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PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I – Noções Gerais e Volume II – Modelos de Restauração Consultora Andréia Caroline Furtado Damasceno Mestre em Conservação de Ecossistemas Engenheira Florestal Contrato IICA N° 110137 Salvador Maio / 2011

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PRODUTO 3

Manual sobre Restauração de Matas Ciliares

Volume I – Noções Gerais e Volume II – Modelos de Restauração

Consultora Andréia Caroline Furtado Damasceno

Mestre em Conservação de Ecossistemas Engenheira Florestal

Contrato IICA N° 110137

Salvador Maio / 2011

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Apresentação

O presente trabalho apresenta a proposta técnica para

publicação de dois volumes da série de “Manual sobre Restauração de

Matas Ciliares”, sendo o primeiro volume sobre Noções Gerais e o

segundo sobre Modelos de Restauração.

Esta proposta é componente do Programa Estadual de Restauração

e Conservação das Matas Ciliares e Nascentes da Bahia – PERMAC. O

Programa foi instituído pela Resolução do Conselho Estadual de

Recursos Hídricos - CONERH No 50/09 visando promover a

conservação dos mananciais hídricos do Estado da Bahia e objetiva

estimular a restauração e conservação das matas ciliares e

nascentes, de forma a garantir água, em qualidade e quantidade, a

médio e longo prazos, à população baiana. O PERMAC é formado por

três eixos estratégicos estruturantes:

- Eixo 1. Restauração Florestal

- Eixo 2. Sustentabilidade da Restauração

- Eixo 3. Gestão do PERMAC

O eixo 1 da Restauração Florestal é composto por várias metas,

dentre elas estabelecer um plano de comunicação do PERMAC. E

dentro desse plano está previsto a elaboração de material didático:

Manual sobre Restauração e Conservação de Matas Ciliares e

Nascentes (10.000 unidades) como instrumento de capacitação,

contendo todas as etapas envolvidas na restauração florestal e

conservação de matas ciliares e nascentes.

Este manual será composto de uma série de volumes que

objetivam fornecer para sociedade informações e noções práticas

acerca da restauração de matas ciliares e nascentes nos biomas do

Estado da Bahia.

A série proposta é de sete volumes:

• Volume 1 - Restauração e Conservação de Matas Ciliares e

Nascentes. (Noções Gerais).

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• Volume 2 - Modelos de Restauração de Matas Ciliares e

Nascentes.

• Volume 3 – Sementes de espécies florestais nativas

(Colheita, beneficiamento e armazenagem).

• Volume 4 – Viveiros florestais (Instalação e manutenção de

viveiros para produção de espécies nativas).

• Volume 5 – Restauração e Conservação de Matas Ciliares e

Nascentes no Bioma Mata Atlântica.

• Volume 6 – Restauração e Conservação de Matas Ciliares e

Nascentes no Bioma Caatinga.

• Volume 7 – Restauração e Conservação de Matas Ciliares e

Nascentes no Bioma Cerrado.

O Volume 1 – Restauração e Conservação de Matas Ciliares

pretende abordar questões e noções gerais sobre a restauração e

conservação das matas ciliares, buscando informar as pessoas

(técnicos e sociedade) de uma maneira simples sobre a importância

das áreas de preservação permanente (APP) ao longo dos cursos

d’água e de suas nascentes, sobre a legislação ambiental ligada ao

tema e sobre noções conceituais de restauração florestal necessárias

para despertar um novo olhar sobre a restauração e conservação

dessas áreas, bem como diretrizes gerais para elaboração de um

projeto de restauração.

O Volume 2 - Modelos de Restauração de Matas Ciliares e

Nascentes busca fornecer informações que ativem um senso crítico

dos leitores dobre diagnóstico da área a ser restaurada e melhor

atitude a se tomar em cada situação específica. Mostrando que a

restauração florestal não é apenas um plantio de árvores e sim

almeja uma retomada de processos ecológicos responsáveis pela auto

sustentabilidade daquela área. Não simplesmente repassando

“receitas de bolo” e sim fazendo pensar sobre quais elementos e

fatores são necessários a serem manejados para que área pelo

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menos entre no processo de restauração.

Esses dois volumes foram elaborados numa linguagem simples e

direta, não são modelos técnicos científicos que pretendem esgotar o

assunto ou possuem a pretensão de se tornar um referencial

acadêmico, mas sim desmistificar e aproximar o público geral do

tema: restauração de matas ciliares e nascentes. Lembrando que

essa área da ciência denominada restauração florestal ou restauração

ecológica é uma área muito recente no mundo científico e muitos

projetos ainda estão sendo experimentados e muito ainda tem-se a

discutir, entender e concluir. Como por exemplo, nos biomas caatinga

e cerrado onde a dinâmica florestal dos ecossistemas que os formam

é praticamente desconhecida e a inferência sobre práticas adequadas

de restauração são ínfimas.

Mas, contudo sabemos da urgência de tomarmos iniciativas que

contribuam para reverte e minimizar o grau de degradação alarmante

de nossas matas ciliares e nascentes que estão ligadas a

disponibilidade e qualidade de água a população, nesse contexto

apresentamos o Manual sobre Restauração e Conservação de Matas

Ciliares e Nascentes a fim de disponibilizar e propagar informações e

despertar o senso crítico sobre o tema.

Os volumes não serão extensos, com poucas páginas, letras

grandes e muitas ilustrações no intuito de estimular sua leitura

completa e que não sejam cansativos para um público leigo ao tema.

Mas que indicarão caminhos e lugares onde possam se aprofundar na

questão de restauração de matas ciliares.

A sugestão é que os manuais sejam ilustrados com desenhos e de

preferência que utilizem a marca ou mascote do Programa Matas

Ciliares.

A seguir são apresentados os textos para compor o conteúdo dos

manuais, sendo que os mesmos foram construídos e aprimorados

com a participação da equipe da Coordenação Socioambiental e da

Coordenação de Matas Ciliares do INGÁ.

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Manual de Restauração deManual de Restauração deManual de Restauração deManual de Restauração deMatasMatasMatasMatas CiliaresCiliaresCiliaresCiliaresVolume 1- Noções Gerais

INGÁ – IICAMaio / 2011

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Conteúdo - Volume 1

• Apresentação

• Matas Ciliares

• Importância

• Legislação

• Restauração Florestal

• Biomas

• Projeto de Restauração

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Apresentação

A proposta desta série de Manuais sobre Restauração de Matas Ciliares

surgiu a partir da formulação e implementação do Programa Estadual de

Restauração e Conservação de Matas Ciliares e Nascentes – PERMAC do

Instituto de Gestão das Águas e Clima (INGÁ), autarquia da Secretaria do

Meio Ambiente do Estado da Bahia (SEMA).

O PERMAC é uma das iniciativas de integrar a gestão das águas e do meio

ambiente visando promover a conservação dos mananciais hídricos do Estado

da Bahia e objetiva estimular a restauração e conservação das matas

ciliares e nascentes, de forma a garantir água, em qualidade e quantidade, a

médio e longo prazos, à população baiana.

Com a percepção da real importância da conservação e restauração das

matas ciliares, diretamente ligada a qualidade da água e da vida da

população, uma nova demanda e anseio pela conservação desses ambientes

ciliares vêem se instalando na opinião popular.

Em resposta a esta mudança de paradigma sobre produção e conservação,

onde conservar deixa de ser um empecilho e assume um novo papel de

manutenção da produção atual e futura, fez necessário a disponibilização de

uma ferramenta acessível sobre restauração das matas ciliares e nascentes.

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• Matas Ciliares (a)

As matas Ciliares são florestas, ou outros tipos de cobertura vegetal

nativa, que ocorrem ao longo das margens dos cursos d’água e no entorno de

nascentes e reservatórios de água.

Independente de sua fisionomia, sua localização, sua composição

florística são denominadas de maneira geral como Matas Ciliares. Também

são conhecidas como mata de galeria, floresta ribeirinha, mata paludosa,

floresta de várzea, entre outras.

As florestas ocorrentes ao longo de cursos d’água e no entorno de

nascentes tem características vegetacionais definidas por uma interação

complexa de fatores dependentes das condições ambientais ciliares

(Rodrigues, 2001). O ambiente ribeirinho reflete as características

geológicas, geomorfológicas, climáticas, hidrológicas e hidrográficas, que

atuam como elementos definidores da paisagem e, portanto das condições

ecológicas locais ( Jacomine, 2001).

E possuem particularidades fisionômicas, florísticas e estruturais.

Apresentando diferentes adaptações que possibilitam a sobrevivência em

ambientes encharcados.

Ao longo de um rio é possível encontrar diferentes tipos de formações

florestais variando desde sua nascente, curso médio e até sua foz. Assim

como variam em cada ecossistema e bioma. Lembrando que na Bahia

encontramos três tipos de Bioma: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga

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• Matas Ciliares (b)

Termos como mata ou floresta ciliar, floresta ripária, mata ribeirinha e

mata de galeria têm sido amplamente empregados por todo o Brasil para

referir-se indistintamente às vegetações que acompanham cursos d’água

(rios, ribeirões, riachos, arroios, córregos ou igarapés) (RIBEIRO et al.

1999). Porém, muitos autores não concordam quanto a seus limites

conceituais.

Mueller (1996) define as matas ciliares como aquelas que correspondem

à vegetação que se forma naturalmente às margens dos rios e de outros

corpos d’água, mesmo em regiões de pluviosidade baixa e irregular nas quais

as condições de clima e solo não permitem o desenvolvimento de árvores nas

áreas mais distantes dos corpos d’água. Recebem esta denominação, pois, a

exemplo dos nossos cílios que protegem os olhos, estas possuem a função de

proteção dos mananciais hídricos, correspondendo a mata aos “cílios” e o rio

aos “olhos”.

Segundo Rodrigues (2001) as florestas ocorrentes ao longo de cursos

d’água e no entorno de nascentes tem características vegetacionais

definidas por uma interação complexa de fatores geológicos,

geomorfológicos, climáticos, hidrológicos e hidrográficos. Sendo que essas

áreas constituem um mosaico de condições ecológicas, cada qual com suas

particularidades fisionômicas, florísticas e/ou estruturais.

Rezende (1998), afirma que a mata ciliar pode ser denominada de mata

de galeria ou mata ripária. Esta denominação pode variar de acordo com sua

fisionomia que está, por sua vez, relacionada às condições de solo, clima e

relevo.

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Ribeiro et al. (1999) diferenciam mata ciliar de mata de galeria pela

composição florística e pela deciduidade. Uma mata ciliar apresenta

diferentes graus de caducifólia na estação seca, acompanhando as margens

dos rios de médio e grande porte, enquanto que a mata de galeria é

perenifólia, acompanhando os riachos de pequeno porte e córregos do

cerrado brasileiro.

O termo mata ciliar, em sentido estrito, tem sido utilizado para a

vegetação florestal que ocorre em rios de grande largura, onde a copa das

árvores de ambas as margens não se tocam, possibilitando a entrada direta

e a influência da luz sobre a vegetação mais próxima ao rio. Já nas matas de

galeria, as copas das árvores de ambas as margens se tocam, formando uma

galeria propriamente dita, como um dossel contínuo, gerando condições

ambientais, sobretudo luz e temperatura, diferenciadas para o corpo d’água

e para a vegetação das margens do rio (RIBEIRO, 1998).

A composição de espécies arbóreas a arbustivas apresentam enorme

variação de área para área o que torna muito diferente sua composição

florística, muitas espécies possuem adaptações morfológicas par ambientes

encharcados, adaptações reprodutivas, padrões sucessionais e vegetacionais

(LIMA & ZAKIA, 2006).

Embora hajam divergências quanto à sua adequada delimitação

conceitual, as matas ciliares, as florestas ripárias e as matas de galeria

podem ser consideradas uma variação sobre o mesmo tema, desempenhando

papel fundamental na manutenção do ciclo hidrológico nas bacias

hidrográficas.

O PERMAC adotou como conceito de matas ciliares, como sendo toda a

vegetação que se desenvolve às margens dos corpos d’água e de suas

nascentes, respeitando-se os limites definidos pelo Código Florestal,

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considerando os mais variados tipos vegetacionais que se formam em função

de uma série de fatores determinantes.

• Importância – Matas Ciliares (a)

• As matas ciliares possuem a função de proteção dos cursos d’água que

formam as Bacia Hidrográficas.

Qualidade

Regulação e Manutenção

dos Recursos Hídricos

Quantidade

E fornecem importantes serviços ambientais.

• Importância – Matas Ciliares (a)

As matas ciliares são de grande importância para qualidade das águas,

pois funcionam como verdadeiros filtros diminuindo o aporte de sedimentos

e retendo poluentes e produtos químicos que seriam levados diretos para os

cursos d’água.

Controlando a erosão e evitando o assoreamento dos rios com

carregamento de solo (areia, terra) para seu leito. Pois uma área desprovida

de mata ciliar perde muito mais solo, como por exemplo, se estiver coberta

por pastagem, situação comum em nossas paisagens, a perda de solo por

erosão chega a ser 100 vezes maior do que em uma área com mata ciliar

conservada. Portanto sem mata ciliar os rios se tornam assoreados e

contaminados, comprometendo seriamente a saúde do rio e da população.

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Além do aumento de gastos com o tratamento da água para o consumo

humano.

Importância – Matas Ciliares (a)

As Matas Ciliares promovem a infiltração da água no solo, através de seu

sistema radicular e a diminuição do escoamento superficial, contribuindo

para a recarga dos lençóis freáticos e conseqüentemente para a manutenção

da vazão do rio na época seca. Além disso, as matas ciliares protegem

importantes áreas de produção de água como as nascentes, que com sua

ausência os rios nem existiriam, pois são as nascentes que formam os

pequenos e grandes rios.

Importância – Matas Ciliares (a)

Conseqüências da degradação da mata ciliar

Infiltração água no

solo

� Arraste e deposição de

sedimentos

� Escoamento direto

Assoreamento

� Rios e reservatórios mais rasos

� Enchentes

� Tº C da água

Recarga lençol

freático

� Vazão período seco

Filtragem física e

biológica

� Poluição por agrotóxicos e

adubos – aumento valores

sólidos totais (diminuindo IQA)

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• Importância – Matas Ciliares (a)

• Corredor Ecológico para Fauna e Flora - conexão de fragmentos de

mata nativa, propícia o fluxo gênico – interação de indivíduos da

mesma espécie, mas de comunidades diferentes – evitando o

empobrecimento genético.

• Abrigo para Fauna e Controle de Pragas e Doenças – fornecem

recursos para sustentação e refúgio da fauna (em caso de incêndios e

em áreas agrícolas) e colaboraram na redução de pragas e doenças

nas áreas agrícolas por abrigarem espécies que predam insetos,

servindo como barreiras naturais.

• Ecossistema Aquático - controle da temperatura da água. As raízes

e galhos caídos na água criam habitats para abrigo e reprodução de

várias espécies. E fornecem frutos para a alimentação de animais

aquáticos.

• Fixação de Carbono – captam e fixam carbono quando em

crescimento e mobilizam carbono quando conservadas, melhorando a

qualidade do ar e diminuindo o efeito estufa.

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• Importância – Matas Ciliares (b)

A mata ciliar possui as seguintes funções:

� proteger as margens dos corpos d’água da ação erosiva e, ao mesmo

tempo proteger os mananciais (rios e reservatórios) contra a massa

de detritos e poluentes que, sem essas matas seriam carreados para

o corpo d’água;

� garantir a recarga dos lençóis freáticos pelas chuvas, pois a malha

formada pelas raízes da vegetação retém a água, reduzindo seu

escoamento superficial e, consequentemente o carreamento de

sedimentos e poluentes para o leito dos corpos d´água;

� contribuir para a conservação da biodiversidade, servir como

corredores naturais de habitat visando a conectividade e

favorecendo o fluxo gênico entre fragmentos de ecossistemas e a

dispersão da vida silvestre; como abrigo a fauna terrestre em

períodos de estiagem prolongada ou ocorrência de incêndios.

� regular a temperatura da água dos mananciais, reduzindo processos

de evaporação e favorecendo o ambiente adequado a espécies animais

e vegetais aquáticas.

� servir como barreira natural contra a disseminação de pragas e

doenças na agricultura.

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• Importância – Matas Ciliares (b)

As florestas ciliares são importantes na proteção e conservação de

mananciais hídricos como resultante de duas ações:

• Mecânica, servindo de obstáculo físico aos agentes poluidores;

• Absorção e infiltração, interferindo nos agentes poluidores de maneira

indireta pela influência no ciclo hidrológico, como filtro de água.

No que diz respeito à disponibilidade hídrica as matas ciliares interferem

diretamente na manutenção da:

• Quantidade da água: favorecem a infiltração de água no solo e

recarga do lençol freático, variável com localidade, estágio da

vegetação e sazonalidade.

• Qualidade da água: filtragem física e biológica de sedimentos e

produtos químicos entre outros.

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• Legislação – Matas Ciliares

A legislação prevê a proteção das matas ciliares pela delimitação das áreas

de preservação permanente onde estas estão localizadas. O Código

Florestal (Lei Federal 4.771 de 1965), as Resoluções do CONAMA 302/02 e

303/02, a Lei Estadual 10.431/06 e o Decreto Estadual 11.235/08

estabelecem as Áreas de Preservação Permanente – APP. E a Resolução

Estadual do CONERH 50/09 que institui o PERMAC - Programa Estadual de

Restauração e Conservação das Matas Ciliares e Nascentes da Bahia, que

visa promover a conservação dos mananciais hídricos do Estado da Bahia e

objetiva estimular a restauração e conservação das matas ciliares e

nascentes, de forma a garantir água, em qualidade e quantidade, a médio e

longo prazos, à população baiana.

� Área de Preservação Permanente: é a área coberta ou não por

vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos

hídricos, a paisagem, a estabilidade e a fertilidade do solo, a

biodiversidade, assim como, de proteger a fauna e a flora e assegurar

o bem-estar das populações humanas.

• Áreas de Preservação Permanente correspondente a localização

das Matas ciliares segundo a Legislação.

-Em Cursos d’água perenes ou intermitentes (Rios, riachos, córregos, etc.)

com menos de 10 metros de largura a área de preservação permanente

corresponde a uma faixa de 30 metros de largura em cada margem ao

longo de seu curso.

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-Nascentes e olhos d’água, ainda que intermitentes, a área de preservação

permanente é de 50 metros de raio ao seu redor.

-Em Cursos d’água (Rios, riachos, córregos, etc.) com largura entre 10 e 50

metros a área de preservação permanente corresponde a uma faixa de 50

metros de largura em cada margem ao longo de seu curso.

- Em Cursos d’água (Rios, riachos, ribeirão, etc.) com largura entre 50 e

200 metros a área de preservação permanente corresponde a uma faixa de

100 metros de largura em cada margem ao longo de seu curso.

- Em Cursos d’água (Rios) com largura entre 200 e 600 metros a área de

preservação permanente corresponde a uma faixa de 200 metros de

largura em cada margem ao longo de seu curso.

- Em Cursos d’água (Rios) com largura maior que 600 metros a área de

preservação permanente corresponde a uma faixa de 500 metros de

largura em cada margem ao longo de seu curso.

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- Vereda - espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou

cabeceiras de cursos d’água, onde há ocorrência de solos hidromórficos,

caracterizado predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritia

flexuosa) e outras formas de vegetação típica. A Área de Preservação

Permanente gerada constitui-se numa faixa de 50 metros de largura em seu

entorno.

- Lagos, lagoas e brejos naturais, com até 20 ha de espelho d’água, área de

preservação permanente é de 50 metros de raio ao seu redor.

- Lagos, lagoas e brejos naturais, maiores de 20 ha de espelho d’água, área

de preservação permanente é de 100 metros de largura ao seu redor.

- Reservatórios artificiais (ex: barragens) situados em área rural, área de

preservação permanente é de 100 metros de largura ao seu redor.

- Reservatórios artificiais (ex: aguadas) não utilizados em abastecimento

publico ou de geração de energia, com ate 20 há de superfície e situados em

zona rural, área de preservação permanente é de 15 metros de largura ao

seu redor.

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• Restauração de Matas Ciliares

Segundo a Society for Ecological Restoration International (SERI), restauração é a ciência, prática e arte de assistir e manejar a recuperação da integridade ecológica dos ecossistemas, incluindo um nível mínimo de biodiversidade e de variabilidade na estrutura e funcionamento dos processos ecológicos, considerando-se seus valores ecológicos, econômicos e sociais.

A restauração florestal objetiva a formação de um ecossistema, o mais

próximo ou semelhante possível do anterior degradado, através do plantio

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misto de espécies arbóreas nativas, pela resiliência do local degradado

(dependendo do estado) ou outras alternativas ainda em teste (KAGEYAMA

& GANDARA, 2001; RODRIGUES & GANDOLFI, 2001).

Esta área da ciência propõe não só a recuperação das áreas degradadas,

mas também a recuperação da biodiversidade, além de todos os processos

ecológicos da interação entre os organismos desses ambientes, sendo uma

nova maneira de pensar em conservação in situ da biodiversidade (BAWA &

SEIDLER, 1998).

Enquanto que recuperação é o retorno do sítio degradado a um sítio

produtivo, nesses casos a sucessão e auto sustentabilidade da área a longo

prazo não são garantidas e pode se utilizar espécies nativas ou exóticas que

não promovem necessariamente a conservação da biodiversidade.

Os processos ecológicos são essenciais na manutenção das florestas, não

basta apenas termos árvores plantadas para restaurar uma área é preciso

que ocorram processos como polinização, dispersão, regeneração e

predação natural.

Existe todo um movimento de pesquisadores para formulação de

estratégias que permitam, promovam ou facilitem a ocorrência dos

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processos ecológicos mantenedores responsáveis pela auto-renovação e

sustentabilidade da floresta a longo prazo.

Restaurar integralmente os ecossistemas naturais está muito além de

nossa capacidade e retorná-lo ao seu estado original é impossível, devido

às características dinâmicas dos mesmos (ENGEL & PARROTA, 2003). É

possível, contudo, trazer de volta a uma área espécies características da

mesma, uma retomada da biodiversidade, assistindo e direcionando os

processos naturais para características desejáveis no sistema futuro,

muito mais do que tentar imitar o que esta área foi no passado (GOOSEM

& TUCKER, 1995; HOBBS & HARRIS, 2001).

Para o Bioma Mata Atlântica avanços substanciais foram atingidos em

termos de restauração pelo entendimento e aplicação da sucessão florestal

e dos grupos ecológicos. Pelos quais observa-se na natureza uma gradual

substituição e aumento das espécies no decorrer do tempo após um

disturbio em uma floresta.

Como por exemplo, a abertura de uma clareira ( pela queda de uma

árvore ou outro motivo) no meio da mata possibilitando a entrada de luz que

permitirá que sementes germinem e espécies que precisam de sol cresçam e

essas, por sua, vez propiciarão um novo microclima e nutrientes adequados

para o crescimento de outras espécies que crescem na sombra. Essas novas

espécies atrairão espécies diferentes de animais que realizarão a

polinização e dispersão de outras novas espécies e assim sucessivamente.

Este processo é uma forma natural dos ecossistemas se recuperarem,

mecanismo pelo qual as florestas tropicais se auto-renovam, através da

“cicatrização”de locais perturbados. Durante este processo a situação

ambiental se modifica, como por exemplo, a composição de espécies da

comunidade, a disponibilidade de recursos de luz, a umidade e nutrientes

(ENGEL e PARROTA,2003). A sucessão deve ser entendida não como uma

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simples substituição de espécies no tempo, mas como uma substituição de

grupos ecológicos das espécies ou categorias sucessionais (RODRIGUES e

GANDOLFI, 2001).

Os grupos ecológicos de espécies propostos por Budowski (1965) são os

mais utilizados, e são denominados: pioneiras, secundárias iniciais,

secundárias tardias e climácicas. Contudo, em trabalhos práticos estes

grupos, normalmente não são levados estritamente na sua formulação básica

e sim adequados de acordo com as características e propostas dos projetos.

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Grupos Ecológicos ou Sucessionais

Características Pioneira Secundária Inicial Secundária Tardia Climácicas

Crescimento Muito rápido rápido médio Médio ou muito lento

Madeira Muito leve Leve Medianamente dura Dura a pesada

Necessidade de luz Crescem a pleno sol Crescem a pleno sol ou na sombra

Crescem na sombra Crescem na sombra

Dispersão das sementes

Ampla (zoocoria c/ alta diversidade de dispersores); anemocorica, a grande distância

Restrita (barocoria) Ampla (zoocoria c/ poucas espécies); Anemocoria, a grande distância

Principalmente anemocoria

Ampla (zoocoria grande animais); restrita (barocoria)

Tamanho das sementes e frutos

pequeno médio Pequeno a médio Grande e pesado

Regeneração Permanência da semente no solo

Banco de sementes Sementes permanecem no solo por muito tempo (anos ou décadas)

Banco de plântulas Sementes permanecem pouco tempo no solo

Banco de plântulas Sementes permanecem muito pouco tempo no solo

Banco de plântulas Sementes permanecem muito pouco tempo no solo

Idade da 1a reprodução

Prematura (1 a 5 anos) Intermediária (5 a 10 anos)

Relativamente tardia (10 a 20 anos)

Tardia (> 20 anos)

Dependência a polinizadores específicos

baixa alta alta alta

Tempo de vida Muito curto (até 10 anos)

Curto (10 a 25 anos) Longo (25 a 100 anos) Muito longo (> 100 anos)

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Entender a dinâmica florestal – como funciona a floresta- é fundamental para a

tentativa de criar modelos que imitem a natureza e permitam sua restauração. Lembrando

que os animais são responsáveis por cerca de 95% da polinização e por 75 a 95% da

dispersão das espécies de árvores nativas tropicais. Por isso, não há florestas sem animais

(Ferretti, 2004). E esses modelos devem considerar efetivamente essas interações entre

fauna e a flora, buscando atrair e fornecer suporte as diversas espécies da fauna.

Outro grande aprimoramento nos modelos de restauração é a utilização do maior

número possível de espécies no plantio de árvores para restauração, pois a floresta

tropical é riquíssima apresentando uma alta diversidade de espécie por área. Respeitando

a proporção observada nos ecossistemas naturais onde o grupo das pioneiras apresenta

pequeno número de espécies e grande número de indivíduos e as secundárias possuem um

grande número de espécies e um pequeno número de indivíduos. E recentemente as outras

formas de vida: arbustivas, lianas (cipós) e epífitas (ex. Bromélias e orquídeas), que

compõem a floresta além das espécies arbóreas, vêem sendo alvo dos estudos de

restauração que cogitam seu manejo e inserção nas áreas a serem restauradas.

Para os Biomas Cerrado e Caatinga as pesquisas na área de restauração ainda são muito

recentes e exíguas. E não cabe diretamente a utilização da sucessão secundária, por

serem ecossistemas mais abertos e não apresentarem uma substituição de espécies ao

longo do tempo em função da luz, como ocorre nas florestas fechadas. Contudo algumas

diretrizes podem ser tomadas principalmente na condução da regeneração natural e

algumas estratégias são sugeridas para o plantio de espécies do Cerrado

É importante ter em mente que as condições ecológicas não são os únicos fatores

determinantes para o sucesso ou falhas de projetos de restauração ecológica. As

circunstâncias sócio-econômicas e percepções da natureza das pessoas envolvidas são

fatores chaves neste processo (Higgs, 1997).

No PERMAC, prevalecerá o conceito de restauração, privilegiando o uso de espécies

nativas para atender as finalidades estabelecidas no conceito acima citado, contudo o

termo recuperação será utilizado nas ações de implementação de Sistemas Agroflorestais

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(SAF) em pequenas propriedades rurais e na agricultura familiar, os quais objetivarão

recuperar as funções ambientais das áreas, admitindo-se o uso de espécies nativas com

espécies não invasoras de cultivos agrícolas.

Page 27: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

BIOMAS: MATA ATLÂNTICA / CERRADO/ CAATINGA

Fonte: www.sema.ba.gov.br

Page 28: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

• Bioma - Mata Atlântica

A Mata Atlântica foi reduzida a menos de 7% de sua área original no Brasil e na Bahia

esse quadro não é menos preocupante como podemos ver nos mapas da vegetação no sul

da Bahia em cinquenta anos a floresta foi dizimada.

A Mata atlântica é assim denominada pelo fato de acompanhar o litoral brasileiro –

associada ao oceano atlântico.

Segundo a Lei da Mata Atlântica 11.248/2006 consideram-se integrantes do Bioma

Mata Atlântica as seguintes formações florestais nativas e ecossistemas associados, com

as respectivas delimitações estabelecidas em mapa do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - IBGE, conforme regulamento: Floresta Ombrófila Densa; Floresta Ombrófila

Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta

Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as

vegetações de restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do

Nordeste.

Tal variedade se explica pois, em toda sua extensão, a Mata Atlântica é composta por

uma série de ecossistemas cujos processos ecológicos se interligam, acompanhando as

características climáticas das regiões onde ocorrem e tendo como elemento comum a

exposição aos ventos úmidos que sopram do oceano. Isso abre caminho para o trânsito de

animais, o fluxo gênico das espécies e as áreas de tensão ecológica, onde os ecossistemas

se encontram e se transformam. É fácil entender, portanto, porque a Mata Atlântica

apresenta estruturas e composições florísticas tão diferenciadas. Uma das florestas mais

ricas em biodiversidade no Planeta, a Mata Atlântica detém o recorde de plantas lenhosas

(angiospermas) por hectare (450 espécies no Sul da Bahia), cerca de 20 mil espécies

vegetais, sendo 8 mil delas endêmicas, além de recordes de quantidade de espécies e

endemismo em vários outros grupos de plantas. Para se ter uma idéia do que isso

representa, em toda a América do Norte são estimadas 17.000 espécies existentes, na

Europa cerca de 12.500 e, na África, entre 40.000 e 45.000 (sos mata atlântica).

Page 29: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Desmatamento no Sul da Bahia, Desmatamento no Sul da Bahia, Desmatamento no Sul da Bahia, Desmatamento no Sul da Bahia, 1945 1945 1945 1945 ---- 1990199019901990

Na Bahia são encontradas as seguintes formações:

• Floresta Ombrófila Densa

Possui a fisionomia marcada pelas copas altas, que formam uma cobertura fechada

conhecida como dossel. Apresenta-se compartimentada em diferentes estratos,

garantindo a existência de vários nichos, sob o dossel, o que sustenta a diversidade de sua

fauna. Devido a elevada umidade deste tipo de formação nela encontra-se uma enorme

quantidade e variedade de epífitas, como orquídeas e bromélias.

• Floresta Ombrófila Aberta

Como o próprio nome indica a vegetação é mais aberta, sem a presença de árvores que

fechem as copas no alto. As árvores são mais espaçadas e o estrato arbustivo é pouco

denso. São também conhecidas como áreas de transição. Ocorre geralmente onde o clima

Page 30: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

apresenta um período de dois e, no máximo, quatro meses secos, com temperaturas

médias entre 24o C e 25o C.

Floresta Estacional Decidual

Se caracteriza por duas estações bem marcadas: uma chuvosa e outra seca. Mais de

50% das árvores perdem as folhas na época de estiagem.

Manguezais

Localizam-se próximos à foz dos rios, onde formam uma série de canais menores, que

são inundados pelas marés, sendo o solo constituído de lama. A alta salinidade e a baixa

oxigenação fazem com que poucas espécies vegetais o suportem –três ou quatro –porém,

abrigam muitas espécies de peixes, moluscos e crustáceos. E são considerados berçários

de vida onde um grande número de espécies vão se reproduzir.

• Restingas

Formação vegetal que ocorre ao longo de praias, cordões arenosos e planícies

costeiras. Próxima ao mar e em região de dunas, onde o solo é fraco em nutrientes e o

vento é forte e constante, a vegetação é, principalmente, herbácea e rala, com folhas

duras e pequenas com a frequente presença de áreas salgadas. À medida que se adentra o

continente, a vegetação vai se adensando com arbustos e pequenas árvores e formando

matas com mais de 15 m de altura (restinga arbórea).

• Bioma - Cerrado

O cerrado é o bioma que ocupa a porção oeste do Estado da Bahia e encontra-se tão

ameaçado quanto o Bioma Mata Atlântica. Este bioma é conhecido como berço da águas,

por ser uma área de recarga de aquíferos.

A vegetação do cerrado que é mais aberta e com árvores muitas vezes retorcidas,

compreende um mosaico de fisionomias que variam desde o campo limpo até o cerradão.

Em função principalmente da fertilidade do solo, disponibilidade hídrica, ph, saturação de

alumínio, saturação hídrica de superfície. Fonte: http://www.agencia.cnptia.embrapa.br

Page 31: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

São descritos onze tipos principais de vegetação para o bioma Cerrado, enquadrados

em formações florestais (Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca e Cerradão), savânicas

(Cerrado sentido restrito, Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda) e campestres (Campo

Sujo, Campo Limpo e Campo Rupestre).

Formações Florestais do Cerrado

As formações florestais do Cerrado englobam os tipos de vegetação com

predominância de espécies de árvores e formação de cobertura pela proximidade das

copas das árvores (dossel). A Mata Ciliar e a Mata de Galeria são os tipos de vegetação

florestal associadas a cursos de água, que podem ocorrer em terrenos bem drenados ou

mal drenados. A Mata Seca e o Cerradão ocorrem nos níveis de relevos que separam os

fundos de vales (interflúvios), em terrenos bem drenados.

Page 32: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

A Mata de Galeria possui dois subtipos: não-Inundável e Inundável. A Mata Seca três:

Sempre-Verde, Semidecídua e Decídua. O Cerradão pode ser classificado como

Mesotrófico (quando ocorre em solos com condições médias em relação à disponibilidade

de nutrientes, ou seja, solos com fertilidade moderada) ou Distrófico (quando ocorre em

solos pobres em relação à disponibilidade de nutrientes, ou seja, solos com baixa

fertilidade).

Vegetação Savânica

As formações savânicas do Cerrado englobam quatro tipos de vegetação principais: o

Cerrado sentido restrito, o Parque de Cerrado, o Palmeiral e a Vereda. O Cerrado

sentido restrito caracteriza-se pela presença das camadas de árvore e de arbustos e

ervas ambas definidas, com as árvores distribuídas aleatoriamente sobre o terreno em

diferentes densidades, sem que se forme uma cobertura contínua. De acordo com a

densidade de árvores e arbustos, ou com o ambiente em que se encontra, o Cerrado

sentido restrito apresenta quatro subtipos: Cerrado Denso, Cerrado Típico, Cerrado

Ralo e Cerrado Rupestre. No Parque de Cerrado a ocorrência de árvores é concentrada

em locais específicos do terreno. No Palmeiral, que pode ocorrer tanto em áreas bem

drenadas quanto em áreas mal drenadas, há a presença marcante de determinada espécie

de palmeira arbórea, e as árvores de outras espécies (dicotiledôneas) não têm destaque.

O Palmeiral possui quatro subtipos principais, determinados pela espécie dominante:

Babaçual, Buritizal, Guerobal e Macaubal. A Vereda também se caracteriza pela presença

de uma única espécie de palmeira, o buriti, mas esta ocorre em menor densidade que em

um Palmeiral. Além disso, a Vereda é circundada por uma camada característica de

arbustos e ervas.

Vegetação Campestre

As formações campestres do Cerrado englobam três tipos de vegetação principais: o

Campo Sujo, o Campo Limpo e o Campo Rupestre. O Campo Sujo caracteriza-se pela

presença evidente de arbustos e subarbustos entremeados no estrato arbustivo-

herbáceo. No Campo Limpo a presença de arbustos e subarbustos é insignificante. O

Page 33: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Campo Rupestre possui trechos com estrutura similar ao Campo Sujo ou ao Campo Limpo,

diferenciando-se tanto pelo substrato, composto por afloramentos de rocha, quanto pela

composição florística, que inclui muitos endemismos (presença de espécies com ocorrência

restrita a este ambiente).

De acordo com particularidades topográficas ou de solo (edáficas), o Campo Sujo e o

Campo Limpo podem apresentar três subtipos cada. São eles: Campo Sujo Seco, Campo

Sujo Úmido e Campo Sujo com Murundus; e Campo Limpo Seco, Campo Limpo Úmido e

Campo Limpo com Murundus.

• Bioma -Caatinga

É o bioma exclusivamente brasileiro. Região de clima semi-árido, solo raso e

pedregoso, porém fértil. A Caatinga é um bioma rico em recursos genéticos por conta da

sua alta biodiversidade e, o melhor, exclusivamente brasileiro. Ocupa uma área de, cerca

de 10% do território nacional, abrangendo os estados do Ceará, Rio Grande do Norte,

Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia, Piauí e Minas Gerais.

No entanto, estudos mostram que esse é o terceiro ecossistema brasileiro mais

degradado, ficando atrás apenas da Mata Atlântica e do Cerrado. Na Bahia, sua situação

ainda é mais alarmante. O estado que detém 34% da Caatinga e é o que mais desmatou o

bioma na história.

Caatinga é originário do tupi-guarani e significa mata branca. É um bioma único pois,

apesar de estar localizado em área de clima semi-árido, apresenta grande variedade de

paisagens, relativa riqueza biológica e endemismo. A ocorrência de secas estacionais e

periódicas estabelece regimes intermitentes aos rios e deixa a vegetação sem folhas. A

folhagem das plantas volta a brotar e fica verde nos curtos períodos de chuvas.

A Caatinga é dominada por tipos de vegetação com características xerofíticas –

formações vegetais secas, que compõem uma paisagem cálida e espinhosa – com estratos

compostos por gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio (3 a 7 metros de

altura), caducifólias (folhas que caem), com grande quantidade de plantas espinhosas

Page 34: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

(exemplo: leguminosas), entremeadas de outras espécies como as cactáceas e as

bromeliáceas.

Fonte: www.ibama.gov.br

• Projeto de Restauração

Como pensar e elaborar um projeto de restauração de matas ciliares e nascentes?

Nesta sessão serão sugeridos alguns passos para elaboração de um projeto base de

restauração, pois não existe receita pronta para esse tipo de projeto e sim o despertar

para observação da natureza e seus fenômenos naturais.

As atividades de um projeto de restauração dependem e variam de local para local. As

características da área a ser restaurada, bem como de seu entorno, são determinantes

para a escolha da metodologia a ser aplicada.

Para restaurar uma determinada área precisamos conhecer, ou pelo menos ter noção

do ecossistema a ser restaurado e identificar as barreiras que impedem ou dificultam a

regeneração natural e diminuem sua resilência.

Como citado anteriormente, quando buscamos restaurar uma área desejamos que os

processos mantenedores daquela floresta (vegetação) sejam retomados para que a mesma

se auto sustente, apresentando características semelhantes a floresta anterior

recuperando sua biodiversidade.

Então quando pensamos em restauração de matas ciliares temos que nos lembrar de

como podemos recuperar seus processos ecológicos e consequentemente seu equilíbrio

dinâmico.

Page 35: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

• Projeto de Restauração

� 1 o passo - Planejar o projeto

Dicas para elaboração e estruturação de um projeto básico.

Perguntas norteadoras:

• POR QUE quero restaurar? (justificar o projeto)

• O QUE será restaurado? (objetivo contendo tamanho da área e local)

• ONDE será feito? (localização da área a ser restaurada)

• PARA QUEM pretendo beneficiar? (beneficiários diretos e indiretos)

• COMO pretendo restaurar? (escolha das atividades que serão executadas)

• COM QUEM farei a restauração? (equipe e parceiros)

• QUANDO conseguirei restaurar? (cronograma completo por passo)

• QUANTO gastarei na restauração? (custos por cada passo e atividade)

Os projetos devem ser adequados de acordo com cada objetivo e recursos disponíveis.

� 2o passo - Diagnóstico da área

� Local

� Regional (Paisagem)

O diagnóstico da área a ser restaurada, onde serão verificadas as condições gerais da

área e da região em que a mesma está inserida, é o um dos passos fundamentais para o

sucesso da restauração das matas ciliares. Envolvendo principalmente a avaliação do solo e

da vegetação, afim de identificar os fatores que precisam ser manejados para que a área

retome seus processos de manutenção como o da regeneração natural.

� Diagnóstico Local:

- Solo

- Vegetação

Page 36: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

- Rio (curso d’água)

� Diagnóstico Regional:

- Fragmentos de remanescentes de vegetação nativa.

- O diagnóstico da área é essencial na escolha do método de restauração e na tomada

de decisões para as atividades de restauração, possibilitando uma melhor

adequação dos custos e objetivos pretendidos.

-

� Diagnóstico Local - Solo

- Avaliação do estado de degradação e os fatores degradantes do solo.

Verificar o grau de degradação do solo quanto a compactação, erosão, acidez,

disponibilidade de nutrientes entre outros que for necessário.

Verificar fatores de degradação como por exemplo: utilização da área para pastagem,

ocorrência de incêndios e poluição do solo.

� Diagnóstico Local – Vegetação

- Analisar se existe vegetaçao nativa (qual seu estado de conservação?) e sua

possibilidade de regeneração e rebrota de tocos e raízes(principalmente no cerrado e na

caatinga).

- Verificar se existem plantas exóticas invasoras como gramíneas (capins) e bambus.

� Diagnóstico Local - Rio

- Verificar grau de assoreamento, informar características gerais da água como cor

, cheiro e etc.

- Informar uso da água (irrigação, captação para outro fins, pesca e etc.)

-

� Diagnóstico Paisagem

• Quando possível realizar o diagnóstico da microbacia que o curso d’água está

inserido.

• Focar o diagnóstico da paisagem no uso e ocupação solo. Informando se existe

algum remanescente de vegetação nativa ( qual grau de conservação) e qual sua

Page 37: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

distância da área a ser restaurada. Informar quais são usos do solo (ex: pastagem e

agricultura) das áreas adjacentes a área a ser restaurada.

� 3o passo – Definição da técnica de restauração

Após o diagnóstico da área poderemos inferir sobre que técnica utilizar para

restaurar determinado local, com base nas suas características atuais do sítio (grau de

degradação do solo e da vegetação) e do seu entorno, do tamanho da área que se quer

restaurar, nas atividades que influenciam a regeneração natural do local (ex. pastoreio

de animais, presença de espécies invasoras, ocorrência de fogo, distância de

remanescente de vegetação nativa e etc.) bem como recursos financeiros disponíveis

para o projeto.

Muitas técnicas podem ser utilizadas tomando como ponto de partida o diagnóstico

da área, diversos locais na Bahia ainda possuem um elevado grau de resilência (poder

de auto-recuperação) e o simples isolamento (cercamento) do local e retirada dos

fatores degradantes (ex. entrada de animais) seria uma maneira de promover o

processo de restauração daquele local. Mas também existem várias situações

contrárias a essa onde a área apresenta um grau de resilência muito baixo e seu solo é

muito compactado, esse local necessitará de cuidados mais intensos como a

recuperação do solo e o plantio de espécies arbóreas nativas.

Outra questão a ser analisada na tomada de decisão de qual a melhor maneira de

restaurar uma área é a distância desta com remanescentes de vegetação nativa que

poderão fornecer propágulos ou não de espécies nativas (arbóreas, arbustivas, lianas e

epífitas) que colonizarão ou não a área a ser restaurada.

• O que deve ficar claro nesse passo independente de qual técnica utilizar é a sua

base de escolha que deve ser muito bem fundamentada no 2o passo e nos recursos

disponíveis. Discutiremos detelhadamente essa tomada de decisão no Volume 2 –

manual de restauração de matas ciliares –modelos de restauração.

• As técnicas mais difundidas atualmente são:

Page 38: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

• -condução da regeneração natural de espécies nativas

• -semeadura direta

• -nucleação

• -plantio de mudas

• - SAF (Sistema Agroflorestal) – para pequenos produtores.

• A restauração poderá ser executada por diferentes técnicas, desde que

assegurada a regeneração natural das diferentes formas de vida, tais como

arbustos, lianas e árvores, de espécies nativas.

� 4o passo – Levantamento da vegetação

• Este passo é fundamental para o conhecimento das espécies nativas que ocorrem na

região da área que pretende se restaurar. A elaboração de uma lista de espécies

nativas regionais é muito importante no caso de implantação ou enriquecimento de

espécies (mudas ou sementes) numa determinada área ou até mesmo na condução

da regeneração natural.

• A realização de um levantamento florístico em fragmentos de vegetação nativa da

região seria o ideal para se identificar as espécies vegetais que naturalmente

ocorrem ali e se ter uma noção da proporção de ocorrência de determinada espécie

por área (distribuição). E não recair no erro de introduzir espécies de um

ecossistema diferente do que se quer restaurar, como por exemplo, plantar

espécies tipicamente do Bioma Mata Atlântica no Bioma da Caatinga. Ou ainda

plantar muitos indivíduos de apenas uma determinada espécie e essa possuir uma

baixa densidade na floresta natural podendo acarretar em ataque de pragas e

doenças.

• A verificação da adaptação das espécies a ambientes encharcados é outro ponto

crucial nesta lista de espécies quando o objetivo é plantar nas margens dos cursos

d’água.

Page 39: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

• Outra maneira é a revisão bibliográfica de trabalhos de levantamento da vegetação

realizados na região, pareceria com universidades, ONG e institutos de pesquisas e

extensão que atuem nessa área

• O conhecimento popular tradicional também é muito relevante na elaboração da

lista de espécies da flora regional, consultando principlamente os antigos

moradores da região.

� 5o passo – Logística de Implantação

• Após a definição da técnica de restauração e a elaboração da lista de espécies

nativas que ocorrem na região é preciso pensar nos fatores que viabilizem a técnica

escolhida.

• Se for produzir mudas é necessário planejar com devida antecedência a colheita de

sementes e da própria produção de mudas.

• Se for adquirir as mudas planejar sua disponibilização junto aos viveiros na época

do plantio.

• Planejar a mobilização da mão-de-obra, da sociedade principalmente dos

proprietários e produtores da área a ser restaurada.

• Planejar aquisição de cerca, insumos, transporte e outros materiais (ferramentas,

poleiros arificiais e etc.) necessários para implementação da técnica de restauração

selecionada.

• E planejar a implantação de campo – cercamento, adubação, coroamento, plantio e

etc.

� 6o passo – Manutenção da área

• Para todas as técnicas de restauração é preciso realizar a manutenção da área e

cada prática depende do local e da técnica utilizada mas de maneira geral as

práticas recomendadas são:

Page 40: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

� coroamento, adubação, controle de plantas exóticas invasoras e de formigas

cortadeiras e/ou outras práticas que se fizerem necessárias.

� Práticas para a prevenção de fatores de degradação (isolamento ou cercamento da

área, prevenção do fogo, competição de plantas invasoras, controle da erosão,

dentre outros).

� Essas práticas de manutenção da área se estendem por no mínimo dois anos e são

uma das questões principais do sucesso da restauração.

� 7o passo – Avaliação e Monitoramento da área

• No projeto deverá estar previsto monitoramento de, no mínimo, 24 meses, a partir

do final da execução, de forma a permitir a avaliação do processo, observando os

seguintes parâmetros:

• – Estabelecimento e desenvolvimento da cobertura vegetal;

• – Ocorrência de perturbações naturais e/ou antrópicas;

• – Periodicidade e forma de apresentação da avaliação.

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Manual de Manual de Manual de Manual de RestauraçãoRestauraçãoRestauraçãoRestauração dedededeMatasMatasMatasMatas CiliaresCiliaresCiliaresCiliares

Volume 2 – Modelos de Restauração

INGÁ – IICAMaio / 2011

Page 42: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

ConteúdoConteúdoConteúdoConteúdo ---- Volume 2Volume 2Volume 2Volume 2

• Introdução

• Técnicas de Restauração

• Modelos de Restauração – Bioma Mata Atlântica

• Modelos de Restauração – Bioma Cerrado

• Modelos de Restauração – Bioma caatinga

Page 43: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

• Introdução

O Volume 2 do Manual de Restauração de Matas Ciliares e Nascentes possui o

propósito de abordar os modelos de restauração difundidos e diponíveis atualmente na

literatura. Trata-se da continuação da série de Manuais de Restauração de Mata Ciliares

do PERMAC (Programa Estadual de Restauração e Conservação de Matas Ciliares e

Nascentes).

Não existem receitas prontas de restauração de Matas Ciliares, e sim diferentes

técnicas de restauração aplicadas de acordo com situações específicas encontradas no

campo. Essa é uma área recente da pesquisa mundial e muito ainda tem a se desenvolver,

testar e evoluir! Bons avanços foram alcançados para a restauração do Bioma Mata

Atlântica, contudo escassos são os conhecimentos em relação aos Biomas Cerrado e

Caatinga nessa área, principalmente para modelos específicos de plantio.

A seguir é apresentada uma chave de tomada de decisão, muito interessante para ser

utilizada como ferramenta na seleção do modelo a ser utilizado para restaurar as matas

ciliares, elaborada no Workshop sobre recuperação de áreas degradadas em matas

ciliares no Estado de São Paulo.

• Técnicas de restauração

Em primeiro lugar temos que lembrar que restauração não é simplesmente um plantio

de árvores e sim o que se deseja é restaurar os processos ecológicos de uma determinada

área com a retomada da sua biodiversidade para que essa possa se manter e se auto

sustentar.

Seguindo o Volume 1 - Manual de Restauração de Matas Ciliares – Noções Gerais vimos

que o ponto de partida para a escolha da técnica de restauração é o diagnóstico local e

reginonal (leitura da paisagem) da área a ser restaurada, aqui detalharemos melhor as

Page 44: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

condições que podemos encontrar e que opções podemos seguir. Pois a partir deste

diagnóstico poderemos identificar as dificuldades (fatores de degradação) e o grau de

resilência (poder de auto-recuperação) da área e estabelecer as estratégias que serão

aplicadas. Outro aspecto importante a ser analisado é a ocorrência de remanescentes de

vegetação nativa em áreas próximas que podem funcionar como fonte de propágulos,

através da dispersão natural (chuva de sementes).

As principais ações iniciais para restauração de matas ciliares são:

� Isolamento da Área

� Retirada dos Fatores de Degradação

� Controle de espécies competidoras (invasoras)

Os métodos de restauração podem ser:

� condução da regeneração natural de espécies nativas

� semeadura direta (adensamento, enriquecimento e misto de espécies arbóreas)

� plantio de mudas (adensamento, enriquecimento, misto de espécies arbóreas e ilhas

de diversidade)

� nucleação

� SAF (Sistema Agroflorestal) – para pequenos produtores.

As ações e métodos de restauração citados acima são aplicáveis de maneira geral a

todos os ecossistemas naturais, principalmente as três ações iniciais que permitirá que a

resilência (quando existir) do sítio se manifeste permitindo que aconteça a regeneração

natural (se possível).

- Isolamento da área e retirada de fatores degradação

O uso das APPs (Áreas de Preservação Permanente) dos cursos d’água como pastagem

é um quadro muito comum em todo Estado da Bahia. Isolando-se essa área através do

cercamento irá evitar vários fatores de degradação causados pelo gado como a

Page 45: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

compactação do solo (através do pisoteio), a disseminação de gramíneas competidoras e o

pisoteio de possíveis indivíduos regenerantes. Outro fator degradante muito propagado no

uso do solo rural é o fogo, como no caso de reforma de pastagem e de áreas agrícolas

(ex.Cana), uma das maneiras de prevenção é a construção de aceiros (faixas ao longo das

cercas onde a vegetação foi completamente eliminada da superfície do solo) no entorno

dos locais que estão sendo restaurados. Outros fatores de degradação podem ser

identificados dependendo da realidade da região e devem ser retirados, pois estes na

maioria das vezes influenciam diretamente a possibilidade de regeneração da área e

portanto de sua restauração.

- Controle de espécies competidoras

As espécies de gramíneas utilizadas nas pastagens (braquiárias, capim colonião,

gordura e etc) são espécies altamente invasoras e competem diretamente com os

indivíduos regenerantes ou com as futuras mudas que venham a ser implantadas

dificultando seu estabelecimento e crescimento, além de facilitar a propagação do fogo. O

seu controle trata-se de uma grande estratégia para o sucesso da restauração das matas

ciliares. Outras espécies exóticas invasoras (leucena, algaroba, etc) podem ser eliminadas

através desbaste seletivo gradual.

� Condução da Regeneração Natural

Este é um método de restauração que pode ser aplicado em áreas com um alto grau de

resilência que não foram tão degradadas. Apenas com a retirada dos fatores de

degradação (pasto, fogo, cultivo agrícola e etc) do local o mesmo começa apresentar

regeneração natural resultante do banco de sementes da área ou chegada de novos

propágulos vindos de remanescentes de vegetação vizinhos.

Esta é uma técnica com o custo reduzido e é muito empregada, além da Mata Atlântica,

nos Biomas do Cerrado e da Caatinga, pois no Cerrado existe um alto potencial de

regeneração através de brotação vegetativa de sua estruturas subterrâneas (banco de

Page 46: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

raízes) e também na Caatinga onde a capacidade de rebrota é um reconhecido mecanismo

de regeneração.

. A condução da regeneração é feita através do coroamento ao redor das mudas para

evitar os competidores (capins e trepadeiras), também recomenda-se quando possível

realizar a adubação nos regenerantes a fim de acelerar o processo de restauração para a

Mata Atlântica, no caso do cerrado as plântulas não respondem a adubação.

� Adensamento e Enriquecimento

Essas duas técnicas podem ser efetuadas através da implantação de sementes ou

mudas em locais que já exista uma floresta ou vegetação natural, normalmente em áreas

com capoeiras.

O adensamento é indicado para as áreas com vegetação com boa diversidade de

espécies, mas que apresentam muitos espaços vazios. Nessa situação um plantio de

árvores (independente da espécie) para cobrir os espaços vazios é suficiente.

O enriquecimento é sugerido para capoeiras que apresentem poucas espécies e deve

ser feito com o plantio de espécies diferentes (novas) das encontradas na área em

restauração.

Para a mata atlântica é indicado para os trechos mais iluminados a introdução de

espécies de árvores nativas pioneiras e secundárias iniciais e nos trechos mais

sombreados as espécies climácicas.

E para o Cerrado o enriquecimento por semeadura direta não é recomendado devido

particularidades da sua dinâmica dessa formação.

Esta técnica é indicada quando não existam fontes de propágulos próximas

(remanescentes), ou essas sejam tão degradadas e pobres (poucas espécies) quanto a

regeneração observada no local.

Page 47: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

• As técnicas até agora descritas podem ser selecionadas para áreas que possuam

uma boa resilência e capacidade de regeneração natural e /ou fragmentos de

vegetação nativa próximos que forneçam propágulos para recolonização do sítio em

processo de restauração.

• Os seguintes métodos que serão apresentados a seguir são usados para áreas

degradadas a muito tempo e/ou com poucos fragmentos próximos e/ou com baixo

grau de resilência e/ou baixa capacidade de regeneração natural. Que são os plantio

de mistos de espécies arbóreas (através de mudas e/ou sementes). E como tratam-

se de técnicas de áreas mais degradadas a primeira atitude é a recuperação do

solo.

• Recuperação do Solo

Anterior ao plantio é necessário realizar a Recuperação do Solo tanto na parte física,

química ou biológica. É necessário verificar quais são as características do solo (textura,

fertilidade, inundação e etc.) e seu estado de degradação (compactação, erosão etc).

Uma boa alternativa para a recuperação inicial do solo é a utilização da adubação verde

para melhorar a capacidade produtiva do solo. Essa melhoria do solo é conseguida através

da adição de material orgânico não decomposto de plantas cultivadas exclusivamente para

este fim, que são manejadas antes de completarem o ciclo vegetativo. A Adubação Verde

pode ser realizada com diversas espécies vegetais, porém a preferência pelas leguminosas

está consagrada por inúmeras vantagens, dentre as quais, destaca-se a sua capacidade de

fixar nitrogênio direto da atmosfera por simbiose. De modo mais amplo, pode-se dizer que

a adubação verde restaura e intensifica um grande número de processos de vida, deixando

o solo mais fértil e mais saudável para a cultura seguinte. Sua ação é menos efêmera que

de uma adubação química. Além disso, alguns adubos verdes tem raízes tão fortes e

profundas, que fazem a descompactação dos solos, que sem uso de arados ou grades,

preparam o nosso solo para o plantio.

Page 48: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Sugere-se espécies de maior rusticidade, tais como o feijão-de-porco (Canavalia

ensiformis), o nabo-forrageiro (Raphanus sativus) e a crotalária (Crotalaria spp.), entre

outras. Nas áreas com ravina (erosão linear), onde não foi possível a regularização do solo,

deverá ser criada uma faixa de proteção, com o plantio de espécies nativas sobre

terraços, com largura mínima de 30m, a partir da borda da ravina (nível regular do solo no

entorno). Dessa forma, minimiza-se ou evita-se a entrada de água superficial no sistema.

• Plantio Misto de Espécies Arbóreas Nativas

Tratando-se de reflorestamento misto com espécies nativas, acredita-se que a

floresta plantada cria condições para a regeneração natural e para o aumento da

diversidade no subosque (DURIGAN e DIAS, 1990; MARIANO et al., 1998; NAPPO et al.

2000; SILVEIRA, 2001).

Segundo Durigan et al. (2004) existem várias pesquisas recentes mostrando que o

papel de floresta plantada é, essencialmente, melhorar as condições de solo e o microclima

para favorecer os processos naturais de regeneração.

Kageyama et al. (1989) afirmam que o plantio misto de espécies nativas pioneiras e não

pioneiras deve dar início ao processo de sucessão, sendo que as espécies do plantio serão

uma das fontes fornecedoras de propágulos para a colonização de novas áreas.

Reflorestamentos mistos, com diversidade de espécies, aceleram o processo sucessional

e, além disso, quando comparadas às plantações homogêneas, apresentam um maior valor

da conservação da biodiversidade (CARNEVALE e MONTAGNINI, 2002).

Os plantios florestais produzem um efeito catalítico, provocando mudanças das

condições microclimáticas, desenvolvimento da complexidade estrutural da vegetação, das

camadas de serapilheira e húmus nos primeiros anos do reflorestamento, gerando dessa

maneira condições propícias para germinação e desenvolvimento das espécies (PARROTA

et al., 1997).

Page 49: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Modelos de Restauração

Mata Atlântica

� Plantio de espécies ao acaso (mistura de espécies): é a combinação

entre pioneiras, secundárias e climácicas que não obedece

necessariamente a alinhamentos pré definidos. A estratégia define

percentuais entre grupos sucessionais (em média, 70 % pioneiras,

incluindo nestas as secundárias iniciais, 20% secundárias tardias e 10%

climácicas) com a orientação de distribuir as mudas de modo a garantir

a formação de um plantio heterogêneo. Apesar de ser, mas fácil sua

aplicação em campo e em larga escala é prejudicado toma mais tempo

para vegetação recobrir a área e assim aumenta o tempo de sua

manutenção.

� Pioneiras e não pioneiras em linha (Modelo de sucessão): é o plantio

intercalado em linhas alternadas de pioneiras (pioneiras + secundárias

iniciais) de não pioneiras (secundárias tardias + climácicas). Esse modelo

busca simular o que acontece naturalmente na floresta, separando as

espécies em grupos ecológicos, de forma que as espécies mais iniciais

da sucessão façam sombreamento para as espécies mais finais de

sucessão. A proporção percentual entre os grupos sucessionais é

simular ao sistema de plantio de espécies ao acaso.

Page 50: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Plantio sucessional em linhas : P (Pioneiras e SEc.

Iniciais); NP (Sec. Tardias e Clímax)

P

NP

P

NP

P

Macedo, 1993

Page 51: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

� Linhas de Preenchimento e Linhas de Diversidade: é o plantio de

linhas alternadas desses dois grupos. O grupo de preenchimento são

espécies com características que promovam rapidamente o recobrimento

da área e é composto por poucas espécies (pioneiras e secundárias

iniciais) e o grupo de diversidade é o composto por espécies pioneiras,

secundárias e climácicas com crescimento mais lento e copa menos ampla.

Trata-se de conceito que tem a mesma base na dinâmica sucessional,

diferenciando-se pela proposição de outro método de combinação entre

espécies e seu alinhamento.

LINHAS DE PREENCHIMENTOPlantio de árvores de

RÁPIDO CRESCIMENTO E GRANDE COBERTURA

LINHAS DE DIVERSIDADE

Plantio de árvores de CRESCIMENTO MAIS LENTO E PEQUENA

COBERTURA

PLANTIO DE MUDAS

Page 52: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

• Plantio em Módulos: pressupõe uma planta base central, dos grupos

finais da sucessão, rodeada por 4 ou mais planta sombreadoras (grupos

iniciais). A grande dificuldade desse modelo é operacionalidade em

campo.

SI SI

P P P P

SI C SI SI ST SI

P P P P

SI SI

P – pioneira

SI- Secundária inicial

ST – Secundária tardia

C – Climácica

• Ilhas de diversidade – podem ser aplicadas em duas situações:

1. Paisagens com fragmentos florestais remanescentes que serão fontes

de propágulos

2. Projeto de implantação de restauração dde grandes áreas como

microbacias, município, conjuntos de propriedades rurais,

assentamentos rurais e outros, onde, pela dimensão do projeto é

possível a implantação de um grande número de ilhas que por si só,

serviriam de fonte de propágulos.

Page 53: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Esse modelo é uma forma de diminuir os custos da restauração através do

plantio em ilhas – árvores isoladas ou em grupos – para atrair dispersores de

sementes das espécies presentes nas ilhas, assim como trazer propágulos de

outras espécies dos remanescentes florestais próximos; possibilitando a

recolonização por diversas espécies e o restabelecimento do fluxo gênico

entre as populações arbóreas, aumento da biodiversidade e mesmo a

restauração da conectividade, acarretando na melhoria da qualidade da

paisagem. As ilhas podem representar de 15 a 30% da área e podem ter dois

modelos: plantio de espécies pioneiras e não pioneiras em ilhas; ou plantio de

espécies não pioneiras em ilhas e espécies pioneiras na área total. Mesmo no

plantio de árvores pioneiras de forma isolada, elas se tornam atrativos para

fauna e consequentemente, para chegada de novos propágulos.

• Independente de qual modelo todos objetivam o rápido recobrimento

do solo e a alta diversidade. O rápido recobrimento do solo diminui a

entrada de luminosidade e portanto permitindo o controle natural das

gramíneas (que necessitam de sol) e promove a regeneração das

espécies nativas. A alta diversidade é uma das carcaterísticas

intrínsecas das florestas tropicais e do seu equilíbrio dinâmico.

Page 54: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Modelos de Restauração

Bioma Cerrado

Segundo (Durigan, 2003), a pesquisa básica sobre espécies da vegetação desse bioma

ainda é muito rara. E como é descrito por muitos autores o processo sucessional da

vegetação do cerrado é muito diferente do processo de sucessão secundária conhecido

para florestas ( mata atlântica e amazônia). No cerrado o que ocorre é apenas uma

alteração de fisionomias mais abertas para fisionomias mais densas definidas relacionadas

principalmente em funçao do sítio.

As técnicas que podem se aplicar visando a restauração do cerrado se dividem em duas

grandes linhas:

• Condução da regeneração natural em função do alto poder de rebrota de suas

raízes ( abordada no início deste caderno);

• Técnicas de plantio;

Recomendaçõe genéricas para plantio de restauração cerrado (Durigan,2003):

• Não plantar árvores onde elas nunca existiram (campo úmidos por exemplo).

• Definir espaçamento com base na densidade da vegetação original da região.

• Selecionar espécies nativas da região, priorizando leguminosas e espécies longevas.

• Efetuar o plantio no início da estação chuvosa, para que o sistema radicular se

desenvolva em busca das reservas de água das camadas mais profundas do solo

antes da estação seca.

• Manter contorle rigoroso de formigas cortadeiras e gramínea exóticas até o

estabelecimento das mudas.

• Utilizar mudas grandes e robustas (50 cm de altura no mínimo)

• Abrir covas amplas

• Utilizar adubação orgânica.

Page 55: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

SAF – Sistema Agroflorestal

Na agrofloresta as plantas cultivadas são introduzidas em consórcios, espécies

agrícolas e espécies florestasi, de forma a preencher todos os espaços ao longo do tempo

da mesma forma que na sucessão natural, onde as plantas ocorrem em conjunto e não

isoladas, e requerem outras plantas para um ótimo desenvolvimento.

Uma agrofloresta completa deve ter presente todos os consórcios, garantindo que o

sistema tenha sempre plantas de diferentes idades e diferentes alturas, para ocupar

sempre o espaço com o passar do tempo, manter o solo coberto e ofertar diferentes

produtos.

A resolução do CONAMA 369/06 define que pequenas propriedades rurais podem

utilizar SAF em suas áreas de preservação permanente. Nesse caso as espécies arbóreas

são espécies nativas.

Um aspecto que determina a sustentabilidade desses sistemas é a presença das

árvores, que têm a capacidade de capturar nutrientes de camadas mais profundas do solo,

reciclando-os eficientemente e proporcionando maior cobertura e conservação dos

recursos edáficos. O Sistema Agroflorestal objetiva otimizar a produção por unidade de

área, com o uso mais eficiente dos recursos (solo, água, luz, etc.), da diversificação de

produção e da interação positiva entre os componentes.

O plantio de alta diversidade de espécies na agrofloresta, assim como ocorre nas

nossas matas, é muito importante, pois cada espécie vai cumprir um papel diferente, vai

aproveitar a luz e o solo de maneira ótima. Além disso, traz o equilíbrio entre os seres

vivos, evitando ataque intenso de pragas e doenças.

Preparo da área com coquetel de adubos verdes: Uma área com presença de

gramíneas pode ser preparada com antecedência para implantação de agrofloresta no ano

seguinte, a partir de uso de plantas leguminosas (feijão-de-porco, crotalária, feijão-

guandu, mucuna, tremoço) e não leguminosas (milheto, sorgo, aveia preta, nabo forrageiro,

Page 56: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

mamona, girassol) de rápido crescimento e boas produtoras de biomassa, que podem

"abafar" o capim. Nesse caso, podem-se jogar as sementes a lanço, em alta densidade e

roçar o capim. No ano seguinte implanta-se a agrofloresta num solo já melhorado, com

bem menos capim.

Escolha das espécies: depende das condições de clima, de relevo, de solo (se é bem

drenado ou se encharca, se apresenta alta ou baixa fertilidade, etc.). As características

do solo podem ser reconhecidas muitas vezes por plantas indicadoras, que são plantas que

nos dão pistas de como está o solo, ou seja, que só ocorrem em solos que apresentam uma

determinada característica (por exemplo: guanxuma indica solo compactado, samambaia

indica solo ácido, trapoeraba indica solo rico em matéria orgânica, etc).

No caso do solo estar degradado, devem-se plantar espécies menos exigentes, até que

se melhore o solo pela produção de matéria orgânica. Quando o solo estiver mais rico,

espécies mais exigentes poderão ser plantadas, reiniciando a sucessão.

Época de plantio: o plantio, por mudas ou sementes, deve ser, geralmente, no início do

período das chuvas. É possível também implantar uma agrofloresta no final do período

chuvoso, mas é necessário irrigar. Nesse caso, recomenda-se a implantação com hortaliças

para garantir a produção inicial e justificar a irrigação.

Muvuca ou mistura de sementes: As árvores são semeadas em alta densidade, de

modo que se estabeleçam 10 árvores por m2 (metro quadrado). As sementes das árvores,

após a quebra de dormência, são misturadas com terra e umedecida, na consistência de

uma farofa, que é então distribuída, em linhas, no terreno. Para uma boa distribuição no

campo, a mistura de sementes, por exemplo, que tenha sido preparada para 6 linhas de

plantio, pode ser dividida em 6 montinhos, de modo que, a cada linha, um montinho será

distribuído. As sementes das árvores podem germinar facilmente ou demorar muito tempo

para germinar, o que é chamado de dormência. Essa é uma estratégia das plantas para que

as sementes sobrevivam por muito tempo no chão, esperando as melhores condições

ambientais para germinar. Para acelerar a germinação existem maneiras de se "quebrar a

dormência” das sementes. Para as sementes duras recomenda-se lixar, ralar ou cortar com

Page 57: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

cuidado a casca da semente, criando uma pequena abertura. O corte deve ser feito

sempre no lado oposto ao arilo (arilo é o "olho" de onde vai sair o broto). Outra estratégia

é dar um choque térmico na semente, colocando-a por 1 minuto em água quente (até 80ºC)

e jogando-a em água fria na seqüência. Para todos os casos se recomenda deixar a

semente 24 horas em água antes de plantar, à temperatura ambiente, para que a água seja

absorvida pela semente.

Espaçamento: Recomenda-se que as espécies agrícolas (culturas anuais e semi-

perenes) sejam plantadas no mesmo espaçamento tecnicamente recomendado como se

fosse plantar em monocultivos. As árvores deverão ser plantadas, preferencialmente por

sementes, em alta densidade (10 árvores por metro quadrado).

Cobertura do solo: o material resultante das podas deve ser devidamente picado e

depositadosobre o solo, cuidando-se para colocar o material mais lenhoso em contato com

o solo e organizado no sentido contrário ao escoamento da água da chuva.

Page 58: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

• Nucleação

Ação: trazendo elementos que sejam capazes de promover a colonização de novas

populações (flora e fauna) em um ambiente através disponibilização de novos recursos ou

criação de novos habitats. (Reis et al, 2003)

Técnicas de nucleação para restauração:

• Abrigos artificias, poleiros artificiais, transposição de solo, chuva de sementes,

plantio de mudas de árvores (grupos de Anderson);

Essas técnicas podem ser utilizadas de maneira aleatória de forma a ocupar a área toda,

com objetivo de fornencer diferente maneiras de atração da biodiversidade para área em

processo de restauração.

Abrigos para a fauna:• Acúmulo de galhos secos, tocos e resíduos florestais e

Amontoados de pedras dispostos em núcleos

Resíduos florestais, quando enleirados, oferecem excelentes abrigos para uma fauna

diversificada e constituem um ambiente propício para a germinação e desenvolvimento de

sementes de espécies mais adaptadas aos ambientes sombreados e úmidos

Page 59: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Transposição de solo: • Prática de transporte de solo superficial e serrapilheira de uma

área de floresta conservada para a área de restauração.

• Visa resgatar a fauna e a flora do solo, incluindo microorganismos e banco de sementes

Poleiros artificiais: Poleiros secos, Árvores secas e torres de cipó.

Que visam a atração da fauna dispersora, que trarão propágulos para colonizar a área.

Poleiro tipo “Torre de Cipó”- estrutura coniforme de varas com 12 m de altura, fazendo

inicialmente a função de poleiros secos (à esquerda) e depois (à direita) com o

crescimento de emaranhado de lianas, formando excelentes abrigos para aves e morcegos.

((Chuva de sementes). Recomenda-se 4 a 12 poleiros/ha.

Page 60: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Chuva de sementes:Transposição de mudas germinadas da chuva de sementes

Transposição de Chuva de Sementes em Pastagem.

Page 61: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Glossário

• Anemocoria – sídrome de dispersão realizada pelo vento.

• Barocoria - sídrome de dispersão realizada pela gravidade.

• Bacia Hidrográfica - é uma área drenada por um rio ou um sistema

conectado de rios (riachos, córregos) tal que toda a vazão efluente é

descarregada através de uma simples saída sempre das áreas mais altas

para as mais baixas.

• Bioma – conjunto de ecossistemas terrestres caracterizados por tipos

fisionômicos semelhantes de vegetação.

• Espécie Nativa – espécie animal ou vegetal de ocorrência natural de

determinado local ou região.

• Espécies exóticas - são espécies que se instalam em locais onde não são

naturalmente encontradas.

• Espécie exótica invasora - são uma parcela das plantas, animais e

microorganismos exóticos que se disseminam rápida e agressivamente

quando introduzidas por ação humana além de suas áreas de ocorrência

natural.

• Fragmentos - são áreas com vegetação nativa contínua, interrompida por

ações antrópicas como pastagens, estradas, reflorestamentos, povoados,

etc, ou, ainda, por barreiras naturais como montanhas, lagos ou outras

formações vegetais propiciando a redução do fluxo de animais, pólen e

sementes.

• Levantamento florístico - consiste em identificar e catalogar espécies de

plantas de uma

determinada área, com finalidade de se obter um arquivo de nomes

populares e científicos

das espécies encontradas durante a pesquisa in loco.

• Propágulos - possuem a função de propagar a espécie, ou seja, são

estruturas adaptadas para garantir o sucesso na disperção das espécies

vegetais.

Page 62: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

• Regeneração Natural - conjunto de indivíduos de espécies arbóreas,

arbustivas e herbáceas em estágio inicial de desenvolvimento em uma

floresta, abrangendo desde plântulas recém germinadas até indivíduos

juvenis.

• Resilência: Capacidade de superar o distúrbio imposto por um fenômeno

externo. Potencial ou capacidade de regeneração de um ecossistema após

uma degradação.

• Zoocoria: síndrome de dispersão realizada por animais.

Page 63: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Bibliografia consultada e sugerida:

ATTANASIO, C. M. Manual Técnico: Restauração e Monitoramento da

Mata Ciliar e da reserva Legal para a Certificação Agrícola - Conservação da

Biodiversidade na Cafeicultura Imaflora, 2008.60 p.

BARBOSA, L. M. Coord. ANAIS DO WORKSHOP SOBRE RECUPERAÇÃO DE

ÁREAS DEGRADADAS: Modelos Alternativos para Recuperação de Áreas

Degradadas em Matas Ciliares no Estado de São Paulo. 09 e 10 de

março, São Paulo. Anais - São Paulo: Instituto de Botânica, 2006. 89 p.

BAWA, K.S.; SEIDLER, R. Natural Forest management and conservation of

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p. 46-55, 1998.

BUDOWSKI, G. Distribuition os tropical american rain forest in light of

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DURIGAN, G.; MELO, A.C.G,; MAX, J.C.M.; VILLAS BOAS, O; CONTIÉRI,W.A.

Manual para recuperação das matas ciliares do Oeste Paulista. São

Paulo: Instituto Florestal / CINP / Secretaria do Meio Ambiente, 2001.16p.

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L.F.D. de; ENGEL, V.L.; GANDARA, F.B.(Org.) Restauração ecológica de

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FERRETTI, A. R. et al. Classificação das Espécies Arbóreas em Grupos

Ecológicos para Restauração com Nativas no Estado de São Paulo. Florestar

Estatístico, v. 3, n. 7, pp. 73-7, 1995.

FERRETTI, A. R. Recomposição florestal com essências nativas do Estado de

São Paulo. In: Crestana, M. S. M.. Florestas. Sistemas de recuperação com

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GOOSEM, S.; TUCKER, N.I.J. Repairing the rain forest. Cairns: Wet Tropics

Management Authority, 1995. 72 p.

HAHN, C. M. et al. Recuperação florestal: da muda à floresta/ Secretaria

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352p.

MONTEIRO, K. V. (coord.) Mata Atlântica: A Floresta em que vivemos

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REIS, A. & TRES, R. D. Nucleação: integração das comunidades naturais com a

paisagem. In: Manejo e restauração de áreas degradadas. São Paulo –

Fundação Cargill, 2007.

RODRIGUES, R.R.; GANDOLFI, S. Conceitos, Tendências e Ações para a

Recuperação de Florestas Ciliares. In: Rodrigues, R. R.; Leitão Filho, H. de

F.(Ed.). Matas ciliares, conservação e recuperação. São Paulo: Editora

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RODRIGUES, R.R.; BRANCOLION, P.H.S; INSERNHAGEN, I. (org) Pacto pela

Restauração da Mata AtlÂntica: referencial dos conceitos e ações de

restauração florestal – São Paulo: LERF/ESALQ: Instituto BioAtlÂntica, 2009.

256p.

VIEIRA, D.L.M. Regeneração natural de florestas secas: Implicações para

a restauração [PDF] de unb.br2006 - bdtd.bce.unb.br

Links consultados e sugeridos:

• www.agencia.cnptia.embrapa.br

• www.lerf.esalq.usp.br

• www.mma.gov.br

• www.ibama.gov.br

• www.sema.ba.gov.br

• www.sosmatatlantica.org.br

Page 66: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

A seguir é apresentada uma chave de tomada de decisão, para ser utilizada como

ferramenta na seleção do modelo a ser utilizado para restaurar as matas ciliares,

elaborada no Workshop sobre recuperação de áreas degradadas em matas ciliares

no Estado de São Paulo e pode ser adaptada a realidade do Estado da Bahia.

Chave para tomada de decisão Restauração de Matas Ciliares

Definições de termos utilizados na chave de tomada de decisões:

Adensamento: introdução de plantas para complementação da regeneração

natural.

Área isolada : com pequena probabilidade de receber propágulos de espécies

nativas de formações naturais circunvizinhas e do mesmo ecossistema na

paisagem local.

Área não isolada: com elevada probabilidade de receber propágulos de espécies

nativas de formações naturais circunvizinhas e do mesmo ecossistema na

paisagem local.

Enriquecimento: introdução de espécies e/ou genótipos do mesmo ecossistema.

Nucleação: alguma ação facilitadora do processo de sucessão, realizada em

trechos restritos da área a ser restaurada, e que permita a regeneração de

espécies nativas. Ex. poleiros naturais e/ou artificiais, plantios de espécies

atrativas de fauna, banco / chuva de sementes em áreas restritas.

Plantio em área total: introdução de plantas em toda a área quando a

regeneração natural inexiste ou for desconsiderada. A área pode ser restaurada

nas seguintes formas:

- mudas (oriundas de sementes, resgate de plântulas ou propagação vegetativa).

- sementes (semeadura direta ou oriundas de banco ou chuva de sementes).

Regenerantes: indivíduos jovens de plantas nativas de uma formação natural da

região.

Zona tampão: zona adjacente à área restaurada e com ações diferenciadas de

manejo visando o amortecimento dos impactos (ex. culturas perenes, SAFs,

restrição de uso do fogo e herbicidas).

Chave para tomada de decisão na Restauração de Matas Ciliares

Page 67: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Instruções para uso da chave

Para o uso desta chave, as características da área em questão devem ser

consideradas. O primeiro item (o de número 1) apresenta duas possibilidades

mutuamente exclusivas (no caso, com ou sem remanescentes florestais),

marcados com a e b, e em cada um a chave conduz ou a uma série de ações

possíveis ou ao envio a um novo item. Neste caso, se a área apresenta

remanescentes florestais isolados são possíveis as seguintes ações:

enriquecimento florístico com diversidade genética e/ou manejo de espécies-

problemas (invasoras ou superabundantes) e/ou implantação de zona-tampão.

Entretanto, se não existe na área remanescentes florestais, a chave indica uma

nova bifurcação (agora com o número 2): em área abandonada ou em área

utilizada.

1 a. com remanescente florestal isolado (pouco / muito degradada):

Ações Possíveis:

Ø enriquecimento florístico com diversidade genética

Ø manejo de espécies-problema (invasoras ou superabundantes)

Ø implantação de zona tampão

1 b. sem remanescente florestal........................... vai para o item 2

2 a. em área abandonada......................................vai para o item 3

2 b. em área utilizada ..........................................vai para o item 7

3 a. em solo não degradado ..................................vai para o item 4

3 b. em solo degradado .......................................vai para o item 6

4 a. não inundado................................................vai para o item 5

4 b. inundado ou naturalmente mal drenado (com / sem regenerantes naturais):

Ações Possíveis:

Ø adensamento e enriquecimento florístico com diversidade genética

Ø plantio em área total (mudas ou semeadura)

Page 68: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Ø manejo de espécies-problema (invasoras ou superabundantes)

Ø implantação de zona-tampão

5 a. com regenerantes naturais:

Ações Possíveis:

Ø inundação e condução da regeneração

Ø adensamento e enriquecimento florístico com diversidade genética

Ø nucleação (ilhas de diversidade)

Ø implantação de zona-tampão

5 b. sem regenerantes naturais:

Ações Possíveis:

Ø plantio em área total (mudas ou semeadura)

Ø nucleação (ilhas de diversidade)

Ø implantação de zona-tampão

6 a. sem exposição de rocha: problemas físicos e/ou químicos (incl. várzeas

drenadas):

Ações Possíveis:

Ø aração e/ou gradagem e/ou subsolagem

Ø adubação verde

Ø transferência de serapilheira, camada superficial do solo e banco de sementes

Ø plantio em área total (mudas ou semeadura)

Ø implantação de zona-tampão

6 b. com exposição de rocha (material de origem):

Ações Possíveis:

Ø transferência de subsolo

Ø transferência de serapilheira, camada superficial do solo e

banco de sementes

Ø adubação verde

Ø plantio em área total (mudas ou semeadura)

Page 69: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Ø implantação de zona-tampão

7 a. em área de pecuária ..................................... vai para o item 8

7 b. em área não de pecuária ............................... vai para o item 9

8 a. pastagem com regenerantes naturais:

Ações Possíveis:

Ø conservação e descompactação do solo

Ø indução e condução da regeneração

Ø adensamento e enriquecimento florístico com diversidade genética

Ø nucleação (ilhas de diversidade)

Ø implantação de zona-tampão

8 b. pastagem sem regenerantes naturais:

Ações Possíveis:

Ø conservação e descompactação do solo

Ø plantio em área total (mudas ou semeadura)

Ø nucleação (ilhas de diversidade)

Ø implantação de zona-tampão

9 a. área de reflorestamento econômico (pinus, eucalipto, seringueira,

etc.).............................................vai para o item 10

9 b. área agrícola............................................ vai para o item 11

10 a. com regenerantes naturais:

Ações Possíveis:

Ø desbaste

Ø morte em pé da espécie econômica

Ø corte total

Ø indução e condução da regeneração

Ø adensamento e enriquecimento florístico com diversidade genética

Page 70: PRODUTO 3 Manual sobre Restauração de Matas Ciliares Volume I ...

Ø implantação de zona-tampão

10 b. sem regenerantes naturais:

Ações Possíveis:

Ø corte total

Ø plantio em área total (mudas ou semeadura)

Ø nucleação (ilhas de diversidade)

Ø implantação de zona-tampão........................ vai para o item 9

11a pouco tecnificada:

Ações Possíveis:

Ø pousio para avaliação da expressão da regeneração natural

Ø indução e condução da regeneração

Ø adensamento e enriquecimento florístico com diversidade genética

Ø plantio em área total (mudas ou semeadura)

Ø nucleação (ilhas de diversidade)

Ø implantação e zona tampão

11b altamente tecnificada:

Ações Possíveis:

Ø plantio em área total (mudas ou semeadura)

Ø nucleação (ilhas de diversidade)

Ø implantação e zona tampão