Progressão temática jornais crimes

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Acta Scientiarum, Maringá, 23(1):43-51, 2001. ISSN 1415-6814.

Progressão temática e posiç ão tema/rema em relato de crimes de morte em dois jornais distintos

Genni Gomes de Oliveira

Departamento de Letras, Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá, Paraná, Brasil.

RESUMO. Uma análise sobre relato de crimes de morte, em dois jornais brasileiros- Folha de S. Paulo e Notícias Populares (FSP e NP), é realizada comparativamente neste trabalho no campo da lingüística aplicada. A análise centra-se nas escolhas do tema/rema verificadas e na progressão temática observada. Essas escolhas, preenchidas pelos elementos principais da história- assassino, vítima e polícia- revelam a preocupação que cada veículo informativo tem com seus clientes/leitores. Dois lingüistas, com pontos de vista diferentes, em relação a essas escolhas- Halliday (1994) e Fries (1994), foram escolhidos para dar sustentação à análise. Palavras-chave: relato de crimes, escolhas tema/rema, jornais, discurso jornalístico.

ABSTRACT. Thematic progression and thematic/rhematic position in murder report of two different newspapers. An analysis of news stories on language of violence in two Brazilian newspapers- Folha de S. Paulo and Notícias Populares (FSP and NP) is comparatively provided in this paper in the field of aplied linguistics. It is mainly undertaken on thematic and rhematic choices, which are achieved by the three main elements of the stories: murder, victim and police. The thematic and rhematic positions, chosen by the journalists, reveal concerns with the target clients each newspaper wants to influence. Although from different points of view on thematic and rhematic choices, Halliday (1994) and Fries (1994) were selected to give support to the analysis. Key words: crimes report, Thematic and Rhematic choices, newspaper discourses.

News is determined by values, and the kind of language in which that news is told reflects and expresses those values (Bell, 1994: 02)

Nosso objetivo, neste artigo, é examinar comparativamente textos jornalísticos do gênero policial em dois jornais de São Paulo com grande circulação nacional - Folha de S. Paulo e Notícias Populares (FSP e NP), do ponto de vista das escolhas temáticas verificadas e da progressão temática observada. Esses textos tratam de um fait divers, isto é, de um acontecimento do cotidiano, e distinguem-se por sua estrutura e participantes da narrativa, dentre os quais, nos relatos de crime de morte, os mais importantes são o assassino, a vítima e a polícia.

É sabido que os dois jornais pertencem à mesma empresa, mas destinam-se a públicos diferentes. A intenção do redator é, sobretudo, agradar ao público. Mesmo se o redator fosse o mesmo para os dois jornais, os textos produzidos seriam, sem dúvida, diferentes, pela simples razão de seus públicos serem diferentes.

A preocupação mais geral com o cliente, que inclui, no caso do jornal, o público leitor e os anunciantes, é estratégia básica de marketing. Um co-fundador e executivo-chefe de uma firma americana, a Home Depot, afirma: “Todo o nosso pessoal entende o que vem a ser de fato o Santo Graal. Ele não é, definitivamente, o lucro dos balanços. O Santo Graal é o compromisso apaixonado e quase cego de cuidar dos clientes” (Kotler e Armstrong, 1980:1 apud Bell, 1994).

Essa estratégia domina atualmente toda relação entre empresa e cliente e não poderia estar ausente da relação empresa/jornal e cliente. O marketing, segundo Kotler e Armstrong (1980:3), é “o processo social e gerencial através do qual indivíduos e grupos obtêm aquilo que desejam e de que necessitam, criando e trocando produtos e valores uns com os outros”. Essa definição implica o conceito de necessidade, “estados de carência percebida”; desejos, “necessidades humanas moldadas pela cultura e pelas características individuais”; produtos, “qualquer coisa capaz de satisfazer uma necessidade”

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(bens e serviços); valor, que, para o cliente, é “a diferença entre o que ganha comprando e usando um produto e os custos para se obter esse produto” (1980:3-6).

Assim, o assunto e a linguagem utilizados em notícias de crime nos jornais procuram atender necessidades humanas e desejos, através da oferta de produto (a notícia), para se obter um dado valor (satisfação do cliente).

A linguagem do redator/jornal/empresa representa uma tríade de responsabilidades, predominando a orientação superior, que certamente determinará escolhas que marcam sua visão de público. Essa linguagem tentará intencionalmente apresentar o produto-texto da forma que melhor o agrade. Assim, o estudo dela poderá evidenciar as fórmulas lingüísticas que, no entender da empresa, são aquelas que mais satisfazem o público. Isso se refere também à escolha temática.

Segundo Galtung e Ruge (1965) e Bell (1994), há três classes de valores nas notícias de jornal:

- A primeira relaciona-se com o conteúdo da notícia, a natureza dos eventos e atores.

- A segunda relaciona-se com o processo. - A terceira com a qualidade dos textos de

notícia. Vamos restringir-nos à primeira classe que

apresenta as seguintes características: negatividade, recenticidade e facticidade. A negatividade, encontrada em acontecimentos anormais, se inscreve como um dos valores básicos de notícias que atraem leitores. Encontra-se nos desastres, acidentes, mortes, prejuízos materiais, etc. que juntando-se aos conflitos dos partidos políticos e conflitos entre nações, estimulam a exploração da notícia na mídia com fins comerciais. A recenticidade é a característica que faz com que as melhores notícias sejam as acontecidas muito recentemente. A facticidade é a característica de tornar verossímil um fato. O tempo, o espaço, a quantificação, a nomeação são dimensões básicas em notícias de mídia. Elas contêm um alto grau de índices numéricos, nomes de lugar, nomes de pessoas, somas de dinheiro, etc.; o que as torna mais precisas e detalhadas, adquirindo estatuto factual. Ao analisar as notícias, estaremos também pesquisando esses valores.

Nesses textos, de acordo com uma abordagem funcionalista, pretendemos observar o tema e o rema, verificando o papel de um e de outro no desenvolvimento da narrativa (progressão temática). Além disso, objetivamos, nesta pesquisa, verificar as escolhas feitas pelos redatores em relação a:

1. Papéis dos participantes principais de histórias de crimes de morte (assassino, vítima e polícia) preenchendo o tema ou o rema em orações declarativas.

2. A progressão temática nos dois jornais; a partir desse estudo, a posição tema/rema como marca de compromisso do repórter ou empresa com o leitor.

3. Posição de Halliday e Fries sobre a relação tema/dado, rema/novo.

A análise lingüística, centrada em tema e rema, índices de organização textual, deve mostrar as marcas do compromisso da instituição com o leitor via linguagem, como explicita Bell (1994:03), acusando, portanto, uma função interpessoal também: “...a language is a tool and expression of media language”. Quais são as características da organização tema/rema que podem mostrar esse compromisso com o público?

Este nosso pequeno trabalho pretende contribuir para o estudo da gramática sistêmico-funcional em gêneros escritos do português. Nosso interesse nesta pesquisa está também ligado diretamente ao estudo crítico de textos em sala de aula, na medida em que pode contribuir para orientar o professor no desenvolvimento da criticidade dos alunos, ao estudarem as marcas lingüísticas deixadas pelos redatores de jornais em seu discurso jornalístico, num relato de crime de morte.

Referência teórica

Para a viabilização da análise, adotamos dois autores que têm visões diferentes quanto às posições temáticas e remáticas, do ponto de vista da ênfase dada à unidade informacional e à relação entre tema- dado e rema- novo- Halliday (1994) e Fries (1994). Eventualmente, acrescentaremos contribuições de outros autores.

Visão de Halliday(1994) em relação a tema-rema e dado-novo.

Para esse autor, o tema é um elemento numa configuração estrutural particular que, tomado como um todo, organiza a oração como uma mensagem. A mensagem consiste de um tema combinado com um rema. Nessa configuração, o tema é o ponto de partida da mensagem e, numa oração, consiste somente de um elemento estrutural sendo esse representado por somente uma unidade que pode ser um grupo nominal, um grupo adverbial, um grupo ou frase preposicional. Os elementos escolhidos como tema numa oração têm a ver com a seleção do Modo, ou seja, com o fato de as orações serem indicativas ou imperativas.

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Nas indicativas, há as declarativas (afirmativas/negativas) e interrogativas. O tema nas declarativas pode ser simples ou múltiplo.

A ocorrência dos temas simples pode se concretizar no que Halliday (1994) estabelece como temas não-marcados e marcados. No primeiro (não-marcado) o sujeito é o elemento escolhido como tema, no segundo (marcado), o tema é algo mais do que o sujeito, ou seja, é composto por um grupo adverbial ou frase preposicional funcionando como adjunto na oração. Resumindo, o tema funciona na estrutura da oração como uma mensagem, ou seja, ele é o ponto de partida para a mensagem, é o elemento que o falante seleciona para dar base ao que vai dizer/escrever.

Falando sobre unidade informacional, o autor especifica que a informação em si é a tensão entre o que já é conhecido ou predizível e o que é novo e impredizível (1994:296). Assim, a unidade informacional é a estrutura construída por duas funções, o novo e o dado. Cada unidade de informação consiste de um elemento dado acompanhado de um elemento novo. A natureza do elemento dado é ser “fórico”, isto é, referir-se a alguma coisa já mencionada ou presente no contexto verbal e não-verbal. Em sua ocorrência mais típica, o dado precede o novo. Assim, a posição não-marcada para o novo é a posição final. Mas é possível que haja material dado seguindo-se ao novo; é possível que o falante queira apresentar como dado o que é novo, por questões retóricas. Os elementos anafóricos e os elementos dêiticos são normalmente dados, sem informação focal. Se carregarem informação focal, são contrastivos.

Há, evidentemente, pela posição que ocupam , uma estreita ligação entre dado e novo e tema e rema. “Mas embora sejam relacionados”, afirma Halliday (1994:299), “não são a mesma coisa. O tema é o que eu, o falante, escolho para tomar como ponto de partida. O dado é o que você, ouvinte, já conhece ou que lhe está acessível. Tema/rema são orientados para o falante, enquanto dado/novo são orientados para o ouvinte. Ambos, porém, são selecionados pelo falante”.

Outros estudos sobre tema têm sido realizados. Berry (1989) citado por Davies (1994), diz que tema nas orações declarativas abarca todos os elementos até o verbo. Davies (1988) adota igual postura, mas propõe duas funções potenciais para tema: a identificação do tópico realizado pelo sujeito (tema não-marcado para Halliday) e elementos circunstanciais que precedem o sujeito (tema marcado para Halliday). O primeiro é obrigatório e contribui para a continuidade do tópico no texto e a

recorrência dele é vista não tanto como um tópico específico, mas como elemento primário que estabelece continuidade na busca da coerência e coesão do discurso (Davies, 1994); o segundo é opcional e serve para indicar mudanças no discurso. Segundo a autora, em textos escritos o autor seleciona os elementos para a posição temática, de acordo com os papéis que se queira atribuir a eles. Há o de informar, interagir e organizar. Assim, os elementos topicais ou informacionais têm a função de informar e se coadunam com a metafunção experiencial da linguagem (entidades do mundo real). Os interativos (eu, nós, você) e os avaliativos estabelecem a relação entre autor e leitor e relacionam-se à metafunção interpessoal. Os organizacionais expressam a função textual da linguagem e estabelecem as relações entre as orações, organizando o discurso. Nesta análise, focalizaremos estes últimos que se identificam com a metafunção textual, colocada por Halliday (1994).

Em relação ao rema, Halliday afirma que este é a parte da oração onde o tema é desenvolvido. O rema é tudo que não é tema numa oração; portanto, identificado o tema, o rema é automaticamente identificado.

Visão de Fries (1994) em relação a tema e rema. Fries diz que Halliday (1970:161) utiliza-se de

noções semânticas como “peg” e “point of departure” para falar de tema. “...the theme is as it were, the peg on which the message is hung... “ “...it is what the message is concerned with: the point of departure for what the speaker is going to say” (1994:36) e acrescenta que essas noções semânticas não funcionam como uma definição.

O autor então parafraseia Halliday e define tema como segue: “The theme of a T-unit provides a framework within the rheme of that T-unit can be interpreted”. O autor usa a terminologia T-unit (unidade temática) na acepção de Hunt (1965). Essa definição mostra que sua preocupação é definir o rema enquanto Halliday se preocupa especificamente com o tema. Para Fries, a mensagem da oração é constituída por tema e rema. No tema encontra-se a informação dada, ou seja, a informação que é familiar para o ouvinte/leitor e no rema a informação nova, instruções orientadas para o ouvinte no sentido de como interpretar o que é dito/escrito e como relacionar isso com o que o ouvinte/leitor já sabe.

Vê-se que ele identifica tema/rema a dado/ novo. Em relação ao rema, Fries coloca algumas objeções a Halliday. No rema, que ele chama de N-rheme (rema- N), porque refere-se ao novo (new), que indica o último constituinte da oração, encontra-se a

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informação respeitável merecedora de crédito. Ele o define como: “New information is that which is being presented as newsworthy” (1994:233).

O autor afirma que, na fala, o pico dessa informação vem sinalizado pela entoação; nos textos escritos, no entanto, na falta dessa sinalização, utilizam-se recursos como sublinhar palavras, destacá-las, colocando-as em negrito, etc. Esses recursos porém, não são bem aceitos na escrita formal; assim, os escritores optam por seqüenciar as informações na oração para que os leitores tenham as bases relevantes dessa informação. Nessa seqüência, a informação nova é colocada no final da oração, enfatizando a relação entre o que é novo e rema. Para Fries, (1994:234) o comportamento dos escritores revela-se da seguinte maneira: “...writers use position at the end of the clause to indicate the newsworthy information to their readers, and that they use the beginning of their clauses to orient their readers to the message which will come in the rest of the clause.”

O mesmo autor reitera que é no rema- N que o autor do texto coloca a informação que o leitor deve lembrar. Com isso, há a expectativa de que o conteúdo do rema-N se correlacione com o objetivo do texto como um todo, e, como para ele o tema é o orientador da mensagem comunicada pela oração, a expectativa é a de que a escolha do conteúdo temático reflita preocupações locais. A asserção feita pelo autor, de que a informação que o leitor deve apreender encontra-se no rema-N, baseia-se em pesquisas realizadas com textos escritos em que a informação colocada nessa parte da oração contém, além da essência do conteúdo informativo, elementos avaliativos bastante enfáticos. O autor constatou que elas ocorreram também na posição temática, mas em menor número e menos enfaticamente.

Consideramos, como hipótese, que os redatores desse tipo de texto escolhem a posição de tema para focalizar os papéis dramáticos principais da narrativa policial: o de assassino, o de vítima e o de polícia, respectivamente, vilão, vítima e herói. A partir da análise da Progressão Temática, verificaremos qual posição teórica, de Halliday (1994) ou Fries (1994), aquela separando o conceito de tema/rema e dado/novo e esta fazendo-as confluir, se mostra mais adequada para a análise de nossos dados.

Metodologia do trabalho

1. Constituição do corpus. Os textos utilizados neste trabalho - um da FSP e outro do NP sobre a mesma notícia - fazem parte de um corpus maior de pesquisa de doutorado constituído de 240 textos.

2. Organização dos dados. Os textos foram retirados dos cadernos São Paulo - Cotidiano (caderno 3) e Plantão NP dos jornais Folha de S. Paulo (FSP) e Notícias Populares (NP), respectivamente. Os dados foram coletados pelo tema crime de morte, veiculados pelos dois jornais na mesma data. Para facilitar a identificação das partes analisadas, as orações são numeradas e os temas indicados com grifo. O restante da oração (itálico) será rema/N-rema. Estaremos analisando dois textos (um de cada jornal), os quais foram escolhidos aleatoriamente. Encontramos número de orações maior em um jornal do que em outro (34 - FSP; 15- NP). A quantidade informacional é maior na FSP, o que vai ao encontro das características de seu leitor, mais intelectualizado e afeito à leitura. O NP, com menor quantidade informacional, reflete seu leitor, menos familiarizado com a leitura. Crystal (1969) já havia apontado essa característica nas notícias de jornal. Em princípio, pensamos ser esse fato uma variável desfavorável à análise, mas depois entendemos que ela deve ser considerada e que pode apontar algumas tendências de produção de texto pelo redator, conforme o leitor a que se dirige, como apontamos acima.

Análise e discussão dos dados

Como primeiro passo, reproduziremos os textos conforme o original, sinalizando as informações temáticas por um traço e deixando as remáticas sem alteração.

Texto FSP/01/junho/1995 1. Gerente de banco é morta durante assalto

(título) 2. A gerente Carmem Lúcia Tolon Luchetta foi

assassinada com um tiro por quatro ladrões 3. que (eles) tentaram roubar a agência do

Unibanco da rua Teodoro Sampaio em Pinheiros Zona oeste

4. e (eles) estacionaram próximo à agência 5. Os quatro entraram armados com revólveres

na agência 6. e (eles) anunciaram o assalto. 7. Dois vigias do banco reagiram começando o

tiroteio. 8. Segundo a polícia, um dos assaltantes teria

mirado 9. e (ele) teria disparado um tiro em direção à

gerente durante o confronto. 10. A bala acertou o peito de Carmem Lúcia. 11. Em seguida, os quatro ladrões deixaram o

banco. 12. Eles fugiram nas motocicletas.

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13. A polícia tentou montar uma operação cerco na região

14. mas (a polícia) não conseguiu capturar os assaltantes.

15. A gerente foi levada para um pronto socorro 16. onde (ela) morreu no começo da tarde. 17. A polícia abriu inquérito 18. para (ela) apurar o caso 19. e até as 20h de ontem (a polícia) não tinha

pistas sobre a identidade dos assaltantes. 20. Os policiais desconfiam 21. que eles sejam os mesmos 22. que (eles) roubaram R$ 100 mil de uma

agência do Unibanco no último dia 5 na avenida Brigadeiro Luís Antônio, nos Jardins zona oeste

23. O motivo da suspeita é que aquele roubo também foi feito por quatro homens

24. que (eles) estavam em uma motocicleta de 750 cilindradas.

25. A polícia deverá convocar os vigias do banco 26. para eles tentarem fazer o retrato falado dos

assaltantes. 27. O uso de motocicletas em roubos de bancos

foi criado como uma inovação pelo grupo na década de 90

28. onde (o grupo) era liderado por Wagner Coimbra o “Tangará “

29. (o qual) (foi) morto em março de 93. 30. Em maio foram registrados 71 roubos a

bancos em São Paulo. 31. Em abril, esse número foi de 37 32. e em março (esse número) (foi) de 51. 33. Janeiro teve 30 casos 34. e fevereiro (teve) 33. Texto NP/01/junho/1995 1. Gerente é executada no banco. 2. A gerente de banco Carmem Lúcia Tolon

Luchetta foi assassinada por ladrões 3. que (ladrões) tentaram assaltar a agência 4. onde ela trabalhava. 5. O crime aconteceu às dez h da manhã de

ontem no Unibanco da rua Teodoro Sampaio em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

6. Os tiras da delegacia de Roubos a Bancos disseram

7. que a gangue de assaltantes invadiram a agência pela porta das fundos.

8. Quando eles entraram 9. (eles) deram de cara com os vigilantes 10. (eles) ficaram apavorados

11. e (eles) começaram a dar tiros para todos os lados.

12. Uma das balas atingiu Carmem Lúcia no peito.

13. Ela foi socorrida no PS Itamarati 14. mas (ela) não resistiu. 15. Os ladrões fugiram sem nada levar. Para examinarmos mais acuradamente os dados,

usaremos as variáveis: V = vítima, A = assassino/ assaltante P= polícia. L= lugar (L1, L2...lugares diferentes) I= Instrumento T= tempo (T1, T2...tempos diferentes) Os demais participantes serão transformados em

variáveis, através, se possível, da letra inicial de seu nome, em minúscula.

Texto FSP/01/junho/1995 1. (V é morta durante Ass) 2. (V ser assassinada com I por 4A) 3. (4A tentar roubar L em L1 em L2, L3 ) 4. (4A estacionar próximo a L) 5. (4A entrar em L com I) 6. (4A anunciar a) 7. (2G reagir a 4A (com R), 8. ((2G e 4A) começar t (atirar com I) 9. (P dizer (algo)) 10. (1A mirar V (com I)) 11. (1A disparar (I) contra V, durante t) 12. (t(I) acertar V em p) 13. (4A deixar L) 14. (4A fugir em m) 15. (P cercar L1) 16. (P não capturar 4A) 17. (V ser levada para L4) 18. (em L4, V morrer em T1) 19. (P abrir i) 20. (P apurar c) 21. (Em T2 de T3, P não ter pistas sobre 4A) 22. (P desconfiar de algo) 23. (algo = 4A ser a ) 24. (4a roubar N$ de L5, em T3, em L6, em L7,

L8 25. ((P desconfiar) por uma causa (algo) 26. (roubar L5) ser feito por 4a 27. (4a estar em m750) 28. (P convocar Gs) 29. (Gs tentar reconhecer 4A/a) 30. ((usar m em (roubar L)) ser inovação de

4A/a) 31. (4A/a ser liderado por WCT) 32. (WCT ser morto em 93)

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33. ( Em T4, ser registrado N1). 34. (Em T5, n ser N2). 35. (Em T6, n ser N3) 36. (T7 ter N4) 37. (T8 ter N5) Texto NP/01/junho/1995 1. (V ser executada em L) 2. (V ser assassinada por As) 3. (As tentar assaltar L) 4. (Em L, V trabalhava) 5. (V ser assassinada) acontecer em T1 de T2,

em L de L1, em L2, L3) 6. P (t de DRB) dizer algo 7, (gA invadir L por L4) 8. Em T3 (gA entrar),. 9. gA dar de cara com Gs 10. gA ficar apavorados 11. (gA começar a dar tiros (usar I)) 12. ( I (t) atingir V em p) 13. (V ser socorrida em L5) 14. (V não resistir) 15. (As fugir sem N$) Dos valores apontados por Galtung e Ruge

(1965), tanto a FSP como o NP abarcam os três: negatividade, recenticidade e facticidade. No primeiro, o tipo de notícia que está sendo analisado está dentro dos valores básicos da negatividade que envolve os conceitos de desastre, acidentes e mortes. No segundo, essa notícia apresenta ocorrências acontecidas no ciclo de 24 horas. Quanto à facticidade, em FSP, a redução a variáveis nos permite detectar 8 ocorrências de tempo e 8 ocorrências de lugar, além de várias ocorrências de instrumento a) do crime: tiro (revólver) ou oculta no verbo, atirar, p. ex, ou em metonímias: tiroteio, mirar, disparar, bala; b) de fuga: motocicletas (3 ocorrências). Além disso, há índices numéricos relativos a assaltantes/assassinos e guardas/vigias. Desse modo, vemos que a FSP preocupa-se em detalhar para seu leitor esse tipo de informação.Em NP, há 5 ocorrências de lugar, e as de tempo são apenas 2. Ressalte-se que o local do crime é especificado da mesma forma por ambos os jornais:

FSP: A gerente Carmem Lúcia Tolon Luchetta foi assassinada com um tiro por quatro ladrões que tentaram roubar a agência do Unibanco da rua Teodoro Sampaio em Pinheiros zona oeste.

NP: O crime aconteceu às dez h da manhã de ontem no Unibanco da rua Teodoro Sampaio em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.

FSP- 34 orações

Tema Rema Participantes N.º % Participantes N.º % assassino (A) 14 40,0 assassino 6 20,0 vítima 4 11,4 vítima 2 5,7 polícia 9 25,7 polícia 1 2,8 lugar 1 2,8 lugar 7 20,0 tempo 7 20,0 tempo 1 2,8

NP- 15 orações Tema Rema

Participantes N.º % Participantes N.º % assassino 7 46,66 assassino 1 6,66 vítima 5 33,33 vítima 1 6,66 polícia 1 6,66 polícia 1 6,66 lugar 1 6,66 lugar 4 26,6 tempo 1 6,6 tempo 1 6,6

Posição escolhida pelos redatores para ser preenchida pelos participantes.

Levando em conta que o tema é o ponto de

partida da mensagem, é natural que os participantes principais, pessoas humanas que imprimem dinamismo à narrativa, se situem nessa posição. Também o tempo é de muita importância na narrativa, já que ele pontua a seqüência narrativa. Assim, não só vítima, vilão e herói (V, A, P) são participantes pontos de partida, mas também o tempo. Já vimos que o tempo é marcador de factualidade. O maior número de temas tempo é o da FSP (20%), que se dirige a leitores mais intelectualizados, acostumados ao tipo narrativo e às características factuais.

Pelo que se pode ver, comparativamente, o número de referências aos assaltantes / assassinos é, em posição temática, percentualmente, um pouco maior em NP (46,6%) que em FSP (40%). Faça-se aqui referência ao tipo de tratamento dado a estes por FSP e NP. FSP refere-se aos “quatro assaltantes” enquanto o NP utiliza-se da expressão mais popular “gangue de assaltantes”. Em relação à Polícia, a FSP usa-a tematicamente 25,7%, enquanto a NP 6,66%. Quanto ao tempo, ele é tema em FSP 20%, e em NP, 6,66%. O lugar é utilizado como tema 2,8% em FSP e 6,66% em NP.

O que é imaginado, então, como ponto de partida da mensagem, na maior parte das vezes, é o causador da tragédia, que age, acarretando, com essa ação, uma série de incidentes. A vítima tem pouco valor narrativo. É, nessa notícia, sempre passiva e quando aparece no tema é sujeito de verbos na voz passiva.

A polícia aparece em FSP não só com verbos materiais, como cercar, apurar, abrir (inquérito), mas também com processos verbais “segundo a polícia” (FSP), “P deverá convocar (FSP)”, “Os tiras da Delegacia de Roubos a Bancos disseram...”; e

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mentais: “P desconfiar (FSP)...”. É curioso que a única ação de enfrentamento atribuída a P foi a de cercar os assaltantes. As demais são ações legais. A polícia, então, é apresentada mais como agente da lei, autoridade, em FSP. Em NP, a polícia tem apenas voz: “Os tiras da Delegacia de Roubos a Bancos disseram...” A única ocorrência de P em tema em NP foi através de léxico depreciativo “os tiras”. Podemos perceber a diferença de tratamento dado a este participante nos dois jornais, a nosso ver, indicativo da posição dos públicos diferenciados, em relação ao agente da lei: o primeiro tolerante e respeitador (FSP), o segundo, um quase inimigo (NP).

Por outro lado, falar da vítima para o leitor da NP é mais relevante do que falar da polícia em dois aspectos: primeiro, porque é uma escolha pelo mais fraco, aquele que está em posição inferior, identificando-se, assim, com a vítima, os leitores que se sentem impotentes diante da realidade violenta com que convivem diariamente; e, segundo, porque a esses leitores interessa mais a dramaticidade do evento.

A diferença entre FSP e NP, além da escolha temática, manifesta-se também nos detalhes da narrativa. A seqüência das orações 4, 5, 6, 7, 8 de FSP não existe em NP. Poderíamos dizer que FSP constrói um início de episódio, com uma série de eventos preparatórios, mais ao gosto de seu público.

Também a cena do assassinato deve ser comparada, porque se mostram diferentes entre si. Ela é composta em FSP pelas orações 8, 9, 10, 11,12 ; em NP, por 8, 9, 10, 11, 12. A FSP atribui a responsabilidade de suas afirmações à polícia em 9. O jornal NP o faz em 6. A forma pela qual cada uma delas passa a informação da polícia difere. FSP apresenta 1A como responsável pela morte de V, em 10 e 11 (1A mirar V; 1A disparar contra V).

NP coloca como tema a gangue de assaltantes (gA), mas atribui a estes um “evento interno” (ficaram apavorados- 10), o que de certa forma ameniza o ato que se segue . Em 11, o tema é gA, e em 12, o instrumento (tiros), extensão da ação de gA. O uso do instrumento confere a este a responsabilidade pelo resultado, não havendo explicitamente a incriminação como em FSP. O assassinato parece ter sido acidental. O evento interno (ficar apavorado), identificado nos assaltantes, através do rema, em 10, o uso do plural no rema em 11 (tiros) e o uso do instrumento no lugar de tema em 12 afasta a responsabilidade dos assaltantes, isentando-os da intenção de matar. Embora possa parecer estranha essa atribuição de um caráter acidental ao crime, é preciso lembrar que

uma arma disparada sem direção cria, na narrativa, um efeito dramático muito maior, abrindo a possibilidade de identificação, por parte do leitor, com o desespero dos clientes do banco. Desse modo, o jornal prende a atenção do leitor não pelo fato em si, mas por seu efeito dramático.

Um outro recurso de FSP, utilizado em outro sentido que em NP, é o que se encontra em 22 (P desconfiar). Trata-se também da percepção de um evento interno, porém relacionado à polícia. Na verdade, trata-se de uma hipótese (desconfiar), não revelada em NP, um relacionamento entre um fato 1 e um fato 2 (o presente crime). O texto de FSP retrata um perfil de leitor que se identifica, através da percepção desse evento interno, com o agente da lei.

Além disso, o uso de T4, T5, T6, T7, T8 como temas em 33,34,35,36,37, amplia a informatividade da notícia, fazendo com que a mera narrativa cotidiana assuma feições de reportagem.

Aparecem na FSP em lugar temático (30) Em maio de...foram registrados 71 roubos; (31) Em abril esse número foi de 57; (32) e em março de 51; (33) janeiro teve 30 casos; (34) e fevereiro 33. Essa escolha temática de adjuntos de tempo

seguida de remas numéricos, mostra uma escalada de violência em maio. Em vez de escolher a ordem crescente, retoricamente mais utilizada, o redator preferiu a ordem decrescente. Assim, o impacto do número mais alto coincide com a posição temporal mais próxima do leitor.

Há aí uma generalização. O redator sai da narrativa, para refletir sobre o fato, generalizando. Essa generalização é intencional, porque o jornal sabe que seu público, exigente em relação a provas e contra-provas, céptico porque mais crítico, espera que a informação seja comprovada numericamente.

Em relação à progressão temática (PT), Danes (1974: 109; apud Cloran, 1995), indica 4 tipos delas:

(i) PT linear simples: um padrão de progressão com uma tematização linear de remas, isto é, o que é rema em uma oração, na seguinte passa a tema, etc. Pode-se configurar esse padrão como rema>tema.

(ii) PT de tema contínua - um padrão de progressão onde o mesmo tema aparece com uma série de enunciados diferentes. O rema, no entanto, é diferente. Esse padrão pode ser simbolizado como tema>tema

(iii) PT de tema derivada: padrão formado por enunciados particulares a partir de um Hipertema, isto é, o tema do parágrafo.

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50 Oliveira

Cloran (1995) admite uma quarta possibilidade: (iv) PT linear complexa (nome nosso) em que o

tema de uma oração passa a ser rema na outra. O padrão aí seria tema > rema.

Nossos dados apontam os seguintes padrões de

progressão temática:

01 Gerente de banco é mortadurante assalto

1 - 2 tema > tema

02 A gerente Carmem Lúcia TolonLuchetta foi assassinada com umtiro por quatro ladrões

2 - 3 tema > tema

03

que (eles) tentaram roubar aagência do Unibanco da ruaTeodoro Sampaio em PinheirosZona oeste

3 - 4 rema > tema

04 e (eles) estacionaram próximo àagência 4 - 5 tema > tema

05 Os quatro entraram armadoscom revólveres na agência

5 - 6 tema > tema

06 e (eles) anunciaram o assalto 6 - 7 rema > tema

07 Dois vigias do banco reagiramcomeçando o tiroteio

7 - 8 tema Derivado

08 Segundo a polícia, um dosassaltantes - (TP) teria mirado

8 - 9 tema Derivado

09 e (ele) teria disparado um tiroem direção à gerente durante oconfronto

9 - 10 rema > tema

10 A bala acertou o peito deCarmem Lúcia. 10 - 11 rema > tema

11 Em seguida, os quatro ladrõesdeixaram o banco. 11 - 12

tema Descontínuo

12 Eles fugiram nas motocicletas, 12 - 13 tema > tema

13 A polícia tentou montar umaoperação de cerco na região 13 - 14

tema Descontínuo

14 mas (a polícia) não conseguiucapturar os assaltantes.

14 - 15 tema > tema

15 A gerente foi levada para umpronto socorro

15 -16 tema

Descontínuo

16 onde (ela) morreu no começoda tarde. 16 - 17 tema > tema

17 A polícia abriu inquérito 17 - 18 tema Descontínuo

18 para (ela) apurar o caso 18 - 19 tema > tema

19 e até as 20h de ontem (a polícia-TP) não tinha pistas sobre aidentidade dos assaltantes

19 - 20 tema > tema

20 Os policiais desconfiam 20 - 21 tema > tema

21 que eles sejam os mesmos 21 - 22 tema

Descontínuo

22

que (eles) roubaram R$ 100 milde uma agência do Unibanco noúltimo dia 5 na avenidaBrigadeiro Luís Antônio, nosJardins zona oeste.

22 - 23 tema > tema

23

O motivo da suspeita (dapolícia) é que aquele roubotambém foi feito por quatrohomens

23 - 24 rema > tema

24 que (eles) estavam em umamotocicleta de 750 cilindradas, 24 - 25 rema > tema

25 A polícia deverá convocar osvigias do banco

25 - 26 tema Descontínuo

26 para eles tentarem fazer o retratofalado dos assaltantes.

26 - 27 rema > tema

27

O uso de motocicletas emroubos de bancos foi criadocomo uma inovação pelo grupona década de 90

27 - 28 tema Derivado

28 onde (o grupo) era liderado porWagner Coimbra o “Tangará “

28 - 29 rema > tema

29 (o qual) (foi) morto em marçode 93. 29 - 30 rema > tema

30 Em maio foram registrados 71roubos a bancos em SãoPaulo(Suj).

30 - 31 tema > rema

31 Em abril esse número(TP) foide 37 31 - 32 rema > TP

32 e em março (esse número) (foi)de 51

32 - 33 TP > TP

33 Janeiro teve 30 casos 33 - 34 tema > tema 34 e fevereiro (teve) 33. 34 tema > tema

Texto NP/01/junho/1995

01 Gerente é executada no banco

02 A gerente de banco CarmemLúcia Tolon Luchetta foiassassinada por ladrões

1 - 2 tema > tema

03 que (ladrões) tentaram assaltar aagência 2 - 3 rema > tema

04 onde ela trabalhava rema > tema

05 O crime aconteceu às dez h damanhã de ontem no Unibancoda rua

rema > tema

06 Teodoro Sampaio em Pinheiros,zona oeste de São Paulo. tema derivado

07 que a gangue de assaltantesinvadiram a agência pela portadas fundos.

tema

descontínuo

08 Quando eles entraram tema > tema

09 (eles) deram de cara com osvigilantes tema > tema

10 (eles) ficaram apavorados tema > tema

11 e (eles) começaram a dar tirospara todos os lados.

tema > tema

12 Uma das balas atingiu CarmemLúcia no peito. rema > tema

13 Ela foi socorrida ao PS Itamarati rema > tema 14 mas (ela)) não resistiu. tema > rema

15 Os ladrões fugiram sem nadalevar.

tema

descontínuo Chamamos de temas derivados (TD) aqueles

relacionados à notícia de crime, não introduzidos ainda na história, e de tema Descontínuo (TDes)

Page 9: Progressão temática jornais crimes

Relatos de crimes de morte 51

aqueles cuja menção não foi feita no período imediatamente anterior.

FSP NP

Padrões temáticos n° % n° %

(i) Rema>Tema 10 30,03 5 35,71 (ii) Tema>Tema 13 39,39 6 42,85 (iii) Tema>Rema 0 0 0 0 (iv) Tema Derivado 3 9,09 1 7,14 (v) Tema>Descontínuo 6 18,18 2 14,28

Esses dois textos, pelo que estamos vendo na

tabela, têm uma progressão temática do tipo tema> tema e rema > tema. O NP tem uma incidência um pouco maior tanto de um tipo quanto de outro, enquanto a FSP trabalha mais com temas descontínuos e derivados. Examinando esses temas derivados (7-8; 26-27; 29-30) da FSP, verificamos, em 7-8, que se trata de introdução de um participante novo (polícia) que se junta aos anteriores. Em 26-27, trata-se de uma generalização (reflexão) introduzida na história. Em 29-30, o caso apontado mais acima, não relacionado pelo menos tematicamente ao assunto do texto, a relação PT se faz pelo tema de 27 e o assunto geral, com o rema de 30, configurando-se como uma PT linear complexa (tema > rema). Perguntamos, então, a partir dessa constatação, em que o dado é colocado no rema e o novo no tema, e em que a PT se faz através do dado e não do tema, se é justa a nomenclatura Progressão Temática, se nos parece, como para Cloran (1995), que é o sujeito e não o tema que determina a Progressão Temática.

Assim, é a posição de Halliday (1994), que separa o dado e o novo da noção de tema que prevalece aqui.

Conclusão

As preferências dos redatores apontadas na análise deixam claro que a primeira porção informativa da oração (tema) é a mais relevante para ambos os jornais, na medida em que é através dela que eles transmitem ao leitor os participantes da história, o que deve ser lembrado e aquele participante que vai desempenhar papel crucial no texto. Além disso, o estudo da PT contraria a afirmação de Fries (1994) que faz conflação das noções de tema/dado e rema/novo. Prevalece o conceito de Halliday de tema como ponto de partida do que vai ser dito, em que se incluem, na história, os participantes principais. temas derivados são introduzidos em reflexões, só ocorrentes na FSP.

Esse fato revela o caráter mais intelectualizado que é atribuído ao leitor da FSP pelos redatores/empresa. No NP, o único tema derivado introduz novo participante. Embora com restrições, como o número de textos (dois), a análise mostrou que nesse gênero de notícia podemos constatar que os redatores escolhem as posições que revelam suas tendências sócio-políticas e que são endereçadas a seu público em particular, atendendo às necessidades desse público e do gênero.

Referências

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Received on November 08, 2000. Accepted on January 23, 2001.