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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
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PROEJA E CURRÍCULO: MATERIALIZANDO O EXERCÍCIO DA
INTERDISCIPLINARIDADE NA CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO INTEGRADO
Jamile Delagnelo Fagundes da Silva Instituto Federal Catarinense – [email protected]
Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade
Resumo Este artigo tem como objetivo relatar a experiência de uma proposta de construção de currículo integrado, norteado pelo o exercício da interdisciplinaridade, que vem sendo desenvolvido no Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) do Instituto Federal Catarinense. O Programa tem como principal objetivo a formação integral do aluno, constitui-se em uma política de inclusão social na qual a formação profissional está integrada à escolarização. Assim, ele é norteado por uma proposta pedagógica que está fundamentada no currículo integrado. Eis aqui o nosso desafio! Na busca de desenvolver um currículo integrado pautamos nosso trabalho na interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade é um conceito complexo e polissêmico, sendo que nesta proposta vamos ao encontro do que Fazenda (1994), Demo (2002), Jantsch e Bianchetti (1997) apontam. Para os autores, a interdisciplinaridade não pode ser vista fora da compreensão epistemológica, histórica e crítica. Recorremos ainda às contribuições de Jantsch e Bianchetti (1997), quando afirmam que a interdisciplinaridade não pode ser concebida fora dos modos de produção históricos em vigor. A abordagem interdisciplinar deve ser entendida como produto histórico. É a partir dessas contribuições, entre outras, que estamos materializando o exercício da interdisciplinaridade na construção do currículo integrado no PROEJA. O exercício da interdisciplinaridade, na construção do currículo integrado, está trazendo importantes contribuições para repensarmos o processo educativo no PROEJA. Este exercício vem apontando importantes indicadores para compreendermos os processos de construção do conhecimento dos educandos, a maneira como eles vão se apropriando dos aspectos formais do conhecimento cientifico. Outra contribuição que consideramos importante refere-se ao fato de que os instrumentos utilizados (planejamento coletivo, reuniões semanais, problemáticas compartilhadas, entre outros) representam uma ferramenta para a auto-reflexão dos docentes. É a partir do exercício da insterdisciplinaridade, dos registros que vem se consolidando através dos instrumentos utilizados nesta prática, que o docente percebe-se e é percebido, podendo assim refletir sobre sua ação pedagógica.
Palavras chave: Interdisciplinaridade. PROEJA. Currículo.
1. Para início de conversa
A EJA é uma categoria organizacional constante da estrutura da educação nacional, com finalidades
e funções específicas. Como finalidade, há o compromisso de propiciar um atendimento mais aberto aos
jovens e adultos tanto no que se refere ao acesso à escolaridade obrigatória, quanto a iniciativas de caráter
preventivo para diminuir a distorção idade/ano.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos (Parecer CEB nº
11/2000), consonante com a nova LDB aponta, então, três funções como responsabilidade da educação de
jovens e adultos: reparadora (restaurar o direito de uma escola de qualidade); equalizadora (restabelecer a
trajetória escolar); qualificadora (propiciar a atualização de conhecimentos por toda a vida).
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Portanto, as finalidades e funções específicas desta modalidade de ensino destinada aos jovens e
adultos “indicam que em todas as idades e em todas as épocas da vida, é possível se formar, se desenvolver e
constituir conhecimentos, habilidades, competências e valores que transcendam os espaços formais da
escolaridade e conduzam à realização de si e ao reconhecimento do outro como sujeito” (Parecer CEB no
11/2000).
Nesta perspectiva, entendemos que o aprendizado não ocorre somente no espaço escolar, pois a
educação de jovens e adultos atende a um público que possui uma vasta bagagem de conhecimento
empírico, construído de forma difusa e não-sistemática e que deve ser levado em consideração na construção
de novos conhecimentos. Acreditamos que uma das possibilidades de propiciar e valorizar a construção de
conhecimentos nesta perspectiva é materializando o exercício da interdisciplinaridade na construção do
currículo. Assim, este artigo tem como objetivo relatar a experiência de uma proposta de construção de
currículo integrado, norteado pelo o exercício da interdisciplinaridade, que vem sendo desenvolvido no
Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de
Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) do Instituto Federal Catarinense.
O Programa tem como principal objetivo a formação integral do aluno, constitui-se em uma política
de inclusão social na qual a formação profissional está integrada à escolarização. Assim, ele é norteado por
uma proposta pedagógica que está fundamentada no currículo integrado. Eis aqui o nosso desafio!
2- Um olhar sobre o Programa
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em seu artigo 39 apregoa que “a educação
profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao
permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva”. Observa-se aqui que a integração da
educação profissional com o processo produtivo, com a produção de conhecimentos e com o
desenvolvimento científico-tecnológico é, antes de tudo, um princípio a ser seguido, uma vez que já está
previsto na lei que rege a educação nacional.
Seguindo os preceitos da lei, e buscando atender de forma mais abrangente os jovens e adultos
trabalhadores vitimados pelos processos de exclusão social, surge o PROEJA - Programa Nacional de
Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos.
Instituído pelo Decreto 5.840, de 13 de julho de 2006, o Programa Nacional de Integração da Educação
Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos é dirigido aos jovens
acima de 18 anos sem o ensino médio e sem formação profissional formal.
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Este Programa tem como objetivo integrar a educação (formação) profissional à educação básica
com o mesmo padrão de qualidade e de forma pública, gratuita, igualitária e universal, aos jovens e adultos
que foram excluídos do sistema educacional ou a ele não tiveram acesso nas faixas etárias denominadas
regulares. Esta formação específica e continuada é uma necessidade permanente para os jovens e adultos
trabalhadores, retomando assim os princípios ético-politicos já presentes no campo da EJA, como direito à
educação, à formação humana e a busca de universalização do ensino médio com vistas à elevação da
escolaridade. O Programa tem seu projeto educacional fundado na
Integração entre trabalho, ciência, técnica e tecnologia, humanismo e cultura geral com a finalidade de contribuir para o enriquecimento cientifico, cultural, político e profissional como condições para o efetivo exercício da cidadania. (DOCUMENTO BASE, 2007, p1)
O PROEJA oferecido no Instituto Federal Catarinense – Campus Camboriú, conforme o Artigo 3º e
seus incisos do Decreto n.º 5.840 de 13 de julho de 2006, oferta curso de Formação Inicial e Continuada
articulado com o Ensino Médio, é composto de 1520 horas, sendo destinadas 1200h para a formação geral e
320h ou 220h para a qualificação profissional. O turno de funcionamento é no período noturno, das 19h às
22h e 30 min, com um intervalo de 10 minutos. O curso é integralizado em quatro semestres e na conclusão
o aluno receberá um Certificado de Conclusão de Ensino Médio articulado com a Qualificação Profissional.
O Programa, em 2011, atende três turmas de ensino médio e a carga horária está distribuída de forma
que os estudantes sejam atendidos com 80% na forma presencial e 20% na semipresencial. As aulas
presenciais serão ministradas de segunda-feira à quinta-feira e, semipresenciais, na 6ª feira. Na forma
presencial, as aulas do Ensino Médio (formação geral) ocorrerem em três dias da semana e um dia para as
aulas de qualificação. As duas qualificações profissionais são nas áreas de Hospitalidade e Lazer e
Agroindústria.
A experiência relatada neste artigo aconteceu em uma das turmas deste Programa. A escolha desta
turma foi em função de realizarmos o trabalho de mediação com estes alunos na função de mediadora
pedagógica, fato este que propicia o acompanhamento mais próximo das aprendizagens destes alunos. Esta
turma é composta por vinte e sete alunos. É importante ressaltar que a caracterização da turma foi realizada
com base no questionário investigativo que utilizamos para entrevistar/conhecero o aluno quando ele realiza
a matrícula no Programa. Este questionário tem como objetivo conhecer melhor a realidade da turma, bem
como as expectativas de nossos alunos. Ressaltamos também que este instrumento é fundamental para
iniciarmos nossas reflexões acerca de um currículo mais interdisciplinar e contextualizado com a realidade
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destes alunos. A turma pesquisada é formada por vinte e duas mulheres e cinco homens, são alunos com
várias faixas etárias como observaremos nos gráficos a seguir:
Gráfico 01: faixa etária dos alunos PROEJA
Também é importante ressaltar que neste grupo, existe um número significativo de alunos ( cinco
alunos), que estão a procura de emprego com carteira assinada, hoje eles vivem de “bicos” e retornaram a
estudar com a esperança de se qualificar profissionalmente e conseguir uma colocação no mundo do
trabalho. No gráfico abaixo podemos observar que o grupo trabalha em diferentes profissões.
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Idade 18 até 20anos
21 até 25anos
26 até 30anos
31 até 35anos
36 até 40anos
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Gráfico 02: atividade profissional alunos PROEJA
Ainda em relação as atividades profissionais desenvolvidas é interessante observamos que a renda
familiar média mensal destes alunos se concentra, em grande parte, no valor de mil a dois mil e quinhentos
reais.
Gráfico 03: Renda familiar mensal dos alunos do PROEJA
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Porém, é importante ressaltar que esta corresponde a renda familiar e que grande parte destes
alunos, aproximadamente vinte, são casados ou vivem em união estável, sendo que cerca de onze deles
tem filhos, conforme gráfico apresentado abaixo.
Gráfico 04: Quantidade de filhos alunos do PROEJA
Além dos dados apresentamos, pensamos ser importante salientar que apenas dois destes alunos
residem na zona rural e que dezoito deles moram na cidade de Camboriú e nove na cidade de Itapema.
Sendo assim, o meio de transporte mais utilizado para chegar a escola é o transporte coletivo público,
seguido de moto. Outro dado interessante é que 18 deles moram em residência própria, o restante em
residência alugada ou cedida.
Os alunos deste grupo, em sua maioria, vivenciaram recentemente um processo de escolarização
em um PROGRAMA do governo, o PROJOVEM, para concluírem o ensino fundamental. Porém, antes
deste retorno podemos constatar que, a maioria do grupo, estava em média quinze anos afastados na escola,
como demonstra o gráfico abaixo:
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Não temFilhos
1 Filho 2 Filhos 3 Filhos 4 Filhos
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Gráfico 05: Tempo que os alunos do PROEJA estavam afastados da escola
Apresentamos uma breve caracterização da turma envolvida neste relato de experiência, pois
acreditamos que para a realização da prática interdisciplinar o primeiro passo é conhecer os sujeitos que
estão envolvidos neste processo. Evidente que este conhecimento vai muito além das informações
apresentadas acima, pois cada aluno é um sujeito que traz marcas da sua história pessoal e profissional,
marcas estas que devem ser respeitadas e compreendidas neste processo de escolarização e, especialmente
na construção curricular de uma proposta pedagógica. Como mediadoras da EJA convivemos com esses
sujeitos, suas marcas, histórias, angústias, situações e movimentos que nos propõe desafios diariamente.
3- A teoria que nos permite colocar o projeto em prática
Como o Programa tem como principal objetivo uma formação integral do aluno, constitui-se em uma
política de inclusão social na qual a formação profissional está integrada à escolarização. Assim, ele é
norteado por uma proposta pedagógica que está fundamentada no currículo integrado.
A integração aqui pressupõe que a educação geral se torne parte inseparável da Educação
Profissional, na qual se possibilita condições para inserção e continuidade no mundo do trabalho. Neste
contexto, o currículo orienta-se pelo diálogo constante com a realidade e a organização curricular é uma
construção contínua, processual e coletiva que envolve todos os sujeitos participantes deste Programa.
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Um princípio que ganha destaque no PROEJA é o do “trabalho como princípio educativo”. A
vinculação da escola média com a perspectiva do trabalho não se pauta pela relação com a ocupação
profissional diretamente, mas pelo entendimento de que homens e mulheres produzem sua condição humana
pelo trabalho — ação transformadora no mundo, de si, para si e para outrem. (Documento Base, 2007)
O trabalho, mais do que qualquer outro tema, deverá permear toda a proposta pedagógica, pois o
Trabalho (sentido ontológico) não é emprego, não é ação econômica específica. Trabalho é produção,
criação, realização humanas. Compreender o trabalho nessa perspectiva é compreender a história da
humanidade, as suas lutas e conquistas mediadas pelo conhecimento humano. O trabalho é visto, portanto,
como a mediação entre ciência e produção humana
Outro princípio é a preocupação em considerar as condições geracionais, de gênero, de relações
étnico-raciais como fundantes da formação humana e dos modos como se produzem as identidades sociais.
Nesse sentido, outras categorias para além da de “trabalhadores”, devem ser consideradas pelo fato de serem
elas constituintes das identidades e não se separarem, nem se dissociarem dos modos de ser e estar no
mundo de jovens e adultos.
Conforme do Documento Base (2007), “a organização curricular na EJA abre possibilidade de
superação dos modelos curriculares tradicionais, disciplinares, rígidos”. Assim propõe-se a desconstrução e
reconstrução de modelos curriculares pautados nas trajetórias de “vida” e de “trabalho” dos sujeitos
educandos, ou seja, nas suas identidades culturais.
Vale ressaltar que a disciplina é uma maneira de organizar, delimitar, pois representa um conjunto
de estratégias organizacionais, uma seleção de conhecimentos que serão apresentados aos alunos. Segundo
Fazenda (1994, p.66) “a indefinição sobre interdisciplinaridade origina-se ainda dos equívocos sobre o
conceito de disciplina”. Neste contexto, a proposta de interdisciplinaridade na organização de um currículo
visa estabelecer ligações de complementaridade entre as disciplinas, interconexões e passagens entre os
conhecimentos.
Da mesma forma que o proposto no Documento Base (2007), entendemos que o currículo não está
concebido “a priori”. A construção de um currículo integrado, principalmente, para a EJA deve ser contínua,
processual e coletiva que envolve todos os sujeitos que participam desse processo. Os ciclos de
aprendizagem possibilitam trabalhar as diferenças com mais flexibilidade, buscando integrar o cotidiano
local e o saber escolar de forma significativa através da abordagem dos temas por área de conhecimento e
projetos de pesquisa. Ainda o art. 3o da Declaração de Hamburgo (1997) afirma que:
A educação de adultos engloba todo o processo de aprendizagem formal ou informal, onde pessoas consideradas “adultas” pela sociedade desenvolvem suas habilidades, enriquecem seu
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conhecimento e aperfeiçoam suas qualificações técnicas e profissionais, direcionando-as para a satisfação de suas necessidades e as de sua sociedade. A educação de adultos inclui a educação formal, a educação não-formal e o espectro da aprendizagem informal e incidental disponível numa sociedade multicultural, onde os estudos baseados na teoria e na prática devem ser reconhecidos. (In: IRELAND, MACHADO, PAIVA, 2004, p. 42).
A partir desta concepção de educação como continuada ao longo da vida na modalidade EJA, abre-se
um novo campo de discussões e reflexões sobre as concepções pedagógicas vigentes na educação brasileira
e na formação dos docentes que atuam/atuarão nesta área.
Assim, o Programa entende a pedagogia como teoria da educação e, portanto, teoria da prática
educativa. Na modalidade EJA a concepção pedagógica, mais do que qualquer outra modalidade de ensino,
deve ter como princípio pedagógico “a relação entre a teoria e prática” e como campo de conhecimento
específico, implica investigar, entre outros aspectos, as reais necessidades de aprendizagem dos sujeitos
alunos. Acreditamos que uma das possibilidades de estabelecer esta relação entre teoria e prática está no
exercício das práticas interdisciplinares.
A flexibilização de currículos, meios e formas de atendimento, integrando as dimensões de
educação geral e profissional, reconhecendo processos de aprendizagem informais e formais, combinando
meios de ensino presenciais e a distância, possibilita aos jovens e adultos a obtenção de novas aprendizagens
e a certificação correspondente mediante diferentes trajetórias formativas.
A prática social e, principalmente, a prática laboral dos jovens e adultos interferem na concepção de
uma pedagogia voltada para este público. Ao se propor uma concepção pedagógica que relaciona teoria e
prática, a busca de uma prática interdisciplinar que resulta num currículo integrado, incorpora-se nesta
concepção a articulação dos conhecimentos prévios produzidos no seu estar no mundo àqueles disseminados
pela cultura escolar.
No caso da EJA, a pedagogia deve partir do reconhecimento desses sujeitos educandos constituídos
em suas relações histórico-sociais, e para tanto, deve-se construir uma proposta pedagógica que possibilite à
existência de linhas de flexibilidade, que sejam diferentes da escola que propõe formatar indivíduos e
construir subjetividades mais ou menos parecidas com as exigências de um mercado, por isso as práticas
disciplinares não cabem nesta concepção de educação.
Dessa forma, o Documento Base do PROEJA (2007) estabelece alguns princípios que consolidam os
fundamentos da política educativa da EJA definidos através das teorias de educação em geral e estudos
específicos desta modalidade de ensino.
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O PROEJA do Instituto Federal Catarinense – Campus Camboriú – como instituição de ensino que
integra a Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica entende que os princípios da EJA devem
propiciar a inclusão e permanência dos jovens e adultos na escola. Isso significa a inserção orgânica da
modalidade EJA integrada à educação profissional, integração esta que acreditamos que só é possível
através de uma pratica interdisciplinar.
Isso significa dizer que essa concepção de currículo permite a abordagem de conteúdos e práticas
interdisciplinares, a utilização de metodologias dinâmicas que valorizem os saberes adquiridos em espaços
de educação não-formal como também o respeito à diversidade. Assim, ainda em consonância com o
Documento Base, a estrutura curricular enquanto um processo de seleção e de produção de saberes, de
visões de mundo, de habilidades, de valores, de símbolos e significados, enfim, de culturas, deve considerar:
a) A concepção de homem como ser histórico-social que age sobre a natureza para satisfazer suas necessidades e, nessa ação produz conhecimentos como síntese da transformação da natureza e de si próprio (RAMOS, 2005, p. 114); b) A perspectiva integrada ou de totalidade a fim de superar a segmentação e desarticulação dos conteúdos; c) A incorporação de saberes sociais e dos fenômenos educativos extraescolares; “os conhecimentos e habilidades adquiridos pelo educando por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames” (BRASIL, 1996, §2º, Art. 38, LDB); d) A experiência do aluno na construção do conhecimento; trabalhar os conteúdos estabelecendo conexões com a realidade de educando, tornando-o mais participativo; e) O resgate da formação, participação, autonomia, criatividade e práticas pedagógicas emergentes dos docentes; f ) A implicação subjetiva dos sujeitos da aprendizagem; g) A interdisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a interculturalidade; h) A construção dinâmica e com participação; i) A prática de pesquisa (adaptado de MACHADO, 2005).
Na busca de desenvolver um currículo integrado pautamos nosso trabalho na interdisciplinaridade.
A interdisciplinaridade é um conceito complexo e polissêmico, sendo que nesta proposta vamos ao encontro
do que Fazenda (1994), Demo (2002), Jantsch e Bianchetti (1997) apontam. Para os autores, a
interdisciplinaridade não pode ser vista fora da compreensão epistemológica, histórica e crítica. Recorremos
ainda às contribuições de Jantsch e Bianchetti (1997), quando afirmam que a interdisciplinaridade não pode
ser concebida fora dos modos de produção históricos em vigor. A abordagem interdisciplinar deve ser
entendida como produto histórico.
Tal compreensão apontam Jantsch e Bianchetti (1997), não exclui a necessidade de avançar na
direção de outro paradigma que permita uma aproximação maior da visão histórica. Não implica também
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que interdisciplinaridade e a especialidade não possam conviver de forma harmoniosa, dado que o “genérico
e o específico não são excludentes”. Para Japiassu (1976, p.74) “a interdisciplinaridade caracteriza-se pela
intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um
mesmo projeto de pesquisa”.
É a partir dessas contribuições, entre outras, que estamos materializando o exercício da
interdisciplinaridade na construção do currículo integrado no PROEJA. A estrutura curricular do curso é
pautada numa abordagem por área de conhecimento, sendo que os componentes curriculares dialogam entre
si a partir de problemáticas compartilhadas. A metodologia e a abordagem dos conteúdos são planejadas
coletivamente entre os sujeitos que atuam neste Programa, o que constitui o planejamento articulado. Este
planejamento, que é norteado por problemáticas compartilhadas, propicia que se estabeleçam relações e
diálogos entre os conhecimentos abordados concomitantemente, bem como com os conhecimentos dos
semestres anteriores e posteriores. A concretização e avaliação desta prática interdisciplinar podem e são
verificadas através do portifólio e do Livro de Vida da turma. Estes instrumentos são fundamentais e servem
como instrumentos avaliativos para todo o processo.
Vale ressaltar que na abordagem curricular pretendida pelo PROEJA no Instituto Federal Catarinense
- Câmpus Camboriú está a intenção de implementar processos avaliativos adequados às especificidades da
EJA e, portanto, ao público para o qual se destina. Nesta perspectiva, não basta elencar novos instrumentos
para avaliar alunos e alunas jovens e adultos, mas sim, propor a superação das concepções tradicionais e
alicerçar o currículo como um todo num paradigma emancipatório que permita diálogo e negociação entre
professores e alunos acerca dos objetivos e critérios pedagógicos. De nada adianta promover um currículo
alicerçado numa pratica interdisciplinar se o processo avaliativo não for coerente com esta prática. De
acordo com Luckesi ( 2010, p.85)
A avaliação da aprendizagem escolar adquire sentido na mediada em que se articula com o projeto pedagógico e com seu conseqüente projeto de ensino. A avaliação, tanto no geral quanto no caso específico de aprendizagem, não possui uma finalidade em si; ela subsidia um curso de ação que visa construir um resultado previamente definido.
Assim, a avaliação passa a ser determinante na construção de um movimento curricular permanente
que aponte não só intervenções necessárias para que os alunos façam elaborações mais complexas dos
conhecimentos, bem como reoriente cotidianamente a prática pedagógica. Pautando-se nestes princípios, a
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avaliação supera seu formato arbitrário, quantitativo e meramente descritivo para ocupar o espaço da
reflexão e negociação.
Para o aluno, a avaliação passa a ser reguladora da aprendizagem, ou seja, a avaliação nutre a
intervenção intencional frente ao percurso de aprendizagem vivido onde cada aluno é parâmetro de si
mesmo. Desloca-se, portanto, do final das etapas para a condição de reorganizadora do espaço/tempo
consolidando ações que favoreçam a formação permanente individual e também coletiva.
Todas as propostas de atividades que pretendem avaliar os alunos são acompanhadas de critérios que
se pautam principalmente na aprendizagem de determinado conhecimento e podem ser acompanhados de
critérios procedimentais e/ou relacionados a atitudes.
Como conseqüência do uso de critérios de avaliação aparece a auto-avaliação. Uma não se sobrepõe
à outra, são ações específicas de investigadores envolvidos diferentemente no processo de ensino-
aprendizagem. Se por um lado o olhar investigativo do professor estabelece relações mais profundas com
seus objetivos pedagógicos, por outro lado o aluno tem seu olhar relacionando-se com suas intenções iniciais
dialogando num processo de conhecimento e autoconhecimento.
Como toda dinâmica escolar se reverte intencionalmente na garantia de avanços de aprendizagens
individuais e coletivas, optou-se pela adoção do Portfólio como instrumento de avaliação. Este, para nós, se
refere a uma pasta na qual os alunos arquivam evidências do seu percurso de aprendizagem, com trabalhos
produzidos (acompanhados de avaliação, auto-avaliação, reestruturação), produção textual de análise deste
percurso a partir das intervenções docentes, relatos reflexivos de vivências durante o curso, etc.
Cada grupo/aluno decide o roteiro pertinente para o seu Portfólio. De acordo com Villas Boas (2005,
p.43) “cada portifólio e uma criação única, porque o próprio aluno escolhe as produções que incluirá e insere
reflexões sobre o desenvolvimento de sua aprendizagem”. Neste sentido, não existe um Portfólio igual ao
outro, pois neste estão implícitas identidade e experiências do seu autor. O portifólio é um importante
instrumento no qual se pode verificar a existência ou não, da prática interdisciplinar durante o processo de
ensino- aprendizagem.
Considerando que cada um é autor da sua história e a prática docente nada mais é do que a
construção da história de um grupo, optou-se também por utilizar o Livro de Vida para registro diário das
aulas. Trata-se de um caderno partilhado pelo grupo, no qual a história deste é cotidianamente descrita,
narrada ou relatada no gênero desejado pelo aluno, abordando as escolhas, os encaminhamentos, objetivos,
critérios, vivências, percepções individuais, análises, reflexões, enfim, cada um registra seu olhar acerca das
experiências diárias do grupo. O Livro de Vida é um instrumento de condução da prática pedagógica
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interdisciplinar. Através deste analisa-se se a prática consolida-se de acordo, ou não, com as intenções
teóricas.
4- Algumas considerações e contribuições
O exercício da interdisciplinaridade, na construção do currículo integrado, está trazendo
importantes contribuições para repensarmos o processo educativo no PROEJA. Este exercício vem
apontando importantes indicadores para compreendermos os processos de construção do conhecimento dos
educandos, a maneira como eles vão se apropriando dos aspectos formais do conhecimento cientifico. Outra
contribuição que consideramos importante refere-se ao fato de que os instrumentos utilizados (planejamento
coletivo, reuniões semanais, problemáticas compartilhadas, entre outros) representam uma ferramenta para a
auto-reflexão dos docentes. É a partir do exercício da insterdisciplinaridade, dos registros que vem se
consolidando através dos instrumentos utilizados nesta prática, que o docente percebe-se e é percebido,
podendo assim refletir sobre sua ação pedagógica.
Neste contexto, destacamos a experiência na construção do Portifólio e do Livro de Vida pelos
alunos, pois entendemos que os aprendizados registrados pelos alunos no Portifólio e no Livro de Vida são
fundamentais e relevantes para a compreensão e avaliação de nossas práticas educativas interdisciplinares. Os registros realizados pelos alunos se transformam em importantes indicadores para compreendermos os
processos de construção do conhecimento, a maneira como vão se apropriando dos aspectos formais do conhecimento
cientifico. Ainda nos registros dos alunos percebemos que estes compreendem a leitura, a escrita, as atividades
desenvolvidas em sala, muito além de um cumprimento de uma formalidade para os trabalhos escolares.
Referências:
BRASIL. MEC- Ministério de Educação. Documento Base PROEJA. Brasília, 2007
BRASIL. MEC - Ministério de Educação. Educação de jovens e adultos: proposta curricular para o primeiro segmento do ensino fundamental. São Paulo/Brasília, 1997.
______. MEC - Ministério de Educação. Parecer CNE/CEB 11/2000 – Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação de jovens e adultos. Brasília, 2000.
DEMO, Pedro. Introdução à sociologia: complexidade, interdisciplinaridade e desigualdade social. 53 ed. São Paulo: Atlas, 2002. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 2005.
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FAZENDA, Ivani Catarina (Org.) Práticas interdisciplinares na escola. São Paulo: Cortez, 1994 JANTSCH, A. P. & BIANCHETTI, L. Interdisciplinaridade – Para além da filosofia do sujeito. Petrópolis: Vozes, 1997.
VILLAS BOAS, M. B. Portifólio, avaliação e trabalho pedagógico. São Paulo: Papirus, 2005.