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PROFISSIONALIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR, UMA EXIGÊNCIA PARA SOBREVIVÊNCIA. ESTUDO DE CASO DE UMA ORGANIZAÇÃO NÃO GOVERNAMENTAL. Fabio Antonio Muller Mariano (UFF) Marcius Hollanda Pereira da Rocha (UFF) Resumo Desde as duas últimas décadas temos vivenciado no Brasil e no mundo uma grande expansão das organizações do Terceiro Setor e já é consenso a importância deste setor para a economia mundial. Em contraponto estas organizações vêm enfrentandoo grandes desafios para manutenção de suas atividades e desenvolvimento de técnicas e modelos de gerenciamento, que lhes sejam próprias e adequadas e que garantam a eficácia, eficiência e efetividade dos projetos sociais desenvolvidos por estas organizações. Assim este estudo apresenta um breve referencial teórico sobre o assunto, de tal modo a caracterizar as organizações que compõe este setor e a evolução do modelo de gestão do CIEDS - Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável, organização do Terceiro Setor ao longo dos últimos dez anos. Concluiu-se que o processo de institucionalização e sistematização oferece as organizações do Terceiro Setor o reconhecimento de suas potencialidades e fragilidades e que aliar técnicas e a racionalidade do segundo setor as experiências e formas de gestão do Terceiro Setor pode se concretizar em uma alternativa de sucesso para estas organizações. Palavras-chaves: Terceiro Setor, Gestão, Resultados e Projetos Sociais. 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354

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PROFISSIONALIZAÇÃO DO TERCEIRO

SETOR, UMA EXIGÊNCIA PARA

SOBREVIVÊNCIA. ESTUDO DE CASO

DE UMA ORGANIZAÇÃO NÃO

GOVERNAMENTAL.

Fabio Antonio Muller Mariano

(UFF)

Marcius Hollanda Pereira da Rocha

(UFF)

Resumo Desde as duas últimas décadas temos vivenciado no Brasil e no mundo

uma grande expansão das organizações do Terceiro Setor e já é

consenso a importância deste setor para a economia mundial. Em

contraponto estas organizações vêm enfrentandoo grandes desafios

para manutenção de suas atividades e desenvolvimento de técnicas e

modelos de gerenciamento, que lhes sejam próprias e adequadas e que

garantam a eficácia, eficiência e efetividade dos projetos sociais

desenvolvidos por estas organizações. Assim este estudo apresenta um

breve referencial teórico sobre o assunto, de tal modo a caracterizar as

organizações que compõe este setor e a evolução do modelo de gestão

do CIEDS - Centro Integrado de Estudos e Programas de

Desenvolvimento Sustentável, organização do Terceiro Setor ao longo

dos últimos dez anos. Concluiu-se que o processo de

institucionalização e sistematização oferece as organizações do

Terceiro Setor o reconhecimento de suas potencialidades e fragilidades

e que aliar técnicas e a racionalidade do segundo setor as experiências

e formas de gestão do Terceiro Setor pode se concretizar em uma

alternativa de sucesso para estas organizações.

Palavras-chaves: Terceiro Setor, Gestão, Resultados e Projetos

Sociais.

12 e 13 de agosto de 2011

ISSN 1984-9354

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1. Contextualização Nossa sociedade passa por um intenso processo de transformação. As últimas décadas foram

marcadas por fenômenos e alterações, que formaram um complexo cenário, dos quais se

destacam aqui alguns fatores: a modificação na fronteira entre as esferas sociais, públicas e

privadas (Müller, 2009); a forte deterioração das condições sociais, em especial na América

Latina; a dificuldade no acesso ao consumo, ao crédito, à educação, à saúde e à inclusão

digital (Dupas, 2008); a busca da sociedade por uma nova forma de regulação das relações

sociais (Kirschner, 2002); a implementação de uma proposta de globalização neoliberal, como

destaca Corrêa & Medeiros (2003): “na época da globalização do capitalismo entra em cena a

ideologia neoliberal, como seu ingrediente, produto e condição”; e a implementação de um

Estado mínimo, a reforma dos serviços públicos, a implementação de superávits primários,

dentre outros (Araújo, 2006). Todas estas alterações ocorrem em paralelo a uma grande crise

ambiental e de valores.

Ao mesmo tempo, a humanidade parece buscar alternativas para a crise civilizatória que

vivemos e que ameaça a própria vida humana. Diante disso vemos o surgimento de novos

sentimentos: solidariedade, pertencimento comunitário, cooperação, confiança.

Rattner destaca este entendimento:

Cooperação, compaixão e solidariedade são valores

vitais para sobrevivência e qualidade de vida.

Participação consciente e ativa nas decisões sobre sua

própria vida e a vida coletiva dá significado ao empenho

humano. (RATTNER,1999: pp. 233-240)

As organizações do Terceiro Setor1, emergem na década de 90 como uma promessa de

salvação, com a promessa de tornarem-se responsáveis por nos tirar do cenário de

desigualdades, criminalidade, preconceito, miséria, fome, injustiça, renovar o espaço público,

resgatar a solidariedade a cidadania para as relações e humanizar as relações entre empresas,

governos e população. Esta promessa emergiu basicamente em função de que as

organizações do Terceiro Setor, representariam conceitualmente, a sociedade civil organizada,

não visariam o lucro, tal qual as instituição privadas (segundo setor), e tampouco possuiriam

influências politicas e burocracias ilimitadas tal qual as instituições públicas (primeiro setor).

Seria deste modo, a busca do bem comum pelas mãos do próprio povo. As organizações do

Terceiro Setor se traduzem no conceito do público porém privado.

Vale frisar durante mais de três séculos as organizações do Terceiro Setor desenvolviam suas

ações apenas sob a lógica da prática assistencialista, com predomínio da caridade cristã. Ricos

filantropos sustentavam os educandários, os hospitais, as santas casas, os asilos e demais

organizações que foram fundadas a partir do século XVIII. Foi somente no final do século

XIX e início do XX que as instituições de assistência e amparo à população carente passaram

1 Não existe consenso acadêmico nem jurídico acerca da nomenclatura usada a estas organizações, alguns

autores denominam “Organizações da Sociedade Civil”, outros “Sociedade Civil Organizada”, outros

“Organizações Não Governamentais” “Organizações voluntárias”,”organizações sem fins lucrativos”, “setor

independente”, e outros ainda “Terceiro Setor”. Neste trabalho utilizaremos a nomenclatura Terceiro Setor, por

ser a nomenclatura que mais teve sucesso no Brasil. Segundo SIMONE COELHO (2000), “essa multiplicidade

de denominações apenas demonstra a falta de precisão conceitual, o que, por sua vez, revela a dificuldade de

enquadrar toda a diversidade de organizações em parâmetros comuns”.

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por mudanças na sua forma de organização e administração, deixando de ser

fundamentalmente orientadas por princípios de caridade cristã e da filantropia.

Segundo Landim (1993), estima-se que atualmente existam cerca de 250 mil organizações do

Terceiro Setor no Brasil, movimentando valores que correspondem 1,5% do PIB brasileiro.

Futuramente, espera-se que elas movimentem valores equivalentes a até 5% do PIB,

equiparando-se a média de outros países. Com estes dados não há como não reconhecer a

importância estratégica deste setor, inclusive economicamente para o País.

O Terceiro Setor cresceu 157% em seis anos. Foi o segmento econômico mais ativo no

período de 1996 a 2002. Empregam mais de 1,5 milhão de pessoas, segundo levantamento

feito pela Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (ABONG).

Frente a este cenário, a demanda de profissionalização e de institucionalização das

organizações do Terceiro Setor é cada vez mais exigida. Mais que isso é condição para a

sobrevivência destas organizações. Esta demanda inicialmente foi apontada pelas agências de

cooperação internacional que passaram a privilegiar o perfil “profissional” em detrimento às

organizações de base comunitária. Cada vez mais é exigido das organizações do Terceiro

Setor um nível de profissionalização e de gestão de projetos altamente qualificado.

Há um virtual consenso entre estudiosos e pessoas

envolvidas no cotidiano de organizações sem fins

lucrativos de que, no Brasil, a deficiência no

gerenciamento destas organizações é um dos maiores

problemas do setor, e que o aperfeiçoamento da gestão -

através da aprendizagem e da aplicação de técnicas

oriundas do campo de Administração - é um caminho

necessário para o atingir de melhores resultados.

(FALCONER, 1999 – p. 110 )

Ressalte-se ainda, que as organizações do Terceiro Setor que não investem em processos de

sistematização, institucionalização e profissionalização enfrentam dificuldades tanto para

desenvolverem suas próprias ações quanto para se candidatarem a novos financiamentos,

ficando desta forma, fadadas a falência, presas em um ciclo vicioso. Apenas para participar de

algumas concorrências internacionais e/ou nacionais para captação de recursos é exigido um

alto nível de organização, burocracia, e de conhecimento de técnicas de gerenciamento de

projetos, que impede um número infindável de organizações, de participar destes concursos e

logo de ter acesso a este tipo de financiamento. Sem recursos financeiros que permitam a

manutenção das atividades, o trabalho tende a esvaziar-se e estas organizações, em

consequência, tendem a fechar.

É premente que as ações das organizações do Terceiro Setor sejam capazes de dar respostas

adequadas e eficazes às demandas e necessidades da sociedade, isto posto, verifica-se a

urgência de se imprimir uma nova direcionalidade e racionalidade no processo de formulação,

execução e avaliação de políticas públicas e dos projetos sociais de forma que estes

contribuam para o desenvolvimento local, bem estar social, e acesso a bens e serviços, na

perspectiva de uma melhor qualidade de vida e construção de uma sociedade mais justa e

equânime.

Lewis (2001) considera que muitos dos desafios gerenciais das organizações do Terceiro

Setor estão longe de serem novos, embora haja várias áreas em que estas organizações estão

inovando, e reforça que estas práticas necessitam ser documentadas e divulgadas através de

pesquisas. Ele recomenda pensar num “modelo dinâmico de gestão de ONGs”, que possa “…

encapsular diversidade organizacional, aprendizagem e mudança”.

Tancredi (1995) confirma a validade desta percepção no Brasil ao afirmar que “sem sombra

de dúvidas, existe uma forte dose de amadorismo no trato da administração estratégica de

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projetos (...) (apesar de) ninguém admitir que ignora a importância destas dimensões”, e que

“em que pese sua experiência no campo profissional específico de onde foram trazidos, [as

ONGs] acabam caindo e se enredando nas armadilhas dos processos e fenômenos das

mudanças institucionais”.

Uma ressalva importante a ser efetuada é que este processo de aprimoramento das técnicas e

metodologias de gestão do Terceiro Setor deve ter o cuidado de não “colonizar” a ação social

pelos princípios, lógicas e metodologias de gestão originários do setor privado, sob pena da

extinção da autonomia das organizações da sociedade civil, ao colocar em cheque sua

capacidade de constituírem-se como produtoras de sujeitos capazes de lutas políticas

emancipatórias. (Sobottka, 2001).

A necessidade de adoção de um modelo de gerenciamento de projetos eficiente por parte das

ONGs é um fator fundamental para a consecução das finalidades a que estas organizações se

propõem. Outro fator importante a considerar é a inexistência de uma postura de consenso

acerca de quais ferramentas e métodos seriam os mais apropriados para o sucesso dos projetos

executados por essas organizações. O único consenso é que não podemos simplesmente

transpor técnicas gerenciais das organizações privadas para as organizações do Terceiro Setor,

sem antes alinhá-las às expectativas e características próprias destas organizações e do

processo de gestão social.

No entanto, a transposição de técnicas gerenciais

oriundas da esfera privada não se dá de maneira linear

e absoluta, esbarrando nas especificidades da gestão

social, característica das organizações do Terceiro

Setor. Ferramentas administrativas privadas carregam

em si conceitos e pressupostos que, em alguns casos,

podem trazer distorções quanto à natureza da gestão

demandada na esfera social. (Teodósio, 2001)

O CIEDS, Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável, é uma

organização não governamental, fundada em 1998, com qualificação de utilidade pública

federal e reconhecida pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, como

Instituição Beneficente de Assistência Social, inspirada na promoção do desenvolvimento

humano, focando a ampliação da capacidade organizacional de grupos e comunidades por

meio da gestão comunitária e do aprendizado produtivo, que vem empreendendo esforços no

desenvolvimento de um modelo de gestão de seus projetos que produza resultados eficientes,

eficazes e efetivos. 2

2. Objetivo Este artigo pretende apresentar a evolução do Modelo de Gestão do CIEDS

3, ao longo dos

últimos dez anos, destacando suas potencialidades e oportunidades de aperfeiçoamento de

modo a permitir que outras organizações do Terceiro Setor, possam espelhar-se ou realizar

por meio deste processo análises comparativas que permitam a revisão de suas metodologias.

2 Efetividade examina em que medida os resultados do projeto, em termos de benefícios ou mudanças gerados,

estão incorporados de modo permanente à realidade da população atingida. Eficácia observa se as ações do

projeto permitiram alcançar os resultados previstos. Eficiência diz respeito à boa utilização dos recursos

(financeiros, materiais e humanos) em relação às atividades e resultados atingidos. (VALARELLI; 1999) 3 CIEDS, Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável. Organização do Terceiro

Setor, fundada em 1998, com matriz no Rio de Janeiro e filiais em São Paulo, Sergipe e Ceará.

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Apresenta como objetivo despertar o interesse do leitor para a importância e premência da

implementação de sistemas de gestão eficientes e modelados em organizações do Terceiro

Setor, considerando a importância deste setor para a economia mundial.

3. Metodologia Este artigo trata-se de uma pesquisa aplicada, onde os conhecimentos apresentados poderão

ser utilizados para aplicação prática, contribuindo para solucionar problemas trazidos pelo

assunto em questão.

Conforme aponta Gil (1991) podemos “definir pesquisa como um procedimento racional e

sistemática que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos”

(p.17).

Para Marcone e Lakatos (2001, p.43):

A pesquisa pode ser considerada um procedimento

formal com método de pensamento reflexivo que requer

um tratamento cientifico e se constitui no caminho para

se conhecer a realidade ou para descobrir verdades

parciais. Significa muito mais do que apenas a verdade:

é encontrar respostas para questões propostas,

utilizando modelos científicos.

Sob o ponto de vista da forma de abordagem, a pesquisa será do tipo qualitativo, com base no

estudo de caso único, sendo utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: revisão

bibliográfica sobre o problema de pesquisa; realização de entrevistas com gerentes e membros

da alta direção; leitura e análise de material institucional e registros da organização

relacionados ao tema em estudo e observação participante.

A apresentação dos dados e resultados apurados baseia-se no modelo metodológico de estudo

de caso, que de acordo com a definição de Yin (1990) parece ser o mais adequado para o

problema em questão: “O estudo de casos é uma forma de se fazer pesquisa social empírica ao

investigar-se um fenômeno atual dentro do seu contexto de vida-real, onde as fronteiras entre

o fenômeno e o contexto não são claramente definidas e na situação em que múltiplas fontes

de evidência são usadas.”

4. RESULTADOS

4.1 - O CONTEXTO DO TERCEIRO SETOR

A expressão “Terceiro Setor” foi criada nos Estados Unidos, nos anos 70, visando delimitar,

no contexto norte-americano, as atividades de um setor formado por organizações sem fins

lucrativos.

Rodrigues (1998, p.31) afirma que: “por terceiro setor entende-se a sociedade civil que se

organiza e busca soluções próprias para suas necessidades e problemas, fora das lógicas do

Estado e do mercado. A expressão terceiro setor é, assim, utilizada por contraposição à idéia

de que o primeiro setor é constituído pelo Estado e de que o segundo setor é formado por

empresas privadas.”

A mesma autora neste mesmo artigo ressalta que não existe uma conceituação clara acerca do

Terceiro Setor, é, portanto, um conceito em construção, não havendo ainda um consenso por

parte dos estudiosos dessa questão, e cuja regulamentação ainda não se encontra plenamente

consolidada.

Salamon e Anheir (1997) definem cinco pré-requisitos para a caracterização de uma

organização como sendo do terceiro setor. São eles:

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1.) Estruturadas. Possuem certo nível de institucionalização, possuindo uma estrutura

interna formal com regras e procedimentos (Estatutos, Regimentos Internos,

Metodologias, etc).

2.) Privadas. São capitaneadas pela sociedade civil organização, não tendo nenhuma

relação mandatório de Governos, embora possam dele receber recursos para

executar suas ações de acordo com suas estratégias e finalidades.

3.) Sem fins lucrativos. Não distribuem lucros ou rendimentos gerados em decorrência

da execução de seus projetos entre associados ou dirigentes. Vale destacar aqui que

não existe uma proibição de geração de lucros, a proibição está relacionada a sua

destinação. Qualquer lucro auferido deve ser reaplicado na consecução dos

objetivos, estratégias e finalidades institucionais.

4.) Autônomas. Não são controladas por entidades externas possuindo os meios para

controlar sua própria gestão.

5.) Voluntárias. Envolvem a ação voluntária da sociedade civil, ainda que apenas

entre os membros de sua diretoria. Mobilizam a dimensão voluntária do

comportamento humano.

Ruth Cardoso (1997) ressalta que:

(...) o Terceiro Setor descreve um espaço de participação

e experimentação de novos modos de pensar e agir sobre

a realidade social. Sua afirmação tem o grande mérito

de romper a dicotomia entre público e privado, na qual

público era sinônimo de estatal e privado de

empresarial. Estamos vendo o surgimento de uma esfera

pública não-estatal e de iniciativas privadas com sentido

público. Isso enriquece e complexifica a dinâmica social.

Para Vakil (1997), as atividades desempenhadas pelas organizações do Terceiro Setor,

incluem as seguintes orientações, ressalvando-se que uma mesma organização pode atuar em

apenas um destes nichos ou cumular ações em vários deles, quais sejam:

Bem estar: provisão de serviços básicos a grupos específicos;

Desenvolvimento: apoiar as comunidades, capacitando-as de tal modo que elas

possam prover suas próprias necessidades básicas (desenvolvimento

sustentado, construção de capacidades).

Proteção, defesa, campanhas;

Educação para o desenvolvimento;

Ação em redes;

Pesquisa: desenvolvimento de pesquisas participativas.

De acordo com o estudo realizado pela Consultoria do Senado Federal, em 1999, “ONG seria

um grupo social organizado, sem fins lucrativos, constituído formal e autonomamente,

caracterizado por ações de solidariedade no campo das políticas públicas e pelo legítimo

exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas das condições da

cidadania”.

Segundo Herbert de Souza, o Betinho:

uma ONG se define por sua vocação política, por sua

positividade política: uma entidade sem fins de lucro

cujo objetivo fundamental é desenvolver uma sociedade

democrática, isto é, uma sociedade fundada nos valores

da democracia – liberdade, igualdade, diversidade,

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participação e solidariedade. (...) As ONGs são comitês

da cidadania e surgiram para ajudar a construir a

sociedade democrática com que todos sonham”.

(ABONG)

Insta salientar o entendimento da proposição de Oliveira Neto (1992), que as ONGs seriam

“canais de participação das classes médias na esfera pública, exercendo funções de tradução e

rearticulação dos interesses e demandas dos setores populares nas arenas institucionais de

confronto e negociações sociais” (OLIVEIRA NETO, 1992).

No Brasil, as origens do Terceiro Setor remontam os tempos do Brasil Colônia. Landim

(1993), ao fazer um histórico dessa questão, indica as raízes que deram forma à maior parte

das instituições que integram o Terceiro Setor no País “(...) são quase quatro séculos de

atividades produtivas baseadas principalmente no escravismo, em um contexto de relações de

dependência baseadas em alianças de reciprocidade verticais, o coronelismo e o clientelismo,

segundo os quais se troca, individualizadamente proteção e favores por lealdade e serviços.“

No que diz respeito à natureza e finalidades das organizações do Terceiro Setor, a grande

mudança de perspectiva se dá a partir da década de 90, mais especificamente a partir da ECO

92, quando o país toma contato direto com uma nova força nascente: - o poder da opinião

pública – e com a expressividade do movimento em prol dos direitos coletivos e difusos,

dentre os quais se destacam a preservação da vida no planeta.

É a partir dessa década que o termo “Terceiro Setor” passou a ser usado no Brasil para

designar uma imensa variedade de instituições, cujo traço comum é muitas vezes unicamente

o fato de registrarem em seus estatutos sua natureza não econômica (sem fins lucrativos).

Landim (1993) ressalta que a sociedade civil organizada, representa a possibilidade de

articulação, de dar voz às minorias e de cobrar do Primeiro (Governo) e Segundo (Empresas

Privadas) Setores uma atuação ética, transparente e comprometida com o bem comum.

Assim, a sociedade civil na visão mais contemporânea se define como uma esfera social

particular, com um papel específico, diferenciado do Estado e do mercado, mas que mantém

relações de interface com essas duas esferas (ANDION E SERVA, 2004). Esta pontuação é

de fundamental importância para o entendimento da conceituação do Terceiro Setor, pois

embora possua uma finalidade e um papel totalmente distinto do Estado e do mercado, e ao

mesmo tempo possui características comuns a ambos, é com estes entes que as organizações

do Terceiro Setor mantêm relações diretas.

Assim, as organizações do Terceiro Setor que parecem ser, à primeira vista, organizações

muito simples cuja estrutura de funcionamento interno poderia refletir-se num organograma

quase-horizontal, são, em realidade, amostras representativas da complexidade da sociedade

em que estão inseridas.

4.2 – O CIEDS

Para expressar os princípios que levaram à criação do CIEDS devemos retomar a

conceituação formulada por Fernandes e Carneiro, citada por Rodrigues (1998), para as

organizações do Terceiro Setor: “... um novo tipo de organização que combina de maneira

curiosa a tensão entre o grande e o pequeno, o público e o privado. São pequenas [a maioria

delas] e privadas, mas se comportam como se fossem grandes e públicas. Seus objetivos são

amplos e ambiciosos.”

O CIEDS, Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável,

fundado em 1998, atua em todo o território nacional, com sede na Cidade do Rio de Janeiro,

filiais em São Paulo, Sergipe e Ceará.

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Já ao ser criado, o CIEDS se propunha a superar problemas sociais de grande monta, mesmo

contando com um número reduzido de associados e praticamente nenhum capital financeiro

para empreender tais ações. O grande capital disponível era de natureza intelectual, aportado

por seus fundadores, com formação básica em diferentes áreas – Economia, Pedagogia,

Engenharia de Produção, Ciências Sociais, Assistência Social, Administração, dentre outras -,

e expressivas trajetórias profissionais, construídas tanto em empresas privadas, quanto em

outras instituições não governamentais e também na área governamental.

Ao longo de sua existência, o CIEDS conseguiu formar uma equipe multidisciplinar,

altamente qualificada que interage em todas as etapas de implementação dos projetos; do

planejamento à execução, da execução à avaliação dos resultados.

A ação do CIEDS tem como fundamento a convicção de o empoderamento do individuo, de

grupos e comunidades, precisa ser fortalecido e desenvolvido, com vistas a uma sociedade

mais igualitária.

O CIEDS ao longo de sua trajetória harmonizou quatro principais requisitos:

Capacidade para perceber as mudanças no cenário de sua atuação e transformar

oportunidades em realizações;

Habilidade para liderar suas equipes no sentido de empreender mudanças,

principalmente na gestão, que tem garantido a sustentabilidade da organização;

Valorização do fazer coletivo, a ética e a transparência nas parcerias formalizadas;

Competência para aglutinar saberes e experiências e orientá-las para a execução de

suas ações.

O CIEDS adota uma gestão profissional, com foco em resultados, exercida com base em

princípios éticos de transparência das ações, publicização de suas atividades e resultados,

respeito aos direitos humanos e às diferenças que possa haver entre os indivíduos, sejam elas

de cunho étnico-racial, de gênero, de credo, de orientação sexual, de ordem filosófica ou

cultural; e na compreensão plena de sua Responsabilidade Social no âmbito da sociedade.

Tem como Missão "Promover o Desenvolvimento Social e Econômico, a valorização do

individuo e a ampliação da capacidade de organização social de grupos por meio da

capacitação e assessoria em gestão com base no aprendizado participativo.”

Sua Visão é “Contribuir efetivamente para o fortalecimento do Terceiro Setor, enquanto força

geradora e promotora de melhores oportunidades no processo de construção de uma sociedade

mais justa, mais igualitária.”

E sua Política de Qualidade e Responsabilidade Social é “Cumprir nossa MISSÃO atendendo

com profissionalismo, ética e transparência nossos púbicos interessados garantindo a

sustentabilidade institucional por meio da melhoria contínua de nosso sistema de gestão e da

prática de nosso Código de Ética.”

E tem como Propósito a “Promoção de uma sociedade sustentável.”

Para tal, adota como valores: o respeito à diversidade; o respeito ao saber acumulado de cada

colaborador e dos nossos públicos interessados; a transparência; o compromisso com a gestão

de qualidade; o respeito às legislações nacionais e internacionais no que concerne a nossa

atividade; a formação de quadros técnicos qualificados; e o incentivo a novas ideias.

A ação consolidada do CIEDS em seus treze anos de atuação se expressa através dos

seguintes números, 270 projetos, mais de 300.000 beneficiários diretos e mais de 2.000

comunidades atendidas.

A ação institucional realizada em parceria com várias instâncias de governo, com a iniciativa

privada e com instituições da sociedade civil, nacionais e internacionais se traduz pela

experiência significativa de atuação junto a populações desprivilegiadas – especialmente

jovens, mulheres, afrodescendentes, idosos, etc - notadamente as residentes em regiões

metropolitanas, onde além das restrições de oportunidades derivadas da pobreza, têm que

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superar os efeitos da violência, às vezes extrema. Tem como fundamento de suas ações a

convicção de que essas pessoas possuem um expressivo potencial, que precisa ser identificado

e desenvolvido, por meio de processos de capacitação participativos e que promovam sua

inclusão no encaminhamento das soluções para os problemas vivenciados.

A ação do CIEDS se efetiva em três principais eixos:

Cultura Empreendedora e Mercado de Trabalho - identificando, capacitando e

desenvolvendo potenciais econômicos e sociais individuais e coletivos, na perspectiva de

geração de trabalho e renda e do fomento de processos de Desenvolvimento Local Integrado e

Sustentável (DLIS); promovendo o aumento da escolaridade, a qualificação profissional e o

encaminhamento para o mercado de trabalho;

Ações Integradas de Desenvolvimento – realizando ações integradas para o

desenvolvimento sustentável com viés transversal de assistência social, saúde, educação,

esporte, cultura, lazer, meio ambiente visando à melhoria dos níveis de qualidade de vida,

atendendo a diversos públicos, quais sejam: crianças e adolescentes, jovens, mulheres,

afrodescendentes, idosos, pessoas com deficiência, etc.

Políticas Públicas e Gestão Social – prestando assessoria sistemática a órgãos públicos e

empresas no planejamento, desenvolvimento e avaliação de ações continuadas para a

população que demanda proteção e/ou promoção social.

O CIEDS organiza a sua gestão institucional a partir da Assembléia Geral da Organização,

que elege Direção Executiva, responsável máximo pela implementação das ações, à qual está

diretamente ligada uma Coordenação Executiva e as Gerências Administrativo-Financeiras e

Gerências Regionais. Importante aqui salientar o papel relevante da Assessoria Técnica, que

atua como órgão de apoio a gestão nos aspectos técnicos de implementação de projetos,

monitoramento, avaliação e sistematização.

O CIEDS tem na sua estrutura administrativa, logística e operacional, um corpo técnico

qualificado nas mais diferentes áreas, responsável, seja pela gestão direta da organização, pelo

planejamento, elaboração de projetos, execução e monitoramento e avaliação das ações.

Vale ainda destacar o escopo do Conselho Consultivo Comunitário composto por doze

pessoas, independente de sexo, raça e credo, participantes dos projetos, parceiros

institucionais, membros da equipe e representantes da sociedade civil. Nomeados pela

Direção Executiva, referendados pela Assembléia Geral, tem caráter permanente e mandato

de um ano. Tem caráter consultivo, orientando a ação organizacional com “inputs de bases

comunitárias”, ação esta que garante que os projetos que organização executa estejam em

consonância com a necessidade, desejo e a expectativa dos usuários e com os “stakeholders”

organizacionais.

A seguir apresentamos o organograma da Instituição que reflete sua estrutura organizacional

aqui explicitada:

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Vale aqui destacar que um número significativo dos profissionais da instituição tem a sua

origem em comunidades pobres ou de periferia nas mais variadas regiões em que atuam. São

profissionais que galgaram novos patamares e inserções sociais rompendo os limites das

favelas, devido as oportunidades conquistadas.

Cada projeto conta com uma equipe liderada por um gerente, escolhido dentre os integrantes

da área de competência na qual a temática do projeto está inserida, sendo designados técnicos

de outras áreas para compor a equipe, que complementam as necessidades teóricas e práticas

do projeto em questão. Havendo necessidade, são contratados novos colaboradores, em

função da especificidade do projeto considerado.

O CIEDS considera o perfil da equipe como um diferencial estratégico, pois alia três aspectos

importantes: a) adoção dos princípios da diversidade na sua constituição; b)

multidisciplinaridade, no que diz respeito à formação dos seus integrantes e c) experiência

profissional adquirida por meio de atuação em organizações que possuem diferentes lógicas

de estruturação e, portanto, requerimentos específicos de funcionamento e de gestão.

Conferindo desta forma, flexibilidade de atuação e criatividade na formulação de propostas

que sejam capazes de atuar sobre as causas dos graves problemas sociais que afetam a

sociedade brasileira.

O CIEDS pauta sua atuação pela convivência harmoniosa com a diversidade, seja ela de

credo, etnia, gênero, orientação sexual, concepção político-ideológica, e/ou condição

econômica. Sendo assim, repudiada qualquer forma de discriminação, estando tal

posicionamento registrado em seu Estatuto.

Mais dois pontos merecem destaque na atuação do CIEDS. O primeiro diz respeito aos

princípios éticos que orientam a atuação e também fundamentam a imagem de uma instituição

confiável, socialmente responsável e comprometida com a redução das desigualdades sociais,

como fundamento para a promoção do desenvolvimento sustentável do País, claramente

expressos em um Código de Ética, disponível a todos os públicos interessados no site da

instituição. O segundo diz respeito à administração da instituição, uma vez que, desde sua

criação, o CIEDS adota uma gestão profissionalizada, democrática e dialógica, como

condição para o alcance de seus objetivos, incentivando atuações proativas por parte de seus

colaboradores e a constituição de equipes autônomas, referenciadas à Missão e às políticas

institucionais.

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4.3 - A DECISÃO PELA ADOÇÃO DE UM MODELO DE GESTÃO SISTEMATIZADO

O CIEDS expandiu suas atividades num ritmo acelerado. De 03 projetos e 08 colaboradores

em 1998, ano da sua criação, chegou a 2011 com a responsabilidade pelo desenvolvimento de

24 projetos, nas áreas de Educação, Saúde, Juventude, Trabalho e Comunidade, agora

contando com uma equipe de 140 pessoas, tendo ao longo destes treze anos executados mais

de 270 projetos, conforme pode ser verificado no gráfico a seguir:

Gráfico 01 – Evolução do número de Projetos Executados pelo CIEDS de 1998 a 2010 –

Fonte: Site da Instituição. Acesso em 19.04.2011

Nestes treze anos de atuação, observa-se não só a ampliação e diversificação de atividades e

de abrangência geográfica. O leque de parceiros institucionais também se ampliou

significativamente, incluindo, atualmente: as três instâncias de governo – federal, estadual e

municipal; a iniciativa privada, incluindo instituções de destaque como a Shell, Bradesco

Seguros, Banco Cruzeiro do Sul, Petrobras, IBM, Xerox do Brasil, White Martins, dentre

muitas outras; instituições internacionais como a União Européia, o Banco Interamericano

(BID), a UNESCO e a Fundação Interamericana (IAF), além de um número elevado de

instituições comunitárias e outras organizações do Terceiro Setor com as quais estabelece

parcerias para execução de projetos junto às populações carentes.

O CIEDS, nas palavras de seu Diretor Presidente, Vandré Brilhante, chegou em 2002 a um

ponto nevrálgico de sua atuação “chegamos então, num ponto já vivenciado por diversas

organizações, que é crucial para a sua sobrevivência: como garantir um crescimento de forma

sustentável, mantendo e até aperfeiçoando a qualidade dos serviços prestados, o

relacionamento personalizado com os diversos públicos, parceiros e clientes e a harmonização

dos processos internos?”

Deste modo em 2002 o CIEDS iniciou uma empreitada de elaboração de diversos documentos

para sistematizar o modelo de gestão institucional, confirmando assim que chegara o

momento essencial para empreender uma mudança qualitativa no processo de gestão para que

fosse possível manter o nível de qualidade de atendimento e até mesmo superá-lo.

O primeiro modelo de gestão do CIEDS desenhado em 2002 apontava como principais áreas

criticas, áreas voltadas a gestão administrativa da Instituição como pode ser observado no

figura a seguir:

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Figura 01 – Sistematização do Modelo de Gestão CIEDS 2002 – Fonte: Documentos e

Registros institucionais.

Em 2004 já em sua primeira revisão, agora em um modelo baseado na Norma Internacional

ISO 9001:2000, o CIEDS desenha seu modelo de gestão a partir de um modelo clássico de

sistemas com entradas e saídas, estando ao centro o processo de execução das ações e

atividades, interessante observar que já nesta época está claramente expressa a preocupação

institucional com a melhoria contínua e com a “satisfação dos clientes”, conforme pode ser

observado na figura apresentada a seguir:

Figura 02 – Sistematização do Modelo de Gestão CIEDS 2004 – Fonte: Documentos e

Registros institucionais.

Vale destacar que conforme pode ser comprovado por meio dos Relatórios e de Documentos

Institucionais o CIEDS considera como clientes três principais públicos: usuários (aqueles que

participam dos projetos); financiadores (aqueles que financiam as ações implementadas); e

colaboradores (aqueles que funcionários ou voluntários colaboram para a consecução dos

objetivos e metas planejados).

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Em 2008, em sua segunda revisão, o modelo evolui para um modelo desenhado a partir do

Ciclo PDCA (Deming), que é uma metodologia que tem como função básica o auxílio no

diagnóstico, análise e prognóstico de problemas organizacionais, sendo extremamente útil

para a solução de problemas. Poucos instrumentos se mostram tão efetivos para a busca do

aperfeiçoamento quanto este método de melhoria contínua, tendo em vista que ele conduz a

ações sistemáticas que agilizam a obtenção de melhores resultados com a finalidade de

garantir a sobrevivência e o crescimento das organizações (QUINQUIOLO, 2002)

Figura 03 – Sistematização do Modelo de Gestão CIEDS 2008 – Fonte: Documentos e

Registros institucionais.

A primeira fase caracterizada pelo P (Plan = Planejamento) inclui o planejamento das ações,

definição de recursos objetivos e metas da qualidade e a preparação e controle de documentos

e registros. Esta fase inclui a definição dos objetivos que se quer alcançar (metas qualitativas

e quantitativas) e a definição da metodologia que será utilizada para atingir os objetivos

traçados.

A segunda fase caraterizada pelo D (Do = Fazer) consiste na execução das ações por meio da

metodologia já traçada para alcançar as metas anteriormente definidas. No caso do CIEDS

inclui a participação em processos licitatórios, o desenvolvimento de novos projetos, a

formalização de parcerias, o atendimento ao cliente, as aquisições necessárias e o próprio

processo de execução dos Projetos.

A terceira fase caracterizada pelo C ( Check = Verificar) consiste no momento da checagem

com a finalidade de verificar se os resultados estão sendo atingidos conforme planejado.

A quarta fase caracterizada pelo A (Action = Agir) consiste em fazer as correções necessárias

com vistas a melhorar continuamente, também prevê o desenho de ações que visem prever

possíveis desvios de rumo e se antecipar a futuros problemas.

Como pode ser observado no modelo do CIEDS, esta fase retroalimenta o planejar, de tal

modo que novos planejamentos levarão em conta os processos e resultados anteriormente

obtidos.

Em 2010 em sua quarta revisão, revisão que está com validade até a data da pesquisa, o

modelo apresenta uma nova sistemática, utilizando a metodologia PDCA para

acompanhamento geral das ações implementadas trazendo ao centro a descrição do “negócio

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organizacional”. Optou-se pela definição de processos mais abrangentes e genéricos, que

garantissem a qualidade e a padronização de uma espécie de “núcleo duro” de procedimentos

e competências, bem como pontos de checagem, tornando possível monitorar a qualidade do

processo de forma sistêmica, conforme pode ser claramente observado na figura a seguir:

Figura 04 – Sistematização do Modelo de Gestão CIEDS 2010 – Fonte: Documentos e

Registros institucionais.

Ao centro estão as principais ações do CIEDS quais sejam: o desenvolvimento de novos

projetos que visa sistematizar o processo para o desenvolvimento de propostas de novos

projetos e captação de recursos para garantia da sustentabilidade institucional. Em seguida a

etapa da execução técnica de projetos que é onde de fato as ações, os objetivos e as

finalidades institucionais se concretizam, que visa sistematizar processos quanto à: elaboração

do plano de implementação de projetos; formalização de parcerias; e o processo de

operacionalização dos Projetos. Por último as fases de monitoramento e avaliação de projetos

que visam sistematizar o processo de monitoramento e avaliação dos projetos executados pelo

CIEDS e dos objetivos estratégicos institucionais, esta etapa serve para checagem dos

resultados e objetivos planejados, além de possibilitar a correção de rumos, se for o caso, e

retroalimenta o sistema continuadamente.

Dando suporte a execução estão ao lado dos boxes centrais ás áreas de Gestão, quais sejam:

da satisfação; de recursos humanos; financeira; e de compras. Para cada uma desta área

existem rotinas, procedimentos e uma série de instrumentais e metodologias devidamente

descritos e de amplo conhecimento dos membros da organização.

Ao fundo são encontrados os documentos norteadores de todo o processo, que atuam como

rotunda de todo o processo. Compõe este bloco os seguintes documentos: Quem Somos – visa

apresentar as premissas e os princípios estratégicos e metodológicos da organização, além de

traçar um panorama sobre projetos anteriormente executados, ressalte-se a última parte do

documento denominada “nosso glossário” onde são apresentados que conceitos a organização

utiliza para principais temáticas; Código de Ética que apresenta os princípios éticos que

orientam a atuação institucional e expressam também seu compromisso de ser uma instituição

ética, socialmente responsável e comprometida com a redução das desigualdades sociais,

reafirma o compromisso estatutário de uma atuação responsável, transparente e de respeito

mútuo entre os profissionais; Politica de Recursos Humanos que apresenta as diretrizes

norteadoras da gestão de recursos humanos pela instituição; e Lista Mestra de Legislações que

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apresenta as legislações sob as quais o CIEDS está submetido, onde existem cópias das

mesmas e em que data foram atualizadas.

5- ALGUNS RESULTADOS

A sociedade passa por um intenso processo de transformação. Diariamente ouvimos notícias

que nos obrigam a enxergar e a sentir a urgência e a prioridade que cada um de nós devemos

dar a esta transformação. Não há mais cabimento para discussões sobre quem deve ser

responsável por nos tirar deste cenário de desigualdades, criminalidade, preconceito, miséria,

fome, injustiça. Muitos culpam o Primeiro Setor, outros o Segundo Setor, há quem diga que o

Terceiro Setor será a salvação. Confirmar esta característica heróica do Terceiro Setor talvez

seja algo precoce.

Contudo, é o Terceiro Setor que abre as portas desta nova era de transformação, que consegue

falar com destreza uma língua que nem o primeiro ou segundo setor aprenderam, falam a

língua da cooperação.

É exatamente o que o CIEDS tem feito, reaprendido e se reprogramado a cada dia a partir de

seus erros e acertos. Sua história de intenso aprendizado mostra que muitas das dificuldades

até hoje enfrentadas foram as mesmas responsáveis por impulsos de progresso.

Considerando o cenário que está inserido, do recém inaugurado Terceiro Setor, o CIEDS vem

apresentando resultados positivos e animadores, traçando caminhos e estratégias para as

Organizações do Terceiro Setor que pretendem caminhar na perspectiva continuada da

melhoria, da profissionalização e institucionalização.

Podemos concluir depois desta pesquisa que um dos grandes desafios das organizações do

Terceiro Setor é o processo de profissionalização, institucionalização e sistematização de suas

tecnologias sociais, fato que decorre, muitas vezes, do excesso de zelo pela efetiva

implementação e resultados pontuais para cada usuário em detrimento ao processo de

planejamento e gestão continuada das ações implementadas.

Esse desafio se concretiza no dia-a-dia das organizações de muitas formas, ora pela

necessidade de sustentabilidade ou replicabilidade das ações implementadas, ora pelo sucesso

obtido, porém de difícil repetição.

Vale destacar que este processo de institucionalização e sistematização oferece as

organizações do Terceiro Setor o reconhecimento das fragilidades, dificuldades e dos gargalos

do processo possibilitando a correção de rumos quando do momento da identificação do

problema e a melhoria contínua, além de permitir a adequação a cada realidade local onde o

projetos serão implementados.

Aliar as técnicas e a racionalidade do segundo setor as experiências e formas de gestão do

Terceiro Setor pode se concretizar em uma alternativa de sucesso para estas organizações.

Cumpre-nos, ainda, aqui ressaltar que falar em sistematizar não quer dizer endurecer, perder a

sensibilidade, própria do Terceiro Setor e alavancadora de muitos resultados positivos, mais

sim aliar esta sensibilidade a um processo sistêmico de gestão e acompanhamento.

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