COSTA, 2004, p.67-69).

Os Padrões de Westminster foram adotados pela Igreja Presbiteriana desde o seu

começo. Por estar ligado ao Sínodo de Baltimore a igreja brasileira subscrevia seu

sistema de liturgia, disciplina e doutrina. Lembramos que em 1729 o Sínodo de

Filadelphia, constituído pelos presbitérios de Filadelphia, Newcastle e Long Island,

adotaram os Padrões de Westminster com exceção dos capítulos que se referiam ao

magistrado civil. Isto ficou conhecido como o “Ato de Adoção”. O presbiterianismo

americano era calvinista e na Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados

Unidos, após revisões e emendas, os símbolos de Westminster foram confirmados em

1989. A visão reformada, calvinista e confessional da IPB desde os seus primórdios a

levaram ao conhecimento da função reguladora das Escrituras na vida e no culto. Esta

tradição fez com que os documentos produzidos pela IPB apresentassem este padrão

para o culto. Como veremos ao tratar dos Princípios de Liturgia, Manual do Culto e na

Carta Pastoral e Teológica sobre Liturgia na IPB como fruto do reconhecimento do

PRC.

63

4.3 O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO NA IGREJA PRESBITERIANA

DO BRASIL

Veremos neste tópico que a IPB trata com seriedade o tema do PRC. Tem a correta

compreensão e é ciente da importância, pois se firma no ensino das Escrituras. O autor,

em sua ambiência, percebe que o ensino do PRC é negligenciado por muitas igrejas

presbiterianas. E em outras denominações é totalmente ignorado. O que é um erro grave

percebido desde muito por Calvino e pelos Puritanos. O culto não firmado na Palavra é

pecado. Por isso a IPB tem instituído documentos que ensinam o culto com base no

PRC, ou seja, um culto bíblico.

A IPB tem ordinariamente em seu culto público a leitura da Palavra de Deus, a pregação

desta Palavra, orações, o uso dos cânticos sagrados e as ofertas. Bem como a

ministração dos sacramentos (Batismo e Santa Ceia) ordenados pelo Senhor Jesus. Está

forma de culto é mais confessional e calvinista. Ela é bíblica e alterá-la sem apoio na

Palavra, única regra de fé e prática é pecado.

Segundo Hermisten Maia os elementos do culto “normalmente” usados na IPB, ou seja,

não são obrigatórios, são:

“1. Adoração: (Chamada a adoração e adoração propriamente dita)

2. Contrição: (Confissão dos pecados)

3. Louvor: (Ação de Graças, Aqui pode ser colocada a Consagração dos

Dízimos e/ou ofertas)

4. Edificação: (Prédica: Leitura e Exposição da Palavra)

5. Consagração: (Dedicação. Manifestação litúrgica da Igreja com seu

“Amém” aos ensinamentos Bíblicos; Celebração da Santa Ceia).” (COSTA,

1987, pg. 34)

No culto da IPB as Escrituras Sagradas ocupam um lugar preeminente. A Palavra é

central e disto surge a preocupação com cânticos e orações harmônicos com as

Escrituras. Bem como uma mensagem que exponha as verdades das mesmas Escrituras

(COSTA,1987, pg. 34-40). E a ocupação da Palavra do centro instrutor do culto,

conforme o PRC, se faz por obediência e temor ao Deus que era, que é e há de ser. É

temer àquele que condenou todos os que não fizeram da Palavra o PRC.

64

4.3.1 OS PRINCÍPIOS DE LITURGIA DA IPB

Os princípios de liturgia da IPB constam na Constituição. Esta Constituição data de

1950 e foi promulgada em reunião do Supremo Concílio. Objetiva “a promoção da paz,

disciplina, unidade e edificação do povo de Cristo, elaboramos, decretamos e

promulgamos para glória de Deus a seguinte Constituição da Igreja Presbiteriana do

Brasil” (Constituição da IPB).

No que diz respeito ao culto, os princípios de liturgia, declaram a importância de

guardar o domingo para que se tome parte no culto público. Também chama a atenção

para o templo. Este deve ter dedicação exclusiva ao culto pois o Senhor Jesus a declara

Casa de Oração a todas as gentes.

No que diz respeito ao culto público, os princípios de liturgia da IPB, estão em

harmonia com: a doutrina do somente as escrituras, a teologia reformada e calvinista, os

padrões de Westminster e a tradição presbiteriana. Pois todos anelam cumprir a vontade

de Deus e sabem ser condenável qualquer outra forma de adoração. Segue trecho da

Constituição da IPB com relação aos princípios de Liturgia.

“CAPÍTULO III - CULTO PÚBLICO - Art.7º - O culto público é um ato

religioso, através do qual o povo de Deus adora o Senhor, entrando em

comunhão com Ele, fazendo-lhe confissão de pecados e buscando, pela

mediação de Jesus Cristo, o perdão, a santificação da vida e o crescimento

espiritual. É ocasião oportuna para proclamação da mensagem redentora do

Evangelho de Cristo e para doutrinação e congraçamento dos crentes. Art.8º -

O culto público consta ordinariamente de leitura da Palavra de Deus,

pregação, cânticos sagrados, orações e ofertas. A ministração dos

sacramentos, quando realizada no culto público, faz parte dele. Parágrafo

Único - Não se realizarão cultos em memória de pessoas falecidas.”

Podemos perceber pela citação acima que o padrão de culto da IPB é harmônico com o

pensamento de culto de sua Confissão de Fé bem como de João Calvino e John Knox. É

um culto simples que busca seus elementos na Palavra de Deus.

4.3.2 MANUAL DO CULTO DA IPB

65

O manual do Culto da IPB foi elaborado por uma comissão nomeada pelo Supremo

Concílio. Portanto o mesmo só pode ser alterado por uma reforma constitucional. Ou

seja, de forma direta o PRC faz parte do documento maior da IPB. O Manual do Culto

apresenta a seguinte forma para o culto dominical.

1. O dirigente, ao iniciar o culto, deve convidar a igreja a oração.

2. “O hino será anunciado assim

– Cantemos em louvor ao Deus triúno o hino 8, do Novo cântico (como exemplo)”

3. A leitura das Escrituras será anunciada da semelhante forma:

- Vou ler para nossa instrução a Palavra de Deus como se acha em Is 6.1-7

-Segue-se a leitura do texto

4. Depois da leitura, o povo é convidado a orar

- Oremos

5. Em seguida procede-se à leitura bíblica

- Leiamos na Palavra de Deus o Salmo 51

6. Acabada a oração e leitura, será anunciado e cantado o hino 67 (como exemplo)

- Cantemos em louvor a Deus o hino 67 do hinário Novo Cântico

7. Depois do hino será pronunciado um Sermão

8. Acabado o pronunciamento do Sermão, far-se-á oração. O dirigente dirá:

- Oremos (pode ser em uníssono o salmo 103)

9. Terminada a oração, cantar-se-á um hino, anunciado do seguinte modo:

- Louvemos a Deus, cantando o hino 88 do hinário Novo Cântico (como exemplo)

10. Oração – Segue o exemplo abaixo

- A ti, que és poderoso para nos conservar sem pecado e para nos apresentar

ante a vista da tua glória, imaculados com exultação na vida de nosso Senhor

Jesus Cristo; a ti, único Deus, Salvador nosso, por Jesus Cristo nosso Senhor,

seja dada glória e magnificência, império e poder, antes de todos os séculos, e

agora, e para todos os séculos dos séculos. Amém.

11. O ministro poderá convidar o povo a se pôr de pé e impetrará sobre ele a bênção.

4.3.3 CARTA PASTORAL E TEOLÓGICA SOBRE LITURGIA NA IPB

66

No ano de 2008 a Comissão Executiva do Supremo Concílio da IPB, em reunião

ordinária, pronunciou-se a respeito de alguns documentos pedindo orientação sobre

aspectos do culto como: dança litúrgica, coreografia e palmas.

A Comissão Executiva de 2008 constituiu uma comissão especial com o seguinte

objetivo:

Elaborar texto de caráter pastoral e teológico quanto à liturgia, observandoinclusive: danças, coreografias, expressões fortes e palmas, seguindo osprincípios já estabelecidos pelos Símbolos de Fé e das decisões do SC e dasua CE, inclusa a decisão CLXXXVII – CE-SC/IPB-2007, prestandorelatório ao Supremo Concílio em sua próxima reunião ordinária.(COMISSÃO EXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008,p.1) Grifo do Autor

A comissão especial não tinha como propósito estabelecer novos princípios de liturgia.

A igreja tem seus princípios de liturgia em sua regra de fé e prática conforme nos diz a

confissão. A IPB considera suficiente o que é tratado sobre Culto na Confissão de

Westminster, Catecismos e em seus princípios de liturgia. Ela limitou-se neste

documento a pronunciar-se “aos oficiais e aos membros arrolados quanto às expressões

físicas no culto, a saber, danças, coreografias, expressões fortes e palmas” (COMISSÃO

EXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.1). No que se refere ao

culto a Igreja Presbiteriana do Brasil declara de forma firme que são as Escrituras que

balizam o culto conforme compreendido pelo PRC.

“A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas relacionadas

entre si hierarquicamente por meio de concílios e que adota os mesmos

Símbolos de Fé. Embora não se busque a uniformidade absoluta nos cultos

das igrejas locais, tendo em vista que as Escrituras nos dão princípios de

culto e não uma ordem litúrgica pré-estabelecida, é desejável, todavia, a

busca e a manutenção da unidade tão necessária para preservar a identidade

bíblica e denominacional. Além do mais, existe a necessidade de se

fundamentar bíblica e teologicamente as decisões nessa direção, bem

como empregar-se um tom pastoral” (COMISSÃO EXECUTIVA DO

SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.2,’grifo nosso’).

67

Pela declaração a cima vemos que a IPB como igreja cristã adora a Deus, tem as

Escrituras como regra de fé e prática, mas também faz uso de sua Confissão de Fé, de

sua teologia reformada calvinista e da sua identidade denominacional que aponta para

os puritanos para formular sua decisão a respeito do culto. Qualquer prática diferente

constitui-se mais que um erro contra a IPB, é um erro contra o Senhor. Podemos

lembrar mais uma vez das palavras pronunciadas pelos puritanos: “Não queremos saber

daquilo que pode ser feito só porque a Bíblia não proíbe, mas queremos fazer só que ela

ordena” (CABUTO, 2007, p.4). Esta mesma visão conduzem os documentos sobre o

culto na IPB aida hoje.

4.3.4 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A carta pastoral inicia com o reconhecimento de que se encontram na Palavra de Deus

diferenças entre a vida cristã quanto a forma constante de Culto a Deus, o culto

individual e o culto público solene. A própria Confissão de Westminster reconhece isto

quando diz “Deus deve ser adorado tanto em famílias, quanto em secreto, e mais

solenemente em assembléias públicas”(CFW, XXI.6.). Todos estes modos de culto tem

por propósito servir a Deus, por intermédio de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo.

Porém o Culto Público, que é o tratado aqui, “é o ajuntamento solene do povo de Deus,

convocado para reunir-se em dia, hora e local estabelecidos, com o objetivo de prestar

serviço espiritual a Deus sob a liderança de pessoas especialmente designadas para tal.”

(COMISSÃO EXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.4). E é

sobre os elementos que constam do solene culto público que a Carta trata. As atividades

da vida cristã como culto não fazem parte da analise da carta.

4.3.4.2 O TEMPLO

Seguindo o que diz na Confissão (CFW, XXI.6), o culto público pode ser prestado em

qualquer lugar. O que o caracteriza é a sua convocação pública e não o local. Não

existem locais mais sagrados a semelhança do templo de Jerusalém. Isto não significa

um lugar qualquer. O lugar escolhido para o culto deve “levar em consideração a

conveniência, propriedade, facilidade, e outras circunstâncias que devem ser analisadas

68

sempre pelos princípios gerais da Bíblia e pelo bom senso” (COMISSÃO EXECUTIVA

DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.4).

4.3.4.3 A IGREJA COMO COMUNIDADE SOCIAL

As igrejas locais são uma viva expressão da igreja de Cristo. E, além disso, elas também

constituem-se em comunidades socialmente organizadas. E por isso admite-se que atividades

de cunho sociocultural façam parte da vida da igreja. Portanto não há erro algum em festas

relativas ao calendário público ou eventos que visam lazer e cultura. Nem mesmo atividades

que objetivam criar oportunidade de melhora profissional.

Mesmo reconhecendo que a IPB admite que se façam atividades de cunho sócio

cultural. Tais atividades “não devem ter lugar no culto, pois nem são elementos deste e

nem contribuem para que os referidos elementos sejam mais bem utilizados pelo povo

de Deus” (COMISSÃO EXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008,

p.5).

4.3.4.4 CULTO E CULTURA

Entende-se como a cultura de um povo o conjunto de crenças, valores, costumes,práticas, tradições, religiões e símbolos de determinado povo.

“Como tal, a cultura não deve ser percebida como algo moralmente neutro. Aqueda do homem afetou profundamente todas as dimensões de sua existência.As culturas, embora preservando valores morais e éticos bons por causa dagraça comum de Deus, refletem o atual estado do mundo caído e sem Deus,morto em ofensas e pecados e, por natureza, debaixo de sua santa ira econdenação. Muitos aspectos culturais são distorções da revelação natural deDeus (Rm 1.18-31)”.

Assim, os costumes culturais de um povo não devem ser usados como orientação do

culto revelado por Deus em sua Palavra. Como, por exemplo, as danças inseridas por

algumas religiões em seu culto. A regra de fé e prática são as Escrituras, a Palavra de

Deus, e nela devemos buscar os princípios de liturgia que dão forma ao Culto a Deus.

4.2.4.5 O CULTO PÚBLICO - O PRINCÍPIO REGULADOR DO CULTO

Ao tratar do PRC a carta pastoral lembra, de forma semelhante à Calvino, aos puritanos

e aos fundadores do presbiterianismo, quando se volta para a Palavra para responder os

69

questionamentos sobre o culto. Mais especificamente as ordenanças dos quatro

primeiros mandamentos. Pois neles constam as ordenanças básicas sobre o cuidado com

o culto. A partir disto citam a Confissão (CFW. XXI.1) cuja a parte principal diz: “o

modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado

pela sua vontade revelada”. E segue com a seguinte definição sobre o PRC.

“O conceito refletido nesta seção da Confissão de Fé tem sido chamado natradição reformada de “princípio regulador do culto”. Em linhas gerais, oprincípio regulador nos ensina que o culto que é aceitável a Deus é aqueleoferecido de acordo com sua vontade revelada nas Escrituras” (COMISSÃOEXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.6) grifo doautor

Todas as atividades ordenadas nas Escrituras com o propósito de adorar a Deus são

chamados “elementos de culto”. Em essência o culto do Antigo Testamento e do Novo

são o mesmo culto, mas com administração diferente. As cerimônias eram uma

prefiguração de Cristo, sua vida e obra. Elas não fazem parte do culto do Novo

Testamento, mas os princípios e elementos confirmados nele são utilizados como regra

no serviço a Deus.

Assim, o próprio Deus, por sua Palavra revelou quais são os elementos do culto que lhe

são agradáveis. Os elementos de culto que devem ser observados pela IPB são os

elencados em sua Confissão (CFW):

- orações

- leitura da Palavra de Deus

- pregação da Palavra de Deus

- cantar salmos, hinos e cânticos espirituais ou sagrados

- celebração da Ceia (quando houver)

- ministração do batismo (quando houver)

- juramentos religiosos

- votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais

- ofertas.

Além dos elementos de culto que são prescritos na Palavra. Existem nas Escrituras

circunstancias que foram deixadas para serem decididas pelos pastores e presbíteros.

70

Sobre os elementos e circunstâncias do culto o teólogo sistemático Louis Berkhof faz a

seguinte declaração:

“A Escritura estabelece os princípios gerais do culto de Deus, Jo 4.23; 1 Co

11.17-33; 14.40; 16.2; Cl 3.16 (?); 1 Tm 3.1-13; mas, na regulamentação dos

pormenores do serviço divino, permite-se grande latitude às igrejas. Elas

podem adaptar-se às circunstâncias, sempre tendo em mente, porém, que

devem cultuar publicamente a Deus de maneira mais bem ajustada ao

propósito de edificação. Em nenhuma situação os regulamentos da igreja

poderão contrariar as leis de Cristo” (BERKHOF, 1990, p. 599) .

As circunstancias envolvem o ambiente do culto como: arrumação, mobiliário,

decoração, uso de mídia, o horário do culto etc. Já outras circunstâncias são

relacionadas ao momento do culto como: uso de instrumentos musicais, cânticos através

de coros ou grupos.

A diferença entre elemento e circunstância de culto está no fato do primeiro ser parte

essencial do culto prescrita na Palavra e o segundo “dizem respeito aos passos

envolvidos na implementação e aplicação dos elementos e são dependentes destes”

(COMISSÃO EXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.8). E a

analise do que pode ser feito ou não no culto passa pela classificação em elemento ou

circunstância. Geralmente antes desta analise gera algum tipo de debate.

“Algumas atividades exercidas historicamente durante o culto da IPB têmsido alvo de controvérsia mais recente dentro da denominação, como aparticipação de corais, o uso de instrumentos musicais, o entoar hinos ecânticos contemporâneos em vez de exclusivamente os salmos, e aparticipação de mulheres cristãs no culto público, orando ou lendo asEscrituras. A Comissão Executiva da IPB, respondendo consulta sobre oassunto, declarou que a proibição destas coisas não encontra amparo nossímbolos de fé da Igreja e nem nos Princípios de Liturgia que regem seuculto, e que, portanto, o cântico coral, o acompanhamento instrumental, oshinos e cânticos, bem como a participação das mulheres cristãs nas orações eleitura da Palavra podem fazer parte da liturgia presbiteriana” (COMISSÃOEXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.8). Grifo doAutor

4.2.4.6 MUDANÇAS HISTÓRICAS NOS CULTOS

71

O culto público no decorrer da história recebeu certas mudanças por parte das igrejas

reformadas. Podemos verificar dentre estas mudanças a introdução de instrumentos

musicais como piano, violão e guitarra ou de percussão como a bateria. Além dos

instrumentos foram incluídos o canto coral e a condução do louvor por uma banda.

Outras alterações ocorreram pelo desuso como a peruca por parte dos pregadores e o

véu por parte das mulheres. Por motivo de saúde pública o cálice único foi substituído

pelo individual. Porém todas estas alterações foram em circunstâncias do culto. Os

elementos do culto em si continuam inalterados. As mudanças que “têm ocorrido no

culto ao longo da história da IPB não justifica a inclusão de novos elementos hoje, seja

a título de modernidade, adaptação, contextualização e renovação” (Carta Pastoral). As

circunstâncias do culto são importantes pois a sua função é permitir que o culto ao

Senhor aconteça adequadamente mas não devemos depositar nas mesmas um caráter

religioso.

4.2.4.7 PRINCÍPIOS DO CULTO ACEITÁVEL A DEUS

Ao verificar as condições que devem ser observadas no culto não foge a sua tradição.

Assim como Calvino e os puritanos, toma como base o ensino das escrituras. Isto

portanto inclui elementos e atitudes prescritas nas Escrituras. Isto significa então seguir

o ensino de Jesus para que adoremos “em espírito e verdade” (Jo 4.23-24). “Os

adoradores que ele busca são aqueles que o adoram com a atitude interior aceitável e de

acordo com a verdade por ele revelada aos judeus” (Carta Pastoral). A adoração a Deus

não é permissiva quanto a liberdade de imaginação e sentimentos pois isto configura

uma distorção do ensino de Jesus.

“As Escrituras também nos falam do culto que Deus não aceita. Este émarcado não somente pelos acréscimos e invenções humanos, mas pelahipocrisia (Is 1), pela inimizade nos corações dos adoradores (Mt 5.23-24),pelas divisões internas nas igrejas locais (ICo 1-4 e 11; Gl 5.14-15), pela faltade ordem e de inteligibilidade (ICo 14), pela entrega de ofertas quesimbolizam a falta de amor e de consagração a Deus (Ml 1), pela vida imoraldo povo e dos seus líderes (Ml 2) e servir ao Senhor de maneira displicente(Is 58.1-10; Mq 6.6-8; Gl 6.7)” (COMISSÃO EXECUTIVA DO SUPREMOCONCÍLIO DA IPB, 2008, p.10).

72

Quando a carta pastoral trata do modo aceitável de cultuar a Deus trás a informação de que,

além de elementos e circunstâncias, o culto requer uma transformação do coração.

4.2.4.8 EXPRESSÕES CORPORAIS NO CULTO

A carta foi provocada pela ausência de decisão sobre dança litúrgica, coreografia e

palmas. E com base no Princípio Regulador do Culto entende-se que somente as

Escrituras são regra de fé e prática. Também nos padrões de Westminster e mesmo no

próprio sistema presbiteriano, desenvolvimento da fé reformada que busca a Palavra

como fundamento, estas expressões corporais foram reprovadas. A carta lembra que os

reformadores retiraram do Culto de forma definitiva as dramatizações pois o meio

eficaz de transmissão da Palavra é a pregação.

Com relação a danças e coreografias a Carta Pastoral fundamenta sua decisão da

seguinte forma:

“As danças litúrgicas e as coreografias não estão incluídas na relação doselementos de culto citados nos nossos símbolos de fé. Também não se podeincluí-las nos cultos públicos a pretexto de serem meras circunstâncias. Asdanças não são circunstâncias ligadas à Palavra, pregada ou cantada, como sefossem uma encenação ou dramatização da mensagem de Deus, visto que nãocontribuem para que a Palavra seja mais bem compreendida pelo povo deDeus e têm a tendência, ao contrário, de obscurecer o seu significado e suamensagem, desviando o foco e a atenção da comunidade” (COMISSÃOEXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.12).

Fundamenta também a sua decisão, por igreja confessional que é, no Catecismo Maior

Pergunta 117 quando se pronuncia a respeito do Dia do Senhor e diz: o Domingo “deve

ser santificado por meio de um santo descanso por todo aquele dia, não somente de tudo

quanto é sempre pecaminoso, mas até de todas as ocupações e recreios seculares que

são lícitos em outros dias” (CMW P.117). E a despeito das danças e coreografias serem

tomadas como pretexto de encenação ou dramatização a Carta apega-se ao ensinamento

da CFW XXI. V quando diz:

73

“A leitura das Escrituras com o temor divino, a sã pregação da palavra e aconsciente atenção a ela em obediência a Deus, com inteligência, fé ereverência; o cantar salmos com graças no coração, bem como a devidaadministração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo - sãopartes do ordinário culto de Deus (...)” (CFW XXI. V.)

Dentro da mesma interpretação são inclusos as palmas e aplausos expressões corporais

como meneios do corpo e gingas. Tais expressões tem como tendência a distração dos

adoradores sendo consideradas, portanto inconvenientes pelo Supremo Concílio da IPB.

“…são inconvenientes todas as formas que possam distanciar os adoradoresdesses princípios, sendo que dentre essas formas inconvenientes, conforme jádeclarado pelo SCI1998, encontram-se as expressões corporais acentuadas,podendo ser incluídas entre as quais práticas tais como danças litúrgicas ecoreografias… (CE-SC/IPB-2007 – Doc. CLXXXVII)….reafirmar aresolução CLXXXVII – CE-SC/IPB-2007, que considera inconveniente noscultos presbiterianos a prática de danças litúrgicas e coreografias. (CE-SC/IPB – 2008 – Doc. CXXXII)” (COMISSÃO EXECUTIVA DOSUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.13).

4.2.4.9 ORIENTAÇÕES PASTORAIS A SEREM SEGUIDAS PELAS IGREJAS

LOCAIS

As orientações do Supremo Concílio (SC) levam em consideração evidencias bíblicas e

confessionais pertinentes ao culto. Estas orientações determinam que os pastores,

presbíteros e diáconos negligenciem o culto público (Hb10.25) e que se preparem para o

mesmo como consta nos catecismos.

O SC reconhece a dança como uma expressão cultural e que podem, como atividade

cultural, ser promovida na igreja. Mas não no culto público e não de forma sensual ou

escandalosa. Orienta que se evitem expressões fortes como meneios e gingas pois

tendem a distrair a atenção do adorador. E quanto as palmas diz:

“O Supremo Concílio determina aos seus pastores e concílios a que instruamessas igrejas que as palmas não indicam maior liberdade espiritual no culto,resumindo-se a mero acompanhamento rítmico, onde couber” (COMISSÃOEXECUTIVA DO SUPREMO CONCÍLIO DA IPB, 2008, p.15)

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O culto a Deus deve ser prestado de acordo com a Palavra. E cabe aos pastores e

concílios a orientação e “em todas as coisas, usem de sabedoria, bom senso e prudência

para evitar conflitos, divisões e contendas no meio do povo de Deus”. O SC suplica a

Deus para que a denominação em todos os regiões do nosso país goze de paz e

harmonia.

4.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE A IPB E O PRC

Desde surgimento do presbiterianismo com John Knox as Escrituras tem o seu devido

lugar. Elas são a base de conhecimento que estrutura a igreja em todos os aspectos como

diz o sistema presbiteriano. Também não há de fugir desta fundamentação o culto. Os

intentos do homem não são puros e só existe segurança nos ensinamentos das

Escrituras. Isto é ensinado pela própria Palavra e por este motivo a IPB não introduz

nada além deste ensinamento. Os cânticos e hinos devem ter sua estrutura arraigada na

Palavra. A forma simples de cultuar a Deus preocupa-se em fazer tudo o que as

Escrituras mandam. Também se preocupa em não introduzir “fogo estranho” ou forçar a

consciência dos cristãos os obrigando a participar de elementos de culto estranhos a

Palavra. Como se estes puros fossem ou se mal não fizessem por serem permitidos fora

do contexto do culto como dança. A IPB entende e informa através de seus documentos

que recebe as santas Escrituras como o PRC. Reconhece estar nelas e somente nelas

tudo quanto Deus requer no culto e considera agradável. O dia do culto é dever da igreja

buscar ciência na Palavra como encontramos no hinário Novo Cântico quando diz na

primeira estrofe do hino A Igreja em adoração.

Eterno Pai, teu povo CongregadoHumilde entoa o teu louvor aquiNo dia para o culto reservado,Com esperança olhamos para ti.Teu santo livro, ó grande Deus, tomamosCom fé singela e reverente amor,E, como atentos filhos, procuramosCiência na palavra do Senhor(Hinário Novo Cântico, hino 3)

Podemos afirmar que a IPB utiliza PRC por reconhecer a soberania de Deus no culto. A

IPB reconhece que só Jesus é o caminho e que só o percorremos através da Palavra. E

só pela regulação da Palavra pode o culto ser centrado em Cristo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Princípio Regulador do Culto, segundo o nosso entendimento, apresenta o zelo que

Deus tem sobre o culto, ou seja, a adoração ao seu santo nome. É Ele, o Deus da

Aliança, quem define os termos, as regras, do movimento da alma humana, que junto a

outras, volta-se para prestar culto. Através das Escrituras divinamente inspiradas,

autoritatívas e totalmente suficientes para ensinar como deve ser o culto.

Quando tratamos dos benefícios adquiridos pela reforma trazidos até nós principalmente

por Calvino, nós reconhecemos que, mesmo através de um desenvolvimento teológico

profundo, o culto continua bíblico. O culto continua atrelado às práticas das sinagogas

freqüentadas por Jesus. O culto deve continuar atrelado às práticas da igreja apostólica.

Por que a fé demonstrada pela prática da Palavra é o que garante ser a adoração em

espírito e em verdade. Isto não pode ser esquecido.

Este trabalho também é importante pois esclarece que utilizar de inovação ou

contextualização no culto de forma que acrescente ou retire o que a Palavra é pecado. O

modo aceitável de adoração é instituído por Deus. É inaceitável adorar por invenções

dos homens ou mesmo sugestões de satanás. Nada não prescrito nas Escrituras é

aceitável! A adoração é de fato limitada pela Palavra de Deus.

Em nossos dias muito é dito sobre uma nova reforma ou avivamento da igreja brasileira.

Quando vemos a introdução de elementos estranhos ao culto atrelada a falta de uma

ética cristã devemos nos lembrar que o reformador Calvino disse que a reforma passa

pela compreensão de como Deus deve ser adorado. E ele deve ser adorado conforme a

sua santa Palavra ensina. E então chegar a mesma conclusão que os puritanos fazer

somente o que a bíblia ordena fazer.

Quanto a IPB vemos sua liderança, através da carta que trata do PRC, seu empenho por

obedecer a Deus e o buscá-lo em espírito e em verdade. A IPB é confessional e é clara

quanto a sua forma de culto. Seus elementos e circunstancias de culto são claros e não

precisam de modificações. Cabe a liderança das igrejas fidelidade a própria igreja, a

nossa teologia e antes de tudo as sagradas escrituras. O assunto culto sempre foi tratado

com seriedade pelos reformadores e não pode ser negligenciado em nossos dias.

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A importância deste trabalho se dá pela elucidação do assunto do PRC. Tal elucidação

se dá pela definição apurada do que o Princípio Regulador do Culto e comprovação de

que é uma doutrina bíblica. Também por demonstrar que encontramos o alinhamento

desta doutrina nas Institutas da Religião Cristã de Calvino. Ele coloca Escrituras no seu

lugar devido. Vemos também nos seus comentários o quão sério é negligenciar a

adoração. Ou mesmo o quão grave é utilizar elementos estranhos aos ensinamentos de

Deus. O sistema presbiteriano com seu culto simples com base na soberania de Deus

aponta para o uso do PRC. E que mesmo após nos aproximarmos dos quinhentos anos

da reforma protestante esta igreja continua fiel a Palavra e seus símbolos de fé.

Academicamente este trabalho se torna relevante por fazer um levantamento do

pensamento reformado relativo ao PRC. Levantamento este que explica o PRC nos

contextos do culto Antigo e Novo Testamento. E dá instruções de como o culto era feito

na sinagoga e na igreja apostólica. Demonstrando que o culto se dava sempre com a

orientação de Deus. Trata do pensamento de Calvinista sobre culto em seus documentos

fontes. Também do surgimento do PRC com os puritanos. Bem como de enfocar a a

relação da IPB com o PRC.

Este trabalho cumpre seu objetivo geral em tornar-se um instrumento de orientação a

todos os cristão que desejam compreender o culto cristão. Estes podem aprender sobre o

PRC em seus termos de elementos e circunstancias de culto. Verificar como era

realizado o culto na antiga e nova aliança. Bem como entender como os reformadores,

puritanos e presbiterianos entenderam e aplicaram o PRC. Atende a todo o seguimento

cristão na orientação sobre culto pois não é só um trabalho denominacional mas bíblico

e histórico.

Já em seu objetivo específico verificamos que a IPB produz conhecimento do PRC. E

produz com fidelidade a palavra a própria Confissão de Fé de Westminster quando trata

no capítulo XXI sobre culto. O que entendemos é que se faz necessário e urgente o

ensino das Escrituras como autoridade final e definitiva sobre culto. Isto corrigirá

eventuais desvios por desconhecimento. Mais do que o que não podemos fazer devemos

ensinar o que fazemos e motivos! Conhecendo a verdade bíblica sobre a adoração e

sendo fiel a esta há de se identificar os desvios com mais facilidade. Não só pelos

pastores e presbíteros mas por qualquer membro e assim refutá-los e rejeitá-los.

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O autor também se arvora, antes de encerrar de fato este trabalho, a sugerir novas

abordagens do tema do PRC. A primeira seria um trabalho tratando de forma mais

profunda o pensamento de Calvino sobre a regulação da Palavra sobre o culto. Esta

buscaria em outros materiais e também trabalharia com mais profundidade a forma

litúrgica aplicada por Calvino a Genebra. Também seria muito interessante verificar na

história dos pré-reformadores possíveis controvérsias sobre o culto que apontem para o

retorno do mesmo as Escrituras. Outra abordagem sugerida seria a aplicação do PRC em

outras denominações reformadas ou o aprofundamento do PRC dentro do contexto

puritanos.

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