PROGRAMAS - Eduardo Sterzi _ a Vida Póstuma Das Imagens

3
TL175-E Textos em Poesia VI SOBRE FANTASMAS E NINFAS (1): A VIDA PÓSTUMA DAS IMAGENS NA POESIA BRASILEIRA MODERNA E CONTEMPORÂNEA Programa: Duas fórmulas legadas pela antiguidade, aquela de Horácio – ut pictura poesis («na pintura assim como na poesia») – e aquela que Plínio atribui a Simônides de Ceos – poesia tacens, pictura loquens («a pintura é poesia silente, a poesia é pintura loquaz») –, foram recuperadas com força na Renascença e acabaram por configurar muito da compreensão moderna do que seja a poesia e do papel nela desempenhado pela imagem. Não por acaso, um dos movimentos poéticos modernistas de língua inglesa denominou-se imagismo, e tampouco foi sem consequências que um poeta como o suíço Blaise Cendrars – interlocutor decisivo de Oswald de Andrade – intitulou Kodak um de seus livros. A fotografia e o cinema, invenções do século XIX, passaram a ocupar um lugar semelhante ao que a pintura ocupara nas reflexões anteriores sobre a poesia – e na sua prática. Ao mesmo tempo, no âmbito teórico, especialmente no campo da história e da filosofia da arte, as técnicas fotográfica e cinematográfica serviram como impulsoras de uma forte renovação do pensamento da imagem – por exemplo, nas obras de Aby Warburg e Walter Benjamin. Nas últimas décadas, tais reflexões têm sido resgatadas e renovadas por pensadores como Giorgio Agamben e Georges Didi-Huberman, configurando uma espécie de virada imagética comparável, em alguma medida, à virada linguística e, de certo modo, a ela complementar. Em ambos, assim como em diversos outros autores, uma figura mitológica estudada pioneiramente por Warburg – a da Ninfa – ganha um papel especial: Agamben viu nela nada menos do que uma «imagem da imagem»; nos termos de Didi-Huberman, podemos dizer que é a «imagem sobrevivente» por excelência. Outro modo de dizer isso seria: o Fantasma por excelência. Neste curso, leremos com atenção alguns poemas de autores brasileiros dos séculos XX e XXI (entre outros, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Dora Ferreira da Silva, Haroldo de Campos, Donizete Galvão, Carlito Azevedo), buscando não só compreender as funções que as imagens – sobretudo as imagens de ninfas e fantasmas – desempenham neles, mas também avaliar em que medida esses poemas se configuram como reflexões, relevantes num plano mais amplo (podendo, por exemplo, nos ajudar a compreender as artes visuais contemporâneas), sobre o que são e como agem as imagens. Bibliografia: [A bibliografia completa será fornecida e comentada na primeira aula.] Carlito AZEVEDO, As banhistas, Rio de Janeiro: Imago, 1993. _____, Collapsus linguae (poemas), Rio de Janeiro: Lynx, 1991. _____, Monodrama, Rio de Janeiro: 7Letras, 2009. _____, Sob a noite física. Poemas, Rio de Janeiro: 7Letras, 1996. _____, Sublunar (1991-2001), Rio de Janeiro: 7Letras, 2001. _____, Versos de circunstância, Rio de Janeiro: Moby-Dick, 2001. [Também em Sublunar.] Manuel BANDEIRA, Itinerário de Pasárgada (1954), Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984. [Também na Poesia completa e prosa.] _____, Poesia completa e prosa (1958), organizada pelo autor, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. Augusto de CAMPOS, Décio PIGNATARI e Haroldo de CAMPOS, Mallarmé (1974), São Paulo: Perspectiva, 1991. Haroldo de CAMPOS, Galáxias (1963-1976), São Paulo: 34, 2004. Carlos DRUMMOND DE ANDRADE, Poesia completa, conforme as disposições do autor, fixação de texto e notas de Gilberto Mendonça Teles, intr. de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,

description

---

Transcript of PROGRAMAS - Eduardo Sterzi _ a Vida Póstuma Das Imagens

Page 1: PROGRAMAS - Eduardo Sterzi _ a Vida Póstuma Das Imagens

TL175-E Textos em Poesia VI

SOBRE FANTASMAS E NINFAS (1): A VIDA PÓSTUMA DAS IMAGENS NA POESIA BRASILEIRA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

Programa:Duas fórmulas legadas pela antiguidade, aquela de Horácio – ut pictura poesis («na pintura assim como na poesia») – e aquela que Plínio atribui a Simônides de Ceos – poesia tacens, pictura loquens («a pintura é poesia silente, a poesia é pintura loquaz») –, foram recuperadas com força na Renascença e acabaram por configurar muito da compreensão moderna do que seja a poesia e do papel nela desempenhado pela imagem. Não por acaso, um dos movimentos poéticos modernistas de língua inglesa denominou-se imagismo, e tampouco foi sem consequências que um poeta como o suíço Blaise Cendrars – interlocutor decisivo de Oswald de Andrade – intitulou Kodak um de seus livros. A fotografia e o cinema, invenções do século XIX, passaram a ocupar um lugar semelhante ao que a pintura ocupara nas reflexões anteriores sobre a poesia – e na sua prática. Ao mesmo tempo, noâmbito teórico, especialmente no campo da história e da filosofia da arte, as técnicas fotográfica e cinematográfica serviram como impulsoras de uma forte renovação do pensamento da imagem – por exemplo, nas obras de Aby Warburg e Walter Benjamin. Nas últimas décadas, tais reflexões têm sido resgatadas e renovadas por pensadores como Giorgio Agamben e Georges Didi-Huberman, configurando uma espécie de virada imagética comparável, em alguma medida, à virada linguística e, de certo modo, a ela complementar. Em ambos, assim como em diversos outros autores, uma figura mitológica estudada pioneiramente por Warburg – a da Ninfa – ganha um papel especial: Agamben viu nela nada menos do que uma «imagem da imagem»; nos termos de Didi-Huberman, podemos dizer que é a «imagem sobrevivente» por excelência. Outro modo de dizer isso seria: o Fantasma por excelência. Neste curso, leremos com atenção alguns poemas de autores brasileiros dos séculos XX e XXI (entre outros, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Dora Ferreira da Silva, Haroldo de Campos, Donizete Galvão, Carlito Azevedo), buscando não só compreender as funções que as imagens – sobretudo as imagens de ninfas e fantasmas – desempenham neles, mas também avaliar em que medida esses poemas se configuram como reflexões, relevantes num plano mais amplo (podendo, por exemplo, nos ajudar a compreender as artes visuais contemporâneas), sobre o que são e como agem as imagens.

Bibliografia:[A bibliografia completa será fornecida e comentada na primeira aula.]

Carlito AZEVEDO, As banhistas, Rio de Janeiro: Imago, 1993._____, Collapsus linguae (poemas), Rio de Janeiro: Lynx, 1991._____, Monodrama, Rio de Janeiro: 7Letras, 2009._____, Sob a noite física. Poemas, Rio de Janeiro: 7Letras, 1996._____, Sublunar (1991-2001), Rio de Janeiro: 7Letras, 2001._____, Versos de circunstância, Rio de Janeiro: Moby-Dick, 2001. [Também em Sublunar.]

Manuel BANDEIRA, Itinerário de Pasárgada (1954), Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984.[Também na Poesia completa e prosa.] _____, Poesia completa e prosa (1958), organizada pelo autor, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.

Augusto de CAMPOS, Décio PIGNATARI e Haroldo de CAMPOS, Mallarmé (1974), São Paulo: Perspectiva, 1991.

Haroldo de CAMPOS, Galáxias (1963-1976), São Paulo: 34, 2004.

Carlos DRUMMOND DE ANDRADE, Poesia completa, conforme as disposições do autor, fixação de texto e notas de Gilberto Mendonça Teles, intr. de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,

Page 2: PROGRAMAS - Eduardo Sterzi _ a Vida Póstuma Das Imagens

2002._____, Poesia 1930-62, ed. crítica Júlio Castañon Guimarães, São Paulo: Cosac Naify, 2012.

Dora FERREIRA DA SILVA, Hídrias, São Paulo: Odysseus, 2004.

Donizete GALVÃO, A carne e o tempo, São Paulo: Nankin, 1997._____, As faces do rio, São Paulo: Água Viva, 1991._____, Azul Navalha, São Paulo: Excelsior, 1988._____, Do silêncio da pedra, São Paulo: Arte Pau-Brasil, 1996. _____, Mundo mudo, São Paulo: Nankin, 2003._____, O homem inacabado, São Paulo: Portal, 2010._____, Ruminações, São Paulo: Nankin, 1999.

Donizete GALVÃO e Ronald POLITO, Pelo corpo, Santo André: Alpharrabio, 2002.

Cecília MEIRELES, Espectros (1919), São Paulo: Global, 2014.

Murilo MENDES, Poesia completa e prosa, org. Luciana Stegagno Picchio, Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. [Ver também novas edições corrigidas dos livros pela editora Cosac Naify.]

TL248-E Tópicos em Pesquisa XXXIX: Teoria Literária II

SOBRE FANTASMAS E NINFAS (2): A VIDA PÓSTUMA DAS IMAGENS EM TEXTOS CRÍTICOS E TEÓRICOS

Programa:Neste curso, leremos alguns textos teóricos fundamentais para a complexificação das leituras de poemas propostas na disciplina concomitante TL175-E.

Bibliografia:[A bibliografia completa será fornecida e comentada na primeira aula.]

Giorgio AGAMBEN, «Aby Warburg e a ciência sem nome», in A potência do pensamento. Ensaios e conferências (2005), trad. António Guerreiro, Belo Horizonte: Autêntica, 2015._____, Categorias italianas. Estudos de poética e literatura, trad. Carlos Eduardo Schmidt Capela e Vinícius Nicastro Honesko, Florianópolis: Editora da UFSC, 2014._____, Ninfas, trad. Renato Ambrósio, São Paulo: Hedra, 2012.

Francesco ASPESI, Archeonimi del labirinto e della ninfa, Roma: “L’Erma” di Bretschneider, 2011.

Charles BAUDELAIRE, «O pintor da vida moderna», in A modernidade de Baudelaire, org. Teixeira Coelho, trad. Suely Cassal, São Paulo: Paz e Terra, 1988.

Walter BENJAMIN, Magia e técnica, arte e política. Obras escolhidas I, trad. Sergio Paulo Rouanet, São Paulo: Brasiliense, 1994._____, «N (Teoria do conhecimento, teoria do progresso)», in Passagens, trad. Irene Aron (alemão) e Cleonice Paes Barreto Mourão (francês), org. e posf. Willi Bolle e Olgária Chain Féres Matos, Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.

Roberto CALASSO, A literatura e os deuses, trad. Jônatas Batista Neto, São Paulo: Companhiadas Letras, 2004._____, La follia che viene dalle Ninfe, Milão: Adelphi, 2005.

Fabio A. CAMILLETTI, Leopardi’s Nymphs. Grace, Melancholy, and the Uncanny, Oxford: Legenda,

Page 3: PROGRAMAS - Eduardo Sterzi _ a Vida Póstuma Das Imagens

2013.

Emanuele COCCIA, A vida sensível, trad. Diego Cervelin, Desterro [Florianópolis]: Cultura e Barbárie, 2010._____, «A moral da modelo fotográfica» (no prelo).

Manuel da Costa PINTO, Antologia comentada da poesia brasileira do século 21, São Paulo: Publifolha,2006.

Ernst Robert CURTIUS, «Retórica» e «A tópica», in Literatura europeia e idade média latina, trad. Teodoro Cabral e Paulo Rónai, São Paulo: Hucitec e EDUSP, 1996.

Emiliano DE VITO, L’immagine occidentale, Macerata: Quodlibet, 2015.

Georges DIDI-HUBERMAN, «Campo e veículo dos movimentos sobreviventes: a Pathosformel», in A imagem sobrevivente. História da arte e tempo dos fantasmas segundo Aby Warburg, trad. Vera Ribeiro, Rio de Janeiro: Contraponto, 2013._____, Devant le temps. Histoire de l’art et anachronisme des images, Paris: Minuit, 2000._____, Ninfa fluida, Paris: Gallimard, 2015._____, Ninfa moderna: essai sur le drapé tombé, Paris: Gallimard, 2002._____, «Sous le regard des mots», in Karine Winkelvoss, Rilke, la pensée des yeux, Paris: Publicationsde l’Institut d’Allemand.

Jennifer LARSON, Greek Nymphs. Myth, Cult, Lore, Oxford e Nova York: Oxford University Press, 2001.

Rosa Maria MARTELO, O cinema da poesia, Lisboa: Documenta, 2013.

Joana Matos FRIAS, Luís Miguel QUEIRÓS e Rosa Maria MARTELO (org.), Poemas com cinema, Lisboa: Assírio & Alvim, 2010.

Susana MATI, Ninfa in labirinto. Epifanie di una divinità in fuga, Bérgamo, Moretti & Vitali, 2006.

PLATÃO, A República, livros VII e X.

PORFIRIO, L’antro delle ninfe, Milão: Adelphi, 2006.

Bertrand PRÉVOST , «Direction–dimension : Ninfa et putti», Images Re-vues, 4.Flora SÜSSEKIND, «A imagem em estações – Observações sobre “Margens”, de Carlito Azevedo», in Celia PEDROSA e Ida ALVES, Subjetividades em devir. Estudos de poesia moderna e contemporânea,Rio de Janeiro: 7Letras, 2008, pp. 63-81.

Aby WARBURG, A renovação da Antiguidade pagã. Contribuições científico-culturais para a história do Renascimento europeu, trad. Markus Hediger, Rio de Janeiro: Contraponto, 2013._____, Histórias de fantasmas para gente grande. Escritos, esboços e conferências, trad. Lenin Bicudo Bárbara, São Paulo: Companhia das Letras, 2015. _____, «Mnemosyne», introdução ao Atlas Mnemosyne, Arte & Ensaios, 19 (2009)._____, «Ninfa Fiorentina. Fragmentos de um projecto sobre Ninfas», trad. Artur Morão, www.proymago.pt, set. 2012