PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira...

18
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. ISBN: 978-85-7506-232-6 PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA COMUNIDADE AMAZÔNICA E DA LÓGICA INSTITUCIONAL GEOGRAFICAMENTE LOCALIZADA Klondy Lúcia de Oliveira Agra Universidade Federal do Paraná - UFPR [email protected] Salete Kozel Universidade Federal do Paraná - UFPR [email protected] INTRODUÇÃO Neste estudo, caminhamos pela abordagem da Geografia Cultural, com o objetivo principal de discutir caminhos para a gestão da água a partir de percepções e representações de uma comunidade ribeirinha amazônica para que se repense a gestão das águas a partir da lógica de comunidades geograficamente localizadas. No caminhar da pesquisa, compreende-se comunidade como Weber (1987) a define, ou seja, denomina-se comunidade a um grupo cuja relação social baseia-se em um sentido de solidariedade: o resultado de ligações emocionais ou tradicionais dos participantes (WEBER, 1987, p. 77). A lógica de comunidade buscada neste estudo é compreendida como a identidade manifestada pelos colaboradores de uma mesma comunidade, observada como uma forma de vínculo com outros membros locais, através do comprometimento com este grupo, manifestado pela defesa de valores e ideologias enraizadas na cultura local (THORNTON, OCASIO E LONSBURY, 2012). Os estudos sobre sentidos, percepções e representações sociais sobre o elemento água nas comunidades amazônicas é uma estratégia a ser utilizada para desvendar a essência dos atores investigados. Uma essência construída culturalmente, com 4614

Transcript of PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira...

Page 1: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL:REFLEXÕES A PARTIR DE UMA COMUNIDADE

AMAZÔNICA E DA LÓGICA INSTITUCIONALGEOGRAFICAMENTE LOCALIZADA

Klondy Lúcia de Oliveira Agra

Universidade Federal do Paraná - UFPR

[email protected]

Salete Kozel

Universidade Federal do Paraná - UFPR

[email protected]

INTRODUÇÃO

Neste estudo, caminhamos pela abordagem da Geografia Cultural, com o

objetivo principal de discutir caminhos para a gestão da água a partir de percepções e

representações de uma comunidade ribeirinha amazônica para que se repense a gestão das

águas a partir da lógica de comunidades geograficamente localizadas.

No caminhar da pesquisa, compreende-se comunidade como Weber (1987) a

define, ou seja, denomina-se comunidade a um grupo cuja relação social baseia-se em um

sentido de solidariedade: o resultado de ligações emocionais ou tradicionais dos

participantes (WEBER, 1987, p. 77).

A lógica de comunidade buscada neste estudo é compreendida como a

identidade manifestada pelos colaboradores de uma mesma comunidade, observada como

uma forma de vínculo com outros membros locais, através do comprometimento com este

grupo, manifestado pela defesa de valores e ideologias enraizadas na cultura local

(THORNTON, OCASIO E LONSBURY, 2012).

Os estudos sobre sentidos, percepções e representações sociais sobre o

elemento água nas comunidades amazônicas é uma estratégia a ser utilizada para

desvendar a essência dos atores investigados. Uma essência construída culturalmente, com

4614

Page 2: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

valores próprios e suas lógicas condutoras à alteração da morfologia da paisagem natural

(SAUER, 1998).

A paisagem geográfica é a categoria presente neste estudo como imagem

impregnada de sentidos e valores, passível de observação, descrita e representada pela

linguagem através das palavras e desenhos. Para a Geografia, a paisagem é exatamente a

imagem expressa e captada destes elementos. Uma imagem que permite realizar a

interação entre o olhar e a interpretação do observador, buscando entender, criticar e

recriar aquilo que se vê. A paisagem é um conjunto, uma convergência, um momento vivido.

Uma ligação interna, uma impressão, que une todos os elementos (DARDEL, 2011, P. 30).

Para a análise da paisagem cultural, segue-se Claval e sua afirmativa de que a

paisagem, por si, é uma categoria analítica cuja perspectiva é integrar os saberes da

natureza aos saberes do homem. Como a paisagem é a base dos saberes, estes se

expressam na cultura através dos valores, crenças, símbolos, desejos. A teoria de Paul Claval

foi fundamental para a escolha da abordagem da Geografia Cultural na elaboração deste

estudo. Procurou-se através dessa abordagem integrar a experiência socioambiental dos

homens e o sentido dado às suas vidas (CLAVAL, 2010; 2009; 2007; 2004; 2001). Ou seja,

procurou-se compreender na paisagem a afinidade, a reciprocidade, o sentido do

relacionamento entre o homem e essa paisagem (ANDREOTTI, 2013).

As paisagens neste estudo, portanto, são tomadas a partir das vidas cotidianas e

estão cheias de sentidos culturais e significados. Com os dados proporcionados pela

pesquisa de campo e a ciência geográfica procura-se decodificar essas paisagens. Isso

porque a geografia está em toda parte, reproduzida diariamente por cada um dos

integrantes dessa paisagem cultural. A recuperação desses sentidos e significados em

paisagens comuns diz muito sobre os sujeitos culturais e pode proporcionar uma geografia

efetivamente humana e relevante, que pode contribuir para o próprio núcleo de uma

educação humanista: melhor conhecimento e compreensão de nós mesmos, dos outros e

do mundo que compartilhamos (COSGROVE, 1999).

Como espaço amazônico no contexto deste estudo, escolhemos a comunidade

de São Sebastião, na margem esquerda do Rio Madeira, em frente ao centro da cidade de

Porto Velho, capital do Estado de Rondônia. Um Estado que, por sua diversidade, seus

problemas socioculturais e seu rápido crescimento demográfico é um retrato síntese da

região amazônica. A preferência por essa comunidade deu-se por apresentar paisagens

culturais que, embora existam em constante fluxo de troca de saberes com o urbano,

4615

Page 3: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

insistem e permanecem na experiência de vida com sentidos e significados construídos,

especializados ou reavaliados à margem dos rios.

A escolha da investigação junto a uma comunidade ribeirinha amazônica deu-se,

primeiramente, porque a Amazônia agasalha a maior e mais extensa bacia continental

hidrográfica de drenagem superficial do planeta, ocupando uma área total de 7.008.370

km2, desde as nascentes, nos Andes Peruanos, até sua foz no oceano Atlântico (PNRH,

2010). Outro motivo relevante para a escolha deste espaço está no fato de que neste lugar

se observa de modo apurado mudanças ocorridas pelo desmatamento acelerado e

contaminação de águas (LIANA, 2010; REBOUÇAS ET. AL., 2006).

No entanto, o principal motivo da escolha de uma comunidade ribeirinha

amazônica na elaboração desta pesquisa está no fato de que a região amazônica tem

sofrido uma ocupação desordenada, com construções de hidrelétricas e projetos de

exploração e aproveitamento que mexem diretamente com essas comunidades ribeirinhas

e geram problemas de toda ordem. Populações inteiras sofrem e enfrentam problemas

antes alheios as suas culturas e que agora contribuem para a desarticulação e à

fragmentação de seus espaços (SOUSA, KOZEL E SILVA, 2009).

Ademais, a água é, comprovadamente, um componente vital e seu uso e

conservação é causa de preocupação. Vários estudos têm sido realizados para tentar

compreender e solucionar problemas já existentes e previstos. Muitas pesquisas preveem

que em breve a água será a principal causa de conflitos mundiais. Várias tensões já são

reconhecidas em algumas áreas do planeta (OLIVEIRA, 1996; COIMBRA ET AL., 1999;

REBOUÇAS, 2002; QUEIROZ, 2002). No Brasil, um país privilegiado com a água doce, se

discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece claramente a

percepção e representações sociais das populações ribeirinhas amazônicas sobre essas

problemáticas.

Acreditamos que com estudos da Geografia Cultural, dos fenômenos da

construção do sentido e significados, ( CLAVAL, 2007/2009 ; DARDEL, 2011; FREGE, 1978),

juntamente com os estudos da Percepção e Representações Sociais (TUAN, 1980/1982/1983;

MOSCOVICI, 2011) da problemática da água, aliadas aos estudos das Lógicas Institucionais

(THORNTON, OCASIO E LOUNSBURY, 2012; THORNTON E OCASIO, 1999; THORNTON, 2004;

COSTA, 2012)) produzirão resultados que permitirão novos projetos e pesquisas que

apontem soluções plausíveis à tomada de decisões para a formulação de gestões mais

responsáveis com novos projetos visando à educação ambiental, a preservação e o

4616

Page 4: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

desenvolvimento sustentável tendo como objeto a água.

A fim de alcançar o objetivo proposto neste estudo, caminha-se através de

estudos da Geografia Cultural e para a obtenção de dados, observação e análise das

percepções que conduzam às representações da comunidade pesquisada, utilizamos da

pesquisa qualitativa participativa, com a observação participante, entrevistas e da

metodologia Kozel (2007), com a aplicação de mapas mentais aos atores da comunidade

investigada e suas devidas interpretações.

A PERCEPÇÃO E O FENÔMENO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Neste estudo que busca discutir caminhos para a gestão da água a partir de

percepções e representações de uma comunidade ribeirinha amazônica, compreende-se

essa percepção de acordo com a compreensão de Tuan: a resposta dos sentidos aos

estímulos externos, como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente

registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados. Muito do que

percebemos tem valor para nós, para a sobrevivência biológica, e para propiciar algumas

satisfações que estão enraizadas na cultura (TUAN, 1980, p.05).

Para a compreensão da Representação neste estudo, utiliza-se a teoria de

Moscovici (1961/1976) e seus estudos na Psicologia. De acordo com esse autor a

representação que temos de algo, não está diretamente relacionada à nossa maneira de

pensar e, contrariamente, por que nossa maneira de pensar e o que pensamos depende de

tais representações. Todos os sistemas de classificação, todas as imagens e todas as

descrições que circulam dentro de uma sociedade, mesmo as descrições científicas,

implicam um elo de prévios sistemas e imagens, uma estratificação na memória coletiva e

uma reprodução na linguagem que, invariavelmente, reflete um conhecimento anterior e

que quebra as amarras da informação presente.

As representações são entidades sociais, com vida própria. Têm autonomia e

exercem pressões. Apresentam-se como realidades inquestionáveis que nós temos de

confrontá-las (MOSCOVICI, 2011, p. 40). Representações sociais influenciam o comportamento

do indivíduo participante de uma coletividade (Ibidem, p. 40). Contudo, pessoas e grupos, longe

de serem receptores passivos, pensam por si mesmos, produzem e comunicam incessantemente

suas próprias e específicas representações e soluções às questões que eles mesmos colocam

(Ibidem, p. 45). Essas representações possuem duas funções:1ª Elas convencionam os

objetos, pessoas ou acontecimentos que encontram; dão-lhes forma definitiva, as localizam

4617

Page 5: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

em uma determinada categoria; e gradualmente as colocam como um modelo de

determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas.2ª São prescritivas, isto é,

elas se impõem sobre nós com uma força irresistível. Essa força é uma combinação de uma

estrutura que está presente antes mesmo que nos comecemos a pensar e de uma tradição

que decreta o que deve ser pensado (MOSCOVICI, 2011). Compreende-se, também, que

realidade é, para a pessoa, em grande parte, determinada por aquilo que é aceito na

sociedade como realidade.

Com essa compreensão, vê-se que cada experiência é somada a uma realidade

predeterminada por convenções, que claramente define suas fronteiras, distingue

mensagens significantes de mensagens não significantes e que liga cada parte a um todo e

coloca cada pessoa ou objeto em uma categoria distinta e que nenhuma mente está livre

dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe são impostos por suas representações,

linguagem ou cultura. Isto é, pensa-se através de uma linguagem, organizam-se os

pensamentos de acordo com um sistema que está condicionado, tanto por representações,

como pela cultura e por isso só se vê o que as convenções subjacentes permitem ver e se

permanece inconsciente dessas convenções.

As representações, que são compartilhadas por tantos, penetram e influenciam

a mente de cada um, elas não são pensadas por eles, ou melhor, são repensadas, recitadas

e reapresentadas.

SÃO SEBASTIÃO – UMA COMUNIDADE AMAZÔNICA

A Comunidade São Sebastião, a mais antiga das comunidades do entorno da

cidade de Porto Velho, localizada na margem esquerda do Rio Madeira, foi formada

inicialmente por uma só família, os Rabelo que, nos inícios dos anos 1950, receberam

autorização do bispo prelado de Porto Velho, Dom João Batista Costa, para ocupar o espaço

onde se construiu a Igreja de São Sebastião e suas vizinhanças. A organização da paisagem

nesse lugar possibilitou à pesquisa a observação de que a organização ocorre de acordo

com o uso que se faz da terra. Percebemos nessas paisagens uma composição de

tonalidades que se altera no dia, na noite, no amanhecer e no anoitecer. Enquanto a manhã

oferece o nascer do sol sobre o Rio Madeira aos sujeitos do lugar, no entardecer, o próprio

lugar transforma-se na mais bela paisagem porto-velhense com o pôr do sol sobre ela.

Pequenas áreas do verde-escuro das paisagens naturais misturam-se as árvores

frutíferas, flores e pimenteiras. Mas essas cores mudam com a chegada das águas, as

4618

Page 6: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

inundações e os desbarrancamentos, antes em períodos bem marcados, hoje com a

chegada das Hidrelétricas, sem tempo ou hora e outros tons surgem para compor o

mosaico sobre essas paisagens.

Figura 01. Mapa de localização da Comunidade Pesquisada

Com paisagens naturais compostas de lago, Igarapés, nascentes e espaços

humanizados, a Comunidade de São Sebastião, hoje com cerca de 270 famílias, forneceu à

pesquisa sentidos culturais próprios e significantes. Com paisagens culturais ricas em

sentidos, percepções e representações. A pesquisa nessa comunidade nos propiciou o

envolvimento cultural, com o reencontro de origens, com o compartilhamento de nossas

vidas com a vida de outras pessoas, ouvimos muito do outro muito e criamos relações de

afeto e amizade através da audição de narrativas e histórias de vida. Um caminhar que fez

desses colaboradores coconstrutores desta pesquisa ao possibilitarem os resultados das

análises e as respostas as indagações iniciais e deste modo o desvendar dos seus sentidos

culturalmente construídos, suas percepções e suas representações sociais sobre a água e

toda a problemática que a envolve.

4619

Page 7: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Ademais, com a pesquisa em campo nessa comunidade, desvendamos o ser

humano amazônico dessas paisagens pela palavra e pelo cenário natural do lugar visto e

sentido por ele próprio. De outro modo, a busca pelo sentido, percepção e representação

social dessa comunidade sobre a água através das entrevistas e de mapas mentais consistiu,

em todo o decorrer deste estudo, em uma representação vista e sentida pelo sujeito do

lugar, aqui entendido no sentido coletivo, dinâmico, de construção de sua história. A palavra,

portanto, deu voz à simbologia da água mantida no subjetivo das pessoas. Uma dimensão

na qual a água pode ser observada enquanto representação no trato dos objetos

geográficos.

O ser humano amazônico buscado para a observação neste estudo é aquele

que, embora esteja a poucos minutos do centro de uma cidade, optou por viver às margens

de rios. Fazendo parte de uma paisagem observada e admirada por muitos, mas

transformada e vivida por esse homem/mulher. Um ser que dá uma caracterização

diferente ao seu mundo, uma concepção de natureza que integra o urbano e o rural em seu

modo de vida com dois elementos essenciais a sua paisagem: as águas e as matas.

Importante ressaltar que ao procurar pelo sentido do ser humano amazônico na

Comunidade de São Sebastião, compreendemos que esse humano não é somente o nato do

lugar, mas também, aquele ser que vive e sonha na paisagem natural, modificando-a e

construindo a paisagem cultural observada, um ser que se apropriou do espaço como o seu

lugar.

A partir da relação com os elementos água e mata, observamos que esse ser

humano pesquisado estabeleceu suas estratégias de sobrevivência, construiu sentidos

culturalmente e valores, que conduziram aos seus significados culturais. Oferecendo, dessa

maneira, a este estudo, diferentes percepções e representações, comprovando a

diversidade cultural em comunidades tão próximas.

A observação da paisagem nessa comunidade forneceu à pesquisa a certeza de

que a forma de ser das pessoas de uma determinada cultura apresenta características

comuns, que as tornam semelhantes entre si e ao mesmo tempo diferentes de pessoas de

outras culturas. Comunidades próximas do centro urbano que, por seu modo específico de

vida, assim como as demais comunidades beradeiras localizadas ao longo do rio Madeira,

são formadas por descendentes de nordestinos, com costumes e valores próprios.

Sentidos construídos em culturas nordestinas diversas, trazidos à região com o

deslocamento de seus antepassados à Amazônia para o trabalho nos seringais que,

4620

Page 8: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

repassados aos seus descendentes, foram especializados na cultura amazônica. O acesso a

essa comunidade, por enquanto, é feito de barco ou de balsa. Com pequena estrada que dá

acesso às comunidades para quem faz a travessia de balsa, com carros ou motos, nesses

espaços, não existem ruas. O rio, o silêncio, a natureza exuberante fazem parte dessa

paisagem onde a cortesia dos moradores integra seus atrativos.

Com a condução da pesquisa, verificamos que esse humano amazônico

encontrado nessa comunidade portovelhense difere das comunidades ribeirinhas descritas

e recitadas por outros autores, seja pela proximidade com o centro urbano, pelo acesso

ininterrupto de informações, encontrou-se nessas paisagens seres diferenciados que, além

de viver às margens de um rio, mantém uma organização social particularizada, com sua

sobrevivência econômica baseada em atividades diversas, mas também, com a manutenção

da pesca e da pequena produção agrícola. Sociedades organizadas que deixam claro que

não basta somente morar às margens de um rio ou igarapé para ser considerado ribeirinho.

Isto seria uma classificação simplória diante da diversidade da forma de viver da população

amazônica. Há nessas paisagens um viver que integra o homem e as águas e não se

enquadra enquanto conceituação do urbano nem do rural.

A GESTÃO DAS ÁGUAS E AS LÓGICAS INSTITUCIONAIS

Em todo o caminhar na obtenção e análise dos dados recolhidos à análise,

tivemos a consciência de que os informantes da Comunidade de São Sebastião, embora

sejam amazônidas, não trazem em si características de todas as comunidades amazônicas,

portanto, caminhamos com a certeza de que a paisagem cultural encontrada nessa

comunidade responde a sentidos, percepções e representações sociais particulares

pertencentes a essa comunidade específica, isto é, são apenas pequeninas e importantes

peças na imensa e diversa paisagem cultural amazônica.

O interesse inicial a este estudo surgiu com a observação da realidade da água

brasileira em regiões diversas (urbanas ou não) e a constatação da rápida degradação de

redes superficiais no mundo vivido da própria pesquisadora, a cidade de Porto Velho, na

Amazônia brasileira. Esse interesse inicial veio acompanhado de leituras de outros estudos

que demonstram que a gestão das águas esteve, durante décadas, centralizada na figura do

Estado, mas que hoje se propõe à adesão do que se denomina nova governança. Proposta

que procura fortalecer a participação de atores sociais não governamentais a gestão desse

importante recurso natural (RHODES, 2007). O pressuposto por trás dessa nova proposta é

4621

Page 9: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

o de que governos não são capazes de prover direção efetiva por si mesmos e necessitam

ser suplementados ou suplantados por [outros] atores sociais (PETERS, 2011, p.78).

Por isso, neste estudo, acreditamos que para que haja essa maior participação

de atores da sociedade civil nos sistemas de gestão das águas na Amazônia é necessário

que se conheçam os sentidos desses humanos que conduzem as lógicas de suas

comunidades. Portanto, se crê que ao conhecer percepções e representações sociais de

comunidades amazônicas a partir do sentido do ser humano amazônico em diferentes

contextos, se propiciará também o conhecimento da lógica dessas comunidades. A lógica de

comunidade, no que diz respeito à gestão da água no cenário mundial, vem ganhando força

nas últimas décadas como resposta às contradições da esfera econômica e política, em

especial àquelas que surgiram como reflexo da ação das organizações produtivas (COSTA,

2012).

Estudos da abordagem de lógica institucional, por sua vez, consideram que a

lógica de comunidade é responsável pela valorização dos laços fortes e duradouros entre os

membros de pequenos grupos (ALMANDOZ, 2011). De acordo com estes estudos, a imersão

nas comunidades tem uma influência relativamente durável no comportamento

organizacional, por meio de um número de mecanismos que são responsáveis pela

mediação e manutenção desse relacionamento. Neste sentido, a questão da proximidade

geográfica e das redes sociais locais que se desenvolvem a partir de um contexto

comunitário influenciam diversas práticas dos membros desta região (COSTA, 2012). A

influência da comunidade também se dá para outros fatores importantes para o contexto

organizacional, tais como a estrutura do corpo de direção (KONO; PALMER; FRIEDLAND;

ZAFONTE, 1998; MARQUIS, 2007), as práticas de governança corporativa (DAVIS; GREVE,

1997) e as implicações motivacionais que se contrapõem ao interesse exclusivamente de

mercado, como por exemplo, no caso de gestores de instituições financeiras (ALMANDOZ,

2011).

Reconhecemos, no entanto que, embora os estudos sobre gestão das águas

estejam sendo desenvolvidos em diferentes disciplinas acadêmicas, entre outras, a própria

Geografia, ainda há muita divergência entre a teoria e a prática, principalmente no que diz

respeito a participação de comunidades. Neste estudo compreendemos que a gestão das

águas se refere a questões de coordenação social e de padronização de regras que

orientem as ações nessa determinada área. Mais especificamente, ações que envolvam

diferentes teorias e práticas nos diversos projetos e ao mesmo tempo deem conta de gestar

4622

Page 10: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

os dilemas gerados por estas.

MAPAS MENTAIS E SUAS COMPREENSÕES

Com a intenção de conhecer sentidos e percepções da importância da água que

conduzam a representações dos integrantes da Comunidade São Sebastião, levamos em

conta o seu sistema ecológico e social, dentro dos quais esses seres humanos estão

inseridos e que deverão ser compreendidos de formas distintas. Entendemos, pois, que os

espaços sociais ou mundos vivenciais criados ou experienciados particularmente por esses

atores sociais são caracterizados por uma série de relações sociais e simbólicas específicas e

são essas relações que definem suas estruturas e que poderão ser reconhecidas dentro de

limites espaciais e temporais delimitados.

Desse modo, a fim de encontrar respostas a cerca de questões inerentes à

pesquisa, se observa, também, que a Geografia e as imagens sempre estiveram ligadas.

Num primeiro momento, com o sentido de transmitir informações sobre os espaços,

posteriormente como forma de comunicação/representação do espaço físico, mensurável

ou do espaço vivido subjetivo, passando a ser denominados mapas quando os registros são

impressos num suporte de plano dimensional (KOZEL, 2007, p.116).

Sobre esse tema, Carl Sauer observou que os mapas representam um recurso

essencial para a geografia, tanto que esse autor expressava a opinião de que sem os mapas,

estaríamos de mãos vazias, fosse à sala de conferências, ao estudarmos, ou no trabalho de

campo. Os mapas são vistos como uma expressão da geografia porque segundo o autor, os

mapas têm a capacidade de acabar com nossas inibições, estimular nossas glândulas, mexer

com nossa imaginação, soltar nossas línguas (SAUER, 2000, p.139).

Mapear é tomar a medida do mundo, em um sentido mais amplo, figurando a

medida tomada em tal maneira que possa ser comunicada entre pessoas, lugares ou

tempos. Essa medição não é restrita ao matemático, pode ser espiritual, política ou moral. O

mundo figurado através do mapeamento pode ser material ou imaterial, existente ou

desejado, inteiro ou em partes, experimentado, lembrado ou projetado em várias maneiras

(COSGROVE, 1999, 01). O registro do mapeamento não é confinado ao que é para arquivar,

mas também inclui o que é lembrado, imaginado, contemplado. O mapa permanece um

modo poderoso de visualizar e representar os aspectos espaciais de como culturas se

formam, interagem e mudam (COSGROVE e DELLADORA, 2005, p.28).

De acordo com Kozel (2007, p. 115) na interpretação e compreensão dos mapas

4623

Page 11: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

mentais, deve-se levar em conta que essas construções sígnicas estão inseridas em

contextos sociais, espaciais e históricos coletivos referenciando particularidades e

singularidades. Portanto, para essa interpretação/decodificação, essa autora propõe em sua

metodologia, o estudo através do Dialogismo proposto por Bakhtin (1986) que permite

analisar os signos, representados nos mapas mentais, como enunciados. Ainda, segundo

Kozel (2007, p. 115), o Dialogismo se constitui assim, no cerne do método Bakhtiano e

complementa:

[...] não concebendo como em outras teorias linguísticas, o estudo da língua

dissociada do homem como ser social, e tampouco que esta interação seja

apenas proveniente de expressões exteriores, mas a interação ou o encontro

dialógico entre o interno e o externo, reafirmando a importância do ser humano

como elemento social, ponto central de sua teoria e consequentemente de sua

visão de mundo.

Assim sendo, na busca de conhecer a importância da água à Comunidade São

Sebastião, através das percepções representadas pelos seus habitantes, com a pesquisa

qualitativa, a observação participante e conversas informais, explicamos os objetivos do

trabalho e após duas visitas para conversas e gravações, solicitamos a elaboração dos

mapas mentais. Dois mapas mentais foram elaborados e com eles dialogamos para obter os

resultados. A pergunta pela qual buscamos respostas foi: 1. Como você vê a água em sua

vida? Ressaltando que nesse diálogo proporcionado pelo mapa mental e sua decodificação,

não se procurou por superficialidades ou resolução de problemas, seguiu-se o pensamento

de Kozel (2007, p. 131), esse diálogo se refere a uma forma de interação verbal intensa,

expressa por enunciados, que se internalizam.

4624

Page 12: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 02. Mapa Mental 01

Comunidade São Sebastião – Porto Velho – RO – Colaboradora N. R. 39 anos. Ícones: linhas, figuras geométricas, letras.Elementos da paisagem natural: o rio, a água, os peixes, árvores. Elementos da paisagem construída: casa, igreja, barcos,

usina. Elemento humano está representado por suas diversas obras: usina, casas, barcos, etc.

4625

Page 13: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Figura 03. Mapa Mental 02

Comunidade São Sebastião. Mapa mental coletivo. Produção das mulheres da comunidade (entre 20 e 60 anos). Ícones:linhas, figuras geométricas. Elementos da paisagem natural: o rio, a água, os peixes, árvores. Elementos da paisagem

construída: casas, igreja, barcos. Elemento humano: o homem e suas diversas obras: usina, casas, barcos, etc.

Na análise dos mapas mentais 01 e 02, observamos que esses colaboradores

estão inseridos na cultura da comunidade pesquisada, construíram sentidos nessa

paisagem cultural e através desses sentidos percebem o valor da água em suas vidas:

presente na paisagem, na subsistência, no lazer. Uma paisagem que ele ajudou a construir,

ali constituiu família, educou os filhos, repassou sentidos e com eles valores.

Com suas experiências pessoais, eles estruturam e dão o seu tom sentimental às

paisagens e, através dos seus sentidos, percebem e vão da experiência aos propósitos

enquanto sujeito. O conhecimento de mundo que esses seres humanos amazônicos

adquiriram, com todas suas possibilidades e limitações permitem a eles fazerem o

reconhecimento de suas paisagens e, através de suas narrativas, eles expõem seus sentidos

e suas percepções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da observação participante, acompanhadas da análise das entrevistas e

da análise dos mapas mentais, vimos que o ser humano amazônico investigado, nato ou não

no lugar, escolheu viver e integrar essa paisagem. Com sentidos, percepções e

representações sociais que lhe permitem ver o mundo de uma maneira diferenciada das

pessoas de outras comunidades.

4626

Page 14: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Na análise dos dados fornecidos por essa pesquisa observamos que os sentidos

que prevalecem nessa comunidade e conduzem as suas lógicas sobre a água são

demonstrados na tabela abaixo:

Tabela 1. Resultados parciais.

Sentidos Percepção Representação Social Lógica da Comunidade

Sobrevivência SubsistênciaLazerMedo

Percebem mudanças a partir da instalação das Usinas Hidrelétricas e temem a mudanças provocadas (velocidade da água, poluição, enchentes, morte dos peixes, etc.)

A água representa a vida,sem ela muitos dos informantes não saberiam viver.

Como a água representa sua vida, subsistência e lazer, ela deve ser respeitada e cuidada.

Como sujeitos ativos na paisagem cultural em que estão inseridos, estes

colaboradores expõem suas percepções e deixam que os seus sentidos natos (visão, tato,

audição e olfato, sejam orientados por sua cultura, a cultura ribeirinha, na vivência com o

rio, nas movimentações das águas) venham à tona. Desse modo, através dos sentidos

construídos culturalmente, esse indivíduo se representa através de seu discurso e

demonstra a singularidade da sua percepção.

Ao analisar a cultura desse ser humano amazônico que, a partir da chegada de

novos projetos em suas águas, teme a perda do seu lugar, de suas raízes. Pela oralidade, a

partir da análise dos dados recolhidos, notamos que esses colaboradores compuseram o

seu quadro e o forneceram à pesquisa. Nesses quadros eles demonstraram seus

sentimentos, reorganizaram fatos e resgataram lembranças inseridas em seu imaginário

coletivo, com sentidos relacionados à água e a tudo aquilo que ela representa.

A partir daí, reconhecemos a importância de estudos que investiguem de modo

mais profundo às comunidades ribeirinhas amazônicas e que a partir de seus resultados

surjam novos projetos de gestão que levem em conta o que diz a lei nº 9.433 (fala sobre o

uso múltiplo da água e estabelece a bacia hidrográfica como uma comunidade territorial de

planejamento e prevê a participação da sociedade em uma questão descentralizada e

participativa).

Observa-se nessa Lei por si mesma a previsão da lógica de comunidade, quando

essa estabelece a bacia hidrográfica e a comunidade territorial de planejamento.

4627

Page 15: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

De acordo com Costa (2010), o Brasil passou a preocupar-se com a gestão de

recursos hídricos, apenas a partir de 1980.

No entanto, em entrevistas realizadas com especialistas verificou-se que há

consenso ainda quanto à baixa prioridade do governo, com relação ao Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Dados de uma consultoria

realizada no ano de 2009, revelaram que os principais problemas identificados

estavam relacionados a participação dos múltiplos atores, perda de confiança no

aparato e escopo limitado do Sistema. O processo de participação de diferentes

atores foi considerado responsável por tensões e discrepâncias de opiniões,

resultando em processos lentos de decisão e ações pouco efetivas. Assim, foi

verificado perda de confiança e legitimidade do modelo relacionada à baixa

eficiência na alocação dos recursos, gestão dos riscos, redução dos impactos,

prestação de serviços e realização de obras (COSTA, 2010).

Por isso, neste estudo é sugerido o estudo das lógicas de comunidades para o

auxílio do gerenciamento das águas a partir de comunidades geograficamente localizadas.

Pois acreditamos que será desse modo que a Geografia auxiliará no conhecimento das

lógicas de comunidade e neste cenário, poderemos falar na difusão de uma lógica de

conscientização mundial acerca do valor econômico da água e necessidade de disseminação

do conceito de gestão dos recursos hídricos, com vistas a assegurar o uso múltiplo da água

de maneira equitativa entre diferentes atores.

REFERÊNCIAS

ALMANDOZ, JUAN. The Invisible Hand and theGood of Communities: The Influence ofInstitutional Logics on Founding Teams of LocalBanks. Tese de Doutorado. HARVARD, p. 167,2011.

ANDREOTTI, Giuliana. Paisagens Culturais. Curitiba:Editora da UFPR, 2013.

BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral. SãoPaulo: Nacional, 1996.

CLAVAL, P. Epistemologia da geografia. Traduçãode Margareth de C. A. Pimenta, Joana A.Pimenta. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2011.

______. Terra dos homens: a geografia. Trad.Madureira, Domitilia. São Paulo: Contexto,2010.

______. Globalização, migrações, inclusão eexclusão: algumas reflexões. In: ALMEIDA, M.G. & CRUZ, B. N. Território e Cultura: inclusão eexclusão nas dinâmicas socioespaciais.Goiânia: UFG, 2009, pp.10-25.

______. Geografia Cultural. Tradução de LuizFugazzola Pimenta. Florianópolis: Ed. da UFSC,2007.

______. A revolução pós-funcionalista e asconcepções atuais da Geografia. In:MENDONÇA, Francisco e KOZEL, Salete (Org.).Elementos de epistemologia da Geografiacontemporânea. Curitiba: Ed. da UFPR, 2002.p.11-43.

______. Èpistemologie de la Géographie. Paris:

4628

Page 16: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

Édition Natan, 2001.

______. A Geografia cultural: o estado de arte. In:ROSENDAHL, Z. &CORRÊA, R. L. (Org.).Manifestações da cultura no espaço. Rio deJaneiro: EDUERJ, 1999. pp.59 - 97.

COIMBRA, Roberto; ROCHA, Ciro L. e BEEKMAN,Gertjan Berndt. Recursos Hídricos: conceitos,desafios, capacitação. Brasília- DF: AgênciaNacional de Energia Elétrica – ANEEL, 1999.

COSGROVE, Denis e JACKSON, Peter. Novos rumosda geografia cultural. In: Introdução àgeografia cultural. In: CORRÊA, R. L. &ROSENDAHL, Z. (Orgs.). Introdução à GeografiaCultural. Rio de Janeiro: Bertrand, 2003, pp.135-146.

COSGROVE, Denis. A geografia está em toda parte:cultura e simbolismo nas paisagens humanas.In: CORRÊA, R. L. & ROSENDAHL, Z. (Orgs.).Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro:Editora da UERJ, 1998, pp.92-122.

______. Social formation and Symbolic Landscape.Wisconsin Univ. Press, 1998.

COSTA, Mayla C. Regulação e Governança dosSistemas Nacionais de Recursos Hídricos, noperíodo 1977 - 2010: um estudo comparativoentre Brasil e Canadá. Tese de Doutorado.Universidade Positivo. Programa de Mestradoe Doutorado em Administração. Doutorado emAdministração. Área de concentração:estratégia, mudança e internacionalização,2012.

DAVIS, G. F.,& GREVE, H. R. Corporate elitenetworks and governance changes in the1980s. The American Journal of Sociology,103(1), 1–37, 1997.

DARDEL, Eric. O Homem e a Terra: natureza darealidade geográfica. Trad. Holzer, Werther,São Paulo: Perspectiva, 2011.

FREGE, G. Lógica e Filosofia da Linguagem. SãoPaulo: Cultrix, 1978.

KONO, C., PALMER, D., FRIEDLAND, R., & ZAFONTE,

M. Lost in space: The geography of corporateinterlocking directorates. The American Journalof Sociology, 103(4), 863–911, 1998.

KOZEL, Salete. Mapas mentais – uma forma delinguagem: Perspectivas metodológicas. In:KOZEL S. et al (org.): Da percepção e cognição àrepresentação. São Paulo. Terceira Margem,2007. pp.114-13.

_____. SILVA, J. da C., GIL FILHO, S. (Org.) DaPercepção e Cognição à Representação:Reconstruções Teóricas da Geografia Cultural eHumanista. Terceira Margem: São Paulo, 2007.

_____. Das imagens às linguagens do geográfico:Curitiba, a “capital ecológica”. São Paulo, 2001.Tese de Doutorado-Departamento deGeografia da Universidade de São Paulo.

_____. NOGUEIRA. A. R. B. A. Geografia dasRepresentações e sua aplicação pedagógica:contribuições de uma experiência vivida, In:Revista do Dep. de Geografia de São Paulo.FFLCH-USP. 1999(13), pp. 239-257.

MARQUIS, C., GLYNN, M. A., & Davis, G. F.Community isomorphism and corporate socialaction. Academy of Management Review, 32,925–945, 2007.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais:Investigações em Psicologia Social. Trad.Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Vozes, 2011.

OLIVEIRA. Elísio M. Educação Ambiental, umapossível abordagem. Brasília – DF: IBAMA –Instituto Brasileiro do meio Ambiente e dosRecursos Renováveis, 1996.

PETERS, B.G. Institutional Theory. In: Mark Bevir(Ed). The SAGE Handbook of Governance:78-90. 2011.

QUEIROZ, Renato S. Caminhos que andam: os riose a cultura brasileira. In: REBOUÇAS, Aldo C.,BRAGA, Benedito e TUNDIZI, José Galizia. Águasdoces no Brasil, capital ecológico, uso econservação. São Paulo: Escritura, 2002.

REBOUÇAS, A.C. Água doce no mundo e no Brasil.

4629

Page 17: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

In: Rebouças, A.C.; Braga, B. & Tundisi, J.G.Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso econservação. São Paulo: Escritura, 2002.

RELPH, Edward. As bases fenomenológicas daGeografia. Geografia, v. 7, n. 4, pp. 1-25, abr.,1975.

RHODES, Raw. 2007. Understanding Governance:Ten Years On, Organization Studies 28:1243-64.

SAUER, Carl O. A educação de um geógrafo.GEOgraphia, v.2, n.4, p.137-150, 2000.

_______. A morfologia da paisagem. In: CORRÊA,Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (Org.).Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: Ed.UERJ, 1998, pp. 12-74.

SOUSA, Lucileyde Feitosa, KOZEL, Salete e SILVA,Maria das Graças. Estudo das Percepções, dosSignos e da Linguagem na Construção doEspaço e Representação dos Barqueiros do RioMadeira. Revista Geografar. UFPR. 2009, pp.108-111.

THORNTON, P.H., OCASIO, W., & LOUNSBURY, M.

(in press). The institutional logics perspective.Oxford: Oxford University Press.2012.

THORNTON, P.H., & OCASIO, W. Institutional logics.The SAGE handbook of organizationalinstitutionalism (pp. 99-129). London, UK: SagePublications, 1999.

THORNTON, P.H. Markets from culture:Institutional logics and organizational decisionsin higher education publishing. Stanford, CA:Stanford University Press, 2004.

TUAN, Yi-Fu. Espaço & Lugar. A perspectiva daexperiência. São Paulo: DIFEL, 1983.

______. Geografia Humanística. Trad. Maria HelenaQueiróz. In: CHRISTOFOLETTI,

Antônio (org.). Perspectivas da Geografia. SãoPaulo: DIFEL, 1982. Cap. 7, p. 143–164.

______. Topofilia – Um estudo de percepção,atitudes e valores do meio ambiente (Traduçãode Lívia de Oliveira). São Paulo: DIFEL, 1980.

WEBER, Max. Conceitos básicos de Sociologia. SãoPaulo: Editora Moraes, 1987.

4630

Page 18: PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: …6cieta.org/arquivos-anais/eixo5/Klondy Lucia de Oliveira Agra... · discute o tema em congressos, simpósios e encontros, mas não se conhece

http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014.ISBN: 978-85-7506-232-6

PROBLEMAS DA ÁGUA NO CONTEXTO GLOBAL: REFLEXÕES A PARTIR DE UMA COMUNIDADE AMAZÔNICA E DA LÓGICA INSTITUCIONAL GEOGRAFICAMENTE LOCALIZADA

EIXO 5 – Meio ambiente, recursos e ordenamento territorial.

RESUMO

Neste estudo, discutimos caminhos para a gestão da água a partir de percepções e

representações de uma comunidade ribeirinha amazônica. O interesse a esta pesquisa vem da

observação de análises e investigações que fornecem resultados sobre o futuro incerto da água

no planeta, somada à observação da realidade brasileira (em quaisquer regiões urbanas ou não)

com a rápida e constante degradação de redes superficiais. Acreditamos que com estudos da

Geografia Cultural, dos fenômenos da construção do sentido e significados, juntamente com os

estudos da Percepção e Representações Sociais da problemática da água, aliadas aos estudos

das Lógicas Institucionais produzirão resultados que permitirão novos projetos e pesquisas que

apontem soluções plausíveis à tomada de decisões para a formulação de gestões mais

responsáveis com novos projetos visando à educação ambiental, a preservação e o

desenvolvimento sustentável tendo como objeto a água. A fim de alcançar o objetivo proposto

neste estudo, caminha-se através de estudos da Geografia Cultural e para a obtenção de dados,

observação e análise das percepções que conduzam às representações da comunidade

pesquisada, utilizou-se da pesquisa qualitativa participativa.

Palavras-chave: gestão; água; Amazônia.

4631