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Produªo Integrada de Manga: Manejo Ps- Colheita e Rastreabilidade Introduªo As preocupaıes da sociedade com a qualidade e a segurana dos alimentos consumi- dos, principalmente os que sªo ingeridos frescos, juntamente com o interesse pela preservaªo ambiental e pelas condiıes sociais e bem-estar dos trabalhadores, vŒm incentivando a busca de formas de produªo mais conscientes e comprometidas com a saœde do consumidor e com o meio ambiente. Desta forma, tem-se observado a implantaªo de sistemas de cultivo alternativos ao convencional, como as produıes orgnica, agroecolgica e integrada. A Produªo Integrada (PI) tem sido bem aceita pelos consumidores e produtores uma vez que objetiva elevar os padrıes de qualidade e competitividade dos produtos agrcolas. Para atingir esse objetivo, baseia-se em trŒs aspectos importantes: ser economicamente viÆvel, ambientalmente correto e socialmente justo (PEREIRA et al., 2006). Do ponto de vista conceitual, a Organizaªo Internacional para o Controle Biolgico e Integrado contra os Animais e Plantas Nocivas (OILB) define a PI como a produªo econmica de frutas de alta qualidade obtida, prioritariamente, com mØtodos mais seguros, minimizando os efeitos colaterais indesejÆveis do uso de agroqumicos para reduzir riscos ao ambiente e saœde humana (OILB, 1999). A implantaªo da PI em uma propriedade ou empresa rural Ø considerada como resultado do atendimento de uma sØrie de requisitos que, gradualmente, substituem as prÆticas convencionais. A base inicial para adoªo efetiva da PI Ø a conscientizaªo do produtor e seus colaboradores, desde aqueles que exercem funıes de responsabili- dade tØcnica atØ aqueles que executam as atividades de rotina. A partir dessa conscientizaªo, Freitas et al. (2005) destacam que sistemas de garantia de qualidade e segurana dos alimentos, tais como a aplicaªo das Boas PrÆticas Agrcolas (BPA), aplicados no campo, e AnÆlise de Perigos e Pontos Crticos de Controle (APPCC), aplicado empacotadora, devem ser adotados como forma de reduzir os perigos que possam afetar, de forma adversa, a segurana e a adequaªo para o consumo. As experiŒncias e validaıes dos processos de PI para diferentes produtos hortcolas e frutcolas em diversos pases, principalmente naqueles mais desenvolvidos, estimula- ram e impulsionaram o desenvolvimento das normas para produªo e ps-colheita das culturas de pases produtores. Muitas vezes, estes pases produtores sªo pressionados a aderirem a normas de produªo e ps-colheita determinadas por grupos de importa- dores como requisito para alcanarem o mercado exterior. AlØm disso, as facilidades de acesso a informaıes relativas a qualidade dos alimentos por parte do consumidor torna-o mais preocupado com as questıes de segurana dos alimentos, notadamente o uso excessivo de agrotxicos que agridem o meio ambiente e que podem deixar resduos nos produtos frescos. Desta forma, os fruticultores brasileiros, apoiados pela pesquisa, vŒm direcionando seus esforos na implantaªo do sistema de PI para uma grande variedade de espØcies de frutas produzidas comercialmente. A maª foi a primeira fruta produzida no Brasil a ter as normas de PI definidas e aplicadas pelos produtores. Hoje, este produto jÆ pode ser identificado no mercado nacional com o selo da PI, garantindo a qualidade da fruta e do seu sistema de cultivo. Dentre as muitas espØcies de frutas produzidas e exportadas pelo Brasil, a manga foi uma das primeiras contempladas com a implantaªo da PI. Nesse processo, a Embrapa Semi-`rido, juntamente com produtores e exportadores, definiu as normas para a PI de manga (PI-Manga). Tais normas estªo organizadas em quinze Æreas temÆticas. Sªo elas: capacitaªo, organizaªo de produtores, recursos naturais, material propagativo, implantaªo de pomares, nutriªo de plantas, manejo de solo, irrigaªo, manejo da Petrolina, PE Dezembro, 2008 89 ISSN 1808-9976 On line On line On line On line On line Autor Joston Simªo de Assis Eng o , Agr o , D.Sc., Pesquisa- dor Embrapa Semi-`rido. E-mail: [email protected] Maria Auxiliadora CoŒlho de Lima Eng o , Agr o , D.Sc., Pesquisa- dora Embrapa Semi-`rido. E-mail: [email protected]

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Produção Integrada de Manga: Manejo Pós-Colheita e Rastreabilidade

Introdução

As preocupações da sociedade com a qualidade e a segurança dos alimentos consumi-dos, principalmente os que são ingeridos frescos, juntamente com o interesse pelapreservação ambiental e pelas condições sociais e bem-estar dos trabalhadores, vêmincentivando a busca de formas de produção mais conscientes e comprometidas coma saúde do consumidor e com o meio ambiente. Desta forma, tem-se observado aimplantação de sistemas de cultivo alternativos ao convencional, como as produçõesorgânica, agroecológica e integrada.

A Produção Integrada (PI) tem sido bem aceita pelos consumidores e produtores umavez que objetiva elevar os padrões de qualidade e competitividade dos produtosagrícolas. Para atingir esse objetivo, baseia-se em três aspectos importantes: sereconomicamente viável, ambientalmente correto e socialmente justo (PEREIRA et al.,2006). Do ponto de vista conceitual, a Organização Internacional para o ControleBiológico e Integrado contra os Animais e Plantas Nocivas (OILB) define a PI como aprodução econômica de frutas de alta qualidade obtida, prioritariamente, com métodosmais seguros, minimizando os efeitos colaterais indesejáveis do uso de agroquímicospara reduzir riscos ao ambiente e à saúde humana (OILB, 1999).

A implantação da PI em uma propriedade ou empresa rural é considerada comoresultado do atendimento de uma série de requisitos que, gradualmente, substituem aspráticas convencionais. A base inicial para adoção efetiva da PI é a conscientizaçãodo produtor e seus colaboradores, desde aqueles que exercem funções de responsabili-dade técnica até aqueles que executam as atividades de rotina. A partir dessaconscientização, Freitas et al. (2005) destacam que sistemas de garantia de qualidadee segurança dos alimentos, tais como a aplicação das Boas Práticas Agrícolas (BPA),aplicados no campo, e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC),aplicado à empacotadora, devem ser adotados como forma de reduzir os perigos quepossam afetar, de forma adversa, a segurança e a adequação para o consumo.

As experiências e validações dos processos de PI para diferentes produtos hortícolas efrutícolas em diversos países, principalmente naqueles mais desenvolvidos, estimula-ram e impulsionaram o desenvolvimento das normas para produção e pós-colheita dasculturas de países produtores. Muitas vezes, estes países produtores são pressionadosa aderirem a normas de produção e pós-colheita determinadas por grupos de importa-dores como requisito para alcançarem o mercado exterior. Além disso, as facilidadesde acesso a informações relativas a qualidade dos alimentos por parte do consumidortorna-o mais preocupado com as questões de segurança dos alimentos, notadamente ouso excessivo de agrotóxicos que agridem o meio ambiente e que podem deixarresíduos nos produtos frescos.

Desta forma, os fruticultores brasileiros, apoiados pela pesquisa, vêm direcionandoseus esforços na implantação do sistema de PI para uma grande variedade de espéciesde frutas produzidas comercialmente. A maçã foi a primeira fruta produzida no Brasila ter as normas de PI definidas e aplicadas pelos produtores. Hoje, este produto jápode ser identificado no mercado nacional com o selo da PI, garantindo a qualidade dafruta e do seu sistema de cultivo.

Dentre as muitas espécies de frutas produzidas e exportadas pelo Brasil, a manga foiuma das primeiras contempladas com a implantação da PI. Nesse processo, a EmbrapaSemi-Árido, juntamente com produtores e exportadores, definiu as normas para a PIde manga (PI-Manga). Tais normas estão organizadas em quinze áreas temáticas. Sãoelas: capacitação, organização de produtores, recursos naturais, material propagativo,implantação de pomares, nutrição de plantas, manejo de solo, irrigação, manejo da

Petrolina, PEDezembro, 2008

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ISSN 1808-9976

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Autor

Joston Simão de AssisEngo, Agro, D.Sc., Pesquisa-

dor Embrapa Semi-Árido.E-mail:

[email protected]

Maria Auxiliadora Coêlho deLima

Engo, Agro, D.Sc., Pesquisa-dora Embrapa Semi-Árido.

E-mail:[email protected]

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parte aérea, proteção integrada da planta, colheita epós-colheita, análise de resíduos, processos deempacotadoras, sistemas de rastreabilidade e cadernosde campo e de pós-colheita, assistência técnica e mão-de-obra.

Para cada área temática, foram definidos técnicas eprocedimentos obrigatórios, recomendados, permitidoscom restrição e proibidos. O cumprimento dos itensobrigatórios e a não realização de nenhuma prática ouprocedimento proibido habilitam o produtor ao selo deconformidade do sistema. Adicionalmente, procedi-mentos permitidos com restrição, somente poderão serrealizados em situações eventuais e justificadas. Porsua vez, procedimentos ou práticas recomendadosdiferenciam o produtor que acrescenta elementos maisespecializados ao seu sistema de cultivo.

A partir da publicação das normas, contidas na Instru-ção Normativa nº 12 do Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento, de 18 de setembro de2003, a Embrapa Semi-Árido vem realizando reuniõese treinamentos de produtores e técnicos encarregadosda PI-Manga nas unidades de produção, bem como dosauditores que verificarão o cumprimento dessasnormas em cada propriedade que aderiu ao sistema.

Inicialmente, o trabalho para o desenvolvimento da PI-Manga considerou a normatização das etapas deimplantação e condução da cultura. Em fase posterior,foram incorporados os elementos e requisitos decolheita e pós-colheita que garantem a produção segura.Neste trabalho, serão apresentados e discutidos osprocedimentos de manejo da manga a partir da colheita,de acordo com as normas estabelecidas pela PI-Manga.

Critérios para a Colheita

Um dos principais preceitos da PI é produzir frutas dealta qualidade, o que representa excelente aparência(cor, tamanho, formato, isenção de defeitos oupresença em proporção limitada), sabor e aromatípicos do produto, textura adequada às operações decomercialização e distribuição, além da ausência decontaminantes químicos e microbiológicos ou agentesfísicos de risco à saúde do consumidor.

Desta forma, as operações e procedimentosrelacionados à colheita e pós-colheita da mangadevem ser orientados na preservação da qualidade,possibilitando o manuseio e o acondicionamento ideaispara a fruta.

Ponto de ColheitaO ponto de colheita da manga pode ser determinadocom base em indicadores físicos ou químicos (ALVESet al., 2002) e deve ser estabelecido conforme a

variedade e o mercado a que se destina, fazendo-seuma amostragem representativa da área a ser colhidae utilizando diferentes métodos de detecção.

Indicadores físicos: são constituídos, em sua maioria,por características relacionadas à forma, aspecto e corda fruta, que podem ser percebidas visualmente, comou sem o emprego de métodos destrutivos. Paramanga, os indicadores físicos usados são aqueles queapresentam variações características durante amaturação. Os principais, segundo Alves et al. (2002),são:· Cor e aspecto da casca: verifica-se perda dacerosidade da casca e mudança na pigmentação, queadquire coloração verde-clara brilhante, na maioriadas variedades;· Aspecto das lenticelas: apresentam cor branca e setornam mais fechadas e visíveis;· Forma do ápice: torna-se menos agudo e maisarredondado;· Conformação do ombro: na fruta madura, a regiãosuperior da fruta forma um ângulo agudo com opedúnculo.

Em algumas variedades, também é possível severificar a formação de uma estrutura maispontiaguda (�bico�) no ápice da fruta.

Além das diferenças entre variedades, é importantemencionar também que fatores externos (clima, porexemplo) ou relativos ao manejo (arquitetura da planta,densidade foliar, entre outros) podem interferir nestesindicadores físicos, dificultando a precisa definição dacolheita por parte do trabalhador rural. Podem ocorrersituações, por exemplo, em que frutas da mesmavariedade, apresentando formato e enchimento doombro diferentes, tenham concluído o amadurecimento(Fig. 1).

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Fig. 1. Frutas da variedade Tommy Atkins maduras apresentandodiferentes conformações do ombro.

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Se a observação do aspecto externo não for suficientepara a definição segura do ponto de colheita, pode-seavaliar as mudanças na cor da polpa (DONADIO,2005). Para tanto, é necessário fazer um cortelongitudinal, em frutas amostradas da parcela, demodo a expor levemente a superfície do caroço. Combase na cor apresentada, as frutas são identificadasem cinco estádios de maturação:

Estádio 1 - a polpa apresenta a cor creme, um poucomais escuro próximo ao caroço;

Estádio 2 - na região próxima ao caroço, predomina acoloração amarela;

Estádio 3 - na região próxima ao caroço, predomina acoloração amarela mais intensa;

Estádio 4 - na região próxima ao caroço, predomina acoloração alaranjada;

Estádio 5 - toda a extensão da polpa apresenta acoloração alaranjada.

De maneira semelhante, escalas de cores da cascaforam propostas para diferentes variedades de manga,sendo algumas usadas comercialmente por empresasprodutoras e exportadoras de diferentes países, comoEMEX (1998) e GTZ (1992).

Na fig. 2, encontram-se os cinco estádios dematuração da manga �Tommy Atkins� em função dacor da casca e da cor da polpa.

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Fig. 2. Escala de maturação da manga �Tommy Atkins� segundo acoloração da casca (A) e da polpa (B).

Devido à interferência de fatores ambientais enutricionais no desenvolvimento da cor da polpa e dacasca das mangas, recomenda-se que grupos de produ-tores adaptem sua própria escala de cores, com base naassociação com outros indicadores de colheita.

Outro importante e útil indicador físico do ponto decolheita da manga é a firmeza da polpa. Porém, assimcomo a cor da polpa, é um método destrutivo querequer a realização de amostragens nos lotes colhidosou a serem colhidos. Ademais, apresenta limitaçõespara sua determinação porque os penetrômetrosmanuais utilizados para este fim não são projetadospara efetuar medidas superiores a 13 kgf, utilizando-se as ponteiras de 8 mm que acompanham oequipamento. Medidas superiores àquele valor sãocomumente observadas em mangas nos estádios 1 e 2de maturação.

Indicadores químicos: de forma geral, durante amaturação da manga há um aumento do teor de sólidossolúveis e diminuição do teor de ácidos orgânicos.Desta forma, à medida que avança a maturação ocorreaumento dos teores de sólidos solúveis e redução daacidez titulável. Por este motivo, ambos podem serusados para acompanhamento da maturação da mangae determinação do ponto de colheita. Neste caso,recomenda-se que a colheita para consumo mais rápidoseja realizada quando a manga Tommy Atkinsapresentar teor de sólidos solúveis de 10oBrix e para oarmazenamento ou para comercialização paramercados distantes, 7oBrix. O procedimento para essadeterminação é simples mas requer o uso de umequipamento, denominado refratômetro, que deve estarcalibrado ou aferido adequadamente no momento daleitura. Por sua vez, a acidez titulável não é um métodotão efetivo quanto o teor de sólidos solúveis para aindicação da colheita da manga porque, logo após oclimatério, a redução do conteúdo de ácidos orgânicos

é muito rápida, sendo difícil caracterizardiferenças claras entre os últimos estádios dematuração.

ColheitaO grau de maturação no momento dacolheita deve ser tal que: permita a continua-ção do amadurecimento até que se desenvol-vam todas as características corresponden-tes à variedade da manga; a fruta suporte otransporte e manuseio, e chegue em condi-ção satisfatória ao destino (ALVES et al.,2002). Desta forma, a identificação do pontode colheita deve ser o mais criteriosa esegura possível, garantindo a oferta de frutascom características adequadas para oacondicionamento, transporte, distribuição econsumo.

Erros no momento da colheita não são passíveis decorreção e podem comprometer a viabilidade daatividade agrícola. No caso da manga, muitos desseserros estão associados à colheita precoce das frutas.Como resultado, as frutas, colhidas em maturação 1(Fig. 2) ou imaturas, não amadurecem ou o fazem deforma irregular quando submetidas a resfriamento sobtemperaturas inferiores a 10ºC ou a tratamentos sob

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altas temperaturas. Esses frutos são mais sensíveis avariações de temperatura e à perda de água portranspiração. No caso particular da aplicação detratamento hidrotérmico em mangas colhidas imaturas,são observados sintomas de queima da casca e depres-são (afundamento) do tecido na região próxima aopedúnculo (Fig. 3 A e B). Em adição, verifica-se maiorsuscetibilidade à deterioração. A expressão dasdeficiências no amadurecimento da manga colhidaprematuramente manifesta-se na cor, na firmeza, noconteúdo de açúcares, na acidez, entre outros.

Em situação oposta, quando a colheita é tardia, a vidaútil da fruta é reduzida e ela se torna mais sensível adanos mecânicos e ao ataque de microrganismos(ALVES et al., 2002).

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Fig. 3. Danos causados por frio (A) e pelo tratamentohidrotérmico (B) em manga imatura.

Procedimentos na ColheitaDe acordo com as Normas Técnicas para a PI-Manga(LOPES et al., 2003), Instrução Normativa nº 12 doMinistério da Agricultura Pecuária e Abastecimento,publicada em 18 de setembro de 2003, é obrigatóriocolher a manga em ponto de colheita adequado,manualmente, com o auxílio de um instrumentocortante, colocando as frutas com cuidado nas caixasde coleta, evitando que entrem em contato com o soloe mantendo-as protegidas da radiação solar direta.

Para o atendimento às Normas Técnicas da PI-Manga, éobrigatório que as frutas sejam colhidas manualmente,utilizando-se tesouras apropriadas e sanificadas, e quesejam utilizados recipientes (caixas plásticas) limpos eem bom estado de conservação. Para as frutas localiza-das na parte mais alta da planta, a colheita deve serfeita com o auxílio de uma vara de colheita, contendocesta de pano para evitar danos por queda.

É recomendado distribuir as caixas de colheita ao longoda linha de plantio, sob a copa das árvores, evitando ocontato direto com o solo. É proibido depositar restosculturais dentro dos recipientes de colheita.

Nessas caixas, as frutas serão acondicionadas, obriga-toriamente, com cuidado, para evitar choques ouabrasões, em número de camadas adequado e que nãoultrapasse a alça da caixa de colheita tendo seuspedúnculos cortado com o tamanho suficiente (pelomenos 1 cm) para evitar o vazamento do látex.

A higienização (limpeza e desinfecção) de equipamen-tos e utensílios de colheita, tais como luvas, tesouras ecaixas, é recomendada. Segundo Pereira et al. (2006),entende-se por limpeza a remoção de sujidades grossei-ras, tais como terra e resíduos de alimentos, e podeser realizada somente com água ou adicionando-se àmesma um detergente. Apenas a limpeza não é capazde reduzir, a índices aceitáveis, agentes contaminantescausadores de doenças. Somente a desinfecção pormeio de um agente sanificante é capaz de reduzir acarga microbiana a um ponto que não comprometa asegurança do alimento.

Para a desinfecção de utensíliosusados na colheita e em pós-colheita, pode-se utilizar solu-ções de hipoclorito de sódio ouhipoclorito de cálcio contendo50 a 200 ppm de cloro ativo, ouseja uma solução com 50 a200mg de hipoclorito de cálciopara cada litro de água.

No entanto, é preciso salientar o efeito corrosivodessas soluções sobre metais, caso o pH esteja muitobaixo, a irritação que podem causar aos olhos e apossibilidade de formação de substâncias cancerígenas(os trihalometanos � THMs), quando reagem commatéria orgânica em decomposição (PEREIRA et al.,2006).

Recomenda-se, ainda, que as frutas manchadas comlátex sejam enviadas para o galpão de embalagem emrecipientes separados e identificados, para não danifi-carem, por queima de contato, as frutas limpas.

As frutas colhidas devem ser mantidas à sombra até otransporte para o galpão de embalagem.

Transporte para o Galpão de EmbalagemAntes de transportados para o local de embalagem(empacotadora), é obrigatória a identificação dosrecipientes de colheita, que pode ser feita com umaetiqueta contendo as seguintes informações (Fig. 4):

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5 Produção Integrada de Manga: Manejo Pós-Colheita e Rastreabilidade

Fig. 5. Frutos que devem ser descartados por se apresentarem deformados (A), com depressão do pedúnculo (B)ou com danos causados por antracnose (C), queimadura por látex (D), ácaros (E), lenticelas vermelhas (F),queimadura pelo sol (G) e podridão peduncular (H).

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No local onde é realizada a seleção, deve haverintensidade de luz superior à dos outros locais, porémsem riscos de ofuscar ou causar cansaço visual nosselecionadores que precisam ver todas as faces dafruta. Para isso, a velocidade da esteira deve ser de 3m/min e a largura deve ser tal que alcancem além dasua metade. Os selecionadores devem estarposicionados comodamente, para que sua atenção nãoseja desviada, e devem ser bem treinados com relaçãoaos critérios e padrões de qualidade exigidos (ALVESet al., 2002).

Uma vez selecionadas, as mangas são submetidas àclassificação por peso. A este critério declassificação, pode-se associar, ainda, para asvariedades exportadas para o mercado americano, apercentagem de área vermelha na casca. A partirdestes critérios, são observados os limites detolerância para os defeitos leves em cada caixaembalada, definidos pelos mercados de destino dafruta.

É proibido classificar, na mesma linha, mangas de PIjuntamente com outras de outros sistemas deprodução.

Tratamentos FitossanitáriosSomente podem ser aplicados tratamentos físicos,químicos ou biológicos tecnicamente recomendados

para a manga e em atendimento às exigênciasquarentenárias de determinados mercados.

Tratamento hidrotérmico para controle deantracnoseEste tratamento é recomendado quando a pressão deataque de antracnose estiver alta na zona deprodução. Consiste da imersão das frutas em águaaquecida a 55ºC, durante 5 minutos. Pode-seadicionar um fungicida à água deste tratamento desdeque o mesmo seja recomendado para a aplicação pós-colheita em manga, observando-se o período decarência e por meio de justificativa técnica.

Tratamento hidrotérmico para controle demoscas-das-frutas (tratamentoquarentenário)Este tratamento é obrigatório para a manga destinadaaos Estados Unidos, ao Japão e ao Chile. Consiste naimersão do fruto em água quente (a 46,1ºC) durante75 minutos, para aquelas com peso inferior a 425gramas, ou 90 minutos, para aquelas com peso acimade 425 gramas. Para a aplicação deste tratamento, éimportante que a temperatura da polpa antes daaplicação esteja próxima a 21ºC, nunca inferior, casocontrário poderá provocar efeitos negativos sobre aqualidade. O controle do tempo de imersão dos frutosneste tratamento deve ser rigoroso a fim de evitar

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danos à fruta, os quais podem ser superficiais mastambém podem atingir a polpa e afetar a fisiologia dafruta.

Após este tratamento, as mangas devem ser levadaspara uma área protegida contra a entrada de qualquerinseto, principalmente moscas-das-frutas. Esta área,chamada �zona limpa�, deve ser delimitada com telasde 30 mesh. As condições exigidas para estetratamento foram estabelecidas pelo Departamento deAgricultura do Governo dos Estados Unidos (ESTADOSUNIDOS, 2007).

Aplicação de CeraA aplicação de cera é um tratamento recomendadocom a finalidade de repor a cera natural retirada com alavagem e com o tratamento hidrotérmico, conferirbrilho e proteger a fruta do excesso de perda de água,decorrente da transpiração. As ceras utilizadas sãogeralmente emulsões aquosas à base de cera decarnaúba e algumas vezes podem servir de meio para aaplicação de fungicidas. Neste caso, devem serobservados os mesmos requisitos de registro, obediên-cia ao período de carência e justificativa técnicaapontados quando nos referimos à associação detratamentos hidrotérmicos com a aplicação defungicidas.

EmbalagemO uso de embalagens paletizáveis, resistentes aotransporte e ao armazenamento é obrigatório. Ascaixas para embalagem da manga devem permitir aboa ventilação e a exposição fácil do produto; ser deboa qualidade e não provocar danos aos frutos; possuirdimensões padrões para o mercado internacional (350mm x 285 mm x 105 mm, com capacidade para 4,2kg de frutos); possuir nas partes externas espaços paraidentificação do produto e outras informações, confor-me regras de rotulagem e de rastreabilidade (ProduçãoIntegrada, variedade, peso, produtor, lote, parcela eexportador). A tinta utilizada na impressão das caixasdeve ser de material atóxico.

Uma embalagem deve conter apenas frutos da mesmavariedade, homogêneos quanto a qualidade e tama-nhos.

É proibido embalar e/ou resfriar frutas produzidas nosistema de PI-Manga junto com outras produzidas soboutros sistemas.

PaletizaçãoA disposição de caixas em paletes facilita o manuseioda carga e o carregamento do produto (FREITAS et al.,2005). Na PI-Manga, é obrigatório realizar apaletização das embalagens de acordo com os critériosdo mercado, formando paletes rígidos, mantendo oempilhamento com doze caixas na base e vinte naaltura, de modo a conter adequadamente no interior

dos contêineres. Para manter a rigidez do palete, érecomendado colocar cantoneiras e efetuar a amarra-ção com fitas de arqueação.

Pré-resfriamentoÉ obrigatório realizar o pré-resfriamento ouresfriamento rápido de mangas destinadas à exporta-ção ou ao armazenamento, com a finalidade de reduzirrapidamente a temperatura da fruta e permitir maiorvida útil em armazenamento ou transporte. O tempode pré-resfriamento de um palete de mangas com arforçado não deve ser inferior a 4 horas, mantendo-se aumidade do ar entre 85 e 95% e a temperatura nafaixa ideal para a variedade específica que está sendoresfriada.

É recomendado verificar e aferir os instrumentosutilizados no monitoramento da temperatura e daumidade do ar durante o pré-resfriamento.

ArmazenamentoApós o pré-resfriamento, é obrigatório armazenar ospaletes em câmara fria com temperatura e umidaderelativa adequadas (9 a 10oC e 90%, respectivamente)para garantir a boa conservação das mangas até ahora do embarque. Dada a importância das condiçõesde armazenamento para a qualidade e a vida útil dafruta, é recomendado monitorar a temperatura e aumidade relativa da câmara por meio de instrumentosdevidamente aferidos, cujas medidas sejam confiáveis.

É permitido, com restrições, armazenar mangas de PIcom outras produzidas em outros sistemas desde quedevidamente identificadas e separadas espacialmentenas câmaras frias, assegurando procedimentos paraevitar risco de contaminação.

O carregamento dos contêineres que transportarão acarga para as unidades de embarque deve ser feito deforma rápida e em local construído adequadamentepara este fim, de modo a garantir a manutenção dacadeia de frio.

Para avaliação da qualidade da manga que está sendotransportada, deve-se reservar amostras de caixasembaladas, representativas de cada parcela. Essasamostras serão mantidas em câmara fria até o mo-mento em que os paletes dos lotes que representamsejam expedidos. Nesta ocasião, serão transferidaspara temperatura ambiente, em local higiênico ereservado para avaliação da qualidade, onde serãomantidas até que todas as frutas amadureçam, simu-lando as características que apresentarão quandochegarem ao mercado distribuidor.

Expedição, Transporte e LogísticaA expedição da mercadoria também é registrada(PEREIRA et al., 2006). Faz-se anotações do númerodo palete ou lote, data da expedição, data da embala-

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gem, tipo de embalagem, peso, tipo de transporteutilizado e mercado de destino.

É procedimento obrigatório monitorar a temperatura ea umidade relativa do ar durante o carregamento etrânsito do contêiner, efetuando e mantendo osregistros de expedição e do destino de cada lote demodo a garantir a rastreabilidade.

É recomendado sempre aferir os instrumentos esensores utilizados no monitoramento dos dadosdeterminados para o carregamento e transporte.

SanificaçãoA limpeza e a sanificação de todas as instalações daempacotadora, como câmaras frias, túneis de pré-resfriamento, máquinas e equipamentos de manipula-ção e transporte de frutas, é um procedimento obriga-tório que deve ser realizado periodicamente de acordocom o cronograma estabelecido nos procedimentosoperacionais definidos pela empacotadora. É recomen-dado que esses procedimentos sigam práticas adotadasquando se implanta o sistema APPCC, garantindo ainocuidade das frutas processadas.

Rastreabilidade

É obrigatório instituir um sistema que permita arastreabilidade da manga desde sua origem até aexpedição na empacotadora.

Um sistema de rastreabilidade pode fornecer uma amplainformação sobre todos os passos ao longo da cadeia deprodução e pós-colheita. Isto permite tanto a produto-res, importadores, distribuidores, consumidores quanto aadministradores, por um lado, localizar um produto oulote de produtos em mau estado e poder eliminá-lo dacadeia de produção e, por outro lado, delimitar asresponsabilidades por uma má atuação ao longo doprocesso de produção e distribuição (FIDALGO, 2004).

Contar com um sistema de rastreabilidade não sósignifica cumprir com a normativa da PI, segundo aqual todas as etapas do sistema de produção devemser, obrigatoriamente, registradas em Cadernos deCampo e Cadernos de Pós-colheita, mas tambémadiciona, sem dúvidas, outras vantagens que podemser resumidas nos seguintes pontos:

· Áreas de produção identificadas e georeferenciadas;

· Insumos devidamente identificados;

· Estoques dos insumos controlados;

· Processos de produção descritos e controlados;

· Processos de produção otimizados;

· Coordenação e colaboração com os distribuidores;

· Localização imediata dos lotes ante um possívelproblema e;

· Diminuição de custos operacionais e produtivos.

Para garantir a rastreabilidade da manga, é necessáriodispor de um sistema de acompanhamento e registrobem implantado ao longo de toda a cadeia, que sejacapaz de recolher de forma inequívoca e unívoca todaa informação associada ao produto em cada uma dasfases do processo de produção. Desta forma, um bomsistema de rastreabilidade necessita dispor dos seguin-tes elementos:

· O Manual de Rastreabilidade: documento no qual seinclui pelo menos os objetivos que se busca, a definiçãodas responsabilidades em toda a cadeia, a descriçãodetalhada do sistema de rastreabilidade, sua relaçãocom os sistemas de rastreabilidade dos clientes efornecedores;

· O sistema de difusão da informação ao longo dacadeia produtiva;

· O sistema de identificação e marcação utilizado;

· Descrição da informação relativa à rastreabilidadeque aparece sobre as etiquetas;

· Os procedimentos de localização de um produto esua retirada do mercado;

· Registros associados ao sistema.

Os sistemas de rastreabilidade não são sistemas rígidose previamente estabelecidos. São sistemas que cadaempresa, atendendo a suas particularidades e a seussistemas de produção, devem definir. As únicaspremissas que devem cumprir são que sejam unívocose inequívocos e que permitam recopilar a informaçãonecessária.

A rastreabilidade pode ser gerenciada com o empregode diferentes ferramentas, que podem ser manuais outecnológicas. As ferramentas manuais são poucotecnificadas e estão baseadas na tomada de registrosà mão e sobre tabelas em papel. Neste sistema, oproduto ou seus lotes são identificados através deetiquetas marcadas principalmente com códigosalfanuméricos. Este é, portanto, um sistema simplesque requer muita dedicação e atenção para poder serrealizado a contento.

As ferramentas tecnológicas são as que tendem a seras mais utilizadas atualmente e são constituídas por

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aplicativos ou softwares especialmente projetadospara a gestão da rastreabilidade em um tipo de centraldeterminada, como os sistemas de marcação e identifi-cação através de códigos de barra (Fig. 6).

Fig. 6. Códigos de barras e leitora.Fonte: (ASSIS, 2007, não paginado).

Sistemas como estes, implantados com os devidosassessórios, necessitam de uma automatização do siste-ma de identificação e marcação do produto, o que geral-mente implica em elevados investimentos necessáriaspara implementá-los na fazenda e na empacotadora.

Estas ferramentas ajudam e facilitam o sistema de ges-tão da empresa e, de uma forma mais concreta, seusistema de rastreabilidade, porém, não constituem por sisó nenhum sistema de rastreabilidade.

As Normas da PI-Manga recomendam instituir o siste-ma do código de barras e de etiquetas coloridas para aidentificação das diferentes parcelas de produção. Esteprocedimento assegura a rastreabilidade da unidade dedistribuição da fruta (caixa de embalagem ou mesmopalete) e mantém vínculo direto com os registros dosCadernos de Campo e de Pós-colheita, que representamas informações básicas e detalhadas do histórico detratamentos e práticas aplicadas às frutas, com o rigorde fidelidade e comprometimento dos técnicos que as-sumem a veracidade das informações que fornecem.

Auditoria de EmpacotadoraA adesão à PI-Manga implica em compromisso de per-mitir que uma empresa acreditada por órgãocertificador nacional, o INMETRO, proceda a auditoriana empacotadora desde a chegada da fruta, na recep-ção, até o armazenamento e a expedição.

Assistência Técnica e Mão-de-ObraÉ obrigatório que a mão-de-obra que atua naempacotadora esteja formalmente treinada para exer-cer todas as atividades dentro dos requisitos das Nor-mas de PI-Manga. Para isto, é recomendado aosempacotadores promoverem cursos de capacitação,com instrutores especializados, em manejo pós-colheitade manga antes do início de cada safra.

Ainda, o responsável técnico pela empacotadora preci-sa ser credenciado pelo Conselho Regional de Engenha-ria, Arquitetura e Agronomia (CREA).

Considerações Finais

Originalmente, a PI é uma ferramenta de diferenciaçãono mercado, que permite o acesso a consumidores comníveis de exigência maiores, os quais incorporam aoproduto, além dos requisitos de qualidade, outroscomponentes de produção, que vão desde a garantia doemprego de práticas de reduzido impacto ao meioambiente até a responsabilidade social para com ostrabalhadores inseridos no sistema produtivo. Apesardesta preocupação ser mais evidente nos consumidoresdos países desenvolvidos, a segurança do alimentoproduzido e oferecido ao mercado tem sidocompromisso de um número cada vez maior deprodutores que necessitam se manter competitivos.Essa evolução tem levado à crescenteprofissionalização do setor produtivo que buscaestratégias de gestão eficazes como requisito para suapermanência no mercado.

A PI, sendo uma normativa oficial do Governo Brasileiro,visa incrementar o negócio agrícola de produtos de altoalcance mercadológico, como a manga, ou com reco-nhecido potencial para isso. Desde o início da sua im-plantação, em 2000, a PI-Manga conta com um progra-ma de treinamento continuado dos profissionais que atu-am na produção e pós-colheita, disseminando os princípi-os do sistema e atualizando conceitos, numa perspecti-va de evolução. Estas ações têm habilitado os produto-res e empacotadoras à certificação para diferentesnormativas já que a PI contempla requerimentosadotados por outros sistemas internacionais, mesmoque vinculados à iniciativa privada.

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