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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO CURSO DE MARKETING GLOBALIZADO ABERTURA COMERCIAL E REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA MARCELLO GIL ORIENTADOR: NILSON GUEDES DE FREITAS Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

CURSO DE MARKETING GLOBALIZADO

ABERTURA COMERCIAL E REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA

MARCELLO GIL

ORIENTADOR: NILSON GUEDES DE FREITAS

Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2002

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

CURSO DE MARKETING GLOBALIZADO

ABERTURA COMERCIAL E REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL BRASILEIRA

MARCELLO GIL

Trabalho Monográfico apresentado

como requisito parcial para obtenção

do Grau de Especialista em Marketing.

Rio de Janeiro, RJ, fevereiro/2002

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família e aos meus pais, que me deram a vida e que me ensinaram a vivê-la com dignidade. Iluminando os caminhos obscuros com afeto e dedicação para que eu trilhasse sem medo e cheio de esperanças. A vocês que se doaram inteiramente e renunciaram aos seus sonhos, para que muitas vezes eu pudesse realizar o meu. Não bastaria dizer muitíssimo obrigado.

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AGRADECIMENTOS

“É, sobretudo, natural do ser humano a necessidade de incentivo para que busque com determinação as suas metas”. “O meu sincero agradecimento a vocês, professores que me fizeram pensar, raciocinar e a questionar o que diziam estar certo, me ensinando a ser uma profissional capaz”. “A todos aqueles que estiveram comigo nos dias mais anônimos, nas horas mais simples e que, mesmo assim, contribuíram para a construção deste trabalho, e a você minha querida avó, os meus mais sinceros agradecimentos.”

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AGRADECIMENTO A DEUS MEU DEUS, Eu não tenho idéia para onde estou indo, não vejo a estrada à minha frente. Não posso saber, com certeza, onde ela irá terminar. Nem eu me conheço perfeitamente, e o fato de pensar que estou seguindo Vossa Vontade não significa que o esteja, mas creio que sim. Creio que o desejo de agradar-vos realmente vos agrada. Espero ter esse desejo em tudo que faço. Espero nada fazer fora desse desejo. E sei que, se eu o fizer, Vós me conduzireis ao caminho certo, mesmo que no momento eu o ignore. Portanto, confiarei em Vós sempre e, ainda que pareça estar perdida e na sombra da morte, não terei medo, porque sei que nas minhas provações nunca me abandonareis sozinha. Obrigado Senhor.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO.............................................................................................................08 CAPÍTULO 1 Definição do conceito de Abertura comercial e do Processo de Reestruturação Industrial..........................................................................................................................11 1.1 – A Situação no início da década de 90.....................................................................11 1.2 – A Reestruturação Industrial no Brasil....................................................................14 1.3 – Reestruturação Industrial em Contexto de Abertura e Integração: Uma Análise dos Modelos de Reestruturação Industrial.............................................................................17 1.4 – Um Modelo de Reestruturação Industrial para o Brasil: Condicionantes, Objetivos, Diretrizes e Linhas de Ação.............................................................................................19 1.5 - Os Instrumentos da Política de reestruturação Industrial........................................24 CAPÍTULO 2 Impactos da Abertura Comercial sobre a evolução da Indústria nos anos 90 face ao Processo de Reestruturação Industrial.............................................................................25 2.1 – A Herança da Crise.................................................................................................25 2.2 – A Situação Macroeconômica..................................................................................26 2.3 – A Desorganização do Estado..................................................................................27 2.4 – Do Ajuste Exportador à Abertura Comercial.........................................................29 2.5 – Evolução Macroeconômica Recente e Reestruturação Industrial..........................33 CAPÍTULO 3 Reestruturação Industrial – Um Enfoque Setorial...........................................................40 3.1 – Reestruturação e Inserção Externa da Indústria....................................................40 3.2 – Evolução da Produção Industrial............................................................................50 CAPÍTULO 4 Reestruturação Industrial – Um Enfoque por Diferentes Grupos de Setores..................53 4.1 – Mudanças Econômicas e Institucionais e Resposta Empresarial...........................53 4.2 – Perspectivas de Evolução no sentido de uma nova Estrutura Industrial................61

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CONCLUSÃO................................................................................................................71 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................74

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Abertura Comercial e Reestruturação Industrial no Brasil.

INTRODUÇÃO

A abertura comercial brasileira ao exterior tem sido o principal instrumento do

processo de modernização em curso no País e tem induzido importantes transformações

na indústria nacional.

A reestruturação industrial é resultado de uma política setorial de horizonte

temporal definido, cujo objetivo consiste em, através de ações articuladas desenvolvidas

pelas firmas e por entidades públicas e privadas, recompor a competitividade de

segmentos industriais maduros tecnologicamente e ameaçados pelo processo de

transição entre modelos de desenvolvimento industrial e, em especial pela liberalização

comercial e pela integração sub-regional.

Nesse sentido , a reestruturação não se confunde com o esforço permanente de

incremento da produtividade industrial, que também exige a mobilização coordenada de

recursos e de instituições, neste caso em torno de uma política de competitividade. Este

esforço depende essencialmente da implementação de política permanentes e do

estabelecimento de um quadro sistêmico que induza uma estratégia de aumento da

produtividade.

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Assim sendo a reestruturação industrial é resultado de um tipo específico de

política setorial que se caracteriza pelo:

• Uso concentrado no tempo de instrumentos essencialmente horizontais, combinados

segundo os objetivos de cada programa setorial de reestruturação;

• Estabelecimento de uma marco institucional e regulatório especial para os setores

selecionados, combinando a oferta de condições favoráveis às iniciativas de

reestruturação e de recuperação de competitividade com a definição de regras e

procedimentos que imponham às empresas algum tipo de disciplina quanto ao

atendimento dos objetivos do programa setorial.

A eficácia de políticas voltadas para alterar o nível e a composição setorial da

produção doméstica, entretanto, depende das características específicas da indústria em

que a liberalização ocorra. Argumentos puramente conceituais são insuficientes para

justificar a adoção desse tipo de intervenção, pois a existência de imperfeições no

mercado de produtos pode tanto reduzir quanto aumentar os ganhos tradicionais do

comércio, dependendo dos efeitos da liberalização sobre as externalidades tecnológicas,

os retornos crescentes ou as rendas extraordinárias da economia. Definir a política de

reestruturação industrial mais adequada para um país requer, entretanto, agregar

informações a respeito do sentido e da magnitude dos efeitos das imperfeições do

mercado de produtos pós – liberação às recomendações de ordem teórica.

Este trabalho tem como um de seus objetivos, permitir observar a evolução das

reações empresariais ao crescimento do grau de abertura da economia ,visando

identificar através de uma análise dos seus resultados, perceber como a indústria

brasileira está se preparando para enfrentar a concorrência de produtos importados e

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como as estratégias de reação são alteradas à medida que o programa de abertura

avança.

O primeiro capítulo trata da definição do conceito de abertura comercial e do

processo de reestruturação industrial com enfoque neste processo no Brasil e

apresentando uma análise de outras experiências de reestruturação em outros países da

América Latina.

O segundo capítulo aborda o impacto da abertura comercial sobre a evolução da

indústria nos anos 90 face ao processo de reestruturação industrial.

O terceiro capítulo trata de um enfoque setorial analisando através de dados

apresentados em tabelas, as mudanças ocorridas em diversos setores a partir do processo

de reestruturação.

O quarto e último capítulo analisa teoricamente as mudanças econômicas e a

resposta empresarial de diferentes grupos de setores ao processo de reestruturação

industrial

“ A maior abertura da economia introduz grandes desafios e novas oportunidades para

a indústria brasileira..Estamos certos de que o setor industrial caminha para vencer o

desafio da maior inserção internacional. É fundamental , todavia, que a liberalização

das importações seja acompanhada pelo avanço nas demais reformas estruturais, pela

estabilidade de regras e pela perspectiva de progressos no caminho da estabilidade

econômica.” (Albano Franco – Presidente da CNI)

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CAPÍTULO 1

DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE ABERTURA COMERCIAL E DO

PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL

1.1 A Situação no início da década de 90

Segundo o Estudo do BNDES sobre Abertura Comercial e Indústria (Maurício

Mesquita e Paulo Guilherme Corrêa - 1996), desde o início da década de 80 , quando se

ouviu , com a moratória mexicana, o canto do cisne dos regimes de substituição de

importações (SI) , políticas de liberalização comercial, vêm se generalizando entre os

países em desenvolvimento (PEDs). Por trás deste movimento está a crença de que o

livre comércio poderá elevar o bem – estar da população e gerar uma trajetória de

crescimento econômico acelerado, através principalmente de ganhos de eficiência

alocativa. O Brasil, como se sabe, não foi uma exceção, muito embora tenha iniciado

sua abertura comercial bem mais tarde do que os demais.

A preocupação com o nível e a composição setorial da produção nacional de

diversos produtos foi uma constante da política industrial e de comércio exterior

brasileira do pós – guerra até 1990. Nesse período, essa política esteve, de maneira mais

ou menos explícita, orientada pelo objetivo de ampliar e diversificar a capacidade

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produtiva local, através da restrição das importações, da alocação de taxas de câmbio

diferenciadas, da concessão de créditos subsidiados e de isenções fiscais, criando

condições favoráveis de rentabilidade em setores selecionados. Em 1990, o governo

brasileiro alterou profundamente esse estilo de intervenção e definiu uma nova política

industrial e de comércio exterior para o país, cujos objetivos eram maximizar a taxa de

crescimento da produtividade ao longo do tempo e elevar o salário real, através da

implantação de um programa de liberalização comercial, da eliminação dos incentivos

setorialmente específicos e da adoção de medidas de apoio ao aumento da

competitividade das empresas, independentemente do setor em que atuavam. Essa nova

orientação admitia, implicitamente, que o nível e a composição da produção nacional de

manufaturados seriam determinados pelo mercado, em função das condições de

inserção internacional do país.

Com a conclusão do cronograma de abertura em 1994, entretanto, o governo

tornou a adotar medidas setorialmente discriminatórias para compensar indústrias

potencialmente ameaçadas pela abertura. Ao longo de 1995, o governo elevou a alíquota

de importação de eletrodomésticos, têxteis e calçados para 70%, criou um conjunto de

incentivos particulares à indústria automobilística ( o regime automotriz) e abriu linhas

especiais de crédito no BNDES para as indústrias têxteis, calçados e autopeças. Essas

medidas possuíam caráter emergencial, não levando em conta seus efeitos sobre o

restante da economia e sobre o nível e a composição da produção brasileira de

manufaturados, abrindo assim margem à investigações sobre a possibilidade ou não de

uma intervenção estatal sobre tais processos de liberalização comercial e reestruturação

industrial no Brasil.

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As mudanças ocorridas na política econômica e industrial no período remetem a

discussão no sentido das interações macro/micro, que são reconhecidas como um

fenômeno econômico relevante e complexo. Relevante porque sinais do ambiente

econômico/institucional definem os graus de liberdade para a decisão empresarial sobre

investimento, produção e distribuição. Complexo pela multiplicidade de canais de

interação, direção das relações causais e assimetrias na capacidade de resposta dos

agentes econômicos. Esses fatores, entre outros, colocam grandes dificuldades teóricas e

analíticas para a compreensão adequada de como as firmas reagem à mudanças no

ambiente competitivo, principalmente se a intensidade destas mudanças for alta e

persistente por um longo período de tempo.

Frente às mudanças econômicas e institucionais ocorridas, as firmas tiveram que

se adaptar, com maior ou menor êxito, dependendo de sua capacidade de resposta aos

sinais externos. As assimetrias na capacidade de resposta estabelecem vencedores e

perdedores, provocando um verdadeiro processo de seleção, ditado mais pela incerteza

sistêmica e menos pelo próprio processo competitivo.

A questão que se interessa investigar nesse trabalho é como a indústria reage às

sucessivas mudanças no ambiente competitivo decorrentes dos processos de inflação e

estabilização, por um lado, e fechamento e abertura, por outro, tomando o ano se 1985

como marco inicial da análise. Todo o período caracterizou-se por condições de

contorno de elevada incerteza. Porém, conforme estudos apresentados por Maurício

Mesquita e Paulo Guilherme Corrêa ( BNDES, 1996), há diferenças importantes em

termos das fontes geradoras dessa incerteza:

No período 1985-89, de instabilidade inflacionária com protecionismo, as fontes

macroeconômicas de incerteza foram as mais relevantes;

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No período 1990-93, de liberalização econômica com explosão inflacionária e

recessão, fontes ,macro e microeconomias de incertezas se fizeram presentes com

grande intensidade, tornando esse período o de ambiente sistêmico mais conturbado;

Por fim, no período 1994-97, de estabilização monetária com aprofundamento da

abertura, as fontes microeconômicas de incerteza passaram a predominar

O objetivo da política de reestruturação industrial é induzir transformações

importantes no parque industrial existente . Por definição, esta política não visa nem à

expansão da capacidade produtiva instalada, nem à promoção de novos setores ou

segmentos cuja oferta se pretendesse internalizar, na linha da substituição de

importações. Ademais, não se postula nenhuma prioridade ex ante para o objetivo de

eliminação ou redução da capacidade instalada dos setores a reestruturar, embora não se

possa excluir a adoção de tal objetivo dentro de um programa setorial específico.

1.2 - A Reestruturação Industrial no Brasil

O marco regulatório e a política industrial típicos da substituição de importações

visavam viabilizar a expansão horizontal do parque industrial, criando, através de

mecanismos administrativos de proteção e promoção, condições de rentabilidade para

os investimentos, independente de quaisquer considerações relacionadas à

competitividade internacional dos bens a serem produzidos.1

As políticas de promoção e de proteção à indústria local contribuíram para

consolidar estruturas industriais pouco competitivas e tiveram significativo impacto

1 ¹ Guimarães , Eduardo Augusto – Reestruturação Industrial em Contexto de Abertura e Integração – BNDES (1995)

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sobre as decisões de investimento privado e sobre as estratégias empresariais de

desenvolvimento, voltadas basicamente para a obtenção de elevados níveis de

rentabilidade no mercado interno. No caso de diversos setores, o marco regulatório

induziu a verticalização das empresas, desestimulou a articulação virtuosa entre

produtos e fornecedores e conferiu demasiado poder de mercado a produtores

domésticos. Essas dificuldades respondem pelo pouco progresso registrado na

formulação e implementação da política de concorrência e da política de

competitividade, bem como por entraves que têm impedido a gestão eficiente de

instrumentos e mecanismos inerentes à política de abertura ( Antidumping e Anti-

subsídios etc.).

Em adição ,as dificuldades referidas e o processo de deterioração do setor público

tiveram efeitos significativos sobre diversos dos condicionantes sistêmicos da

competitividade industrial . O contraste entre a rápida mudança no quadro de

condicionantes e objetivos ( explícitos e implícitos) de política industrial e a inércia

institucional e regulatória configura um ambiente em que:

• As empresas são colocadas sob intensa pressão competitiva, demandando recursos

para aumentar sua produtividade;

• Os fatores sistêmicos de competitividade ( tributos, infraestrutura..)continuaram a

funcionar segundo a lógica típica de uma economia protegida e pródiga em

instrumentos de promoção subsidiados;

• O quadro regulatório da política industrial não foi capaz de ofertar, em bases

compatíveis com o novo quadro de condicionantes e de objetivos, os recursos

necessários para as empresas levarem adiante uma estratégia de recuperação de sua

competitividade.

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Apesar disto, o fato é que muitas empresas brasileiras responderam

espontaneamente ao processo de abertura comercial, se ajustando e tornando-se mais

competitivas, o que nos permite indagar quanto à necessidade de uma política de

reestruturação industrial.

Responde-se a esta questão afirmando a sua necessidade porque , em primeiro

lugar, o processo de ajuste do sistema produtivo ao novo quadro criado pela abertura

comercial, não foi geral, ou seja, não atingiu todos os setores , abrangendo apenas uma

parcela das empresas nos segmentos industriais mais sujeita à concorrência externa e em

segundo lugar, porque o impacto do processo de abertura ainda não se esgotou. De fato,

o fluxo de importações tende a responder lentamente `a redução do nível de proteção,

refletindo, entre outros fatores, a necessidade de se estabelecer canais de

comercialização para os produtos importados. Além disso, o processo de abertura ainda

não se esgotou porque o mesmo deverá se aprofundar através da nova rodada de

redução tarifária associada à implementação da Tarifa Externa Comum (TEC).

A formulação e a implementação de políticas de reestruturação se coloca hoje

como o principal desafio a ser enfrentado pela política industrial. Mais uma vez, a

experiência anterior contribui pouco nesse sentido. Possivelmente os esporádicos

programas de modernização implementados no passado, envolvendo sobretudo a

substituição de equipamentos e notadamente a indústria têxtil, constituem a experiência

mais próxima de reestruturação hoje requerida. Contudo , tal política se defronta, como

se viu, com requisitos mais complexos do que a modernização do estoque de bens de

capital ou mesmo a incorporação de novas técnicas e métodos organizacionais e

gerenciais.

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1.3 - Reestruturação Industrial em Contexto de Abertura e Integração:

uma Análise dos Modelos de Reestruturação Industrial

A análise de outras experiências fornece algumas evidências sobre características

gerais de processos de reestruturação industrial, viabilizados a partir de estímulos de

políticas públicas. No seu conjunto, as políticas de reestruturação da Europa operam em

três níveis:

• O nível comunitário, que abrange os instrumentos geridos supranacionalmente pela

CEE, especificamente as políticas comercial e de concorrência, que funcionam como

indutores permanentes do processo de reestruturação industrial (operando como

instrumentos de corte horizontal).

• O nível regional e nacional, que abrange as políticas de reestruturação de âmbito

setorial ou regional geridas conjuntamente pela CEE e pelos Estados Nacionais,

funcionando como mecanismo tópico de reestruturação produtiva, cujo objetivo é

reduzir/ eliminar disparidades competitivas entre setores ou regiões herdadas ou geradas

pelo processo de integração ( são políticas de corte vertical); e

• Nível infranacional, coordenado por instituições privadas e públicas de âmbito

regional ou municipal à margem das políticas e dos instrumentos geridos pela CEE.

Neste caso – ilustrado pela experiência dos distritos industriais a condução dos

processos de reestruturação produtiva está balizada por especificidades locais capazes

de assegurar a manutenção de um ambiente que produza sinergia a partir da

concentração entre as dinâmicas de competição/cooperação das firmas em diferentes

setores.

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A experiência de alguns países da América Latina também salienta alguns aspectos

específicos dos processos de reestruturação industrial na região.

Em seus programas de reforma e estabilização, o México e a Argentina tentaram colocar

ênfase em políticas de estímulo aos mecanismos de mercado em políticas horizontais ou

neutras para fomentar a base industrial. Inicialmente , na Argentina só a indústria

automotriz mereceu um regime setorial ,enquanto no México o Governo abandonou o

caráter mais intervencionista dos regimes setoriais da década de 80.

De forma resumida, as principais diferenças entre os programas de reestruturação

do México e da Argentina são os seguintes:

a) Na Argentina, os programas de reestruturação não são de natureza estritamente

setorial, e o governo não escolhe firmas nem metas ou objetivos da reestruturação;

Os programas do México são mais amplos, pois incluem apoio tecnológico, de

coordenação, management e financiamento. Na Argentina, somente o programa os

pólos produtivos regionais tem apoio tecnológico explícito.

b) No México existe um marco institucional misto para o acompanhamento dos

programas de reestruturação. Na Argentina não há marco institucional definido.

Em ambos os países, a contribuição da política fiscal é centrada na isenção de tarifas

alfandegárias para importar insumos ou produtos competitivos, produzir

domesticamente algumas linhas e exportar uma parcela crescente da produção. Os

incentivos fiscais à exportação são muitos aplicados nos dois países, mas não

exclusivamente como parte das políticas de reestruturação.

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1.4 - Um Modelo de Reestruturação Industrial para o Brasil:

Condicionantes, Objetivo, Diretrizes e Linhas de Ação. ³

A reestruturação industrial objetiva, em um período de tempo determinado e através de

ações articuladas envolvendo os setores público e privado, restaurar a competitividade

de segmentos industriais maduros e ameaçados pelos impactos do processo de transição

entre estratégias de desenvolvimento industrial e, em especial, pela liberalização

comercial e pela integração sub-regional.

O desenho e a implementação de políticas de reestruturação industrial no Brasil

estão hoje condicionados pelos fatores indicados a seguir:

a) O processo de estabilização macroeconômica, que atua sobre a política de

reestruturação através, principalmente, de dois mecanismos:

• Primeiro, o ajuste fiscal necessário para a estabilização impôs sérias restrições ao

uso de instrumentos onerosos para o Tesouro (em particular o uso de mecanismos de

renúncia fiscal e de subsídios diretos e indiretos);

• Segundo, o período de apreciação cambial aumentou o grau de exposição da

indústria brasileira e, portanto, potencializou os impactos da liberalização comercial

sobre a indústria. Como a reestruturação industrial é voltada para segmentos ou setores

ameaçados, pode-se supor que, em condições de apreciação cambial, cresceu o número

de setores candidatos a este tipo de política.

b) A configuração dos fatores de competitividade sistêmica, os quais ainda operam

segundo a lógica típica de uma economia onde a indústria era beneficiada por sólidos

regimes de promoção e de proteção.

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c) Os processos de liberalização comercial e de integração sub-regional, que, com a

entrada em vigor da Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, estarão intimamente

articulados. A TEC não introduz nenhuma descontinuidade radical em relação à

estratégia de liberalização unilateral do Brasil e, na verdade, são as recentes medidas de

redução tarifária – e de eliminação de barreiras para-tarifárias não fronteiriças- que

podem gerar mais efeitos positivos sobre as importações.

As principais implicações destes processos para a política de reestruturação industrial

são:

• Primeiro, aumenta o grau de exposição da indústria à competição externa,

reforçando os efeitos da apreciação cambial e produzindo um aumento potencial na “

demanda por reestruturação” ; e

• Segundo, reduz-se a margem de liberdade do país em matéria de política

comercial (exportação e importação) e de política industrial, como resultado dos

compromissos assumidos no Mercosul e na Rodada Uruguai do GATT.

d) A estrutura industrial “herdada” do período de substituição de importações e do

ajuste do início dos anos 90. As políticas de promoção industrial de corte setorial e

proteção comercial definiram uma estrutura industrial heterogênea, em termos intra-

setoriais e cuja sustentabilidade se assentava essencialmente na manutenção do poder de

competição restrito de corrente daquelas políticas.

Neste sentido, a mudança dos regimes de política industrial e de comércio exterior

que se verifica nos primeiros anos da década de 90 impôs às empresas a necessidade de

ajustes em suas estratégias de concorrência e de produção. Mesmo se, até o momento,

estes ajustes envolveram principalmente a reestruturação de empresas, no plano

microeconômico já era possível afirmar que a própria dinâmica de reestruturação

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empresarial tendia a ampliar a heterogeneidade intra-setorial herdada da fase de

substituição de importações. Grandes empresas, em geral exportadoras, conseguem

definir estratégias de ajuste e mobilizar os recursos financeiros e humanos para

implementá-las. Ao contrário, pequenas e muitas médias empresas enfrentam

dificuldades na própria formalização de uma estratégia de ajustes.

Em função desses problemas, consolidavam-se à época, algumas diretrizes gerais

capazes de aumentar a eficácia da política de reestruturação industrial. Dentre estas, é

possível mencionar:

a) Tratamento dos problemas de reestruturação industrial no marco de programas

setoriais, que concretizem a idéia de coordenação e de concentração temporal do uso de

instrumentos de política.

A natureza setorial dos programas de reestruturação limita o escopo dos

instrumentos a serem mobilizados, na verdade, apenas em casos de indústrias com

inserção regional pronunciada poder-se-ia eventualmente considerar pertinente

iniciativas dessa natureza, cabendo nessa situação atribuir ao governo estadual,

preferencialmente em parceria com o setor privado local, a mobilização dos recursos

necessários à realização dos investimentos.

b) Coordenação interinstitucional na montagem e operacionalização dos programas

setoriais, aproveitando as especializações institucionais e criando sinergias.

c) Articulação de iniciativas e instrumentos de política de reestruturação industrial

nos planos nacional, sub-regional ( Mercosul) e infranacional ( estados da Federação).

É necessário, ainda, uma hierarquia entre as instâncias, que discipline o uso de

instrumentos, harmonizando-os segundo objetivos e critérios preestabelecidos. Assim, a

participação de um país em uma união aduaneira implica a definição, em plano

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supranacional, dos instrumentos de política industrial nacional admissíveis e aqueles

acionáveis pelos parceiros ou seja, define o campo de possibilidades em termos do uso

de instrumentos de política por um país membro.

d) Atenção aos efeitos e impactos dos programas setoriais de reestruturação

industrial sobre:

• A concorrência no mercado doméstico: embora o uso de instrumentos de proteção

deva ser contemplado, ele não deve funcionar como um mecanismo para evitar os

ajustes necessários;

• As cadeias produtivas e a competitividade da indústria, evitando-se a elevação dos

custos do sistema produtivo, principalmente aquela que deriva do encarecimento de

insumos básicos; e

• Os níveis de preços e os interesses dos consumidores.

e) Caráter excepcional dos programas de reestruturação.

Cabe destacar que os programas de reestruturação industrial, dadas as suas próprias

características, têm caráter excepcional e deverão contemplar um número limitado de

setores, requerendo, portanto, avaliação rigorosa dos pleitos formulados.

De todo modo, se for necessário priorizar entre diversos programas, deve-se levar

em consideração características específicas dos possíveis setores-alvo, como sua

inserção na cadeia produtiva e as externalidades por ele produzidas, bem como o

impacto do programa de reestruturação sobre o emprego ou sobre o desenvolvimento

regional.

Para se atingir os objetivos propostos nos programas de reestruturação industrial,

algumas linhas de ação mostravam-se funcionais. Dentre elas, é possível mencionar:

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a) Viabilizar a oferta de recursos – informacionais de coordenação e capacitação e de

financiamento para que empresas com potencial de recuperação em segmentos objeto de

programas de reestruturação industrial restaurem sua competitividade e “endogeneízem”

os determinantes de uma estratégia permanente de aumento de produtividade.

b) Definir um quadro regulatório específico para o segmento a ser reestruturado, no

marco do programa, a fim de compensar a vigência do quadro regulatório e sistêmico

que constitui um obstáculo à implementação de estratégias competitivas.

c) Estabelecer um quadro institucional de gestão da reestruturação industrial que

permita a coordenação dos instrumentos horizontais mobilizados pelos programas, bem

como das instituições pertinentes e das instâncias decisórias (nacionais, supra e

infranacionais).

d) Definir, dentro dos programas setoriais, regras e mecanismo diferenciados para as

grandes ou para as pequenas e médias empresas.

1.5 - Os Instrumentos da Política de Reestruturação Industrial 4

A política de reestruturação envolve o uso concentrado de instrumentos de política

industrial essencialmente horizontais, combinados segundo os objetivos de cada

programa setorial. Nesse contexto aparecem como prioritários os instrumentos

contemplados pelas políticas de:

• Financiamento aos investimentos;

• Concorrência;

• Comércio exterior ( exportação e importação);

• Pequena e média empresa;

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• Trabalho ( ênfase em treinamento e qualificação);

• Capacitação tecnológica;

• Normas técnicas e qualidade;

• Desenvolvimento regional; e

• Regulamentação das fusões, incorporações e privatização de firmas, bem como

políticas relativas à “saída” de empresas dos mercados.

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CAPÍTULO 2

IMPACTOS DA ABERTURA COMERCIAL SOBRE A EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA

NOS ANOS 90 FACE AO PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL.

2.1 - A Herança da Crise 5

A debilidade do mercado interno brasileiro após a conclusão do ciclo de

substituição de importações, a deficiente integração com o mercado internacional e,

principalmente, a limitada capacitação das empresas nacionais para desenvolver novos

processos e produtos constituíam elementos potencialmente desestabilizadores do

processo de industrialização brasileiro.

Com o início dos anos 80 vieram dez anos de instabilidade e estagnação que

conduziram ao atraso relativo da indústria brasileira. Ao mesmo tempo em que a

indústria mundial passava por um processo de intensa transformação, o investimento

produtivo no país se contraía. Afora o pequeno período de recuperação em meados da

década – resultante inicialmente da expansão das exportações e de um excelente

desempenho da agricultura e, a seguir, do fortalecimento do mercado interno

proporcionado pelo Plano Cruzado – o declínio do produto interno bruto e das taxas de

investimento predominaram nos anos 80. Como conseqüência, em 1989 a renda per

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capita do país situava-se no mesmo nível de 1980, deteriorando-se ainda mais no início

dos anos 90

Ao longo do período enfocado, a indústria brasileira foi incapaz de manter um

crescimento sustentado, pouco contribuiu para a incorporação aos mercados de trabalho

e de consumo de amplas parcelas da população deles alijadas e tampouco evoluiu no

sentido de uma inserção mais dinâmica no cenário internacional.

Enfrentando um ambiente macroeconômico extremamente adverso ao longo de

todo esse período, as empresas industriais adotaram estratégias de sobrevivência que

embora demonstrem grande capacidade de resposta, levaram a uma transição na direção

do novo paradigma tecnológico e competitivo internacional de forma desigual entre

setores e empresas .

A conjuntura macroeconômica adversa por um período de tempo prolongado,

marcada por descontrole da inflação, estagnação econômica e crise de financiamento do

setor público, teve sérias repercussões sobre os determinantes sistêmicos da

competitividade. O quadro de estagnação econômica, aceleração inflacionária e

desorganização do setor público teve também impactos desfavoráveis sobre os

determinantes sociais da competitividade, principalmente no que diz respeito à

educação e qualificação da mão-de-obra e aos padrões de vida da grande maioria dos

consumidores.

2.2 - A Situação Macroeconômica

Ao iniciar-se a década de 90 a economia brasileira mantinha-se em um processo

de explosão inflacionária com tendências à hiperinflação reprimidas por planos de

estabilização cada vez menos eficazes. (Ferraz, João Carlos, Made in Brazil,1997 p.57)

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O comportamento instável dos preços aliado às distorções na condução da

economia introduzidas pela sucessão de experimentos malsucedidos de controle da

inflação afetaram negativamente os determinantes macroeconômicos da

competitividade. No caso brasileiro, a recorrência de planos antiinflacionários (entre

1986 e 1994 foram implementados pelo menos seis planos), implicou o

desenvolvimento de comportamentos defensivos que, com o aprendizado, foram-se

aperfeiçoando ao longo do tempo. A remarcação “preventiva” de preços é apenas a

forma mais visível desses comportamentos.

2.3 - A Desorganização do Estado

A instabilidade macroeconômica e a explosão inflacionária, em conjunto com os

custos de ajustamento à crise da dívida externa, tiveram por conseqüência não apenas a

crise financeira do setor público, mas também uma profunda crise institucional, com a

desarticulação e perda de capacidade operacional de diversos órgãos do governo

encarregados de executar a política econômica. Esse processo teve efeitos

extremamente desfavoráveis em relação à maior parte dos determinantes político-

institucionais da competitividade.

Durante boa parte da década de 80, a política de comércio exterior e tarifária ficou

inteiramente subordinada ao objetivo maior, imposto pela crise externa, de minimizar as

importações a qualquer custo através do recurso a todo tipo de barreiras tarifárias e não-

tarifárias. Mais para o final da década, começou o processo de revisão da estrutura

tarifária em que se promoveu inicialmente a substituição de barreiras não-tarifárias por

proteção tarifária e posteriormente a redução geral das alíquotas.

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As relações entre tributação e competitividade não se esgotam no tamanho da

carga tributária, mas dizem respeito também e principalmente à relação entre sua

dimensão e estrutura, sua compatibilidade com os blocos de comércio com os quais o

país transaciona, bem como à eficiência do sistema arrecadador.

Ao aumento da importância da política científica e tecnológica como

externalidade na acumulação e difusão de capacitação tecnológica empresarial não tem

correspondido igual aumento da prioridade concedida à área no Brasil. Ao contrário,

nos últimos anos observa-se uma deterioração parcial da infra-estrutura tecnológica

devido à escassez de recursos públicos e aos baixos níveis de investimentos privados.

As conseqüências da desarticulação ocorrida no sistema de desenvolvimento

científico e tecnológico brasileiro ao longo da década de 80 são ainda mais graves

quando se leva em consideração o fato de que esse foi um período de intensificação dos

esforços tecnológicos no mundo.

A disparidade nos níveis de renda e consumo da população favorece a

heterogeneidade de capacitações competitivas na indústria brasileira. A crise econômica

e social deixou como herança a degradação da base de mercado, evidenciada pelos

baixos níveis de consumo per capita da grande maioria dos produtos industriais. Além

da contração da demanda interna, o empobrecimento da população levou a um

distanciamento da pauta de produtos ofertados no país com relação ao comercializados

internacionalmente. A presença de empresas com deficiências competitivas é

particularmente acentuada nos setores voltados para o consumo pessoal interno e nos

principais fornecedores desses setores.

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2.4 - Do Ajuste Exportador à Abertura Comercial

O início dos anos 80 foi marcado por uma recessão mundial, uma piora nos

termos de troca ocasionada por quedas nos preços das commodities exportadas pelo país

e pelo segundo choque do petróleo ( Ferraz, João Carlos – Made in Brazil, 1997 p.70).

Em termos dos fluxos de capital, ocorreu inicialmente a elevação brutal dos juros

externos e por fim a completa cessação de empréstimos bancários voluntários aos países

em desenvolvimento a partir de 1982, enquanto a tendência dos investimentos diretos

externos foi a de se direcionar para os próprios países industrializados.

Devido a esses condicionantes externos, a economia brasileira foi forçada a

racionar ao máximo as importações e fazer um intenso ajuste exportador durante a

maior parte da década de 80. Somente ao final da década e no início dos anos 90, com a

queda dos encargos da dívida externa, juntamente com a retomada dos fluxos

voluntários de capital financeiro ( agora ligados a operações de securitização , ou de

natureza eminentemente especulativa e não bancária) atraídos pelo excesso de liquidez e

baixas taxas de juros vigentes nos países centrais, é que se tornou possível o início de

um movimento de abertura comercial com um rápido crescimento das importações.

O Brasil possui uma pauta de exportações diversificada em termos dos setores de

origem dos produtos, embora concentrada em bens de consumo intermediário. O peso

dos produtos manufaturados aumentou sistematicamente, evoluindo de cerca de 30%,

em meados dos anos 70, para mais de 60% em 1992, período em que também dobrou a

participação dos semimanufaturados.

Quanto às importações, a tendência declinante na década passada é explicada

basicamente pelas restrições tarifárias, e essa tendência foi em grande parte, não-

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tarifárias herdadas do modelo de substituição de importações e reforçada nesse período

pela crise da dívida externa, pela recessão interna e pela evolução favorável dos preços

do petróleo, conjugada à elevação do grau de autonomia brasileira neste produto.

A erosão da competitividade do Brasil manifestou-se ,já na segunda metade da

década de 80, através da perda de participação do país na corrente de comércio

internacional quando medida em valor. Enquanto em 1984 as exportações brasileiras

representavam 1,5% do comércio mundial, em 1990 essa participação foi de apenas

0,9% .

O desempenho recente mostra que esse tipo de inserção apresenta limites tendo

em vista a saturação dos mercados e a incapacidade desses setores definirem preços, em

geral estabelecidos em bolsas internacionais e muito sensíveis aos movimentos das

economias dos principais produtores.

O crescimento recente das importações, após a abertura da economia promovida

no início dos 90, aponta para o risco de erosão do saldo da balança comercial do país,

particularmente se a economia retomar uma trajetória de crescimento, como indica a

elevação de 25% nas importações de 1993 em relação a 1992 e de 30% de 1994 para

1993.

Embora tenha alcançado já no início da década de 80 um grau significativo de

diversificação da pauta de produção, a indústria brasileira apresenta grande

heterogeneidade estrutural intra e intersetorial. Convivem no país empresas e ramos

industriais modernos, com desempenho de excelência internacional, e outros muito

defasados em termos de produtos, processos e técnicas de gestão da produção.

Essa característica se aguçou após o longo período em que a indústria viu-se

imersa em um quadro de instabilidade e estagnação da produção.

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De fato, a natureza defensiva do ajuste empreendido pela indústria brasileira no

processo de reestruturação recente é consensualmente reconhecida. Como conseqüência

da estagnação, as empresas adotaram estratégias de sobrevivência que seguiram

basicamente três etapas:

A primeira metade da década de 80, marcada por grave crise cambial, mercado

interno deprimido, aceleração inflacionária e juros internos elevados caracterizou-se por

um duplo movimento. No plano patrimonial teve lugar um profundo ajuste financeiro,

no plano produtivo, um conjunto de empresas mais dinâmicas engajou-se em uma

trajetória de ampliação dos coeficientes de exportação.

Na segunda metade da década, diante da eminência do processo de abertura

comercial às importações – sinalizada pela revisão tarifária de 1987 – as estratégias de

modernização se reorientaram para a sobrevivência no mercado interno.

Com o prolongamento da recessão pelos anos de 1990 a 1992 e a eliminação efetiva

de restrições a produtos importados, a busca de redução de custos atingiu o âmago dos

processos produtivos, trazendo novas e decisivas características ao processo de

modernização. Diversas empresas implementaram profundas reestruturações que

incluíram desde a redução das linhas de produtos, com a concentração nas chamadas

“core competentes”, até a desverticalização da produção com aumento do conteúdo

importado, aproveitando-se da abertura comercial e passando pela terceirização das

atividades de apoio à produção, entre outros.

De forma coerente com esse posicionamento estratégico, as empresas

demostraram grande cautela no que diz respeito aos investimentos em capital fixo.

Em termos da capacitação produtiva a evolução foi mais tímida. A difusão de

equipamentos controlados por dispositivos microeletrônicos, assim como de novas

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técnicas organizacionais ligadas ao aumento da qualidade é, ainda, muito restrita ao

Brasil.

Com relação ao treinamento de pessoal, o gasto médio das empresas foi de apenas

0,5% do faturamento de 1992, apresentando porém uma evolução positiva de 20% com

relação aos dispêndios realizados cinco anos antes.

É com relação à evolução da capacitação tecnológica que o processo de

modernização recente revela mais nitidamente as suas deficiências.

Um problema grave com que se defronta a indústria é a crônica incapacidade de

conectar adequadamente o sistema produtivo com a infra-estrutura tecnológica , no que

se refere tanto aos sistemas de ciência e tecnologia quanto às instituições voltadas para a

tecnologia industrial básica.

Em suma, diante da perda de dinamismo macroeconômico as empresas adotaram

estratégias de aumento de eficiência produtiva que, embora comprovem a capacidade de

resposta do empresariado nacional, não proporcionaram um salto qualitativo do ponto

de vista da competitividade. Ao contrário da ampla renovação ou atualização do parque

industrial , as empresas optaram pelo “ enxugamento” da produção, com o abandono

das linhas de produtos de maior nível tecnológico em favor de produtos mais

padronizados, provocando um significativo descolamento da estrutura industrial

nacional em relação aos segmentos mais dinâmicos na pauta de consumo dos países

industrializados. Ao contrário de engajarem-se decididamente em esforços de

desenvolvimentos tecnológico, observou-se em vários casos desmobilização das equipes

de P&D e interrupção das atividades de pesquisa, fato que contribuiu para ampliar a

defasagem da capacitação inovativa local. Em vez de implementarem as formas

contemporâneas de relacionamento produtor-fornecedor e capital-trabalho, o caminho

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escolhido trouxe reflexos de desestruturantes sobre o mercado de trabalho e as redes de

fornecedores.

De todo modo, o ajuste produtivo recente mostrou-se bem sucedido na medida em

que não somente propiciou a sobrevivência das empresas como tornou-as melhor

preparadas para responder às pressões decorrentes da retomada do crescimento, iniciada

em 1993 e acelerada pela estabilização da moeda no ano seguinte.

No momento atual, a sustentação do ciclo expansivo, conjugada ao aumento das

importações pós-abertura comercial, em boa parte decorrente da própria natureza do

ajuste produtivo recente, coloca a indústria brasileira diante do duplo desafio de

expandir a capacidade produtiva em ritmo compatível com a retomada do crescimento

do mercado interno e ampliar as exportações de modo a manter a balança comercial

equilibrada ou mesmo superavitária.

A questão estratégica central para o destino da indústria brasileira está relacionada

ao comportamento das empresas e à natureza dos investimentos que serão realizados

nos próximos anos.

2.5 - Evolução Macroeconômica Recente e Reestruturação Industrial

Baseado nos dados do trabalho de Kupfer (Estudo de Competitividade – Fase III,

1998), desde os anos iniciais da década de 80 a industria brasileira encontra-se

submetida a fortes tensões oriundas dos desequilíbrios macroeconômicos e da transição

institucional que decorreram do esgotamento do processo de substituição de

importações como paradigma do desenvolvimento nacional

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Entre 1980 e 1994 o Brasil experimentou 9 planos de estabilização, 15 políticas de

indexação salarial, 19 mudanças nas regras de correção cambial, 22 propostas de

equacionamento da dívida externa e 20 planos de ajuste fiscal do estado. Em paralelo,

foi promovida uma reformulação radical no plano institucional expressa nas políticas de

liberalização comercial, desregulamentação da atividade econômica e desestatização,

que foram progressivamente se tornando hegemônicas ao longo do período. Em meio a

tal grau de instabilidade macroeconômica e institucional, não é de estranhar que a

tônica desses anos tenha sido um crescimento vegetativo do Produto Interno Bruto e

mesmo uma redução do PIB per capita. Somente em 1994, com a estabilização

monetária promovida pelo Plano Real, o PIB per capita superou os níveis do início da

década de 80.

Do ponto de vista macroeconômico, tanto a abertura quanto a estabilização

significaram mudanças descontínuas nas variáveis que formam as condições de

contorno do processo competitivo na indústria brasileira, definindo os graus de

confiança micro e macro respectivamente. Ambos os choques implicaram efeitos

contraditórios sobre o ambiente econômico. Em torno do eixo estabilização- abertura

foram então destacados para efeito desse trabalho três períodos diferenciados, que

resumem os principais momentos de mudança observados na economia brasileira entre

1985 e 1997. Estas mudanças estão localizadas em três conjuntos de determinantes : o

contexto internacional, o contexto nacional e as políticas macroeconômicas vigentes

conforme mostra a Tabela 1

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TABELA 1

Mudanças Econômico/ Institucionais e Grau de Confiança Empresarial

Fonte: Kupfer, David – Estudo de Competitividade Fase III - Novembro 1998

O primeiro período correspondeu a um ambiente competitivo em que coexistiam

um grau de confiança macroeconômica extremamente reduzido, decorrente da

instabilidade inflacionária e do baixo dinamismo da economia, parcialmente

contrabalançado por um grau de confiança macroeconômica menos desfavorável. Esse

último era conseqüência de um regime de incentivos e regulação da concorrência

orientado para a contenção de importações e promoção ativa de exportações. A política

industrial era claudicante em função da progressiva perda de capacidade financeira só

setor público e da crescente desorganização das instituições governamentais.

Do lado macro, durante este período foram tentadas formas de estabilização

ancoradas em arcabouços tradicionais e inauguram-se tentativas de corte heterodoxo,

como o Plano Cruzado. Inflação e choques cambiais periódicos tiveram efeitos

Período contexto internacional Contexto nacional Direção das políticas Grau de Confiança macro/micro

1985/89 Crise mexicana, Restrição cambial, Geração de divisas Baixa confiança macro e altainterrupção dos fluxos de capital inflação, crescimento (restrição deimportações e confiança micro

oscilante promoção de exportações), correçãomonetária, acordos FMI,PlanoCruzado, políticas contracionistas

1990/93 Plano Brady, condicionalidade Continuidade da inflação, Plano Collor, desregulação, Baixa confiança macro e microà emprestimos, crescente recessão liberalização comercial, privatizaçãoliquidez da indústria

1994/97 Acordo da dívida Estabilidade de preços, Plano Real, privatização da Crescente confiança macrodirecionada ao país, crise déficit comercial e fiscal, infraestrutura continuidade da e baixa confiança microfinaceira internacional crescimento " stop & go" desregulação e liberalização

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destrutivos sobre as finanças públicas. Progressivamente a única forma de

financiamento do déficit ainda disponível era a emissão indexada de títulos públicos

com baixa maturidade e liquidez garantida. Assim, o único instrumento disponível para

evitar a hiperinflação passou a ser a gestão das taxas de juros. O palco estava montado

para uma reprodução continuada da espiral inflacionária. Este processo era

temporariamente interrompido por uma série de planos de controle de inflação baseados

na estabilização da taxa de câmbio nominal e de salários que incluíam , às vezes,

controle de preços. O mais espetacular destes planos foi, sem duvida, o Plano Cruzado

de 1996. Para as empresas o ambiente era hostil mas não a ponto de colocar em risco a

sobrevivência devido à baixa probabilidade de novos entranhes ameaçarem as posições

de mercado então vigentes.

Esse quadro começa a ser modificado pela introdução, em 1988, de uma proposta

de liberalização tarifária e não tarifária, acelerada a partir de 1990 quando assume o

governo Collor, movido por um projeto de modernização da economia de cunho neo-

liberal. A liberalização comercial foi antecipada em quatro anos enquanto que, do lado

da gestão macroeconômica, um novo plano tenta, de forma drástica, controlar a inflação

através dadesmontagem dos sistemas de indexação, do congelamento de preços e,

principalmente, da poupança privada. No entanto as autoridades públicas não

conseguiram mudar as regras de liquidez de novos títulos públicos e, em menos de um

mês, foi possível ao setor privado restaurá-las através de canais formais e informais.

Cresceram então pressões para desvalorizar a moeda e por taxas de juros positivas,

como forma de evitar a fuga de capitais. Em pouco tempo a inflação recrudesceu mas,

agora, acompanhada de forte recessão. Como resultado, a economia apresentou, em

1990, um crescimento negativo da ordem de 4%.

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A abertura comercial trouxe efeitos importantes tanto sobre a demanda quanto

sobre a oferta. Pelo lado da demanda, o efeito – demonstração da entrada de diversos

produtos importados com maior qualidade e preços mais baixos que os similares

nacionais contribuiu para tornar os consumidores locais, antes cativos dos produtores

domésticos, mais exigentes em termos das especificações e preços dos produtos. Pelo

lado da oferta, além da pressão baixista para reajuste de preços, o acesso facilitado a

insumos e equipamentos estrangeiros abriu caminho para que grande número de

empresas optasse pelo aumento do conteúdo importado da produção local como forma

de responder rapidamente às pressões dos consumidores por produtos melhores e mais

baratos.

A transição institucional em direção ao novo paradigma “ liderado pelo mercado”

associado ao processo de liberalização comercial, desregulação e desestatização-

revelou-se extremamente custosa em função da baixa credibilidade do governo e da

ausência ou inadequação das pré-condições estruturais e sistêmicas (infra-estrutura

física e tecnológica, financiamento, etc.). O resultado foi a perda de capacidade das

empresas de anteverem o tamanho dos seus mercados correntes, fato que implicou

redução do grau de confiança macroeconômica pré-existentes. O desconhecimento

quanto aos efeitos concretos da abertura em termos do potencial de penetração das

importações no mercado brasileiro constituiu uma, e talvez a mais importante dessas

novas fontes de incerteza.

Esse ambiente estruturalmente pouco propício à tomada de decisões de longo

prazo foi agravado por fatores conjunturais decorrentes do processo recessivo

atravessado pela economia que, por si só, impuseram restrições às decisões de investir.

Se é duvidosa a extensão com que o efeito abertura, isoladamente, poderia induzir

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investimentos em expansão ou modernização da indústria, conjugado ao efeito-recessão

pouco poder-se-ia esperar em termos de capacidade de resposta das empresas. Portanto,

na estilização que aqui se busca realizar, o período entre 1989 e 1993 correspondeu a

um ambiente competitivo em que os graus de confiança macro e macroeconômico

foram extremamente baixos, jogando a indústria em condições drásticas de incerteza.

No plano estrutural, o período iniciado em 1994 correspondeu a uma melhoria no

grau de confiança macroeconômica- que porém não foi acompanhada de uma melhoria

correspondente no grau de confiança microeconomica. Isto é, a estabilização monetária

de 1994, que inaugura o ultimo período, provocou e continua provocando efeitos

macroeconômicos ambíguos. O sucesso alcançado no controle das taxas de inflação

reduziu o numero de cenários de curto prazo, melhorando o grau de confiança

macroeconômico, permitindo o alargamento do horizonte temporal do cálculo

empresarial. Do lado da demanda, o efeito redistributivo da renda, que sempre sucede as

quedas rápidas dos níveis inflacionários, e o retorno do crédito foram importantes como

elementos dinamizadores do consumo.

No entanto, desenvolvimentos nos dois pilares da gestão macroeconômica do

plano de estabilização atuaram no sentido inverso. Câmbio valorizado e altas taxas de

juros afetaram negativamente as taxas de retorno das empresas, condicionando sua

disposição ao investimento.

Na prática, a estabilização equivaleu a um aprofundamento do grau de exposição

internacional da indústria brasileira que havia sido iniciado pela abertura comercial. Os

impactos da valorização do câmbio e da redução tarifária após o Plano Real sobre os

níveis de proteção real da indústria provocaram o acirramento da competição com

produtos importados. Como resultado, ocorreu rápida deterioração da balança

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comercial. A forte retomada do influxo de capitais externos possibilitou um mecanismo

de financiamento do déficit comercial, porém de curto fôlego e baixa sustentabilidade,

como revelaram os eventos detonados pela crise asiática de outubro de 1997

A estabilização monetária se fez acompanhar, portanto, de instabilidade das taxas

de crescimento.

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CAPÍTULO 3

REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL – UM ENFOQUE SETORIAL

3.1 Reestruturação e Inserção Externa da Indústria

Este capítulo foi baseado num estudo realizado por Maurício Mesquita e Paulo

Guilherme Corrêa titulado “Abertura comercial e Indústria”(BNDES,1996) o qual

enfoca que um primeiro passo no sentido de avaliar o impacto sobre a alocação de

recursos na indústria refere-se ao cálculo dos índices de penetração das importações e

de participações das exportações na produção. As tabela 2, 3 e 4 ( BNDES, 1996) e

apresentam os resultados para 39 setores. Como se pode observar , ocorreu um aumento

generalizado e substancial dos coeficientes de importação ( Tabelas 2 e 3) em ambos os

critérios utilizados : produção doméstica e consumo aparente. Para o total da indústria,

foram atingidos níveis similares àqueles prevalecentes no período pré-II PND (1968/73)

ou no período Pré-Plano de Metas. Para dar uma perspectiva internacional à discussão,

os níveis de dezembro de 1995 são também comparáveis com aqueles atingidos em

meados da década de 80 pela indústria coreana, quando também passava por um

processo de abertura comercial.

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Em termos setoriais, o destaque é para os setores máquinas, equipamentos e

instalação e material e aparelhos eletrônicos e de comunicação, onde a participação das

importações no consumo aparente chegou a cerca de 45%. Os setores beneficiamento,

fiação e tecelagem de fibras naturais, fiação e tecelagem de fibras artificiais e sintéticas,

automóveis, utilitários, caminhões e ônibus, tratores e máquinas rodoviárias e

equipamentos para produção e distribuição de energia elétrica também se destacaram

não só pela magnitude do coeficiente, mas pelo seu crescimento, superior, em média , a

200% no período. Quanto a este último aspecto, há de se levar em conta que em

1989/90 a participação das importações nestes setores era mínima.

A elevação do coeficiente importado foi acompanhada por um aumento também

quase generalizado do coeficiente exportado, em um ritmo, porém bem mais lento (

tabela 4). De qualquer forma, para o total da indústria, o nível alcançado em 1995 não

tem precedentes na história da industrialização brasileira. Entre os setores se destacam,

como esperado, aqueles que têm uma participação expressiva na pauta das exportações,

como indústria da madeira, metalurgia de não-ferrosos, celulose e pasta mecânica,

conservas de frutas e legumes, inclusive sucos e condimentos (suco de laranja), calçados

e siderurgia.

O diferencial de crescimento entre os coeficientes de exportação e importação

levou a que o segundo se aproximasse e superasse, por pequena margem, o primeiro,

dando origem a um comércio intra-industrial mais equilibrado. A balança comercial da

indústria de transformação passou de um superávit de US$ 9.8 bilhões em 1989 para um

déficit de US$ 1.5 bilhão em 1995, o qual pode ser considerado relativamente pequeno

quando comparado com o total do comercio de manufaturados ( US$ 70.2 bilhões,

como mostra a tabela A4). Este maior equilíbrio nas transações comerciais, por sua vez,

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pode ser interpretado como uma elevação do comércio intra-indústria, em contraposição

ao comércio interindústria. A Tabela 5 (BNDES,1996), revela que isto foi verdade para

a maioria dos setores e para o total da indústria, cuja participação do comércio intra-

indústria subiu de 60% para 98% do total.

Analisando o comportamento dos coeficientes pela ótica das categorias de uso

(Tabelas 6,7e 8), o que fica evidente é que todas elas tiveram elevações substanciais no

coeficiente importado. O destaque, no entanto, é para o setor de bens de capital, onde as

importações chegaram a cerca de 40% do consumo aparente, novamente níveis

similares aos do período pré-II PND. É interessante observar que, refletindo o

desempenho em nível setorial, todas as categorias apresentaram elevação no coeficiente

exportado, à exceção de bens de consumo duráveis, não incluindo automóveis,

classificados como bens de capital de transporte.

Com relação ao padrão de comércio, as categorias de usos seguem as tendências

já examinadas em e setor, com um claro movimento no sentido de um comércio mais

equilibrado e de elevação do comércio intra-indústria ( Tabela 9 e Tabela A4 ). A

exceção fica por conta de bens de capital, que apresentaram uma substancial redução do

seu índice de comércio intra-industrial, o que refletiu um elevado déficit comercial vis-

à-vis a corrente de comércio (56% do total da corrente de comércio em 1995).

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COEFICIENTES DE PENETRAÇÃO DAS IMPORTAÇÕES : IMPORTAÇÃO / PRODUÇÃO¹ 1989/95

Em ( % )

SETOR MATRIZ 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

1. Material e Aparelhos Eletrônicos e de Comunicação 11,2 20,4 33,9 27,8 44,3 62,1 77,62. Máquinas, Equipamentos e Instalação, inclusive Peças e Acessórios 13,6 23,7 38,6 27,1 35,1 46,8 68,23. Adubos, Fertilizantes e Corretores do Solo 8,5 14,9 21,1 19,3 25,2 27,4 33,24. Fabricação de Outros Veículos 17,4 22,6 28,9 28,6 32,6 23,3 29,35. Resinas, Fibras e Elastrômeros 6,1 9,8 12,1 8,6 13,7 15,8 29,16. Condutores e Outros Materiais Elétricos, exclusive para Veículos 8,6 11,6 12,9 10,6 16,3 28,4 26,87. Elementos Químicos Não - Petroquímicos ou Carboquímicos 16,4 19,7 21,5 14,0 16,9 16,9 26,58. Fiação e Tecelagem de Fibras Artificiais ou Sintéticas 0,7 1,6 3,1 2,2 4,7 10,8 22,49. Motores e Peças para Veículos 5,0 8,0 14,0 10,6 14,0 17,4 20,710. Metalurgia de Não- Ferrosos 6,8 7,5 9,0 8,9 12,9 13,2 19,711. Indústria da Borracha 4,5 5,1 6,2 5,2 6,7 11,3 18,812. Automóveis, Utilitáros, Caminhões e Ônibus 0,0 0,2 1,8 2,1 5,3 9,3 18,113. Vidro e Artigos de Vidro 3,9 6,0 7,6 5,1 7,4 12,6 17,614. Aparelhos Receptores de TV, Rádio e Equipamentos de Som 4,7 6,3 9,7 6,0 8,9 11,1 16,415. Equipamentos para Produção e Distribuição de Energia Elétrica 7,9 9,5 15,8 10,4 13,8 11,6 16,016. Beneficiamento, Fiação, Tecelagem de Fibras Naturais 3,4 3,7 6,1 4,6 14,0 12,6 15,117. Produtos Químicos Diversos 5,6 5,1 4,8 5,8 8,2 10,7 13,518. Petroquímica Básica e Intermediária 3,8 4,5 8,3 4,3 6,2 9,7 12,319. Tratores e Maquinaria Rodoviária, inclusive Peças e Assessórios 1,4 3,0 9,8 5,9 6,2 4,5 12,120. Indústria Farmacêutica 6,9 9,7 12,7 7,3 7,8 10,3 10,621. Outras Indústrias Alimentares 2,2 4,0 4,1 2,2 3,6 4,7 9,722. Outras Indústrias Têxteis 0,8 1,2 2,4 1,9 3,0 3,4 9,623. Papel, Papelão e Artefatos de Papel 1,3 3,0 4,2 2,8 3,9 4,9 9,224. Laminados Plásticos 0,2 0,7 0,9 0,6 0,9 2,8 9,025. Resfriamento e Preparação de Leite e Laticínios 4,6 2,8 4,2 1,2 2,7 4,4 8,226. Aparelhos e Equipamentos Elétricos, inclusive Eletrodomésticos e

Máquinas de Escritório 3,4 3,8 5,0 3,5 4,9 5,9 7,627. Conservas de Frutas e Legumes, inclusive Sucos e Condimentos 1,5 2,3 2,5 2,4 3,8 4,6 7,228. Artigos de Material Plástico 0,5 1,2 1,8 1,5 2,1 3,2 5,829. Indústria de Bebidas 3,3 4,5 5,3 3,7 3,3 3,2 5,130. Outros Produtos Metalúrgicos 1,3 2,3 3,6 2,2 3,6 3,3 4,931. Outros Produtos de Minerais Não - Metálicos 1,6 2,2 2,9 2,3 2,6 3,1 4,932. Indústria de Perfumaria, Sabões e Velas 1,5 1,6 2,1 1,2 1,8 2,7 4,733. Siderurgia 1,6 1,6 2,2 2,7 2,8 3,1 4,434. Calçados 0,3 0,5 1,3 0,4 0,8 1,7 4,335. Celulose e Pasta Mecânica 2,8 3,2 3,1 2,0 3,5 2,5 4,236. Indústria da Madeira 0,8 2,3 2,3 1,7 1,9 1,9 3,037. Indústria de Fumo 0,1 0,1 0,8 0,9 0,8 1,0 1,438. Cimento e Clínquer 0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,7 1,239. Peças e Estruturas de Concreto, Cimento e Fibrocimento 0,1 0,1 0,3 0,4 0,5 0,6 0,9

TOTAL 165 231 327 248 347 424 609

Fonte: BNDES

¹ Em ordem decrescente de valor para 1995

TABELA 2

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COEFICIENTES DE PENETRAÇÃO DAS IMPORTAÇÕES : IMPORTAÇÃO / CONSUMO APARENTE¹ 1989/95

Em ( % )

SETOR MATRIZ 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

1. Máquinas, Equipamentos e Instalação, inclusive Peças e Acessórios 12,8 20,6 31,2 23,8 30,2 37,0 45,92. Material e Aparelhos Eletrônicos e de Comunicação 10,5 17,6 27,3 23,1 32,4 40,3 45,53. Fabricação de Outros Veículos 18,6 23,1 27,6 29,1 30,2 22,7 26,14. Resinas, Fibras e Elastrômeros 6,3 9,9 12,1 8,7 13,5 15,5 25,55. Adubos, Fertilizantes e Corretores do Solo 7,9 13,2 17,8 16,4 20,5 21,8 25,56. Metalurgia de Não- Ferrosos 7,9 9,0 11,4 11,6 17,8 17,3 24,57. Condutores e Outros Materiais Elétricos, exclusive para Veículos 8,4 11,1 12,3 10,4 15,9 24,7 23,68. Elementos Químicos Não - Petroquímicos ou Carboquímicos 15,1 17,8 19,1 13,0 15,4 15,3 22,59. Motores e Peças para Veículos 5,5 8,9 17,1 12,0 15,4 18,5 21,210. Fiação e Tecelagem de Fibras Artificiais ou Sintéticas 0,8 1,6 3,1 2,3 4,7 10,2 18,811. Indústria da Borracha 4,6 5,2 6,5 5,6 7,1 11,8 18,412. Vidro e Artigos de Vidro 3,9 5,9 7,6 5,3 7,6 12,4 16,313. Automóveis, Utilitáros, Caminhões e Ônibus 0,0 0,2 1,9 2,4 5,5 9,3 16,214. Equipamentos para Produção e Distribuição de Energia Elétrica 7,8 9,2 15,6 10,5 13,9 12,0 15,815. Tratores e Maquinaria Rodoviária, inclusive Peças e Assessórios 1,7 3,5 13,3 7,5 7,3 5,5 15,416. Aparelhos Receptores de TV, Rádio e Equipamentos de Som 4,9 6,5 10,0 6,3 9,0 10,8 15,017. Beneficiamento, Fiação, Tecelagem de Fibras Naturais 3,6 3,9 6,6 4,8 13,2 12,1 14,518. Produtos Químicos Diversos 5,6 5,0 4,8 5,7 8,1 10,4 12,919. Petroquímica Básica e Intermediária 4,0 4,6 8,4 4,4 6,3 9,6 12,120. Outras Indústrias Têxteis 0,9 1,3 2,7 2,2 3,7 3,9 10,321. Conservas de Frutas e Legumes, inclusive Sucos e Condimentos 2,2 3,9 3,7 3,6 5,6 6,5 10,022. Indústria Farmacêutica 6,6 9,0 11,5 6,9 7,4 9,5 9,823. Papel, Papelão e Artefatos de Papel 1,4 3,2 4,5 3,0 4,3 5,4 9,624. Outras Indústrias Alimentares 2,2 4,0 4,1 2,2 3,7 4,7 9,225. Laminados Plásticos 0,2 0,7 0,9 0,6 1,0 2,8 8,426. Aparelhos e Equipamentos Elétricos, inclusive Eletrodomésticos e

Máquinas de Escritório 3,6 4,0 5,6 3,9 5,3 6,2 7,827. Resfriamento e Preparação de Leite e Laticínios 4,4 2,8 4,0 1,2 2,6 4,2 7,628. Celulose e Pasta Mecânica 3,8 4,5 4,5 2,8 5,6 3,4 6,429. Siderurgia 1,9 1,9 2,8 3,8 4,2 4,3 6,030. Calçados 0,4 0,7 2,3 0,6 1,2 2,5 5,831. Artigos de Material Plástico 0,5 1,2 1,8 1,5 2,1 3,2 5,632. Indústria da Madeira 0,9 2,9 3,4 2,3 3,1 3,4 5,533. Outros Produtos de Minerais Não - Metálicos 1,7 2,3 3,0 2,4 2,7 3,3 5,134. Indústria de Bebidas 3,2 4,4 5,1 3,6 3,2 3,2 4,935. Outros Produtos Metalúrgicos 1,4 2,3 3,8 2,3 3,7 3,4 4,936. Indústria de Perfumaria, Sabões e Velas 1,5 1,6 2,1 1,2 1,8 2,7 4,637. Indústria de Fumo 0,1 0,1 0,8 0,9 0,9 1,2 1,638. Cimento e Clínquer 0,2 0,2 0,2 0,3 0,3 0,7 1,239. Peças e Estruturas de Concreto, Cimento e Fibrocimento 0,1 0,1 0,3 0,4 0,5 0,6 0,9

TOTAL 167 228 321 249 337 392 540,9

Fonte: BNDES

¹ Em ordem decrescente de valor para 1995

TABELA 3

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45

COEFICIENTES DE PENETRAÇÃO DAS EXPORTAÇÕES : EXPORTAÇÃO / PRODUÇÃO¹ 1989/95

Em ( % )

SETOR MATRIZ 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

1. Indústria da Madeira 11,0 23,9 35,4 28,9 40,4 47,4 48,82. Metalurgia de Não-Ferrosos 20,2 24,2 30,4 32,5 40,3 36,9 39,23. Celulose e Pasta Mecânica 29,4 33,1 34,4 31,2 40,6 29,0 38,14. Conservas de Frutas e Legumes, inclusive Sucos e Condimentos 32,9 43,8 35,8 36,3 36,0 33,7 34,85. Tratores e Maquinaria Rodoviária, inclusive Peças e Acessórios 18,9 18,1 36,4 26,8 21,4 23,0 33,76. Siderurgia 16,5 17,7 24,8 30,7 36,7 32,4 32,07. Calçados 24,2 24,7 42,3 31,9 36,3 31,8 30,58. Motores e Peças para Veículos 13,8 18,7 32,1 22,0 23,4 23,7 23,29. Máquinas, Equipamentos e Instalação, inclusive Peças e Acessórios 7,5 8,4 14,9 13,2 18,9 20,4 19,710. Fabricação de Outros Veículos 23,7 24,7 23,9 30,4 24,6 20,9 17,211. Indústria de Borracha 6,4 7,4 10,6 12,0 13,3 15,6 16,212. Outras Indústrias Têxteis 6,4 7,1 13,6 15,3 23,2 15,4 16,013. Equipamentos para Produção e Distribuição de Energia Elétrica 6,0 6,5 14,7 11,6 14,8 15,7 15,114. Resinas , Fibras e Elastômeros 8,6 11,0 12,2 10,0 11,7 13,8 15,015. Indústria de Fumo 1,9 2,2 5,1 5,9 6,9 12,9 14,316. Papel,Papelão e Artefatos de Papel 3,1 8,4 10,1 10,5 12,8 14,1 13,417. Condutores e Outros Materiais Elétricos, exclusive para Veículos 6,1 6,5 8,5 9,0 13,8 13,6 13,418. Beneficiamento, Fiação e Tecelagem de Fibras Naturais 8,3 9,1 13,8 9,2 7,8 8,7 10,919. Petroquímica Básica e Intermediária 8,1 8,2 10,3 6,6 7,9 8,7 10,420. Aparelhos e Equipamentos Elétricos, inclusive Eletrodomésticos e

Máquinas de Escritório 8,7 9,2 15,6 12,7 13,2 11,4 10,321. Outros Produtos de Minerais Não-Metálicos 4,0 5,0 6,7 6,3 8,7 9,4 9,522. Vidro e Artigos de Vidro 5,0 4,7 7,6 7,2 9,9 10,4 9,423. Elementos Químicos Não-Petroquímicos ou Carboquímicos 7,6 8,9 9,0 6,4 7,0 6,2 9,124. Produtos Químicos Diversos 3,9 3,5 3,9 4,6 6,2 7,3 8,625. Material e Aparelhos Eletrônicos e de Comunicação 3,7 4,9 9,8 7,3 7,6 7,9 7,326. Aparelhos Receptores de TV, Rádio e Equipamentos de Som 9,1 9,3 12,7 10,9 10,4 8,0 7,027. Automóveis, Utilitários, Caminhões e Ônibus 8,0 6,3 8,3 10,8 9,4 9,3 6,228. Outros Produtos Metalúrgicos 3,8 5,3 8,5 6,3 8,0 6,8 5,929. Outras Indústrias Alimentares 2,7 4,4 5,1 4,7 6,0 5,1 4,530. Fiação e Tecelagem de Fibras Artificiais ou Sintéticas 2,1 1,9 3,9 5,7 4,4 4,7 3,431. Adubos, Fertilizantes e Corretores do Solo 1,0 1,8 2,8 1,7 2,3 1,6 3,232. Indústria de Perfumaria, Sabões e Velas 1,3 1,1 1,8 1,7 2,6 2,7 2,933. Artigos de Material Plástico 0,7 0,9 1,3 1,8 2,1 2,4 2,034. Indústria Farmacêutica 1,7 1,8 2,5 2,0 1,8 1,7 1,835. Laminados Plásticos 0,1 0,2 0,4 1,6 3,0 2,4 1,736. Indústria de Bebidas 0,8 1,4 1,9 1,6 2,0 2,2 1,637. Peças e Estruturas de Concreto, cimento e Fibrocimento 0,5 0,7 0,7 0,7 1,0 0,8 1,138. Cimento e Clíquer 0,3 0,4 0,3 0,2 0,4 0,3 0,439. Resfriamento e Preparação de Leite e Laticínios 0,0 0,0 0,0 0,2 0,4 0,0 0,1

TOTAL 318 375 512 468 537 518 538

Fonte: BNDES

¹ Em ordem decrescente de valor para 1995

TABELA 4

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46

Em ( % )

SETOR MATRIZ ¹ 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

1. Equipamentos para Produção e Distribuição de Energia Elétrica 86,5 81,2 96,4 94,6 96,5 84,9 97,22. Motores e Peças para Veículos 53,2 59,7 60,7 65,2 74,8 84,6 94,33. Indústria de Borracha 83,0 81,1 73,8 60,7 66,7 84,2 92,54. Petroquímica Básica e Intermediária 63,9 70,6 88,8 79,0 87,7 94,6 91,95. Outros Produtos Metalúrgicos 52,6 59,7 59,8 51,5 61,4 65,0 90,86. Peças e Estruturas de Concreto, cimento e Fibrocimento 26,7 33,9 63,9 76,8 60,5 83,5 88,77. Aparelhos e Equipamentos Elétricos, inclusive Eletrodomésticos e

Máquinas de Escritório 56,5 58,6 48,7 43,5 54,1 68,0 84,98. Beneficiamento, Fiação e Tecelagem de Fibras Naturais 57,6 57,5 61,1 66,2 71,2 81,6 83,79. Papel,Papelão e Artefatos de Papel 59,7 53,1 58,8 41,9 46,6 51,4 81,210. Indústria de Perfumaria, Sabões e Velas 92,3 83,1 91,4 84,6 80,1 98,5 76,111. Outras Indústrias Têxteis 22,6 28,7 30,6 22,6 22,7 36,5 75,012. Fabricação de Outros Veículos 84,7 95,5 90,5 96,9 86,0 94,7 73,913. Vidro e Artigos de Vidro 86,6 87,9 99,4 83,4 85,4 90,2 69,914. Outros Produtos de Minerais Não-Metálicos 57,7 61,6 60,4 53,7 45,6 49,2 67,915. Resinas , Fibras e Elastômeros 83,3 94,3 99,8 92,4 92,0 93,2 67,916. Metalurgia de Não-Ferrosos 50,4 47,4 45,7 43,0 48,5 52,7 66,917. Condutores e Outros Materiais Elétricos, exclusive para Veículos 82,9 71,8 79,4 91,9 91,6 64,8 66,818. Outras Indústrias Alimentares 89,0 94,8 88,9 63,1 75,2 95,7 63,819. Aparelhos Receptores de TV, Rádio e Equipamentos de Som 68,2 81,1 86,8 70,7 92,2 83,8 60,120. Tratores e Maquinaria Rodoviária, inclusive Peças e Acessórios 13,8 28,3 42,3 36,3 45,0 32,6 52,821. Automóveis, Utilitários, Caminhões e Ônibus 0,7 6,2 35,8 33,3 72,4 99,7 51,222. Elementos Químicos Não-Petroquímicos ou Carboquímicos 63,2 62,1 59,2 62,9 58,8 53,6 51,223. Artigos de Material Plástico 83,6 86,4 86,5 91,1 99,6 85,5 50,524. Indústria de Bebidas 37,1 48,1 51,9 61,1 75 80,8 47,025. Cimento e Clíquer 87,2 77,9 63,7 94,4 94,0 56,8 46,726. Máquinas, Equipamentos e Instalação, inclusive Peças e Acessórios 71,0 52,3 55,8 65,6 70,0 60,8 44,927. Conservas de Frutas e Legumes, inclusive Sucos e Condimentos 8,9 9,8 12,9 12,5 19,1 24,1 34,328. Laminados Plásticos 84,3 37,6 67,8 53,4 47,7 92,5 32,229. Indústria Farmacêutica 38,7 3,6 33,3 42,3 36,6 28,8 28,630. Produtos Químicos Diversos 83,1 72,2 61,6 74,7 59,3 61,2 26,331. Fiação e Tecelagem de Fibras Artificiais ou Sintéticas 51,7 91,7 87,7 55,1 96,1 61,1 26,232. Calçados 2,2 4,2 6,2 2,4 4,1 10,3 24,533. Siderurgia 17,6 16,9 16,1 16,4 14,1 17,2 24,034. Celulose e Pasta Mecânica 17,5 17,5 16,5 11,9 16,0 15,9 20,035. Indústria de Fumo 10,4 6,1 26,2 26,0 21,8 14,8 17,736. Adubos, Fertilizantes e Corretores do Solo 20,9 21,4 23,1 16,3 16,7 11,1 17,537. Material e Aparelhos Eletrônicos e de Comunicação 49,8 38,6 44,9 41,6 29,3 22,6 17,138. Indústria da Madeira 13,1 17,6 12,1 10,9 8,9 7,6 11,639. Resfriamento e Preparação de Leite e Laticínios 1,0 0,7 1,6 24,0 26,1 2,1 1,4

TOTAL 2013 2001 2190 2114 2249 2296 2119

Fonte: BNDES

¹ Em ordem decrescente de valor para 1995

² {1-[X-M/(X+M)]}*100, onde X são as exportações e M as importações

TABELA 5ÍNDICE DE COMÉRCIO INTRA- INDÚSTRIA ² - 1989/95

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47

COEFICIENTE DE PENETRAÇÃO : IMPORTAÇÃO/ PRODUÇÃO - 1989/95Em (% )

Categoria de Uso ¹ 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Bens de Consumo Não-Duráveis 2,8 3,4 4,5 2,8 4 4,9 7,4

Bens de Consumo Duráveis 7,2 8,9 12,3 8,6 10,6 10,7 14,2

Bens Intermediários Elaborados 4,5 5,7 7,4 6,3 9,2 10,8 14,8

Bens Intermediários 1,4 2,6 3,2 2,1 2,9 3,5 6,4

Bens de Capital 11,1 19,8 33,3 23,8 32,4 40,3 59,4

Bens de Capital - Equipamento de Transporte 1,9 3 5,6 5,1 8,4 12,3 19,1

Fonte : BNDES

COEFICIENTE DE PENETRAÇÃO : IMPORTAÇÃO/ CONSUMO APARENTE - 1989/9Em (% )

Categoria de Uso ¹ 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Bens de Consumo Não-Duráveis 3,0 3,6 4,8 3,0 4,2 5,2 7,6

Bens de Consumo Duráveis 7,6 9,2 12,9 9,2 11,0 10,8 13,6

Bens Intermediários Elaborados 4,9 6,1 8,0 6,8 10,0 11,5 15,4

Bens Intermediários 1,5 2,8 3,5 2,4 3,4 4,1 7,3

Bens de Capital 10,7 17,7 28,1 21,3 27,7 32,7 41,7

Bens de Capital - Equipamento de Transporte 2,0 3,2 6,3 5,6 8,9 12,6 17,9

Fonte: BNDES

COEFICIENTE DE ABERTURA : EXPORTAÇÃO/ PRODUÇÃO - 1989/95Em (% )

Categoria de Uso ¹ 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Bens de Consumo Não-Duráveis 9,8 8,7 9,8 8,9 10,5 10,0 10,8

Bens de Consumo Duráveis 12,4 12,7 16,6 15,1 14,0 11,5 10,1

Bens Intermediários Elaborados 11,7 12,6 15,9 14,7 17,3 17,5 18,7

Bens Intermediários 6,5 10,2 12,3 11,8 15,5 16,9 18,4

Bens de Capital 7,2 7,9 14,7 12,4 15,5 17,1 16,8

Bens de Capital - Equipamento de Transporte 10,2 10,8 15,7 14,7 14,3 14,6 12,7

Fonte : BNDES

TABELA 6

TABELA 7

TABELA 8

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48

COEFICIENTE DE COMÉRCIO INTRA - INDÚSTRIA ¹- 1989/95Em (% )

Categoria de Uso ¹ 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Bens de Consumo Não-Duráveis 44,1 56,5 63,1 48,3 54,6 65,9 81,2

Bens de Consumo Duráveis 73,6 82,2 85,2 72,6 86,3 96,0 83,0

Bens Intermediários Elaborados 55,7 62,2 63,2 59,8 69,4 76,1 88,2

Bens Intermediários 35,1 40,1 41,1 30,7 31,9 34,8 51,5

Bens de Capital 78,5 57,2 61,3 68,5 64,7 59,5 44,1

Bens de Capital - Equipamento de Transporte 31,1 43,5 52,6 51,5 73,8 91,4 80,0

Fonte : BNDES¹ {1-[X-M/(X+M)]}*100

TABELA 9

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49Em (US$ Mil)

SETOR MATRIZ ¹ 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Siderurgia 3.832.338,6 3.089.052,2 3.597.205,4 3.597.630,8 3.762.515,6 6.582.871,4 3.566.103,1

Óleos Vegetais em Bruto 2.468.086,3 1.967.827,4 1.577.023,9 1.867.111,3 2.102.288,6 2.698.529,1 2.929.936,6

Indústria do Açúcar 338.669,2 534.226,8 445.194,3 582.382,9 775.133,5 979.747,7 1.909.800,8

Celulose e Pasta Mecânica 621.934,4 541.581,3 530.954,8 693.410,8 655.421,2 777.362,9 1.309.819,2

Calçados 1.206.790,7 1.155.786,4 1.202.843,3 1.452.450,0 1.887.601,6 1.532.445,4 1.288.054,4

Metalurgia de Não-Ferrosos 1.050.420,7 1.040.943,3 1.113.612,7 1.234.187,8 1.080.945,0 1.173.744,4 1.138.269,3

Indústria da Madeira 379.679,7 385.115,5 414.038,7 522.226,5 792.940,5 999.728,2 1.011.056,5

Conserva de Frutas e Legumes , inclusive Sucos e Condimentos 1.072.518,2 1.478.048,1 913.986,7 1.084.376,0 852.936,9 950.138,5 959.141,0

Indústria do Café 1.893.251,5 147.315,4 97.195,7 142.015,2 217.098,2 339.461,4 453.406,6

Papel,Papelão e Artefatos de Papel 164.278,4 385.148,7 378.196,2 513.005,7 601.810,3 601.810,3 380.611,3

Abate de animais (exclusive Aves) e Preparação de Carnes 21.121,3 -32.154,3 342.074,9 487.340,6 453.021,2 372.029,4 377.480,0

Indústria do Fumo 41.232,7 55.308,1 113.150,6 140.475,1 169.242,3 301.450,3 363.052,6

Tratores e Maquinaria Rodoviária, inclusive Peças e Acessórios 468.976,3 234.048,6 193.344,4 288.839,3 256.862,2 421.567,6 297.746,4

Motores e Peças para Veículos 981.749,2 912.563,5 902.544,9 954.816,3 848.842,3 622.621,0 271.864,8

Outras Indústrias Têxteis 292.335,5 284.845,2 342.049,9 449.292,2 513.470,0 407.939,5 201.007,4

Aparelhos e Equipamentos Elétricos, inclusive Eletrodomésticos,

Máquinas de Escritório 256.128,8 250.101,1 318.573,0 371.653,2 390.844,3 272.993,0 166.938,5

Outros Produtos de Minerais Não-Metálicos 123.151,4 95.258,7 101.023,1 138.097,1 208.232,6 206.540,7 156.859,2

Outros Produtos Metalúrgicos 287.330,0 256.801,1 280.680,0 379.022,9 366.543,7 370.587,1 120.940,4

Peças e Estruturas de Concreto, Cimento e Fibrocimento 8.364,7 6.545,1 4.065,6 2.618,2 5.317,0 2.435,9 2.660,7

Cimento e Clínquer 1.433,3 2.362,2 3.011,5 -804,5 952,7 -9.444,4 -16.921,7

Equipamentos para Produção e Distribuição de Energia Elétrica -40.550,9 -57.115,2 -11.963,6 21.624,1 16.005,1 83.216,5 -19.659,9

Refino de Óleos Vegetais e Fabricação de Gorduras para

Alimentação 161.273,2 103.230,0 42.945,0 58.892,0 -19.366,8 -25.747,8 -32.342,1

Indústria de Perfumaria, Sabões e Velas -7.189,8 -15.203,4 -9.264,7 19.491,4 39.116,9 -3.772,8 -83.631,4

Laminados Plásticos -1.061,9 -7.610,7 -3.561,8 9.847,8 18.479,4 -4.166,4 -90.076,8

Indústria da Borracha 81.953,6 90.210,5 139.866,8 249.331,3 251.926,1 148.977,5 -91.524,2

Vidro e Artigos de Vidro 14.941,3 -15.104,5 753,9 25.288,6 30.118,8 -22.688,5 -96.355,4

Petroquímica Básica e Intermediária 239.628,2 190.656,0 76.211,5 125.643,8 85.268,8 -49.129,0 -98.617,3

Artigos de Material Plástico 10.976,8 -10.833,8 -12.958,1 12.159,9 703,4 -32.017,6 -174.695,4

Fabricação de Outros Veículos 185.605,8 50.986,4 -85.197,4 25.735,3 -118.782,1 -40.309,6 -231.535,6

Beneficiamento, Fiação e Tecelagem de Fibras Naturais 424.370,9 371.136,9 363.500,0 297.427,9 -354.244,1 -230.449,1 -242.802,4

Indústria de Bebidas -103.156,4 -116.135,7 -123.800,2 -95.600,3 -63.288,6 -67.761,0 -297.459,8

Produtos Químicos Diversos -138.343,5 -136.993,9 -78.199,0 -88.304,8 -134.909,1 -215.343,9 -343.846,8

Outras Indústrias Alimentares 45.125,7 21.862,7 52.335,2 166.990,9 144.456,0 28.571,0 -384.418,5

Fiação e Tecelagem de Fibras Artificiais ou Sintéticas 45.016,7 8.000,1 16.529,5 70.175,5 -7.168,0 -123.306,8 -395.648,5

Condutores e Outros Materiais Elétricos, exclusive para Veículos -109.415,9 -197.947,5 -131.805,1 -54.711,7 -68.495,5 -405.849,9 -439.787,7

Aparelhos Receptores de TV, Rádio e Equipamento de Som 200.074,8 108.987,3 74.140,8 146.465,0 49.930,5 -135.278,7 -475.152,9

Resfriamento e Preparação de Leite e Laticínios -280.451,5 -161.290,0 -203.556,2 -63.559,6 -128.077,5 -255.859,4 -575.639,8

Adubos, Fertilizantes e Corretores do Solo -255.282,2 -286.197,6 -333.047,5 -411.232,2 -470.145,0 -604.733,8 -605.668,2

Indústria Farmacêutica -199.867,8 -313.635,9 -359.772,5 -257.190,5 -341.971,2 -543.842,1 -684.319,5

Resinas, Fibras e Elastômeros 181.533,0 61.079,8 2.658,3 89.936,5 -118.825,9 -113.852,6 -840.375,5

Moagem de Trigo -213.575,5 -298.340,1 -458.452,9 -546.065,6 -737.782,9 -794.332,7 -962.291,7

Elementos Químicos não-Petroquímicos ou Carboquímicos -658.710,2 -705.403,1 -767.022,3 -702.471,4 -845.994,2 -1.098.901,8 -1.471.951,4

Automóveis, Utilitários, Caminhões e Ônibus 1.507.357,4 919.861,6 702.216,5 1.373.010,9 670.872,8 -9.222,3 -2.067.970,4

Material e Aparelhos Eletrônicos e de Comunicação -703.403,5 -942.983,2 -842.879,9 -1.034.732,4 -1.639.003,6 -2.201.925,8 -3.353.709,2

Máquinas, Equipamentos e Instalação, inclusive Peças e

Acessórios -794.966,3 -1.595.298,3 -1.521.578,3 -1.188.972,7 -1.235.745,2 -2.065.946,7 -4.322.807,7

TOTAL 15.101.672,9 9.856.642,8 9.398.867,6 13.149.327,1 10.965.097,8 10.820.886,1 -1.494.461,0

Fonte: BNDES

¹ Em ordem decrescente de valor para 1995

TABELA A4SALDO DA BALANÇA COMERCIAL POR SETOR-MATRIZ 80¹ - 1989/95

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50

3.2 - Evolução da Produção Industrial

A Tabela 10 apresenta os resultados relativos aos ganhos e perdas setoriais em

termos de produto potencial, além das variações na participaçào relativa e os

componentes que explicam essas variaçoes. Por esse critério destacam-se, entre os

“ganhadores”, as industrias de bebidas, farmaceutica, de celulose e pasta mecanica e de

perfumaria, sabões e velas, que tiveram ganhos acima de 50% do produto potencial,

impulsionadas por um comportamento favorável em termos de demanda doméstica,

exportaçoes ( no caso de celulose e pasta mecânica) e importações (à exceção de

farmaceutica). Entre os perdedores, destacam-se as indústrias de tratores e maquinaria

rodoviária, material e aparelhos eletrônicos e de comunicação e sederurgia, cujas perdas

foram superiores a 40% do produto potencial. Nesse grupo, somente em material e

aparelhos aletrônicos e de comunicação as importações foram importantes para explicar

as perdas observadas. Os fatores mais relevantes e comuns a todos eles foram os

comportamentos desfavoráveis das exportações e, principalmente, da demanda

doméstica. Nesse sentido, é importante também observar que, no grupo que abrange

todos os perdedores, apenas resinas, fibras e elastômeros, màquinas, equipamentos e

instalação e o já citado material e aparelhos eletrônicos e de comunicação tiveram

perdas significativas provenientes de maior penetração das importações.

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51

VARIAÇÕES NA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL - 1989/95

Em ( % )

SETOR MATRIZ ¹ Ganho como % Participação Fontes de Variação na Participação

do Produto Potencial Relativa Relativa dos Setores

Demanda Exportações Importações

Doméstica

a) b) c)

1. Indústria de Bebidas 133,6 118,5 116,9 -0,6 -2,22. Indústria Farmacêutica 130,4 115,6 122 -1,1 5,33. Celulose e Pasta Mecânica 86,7 76,9 41 30,5 -5,34. Indústria de Perfumaria, Sabões e Velas 58,6 52 47,9 -0,4 -4,45. Aparelhos e Equipamentos Elétricos, inclusive 43,3 38,4 33,9 1,3 -3,3

Eletrodomésticos e Máquinas de Escritório6. Indústrias de Fumo 34,6 3,7 10,6 12,2 -7,97. Resfriamento e Preparação de Leite e Laticínios 30,8 27,3 25,7 -3,1 -4,68. Elementos Químicos Não - Petroquímicos ou Carboquímicos 27,8 24,7 29,1 -0,4 4,19. Aparelhos Receptores de TV , Rádio e Equipamentos de Som 25,3 22,4 30,8 -4,3 410. Cimento e Clínquer 20,8 18,5 13 -3 -8,511. Equipamentos para Produção e Distribuição de Energia elétrica 20,8 18,4 11,1 7 -0,312. Outras Produtos Metalúrgicos 17,3 15,4 10,4 -0,8 -5,813. Conservas de Frutas e Legumes, inclusive Sucos e Condimentos 14,5 12,9 9,8 -0,6 -3,714. Papel, Papelão e Artefatos de Papel 9,9 8,8 0 6,9 -1,915. Calçados 9,8 8,7 0,6 2,4 -5,616. Motores e Peças para Veículos 9,6 8,5 8,5 5,6 5,617. Petroquímica Básica e Intermediária 8,3 7,4 7,1 -1,2 -1,518. Vidro e Artigos de Vidro 6,9 6,1 8,7 0,8 3,319. Automóveis, Utilitários, Caminhões e Ônibus 4,5 4 16,5 -5,4 7,220. Outras Indústrias Alimentares 0,8 0,7 -0,5 -1,8 -321. Produtos Químicos Diversos -3,3 -2,9 -6,8 0,3 -3,622. Resinas, Fibras e Elastômeros -9,1 -8,1 -0,6 0,3 7,823. Indústria da Borracha -11,4 -10,1 -12,6 3,3 0,824. Artigos de Material Plástico -13,4 -11,9 -15,1 -2,2 -5,525. Condutores e Outros Materiais Elétricos, exclusive para Veícilos -14,5 -12,9 -11,7 1 2,226. Metalurgia de Não-Ferrosos -15,9 -14,1 -21,6 5,9 -1,627. Máquinas, Equipamentos e Instalação, inclusive, Peças e

Acessórios -22,5 -20 0,8 3 23,728. Beneficiamento,Fiação e Tecelagem de Fibras Naturais -24,5 -21,7 -20,3 -4,1 -2,729. Outros Produtos de Minerais Não-Metálicos -25,8 -22,9 -30 -0,9 -7,930. Fabricação de Outros Veículos -26,8 -23,8 -16 -15,6 -7,931. Fiação e Tecelagem de Fibras Artificiais ou Sintéticas -27,5 -24,4 -17,2 -3,1 4,232. Laminados Plásticos -30,3 -26,9 -28,9 -2,2 -4,133. Outras Indústrias Têxteis -31,9 -28,3 -32,9 0,1 -4,534. Indústria da Madeira -32,5 -28,9 -52,3 15 -8,535. Adubos, Fertilizantes e Corretores do Solo -32,9 -29,1 -25,2 -2,2 1,736. Peças e Estruturas de Concreto,Cimento e Fibrocimento -37,6 -33,4 -39,5 -2,9 -9,137. Tratores e Maquinaria, inclusive Peças e Acessórios -42,1 -37,3 -37,3 -4,2 -4,738. Material e Aparelhos Eletrônicos e de Comunicação -42,6 -37,7 -15,8 -3,1 18,839. Siderurgia -43,2 -38,3 -43,6 -3,5 -8,9

Fonte BNDES

¹Listados em ordem decrescente de ganhos

Variação na participação relativa é igual às colunas (a) + (b) - (c).

TABELA 10

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Em termos de categoria de uso, a Tabela 11 revela que o grande perdedor foi o setor

de bens de capital (-28%), perda essa fortemente influenciada pelo comportamento das

importações. Os bens intermediários elaborados também tiveram perdas substanciais,

mas o principal fator por trás desta mudança foi o comportamento da demanda

doméstica.

VARIAÇÕES NA COMPOSIÇÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL

Em ( % )

Categoria de Uso Ganho como % Participação Fontes de Variação na Participação

do Produto Potencial Relativa Relativa dos Setores

Demanda Exportações Importações

Doméstica

a) b) c)

Bens de Consumo Não-Duráveis 28,4 25,8 22,6 -0,6 -3,9

Bens de Consumo Duráveis 19,9 17,5 20,6 -4,8 -1,7

Bens Intermediários Elaborados -13,6 -12,2 -14,5 -0,5 -2,7

Bens Intermediários Não - Elaborados 0,4 0,2 -11,8 6,8 -5,2

Bens de Capital -28 -25 -8,1 0,4 17,3

Bens de Capital - Equipamento de Transporte 6,4 5,4 13,3 -1,3 6,6

Fonte : BNDES

Variação na participação relativa é igual às colunas (a) + (b) - (c).

TABELA 11

POR CATEGORIA DE USO - 1989/95

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CAPÍTULO 4

REESTRUTURAÇÃO INDUSTRIAL – UM ENFOQUE POR DIFERENTES GRUPOS

DE SETORES

4.1 - Mudanças Econômicas e Institucionais e Resposta Empresarial

A avaliação da indústria brasileira realizada nos capítulos anteriores permite

extrair movimentos e regularidades que em conjunto, indicam trajetórias de

reestruturação percorridas no passado recente

Com base no trabalho de David Kupfer chamado Estudo de Competitividade –

Fase III (UFRJ 1998), três períodos foram destacados pela análise (1985-89, 1990-93

,1994-97) em função de mudanças no contexto econômico e institucional. Baixos níveis

de confiança macroeconômica e relativa segurança microeconômica prevaleceram no

primeiro período, em função, respectivamente, da instabilidade inflacionária e da

existência de níveis elevados de proteção dos mercados. No segundo período, as

restrições à entrada de concorrentes começaram a cair enquanto aumentaram as fontes

de instabilidade macroeconômicas. Finalmente, no terceiro período, o plano real

inaugura uma fase de melhoria no grau de confiança macroeconômica, derivado da

estabilização de preços e seus efeitos sobre a demanda , aprofundando-se , no entanto,

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as incertezas microeconômicas , devido à crescente entrada de novos produtos e

produtores no país. A crise internacional a partir do segundo semestre de 1997 introduz

maior complexidade ao contexto nacional.

No primeiro período, a indústria ainda carregava a herança da crise da divida

externa do inicio dos anos 80. Os esforços eram dirigidos para duas metas principais de

manutenção de níveis elevados de liquidez e desendividamento, aproveitando as

oportunidades de realização de ganhos proporcionadas pelo sistema financeiro indexado

além de geração de divisas, tanto pela compressão das importações quanto pela

expansão das exportações. As empresas capazes de gerar excedentes de caixa e

redirecionar a produção para o exterior foram aquelas que melhor sobreviveram às

restrições impostas pelo ambiente externo.

Mudanças mais significativas se iniciam quando a agenda de desregulação

econômica entra na pauta dos tomadores de decisão. A reforma tarifária de 1988

constitui o símbolo inicial de um processo de mudança institucional, que abre o

caminho para a liberalização comercial, enquanto, a partir do inicio dos anos 90,

privatização e tratamento isonômico entre capital nacional e estrangeiro introduzem

crescente liberalização patrimonial.

A combinação de crescente liberalização econômica inicialmente com recessão

(1990-93), seguida de crescimento (1994-97) provocou impactos profundos e

diferenciados sobre a indústria.

Nunca é demais ressaltar que, embora útil como visão do conjunto, a análise do

agregado industrial mascara importantes transformações ocorridas no interior da

indústria. Uma visão mais detalhada do movimento da indústria, como a que emerge da

análise dos movimentos de diferentes grupos industriais, permite refinar a percepção

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quanto à trajetória de reestruturação percorrida. A principal vantagem em descer o foco

da análise para os grupos industriais está na possibilidade de definir de uma forma

matizada a capacidade de resposta da indústria diante dos desafios impostos pelos

novos padrões de concorrência e ambientes competitivos que caracterizam os períodos

analisados.

Num estudo recente sobre a competitividade da indústria brasileira (Ferraz,

Kupfer e Haugenauer, Made in Brazil, 1996) mostra que convivem na indústria

brasileira setores em distintos estágios evolutivos no que respeita aos níveis de

capacitação produtiva e tecnológica. O estudo mostra, ainda, que é possível captar essa

diversidade tomando em consideração a existência de quatro grupos industriais.

O grupo de indústrias produtoras e commodities reúne as indústrias de processo

contínuo que elaboram produtos homogêneos em grande tonelagem e que,

adicionalmente, devido às características do seu sistema de comercialização, têm os

preços determinados em bolsas internacionais de mercadorias. Correspondem

geralmente a bens intermediários de fácil armazenagem e transporte dos quais

agroindústrias de primeiro processamento, insumos metálicos, química básica, celulose

e papel são os principais exemplos. São geralmente intensivos em recursos naturais e

energéticos.

O grupo foi subdividido em commodities agrícolas ( agroindústrias de primeiro

processamento como soja, açúcar, etc. ) e commodities industriais (metalurgia, química,

celulose e papel, etc.) .

O período de abertura com recessão mostrou-se menos ingrato para os

commodities – particularmente as indústrias- que para o conjunto da indústria. Embora

o crescimento acumulado no período tenha sido praticamente nulo, o grupo liderou a

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indústria em termos do aumento da produtividade – entre outras razões pelo fato de ter

sido o primeiro a iniciar o ajuste do emprego, ainda nos anos finais da década de 80- e

conseguiu ampliar a participação do valor adicionado no valor da produção, alcançando

com isso uma significativa elevação do mark-up. Esse resultado não decorreu de

mudanças na inserção do grupo, haja vista que a evolução das exportações e

importações foi mais lenta do que a da média da indústria, ao mesmo tempo em que a

vocação exportadora, medida pela taxa de auto-suprimento, permaneceu quase

inalterada. No plano da modernização, o grupo também liderou a indústria em termos de

investimentos, incorporação de automação e adoção das novas técnicas de gestão da

produção, conseguindo os melhores índices de melhoria da qualidade industrial dentre

toda a indústria.

Evidentemente , a redução dos níveis de proteção tarifária e não-tarifária revelou a

inexistência de condições competitivas em certas indústrias desse grupo. O principal

exemplo é dado pela moagem de trigo, seguido por alguns metais não-ferrosos e

produtos químicos diversos ( adubos e fertilizantes), todos eles setores que não

dispunham de uma base de recursos naturais no país. Esses setores tornaram-se

importadores líquidos.

Após a estabilização, os esforços de modernização prosseguiram, porém com

maior ênfase nas estratégias tecnológicas. Esse maior esforço tecnológico foi

direcionado para iniciativas de enobrecimento de produtos (em especial, na química e

na siderurgia – commodities industriais e em algumas empresas de commodities

agrícolas). A julgar pela instabilidade do coeficiente de exportação do grupo entre 1995

e 1996, a incorporação de maior conteúdo tecnológico aos produtos não visou o

mercado externo e sim atender à expansão ocorrida no mercado interno.

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A novidade deste período é a reestruturação empresarial dos grandes grupos

econômicos nacionais, predominantes nas commodities o que explica a tendência ao

aumento da capacidade instalada e também a racionalidade do intenso movimento de

fusões e aquisições de empresas ocorrido.

Esse processo de reestruturação apresenta duas variantes. Nas commodities

agrícolas os principais grupos econômicos reorientam tanto a localização de suas bases

produtivas em direção às novas áreas agrícolas do cerrado,com suas estratégias de

produto, tornando-se mais especializadas. A especialização tanto pode ser em direção a

produtos de maior valor unitário quanto para a reafirmação de suas posições em áreas

tradicionais, de maior volume e homogeneidade técnica dos produtos. Este movimento

abre possibilidades para a entrada de empresas multinacionais ainda não instaladas no

país. Nas commodities industriais o movimento é mais nitidamente de reestruturação

patrimonial, definido pelas oportunidades abertas pela privatização, primeiro das

empresas do setor produtivo e, em seguida, nas áreas de infra-estrutura. Os grandes

grupos econômicos privados nacionais fortalecem suas posições enquanto entram novos

capitais originários do setor financeiro, tanto bancos quanto fundos de pensão estatal.

Integração produtiva é a direção geral dos movimentos empresariais, com duas

tendências importantes, uma de incorporação de novas plantas produtivas, a outra de

verticalização, inclusive para a logística de abastecimento de energia e movimentação

de cargas.

Em síntese, embora a demanda não tenha evoluído favoravelmente relativamente

aos demais, os grupos de Commodities Agrícolas e Commodities Industriais

demonstraram elevada capacidade de resposta às mudanças econômicas e institucionais.

O movimento percorrido sugere uma trajetória de integração produtiva com

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modernização de processos e produtos. Adicionalmente nas Commodities Agrícolas tem

lugar uma relocalização espacial da produção.

No grupo Difusores – equipamentos eletrônicos, de comunicação e mecânica -o

padrão de concorrência internacional se organiza em torno da sofisticação tecnológica

dos produtos e do atendimento às especificações dos clientes. É crescente a importância

da inovação tecnológica que, entre outros efeitos, promove crescente segmentação dos

mercados. Nesse sentido, o grupo Difusores foi o que mais se fragilizou após o início do

processo de liberalização comercial e desmontagem do elenco de instrumentos de

política industrial e comercial com o qual era contemplado. Nesse grupo, o nível de

emprego caiu e o principal elemento estratégico presente na reestruturação do grupo foi

a busca de novas formas de sobrevivência diante do crescimento explosivo das

importações de bens finais.

Nos grupos Duráveis Auto (automóveis, autopeças) e demais Duráveis

(eletrodomésticos e bens eletrônicos de consumo), o padrão de concorrência

internacional organiza-se em torno da diferenciação de produtos. Marca, relação custo-

qualidade dos produtos e assistência técnica são os atributos mais importantes para o

sucesso competitivo. De fato, embora o ajuste produtivo nesses grupos tenha se iniciado

tardiamente, em fins dos anos 80 no caso dos Demais Duráveis e já na década de 90 no

caso dos duráveis Auto, ocorreu com grande velocidade e propiciou um crescimento

real da capacidade competitiva. No período de abertura com recessão, a reestruturação

seguiu as linhas gerais do processo de racionalização de custos que caracterizou o

conjunto da industria. Após a estabilização, no entanto, reagindo à dinamização da

demanda que foi especialmente intensa para os bens de consumo duráveis, a trajetória

do grupo modificou-se radicalmente.

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A maior profundidade do processo de reestruturação ocorrida tanto em Duráveis

Auto quanto nos demais Duráveis é evidenciada pela renovação das linhas de produtos,

intensificação dos investimentos em modernização e ampliação das plantas industriais.

Observa-se também a entrada de novas empresas multinacionais com papel de liderança

no cenário mundial, muitas das vezes através da aquisição das principais empresas de

capital nacional, maior envolvimento das filiais brasileiras nas estratégias globais das

matrizes incluindo uma maior integração produtiva entre plantas no interior do

Mercosul, e associação com parceiros de primeira linha do exterior, ainda ausentes no

país. Desse modo, a trajetória de integração internacional é a tônica do movimento

percorrido pelos grupos Duráveis Auto e demais Duráveis.

No grupo Tradicionais – alimentos, bebidas, fumo, perfumaria, plásticos, têxtil,

vestuário, calcados , dentre outros, o padrão de concorrência internacional é fortemente

apoiado em adequação ao uso dos produtos. Marca , preço e prazo de entrega são os

atributos mais importantes para o sucesso competitivo. Os mercados mostram-se cada

vez mais segmentados de acordo com níveis de renda e tipo de produto. As empresas

dos grupos têm em comum a alta capacitação gerencial como principal fator

determinante da competitividade.

Exatamente neste último elemento residia a principal deficiência competitiva do

grupo quando se iniciou o processo de abertura comercial. Como é de se esperar, em

função da convivência no grupo de bases técnicas, escalas produtivas, padrões de

consumo e outras características muito distintas, o grupo reúne conjuntos muito

heterogêneos de empresas. Embora em praticamente todos os setores tradicionais

existissem uma ou mais empresas com níveis elevados de capacitação produtiva e

gerencial, algumas até mesmo de excelência internacional, a maior parte da produção

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era realizada em empresas de pequeno porte, de administração familiar mal estruturadas

no plano administrativo, com baixo grau de utilização de técnicas de controle e garantia

de qualidade, enfim, um quadro bastante negativo em termos da capacidade competitiva

detida pelo grupo.

De fato, no período imediatamente após a abertura, o grupo reagiu elevando o

coeficiente de exportação enquanto o coeficiente de penetração das importações

permaneceu estacionário ( após um salto de 1990 para 1991). Ao mesmo tempo, não se

observou variações de produtividade ( a menos no ramo de “Alimentos”) , renovação de

equipamentos ou melhorias nos índices de utilização de inovações organizacionais e

outras que exprimissem um processo de modernização efetivo.

Com a estabilização, o saldo comercial até então sustentado pelo grupo começou a

se contrair, tornando-se negativo já em 1995, embora o coeficiente de penetração das

importações tenha se mantido como o menor dentre todos os grupos. A redistribuição de

renda que se seguiu ao controle da inflação teve importante impacto na dinamização da

demanda para o grupo, levando-se a que, dentre os dez setores da indústria que mais

cresceram no período 1994-97, seis fossem do grupo Tradicionais. Em paralelo,

diversos setores do grupo tornaram-se importadores líquidos, sugerindo-se que o maior

dinamismo do mercado interno tornou-se também mais atrativo para os importadores,

em setores como têxtil, vestuário e calçados. Nesse sentido, devem ser também

contabilizados os efeitos de práticas comerciais oportunistas comumente adotadas por

países do leste asiático. Principalmente após a estabilização ,passaram a sobressair as

disparidades intra-grupo. Porém, mais importante, foi o aprofundamento da

heterogeneidade intrasetorial típica do grupo Tradicionais, exemplificado pelo ocorrido

no setor de alimentos.

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Observando-se a evolução dos diversos setores que compõem o grupo, em termos

de porte e origem do capital das empresas, nota-se uma tendência à polarização: setores

nos quais a participação de pequenas e médias empresas é mais pronunciada tiveram

menor capacidade de resposta aos novos desafios. Por outro lado, onde estão presentes

grupos empresariais de maior porte, a modernização produtiva, a relocalização espacial

e a renovação de produtos foram mais praticadas. O grupo Tradicionais, portanto, se

caracteriza por uma polarização entre duas trajetórias : uma trajetória de modernização

com desnacionalização e relocalização, e outra de pulverização e informatização da

produção.

4.2 - Perspectivas de Evolução no Sentido de uma Nova Estrutura

Industrial

Até que ponto as trajetórias de reestruturação percorridas pela indústria brasileira

estão desenhando uma nova estrutura industrial?

Segundo David Kupfer ( Estudo de Competitividade – Fase III, UFRJ 1998), do

ponto de vista da evolução da produção, a principal marca do período 1990-93 foi a

estagnação das atividade industrial. Nesse período, houve queda do valor da produção

industrial ao mesmo tempo que os níveis de emprego contraíram-se mais fortemente.

Em conseqüência, a produtividade do trabalho ( medida pelos índices de produção

física) apresentou elevação significativa, conforme aponta o Gráfico 1. O período

caracterizou-se por diminuição dos custos de bens e serviços intermediários em

proporção ao valor da produção, levando a que a relação entre valor adicionado e valor

da produção crescesse levemente. Os componentes do valor adicionado apresentaram

incremento do mark-up e redução da participação dos salários. Esse resultado sugere

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que o aumento da produtividade deveu-se efetivamente às melhorias introduzidas nos

processos produtivos.

Gráfico 1

Variação da produtividade na indústria ( em % sobre o ano anterior)

Fonte:BNDES

O grupo Difusores, anteriormente o mais dinâmico, passou a apresentar sucessivas

e pronunciadas quedas de participação. Inversamente, as Commodities – tanto agrícolas

quanto industriais – ampliaram seu peso na produção, confirmando o comportamento

anti-cíclico esperado para esse grupo de setores. Já com relação aos bens de consumo

Tradicionais e demais Duráveis, o período imediato após a abertura caracterizou-se por

um recuo na pauta de produção. Registre-se que os duráveis Auto, ao contrário,

apresentaram taxas de crescimento muito superiores à média da indústria ampliando sua

importância na matriz industrial.

No período mais recente, após a estabilização monetária, algumas das variáveis

analisadas assumiram novos valores. Os níveis de emprego prosseguiram em queda. O

-1 ,8

-0,09

0,5

5 ,7

-2 ,9

8 ,4

5 ,5

1 0,5

ín d i c e d e p ro d u t i v i d a d e

a n o

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período caracterizou-se por grande crescimento da produtividade mas, ao contrário da

fase anterior, a participação do valor adicionado no valor da produção contraiu-se.

A menos do Grupo Difusores, que permaneceu em declínio, os demais grupos e o

total da indústria voltaram a apresentar taxas de variação positivas. Os destaques ficam

para duráveis, tanto Duráveis Auto quanto Demais Duráveis, e Tradicionais que

evoluíram muito à frente do total da indústria. O grupo Commodities manteve o valor

da produção praticamente inalterado. Destaque-se que as commodities alimentares

apresentaram maior dinamismo que as industriais.

A despeito dessa diversidade de comportamentos das taxas de crescimento, a

atual estrutura industrial não apresenta um padrão de especialização intersetorial muito

distinto do que existia em 1985. A mudança mais nítida é o crescimento da participação

dos bens de consumo na pauta de produção que sucedeu a estabilização (47,2% em

1996 contra 41,3% em 1985).

Em termos da inserção externa, o período 1990-93 foi marcado por elevação das

exportações e importações, a segunda com maior velocidade que a primeira provocando

uma redução no saldo comercial. Esse comportamento sugere que o processo de

abertura comercial ainda não havia impactado de fato a inserção internacional da

indústria.

Após a estabilização, a balança comercial sofreu profunda deterioração tornando-

se deficitária já em 1995, após 14 anos de resultados superavitários. Enquanto as

exportações cresceram a taxas modestas, e quase sempre inferiores às das exportações

mundiais, os níveis de importação duplicaram de 1993 para 1995. A mudança na

inserção externa da indústria se manifestou em diversas dimensões. Dentre as principais

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destaca-se o aumento e consolidação da participação do Mercosul na corrente de

comércio.

No entanto, mudanças no padrão de especialização das exportações não ocorreram

e podem ser complexas de realizar. A pauta de exportações permanece diversificada já

que até mesmo os setores do grupo Difusores, em trajetória de desindustrialização,

conseguiram manter a até mesmo elevar as vendas externas. De todo modo, a

competitividade da indústria brasileira permanece mais forte em produtos de pequeno

valor unitário, intensivos em recursos naturais e energéticos, típicos do grupo

Commodities ( tanto agrícolas quanto industriais), que representam cerca de metade das

exportações industriais brasileiras. O aumento mais rápido do coeficiente de

exportações no Grupo Commodities relativamente ao dos demais grupos pode estar

sinalizando para uma tendência de maior participação desse grupo nas exportações

futuras.

Porém, cabe enfatizar que, no caso dos Duráveis, a maior parte do comércio

articulado no âmbito do Mercosul é do tipo intra-industrial, o que explica a tendência à

convergência apresentada pelos coeficientes de exportação e importação. Já para os

Difusores, o quadro é radicalmente distinto: teve lugar uma especialização intra- grupo

na qual o Brasil exporta para o Mercosul bens de capital de menor conteúdo tecnológico

e importa dos países da OCDE os de maior sofisticação.

Percebe-se também que com a estabilização econômica de 1994, duráveis e

Tradicionais enfrentaram um recuo no coeficiente de exportação, indicando atratividade

do mercado interno para esses grupos, mormente com a taxa cambial pouco favorável

aos exportadores pós Plano Real. Os setores dos Grupos Commodities e Difusores

mostraram-se mais dependentes do mercado internacional como escoadouro da

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produção, porém por razões diametralmente opostas: para as commodities em função de

vantagens competitivas acumuladas; para os difusores devido à incapacidade de

competir no mercado brasileiro com produtos importados.

Enfim, em termos da inserção no comércio internacional, a indústria brasileira

evoluiu no sentido de tornar-se importadora líquida com grande e crescente participação

de bens intermediários e de capital na pauta de importações. Em todos os grupos,

independentemente da trajetória de reestruturação percorrida, houve aumento do

coeficiente de penetração das importações e do comércio importado da produção local.

O conjunto de transformações ocorridas significa que a posição deficitária da

balança comercial que caracteriza a nova estrutura industrial tem um importante

componente estrutural e, portanto, não decorre exclusivamente da sobrevalorização da

taxa cambial pós- estabilização. Uma visão mais otimista do problema poderia sustentar

a tese de que a parte do déficit ocasionada pela menor competitividade da produção

local seria revertida como resultado da melhoria dos níveis de produtividade da

indústria, fruto da própria modernização. Porém, os setores mais dinâmicos em termos

de estratégias de expansão são exatamente os que fizeram a opção por projetos

intensivos em importação de insumos, como é evidenciado pela trajetória de integração

internacional do grupo Duráveis.

O período Pós- Real foi marcado por importantes modificações nesse campo. Um

numero jamais visto de fusões e absorções de empresas foi a grande novidade do

período. O processo de privatização explica uma parte importante dos valores

envolvidos, mas não do número de operações realizadas. É necessário introduzir como

fatores explicativos tanto a liberalização, quanto as regras de tratamento de capital

estrangeiro, quanto o crescimento do mercado interno. Também acusou forte

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crescimento o montante de aquisições de bens de capital, sobretudo os de origem

estrangeira. Os dados disponíveis sobre os níveis de capacidade instalada da industria

sugerem que os bens de capital foram maioritariamente destinados à substituição do

parque de maquinas existente, e em menor medida , à construção de novas fábricas.

O mercado potencial brasileiro sempre atraiu o interesse internacional; há várias

décadas praticamente todas as principais empresas mundiais possuem filiais no pais.

Mesmo em 1985, a indústria brasileira possivelmente já era das mais

internacionalizadas do mundo. No entanto, é indiscutível que houve, a partir do inicio

dos anos 90, grande aumento na participação do capital de origem externa no interior

dos diversos setores, como atestam os dados quanto ao incremento dos fluxos de

investimento direto externo e informações sobre as maiores empresas. Dentre os

principais fatores que explicam esse movimento estão a abertura comercial, a

liberalização dos fluxos de capital e mudanças institucionais no tratamento de empresas

estrangeiras. Há indicações de que os principais investidores externos na indústria foram

empresas que já operavam no Brasil, defendendo seus ativos no país da concorrência

externa e redefinindo o papel da filial brasileira na estratégia global do grupo. A

concretização do Mercosul, a estabilização monetária e a retomada do crescimento

ampliaram o processo.

No que se respeita as estratégias tecnológicas, constatou-se um aumento dos

pagamentos tecnológicos ao exterior. Esse aumento decorreu, em parte, de um

tratamento mais flexível conferido às remessas pela nova legislação de propriedade

industrial brasileira e, em parte, de uma maior incorporação de novas tecnologias. Nesse

sentido, não houve mudanças significativas em relação ao período anterior. Da mesma

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forma, as estratégias de reorganização da produção continuaram centradas em

terceirização e outsourcing.

Não há dúvida que a nova estrutura industrial tem como característica uma maior

eficiência produtiva. Diante do quadro geral de incerteza econômica que marcou todo o

processo, as estratégias empresariais seguiram os caminhos de menor resistência através

dos quais pudessem conseguir aumentos de produtividade e competitividade

minimizando investimentos de longo prazo. Porém, embora os avanços já conseguidos

tenham sido significativos, ainda há muito espaço para prosseguir.

Primeiro, no período imediatamente após a abertura comercial, a reestruturação

apoiou-se fortemente em estratégias de reorganização da produção baseadas em

downsizing, que correspondeu ao desenvolvimento pelas empresas de uma capacidade

de adaptação dos custos às mudanças dos preços relativos que decorreram da abertura

através de modificações no grau de integração e no conteúdo importado da produção.

Esse tipo de ajustamento ocorreu de forma generalizada, tendo sido seguido em linhas

gerais em todos os grupos industriais. Conjugados os esforços de incorporação de

inovações organizacionais- esses mais específicos de Commodities e Duráveis –

propiciaram ganhos significativos de produtividade e competitividade em curto período

de tempo, sem exigir a realização de investimentos significativos. Essa característica

única foi extremamente funcional diante do quadro de baixa confiança na economia que

prevalecia na comunidade empresarial nos anos iniciais da década de 90.

Posteriormente, com a estabilização da inflação em 1994 e a profunda

modificação ocorrida no quadro interno e externo da economia brasileira teve início

uma nova fase. As empresas optaram por um conjunto mais amplo de estratégias

competitivas, de maior complexidade e potencial de retorno maior e mais lento

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envolvendo renovação dos equipamentos e busca de economias de escala e escopo via

fusões e absorções de empresas. Essas iniciativas tiveram como objetivo central a

otimização do estoque de capital existente, correspondendo também a estratégias de

aumento da produtividade, agora do capital, minimizadoras de investimentos. Esse tipo

de reestruturação teve alcance muito mais restritivo, tendo até o momento praticamente

se confinado aos grupos Commodities e Duráveis ( e dentro deles, às empresas de maior

porte ou multinacionais).

Da sua generalização ou não e, fundamentalmente, do surgimento ou não de uma

nova fase em que um ambiente competitivo menos incerto e estratégias empresariais

efetivamente comprometidas com incorporação de progresso técnico e investimentos

em expansão, dependerão os espaços para o prosseguimento do processo de

modernização.

Caso essas novas condições não surjam, uma vez completada a difusão das novas

técnicas organizacionais, o que pode já estar perto de ocorrer, e absorvidos os impactos

da mudança estrutural provocada pela abertura comercial,uma vez que não se pode

aumentar indefinidamente a importação de insumos sob pena de extinção da indústria,

as principais forças que induziram os aumentos de produtividade e competitividade até

o momento deixarão de existir. Mais grave, desverticalização e terceirização

contribuíram para a redução de custos mas podem impedir avanços futuros nos setores

nos quais a interação entre os agentes de uma mesma cadeia seja elemento importante

para o incremento da competitividade.

Desse modo, avançar na modernização na nova etapa exigirá que a indústria

enfrente a fase difícil do processo de reestruturação. Ao contrário da incorporação de

novas técnicas de gestão e das práticas de downsizing, que requerem fatores que de

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modo geral estão sob controle da empresa, a nova trajetória de reestruturação exigirá

coordenação dos esforços, elevada solidariedade entre os agentes ao longo das cadeias

produtivas e sinalização e apoio por parte da política industrial.

As implicações deste novo contexto ainda não, podem ser definidas claramente.

Por um lado, a melhoria dos parâmetros preço/performance dos produtos provocada

pela liberalização tem conseqüências positivas para o bem- estar da população; por

outro lado, a maior recorrência a produtos e componentes importados implica não só a

desaparição de postos de trabalho – perda de emprego e arrecadação - como também

pressões negativas sobre as já fragilizadas relações de troca brasileiras. Eventualmente,

caso sejam efetivadas, remessas de lucros de modo persistente podem também

enfraquecer as transações correntes do país. Para o tecido industrial do país as

implicações são igualmente complexas. O problema certamente não é a manutenção

“per se” de ativos nacionais nas mãos de estrangeiros, até mesmo porque a disputa pelo

mercado interno por parte das principais empresas mundiais pode reproduzir

internamente o quadro de competição internacional, com ganhos potenciais de

eficiência e qualidade. O problema consiste sim na incerteza referente à preservação,

internalização e/ou expansão de uma competência central – a capacitação tecnológica-

que constitui o substrato necessário para sustentar a competitividade empresarial.

Da análise realizada, fica a certeza de que a estabilização monetária pode ser

condição necessária mas não suficiente para assegurar uma trajetória sustentada de

crescimento da indústria. Fica também a convicção de que o foco da nova estrutura

industrial, assim como sempre o foi, é o mercado interno, fato que diferencia o Brasil da

maioria dos países de industrialização recente. Observada em seu conjunto, a indústria

brasileira encontra-se diante do mesmo desafio que a acompanha desde a sua origem,

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intensificar a taxa de investimentos. Porém, como economia aberta que é hoje

submetida ademais a um acirramento da competição global jamais visto, não basta que a

formação de capital de fixo se recupere, reaproximando-se dos níveis históricos. É

necessário que os investimentos a serem realizados sejam motivados por um estilo de

modernização distinto do praticado até o momento.

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CONCLUSÃO

Dado o tipo de estratégia de industrialização que o país seguiu no passado, era

inevitável e saudável, do ponto de vista do bem – estar e do crescimento econômico,

que houvesse uma substancial elevação do coeficiente importado e uma queda

generalizada das margens de lucro na indústria. A industrialização por substituições de

importações promoveu um número excessivo de setores, à revelia dos recursos

disponíveis no país, e ensejou estruturas de mercado ineficientes que só se sustentavam

graças à proteção elevada. Setores como os de bem de capital e de bens de consumo

duráveis desenvolveram-se com um número demasiado de produtores e uma linha de

produtos excessivamente diversificada, o que acabou impedindo que as firmas se

beneficiassem dos ganhos de escala e especialização implícitos na tecnologia destes

setores.

A proteção excessiva, além de permitir lucros abusivos, também desestimulou os

investimentos em capacitação tecnológica que pudessem gerar reduções de custo e

ganhos de produtividade. Diante desse quadro, era inevitável que a abertura gerasse um

movimento de concentração e especialização, particularmente nos setores intensivos em

economias de escala, como, por exemplo, os de bens de capital e de bens de consumo

duráveis.

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A reestruturação industrial, no contexto utilizado por este trabalho, é vista como

resultado de uma política setorial de horizonte temporal definido, cujo objetivo consiste

em, através de ações articuladas desenvolvidas pelas firmas e por entidades públicas e

privadas, recompor a competitividade de segmentos industriais maduros

tecnologicamente e ameaçados pelo processo de transição entre modelos de

desenvolvimento industrial e, em especial, pela liberalização comercial e pela

integração sub- regional.

Neste sentido a reestruturação industrial se caracteriza pelos seguintes aspectos: a)

uso centrado no tempo de instrumentos essencialmente horizontais, combinados

segundo os objetivos de cada programa setorial de reestruturação e b) estabelecimento

de um marco institucional e regulatório especial para os setores selecionados,

combinando a oferta de condições favoráveis às iniciativas de reestruturação e de

recuperação de competitividade com a definição de regras e procedimentos que

imponham às empresas algum tipo de disciplina quanto ao atendimento dos objetivos do

programa setorial ( metas, sistemas de monitoramento do desempenho, sanções etc..)

Assim a política de reestruturação industrial deve ter como diretrizes o tratamento

dos problemas enfrentados pela indústria no marco de programas setoriais que

concretizem a idéia de coordenação e de concentração temporal do uso dos instrumentos

de política; a coordenação interinstitucional na montagem e operacionalização dos

programas setoriais aproveitando as especializações institucionais; a articulação de

iniciativas e instrumentos de política de reestruturação industrial nos planos nacional,

sub-regional e infranacional; a atenção aos efeitos e impactos dos programas setoriais de

reestruturação industrial sobre a concorrência no mercado doméstico, sobre as cadeias

produtivas e a competitividade da indústria, evitando-se a elevação dos custos do

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sistema produtivo, e sobre os níveis de preços e os interesses dos consumidores. Além

disso, é importante ressaltar o caráter excepcional dos programas de reestruturação, que

deverão contemplar um número limitado de setores, requerendo, portanto, avaliação

rigorosa dos pleitos formulados. Ademais, a implementação do programa de

reestruturação industrial tem como peça central a coordenação interindustrial e a

mobilização articulada de um conjunto de instrumentos e medidas de política a serem

ministrados por distintas instituições governamentais.

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obtendo –– Outubro 1996

Veiga, Pedro Motta, “Comércio Exterior e Inserção Internacional da Economia Brasileira”

– FUNCEX – texto para discussão , nº24 , Jan/90 ----Fax Mercosul - CNI – Suplemento

quinzenal