PRODUÇÃO DE TEXTOS [até 13 fevereiro de 2017] História · PDF...

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  • PRODUO DE TEXTOS [at 13 fevereiro de 2017]

    3. ciclo (7. a 9. anos): texto Carta de amor de um palhao apaixonado (sugesto de leitura

    Histria dum Palhao), com o mximo de 1 folha A4 datilografada (frente e verso);

    Histria de um palhao (A vida e o dirio de K. Maurcio) foi publicado em 1896.

    Posteriormente, em 1926, esta histria foi novamente publicada no livro A Morte do Palhao e

    o Mistrio da rvore.

  • Opinies e sinopses

    https://www.luso-livros.net/Livro/morte-palhaco/

    *****

    Tudo comea na casa de hspedes da D. Felicidade, onde se albergam, alm do Pita,

    um doido, um anarquista, o Gregrio, chefe de repartio reformado, a velha e o Palhao.

    Curiosa amlgama de personagens em fim de vida das quais saliento o Pita, um homem sem

    estudos, de muitas artimanhas, mas que sabia alinhavar boas dissertaes que lhe defendiam

    as suas convices. De consistncia argumentativa nas opinies e de conselhos bem

    alicerados, que dava, sempre a pedido. Pita um filsofo, licenciado pela vida. ()

  • A Morte do Palhao a histria de um amor trgico, como muitos outros, que deram

    vida a tantas obras famosas. () Mas no tem um palhao, mesmo feio e hediondo, direito a

    amar? Como podia ele travar esse seu amor puro pela bela Camlia, trapezista do circo, amor

    que mantinha secreto, pelo medo de expor-se ao ridculo, chacota? Morreria de vergonha.

    K. Maurcio, o palhao, tem, neste seu amor um rival, Ldio, tambm trapezista, amante

    de Camlia. Camlia, que at ao fim da histria ignora, por completo, o amor idoltrico que

    nutre ao pobre palhao.

    Um dia, o palhao percebe que a mulher que ama, que julgava fazer rir com as suas

    interpretaes profissionais, () afinal, () ria das suas lgrimas, dos seus sentimentos, qui

    da sua fealdade. esta perceo, que o deixa desnorteado e o faz confidenciar este seu amor

    secreto ao Pita, a quem muitos recorrem para um conselho, pelo bom ombro que este sempre

    se revela. Pita faz o impensvel. Ao concluir que no h a menor hiptese de sucesso para este

    amor puro de K. Maurcio, o Palhao, e, depois de lhe tentar tirar esse amor da mente com as

    mais variadas artimanhas filosficas, resolve, por em toda a sua sapincia no encontrar outra

    sada e, em desespero de causa, aconselha-o a morrer por esse amor, mas que o declarasse

    antes de morrer.

    Seria uma morte honrosa, por contraposio com a desiluso angustiante que consumia

    a alma do pobre Palhao, e lhe corroa a carne e lhe colava a pele aos ossos. Seria um fim digno

    e pico para o seu amor impossvel, como aqueles que costumam acontecer na vida real ou,

    mesmo, na mais digna fico. Seria o momento de glria do grotesco palhao. Pita chega,

    mesmo, a prometer-lhe um reencontro com a amada na outra vida, dimenso em que s os

    sentimentos e o amor contassem. A, teria a possibilidade de viver o amor que a sua fealdade

    fsica, enquanto ser vivo, lho impedia. ()

    O Palhao segue-lhe o conselho, sabendo ns, pelo autor, que o Pita no digeriu bem

    este conselho dado em momento de exaltao, num momento de exacerbamento sentimental.

    Uma noite, numa atuao de Ldio no trapzio, percebem Camlia e os artistas do palco

    circense, que a corda do trapzio est cortada e, por fios, prestes ao fatal desenlace, a morte

    do trapezista, que no tem rede. O horror invade todos os que assistem na arena do circo. O

    trapezista no ousa fazer qualquer movimento aterrorizado com os fios que o separam de uma

    queda mortal no solo. Quem ter cortado a corda do trapzio? Quem ter sido? questionam-

    se os que tm a noo do que sucede. , ento, que o Palhao se dirige a Camlia e exclama:

    Amar ou morrer? Amar ou morrer?

    Camlia, primeiro sem perceber, e depois de uma fulminante perceo do que,

    realmente, se passa, a leva a exclamar, sem hesitao e em ansiosa splica:

    Amar, amar!

    O Palhao sobe lesto ao trapzio, ajudando Ldio, e faz do seu corpo de palhao

    grotesco, mas gil, qual ponte para a vida, deixando Ldio para a sua Camlia. Depois.. Deixa-se

    cair. ()

    Texto (com supresses) de Amilcar Correia, bibliotecrio responsvel pela Biblioteca Municipal do

    Entroncamento

    http://www.mediotejo.net/passe-pela-biblioteca-a-morte-do-palhaco-de-raul-brandao/

    http://www.mediotejo.net/passe-pela-biblioteca-a-morte-do-palhaco-de-raul-brandao/

  • A Morte do Palhao

    I

    A CASA DE HSPEDES

    Singular ligao a destes tipos que o acaso reunia naquela casa de hspedes da D.

    Felicidade: um doido, um anarquista, o Pita, a patroa, o Gregrio, () uma velha () e essa

    figura amarga, o Palhao ().

    Acontecia que mesa, depois do jantar, na obscuridade que o Pita amava, ficavam de

    conversa. A princpio o Palhao no falava... Quase sempre fugia para o quarto. Mas de uma

    vez, que se falara de amor, escutara e discutira da ficaram com o hbito de se exasperarem

    com conversas, que o Pita tingia de sonho...

    Das suas conversas com ele, o Palhao saa sempre com a cabea cheia de fantasia e

    com um sabor amargo vida, () o crebro em lume, ia pelo bairro pobre e desdentado,

    procurando ver materializado o rasto de que ele lhe falara, como um manto que cada um

    arrastasse, invisvel e tecido a ideias e a sofrimentos...()

    O homem material pensava o Palhao no existe. A vida uma conveno. O

    que existe sonho, o sonho a nica realidade. Sonhar! Sonhar!... ()

    Vivia num ambiente falso e fora da realidade. De tanto sonhar no podia seno sonhar.

    ()

    III

    CAMLIA

    Que se sabia da vida do Palhao? Apenas terminado o trabalho, desaparecia, e toda a

    noite ou todo o dia o passava no covil da casa de hspedes, a tecer ideias e a sonhar... () Em

    vez de ser um grande ator que interpretasse, de uma maneira nica, a misria, a morte e o

    amor, era apenas um pobre palhao de circo...

    Foi nesta ocasio que apareceram no circo Camlia e Ldio. Vinham juntos, juntos

    percorriam o mundo, vivendo uma vida livre, de amor e perigo. Raro falavam com os outros

    artistas, e em torno deles se formara uma lenda. Eram talvez filhos de prncipes, fugidos para

    se poderem amar, ou criminosos, com um passado de remorsos e dor... Com eles andava

    sempre um grotesco clown, que nem sei bem como se chamava. ()

    O circo era enorme e todas as noites a Cidade esguichava para ali a multido, vida de

    perigos alheios, e, entre leques de gs a assobiar, tenho ainda no crebro a viso do pblico,

    de olhares fixos no prato da arena toda branca... O riso soprava por vezes como uma ventania

    furiosa.

    Ps-se o Palhao a amar Camlia. Ldio e Camlia e ele eram os artistas que a multido

    aplaudia. ()

  • IV

    SONHO E REALIDADE

    Ps-se a amar Camlia, mas nunca o disse a ningum, porque morreriam a rir do

    Palhao, torto e to desajeitado!... ()

    Era certo: Camlia no o podia amar, e nem ele se atrevera a dizer-lhe a sua paixo.

    Antes queria viver arredando a realidade sempre m e brutal. Sonhar ainda, sonhar sempre,

    mais valia que ouvi-la rir-se, despedaar com o escrnio o seu amor. Tinha ento, nas noites

    de circo, quando clamava, ao mesmo tempo que Camlia galopava no corcel negro,

    confisses que se arrependiam, olhares que exprimiam a paixo, para logo se transformarem,

    sem se atreverem a ir at ao fim, em hilaridades. As suas palavras ardiam por vezes, para de

    sbito carem como bexigas a estourar. Os seus gestos comeavam num frenesi a contar o

    que sofria, para acabarem por se torcer em epilepsias de cmico; e a sua boca ia num esgar

    a vociferar, arrebatado, doido, a narrao da dor, e terminava numa gargalhada estrondosa

    de palhao. O orgulho no o deixava. Se ia a confessar-se, uma voz lhe pregava na alma:

    Olha que ela vai rir-se de ti! Pois tu no vs como s desprezivo e cmico, Palhao! Olha que

    ela vai fazer escrnio do teu amor, da tua paixo, das tuas noites febris!... ( )

    No covil do quarto vivia desesperado. noite no circo, parecia desvairado e a multido

    dera em o aplaudir nas suas farsas, em escancarar a boca de riso. Nunca outro palhao fora

    grotesco como ele na comdia do amor, que todas as noites representava, juntando-lhe de

    cada vez mais um pormenor, sempre velha, sempre viva e cheia de interesse... Quando

    Camlia aparecia sobre o corcel negro, linda e frgil, leve na gaze glauca como se fosse

    desaparecer, avanava todo torcido, a babujar-lhe tmidas palavras, dizendo-lhe a sua paixo

    de uma forma to pcara que o riso caa como uma montanha que desaba. At Camlia ria

    e fugia num turbilho, levada pelo cavalo negro a galope, enquanto o bobo caa

    despedaado pela dor, com desesperos to bem fingidos e lgrimas to cmicas que a

    multido aplaudia com delrio. s vezes as suas palavras eram dolorosas, as suas frases

    afligiam, mas ela ria tambm e ento o Palhao exagerava tudo e dava uma cambalhota,

    com medo que passasse a escarnec-lo, depois de ter gargalhado da farsa...

    Um dia, fora do circo, ia talvez falar-lhe a srio da sua paixo mas ficou

    empedernido. Nem sequer um gesto... E ela passou e olhou-o com a soberana insolncia da

    juventude... ()

    Ento o Pita lhe disse com certeza absoluta:

    Voc ama.

    E ele confessou a tremer:

    Amo. ()

    Amo-a de uma maneira extraordinria, amo-a como quem se despede da vida.

    Mas ento diz-lho...

    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Nota: Este poder ser o mote para a elaborao da carta, no entanto, o palha