print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é...

24
1 Ação ago/2005 A maior crise política vivida pelo País desde a redemocratização atingiu em cheio o Congresso Nacional. Apesar de terem se originado no Executivo, foi sobre o Poder Legislativo que as denúncias de corrupção caíram como uma bomba. A crise ainda levantou questões filosóficas: pode existir ética na política? Casa com telhado de vidro III Fórum Nacional de Debates ANABB: Discussões promovidas pela Associação apontaram problemas e levantaram as soluções que funcionários e especialistas esperam para o Banco do Brasil, a Previ, a Cassi e a campanha salarial 2005/2006. A maior crise política vivida pelo País desde a redemocratização atingiu em cheio o Congresso Nacional. Apesar de terem se originado no Executivo, foi sobre o Poder Legislativo que as denúncias de corrupção caíram como uma bomba. A crise ainda levantou questões filosóficas: pode existir ética na política? Casa com telhado de vidro

Transcript of print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é...

Page 1: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

1Ação ago/2005

A maior crise política vivida pelo

País desde a redemocratização

atingiu em cheio o Congresso

Nacional. Apesar de terem se

originado no Executivo, foi sobre o Poder

Legislativo que as denúncias de corrupção

caíram como uma bomba. A crise ainda

levantou questões filosóficas: pode

existir ética na política?

Casacomtelhadodevidro

III Fórum Nacional de Debates ANABB: Discussões promovidas

pela Associação apontaram problemas e levantaram as

soluções que funcionários e especialistas esperam para o Banco

do Brasil, a Previ, a Cassi e a campanha salarial 2005/2006.

A maior crise política vivida pelo

País desde a redemocratização

atingiu em cheio o Congresso

Nacional. Apesar de terem se

originado no Executivo, foi sobre o Poder

Legislativo que as denúncias de corrupção

caíram como uma bomba. A crise ainda

levantou questões filosóficas: pode

existir ética na política?

Casacomtelhadodevidro

Page 2: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

2 Ação ago/2005

Este espaço destina-se à opinião dos leitores. Porquestão de espaço e estilo, as cartas podem serresumidas e editadas. Serão publicadas apenascorrespondências assinadas e que sejam selecio-nadas pelo Conselho Editorial da ANABB. As car-tas que se referem a outras entidades, comoCassi e Previ, serão a elas encaminhadas.

III FÓRUM NACIONAL DEDEBATES

Quero parabenizar a todos vocês pelaqualidade e pela organização do IIIFórum Nacional de Debates ANABBrealizado por essa entidade.Carlos Emílio Flesch

Porto Alegre - RS

Registro o agradecimento de ter partici-pado do III Fórum. Além da importânciados debates e do entrechoque dasidéias, gostei bastante da maneira co-mo foi organizado e conduzido. Foibom rever a diretora Graça Machado ever que ela continua com as mesmasdeterminação e coragem de quandocomeçamos a lutar pela história e pelofuturo do Banco do Brasil. Cumprimen-tos aos demais amigos e a toda a equi-pe da ANABB pelo sucesso do evento.Edson Mendes de Araújo Lima

Manaus - AM

PREOCUPAÇÃO EREVOLTAFui funcionário do BB por 30 anos e meaposentei em 99. Sempre tratei das“coisas” do Banco do Brasil com ética,profissionalismo e responsabilidade,confiando que todos na empresa adqui-riam estes mesmos bons hábitos. Hoje,fico preocupado com as notícias sobre

a área de marketing do Banco do Brasil,a Visanet, e, principalmente, com as de-núncias de má gestão dos recursos daPrevi. Em reuniões pelo País, os diri-gentes sempre afirmaram que tudo iabem. Mas, vendo as acusações contraum diretor do Banco que já passou pelaPrevi, fico extremamente preocupadocom o nosso futuro. Como diz o ditado,onde há fumaça há fogo. Se temos pro-blemas, que sejam apurados e os res-ponsáveis penalizados. Antonio Carlos Costa

Aracaju - SE

CORRUPÇÃO NOGOVERNO

Gostaria de sugerir que a ANABB crieum grupo de trabalho para analisar osnegócios da Previ, e se for o caso, daCassi, eventualmente relacionados coma corrupção que grassa no GovernoFederal.Cézar Cório di Buriasco

Londrina - PR

NR: A ANABB possui cinco GruposAssessores Temáticos, dos quais doistêm o trabalho de analisar tudo o queocorre nas nossas entidades. A crisepolítica, que tem possíveis raízes emnegócios feitos em estatais e fundos depensão, entre eles, a Previ, é um dosassuntos que esses grupos têm acompa-nhado e averiguado.

HORA DE COMEMORAR

Quero agradecer aos competentesadvogados que atuam em defesa dosfuncionários e ex-funcionários do BBque, como eu, saíram do Banco,pressionados, pelo PAQ/PDV. Odinheiro chegou quando estavaconcluindo o curso de CiênciasContábeis pela Universidade Federal doPiauí e não tinha como custear asdespesas de formatura. Como eu disseno fim do meu discurso de formatura:“...podem gritar bem alto: vencemos,somos campeões”! Valeu ANABB!José de Arimatéa Araújo Vieira

Parnaíba - PI

Recebi o cheque referente à açãoindividual movida por essa Associaçãoem meu nome. Não poderia deixar deagradecer-lhes, mais uma vez, pelacompetência, como ocorreu no caso doFGTS - Planos Econômicos. É mais umaprova inequívoca do esforço em serviros associados. Sem a ajuda de vocês,não nos seria possível obter tais vitóriasou teríamos a maior dificuldade já queestamos longe dos tribunais. Nem sabe-ríamos como e quando agir. Enquantovemos tantas pessoas se locupletaremcom nosso dinheiro, causa-nos satisfa-ção sentir que parte de nossos direitosnos é restituída.Nereu Epifânio Paschoal

Piracicaba - SP

Page 3: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

3Ação ago/2005

Valmir CamiloPresidente da ANABB

DIRETORIA-EXECUTIVAVALMIR CAMILOPresidente

GRAÇA MACHADODiretora Administrativa e Financeira

ÉLCIO BUENODiretor de Comunicação e Desenvolvimento

DOUGLAS SCORTEGAGNADiretor de Relações Funcionais, Aposentadoriae Previdência

EMÍLIO S. RIBAS RODRIGUESDiretor de Relações Externas e Parlamentares

CONSELHO DELIBERATIVOANTONIO GONÇALVES (Presidente)Ana Maria Dantas LeiteAugusto Silveira de CarvalhoCamillo Calazans de MagalhãesCecília Mendes Garcez SiqueiraDenise Lopes ViannaÉder Marcelo de MeloFernando Amaral Baptista FilhoHenrique PizzolatoInácio da Silva MafraJosé Antônio Diniz de OliveiraJosé BranissoJosé Sampaio de Lacerda JúniorLuiz Antonio CareliMário Juarez de OliveiraMércia Maria Nascimento PimentelPaulo Assunção de SousaRomildo Gouveia PintoTereza Cristina Godoy Moreira SantosVitor Paulo Camargo GonçalvesWillian José Alves Bento

CONSELHO FISCALCLÁUDIO JOSÉ ZUCCO (Presidente)Antonio Carlos Lima RiosAntonia Lopes dos SantosHumberto Eudes Vieira DinizNaide Ribeiro JuniorOsvaldo Petersen Filho

DIRETORES ESTADUAISMarcos de Freitas Matos (AC)Ivan Pita de Araújo (AL)Marlene Carvalho (AM)Pedro Paulo Portela Paim (BA)Francisco Henrique Ellery (CE)Elias Kury (DF)Sebastião Ceschim (ES)Saulo Sartre Ubaldino (GO)Miguel Ângelo R. e Arruda (MA)Francisco Alves e Silva - Xixico (MG)Edson Trombine Leite (MS)José Marcos de Lima Araújo (PA)André Luiz de Souza (PB)Luiz Gonzaga Ferreira (PE)José Ulisses de Oliveira (PI)Aníbal Rumiato(PR)Antonio Paulo Ruzzi Pedroso (RJ)Herminio Sobrinho (RN)Francisco Assumpção (RO)Edmundo Velho Brandão (RS)Carlos Francisco Pamplona (SC)Emanuel Messias B. Moura Júnior (SE)Armando Cesar F. dos Santos (SP)Crispim Batista Filho (TO)

ANABB - SCRS 507, bl. A, lj. 15 CEP: 70351-510 Brasília/DF

Atendimento ao associado: (61) 3442.9696 Geral: (61) 3442.9600

Site: www.anabb.org.br E-mail: [email protected]

Redação: Ana Cristina Padilha e Fernando Ladeira

E-mail: [email protected]

Edição e Editoração: Optare Comunicação

Editora e jornalista resp.: Renata Feldmann Revisão: Maria Júlia Luz

Periodicidade: mensal Tiragem:102 mil Capa: Keystone

Impressão: Gráfica e Editora Positiva Fotolito: Colorpress

É notório o papel que o Banco do Brasil de-sempenha para a sociedade brasileira. Além dapresença em todo o território nacional com forteparticipação na economia do interior do País, o

Banco é o grande financiador dos setores produtivos que exportam e são respon-sáveis pelo superávit recorde do comércio exterior brasileiro. Mas nunca é de-mais lembrar que os funcionários do BB são os grandes aliados do governo nes-sa história. Não fossem os funcionários, que pensam o futuro e saem em defesados princípios da instituição, o BB já teria perdido o rumo.

No III Fórum Nacional de Debates, promovido pela ANABB, especialistasconvidados voltaram a discutir questões básicas que envolvem o Banco. Até queponto o BB deve privilegiar a atuação no mercado internacional para conseguircrescer? Ceder às regras do mercado não é o mesmo que afastar-se do seu pa-pel social de combate à fome e à miséria? Questões como essas foram ampla-mente abordadas durante o Fórum mas, que fique claro: esse debate apenas co-meçou. Como defendeu um palestrante, as mudanças que o Banco deve fazerdevem ser uma escolha e uma exigência de todos os brasileiros.

Desse grupo, claro, fazem parte os milhares de funcionários do BB, que têmmuito com o que se preocupar. São eles os segregados por políticas diferencia-das de benefícios, como em relação à Cassi. São eles que têm de lutar por umsalário mais justo, definindo como recuperar a inflação e, até mesmo, aquelasperdas passadas que reduziram a remuneração paga pelo Banco a um patamarnunca visto antes. Negociar com os trabalhadores dos bancos privados ou emmesas separadas? Como prever qual forma trará o melhor resultado?

Muitas vezes, os temas acabam levando a discussões acaloradas, comoaconteceu no painel sobre a Previ. Mergulhado em denúncias de corrupção, oFundo de Pensão é mais que uma fonte de investimentos usada (e abusada) porinterlocutores do governo federal a seu bel prazer e a qualquer custo. A Previ só éo maior fundo de pensão do País porque somos nós, funcionários do Banco doBrasil, que a sustentamos. E somos nós, os verdadeiros donos do Fundo, que te-mos de apontar como ele deve ser administrado.

Esta edição do Jornal Ação traz a cobertura completa, e em detalhes, doFórum. E se você não participou das discussões, está na hora de enviar impres-sões, dar sua opinião e ajudar, não a construir o futuro, mas a reconstruir o pre-sente. E, nisso, temos urgência.

Em busca dorumo perdido

Page 4: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

4 Ação ago/2005

“Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados na voz de Amália Rodrigues em gravação de 1956, o se-nador Jefferson Péres (PDT-AM) recusou-se a interrogar DelúbioSoares durante seu depoimento na CPI dos Correios, em julho, ale-gando que seria “inútil” tentar arrancar do ex-tesoureiro do PT con-fissões sobre o esquema de financiamento ilegal montado pelo parti-do.

Desde então, apesar dos estratagemas de despiste e do si-lêncio dos personagens centrais do escândalo, as investigaçõesno Congresso avançaram, confirmando, ainda que em parte, adenúncia do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de que haviaum esquema de compra de parlamentares em troca de apoio aogoverno – que ele batizou de “mensalão”. As revelações causa-ram perplexidade e desalento, ecoando os versos evocados porPéres, que talvez merecessem apenas um reparo: “tudo isto existe,tudo isto é triste, tudo isto é fato”.

O “tsunami político” desencadeado pelo mensalão já provo-cou uma extensa lista de baixas no Executivo, começando pelo ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. O escândalo derrubou tam-bém a cúpula do PT e mergulhou o partido na maior crise dos seus 25anos. De quebra, atingiu os principais líderes dos partidos da “basealiciada” no Congresso (PTB, PL, PP e PMDB). A maior vítima dacrise, no entanto, pode acabar sendo o próprio Congresso, quevirou alvo de chacota e execração pública.

Mas se os fatos estão deixando o País estarrecido diante deuma teia tão vasta de corrupção, que envolveu meia dúzia de par-tidos políticos e movimentou somas vultosas, ninguém em Brasíliase arrisca a prever qual será o seu desfecho. Também permane-cem incertas as conseqüências que a atual onda de escândalosterá para o processo político, particularmente para o desenlacedas eleições presidenciais de 2006. A própria sobrevivência dogoverno Lula está em jogo.

por Paulino Motter

Congresso naberlinda

O Poder Legislativo

foi o que teve a ima-

gem mais desgastada

pela corrupção. O

Congresso tornou-se

o alvo da indignação

popular.

Keystone

Page 5: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

5Ação ago/2005

“Ainda é uma incógnita como a socieda-de vai se posicionar diante dessa fraude histó-rica que foi o governo do PT e como isso vairepercutir para os demais partidos de esquer-da”, admite o deputado Roberto Freire (PPS-PE). Para o senador Jefferson Péres, o ladobom da crise é que “ela está mostrando oamadurecimento político da sociedade brasi-leira.” “Uma diferença básica em relação aopassado – observa – é que a indignação con-tra a corrupção não leva a opção por solu-ções anti-democráticas, pois há consenso deque as correções devem ser feitas dentro doEstado de Direito. O eleitorado será mais sele-tivo nas próximas eleições.”

O senador amazonense, que chegou apropor um pacto de governabilidade quandoa crise se agravou, destaca, ainda, como fatorpositivo, a solidez das instituições. “O Congres-so está usando seu poder investigativo. A Polí-cia Federal está atuando como órgão de Esta-do e não de governo, com uma autonomiaque não tinha há dez anos. O Ministério Públi-co atua com grande independência. Os ór-gãos investigativos estão funcionando bem. So-mente o Poder Judiciário, que é o órgão julga-dor, ainda é muito ineficaz”, critica Péres.

CRISE EXPORTADA PARA OCONGRESSO

Embora tenha começado no Executivo,com a divulgação de um vídeo mostrando umfuncionário de uma estatal recebendo propi-na, o escândalo caiu como uma bomba noCongresso quando a CPI passou a desvendaras ramificações do esquema milionário de fi-

nanciamento ilegalmontado pelo PT.O surgimento dosnomes de quaseduas dezenas deparlamentares quereceberam recur-sos do “valeriodu-to” levou a crisedefinitivamente pa-ra dentro do Con-gresso.

Em certa medida, oExecutivo foi bem-sucedi-do nessa estratégia. Coma responsabilidade deconduzir as investigaçõese punir os membros en-volvidos no esquema, oLegislativo acaba arcan-do com maior desgasteperante a opinião públicapela lentidão das CPIs e dos processos por quebra do deco-ro parlamentar. A cobertura ao vivo dos depoimentos nasCPIs é outro fator que contribui para a exposição do Con-gresso. Mas para o senador Jefferson Péres isso é positivo,pois mostra que o Legislativo é o mais transparente dos po-deres e atua às vistas do povo. Por outro lado, ele reconhe-ce que tanta visibilidade faz com que o Poder Legislativo sejao mais visado e o mais cobrado. “Aqui estão representadastodas as contradições da sociedade brasileira”, concorda odeputado Roberto Freire.

Por isso, a mídia e os formadores de opinião erramquando transformam o Congresso no principal alvo da indig-nação popular. É o que garante Cláudio Weber Abramo, di-retor-executivo da Transparência Brasil, organização não-go-vernamental dedicada ao combate à corrupção. Segundoele, “no centro da corrupção está o Executivo, que é quemcontrola as verbas e a aplicação dos recursos públicos”.

Para sustentar sua afirmação, Abramo cita as estatísti-cas sobre a cobertura da corrupção feitas pelo projeto “Deuno Jornal”, iniciativa da Transparência Brasil que monitoraos 60 principais jornais de todos os estados. De 1º de julhode 2004 a 22 de agosto de 2005, 64% da cobertura sobrecorrupção se referiam a denúncias envolvendo as três esfe-ras do Executivo (Federal, Estadual e Municipal), 30% o Le-gislativo, 5% o Judiciário e 1% o Ministério Público.

O fato, porém, é que ter a imagem do Congresso seve-ramente desgastada é muito ruim para a jovem democraciabrasileira. No entanto, parlamentares respeitados de diver-sos partidos, ouvidos pelo Jornal Ação, disseram acreditarque o Legislativo poderá sair fortalecido desta crise. “Na me-dida em que souber, com equilíbrio e firmeza, conduzir ostrabalhos da CPI e tomar as medidas que precisam ser to-madas, o Congresso vai recuperar a credibilidade”, garanteo senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

A opinião é compartilhada pelo senador Pedro Simon(PMDB-RS), que tem cobrado maior celeridade nos traba-lhos das CPIs e agilidade nos processos por quebra do de-coro parlamentar contra os deputados que receberam re-

Para o deputado Roberto Freire,reforma política deve ser feita só em2006 e por uma assembléia exclusiva

O senador Eduardo Suplicy:Congresso sairá fortalecidose punir culpados

Agên

cia

Bras

il

Agên

cia

Bras

il

Page 6: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

6 Ação ago/2005

cursos de caixa dois do PT. Em discurso no plenário do Se-nado, no dia 31 de agosto, ele advertiu que a sociedadenão vai tolerar qualquer tentativa de “acordão” entre os lí-deres com o objetivo de “passar por cima da CPI e limitarsuas conseqüências ao mínimo possível”.

Para o deputado Roberto Freire, o risco de que tudoacabe em pizza está descartado, pois a opinião pública estávigilante. “Eu acredito que teremos a punição dos parlamen-tares envolvidos. Mas não se pode vislumbrar até este mo-mento se haverá o impeachment, pois o julgamento do pre-sidente tem um impacto muito maior do que a cassação deparlamentares e a sociedade ainda está dividida sobre o as-sunto”, afirma.

O presidente do PPS considera a atual crise a mais gra-ve já enfrentada pelo País desde a redemocratização, poisenvolve o sistema político como um todo. Embora aponte al-gumas similaridades com o escândalo que culminou com oimpeachment do ex-presidente Fernando Collor, ele avalia

que a crise atual é maisampla em razão doenvolvimento dos prin-cipais partidos de sus-tentação do governo edo Legislativo. “O dile-ma é que ao mesmotempo em que tem umpapel essencial na so-lução da crise, o Con-gresso está mergulha-do nela”, analisa Freire.

“Se forem cassa-dos muitos deputadosenvolvidos, se houveruma depuração, creio

que o Congresso pode sair fortalecido. Se forem poucos ospunidos e insatisfatórios os resultados das CPIs, o prestígioda instituição estará lá embaixo”, avalia o senador JeffersonPéres. Ele teme, porém, que o sentimento popular de perple-xidade e indignação criado pela avalanche de escândalosacabe gerando apatia e descrença noeleitorado. “Ao mesmo tempo em quehá um sentimento generalizado de re-volta contra a corrupção, não se notanenhum desejo do povo de vir às ruasprotestar. É como se [o povo] tivessepouca esperança de que seja possívelmudar para melhor a curto prazo”,constata o senador.

REFORMA POLÍTICA: SOLUÇÃOOU PANACÉIA?

Quando o escândalo do mensalão es-tourou, a reforma política passou a ser defen-dida por todos os líderes no Congresso comouma medida inadiável para sanear o sistemapolítico-partidário e prevenir a corrupção sistê-mica. Não há consenso, porém, sobre o con-teúdo que deve ter a reforma e sobre a conve-niência de aprová-la neste momento de crise.

O Senado saiu na frente e votou àspressas uma mini-reforma, voltada essencial-mente para a redução dos custos das cam-panhas. O projeto inclui desde medidas palia-tivas, como a proibição de showmícios, pas-sando pela controvertida restrição à divulga-ção de pesquisas eleitorais nos quinze diasque antecedem o pleito até a exigência deque os partidos e candidatos divulguem osseus gastos de campanha na Internet.

O senador Jefferson Péres defende as me-didas aprovadas no Senado, argumentandoque elas vão diminuir a necessidade de recur-sos para as próximas eleições, tornando a dis-puta menos desequilibrada. Mas não vê combons olhos a aprovação de uma reforma maisampla enquanto perdurar a crise. “Não é omomento adequado de fazer reforma política,pois pode haver açodamento e tomada de me-didas inadequadas apenas para satisfazer aopinião pública. A reforma política deve seraprovada num clima de normalidade”, justifica.

Na mesma linha, o deputado RobertoFreire (PPS-PE) também não acredita que oCongresso tenha condições de aprovar a re-forma política enquanto estiver voltado para ainvestigação do escândalo. Freire considera aproposta do Senado “cosmética e portadorade graves defeitos”, diz que a proposta da Câ-

mara é mais profunda, mas prevêque dificilmente será aprovadaneste ano.

Como saída para a crise, oPPS propõe uma agenda políticacentrada em três pontos: investi-gar e punir todos os envolvidosnas denúncias, admitindo, inclusi-ve, o impedimento do presidente

Para o senador Jefferson Péres, eleito-rado ficará mais seletivo nas próximaseleições

Crise detona discus-

sões sobre a reforma

política e muda o

cenário para as pró-

ximas eleições.

Agência Brasil

Page 7: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

7Ação ago/2005

Lula, se o processo caminhar para isso e sehouver forte mobilização da sociedade a favordessa medida; convocação de uma Assem-bléia Nacional Constituinte – ANC – exclusiva,à qual caberia aprovar a reforma política; re-alização de um referendo popular sobre asmudanças.

“Só teremos uma reforma política paravaler com legisladores que não sejam os prin-cipais interessados e beneficiários dela”, argu-menta Freire em defesa de uma Constituinteexclusiva. Ele propõe que, no próximo ano,juntamente com as eleições regulares para oCongresso, sejam escolhidos os membros daANC, com mandato exclusivo para revisar aConstituição dentro do prazo de um ano. Aamplitude da reforma constitucional seria defi-nida no ato de convocação. O deputado de-fende uma revisão limitada, com foco na refor-ma do sistema político e eleitoral. “O dado fun-damental é que a reforma só será promulgadadepois de referendada pelo povo”, insiste Freire.

PRESTÍGIO EM BAIXAEnquanto as CPIs se transformam em

fogueira das vaidades, revelando políticosjovens e ambiciosos, os parlamentaresmais velhos e mais experientes mostrampreocupação com o crescente desprestígioda atividade política em geral, e da carrei-ra parlamentar, em particular. “A qualidadedo parlamento brasileiro caiu em compara-ção a 40 anos atrás. A vida parlamentar jáfoi mais atraente para figuras exponenciais.O parlamento se mediocrizou um pouco.Na média, é bem pior do que no passado”,avalia o senador Jefferson Péres. Ele acredi-ta que o Senado leva certa vantagem em re-lação à Câmara, por ser menor e formadopor políticos mais experientes.

Os desdobramentos da crise que desabousobre o governo Lula, comprometendo o pros-pecto eleitoral do PT para 2006, podem fazer ou-tra vítima: a esquerda brasileira. Em 2002, o PTconseguiu aglutinar quase todas as forças de es-querda, ampliando o arco de alianças em direçãoao centro e pavimentando o caminho para umavitória sem precedente. Mas as defecções na co-

alizão de governonão tardaram, enfra-quecendo o peso dospartidos mais à es-querda do espectroideológico à medidaque o PT abandona-va algumas das suasbandeiras históricas.

“Este governo, apesar de ter se originado de um parti-do de esquerda que, mesmo com seus equívocos, era umpartido comprometido com as mudanças e com a renova-ção da esquerda, revelou-se um governo neoliberal e de di-reita. No poder, o PT se transformou num governo conser-vador. A política econômica é a continuação da política dogoverno FHC. Somente a elite financeira está satisfeita como governo Lula. Suas políticas sociais são políticas compen-satórias, assistencialistas”, dispara Freire.

Está em curso desde o ano passado um esforço dereaglutinação da esquerda, que envolve o PPS, PDT, PV ePHS. Em dezembro passado, os líderes desses partidos esti-veram reunidos no Rio de Janeiro, numa iniciativa conjuntado PDT e do PPS. Os presidentes das quatro siglas voltarama se reunir no final de junho, em Brasília, onde reafirmarama aliança para a construção de um novo projeto políticopara o País e a apresentação de um candidato alternativopara a Presidência da República nas eleições de 2006. A in-tenção é construir uma terceira via. O bloco tenta atrair oPSol, da senadora Heloísa Helena (AL). Sonha, ainda, rece-ber uma leva de egressos do PT até 30 de setembro, quandose encerra o prazo de filiação para as eleições de 2006.

O senador Cristovam Buarque, que depois de algunsvacilos anunciou sua saída do PT, deve ser o primeironome de peso a aderir à nova frente de esquerda. ParaBuarque, que esteve presente no seminário do Rio comoconvidado, a esquerda brasileira precisa se reencontrar.“Somos ainda necessários para construir uma nova soci-edade. Temos que reorientar o nosso papel”, pregou, re-conhecendo que a sensação da esquerda hoje é de que“fomos incompetentes”.

Para o deputado Roberto Freire, um dos articuladoresdo novo bloco de esquerda, antes de pensar no nome deconsenso para a corrida presidencial, a tarefa prioritáriados partidos é tentar construir um programa comum. Se-gundo ele, o eixo desse projeto deve ser o enfrentamentodas desigualdades sociais. Enquanto discute uma alternati-va para 2006, a nova frente de esquerda não dá trégua aogoverno Lula que, ironicamente, ajudou a eleger.

O senador Pedro Simon: confiante nascassações

Agên

cia

Bras

il

Page 8: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

8 Ação ago/2005

vida privada. Ele rejeita o princípio de que “o fim justificaos meios”, argumentando que “para atingir uma finalidadeboa, devemos utilizar meios bons”. Aplicado à política, oprincípio maquiavélico leva à defesa da eficácia da políticaindependentemente da moral. “Jamais pode a política estardesvinculada da ética”, insiste Carvalho. Ele se apressa areconhecer que o atual sistema político-eleitoral não estáadequado à ética, sobretudo em razão da falta de mecanis-mos eficazes de controle de gastos nas campanhas.

“É necessária uma reforma política urgente que garantamaior poder de fiscalização aos tribunais eleitorais, estabe-leça regras eleitorais claras e estáveis e garanta financia-mento público das campanhas”, defende Carvalho. Ele acre-dita que será mais econômico e transparente financiar ascampanhas com dinheiro público, pois os financiadores pri-vados que alimentam o famoso caixa dois não utilizam re-cursos próprios, mas verbas provenientes de esquemas dedesvios de dinheiro público. “Feita a reforma política, deveser instituído o voto facultativo, estimulado pela consciên-cia cívica”, concluiu.

Para Abramo, o financiamento público das campa-nhas não vai resolver o problema do caixa dois, que jáconstitui prática ilícita. Ele vai mais longe e afirma que odebate sobre a reforma política neste momento “faz partede uma operação-abafa, pois a corrupção não tem muito aver com a estrutura político-partidária”.

Entre as medidas mais urgentes para coibir acorrupção, Abramo propõe uma redução drástica dos car-gos de livre nomeação no Executivo e no Legislativo. “A li-berdade de nomeação dá ao Executivo o poder de barga-nhar apoio em troca de cargos na administração direta enas estatais. Reduzindo esses cargos, elimina-se uma fontede corrupção”, justificou. O aperfeiçoamento do Judiciárioé outra prioridade, se o País quiser combater eficazmente acorrupção.

Candidato a presidente da Transparência Internacional,em eleição a ser realizada em novembro pelos representan-tes dos 93 países nos quais a organização está presente,Cláudio Abramo defende, ainda, a necessidade de tornar osorçamentos públicos obrigatórios, eliminando, assim, adiscricionariedade e a intermediação na liberação de ver-bas. Por fim, ele cobra a regulamentação do direito consti-tucional de acesso a informações detidas pelo Estado.

O que gera a corrupção?O que gera a corrupção?Qual a forma mais eficaz de prevenir e coibir a

corrupção: reformar as instituições ou educar os indivíduospara a ética como valor supremo na vida pública? Para ojornalista Cláudio Weber Abramo, diretor-executivo daTransparência Brasil, combater às causas estruturais dacorrupção é o que realmente importa, pois “é a ocasiãoque faz o ladrão”. “Para quem tem a consciência ética bemformada, não são as circunstâncias que levam ao delito”,rebate o filósofo Ubirajara Calmon Carvalho, professor deÉtica do Departamento de Filosofia da Universidade deBrasília.

Para Abramo, o debate sobre ética é “questãoirrelevante, coisa para moralistas. O que interessa é evitarque indivíduos desonestos prevaleçam”. “Caso exortaçõesà ética tivessem algum efeito material sobre o comporta-mento humano, então a maior parte dos malfeitos que nosassolam não ocorreria. Isso não significa dizer que valoresmorais não existam, ou que não devam ser transmitidos depessoa a pessoa e entre gerações. Quer dizer que não épelo discurso que isso se faz, e sim pela ação”, escreveuem artigo recente intitulado “Adeus, ética” (O Globo, 20/08/05). “A corrupção é menor onde os mecanismos decontrole são efetivos”, assegura.

O discurso ético não está fora de moda na política, ga-rante o senador Jefferson Péres (PDT-AM). Embora preguea reforma das instituições para fazer frente à corrupçãoendêmica no País, ele insiste que é preciso resgatar a éticana política. “É preciso reagir contra esse conformismo [emrelação à inevitabilidade da corrupção]. Não podemos acei-tar a ‘ética da responsabilidade’, segundo a qual se não sefizer concessões, não se governa. É possível fazer um go-verno ético sem ceder ao fisiologismo”, defendeu.

A procura por cursos de ética tem aumentado na Uni-versidade de Brasília. Embora seja uma disciplina eletivapara a maioria dos cursos, o Departamento de Filosofia temenfrentado dificuldades para atender a crescente demanda.Para o professor Ubirajara Carvalho, que tem 32 anos deexperiência, isso mostra que as novas gerações queremconstruir uma sociedade baseada em valores éticos. “A éticaé a ciência do agir humano Não há uma ética para cadaprofissão, para cada ocupação”, ensina.

Adepto da visão aristotélica, Carvalho refuta o argu-mento de que a ética da vida pública é diferente da ética da

Page 9: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

9Ação ago/2005

Poucas coisas são tão especiais quan-to ser diretor da Cassi. Gosto de dizer quenão há nada mais gratificante do que po-der trabalhar pela saúde das pessoas. Aomesmo tempo, é muito difícil. Todo dia temuma nova tecnologia surgindo, numa velocidademuito mais rápida do que a nossa capacidade deavaliá-las e incorporá-las aos nossos planos. Alémdisso, grande parte dessas novas tecnologias nemsempre trazem benefícios para a saúde, mas semprecustam mais caro.

De um lado, pressão acelerada na curva dadespesa; do outro, receitas contidas em função dapolítica salarial do BB, que ficou sete anos sem con-ceder reajuste e passou a pagar abono, participa-ção em lucros e resultados, vale-refeição, vale-ali-mentação – verbas sobre as quais não recolhe o per-centual da Cassi.

Quando apresento esses números, em debatescom associados, sempre sou perguntado se não a-presentamos ao Banco essa equação falida – recei-ta indexada a salários contidos e despesas influenci-adas por novos medicamentos, novas tecnologias,novos tratamentos.

Desde 2000, temos defendido a necessidade deuma reforma estatutária. Já foram montados trêsgrupos de trabalho, mas na hora de negociar umaproposta com o Banco, os interlocutores não apare-cem. A cada mudança na Diretoria do BB solicita-mos audiência, produzimos documentos, fazemosapresentação... mas nada tem sido eficiente parasensibilizar os gestores para que abram um processonegocial que enseje uma solução para os problemasde custeio da Cassi.

Não conseguindo êxito para solucionar o pro-blema de forma mais permanente e frustrados coma ausência de diálogo e de negociação, decidimospelo menos tratar do problema mais gritante relacio-nado ao custeio: a contribuição dos funcionários

A hora e avez dosassociados

por José Antônio Diniz *

admitidos a partir de 1998, paraquem o BB vem recolhendo 3% e mvez dos 4,5% dos salários previstosno estatuto, contrariando parecerde sua própria assessoria jurídica.

Com base em parecer daConsultoria Jurídica da Cassi, queconcluiu por ilegalidade cometidapelo Banco, propus na Diretoria oingresso de ação contra o Bancodo Brasil. Os representantes do BBvotaram contra. Com o empate naDiretoria, a proposta foi submetidaao Conselho Deliberativo da Cassi.

No Conselho Deliberativo, os três eleitos votaram afavor e os dois representantes do Banco votaramcontra. Ganhamos mas não levamos, já que o pla-car para aprovar uma matéria deve ser 4 a 1.

Esses passos foram importantes para mostrarque as possibilidades para ingresso de ação judicialno âmbito da Cassi foram esgotadas. A partir daí, aDiretoria e o Conselho Deliberativo da ANABB assu-miram o controle e o papel de entrar na Justiça.Mas, para que tenhamos legitimidade para propor aação, precisamos de 4.300 assinaturas de associa-dos solicitando uma consulta ao Corpo Social. Essaconsulta, por sua vez, vai determinar ao diretor su-perintendente da Cassi – único com poderes pararepresentar a caixa de assistência em juízo ou foradele – que conceda procuração a escritório contra-tado pela ANABB para exigir o cumprimento do dis-positivo estatutário que fixa a contribuição do BB em4,5%. Essa foi a saída encontrada, utilizando os dis-positivos do Estatuto e do Regimento Interno da Cassi.

Ainda que este seja um movimento social legíti-mo, que poderá significar o ingresso anual de R$ 12milhões e de outros R$ 53 milhões não recolhidosdesde 1998 nos cofres da Caixa de Assistência, nãohá motivo para regozijo, já que o ideal teria sido a saí-da negociada com o BB, cujos representantes têmsido insensíveis aos problemas da Cassi e, por exten-são, à assistência a seus funcionários e dependentes.

Participe! Divulgue. Colha assinaturas, interfiranos destinos da Cassi. Nossa saúde e a de nossos fi-lhos dependem do vigor que devotarmos, agora, aesta causa.

* Diretor (eleito) de Produtos e Atendimento aClientes da Cassi

Clau

sem

Bon

ifác

io

Page 10: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

10 Ação ago/2005

IV PRÊMIO CIDADANIA

Os dez voluntários e entidades classificados no Prêmio Cidadania re-ceberam os prêmios no dia 14 de setembro, na sede da ANABB, emBrasília. Os contemplados ganharam o Troféu Betinho e um valor emdinheiro, no total de R$ 35 mil. A seleção foi tão difícil que os mem-bros da comissão julgadora tiveram trabalho para escolher entredois projetos. Por isso, o 11º colocado recebeu o Troféu Betinho,além de uma “Menção Honrosa”. Os projetos premiados são: 1º lu-gar - Projeto Casa João-de-Barro (Ribeira do Pombal - BA), 2° Lugar -Cursinho Assistencial Amigos de Itajubá (Itajubá - MG), 3º lugar - Pro-jeto Alfabetização de Adultos e Inclusão Social (Araraquara - SP), 4ºlugar - Oficina dos Sonhos (Guapimirim - RJ), 5° Lugar - Anjos da Peri-feria (Pelotas - RS), 6° Lugar - Construção de Cisternas de Placas(Brasília - DF), 7º lugar - Resgatando a Cidadania (Mairi - BA), 8º lu-gar - Adote um Sorriso, Faça uma Criança Feliz (Viçosa - MG), 9º lu-gar - Ação Solidária (Salvador - Ba), 10° Lugar - Brava Guerreira (Por-to Alegre - RS), 11° Lugar - Projeto Cidadania – Ler, Exercitar e Brin-car (Foz do Iguaçu - PR). O Prêmio Cidadania é promovido pelaANABB desde 1995 e está na quarta edição. É concedido a projetosque promovem a superação de dificuldades enfrentadas porcomunidades carentes.

ANABB NA INTERNETO site da ANABB está cheio de novidades. O espaço destinado à cul-tura foi ampliado. Sob um novo título, Cultura & Lazer, a seção“Causos e Crônicas” vem trazendo os antigos “causos” publicadosno jornal Ação, e vai trazer também as crônicas atuais escritas pelosseus associados. As demais seções, “Curiosidades”, “Piadas” e “Fra-ses” são diversão garantida para quem quer esfriar a cabeça. Já aseção “Rapidinhas” oferece ao leitor notas curtas sobre os fatos políti-cos, econômicos e sociais do Brasil, além de comentários breves fei-tos por colunistas, cujas fontes de pesquisa são vários órgãos infor-mativos, sites e blogs. Acesse o site www.anabb.org.br e confira as no-vidades que preparamos para você.

AJUDE A SALVAR A CASSI

A ANABB está coordenando a coleta de um abai-xo-assinado a fim de exigir que a Cassi faça umaconsulta ao seu corpo social para saber se inte-ressa aos participantes que a Caixa mova umaação para buscar seus direitos junto ao Banco. Aconsulta somente será viabilizada com um mínimode 4.300 assinaturas.Se a consulta acontecer e a resposta for positiva,a Cassi deverá dar procuração aos advogadosindicados pela ANABB para as providências cabí-veis, em nome da Cassi. Tudo de acordo com oestatuto.A ANABB não é parte no processo. Está procuran-do colaborar, inclusive pagando os advogados,na solução de uma das múltiplas causas que sa-crificam a Caixa de Assistência e o funcionalismo.Os interessados devem imprimir o abaixo-assina-do disponível no site da ANABB e proceder comoali indicado. Mais informações podem ser obtidaspelo telefone (61) 3442-9696.

DEPOIS

ANTES

1º LUGAR

Confira os números sorteados no mês

de agosto:

SEGURO DECESSO

Dia 06 39.937

Dia 13 10.390

Dia 20 75.494

Dia 27 64.913

AGOSTO

Page 11: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

11Ação ago/2005

SETEMBRO

15 Divulgação dos inscritos

16 a 20 Prazo para entrar com pedidos de impugnação

21 Fim do prazo para entrega ao representado de cópia do pedido deimpugnação e dos documentos de prova

26 Fim do prazo para apresentação de defesa pelo representado

28 Julgamento dos pedidos de impugnação

29 Divulgação dos candidatos aptos a concorrer

OUTUBRO

4 a 10 Remessa das cédulas de votação aos associados

5 a 24 Período de votação e de postagem das cédulas

31 Prazo final para a CGE receber as cédulas de votação via correio

NOVEMBRO

1 Prazo para impugnação de votantes

3 a 13 Apuração dos votos

14 Divulgação do resultado

21 Fim do prazo para entrar com recursos junto à CGE

22 Fim do prazo de entrega de cópia do recurso e dos documentos deprova ao candidato citado

25 Prazo para o candidato recorrer junto à CGE

29 Julgamento dos recursos

30 Divulgação do resultado pela CGE e proclamação dos eleitospelo presidente do Conselho Deliberativo

DEZEMBRO

9 Posse dos eleitos

9 Posse dos membros do Conselho Deliberativo na sede da ANABB, emBrasília, e eleição do novo presidente do Conselho e dos membros da Di-retoria Executiva

JANEIRO/2006

13 Posse dos membros do Conselho Fiscal e eleição do presidente e dosecretário do Conselho

13 Posse da Diretoria Executiva e dos diretores estaduais

A ANABB deu largada, em 1º de setembro,ao processo de eleição de seus novos diri-gentes. Serão escolhidos integrantes para osConselhos Deliberativo e Fiscal e os direto-res estaduais.O edital de convocação foi publicado noDiário Oficial da União e no jornal Folha deSão Paulo e enviado, em seguida, por fax ecarta a todas as agências do BB, acompa-nhado de pedido de colaboração. O editaltambém está divulgado no site da ANABB.O período para inscrições, impugnações edivulgação dos candidatos vai de 8 a 29 desetembro. A cédula de votação será enviadaaos associados entre 4 e 10 de outubro e avotação já começa no dia 5 de outubro,sendo estendida até o dia 24.Antes disso, os associados poderão conhe-cer os candidatos. Os nomes acompanha-dos de currículos e fotos serão publicadosno Jornal da Eleição, que os eleitores irãoreceber em casa.A Comissão Geral Eleitoral – CGE –, quecoordena, administra e fiscaliza todo o pro-cesso, é composta por Eládio Ivens Lages deMendonça, Fernando Alberto de Lacerda,Laíze Helena Araújo Coutinho (coordenado-ra), Márcia Politi Gobato e Raul RochadelLima (foto, da esq. para a dir.).

Você pode entrar em contato com a CGEpelo telefone (61) 3442.9671, o fax (61)3442.9677 ou o e-mailcomissã[email protected]

OS PRÓXIMOS PASSOS DA ELEIÇÃOELEIÇÕESANABB

Page 12: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados
Page 13: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados
Page 14: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

14 Ação ago/2005

É impressionante como as coisas sãoconduzidas de forma equivocada. Você abrerevistas de algumas entidades de trabalhado-res e o momento atual é descrito como se todos osque estão denunciando corrupção no governo fe-deral estivessem errados, como se a mídia tivessesido comprada e um complô monstruoso estivesseem curso para derrubar o presidente Lula. Pareceque tudo está maravilhoso e que só alguns nãoagiram corretamente... Confesso a vocês que te-nho tentado buscar verdade nas palavras degrandes lideranças, mas está difícil de acreditar.

Estou me sentindo vazia, tudo aquilo em quesempre acreditei e que defendi desmoronou e asexplicações agora são dadas com a naturalidadede que quem faz algo errado faz porque todomundo faz. Como nós ficamos agora? Estou mesentindo órfã, porque a esperança de que tudopoderia ser diferente está acabando e sobra a an-gústia de sentir-me traída.

Dormimos sonhando com um governo popu-lar, que nos trataria com mais justiça e reconhece-ria nossas perdas e dificuldades. Quando o LuizOswaldo foi nomeado vice-presidente de RecursosHumanos, sonhamos mais alto ainda: é um caranosso, que nos entende, que sabe as dificuldadespelas quais passamos. Depois Sérgio Rosa foinomeado para a Presidência da Previ e continua-mos sonhando: vamos reformar o estatuto, poisessa era a bandeira dele como eleito, vamos aca-bar com o estatuto imposto pelo interventor – esseé o cara, ele entende nossa angústia –, vamosacabar com a Parcela Previ...

Infelizmente, acordamos de um sonho bonitopara vivermos um pesadelo – corrupção, desres-peito e o que é muito pior, desesperança. Pois jáse foram mais de dois anos e nada... Não se fala

em mudança de estatuto e aParcela Previ parece maisjogo de pingue-pongue. Écomo o fim de relaciona-mento, em que você pedeum tempo. O Banco está fa-zendo a mesma coisa. Emtoda a reunião do Conse-lho, ele pede mais um mês...mais dois meses para estu-do, para análise. Haja estu-do e análise... Eu aprendique, nos relacionamentos,esse negócio de dar um

tempo é quando você não quer mais saber dapessoa e não tem coragem de dizer. Aí, vai arras-tando com a barriga até chegar ao insustentável.

É lógico que vêm as perguntas dos colegas: Evocê, não é da Diretoria também? O que você fezpara mudar? Respondo com a convicção de quetenho cobrado muito as mudanças prometidas,porém sou ignorada. O que tenho feito é registrarmeu posicionamento quando possível. Lembre-se:eu estou sozinha nessa luta, pois os demais per-tencem à mesma corrente política.

Eu sinto falta da época em que estava na Di-retoria da ANABB e tinha como desabafar, nos ar-tigos que escrevia para o Jornal Ação. Agora, devez em quando, a Previ fala sobre a área de Plane-jamento, coloca uma foto minha e acredita quecumpriu seu papel. Às vezes, só fico conhecendoo teor da matéria quando recebo o exemplar darevista. Foi o que aconteceu com a Revista Previ nº105, do mês de agosto. Isso é que se chamagovernança, que tanto se prega na Previ e tantose exige das empresas e não se consegue praticá-la no âmbito da Fundação?

Setembro está aí – campanha salarial, mo-mento de luta, de união de forças. É nesse contex-to que temos que exigir, com disposição e firmeza,a recuperação de nossas perdas e a solução denossas pendências. Não podemos aceitar qual-quer coisa, temos que cobrar duramente o quenos foi prometido.

Quando odiscurso nãovira ação

* Diretora (representante dos eleitos) de Planeja-mento da Previ

por Cecília Garcez *

Amer

ico

Verm

elho

Page 15: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

15Ação ago/2005

Quatro grandes temas dividiram as atenções no III Fórum Nacional de Debates ANABB, realizado emBrasília, nos dias 8 e 9 de agosto: Banco do Brasil, Previ, Cassi e Relações Trabalhistas. Funcionários doBB de todo o País, lideranças e convidados reuniram-se no Kubitschek Plaza Hotel para debaterproblemas e encontrar soluções. Foi consenso, por exemplo, que a Cassi precisa de uma solução urgentepara a crise enfrentada em seu sistema de custeio. O Banco acenou com a possibilidade de apresentaruma proposta até o fim do ano.

A Construção de resultadosA Construção de resultados

Page 16: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

16 Ação ago/2005

Foi com uma provocação que o consultorAlberto Matias abriu o painel sobre o Banco doBrasil. “O BB no mundo é ridículo”, disse o tam-bém professor de Finanças da Universidade deSão Paulo. “O Banco está consolidado no mer-cado nacional, mas ainda é pequeno no cená-rio internacional. O sistema bancário brasileirointeiro é do tamanho do Deutsche Bank (bancoalemão)”, completou.

No primeiro painel do Fórum, coordenadopelo diretor de Relações Funcionais, Aposenta-doria e Previdência da ANABB, DouglasScortegagna, os debatedores analisaram o pa-norama de atuação do BB e as estratégias paraaproveitar as oportunidades que surgirem nos

16 Ação Especial

Na abertura do Fórum, o presi-dente da ANABB, Valmir Camilo, res-saltou a importância do debate.“Queremos contribuir com resulta-dos. Quem sabe se com outrosfóruns a gente possa caminhar pararesolver as questões estruturais da Previ, da Cassi edo Banco do Brasil, que trabalha para este País echega aonde os outros bancos não vão, que são ascomunidades mais carentes”, disse.

O secretário de Educação do Rio Grande doSul, José Fortunati, ressaltou a necessidade das refle-xões. “O Banco interessa não somente aos funcio-nários, mas ao povo brasileiro. Queremos discutir ocaminho dos funcionários para que essa instituiçãocontinue cumprindo seu papel de desenvolvimento.O Banco não é de nenhum governo.”

O vice-presidente da Fenabb – Federação dasAABB –, Haroldo Rosário Vieira, por sua vez, desta-cou a capacidade de associação dos funcionáriosdo BB. Segundo ele, os funcionários só conseguemdiscutir temas tão complexos devido à organização

Abertura doFórum

de que dispõem. “É difícil acreditar que exista outraempresa melhor para se trabalhar do que o Bancodo Brasil”, elogiou.

Também participaram da solenidade de abertu-ra o presidente do Conselho Deliberativo da ANABB,Antonio Gonçalves; o presidente do Conselho Fiscalda ANABB, Cláudio Zucco; o diretor de Gestão dePessoal do BB, Juraci Masiero; a diretora de Relaçõescom Funcionários e Responsabilidade Sócio-Ambien-tal do BB, Isabela Alcântara; o secretário-geral daConfederação Nacional dos Trabalhadores nas Em-presas de Crédito (Contec), Gilberto Vieira; o repre-sentante da Comissão de Empresa, Milton Resende;a diretora de Planejamento da Previ, Cecília Garcez;e a vice-presidente do Conselho Deliberativo daCassi, Denise Vianna.

I Painel: A missão estratégica do BB

MESA DE ABERTURA (da esq. para dir.): José Fortunati, Cecília Garcez, GilbertoVieira, Juraci Masiero, Antonio Gonçalves, Valmir Camilo, Cláudio Zucco, IsabelaAlcântara, Milton Resende, Denise Vianna e Haroldo Rosário Vieira

I PAINEL (da esq. para a dir.): Alcyr Calliari, José Maria Rabelo, DouglasScortegagna e Alberto Borges Matias

por Noéli Nobre e Pierre Tribolifotos: Tico Fonseca

Page 17: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

17Ação ago/2005

cenários nacional e internacional. Na opinião deMatias, a instituição deveria guiar-se por padrões in-ternacionais se quiser crescer mais. Ele criticou o vo-lume de ativos do BB, que “está em US$ 80 bilhões,bem abaixo de um volume ideal que seria de US$200 bilhões” e fez duras críticas à taxa básica de ju-ros (Selic). “A nossa taxa de juros (de 19%) é absur-damente elevada. Os países emergentes têm jurosde 2% ao ano.”

A conseqüência das altas taxas, segundoMatias, é o desvio dos investimentos externos paraoutros países. Ele lembrou que o dinheiro do mundoestá concentrado na Ásia e que o resto da AméricaLatina tem recebido mais recursos que o Brasil. “País

que tem como metacontrole de inflaçãonão vai a lugar ne-nhum”, declarou.Matias ressaltou, noentanto, que os ru-mos do Brasil passampelo BB. Aumentar arentabilidade da ativi-dade bancária e re-duzir a dependênciados ganhos de tesou-raria, além de ampliaro leque de clientes,entre eles os de baixa

renda, são alguns dos desafios apontados pelo con-sultor.

Diante da provocação de Alberto Matias, ovice-presidente interino de Negócios Internacionais eAtacado do BB, José Maria Rabelo, saiu em defesada instituição. “Nós concordamos que o Banco épequeno perto dos grandes internacionais, como oCitibank, mas não considero ridícula a atuação doBB nesse mercado”, disse. De acordo com Rabelo,para avaliar os feitos do Banco é preciso levar emconta a realidade nacional. Pode-se comparar o BB,no máximo, a outras instituições da América Latina.José Maria Rabelo destacou a presença do BB nocomércio exterior, que financia 30% do setor. “Tam-bém financiamos 60% do agronegócio brasileiro,que é o grande responsável pelo superávit da balan-ça comercial e, portanto, é extremamente disputadopelo mercado”, acrescentou.

Em sua atuação no exterior, o BB também não

faz feio, segundo o vice-presi-dente de Negócios Internaci-onais. A presença brasileiracresceu no Japão e em Portu-gal, onde está voltada princi-palmente para o varejo, ouseja, para atender aos brasi-leiros que trabalham e envi-am dinheiro para a família.São mais de 100 mil clientesno Japão e 40 mil em Portugal. Já no mercado norte-americano, o BB tem empresas no leque de clientes.

RESPONSABILIDADE SOCIALAlberto Matias e José Maria Rabelo concorda-

ram em um ponto: o BB não pode crescer indiferenteà miséria do País. “Não dá para admitir que a genteconviva com fome e desemprego”, afirmou Matias.“A sustentabilidade da empresa não passa apenaspelo cliente e pelo acionista. Passa também pela so-ciedade”, disse Rabelo.

Mais humano e menos econômico foi o tom doúltimo pronunciamento do painel. O ex-presidentedo BB, Alcyr Calliari, criticou o modelo econômicobrasileiro, considerado por ele uma “bomba-reló-gio”. O debatedor destacou – com certo saudosismo– o papel do Banco na construção de uma socieda-de mais justa. “O BB conta com a qualidade de pes-soas que já foram liderança neste País. Se existe gen-te capaz de pensar e ajudar, é o pessoal do Banco.No interior, éramos extremamente respeitados, por-que lidávamos com dinheiro público”, lembrou.

Na visão de Calliari, a empresa se assemelhacada vez mais aos bancos privados. “Os brasileirosdevem exigir mudanças”, provocou. A preocupaçãodo ex-presidente é a mesma dos inúmeros partici-pantes do Fórum. O presidente da ANABB, ValmirCamilo, quis saber, por exemplo, como o BB está sepreparando para o futuro, além de criticar a cria-ção, pelo Banco, de uma nova geração de funcioná-rios que chamou de “segunda categoria”, por rece-berem salários bem menores do que os antigos. “Àmedida em que o BB passou a ser visto como priva-do, os recursos humanos também foram tratadosassim”, concordou Calliari.

Há quem acredite que o BB cumpre a sua mis-são. Maria José Faheina, funcionária do BB há 31anos e gerente de uma agência em Fortaleza, desta-

17Ação Especial

Alberto Matias: críticasao desempenho do BB nocenário internacional

José Maria Rabelo destacou opapel do Banco no financiamentodo comércio exterior

Page 18: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

18 Ação ago/2005

ca a ajuda dispensa-da às micro e peque-nas empresas. “A em-presa é um banco detodas as classes, detodos os brasileiros”,afirma. Trabalhandona área de Desenvol-vimento RegionalSustentável (DRS) –tem a função de via-

bilizar o microcrédito para pequenos empresários –Maria José defende o empréstimo bancário para queo empreendedor o transforme em produção. Recente-mente, ela conseguiu que fornecedores vendessemmáquinas de costura para um cooperativa a preçosmais baratos. Ainda assim, ela enxerga um conflito namissão do Banco. “Até que ponto o Banco do Brasil ésocial e até que ponto é comercial? Ele visa lucro maso governo exige que ele seja social”, questionou.

Para Regina Marçal, aposentada do Rio de Ja-neiro, o maior problema da instituição passa pelofuncionalismo. Com a experiência de quem traba-lhou no Banco por 29 anos, ela disse que não co-nheceu tempos ruins, mas reconhece que hoje a si-tuação está difícil. “A política do governo FernandoHenrique Cardoso (1995-2002) destruiu o BB, des-valorizou o funcionário. Ele acabou com os saláriose, hoje, os funcionários não vestem mais a camisada empresa.”

“Quando eu entrei no Banco do Brasil, eraum casamento para toda a vida. Hoje, as diferen-ças salariais são enormes e se você entra pensan-do que aquele emprego é uma forma de sustentotemporário, você não tem compromisso”, concor-dou Calliari. “Eu não acredito em empresas ondeos funcionários não sejam vibrantes.”

O coordenador do painel, Douglas Scortegagna,elogiou o debate. “Sempre é tempo de tentarmos en-contrar as melhores soluções para nós e o BB.”

18 Ação Especial

As divergências sobre o mode-lo de gestão da Previ deram o tomao debate que reuniu o presidenteda instituição, Sérgio Rosa, e o pre-sidente da ANABB e conselheiro daPrevi, Valmir Camilo. Ao avaliar a si-tuação do Fundo de Pensão, Rosadisse que o modelo de governançacorporativa adotado na Previ é refe-rência no País. Ele afirmou ser positi-vo o fato de haver unanimidade namaioria das decisões tomadas pelaDiretoria da instituição. Para Camilo,no entanto, os diretores têm dadoênfase exagerada aos resultados fi-nanceiros do Fundo de Pensão, aoinvés de buscar garantir um benefício justo aos apo-sentados. “A Previ só existe para administrar R$ 72bilhões de ativos porque alguém buscou mecanis-mos para proteger a sua aposentadoria”, afirmou.

No painel sobre as mudanças estatutárias daPrevi, o presidente do Fundo de Pensão disse que osfuncionários do Banco do Brasil devem ter a garan-tia de uma aposentadoria digna. O presidente da

II Painel: Os dois lados da Previ

ANABB lembrou, contudo, que a média dos benefí-cios antes de 97 estava acima de R$ 5 mil e que,atualmente, é R$ de 2 mil. Para Sérgio Rosa, o valormédio do benefício vem caindo porque mudou o per-fil de evolução salarial dos funcionários. “Além disso,a partir de 97 foi aplicada correção automática nosbenefícios da Previ”, argumentou.

De acordo com ele, as decisões da Previ têm

II PAINEL (da esq. para a dir.): Fernando Amaral, Sérgio Rosa, Antonio Gonçalves eValmir Camilo

Para Alcyr Calliari, atuação seme-lhante a dos bancos privados afasta oBB da responsabilidade social

Page 19: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

19Ação ago/2005 19Ação Especial

sido marcadas pela transparência e citou comoexemplos a apresentação do balanço de 2004 paramais de cinco mil associados de todo o País e aabertura à imprensa dos encontros com os Conse-lhos Deliberativo e Fiscal. “Desde o início da crise po-lítica, a Previ também tem respondido a todas asquestões sobre os negócios que a envolvem”, disse.

Valmir Camilo reclamou, no entanto, da dificul-dade de acesso dos conselheiros a documentos daPrevi. Alguns contratos aprovados pelo Fundo dePensão em 2004 só chegaram a seu conhecimentoeste ano. Camilo criticou, principalmente, a maneiracomo foi conduzida a operação da Previ com oCitibank, divulgada no dia 8 de março. A decisãosobre os contratos ocorreram sem que os conselhei-ros soubessem. Prova disso foi a divulgação da notatécnica sobre a negociação no mesmo dia em queos contratos foram firmados.

Ao avaliar as empresas nas quais a Previ temparticipação, Sérgio Rosa citou a Vale do Rio Doce.A empresa, do qual o Fundo é o maior acionista, foia primeira no Brasil a receber a classificação deinvestment grade, feita pela agência Moody’s. MasCamilo apontou desequilíbrio na composição doConselho de Administração da mineradora, onde aPrevi tem quatro assentos. Todas as vagas foramocupadas por integrantes de uma mesma tendênciapartidária. O conselheiro deliberativo da ANABB,Fernando Amaral, que atuou como debatedor, lem-brou ainda que os conselheiros deveriam ser escolhi-dos pela qualificação e por sua afinidade com o se-tor onde a empresa atua.

REFORMA DO ESTATUTOO presidente da Previ anunciou, durante o pai-

nel, que uma equipe designada pela Diretoria doFundo de Pensão oferecerá ao Conselho Deliberativosugestões para a alteração do estatuto ainda este

ano. O grupo conta comdois consultores externos ea análise terá como refe-rência o estatuto de 1997.Apesar de se dizer contrá-rio à intervenção feita em2002, Rosa avisou que oestatuto de 97 não será re-cuperado em sua formaoriginal por não atender à

legislação da previdênciacomplementar. Ao respon-der a perguntas dos parti-cipantes, Rosa reconheceuque há polêmica em tornodo voto de Minerva e dacomposição do corpo soci-al, mas que a modificaçãodo documento não depen-de exclusivamente de suavontade, pois exige consul-ta à Diretoria e aos Conse-lhos da instituição, e aoBanco do Brasil.

“A Diretoria da Previ não tem vontade de pro-mover mudanças”, contestou o presidente daANABB. Camilo lembrou que existe uma propostacom mais de 13 mil assinaturas para que o estatutoanterior seja recuperado. Segundo ele, se a Previ ti-vesse considerado o documento, já teria sido possí-vel reformá-lo, resolvendo a discussão sobre a Parce-la Previ e restringindo o voto de Minerva. “Passadosdois anos e meio do atual governo, a Diretoria aindanão defendeu regras diferentes das que estão em vi-gor”, criticou. Fernando Amaral reclamou que oConselho Deliberativo não atua na definição de estra-tégias, mas apenas homologa ou não propostas dosdiretores.

REDUÇÃO DE BENEFÍCIOS: TRAIÇÃOPara Sérgio Rosa, a Parcela Previ não pode ser

extinta pois protege o Fundo de eventuais crises. Eledefende um acordo com o BB sobre a Parcela e so-bre o Fundo Paridade, o que exigiria muita discus-são. A falta de definição sobre o plano de benefíciosde quem paga a Parcela Previ foi apontada porValmir Camilo como um dos problemas a serem re-solvidos. “Esses funcionários não sabem com quantovão se aposentar.”

Questionado sobre por que o superávit da Previnão é utilizado para reduzir o valor das contribui-ções ou aumentar o dos benefícios, Rosa disse que adiminuição da contribuição quase não teria efeitosobre os funcionários e, sim, sobre o Banco. “Háduas posições na Previ: uma de privilegiar a obten-ção de superávit para fazer frente a períodos de cri-se econômica e outra, de manter uma reserva decontingência de 25%. Esse percentual de reserva foi

Para Valmir Camilo, além decometer várias irregularida-des, direção da Previ não teminteresse em promover mu-danças

Fernando Amaral: reservade contingência de 25% ésuficiente para evitar déficit

Page 20: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

20 Ação ago/200520 Ação Especial

A saúde financeira da Cassi e amanutenção da qualidade dos servi-ços foram preocupações comuns aosparticipantes do painel sobre a Caixade Assistência dos funcionários do BB.Os dirigentes da Cassi cobraram a re-visão da forma de custeio do plano desaúde e a reforma do atual estatuto,em vigor há nove anos. Em contrapar-tida, o BB – patrocinador do plano –mostrou-se disposto a conversar. Ogerente-executivo da Diretoria de Re-lações com Funcionários e Responsa-bilidade Sócio-Ambiental do BB,Carlos Eduardo Neri, declarou que oBanco pretende fazer este ano umaproposta aos funcionários.

Ele só não adiantou que projeto tem para aCassi. “Queremos fazer uma proposta consistentee não vamos empurrar o problema com a barri-ga”, prometeu Neri. O Banco contratou uma con-sultoria para analisar o trabalho e sugerir adapta-ções. Também está sendo feita uma pesquisa demercado para detalhar gastos da empresa com oplano de saúde. Mas o diretor de Produtos e Aten-dimento a Clientes da Cassi, José Antônio Diniz de

considerado ade-quado por Amaral.“A Previ não é umaempresa e não tem aobrigação de gerarlucros, mas sim demanter o equilíbrioem seu balanço.”

Segundo ValmirCamilo, os mais deR$ 20 bilhões de

superávit obtidos pela Previ não podem ocorrer àscustas da redução do valor dos benefícios e dos pre-juízos de quem se aposentou a partir de 97. Ele disseque a conduta da atual Diretoria foi uma traição.“Ela tem a obrigação de repor perdas passadas.”

As denúncias feitas pelo conselheiro da Previao jornal Folha de S.Paulo, em abril, de que a gestãoda Caixa de Previdência estava na contramão dosinteresses do Fundo, vieram à tona durante o deba-te. Rosa informou que uma auditoria já está verifi-cando as supostas irregularidades. Camilo contra-atacou dizendo que suas declarações dispensam aelaboração de um documento formal.

Sobre a notícia, também na Folha de S.Paulo,de que Valmir Camilo pediu a sua destituição, opresidente da Previ negou que tenha recebido opedido. O presidente da ANABB está cumprindovoto de silêncio, imposto pelo Conselho, sobre oassunto, mas explicou que não divulgou o pedidoà imprensa e não sabe como o jornal obteve essainformação.

III Painel: Por uma Cassi forte

Oliveira, recebeu a notícia com pessimismo. “O BBnunca se apresentou para discutir”, atacou.

O problema da Cassi é principalmente finan-ceiro e todos o conhecem. Trata-se do percentualde contribuição para o plano dos funcionáriosque ingressaram depois de 1998. Desde essa épo-ca, o BB contribui, para os novos funcionários,com apenas 3% dos vencimentos, enquanto oaporte previsto no estatuto da Cassi é de 4,5%,

III PAINEL (da esq. para a dir.): Carlos Eduardo Neri, José Antônio Diniz de Oliveira,Graça Machado e Vicente Gomes Neto

Sérgio Rosa defendeu sua gestão,que chamou de democrática

Page 21: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

21Ação ago/2005 21Ação Especial

como ocorre com os funcionários mais antigos.Isso acarreta um déficit de, aproximadamente, R$ 12milhões ao ano.

Segundo Diniz, o Plano de Associados já con-sumiu R$ 181 milhões das reservas da Cassi e a ex-

pectativa é que, este ano, odéficit operacional da caixaseja de R$ 50 milhões. As re-servas líquidas são de ape-nas R$ 53 milhões. “O gran-de problema é o modelo decusteio que está atrelado aosalário”, disse Diniz. “Comose não bastasse, houve umaperda do poder aquisitivo dofuncionário. O salário médiodo bancário caiu de R$ 3,6mil, em 2000, para R$ 2,6mil em 2004. O pagamentode hoje é exatamente o doBradesco e isso causa im-pacto sobre as reservas da

Caixa de Assistência”, criticou.Para Valdice Gama, funcionária do BB em Sal-

vador, que participou do debate, é até difícil para oempregado contribuir com mais. “Eu estou no Bancohá apenas cinco anos. O BB é que contribui compouco para os funcionários novos”, lamentou. A so-lução, no entender de Carlos Eduardo Neri, não estána taxa de 4,5%.

MERCADO DEFICIENTEPara evitar que a responsabilidade recaia so-

bre o Banco do Brasil, o gerente-executivo procu-rou ressaltar a atual crise do mercado de saúde.“Todo o sistema tem dificuldades”, disse Neri. “ACassi atua em um mercado em que osmédicos são malformados e em uma ope-ração muitas vezes é decidida porque háum leito vago”, concordou Diniz.

Ainda que o mercado esteja mais pre-ocupado em gerar lucros, esta não é a pre-ocupação da Cassi, segundo o diretor-su-perintendente em exercício da instituição,Vicente Gomes Neto. Ele disse que, apesarde toda a crise, a Caixa de Assistência doBB é organizada e remunera bem seus for-necedores. “Mas, se continuar do jeito que

está, teremos que obrigatori-amente consumir nossas re-servas provisionadas”, afir-mou.

Sétima maior operado-ra brasileira, a Cassi benefi-cia aproximadamente 750mil pessoas, com 42 milprestadores de serviço. “ACassi é um dos motivadorespara as pessoas entrarem epermanecerem no BB”, disseNeri, citando o Plano SaúdeFamília, que classificoucomo bem administrado, mas que é pautado poroutras regras. Para ele, os valores diferenciadospara cada faixa etária e a inexistência da solidari-edade para os dependentes são algumas das van-tagens. Diniz se defendeu. “A solidariedade do Pla-no de Associados é uma conquista da qual nãoabrimos mão”, afirmou.

Os representantes da Cassi pediram mais in-vestimentos no modelo assistencial. “Parar de inves-tir agora é deixar uma ponte pela metade”, compa-rou Diniz. Segundo dados citados por Vicente Go-mes, só neste ano, foram investidos R$ 40,5 milhõesno Plano de Associados, contra R$ 47,4 milhõesentre 1997 e 2004. Mas fez uma ressalva: os custoshoje são maiores. Neri disse ainda que é precisoter cuidado com investimentos, porque o Banco doBrasil deve explicações à sociedade. A diretora Ad-ministrativa e Financeira da ANABB e coordenado-ra do painel, Graça Machado, completou: “Parachegar a um Banco forte, precisamos de umaCassi forte”.

O painel terminou com reivindicações, por par-te dos usuários, de regulari-zar a contribuição dos no-vos funcionários e a contri-buição sobre os abonosnão-recolhidos, reformar oestatuto e providenciar a co-bertura odontológica, aindainexistente. O que ficouacertado é que uma soluçãoprecisa ser encontrada comurgência e de preferênciaainda neste semestre.

Além de criticar modelo de custeio, JoséAntônio Diniz defendeu maisinvestimentos na assistência ao associado

Carlos Eduardo Neri: BBdisposto a corrigircontribuição para osnovos funcionários

Vicente Gomes Neto:previsão pessimista paraas reservas da Caixa deAssistência

Page 22: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

22 Ação ago/200522 Ação Especial

As estratégias de campanha salarial das enti-dades sindicais que representam os funcionáriosdo Banco do Brasil foram tema do painel sobreRelações Trabalhistas. O gerente-executivo de Re-lações Trabalhistas do BB, Joel Bueno, afirmou queo Banco não tem preferência por uma modalidadede negociação e disse que, entre os fatores quedificultam um acordo, está a chamada “sensaçãode perdas passadas”. Segundo Bueno, essa per-cepção leva os bancários a esquecerem que, até2002, as perdas se acumulavam, enquanto hojese discute a reposição delas.

O presidente da Contec – Confederação Na-cional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito–, Lourenço do Prado, disse que a campanha sala-rial organizada pela entidade será semelhante àsanteriores, por entender que as reivindicações de-vem ser repetidas até serem atendidas, mesmo queparcialmente. A Contec quer reajuste de 15,38%,o mesmo aplicado ao salário mínimo, para todosos bancos, e promete campanhas diferentes paraos bancos privados e federais, a exemplo dos últi-mos dois anos.

Já o diretor da Fetec – Federação dos Bancá-rios da CUT –, Marcel Juviniano Barros, que é fun-

cionário do BB, adotarácomo estratégia a mesa úni-ca de negociação com aFenaban. “No passado, osfuncionários do BB sofreramperdas salariais devido àfalta de articulação com asentidades ligadas aos de-mais bancos”, disse. O dire-tor da Fetec destacou que,com a união das categoriasem 2004, o reajuste de 8,5%concedido aos bancários fi-cou acima da inflação. A fe-deração quer um reajuste de5,75%, suficiente para incor-porar a inflação e garantirganho real aos salários.

As propostas apresentadas pelas duas enti-dades foram criticadas pelo debatedor, EdgarTeixeira Dias. Representante da coordenação doMovimento Nacional de Oposição Bancária e fun-cionário do BB, Dias afirmou que os bancáriosquerem ser protagonistas das campanhas salari-ais. Ele disse que o movimento, criado a partir dodescontentamento com a postura dos sindicatosdurante o governo Lula, deverá rejeitar as duaspropostas de reajuste. Dias informou também queuma pesquisa feita na Internet com funcionáriosdo BB apontou que a mesaúnica de negociação nãodeve obter os resultados es-perados. “Na greve do anopassado, que durou 30dias, houve esforço do go-verno e dos banqueirospara impedir o avanço dapauta de reivindicações dosfuncionários. Este ano, aconduta deve ser semelhan-te”, afirmou.

O gerente-executivo deRelações Trabalhistas do BB

IV Painel: Salários na mesa denegociações

IV PAINEL (da esq. para a dir.): Edgar Teixeira Dias, Marcel Juviniano Barros, Emílio S. RibasRodrigues, Lourenço Prado e Joel Bueno

O representante da Fetec,Marcel Juviniano: mesaúnica de negociação e pro-posta de reajuste menor

Page 23: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

23Ação ago/2005 23Ação Especial

evitou comentar as reivin-dicações. Preferiu ressaltaras mudanças na políticasalarial e de recursos hu-manos do BB. SegundoBueno, no governo Lula, ovalor da Participação nosLucros e Resultados – PLR– mais que dobrou, o rea-juste salarial chegou a14%, e as demissões semjusta causa acabaram.

DIFERENÇAS DEPAUTA

A PLR é outro item deambas as pautas de rei-vindicações. Marcel

Juviniano Barros disse que a Fetec quer uma PLRequivalente a 15% do lucro líquido dos bancos.Edgar Teixeira Dias, por sua vez, criticou a conces-são de PLRs “milionárias” a um grupo restrito defuncionários, enquanto os demais recebem valorespequenos. Há consenso também sobre a necessi-dade de extinguir a Parcela Previ, o que é recusa-do definitivamente pelo BB.

Em relação aos abonos, as entidades mostra-ram-se divididas. Devido às baixas taxas de inflação,Prado disse que a Contec vai incluir o pedido deabono em sua pauta. Para o diretor da Fetec, porém,a política de concessão de abono tem sido respon-sável pela redução dos salários. “O abono não serárejeitado mas não será pedido”, disse o dirigente. Naavaliação de Barros, é necessário elaborar umaagenda de recuperação salarial, principalmentepara os funcionários não-comissionados.

Questionado sobre a falta de objetividadeem relação aos critérios de comissionamento, o re-presentante do BB, Joel Bueno, anunciouque o Banco irá discutir uma forma deseleção que considere a formação e omérito do funcionário. Sobre o Plano deCargos e Salários – PCS –, Bueno disseque ainda não foi possível concretizá-lo,mas ressaltou que o Banco modificou apolítica salarial, preferindo elevar os sa-lários dos cargos superiores para esti-mular a nomeação de gerentes. Ele reco-

nheceu, contudo, que a remu-neração dos cargos de gerên-cia média estão defasados. “Acorreção poderá vir por meiode uma medida específica ouinserida no PCS”, disse lem-brando que o PCS e a ParcelaPrevi não serão moedas de tro-ca na campanha salarial.

RELACIONAMENTOSNO BB

Para Joel Bueno, as metas de trabalho dosfuncionários estão mais adequadas à realidade,apesar de ainda restarem mudanças a ser feitas.Ele explicou que, desde o início deste governo,está em curso um processo de reconstrução dasrelações entre o Banco e os funcionários. O obje-tivo é acabar com práticas como a concorrênciainterna entre agências e os planos de demissãovoluntária, incentivados a partir da década de 90,quando o Banco do Brasil adotou um enfoque co-mercial. “Mas é preciso equilíbrio entre o lado so-cial e o comercial”, ressaltou.

Entre as ações com enfoque social retomadaspelo Banco, o gerente-executivo de Relações Traba-lhistas deu destaque à reformulação do Pronaf, quepassou a priorizar as regiões economicamentedesfavorecidas. Os representantes dos sindicatoscontra-atacaram. O diretor da Fetec disse que as ex-pectativas dos funcionários do BB em relação ao go-verno não estão sendo correspondidas. “O terrornas agências continua”, declarou referindo-se aoPrograma Superação.

O representante do Banco do Brasil lembrouque o número de funcionários aumentou de 77 milpara 86 mil nos últimos dois anos e disse que apolítica de pessoal avançou nesse período.

Para o coordenador dopainel, o diretor de RelaçõesExternas e Parlamentares daANABB, Emílio Ribas Rodrigues,o Fórum reafirmou o compro-misso da entidade com o fun-cionalismo. “Mesmo diante dasdiversidades, apostamos emresultados positivos para asnegociações. “

Edgar Teixeira Dias, daoposição bancária, é afavor de mesas denegociação separadas

Lourenço do Prado, da Contec: rea-juste de 15,38% para todos os ban-cários

Joel Bueno manteve aimparcialidade: nãorefutou nem deu sinaisde que o BB podeatender reivindicações

Page 24: print A..O 180 - ANABB4 Ação ago/2005 “Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado”. Com es-ses versos nostálgicos do poeta português Aníbal Nazaré, imorta-lizados

24 Ação ago/2005

Graça Machado é diretora Administrativa e Finan-

ceira da ANABB

Caro Luiz Oswaldo,

Eu não sabia como escreverpara você, mas eu preciso escreverpara você. O assunto é a Cassi.Para falar numa linguagem de quevocê gosta, e para homenagear ogrande orador que você é e seu es-tilo marcante de citar escritores e compositores emsuas falas, vou me valer da música de Belchior, umfilho do Ceará que você tanto ama:“...Viver é melhor que sonhar/ E eu sei que o amor é

uma coisa boa,mas também sei/ Que qualquer canto

é menor do que a vida de qualquer pessoa”.

A Cassi foi criada para cuidar da vida das pes-soas. Descobri isso com mais intensidade depois quefui eleita para o Conselho Deliberativo. Lá pude vercomo a Cassi é importante para a vida dos funcio-nários do Banco e de seus familiares. Lá vi que “viveré melhor que sonhar... e que qualquer canto é me-nor do que a vida de qualquer pessoa”.

Quando você foi nomeado vice-presidente deGestão de Pessoas do Banco e chegou dizendo que“pessoas a gente não administra, a gente cuida”,meu sangue nordestino pulsou mais ligeiro, porquetenho certeza de que cuidar da Cassi é a melhor for-ma de cuidar das pessoas. Eu me enchi de esperan-ça quando no primeiro dia de sua gestão você foi aoSindicato e à Cassi, e de novo me lembrei deBelchior inclusive para convencer alguns amigos cé-ticos com os novos tempos que se anunciavam:“...Você não sente nem vê/ Mas eu não posso deixar

de dizer, meu amigo/ Que uma nova mudança em

breve vai acontecer/ E o que há algum tempo era jo-

vem, novo/ Hoje é antigo, e precisamos todos rejuve-

nescer”.

O tempo foi passando e porvárias vezes tentamos mostrar avocê a necessidade de incluir aCassi em uma agenda de priorida-des, convencê-lo da importância deabrir negociação para uma reformaestatutária que resolvesse a questãodo custeio. Você falou de suas difi-culdades mas sempre afirmou quereconhecia a importância da Cassipara o Banco e para a vida das pes-soas. Você achou que o acordo sa-larial não era adequado para discu-tir a Cassi; propôs um Grupo de Tra-balho, que sequer se reuniu uma vez;anunciou que este seria o ano daCassi... mas até agora só vemos oquadro se agravar.

De novo me lembrei deBelchior: “...Minha dor é perceber

que apesar de termos feito tudo, tudo que fizemos/

Ainda somos os mesmos e vivemos, ainda somos os

mesmos e vivemos/ Como nossos pais”.

Sei que os tempos não são fáceis e nunca es-perei paternalismo por parte do Banco, mas espera-va diálogo, abertura de negociação e sensibilidadecom as questões da Cassi.

Antes de me despedir, me valho mais uma vezde Belchior. Eu não queria um final triste para estacarta, mas o passar do tempo rápido demais, a con-juntura que nos cerca, a realidade da Cassi nãopermitem que eu me aliene e deixe de dividir com oamigo esta angústia: “...Mas não se preocupe meu

amigo com os horrores que eu lhe digo/ Isso é so-

mente uma canção, a vida, a vida realmente é dife-

rente/ Quer dizer, a vida é muito pior”.

Tenho uma amiga que ensina para seus filhosque só terá valido a pena ter vindo ao mundo se forpara mudá-lo para melhor. É isso.

Receba meu abraço amigo,

Graça

Clausen Bonifácio