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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA EFEITO AGUDO DA RESPIRAÇÃO ABDOMINAL LENTA SOBRE A ATIVIDADE CEREBRAL, RESPOSTAS EMOCIONAIS E CARDIOVASCULARES Daniel Gomes da Silva Machado NATAL – RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU EM EDUCAÇÃO FÍSICA

EFEITO AGUDO DA RESPIRAÇÃO ABDOMINAL LENTA

SOBRE A ATIVIDADE CEREBRAL, RESPOSTAS

EMOCIONAIS E CARDIOVASCULARES

Daniel Gomes da Silva Machado

NATAL – RN

2015

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EFEITO AGUDO DA RESPIRAÇÃO ABDOMINAL LENTA

SOBRE A ATIVIDADE CEREBRAL, RESPOSTAS

EMOCIONAIS E CARDIOVASCULARES

DANIEL GOMES DA SILVA MACHADO

Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Educação

Física da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, como requisito

parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Educação Física.

ORIENTADOR: Prof. Dr. ALEXANDRE HIDEKI OKANO

CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. HASSAN MOHAMED ELSANGEDY

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Catalogação da Publicação na Fonte

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Machado, Daniel Gomes da Silva.

Efeito agudo da respiração abdominal lenta sobre a atividade

cerebral, respostas emocionais e cardiovasculares / Daniel Gomes da

Silva Machado. - Natal, 2015.

77f: il.

Coorientador: Prof. Dr. Hassan Mohamed Elsangedy.

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Hideki Okano.

Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação

Física. Centro de Ciências da Saúde. Universidade Federal do Rio

Grande do Norte.

1. Arritmia respiratória sinusal - Dissertação. 2. Atividade cerebral -

Dissertação. 3. Respiração abdominal lenta - Dissertação. I. Okano,

Alexandre Hideki. II. Título.

RN/UF/BSA01 CDU 616.2

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i

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tudo que consegui. Agradeço a minha avó, Delza Maria,

que me criou, me educou e sempre esteve do meu lado em todos os momentos, pessoa

pela qual fiz e faço tudo. À minha noiva Rebeca Lauria, por estar ao meu lado e me

suportar em todos os momentos ao longo da jornada, com muito carinho, compreensão

e, principalmente, amor. A minha sogra, Mara Lauria, e sogro, Álvaro Souza que

sempre me apoiaram e me ajudaram no que fosse preciso, sempre me aconselhando a

seguir o melhor caminho, atuando como pais adotivos.

Agradeço ao Prof. Alexandre Okano por acreditar em mim e no meu trabalho

desde os semestres intermediários na graduação, assim como abrir a possibilidade de

atuação profissional na área acadêmica. Aos professores Hassan Elsangedy, Eduardo

Caldas e Nery Chao que também ajudaram no processo formativo desde a graduação.

Agradeço a todos os membros do Grupo de pesquisa em Biologia Integrativa do

Exercício (GEPEBIEX) por contribuir direta ou indiretamente para minha formação,

principalmente aos meus amigos que conquistei no grupo de pesquisa e com os quais

passo mais tempo que minha própria família: Samara Anselmo, Luiz Farias Jr, Pedro

Agrícola, Luiz Inácio.

Agradeço a todos os voluntários que dedicaram seu precioso tempo e energia

para tornar esse trabalho possível, pois sem a disposição deles esse trabalho não

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existiria. Agradeço também o Prof. Dr Dráulio Barros e Prof. Dr Luiz Ribeiro, pelas

contribuições dadas no processo de produção desta dissertação.

Agradeço as pessoas que me ajudaram a esclarecer detalhes acerca da análise

dos dados: Lydia Timm, Guilherme Beltramini, Jean Faber, Daniel Brandão, Camila

Campanhã e Olívia Lapenta.

Independentemente de terem sido citados aqui, agradeço sinceramente a todos

que de qualquer forma contribuíram para que eu chegasse a esse estágio na minha

carreira profissional e de amadurecimento pessoal.

O meu desejo e oração é que Deus vos abençoe grandiosamente, assim como

aos seus!

Meus mais sinceros agradecimentos.

Forte abraço,

Daniel Machado

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SUMÁRIO

Página

LISTA DE TABELAS .................................................................................................................... v

LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... vi

LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS ................................................................... vii

RESUMO .................................................................................................................................. viii

ABSTRACT ................................................................................................................................. x

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................12

2. JUSTIFICATIVA ..................................................................................................................14

3. OBJETIVOS .......................................................................................................................15

3.1. Objetivo Geral ..............................................................................................................15

3.2. Objetivos específicos ...................................................................................................15

4. HIPÓTESES .......................................................................................................................16

5. REVISÃO DA LITERATURA ...............................................................................................17

5.1. Respiração abdominal lenta ........................................................................................17

5.1.1. Técnica .................................................................................................................17

5.1.2. Respostas fisiológicas e psicológicas à RAL ........................................................19

5.1.3. Mecanismos de ação da RAL ...............................................................................25

5.2. Regiões cerebrais de interesse....................................................................................30

5.3. Eletroencefalografia .....................................................................................................32

5.4. Solução inversa ...........................................................................................................34

6. MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................................36

6.1. Amostra .......................................................................................................................36

6.2. Desenho do estudo ......................................................................................................37

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6.3. Avaliação antropométrica e do nível de atividade física ...............................................38

6.4. Respiração abdominal lenta ........................................................................................38

6.5. Análise da atividade cerebral .......................................................................................41

6.6. Processamento dos dados do EEG .............................................................................42

6.7. Localização de fonte da atividade do EEG ..................................................................43

6.8. Análise da frequência cardíaca ....................................................................................44

6.9. Avaliação da pressão arterial .......................................................................................46

6.10. Análise do estado de humor .....................................................................................46

6.11. Análise do nível ansiedade ......................................................................................47

6.12. Análise estatística ....................................................................................................47

7. RESULTADOS ...................................................................................................................49

7.1. Variáveis neurais .........................................................................................................49

7.1.1. Comparação da atividade cerebral DUR v. PRE na condição experimental .........49

7.1.2. Comparação da atividade cerebral POS v. PRE na condição experimental ..........53

7.1.3. Comparação da atividade cerebral DURANTE v. PRE na condição controle ........56

7.1.4. Comparação da atividade cerebral POS v. PRE na condição controle .................56

7.2. Variáveis psicológicas .................................................................................................56

7.3. Variáveis cardiovasculares ..........................................................................................58

8. DISCUSSÃO ......................................................................................................................60

9. CONCLUSÕES...................................................................................................................66

10. REFERÊNCIAS ...............................................................................................................67

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v

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Áreas cerebrais que atingiram o limiar de significância para menor

atividade de beta-2 (18,5-21 Hz) durante a execução da respiração abdominal

lenta comparando com antes dela, de acordo com a análise voxel-a-voxel do

sLORETA.

Tabela 2 - Áreas cerebrais que atingiram o limiar de significância para menor

atividade de beta-3 (21,5-30 Hz) durante a execução da respiração abdominal

lenta comparando com antes dela, de acordo com a análise voxel-a-voxel do

sLORETA.

Tabela 3 - Áreas cerebrais que atingiram o limiar de significância para menor

atividade de beta-2 (18,5-21 Hz) após a execução da respiração abdominal

lenta comparado com antes dela, de acordo com a análise voxel-a-voxel do

sLORETA.

Tabela 4 - Comparação dos domínios de humor antes (PRE) e após (POS) a

respiração abdominal lenta.

Tabela 5 - Comparação dos índices de variabilidade da frequência cardíaca no

domínio do tempo e da frequência.

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vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Desenho do estudo.

Figura 2 – Guia respiratório fornecido para controle da respiração em seis

ciclos por minuto.

Figura 3 – Desenho das sessões experimentais.

Figura 4 – Mapa de estatística paramétrica de diferença do sLORETA em beta-

2 (18,5-21 Hz) comparando o momento durante (DUR) a execução da

respiração abdominal lenta com antes dela.

Figura 5 – Mapa de estatística paramétrica de diferença do sLORETA em beta-

3 (21,5-30 Hz) comparando o momento durante a execução da respiração

abdominal lenta com antes dela.

Figura 6 – Mapa de estatística paramétrica de diferença do sLORETA em beta-

2 (18,5-21 Hz) comparando o momento após a execução da respiração

abdominal lenta com antes dela

Figura 7 – Comparação do nível de ansiedade estado entre os momentos PRE

e POS na condição experimental e controle.

Figura 8 – Comparação do nível de pressão arterial sistólica e diastólica entre

os momentos PRE e POS a condição experimental e controle.

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vii

LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

BFB – biofeedback;

CON – controle;

CPF – córtex pré-frontal;

EEG – eletroencefalografia ou eletroencefalograma;

Hz – hertz;

Lcritico - limiar crítico de significância;

MNI - Instituto Neurológico de Montreal;

pNN50 - percentual de pares de intervalos RR que variaram mais de 50 ms;

PAS – pressão arterial sistólica;

PAD - Pressão arterial diastólica;

RAL – respiração abdominal lenta;

RMSSD - raiz quadrada da média da soma dos quadrados das diferenças entre

intervalos R-R normais adjacentes;

SDNN - desvio padrão de intervalos R-R consecutivos;

sLORETA - tomografia eletromagnética padronizada de baixa resolução;

VFC – variabilidade da frequência cardíaca;

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viii

RESUMO

EFEITO AGUDO DA RESPIRAÇÃO ABDOMINAL LENTA SOBRE A

ATIVIDADE CEREBRAL, RESPOSTAS EMOCIONAIS E

CARDIOVASCULARES

Autor: Daniel Gomes da Silva Machado

Orientador: Prof. Dr. Alexandre Hideki Okano

Co-orientador: Prof. Dr. Hassan Mohamed Elsangedy

Introdução: A respiração abdominal lenta (RAL) estimula o barorreflexo e gera a

arritmia respiratória sinusal, causando mudança positiva cardiovascular, emocional

e cerebral aguda e crônica. Entretanto, embora as práticas meditativas recebam

atenção crescente nos últimos anos, não há consenso acerca das mudanças

neurofisiológicas subjacentes a elas, principalmente pela falta de informação

topográfica suficiente. Objetivo: Objetivamos analisar o efeito agudo da RAL

sobre a atividade cerebral, respostas emocionais e cardiovasculares em sujeitos

inexperientes em técnicas de meditação. Métodos: Dezessete homens adultos

saudáveis foram avaliados em duas sessões diferentes de modo randômico e

cruzado. Na condição experimental realizaram a RAL em 6 ciclos/minuto e na

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ix

controle mantiveram sua taxa respiratória normal, ambas por 20 minutos. Avaliou-

se antes e após as respectivas sessões a atividade cerebral com o

eletroencefalograma (EEG), ansiedade, humor, variabilidade da frequência

cardíaca (VFC) e pressão arterial. O EEG foi analisado pelo sLORETA para

localização das regiões cerebrais que sofreram mudança. Resultados: O

sLORETA evidenciou uma redução na banda de frequência beta no giro frontal

(P<0,01) e córtex cingulado anterior (P<0,05) tanto durante quanto e após a RAL

(P<0,05) comparada ao repouso, sem mudança na condição controle.

Adicionalmente, a ANOVA two-way com medidas repetidas mostrou que não

houve efeito na ansiedade (P>0,8) nem no humor (P>0,08). Houve uma melhora

na VFC (P<0,03), aumento do intervalo RR e redução da frequência cardíaca após

RAL, assim como aumento no SDNN, RMSSD, pNN50, no componente de baixa

frequência, razão LF/HF e potência total durante a mesma, sem alterações na PAS

e PAD. Conclusão: Concluímos que a RAL, mesmo sem alterações

comportamentais, é capaz de modificar a atividade cerebral em regiões

associadas ao processamento emocional. Além disso, melhora a VFC sem

modificar a pressão arterial.

Palavras chaves: atividade cerebral, EEG, respiração abdominal lenta,

sLORETA.

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x

ABSTRACT

EFFECT OF SLOW ABDOMINAL BREATHING ON BRAIN ACTIVITY,

EMOTIONAL AND CARDIOVASCULAR RESPONSES

Author: Daniel Gomes da Silva Machado

Advisor: Prof. Dr. Alexandre Hideki Okano

Co-advisor: Prof. Dr. Hassan Mohamed Elsangedy

Introduction: Slow abdominal breathing (SAB) stimulates baroreflex and

generates respiratory sinus arrhythmia, changing cardiovascular, emotional and

cerebral systems acute and chronically. However, although meditative practices

have been receiving increasingly attention in the last years, there is no

agreement on the neurophysiological changes underlying them, mainly because

of the lack of topographical pieces of information. Purpose: We aimed to

analyze the acute effect of SAB on brain activity, emotional and cardiovascular

responses in untrained subjects in meditative techniques. Methods: Seventeen

healthy adults’ men were assessed into two different sessions in a random and

crossed order. Into experimental session, they breathed in 6 cycles/minute and

in control session they kept breathing in normal rate, both for 20 minutes.

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xi

Before, during, and after each session we assessed brain activity using

electroencephalography (EEG), anxiety, mood, heart rate variability (HRV) and

blood pressure. The sLORETA software was used to analyze EEG data for

source localization of brain areas in which activity was changed. Results: The

sLORETA showed that beta band frequency was reduced in frontal gyrus

(P<0.01) and anterior cingulate cortex (P<0.05) both during and after SAB

(P<0.05) compared to the moment before it. There was no change in brain

activity in control session. Additionally, a two-way repeated measures ANOVA

showed that there was no effect on anxiety (P>0.8) and mood (P>0.08). There

were improvements in HRV (P<0.03), with increased RR interval and decreased

HR after SAB, as well as increased SDNN, RMSSD, pNN50, low frequency,

LF/HF ratio, and total power during it, with no changes in SBP and DBP.

Conclusions: We conclude that SAB is able to change brain activity in areas

responsible for emotional processing, even without behavioral changes.

Furthermore, SAB improves HRV and does not change blood pressure in

normotensive.

Key words: brain activity, EEG, sLORETA, and slow abdominal breathing.

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12

1. INTRODUÇÃO

A respiração abdominal lenta (RAL) é considerada uma técnica de meditação

concentrativa que consiste na diminuição da taxa respiratória à velocidade da

frequência de ressonância do sistema cardiovascular que normalmente ocorre em

seis ciclos respiratórios por minuto.1 Essa técnica estimula o sistema barorreflexo e

altera a frequência cardíaca gerando a arritmia respiratória sinusal, e que promove

mudanças positivas agudas e crônicas na pressão arterial, sensibilidade barorreflexa

e variabilidade da frequência cardíaca (VFC).1–3 Além disso, a RAL tem efeitos

positivos agudos e crônicos sobre estados de ansiedade,2,4,5 humor negativo,5

estresse,5 afeto,5 autoconfiança5 e auto eficácia,4 assim como tem sido usada como

tratamento para depressão, desordem de estresse pós-traumático e fibromialgia.6–8

Um dos mecanismo propostos para explicar estas mudanças é a melhora no

controle autonômico.2,4–7 Contudo, tendo em vista o amplo espectro de aplicação da

RAL, a discussão a respeito dos mecanismos é crescente.9,10 Nesse sentido,

evidências têm indicado que os efeitos supracitados podem ser decorrentes de

alterações cerebrais, entretanto, esse mecanismo tem sido pouco explorado. Apenas

dois estudos avaliaram o efeito da RAL sobre a atividade cerebral e evidenciaram,

através da eletroencefalografia (EEG), um aumento agudo na potência espectral da

banda de frequência de alfa11 e teta12 (associadas à calma e relaxamento), e

diminuição em na banda de beta11,12 (associada à excitação) no giro cingulado11 e

nos núcleos de atenção.12 Contudo, diferentes regiões cerebrais podem estar

envolvidas no mecanismo de ação da RAL, como o córtex pré-frontal (CPF) que é

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envolvido no processamento de emoções complexas,13,14 do controle emocional e

das respostas psicofísicas ao estresse.15,16

Nesse sentido, um dos possíveis fatores subjacentes à ausência do CPF nos

mecanismos de ação da RAL é a falta de informações topográficas suficientes a

respeito de técnicas meditativas.17 Os estudos supracitados11,12 utilizaram uma

pequena quantidade de eletrodos, resultando em poucas áreas cerebrais avaliadas,

tornando-os não representativos da complexidade do cérebro. Além disso, embora o

EEG não possua resolução espacial suficiente para localizar a área que sofreu

mudança, a eletro tomografia de baixa resolução ajuda a solucionar esse problema.18

Apenas Sherlin et al.11 utilizaram uma técnica de localização de fonte, mas com uma

pequena cobertura das áreas cerebrais, fragilizando a precisão da localização delas.

Portanto, considerando a ampla gama de benefícios obtidos com a RAL e o pouco

conhecimento a respeito dos seus mecanismos de ação, principalmente do ponto de

vista neural, uma análise cerebral cortical completa pode ajudar a compreender as

mudanças ocorridas no cérebro com o uso desta técnica,17 assim como analisar as

mudanças emocionais e fisiológicas, possibilitando um maior entendimento dos

mecanismos de ação responsável pelos efeitos desta técnica.

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2. JUSTIFICATIVA

Estudos eletroencefalográficos dos estados meditativos têm sido conduzidos por

quase 50 anos, mas nenhum consenso claro acerca das mudanças neurofisiológicas

subjacentes a meditação emergiu.17 Embora alguns tenham avaliado o efeito da RAL

sobre variáveis fisiológicas1,3,19–22 e emocionais,2,4,5 apenas dois estudos se propuseram

a verificar os efeitos neurais,11,12 os quais não deixaram claro o papel de áreas como o

CPF. Além disso, dos dois estudos existentes apenas um11 identificou as regiões

cerebrais que sofreram mudanças ao invés de analisar apenas a localização no escalpo.

Contudo, devido ao baixo número de eletrodos foi possível focar apenas no giro

cingulado. Nesse sentido, Cahn e Polich17 numa ampla revisão da literatura sobre os

estados meditativos afirmam que a maior barreira para entender os efeitos neurais das

práticas meditativas, como a RAL, é a falta de informações topográficas suficientes, pois

a maioria dos estudos avaliaram poucos locais e com uma inconsistência na localização

(frontal, parietal, temporal ou occipital). Portanto, estudos neurofisiológicos mais

abrangentes são necessários para preencher essa lacuna na literatura, assim como o

conhecimento a respeito de como os efeitos centrais e periféricos interagem em sujeitos

não experientes na realização da RAL.

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

O objetivo do presente estudo foi analisar o efeito agudo da RAL sobre a

atividade cerebral, estados emocionais e parâmetros cardiovasculares em

sujeitos inexperientes em técnicas de meditação;

3.2. Objetivos específicos

Analisar o efeito da RAL sobre a atividade eletroencefalográfica através de uma

avaliação cortical completa;

Identificar as regiões cerebrais as quais sofreram mudança por meio do eletro

tomografia de baixa resolução;

Analisar os efeitos da RAL sobre o estado de ansiedade e humor;

Analisar os efeitos da RAL sobre a VFC e pressão arterial;

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4. HIPÓTESES

Com base nas evidências anteriormente citadas sobre as respostas cerebrais

à RAL e outras práticas meditativas similares11,12,17 acreditávamos que uma única

sessão da RAL promoveria um aumento na potência da banda espectral de alfa e/ou

teta, assim como diminuiria de beta. Em relação aos efeitos cardiovasculares,

esperávamos que haveria mudanças na VFC, mas não pressão arterial, uma vez que

os sujeitos são normotensos. Quanto ao estado de ansiedade e humor, esperávamos

não haver mudança, devido ao fato de que os sujeitos envolvidos nesse estudo não

apresentam alterações emocionais.

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5. REVISÃO DA LITERATURA

5.1. Respiração abdominal lenta

5.1.1. Técnica

A respiração abdominal lenta é uma técnica meditativa que consiste no foco e

controle respiratório. A palavra meditação refere-se a práticas que autorregulam o

corpo e a mente, afetando processos mentais através do engajamento específico da

atenção. Essas práticas são subdivididas entre aquelas que induzem o relaxamento

ou estados de consciência alterados como a hipnose e o transe induzido. Uma vez

que a regulação da atenção é a semelhança central entre todos esses métodos

divergentes, os estilos meditativos podem ser classificados em dois tipos,

contemplativos e concentrativos, dependendo de como os processos de atenção são

direcionados.17 A maioria das técnicas está em algum ponto num contínuo entre os

polos desses dois métodos gerais. As práticas contemplativas envolvem permitir

qualquer pensamento, sentimentos ou sensação surgirem, mantendo-se uma postura

de atenção específica: consciente do fenômeno como um observador atento mas não

engajado, sem análise ou julgamento. Exemplos dessa técnica incluem o Zen, a

Vipassana e a versão ocidental da meditação contemplativa (mindfulness). As

técnicas concentrativas envolvem o foco da atenção em atividades mentais ou

sensoriais específicas: um som repetido, imagem imaginada ou sensações corporais

específicas como a respiração. Algumas formas de yoga e outras técnicas que focam

na sensação da respiração são exemplos desta técnica.17

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A taxa respiratória normalmente ocorre em 15 a 20 ciclos/minuto.2,23 O objetivo

da RAL é reduzir essa taxa a uma velocidade que coincida com a frequência de

ressonância na qual é produzida uma máxima amplitude de VFC.5 A respiração nesta

frequência estimula os barorreceptores, devido às propriedades de ressonância do

sistema cardiovascular, produzindo alteração na VFC que é conhecida como arritmia

respiratória sinusal. Cada indivíduo possuí uma frequência de ressonância

específica,2 mas a maioria dos sujeitos a apresenta em seis ciclos por minuto.1,2,5

A ressonância, por definição, é a tendência de um sistema a oscilar em

máxima amplitude em determinadas frequências. Nessas, até mesmo uma pequena

influência pode produzir oscilações de grande amplitude. Quando um sistema está

sujeito a uma influência externa periódica e contínua pode acontecer efeito

ressonante, dependendo da frequência. Dessa forma, a respiração na frequência de

ressonância atua como a influência externa e produz oscilações da ordem de 0,1 Hz,

coincidindo com o componente de baixa frequência da VFC e faz com que esta oscile

na maior amplitude possível.

A RAL pode ser aplicada de vários modos, mas nos últimos anos uma forma

em específico tem tomado destaque no meio cientifico e segue o protocolo proposto

por Lehrer et al.22 que consiste no treinamento da RAL utilizando um aparelho de

biofeedback (BFB), no qual é estabelecida a frequência de ressonância e os

indivíduos respiram nessa frequência em sessões de treinamento por 10 semanas,

com prática doméstica diária.22 No entanto, essa técnica limita a aplicabilidade da

RAL, principalmente, por necessitar de um equipamento com custo alto e depender

de um conhecimento técnico para utilizá-lo. Nesse sentido, Wells et al.2 compararam

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o efeito agudo da RAL sobre a VFC e a ansiedade utilizando um aparelho de BFB e

um simples guia de ritmo e evidenciaram que ambos produziram os mesmos

resultados, concluindo que não há diferença entre o uso desses métodos para que os

benefícios da RAL aconteçam.2 Ademais, Prinsloo et al.23 afirmam que o BFB é

apenas uma das formas de aplicar a RAL, e que outros métodos podem apresentar

resultados similares.

Nesse sentido, diversos aplicativos têm sido desenvolvidos, para celulares e

computadores, que se destacam pelo baixíssimo custo (vários disponíveis

gratuitamente), portabilidade e aplicabilidade, podendo ser levados a qualquer lugar

e utilizado a qualquer hora. Dessa forma, estes aspectos tornam-se importantes por

aumentar a aplicabilidade desta técnica no ambiente externo aos laboratórios, pelo

fato de tais aplicativos não necessitarem de conhecimento técnico, podendo ser

utilizados num ambiente fora do laboratório. É importante ressaltar, que a RAL não

apresenta efeitos colaterais e tem disso utilizado como uma forma de tratamento não

farmacológico para doenças como hipertensão, depressão, estresse, desordem de

estresse pós-traumático, fibromialgia, dentre outros. 2,6–8

5.1.2. Respostas fisiológicas e psicológicas à RAL

Estudos têm apresentado diversos efeitos fisiológicos positivos decorrentes da

RAL.1–5,12,23 Até o presente o único estudo que avaliou as mudanças que ocorrem na

modulação autonômica cardíaca durante a RAL foi realizado por Prinsloo et al.,3

onde foi evidenciado que durante a realização de uma única sessão houve aumento

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na potência espectral total, no componente de baixa frequência e no desvio padrão

de intervalos R-R consecutivos (SDNN). O componente de baixa frequência (0,04 -

0,15 Hz) é associado a atividade nervosa simpática e parassimpática e um maior

SDNN é interpretado como aumento na modulação parassimpática.24

Já Lin et al.1 evidenciaram uma redução na pressão arterial de repouso em

jovens pré-hipertensos com 10 sessões de treinamento ao longo de cinco semanas.

Utilizando a RAL aplicada por BFB ou com um guia de ritmo onde verificaram que

ambos reduziram a pressão arterial sistólica (12,8 vs. 7,7 mm Hg) e diastólica (7,4 vs.

4,4 mm Hg). Contudo, o BFB apresentou as maiores reduções comparado ao guia de

ritmo, enquanto não houve mudanças no grupo controle. Além disso, análises

individuais da primeira sessão do treinamento mostraram que uma única sessão já

reduziu a pressão arterial sistólica (7,0 vs. 6,4 mmHg, BFB e guia, respectivamente).1

É importante destacar que houve aumento da sensibilidade barorreflexa em ambos

os grupos (BFB e guia de ritmo).1 Os índices de VFC em repouso também foram

aumentados e a condutância galvânica da pele, que reflete a excitação simpática, foi

reduzida.1 Todos estes efeitos perduraram por três meses após o fim da

intervenção.1

Similarmente, Paul e Garg4 com uma intervenção com 10 sessões, mas num

período de tempo reduzido (10 dias consecutivos), evidenciaram um aumento da

potência espectral total, e do espectro de baixa e alta frequência da VFC em

jogadores de basquetebol, similarmente ao achados de Lagos et al.5 em um jogador

de golfe. Todavia, todos esses estudos foram realizados com treinamento e

verificaram o efeito da RAL em repouso.

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21

Por outro lado, Wells et al.2 evidenciaram que uma única sessão com 30

minutos de duração aumentou o tônus vagal e reduziu do balanço simpato-vagal em

músicos sob estresse psicossocial, antes da realização de uma apresentação.2

Similarmente, Prinsloo et al.,3,23 utilizando apenas 10 minutos de RAL, verificaram

uma melhora no padrão de VFC tanto em repouso quanto sob estresse cognitivo, em

executivos submetidos a estresse relacionado ao trabalho. Todas essas evidencias,

mostram que uma única sessão de RAL é suficiente para promover efeitos

fisiológicos benéficos.

Além dos efeitos fisiológicos a RAL tem se mostrado um modo eficiente de

modificar os estados emocionais.2,4,5,19 Lagos et al.5 verificaram aumento na

autoconfiança e redução nos sentimentos de tensão, depressão, raiva e fadiga,

assim como da ansiedade somática e cognitiva, em um estudo de caso com um

jogador de golfe. Paul et al.4,19 evidenciaram uma redução na ansiedade traço e

estado, assim como aumento na concentração após o fim de 10 sessões de

treinamento com uma amostra composta por jogadores de basquetebol de nível

nacional. Estes efeitos perduraram por pelo menos um mês após o fim da

intervenção.4,19 Todavia, esses estudos verificaram o efeito da RAL também sob

treinamento.

A RAL apresenta efeitos também de forma aguda.2,3,23 Wells et al.2 utilizando

uma intervenção da RAL com 30 minutos de duração mostraram uma redução da

ansiedade antes de uma apresentação em músicos, principalmente, nos indivíduos

mais ansiosos, atestado tanto por meio de teste de ansiedade auto reportada quanto

por meio do perfil de VFC. Já Sherlin et al.11 utilizando uma intervenção de 15

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minutos verificaram uma redução no estado de ansiedade em sujeitos com altos

níveis de estresse. E Prinsloo et al.3,23 mostraram que apenas 10 minutos de RAL

diminuíram a ansiedade, aumentaram o relaxamento e diminuíram a sonolência de

executivos submetidos ao estresse relacionados ao trabalho. Vale ressaltar que é

sugerido que a utilização conjunta da RAL com tratamentos cognitivos pode melhorar

a capacidade de regulação emocional5 e, por isso, maximizar os benefícios

psicoterápicos no tratamento da ansiedade.2

Em suma, a RAL tem apresentado diversos efeitos fisiológicos positivos,

principalmente, sobre a VFC,1–5,23 sensibilidade barorreflexa1 e pressão arterial,1

assim como efeitos psicológicos benéficos como redução da ansiedade,2–4,23

aumento do relaxamento3,23 e da concentração.19 Estes efeitos ocorreram tanto de

maneira aguda2,3,23 quanto crônica,1,5 e seus efeitos perduraram de um4,19 a três

meses.1

Embora haja um corpo de conhecimento considerável em relação a outras

práticas de meditação,17 as respostas neurais à RAL têm sido pouco exploradas. Até

o presente, apenas dois estudos se propuseram a avaliar seus efeitos sobre a

atividade cerebral,11,12 enquanto outros apenas especulam que ela exerça efeito

sobre o tronco cerebral por meio do nervo vago,2 mas não avaliaram esta hipótese

efetivamente.

O primeiro estudo foi publicado por Sherlin et al.11 onde a atividade cerebral foi

avaliada através do EEG, sendo utilizada uma única sessão de RAL de 15 minutos

de duração com adultos que eram afetados por estresse. Houve um aumento agudo

da potência espectral na banda de alfa e a localização de fonte por meio da eletro

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23

tomografia de baixa resolução mostrou essa mudança ocorreu cingulado anterior

ventral (área de Brodmann 24), um componente sub cortical do sistema límbico,

envolvido no processamento emocional e dimensões afetivas da dor.25

Além disso, também foi evidenciada uma redução espectral na banda de beta

no cingulado posterior retrosplenial e dorsal (áreas de Brodmann 30 e 31,

respectivamente), regiões de transição entre o giro cingulado posterior e o lobo

temporal medial, um componente cortical do sistema límbico que participa na

integração de associação límbica e parietal. Portanto, tais achados fornecem

evidências fisiológicas de que a RAL pode diminuir a excitação cerebral através da

promoção do aumento de alfa e diminuição de beta, sobretudo, em áreas críticas

para a regulação do estresse11. Interessantemente, estes resultados foram obtidos

com sujeitos não familiarizados com a prática da RAL e com uma única intervenção

de apenas 15 minutos,11 pois os estudos envolvendo efeitos neurais das práticas

meditativas são realizados com sujeitos experientes nas suas respectivas praticas.

Nesse sentido, os autores destacam que os efeitos da RAL persistem mesmo após o

fim da sua execução, uma vez que as mudanças neurais verificadas após a

aplicação da RAL.11

Recentemente, Prinsloo et al.12 estudaram os efeitos agudos utilizando uma

intervenção da RAL com apenas 10 minutos de duração, e verificaram que durante a

execução os sujeitos apresentaram maior potência espectral relativa na banda de

frequência de teta e maior relação teta/beta na região frontal, central e parietal (Fz,

Cz e Pz), menor potência espectral relativa na banda de beta em Fz e Cz, sem

mudanças em alfa. Interessantemente, numa análise de correlação envolvendo os

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sujeitos do grupo experimental e comparativo evidenciou-se uma forte correlação

negativa entre a frequência respiratória e a potência espectral relativa de teta em Fz,

Cz e Pz, assim como a relação teta/beta nos mesmo locais. Por outro lado, houve

uma correlação positiva entre a frequência respiratória e a potência espectral relativa

em beta. Em conjunto, esses achados ratificam que a RAL é capaz e promover

mudanças na atividade cerebral sugestiva de estados emocionais positivos.

Ademais, tanto o componente espectral de baixa frequência quanto a potência

espectral total mostraram uma correlação positiva com a potência relativa de teta em

Pz. Isso sugere que as mudanças em teta realmente possam refletir alterações

autonômicas.26–29

Em relação aos efeitos imediatamente pós intervenção, Prinsloo et al.12

evidenciaram que a RAL aumentou a relação das ondas teta/beta na região posterior

e centro-posterior, maior potência espectral relativa de teta na região posterior,

menor potência espectral relativa de beta na região central. Portanto, uma única

sessão com 10 minutos de duração da RAL altera a atividade eletroencefalográfica

sugestiva de aumento na atenção interna e aumento do relaxamento após uma

intervenção.12 Contrariamente aos efeitos cerebrais da RAL, o grupo controle

modificou a atividade cerebral com aumento na potência de beta na região frontal e

central, assim como uma menor relação teta/beta na região frontal, central e parietal.

Tais mudanças cerebrais são sugestivas do aumento do esforço mental e,

possivelmente, aumento da ansiedade durante e após a condição controle.12

Embora os estudos supracitados11,12 tenham obtido resultados promissores,

apresentam alguns aspectos a serem considerados no que diz respeito à

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generalização de seus resultados. Primeiro, um aspecto metodológico importante foi

o pequeno número de eletrodos utilizados.11,12 Um dos estudos12 utilizou apenas três

eletrodos localizados na linha cerebral média o que não considera a relação

hemisférica do cérebro. O outro11 utilizou 19 eletrodos, mas não especificou sua

localização nem o padrão utilizado. Segundo, a forma de análise dos dados

empregada12 não considera a localização dos geradores bioelétricos cerebrais,

apenas a sua localização anatômica no escalpo. Apenas Sherlin et al.11 utilizaram um

método de localização de fonte que identifica os geradores bioelétricos especificando

o local onde houve mudança, contudo, devido ao seu pequeno número de eletrodos

a precisão de localização da fonte fica comprometida.18 Terceiro, os indivíduos

envolvidos nesses estudos estavam sob estresse relacionado ao trabalho12 ou a

outras causas,11 e ainda foram submetidos a estresse cognitivo induzido.12 Ademais

Cahn e Polich17 numa ampla revisão da literatura sobre os estados e traços da

meditação com base em medidas neurais afirmaram que uma topografia do escalpo

é um importante passo para entendermos os efeitos de práticas meditativas, pois o

primeiros estudos utilizaram apenas alguns eletrodos na região occipital ou parietal.

5.1.3. Mecanismos de ação da RAL

Embora a RAL apresente resultados promissores em diferentes aspectos, os

mecanismos de ação pelo qual a mesma atua ainda são pobremente entendidos.2

Devido ao fato de que está técnica estimula a arritmia respiratória sinusal causando

modificações na VFC, de modo geral a explicação dada pelos pesquisadores é que

os desfechos desses estudos são decorrentes da modificação autonômica.2,4–7,22

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A principal linha de explicação encontrada nos estudos é que a RAL cria um

efeito de ressonância pelo qual as oscilações do comando vagal são sincronizadas

com os comandos sob ação do barorreflexo, produzindo aumentos na VFC,4,22 sendo

essa a única explicação existente na maioria dos estudos. Prinsloo et al.23 mostraram

uma melhora na cognição em executivos estressados, e atribuíram tais evoluções a

uma menor taxa respiratória e maior VFC durante o teste cognitivo empregado. Já

Lin et al.1 afirmaram que a redução da pressão verificada em seu estudo ocorreu

devido ao aumento da sensibilidade barorreflexa por ação da RAL gerando uma

regulação mais acurada desta e, além disso, a RAL também aumentou o tônus vagal

e reduziu a excitação simpática o que também contribuiu para esta redução.1

Similarmente aos demais autores, Paul e Garg4 e Paul et al.19 numa amostra

de jogadores de basquete verificaram melhoras na ansiedade traço e estado, auto

eficácia e concentração, e apontaram a melhora na VFC como a responsável por

esse desfecho. Lagos et al.5 também atribuíram os mecanismos das melhoras

emocionais e de desempenho em um jogador de golfe aos efeitos da RAL sobre a

regulação autonômica. Eles afirmam que o treinamento dos barorreceptores

fornecido pela mesma restaura e melhora o controle autonômico o que suporta uma

melhor regulação emocional e coordenação de movimento.5

De modo geral, as bases para esse mecanismo são de que a RAL aumenta a

eficiência do sistema barorreflexo, o que indiretamente modula a reatividade

emocional geral,30 pelo fato de que os estados emocionais positivos são associados

a um melhor perfil de VFC. Além disso, altos níveis do componente de alta

frequência da VFC em repouso indicam habilidade aumentada de inibir a excitação

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simpática,31 aumentando a flexibilidade comportamental32 frente ao estresse e a

ansiedade. Desse modo, um estímulo emocional negativo como a preocupação pode

reduzir a VFC,33 como resultado de uma modulação simpática aumentada. Enquanto

estímulos emocionais positivos, como a aproximação social, são associados com

uma predominância parassimpática.34 Portanto, de acordo com estes autores, a

melhora na VFC pode ajudar na melhora emocional, uma vez que a ansiedade é

relacionada com a habilidade individual de empregar estratégias de regulação de

emoção apropriadas,35,36 e a atividade vagal aumentada melhora a adequação da

emoção ao contexto.37

Nesse sentido, a respeito da redução da ansiedade em músicos sob estresse

psicossocial antes de uma apresentação, Wells et al.2 apontaram que níveis mais

altos de tônus vagal é associado a um maior controle executivo e à habilidade de

inibir respostas emocionais associadas ao medo através de inibição cortical de

estruturas límbicas inferiores.38 No entanto, em seu estudo Wells et al.2 não

avaliaram nenhuma resposta neural, e de modo geral, respaldam as melhoras

emocionais na associação entre emoção e VFC. Seu principal argumento é que com

o impacto sobre os mecanismos fisiológicos de feedback através da RAL, ocorre uma

inibição mais eficiente da excitação associada ao medo, redução da ameaça da

avaliação por terceiros, que por sua vez quebraria o ciclo da ansiedade pré-

performance.2

O fato de a maioria dos estudos2,4–7 apontarem a alteração na modulação

autonômica cardíaca como mecanismo de ação da RAL pode ocorrer uma visão

intervertida da relação entre o padrão de VFC e saúde.10 Uma vez que a VFC é um

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marcador de saúde mental33,34,37,39–41, saúde física42,43 e de bem-estar44, os

pesquisadores parecem ter estabelecido uma relação causal entre VFC e saúde,

onde a primeira parece determinar a segunda.2,4–7 Entretanto, esta relação é

equivocada pelo fato de que a VFC é um marcador de diversos estados e não

necessariamente o agente modificador destes. Em outras palavras, não é a piora no

padrão de VFC que causa as doenças, mas a condição patológica que é responsável

pela redução na VFC.

Entretanto, devido ao amplo espectro de benefícios advindos da RAL a

discussão a respeito dos mecanismos tem crescido.9,10 Nesse sentido, outros

estudos propõem que a atividade cerebral desempenhe um papel central nos efeitos

da RAL.11,12 Prinsloo et al.12 sugerem que as mudanças cerebrais causadas pela

RAL são similares a de outros estudos envolvendo técnicas de meditação diferentes,

e expressa um aumento da atenção interna e o relaxamento, causando um estado no

qual o cérebro fica “calmo e relaxado, embora consciente e alerta”. Estas respostas

são verificadas basicamente pelo aumento na potência espectral de alfa e teta.

Sherlin et al.11 apontam que os mecanismos pelo qual a RAL atua é um aumento na

potência espectral de alfa (relaxamento) e diminuição de beta (excitação), o que

inclui aumento da arritmia respiratória sinusal.

Em seu estudo Prinsloo et al.12 submeteram dois grupos de sujeitos a

intervenções diferentes, um grupo realizava a RAL por 15 minutos utilizando um

aparelho de BFB, enquanto o outro grupo era instruídos a relaxar, respirar em

velocidade normal e focar a atenção no aparelho de BFB (que havia sido modificado

para a condição controle). Seus resultados apontaram que os efeitos neurais da RAL

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persistem mesmo depois da intervenção, provavelmente, pelo fato de os sujeitos

permanecerem focados e atentos à sensação de sua respiração, resultando em uma

atenção sensorial mais alta e, consequentemente, maior potência espectral de teta.12

Embora tenham havido mudanças também no grupo controle, estas foram indicativas

de esforço mental que os sujeitos tinham de fazer para se manter focados e da

ansiedade causada pelo fato de que eles não poderiam adormecer.12 Nesse caso, o

aumento na potência de todas as bandas de frequência do EEG seria resultado de

uma interferência elétrica criada por uma pequena ativação muscular provavelmente

resultante da ansiedade.12

Entretanto, ainda não é clara a conexão entre os efeitos periféricos e centrais

da RAL. Prinsloo et al.12 sugerem que as mudanças evidenciadas nas redes

cerebrais de atenção são devidas a meditação e a integração visuo-motora do guia

da respiração que é mostrado ao indivíduo, e ao seu controle consciente da

respiração. Durante a meditação há uma relação positiva entre as ondas teta e a

ativação autonômica parassimpática.45 Além disso, as mudanças em teta são

apontadas como reflexo de alteração no sistema nervoso autonômico.26–29 Ademais,

um fator fisiológico chave que contribui para a aplicação bem sucedida de técnicas

de meditação como a RAL é a atenção, e desse modo, o envolvimento de redes

cerebrais de atenção.12 Nesse caso, as mudanças na atividade eletroencefalográfica

podem refletir as mudanças na atenção e no relaxamento, além de ser associada a

modulação autonômica.12

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5.2. Regiões cerebrais de interesse

Os dois únicos estudos11,12 que analisaram as respostas cerebrais à RAL

evidenciaram que as mudanças aconteceram no córtex cingulado anterior ventral,

córtex cingulado anterior retrosplenial, córtex cingulado anterior dorsal,11 e em Fz, Cz

e PZ.12 Entretanto, outras regiões cerebrais podem estar envolvidas. Nesse sentido,

Cahn e Polich17 numa ampla revisão da literatura afirmam que a maior limitação para

o entendimento dos efeitos neurais das práticas meditativas, como a RAL, é a falta

de informações topográficas suficientes, pelo fato de que a maioria dos estudos

avaliaram relativamente poucos locais com uma inconsistência na localização

(frontal, parietal, temporal ou occipital). Portanto estudos neurofisiológicos mais

abrangentes são necessários para preencher essa lacuna na literatura. Nesse

sentido, surge a questão de quais outras áreas cerebrais podem estar envolvidas nos

mecanismos e efeitos da RAL. Acredita-se que está técnica possa reduzir a

excitação geral em regiões críticas para a experiência do estresse11 e que os núcleos

de atenção também estejam envolvidos.12 Logo, compilando os achados a ela,

acreditamos que além das áreas do sistema límbico, como córtex cingulado, áreas

do CPF também possam estar envolvidas nos seus efeitos.

Nesse sentido, pode-se especular que a RAL também atua em circuitos

neurais relacionados a interocepção, que diz respeito ao processamento e percepção

de sinais corporais internos (ex. sinais do sistema respiratório, cardíaco, digestivo,

etc.). Uma vez que os sujeitos estão mais conscientes do sinal fisiológico do sistema

respiratório, outrora fora da consciência, regiões cerebrais em níveis de consciência

hierarquicamente mais altos são ativadas.13 Assim, espera-se um aumento na

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atividade do córtex sensorial12 que envia informações para o CPF dorsolateral,13 que

se comunicaria com CPF ventromedial, que por sua vez manda suas projeções

diretas e indiretas para o sistema límbico,46 consequentemente diminuindo a ativação

do hipotálamo.13,46 Dessa forma, os efeitos da RAL começam a surgir, uma vez que o

hipotálamo é uma estrutura de grande importância no controle do estresse,15

envolvido na sinalização hormonal.

Ademais, outra razão pela qual a RAL pode modular a atividade do córtex pré-

frontal dorsolateral e ventromedial se dá pelo fato de que o córtex pré-frontal

dorsolateral é envolvido na atenção direcionada e sustentada13 necessária durante a

aplicação da técnica pois os sujeitos precisam manter sua atenção focada em sua

respiração e no guia de ritmo buscando sincroniza-los. Já o córtex pré-frontal

ventromedial, por sua vez, é associado a avaliação e processamento emocional que

pode estar envolvido na percepção dos estados emocionais durante a RAL, assim

como a modificação destes, podendo estar associado aos efeitos psicológicos

positivos verificados. Outra área que também pode estar envolvida neste mecanismo

é o córtex pré-frontal orbito frontal que é um dos envolvidos no processamento dos

sinais internos e, também, pelo processamento emocional.47

Nesse sentido, os dados disponíveis mostram que o foco cognitivo promovido

pela técnica tem efeito cascata poderoso sobre mecanismos corporais múltiplos.11

Assim, é sugerido que a RAL seja utilizada como tratamento inicial de sujeitos com

disfunção em áreas cerebrais envolvidas no controle emocional e do estresse.11 Vale

salientar que existe uma relação entre execução correta da RAL e os seus desfechos

cerebrais, onde a eficiência na execução da RAL está positivamente associada a

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redução espectral de beta11 e aumento espectral de teta12, assim como na redução

da ansiedade.48 Portanto, para que os efeitos ocorram há a necessidade da

aplicação e execução correta da técnica, o que explicaria uma possível ausência de

efeito em sujeitos inexperientes.

5.3. Eletroencefalografia

Existem diferentes formas de avaliar o funcionamento cerebral como a

ressonância magnética funcional, tomografia por emissão de pósitrons e a

espectroscopia por infravermelho próximo. Entretanto, essas ferramentas

apresentam limitações financeiras, técnicas e logísticas,49 e além disso são

dependentes das respostas hemodinâmicas e/ou metabólicas, o que limita a

resolução temporal.50 Nesse sentido, a EEG se destaca pelo baixo custo, alta

resolução temporal e, principalmente, pela baixa limitação de movimentos durante a

avaliação comparada às outras técnicas, embora não tenha uma boa resolução

espacial.

A atividade elétrica dos neurônios no cérebro produz correntes que chegam ao

escalpo. A EEG oferece a possibilidade de avaliação não invasiva das diferentes

voltagens destes potenciais no escalpo, assim como artefatos não cerebrais

indesejados que tendem a ser exacerbados durante o movimento.51 O sinal do EEG

é transmitido dos eletrodos no escalpo para um amplificador diferencial com o

objetivo de amplificar os potenciais elétricos microscópicos e que são severamente

atenuados pela sua passagem através do crânio.51 Este sinal é coletado e gravado

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continuamente numa frequência alta (tipicamente 256 Hz, mas frequentemente

maior) para fornecer uma alta resolução temporal.51

O sinal bruto do EEG é submetido ao filtro passa alta e passa baixa,

normalmente, em torno de 0,5 Hz e 50 Hz, respectivamente. O filtro passa alta de 50

Hz ajuda a eliminar artefatos elétricos originados de fonte de energia para

funcionamento dos aparelhos (50 - 60 Hz). Tais filtros também afetam o

processamento de frequências próximas, logo, precisa-se de cuidado para garantir

que os pontos de corte de frequência não estejam tão próximos às frequências que

serão estudadas. Esses padrões não causam problemas quando a banda de

frequência de interesse vai de teta a beta, ou seja, onde o intervalo médio das

frequências de interesse é de 4 - 30 Hz.51

A aparência de uma onda típica de um sinal de EEG reflete a atividade rítmica

dos processos sinápticos subjacentes.51 Acredita-se que esta atividade rítmica

represente a atividade sincronizada de grandes assembleias neuronais,

possivelmente reguladas por células talâmicas ditadoras de ritmo 52. Nesse sentido,

áreas corticais anatomicamente distintas produzem uma grande variedade de ritmos

as quais são observadas como componentes do sinal de EEG. Normalmente, utiliza-

se a análise espectral de Fourier para decompor este sinal nas suas bandas de

frequência constituintes e calcular a potência espectral de cada uma dessas

bandas.51 Estas bandas têm sido historicamente categorizadas como Delta (δ; <4

Hz), Teta (θ; 4-8 Hz), Alfa (α; 8-12 Hz) e Beta (β; 13-30 Hz), embora existam

classificações alternativas.53 Ondas lentas como δ são tipicamente associadas ao

sono, enquanto ondas rápidas como beta são associadas a atividade mental e a

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34

vigília. A onda alfa tem sido associada ao relaxamento e a prontidão mental e a onda

teta é associada aos estados meditativos e ao relaxamento profundo.51

5.4. Solução inversa

A atividade eletroencefalográfica gravada no escalpo é evocada por potenciais

pós-sinápticos sincronizados, os quais são localizados nos grupos de células

piramidais.54 Embora o EEG possua uma excelente resolução temporal esta

ferramenta não é capaz de fornecer os geradores bioelétricos, que são os locais

específicos no cérebro que mudaram sua atividade. Por isso, além das análises

espectrais citadas no tópico anterior, técnicas analíticas mais complexas têm sido

desenvolvidas incluindo métodos de localização de fonte as quais buscam identificar

a origem das oscilações na atividade cortical.51

Baseado na distribuição espacial desses potenciais elétricos provenientes do

sinal do EEG, a tomografia eletromagnética padronizada de baixa resolução

(sLORETA) permite a identificação espacial e a análise da atividade cortical cerebral

através dos dados convencionais do EEG.18,55–57 O cálculo aplicado no sLORETA

permite a localização exata das fontes através da tomografia gerando imagens

padrão da densidade da corrente, mesmo com baixa resolução espacial. A descrição

completa dos métodos pode ser encontrada no artigo do Pascual-Marqui et al.18 Esse

programa oferece a localização com erro zero em condições ideais.18,58,59 O

sLORETA é um aprimoramento das tomografias LORETA previamente

desenvolvidas.59

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35

As bases que fundamentam a viabilidade do sLORETA em localizar as fontes

cerebrais a partir do sinal do EEG são os diversos estudos de validação combinando

o LORETA com outros métodos mais conceituados de localização como a

ressonância magnética funcional,60–63 ressonância magnética estrutural64 e a

tomografia por emissão de pósitrons.65,66 Outros tipos de validação desta técnica tem

sido baseado em estudos envolvendo implante invasivos de eletrodos profundos, em

estudos com epilepsia,67–70 e potenciais relacionados à eventos cognitivos.71 É

importante enfatizar que estruturas profundas como o córtex cingulado anterior72 e o

lobo temporal mesial69 podem ser corretamente localizadas com ele.

O sLORETA utiliza computações baseadas num modelo cerebral

probabilístico,56 utilizando o padrão MNI152,73 com uma solução tridimensional

restrita a matéria cinzenta, como determinado pelo atlas probabilístico de Tailarach.74

O posicionamento padrão dos eletrodos no escalpo no padrão MNI152 foi

registrado57,75 e o volume intracerebral dividido em 6239 voxels em uma resolução

espacial de 5 mm dentro da substância cinzenta.18 Por isso, as imagens do

sLORETA representam a atividade elétrica padronizada em cada voxel no espaço

neuroanatômico do Instituto Neurológico de Montreal (MNI) com a exata magnitude

da densidade de corrente estimada. A nomenclatura é realizada de acordo com as

áreas de Brodmann e, também, são reportadas de acordo com o espaço MNI, com

correção do espaço de Talairach.76

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36

6. MATERIAL E MÉTODOS

6.1. Amostra

A amostra foi constituída de 17 indivíduos do sexo masculino, fisicamente ativos e

saudáveis (27,2 ± 8,1 anos; 77,3 ± 11,1 kg; 1,76 ± 0,1 m; 24,9 ± 2,9 kg/m²). Os critérios

de inclusão adotados foram: ter idade ≥18 e ≤45 anos, não possuir experiência em

práticas meditativas, ser fisicamente ativo, não possuir doenças cardiometabólicas, não

possuir qualquer problema de saúde que impeça a realização dos testes ou possa ser

agravado pela realização deles e apresentar níveis de pressão arterial de repouso

≤139/89 mm Hg. Os critérios de exclusão foram: não participar de alguma das etapas do

estudo, abandono voluntario, incapacidade de realizar a RAL ou impossibilidade de

análise dos dados.

A amostra foi selecionada por conveniência, sendo o seu recrutamento realizado

por meio da divulgação em murais e mídias sociais de folders contendo informações

sobre os objetivos e procedimentos da pesquisa e, aqueles que demonstraram interesse

e atenderam os critérios de inclusão foram envolvidos nele. Todos os sujeitos assinaram

o termo de consentimento livre e esclarecido, de acordo com a Resolução 466/12 do

Conselho Nacional de Saúde, sobre as recomendações éticas referentes à realização de

pesquisas envolvendo seres humanos. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética

em Pesquisas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (número do parecer:

707.803).

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37

6.2. Desenho do estudo

As avaliações ocorreram em três ocasiões diferentes (Figura 1). Na primeira

sessão os avaliados foram novamente informados a respeito dos objetivos e

procedimentos do estudo. Os que concordaram em participar e assinaram o termo de

consentimento foram entrevistados para a coleta de dados pessoais, verificação do

nível de atividade física, aferição das medidas antropométricas, familiarização com os

aparelhos e procedimentos utilizados no estudo. Na segunda visita os avaliados foram

alocados em uma sessão de RAL ou controle (CON) em ordem randômica e

contrabalanceada. Antes e após cada sessão onde foi avaliada a VFC, a pressão

arterial, o estado de humor, nível de ansiedade e a EEG em repouso, assim como a

VFC e a EEG durante o período de RAL ou CON. Os testes foram aplicados por

avaliadores experientes e previamente treinados, e com um intervalo mínimo de 48

horas entre eles. Todos os sujeitos foram avaliados no mesmo turno do dia para evitar

efeito das variações circadianas, em uma sala silenciosa com temperatura controlada

em um intervalo de 22°C a 24°C. Todas as etapas do estudo ocorreram em uma sala do

laboratório do Grupo de Estudo e Pesquisa em Biologia Integrativa do Exercício

(GEPEBIEX), situado no Ginásio Poliesportivo I, pertencente ao Departamento de

Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, campus central.

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38

Figura 1 – Desenho do estudo. TCLE = termo de consentimento livre e esclarecido; NAF

= nível de atividade física; RAL = respiração abdominal lenta; CON = controle; EEG =

eletroencefalografia; VFC = Variabilidade da frequência cardíaca; PA = pressão arterial;

QST = questionários.

6.3. Avaliação antropométrica e do nível de atividade física

As medidas antropométricas foram realizadas com os sujeitos descalços, vestindo

o mínimo possível de roupa. A massa corporal e a estatura foram aferidas em uma

balança digital portátil com estadiômetro acoplado Welmy® (W 110 H, Santa Bárbara

d´Oeste, SP, Brasil), com precisão de 0,1 kg e 0,01 cm, respectivamente.

Adicionalmente, através da razão entre o peso e o quadrado da estatura (Kg/m²),

calculou-se o índice de massa corporal. Além disso, foi aplicado o questionário IPAQ

para determinar o nível atividade física habitual dos sujeitos.

6.4. Respiração abdominal lenta

A intervenção com a RAL foi realizada por 20 minutos, onde os sujeitos foram

instruídos a seguir o guia respiratório exibido em um celular. Os sujeitos realizaram a

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RAL em seis ciclos (inspiração e expiração) por minuto que corresponde a frequência de

ressonância para maioria dos sujeitos.1 Durante a sessão experimental os sujeitos foram

inspecionados visualmente para verificar se eles estavam mantendo o ritmo respiratório

solicitado.

Um guia respiratório foi utilizado para manter os sujeitos na taxa respiratória alvo.

Este guia foi aplicado através de um software para celulares (Universal breathing –

Pranayama 2.05, Saagara). Sua apresentação é através de um círculo dividido em duas

partes com cores diferentes (Figura 2), cada uma representando uma fase do ciclo

respiratório, que vai se esvaziando ao mesmo tempo em que são reproduzidos sons

compatíveis com cada fase respiratória (através de fones de ouvido) sendo exibido na

tela pelo tempo correspondente a fase respiratória as palavras “inale” e “exale”. Os

participantes foram instruídos a respirar na taxa indicada pelo guia no celular, assim

como a maneira correta de controle respiratório.

Na condição controle foi realizada uma sessão de relaxamento, onde os sujeitos

permaneceram confortavelmente sentados e foram instruídos a se abster de qualquer

tipo de pensamento ou preocupação e a relaxar o máximo possível, focando sua

atenção a uma marcação em vermelho sobre uma folha de papel fixada na parede à

frente dos sujeitos. Durante esse período, os sujeitos não eram instruídos a não alterar a

sua frequência respiratória, ou seja, mantinham-se do em velocidade normal durante 20

minutos.

As sessões experimentais e controle foram conduzidas da seguinte forma (Figura

3): os sujeitos chegaram ao laboratório e foram preparados para a análise do EEG. Em

seguida, foi realizada a análise da linha de base (10 minutos) dos dados referentes à

frequência cardíaca, VFC e EEG com os sujeitos sentados confortavelmente, com olhos

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abertos. Adicionalmente, ao final dessa fase foi analisada a pressão arterial, nível de

ansiedade e estado de humor. Após estas medidas os sujeitos iniciaram a respectiva

sessão (RAL ou CON) sorteada para aquele dia (20 minutos). Em seguida, eles

permaneceram sentados confortavelmente para análise pós (RAL ou CON) dos dados

referentes à frequência cardíaca, VFC e EEG (10 minutos), além da PA, nível de

ansiedade e estado de humor.

Figura 2 – Guia respiratório fornecido para controle da respiração em seis (6) ciclos por

minuto (A) na fase de inspiração (“inale”) e (B) na fase de expiração (“exale”).

Figura 3 – Desenho das sessões experimentais (RAL = respiração abdominal lenta) e

controle (CON). EEG = eletroencefalografia; VFC = Variabilidade da frequência

cardíaca; PA = pressão arterial; QST = questionários.

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6.5. Análise da atividade cerebral

A atividade cerebral foi avaliada através da técnica de EEG. Cerca de 45

minutos antes da coleta de dados, foi montada uma toca de EEG adaptada ao

tamanho da cabeça dos participantes (Easy-cap, Herrsching, Alemanha), com 64

eletrodos ativos de Ag-AgCl (Act-cap, Herrsching, Alemanha), além de um eletrodo

“terra” (AFz) e um eletrodo de referência (FCz). Os eletrodos foram organizados de

acordo com o sistema internacional EEG 10-20 de modo bilateral sobre todos os

córtices: frontal, parietal, temporal e occipital. Os eletrodos foram posicionados em

Fp1, Fp2, AF7, AF3, AFz (terra), AF4, AF8, F7, F5, F3, F1, Fz, F2, F4, F6, F8, FT9,

FT7, FC5, FC3, FC1, FCz (referência), FC2, FC4, FC6, FT8, FT10, T7, C5, C3, C1,

Cz, C2, C4, C6, T8, TP9, TP7, CP5, CP3, CP1, CPz, CP2, CP4, CP6, TP8, TP10,

P7, P5, P3, P1, Pz, P2, P4, P6, P8, PO7, PO3, POz, PO4, PO8, PO9, O1, Oz, O2,

PO10. A toca foi fixada com estrepe para evitar o deslocamento dos eletrodos

durante a análise, e também é permeável a ar com o objetivo de evitar o aumento do

calor durante a análise. Cada eletrodo foi preenchido com um gel de alta viscosidade

para eletrodos ativos SuperVisc (EasyCap GmhH, Herrsching, Alemanha) com o

objetivo de otimizar a transdução do sinal. Foram utilizados eletrodos “ativos” (Brain

Products, Gilching, Alemanha). Assim sendo, a avaliação só foi iniciada quando

todos os eletrodos apresentaram impedância abaixo de 20 kΩ. Os sinais analógicos

do EEG foram amplificados e convertidos em sinais digitais utilizando um

amplificador Brainamp DC (Brain Vision, Herrsching, Alemanha) e guardados numa

frequência de amostragem de 500 Hz no disco rígido de um computador. As medidas

foram realizadas com o sujeito sentado com os olhos abertos, para permitir

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comparações entre todos os momentos da avaliação. A gravação do EEG foi

realizada durante 10 minutos antes e após, e 20 minutos durante cada sessão.

6.6. Processamento dos dados do EEG

Os dados do EEG foram processados utilizando o Brain Vision Analyzer (Brain

Products, Muchen, Alemanha). Inicialmente, aplicou-se um filtro passa alta de 0,5 Hz

e passa baixa 49 Hz (24 dB/octave). Os dados foram referenciados utilizando como a

nova referência a média de todos os eletrodos. Então, aplicou-se um protocolo

automatizado de exclusão de artefatos que foi configurado da seguinte forma: 1.

gradiente com uma diferença de voltagem máxima permitida entre eletrodos vizinhos

de 50 µV/ms; 2. máxima diferença permitida entre todos os eletrodos de 200 µV, num

intervalo de 200 ms; 3. amplitude mínima e máxima permitida de -200 e 200 µV; e, 4.

checagem de baixa atividade em intervalos de 100 ms, sendo permitido apenas 0,5

µV como a menor atividade. Foram marcados como artefatos e removido das

análises posteriores 200 ms antes a 200 ms depois da infração de qualquer um

desses critérios. Além disso, após à fase de processamento inicial, os dados também

foram segmentados em fragmentos de quatro (4) segundos com sobreposição de

10% e em seguida corrigidos pela linha de base. Os segmentos foram exportados

para análises posteriores no software sLORETA, fornecido pelo Instituto KEY para a

pesquisa cérebro-mente18 (http://www.uzh.ch/keyinst/NewLORETA/LORETA01.htm).

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6.7. Localização de fonte da atividade do EEG

Utilizou-se o software sLORETA (sigla em Inglês para tomografia cerebral

eletromagnética padrão de baixa resolução) para a localização de fonte, que permite

a identificação espacial e a análise da atividade cortical cerebral através dos dados

convencionais do EEG.18,55–57 A atividade eletroencefalográfica gravada no escalpo é

evocada por potenciais pós-sinápticos sincronizados, os quais são localizados nos

grupos de células piramidais.54 Com o sLORETA, torna-se possível determinar a

orientação tridimensional desses potenciais pós-sinápticos altamente sincronizados.

O software é baseado num volume cerebral probabilístico do Instituto Neurológico de

Montreal (MNI), o qual foi digitalizado através de ressonância magnética em uma

resolução de 5-mm. As coordenadas do MNI foram convertidas em coordenadas

“corrigidas” de Talairach, então foram alinhados com o Daemon Talairach. Os voxels

que foram nomeados inequivocamente como matéria cinzenta e aqueles que caíram

inequivocamente dentro do compartimento cerebral foram mantidos. Dessa forma,

foram produzidos 6.239 voxels corticais de substância cinzenta.18 As coordenadas

desse estudo se referirão ao padrão MNI152. As regiões corticais são criadas pela

alocação dos valores brutos dos voxels individuais do sLORETA em suas respectivas

áreas de Brodmann ou giros cerebrais baseado nas coordenadas digitalizadas do

Atlas de Talairach.77

Primeiro, as coordenadas dos 64 eletrodos foram aplicadas a um padrão

anatômico probabilístico do Atlas de Talairach (Centro de Imagem McConnell,

Instituto Neurológico de Montreal e Universidade de McGill). Estas coordenadas de

Talairach foram então utilizadas para calcular a matriz de transformação sLORETA.

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Após a transformação para calcular a média de referência da atividade do EEG, uma

quantidade mínima de 25 segmentos de 4 segundos livres de artefatos foram

utilizados para calcular o “espectro-cruzado” no sLORETA para cada sujeito das

bandas: delta (1,5 - 6 Hz), teta (6,5 - 8 Hz), alfa-1 (8,5 - 10 Hz), alfa-2 (10,5 - 12 Hz),

beta-1 (12,5 - 18 Hz), beta-2 (18,5 - 21 Hz) e beta-3 (21,5 - 30 Hz)78 e potência total.

Utilizando a matriz de transformação sLORETA, o espectro-cruzado de cada sujeito e

para cada banda de frequência foram então transformadas nos arquivos sLORETA.

Isto resultou na respectiva distribuição cortical tridimensional dos geradores elétrico

neuronais para cada sujeito.18

Foram realizadas análises planejadas entre os diferentes momentos das

sessões através do teste t pareado no sLORETA para analisar as mudanças

ocorridas na densidade de corrente em cada voxel. A significância estatística foi

avaliada através de um teste de randomização não paramétrica.79 Foram

considerados significativos os voxels com valores excedendo o Lcritico para um P<0,05

definido por 5.000 randomizações. Para corrigir por múltiplas comparações, um teste

não paramétrico unicaldal foi utilizado para definir um limiar crítico de significância

(Lcritico). Mapas estatísticos foram mostrados com os valores de t para cada um dos

voxels.

6.8. Análise da frequência cardíaca

Os dados relativos à frequência cardíaca foram adquiridos por meio de um

frequencímetro Polar® (RS800cx, Kempele, Finlândia), cujo eletrodo com transmissor foi

posicionado no tórax dos sujeitos (na altura do osso “esterno”) após aplicação de água

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para facilitar a condução do sinal. Todos os dados foram transmitidos desse eletrodo

para um relógio colocado próximo ao sujeito, e posteriormente foi transmitido para um

computador através de uma interface USB/infrared, onde foram realizadas as análises

posteriores da frequência cardíaca absoluta e a VFC (domínio do tempo e da

frequência).

Os dados relativos à VFC foram adquiridos por 10 minutos antes e depois de

cada sessão, e os 20 minutos durante (RAL ou CON), com os sujeitos confortavelmente

sentados. Foi considerado para análise o trecho de cinco minutos mais estável dos 10

coletados antes e após cada sessão. Em relação ao momento durante a RAL e CON foi

escolhido os cinco minutos mais estável dos 10 minutos intermediários dos 20

coletados, sendo dispensados os cinco minutos iniciais e finais.

No domínio do tempo foram avaliados: os intervalos R-R, o desvio padrão dos

intervalos R-R consecutivos (SDNN), a raiz quadrada da média da soma dos quadrados

das diferenças entre intervalos RR normais adjacentes (RMSSD) para cada 30

segundos e o percentual de pares de intervalos RR que variaram mais de 50

milissegundos (pNN50).

No domínio da frequência foram analisados os índices da análise espectral dos

componentes de baixa frequência (0,04 - 0,15 Hz) que tem sido associado com a

atividade nervosa simpática e parassimpática, alta frequência (0,15 - 0,50 Hz) que

reflete a atividade parassimpática, a potência total que é a soma da potência absoluta

em todas as bandas de frequência da VFC e a razão baixa frequência/alta frequência.

Os dados foram analisados utilizando o software Kubios HRV (2.0) por meio da

integração da densidade de potência espectral nas respectivas faixas de frequência.24

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Quando necessário, os artefatos foram removidos através da interpolação dos intervalos

RR.80

6.9. Avaliação da pressão arterial

A análise da pressão arterial foi realizada através de um monitor de pressão

arterial digital Omron® (742 INT, São Paulo, SP, Brasil), com braçadeira inflável, no

braço esquerdo (altura da artéria braquial) em três (3) mensurações com intervalo de

um (1) minuto entre elas. Tais medidas foram realizadas com o sujeito sentado e os

dados foram apresentados na forma de média (para medidas pré e pós RAL ou

CON).

6.10. Análise do estado de humor

Após as medidas de base do EEG, VFC e pressão arterial antes e após a

intervenção (RAL ou CON) foi mensurado o estado de humor através da escala de

humor de Brunel (BRUMS),81 traduzida e validada para o português.82 BRUMS contém

24 indicadores simples de humor, tais como as sensações de raiva, disposição,

nervosismo e insatisfação que são perceptíveis pelo indivíduo que está sendo avaliado.

As 24 afirmações são divididas em seis domínios: fadiga, tensão, vigor, depressão,

confusão e raiva.82 Cada domínio é composto por quatro indicativos de humor que

variam de 0 a 16 pontos. As respostas são dadas em escala tipo likert (0= nada; 1= um

pouco; 2= moderadamente; 3= bastante; 4= extremamente) e leva cerca de um a dois

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minutos para ser respondido. A análise foi realizada por meio da comparação da

pontuação de cada domínio (0-16 pontos) antes e após cada respectiva.

6.11. Análise do nível ansiedade

Juntamente com o estado de humor antes e após a intervenção (RAL ou CON)

foram mensurados os níveis de ansiedade traço e estado através do inventário de

ansiedade de Spielberger83 validado para português.84 Cada componente consiste de 20

itens auto reportados utilizando uma escala likert de 4 pontos variando de 1

(“absolutamente não”) à 4 (“muitíssimo”). Isto permite uma pontuação total variando de

20 aos 80 pontos, sendo que os valores mais altos indicam maiores níveis de

ansiedade. Os escores para as perguntas de caráter positivo são invertidos, por

exemplo, se o paciente responder em um dessas questões o valor 4, atribui-se o valor 1

na codificação. Assim, para essas questões positivas os valores das respostas ficam: 4

= 1; 3 = 2; 2 = 3; 1 = 4. Para o inventário de ansiedade estado as perguntas negativas

são: 3, 4, 6, 7, 9, 12, 13, 14, 17, 18; e as positivas são: 1, 2, 5, 8, 10, 11, 15, 16, 19, 20.

Para o inventário de ansiedade traço, as perguntas negativas são: 2, 3, 4, 5, 8, 9, 11, 12,

14, 15, 17, 18, 20; e as positivas são: 1, 6, 7, 10, 13, 16, 19.

6.12. Análise estatística

Os dados referentes ao EEG foram analisados de acordo com o descrito na

seção “localização de fonte da atividade do EEG”. Os dados apresentaram normalidade

quanto a sua distribuição atestada pelo teste de Shapiro-Wilk. Dessa forma, estes são

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apresentados como média e desvio padrão. A ANOVA two-way com medidas repetidas

foi utilizada para comparar os dados das bandas espectrais da VFC (2x3; condição v.

momento), assim como os valores de pressão arterial, nível de ansiedade traço, nível de

ansiedade estado e estado de humor (2x2; condição v. momento). Os fatores utilizados

para a comparação foram a condição (RAL e CON) e o momento (pré, durante e pós). A

esfericidade dos dados foi verificada por meio do teste de Mauchly, e quando está não

foi assumida, adotou-se a correção de Greenhouse-Geisser. O post hoc de Tukey foi

utilizado para identificação pontual das diferenças. Aplicou-se ajuste logarítmico para os

dados de VFC, com o objetivo de permitir comparações através de estatística

paramétrica que assumem distribuições normais.85 O pacote estatístico STATISTICA®

7.0 foi utilizado para realizar as análises e adotou-se um P ≤ 0,05.

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7. RESULTADOS

7.1. Variáveis neurais

Os dados referentes as respostas neurais foram apresentadas em sub tópicos

para facilitar a compreensão. Um sujeito foi excluído da amostra devido a problemas

técnicos e outro devido à baixa qualidade dos dados gravados, com excessiva

quantidade de artefatos resultando numa quantidade de dados livres de artefatos

insuficientes para a análise. Assim, os dados são referentes aos diversos testes t

planejados com amostra de 15 sujeitos.

7.1.1. Comparação da atividade cerebral DUR v. PRE na condição experimental

Houve uma redução na banda de frequência de beta 2 e 3 durante (DUR) a

execução da RAL comparado à medida de base (PRE). As mudanças foram no giro

frontal e orbital (área de Brodmann 10 e 11), assim como no córtex cingulado anterior

(área de Brodmann 32), sendo o giro frontal a área que sofreu a maior mudança tanto

em beta 2 quanto 3 (Figura 4 e Figura 5, respectivamente). Nas demais bandas de

frequência não houve mudança significativa: delta (t= -0,615), teta (t= 0,253), alfa-1 (t=

0,386), alfa-2 (t= -0,353), beta-1 (t= 0,567) e potência total (t= -0,526), onde o valor de t

para o Lcritico (P<0,05) = -0,802 (DUR<PRE) ou 0,808 (DUR>PRE).

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Figura 4 – Mapa de estatística paramétrica de diferença do sLORETA em beta-2

(18,5 - 21 Hz)78 comparando o momento durante (DUR) a execução da respiração

abdominal lenta (RAL) com antes (PRE) dela (n = 15). A cor azul indica a atividade

diminuída durante a RAL no giro frontal e orbital (área de Brodmann 10 e 11;

P<0,01), e no córtex cingulado anterior (área de Brodmann 32; P<0,05). As letras

representam a direção, a saber: L= esquerda, R = direita, A = anterior, P= posterior e

S = superior.

A Tabela 1 exibe todos os voxels que atingiram o Lcritico para beta 2 e sua

localização dentro das coordenadas do Instituto Neurológico de Montreal (MNI). Ao todo

110 voxels reduziram significativamente beta-2, 73 deles no hemisfério direito, 35 no

esquerdo e 2 centrais. Sendo 46 no giro frontal superior (22 na área de Brodmann 10 e

24 na área de Brodmann 11), 38 no giro frontal medial (22 na área de Brodmann 10 e 16

na área de Brodmann 11), 18 no córtex cingulado anterior (18 na área de Brodmann 32

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e 2 na área de Brodmann 10), 5 no giro frontal médio (3 na área de Brodmann 10 e 2 na

área de Brodmann 11) e 1 no giro orbital (área de Brodmann 11).

Tabela 1 - Áreas cerebrais que atingiram o limiar de significância para menor

atividade de beta-2 (18,5 - 21 Hz)78 durante (DUR) a execução da respiração

abdominal lenta comparando com antes dela (PRE), de acordo com a análise voxel-

a-voxel do sLORETA.

Coordenadas do MNI (mm) †

Valor estatístico (t)

Estrutura Lobo Área de

Brodmann X Y Z

Giro frontal Medial

Frontal 10 5, 10 50, 55 -10,-5 -0,83 a -0,92

Giro frontal Medial

Frontal 11 -10, -5, 5, 10 50, 55, 60,

65 -15, -

10 -0,81 a -0,92

Giro frontal superior

Frontal 10 -10, -5, 5, 10,

15, 20, 25 45, 50, 55,

60, 65 -10, -5,

0 -0,81 a -0,92

Giro frontal superior

Frontal 11 -10, -5, 5, 10,

15, 20, 25 50, 55, 60,

65 -20, -

15, -10 -0,81 a -0,91

Giro frontal médio

Frontal 10 25 50, 55 -10, -5 -0,84 - 0,85

Giro frontal médio

Frontal 11 20, 25 45, 50 -10, -5 -0,84 - 0,86

Giro orbital Frontal 11 10 55 -20 -0,85

Cingulado anterior

Límbico 10 -10, 10 50 0 -0,83 à -0,88

Cingulado anterior

Límbico 32 -10, -5, 0, 5,

10, 15 40, 45, 50 -5, 0 -0,82 à -0,90

Nota: Os valores t que ultrapassaram Lcritico (P<0,05) = -0,802 e Lcritico (P<0,01) = -0,909 foram

considerados significativos. † = origem na comissura anterior. Valor de X negativo representa à

esquerda e positivo à direita. Valor de Y negativo representa posterior e positivo representa

anterior. Valor de Z negativo representa inferior e positivo representa superior.

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Figura 5 – Mapa de estatística paramétrica de diferença do sLORETA EM beta-3

(21,5 - 30 Hz) comparando o momento durante (DUR) a execução da respiração

abdominal lenta (RAL) com antes (PRE) dela (n = 15). A cor vermelha indica

aumento da atividade e a cor azul indica a diminuição da atividade que foi

significativa em beta-3 (21,5 - 30 Hz)78 durante a RAL no giro frontal (área de

Brodmann 10 e 11; P<0,05) e no córtex cingulado anterior (área de Brodmann 32;

P<0,05). As letras representam a direção, a saber: L= esquerda, R = direita, A =

anterior, P= posterior e S = superior.

A Tabela 2 exibe todos os voxels que atingiram o limiar de significância estatística

para beta 3, assim como a sua localização dentro das coordenadas MNI. No total 43

voxels mostraram redução de beta-3, 17 deles no hemisfério esquerdo, 2 no centro e 24

no direto. Sendo 7 no giro frontal superior (área de Brodmann 11), 6 no giro frontal

superior (área de Brodmann 10), 12 no giro frontal medial (área de Brodmann 10), 12 no

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giro frontal medial (área de Brodmann 11) e 6 no córtex cingulado anterior (área de

Brodmann 32).

Tabela 2 - Áreas cerebrais que atingiram o limiar de significância para menor

atividade de beta-3 (21,5 - 30 Hz)78 durante (DUR) a execução da respiração

abdominal lenta comparando com antes dela (PRE), de acordo com a análise voxel-

a-voxel do sLORETA.

Coordenadas do MNI (mm) †

Estrutura Lobo Área de

Brodmann X Y Z

Valor estatístico (t)

Giro frontal Medial

Frontal 10 -10, -5, 5,

10, 15 50, 55 -10,-5, 0 -0,80 a -0,83

Giro frontal Medial

Frontal 11 -5, 5, 10 50, 55, 60, 65

-15, -10 -0,81 a -0,84

Giro frontal superior

Frontal 10 -5, 5, 10 60, 65 -10, -5 -0,81 a -0,83

Giro frontal superior

Frontal 11 -5, 5, 10,

15 55, 60,

65 -15, -10 -0,81 a -0,83

Cingulado anterior

Límbico 32 -5, 0, 5 45, 50 -5, 0 -0,80 à -0,82

Nota: Significância definidos como os valores t que ultrapassaram: Lcritico (P<0,05) = -0,802 e

Lcritico (P<0,01) = -0,909. † = origem na comissura anterior. Valores de X negativo representa à

esquerda e positivo à direita. Valores de Y negativo representa posterior e positivo representa

anterior. Valores de Z negativo representa inferior e positivo representa superior.

7.1.2. Comparação da atividade cerebral POS v. PRE na condição experimental

Houve uma redução na banda de frequência de beta 2 após a execução da RAL

comparada ao momento antes (PRE) dela. As mudanças foram no giro frontal (área de

Brodmann 10 e 11) e córtex cingulado anterior (área de Brodmann 32), sendo o giro

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frontal a área que sofreu a maior mudança em beta 2 (Figura 6). A Tabela 3 expõe todos

os voxels que atingiram o Lcritico para beta 2, assim como a sua localização dentro das

coordenadas MNI. Nas demais bandas de frequência não houve mudança significativa:

delta (t=-0,637), teta (t=-0,373), alfa-1 (t=-0,450), alfa-2 (t=-0,350), beta-1 (t=-0,452),

beta-3 (t=-0,553) e potência total (t=-0,408), onde o valor de t para o Lcritico (P<0,05) = -

0,721 (POS<PRE) ou 0,728 (POS>PRE).

Figura 6 – Mapa de estatística paramétrica de diferença do sLORETA em beta-2

(18,5 - 21 Hz)78 comparando o momento após (POS) a execução da respiração

abdominal lenta (RAL) com antes (PRE) dela (n = 15). A cor azul indica a atividade

diminuída durante a RAL no giro frontal (área de Brodmann 10 e 11; P<0,05) e no

córtex cingulado anterior (área de Brodmann 32; P<0,05). As letras representam a

direção, a saber: L= esquerda, R = direita, A = anterior, P= posterior e S = superior.

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No total 31 voxels mostraram redução de beta-2, 30 deles no hemisfério

esquerdo. Sendo 1 no giro frontal superior (área de Brodmann 11), 5 no giro frontal

superior (área de Brodmann 10), 8 no giro frontal medial (área de Brodmann 10), 6 no

giro frontal medial (área de Brodmann 11) e 11 no córtex cingulado anterior (área de

Brodmann 32).

Tabela 3 - Áreas cerebrais que atingiram o limiar de significância para menor

atividade de beta-2 (18,5 - 21 Hz)78 após (POS) a execução da respiração abdominal

lenta comparado com antes dela (PRE), de acordo com a análise voxel-a-voxel do

sLORETA.

Coordenadas do MNI (mm) †

Estrutura Lobo Área de

Brodmann X Y Z

Valor estatístico (t)

Giro frontal Medial

Frontal 10 -15, -10,

-5 50, 55 -10, -5, 0 -0,72 a -0,75

Giro frontal Medial

Frontal 11 -5 50, 55, 60, 65

-15, -10 -0,72 a -0,74

Giro frontal superior

Frontal 10 -10, -5 55, 60,

65 -10, -5, 0 -0,72 a -0,73

Giro frontal superior

Frontal 11 -5 65 -10 -0,73

Cingulado anterior

Límbico 32 -15, -10,

-5, 0 45, 50 -5, 0 -0,72 a -0,75

Nota: Significância definidos como os valores t que ultrapassaram: Lcritico (P<0,05) = -0,721 e

Lcritico (P<0,01) = -0,864. † = origem na comissura anterior. Valores de X negativo representa à

esquerda e positivo à direita. Valores de Y negativo representa posterior e positivo representa

anterior. Valores de Z negativo representa inferior e positivo representa superior.

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7.1.3. Comparação da atividade cerebral DURANTE v. PRE na condição controle

Não houve mudança significativa em nenhuma das bandas de frequência na

condição controle durante relaxamento (P>0,2), comparado ao momento antes dele

(PRE): delta (t=-0,490), teta (t=0,346), alfa-1 (t=1,017), alfa-2 (t=0,303), beta-1 (t=-

0,541), beta-2 (t=-0,520), beta-3 (t=-0,984) e potência total (t=0,329), onde o valor de t

para o Lcritico (P<0,05) = -1,095 (DUR<PRE) ou 1,096 (DUR>PRE).

7.1.4. Comparação da atividade cerebral POS v. PRE na condição controle

Similarmente ao momento durante, também não houve mudança significativa em

nenhuma das bandas de frequência na condição controle após relaxamento (P>0,2),

comparado ao momento antes dele (PRE): delta (t=-0,605), teta (t=-0,250), alfa-1

(t=0,434), alfa-2 (t=-0,368), beta-1 (t=-0,592), beta-2 (t=-0,429), beta-3 (t=-0,787) e

potência total (t=-0,389), onde o valor de t para o Lcritico (P<0,05) = -1,019 (POS<PRE) ou

1,011 (POS>PRE).

7.2. Variáveis psicológicas

O nível de ansiedade traço médio dos sujeitos foi de 33,9 ± 5,7 (n=17). A

ANOVA two-way com medidas repetidas (Figura 4) mostrou que houve efeito da

condição [F (1, 16) =4,83; P = 0,04] sobre o nível de ansiedade estado, sem efeito do

momento [F (1, 16) =0,043; P > 0,8] nem da interação condição/momento [F (1, 16) =0,41;

P > 0,8]. O post hoc de Tukey mostrou que o estado de ansiedade nos momentos

pre e pós na condição experimental foram maiores que o momento pre e pós da

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condição controle (P < 0,02). Os resultados referentes ao estado de humor são

expostos na Tabela 4.

Figura 7 – Comparação do nível de ansiedade estado entre os momentos PRE e

POS na condição experimental (EXP) e controle (CON; n=17). & = efeito da condição

(P=0,04); * = diferença estatisticamente significativa comparado ao momento PRE

controle (P<0,02); # = diferença estatisticamente significativa comparado ao momento

POS controle (P<0,02).

Tabela 4 - Comparação (ANOVA two-way com medidas repetidas) dos domínios do

estado humor antes (PRE) e após (POS) a sessão experimental e controle (n=17).

Domínios Experimental Controle

PRE POS PRE POS P

Tensão 2,59 ± 1,37 2,59 ± 0,94 2,41 ± 1,66 2,12 ± 1,36 Ns

Depressão 0,71 ± 0,85 0,71 ± 0,85 0,41 ± 0,71 0,53 ± 0,80 Ns

Raiva 2,41 ± 1,42 2,41 ± 1,12 2,59 ± 1,28 2,94 ± 1,14 Ns

Vigor 4,41 ± 1,62 3,00 ± 1,06* 3,29 ± 1,76 3,00 ± 1,54* <0,02

Fadiga 2,71 ± 1,31 2,29 ± 0,99 2,59 ± 1,12 2,59 ± 1,50 Ns

Confusão mental 2,59 ± 1,54 2,06 ± 1,14 2,53 ± 1,59 2,00 ± 1,41 Ns

Nota: * = diferença estatisticamente significativa comparado ao momento PRE (experimental).

Ns = diferença não significativa.

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7.3. Variáveis cardiovasculares

Um indivíduo foi excluído das análises de PAS e PAD devido a falha no

monitor de pressão (n=16). A ANOVA two-way com medidas repetidas da PAS

mostrou que não houve efeito estatisticamente significativa da condição [F (1, 15)

=0,41; P > 0,5] nem do momento [F (1, 15) =3,99; P > 0,6], mas houve efeito da

interação condição/momento [F (1, 15) =6,21; P = 0,02]. Entretanto, o post hoc de

Tukey não identificou mudanças em nenhum dos pontos (P > 0,07). Sobre a PAD

houve efeito do momento [F (1, 15) =10,27; P < 0,006], mas sem efeito da condição [F

(1, 15) =0,42; P > 0,5] nem da interação condição/momento [F (1, 15) =2,29; P > 0,1]. O

post hoc de Tukey mostrou que a PAD foi menor na condição pre experimental que a

pós (P < 0,006), assim como pós controle (P < 0,009).

Figura 8 – Comparação do nível de pressão arterial sistólica (A) e diastólica (B) entre

os momentos PRE e POS a condição experimental (EXP) e controle (CON). # = efeito

da interação condição/momento (P = 0,02); & = efeito do tempo (P < 0,006); * =

diferença estatisticamente significativa comparado ao momento PRE experimental

(P<0,009).

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Os resultados referentes aos efeitos da RAL sobre o controle autonômico

cardíaco são expostos na Tabela 5. Três indivíduos foram excluídos das análises de

VFC devido ao excesso de artefatos, impossibilitando a análise dos dados (n=14).

Tabela 5 - Comparação dos índices de variabilidade da frequência cardíaca no

domínio do tempo e da frequência entre a sessão experimental e controle (n=14).

VARIÁVEIS CONDIÇÃO PRE DURANTE POS

Frequência cardíaca (bpm)

Experimental 63,79 ± 8,59 65,88 ± 7,91 60,59 ± 6,91*,†

Controle 61,87 ± 10,12† 60,19 ± 10,1*,† 60,55 ± 9,11†

Intervalo RR (ms)

Experimental 960,98 ± 124,78 936,43 ± 103,90* 1010,59 ± 114,25*,†

Controle 999,59 ± 151,24† 1027,35 ± 158,12*,† 1022,25 ± 138,66*,†

LogSDNN (ms) Experimental 1,80 ± 0,13 2,04 ± 0,12* 1,90 ± 0,16*,†

Controle 1,88 ± 0,19† 1,87 ± 0,16† 1,93 ± 0,24*,†

LogRMSSD (ms) Experimental 1,67 ± 0,15 1,84 ± 0,15* 1,73 ± 0,17†

Controle 1,75 ± 0,25*,† 1,73 ± 0,19† 1,75 ± 0,20*,†

pNN50 (%) Experimental 29,81 ± 14,65 42,65 ± 16,11* 33,91 ± 15,0†

Controle 35,89 ± 23,07† 33,77 ± 18,16† 34,63 ± 17,4†

Log Baixa frequência (ms²)

Experimental 3,26 ± 0,22 3,98 ± 0,23* 3,40 ± 0,35†

Controle 3,32 ± 0,40† 3,34 ± 0,26† 3,39 ± 0,37†

Log Alta frequência (ms²)

Experimental 2,88 ± 0,31 2,92 ± 0,36 2,97 ± 0,35

Controle 3,00 ± 0,49 2,95 ± 0,36 2,98 ± 0,39

Log Baixa frequência / Alta frequência (ms²)

Experimental 1,14 ± 0,11† 1,39 ± 0,14 1,15 ± 0,10†

Controle 1,12 ± 0,14† 1,14 ± 0,09† 1,14 ± 0,11†

Log Potência total (ms²)

Experimental 3,59 ± 0,25† 4,08 ± 0,24 3,77 ± 0,32†

Controle 3,72 ± 0,38† 3,71 ± 0,31† 3,84 ± 0,47*,†

Nota: * = diferença estatisticamente significativa comparado ao momento PRE experimental (P<0,04); † = diferença estatisticamente significativa comparado ao momento DURANTE experimental (P<0,04);

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8. DISCUSSÃO

O objetivo deste trabalho foi verificar o efeito da RAL sobre a atividade cerebral,

repostas emocionais e cardiovasculares em sujeitos inexperientes em técnicas

meditativas. Os nossos principais achados foram que, mesmo sem alterações no estado

de ansiedade nem de humor, a RAL diminuiu a potência espectral da banda de beta no

giro frontal, giro orbital e no córtex cingulado anterior, e também aumentou a modulação

cardíaca vagal.

Bailey e Bremer86 mostraram que a estimulação do nervo vago modifica a

atividade elétrica no córtex orbital. Houve uma redução em beta 2 no giro orbital (área

de Brodmann 11). Assim, uma vez que a RAL estimula o barorreflexo e o sistema

nervoso autonômico, gerando a arritmia respiratória sinusal, podemos especular que a

redução em beta no córtex orbital seja resultado da estimulação vagal produzida pela

RAL. De fato, evidenciamos melhoras na VFC, indicativa de aumento na modulação

vagal durante a RAL.

No presente estudo, evidenciamos uma redução em beta alta (2 e 3),87 que é

exibida durante alerta, euforia e também é atribuída ao processamento de sinais

sensoriais,88 no giro frontal, córtex orbital e cingulado anterior. Estas mudanças

evidenciam a modulação de áreas envolvidas no controle emocional,47 e podem ser

subjacentes aos efeitos psicológicos decorrentes da RAL. Apesar de não haver

mudanças na ansiedade e no humor, a redução de beta nestas regiões, que é exibida

também durante o estresse,87 indicam que este é um possível caminho neural pela qual

a RAL diminui o estresse,5 aumenta o afeto,5 autoconfiança5 e auto eficácia.4 Além

disso, evidências mostram que a RAL reduz a dor em pacientes com fibromialgia.8

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Nesse sentido, o giro frontal também é envolvido no processamento de sinais internos e

inteligência emocional,47 assim, uma redução na atividade dessa região pode

representar uma inibição de inputs periféricos e na conscientização desses sinais,

podendo ser um dos mecanismos subjacente à redução da dor, assim como pode ser

outra forma pela qual as melhoras emocionais são geradas.

Recentemente, Leher e Gevirtz9 revisaram os mecanismos da RAL, onde

hipotetizou-se que está estimula o canal vagal aferente, atingindo áreas cerebrais

profundas como amigdala, hipocampo e insula, mas também regiões corticais no córtex

orbito frontal. Portanto, baseado no aumento vagal verificado na modulação autonômica

cardíaca e a mudança na atividade do córtex orbito frontal, os resultados do presente

estudo corroboram a hipótese proposta por Leher e Gevirtz.9 A RAL gera vibrações no

sistema cardiovascular que é transmitida ao nodo cardíaco sinoatrial e barorreceptores

aumentando a arritmia respiratória sinusal.9 Este estímulo no canal vagal aferente que

atinge o córtex pré-frontal e cingulado anterior que responde aumentando a VFC, além

de outras áreas profundas, atuando em um ciclo de retroalimentação positiva, onde

aumentos adicionais na VFC são gerados por meio do feedback do coração para o

sistema nervoso autonômico, por meio do canal vagal aferente,9 e deste para o sistema

nervoso central. Nossos resultados corroboram os achados de outros estudos

envolvendo diferentes técnicas de meditação, utilizando tanto o EEG como diversas

técnicas de neuroimagem.17 Adicionalmente, confirmando nossos resultados, estudos

sobre os correlatos neurais da modulação autonômica verificaram, por meio de imagens

de ressonância magnética funcional e tomografia por emissão de pósitrons, que a

modulação vagal é associada à atividade cerebral, dentre outras regiões, à áreas

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corticais como o córtex pré-frontal medial, ventromedial, dorsolateral e dorso medial e

sub corticais como o córtex cingulado anterior.38,89

Embora vários estudos tenham mostrado que a RAL reduz o estado de

ansiedade,2,4,5,11,23 no presente estudo não verificamos mudanças nesta variável. Essa

divergência de resultados pode ser devida ao fato de em nossa amostra os sujeitos

possuíam um nível de ansiedade considerado normal, tanto a ansiedade traço (33,9 ±

5,7 v. 34,89 ± 9,19; resultado e referência, respectivamente) quanto a ansiedade estado

(34,1 ± 5,1 V. 35,72 ± 10,4; resultado e referência, respectivamente).90 Os estudos que

verificaram mudança na ansiedade utilizaram como critério de inclusão o fato dos

sujeitos serem submetidos a estresse crônico,11,23 estando pelo menos dois desvios

padrão acima da média considerada normal. Adicionalmente, Wells et al.2 e Sherlin et

al.48 observaram que o nível de ansiedade prévio à intervenção está associado à

capacidade da RAL em reduzi-la, ou seja, sujeitos altamente ansiosos experimentam

redução enquanto aqueles com baixos níveis de ansiedade não sofrem mudanças.

Portanto, uma vez que os sujeitos não apresentaram alterações na ansiedade, os

mesmos eram menos propensos a apresentar reduções com a utilização da RAL.

Em relação ao humor, a única alteração significativa foi a redução do vigor, sem

mudanças nos domínios de tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão. A redução no

vigor experimentada no presente estudo pode ter sido devido a duração da sessão de

avaliação onde os procedimentos duravam cerca de 1h45min (montagem do EEG,

medidas PRE e POS, e intervenção/controle). Até o presente momento, apenas um

estudo de caso conduzido por Lagos et al.5 verificaram a melhora nos domínios de

tensão, depressão, raiva e fadiga após 10 semanas de intervenção com um jogador de

golfe de 14 anos que sofria de ansiedade pré-competitiva. A falta de alterações no

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humor pode ser também devida às características dos sujeitos que possivelmente não

tinham alterações negativas no humor, considerando que eles não possuíam alterações

na ansiedade, o que não pode ser comparado pois não existem valores normativos para

essa medida.

Similarmente ao evidenciado pela literatura,1–5,12,23 a RAL mostrou-se capaz

de modular a atividade do sistema nervoso autonômico através das mudanças

evidenciadas na VFC. O aumento no SDNN, RMSSD e pNN50 durante a execução

da RAL indicam uma maior modulação parassimpática, mesmo com a redução no

intervalo RR.24 Além disso, o nível de SDNN, RMSSD e pNN50 exibidos durante a

RAL foram maiores que todas as medidas da condição controle. Os índices da VFC

no domínio da frequência podem indicar maior modulação vagal, pois, mesmo sem

mudança no componente de alta frequência, houve um aumento no espectro de

baixa frequência, que é associada a modulação parassimpática e simpática, e na

potência total.24

Embora o componente de baixa frequência seja associado a ambos os ramos

do sistema nervoso autonômico, acreditamos que o aumento neste índice seja

devido a modulação vagal pois todos os indicadores do domínio do tempo (SDNN,

RMSSD e pNN50) mostraram um aumento da modulação parassimpática e, além

disso, o componente de baixa frequência é associado positivamente à sensibilidade

barorreflexa,1 que reflete a capacidade do SNA em modular a pressão arterial.

Adicionalmente, o aumento no componente de baixa frequência com a RAL tem sido

um desfecho comum associado ou não ao aumento na alta frequência, de forma

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aguda e crônica.1,3–5 Contudo, até o presente apenas um estudo avaliou as

mudanças na VFC durante a RAL,3 e também verificou aumento vagal.

A melhora na VFC gerada durante a RAL perdurou mesmo após o fim da

execução da mesma, sendo evidenciada a maior modulação vagal pela menor

frequência cardíaca, além de maior intervalo RR e SDNN, sem qualquer mudança na

condição controle. A melhora na VFC após uma sessão ou treinamento com a RAL é

melhor descrita na literatura do que as alterações na VFC que ocorrem durante a sua

execução, apresentando a mudança mais consistente das variáveis analisadas. Além da

VFC a RAL tem demonstrado aumentar a modulação vagal também pela análise da

condutância galvânica da pele, pressão arterial e sensibilidade barorreflexa, de forma

aguda e crônica, em repouso ou sob estresse.1–5,12,23 Contudo, esse é o primeiro estudo

a mostrar que está técnica é capaz de melhorar a VFC mesmo em indivíduos saudáveis

e fisicamente ativos, que apresentam maiores níveis de VFC comparado a sujeitos

sedentários.91

A pressão arterial não foi influenciada pela RAL, houve apenas um efeito do

tempo sobre a pressão arterial diastólica. Os estudos que mostram que a RAL reduz a

PAS e PAD de forma aguda e crônica envolveram sujeitos pré-hipertensos ou

hipertensos.1,92,93 No presente estudo os sujeitos eram normotensos (112,8 ± 7,5 e 71,3

± 6,2 mm Hg, PAS e PAD, respectivamente) e apresentaram níveis ótimos de pressão

arterial (<120/<80 mmHg PAS e PAD, respectivamente),94 motivo pelo qual acreditamos

que não houve redução nessas variáveis.

Alguns aspectos desse estudo devem ser considerados na interpretação destes

resultados. Primeiro, a frequência de ressonância individual dos sujeitos não foi medida,

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e isso poderia otimizar os efeitos da RAL. Contudo, a taxa respiratória utilizada nesse

estudo corresponde a frequência de ressonância para a maioria dos sujeitos.1,2,5,9

Segundo, não foi mensurada a coerência da taxa respiratória dos sujeitos e o guia

respiratório, realizou-se apenas a inspeção visual. Nesse sentido, a eficiência dos

sujeitos em realizar a técnica pode influenciar nas respostas.12 Assim, um outro fator a

ser considerado é a falta de experiência dos sujeitos, o que pode ter escondido o real

efeito da RAL. Entretanto, deve ser ponderado que a literatura propõe que as alterações

geradas na VFC com a RAL acontecem praticamente em todos os sujeitos e são

atingidas em fração de minutos, mesmo em pessoas que nunca foram expostas a esta

técnica.9 E, de fato, nossos resultados mostraram que mesmo sujeitos inexperientes

podem se beneficiar.

A duração da sessão de avaliação é outro fator que pode ter influenciado nas

respostas. Durante o estudo os sujeitos permaneciam sentados em uma sala silenciosa

e escurecida sem nenhuma atividade durante a realização das medidas pré e pós o que

pode ter suprimido alguma resposta devido a monotonia ou sido fator de estresse, uma

vez que eles também não poderiam dormir. Adicionalmente, pela amostra ter sido

composta apenas por homens limita a generalização dos nossos resultados. Além disso,

o fato de o sLORETA analisar os dados baseado num modelo de cabeça probabilístico

pode ter enfraquecido a precisão na localização das fontes. Contudo, os resultados do

presente corroboram com a literatura e traz resultados promissores no entendimento dos

mecanismos de ação e efeitos da RAL.

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9. CONCLUSÕES

Concluímos que a respiração abdominal lenta, mesmo sem alterações na

ansiedade e no humor, é capaz de modificar a atividade cerebral por meio da

redução da potência espectral de beta no giro orbital, giro frontal e cingulado anterior.

Além disso, mesmo sem mudanças hemodinâmicas, a RAL também promove

melhoras na modulação autonômica cardíaca, indicativo de uma maior modulação

vagal, em adultos saudáveis, fisicamente ativos e inexperientes em técnicas de

meditação.

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10. REFERÊNCIAS

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