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Problema do Livre-Arbítrio

Professor Domingos Faria

v180125

Colégio Pedro Arrupe

Filosofia

Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 1 / 57

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

Formulação inicial do problema

O problema do livre-arbítrio surge do conflito entre duas perspetivas quepodemos ter de nós próprios e do nosso lugar no universo:

1 Livre-arbítrio: ideia de que temos uma vontade livre, ou seja, podemoscontrolar pelo menos algumas das coisas que fazemos ou escolhemosfazer. Assim, algumas das nossas escolhas ou ações dependem, emúltima análise, de nós, da nossa vontade.

2 Determinismo: ideia de que tudo o que acontece é uma consequêncianecessária do passado e das leis da natureza1. Assim, tal como ossimples acontecimentos, as ações e decisões são inteiramentedeterminados por fatores que os agentes não controlam(nomeadamente são causadas por acontecimentos anteriores e pelasleis da natureza)2.

1Ideia de que vivemos num universo com determinadas leis naturais que regem as relações entre cada partícula física e, porconseguinte, não é possível que as mesmas causas tenham efeitos diferentes.

2A tese determinista não é a mesma que a tese fatalista. De acordo com esta última um dado acontecimento é inevitável,independentemente dos acontecimentos anteriores e das leis da natureza.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 4 / 57

Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

(1) Livre-arbítrio

• Acreditamos que temos livre-arbítrio quando nos vemos como agentescapazes de influenciar o mundo de várias formas através das nossasescolhas ou decisões3.

• Quando confrontados com escolhas ou decisões, parecem estar diantede nós alternativas abertas ou várias possibilidades alternativas. Ouseja, raciocinamos e deliberamos entre várias alternativas e escolhemos.

• Assim, parece que (i) depende de nós o que escolhemos (isto significaque poderíamos escolher agir de outra forma) e, dessa forma, (ii) aúltima fonte das nossas escolhas e ações reside em nós (ou seja, nãoreside fora de nós em fatores que estão além do nosso controlo).

• Por causa dessas caraterísticas, o livre-arbítrio é frequentementeassociado com outras noções valiosas, como a de responsabilidademoral, autonomia, criatividade genuína, auto-controlo, gratidão, etc.

3Por livre-arbítrio não se entende a liberdade política. Ou seja, o problema é descritivo, nãoé normativo.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 5 / 57

Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

(1) Livre-arbítrio

Figura 1: Futuro em Aberto (“o jardim dos caminhos que se bifurcam”)

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Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

(2) Determinismo

• A ciência afirma que todos os acontecimentos do universo são efeitosinevitáveis dos acontecimentos (causas) anteriores e das leis danatureza.4

• Um acontecimento é um efeito inevitável dos acontecimentos anteriorese das leis da natureza quando não poderia deixar de ocorrer sem violaras leis da natureza ou sem ter origem em acontecimentos anterioresdiferentes.

• Mas, assim, o que acontece é inevitável ou necessário (não pode senãoocorrer), dado o passado e as leis.

• Por isso, de acordo com o determinismo, em qualquer tempo, dado opassado e as leis da natureza, há apenas um único futuro possível.

• Ora, como todas as ações humanas são acontecimentos, destaperspetiva segue-se que as nossas ações (escolhas e decisões) nãodependem realmente de nós, mas são determinadas ou necessitadas porfatores que estão além do nosso controlo.

4É por isso que podemos, p.e., prever os eclipses. Além disso, a posição que a Lua e a Terra irão ocupar num determinadomomento, em relação ao Sol, é inteiramente determinada pela posição que ocupavam antes.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 7 / 57

Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

(2) Determinismo

Eis o facto: todo o acontecimento tem uma causa. Este facto é conhecidocomo «determinismo». (. . . ) A nossa crença no determinismo é bastanterazoável porque todos vimos a ciência ser bem-sucedida, uma e outra vez,na procura das causas subjacentes às coisas. As inovações tecnológicasdevem a sua existência à ciência: arranha-céus, vacinas, naves espaciais,a Internet. A ciência parece explicar tudo o que observamos: a mudançadas estações, o movimento dos planetas (. . . ). Dado este registo deêxitos, esperamos razoavelmente que a marcha do progresso continue;esperamos que a ciência venha a dada altura descobrir as causas de tudo.A ameaça à liberdade vem quando nos apercebemos de que esta marchaacabará por nos apanhar. Do ponto de vista científico, as escolhas e oscomportamentos humanos são apenas uma parte do mundo natural.Como as estações, os planetas, as plantas e os animais, as nossas açõessão estudáveis, previsíveis, explicáveis, controláveis.

• Ted Sider (2010) Enigmas da Existência, pp. 146-147.

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Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

(2) Determinismo

Figura 2: Futuro fechado (há apenas um caminho possível no futuro)

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Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

Conflito entre (1) e (2)

As perspetivas (1) e (2), ou seja, a nossa crença na liberdade e a nossacrença na ciência, parecem entrar em conflito, pois:

1 Se o determinismo é verdadeiro, parece que não depende dos agentes oque eles escolhem de uma variedade de possibilidades alternativas (umavez que apenas um único futuro seria possível, dado o passado e asleis).

2 Se o determinismo é verdadeiro, a fonte ou origem das nossas escolhasou ações não está nos próprios agentes, mas em algo fora do seucontrolo (que determina as suas escolhas e ações), como osacontecimentos anteriores e as leis da natureza.

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Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

Formulação do Problema

Com base nas informações anteriores, o problema do livre-arbítrio tem asseguintes formulações5:

• Problema da compatibilidade: as perspetivas (1) e (2) sãocompatíveis? Ou seja, será o livre-arbítrio compatível com odeterminismo?

• Problema tradicional: será que temos realmente livre-arbítrio?

5Excerto do filme “Waking Life” (ver aqui).Entrevista ao filósofo Peter van Inwagen sobre o problema do livre-arbítrio (ver aqui).Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 12 / 57

Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

Teorias/Teses

Figura 3: Esquema com Família de Teorias

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Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

Teorias/Teses

Figura 4: Quadro com Família de Teorias

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Respostas ao Problema da Compatibilidade

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Respostas ao Problema da Compatibilidade

Respostas ao problema da compatibilidade

As respostas ao problema da compatibilidade entre livre-arbítrio edeterminismo:

• Incompatibilistas: aqueles que acreditam que o livre-arbítrio edeterminismo não são compatíveis. Portanto, se o determinismo éverdadeiro, então não há livre-arbítrio6.

• Compatibilistas: aqueles que sustentam que o livre-arbítrio e odeterminismo são compatíveis. Assim, é possível que o determinismoseja verdadeiro e exista livre-arbítrio7.

6O incompatibilismo foi defendido por filósofos modernos, como James e Kant. Atualmente é fortemente defendido porPeter van Inwagen.

7O compatibilismo foi defendido por alguns filósofos antigos, tal como Aristóteles e os Estoicos; mas tornou-seespecialmente influente na idade moderna, sendo defendido por Hobbes, Locke, Hume, e Mill. O compatibilismo também épopular entre os filósofos contemporâneos, sendo defendido atualmente por Dennett e Frankfurt.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 17 / 57

Incompatibilismo e o argumento da consequência

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Incompatibilismo e o argumento da consequência

Incompatibilismo

• O argumento principal a favor da tese incompatibilista, conhecidocomo o argumento da consequência, é o seguinte:

Se o determinismo é verdadeiro, então as nossas ações são consequênciasdas leis da natureza e de acontecimentos que ocorreram num passadoremoto. Mas tanto as leis da natureza como aquilo que aconteceu antesde termos nascido não dependem de nós. Logo, as consequências destascoisas (incluindo os atos que realizamos agora) não dependem de nós.

• Peter van Inwagen (1983) An Essay on Free Will, p.56.

• Em suma, se o determinismo é verdadeiro, ninguém pode agir de ummodo diferente daquele que efetivamente agiu; mas, se o livre-arbítriorequer a capacidade ou habilidade de agir de forma diferente, oupossibilidades alternativas, então ninguém tem livre-arbítrio.

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Incompatibilismo e o argumento da consequência

Princípio das Possibilidades Alternativas

Uma ideia central a este argumento é o "Princípio das PossibilidadesAlternativas" (PPA) que pode ser caraterizado desta forma:

(PPA) Temos livre-arbítrio (no sentido relevante para aresponsabilidade moral) só se pudermos escolher agir de mododiferente daquele que agimos.8

Este princípio é bastante intuitivo, tal como explica Ted Sider no livroEnigmas da Existência (2010, p.145):

8Vídeo com uma ilustração do PPA (ver aqui).Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 20 / 57

Incompatibilismo e o argumento da consequência

Princípio das Possibilidades Alternativas

Suponha que o raptam e o obrigam a cometer uma série de crimesterríveis. O raptor fá-lo disparar sobre a primeira vítima forçando-o apremir o gatilho de uma arma, hipnotiza-o para que envenene umasegunda e depois empurra-o de um avião fazendo-o esmagar uma terceira.Milagrosamente, sobrevive à queda. A situação deixa-o atordoado,aliviado por ter chegado ao fim a dolorosa experiência. Mas então, parasua surpresa, é detido pela polícia, que o algema e o acusa de homicídio.Os pais das vítimas gritam-lhe obscenidades enquanto a polícia o leva,humilhado. Estarão os pais e polícia a ser justos ao culpá-lo pelas mortes?

• À partida, sentimo-nos tentados a dar uma resposta negativa a estaquestão, precisamente porque não havia nada que pudéssemos ter feitopara evitar o sucedido (ou seja, não tínhamos possibilidadesalternativas).

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Incompatibilismo e o argumento da consequência

Argumento da consequência

Representação canónica do argumento da consequência:1 Se o determinismo é verdadeiro, então as nossas ações são a

consequência das leis da natureza e de eventos que ocorreram numpassado remoto.

2 Não somos capazes de alterar as leis da natureza nem os eventos queocorreram num passado remoto.

3 Se as nossas ações são a consequência das leis da natureza e deeventos que ocorreram num passado remoto, e se não somos capazesde alterar as leis da natureza nem os eventos que ocorreram numpassado remoto, então não temos possibilidades alternativas.

4 Se não temos possibilidades alternativas, então não somos livres.5 ∴ Se o determinismo é verdadeiro, então não somos livres. [De 1-4]

• Será este um bom argumento (válido, sólido, e cogente)?

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Compatibilismo

Os compatibilistas sustentam a tese que:• Num universo determinista podem existir agentes humanos com

livre-arbítrio.Segundo o compatibilismo, as ações livres podem estar inteiramentedeterminadas. Aquilo que torna as ações livres, e as distingue das ações quenão são livres, é simplesmente o modo como estão determinadas:

• Para os compatibilistas o livre-arbítrio é essencialmente ausência deconstrangimentos: se fazemos algo porque queremos (segundo osnossos desejos e crenças determinados por acontecimentos anteriores) enão porque fomos coagidos, então agimos livremente.

• Contudo, p.e. a pessoa acorrentada, sob hipnose, etc, não agelivremente porque está sob coação ou constrangimento.9

9Um agente tem constrangimentos quando é impedido de seguir as crenças e desejos que forma naturalmente. Mesmo se omundo é determinado, há uma diferença importante entre ser livre de constrangimentos e não ser livre desses constrangimentos.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 24 / 57

Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Críticas ao argumento da consequência

Para defenderem a sua tese, os compatibilistas procuram criticar oargumento da consequência de duas formas:

• Negar a premissa (3): defender uma análise hipotética oucondicional do princípio das possibilidades alternativas compatível como determinismo.10

• Negar a premissa (4): rejeitar a necessidade do próprio princípio daspossibilidades alternativas para haver livre-arbítrio. (Ou seja, mesmonão havendo possibilidades alternativas, podemos ter livre-arbítrio).11

10Estratégia utilizada pelos “compatibilistas clássicos”, tal como Thomas Hobbes, David Hume, e Stuart Mill.11Estratégia utilizada pelo “novo compatibilismo”, tal como Harry Frankfurt, Daniel Dennett, e Susan Wolf.

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Negar a premissa (3): análise condicional de PPA

• Simplificando a premissa (3), esta afirma que:3 Se o determinismo é verdadeiro, então não temos possibilidades

alternativas.• Para negar a premissa (3) do argumento da consequência, os

compatibilistas clássicos sugerem que o Princípio das PossibilidadesAlternativa (PPA) deve ser alvo de uma análise condicional.

• De acordo com uma análise condicional, o PPA é entendido daseguinte forma:

(PPA condicional) Temos livre-arbítrio, no sentido relevante para aresponsabilidade moral, na medida em que poderíamos ter escolhidoagir de modo diferente daquele que agimos, se tivéssemos crenças edesejos diferentes daqueles que efetivamente temos.

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Negar a premissa (3): análise condicional de PPA

• De acordo com esta interpretação, o PPA (condicional) é compatívelcom o determinismo, porque:

• Ainda que tudo esteja determinado, é verdade que por vezes poderíamoster agido de modo diferente daquele que agimos se as nossas crenças edesejos fossem diferentes daquilo que efetivamente são.

• Nessa interpretação, a premissa (3) é falsa, pois:• Ainda que o determinismo seja verdadeiro, podemos ter PPA

condicional12.

• Esta perspetiva passa a encarar o livre-arbítrio como ausência de coação.

Mas será esta uma boa crítica ao argumento da consequência?

12Ou seja, se tivéssemos crenças e desejos diferentes daqueles que efetivamente temos,poderíamos ter escolhido agir de modo diferente daquele que agimos.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 27 / 57

Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Objeções à análise condicional de PPA

Como crítica à análise condicional de PPA pode-se sustentar que:• Dado o determinismo, existe apenas um estado de coisas possível, em

cada instante. Como se estivéssemos num comboio que viaja uma linhasem bifurcações.

• Assim, num mundo determinista não faz sentido dizer que poderíamoster desejos diferentes daqueles que efetivamente temos, pois os desejosque temos são a consequência da nossa história pessoal até aomomento e das leis da natureza.

Será esta objeção plausível?

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Negar a premissa (4): rejeitar (PPA)

De acordo com a premissa (4):4 Se não temos possibilidades alternativas, então não somos livres.

Para negar essa premissa:• Harry Frankfurt concebe uma engenhosa experiência mental em que

um determinado agente não tem possibilidades alternativas, mas aindaassim tal agente tem livre-arbítrio (no sentido relevante para aresponsabilidade moral).

• Este tipo de experiência mental ficou conhecido como: Casos deFrankfurt.

• Considere-se o seguinte Caso de Frankfurt:

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Negar a premissa (4): rejeitar (PPA)

Florbela tem um dispositivo que lhe permite controlar océrebro de Raimundo à distância, ainda que agora não estejaa fazê-lo. Ela quer que Raimundo realize um certo ato:roubar um determinado quadro. Florbela está a observarRaimundo através das câmaras de vigilância do museu. Casoperceba que Raimundo não pretende roubar o quadro, ativaráo dispositivo. Intervirá na situação e, controlando o cérebrode Raimundo, levá-lo-á a mudar de ideias e a roubar o quadro.Contudo, Florbela acaba por não intervir, pois Raimundorouba o quadro sem que ela ative o dispositivo.

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Negar a premissa (4): rejeitar (PPA)

Neste caso temos uma situação em que existe uma circunstância tal que:1 Raimundo toma, por si mesmo, a decisão de roubar o quadro.2 Se Raimundo não decidisse, por si mesmo, roubar o quadro, Florbela

acionaria um dispositivo ligado ao cérebro o qual forçaria Raimundo atomar essa decisão.

3 A presença do dispositivo no cérebro de Raimundo em nada contribuipara a sua decisão de roubar o quadro.

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Negar a premissa (4): rejeitar (PPA)

Conclusões do caso de Frankfurt:• Raimundo é moralmente responsável pelo roubo do quadro e, portanto,

pode dizer-se que o agente é dotado de livre-arbítrio (num sentidorelevante).

• Mas Raimundo, dadas as circunstâncias, não tem genuinamente ao seudispor quaisquer possibilidades alternativas, pois não poderia ter agidode outra forma (dado que Florbela teria intervido de modo a fazê-locometer o roubo, caso a intervenção se tivesse justificado).

• Em suma, para os defensores deste tipo de perspetiva compatibilista, oPPA é falso, pois podemos ter livre-arbítrio (no sentido relevante paraa responsabilidade moral), ainda que não possamos escolher agir demodo diferente daquele que agimos.

Será esta uma boa objeção contra o argumento da consequência?

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Objeção para os casos de Frankfurt

Uma forma de criticar os casos de Frankfurt é apelar à ideia de que mesmoneste tipo de casos existem genuínas possibilidades alternativas:

1 tomar por si próprio uma decisão; ou2 ser forçado por uma circunstância externa a tomar essa decisão, o que

significa que é uma decisão diferente daquela que ele teriaespontaneamente tomado.

É a existência dessas possibilidades que explica a nossa intuição de que oagente é, apesar de tudo, dotado de livre-arbítrio e, consequentemente,moralmente responsável pelas suas ações.Será esta crítica plausível?

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Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

Exercícios sobre o Problema da Compatibilidade13

Interpretação e Discussão1. Qual é a diferença entre o problema da compatibilidade e o problematradicional do livre-arbítrio?2. Quais são as principais teorias que respondem ao problema dacompatibilidade?3. O que defende a tese incompatibilista?4. Qual é o argumento principal utilizado para defender a teseincompatibilista? Explique cada uma das premissas e qual é o papel doPrincípio das Possibilidades Alternativas?5. O que defende a tese compatibilista?6. Como é que o compatibilista entende o livre-arbítrio?7. Como é que os compatibilistas criticam o argumento da consequência?8. O que é mais plausível: ser incompatibilista ou compatibilista? Porquê?

13Vídeo de síntese do “determinismo vs livre-arbítrio” (aqui) e síntese do “compatibilismo” (aqui).Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 34 / 57

Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

Problema tradicional do livre-arbítrio:• Será que temos realmente livre-arbítrio?

Respostas:• Determinismo Radical:

• Teoria incompatibilista que defende que tudo está determinado e, porisso, não temos efetivamente livre-arbítrio.

• Libertismo:• Teoria incompatibilista que defende que temos efetivamente

livre-arbítrio e, por isso, nem tudo está determinado.• Determinismo moderado:

• Teoria compatibilista que defende que temos efetivamentelivre-arbítrio e que tudo está determinado.

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Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

Figura 5: Quadro com Família de Teorias

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Teoria do Determinismo Radical

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Teoria do Determinismo Radical

Determinismo Radical15

O determinismo radical combina duas teses:• (T1) O determinismo é incompatível com o livre-arbítrio.• (T2) O determinismo é verdadeiro (i.e. tudo está determinado).

De (T1) e (T2) segue-se a tese de que:• (T3) Não temos livre-arbítrio.

Argumentos a favor do determinismo radical:• Argumento do funcionamento da ciência.• Argumento do dilema do determinismo.14

14Este argumento utiliza apenas as teses (T1) e (T3), sem pressupor (T2).15Vídeo sobre um determinista radical (clique aqui)

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Teoria do Determinismo Radical

Argumento do funcionamento da ciência

Argumento baseado no funcionamento da ciência:1 Se o determinismo é verdadeiro, então não somos livres. [Conclusão do

argumento da consequência]2 A ciência assenta no princípio determinista (dadas as mesmas causas,

seguem-se os mesmos efeitos).3 Se a ciência assenta no princípio determinista, então o determinismo éverdadeiro.

4 ∴ O determinismo é verdadeiro. [De 2 e 3, por modus ponens]5 ∴ Não somos livres. [De 1 e 4, por modus ponens]

Será este um bom argumento?

Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 40 / 57

Teoria do Determinismo Radical

Objeção para a premissa (2): Indeterminismo Científico

• Objeção para a premissa (2):• Nem toda a ciência assenta no princípio determinista.• Por exemplo, a mecânica quântica é uma teoria física que parece

apontar para a existência de acontecimentos indeterminados emeramente probabilísticos.

• O mundo subatómico parece reger-se por princípios indeterministas, deacaso e aleatoriedade.

• Resposta à objeção:• Mas mesmo que o indeterminismo seja verdadeiro16, pode-se argumentar

que não somos livres (pois, nesse caso a ação seria simplesmentealeatória, fruto do acaso, que é algo que também não podemoscontrolar).

16O indeterminismo é a tese de que alguns acontecimentos não são efeitos inevitáveisde circunstâncias anteriores e das leis da natureza.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 41 / 57

Teoria do Determinismo Radical

Argumento do Dilema do Determinismo

Argumento do Dilema do Determinismo contra o Livre-Arbítrio:1 Ou o determinismo é verdadeiro ou o indeterminismo é verdadeiro.2 Se o determinismo é verdadeiro, então não somos livres. [Conclusão do

argumento da consequência]3 Se o indeterminismo é verdadeiro, então as nossas ações resultam do

acaso.4 Mas, se as nossas ações resultam do acaso, então não somos livres.5 ∴ De uma forma ou de outra não somos livres. [De 1-4]

Será este um bom argumento?

Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 42 / 57

Teoria do Determinismo Radical

Objeção para a premissa (3): Dualismo

• Objeção para a premissa (3):• De acordo com a teoria do dualismo (em que os seres humanos são

compostos por corpo e alma)17, o indeterminismo pode ser verdadeiromas algumas das nossas ações não resultam do acaso.

• A alma, sendo um objeto imaterial, não está sujeita às leis da natureza(quer sejam deterministas ou indeterministas).

• Ora, a alma, tendo capacidade de deliberação, pode causar algumasações humanas de forma livre.

• Será esta uma boa objeção? Alguns problemas:• Há realmente um alma imaterial?• Como uma alma imaterial pode causar algo no mundo material?

17Esta teoria é defendida, entre outros, por Richard Swinburne.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 43 / 57

Teoria do Libertismo

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Teoria do Libertismo

Libertismo18

O libertismo combina duas teses:• (T1) O determinismo é incompatível com o livre-arbítrio.• (T2) Temos livre-arbítrio.

De (T1) e (T2) segue-se a tese de que:• (T3) O determinismo é falso (i.e., nem tudo está determinado).

Argumentos a favor do Libertismo:• Argumento da experiência de liberdade.• Argumento da responsabilidade moral.

18Vídeo sobre um libertista (clique aqui)Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 45 / 57

Teoria do Libertismo

Argumento da Experiência de Liberdade

Podemos começar com a ideia de que sabemos que somoslivres porque cada um de nós apercebe-se imediatamente deser livre cada vez que faz uma escolha consciente. Pensenovamente no que está a fazer neste momento: ler umapágina que está diante de si. Pode continuar a ler ou parar deler. O que irá fazer? Pense na sensação que tem agora,enquanto pondera estas opções. Não sente constrangimentos.Nada o impede de seguir numa direção nem o força a fazê-lo.A decisão é sua. A experiência de liberdade, poder-se-á dizer,é a melhor prova que podemos ter.

• James Rachels (2009) Problemas da Filosofia.

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Teoria do Libertismo

Argumento da Experiência de Liberdade

Resumo do argumento da experiência:1 Se o determinismo é verdadeiro, então não somos livres. [Conclusão do

argumento da consequência]2 Se temos a experiência ou sensação de liberdade, então somos livres.3 Ora, temos a experiência ou sensação de liberdade.4 ∴ Somos livres. [De 2 e 3, por modus ponens]5 ∴ O determinismo não é verdadeiro. [De 1 e 4, por modus tollens]

Será este um bom argumento?

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Teoria do Libertismo

Objeção: Ilusão de Liberdade

• Crítica à premissa (2):• A experiência ou sensação de liberdade não garante que somos

realmente livres, pois podemos ter uma ilusão de que somos livres19.• Ou seja, podemos ter a experiência ou sensação liberdade simplesmente

porque desconhecemos todas as causas que determinam as nossas ações.

Será esta uma boa objeção?

19Essa ideia é defendida por alguns filósofos, como Bento de Espinosa e ArthurSchopenhauer.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 48 / 57

Teoria do Libertismo

Argumento da Responsabilidade Moral

O pressuposto de que temos livre-arbítrio está profundamenteenraizado nas nossas formas habituais de pensar. Ao reagir aoutras pessoas, não conseguimos deixar de as ver comoautoras das suas ações. Consideramo-las responsáveis,censurando-as caso se tenham comportado mal eadmirando-as caso se tenham comportado bem. Para queestas reações estejam justificadas, parece necessário que aspessoas tenham livre-arbítrio.

• James Rachels (2009) Problemas da Filosofia.

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Teoria do Libertismo

Argumento da Responsabilidade Moral

Resumo do argumento da responsabilidade moral:1 Se o determinismo é verdadeiro, então não somos livres. [Conclusão do

argumento da consequência]2 Se não somos livres, então não teria sentido responsabilizar as pessoas.3 Mas tem sentido responsabilizar as pessoas.4 ∴ Somos livres. [De 2 e 3, por modus tollens]5 ∴ O determinismo não é verdadeiro. [De 1 e 4, por modus tollens]

Será este um bom argumento?

Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 50 / 57

Teoria do Libertismo

Objeção: responsabilidade moral sem livre-arbítrio

• Objeção para a premissa (2):• Mesmo que não exista livre-arbítrio pode fazer sentido responsabilizar as

pessoas.• Por exemplo, mesmo que os seres humanos não sejam livres, pode fazer

sentido responsabilizar, culpar, e prender os criminosos por uma questãode prevenção ou dissuasão20.

20Ou seja, punir os criminosos afasta-os das ruas e desencoraja crimes futuros.Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 51 / 57

Teoria do Determinismo Moderado

Sumário

1 Introdução ao Problema do Livre-Arbítrio

2 Formulação do Problema do Livre-Arbítrio

3 Teorias para responder ao Problema do Livre-Arbítrio

4 Respostas ao Problema da Compatibilidade

5 Incompatibilismo e o argumento da consequência

6 Compatibilismo e as críticas ao argumento da consequência

7 Respostas ao Problema Tradicional do Livre-Arbítrio

8 Teoria do Determinismo Radical

9 Teoria do Libertismo

10 Teoria do Determinismo Moderado

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Teoria do Determinismo Moderado

Determinismo Moderado

O determinismo moderado combina três teses:• (T1) O determinismo é compatível com o livre-arbítrio.• (T2) O determinismo é verdadeiro (i.e. tudo está determinado).• (T3) Temos livre-arbítrio (como ausência de constrangimentos)21.

Argumento a favor do determinismo moderado:• A razão fundamental para aceitarmos o determinismo moderado é que

parece resolver o problema tradicional do livre-arbítrio sem violarquaisquer das nossas intuições comuns sobre o determinismo e aresponsabilidade moral.

21Um sujeito S tem livre-arbítrio (no sentido relevante para a responsabilidade moral) se, e sóse, S não é constrangido (ou seja, S não é impedido de seguir as crenças e desejos,determinados por acontecimentos anteriores, que forma naturalmente).Professor Domingos Faria (v180125) Problema do Livre-Arbítrio Colégio Pedro Arrupe Filosofia 53 / 57

Teoria do Determinismo Moderado

Argumento a favor do Determinismo Moderado

Dilema a favor do determinismo moderado:1 Só uma destas teorias é plausível: o libertismo, o determinismo radical,

ou o determinismo moderado.2 O libertismo não é plausível (pois, não é consistente com a tese

determinista muito bem estabelecida segundo a qual tudo tem umacausa).

3 O determinismo radical não é plausível (pois, não é consistente com aideia de que temos justificação para considerar as pessoas moralmenteresponsáveis pela maior parte das suas ações).

4 ∴ O determinismo moderado é plausível (pois, é consistente com atese determinista e com a ideia de responsabilidade moral). [De 1-3,por silogismo disjuntivo]

Será este um bom argumento?

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Teoria do Determinismo Moderado

Objeção

Algumas objeções:• Contra a premissa (2):

• Será a tese determinista bem estabelecida? O libertista pode advogarque no mundo subatómico não se parece reger por leis deterministas.

• Contra a premissa (3):• Pode-se argumentar que para um determinista radical pode fazer sentido

responsabilizar moralmente, condenar, culpar, etc, por uma questão deprevenção e dissuasão.

• Conceito de livre-arbítrio:• Os deterministas moderados parecem utilizar um conceito deflacionário

de livre-arbítrio, como ausência de constrangimentos, que não é omesmo conceito utilizado pelo libertistas e pelos deterministas radicais.

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Teoria do Determinismo Moderado

Exercícios sobre o Problema Tradicional

Interpretação e Discussão1. Como se formula o problema tradicional?2. O que defende o determinismo radical?3. Apresente um argumento a favor do determinismo radical.4. Apresente uma objeção ao determinismo radical.5. O que defende o libertismo?6. Apresente um argumento a favor do libertismo.7. Apresente uma objeção ao libertismo.8. O que defende o determinismo moderado?9. Apresente um argumento a favor do determinismo moderado.10. Apresente uma objeção ao determinismo moderado.

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Teoria do Determinismo Moderado

Para falar com o professor:• [email protected]• http://www.domingosfaria.net

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