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PRODUÇÃO DE FLORES E FRUTOS EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA NOTURNA E ÁREA FOLIAR EM DOIS GENÓTIPOS DE MAMONA* Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão 1 , Robson César Albuquerque 2 , Ligia Rodrigues Sampaio 3 , Fabiana Xavier Costa 2 e Lúcio Bastos Madeiros 2 1 Embrapa Albodão, [email protected], 2 UFCG, [email protected], [email protected], [email protected] ; 3 UEPB, [email protected] RESUMO - Objetivando verificar os efeitos isolados e conjuntos dos fatores genótipos de mamona (cultivar e híbrido), da temperatura noturna do ambiente (21ºC e 30ºC ) e do tamanho do aparelho assimilatório das plantas (0; 30 e 50% de redução), um experimento foi conduzido no ano de 2006 em vasos com capacidade de 15L em substrato de material de solo, com esterco de curral e adubação mineral. Totalizaram doze tratamentos e quatro repetições, com esquema de analise fatorial 2 x 2 x 3. A redução da área foliar foi conseguida cortando-se as folhas, pela metade e 1/3 delas. O experimento foi até os 56 dias da emergência das plântulas. Foi verificado que somente houve interação significativa entre os fatores estudados para genótipos x temperaturas noturna, aos 56 dias depois da emergência das plântulas. Com 21ºC, a cultivar BRS Paraguaçu floresceu aos 54 dias da emergência, enquanto que com a temperatura noturna de 30ºC, não houve florescimento. Para o híbrido Lyra, a temperatura noturna alterou a produção de frutos, estatísticamente superior na menor temperatura. A Cultivar BRS 188 aos 56 dias tinha somente 11 frutos pequenos por planta na temperatura mais baixa e sem frutos na mais elevada. O abortamento dos frutos foi elevado na temperatura noturna mais alta. INTRODUÇÃO A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma planta de elevada plasticidade fisiológica , tendo uma boa eficiência de frutificação, sendo, em geral, possuidora de flores femininas, variando entre 50 a 64% do total, em condições otimizadas para seu cultivo, e o restante é de flores masculinas, que ocupam a parte de baixo do cacho ou racemo. Ela é muito sensível a variações do ambiente, em especial a altitude, que é levada em conta no seu zoneamento para a região Nordeste, onde se concentra quase toda a produção nacional. O zoneamento da mamona para a região Nordeste do Brasil além da altitude, que deve ser de pelo menos 400 metros, exige precipitação pluvial mínima de 500 mm/ano com pelo menos quatro meses de chuvas e temperatura média do ar entre 20 e 30 ˚C (CONAB, 2005). Há escassez de informações sobre os efeitos da temperatura noturna e da umidade relativa do ar sobre o metabolismo e crescimento desta espécie, principalmente das novas cultivares, como é o caso da BRS Paraguaçu, recomendada pela Embrapa para o plantio em todo semi-árido, nos municípios zoneados. A variação diária da temperatura influi na fotossíntese e na respiração dos

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PRODUÇÃO DE FLORES E FRUTOS EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA NOTURNA E ÁREA FOLIAR EM DOIS GENÓTIPOS DE MAMONA*

Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão1, Robson César Albuquerque 2, Ligia Rodrigues Sampaio 3, Fabiana Xavier Costa2 e Lúcio Bastos Madeiros2

1Embrapa Albodão, [email protected], 2UFCG, [email protected], [email protected], [email protected] ; 3UEPB, [email protected]

RESUMO - Objetivando verificar os efeitos isolados e conjuntos dos fatores genótipos de mamona (cultivar e híbrido), da temperatura noturna do ambiente (21ºC e 30ºC ) e do tamanho do aparelho assimilatório das plantas (0; 30 e 50% de redução), um experimento foi conduzido no ano de 2006 em vasos com capacidade de 15L em substrato de material de solo, com esterco de curral e adubação mineral. Totalizaram doze tratamentos e quatro repetições, com esquema de analise fatorial 2 x 2 x 3. A redução da área foliar foi conseguida cortando-se as folhas, pela metade e 1/3 delas. O experimento foi até os 56 dias da emergência das plântulas. Foi verificado que somente houve interação significativa entre os fatores estudados para genótipos x temperaturas noturna, aos 56 dias depois da emergência das plântulas. Com 21ºC, a cultivar BRS Paraguaçu floresceu aos 54 dias da emergência, enquanto que com a temperatura noturna de 30ºC, não houve florescimento. Para o híbrido Lyra, a temperatura noturna alterou a produção de frutos, estatísticamente superior na menor temperatura. A Cultivar BRS 188 aos 56 dias tinha somente 11 frutos pequenos por planta na temperatura mais baixa e sem frutos na mais elevada. O abortamento dos frutos foi elevado na temperatura noturna mais alta.

INTRODUÇÃOA mamoneira (Ricinus communis L.) é uma planta de elevada plasticidade fisiológica , tendo

uma boa eficiência de frutificação, sendo, em geral, possuidora de flores femininas, variando entre 50 a 64% do total, em condições otimizadas para seu cultivo, e o restante é de flores masculinas, que ocupam a parte de baixo do cacho ou racemo. Ela é muito sensível a variações do ambiente, em especial a altitude, que é levada em conta no seu zoneamento para a região Nordeste, onde se concentra quase toda a produção nacional. O zoneamento da mamona para a região Nordeste do Brasil além da altitude, que deve ser de pelo menos 400 metros, exige precipitação pluvial mínima de 500 mm/ano com pelo menos quatro meses de chuvas e temperatura média do ar entre 20 e 30 ˚C (CONAB, 2005).

Há escassez de informações sobre os efeitos da temperatura noturna e da umidade relativa do ar sobre o metabolismo e crescimento desta espécie, principalmente das novas cultivares, como é o caso da BRS Paraguaçu, recomendada pela Embrapa para o plantio em todo semi-árido, nos municípios zoneados. A variação diária da temperatura influi na fotossíntese e na respiração dos

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vegetais (MAGALHÃES, 1983). A taxa fotossintética freqüentemente apresenta desempenho segundo diferentes faixas de temperatura do ar, podendo ter uma redução significativa para temperaturas acima de 35°C. A respiração vegetal tem sua taxa dobrada com um aumento de 10°C na temperatura do ar. Acima de 45°C ocorre um declínio acentuado na respiração devido ao dano no mecanismo da planta. Portanto, o ganho líquido na produção de matéria seca (fotossíntese – respiração) varia com a temperatura, pois esta influencia na divisão e alongamento celulares e formação de flores (MOTA, 1989). Como praticamente não há informações sobre os efeitos da temperatura noturna na mamoneirada cultivar BRS Paraguaçu, desenvolvida pela Embrapa Algodão , realizou-se a presente pesquisa, cujo objetivo foi o de quantificar e verificar os efeitos da temperatura noturna elevada, 30 ºC , na produção de flores e frutos de uma cultivar e de um híbrido .

MATERIAL E MÉTODOS O presente experimento foi conduzido em condições de ambiente natural e câmera de

crescimento pertencente ao Centro Nacional de Pesquisa do Algodão (Embrapa Algodão), na cidade de Campina Grande, PB, localizada na zona Centro Oriental do Estado da Paraíba, no Planalto da Borborema cujas coordenadas geográficas são latitude sul 7°13’11” e longitude oeste 35°53’31”W.Grw, e altitude 547m. O experimento foi conduzido no período de fevereiro a abril de 2006.A temperatura e umidade durante o período de condução do experimento está apresentada na Tabela 1.

Na câmara de crescimento a temperatura média permaneceu constante a 30°C e a Umidade Relativa a 70% e as plantas foram colocadas das 17:00 horas até as 5:00 horas da manhã, durante toda duração do experimento. Utilizou-se como substrato, um solo de textura arenosa, típico da região de Campina Grande, classificado como Neossolo Regolitico, de baixa fertilidade natural, acrescido de 10% de esterco bovino. Todas as plantas receberam uma adubação mineral equivalente a 150 kg/ha de N , sendo 20% na fundação e 80% em cobertura aos 15 dias após a emergência. Foi adotado um delineamento experimental em blocos inteiramente casualizados com três repetições, em esquema fatorial 2 x 2 x 3, sendo os fatores a cultivar BRS Paraguaçu e o híbrido Lira, duas temperaturas noturnas: alta (30ºC), equivalente a câmara de crescimento e baixa (aproximadamente 21ºC), equivalente ao ambiente natural da Cidade de Campina Grande, e os cortes submetidos a todas as folhas de 0, 25 e 50% do seu tamanho normal, resultando em 12 tratamentos (Tab. 3). As parcelas experimentais consistiram de um vaso de plástico com capacidade para 15 litros. Foram semeadas cinco sementes com carúncula para cima, à profundidade de 3cm, onde, aos 12 dias após a emergência, fez-se o desbaste deixando apenas uma planta por parcela. Em cada unidade

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experimental , foram contadas as flores femininas que surgiam, bem como o número de frutos e, no final, o percentual de aborto aos 56 dias da emergência das plântulas.

RESULTADOS E DISCUSSÃONa Tabela 2 pode ser observado o resumo da análise de variância dos dados das variáveis

número de flores femininas, número de frutos abortados e número de frutos. Verifica-se que somente houve significância estatística para o cultivar nas três variáveis computadas. Considerando o número de frutos por planta, um dos principais componentes da produção, ao lado do número de cachos por planta, houve significância para os fatores temperatura e corte foliar, além das interações cultivar x temperatura e temperatura x corte foliar. Considerando as médias dos tratamentos para as variáveis onde as interações entre os fatores não foram significativos, pode-se observar na Tabela 3 que com relação ao fator cultivar, que independe dos demais fatores , o híbrido Lyra produziu bem mais flores femininas (ele quase que somente produz tais flores) do que a cultivar BRS Paraguaçu, que tem somente metade das flores dos racemos femininas e de ciclo mais longo , florando aos 47 a 50 dias nas condições do semi-árido brasileiro, enquanto que o híbrido entra no processo de floração mais cedo, por volta dos 30 dias nas mesmas condições de ambiente. No tocante ao número de flores abortadas, verifica-se que no híbrido Lyra o número foi muito maior e que houve efeito significativo da temperatura noturna do ambiente, corroborando com as informações de Tavora (1982) e Weiss (1983).

Para cada fator, médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.

No tocante à interação entre os fatores temperatura noturna do ar e genótipos, na Tabela 3 pode ser verificado que os materias genéticos foram diferentes entre si, tanto para o tempo decorrido para floração, quanto para o número de frutos por esporófito nos dois ambientes. A 30ºC de temperatura noturna, a BRS Paraguaçu, nem sequer chegou a florescer, o que evidencia para tais cultivares os efeitos da altitude e reforça o zoneamento com base também na altitude, pois em locais baixos, a tendência é ter temperaturas noturnas baixas e não ter orvalho, que beneficia a mamona.

Considerando a interação temperatura noturna x desfolha, para o fator número de frutos, foi verificado que com 50% de desfolha, houve diferença no ambiente de Campina Grande, com elevada altitude e não na câmara de crescimento. Na Figura 1 podem ser vistas as diferenças entre os genótipos testados e dos mesmos nos dois ambientes testados, denotando-se maior abortamento de flores no híbrido Lyra e a não floração da cultivar BRS Paraguaçu na temperatura noturna elevada,

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quando as plantas tiveram 2 /3 de suas folhas. Na Figura 2 foi semelhante, quando as folhas não foram cortadas.

CONCLUSÕESA temperatura noturna de 30 º C promoveu o incremento do aborto das flores da mamoneira,

em especial no híbrido Lyrae reduziu o total de frutos produzidos .Os genótipos de mamoneira respondem diferentemente à temperatura noturna do ar.A cultivar BRS Paraguaçu revelou-se muito sensível a temperatura do ar noturna, não

chegando a florescer com 56 dias da emergência das plântulas, enquanto que sob temperatura noturna baixa ela floresceu normalmente.

* Pesquisa financiada pela Petrobrás.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICASAMORIM NETO, M. Da S.; BELTRÃO, N. E. M.; SILVA. Clima e Solo. In.: Azevedo, D.M.P.; Lima, E.F. (eds) Brasília: Embrapa SPI, 2001, p.62-76MAGALHÃES, A.C.N. Fotossíntese. In: FERRI, M.G. Fisiologia Vegetal 1. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda. 1983, v.1. p.117-166.MAGALHÃES, A.C.N. Fotossíntese. In: FERRI, M.G. Fisiologia Vegetal 1. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária Ltda. 1983, v.1. p.117-166.TAVORA,F.J.A. A cultura da mamona.Fortaleza:EPACE,1982,111 pWEISS,E.A.Castor.In: WEISS,E.A.Oilseed crops. London: Longmam,1983.chapter 3. www.minesteriodaagricultura.gov.br, acesso em 17/02/06 as 9:50h.www.conab.gov.br/políticaagrícola/safra/cptarebr.cfm.Acesso em: 04/10/2005 às 10:40h;

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Figura 1. Cultivar BRS Paraguaçu ( esquerda ) e híbrido Lyra cultivadas em diferentes temperaturas noturnas, com corte de 1/3 das folhas.

Figura 2. Cultivar BRS Paraguaçu ( esquerda ) e híbrido Lyra cultivados em diferentes temperaturas noturnas e folhas integrais.

Tabela 1. Valores médios de temperatura e umidade relativa do ar no ambiente natural de Campina Grande, Embrapa-Algodão, Campina Grande-PB, 2006.

Período VALORESTEMPERATURAS (°C)

Max. Min. MédiaUR MÉDIA (%)

21-28/02 31,2 21,6 25,2 7901-10/03 31,4 27,8 25,3 7611-20/03 31,3 21,7 25,3 7821-31/03 29,7 21,6 24,7 80

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01-10/04 29,3 21,7 24,7 7911-20/04 29,1 21,2 24,4 8121-30/04 28,7 21,4 24,3 81

Tabela 2. Resumo das análise de variância do número de flores, n de frutos abortados e número de frutos, em duas cultivares, duas temperaturas noturnas e corte foliar. Campina Grande, PB, 2006FV GL Quadrado Médio

Nº Flores Frutos Abortados Nº FrutosCultivar (C) 1 72450,69** 39667,36** 4900,00**Temperatura(T) 1 173,36 ns 1806,25 ns 3098,77**Corte foliar (F) 2 1193,25 ns 1852,33 ns 246,08**C x T 1 910,02 ns 2584,02 ns 427,11**C x F 2 1346,52 ns 1306,77 ns 20,25 ns

T x F 2 1674,36 ns 809,33 ns 209,36*C x T x F 2 1296,52 ns 1271,44 ns 25,19 ns

Resíduo 24 712,97 729,22 40,05CV (%) 51,26 78,08 36,16ns não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey;* diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.** diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 1% de probabilidade.

Tabela 3. Valores médios das análises de variância dos dados de produção (floração, frutos abortados, nº de flores, nº de frutos) em função das cultivares, temperaturas e corte foliar. Campina Grande, PB. 2006 Fatores Variáveis de produção

Nº Flores Frutos Abortados Nº FrutosCultivarParaguaçu 7,22b 1,38b 5,83bLira 96,94a 67,77a 29,16aTemperaturaAmbiente natural (21ºC) 54,27a 27,50a b 26,77aCâmara de cresc. (30ºC) 49,88a 41,66a 8,22bCorte foliar (%)0 40,83a 22,41 b 18,41ab25 55,58a 34,08 b 21,50a50 59,83a 47,25 a 12,58bMédia Geral 52,08 34,58 17,50Para cada fator, médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem estatisticamente entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade.