Programa de Governo Marina Silva 2014

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Programa de Governo da candidata a presidente da república Marina Silva nas eleições de 2014.

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    PLANO DE ACOPARA MUDAR

    O BRASIL

    PROGRAMADE GOVERNO

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    Eleies Presidenciais 2014

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    3Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    No vamos desistir do Brasil

    Apresentamos este Programa de Governo num momen-to de grande dor, em que nossa coligao Unidos pelo Brasil,formada pelo PSB, Rede Sustentabilidade, PPS, PPL, PRP,PHS, E PSL perde seu lder e candidato a Presidente da Re-pblica, Eduardo Campos, morto tragicamente em acidenteareo junto com outros valorosos companheiros. Mal tivemostempo de retornar do luto luta, mas o fazemos em honraaos que partiram.

    Apesar da tristeza, o velrio e o sepultamento de EduardoCampos, no dia 17 de agosto, em Recife, mostraram algo sur-preendente, que contraria o senso comum formado na socie-dade brasileira ultimamente, de que a populao tem repulsa poltica e aos polticos. A despedida a Eduardo foi inequvo-ca e emocionante demonstrao de amor e de respeito a umpoltico. No sentimento dos pernambucanos, que se estendeuaos brasileiros de todos os estados e regies, revelou-se o re-

    conhecimento ntimo que o povo cultiva pelos que, ao repre-sent-lo, sabem interpretar os seus sonhos e despertar suasesperanas.

    Esse reconhecimento nos traz a responsabilidade redo-brada de corresponder s expectativas da sociedade brasilei-ra, no apenas do ponto de vista da prtica poltica, mas tam-bm do contedo e da densidade de nossas propostas. Temosa misso de estabelecer uma inflexo conceitual e operacio-

    nal nos rumos do Brasil: no modelo de desenvolvimento, nagesto do Estado e no funcionamento do sistema poltico.

    Esse sentido de mudana e essa coerncia entre palavrase atos, encontramos no lder que nos reuniu. Eduardo revelou-se em sua morte. Conhecendo-o, os brasileiros admiraram oquanto foi autntico e competente em sua vida poltica e oquanto isso espelhava o homem ntegro, carinhoso, aberto e

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    4 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    No vamos desistir do Brasil

    alegre, que gostava de gente e se realizava ao melhorar a vidadas pessoas. Viram que o Eduardo candidato era o mesmoque, juntamente com Renata, criou uma famlia que enterne-

    ceu a todos com seu afeto, orgulho, despojamento e coragem.Essa famlia deu um testemunho de que a poltica e a vida soa mesma coisa e ambas devem ser intensas e coerentes, o quefoi muito bem sintetizado por seu filho Pedro, no pequeno v-deo em que ele e os irmos homenagearam Eduardo no Diados Pais: Ser seu filho ser sempre um cidado.

    A despedida de Eduardo foi a afirmao da dignidade dapoltica. Esta a bandeira que partilhamos e que deve estar

    presente em todos os nossos atos, especialmente neste pro-grama, que a expresso maior da nossa aliana e que foipessoalmente revisado por ele antes de sua partida.

    Entendemos que est encerrado, no Brasil, um ciclo emque tivemos conquistas, mas em que os agentes polticos da forma como se organizam e se relacionam entre si e coma populao j no respondem aos anseios da sociedadediante do Estado. J no conseguem renovar a poltica nem

    melhorar os servios pblicos. A cristalizao de uma polti-ca destrutiva, polarizada e em bases patrimonialistas tiroua vitalidade de nosso desenvolvimento, fazendo-o girar emfalso, pela ausncia de reformas estruturais essenciais e pelafalta de um investimento histrico e revolucionrio na Educa-o, plataforma bsica sem a qual todos os nossos castelossero de areia.

    O programa que agora apresentamos, ao constatar esse

    momento de estagnao, aponta para o incio de um novo ci-clo. Ainda e pretende continuar sendo, durante sua execu-o uma construo aberta s novas contribuies e par-ticipao da sociedade. Sua proposta central uma mudanageral na qual se integrem aes estratgicas em muitas rease setores. Em cada uma delas e em seu conjunto, revela-se atrilha que nossa coligao percorre para chegar s melhoressolues, afinadas com os sonhos do povo brasileiro.

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    Nenhuma mudana acontecer, contudo, sem uma res-significao da poltica e uma nova sintonia da populaocom as virtudes democrticas. A crise de representao na

    qual o sistema poltico imergiu um grave fator limitante dodesenvolvimento com justia e sustentabilidade, pois fragilizae deturpa os canais de participao no processo de tomadade deciso, fazendo com que o interesse pblico se perca emmeio a uma enxurrada de interesses particularistas que seimiscuem na esfera do Estado.

    Nosso programa, em seu Eixo 1, prope uma concepode Estado pautada pela participao, gesto competente

    e governabilidade fundada na transparncia. Partimos danecessidade de devolver sociedade a confiana na demo-cracia e, para tanto, o primeiro desafio superar a crise derepresentao por meio de um novo modo de fazer poltica.Para isso, propomos uma reforma na maneira de conduzira administrao pblica, conectando-a com as necessidadesde um Estado que se destine a servir a sociedade, e no delase servir.

    O Eixo 2 trata da economia para o desenvolvimentosustentvel, cuja pujana potencial desperdiada pela au-sncia de polticas altura da disponibilidade de recursosnaturais e da existncia de uma sociedade criativa e empre-endedora. Planejamento, viso estratgica e conduo rigo-rosa da poltica econmica podem criar o ambiente neces-srio a um novo ciclo de desenvolvimento, em novas basese com novos horizontes. Com esse objetivo, nosso programaapresenta uma srie de propostas de reformas microecon-

    micas capazes de trazer produtividade a todos os setores dasociedade brasileira.

    No Eixo 3, concebemos educao, cultura, cincia e tec-nologia e inovao como um nico corpo estratgico, indisso-civel da cidadania plena e fundamento do desenvolvimentosustentvel. A nfase na educao pblica de qualidade vaipermear todas as polticas pblicas do futuro governo.

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    6 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    No vamos desistir do Brasil

    O Eixo 4 trata de um compromisso sem o qual nenhumprograma de governo faria sentido, por mais bem sucedidoque pudesse ser nos indicadores econmicos: o bem estar da

    populao. As polticas sociais so o motor de uma viso dejustia e reduo das desigualdades, pela garantia de acessouniversal e digno a bens e servios pblicos relevantes, direitoinalienvel de cada cidado. O compromisso com o fortaleci-mento do SUS, inclusive assumindo bandeiras da sociedadecomo o Sade+10, est materializado em propostas que voenfrentar o desafio de proporcionar ao povo brasileiro umasade de qualidade.

    No Eixo 5 esto as propostas voltadas para um setor crti-co e sensvel da vida em nosso pas: o meio urbano, onde esto85% dos brasileiros. A est o painel mais doloroso de nossaexcluso social, da violncia, de todas as assimetrias histricasdo pas e tambm da omisso do Estado, da falta de planeja-mento e do descaso com a qualidade de vida da populao.

    O Eixo 6, finalmente, trata do direito cidadania plena,garantida pela Constituio a todos os brasileiros, porm, ne-

    gada na prtica, sobretudo a grupos e indivduos mais vulne-rveis e aqueles submetidos a injustias histricas. precisoaproximar cada vez mais o ideal constitucional do dia a diado povo, at porque do exerccio ativo da cidadania, portodos, que advm o aperfeioamento democrtico e o fun-cionamento das instituies para o bem comum. Nesse eixo,nosso programa apresenta um conjunto de polticas pblicasque vo reduzir as discriminaes e estimular uma maior tole-rncia diante da pluralidade do povo brasileiro.

    Este nosso esforo, este nosso caminho. Queremoscompartilh-lo com a sociedade brasileira e expressamos estedesejo com sinceridade e emoo. Tivemos a ousadia de sair doroteiro da poltica tradicional para recriar, com novos elemen-tos e novos mtodos, a luta pela justia social e pelo desenvol-vimento com sustentabilidade como um de nossos principaisobjetivos. Tivemos o atrevimento de propor, num pas marcado

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    pela poltica patrimonialista e destrutiva, uma prtica de reco-nhecimento s realizaes de outras foras polticas. Estamosapresentando um roteiro para a superao de uma velha po-

    larizao que j no d conta dos novos anseios da populao.

    Ao convocar o nosso povo a percorrer um novo caminho,vamos unir o pas com o olhar para o futuro. Vamos juntar todasas foras polticas que tenham o desejo e a coragem de mudaro Brasil e fazer as reformas estruturais h tanto adiadas. Vamosinaugurar uma nova era de gesto competente e transparentedo Estado e da economia, guiados pela misso de servir.

    Nosso programa procura expressar esses propsitos. Ele tambm uma homenagem a Eduardo Campos, que tanto seempenhou para que estivssemos juntos nesta aliana e com-preendeu profundamente que isso s seria possvel por meiode propostas verdadeiras para o Brasil, no de uma conjunode interesses meramente eleitorais. Sem Eduardo, temos hojeo que sempre nos uniu: a conscincia clara de onde queremoschegar juntos e a articulao poltica feita por ele para dar sus-tentao ao nosso programa comum.

    O programa , em si mesmo, o pacto selado, o acordomaior que une PSB, Rede Sustentabilidade, PPS, PPL, PRP,PHS, e PSL e que h de unir todo o Brasil. Para ele, trouxemoso acmulo de nossa experincia passada, de nossas diretrizes,de nossos projetos partidrios, de nossos compromissos com opovo brasileiro, tudo submetido ao crivo da competncia tc-nica, da inovao metodolgica e poltica e da busca do quede melhor se pensa e se faz no mundo em termos de avanos

    democrticos.

    Somos, agora, os principais responsveis por ampliar e fazerecoar na Histria a exortao de Eduardo Campos:

    NO VAMOS DESISTIR DO BRASIL!

    Marina Silva

    eBeto Albuquerque

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    Educao pg. 96 Cultura pg. 115 Esportes pg. 130 Cincia, Tecnologia e Inovao pg. 133

    Poltica Habitacional pg. 172 Saneamento e Resduos Slidos pg. 176 Mobilidade Urbana pg. 182 Regies Metropolitanas pg. 189 Segurana Pblica pg. 190

    Reforma Poltica pg. 12 Reforma Administrativa pg. 17 Novo Federalismo pg. 23 Poltica Externa pg. 28

    1pg. 11

    pg. 95

    pg. 169

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    ndice

    Polticas Sociais pg. 14 Sade e Qualidade de Vida pg. 15

    Agendas Macro eMicroeconmicas pg. 42 Gesto Sustentveldos Recursos Naturais pg. 79pg. 41

    pg. 147

    2

    4

    Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasi

    Direitos Humanos e Cidadania pg.204

    Juventudes pg.207 Mulheres pg. 212 LGBT pg. 215 Pessoas com Deficincia pg. 217 Povos e Comunidades Tradicionais pg.220 Populao Negra pg.229 Idosos pg. 233 Movimentos Sociais e Populares pg.234

    Movimentos Sindical pg.238pg. 203

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    10 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

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    Um novo modelo de desenvolvimento exige

    uma concepo do Estado diferente da atual,

    que contemple participao, gesto compe-

    tente e governabilidade pautada pela transpa-

    rncia. So muitas as frentes a exigir transfor-

    mao, para devolver sociedade a confiana

    na democracia. O desafio tambm superar a

    crise de representao atual, por meio de v-

    rias mudanas, mobilizando de forma perene

    as melhores foras do pas para a construo

    de um futuro com justia e prosperidade.

    eixo

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    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    REFORMA POLTICA

    Os debates sobre a necessria mudana de viso de Estado, no raro,

    levam a um receiturio reduzido do famoso choque de gesto, pautadopor um nico eixo, o da eficincia gerencial. insuficiente. Nossas escolhas so

    polticas e envolvem participao social em todas as fases dos processos pblicos

    As instituies envelhecidas e a democracia de baixa qualidade. A sinergia

    dos movimentos sociais com as novas formas de militncia. A democratizaoda democracia. Pelo fim da corrupo e do loteamento do Estado.

    Com a Constituio Federal de 1988,

    refundamos o Estado brasileiro. Resga-

    tamos os valores da cidadania e da dig-

    nidade humana, solapados pelo autori-

    tarismo de governantes ilegtimos. Anosdepois, conseguimos encontrar os rumos

    da estabilidade econmica e da incluso

    social de parte da populao mais ca-

    rente. Houve tambm algum ganho em

    aspectos pontuais da participao social

    em processos de escolha de prioridades e

    de deciso poltica. Estamos, entretanto,

    bem longe dos nveis desejveis de solida-

    riedade, emancipao social, convivnciapacfica e desenvolvimento justo e am-

    bientalmente sustentvel.

    Democracia de alta intensidade en-

    volve da escolha de prioridades tomada

    de decises e transformao delas em ao

    pblica. Eleies so apenas o ponto de par-

    tida do processo. Trata-se de fazer avanar

    no Brasil a experincia democrtica.

    A mudana passa por elevar progres-sivamente a responsabilidade dos atores

    da poltica mandatrios, legisladores e

    cidados. Uma aliana que busca a demo-

    cracia de alta intensidade deve reconhecer

    que o Estado no pode ser o garantidor

    nico desses valores. Sem ampla partici-

    pao da sociedade, dificilmente sairemos

    dos srios impasses em que estamos, entre

    outras coisas, porque, na direo oposta,o atual governo trabalha para substituir

    o cidado, com seu consentimento a cada

    quatro anos, na tomada de decises e na

    gesto das polticas.

    Com tantas mudanas em curso, as

    instituies polticas esto envelhecidas e

    tomadas de prticas de clientelismo, nepo-

    tismo, populismo e outras formas de pa-

    trimonialismo e de perpetuao no poder

    a qualquer custo. Sob o pretexto de buscar

    condies estveis para a governabilidade

    e a gesto da mquina pblica, desde a re-

    democratizao o presidencialismo de co-

    alizo esconde uma lgica viciosa de acor-

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    dos de bastidores e distribuio de cargos

    e vantagens. Pratica-se o loteamento do

    Estado em troca de apoio parlamentar e

    tempo de propaganda eleitoral.O dinheiro do contribuinte , assim,

    recorrentemente desperdiado em polticas

    pblicas inconclusas, por negligncia ou por

    falta de planejamento, de integrao e de vi-

    so de longo prazo. A transparncia d lugar

    cultura da obscuridade e da corrupo.

    A democracia brasileira de baixa

    qualidade porque pouco receptiva parti-

    cipao e marcada pelo desapreo dos ocu-pantes de cargos pblicos por prticas de

    accountabilitye transparncia. No bastasse

    isso, a legislao eleitoral opera em favor da

    concentrao do poder, o debate delimita-

    do por estreitas orientaes de marketing, e

    o sistema poltico confunde-se com o mer-

    cado: s tem valor o que tem preo. Privile-

    giam-se os interesses de segmentos econ-

    micos, sociais e culturais hegemnicos emdetrimento da distribuio equitativa dos

    recursos pblicos e do acesso universal s

    instituies e aos servios do Estado.

    Inevitavelmente, o cidado se afasta

    das pautas pblicas e de seus representan-

    tes eleitos e d sinais de j no tolerar a

    apatia dos governantes e dos partidos, bem

    como a impotncia dos movimentos so-

    ciais organizados diante da excluso sociale da explorao econmica.

    Assim o atual modelo brasileiro de

    democracia, em evidente crise. Tornou-se

    o vu sob o qual se realiza a privatizao

    dos recursos pblicos.

    Muitos caminhos tm surgido, porm,

    apontando para outra direo. Uma mili-

    tncia ativa trouxe para o centro do deba-

    te novas formas de exercer a democracia e

    interferir nas tomadas de deciso. Para isso,

    vale-se da evoluo das mdias alternativas,capazes de potencializar participao e for-

    mas inovadoras de mobilizao. Alm dos

    movimentos sociais consolidados, muitas

    mobilizaes sociais surgem para defender

    pautas de incluso, apoiando-se tanto nos

    mecanismos usuais quanto nas redes sociais.

    As tecnologias da informao e co-

    municao so, portanto, potenciais alia-

    das em um processo de mudana. Pormeio da democracia digital, podemos ra-

    dicalizar a transparn-

    cia e o controle da ao

    governamental, misso

    para o curto prazo. O

    amadurecimento do

    uso intensivo de tecno-

    logia e a participao

    social podero tornar,gradativamente, a vida

    pblica mais aberta e dinmica.

    Em linha com tudo isso est a coliga-

    o Unidos pelo Brasil, cujo ncleo sua

    dimenso programtica. Nossa proposta

    fundar uma prtica poltica diferenciada,

    de compromisso com a nao, de demo-

    cratizao da democracia. Democratiza-

    o da democracia pressupe combinar osmovimentos sociais histricos com as mo-

    bilizaes que surgem por meio das novas

    tecnologias.

    O corao pulsante dessa ideia a

    participao plural e popular permanente,

    norteada por valores como solidariedade,

    emancipao, justia social, criatividade

    Nossa proposta

    fundar uma prtica

    poltica diferenciada,

    de compromisso com a

    nao, de democratizao

    da democracia.

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    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    e sustentabilidade. Isso implica o engaja-

    mento na luta por igualdade qualificada,

    que reconhea a diversidade tnica, de g-

    nero, de orientao sexual e de credo re-ligioso, combatendo toda forma de discri-

    minao. Valoriza ainda a participao de

    populaes vulnerveis, pessoas portado-

    ras de necessidades especiais, indgenas e

    comunidades tradicionais, idosos, crianas

    e adolescentes. A meta atingir um desen-volvimento sustentvel, porta de acesso a

    condies civilizatrias bsicas.

    A crise de representao. A lgica perversa do financiamento de campanha.

    A apropriao da poltica por interesses econmicos como matriz

    dos escndalos. Reorganizar o Estado e reformar a poltica.

    Democratizar a democracia pressu-

    pe, ento, uma reorganizao do Estado.

    Inaugurar um espao poltico democr-

    tico exige rever as aes em, pelo menos,

    quatro mbitos de relacionamento com a

    sociedade: as instituies polticas, a admi-

    nistrao pblica, as relaes federativas e

    a soberania democrtica.

    A poltica brasileira vive, atualmente,uma das crises de legitimi-

    dade mais agudas da rede-

    mocratizao. Tornou-se

    comum a ocupao dos

    espaos pblicos por cida-

    dos que no pretendem

    mais delegar tudo a seus

    governantes. Trata-se de

    uma crise nacional de re-presentao, derivada de

    regras eleitorais estimula-

    doras de um presidencialismo de coalizo

    que leva oligarquizao da poltica.

    Trata-se de uma crise de valores e, de

    todas as que vivemos, essa assume papel

    central, porque necessariamente condicio-

    na nossas escolhas. Resolv-la to difcil

    quanto fundamental: no basta substituir

    a representao pela participao simples-

    mente; trata-se de procurar uma articula-

    o nova e profunda entre as duas coisas.

    Uma das causas profundas da crise de

    valores a reproduo da velha poltica.

    Seus efeitos mais visveis so a distribuio

    de pedaos do Estado. Os agentes dessa l-gica so o presidente eleito e os lderes par-

    tidrios. Estes, em troca de mais recursos

    pblicos, concedem quele apoio poltico.

    Essa situao impede que o chefe de Esta-

    do realize o programa para o qual foi eleito

    e se desdobra em escndalos como o men-

    salo e os relativos emenda da reeleio.

    O primeiro passo de uma reforma

    implica exigir comportamento republica-no de todos os agentes polticos e dos de-

    mais ocupantes de cargos pblicos. O pre-

    sidente da Repblica no pode ser mero

    distribuidor de recursos pblicos. Deve

    ser um representante da vontade popu-

    lar. As instituies pblicas no podem se

    afastar dos princpios constitucionais de

    Das

    campanhas mais caraspara uma vaga naCmara em 2010,

    tiveram sucesso.

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    legalidade, impessoalidade, moralidade,

    publicidade e eficincia.

    Para alm da busca de melhor quali-

    dade individual e tica do governante, preciso desfazer uma srie de ns antide-

    mocrticos. Um deles a falta de isonomia,

    transparncia e controle na competio

    entre os partidos polticos, notadamente

    em razo dos modos de financiamento de

    campanhas. A crise poltica atual , em boa

    parte, uma crise dos instrumentos de me-

    diao entre eleitos e eleitores, principal-

    mente os partidos.As eleies tm-se tornado um desa-

    fio cada vez mais custoso. As campanhas

    so baseadas no apelo publicitrio ima-

    gem e s emoes, sintoma claro de atraso.

    Coalizes de ocasio resultam em adio

    de segundos de exposio televisiva. O

    marketing transforma a cena poltica em

    espetculo. O show eleitoral de grandes

    partidos um empreendimento milion-rio. Isso se reflete na composio atual do

    Parlamento: segundo registros do Tribu-

    nal Superior Eleitoral, em 2010, das 513

    campanhas mais caras, para uma vaga na

    Cmara dos Deputados, 390 garantiram

    sucesso nas eleies. Com isso, a represen-

    tao no se d de forma equilibrada, ex-

    cluindo grupos inteiros de cidados, como

    indgenas, negros, quilombolas e mulheres.Doar fundos a um partido constitui

    livre exerccio de um direito poltico, mas

    preciso atentar para o princpio da equi-

    dade entre os cidados, dada a grande di-

    ferena entre a capacidade contributiva

    de cada um. No Brasil, h uma liberdade

    quase ilimitada no financiamento privado

    dos partidos, o que resulta em competio

    com base em condies absolutamente de-

    siguais. Evidentemente, grandes partidos

    tm maior capacidade de arrecadao. Mas

    nada se compara ao poder de atrao do

    partido que controla a

    mquina pblica. Nun-

    ca, na nossa histria,

    um partido ocupante dopoder recebeu tanto em

    doaes privadas num

    ano sem eleies como

    em 2013. O montante

    arrecadado chega a qua-

    se o dobro do que receberam todos os de-

    mais juntos.

    PARA DEFLAGRAR A REFORMA POLTICA

    Propor a unicao do calendrio geral das eleies, o m

    da reeleio e a adoo do mandato de cinco anos. Propor a adoo de novos critrios na denio da ordemdos eleitos para cargos proporcionais buscando aproxima-o da Verdade Eleitoral, conceito segundo o qual os candi-datos mais votados so os eleitos. Propor a inscrio de candidaturas avulsas aos cargos pro-porcionais mediante atendimento de requisitos a denir. Propor a redenio da distribuio do tempo de propa-ganda eleitoral gratuita com base em novos critrios visan-

    do a melhorar a representatividade da sociedade brasileiranos parlamentos. Permitir a convocao de plebiscitos e referendos pelopovo e facilitar a iniciativa popular de leis, mediante redu-o das assinaturas necessrias e da possibilidade de regis-tro de assinaturas eletrnicas. Propor o fortalecimento dos mecanismos de transparncianas doaes para campanhas eleitorais.

    O primeiro passo de uma

    reforma implica exigir

    comportamentorepublicano dos agentes

    polticos e dos ocupantes

    de cargos pblicos.

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    16 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    A falta de limites e controles, internos

    e externos, permaneceu depois da apro-

    vao, em 2013, da Minirreforma Eleito-

    ral, que privilegia osgrandes partidos. A

    lei provocou ainda o

    inimaginvel: vrios

    retrocessos em relao

    s regras de transpa-

    rncia, financiamento

    e tempo de propagan-

    da televisiva.

    Se os partidos norevelam sua prpria

    gesto, nenhuma razo

    haver para acreditar que realizaro uma

    administrao transparente do Estado ou,

    no mnimo, que tero independncia para

    punir desvios. Reformar o sistema de fi-

    nanciamento poltico-partidrio requer,

    enfim, devolver ao cidado sua capacidade

    de exercer influncia nas instncias de es-

    colha poltica dos representantes, de forma

    equnime. Torna-se, ao lado da ampliaoda participao popular, questo priorit-

    ria para democratizar a democracia.

    Para deflagrar o processo de reforma

    poltica, vamos sugerir medidas iniciais

    que levaro reconfigurao integral do

    sistema poltico e eleitoral do pas.

    Estamos propondo os caminhos para

    que a democracia brasileira seja partici-

    pativa e capaz de promover a incluso detoda a populao na formulao das pol-

    ticas pblicas. Vamos ampliar a participa-

    o, a transparncia e a tica e, ao mesmo

    tempo, tornar mais eficiente o funcio-

    namento das instituies republicanas,

    livrando-as do patrimonialismo, do clien-

    telismo e da corrupo.

    As manifestaes e a urgncia de reconectar eleitos e eleitores.

    O conceito de aplicativos para uma democracia revitalizada

    e colaborativa. Por um governo aberto, participativo e em rede.

    Os instrumentos de participao

    como plebiscitos e consultas populares,

    conselhos sociais ou de gesto de polticas

    pblicas, oramentodemocrtico, confe-

    rncias temticas e de

    segmentos especficos

    se destinam a me-

    lhorar a qualidade da

    democracia. So limi-

    tados, porm, porque

    as principais articulaes se confinam em

    mbitos locais.

    Alguns municpios se tornaram mais

    justos, mas a sociedade em geral ainda seressente de muita injustia. Experincias

    virtuosas permanecem isoladas, sem ca-

    minhos para atingir escala nacional, re-

    gional ou estadual.

    necessrio criar mecanismos de

    participao popular que revigorem a de-

    mocracia representativa, aumentando sua

    Se os partidos

    no revelam sua

    prpria gesto, como

    acreditar que realizaro

    uma administrao

    transparente do Estado ou

    que tero independncia

    para punir desvios?

    necessrio criarmecanismos de participao

    que revigorem ademocracia representativa,

    aumentando sualegitimidade.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    17/244

    17Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    REFORMA ADMINISTRATIVA

    A reforma da poltica e das instituies como fundamento de um novo Estado,

    cujo bom funcionamento impulsionar o desenvolvimento sustentvel.

    legitimidade. As manifestaes recentes

    demandam que se ampliem os espaos

    pblicos de discusso, maior insero nos

    processos polticos e exerccio da cidada-nia. A poltica precisa absorver a mensa-

    gem de reconectar eleitos e eleitores.

    O caminho certamente o dilogo,

    que se efetiva em espaos concretos de

    articulao entre Estado e sociedade ci-

    vil. Processos de debate, entendimento

    e deliberao poltica so essenciais para

    compreender e absorver novas lingua-

    gens quando se mostrarem legtimas. Os

    canais existentes devem ser fortalecidos,

    mas novos instrumentos precisam ser de-

    senvolvidos, mediante o uso de tecnolo-gias da informao e comunicao, para

    que o cidado participe mais ativamente

    das decises. Como verdadeiros aplicati-

    vos para a democracia colaborativa, esses

    instrumentos permitiro que se formem

    redes capazes de promover a convergncia

    na diversidade e desenvolver conscincia

    poltica e valores democrticos.

    As regras de uma sociedade e o seu am-

    biente institucional so determinantes de

    primeira ordem do desenvolvimento eco-nmico e social das naes. A fragilidade

    institucional do Brasil tem sido apontada

    como um dos maiores empecilhos ao cres-

    cimento. Esse quadro afeta as empresas e

    ergue uma barreira criao e expanso

    de negcios mais eficientes e competitivos.

    Perpetua, assim, uma estrutura produtiva

    concentrada em organizaes que funcio-

    nam mal. A consequncia desse ambiente serevela na diminuio do potencial de cresci-

    mento do pas a longo prazo, como atesta a

    nossa taxa mdia de crescimento.

    Apesar de ser um problema estrutural

    e antigo da economia brasileira, houve, ao

    longo dos ltimos anos, ntida deteriora-

    o do ambiente institucional e regulatrio.

    Regras so modificadas sem ampla discus-

    so com a sociedade e com os investidores.

    Subsdios so distribudos sem um critrioclaro. Barreiras comerciais so adotadas ale-

    atoriamente, em funo da capacidade de

    presso poltica de grupos envolvidos. Nesse

    ambiente, em que se premiam os mais bem

    conectados ao poder no necessariamente

    os mais eficientes , so as empresas pouco

    produtivas que prosperam, aumentando as

    distores e diminuindo o potencial de cres-

    cimento do pas.A coligao Unidos pelo Brasil consi-

    dera que reduzir o atra-

    so institucional deve ser

    um objetivo para viabili-

    zar o progresso politico,

    econmico, social e am-

    biental de longo prazo.

    A fragilidade institucional

    do Brasil um dos

    maiores empecilhos

    ao crescimento.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    18/244

    18 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    Gesto do setor pblico: as mudanas na forma de atuao do governo e das

    estatais; o apoio a municpios por uma administrao com foco em resultados;

    por um sistema de metas, indicadores e bonificao por desempenho.Duas fontes importantes de ineficin-

    cia institucional no Brasil advm da falta

    de poltica de estruturao e capacitao

    dos municpios. Em

    muitos, os processos

    para a realizao de

    programas, projetos e

    aes nem sempre sobem definidos, com di-

    ficuldades de articula-

    o de trabalho em equipe. Nas adminis-

    traes federal e estaduais, recorrente o

    foco em processos, e no nos resultados,

    com a consequente perda de clareza sobre

    os objetivos a alcanar. Diante desse diag-

    nstico, propomos:

    1) criar mecanismos de apoio aos muni-cpios para elevar a eficincia na gesto;

    2) instituir sistema de metas, indicado-

    res e bonificao por desempenho no

    setor pblico sempre que possvel.

    A educao e a sade introduziram al-

    guns indicadores e metas que so acompa-

    nhados pelos respectivos ministrios, mas

    no se inverteu a lgica

    da gesto com foco nosprocessos, que deveria

    evoluir para a gesto

    com foco nos resulta-

    dos. Muito mais tem de

    ser feito nessas reas.

    Assim, o processo deve ser estendido ao

    longo dos quatro anos de gesto da coli-

    gao Unidos pelo Brasil, dando eficincia

    ao governo. Para que o foco em resultados

    funcione bem, propomos a criao de um

    sistema de monitoramento e avaliao,

    articulando todos os rgos com funes

    especficas na rea a fim de que se avaliem

    permanentemente os servios pblicos a

    partir de seus resultados.Ainda em relao forma de atuao

    do governo, cabe destacar a necessidade

    de aprofundar a transparncia do setor

    pblico em todas as suas reas. Passos

    importantes foram dados recentemente,

    como a criao do Portal da Transparn-

    cia, mas muitos outros dependem da im-

    plementao de um bom sistema de indi-

    cadores e metas.No que diz respeito s estatais, o novo

    governo eliminar a prtica de us-las

    como instrumento de poltica macroeco-

    nmica. Isso muitas vezes gera grandes

    prejuzos para as empresas, como tem

    ocorrido com a Petrobras e a Eletrobras.

    Trata-se de aes correntes, usadas como

    forma de criar subsdios elevados para

    setores especficos. Tais iniciativas redu-zem a eficincia na alocao de recursos e

    comprometem o crescimento econmico,

    entre outras coisas, por causa das incerte-

    zas geradas quanto a preos relativos. As-

    sim, equilibraremos os preos praticados

    por estatais para refletir custos e condi-

    es de mercado.

    fundamental aprofundar

    a transparncia em

    todas as esferas e reas

    da administrao.

    Vamos pr fim prticade usar as estatais como

    instrumento de poltica

    macroeconmica.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    19/244

    19Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    Melhores servios para todos: pela racionalizao da presena do setor pblico

    na economia, com aumento da arrecadao baseado em mais renda e com

    reduo do gasto por meio de parcerias pblico-privadas e concesses.

    As instituies e o ambiente de negcios: as dificuldades de manteruma empresa no pas; a urgncia de combater a corrupo, gerir com foco

    em resultados e desburocratizar para atrair investimentos.

    Ser objetivo do governo da coligao

    Unidos pelo Brasil melhorar os servios

    prestados populao. Pretende-se elevar

    esses servios e sua qualidade ao longo

    dos prximos anos. Para isso, contudo, a

    expectativa viabilizar um forte aumen-

    to da produtividade do setor pblico. O

    mesmo nvel de gastos dever gerar maise melhores servios. Vamos ampliar signi-

    ficativamente a produtividade da mqui-

    na a fim de equipar-la taxa mdia dos

    pases desenvolvidos.

    Se conseguirmos que o aumento da ar-

    recadao per capita no pas fique abaixo

    do crescimento do PIB per capita, reduzire-

    mos a carga tributria e aumentaremos os

    servios prestados populao. Somando-se isso elevao da produtividade do setor

    pblico incluindo a o combate sone-

    gao , ampliaremos os servios de forma

    sensvel, mesmo com menor carga tribut-

    ria e com decrscimo da participao da re-

    ceita do governo no PIB. Esse ser o grande

    desafio da prxima gesto, que dever pau-

    tar suas aes na rea fiscal.

    As concesses e parcerias pblico-pri-

    vadas (PPPs) redefiniro o papel do setor

    pblico na economia e, consequentemente,

    contribuiro para a reduo dos gastos do

    governo. Os servios podero ser prestados

    populao com menos recursos pblicos com ou sem nus nas parcerias com o se-

    tor privado, uma vez que eventuais valores

    sero menores do que os necessrios para o

    governo prestar o servio diretamente.

    O estabelecimento de metas, indicado-

    res e bonificao por desempenho na gesto

    pblica dever ser o motor do ganho de efi-

    cincia e permitir que mais servios sejam

    prestados com menos recursos. Viabiliza-r tambm a reduo dos gastos pblicos,

    o que poder se refletir em diminuio de

    arrecadao, principalmente dos tributos

    que distorcem preos relativos e engessam

    a economia, como os de efeito cumulativo,

    que so parte dos impostos indiretos.

    A melhoria do ambiente institucional

    fundamental para elevar a taxa de cres-

    cimento da economia e o bem-estar da

    populao no Brasil. A baixa qualidade

    das instituies no pas um dos grandes

    obstculos para crescermos mais. Dados de

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    20/244

    20 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    Romper com a lgica de pacotes prontos para o funcionalismo.

    Garantir liderana justa e respeitosa. Valorizar os talentos e

    as ilhas de excelncia. A reforma administrativa que queremos.

    Com a perspectiva de aprofundar a de-

    mocracia, ingressamos na reforma da admi-

    nistrao pblica, algo a ser pensado como

    instrumento da promoo efetiva dos direi-

    tos do cidado e, de modo ainda mais ambi-

    cioso, como chave de realizao das ideias e

    valores que sustentam a proposta de desen-

    volvimento que desejamos para o Brasil.

    Numerosos aspectos do funcionamen-

    to da mquina pblica carecem de rees-

    pesquisas recentes indicam os principais

    entraves aos negcios no Brasil: oferta de

    infraestrutura inadequada, carga tributria

    excessiva e burocrtica, ineficincia da bu-rocracia governamental e corrupo.

    Mudar a prioridade da gesto pblica

    do controle de processos para maior foco

    em resultados dever contribuir para me-

    lhorar esse cenrio. Em suma, todos os itens

    que comprometem o ambiente institucionalno Brasil sero objeto de intervenes im-

    portantes em nosso governo.

    Um novo ambiente de relacionamento entre Estado e sociedade.

    Relaes transparentes e desburocratizadas. Dilogo democrtico

    com instituies, fornecedores e organizaes da sociedade civil.

    Um governo aberto e eficaz precisa de-

    senvolver canais de relacionamento transpa-

    rentes, eficientes e democrticos com todos os

    atores com os quais interage. Os agentes p-

    blicos que realizam as tarefas da administra-

    o, os profissionais e empresas fornecedoras

    de bens e servios, as ONGs, as organizaes

    da sociedade civil (OSCs), as instituies de

    pesquisa e as universidades, todos precisamcontar com um ambiente de interao com

    o Estado no qual vigorem regras claras, est-

    veis, transparentes e eficientes.

    preciso definir normas e padres de

    comportamento que assegurem a boa e cor-

    reta interao entre Estado e sociedade. H

    que desenvolver canais para que os cidados

    e seus representantes possam interagir com

    a administrao pblica. Devemos abrir es-

    paos para que as organizaes da sociedade

    civil participem tanto da formulao quan-

    to da execuo das polticas pblicas. Para

    isso, a coligao Unidos pelo Brasil vai de-senvolver um amplo programa de reformas

    profundas e estabelecer um novo marco de

    relacionamento entre o Estado e os agentes

    com os quais ele deve interagir.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    21/244

    21Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    truturao. H poucas ilhas de excelncia,

    que precisam ser expandidas e transpor-

    tadas para as diversas reas do Estado. A

    necessria reforma administrativa atingetransversalmente todas as dimenses de

    gesto: estrutura organizacional, procedi-

    mentos administrativos, gesto financeira

    e oramentria, gesto de pessoal, gesto de

    compras, participao e controle cidados,

    governana eletrnica, democracia digital e

    novas modalidades de prestao de servio

    pblico. Essas aes simplificaro a relao

    do Estado com o cidado.Desde os anos 1990, busca-se instituir

    instrumentos gerenciais na administrao

    pblica para conferir autonomia aos rgos,

    habituados a um modelo burocrtico. Hou-

    ve avanos, como uma relativa profissiona-

    lizao da burocracia e, para algumas car-

    reiras, remunerao baseada em critrios de

    produtividade. Um desafio constante, mas

    ainda longe de ser vencido, a responsabi-lizao dos gestores e a prestao de contas

    aos cidados. Mais recentemente, a lei de

    acesso informao se tornou a promessa

    de uma cultura da transparncia, e a insta-

    lao de ferramentas eletrnicas facilitou o

    controle dos gastos pblicos. Malgrado esse

    avano, em geral, baixa a qualidade dos

    servios pblicos no Brasil.

    No conjunto das polticas pblicas, no-ta-se a falta de planejamento integrado e de

    indicadores de desempenho que permitam

    controle social satisfatrio. Nenhuma refor-

    ma conseguiu atingir o objetivo de promo-

    ver uma participao democrtica efetiva

    do cidado na elaborao e na execuo das

    polticas pblicas e de anular a percepo de

    que h um grande desencontro entre direitos

    sociais e servios prestados aos brasileiros,

    todos previstos na Constituio, e a carga

    tributria que se eleva a mais de 36% do PIB.Uma proposta de futuro para o Brasil

    requer dotar a administrao pblica federal

    de misso republicana, inseri-la na estratgia

    nacional de desenvolvimento sustentvel e

    integr-la em um ciclo

    virtuoso de mudanas,

    que a impulsione a con-

    tribuir a concretizar as

    demandas populares le-gtimas: segurana, sa-

    de, educao, cincia,

    tecnologia e inovao,

    transporte, logstica,

    qualidade de vida, meio ambiente saudvel,

    crescimento econmico e justia social.

    A tarefa tem de transcender o trabalho

    de tcnicos e formuladores. Cabe ao presi-

    dente e aos ministros a liderana executivada reforma da administrao, para arbitrar

    conflitos e adquirir legitimidade e apoio da

    burocracia estatal. O imprescindvel com-

    prometimento dos servidores pblicos fe-

    derais depende, em grande medida, de sua

    percepo de que sua importncia e seu ta-

    lento criativo e gerencial sero contempla-

    dos nas mudanas. A burocracia pblica

    no pode mais ser tratada como destinat-ria de pacotes prontos.

    Melhorar o funcionamento das insti-

    tuies implica inovar a cultura gerencial

    estabelecendo metas que sejam monitora-

    das e submetidas a controle dos resultados.

    A definio das polticas pblicas e de seus

    programas, projetos e aes deve estar pau-

    Desafio constante,

    mas ainda longe

    de ser vencido, a

    responsabilizao dosgestores e a prestao

    de contas aos cidados.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    22/244

    22 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    O Estado como indutor de prticas sustentveis. O conceito de compras verdes.

    O enfrentamento das mudanas climticas. Por uma gesto pblica socioambienta

    tada por uma cultura de mtrica. Quem

    so os beneficirios e quais os custos das

    iniciativas devem ser critrios informado-

    res do processo decisrio.Na gesto de pessoal, essencial de-

    senvolver os mecanismos de dilogo com

    os servidores pblicos por meio de mesas

    permanentes de negociao coletiva a fim

    de que as normas e condies de traba-

    lho sejam definidas democraticamente e

    para que se promovam mais trocas de in-

    formaes sobre os desafios e os objetivos

    da administrao pblica e os anseios dasociedade brasileira.

    Em suma, a coligao Unidos pelo

    Brasil tem o objetivo de reformar a estru-

    tura organizacional da administrao p-

    blica, a gesto financeira e oramentria,

    a gesto de recursos humanos, a gesto de

    compras e contratos, com uso intensivo

    de tecnologias de informao e comuni-

    cao na prestao de servios pblicos efomento colaborao entre sociedade e

    entes governamentais. Sobretudo, almeja-

    mos modificar a cultura do servio pbli-

    co, resgatando sua misso de aprimorar a

    prestao de servios comunidade.

    CULTURA E PRTICAS DE GESTO

    Implementar uma cultura de mtrica em relao a cada po-

    ltica pblica: quanto custa? A quantos serve? Desenvolver o dilogo com os servidores e suas entidades re-presentativas por meio de mesas permanentes de negociaocoletiva para melhorar as condies de trabalho e remunerao. Priorizar os funcionrios pblicos concursados no preenchi-mento dos cargos de livre provimento. Prossionalizar carreiras e adotar poltica de promoes ba-seada em critrios de desempenho, produtividade e mrito. Incentivar a criatividade e a inovao por meio de meca-

    nismos como as transferncias fundo a fundo entre Unio,estados e municpios para implementar as polticas pblicas. Criar uma cultura de prestao de contas e responsabilizaodos gestores baseada em desempenho, fomentando mecanis-mos de capacitao funcional e prossionalizao. Criar plataformas colaborativas, com arranjos horizontaisem rede, entre rgos pblicos, mercado e sociedade civil. Investir na coordenao, na intersetorialidade, na transver-salidade e na integrao federativa das polticas pblicas, eli-

    minando superposies. Explorar a governana eletrnica para inserir a populaonos ciclos de planejamento e oramento, fornecendo infor-mao aos cidados e criando canais para que participemdas decises.

    Os desafios do Brasil no enfrenta-

    mento das mudanas climticas e da des-

    truio do patrimnio natural impem

    modificar a administrao pblica por

    dentro. Trata-se de transform-la a partir

    do conceito de gesto socioambiental.

    Assim, uma questo merece destaque

    na reforma da administrao pblica: a

    massificao de prticas ambientalmente

    sustentveis. A primeira mudana deve ser

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    23/244

    23Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    NOVO FEDERALISMO

    A baixa qualidade dos servios pblicos oferecidos populao no se resume

    a um problema oramentrio. Deve-se tambm falta de coordenao das

    polticas pblicas e de articulao entre os entes federados com governana

    eficiente, democrtica, justa, transparente e, portanto, sustentvel.

    a mobilizao da burocracia e sua conscien-

    tizao quanto necessidade de generalizar

    prticas sustentveis, em todos os nveis e

    processos. O governo, por sua vez, deve as-sumir o papel de indutor do mercado com

    vistas a instaurar uma economia de baixo

    carbono. A governana eletrnica pode re-

    presentar o elo de transio dos mecanis-

    mos de compras pblicas para compras

    verdes. Em sntese, precisamos de gesto

    governamental a servio de um desenvol-

    vimento justo, democrtico e sustentvel.

    No Brasil, a gesto pblica socioambien-tal est representada pela Agenda Ambien-

    tal na Administrao Pblica (A3P a sigla

    tem origem nos 3 As e 1 P, que iniciam as

    palavras). Esse programa, hoje voluntrio, se

    encontra enfraquecido. Faltam-lhe estrutura

    e apoio poltico-governamental. Sobrevive

    graas a iniciativas isoladas de alguns gesto-

    res e servidores, que lutam para implemen-

    t-lo, sem o devido apoio institucional.

    SUSTENTABILIDADEDE DENTRO PARA FORA

    Tornar a implementao do programa A3P obrigatria, pormeio de decreto, para todos os rgos da administrao p-blica federal. Estruturar cursos de educao ambiental de gestores eservidores pblicos. Formar comisses para promover aes sustentveis nosdiversos setores de cada rgo pblico. Elas sero coorde-nadas por lideranas escolhidas por seus integrantes, combase na experincia e no conhecimento da matria.

    Estabelecer a obrigatoriedade de os rgos pblicos ela-borarem inventrio de emisses de gases de efeito estufa ede denirem meta para reduzi-las. Aperfeioar a legislao e as normas sobre licitaes sus -tentveis e usar a governana eletrnica aplicada s com-pras pblicas para estimular as compras verdes, de baixoimpacto ambiental. Denir metas para compras de produtos ambientalmentecorretos.

    preciso repactuar o federalismo bra-

    sileiro. A Constituio Federal de 1988

    repartiu as competncias e responsabilida-

    des, ao mesmo tempo em que concentrou

    a maior parte das receitas na Unio. Em

    2010, a participao da Unio na receita

    total disponvel (receita corrente menos

    transferncias) era de 50,3%, cabendo 31%

    aos estados e 18,8% aos municpios. No fi-

    nal do terceiro ano do atual governo, a par-

    ticipao da Unio nas receitas disponveis

    tinha se elevado a 57,5%, reduzindo-se a

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    24/244

    24 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    dos municpios para 10,1%.

    Estes ltimos, no entanto, foram en-

    carregados de implementar a maior parte

    das polticas sociais, mas no receberamreceitas tributrias suficientes para assumir

    integralmente tais responsabilidades. Ade-

    mais, a rgida fixao dos critrios de par-

    tilha na Constituio dificultou adaptaes

    a novas realidades econmico-financeiras

    que surgiram no pas.

    Por isso, precisamos construir novas

    bases colaborativas entre as esferas de go-

    verno, com descentralizao de obriga-

    es, mas igualmente de receitas, que leve

    em conta as desigualdades regionais e ospadres nacionais mnimos a pr em pr-

    tica nas polticas pblicas.

    O caminho da mudana requer tanto

    a redistribuio de recursos e responsa-

    bilidades, quanto a instituio de canais

    apropriados de negociao e coordenao

    intergovernamental.

    Guerra fiscal. Municpios sem recursos. Estados esvaziados

    de seu papel. Regies metropolitanas sem respostas para

    seus dilemas. Eis o atual jogo federativo, que precisa ter fim.

    Existe, atualmente, uma forte e in-

    desejvel diferena na qualidade dos ser-

    vios pblicos oferecidos populao,

    conforme as vrias regies do pas. Isso sedeve, em boa medida, grande variao

    da capacidade de estados e municpios de

    gerar receitas prprias, dadas as pro-

    fundas desigualdades socioe-

    conmicas.

    As tentativas de combater

    esse problema tm sido insufi-

    cientes, seja com os fundos de

    redistribuio de recursos Fundo de Participao dos Es-

    tados (FPE) e Fundo de Parti-

    cipao dos Municpios (FPM)

    , seja com transferncias obri-

    gatrias e voluntrias entre os

    diversos nveis de governo.

    A Unio elegeu os muni-

    cpios como parceiros privilegiados para

    descentralizar a execuo de polticas p-

    blicas, o que esvaziou o papel dos estados.

    Imps ainda aos municpios exignciasque dificilmente podem ser atendidas,

    quando estruturas precrias de pessoal e

    de gesto so a realidade. Perpetua-se, as-

    sim, uma relao de desequilbrio e a de-

    pendncia do Executivo federal.

    A excessiva centralizao na elabora-

    o das polticas pblicas pela Unio ig-

    nora, em vrios casos, a especificidade das

    demandas locais, dificultando a inovaoe a adequao de programas e projetos

    realidade e, sobretudo, capacidade das

    prefeituras.

    Ademais, cortes frequentes no or-

    amento (conhecidos como contingen-

    ciamentos) e desoneraes de tributos,

    sob o pretexto de turbinar o crescimento

    das receitas pblicascam com a Unio.

    57,5%

    No ndice de CompetitividadeMundial 2014, oBrasil cou em

    lugar entre 60 pases.54-

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    25/244

    25Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    pelo aumento do consumo, diminuem o

    caixa de governos estaduais e municipais

    e prejudicam a continuidade da execuo

    das polticas. o caso, por exemplo, dasdesoneraes de IPI e de outros impostos.

    As contribuies, que constituem receitas

    no partilhadas com estados e municpios,

    no sofrem cortes.

    Os conflitos entre confederaes de

    prefeitos e Presidncia da Repblica tm

    se tornado o mote do relacionamento fe-

    derativo no Brasil h vrios anos. Quanto

    aos estados, salvo poucas excees, perde-ram o protagonismo na articulao com

    seus prprios municpios.

    Numerosas questes que transcen-

    dem o mbito local e regional deixam de

    receber tratamento adequado. A formao

    de zonas metropolitanas nas regies mais

    populosas o exemplo mais flagrante. A

    execuo fragmentada de polticas pbli-

    cas em territrios de municpios contguos incompatvel com o atendimento satisfa-

    trio a demandas por mobilidade urbana,

    saneamento, habitao e segurana, entre

    vrias outras. O resultado a baixa quali-

    dade dos servios prestados populao.

    Na busca por mais investimentos, es-

    tados e municpios entram na guerra fis-

    cal, que vai sendo reproduzida at que opas consiga fazer uma

    reforma tributria que

    reequilibre a federao.

    Todas essas dis-

    funes se refletem de

    forma particularmente

    grave na baixa qualida-

    de do conjunto da infra-

    estrutura nacional. Oscaminhos da competiti-

    vidade se fecham para o

    setor produtivo.

    No ndice de Competitividade Mun-

    dial 2014 do International Institute for

    Management Development, o Brasil ficou

    em 54 lugar entre 60 pases, frente ape-

    nas de Grcia, Bulgria, Crocia, Vene-

    zuela e Argentina. Obrigado a lidar comos diversos nveis do setor pblico fede-

    ral, estadual e municipal , o mercado re-

    passa o alto custo logstico a seus preos.

    O cidado quem paga a conta.

    Cooperao com compromisso, estabelecimento de

    responsabilidades claras e controles transparentes: o modelo

    do federalismo em rede que desejamos para o Brasil.

    A Constituio Federal de 1988 forne-

    ceu um quadro precrio para a responsa-

    bilizao de Unio, estados e municpios

    por desempenho e resultados obtidos nas

    polticas pblicas.

    A implementao de um novo fede-

    ralismo, entretanto, demanda relaes

    intergovernamentais mais claras e coope-

    rativas, como se comeou a desenhar em

    meados de 1990, quando o governo federal

    Conflitos entre

    confederaes

    de prefeitos e

    Presidncia da

    Repblica tm

    sido o mote

    do relacionamentofederativo.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

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    26 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    assumiu a coordenao

    das polticas pblicas e

    imps a disciplina fiscal

    s demais instncias degoverno. De l para c,

    outras iniciativas, como

    a formao de parcerias

    interfederativas para

    as quais a aprovao da

    Lei de Consrcios P-

    blicos foi um avano importante tm se

    mostrado frutferas.

    Abriram-se tambm fruns delibera-tivos horizontais entre

    estados e entre munic-

    pios e comisses que

    renem representantes

    das vrias esferas de go-

    verno. Embora ainda

    pouco numerosos, esses

    espaos podem promover conhecimento

    mtuo, dilogo e negociao.

    A aplicao dos princpios de colabora-

    o, horizontalizao e organizao de redestem grande potencial para produzir polti-

    cas pblicas de maneira sustentvel, estimu-

    lando trocas de experincias e formao de

    sinergias cooperativas.

    Nesse cenrio, a Presidncia da Rep-

    blica exerce liderana efetiva, que sinaliza

    vontade e compromisso de coordenar a des-

    centralizao de atribuies e de recursos.

    E o fermento para estimular a colaboraoentre Unio, estados, municpios e Distrito

    Federal um desenho mais flexvel e apro-

    priado de incentivos institucionais e corres-

    ponsabilizao. Ademais, arranjos horizon-

    tais que incluam o mercado, o terceiro setor

    e a populao promovem maior integrao

    e efetividade nas polticas pblicas.

    Justia tributria, modernizao da gesto, participao social,

    crescimento econmico, qualidade de vida e meio ambiente

    saudvel: objetivos indissociveis de nossa estratgia federativa.

    Acreditamos que a aliana entre os

    instrumentos da democracia digital e a

    modernizao da gesto impulsionar as

    engrenagens do funcionamento federa-tivo. Tudo isso dever se conjugar com a

    promoo da justia tributria, que atenue

    desigualdades regionais e permita autode-

    terminao.

    Promover equidade na distribuio

    de recursos pblicos exigir instituir me-

    canismos sustentveis de redistribuio e

    concentrar esforos para atingir patamares

    mais justos e homogneos de desenvolvi-

    mento em todas as regies do pas.

    Com responsabilidade e controle, ogoverno da coligao Unidos pelo Brasil

    constituir as ferramentas de uma estra-

    tgia de sucesso para seguir o caminho da

    superao dos desequilbrios, da concor-

    rncia predatria e de uma espcie de au-

    tarquismo que ainda impregnam o sistema

    federativo brasileiro.

    Arranjos que

    incluam o mercado,

    o terceiro setor e a

    populao promovem

    maior integrao,

    e efetividade nas

    polticas pblicas.

    Fruns horizontais e

    comisses que renem

    vrias esferas de governo

    so espaos de dilogo

    e negociao.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

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    27Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    Repartio de verbas: um novo modelo para a participao de Unio, estados

    e municpios nas receitas; a ampliao dos mecanismos de transferncia

    de recursos fundo a fundo para acelerar os investimentos.Nos ltimos anos, concentraram-se re-

    cursos nas mos do governo federal, com

    penalizao forte dos municpios no acesso

    a recursos fiscais.

    A receita para gerar esses resultados

    foi simples. Introduziram-se generosidades

    tributrias em impostos que fazem parte

    do Fundo de Participao dos Municpios(FPM) e do Fundo de Participao dos Es-

    tados (FPE), ao mesmo tempo em que se

    mantinham os tributos, como as contribui-

    es, que no so compartilhados com esta-

    dos e municpios. Alm disso, a maior parte

    dos ganhos de eficincia arrecadatria se de-

    veu Receita Federal, que responsvel pela

    arrecadao dos tributos federais.

    A reforma tributria ser a principalpoltica para mudar esse quadro. Ela permi-

    tir redefinir a participao das trs esferas

    de governo nas receitas totais do pas, des-

    centralizando as receitas tributrias para que

    estados e municpios, empoderados, aumen-

    tem e melhorem os servios pblicos oferta-

    dos populao. A implementao paulati-

    na das mudanas permitir as acomodaes

    necessrias nos trs nveis de poder, inclu-sive redefinindo algumas responsabilidades.

    Para atingir esse objetivo de aumentar

    a capacidade oramentria dos municpios

    e estados, a coligao Unidos pelo Brasil vai

    ampliar os mecanismos de transferncia de

    recursos fundo a fundo, contribuindo para

    acelerar os investimentos.

    PARA CONSTRUIR UM NOVO FEDERALISMO

    Ampliar o repasse de recursos da Unio para estados e mu-nicpios a partir de transferncias de recursos fundo a fundo. Garantir o aumento imediato de 23,5% para 25,5% nos re-cursos transferidos aos municpios pelo FPM, propondo con-dicionalidades como investimento em transporte coletivo e

    custeio do passe livre. Propor um novo modelo constitucional de repartio de re-ceitas tributrias a m de garantir mais recursos e maior auto-nomia a estados e municpios. Ajustar legislao e arcabouo infralegal ao novo modelofederativo, favorecendo a colaborao federativa, a coordena-o de polticas e a diminuio das sobreposies entre Unio,estados e municpios. Estimular a formao de consrcios pblicos interfederativos

    e outras formas de associativismo territorial que sejam socio-ambientalmente sustentveis. Focar as zonas metropolitanas e as reas de maior vulnera -bilidade social e ambiental como alvo da integrao das polti-cas pblicas, com coordenao e transversalidade. Criar espaos institucionais de dilogo, capacitao e pactu-ao interfederativa nas polticas pblicas para descentralizarresponsabilidades e promover accountability. Inaugurar uma agenda de planejamento integrado entre

    Unio, estados e municpios que apresente ao Congresso,anualmente, as prioridades nas polticas pblicas, de tal ma-neira que se estabeleam as responsabilidades das trs esfe-ras de governo, os nveis de gesto compartilhada, os critriosde transferncia de recursos e a gesto nanceira. Criar incentivos justos e responsveis, que induzam cola-borao intergovernamental coordenada.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

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    28 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    POLTICA EXTERNA

    A poltica externa deve estar a servio do desenvolvimento, abrindo espaos

    para a projeo internacional de nossos produtos e servios e favorecendo aincluso de nossas empresas nas cadeias globais de produo. A participao do

    pas nas instncias de deciso internacionais legitima-se pela defesa inequvoca

    da paz, da democracia, dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentvel.

    hora de revalidar a poltica externa

    como poltica de Estado realmente desti-

    nada promoo dos interesses e dos va-lores nacionais.

    Por lidar com aspiraes permanen-

    tes do pas e implicar compromissos de

    Estado, a poltica externa no pode ser

    refm de faces ou agrupamentos pol-

    ticos. Deve refletir, sempre que possvel,

    convergncias sociais e multipartidrias.

    Surpreende o recurso nos ltimos anos a

    diplomacias paralelas.A poltica externa aquela definida

    pelo presidente da Repblica e executada

    pelos agentes do Estado, sob amparo do

    texto constitucional. Seu marco ideolgi-

    co so os valores enunciados no Artigo 4

    da Constituio.

    CONSTITUIO FEDERAL DE 1988

    Art. 4 A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaes internacionais pelos seguintes princpios:

    I independncia nacional; II prevalncia dos direitos humanos; III autodeterminao dos povos; IV no-interveno; V igualdade entre os Estados; VI defesa da paz;

    VII soluo pacca dos conitos;VIII repdio ao terrorismo e ao racismo; IX cooperao entre os povos para o progresso da humanidade; X concesso de asilo poltico.

    Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil buscar a integrao econmica, poltica, social ecultural dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma comunidade latino-americana de naes.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

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    29Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    A servio do desenvolvimento nacional: superar o

    imobilismo na busca de parceiros econmicos e comerciais.

    Buscar insero nas cadeias globais de produo.Como ocorreu em momentos deci-

    sivos de nossa histria, a poltica externa

    deve estar a servio do desenvolvimento

    do pas. Isso pressupe por compreenso

    acurada e isenta da cena internacional.

    J se nota que a crise financeira pro-

    vocou ajustes importantes na gesto das

    principais economias, mas no trouxe oanunciado reordenamento do poder eco-

    nmico. Os Estados Unidos do sinais de

    reativao de sua capacidade produtiva,

    reorientando gradualmente a matriz ener-

    gtica. A China sofre diminuio em sua

    taxa de crescimento, ainda expressiva, e

    passa a privilegiar o consumo no lugar do

    investimento.

    Afastado o risco de colapso de suafranja mediterrnea, a Unio Europeia v-

    se defrontada com o rduo desafio da in-

    tegrao fiscal. O Japo persiste na busca

    de frmulas para romper uma dcada e

    meia de estagnao com vultosos pacotes

    de estmulo atividade produtiva custa

    de desvalorizao do iene.

    A reduo da liquidez internacional

    afeta os pases emergentes com intensidadeque varia segundo o contexto domstico. A

    ndia e a Turquia so penalizadas por ele-

    vados dficits em conta corrente. Tambm

    repercute a deteriorao fiscal da econo-

    mia russa, apesar de suas elevadas reservas.

    O Mxico aposta em reformas econmicas

    h muito devidas e na simbiose com a eco-

    nomia norte-americana.

    No se configurou, enfim, a anunciada

    decadncia do Ocidente e uma ascenso de-

    finitiva dos pases emergentes. A sorte destes

    ltimos parece depender menos de profecias

    do que de polticas acertadas em produtivi-

    dade, inovao, participao em cadeias pro-

    dutivas e acordos seletivos de comrcio.O Brasil ainda no perdeu o bonde da

    histria. Em muitos aspectos, reuniu trun-

    fos para inserir-se posi-

    tivamente na ordem em

    construo. Conquistou

    a estabilidade monetria;

    comprometeu-se com a

    responsabilidade fiscal;

    logrou nveis altos deprodutividade no cam-

    po; reduziu a vulnerabilidade externa com o

    acmulo de reservas; ampliou sobremanei-

    ra o mercado interno; universalizou o aces-

    so escola e deu impulso pesquisa cient-

    fica em centros de excelncia.

    preocupante, no entanto, que se te-

    nha descuidado de insero positiva nas

    relaes econmicas internacionais, o quepode nos custar a perda das oportunidades

    histricas que hoje se abrem ao pas.

    No se justifica a reticncia em nego-

    ciar novas frentes para o comrcio de nos-

    sos bens e servios. A valorizao das trata-

    tivas na Organizao Mundial do Comrcio

    (OMC) plenamente compatvel com a ne-

    No se justifica a

    reticncia do Brasil

    em negociar novas

    frentes para o comrcio

    de seus bens e servios.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

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    30 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    gociao de acordos regionais e bilaterais.

    Se a adoo de regras universais cru-

    cial para a simetria no comrcio entre os

    povos, inadivel a necessidade de garan-tir condies favorveis de acesso a merca-

    dos regionais em um cenrio voltil como

    o atual, onde os principais atores esto

    empenhados na acomodao recproca de

    seus interesses.

    Basta lembrar os entendimentos em

    curso entre os Estados Unidos e a Unio

    Europeia para a criao da Parceria Tran-

    satlntica em Comrcio e Investimento,que definir diretrizes em barreiras no-

    tarifrias e regras de comrcio incontorn-

    veis para quem pretenda exportar bens e

    servios para dois dos trs principais polos

    da economia internacional.Igualmente sugestivos so os passos

    adotados para tornar vivel uma zona de

    livre comrcio entre a sia e as Amri-

    cas, com o envolvimento de alguns pa-

    ses latino-americanos, como Chile, Peru,

    Colmbia e Mxico, os quais, por sua vez,

    criam e impulsionam a Aliana para o Pa-

    cfico, com propsitos ambiciosos em ser-

    vios, circulao de capitais e promoode investimentos.

    Renovao do Mercosul: o Brasil no combate estagnao do bloco.

    A necessidade de propor mudanas, investir em negociaes com

    outros pases e fechar acordos com cronogramas diferenciados.

    O Mercosul no tem cumprido bemo desgnio original de constituir uma mo-

    dalidade de regionalismo aberto. A ex-

    panso significativa do comrcio intrarre-

    gional no foi acompanhada de empenho

    negociador do bloco em aumentar suas

    transaes com outras regies.

    Salvo um par de acordos de livre co-

    mrcio com mercados inexpressivos, a

    tnica foi o imobilismo. As tratativas ini-ciadas h mais de uma

    dcada com vistas a

    uma associao com a

    Unio Europeia (UE)

    permanecem inconclu-

    sas. No se chegou nem

    sequer a testar a real

    disposio do bloco europeu em reduzirseu protecionismo agrcola, por causa

    da relutncia da Argentina em convergir

    com os demais membros quanto aos pro-

    dutos a liberar e ao perodo de desgrava-

    o. Por presso da opinio pblica e pela

    aproximao das eleies de outubro, o

    governo brasileiro somente h pouco co-

    meou a cobrar com a nfase devida uma

    atitude negociadora mais construtiva dasautoridades argentinas.

    Como principal economia do bloco,

    cabe ao Brasil tomar a iniciativa de propor

    as mudanas de rumo necessrias para que

    o Mercosul converta-se em fator de desen-

    volvimento e ator dinmico do comrcio

    internacional. A exigncia de negociao

    Salvo um par de acordos

    de livre comrcio com

    mercados inexpressivos,

    a tnica do Mercosul

    o imobilismo.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

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    31Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    conjunta em bloco consta apenas de

    uma resoluo do Conselho de Ministros

    de Relaes Exteriores, no sujeita a ratifi-

    cao pelos parlamentos nacionais e, des-sa forma, passvel de pronta revogao. A

    negociao em dupla velocidade que

    permite a um pas fechar acordo num cro-

    nograma distinto do bloco no vedada

    pelo Tratado de Assuno nem pelos acor-

    dos posteriores

    importante ainda promover o deba-

    te com o empresariado e a academia so-

    bre como o Brasil deve reagir ao impactono comrcio internacional da formao

    crescente de cadeias produtivas em escala

    global, que esto alterando os padres tra-

    dicionais de transao de bens e servios,

    sobretudo os de maior valor agregado.

    O intercmbio de partes, componen-

    tes e servios ocorre de modo cada vez

    mais intenso no interior de redes transna-

    cionais de inovao, produo e comercia-lizao. A regulamentao desse processo

    tem sido realizada por acordos regionais e

    bilaterais envolvendo os Estados Unidos, a

    Unio Europeia e alguns pases asiticos e

    latino-americanos. Comportam regras que

    costumam ir alm do previsto nas normasda OMC sobre propriedade intelectual,

    garantia de investimento, servios, movi-

    mentos de capital e co-

    operao aduaneira.

    Se, por um lado, o

    reclame por especiali-

    zao em alguma etapa

    do processo produtivo

    pode suscitar reservasem pases emergentes

    com parque industrial diversificado como

    Brasil, China, ndia e Rssia, presente,

    por outro lado, o risco de marginalizao

    dos fluxos de comrcio tecnologicamente

    mais inovadores. Assim, plausvel supor

    que, com a densidade tecnolgica de que

    j dispe e o grau de internacionalizao

    alcanado por suas empresas, o Brasilpossa ajustar-se de forma vantajosa ao

    novo modelo.

    O Brasil no pode correr

    o risco de ficar margem

    dos fluxos de comrcio

    tecnologicamente

    mais inovadores.

    Integrao da Amrica do Sul: abrir as portas do Pacfico. Promover a

    aproximao socioambiental e cultural. Ter empresas brasileiras construindo

    a infraestrutura regional. Garantir estabilidade de regras e respeito a contratos.

    A integrao do nosso subcontinenteatende a razes histricas, geogrficas, cul-

    turais, polticas e econmicas. Teremos sem-

    pre uma identidade sul-americana, reconhe-

    cimento que motivou o Brasil a promover

    a Comunidade Sul-Americana de Naes

    (Casa) e a formalizar e desenvolver a Unio

    das Naes Sul-Americanas (Unasul).

    importante que se d continuidade aoesforo de integrao continental em ener-

    gia, comunicaes e transportes, asseguran-

    do, de maneira definitiva, o acesso aos portos

    do Pacfico. A Iniciativa para a Integrao da

    Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iir-

    sa) j prev tudo isso, mas precisa ir alm. O

    processo precisa ser no apenas econmico

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

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    32 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    A Amrica do Sul viveu um processo

    quase simultneo de redemocratizao a

    partir dos anos 80.

    Portanto, no por acaso que a regio

    acumulou um acervo admirvel de com-

    promissos com a de-mocracia como condi-

    o para protagonizar

    as iniciativas regionais

    de integrao.

    Podem ser enume-

    rados como exemplos

    desses esforos o Pro-

    tocolo de Ushuaia sobre o Compromisso

    Democrtico no Mercosul, firmado em

    julho de 1998; a Carta Democrtica Inte-

    ramericana, datada de setembro de 2001;

    e o Protocolo Adicional ao Tratado Cons-

    titutivo da Unasul, assinado em novembrode 2010.

    A poltica externa da coligao Uni-

    dos pelo Brasil deve buscar cada vez maior

    integrao com os pases da Amrica do

    Sul e, ao mesmo tempo, promover os prin-

    cpios democrticos em consonncia com

    essa tradio.

    mas tambm socioambiental e cultural, con-

    templando os projetos de desenvolvimento

    dos pases da Amrica do Sul.

    A regio continua sendo destino privi-legiado de nossas expor-

    taes, inclusive as de

    maior valor agregado.

    Muito ajudaria, portan-

    to, articular a associa-

    o do Mercosul com a

    Aliana do Pacfico, at

    para a captao recpro-

    ca de investimentos e aincorporao de empre-

    sas brasileiras nas ca-

    deias internacionais de valor. Quanto mais

    integrada a regio, maiores os atrativos que

    reunir para a celebrao de acordos bila-

    terais e multilaterais com outros polos im-

    portantes da economia global.

    Como parte do salutar processo de in-

    ternacionalizao das empresas brasileiras que deve ser estimulado pelo Estado de

    acordo com padres sustentveis e desvin-

    culado de qualquer poltica clientelista.

    Cabe zelar para que a participao de

    grupos brasileiros na construo da infra-

    estrutura regional em energia, transportes

    e comunicaes ocorra em ambiente de

    estabilidade de regras e respeito a con-

    tratos. A adeso dos governos sul-ameri-canos ao objetivo da integrao fsica do

    continente deve ser traduzida em polti-

    cas de receptividade e apoio cooperao

    empresarial, estimulando a internaciona-

    lizao da economia brasileira.

    Quanto mais integrada

    a regio, maiores seus

    atrativos para fazer

    acordos bilaterais e

    multilaterais com outros

    polos importantes da

    economia global.

    Nossa poltica

    externa deve

    buscar cada vez

    maior integrao

    com os pases

    vizinhos.

    Democracia e direitos humanos na Amrica do Sul:

    respeitar o princpio da no-interveno nos assuntos

    internos; reforar os princpios democrticos no continente.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

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    33Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    Relaes com as grandes economias: reacender o dinamismo

    nas trocas com os Estados Unidos e com a Unio Europeia.

    Fundar novos padres de comrcio com a China.As relaes com os Estados Unidos

    carecem de atualizao. Sofreu queda nos-

    sa participao relativa no mercado norte-

    americano, que tem sido, ao lado da Am-

    rica Latina, um dos principais destinos das

    manufaturas brasileiras. O desafio de rever-

    ter essa tendncia cresce em importncia

    com a reativao em curso do consumo eda produo nos EUA.

    Alm de uma poltica comercial agressi-

    va, de resto desejvel para outras frentes re-

    gionais, chegado o momento de uma clara

    determinao para desenvolver um dilogo

    maduro, equilibrado e propositivo com Wa-

    shington, que no dramatize diferenas na-

    turais entre parceiros com interesses econ-

    micos e polticos reconhecidamente amplos.So inmeros os campos que podem

    compor uma agenda positiva entre o Bra-

    sil e os Estados Unidos, que vo de reno-

    vado estmulo cooperao empresarial

    nas mltiplas reas de complementaridade

    industrial ao reforo do intercmbio tecno-

    lgico e educacional.

    tambm largo o potencial para o aden-

    samento da relao estratgica com a UnioEuropeia. Precisamos resolver as pendncias

    para a formalizao do acordo de associa-

    o com o Mercosul. O interesse de grupos

    portugueses, espanhis, italianos, franceses

    e alemes em participar dos projetos de re-

    novao da infraestrutura nacional bem-

    vindo. A cooperao em cincia, tecnologia

    e inovao outro veio promissor. Convm

    estar atento ainda para envolver na identifi-

    cao de oportunidades os estados e muni-

    cpios brasileiros com um histrico denso de

    intercmbio com os pases europeus.

    J a relao com a China exige ateno

    prioritria pela magnitude das cifras e pelos

    desafios. Em poucos anos, o pas tornou-senosso primeiro parceiro comercial com

    elevado supervit do lado brasileiro bem

    como uma importante fonte de investimen-

    tos. improvvel que essa relao diferen-

    ciada seja alterada com a diminuio no

    ritmo de crescimento chins.

    Se se confirmar a taxa de expanso

    anual do PIB da China no perodo 2014-

    2016 em torno de 7%, contabilizaremos umincremento por ano de US$ 1,3 trilho em

    nossas relaes comerciais, quase o dobro

    do que se observava h dez anos, quando o

    crescimento do pas asitico era superior a

    11%. A elevao da base de clculos propi-

    cia gerao adicional de riqueza a cada ano,

    em volume suficiente para assegurar con-

    sidervel demanda por insumos externos

    mesmo com o esperado aumento do consu-mo domstico.

    Ateno especial deve ser dada

    melhora na composio da pauta expor-

    tadora brasileira, estimulando a substi-

    tuio das indstrias de baixo custo por

    indstrias intensivas em conhecimento e

    viabilizando um dilogo construtivo com

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    34/244

    34 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    as autoridades chinesas para que seja leal

    a concorrncia dos produtos exportados

    por ambos os pases, evitando-se a pr-

    tica de preos irrisrios. Na mesma dire-o, esforo adicional de dilogo franco

    deve ser consagrado questo das taxas

    de cmbio das moedas dos dois pases,

    cujos termos atualmente tm acarretado

    dificuldades no lado brasileiro.

    Tambm convm empenhar-se para

    que os investimentos chineses atendam s

    nossas expectativas de estabelecimento deparcerias, utilizao de insumos locais, cria-

    o da capacidade de pesquisa e desenvol-

    vimento e contratao de mo de obra e de

    executivos brasileiros.

    No h como mi-

    nimizar o ativismo do

    Brasil na cooperao

    Sul-Sul ao longo dos l-

    timos anos, que serviu

    para atenuar o impacto

    da crise sobre o comr-cio exterior, alm de

    gerar dividendos pol-

    ticos concretos. Iniciativas como o Ibas

    (ndia, Brasil e frica do Sul) so teis

    para a articulao de posies comuns

    com importantes potncias regionais em

    fruns multilaterais, para benefcio de

    nosso poder brando.

    J a participao do Brasil em frunsinformais como os Brics bloco formado

    tambm por Rssia, n-

    dia, China e frica do

    Sul , cumpre neces-

    sidade de articulao

    internacional na dire-

    o de um mundo mais

    multipolar. A identificao de interesses

    comuns do Brasil com os outros pases

    do Brics contribui para maior equilbrio

    na geopoltica atual, fortalecendo pases

    emergentes ainda sub-representados nas

    instncias internacionais criadas logo aps

    a 2 Guerra Mundial.No podemos, todavia, desconside-

    rar as diferenas nas agendas econmica,

    poltica, cultural e ambiental dos Brics,

    assim como na pauta de direitos huma-

    nos e liberdades civis de cada um dos pa-

    ses do bloco. A fim de que o dilogo no

    grupo seja construtivo e realista, preci-

    so reconhecer essas diferenas.

    A cooperao com a frica tambmmerece um acompanhamento cuidado-

    so. No bastasse o reconhecimento que

    se presta ao legado histrico, tnico e

    cultural que nos foi transmitido em s-

    culos de histria, a aproximao com o

    continente africano permite a identifica-

    o de um vasto leque de oportunidades

    Cooperao Sul-Sul e os Brics: os resultados prticos do

    ativismo do Brasil no estreitamento de relaes; a abertura

    e a consolidao de mercados para nossos bens e servios.

    Para que o dilogo seja

    construtivo, devemos

    reconhecer as diferenas

    de agenda econmica,

    poltica, cultural e

    ambiental dos pases.

    A cooperao com a

    frica merece

    acompanhamento

    cuidadoso.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    35/244

    35Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    Governana global: voz e voto nos fruns internacionais

    decisivos. Por uma agenda condizente com a histria,

    a tradio diplomtica e a importncia do Brasil.

    Somos a stima maior economia, aquinta maior populao e o quinto maior

    territrio do planeta. Temos instituies

    democrticas estveis e consolidadas.

    Nossa tradio diplomtica pacifista e

    multilateral muito respeitada no con-

    texto das naes.

    No temos pendncias ou conflitos

    de relevo com qualquer outro pas. Esta-

    mos cada vez mais comprometidos coma cooperao internacional a favor do

    desenvolvimento sustentvel e da elimi-

    nao da pobreza.

    Gozamos de relaes muito positivas

    com as naes emergentes, que devem

    fazer avanar cada vez mais a coopera-

    o Sul-Sul.

    Essas e outras credenciais explicam

    as expressivas vitrias obtidas pela di-plomacia brasileira nas eleies para a

    direo geral da Organizao das Naes

    Unidas para Alimentao e Agricultura

    e da Organizao Mundial de Comrcio.

    Mais do que isso: so fatores que recla-

    mam o reforo do pleito pela atualizao

    dos mecanismos de governana global

    tanto na esfera econmica como no m-bito poltico.

    mais do que justo que o peso do

    voto do pas nas de-

    liberaes do Fundo

    Monetrio Interna-

    cional (FMI) seja ele-

    vado a um patamar

    que efetivamente cor-

    responda dimensode nossa economia.

    Consideramos que

    tambm cabe insistir

    na reivindicao de

    que as chefias do FMI e do Banco Mun-

    dial deixem de ser monoplios de euro-

    peus e norte-americanos.

    O pleito pela reforma na composio

    do Conselho de Segurana (CS) das Na-es Unidas mantm sua atualidade, in-

    clusive a frmula de articulao conjunta

    (G-4) com outras potncias regionais.

    Sem representatividade adequada, o CS

    no pode desincumbir-se com a eficcia

    desejvel de suas elevadas atribuies

    nos campos da paz e da segurana.

    para as empresas brasileiras, sobretudo

    em pases de maior vitalidade econmi-

    ca. Devem-se promover iniciativas de

    cooperao nas reas de educao, cin-cia, tecnologia e inovao. Ateno espe-

    cial deve ser concedida ainda aos mem-

    bros da Comunidade de Pases de Lngua

    Portuguesa (CPLP), onde a cooperao

    tcnica brasileira se estende da sade p-blica logstica eleitoral.

    Cabe insistir na

    reivindicao de

    que as chefias do FMI

    e do Banco Mundial

    deixem de sermonoplio de europeus

    e norte-americanos.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    36/244

    36 Coligao Unidos pelo Brasil l PSB, REDE, PPS, PPL, PRP, PHS, PSL

    Eixo 1lEstado e Democracia de Alta Intensidade

    mais do que oportuno que afinemos

    o discurso que fundamenta o desejado

    reforo da presena do Brasil no sistema

    de governana global. No pairam dvi-

    das sobre a gradao ascendente dos in-

    dicadores polticos, econmicos e sociais

    do Brasil nas ltimas dcadas. Entretanto,

    crucial e imprescindvel que tampoucopairem dvidas sobre

    os valores e princ-

    pios que desejamos ver

    prosperar na convivn-

    cia internacional, que

    so aqueles que nortea-

    ram a modernizao do

    pas e encontram o mais

    pleno amparo no textoconstitucional: defesa

    da paz, resoluo pa-

    cfica de controvrsias,

    valorizao da democracia, respeito aos

    direitos humanos e promoo do desen-

    volvimento sustentvel.

    A elevao do nosso status no sistema

    das Naes Unidas e no multilateralismo

    como um todo somente faz sentido se forpara honrar o que somos, evitando omis-

    so ou ambiguidade diante do uso injus-

    tificado da fora, do arbtrio, da violao

    dos direitos e das garantias fundamentais,

    da pobreza e da destruio da natureza.

    Em torno daqueles valores, que so uni-

    versais, justifica-se que alarguemos nos-

    sos horizontes, contribuindo, como

    tradio de nossa diplomacia, para a for-

    mao de consensos sem vcios ideolgi-

    cos ou confrontaes estreis.Se essas preocupaes devem orien-

    tar o posicionamento do Brasil diante do

    que ocorre na Crimeia, na Sria e nos di-

    ferentes casos e temas submetidos aten-

    o do Conselho de Segurana, do Con-

    selho de Direitos Humanos e dos fruns

    sociais e ambientais das Naes Unidas,

    so igualmente relevantes para as relaes

    com nossos vizinhos, at porque refletemuma experincia de amadurecimento de-

    mocrtico pela qual tambm passou a

    maior parte dos pases latino-americanos.

    Em prazos quase concomitantes,

    soubemos superar regimes de exceo,

    validar o Estado de Direito, promover a

    incluso social no marco da democracia,

    ampliar o exerccio da cidadania e ser um

    dos principais polos das redes virtuais ehorizontais que esto renovando a parti-

    cipao cidad, configurando uma socie-

    dade civil global.

    Compromisso com a paz, a democracia e os direitos humanos:

    resoluo pacfica de controvrsias, ampliao do exerccio

    da cidadania, intransigncia com o uso injustificado da fora.

    Em torno de valores

    universais, justifica-se

    que contribuamos, como

    tradio de nossa

    diplomacia, para a

    formao de consensos,

    sem vcios ideolgicos ou

    confrontaes estreis.

  • 5/19/2018 Programa de Governo Marina Silva 2014

    37/244

    37Programa de Governo l Plano de ao para mudar o Brasil

    A coligao Unidos pelo Brasil vai for-

    talecer e modernizar as Foras Armadas

    para o cumprimento de sua misso cons-

    titucional de defesa da ptria, de garantia

    dos poderes constitucionais e, por iniciati-

    va de qualquer destes, da manuteno da

    lei e da ordem.

    Em sua misso de defender a ptria, as

    Foras Armadas devem incorporar a mis-so de proteo do meio ambiente parti-

    cularmente da biodiversidade contra a bio-

    pirataria e do policiamento das fronteiras

    para o combate ao contrabando e ao trfico

    de drogas, de armas e de pessoas.

    Temos um compromisso tambm com

    a adequao dos efetivos do Exrcito, da

    Marinha e da Aeronutica, com o aprimo-

    ramento da capacidade operacional das

    trs foras e com a elevao de seu nvel

    tecnolgico.

    Alm disso, devemos avanar cada vez

    mais na rea de cincia e tecnologia voltadapara a defesa de nossa soberania, inclusi-

    ve buscando preservar os dados digitais do

    pas e de seus cidados como instrumento

    de defesa nacional.

    Desenvolvimento sustentvel: pr abaixo a leitura esttica do

    princpio das responsabilidades comuns, porm diferenciadas.

    Por mais proatividade nas negociaes do clima.

    Defesa nacional: fortalecimento e modernizao das Foras Armadas;

    proteo de nossas fronteiras contra a biopirataria, o trfico e o contraban