Producao e Compreensao de Textos - UFPR - 2a fase - COMENTARIO GERAL + questoes

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  • COMENTRIO DA PROVA DE PRODUO E COMPREENSO DE TEXTOS

    Como temos j h anos comentado, a prova de Compreenso e Produo de Textos do vestibular daUniversidade Federal do Paran atingiu um patamar de excelncia e desenvolvimento de seu modelo que a situaentre os melhores exames do gnero no pas.

    Tal excelncia manifesta-se, sobretudo:

    (a) no bem sucedido modelo fundado na diversidade de gneros;

    (b) na variao dos temas, todos socialmente relevantes, todos a seu modo associados ao papel da educaona promoo de uma sociedade mais justa, cidad e democrtica;

    (c) na variedade de fontes dos textos que servem de base para as questes discursivas;

    (d) na inventividade das propostas que, embora mantenham certo padro, tm se apresentado de modo sempreinovador.

    A esses aspectos bsicos, a prova deste ano acrescentou a elaborao de enunciados mais precisos epormenorizados, que certamente dirimiram dvidas comuns e transmitiram maior tranquilidade aos candidatos.

    Nossas ressalvas igualmente se tm repetido ao longo dos anos.

    Como j expusemos com mais vagar, consideramos que a prova se engrandeceria se de sua estrutura geralfizesse parte o aproveitamento das obras literrias de leitura obrigatria (como chegou a ocorrer em alguns exames).Este ano houve instigante meno a Nelson Rodrigues, mas no da pea Anjo negro, uma das dez obras indicadas paraa prova de Literatura.

    Do mesmo modo, temos sempre alertado para o nmero mximo de linhas excessivamente reduzido em certaspropostas. Neste ano, o caso das questes discursivas 2 e 3, cujo contedo se v desnecessariamente confinado aapenas dez linhas. Pensamos, na verdade, que tm feito falta propostas argumentativas de, por exemplo, vinte linhas,que estiveram presentes em anos anteriores. Ainda sobre esse tpico, faz-se necessrio, segundo nos parece, observaruma inadequao relativa diagramao da prova: muitos estudantes tm comentado que o tamanho das linhas para orascunho superior ao das linhas reservadas para a verso definitiva das redaes. Pode parecer algo de menorimportncia, mas tal diferena de espao causa transtornos perfeitamente evitveis para os candidatos, jsuficientemente pressionados pela necessidade de conciliar o desenvolvimento do contedo com sua expressobastante sinttica.

    Como em edies anteriores, a prova deste ano trouxe um resumo, duas propostas argumentativas, umacontinuao de texto e uma interpretao de charge. As fontes e os gneros dos textos-base so igualmentediversificados. Compem a prova artigos de opinio extrados da revista poca e do jornal Folha de S. Paulo, notciaveiculada pela revista CartaCapital, charge publicada pela Gazeta do Povo, crnica de Nelson Rodrigues (infelizmentesem referncia), alm do interessante trecho de relato do historiador romano Tcito (55 120).

    Os temas, por sua vez, se mostraram no apenas variados, mas tambm relevantes do ponto de vista cidado o que sem dvida merece elogios. As propostas tratam do impacto social da linguagem, de alternativas para melhoraro combalido ensino mdio brasileiro, da violncia associada ao futebol, das alteraes na estrutura familiar e dasquestes ambientais implicadas na Conferncia Rio+20.

    Por suas qualidades, a prova certamente cumpre o objetivo de selecionar os melhores candidatos. Serve,igualmente, como importante referencial para o ensino-aprendizagem da compreenso e da produo de textos noensino mdio.

    A seguir, comentrios especficos s cinco propostas e textos elaborados pela equipe de Redao do CursoPositivo.

    Professores(as): Andra, Candice, Denise, Guaraciaba, Jocelene, Paulo, Selma, Szi, Wella, Yeso

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    PROVA COMENTADA PELOSPROFESSORES DO CURSO POSITIVO

    Vestibular UFPR 2012/2013 - 2 FaseCURSO

  • Comentrios especficos e exemplos de texto

    A primeira proposta pede um resumo, gnero de texto que figurou em todos os exames de Redao daUFPR desde sua reestruturao em 1996.

    Num resumo, como sabemos, deve-se parafrasear e sintetizar as ideias centrais de um texto-base.Neste ano, a banca examinadora fez que do enunciado constassem instrues especficas para um resumo:mencionar autor e fonte; escrever com as prprias palavras, isto , sem copiar o original; e, como se trata deum texto argumentativo, apresentar a tese e os argumentos da autora.

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  • Os tpicos essenciais do original so os seguintes:

    Publicado na poca em 10 de setembro de 2012, o texto Doutor Advogado e Doutor Mdico: atquando? uma adaptao (o original mais extenso) de artigo de Eliane Brum, colunista da revista.

    O tema do artigo o uso de doutor em referncia a mdicos ou advogados, prtica condenadapela autora.

    Uma vez que as escolhas lingusticas expressam relaes sociais de poder, Eliane Brum, relacionao uso de doutor profunda hierarquia, desigualdade e mesmo ao racismo presentes nasociedade brasileira.

    Especificamente no tocante a mdicos e advogados, o uso de doutor expressa a autoridade queambos tm sobre o prprio corpo das demais pessoas.

    A medicina e o direito constituem, assim, um espao nico de submisso, que pe o cliente doescritrio ou do consultrio em condio de total passividade.

    A autora conclui lamentando que o parco acesso social Justia e Sade no Brasil contribua paramanter o uso de doutor, inclusive com a concordncia dos profissionais do direito e da medicina.

    Verso A

    De como uma escolha lingustica vai muito alm da questo semntica para representar uma forma denegar traos da hierarquizao dos papis que uma sociedade elitista e excludente como a brasileira pareceexigir em muitos contextos. Eis a tnica das ideias de Eliane Brum, colunista da revista poca, que confessaresistir ao uso do termo doutor na referncia a mdicos ou advogados. Para a articulista, no simplesmente uma questo de formalidade e respeito o uso da expresso, mesmo porque tais profissionaistomam a palavra como elemento de distino, estimulando o seu emprego. pela conscincia de que,historicamente, o vocbulo foi chancelando a desigualdade no tratamento entre as pessoas e, no Brasil, issovirou um smbolo do abismo que espelha as disparidades sociais, que a jornalista Brum nega, de formapoltica, a utilizao de doutor, criticando o quanto a palavra veicula valores de poder e submisso que nodeveriam caber em um pas to desigual como o Brasil.

    Yeso Osawa Ribeiro

    Verso B

    Por que permanece no Brasil o emprego da palavra doutor? a essa questo que Eliane Brum drespostas no artigo Doutor Advogado e Doutor Mdico: at quando?, publicado pela poca em10/09/2012. Lembrando que escolhas lexicais explicitam relaes de autoridade e subservincia, a articulistadeixa clara sua negao ao uso do vocbulo e revela esperana de que deixe de ser aplicado. Segundo ela, odoutor, ao longo da histria, teria sido um elemento acentuador, no idioma, de diferenas concretas. E se apalavra se atualizou foi porque a desigualdade persistiu. A ideia de submisso tambm justificaria hoje o usode doutor para se referir a mdico ou advogado, ambos profissionais que exerceriam autoridade sobre oscorpos. A autora conclui com a previso de que o ttulo ter vida longa num pas onde o acesso justia e sade precrio e os doutores querem assim ser chamados.

    Selma Mottin Cavasso

    Verso C

    A jornalista, escritora e documentarista Eliano Brum, em artigo publicado na revista poca de 10 desetembro de 2012, critica o uso arcaico da palavra doutor diante dos nomes de mdicos e advogados. Deacordo com a articulista, por meio da palavra, que tem vrios sentidos, que as relaes de poder, de abuso ede submisso se estabelecem. Apesar da reduo da disparidade socioeconmica e do aumento dos direitoscivis, o uso histrico de doutor se mantm. Isso porque, argumenta Brum, o cidado assume um papel depassividade diante desses profissionais, diferentemente do que ocorre nas relaes de mercado e consumo,nas quais o cliente tem sempre razo. A jornalista conclui que a hierarquia socioeconmica deve permanecerno Brasil, enquanto for deficiente o acesso Justia e Sade.

    Andra Garcia Zelaquett

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  • Comentrios especficos e exemplos de texto

    A segunda proposta pede a elaborao de um pequeno texto dissertativo em que o candidatodeve apresentar duas (e apenas duas) medidas para melhorar o ensino mdio brasileiro. O texto-base umfragmento de notcia, publicada na revista CartaCapital, sobre proposta do ministro da Educao, AlozioMercadante, de reestruturar o currculo do ensino mdio tomando por referncia os quatro grupos que, noEnem, organizam as matrizes curriculares.

    semelhana do que ocorre no Enem, portanto, a questo discursiva pede propostas deinterveno social sobre um tema relevante, no caso a educao.

    A discusso de medidas para melhorar o ensino mdio brasileiro o tema central de dois artigosque serviram de base a propostas de produo de texto no Curso Positivo, ambos publicados na revistaCincia Hoje: Um n que exige coragem e criatividade, da professora Maria Helena Guimares de Castro, quefez parte do Simulado de Compreenso e Produo de Texto, e Mudanas inevitveis, do fsico Lus Carlos deMeneses.

    A ressalva recai sobre o nmero muito limitado de linhas. Trata-se, afinal, de apresentar duas medidas ejustific-las. A opo pode ser cortar qualquer trecho introdutrio, mas isso, segundo nos parece, apenasdeixa mais insatisfatrio o resultado final, sem que se tenha de fato favorecido o exerccio de sntese por partedos estudantes.

    Verso A

    Se um edifcio est na iminncia de desabar, por onde se devem iniciar obras de estabilizao?Pelo topo ou pela base? Essa parece ser a pergunta que o MEC, ao analisar os resultados que o ensino mdiobrasileiro tem amargado, nega-se a fazer. Ora, se o que se quer que atinjamos bons resultados no ensinomdio, preciso fortalecer a educao nas sries iniciais, abandonando temporariamente concepespaternalistas que permitem o acesso ao nvel mdio de alunos semialfabetizados. fundamental construir umalicerce cuja solidez seja verificada por avaliaes srias, capazes, sim, de provocar a reprovao. Ofortalecimento da base permitira implantar um sistema semelhante ao adotado em pases europeus, com

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  • formao geral at os 15 anos e depois disciplinas especficas voltadas rea a que tenha inclinaoprofissional. So medidas que podem trazer bons resultados, antes que do ensino mdio restem s osescombros.

    Selma Mottin Cavasso

    Verso B

    S se aprende o que tem sentido, o que prazeroso. Essa frase de Jean Piaget plenamenteaplicvel educao brasileira. Ano aps ano, os testes, tanto internacionais, como PISA, e nacionais, comoIdeb, deixam nosso pas em um patamar no condizente com a sexta economia do mundo. Naquele, o Brasilem 54 de 65 pases, e neste atingiu sofrvel mdia de 4,7. A escola precisa dialogar mais com as novastendncias tecnolgicas para atender o jovem do sculo XXI. Cursos optativos, profissionalizantes etecnolgicos em contraturno. Para isso, o ensino precisa ser integral, o que estaria em consonncia com aspalavras de Jean Piaget. Verba para isso? A presidenta Dilma e o ministro Mercadante j ditaram: 100% dosroyalties da Petrobras para a educao! Vamos copiar essa ideia ou o Brasil pegar exame final por muitotempo.

    Suzelei Carvalho Rosales

    Verso C

    Premido pelos sempre sofrveis resultados do ensino mdio em indicadores como o Ideb, oministro da Educao promete novo grupo de trabalho sobre o tema (CartaCapital, 29/08/2012). Sim, aindaestamos na fase dos grupos de trabalho Mas, como, na condio de brasileiros, no nos cabe desistir,gostaria de propor duas medidas ao ministro Mercadante. A primeira a modernizao do corpo docente,com salrios mais justos, que tornem mais atrativo o magistrio e selecionem profissionais mais motivados.Isso feito, podemos pensar em currculos mais diversificados, que abandonem o mito do ensino idntico paraas diversas reas (exatas, humanas, biolgicas) e carreiras (ensino tcnico ou superior). Mais verba emelhores currculos. Para avanarmos das discusses nos grupos de trabalho, rumo ao duro trabalho emgrupo das realizaes efetivas.

    Paulo Bearzoti Filho

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  • 6PROVA COMENTADA PELOSPROFESSORES DO CURSO POSITIVO

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  • Comentrios especficos e exemplos de texto

    Questo bastante criativa, esta proposta traz dois fragmentos de texto, bastante distantes notempo. Inicialmente, um breve pargrafo do historiador romano Tcito, sobre fato ocorrido em 59 d.C. Emseguida, trecho, mais longo, de crnica do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues (1912 1980). Ambos osfragmentos tratam de distrbios em competies esportivas (se que se pode assim denominar o combatede gladiadores mencionado por Tcito).

    Com o tom polmico e direto que o caracterizou, Nelson Rodrigues expressa o ponto de vista deque a rebeldia a regras, a indisciplina, a corrupo mesmo, embora possam ser condenveis, no devem nosespantar, pois fazem parte da inescapvel condio humana.

    A questo solicita, assim, ao candidato que se posicione sobre as ideias de Nelson Rodrigues,valendo-se de argumentos e mencionando fatos atuais.

    O aproveitamento do trecho de Tcito e sua inusitada relao com a crnica de NelsonRodrigues, textos distantes cerca de 1900 anos um do outro o elemento mais surpreendente da proposta. Ofragmento de Tcito, entretanto, no chega a ser essencial para a elaborao da redao, podendo serdispensado. Seu uso mais evidente se daria em um texto que apoiasse as ideias de Nelson Rodrigues, umavez que um fato to antigo pode sustentar a noo de que esse tipo de incidente violento pertence mesmo condio humana.

    Novamente, como na questo anterior, o nmero de linhas um limitador desnecessrio. Maisalgumas linhas dariam mais variedade aos textos e em nada prejudicariam a avaliao da capacidade desntese dos estudantes.

    Verso A

    59 d.C., um combate de gladiadores originou o conflito entre colonos de Nucria e Pompia. Sc VI d.C.,competio no Hipdromo bizantino resultou na revolta de Nik entre os oponentes esportistas e polticos Verdes e Azuis. Sc XXI, torcidas organizadas digladiam-se a cada clssico do futebol brasileiro, torcidasdepredam arenas (estdio do Coritiba, 2009, por exemplo), torcedores formam grupos sociais e espalhamviolncia alm do estdio (hooligans, Inglaterra). Eis o homem! Constata Nelson Rodrigues. Homem cujacondio violar a disciplina principalmente no esporte. Nem o livre-arbtrio do rbitro escapa, pende para oinstinto. Ademais, destaca-se, agressividade e instinto no foram superados por trs sculos de ProcessoCivilizador, Norbert Elias, ao contrrio, so retomados. Basta olhar para as revistas italiana e espanhola cujodestaque era o corpo de atletas mulheres nas Olimpadas de Londres, e no a competncia esportiva. Nessesentido, o que o dramaturgo e socilogo reforam que, sim, disciplina conveno. E no esporte, por jogara condio humana, que o Maracan vira Cortio e o ginsio, Coliseu.

    Denise Miotto Mazocco

    Verso B

    Neste 2012 em que seu Fluminense foi campeo brasileiro comemora-se o centenrio dojornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues. A despeito da inegvel qualidade de seu estilo, Nelson uma almaconservadora, retrgrada, por vezes, selvagem at. Para ele, a vida como ela no reserva espao para nsque lutamos pela civilizao da humanidade. Em uma de suas crnicas esportivas, afirma: a disciplina foifeita para o soldadinho de chumbo e no para o homem uma conveno nasce e existe para serviolada. Lamentvel Ainda bem que isso no impediu em que pesem casos deprimentes como o recenteepisdio que levou mais de setenta pessoas morte no Egito que o exemplo mais notrio de guerra detorcidas os hooligans britnicos tenha sido reprimido e controlado. Felizmente, Nelson Rodrigues nuncafoi poeta, e coube a Lamartine Babo a letra do hino do Fluminense, que diz: fascina pela sua disciplina.

    Wellington Borges Costa, o Wella

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  • Verso C

    Nelson Rodrigues no acredita em Rousseau. Para o escritor maldito, a violncia faz parte danatureza humana. Em sua crnica Ns e os outros, ao descrever uma truculenta partida de futebol,caracteriza a disciplina como mera conveno. De fato, o mal est no homem. O psiclogo evolucionistaSteven Pinker revela que a vingana est em todos os episdios de guerras tribais estudadas as nossasmodernas brigas de torcida.

    Agora, reconhecer este mal diferente de admir-lo. Este homem tambm bate em sua mulher eassassina em nome de seu time.

    O anjo pornogrfico vivia no romantismo do futebol-arte. Acontece que, no ano de seucentenrio, uma briga entre torcidas acabou com a vida de um palmeirense. A camisa alviverde recebeu umamancha gren. Mas no era essa tricolor que ele admirava.

    Candice Almeida

    Comentrios especficos e exemplos de texto

    A questo solicita ao candidato que redija um ou dois pargrafos que deem continuidade aofragmento inicial de um artigo da psicloga Rosely Sayo, colunista do jornal Folha de S. Paulo.

    Gnero relativamente difcil, a continuao de texto deve apresentar, em relao aos pargrafos iniciaisapresentados, coerncia e progresso tanto no que concerne linguagem, quanto ao contedo.

    O artigo de Rosely Sayo fala das muitas transformaes pelas quais tem passado a famliacontempornea. Dos anos 1960 para c, j no se trata de uma instituio no singular, mas de famlias, noplural.

    Como o enunciado deixa claro que no h necessidade de concluir o texto, possvel que acontinuidade termine em um ponto inconcluso, suspenso do contedo o que, inclusive, pode constituir-seem um interessante recurso de expressividade.

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  • Verso A

    A efervescente dcada assistia a uma ruptura definitiva. A morte da progenitora. O advento daplula anticoncepcional possibilitou mulher vislumbrar alternativas quele script me-esposa-dona-de-casa.A revoluo sexual e a emancipao feminina so o princpio da gestao de uma nova famlia, a famlia noplural, que foi se reinventando ao longo das dcadas seguintes.

    Os anos 70, embalados pelo movimento hippie, solidificaram bandeiras como amor livre,igualdade de gneros, tolerncia homossexualidade. No Brasil, foi aprovada a lei do divrcio. Nada, porm,se compara surpresa que a dcada de 80 nos reservava.

    Wellington Borges Costa, o Wella

    Verso B

    A partir da a configurao da famlia passou a ser plural. Os papis de madrasta e padrastotornaram-se presentes na vida de muitos filhos. No mais pela fatalidade que se abateu sobre um dosmembros da famlia no singular, mas principalmente para continuidade da vida afetiva dos pais. Todavia, aosfilhos nesse novo contexto restou a insegurana de serem ou no bem-vindos. Insegurana gerada pelopossvel conflito entre a forma como foram educados at ento e a que h de vir. A possibilidade de umarelao amigvel pode ser remota.

    Ento, aos adultos caberia participar de formao dos descendentes, advindos na conformaodo nosso enlace. Propiciar-lhes crescer na diversidade torna-se o desafio de cada consorte.

    Maria Guaraciaba

    Verso C

    Naquela poca, com o advento da plula anticoncepcional, a prole numerosa pde sercontrolada, e as grandes famlias comearam a se reduzir. Tambm a entrada efetiva da mulher no mercadode trabalho fez dela no mais to dependente do marido. Muitas vezes, a progenitora. Com o divrcio, nadcada seguinte, a nova me e o novo pai ganharam conotaes diferentes. E hoje, passados cinquentaanos, as relaes homoafetivas permitem dois pais ou duas mes.

    A vida moderna dificulta o contato ntimo com primos, tios, avs. Muitas vezes sequerconhecemos nossos familiares. H mesmo os casais que optam por no ter filhos. Alm disso, a liberdade deviver, no depender dos pais, uma opo que vai contra a singularidade de uma famlia. A famlia, enfim, seexpandiu. plural.

    Jocelene Krevoruzka

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  • Comentrios especficos e exemplos de texto

    Questo igualmente criativa, a proposta traz charge de Paixo, publicada no jornal Gazeta doPovo, que recria, no contexto das discusses ambientais, famosa fotografia em que marines hasteiambandeira dos Estados Unidos na ilha japonesa de Iwo Jima, ento recm-ocupada, durante a II GuerraMundial.

    Na charge de Paixo, a mesma cena traz civis que erguem bandeira da Conferncia Rio+20 emmeio a um campo devastado.

    Este talvez seja o nico enunciado no totalmente preciso em toda a prova. A questo pede queo candidato escreva um texto explicitando a opinio de Paixo sobre a Rio+20, solicitando ainda que indiqueos elementos grficos em que se fundamenta sua interpretao e se considere a relao desses elementoscom a foto dos marines em Iwo Jima. Rigorosamente, segundo nos parece, no se trata, portanto, apenas deexplicitar a opinio do chargista, mas de tambm explicitar os variados recursos de que ele se serve paraexpressar essa opinio. Igualmente, a meno a elementos contextuais como o conhecimento sobre aRio+20 e o debate mais amplo sobre desenvolvimento sustentvel e a questo ambiental como um todo ,embora no prevista no enunciado, nos parece necessria para dar maior consistncia ao texto e atingir, semcircularidade nem descritivismo, o mnimo de linhas exigido.

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  • Verso A

    Salve lindo pendo da esperana / salve smbolo augusto da paz / Tua nobre presena lembrana / Agrandeza da ptria nos traz. Em 2012, a ONU e o Brasil hastearam a bandeira do desenvolvimentosustentvel na terra onde canta o sabi, que se orgulha com paixo da grandeza de seus recursos naturais.Paixo, porm, foi quem denunciou a falsa esperana do pendo da ONU, ao representar em charge (Gazetado Povo, 13/06/2012) a bandeira Rio+20, recebendo o afeto que se encerra em nosso peito juvenil, erguidaaps mata derrubada, queimada, devastada. Foi tambm em cima de devastao e fumaa que os EUAiaram seu smbolo augusto da paz marcando a ocupao da ilha de Iwo Jima/Japo em 1945. Valendo-se deintertextualidade imagtica, Paixo contesta a imagem brasileira de lder mantenedor da ordem e progressoambiental, discurso patriota que esconde o pas sem palmeiras, que perdeu cerca de 15% da Amaznia legale manteve apenas 12% da Mata Atlntica (IBGE). O cartunista traz lembrana, desta feita, pseudo-lideranado Brasil na Conferncia, criticada tambm por Marina Silva que, acrescenta-se, flagrou o pendo brasileiropender para os pases ricos e retroceder do mesmo modo que quando discutiu o Cdigo Florestal. Assim comos americanos fizeram, portanto, fincamos no prprio p o orgulho nacionalista com paixo o queridosmbolo da terra/ da amada terra do Brasil. Paixo, que terra?

    Denise Miotto Mazocco

    Verso B

    Quem dera a Rio +20 tivesse sido um marco de resistncia e smbolo de vitria em meio a umcampo minado pela destruio e devastao. Fosse assim, a imagem de Paixo publicada justamente nodia em que se iniciava a conferncia no Rio de Janeiro seria portadora, apenas, de signos positivos. Na cenaexposta pela Gazeta do Povo, pessoas simpatizantes Rio +20 (quem sabe ativistas, quem sabe o cidadocomum) hasteiam a bandeira do evento tremulante ou esfarrapada, afinal? no solo de um cenriodesolador, em que a fumaa no que havia sido uma mata se conjuga aos troncos decepados. No dilogo coma foto de Joe Rosenthal simbolizando uma vitria norte-americana em histrica batalha no Pacfico, Paixonos d, assim, o seu recado: salutar e bem-vinda a voz crtica e vigilante que empunha a bandeira em defesadas questes ambientais; como em uma guerra, porm, no h como esquecer que nem todas as batalhas sevencem. O que fica a fora da imagem. Melhor para os marines, que venceram; triste para ns.

    Yeso Osawa Ribeiro

    Verso C

    Um verdadeiro fracasso. Essa, a expectativa do cartunista Paixo em charge publicada naGazeta do Povo em 13 de junho de 2012, dia do incio da Conferncia das Naes Unidas sobreDesenvolvimento Sustentvel, a Rio+20. Na imagem desrtica de tocos de rvore ainda fumegantes e umgrupo de pessoas tentando fincar uma bandeira da Rio+20, Paixo representa o esforo dos participantes emdominar um cenrio mundial devastado. A bandeira carcomida anuncia o iminente desastre das reuniesentre os lderes mundiais, que acabaria por vetar a criao de um fundo de US$ 30 bilhes, destinado afinanciar o desenvolvimento sustentvel. Essa charge de Paixo nos remete a outra imagem, da foto demarines hasteando a bandeira dos Estados Unidos aps a ocupao da ilha de Iwo Jima ilha de enxofreem portugus no Japo, em maro de 1944. O enxofre produzido pela queimada na charge reflete o clima daRio+20, que, para o cartunista, metaforicamente tambm cheira a enxofre e j preparava um verdadeirofracasso, cuja consequncia mais funesta o aumento do aquecimento global.

    Andra Garcia Zalaquett

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