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1 PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM PERIÓDICOS CIENTÍFICOS: ANÁLISE DA REVISTA MOTRIZ (1995-2011) Diego Fernandes Santos Silva * Anibal Correia Brito Neto RESUMO O presente estudo tem como objetivo mapear o estágio de desenvolvimento da produção do conhecimento sobre o campo de estudo “Formação de professores de educação f ísica (FORPEF)”, veiculada no periódico científico Motriz (1995- 2011) do departamento de educação física- UNESP/Rio Claro, através de uma pesquisa bibliográfica a partir da análise de conteúdo que possibilitou a visualização mais sistemática quanto a produção do FORPEF em relação as regiões do país, autores, grupos de pesquisas, metodologias,temáticas priorizadas e aporte teórico em 50 produções no Periódico. Conclui que as produções se concentraram no Sudeste e sul do país, com predomínio da produção coletiva utilizando se apenas de métodos e técnicas no fazer científico, a partir de temáticas como princípios orientadores, prática pedagógica e currículo com aporte teórico do professor reflexivo. Palavra-chave: Formação de Professores de educação física; Periódico; Produção do Conhecimento em educação física. INTRODUÇÃO O presente estudo insere-se entre as ações investigativas do “Ressignificar”, grupo de pesquisa que problematiza as “experiências inovadoras na Formação de Professores e Prática pedagógica em Educação Física”, este é institucionalizado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESP) no âmbito do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará (CCBS/UEPA) e encontra-se cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da Ciência e Tecnologia (CNPq/MCT). Diretório este que se constitui como bancos de dados contendo grupos de pesquisas/instituições/ centros tecnológicos estatais e privados com o propósito de intercâmbio e trocas de informações técnico científica (http://www.cnpq.br/gpesq/apresentacao.htm.) * Graduando em licenciatura em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará(UEPA). [email protected] Prof. Mestre da Universidade Estado do Pará (UEPA)[email protected]

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PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM PERIÓDICOS CIENTÍFICOS: ANÁLISE DA REVISTA MOTRIZ (1995-2011)

Diego Fernandes Santos Silva*

Anibal Correia Brito Neto

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo mapear o estágio de desenvolvimento da produção do conhecimento sobre o campo de estudo “Formação de professores de educação física (FORPEF)”, veiculada no periódico científico Motriz (1995- 2011) do departamento de educação física- UNESP/Rio Claro, através de uma pesquisa bibliográfica a partir da análise de conteúdo que possibilitou a visualização mais sistemática quanto a produção do FORPEF em relação as regiões do país, autores, grupos de pesquisas, metodologias,temáticas priorizadas e aporte teórico em 50 produções no Periódico. Conclui que as produções se concentraram no Sudeste e sul do país, com predomínio da produção coletiva utilizando – se apenas de métodos e técnicas no fazer científico, a partir de temáticas como princípios orientadores, prática pedagógica e currículo com aporte teórico do professor reflexivo.

Palavra-chave: Formação de Professores de educação física; Periódico; Produção

do Conhecimento em educação física.

INTRODUÇÃO

O presente estudo insere-se entre as ações investigativas do “Ressignificar”,

grupo de pesquisa que problematiza as “experiências inovadoras na Formação de

Professores e Prática pedagógica em Educação Física”, este é institucionalizado

pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESP) no âmbito do Centro

de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade do Estado do Pará

(CCBS/UEPA) e encontra-se cadastrado no Diretório dos Grupos de Pesquisa do

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da

Ciência e Tecnologia (CNPq/MCT). Diretório este que se constitui como bancos de

dados contendo grupos de pesquisas/instituições/ centros tecnológicos estatais e

privados com o propósito de intercâmbio e trocas de informações técnico científica

(http://www.cnpq.br/gpesq/apresentacao.htm.)

* Graduando em licenciatura em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará(UEPA).

[email protected] Prof. Mestre da Universidade Estado do Pará (UEPA)[email protected]

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O grupo Ressignificar tem início a partir da acumulação de informação de longo

alcance através de pesquisas especificas que se aglomeram na busca de uma

“pesquisa matricial” (TAFFAREL, 2005). E intitulada pelo grupo como “Estágio de

desenvolvimento do campo de estudo em 'Formação de professores de Educação

Física' no Brasil”, a qual visa mapear e analisar a produção teórica do campo de

estudo em questão, na tentativa de explicar e avaliar o nível de desenvolvimento

científico do mesmo em determinado tempo histórico, revelando o grau de

rigorosidade e radicalidade da elaboração teórica, assim como, os limites e

possibilidades de avanços neste (BRITO NETO et al., 2010).

Fundamenta-se na concepção de “monografia de base”, desenvolvido por

Saviani (1991), que indica um estudo detalhado sobre um campo de grande

relevância e que ainda não tenha sido suficientemente explorado. Para este autor,

uma ação como esta traz uma contribuição significativa para o avanço do

conhecimento científico, pois prepara o terreno para futuros estudos, desta vez, mais

amplos e aprofundados, com interpretações mais arrojadas e sínteses orgânicas de

amplo alcance, que seriam inviáveis ou demandariam um tempo excessivo sem esse

trabalho preliminar.

Enquanto campo da produção sobre formação de professores de Educação

Física(FORPEF) surgiu a necessidade conjunta de aprofundamento das referências

conceituais, teóricas e epistemológicas do coletivo de pesquisadores, ou seja, a

partir da produção de um estudo que enfatizou a articulação do ensino, extensão e

pesquisa no curso de Educação Física da universidade do Estado do Pará

(CEDF/UEPA) que me aproximei definitivamente da temática e da possibilidade de

participação nas ações investigativas do grupo Ressignificar no âmbito da formação

de professores em educação física e também da necessidade de apropriação e

organização minuciosa do material produzido neste campo, por parte dos novos

estudantes e pesquisadores que se vinculavam as discussões gestadas no grupo de

pesquisa, não precisando, desta forma, voltar periodicamente às mesmas angústias

e imprecisões daqueles que já concluíram suas pesquisas.

Portanto, com base na análise da estruturação científica no Brasil, o grupo

Ressignificar definiu indicadores que permitissem apontar o estágio de

desenvolvimento e o grau de maturidade científica de um campo de estudo, a saber:

a) Produção de teses e dissertações em programas de Pós-Graduação stricto sensu

na área da Educação e Educação Física recomendados e reconhecidos pela

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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); b)

Produção de artigos científicos publicados em periódicos Qualis-CAPES da área da

Educação e Educação Física; c) Produção de trabalhos científicos em eventos

consolidados (mais de dez anos) da área da Educação e Educação Física; d)

Produção de livros com indexação e conselho editorial; e) Formação de grupos de

pesquisa reconhecidos institucionalmente e cadastrados no diretório do CNPQ; f)

Constituição de linhas de pesquisa em Programas de Pós-Graduação stricto sensu

em Educação e Educação Física recomendados pela CAPES; g) Organização de

Grupos de Trabalho Temático organizados em entidades científicas da Educação e

Educação Física; h) Formatação de eventos científicos para a discussão do campo

de estudo.

Desta forma, as primeiras constatações (BRITO NETO et al., 2009; 2010)

permitiram ao grupo de pesquisa inferir que o volume de produção neste campo tem

se elevado por ocasião do enfático debate originado pela aprovação das novas

Diretrizes Curriculares para a Formação em Educação Física do Conselho Nacional

de Educação no início do século XXI constituindo, desta forma, um cenário

extremamente fértil em proposições e experiências inovadoras, momento em que os

pesquisadores voltaram-se a indicação de princípios orientadores para formação e

também de verificação dos primeiros impactos destes dispositivos legais nas

reformas curriculares dos cursos superiores em Educação Física no Brasil, tornando-

se extremamente relevante a apropriação crítica desta produção, assim como, a

discussão dos limites e possibilidades de avanço para o campo.

Portanto, devido à grande quantidade de material produzido e de indicadores

de estágio de desenvolvimento por parte do Ressignificar. Delimitamos para fins

deste artigo, o indicador: “Produção de artigos científicos em periódicos Qualis-

CAPES da Educação Física”, em particular, o periódico Motriz – Revista de

Educação Física, da Universidade Estadual Paulista (UNESP- Rio Claro). A

prioridade dada aos periódicos científicos Qualis-CAPES justifica-se por ser este, na

atualidade, o principal veículo de publicação da produção intelectual e instrumento

de classificação para os programas de Pós-Graduação stricto sensu no Brasil

(CAPES, 2008).

Em virtude desse veículo ter se tornado a grande ferramenta de difusão

científica da Pós-Graduação no Brasil, o mesmo tem concentrado as principais

pesquisas sobre Formação em Educação Física, tornando-se, assim, indispensável

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o estudo rigoroso deste material para a compreensão aprofundada deste campo, já

que o mesmo pode contribuir significativamente com a identificação do efeito

causado no âmbito dialético da produção/reprodução de propostas para a formação

humana.

Desta forma, a análise da produção científica veiculada na principal ferramenta

de difusão científica da atualidade pode fornecer elaborações teóricas

comprometidas com a construção de possibilidades imediatas para a qualificação da

formação em Educação Física e com possibilidades históricas acumuladas pelos

movimentos de resistência que perspectivam a construção de uma formação não

alienada, tal possibilidade é ratificada por Taffarel (1997) que tem defendido

permanentemente que a Formação de Professores é uma prática social que pode

contribuir significativamente para construção de outro patamar de desenvolvimento

humano-social. Como também onde se localiza essa produção, quem produz, quais

os referenciais mais utilizados, que metodologia utilizada e quais contribuições

trazem para o campo de estudo.

Logo, o estudo se configurou com o seguinte objetivo geral: Mapear e analisar

o estágio de desenvolvimento da produção do conhecimento sobre o campo de

estudo “Formação de Professores de Educação Física”, veiculada no periódico

científico Motriz (1995- 2011), submetendo os parâmetros teórico-metodológicos

orientadores desta produção ao processo de crítica radical, rigorosa e de conjunto.

Como desdobramento deste objetivo maior, elencamos os seguintes objetivos

específicos: a) Caracterizar os indicadores, referente à autoria dos trabalhos: regiões

de origem, titulação, vínculos institucionais e participação em grupos de pesquisa; b)

Categorizar as temáticas priorizadas, emergentes, pouco estudadas e silenciadas; c)

Verificar a recorrência de terminologias para definir o campo de estudo em questão

e as concepções subjacentes a estas; d) Configurar as formas de tratamento teórico-

metodológico privilegiadas nas investigações; e) Averiguar os autores mais

utilizados no aporte teórico da discussão das problemáticas deste campo; f) Discutir

as principais contribuições do conjunto de trabalhos na compreensão do campo de

estudo.

Para exposição do estudo, a primeira seção aborda o percurso metodológico,

com a indicação dos fundamentos, materiais utilizados e métodos, na segunda

seção, incursionamos pelo campo da produção do conhecimento em educação

física, mostrando as principais tendências da área e do campo específico da

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formação em educação física, tratamos ainda da estruturação da difusão do

conhecimento no Brasil, com um olhar especial para os periódicos científicos, na

terceira seção apresentamos e discutimos os principais resultados obtidos no âmbito

da revista científica Motriz, para então, finalizarmos com a proposição de síntese

superadora e indicação de novas pautas de investigação.

Sendo assim, entendemos que tal investida pode contribuir consideravelmente

com a elevação qualitativa da discussão sobre o campo da Formação em Educação

Física e, consequentemente, refletir na intervenção e no papel social que a mesma

desempenha, levando, quiçá, a linha Ressignificar e consequentemente a UEPA ao

patamar de instituição referência nesta pauta de grande relevância acadêmica,

científica e social.

METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida a partir da concepção teórica e metodológica de

uma “monografia de base”, conforme propõe Saviani (1991), que caracteriza a

mesma como sendo um estudo completo e detalhado sobre temas relevantes que

ainda não tenham sido suficientemente explorados, seguido da organização das

informações segundo critério lógico e metodológico adequado e exposição dos

dados de maneira que permita o acesso ágil ao assunto tratado.

Desta forma, podemos classificar nossa pesquisa como bibliográfica, pois é

uma pesquisa constituída de materiais já publicados, ou seja, documentos

secundários que já estão disponível ao público, impresso ou digitalizado (GIL, 2010),

ou ainda, por tratar-se de “uma modalidade de estudo e análise de documentos de

domínio científico tais como livros, enciclopédias, periódicos, ensaios críticos,

dicionários e artigos científicos” (OLIVEIRA, 2007, p. 69). A potencialidade desta

modalidade de pesquisa está na possibilidade da “[...] cobertura de uma gama de

fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.”

(GIL, 2010 p. 30).

O universo da pesquisa está compreendido no âmbito dos artigos e ensaios

científicos publicados em periódicos. O acesso a lista completa de periódicos da

Área 21 da CAPES (Educação Física, Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia

Ocupacional) foi realizado através do aplicativo WebQualis. Consideramos apenas

os periódicos científicos que se enquadraram nos seguintes critérios: a) Serem

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periódicos classificados no Qualis/CAPES da área Educação Física, b) Serem

periódicos típicos da Educação Física, c) Serem periódicos científicos com

interlocução na subárea pedagógica e sociocultural da Educação Física, d) Serem

periódicos científicos Brasileiros, e) Terem conteúdo disponibilizado na internet.

Nesta pesquisa priorizamos a Revista de Educação Física da UNESP, Revista

Motriz, acessada através do seu sítio na internet:

http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/motriz.

Como passos metodológicos do estudo, enveredamos em um primeiro

momento em compreender a história do periódico. Utilizamos como fonte a leitura de

todos os editoriais das 49 revistas disponíveis da Revista Motriz , pois é uma seção

da revista onde os editores caracterizam os períodos vividos pela revista, as

polêmicas e barreiras enfrentadas, assim como, apresentam seus posicionamentos,

realizamos o que Gil (2010) chama de “leitura exploratória”, leitura que abre

possibilidade para análise de uma compreensão mais ampla sobre o periódico.

Posteriormente foi realizada à identificação dos artigos científicos destinados

ao estudo. Para este delineamento no campo da “Formação de Professores de

Educação Física” adaptamos o esquema conceitual proposto por Roldão (2007) para

a nossa área específica. Para esta especialista, a delimitação e estruturação do

campo nuclear da “Formação de Professores” envolve o estudo dos processos de

construção e desenvolvimento do conhecimento e do desempenho profissional

docente, tendo nos conceitos estruturantes e nas dimensões de operacionalização

da formação, os seus fundamentos.

No entanto, devido percebemos a existência de várias palavras sinônimas para

formação de professores como, por exemplo: preparação profissional, formação

profissional, formação superior etc., foi descartado a área de busca da revista Motriz

e decidimos fazer uma “leitura seletiva” (GIL, 2010) abrindo todas as edições dos

dezessete volumes do periódico, onde procedemos inicialmente análise dos títulos

dos artigos, verificando se os mesmos estão compatíveis com os objetivos do

estudo, em caso de títulos duvidosos foram realizadas leituras dos resumos para

comprovar se o texto pertence a pesquisa. Esse passo é considerado por Triviños

(1987) como a “pré-análise”, que se destina a organizar o material para o estudo,

primeira etapa da análise de conteúdo que segundo Bardin (1977, p.21 apud

TRIVIÑOS, 1987, p.160).

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[...] é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens.

Posteriormente a catalogação dos artigos e ensaios circunscritos no campo

nuclear da “Formação de Professores de Educação Física”, evidenciamos as

características quantitativas e qualitativas do objeto de estudo, partindo na

sequência para o terceiro momento que é o que Triviños (1987) chama de

“descrição analítica”. Trata-se do passo onde foram feitas leituras mais profundas

para categorizar os artigos.

Por último, realizamos “interpretação referencial” (TRIVIÑOS, 1987, p. 162),

etapa, com base nos referenciais teóricos a fim de “[...] descobrir ideologias,

tendências etc. das características dos fenômenos sociais”. Por fim, partimos para a

“construção lógica do trabalho” e “redação do relatório”, finalizando com os seus

encaminhamentos, resultados e discussões.

PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO E A VIGÊNCIA DOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS

Desde o primórdio da história do ser humano, o homem sempre esteve na

busca de perpetuar suas experiências de vida por via de gestos, pinturas feitas nas

rochas e pela fala. Mas foi “o aparecimento da escrita [que] acelerou um processo

de artificialização, de exteriorização e de virtualização da memória [...]” (LÉVY, 1996,

p. 38 apud PEREIRA, 1998, p.207), ou seja, com dois instrumentos (objeto plano e

tinta), com a técnica da escrita e uma vida cheia de experiência conseguimos expor

a um determinado grupo, nossas experiências em um tempo cronológico e

armazenar um número significativo de informação.

Como a sociedade é dinâmica e sempre se transforma no espaço e tempo, os

processos também se transformaram: da rocha para o papel celulose, de uma pedra

para caneta/lápis e chegando aos computadores; de uma sociedade rural a uma

sociedade urbana. Esse dinaminismo tornou-se mais rápido a partir da queda do

feudalismo onde a “[...] ciência2 constituiu-se por afastar a explicação animista dos

“[...] sistema político-social-econômico gestado no século IX [...] com o monopólio educacional exercido pela igreja[...]”(OLIVEIRA, 2006 p.33-34)

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acontecimentos da natureza em concebê-los como fenômenos submetidos a leis”

(PLEKHANOV, 2011 p.15), levando os escritos a crescerem exponencialmente para

explicar os fenômenos naturais e os fenômenos sociais a partir do crescimento das

cidades no século XVIII3.

Esse aumento significativo está relacionado com a terceira revolução

industrial4, impactando todo o pensamento científico. Milhões de livros, artigos, teses

e dissertações são publicados anualmente, aglutinando um quantitativo de

informações que nenhum ser humano conseguiria ler durante toda a sua existência.

O que não é diferente para a área da educação física, principalmente por apresentar

“tendência interdisciplinar” (SACARDO, 2007, p.81).

Neste desenvolvimento histórico que são cunhados os periódicos científicos,

veículo de comunicação criado em 1665, com propósito restrito de divulgação das

noticias científicas, mas que na atualidade é o principal divulgador da produção do

conhecimento científico, cumprindo sua função de registrar documentos oficiais

públicos a partir de critérios científicos exposto pelo editor-avaliador e arquivado em

um banco de dados de reconhecimento internacional (MIRANDA; PEREIRA, 1996)

como é o caso do Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas

(ISSN), número que irá identificar em qualquer local o periódico em questão.

No presente momento os periódicos científicos gozam de grande prestígio no

âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

já que este “desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da pós-

graduação stricto sensu (mestrado e doutorado)” (CAPES, 2011) e tem como uma

de suas atividades o acesso e divulgação da produção científica no âmbito nacional

a partir de sua avaliação e classificação por área no Qualis5.

O que hoje, os periódicos científicos têm de prestígio como divulgador da

produção do conhecimento em todas as áreas, levaram-se quase dois séculos para

que os primeiros trabalhos demonstrassem seus resultados e discussões no formato

2 Conjunto sistematizado de informações decorrente de um objeto; estuda os fenômenos utilizando

métodos científicos (OLIVEIRA, 2006) 3 Revolução industrial (OLIVEIRA, 2006)

4 “[...] modelo que se caracteriza pela integração e flexibilidade, baseado na racionalização sistêmica

[...]”(VEIGA E VIANA,2010 p.14) 5 Qualis é o conjunto de procedimentos utilizados pela Capes para estratificação da qualidade da

produção intelectual dos programas de pós-graduação. Tal processo foi concebido para atender as necessidades específicas do sistema de avaliação e é baseado nas informações fornecidas por meio do aplicativo Coleta de Dados. Como resultado, disponibiliza uma lista com a classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da sua produção. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/avaliacao/qualis>. Acesso em: 25 nov. 2011.

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que temos hoje. Isso porque já existiam publicações de artigos curtos, mas essa

inovação segundo Miranda e Pereira (1996) levou a resistência de muitos cientistas

desse período. Mas isso foi sendo superado, devido o crescimento bastante

significativo dos periódicos, contando com a fragmentação das áreas como fator

decisivo para esse aumento.

Desde o início, os periódicos cumprem diversas funções, entre os quais

destacam-se o estabelecimento de prioridade da descoberta científica, definição e

legitimação de novas pesquisas e campos de estudos, permissão e ascensão do

cientista para efeito de promoção, reconhecimento e conquista de poder em seu

meio e disseminação de informações para os cientistas (MIRANDA; PEREIRA, 1996,

p.376).

Atualmente, os periódicos científicos encontram-se sob forte discussão sobre

sua funcionalidade para comunidade científica brasileira por ser instrumento de

avaliação da Pós-Graduação stricto- sensu em âmbito nacional, considerado um

fator de excelência nos cursos, o que tem gerado severos questionamentos.

Este movimento tem gerado uma busca desenfreada pelos periódicos devido

ao reconhecimento internacional através das indexações, na busca por alcançar alto

impacto na produção de artigos, segundo Coimbra Junior (1999 apud

MARCHLEWSKI; SILVA; SORIANO, 2011) para a maioria dos pesquisadores, o fato

do periódico está indexado nas bases de dados de maior reconhecimento sugere

que a qualidade dos artigos seja excelente, gerando, consequentemente, uma maior

quantidade de publicações e aumento da citação do periódico, o que pode levar a

situações anti-éticas no meio científico, como é o caso da “fraude científica”

(MIRANDA; PEREIRA, 1996, p.377) na busca desordenada por reconhecimento e

prestigio por seus pares, como afirma Marchlewski, Silva e Soriano (2011)

Acreditamos que a quantificação da produção cientifica priorizada pelo sistema de avaliação pode influenciar nas ações dos sujeitos, que direcionam suas praticas para investigações que permitam um acúmulo de capital científico, buscando reconhecimento e prestígio no meio científico [...] (p.106).

Outro agravante é o surgimento de novos periódicos pelas instituições

acadêmicas, trazendo baixa concorrência e circulação reduzida (MIRANDA;

PEREIRA, 1996) e o antagonismo quantitativo nas publicações de artigos das

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ciências humanas e sociais com as ciências biológicas e da saúde nos periódicos

científicos, algo muito característico na área da educação física, fazendo com que as

ciências naturais tenham maior reconhecimento levado pelo grande volume de

publicações das ciências biológicas e da saúde em relação às humanas e sociais

em periódicos científicos. Pois a baixa produção decorre também das características

teóricas, metodológicas e análises nas ciências humanas e sociais que é muito mais

abrangente, mas é impossibilitado pela quantidade de páginas estabelecida no

periódico, o que dificulta a qualidade do estudo. Nisso opta-se então pela publicação

de livros ou capítulos de livros. Essa disparidade é visível nos periódicos científicos,

especialmente no caso da educação física, o que gera muita discussão nesta área a

respeito da avaliação feita pelo CAPES.

A REVISTA MOTRIZ E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO “EM FORMAÇÃO”

A palavra “motriz”, muito utilizada nas ciências naturais para referir a existência

de uma força de movimento, atuante contra outra força, contrária a ela foi dada ao

periódico científico vinculado ao departamento de Educação Física - Instituto de

Biociências – UNESP/Rio Claro. Departamento que na fala do professor doutor

Lorenzetto demonstra os motivos para o surgimento da revista em 1995 à

superação, uma força de movimento, do órgão na consolidação de anos de

trabalhos como também para produção do conhecimento no sentido de sua

divulgação.

Grandes, complexas e significativas mudanças abalaram o mundo há muito tempo, destruindo valores antes bem alicerçados e construindo novas convicções. Com velocidades nem sempre programadas e com consequências nem sempre previsíveis, o poder da palavra vem encantando ou assustando multidões. (LORENZETTO, 1995, p.1).

Nestes dezessete volumes de publicação da produção do conhecimento na

revista Motriz ocorreram “grandes, complexa e significativas mudanças”, nos seus

primeiros anos de divulgação (1995-2001) tinha como periodicidade apenas duas

publicações ao ano devido o custo com a publicação impressa, o mundo acadêmico

ainda estava conhecendo o periódico, o que não levou muito tempo, conforme

expressa Gonçalves (1998, p. 1)

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[...] não limitamos esforços para que o Departamento de Educação Física mantivesse o apoio no custeio parcial desta Revista, pois apostamos que no final de nossa gestão, haveria um início de independência. A manutenção do rigor científico e da qualidade dos artigos apresentados nestes dois anos foi motivo para o aumento do número de assinantes e consequentemente uma exigência menor do Departamento no custo e na ampla divulgação da produção científica [...]

A partir da segunda metade da década de 90, período conturbado no mundo do

trabalho e para formação na área de educação física, foi à aprovação pela

regulamentação do profissional de educação física pela lei 9696/98 que determina

de forma intrínseca através dos conselhos federal e estaduais a abertura da

graduação em bacharel em educação física nas universidades. Levando a área a

diversas discussões sobre o tema, como também o posicionamento da revista a

partir dos editores, sendo favorável, percebido pelas publicações, em prol da

regulamentação.

E “significativas mudanças” foram o que a capa da revista Motriz sempre

demonstra com a foto escultura de Carusto, escultura representando um salto. O

início do século XXI foi um grande salto para o periódico. A busca pelo

reconhecimento e prestígio levou a revista a buscar excelência na qualidade de seu

corpo editorial, na normatização, periodicidade da revista e divulgação do

conhecimento científico em educação física exclusivamente pela internet. São mais

de setenta consultores avaliando trabalhos enviados, dentre os quais, estão

professores pesquisadores de grande reconhecimento no campo da pesquisa na

área da educação física.

Em relação à normatização, trabalhos que eram enviados pelos correios agora

são anexados em “software” o que torna muito mais rápido o fluxo dos textos entre

os avaliadores e os autores, o que trouxe um aumento de publicações no periódico.

As citações, que são elementos importantíssimos dentro de textos científicos para

confrontar ou estruturar concepções podem ser consultados direto dos textos

publicados na revista, como também, tabelas, gráficos, áudios e vídeos no formato

mais dinâmico. Todos esses avanços levaram a revista a ser indexada por bases de

dados de reconhecimento internacional, o que é uma das metas de um periódico

científico. Todas essas transformações confirmam o que Miranda e Pereira (1996)

dizem que “em um quadro crescente de produção científica que se materializa

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principalmente em artigos, a avaliação do periódico e da comunidade de pesquisa e

uma exigência de mercado” (p.376), ou seja, a maioria da produção do

conhecimento não está direcionada à qualidade do desenvolvimento científico, mas

sim ao prestígio dos pesquisadores pelos seus pares para possíveis financiamentos

em outras pesquisas, por órgãos públicos e privados e a busca pelo reconhecimento

internacional tanto do pesquisador quanto do periódico.

No entanto, não podemos negar os avanços que a revista Motriz trouxe a área

da educação física. Hoje com referência de estrato A2 pela WebQualis 2011 em

educação física, que pela escala de estratificação do sistema da CAPES de - A1,

o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C - com peso zero, a revista tem um fator de

alto impacto na área de educação física tanto pelo aumento de citações feito em

outros trabalhos quanto por envio de artigos de autores reconhecido pelo público da

área o que leva o periódico a aumentar seu grau de excelência na qualidade dos

trabalhos.

Neste sentido, sua missão está sendo cumprida: “a divulgação da produção

científica em Ciências da Motricidade Humana e áreas correlatas, objetivando

contribuir com a discussão e o desenvolvimento do conhecimento nestas áreas.”

(MOTRIZ, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No âmbito do material relacionado ao campo da formação em educação física,

dos dezessete volumes analisados, foram identificados 631 artigos de todas as

seções do periódico, dentre eles, foram selecionados 50 artigos sobre (FORPEF), ou

seja, menos de dez por cento de toda produção da Motriz são artigos direcionados a

produção do conhecimento sobre a formação do professor em educação física.

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40

60

80

100

120

forpef

outros

Quadro 1. Fonte Revista Motriz

O salto significativo entre os anos de 2005 e 2011 do número de publicações,

como demonstra o quadro 1 foi ocasionado pela inserção do periódico em 2007 no

sistema eletrônico de editoração de revistas (SEER). “Software” que otimiza o fluxo

dos artigos avaliados entre os editores e como os autores, o que torna o tempo de

avaliação do artigo mais rápidos. E também em relação a periodicidade que neste

mesmo ano a revista torna-se trimestral.

Esses fatores favoreceram para publicação de artigos sobre Forpef durante

esse período, como também a iniciativa de eventos científicos (seminários,

congressos etc,) que foi o caso do IV Seminário de Estudos e Pesquisas em

Formação Profissional no Campo da Educação Física- NEPEF, realizado na

UNESP/Bauru em 2008, pois possibilitou a construção e publicação dos artigos na

revista o que superou mais de cem por cento de artigos em relação aos onze anos

anteriores que foram 20 artigos publicados no periódico.

Quanto a autoria Foram identificados 79 autores vinculados aos 50 textos

circunscritos no campo FORPEF. Visualizamos um predomínio de textos produzidos

coletivamente (31 textos) em detrimento da produção individual (19 textos). No

conjunto desta produção, destacamos 20 textos que expressam relação de

orientação e 11 produções que denotam trabalho em grupo, demarcando, assim,

uma relação profícua para o campo de estudo, devido oportunizar a convivência de

pesquisadores experientes e acadêmicos em diferentes fases de formação durante a

produção do conhecimento, tal iniciativa deve ser estimulada já que indica

possibilidade de consolidação de novos quadros de pesquisadores para o campo em

questão.

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Quanto à proveniência dos autores dos estudos em Forpef, identificamos a

grande centralidade das produções advindas da Região Sudeste do País, tal região

apresentou 41 trabalhos, sendo que 2 trabalhos houve parceria com outra região,

dos quais, existe uma predominância do estado de São Paulo com 49 autores em 39

trabalhos, sendo que a pesquisadora que mais produziu sobre Forpef na Revista

Motriz também provém deste estado, trata-se da professora Dra Dagmar Hunger

assumiu autoria de 07 estudos, seguido da professora Dra. Irene c. a. Rangel, com

04 trabalhos. Como mostra o quadro 2.

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ARTIGOS

Dagmar Hunger

Irene C. A. Rangel

Fernanda Rossi/José M. C. Barros/Juarez V. Nascimento/samuel S. Neto

Carine Collet/Daniel Marcon/Juliana M. Pereira/Larissa C. Benites/Michél A. Saad/Sheila A. P. S. SilvaOutros

Na Região Sul, caracterizamos 25 autores organizados em 09 trabalhos,

sendo 03 textos de autoria de Juarez Vieira do Nascimento. Identificamos 02

autores estrangeiros em 02 trabalhos. Como também, encontramos apenas 01

autora do Nordeste com um único trabalho, trata-se de Lívia Tenório Brasileiro e da

região Centro-Oeste, Evandro Carlos Moreira. Já na região Norte não possui textos

acerca do campo de estudo.

Sobre o vínculo institucional dos autores, a maior recorrência foi de

pesquisadores que tem vínculo direto com instituições de ensino superior, são 76

autores, destes, 36 são professores lotados em departamentos, 07 cursando

Quadro 2. Fonte Revista Motriz

15

mestrado ou doutorado, 02 bolsistas pela CNPq, 02 egressos e o restante identificou

apenas a instituição de ensino superior; e 02 autores não apresentaram vínculos

institucionais. Apenas 01 autor acusou vínculo com a educação básica, mas possui

vínculo com universidade. Encontramos apenas 01 autor que registrou vínculo com

a área não escolar, mais especificamente, com a Embrapa.

Quanto ao grupo de pesquisa foram identificados 06 grupos distribuídos em

12 artigos dos quais 05 artigos são do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Formação

Profissional no Campo da Educação Física (NEPEF) UNESP- Rio Claro, seguido do

Laboratório de Pedagogia do Esporte/UFSC com 03 artigos.

AS BASES TEÓRICAS PRIORIZADAS

Uma das possibilidades de verificação do quadro teórico orientador da

produção do conhecimento em FORPEF é a identificação de correspondências entre

citações de subsídio teórico e referências, seguida da análise das recorrências

destas referências no conjunto da produção dos 50 textos, neste sentido,

procedemos à demarcação, ao longo da leitura dos textos, daquelas citações que

correspondiam aos pilares de sustentação do aporte teórico, acompanhada da

verificação da sua correspondência na lista de referência, a precaução adotada

nesta pesquisa eram de que as citações não poderiam recair em caso de

autocitação.

No campo da discussão referente à área específica da Educação Física,

localizamos prioritariamente as contribuições de Mauro Betti e Go Tani, o primeiro

aparece em 08 produções diferentes, com expressão para o texto que apresenta 05

ocorrências, intitulado “Novas perspectivas na formação profissional de educação

física”, elaborado em parceria com Irene Betti (BETTI; BETTI, 1996), já as

contribuições de Go Tani é identificada em 08 textos do campo FORPEF, com

destaque para o texto “Vivências Práticas no curso de Graduação em Educação

Física: necessidade, luxo ou perda de tempo? (TANI,1996), com 03 recorrências.

Em seguida as elaborações de José Maria de Camargo Barros ganha

destaque no subsídio aos argumentos de autores da FORPEF na revista Motriz,

sendo utilizado em 07 textos diferentes, dos quais, 02 textos ganharam notoriedade

entre os autores, trata-se dos estudos intitulados “Educação física: perspectivas e

16

tendências na Profissão” (BARROS, 1996) e “Educação Física e Esportes:

Profissões?” (BARROS, 1993), ambas com 03 ocorrências em produções diferentes.

O professor Elenor Kunz também alcançou expressividade, localizando-se no

aporte teórico de 06 textos diferentes, entre os quais, 03 fazem uso da obra

“transformação didático-pedagógica do esporte” (KUNZ, 1994), Suraya Darido

também subsidiou a elaboração de 06 textos, ganhando destaque o artigo “Teoria,

prática e reflexão na formação profissional em Educação Física” (DARIDO, 1995),

com 02 ocorrências.

José Guilmar Mariz de Oliveira vem na sequência, ao lado de Jocimar Daólio,

o primeiro apresentou 05 recorrências em textos diferentes, com o material intitulado

“Preparação profissional em educação física” (MARIZ DE OLIVEIRA, 1988)

apresentando 03 ocorrências, já Daolio a mesma média com destaque para o texto

“A representação no trabalho do professor de Educação Física na escola do Corpo

Matéria-prima ao Corpo Cidadão” (DAOLIO, 1992), também com 03 aparições.

Na Educação Física, ganha ainda destaque as contribuições de Cecília

Borges e Amauri Bassoli de Oliveira, ambos contribuindo com a reflexões teóricas

contidas em 04 textos, sendo 04 ocorrências para “Mercado de trabalho em

educação física e a formação profissional” (OLIVEIRA, 2000) e 03 ocorrências para

o livro “O professor de educação física e a construção do saber” (BORGES, 1998).

No campo educacional mais amplo, a obra mais representativa foi de Donald

Schön (1992), intitulada “Formar professores como profissionais reflexivos”, com 08

recorrências em textos diferentes, no entanto, o autor mais utilizado para aporte

teórico foi Maurice Tardif, localizando-se em 9 produções do campo, com frequência

expressiva da sua obra intitulada “Saberes docentes e formação profissional”

(TARDIF, 2002) em 05 textos diferentes.

Outros autores expressivos no subsídio do campo FORPEF foi Angel Pérez-

Goméz e Philipe Perrenoud recorrentes em 08 textos, o primeiro com destaque para

a obra “o pensamento prático do professor – a formação do professor como

profissional reflexivo” (PÉREZ-GOMÉZ, 1992), com 07 visualizações e o segundo

com evidência para a obra “Práticas pedagógicas, profissão docente e formação:

perspectivas sociológicas” (PERRENOUD, 1993), com 05 recorrências.

Em seguida temos a contribuição de Hal Lawson que computou 07

ocorrências em textos diferentes, com destaque para o artigo intitulado “teachers

uses of research in practice: a literature review” (LAWSON, 1993) e logo após,

17

Kenneth Zeichner com 05 textos, com destaque para “A formação reflexiva de

professores” (ZEICHNER, 1993) a partir de 02 recorrências.

Um autor externo ao campo, mas utilizado com significativa aparição foi Pierre

Bourdieu, com 14 obras localizadas em 05 textos, sendo inclusive utilizado como

fundamento principal para a discussão dos elementos que constituem o habitus

profissional de professor (SOUZA NETO; BENITES; SILVA, 2010).

Por fim, Nelson Carvalho Marcellino se destacou como grande intelectual do

campo do lazer com 10 ocorrências em 05 textos diferentes, demonstrando e

ratificando sua notoriedade nas discussões feitas ao lazer, seguido de Helder

Isayama, com 07 ocorrências em 03 textos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Identificamos quanto aos procedimentos metodológicos: o enfoque

epistemológico, os instrumentos de coleta e análise, o tipo de pesquisa e a

abordagem nas 50 produções sobre FORPEF na revista motriz, verificamos que 45

produções não declaram, nem ao menos discutem o enfoque epistemológico

priorizado na investigação, apenas 05 produções explicitamente demonstram seu

posicionamento enquanto enfoque, sendo 02 produções com posicionamento com

base fenomenológica dos autores(as) Sheila Aparecida Pereira dos Santos Silva e

André Bartholomeu Carneiro e do autor Vanderlei Balbino da Costa; 02 produções

com enfoque do materialismo histórico dialético de autoria da Carol Kolyniak Filho e

Vitor Andrade de Melo e 01 produção do autor Evandro Antonio Corrêa com

enfoque construcionismo.

Quanto ao tipo de produção científica característica dos 50 textos sobre

FORPEF na revista motriz categorizamos segundo Marconi e Lakatos (2009) a

partir de duas possibilidades: pesquisa científica e comunicação científica, pois

enquanto a pesquisa científica “requer um tratamento científico rigoroso e se

constitui no caminho para se conhecer a realidade[...]”(p.43) a “comunicação

científica não necessita de abundância de aspectos analíticos; basta que a

experiência, as idéias ou a teoria sejam bem fundamentadas.”(p. 80).

Neste sentido identificamos 07 produções como comunicação científica e 43

produções como pesquisa cientítica. Para Marconi e Lakatos (2009) o segundo

18

grupo se subdividi-se em documentação direta e indireta, quando consideramos os

processos para obtenção dos dados, a primeira categoria está relacionada com os

dados obtidos em locus ou indireto quando os dados foram coletados por outra

pessoa. Por isso, das pesquisas científicas foram identificadas 20 produções de

forma indireta que se constitui em pesquisa bibliográfica com 13 produções, pois

utiliza como fontes livros e artigos. E pesquisa documental com 08 produções que

utiliza documentos oficiais(resoluções, currículos, ementas do curso) e não

oficias(diario de campo e diario de aula). Já as pesquisas diretas foram identificadas

em 19 produções como pesquisa de campo que se utilizou de entrevista,

questionário e observação. Alem disso, identificamos 04 produções que

categorizamos como pesquisa mista por apresentar tanto fonte direta quanto fonte

indireta.

Para os instrumentos de coleta e análise dos dados identificamos nas 39

pesquisas sobre FORPEF que se constitui nas duas categorias: pesquisa direta e

pesquisa indireta. As 19 produções que utilizaram instrumentos de levantamento de

dados de forma direta, 12 produções utilizaram somente um instrumento,sendo que

06 textos com entrevistas, 05 com questionário e 01 com observação. E 07

produções utilizaram dois instrumentos de coleta de dados, sendo 04 textos com

observação e entrevistas e 03 textos com entrevista e questionário. Ou seja, das

pesquisas diretas a entrevista encontra- se em 13 textos, o questionário em 8 textos

e a observação em 5 textos.

Para as pesquisas indiretas as 20 produções se constitui em 17 textos que

contém somente um tipo de instrumento de levamento de forma indireta. Desta 12

textos contém revisão bibliográfica, 04 textos com análise documental e 01 texto

com análise de conteúdo. E 03 produções com dois procedimentos indiretos sendo

02 textos com revisão bibliográfica e análise documental e 01 texto com análises

documental e de conteúdo,ou seja, das pesquisas indiretas a revisão bibliográfica

encontra- se em 14 produções, a análise documental encontra- se em 7 produções e

a análise de conteúdo em 02 textos sobre FORPEF de forma indireta.

Já para os tipos de abordagem as 50 produções se constituiram em apenas

02 produções como uma abordagem quantitativa e a restante como abordagem

qualitativa. O que para uma pesquisa educacional sobre FORPEF assegurar as

19

circunstâncias relevantes das contradições e superações a abordagem qualitativa

possibilita ir além dos dados expostos.

TERMINOLOGIA

As terminologias sobre FORPEF nas 50 produções foram sub divididas em

“Formação de professor”, “Formação profissional”, “Preparação profissional” e

“Outros” pela recorrência nos textos, desta 17 produções apresentam somente uma

terminológia sendo que 12 textos mencionam “formação profissional”, 03 textos

mencionam “formação de professores”, 01 texto com “preparação profissional e um

01 texto com “formação de recursos humanos”. E 33 produções mencionaram em

seus estudos no mínimo duas terminologias sendo que 32 produções mencionam

“formação profissional”, 24 produções expõem “formação de professores”, 17

produções com “preparação profissional” e 9 textos na sub divisão “outros”. E

agrupá-los demonstra que a terminologia “formação profissional” está presente em

44 produções sobre FORPEF na Revista Motriz.

TEMÁTICA PRIORIZADA

Para as temáticas sub dividimos em: “Formação continuada”, “Prática

pedagógica”, “Currículo”, “Princípios orientadores” e “Outros” pela recorrência nas

análises. Das produções sobre FORPEF 23 produções foram identificados apenas

uma temática, destas 08 produções é referente à currículo, 10 produções é referente

à “princípios orientadores”, 02 produções traz como tema a “prática pedagógica” e

03 produções com temática “outros”. E 27 produções apresentaram no mínimo duas

temáticas destas 23 produções apresentaram como temática “princípios

orientadores”, 14 produções como “prática pedagógica”, 14 produções como

“currículo”, 03 produções como “formação continuada” e 05 como “temática outros”.

SÍNTESE INTERPRETATIVA

Comparando os dados das 50 produções sobre FORPEF na revista motriz aos

estudos de Brito Neto et al.(2009, 2010) conseguimos constatar semelhança nos

resultados encontrados quanto aos objetivos específicos desta pesquisa.

Para quantidade de produção sobre FORPEF acreditamos ainda ser pequeno

pela relevância da temática, pois Brito Neto et al.(2009) também chegou ao

20

resultado de menos de 10% da produção cientifica na revista Movimento como tema

o FORPEF. Por isso, proporcionar eventos específicos sobre FORPEF pode

contribuir para aumentar a discussão desta temática, como também “[...] ao

efervescente embate em torno das Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação

de Professores de Educação Física.(BRITO NETO et al., 2010)

Quanto a produção sobre FORPEF em relação às regiões geográficas, os

textos se concentraram na região Sudeste e Sul, devido os autores estarem nestas

regiões principalmente em São Paulo. Como também, estudos oriundos destas

regiões servirem de modelos a outras regiões por ainda considerar ser uma região

de grande desenvolvimento econômico, político e científico pela presença das

universidades de grande prestígio serem os centros das discussões podem

contribuir para baixa produção ou ausência sobre FORPEF. Como exemplo a prof.

Dra Dagmar Hunger que vinculou seu estudos a região sudeste em 07 produções e

a região norte não apresentar nenhum.

Dos vínculos institucionais a maioria dos autores é vinculada a instituições

superiores, sendo que apenas uma também tem vínculo com o ensino básico. O que

demonstra a carência do fazer científico de professores do ensino básico tanto pela

inexperiência quanto pela jornada de trabalho. Visualizamos também a presença de

06 grupos de pesquisas distribuídos em 12 artigos sobre FORPEF com predomínio

do grupo NEPEF-UNESP- Rio Claro.

Constatamos os autores mais recorrente enquanto base teórica para FORPEF

na revista motriz como Mauro Betti, Go Tani, José Maria de Camargo Barros, Elenor

kunz, Célia Borges, Amauri Bassoli, Jose Gilmar Mariz de Oliveira, Suraya Darido,

Jocimar Daólio, Nelson Carvalho Marcellino mais especifico ao lazer. E como

formação mais ampla como: Donald Schön, Maurice Tardif, Angel Pérez-Goméz ,

Philipe Perrenoud Hal Lawson, Kenneth Zeichner são possibilidade compreender

sobre formação de professores e especificamente de educação física

Pensar em pesquisa educacional apenas nos métodos e técnicas é

permanecer no paradigma da neutralidade, ou seja, é não perceber que o processo

da produção do conhecimento reflete condições materiais históricas, interesses e

valores sociais (GAMBOA, 2007), que estarão diretamente relacionado ao enfoque

epistemológico da produção científico, poís é a partir dos pressupostos

21

epistemológicos que o investigador se posiciona acerca do “interesse cognitivo” que

mobiliza o seu fazer científico, fruto de processos complexos da realidade a partir da

técnica, linguagem e poder, ou seja, são esses interesses que irão nortear o

encaminhamento da pesquisa do uso das técnicas e métodos ao interesse a quem

serve e para que serve o estudo. Por isso o fazer científico deve perpassar na

busca aos resultados mas também ao seu processo enquanto interesse social,

político e ideológico.

Essa neutralidade foi verificada pela ausência e discussão de enfoque

epistemológico na maioria dos textos e pelas várias possibilidades de terminologias

que as produções demonstraram como “formação de professores”, “formação

profissional”, “preparação profissional”, “formação de recursos humanos”,

“preparação de professor”, “formação acadêmica”, “formação do educador”,

“formação do educador físico”.

E as temáticas priorizadas na revista Motriz sobre FORPEF foram recorrentes

para “princípios orientadores”, “prática pedagógica” e “currículo” a qual chegou

também os estudo de Brito Neto et al.,(2010) por estarem diretamente ligados as

transformação pela qual a legislação sobre educação fisica vem acontecendo no

seculo XXI.

CONCLUSÃO

Concluimos que se faz necessário discussões como a mesma preocupação

para as técnicas e métodos da pesquisa também para o campo teórico –

epistemológico no sentido de serem refletido em qualquer produção científico,

principalmente sobre FORPEF por ser uma pesquisa educacional com

pressupostos de âmbito social, político e ideológico. Como também incentivo para

produções de artigos sobre FORPEF a partir de eventos específicos da temática

com ênfase nas regiões onde à pouca discussão. Neste sentido, qualquer base

teórica é propícia para desenvolvimento da temática enquanto transformadora da

realidade? pois nos estudo de Brito Neto et al. (2009) em relação a revista

Movimento houve diferença significativa enquanto FORPEF.

Por isso este estudo contribui para localizar de forma sistemática os estudos

sobre FORPEF, a partir da monografia de base (SAVIANI, 1991) no sentido de

22

proporcionar para futuras produções sobre formação de professores de Educação

Fisica possibilidades de novos objetos.

Production of Knowledge on Teacher Training in Physical Education in Scientific

Journals: Analysis of Motive Magazine (1995-2011)

Abstract

The present study aims to map the development stage of knowledge production

on the field of study "Training teachers of physical education (FORPEF)," conveyed

in the journal Motive (1995-2011) Department of Physical Education, UNESP / Rio

Claro, through a literature search from the content analysis, which allowed the

visualization more systematic about the production of FORPEF over regions of the

country, authors, research groups, methodologies, and theoretical issues prioritized

in 50 productions in the Periodic . It concludes that the production is concentrated in

the southeast and south, with a predominance of collective production using - only

methods and techniques in scientific work, from issues such as guiding principles,

teaching practices and curriculum with the theoretical reflective teacher.

Keyword: Teacher Education Physical Education; Journal; Production of

Knowledge in physical education.

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