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1 PROFª CAMILA PASQUAL DISCIPLINA : LITERATURA CURCEP:2015 VÁRIAS HISTÓRIAS - MACHADO DE ASSIS UFPR 2014 v g á! (“U g”) Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino Sermão da M “B-aventurados os que possuem, porque eles ã .” (“O ”). Esses são os parágrafos finais de contos do livro Várias histórias (1896), de Machado de Assis. Sobre essa obra, considere as afirmativas abaixo: 1. Todos os contos de Várias histórias terminam com algum ensinamento moral, conforme preconizava a estética realista. 2. Na obra machadiana, a competição acirrada que caracteriza a vida humana tende a se resolver após a morte, que serve de consolo e apaziguamento. 3. A g “U g” -se com a reflexão do professor de melancolia: os que abrem caminho nem sempre são premiados por seus esforços. 4. O g “O ” g ã termina a história rico e sem arrependimentos. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. 2) UFPR 2015 Considere as seguintes afirmativas feitas em relação a alguns contos do livro Várias Histórias, de Machado de Assis: 1. O “U ” g interesses mercadológicos e às motivações mais torpes da política. 2. “A S” ã efetivação da relação adúltera entre dois amantes alegra um marido masoquista. 3. O “ ” , mesmo no ambiente corretivo e punitivo de uma escola severa, é possível aprender valores morais deturpados e nocivos. 4. O “D. P” v destino, mesmo que a ordem patriarcal estabelecida a impeça. 5. O “O ôg í ” vá z ; elas, uma segundo a qual as palavras possuem sexo e residem em áreas diferentes do cérebro. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 2 e 5 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 3 e 5 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. Publicado em 1896, Várias Histórias é um exemplo perfeito da maestria com a qual Machado de Assis desenvolveu o conto, produzindo tesouros que estão entre os mais preciosos da Literatura Brasileira. Antes de mergulhar em suas narrativas, portanto, necessário se faz entender um pouco da técnica do autor em tal forma artística. Machado de Assis notabilizou-se por dominar a análise psicológica, dissecando a alma humana em busca de sua essência, que muitas vezes é dilemática, ou seja, expressa o conflito e muitas vezes a conciliação entre elementos opostos.

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PROFª CAMILA PASQUAL

DISCIPLINA : LITERATURA

CURCEP:2015

VÁRIAS HISTÓRIAS - MACHADO DE ASSIS UFPR 2014

v g á ! (“U g ”) Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino Sermão da M “B -aventurados os que possuem, porque eles ã .” (“O ”). Esses são os parágrafos finais de contos do livro Várias histórias (1896), de Machado de Assis. Sobre essa obra, considere as afirmativas abaixo: 1. Todos os contos de Várias histórias terminam com algum ensinamento moral, conforme preconizava a estética realista. 2. Na obra machadiana, a competição acirrada que caracteriza a vida humana tende a se resolver após a morte, que serve de consolo e apaziguamento. 3. A g “U g ” -se com a reflexão do professor de melancolia: os que abrem caminho nem sempre são premiados por seus esforços. 4. O g “O ” g ã termina a história rico e sem arrependimentos. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. 2) UFPR 2015

Considere as seguintes afirmativas feitas em relação a alguns contos do livro Várias Histórias, de Machado de Assis: 1. O “U ” g interesses mercadológicos e às motivações mais torpes da política. 2. “A S ” ã efetivação da relação adúltera entre dois amantes alegra um marido masoquista. 3. O “ ” , mesmo no ambiente corretivo e punitivo de uma escola severa, é possível aprender valores morais deturpados e nocivos. 4. O “D. P ” v destino, mesmo que a ordem patriarcal estabelecida a impeça. 5. O “O ô g í ” vá z ; elas, uma segundo a qual as palavras possuem sexo e residem em áreas diferentes do cérebro. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 2 e 5 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 3 e 5 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

Publicado em 1896, Várias Histórias é um exemplo perfeito da maestria com a qual Machado de

Assis desenvolveu o conto, produzindo tesouros que estão entre os mais preciosos da Literatura Brasileira. Antes de mergulhar em suas narrativas, portanto, necessário se faz entender um pouco da técnica do autor em tal forma artística.

Machado de Assis notabilizou-se por dominar a análise psicológica, dissecando a alma humana em busca de sua essência, que muitas vezes é dilemática, ou seja, expressa o conflito e muitas vezes a conciliação entre elementos opostos.

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É muito comum em suas narrativas depararmo-nos com ações que, mesmo tendo uma determinada inspiração, revelam também o seu oposto, como no caso do usurário

1 “Entre Santos”,

que, em pleno desespero por causa da possibilidade da perda de sua esposa, faz uma promessa fervorosa que tanto revela seu amor à mulher quanto seu apego à noção de lucro, pois se perde em delírios diante da cifra de orações que se propõe a rezar.

Dessa forma, a complexa visão machadiana sobre o homem vai muito além do que os seus contemporâneos faziam. Reforça essa superioridade a intensidade que imprime ao caráter psicossocial, entendendo a personalidade humana como fruto de forças da sociedade, principalmente aquelas que valorizam o status, o prestígio social. É um elemento ricamente abordado em obras-primas como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro.

Assim, os contos de Várias Histórias constituem rico material para um estudo da psicologia do homem e de como ele se comporta no grupo em que vive. Vemos neles a análise das fraquezas humanas, norteadas muitas vezes pela preocupação com a opinião alheia. Em inúmeros casos as personagens fazem o mesmo que nós: mentem, usam máscaras, para não entrar em conflito com o meio em que estão e, portanto, convivem em sociedade. O pior é que levam tão a sério essa máscara que chegam até a enganar a si mesmas, acreditando nela como a personalidade real.

Por causa desses elementos temáticos, notamos uma peculiaridade nos contos machadianos. Esse gênero, graças à sua brevidade, dá, por tradição, forte atenção a elementos narrativos. No entanto, para o autor em questão o mais importante é o psicológico, o que permite caminho para características marcantes do escritor, como intertextualidade, metalinguagem e até a digressão, entre tantas,

tornando a leitura muito mais saborosa. Vistos todos esses elementos, pode-se apresentar a seguir o resumo dos contos de Várias

Histórias. OS CONTOS DE VÁRIAS HISTÓRIAS SÃO AGRUPADOS EM TRÊS GRUPOS: GRUPO I

C ê “A ” “A j g ” “M ” “D. P ” “ á ”. Grupo II

Contos em que Machado de Assis ressalta estudos de caráter humano, reunindo contos de inquirição g “U ” “ ” “A ” “O ” “ O á ” “ ” “E ”. GRUPO III

C z z “A ã Ev ” “ O ô g í ”. 1) “A Cartomante”

O autor faz uma análise psicológica das contradições humanas na criação de personagens imprevisíveis, jogando com insinuações em que se misturam a ingenuidade e malícia, sinceridade e hipocrisia.

Crítica humorada e irônica das situações humanas, das relações entre os personagens e seus padrões de comportamento. Linguagem sóbria que, entretanto, não despreza os detalhes necessários a uma análise profunda da psicologia humana. A historia é repleta de "conversas" que o narrador estabelece frequentemente com o leitor, transformando-o em cúmplice e participante do enredo (metalinguagem).

Citação de um autor clássico (shakespeare) intertextualidade; reflexão sobre a mesquinhez e a

precariedade da sorte humana. Os aspectos externos (tempo cronológico, espaço, paisagem) são apenas pontos de referência, sem merecerem maior destaque. ESTILO

O autor usa intertextualizações literárias, e o recurso da narrativa onisciente, para dinamizar o relato da história acentuando os momentos dramáticos do texto. Usa este recurso que eleva e prolonga a história, mantendo o leitor atento durante todo o desenrolar do conto.

Sem estes ingredientes, sem dúvida, o texto não teria a mesma dinâmica e seu epílogo não teria a mesma ênfase. Sem os pretextos machadianos facilmente saberíamos o desfecho da história ao lermos suas primeiras linhas. O uso destes atributos faz com que a historia gire em torno de seu próprio eixo dramático.

FOCO NARRATIVO

1 pessoa extremamente apegada a bens materiais, a lucro e a dinheiro.

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Narrador em terceira pessoa. Existe a presença onisciente do autor, que usa desta onisciência

na narração e descrição dos fatos. O uso constante de uma voz onisciente é importante para dinamizar o relato da historia acentuando os momentos dramáticos do texto e conflitos internos dos personagens. PERSONAGENS

Embora a trama gire em torno de 4 personagens principais Vilela, Camilo, Rita e a cartomante

(incógnita), existem outros personagens que não participam diretamente na trama, mas suas participações são determinantes no enredo da história.

A morte da mãe de Vilela, que é uma personagem secundária e tem papel fundamental no envolvimento amoroso dos personagens Camilo e Rita. O autor analisa e enfatiza psicologicamente todos os personagens preconizando seus conflitos internos bem como seus temores ENREDO Tema: o triângulo amoroso e o adultério, aliás já presente nas Memórias Póstumas (Brás Cubas, Virgília,

Lobo Neves). Os amigos de infância Camilo e Vilela, depois de longos anos de distância, reencontram-se. Vilela casara-se com Rita, que mais tarde seria apresentada ao amigo. O resto é paixão, traição, adultério.

A situação arriscada leva a jovem a consultar-se com uma cartomante, que lhe prevê toda a sorte de alegrias e bem-aventuranças.

O namorado, embora cético, na iminência de atender a um chamado urgente de seu amigo Vilela, atormentado pela consciência, busca as palavras da mesma cartomante, que também lhe antecipa um futuro sorridente.

Dois tiros à queima-roupa ao lado do cadáver de Rita o esperavam. A vitória do ceticismo coroa o episódio.

Conto que surpreende pela excelente estrutura narrativa, dividida em três partes. Na primeira, introdutória, fica-se sabendo que Rita, dotada de espírito ingênuo, havia

consultado uma cartomante, achando que seu amante, Camilo, deixara de amá-la, já que não visitava mais sua casa. Desfeito o mal-entendido, faz-se um flashback que vai explicar como se montou tal relação. Camilo era amigo, de longa data de Vilela. Tempos depois, este se casa com Rita. A amizade estreita a intimidade entre Camilo e Rita, ainda mais depois da morte da mãe dele. Quando sente sua atração pela esposa do amigo, tenta evitar, mas, enfim, cai seduzido. Até que recebe uma carta anônima, que deixava clara a relativa notoriedade da sua união com a esposa do seu amigo. Temeroso, resolve, pois, evitar contato com a casa de Vilela, o que deixa Rita preocupada.

Terminada essa recapitulação, vai-se para a parte crucial do conto. Camilo recebe um bilhete

V g g “V já já”. S í g já faz desconfiar que o amigo havia descoberto tudo. Parte de imediato, mas seu tílburi (espécie de carruagem de aluguel que equivaleria, hoje, a um táxi) fica preso no tráfego por causa de um acidente. Nota uma estranha coincidência: está parado justamente ao lado da casa da cartomante. Depois de um intenso conflito interior, decide consultá-la. Seu veredicto é dos mais animadores, prometendo felicidade no relacionamento e um futuro maravilhoso. Aliviado, assim como o tráfego, parte para a casa de Vilela. Assim que foi recebido, pôde ver, pela porta que lhe é aberta, além do rosto desfigurado de raiva de Vilela, o corpo de Rita sobre o sofá. Seria, portanto, a próxima vítima do marido traído.

Note neste conto sua estrutura em anticlímax, pois tudo nele (já a partir da citação inicial da famosa frase de Hamlet: “há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia” nos prepara para um final em que o misticismo, o mistério imperaria. No entanto, seu final é o mais realista e lógico, já engendrado no próprio bojo do conto. Reforça esse aspecto o ritmo da narrativa, que é lento em sua maioria, contrastando com seu desfecho, por demais inesperado. E não se esqueça da presença de um quê de ironia nesse contraste entre corpo da narrativa e o seu final.

2) “Entre Santos”

Trata-se de uma narrativa dentro de outra narrativa, que em determinado momento dá caminho para mais outra. Um discreto narrador em terceira pessoa abre, já no primeiro parágrafo, espaço para um narrador em primeira pessoa, testemunha de um acontecimento surpreendente.

Enquanto era capelão na igreja de São Francisco de Paula, pôde surpreender, numa noite, o diálogo entre santos que durante o dia eram estátuas no templo. Discutiam o caráter humano, deslindado nas pessoas que vinham rezar diante deles. S. João Batista e S. Francisco de Paula eram os autores dos comentários mais ácidos em relação ao gênero humano. Um deles faz questão de lembrar uma adúltera que vinha pedir ajuda para se afastar de tal relacionamento, mas que, enquanto orava, rememorava momentos ardorosos, o que diminuía a fé a ponto de fazê-la abandonar o recinto sem nem mesmo completar seu pedido. Tudo isso se contrapõe aos comentários de São Francisco de Sales.

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Para reforçar a sua teoria de que não se deve perder a esperança no ser humano, conta a história de um avaro

2 que cai no desespero quando sua esposa desenvolve erisipela (doença que se

manifesta pela inflamação da pele). Apesar de o pensamento corrente de que a sua agonia seria provocada pelo receio de despesas funerárias, na verdade é movido por amor. E para conseguir a graça da salvação, pede a intermediação do narrador divino, oferecendo em troca uma perna de cera. No entanto, seu raciocínio rápido se transfere para a ideia da moeda que iria custar tal artefato. Passa então a pensar em pagar em espécie mesmo. Mas, sovina como era, tal contribuição seria por demais custosa.

Apesar disso, é uma opinião que não chega a formular por completo, deixando-a no limbo de sua mente. Até que salta para um postulado um tanto cômodo: acredita, iludindo-se convenientemente, que o espiritual é mais importante do que o material, por isso, se propõe a, no lugar da moeda, rezar 300 padres-nossos. Nesse ponto, o seu caráter materialista entranha-se e com o espiritualista, pois imagina ser muito mais lucrativo rezar 300 padres-nossos e 300 ave-marias. De 300 passa para 1000, mas, ao invés de expressar e, portanto, efetuar sua promessa, perde-se, maravilhado, diante de cifra tão alta.

Note nesse conto o esquema da narrativa. Um narrador lembra uma história que foi contada por um padre e que acaba relatando a história narrada por um santo. Essa trama dentro de trama lembra um outro tipo de texto que também usava esse mesmo procedimento e que também apresentava histórias mirabolantes: As Mil e Uma Noites.

Repare também a postura dos santos, que se assemelha à de Machado de Assis, na medida em que são devassadores da alma humana. Tal atividade inspira ou o descrédito próximo da impaciência diante de nossas fraquezas, assim como uma atitude de tolerância misturada com esperança. Pode-se acreditar que Machado tenha, em sua carreira, assumido um pouco das duas.

Finalmente, observe como o conto consegue apresentar o caráter dilemático da mente humana pela maneira como o avaro lida com sua promessa. Mostra extremo materialismo ao entregar-se ao fervor espiritualista, conseguindo, talvez cínica, talvez inconscientemente, conciliar esses opostos. 3) “Uns Braços”

Narrador em 3ª pessoa onisciente, isto é, domina o universo mental das personagens, sabendo

a respeito delas mais do que elas mesmas podem compreender. Conto tocante que narra a descoberta do amor e de toda a sensualidade que cerca o descortinar

desse mundo novo. É a história de Inácio, jovem de 15 anos que vai trabalhar como ajudante do ríspido solicitador (funcionário do Judiciário, algo entre procurador e advogado) Borges, morando na casa deste. É lá que acaba se encantando com os braços de D. Severina, companheira do seu patrão. Deve-se lembrar que na época em que se passa a história, 1870, não era comum uma mulher exibir tal parte do corpo. Mas, antes que se pense que ela era despudorada, deve-se lembrar que só o fazia por passar por certas dificuldades o que tornava o seu vestuário precário. Ainda assim, os breves momentos em que via a mulher e principalmente os braços dela eram, para Inácio, o grande alívio diante de um cotidiano tão massacrante.

Até que um dia D. Severina percebe o interesse que desperta no moço. Demora a aceitar, pois considera-o apenas uma criança. Mas, quando vê o homem já na forma do menino, entra num sentimento conflitante, misto de vaidade e pudor. Por isso, oscila entre tratar mal o rapaz e mostrar preocupação com o seu bem-estar.

Por fim, na conclusão do conto, tem-se a fusão do sonho com a realidade. Inácio está dormindo em sua rede, e sonha com Severina encarando-lhe de frente, pegando-lhe nas mãos, cruzando-as nos braços, e dando-lhe um beijo na boca. Este exato momento do sonho coincide com a realidade, pois D. Severina de fato beija a boca do rapaz para de imediato sair do quarto, assustada, confusa e arrependida com sua atitude. E não somente por vergonha, mas como forma de punir a si mesma por tamanha ousadia. Severina passa a cobrir os braços à mesa, mas também como punição ao próprio rapaz, a quem ela atribui uma parcela de culpa.

A princípio Inácio não percebe que o famoso par de braços não mais está à vista, tão embriago pela sensação do beijo. Ao final, o rapaz deve ir embora da casa do comendador, mas não consegue se despedir de Severina, que inventa uma forte dor de cabeça. O mocinho jamais saberia que não foi um mero sonho, muito embora nunca tenha achado sensação igual à daquele domingo.

Pouco tempo depois, Borges dispensa o garoto de forma admiravelmente amistosa. O menino não vê mais D. Severina, guardando a sensação daquela tarde como algo que não ia ser superado em nenhum relacionamento de sua existência.

Machado de Assis incita o leitor a criar um significado próprio para a obra, de acordo com sua leitura pessoal, levando sempre em consideração as questões extrateóricas, realmente manifestas, ou seja, seu campo pragmático. As perspectivas textuais orientam as linhas de leitura, e não podemos atribuir a elas uma escala hierárquica de valor.

2 O mesmo que avarento. Aquele que tem apego excessivo às riquezas

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Uma perspectiva sozinha não produz o significado do texto, pois tal significado é o resultado da convergência das diferentes perspectivas que se cruzam num específico ponto de encontro, e que só é determinável pelo ponto de vista do leitor. O significado do texto não está dentro dele, nem fora; é um efeito a ser experimentado, não mais um objeto que se define. É, portanto, resultado da compreensão do leitor. 4) “Um Homem Célebre”

Narrador em 3ª pessoa. Ao analisar a obra, pode-se facilmente observar que é narrada com

uma visão por trás, na qual o narrador, que não toma parte na história, possui um conhecimento amplo e irrestrito sobre todos os fatos, descrevendo não só o que é visível, como também os pensamentos das personagens e fatos que irão acontecer posteriormente ao que é apresentado na narrativa. Como exemplo da caracterização desse narrador, pode-se separar o seguinte trecho do texto:

...pouca gente, vinte pessoas ao todo, que tinham ido jantar com a viúva Camargo, Rua do Areal, naquele dia dos anos dela, cinco de novembro de 1875... Boa e patusca viúva! Amava o riso e a folga, apesar dos setenta anos em que entrava, e foi a última vez que folgou e riu, pois faleceu nos primeiros dias de 1876. (ASSIS, 1988, p. 63)

A temática básica desse conto é a oposição entre vocação e ambição. O personagem principal,

Pestana, é um famoso compositor de polcas, um estilo bastante popular de música. No entanto, seu grande sonho era produzir música erudita no nível dos grandes mestres, como Chopin, Mozart, Haydn.

Por mais que se esforçasse, só conseguia compor o gênero popular. Chega até a se casar com uma cantora lírica tísica, Maria, crendo que, convivendo com ela, finalmente teria a fatídica inspiração. Esforço inútil. Por fim, ela morre e ele pensa em compor para ela, já que estava imbuído da dor da perda, um réquiem

3. Outro fracasso. Espera conseguir inspiração para a missa de aniversário do falecimento,

mas mais uma vez frustra-se. É quando desiste e dedica-se às polcas. Por fim, adoece, não demorando muito para morrer em consequência de uma febre. De acordo

com o próprio narrador, teve tempo para uma última piada. Seu editor vinha pedir uma polca em deferência à subida dos conservadores ao poder. O compositor disse que a faria e ainda deixaria outra pronta, para quando subissem os liberais. Há uma crítica que ainda é atual: o mercado está mais interessado em obras de qualidade fácil, que satisfazem de forma imediata e rasteira o gosto do público.

Sintomático disso é o fato de o editor já ter títulos prontos para obras que ainda nem existem, aproveitando-se de fatos do momento, da moda. Além disso, há um conflito interessante entre o efêmero (polca) e o eterno (música erudita), que pode ser também visto como entre o baixo e o sublime. 5)“A Desejada das Gentes”

No conto, podemos identificar um narrador personagem, que narra a história de Quintília, caracterizada por sua beleza divina, olhar derramado e sua aversão ao casamento. Portanto, trata-se de um narrador que assume um aspecto memorialista, toda a narrativa é baseada em sua perspectiva, por isso o leitor é conduzido a compreender o que ele (narrador) deseja, o que é uma característica marcante nas narrativas machadianas.

O conto inicia á g v . “— Ah! conselheiro, aí v .” g nos remete a um diálogo que parece ter se iniciado anteriormente e a partir deste momento, o narrador, chamado de Conselheiro, começa a contar a um interlocutor sobre sua história com Quintília, as memórias vêm ao Conselheiro no instante em que eles passam pela Glória e avistam locais que o fazem lembrar de sua amada.

A desejada das gentes é mais uma prova da dualidade humana sempre relatada nas obras machadianas. Nela podemos encontrar marcas de inveja, ciúme, mentira, cobiça, vaidade e a incerteza da real felicidade, características próprias do ser humano, que insiste em camuflá-las. No entanto, Machado traz à tona de forma irônica e realista.

Ao começar a relembrar sua historia com Quintilia e ao contá-la a seu amigo, Conselheiro diz que tudo, no começo, era só uma brincadeira sua e de seu amigo João Nóbrega. Afirma que ambos já a conheciam e nunca haviam pensado em namorá-la, fato que só ocorreu depois de ouvir alguns rapazes falando sobre a moça, exaltando seus atributos e tratando-a como algo inatingível. Todos desejavam Quintília e ela a ninguém. A partir daí começa o jogo da conquista, vemos então que o que está em questão é a cobiça e a disputa, um amigo querendo vencer o outro e não o amor a Divina Quintília.

Como os contos de Machado se enquadram no Realismo, tentemos esboçar o contexto social da época. No século XIX, o normal era que as mulheres casassem, mas a desejada das gentes era diferente,

3 Prece pelos mortos. Música cantada durante os velórios ou simplesmente para homenagear

os mortos.

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já tinha trinta anos e não pensava em casamento, razão pela qual incomodava a sociedade e era tão desejada. Pertencia a uma família rica, o que muito interessou Nóbrega.

Normalmente as obras realistas nos mostram questões exteriores da humanidade em sociedade, mas Machado nos evidencia questões intrínsecas da vida humana sem distinções de sexo, raça, classe ou quaisquer considerações que nos distanciem uns dos outros.

Em todo o conto podemos perceber certo caráter romanesco, na medida em que o Conselheiro declarava-se, exultava o amor, Quintília o repudiava trazendo questões da realidade, que melhor era que fossem amigos, este fato pode nos remeter a própria ruptura do Romantismo para o Realismo.

A desejada das gentes apresenta vestígios românticos quando faz alusão a dicotomia morte/vida, monstro/anjo, morte/esperança, entre outras. Como exemplo destas dicotomias, podemos citar o fato do Conselheiro ter se sentido esperançoso em conseguir casar com Quintília quando o tio da moça morreu, ora, ele sentiu-se feliz pela morte de outra pessoa, por interesse próprio. Quando está à beira da morte a moça aceita casar-se com o Conselheiro que diz tê-la abraçado como cadáver, lamentando a situação, o que seria para trazer-lhe felicidade só trouxe tristeza, por isso no fim da v “ - v .”

6) “A Causa Secreta” O conto A Causa Secreta é um dos mais fortes de Machado de Assis. Sua estrutura narrativa

lembra um pouco a de “A Cartomante”, com início inesperado em flashback e retomada do eixo em direção ao desfecho.

Em 3ª pessoa, o narrador onisciente constitui uma notável caracterização psicológica em que

revela, ao fazer o estudo do personagem Fortunato, o ápice do prazer que é conseguido na contemplação da desgraça alheia. O motivo do conto é explicar o verdadeiro sentido do termo "sadismo".

Em A Causa Secreta, Machado faz, talvez, um de seus melhores "desenhos psicológicos". Revela-nos a personalidade de uma pessoa, capaz de realizar "boas ações" desde que estas lhe permitam o exercício de seu prazer.

Começa-se com a informação de três pessoas, uma calma (Fortunato), outra intrigada (Garcia) e ainda uma terceira, tensa (Maria Luísa). Garcia havia visto pela primeira vez Fortunato durante a ã “ ã ”. E v ã às cenas, quase como se se deliciasse. Vai embora justo quando a obra entra em sua segunda parte, mais leve e alegre.

Mais tarde, Garcia volta a vê-lo quando do episódio de um esfaqueado, para o qual Fortunato dedica atenção especial durante o seu estágio crítico, tornando-se frio, indiferente quando a vítima melhora. Fica, portanto, seduzido pelo mistério sobre a explicação, a causa secreta de um comportamento estranho (não se deve esquecer que a postura de Garcia assemelha-se, guardadas as devidas proporções (já que não é dotado de onisciência), aos santos de Entre Santos), pois é dotado da capacidade de prestar atenção à personalidade humana.

Tempos depois, passam a se encontrar constantemente no mesmo transporte, o que solidifica uma amizade. É a oportunidade para que o homem misterioso convide o amigo para conhecer casa e esposa. Estreitada a relação, duas consequências surgem daí. A primeira é a identificação entre Garcia e Maria Luísa, mulher do amigo. A sorte é que não se desenvolve nada mais do que isso. A segunda é a clínica que os dois homens vão abrir em sociedade. Nela, Fortunato vai se destacar como um médico atencioso, principalmente para os doentes que se encontram no pior estágio de sofrimento.

E para aprimorar suas técnicas, pelo menos é o que confessa à cônjuge, o personagem dedica-se a dissecar animais. Chocada com o sofrimento dos bichos, Maria Luísa pede intervenção a Garcia, que faz com que Fortunato não praticasse mais tal ato, pelo menos, ao que parece, na clínica, tão perto da esposa.

A narrativa torna-se mais crítica quando Fortunato é flagrado vingando-se de um rato que supostamente teria roído documentos importantes: de forma paciente vai cortando as patas e rabo do bicho e aproximando do fogo, com cuidado para que o animal não morresse de imediato, possibilitando, assim, o prosseguimento do castigo. Maria Luísa havia pedido para Garcia interromper aquela cena, que foi a que justamente provocou o início do conto. A partir daí, encaminhamo-nos para o desfecho.

A mulher desenvolve tuberculose. É quando seu marido dedica-lhe atenção especial, extremada no momento terminal, ao qual ela não resiste. O final do texto é crucial para a total compreensão da história. Velando o corpo fica Garcia, enquanto Fortunato dorme. Em certa hora da noite, este acorda e vai até o local onde está a defunta. Vê Garcia dando um beijo naquela que amou. Ia dar um segundo beijo, mas não aguentou, entregando-se às lágrimas. Fortunato, ao invés de ficar indignado com a possibilidade de triângulo amoroso, aproveitou aquela dor “ g ”. D -se, assim, o seu caráter sádico.

É interessante notar como o autor deslinda aqui um comportamento doentio que norteia ações que aos olhos da sociedade podem parecer da mais completa bondade e dedicação ao próximo. É uma temática muito comum em Machado de Assis a ideia de que a aparência opõe-se radicalmente à essência.

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7) “Trio em Lá Menor”

Narrado em terceira pessoa, o conto segue um andamento musical dividido em quatro

movimentos: adágio cantabile4, allegro ma non troppo

5, alegro apassionato

6 e minueto

7. Essa divisão do

conto aproxima a obra literária à estrutura musical da sonata que, ao ser composta para três instrumentos, geralmente para piano, violino e violoncelo, é denominada Trio. É um conto alegórico que

apresenta a história de Maria Regina, uma jovem bela e elegante que sofre com um dilema, pois em busca do verdadeiro amor, não consegue decidir entre dois homens que a cortejam: Miranda e Maciel.

Maciel, homem mais jovem, 27 anos, conhecedor da boemia, cheio de vivacidade, alegria, mas que logo se transforma em futilidade, pois é materialista e gosta de moda e das fofocas. Miranda é mais maduro e, portanto, mais sério, cisudo. Não tem a mesma energia de Maciel, mas é aquela companhia dos sonhos de toda mulher, que não aborrece, não é chato.

A moça não conseguia decidir-se por nenhum deles, porém, na presença de um, imaginava o outro e todas as qualidades que ele podia ter e oferecer a ela e vice-versa.

No final, a heroína se perde nos sonhos, em que vê, como uma metáfora de sua situação, a encantadora imagem de uma estrela dupla que se aparenta com um único astro.

Termina por ouvir uma voz fantástica que lhe diz:" É a tua pena, alma curiosa de perfeição; a tua pena é oscilar por toda a eternidade entre dois astros incompletos, ao som desta velha sonata do absoluto: lá, lá. lá.."

Conclui-se então que a conciliação de opostos é impossível e a busca da perfeição, conciliadora dessas contradições, só faz mergulhar na angústia da indecisão que só leva a um caminho triste chamado solidão. Ou seja, a perfeição não existe.

8) “Adão e Eva” Narrador em terceira pessoa relata a história contada por um juiz de fora durante um jantar na

casa de uma senhora de engenho na Bahia, subvertendo a história da criação do mundo. Trata-se, assim, de um conto alegórico em que ocorre a subversão dos valores da própria alegoria

A história aconteceu na Bahia, pelos anos de 1.700 e tantos. D. Leonor, a dona da casa, reuniu alguns amigos à mesa. Dirigindo-se a um dos convidados, faz referência a um doce que iria ser servido. Logo o convidado quis saber de que doce se tratava. Então ela o chama de curioso. Inicia-se, assim, uma discussão sobre quem é mais curioso, o homem ou a mulher? E se a perda do paraíso era culpa de

Adão ou de Eva? . O juiz de fora, Veloso, que era inventor e sagaz, pede licença para contar a história de Adão e

Eva, tendo a permissão do frei Bento, ele começa. Segundo ele, o Mundo foi criado pelo diabo, cabendo a Deus ir consertando o que o primeiro

fazia de errado. E assim, quando o tinhoso criou a treva, Deus veio e criou a luz, e assim por diante. No sexto dia, foi criado o homem e logo em seguida a mulher, ambos sem alma e com instintos ruins. Deus entrou em ação, dando-lhes alma e sentimentos nobres, além de um jardim de delícias (o paraíso). E lá Adão e Eva passaram a viver livremente, e agradeceram a Deus por isso. Deus falou-lhes da árvore proibida e das consequências da desobediência.

O tinhoso ficou com ódio quando soube daquilo e mais ainda por não poder entrar no paraíso, onde tudo lhe era avesso. Assim, mandou a serpente para tentar o casal. Primeiramente tentou Eva, foi em vão. Nisso aproximou-se Adão, que também recusou as ofertas tentadoras da serpente. Esta, vendo que nada conseguiu, apressou-se e foi contar ao diabo. E Deus, vendo que Adão e Eva haviam sido obedientes, pediu a um anjo que descesse e os levasse aos céus como recompensa.

4 (do italiano Adagio) é um andamento musical lento, por consequência composições musicais

com esse tempo são conhecidas como adágios. 5 (italiano para "rápido, mas não muito") é o nome de um andamento utilizado para indicar ao

músico que a execução deve ser moderadamente rápida. Em geral o movimento allegro é executado com pulsação rápida e expressão leve e alegre. 6 ("alegre" em italiano) é um andamento musical leve e ligeiro, mais rápido que o alegreto e

mais lento que o presto. 7 uma dança em compasso de 3/4, de origem francesa, ou uma composição musical que

integra suítes e sinfonias. De origem aristocrática, o minueto foi muito popular na corte de Luís XIV, difundiu-se pela Europa nos séculos XVII e XVIII. É uma dança caracterizada por ser alegre e dançante.O nome significa "dança de passos miúdos" (menus), caracterizada pela delicadeza dos movimentos

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Assim, Veloso encerra sua história diante dos olhares âtonitos de todos. D Leonor dizia que Veloso os havia enganado com aquela história, que nada daquilo havia acontecido. Então, Veloso admite que pode não ter acontecido, mas caso contrário, eles não estariam ali, à mesa, saboreando o doce anunciado.

Portanto, Machado, além de desconstruir todo um imaginário que a instituição oficial transmitiu, sugere que o Mal, para o qual o ser humano nunca encontrou uma resposta definitiva e com o qual sempre se deparou, existiu antes do Bem e que o Tinhoso começou a agir antes de Deus. Contrariamente à religião ou até mesmo a certas correntes filosóficas, Machado de Assis não nos acena com a esperança, uma vez que a eterna contradição humana nos faz oscilar constantemente entre o Bem e o Mal.

Os conteúdos teológicos que Machado de Assis inseriu por conta de sua convicção religiosa, aquela não manteria sua individualidade como tal e vislumbraríamos apenas o aspecto religioso ou teológico, o que seria lamentável, uma vez que as preocupações machadianas não se deixavam enredar pela atitude religiosa de seus personagens. Machado de Assis, que estudou assiduamente os textos bíblicos e bebeu na fonte de Pascal, Montaigne e Schopenhauer, nos possibilitou não só refletir teológica ou filosoficamente, mas nos fez enxergar a nós mesmos em toda nossa contingência, finitude e mal.

9) “O Enfermeiro” Narrador em primeira pessoa. Com uma introdução metalinguística, carregada de metáforas e

insinuações, o narrador personagem dirige- “ ” um texto que vasculha e revela os mais profundos e ambíguos segredos da alma, com suas contradições e oscilações entre o certo e o errado, entre o visível e o oculto.

O personagem Procópio relata "Parece-lhe então que o que se deu comigo em 1860 pode entrar numa página de livro? Vá que seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte. Não esperará muito, pode ser que oito dias, se não for menos; estou desenganado."

A partir do início acima, o narrador faz algumas considerações sobre a escassez do tempo e a transitoriedade e relatividade dos valores, e põe-se a contar o que acontecera com ele em 1860. Informa que tinha, na época, quarenta e dois anos e que se fizera teólogo, copiando os estudos de Teologia de um padre de Niterói, que lhe proporcionava, em troca, "casa, cama e mesa".

Em agosto daquele ano, o padre recebera uma carta de um vigário do interior, perguntando-lhe se conhecia quem pudesse trabalhar como enfermeiro de um certo coronel Felisberto. O ordenado era bom, o padre indicou o narrador.

Ao chegar à vila, Procópio teve más informações a respeito do coronel: "[...] Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos.

Gastava mais enfermeiros que remédios. [...]" No entanto, no começo, enfermeiro e paciente viveram "uma lua-de-mel de sete dias". No oitavo

dia, o coronel passou a fazer jus ao que se falava dele e iniciou-se, para o narrador, um período de humilhações e maus tratos. Ao fim de três meses, estava decidido a ir embora. Essa decisão foi reforçada por duas ou três bengaladas que recebeu, e arrumou as malas.

Não partiu, porém: o coronel tanto insistiu, que Procópio ficou. Não foi mais agredido fisicamente, mas os xingamentos continuaram. Acabou acostumando-se.

Algum tempo depois, o coronel piorou, fez testamento. O enfermeiro a essa altura já o odiava, e resolveu partir; mas acabou ficando, desta vez por insistência do vigário e do médico.

Na noite de vinte e quatro de agosto, depois de um ataque de raiva, o coronel foi dormir, e o narrador pôs-se a ler, mas acabou adormecendo também. Acordou com os gritos do coronel, que lhe atirou uma moringa na face esquerda. Não conseguindo conter-se, o narrador o esganou.

Apavorado, Procópio gritou e tentou reanimar a vítima, inutilmente. Estava sozinho com o cadáver e, depois de muito sofrer, arrepender-se, irritar-se e hesitar, compôs o corpo do coronel e decidiu mentir que ele morrera naturalmente. Amortalhou-o "com a ajuda de um preto velho e míope" e permaneceu ao seu lado o tempo todo durante os funerais: tinha medo de que descobrissem a verdade.

Uma semana após voltar ao Rio, Procópio recebe uma carta do vigário, informando-lhe que era o herdeiro universal do coronel. Pensou em recusar a herança, mas desistiu: podia levantar desconfianças. Resolveu que a receberia e distribuiria entre os pobres. Foi à vila e tomou posse dela.

Não executou, porém, seus planos; acabou ficando com o dinheiro e dando pouco aos pobres, além de mandar construir o túmulo do coronel:

"Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso à vezes no coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias dele foram acordes em afirmar que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele devia morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade..."

O conto termina com o narrador retomando o tom do início do texto, quando falava ao

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"narratário-escritor": "Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me

também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino sermão da montanha: ‘Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados." (Conversa com o leitor e metalinguagem )

A ironia do narrador é flagrante, principalmente nesse final. Assim como em "A desejada das gentes" e "Conto de escola", neste conto a personagem central narra suas percepções e justifica seus comportamentos; porém, o foco narrativo autobiográfico sugere situações analisadas a partir do ponto de vista do protagonista, relativizando seu relato.

10) “O Diplomático”

Narrador em terceira pessoa conta a história de Rangel, o "ledor de sorte". Trata-se de um

homem de caráter indeciso, extremamente hesitante e acovardado para tomar decisões. A narrativa inicia-se na noite de S. João de 1854, numa casa da Rua das Mangueiras, cujo dono

é João Viegas, escrivão de uma vara cível da corte, pai de Joaninha. Rangel está lá, participando da festa, lendo a sorte dos convidados. Sua habilidade nesse ofício levara as pessoas ali a chamarem-no "o diplomático".

Rangel tinha quarenta e um anos e ainda era solteiro, por causa da demora em escolher uma noiva: desejava uma que lhe fosse superior e, assim, passou o tempo a esperá-la, assumindo uma atitude subalterna em relação à vida e na sociedade. Tinha imaginação poderosa e fértil; através dela, fazia tudo, "raptava mulheres e destruía cidades". Mais de uma vez foi, consigo mesmo, ministro de Estado, e fartou-se de cortesias e decretos. Chegou ao extremo de aclamar-se imperador, um dia, 2 de dezembro, ao voltar da parada no largo do Paço". Com o passar dos anos, desiludiu-se das antigas ambições, mas manteve a mesma índole, e não conseguiu uma noiva, apesar de sua "vocação conjugal".

Certo dia, Rangel notou Joaninha que, aos dezenove anos, ainda não se comprometera com qualquer homem. Como era bem relacionado com a família, alimentou esperanças. No dia em que a narrativa principia, está ele em casa dela, na festa, a segui-la com os olhos e esperar o melhor momento de entregar-lhe a carta de amor que escrevera. Porém, a indecisão de sempre o tolhia e, embora já tivesse tido algumas oportunidades, não fez o que pretendia.

Estavam os convidados a entreter-se com o jogo de prendas, quando chega Calisto, acompanhado de um estranho, Queirós, "um bonito rapaz de vinte e seis a vinte e sete anos, cabelo negro, olhos negros e singularmente esbelto." Convidado a jogar, aceitou e trocou algumas palavras com alguns dos presentes.:

"[...] No fim de meia hora, estava familiar da casa. Todo ele era ação, falava com desembaraço, tinha os gestos naturais e espontâneos. Possuía um vasto repertório de castigos para jogo de prendas, coisa que encantou a toda a sociedade, [...]"

Rangel assustou-se; atônito, sentia que assim era "o cetro que lhe caía das mãos". Sua imaginação poderosa começou a trabalhar e, através dela, "espatifou o Queirós".

Afinal, "[...] A própria Joaninha, tão acanhada, vibrava nas mãos de Queirós, como as outras moças; e todos, homens e mulheres, pareciam empenhados em servi-lo. [...]"

Rangel, embora tivesse tido a sorte de ficar frente a frente com Joaninha, à ceia, ainda assim nada conseguiu falar, apenas imaginar. Forçado a fazer o brinde, percebeu uma troca de olhares entre Joaninha e Queirós, e isso embaçou o brilho de suas palavras que eram, por natureza, brilhantes em circunstâncias como aquela. Sua frustração seria, no entanto, ainda maior, ao ouvir o brinde feito, na sequência, por Queirós, que emocionou a todos, principalmente Joaninha.

O fim da festa só trouxe desânimo e desalento ao "diplomático": a cada momento, percebia trocas de olhares e até gestos carinhosos entre Joaninha e Queirós. Rangel foi dormir depois de muito chorar.

Seis meses depois, Joaninha e Queirós casaram-se, e Rangel foi testemunha do noivo. Anos mais tarde, continuaria o mesmo: irresoluto, indeciso, incapaz de passar da ideia à prática: "Nem os acontecimentos, nem os anos lhe mudaram a índole. Quando rompeu a guerra do

Paraguai, teve ideia muitas vezes de alistar-se como oficial de voluntários; não o fez nunca; mas é certo que ganhou algumas batalhas e acabou brigadeiro.” 11) “Mariana”

O narrador em terceira pessoa assume as lembranças que Evaristo tem de Mariana. A

narrativa começa com uma pergunta a si mesmo: "Que será feito de Mariana? Perguntou Evaristo a si mesmo, no largo da Carioca, ao despedir-se

de um amigo, que lhe fez lembrar aquela velha amiga." Era em 1890. Evaristo voltara da Europa, dias antes, após dezoito anos de ausência.

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O narrador informa, aí, que Evaristo tinha partido em 1872, para demorar-se fora uns dois ou três anos, e, fascinado por Paris e pelas coisas de lá, acabara ficando todo aquele tempo. Perdera o contato com a pátria, nada mais sabia — nem se interessava em saber — a respeito dela. Mas, referindo-lhe um dia um amigo uma revolução no Rio de Janeiro, resolve, subitamente, vir ele mesmo buscar informações sobre sua terra: viera movido, simplesmente, pela curiosidade.

Descendo, naquele dia, a Rua da Assembleia, começou a lembrar-se de Mariana e "teve desejo de vê-la". Indagou sobre ela e soube que ainda morava na mesma casa em que a deixara, mas andava meio sumida por causa do marido, que estava muito doente, "parece que à morte". O amigo que lhe fornecera as informações disse-lhe também que ela ainda estava bonita, "frescalhona".

Dois dias depois, Evaristo vai à casa de Mariana. Impressiona-se ao ver que os móveis ainda eram os mesmos, e que tudo, envelhecido, denunciava a passagem do tempo. Enquanto esperava, ficou a olhar para o retrato de Mariana, pintado quando ela tinha vinte e cinco anos. Como num sonho, passado e presente misturam-se e ele é levado a um devaneio pela volúpia das lembranças e de seus pensamentos mais recônditos, até ser interrompido pelo mesmo criado que o recepcionara ao chegar. Durante o devaneio, Evaristo reconstitui parte de sua história com Mariana, e o leitor entende que se tratara de um amor adúltero, por ser ela casada com Xavier.

O criado o conduz a um gabinete próximo, onde está Xavier, enfermo, e Mariana ao lado, com a mão presa a dele. Parecia estar sofrendo muito com a enfermidade do marido e Evaristo teve a impressão de que a visita dele lhe era indiferente.

Uma semana depois, durante uma segunda visita de Evaristo, Xavier morreu; presenciou a comoção do momento e o sofrimento da mulher, que dera "um grito agudíssimo", desmaiando a seguir. Depois, restabelecida, abraçara o cadáver, "soluçando desesperadamente, dizendo-lhe os nomes mais queridos e ternos".

Mariana não teve forças para acompanhar o enterro, mas Evaristo foi e conversou com um parente do morto, que comentou a união do casal e a piedade que sentia da viúva. Também na missa de sétimo dia ela não esteve presente: representou-a o mesmo parente do cemitério, que informou a Evaristo o abalado estado de saúde dela.

Evaristo ainda tentou vê-la em uma visita de pêsames, mas ela não recebia ninguém. Tentou uma vez mais e não a encontrou em casa: tinha ido à igreja, de onde a viu voltando, a pé, e "fez que o não conhecia", ao passar pela carruagem em que ele estava.

Antes de um mês ele estava de volta a Paris. Foi saber da peça de teatro escrita por um amigo, à qual se propusera assistir na volta, quando embarcou para o Brasil; não tivera sucesso:

"— Coisas de teatro, disse Evaristo ao autor, para consolá-lo. Há peças que caem. Há outras ”.

12) “Conto de Escola”

Neste conto, o personagem-narrador, já adulto e crítico, revê sua primeira lição dos vícios

humanos, durante a idade escolar: O narrador-protagonista , Pilar é um garoto de inteligência superior à dos seus companheiros de

sala, mas seu comportamento não é dos mais exemplares, pois tem por hábito gazear aula com certa frequência. "[...] Naquele dia — uma segunda-feira, do mês de maio — deixei-me estar por alguns instantes na rua da Princesa a ver onde iria brincar a manhã. Hesitava entre o morro de São Diogo e o campo de Sant’Ana [...]. Morro ou campo? Tal era o problema. De repente disse comigo que o melhor era a escola. E guiei para a escola. Aqui vai a razão."

A razão a que ele se refere é a surra que o pai lhe dera na semana anterior, ao descobrir que ele faltara às aulas para brincar. O pai era "um velho empregado do Arsenal de Guerra, ríspido e intolerante" e tinha o sonho de vê-lo numa "grande posição comercial". A lembrança do castigo fê-lo decidir-se a ir à escola, onde entrou cuidadosamente, para não ser ouvido pelo mestre, que entrou logo depois:

"[...] Chamava-se Policarpo e tinha perto de cinquenta anos ou mais. [...]" Chama-se Raimundo, filho do mestre, dizendo que precisa falar-lhe; era um aluno de

"inteligência tarda", embora aplicado, que gastava muito tempo para aprender o que os outros aprendiam em minutos:

"[...] Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre." Já o narrador tinha "boas cores e músculos de ferro", era inteligente e terminava suas lições de

escrita antes dos outros. Foi o que fez naquele dia, mesmo já sentindo certo arrependimento por ter ido à aula, ao imaginar-se brincando no campo. Desabafa com Raimundo, que, disfarçadamente — por medo do pai, que o trazia "mais aperreado" — lhe promete uma pratinha, se o ajudasse em uma lição.

A tentação da pratinha é grande, mas Curvelo, um dos alunos, espiava-os e o narrador teve

medo. Passados alguns instantes, aceitou e guardou a moeda nos bolsos das calças. Mas Curvelo vira a cena, e olhava-o de um jeito que lhe pareceu ameaçador. Com muito

cuidado, dissimulando, ensinou a lição a Raimundo. Distraiu-se pensando no mundo lá fora, quando foi

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bruscamente chamado pelo mestre: Curvelo os tinha denunciado. Sofreram, ele e Raimundo, uma terrível descompostura moral e receberam, um de cada vez, doze bolos de palmatória.

Revoltado, envergonhado, prometeu-se brigar com Curvelo, na saída. Mas o menino sumiu, e só lhe restou sonhar com o ocorrido, à noite.

No dia seguinte, vestia calças novas que a mãe lhe dera e sentia-se bem disposto; mas, apesar de sua firme intenção de procurar a pratinha e de chegar à escola antes de todos, não resistiu e seguiu um batalhão de fuzileiros:

"[...] Não fui à escola, acompanhei os fuzileiros, depois enfiei pela Saúde, e acabei a manhã na praia da Gamboa. Voltei para casa com as calças enxovalhadas, sem pratinha no bolso nem ressentimento na alma. E contudo a pratinha era bonita e foram eles, Raimundo e Curvelo, que me deram o primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação; [...]”.

A corrupção, presente nesse conto de Machado, é representada pelo ato de Raimundo em

pagar seu amigo, Pilar, para que este lhe ensinasse, às escondidas, o conteúdo desejado, na implícita condição de que ambos assumissem, frente ao mestre e aos colegas, a melhora das notas do primeiro como sendo único e exclusivo mérito seu. O ciclo da corrupção se completa com o aceite da proposta por Pilar. Mas, então, surge a possível pergunta do leitor perante tal situação: seria Raimundo uma criança de má índole? O que o teria levado a tal ato?

O autor utiliza-se de um realismo sutil que permite ao leitor atento uma interpretação mais detalhada da situação. Ele fornece pistas ao longo da história que ajudam o leitor a formular hipóteses, as quais podem levá-lo a conclusões mais precisas. Por exemplo, no caso de Raimundo, poderia explicar-se a ação do filho do mestre baseando-se na ideia do medo que o mesmo sentia do pai. Medo de levar uma surra de palmatória frente a possíveis notas baixas e, consequentemente, medo da humilhação que sentiria perante a classe. Já que, conforme o próprio narrador afirma, ”Raimundo era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes. O mestre era mais severo com ele do que conosco”. Além do medo ao pai, existe a ideia da gratidão ao amigo.

Machado permite que se conclua que o ato corrupto, representado no conto, tenha sido uma consequência do medo de Raimundo por seu pai. Portanto, deixa claro que a culpa não pertence somente às crianças envolvidas, mas também ao professor. Machado mostra com isso que as ações individuais podem ser frutos de um convívio social, sendo que não se pode culpar apenas uma ou duas pessoas, mas grande parte delas, por determinadas situações.

13) “Um Apólogo”

Este conto, do tipo alegórico, apresenta um magistral enfoque do comportamento do homem em

relação ao seu semelhante. Narrado em primeira pessoa, por um narrador que conta a história para um professor de

melancolia, relata a disputa entre a agulha e a linha pelo privilégio de ser mais importante na vida da baronesa.

Segundo a agulha, sua importância é maior do que a da linha, pois vai à frente, puxando a outra, que lhe obedece; a linha pensa o contrário: é a agulha que se limita ao subalterno papel de abrir-lhe o caminho, enquanto ela é que costura e prende o tecido.

Estão as duas nessa discussão, quando chega a costureira à casa da baronesa, onde tudo se passava. Chegou a noite do baile, e a linha é que foi acompanhá-la, fazendo parte do vestido, enquanto a agulha ficou na caixa de costura. Vendo tudo, um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, disse-lhe: "— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico."

O conto termina com as palavras do professor de melancolia, a quem o narrador tinha contado essa história: "— v g á !” Estabelecidas as possíveis conexões da alegoria com os referentes extraliterários, desmascaram-se comportamentos que fazem detestáveis e ridículos os homens em certas circunstâncias das relações sociais. 14) “D. Paula”

Narrado em terceira pessoa, este conto traz a história da intervenção de D. Paula na vida da

sobrinha Venancinha e seu marido. A briga conjugal ocorrera porque por causa dos ciúmes do marido, que "desde muito embirrava

com um sujeito" com quem Venancinha dançara duas vezes na véspera. D. Paula, após ouvir esse relato da sobrinha, resolve ir falar ao marido desta no escritório.

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É o que faz, e fica sabendo, por ele, do restante da história. Não era a primeira vez que a esposa agia errado em relação ao dado rapaz, mas já quatro ou cinco, "o penúltimo no teatro, onde chegou a haver tal ou qual escândalo". D. Paula ouviu tudo e depois falou, argumentando que a sobrinha era muito jovem e que sua leviandade era própria da idade, que a vira chorar por ele, sinceramente, e que devia ser mais cauteloso etc. Em vinte minutos, Conrado estava mais calmo e concordou com a proposta da tia. Venancinha iria passar uns dois meses com ela na Tijuca, e D. Paula se encarregaria de "lhe pôr ordem no espírito".

Ao despedir-se, porém, D. Paula empalideceu: ouvira o nome do "outro": Vasco Maria Portela, filho de um amor que tivera no passado, de mesmo nome!

Dois dias depois, foi com a sobrinha para a Tijuca. Muito conversaram as duas sobre o nome Vasco. E a história recente da sobrinha com o filho trouxe a D. Paula a oportunidade de reviver seu amor do passado com o pai:

"[...] Afinal achava alguma coisa de outro tempo, ao contato daquelas sensações ingenuamente narradas. [...] E vinha tudo o mais, horas de ânsia, de saudade, de medo, de esperança, desalentos, dissimulações, ímpetos, toda a agitação de uma criatura em tais circunstâncias, nada dispensava a "curiosidade insaciável da tia. Não era um livro, não era sequer um capítulo de adultério, mas um prólogo — interessante e violento. [...]”.

Ventava um pouco, as folhas moviam-se sussurrando ,e, conquanto não fossem as mesmas de outro tempo, ainda assim perguntavam- ’ P v ê - ?’ Q é a particularidade das folhas, as gerações que passam contam às que chegam as coisas que viram, e é assim que todas sabem tudo e perguntam por tudo. Você lembra-se do outro tempo?"

15) “Viver!”

Este conto apresenta uma experiência fantasmagórica e audaciosa na linguagem minipeia, através do diálogo entre Ashaverus e Prometeu sobre a vida e a morte.

Todo o texto é estruturado sob a forma de diálogo entre os dois, que procedem à discussão de uma ideia a partir de um ponto de vista diferente, inabitual. Ao longo dele, ambos tecem comentários sobre a importância da vida.

Ashaverus explica que é um judeu que vivia em Jerusalém, à época em que Jesus Cristo foi crucificado, e que empurrara o madeiro de Jesus, bradando-lhe que não parasse e que não descansasse. Então, ouvira uma voz do céu anunciar-lhe que estava condenado a andar eternamente, continuamente, até o fim dos tempos: sua culpa era imperdoável.

Prometeu responde que Ashaverus pudera, assim, ler "o livro inteiro" da vida, enquanto uns só leram um capítulo. Pondera que há, nesse livro, páginas melancólicas, mas também as há joviais e felizes. E o judeu errante põe-se, então, a relatar sua longa caminhada a partir de Jerusalém, assistindo ao sofrimento humano.

Prometeu, então, conta sua história: fizera os primeiros homens de lodo e água e, compadecido, roubara para eles o fogo do céu, sendo castigado por Júpiter a permanecer acorrentado a um rochedo, tendo seu fígado continuamente comido por uma águia.

Os dois continuam sua discussão de caráter filosófico-ideológico, até que duas águias se aproxi . Nã í í à v j “V v !” para aquilo que o judeu mais ansiava. Como observam as duas águias que sobrevoam a rocha onde Ahasverus está a sonhar, ainda na morte este mostra um enorme apego à vida: "Uma águia. — Ai, ai, ai deste último homem, está morrendo e ainda sonha com a vida. A outra. — Nem ele a odiou tanto, senão porque a amava muito." 16) “O Cônego ou Metafísica do Estilo” Narrador onisciente, ora em primeira ora em terceira pessoa.

Este é um conto que se poderia chamar "metaconto": o conto que reflete sobre o fazer literário, sobre o ato de compor um conto, sobre a escrituração da obra.

Trata-se de um o exercício metafísico e metalinguístico, em que o narrador conta as peripécias

do cônego Matias em suas reflexões sobre o estilo: "Era assim, com essa melodia do velho drama de Judá, que procuravam um ao outro na cabeça

do cônego Matias um substantivo e um adjetivo... Não me interrompas, leitor precipitado; sei que não acreditas em nada do que vou dizer. Di-lo-ei, contudo, a despeito da tua pouca fé, porque o dia da conversão pública há de chagar."

Matias, "cônego honorário e pregador efetivo" tem quarenta anos e estava escrevendo um sermão que lhe tinham encomendado para uma festa, "quando começou o idílio psíquico". Apesar da má vontade inicial, logo começou a escrever com amor. Até a hora em que precisou usar um adjetivo e

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riscou-o, depois outro, mais outro... Neste ponto, o narrador interrompe-se e passa a refletir sobre as palavras, dialogando ficticiamente com uma leitora:

"[...] As palavras têm sexo. Estou acabando a minha grande memória psico-léxico-lógica, em que exponho e demonstro essa descoberta. Palavra tem sexo.

— Mas então, amam-se umas às outras? Amam-se umas às outras. E casam-se. O casamento delas é o que chamamos estilo. Senhora

minha, confesse que não entendeu nada." A seguir, convida-a a entrar na cabeça do cônego, e mostra-lhe como um certo substantivo

suspira pelo adjetivo, e seus encontros e desencontros. Todo o processo de composição do texto vai, assim, desfilando diante dos olhos do leitor, convidado a contemplar esse ato de criação, enquanto Matias levanta-se, volta a sentar, pensa e escreve o sermão. Até que

"[...] o cônego estremece . O rosto ilumina-se-lhe. A pena cheia de comoção e respeito completa o substantivo com o adjetivo. Sílvia caminhará agora ao pé de Sílvio, no sermão que o cônego vai pregar

um dia destes, e irão juntinhos ao prelo, se ele coligir os seus escritos, o que não se sabe.” . A “ í ” í g á magnífica síntese ficcional da invenção artística em sua dinâmica. TESTES 1 (Unifesp) O trecho do conto Uns braços, de Machado de Assis, é base para responder às questões.

“H v v v ã B g por audiências e cartórios, correndo, levando papéis ao selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. (...) Cinco semanas de solidão, de trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco semanas ê v v z ; .‘D x — pensou ele um dia — j ã v .’ Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitira encará-los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado. Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os foi descobrindo, mirando e amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas tendas de repouso. Aguentava toda a trabalheira de fora, toda a melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do patrão, pela única paga de ver, três vezes por dia, o famoso par de braços. Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma cousa. Rejeitou a ideia logo, uma criança! Mas há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra ideia não foi rejeitada, antes afagada e beijada. E recordou então os modos dele, os esquecimentos, as distrações, e mais um incidente, e mais outro, tudo .” De início, morar na casa de Borges era solitário e tedioso, o que levou Inácio a pensar em ir embora. Todavia, isso não aconteceu, sobretudo porque o rapaz:

a) passou a ser mais bem tratado pelo casal após três semanas. b) teve uma educação que não lhe permitiria tal rebeldia. c) se pegou atraído por D. Severina, com o passar do tempo. d) gostava, na realidade, do trabalho que realizava com Borges. e) sentia que D. Severina se mostrava mais atenciosa com ele. 2). (UFRGS-RS) Considere as afirmações a seguir, a respeito dos contos de Machado de Assis. I. Em O alienista, diante da rebelião contra a Casa Verde, Bacamarte explica com paciência ao povo os

seus métodos e os desígnios da ciência, encerrando a polêmica. II. Em Conto de escola, o narrador, ao recordar o passado, contrasta a alegria das brincadeiras de rua com o castigo paterno e a opressão do ambiente escolar. III. Em Um homem célebre, Pestana, já famoso por suas composições de sabor clássico, sonha em compor uma polca em homenagem aos liberais. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III.

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3). (Fatec-SP)

[...] Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o. Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. [...] Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando v “ z ã ?” V o pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico. A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope. Assis, Machado de. O enfermeiro. Considere as seguintes afirmações sobre o texto:

I. O enfermeiro, mesmo sabendo que seu paciente morrera de aneurisma, teve muito remorso, pois achou que o havia esganado. II. A consciência de que praticou um crime leva o enfermeiro a procurar esconder as evidências de seu ato. III. O narrador é um homem religioso e, atendendo às necessidades dos rituais funerários, conta como cuidou ele próprio dos restos mortais do coronel. IV. A frase — “ z ã ?” — revela que o enfermeiro considera seu paciente como um irmão, dedicando-se a ele apesar da violência do coronel. V. O narrador relata os modos pelos quais evitou que se percebesse o assassinato do coronel. São corretas apenas as afirmativas:

a) I, II e III. b) I e IV. c) II e III. d) II e V. e) IV e V. 4) (PUC-MG) Considerando o fragmento de O enfermeiro, é correto afirmar que, na obra de Machado de

Assis: a) os impulsos doentios e as atitudes criminosas do homem são dois de seus principais temas. b) os comportamentos humanos são analisados em função das relações sociais. c) são constantes as referências religiosas e bíblicas, atestando a confiança do homem que obedece à moral cristã. d) os personagens se conduzem de acordo com as normas éticas universais, mesmo quando infringem as leis dos homens. e) os negros surgem como personagens secundários, em posição de servos incompetentes, justificando-se, assim, a existência do regime escravocrata. 5). (PUC-MG) Nos contos de Missa do galo: variações sobre o mesmo tema, a imagem de Conceição como mulher submissa, ‘ ’ NÃO é revertida quando a narrativa se faz sob a perspectiva de:

a) Meneses b) Conceição c) Nogueira d) D. Inácia 6). (PUC-MG) Alguns dos contos de Missa do galo: variações sobre o mesmo tema possuem epígrafes,

que, retiradas em Machado de Assis, estabelecem com o texto epigrafado diferentes relações. A opção que indica uma relação INADEQUADA entre a abordagem do conto e sua epígrafe é:

a) Na versão de Autran Dourado, a epígr “N v ã v senhora, há muitos .” g x áv v lhe é revelado por Conceição o jogo de sedução que se estabelecera entre ela e Nogueira na noite da missa do galo.

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) N v ã O L íg “N v ã v há muitos v z ” z ê à úv g a aproximação, relembrada pelo narrador, entre ele e Conceição naquela noite de missa do galo. ) N v ã N P ñ íg “F - ã v ” à como Nogueira, ainda jovem, se aproveita sexualmente da aproximação com Conceição. d) Na versão de J G y L íg “B ã ! v - ‘ ’ z j ao título, tão v ” -se ironicamente à imagem de Conceição, que aí revela seu lado de mulher sedutora, desejável e desejante. 7) (UFRGS-RS) No conto Uns braços, de Machado de Assis, o adolescente Inácio vive durante algum

tempo na casa do “ ” B g D. S v . O j v í braços da mulher, os quais observava durante as refeições, acaba se apaixonando. Severina percebe os sentimentos do rapaz e é tomada por emoções ambíguas. Num domingo em que Inácio adormecera na rede do quarto, e Borges se ausentara de casa, D. Severina não resiste à tentação e vai ao quarto do jovem. Assinale a alternativa que dá seguimento correto aos fatos referidos acima.

a) O jovem acorda com a aproximação de D. Severina e os dois se beijam. b) O jovem permanece dormindo, D. Severina chega junto à rede com a intenção de beijá-lo, mas se arrepende à última hora. c) Inácio sonha que D. Severina pega-lhe as mãos e dá-lhe um beijo na boca; aturdido, acorda repentinamente e vê que tudo não passou de um sonho. d) Quando está no quarto de Inácio, D. Severina é surpreendida pelo marido que retorna à casa e lhe exige explicações. e) D. Severina observa Inácio dormindo, aproxima-se da rede e beija-lhe a boca, no mesmo instante em que o jovem sonha que está beijando a mulher. 8). (PUC-SP) Os contos machadianos de Várias histórias surpreendem pelo final inesperado que foge à estrutura da narrativa tradicional. Assim, identifique o trecho final que NÃO corresponde ao conto

indicado. ) “Nã á g . A ê casamento uma aversão puramente física. Casou meio defunta, às portas do nada. Chame-lhe monstro, v ” A desejada das gentes, que aborda, também, a recusa amorosa de Quintília, envolvida em disputa sentimental de dois amigos. ) “O j os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral g g g ” A causa secreta, que revela o ápice do prazer pela contemplação da desgraça alheia. ) “ admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a v v ã ...” O enfermeiro, que ironicamente se vale da ã í “B -aventurados os que possuem, porque

ã .” d) “ — Olhe, disse o Pestana, como é provável que eu morra por estes dias, faço-lhe logo duas polcas; a outra servirá ” Um homem célebre, que enfoca a frustração de um compositor insatisfeito com as próprias composições. e) “ — Também eu v g á ” Conto de escola, que enfoca o tema da corrupção e da delação. 9) (PUC-SP) No conto Um homem célebre, da obra Várias histórias, de Machado de Assis, há uma

profunda investigação ã “ primeiro lugar na aldeia não contentava a este César, que continuava a preferir-lhe, não o segundo, mas o centés R ”. Isso se justifica porque:

a) Romão Pires, exímio regente de orquestra, busca aquilo que não consegue alcançar. b) Pestana, exímio em sua atividade de compositor de polcas, não se satisfaz com a perfeição que atinge. c) Fortunato, dono de uma Casa de Saúde, diante da dor alheia sente um enorme prazer e a saboreia deliciosamente. d) Vilela, afamado advogado e marido de Rita, mata a mulher e o amante, acometido de indignação e furor. e) Inácio, jovem aprendiz de escritório, refugia-se no sonho/realidade, envolvido pelo objeto de sua obsessão amorosa.

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10). (Ufscar-SP) Machado de Assis faz do conto A igreja do Diabo um instrumento para análise e crítica,

por certo corrosiva, das instituições que, de algum modo, buscam estabelecer normas de conduta moral para os seres humanos. Utiliza, para tanto, a ironia, a qual, no texto transcrito, se faz presente em vários momentos, atingindo vários alvos, dentre os quais se destaca a Igreja Católica Apostólica Romana. Esta instituição importante está sendo atingida, de modo exclusivo, pela ironia, em: ) “ v D v g j .” ) “V v z v .” ) “U g j Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí- v z.” ) “ v ã à v á .” ) “Há ; á g .” 11. (Fuvest-SP) A narrativa de Machado de Assis explora, com frequência, os limites entre os diferentes

estados mentais, às vezes opostos entre si. Desenvolvem situações narrativas que se fundam na exploração do limite entre: 1) realidade / imaginação, 2) sonho / realidade, 3) sanidade / insanidade, respectivamente, os contos: a) Missa do galo, Entre santos e A causa secreta. b) O segredo do bonzo, Missa do galo e O espelho. c) A causa secreta, Entre santos e O espelho. d) Missa do galo, O segredo do bonzo e Entre santos. 12) Considere as seguintes afirmativas feitas em relação a alguns contos do livro Várias Histórias, de Machado de Assis: 1. O “Um homem célebre” g

interesses mercadológicos e às motivações mais torpes da política. 2. “A Causa Secreta” ã

efetivação da relação adúltera entre dois amantes alegra um marido masoquista. 3. O “Conto de escola” indica que, mesmo no ambiente corretivo e punitivo de uma escola severa, é

possível aprender valores morais deturpados e nocivos. 4. O conto “D. Paula” v

seu destino, mesmo que a ordem patriarcal estabelecida a impeça. 5. O “O Cônego ou a metafísica do estilo” vá z ;

entre elas, uma segundo a qual as palavras possuem sexo e residem em áreas diferentes do cérebro. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 2 e 5 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 3 e 5 são verdadeiras. e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.

GABARITO

TESTES UFPR 2014

v g á ! (“U g ”) Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino Sermão da M “B - v ã .” (“O ”). Esses são os parágrafos finais de contos do livro Várias histórias (1896), de Machado de Assis. Sobre

essa obra, considere as afirmativas abaixo:

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1. Todos os contos de Várias histórias terminam com algum ensinamento moral, conforme preconizava a estética realista. 2. Na obra machadiana, a competição acirrada que caracteriza a vida humana tende a se resolver após a morte, que serve de consolo e apaziguamento. 3. A g “U g ” -se com a reflexão do professor de melancolia: os que abrem caminho nem sempre são premiados por seus esforços. 4. O g “O ” g ã termina a história rico e sem arrependimentos. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 2 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

c) Somente as afirmativas 1 e 3 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras. 2) UFPR 2015

Considere as seguintes afirmativas feitas em relação a alguns contos do livro Várias Histórias, de Machado de Assis: 1. O “U ” g interesses mercadológicos e às motivações mais torpes da política. 2. “A S ” ã efetivação da relação adúltera entre dois amantes alegra um marido masoquista. 3. O “ ” vo e punitivo de uma escola severa, é possível aprender valores morais deturpados e nocivos. 4. O “D. P ” v destino, mesmo que a ordem patriarcal estabelecida a impeça. 5. O “O ô g í ” vá z ; elas, uma segundo a qual as palavras possuem sexo e residem em áreas diferentes do cérebro. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 2 e 5 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 3 e 5 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras. 1 (Unifesp) O trecho do conto Uns braços, de Machado de Assis, é base para responder às questões.

“H v v v ã B g por audiências e cartórios, correndo, levando papéis ao selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. (...) Cinco semanas de solidão, de trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco semanas ê v v z ; .‘D x — pensou ele um dia — fujo daqu ã v .’ Nã ; -se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitira encará-los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado. Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os foi descobrindo, mirando e amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas tendas de repouso. Aguentava toda a trabalheira de fora, toda a melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do patrão, pela única paga de ver, três vezes por dia, o famoso par de braços. Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma cousa. Rejeitou a ideia logo, uma criança! Mas há ideias que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra ideia não foi rejeitada, antes afagada e beijada. E recordou então os modos dele, os esquecimentos, as distrações, e mais um .” De início, morar na casa de Borges era solitário e tedioso, o que levou Inácio a pensar em ir embora. Todavia, isso não aconteceu, sobretudo porque o rapaz:

a) passou a ser mais bem tratado pelo casal após três semanas. b) teve uma educação que não lhe permitiria tal rebeldia. c) se pegou atraído por D. Severina, com o passar do tempo.

d) gostava, na realidade, do trabalho que realizava com Borges. e) sentia que D. Severina se mostrava mais atenciosa com ele.

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2). (UFRGS-RS) Considere as afirmações a seguir, a respeito dos contos de Machado de Assis. I. Em O alienista, diante da rebelião contra a Casa Verde, Bacamarte explica com paciência ao povo os seus métodos e os desígnios da ciência, encerrando a polêmica. II. Em Conto de escola, o narrador, ao recordar o passado, contrasta a alegria das brincadeiras de rua com o castigo paterno e a opressão do ambiente escolar. III. Em Um homem célebre, Pestana, já famoso por suas composições de sabor clássico, sonha em

compor uma polca em homenagem aos liberais. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II.

c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III. 3). (Fatec-SP)

[...] Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o. Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. [...] Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando v “ z ã ?” V unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico. A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope. Assis, Machado de. O enfermeiro. Considere as seguintes afirmações sobre o texto:

I. O enfermeiro, mesmo sabendo que seu paciente morrera de aneurisma, teve muito remorso, pois achou que o havia esganado. II. A consciência de que praticou um crime leva o enfermeiro a procurar esconder as evidências de seu ato. III. O narrador é um homem religioso e, atendendo às necessidades dos rituais funerários, conta como cuidou ele próprio dos restos mortais do coronel. IV. A frase — “ z ã ?” — revela que o enfermeiro considera seu paciente como um irmão, dedicando-se a ele apesar da violência do coronel. V. O narrador relata os modos pelos quais evitou que se percebesse o assassinato do coronel. São corretas apenas as afirmativas:

a) I, II e III. b) I e IV. c) II e III. d) II e V.

e) IV e V. 4) (PUC-MG) Considerando o fragmento de O enfermeiro, é correto afirmar que, na obra de Machado de

Assis: a) os impulsos doentios e as atitudes criminosas do homem são dois de seus principais temas. b) os comportamentos humanos são analisados em função das relações sociais.

c) são constantes as referências religiosas e bíblicas, atestando a confiança do homem que obedece à moral cristã. d) os personagens se conduzem de acordo com as normas éticas universais, mesmo quando infringem as leis dos homens. e) os negros surgem como personagens secundários, em posição de servos incompetentes, justificando-se, assim, a existência do regime escravocrata.

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5). (PUC-MG) Nos contos de Missa do galo: variações sobre o mesmo tema, a imagem de Conceição ‘ ’ NÃO é revertida quando a narrativa se faz sob a perspectiva de: a) Meneses

b) Conceição c) Nogueira d) D. Inácia 6). (PUC-MG) Alguns dos contos de Missa do galo: variações sobre o mesmo tema possuem epígrafes,

que, retiradas em Machado de Assis, estabelecem com o texto epigrafado diferentes relações. A opção em que se indica uma relação INADEQUADA entre a abordagem do conto e sua epígrafe é:

a) Na versã A D íg “N v ã v á .” g x áv v lhe é revelado por Conceição o jogo de sedução que se estabelecera entre ela e Nogueira na noite da missa do galo. ) N v ã O L íg “N v ã v á v z ” z ê à úv g a aproximação, relembrada pelo narrador, entre ele e Conceição naquela noite de missa do galo. c) Na versão de Nélida Piñon, a epígrafe “Fartou-se de antemão do banquete da vida” remete à forma como Nogueira, ainda jovem, se aproveita sexualmente da aproximação com Conceição.

) N v ã J G y L íg “B ã ! v - ‘ ’ z j í ã v ” -se ironicamente à imagem de Conceição, que aí revela seu lado de mulher sedutora, desejável e desejante. 7) (UFRGS-RS) No conto Uns braços, de Machado de Assis, o adolescente Inácio vive durante algum

“ ” B g D. S v . O j v í braços da mulher, os quais observava durante as refeições, acaba se apaixonando. Severina percebe os sentimentos do rapaz e é tomada por emoções ambíguas. Num domingo em que Inácio adormecera na rede do quarto, e Borges se ausentara de casa, D. Severina não resiste à tentação e vai ao quarto do jovem. Assinale a alternativa que dá seguimento correto aos fatos referidos acima.

a) O jovem acorda com a aproximação de D. Severina e os dois se beijam. b) O jovem permanece dormindo, D. Severina chega junto à rede com a intenção de beijá-lo, mas se arrepende à última hora. c) Inácio sonha que D. Severina pega-lhe as mãos e dá-lhe um beijo na boca; aturdido, acorda repentinamente e vê que tudo não passou de um sonho. d) Quando está no quarto de Inácio, D. Severina é surpreendida pelo marido que retorna à casa e lhe exige explicações. e) D. Severina observa Inácio dormindo, aproxima-se da rede e beija-lhe a boca, no mesmo instante em que o jovem sonha que está beijando a mulher. 8). (PUC-SP) Os contos machadianos de Várias histórias surpreendem pelo final inesperado que foge à estrutura da narrativa tradicional. Assim, identifique o trecho final que NÃO corresponde ao conto

indicado. ) “Nã á g . A ê casamento uma aversão puramente física. Casou meio defunta, às portas do nada. Chame-lhe monstro, v ” A desejada das gentes, que aborda, também, a recusa amorosa de Quintília, envolvida em disputa sentimental de dois amigos. ) “O eijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deli g ” A causa secreta, que revela o ápice do prazer pela contemplação da desgraça alheia. ) “ admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que ã z; v v ã ...” O enfermeiro v ã í “B -aventurados os que possuem, porque

ã .” ) “ — Olhe, disse o Pestana, como é provável que eu morra por estes dias, faço-lhe logo duas polcas; a v á ” Um homem célebre, que enfoca a frustração de um compositor insatisfeito com as próprias composições.

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e) “Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária”, de Conto de escola, que enfoca o tema da corrupção e da delação. 9) (PUC-SP) No conto Um homem célebre, da obra Várias histórias, de Machado de Assis, há uma

v g ã ã “ primeiro lugar na aldeia não contentava a este César, que continuava a preferir-lhe, não o segundo, mas R ”. Isso se justifica porque:

a) Romão Pires, exímio regente de orquestra, busca aquilo que não consegue alcançar. b) Pestana, exímio em sua atividade de compositor de polcas, não se satisfaz com a perfeição que atinge.

c) Fortunato, dono de uma Casa de Saúde, diante da dor alheia sente um enorme prazer e a saboreia deliciosamente. d) Vilela, afamado advogado e marido de Rita, mata a mulher e o amante, acometido de indignação e furor. e) Inácio, jovem aprendiz de escritório, refugia-se no sonho/realidade, envolvido pelo objeto de sua obsessão amorosa. 10). (Ufscar-SP) Machado de Assis faz do conto A igreja do Diabo um instrumento para análise e crítica,

por certo corrosiva, das instituições que, de algum modo, buscam estabelecer normas de conduta moral para os seres humanos. Utiliza, para tanto, a ironia, a qual, no texto transcrito, se faz presente em vários momentos, atingindo vários alvos, dentre os quais se destaca a Igreja Católica Apostólica Romana. Esta instituição importante está sendo atingida, de modo exclusivo, pela ironia, em: ) “ v D v g j .” ) “V v z v .” ) “U g j D z g õ í- v z.” d) “Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico.”

) “Há ; á g .” 11. (Fuvest-SP) A narrativa de Machado de Assis explora, com frequência, os limites entre os diferentes

estados mentais, às vezes opostos entre si. Desenvolvem situações narrativas que se fundam na exploração do limite entre: 1) realidade / imaginação, 2) sonho / realidade, 3) sanidade / insanidade, respectivamente, os contos: a) Missa do galo, Entre santos e A causa secreta. b) O segredo do bonzo, Missa do galo e O espelho. c) A causa secreta, Entre santos e O espelho. d) Missa do galo, O segredo do bonzo e Entre santos. e) D. Benedita, O segredo do bonzo e A causa secreta. . Benedita, O segredo do bonzo e A causa secreta. 12) Considere as seguintes afirmativas feitas em relação a alguns contos do livro Várias Histórias, de Machado de Assis: 1. O “Um homem célebre” g

interesses mercadológicos e às motivações mais torpes da política. 2. “A Causa Secreta” ã mens e uma mulher, na qual a

efetivação da relação adúltera entre dois amantes alegra um marido masoquista. 3. O “Conto de escola” v v v

possível aprender valores morais deturpados e nocivos. 4. O conto “D. Paula” v

seu destino, mesmo que a ordem patriarcal estabelecida a impeça. 5. O “O Cônego ou a metafísica do estilo” vá natureza do estilo;

entre elas, uma segundo a qual as palavras possuem sexo e residem em áreas diferentes do cérebro. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas 1 e 4 são verdadeiras. b) Somente as afirmativas 2 e 5 são verdadeiras. c) Somente as afirmativas 4 e 5 são verdadeiras. d) Somente as afirmativas 1, 3 e 5 são verdadeiras.

e) Somente as afirmativas 2, 3 e 4 são verdadeiras.