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IProgresso Técnicoe Pequenos Agricultores
Renival Alves de SouzaChefe do CPATSA
Angel Gabriel Vival/o FinareConsultor do IlCAjEMBRAPA-CPA TSA
1_ INTRODUÇÃO AO PROGRESSOTÉCNICO NA AGRICULTURA
A forma como a sociedade resolve osproblemas de aumento da produção agro-pecuária pode ser defmida como proces-so de geração de tecnologia agrícola. Estaafirmação defme o "processo" como umaatividade social integrada na dinâmica dasociedade e como um produto da forma-ção social. Seu desenvolvimento vai de-pender, em última instância, da fonnacomo a sociedade produz bens materiais(Harrnecker, 1971).,
Em outras palavras, as políticas, estra-tégias e objetivos do processo de geraçãode tecnologia são determinados pelos in-teresses e necessidades de reprodução daestrutura econômica dominante (Carva-lho, 1982). Esta colocação desmistifica aciência ao serviço da "verdade" e colocaoutro conceito em que a "ciência" é de-senvolvida em função dos interesses dasociedade (Freire, 1979).
Em geral, o conceito de ciência "neu-tra", tão manipulado e patrocinado peloscentros de financiamento científico inter-nacional, está sendo submetido a severarevisão porque objetivamente se observaque a pesquisa está integrada a um siste-ma político, militar e econômico particu-lar (Japíassu, 1980, como citado por Quei-roz, 1968).
Por outro lado, Silva et al (1980) eBrandão & Reis (1982), caracterizam oprocesso de geração de tecnologia como aforma que as classes dominantes dão res-postas às necessidades que enfrentam naprodução.
Se o processo de geração de tecnologiaestá determinado pelo modelo urbano in-dustrial é necessário se colocar algumasperguntas: - Existe um processo particu-lar de geração de tecnologia para os pe-quenos agricultores? - Existe tecnologiapara pequenos agricultores?
2. OS PEQUENOS AGRICULTORES
Singer, citado por Carvalho (1982),define os pequenos agricultores como pe-quena burguesia em contradições secun-dárias com a burguesia empresarial e ge-rencial, porque os interesses fundamentaisdas classes são os mesmos. O mesmo autorafirma em relação à geração de tecnolo-gia: "na sociedade de classes em que vive-mos, há uma classe social, a pequena bur-guesia agrária, que enfrenta problemasconcretos para garantir a reprodução doseu processo de trabalho com as tecnolo-gias geradas a partir dos interesses deoutra classe social com a qual tem contra-dições (secundárias). Então, quando os i~-telectuais e técnicos da pequena burguesiaagrária defendem primeiro a garantia da;Su& reprodução quanto ao. modo de pro-dução simples de mercadonas ..: no fu~dodefendem a reprodução dos meIOSde VIda
e os de trabalho dos membros dessa classesocial e, em seguida, propiciam condi-ções que tornem possíveis as transforma-ções de frações dessa pequena burguesiaagrária em burgueses, proprietários, capi-talistas da terra, o que se está verificandoé a consolidação política explícita de umaluta de classe entre a pequena burguesiaagrária e a burguesia".
Neste artigo estimou-se destacar comrelevância as opiniões de Carvalho sobreo papel da geração de tecnologia na re-produção econômica e social da classedos pequenos agricultores e o rol dos téc-nicos no conflito entre burguesia e peque-na burguesia, agregando os elementos se-guintes:
- Qualquer política importante demudanças na agricultura precisará dos pe-quenos agricultores como aliados estraté-gicos, especialmente os programas de dis-tribuição fundiária.
- A base da estabilidade de uma polí-tica social progressista de reformas susten-ta-se, em grande parte, pelo abastecimen-to de alimentos às cidades e estes são pro-duzidos em mais de 60"10 pelos pequenosagricul tores.
Por este motivo os autores estimamque o processo de geração de tecnologiaagrícola deve se orientar de acordo comas políticas do governo para os pequenosagricultores nos aspectos sociais, políticose técnicos. E que este processo de geraçãode tecnologias deve ter os seguintes com-ponentes estratégicos:
a) A geração de tecnologia deve ser com-preendida como componente de umprograma de desenvolvimento ruralnacional.A pesquisa agropecuária deve fazer
parte de um projeto nacional, no qual asnecessidades e objetivos do segmentoagropecuário determinarão os objetivos,operações, meios e recursos para a pesqui-sa. Isto supõe uma definição clara dosobjetivos para o mundo rural e para ospequenos agricultores em geral, nas eco-nomias nacionais e regionais. Desta ma-neira, a função social da pesquisa nosobjetivos nacionais será claramente deter-minada.
O fato de defmir desta forma o lugarda pesquisa, institucionalmente comocomponente das políticas nacionais,termina com a pesquisa determinadapor uma instituição e por pesquisadoressem avaliar as necessidades das regiões edo país. Permite, também, uma corretadistribuição e um melhor controle dosrecursos (Oliveira, 1981).
b) Modelo Nacional
Na América Latina e no Brasil, osmodelos de geração de tecnologia estãobaseados fortemente no modelo norte-americano, que se resume em produzir
técnicas para os agricultores mais eficien-tes no mercado, provocando o desapare-cimento dos ineficientes do cenário nacio-nal.
Para os cientistas norte-americanos epara muitos cientistas latino-americanos,formados nos Estados Unidos, sobretudoaqueles da Escola de Chicago, é difícilaceitar que existem pessoas com necessi-dades e motivações sócio-psicológicas di-ferentes das dos norte-americanos (Quei-roz, 1968).
Isto baseou, em grande parte, as hipó-teses das instituições de pesquisa doBrasil, supondo que agricultores eficientesadotariam as tecnologias por estarem liga-dos estritamente por um só objetivo: pro-duzir para o mercado. Para isto, os agri-cultores deveriam mover-se por objetivosde lucros, mas no nordeste está-se de-monstrando que os pequenos agricultoresestão movendo-se, também, por objetivosde utilidade, o que questiona o modelotradicional da pesquisa. Nesse sentido, asexperiências de Bose, na India, citadaspor Queiroz ( 1968), demonstram queos lavradores mais modernos, urbanizadose eficientes, embora adotando com maisfacilidade as novas técnicas, nãose mos-travam os mais eficientes nos trabalhosrurais, e, portanto, nos resultados atin-gidos.
Com base nestas afirmativas poderiacolocar-se uma estratégia de progressotécnico nacional ao serviço dos agriculto-res e do país. Essa estratégia de geraçãode tecnologia deveria considerar as neces-sidades destinadas à alimentação, à agro-indústria, à indústria e às exportações dopaís. Isto transformará o processo socialde geração de tecnologia agropecuárionum componente dinâmico e comprome-tido com o desenvolvimento rural nacio-nal e as tecnologias estrangeiras encontra-rão seu lugar mais correto e eficaz.
c) Pesquisa ao Serviço dos Agricultores eConsumidores
Segundo Shultz (1982), "no pressupos-to que os aportes da pesquisa reduzam oscustos reais de produção dos produtosagrícolas, e esta redução significa exce-dentes para o produtor ou excedentespara o consumidor, ou melhor, algumacombinação favorável para ambos".
Ao longo do tempo, em mercadoscompetitivos, os benefícios da pesquisavão predominantemente para os consu-midores, ocorrendo o contrário com osprodutos industriais em que se beneficiammais os irxiustriais(Brandão & Reis, 1982).É evidente que, por distorções na polí-tica agrícola, os benefícios dos aumentosde produção não são captados pelos agri-cultores e nem pelos consumidores, massim desviados pelos atravessadores, co-merciantes e especuladores nacionais e in-ternacionais, sendo no fmal aqueles que
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aproveitam os benefícios da pesquisa.Com base nestes dados, a pesquisa deveriaorientar-se para alcançar os seguintesobjetivos:
- considerar a solução de problemasdos pequenos agricultores que impedemo desenvolvimento de suas forças produti-vas;
- resolver contradições campo-cidade,criando economia rural regional;
- aumentar a produção de alimentos,produtos para a agroindústria e para ex-portação;
- conservar recursos naturais;- incrementar a produção do trabalho
e da terra;- gerar empregos e diminuir a penosi-
dade do trabalho agrícola;- oferecer soluções técnicas aos pro-
blemas de água, habitação, consumo econdições de vida dos agricultores.
MEDIDAS CONCRET AS PARA GERAR TECNOLOGIASPARA PEQUENOS AGRICULTORES
A partir dos objetivos indicados ante-riormente pode-se sugerir as seguintes me-didas para gerar tecnologia para pequenosagricultores, segundo Souza et ai (1985):
"Criar condições de organização cam-ponesa para reivindicar meios e recursosque atendam suas necessidades, entre elasas de tecnologias;
Avaliar no sistema sócio-econômico eagroecológico regional e local as potencia-lidades, necessidades e limitações que im-pedem o desenvolvimento dos pequenosagricultores;
Desenvolver métodos, conteúdos, técni-cas e tecnologias a partir de várias hipóte-ses, en tre elas:
a) gerar tecnologias no interior da eco-nomia dos pequenos agricultores;
b) melhorar tecnologias existentes aonível dos pequenos agricultores;
c) adaptar tecnologias existentes paraos problemas dos pequenos agricultores;
d) integrar, em certas etapas, o proces-so de geração de tecnologia, os agriculto-res e a extensão;
e) estender o âmbito da pesquisa agro-pecuária aos problemas do desenvolvi-mento econômico e social para adequara pesquisa às condições reais do desen-volvimento;
f) gerar, ao nível de pesquisa, subsídiosque permitam às autoridades políticasapoiarem o desenvolvimento e tecnologiaspara pequenos agricultores".
Em conclusão, a estratégia de geraçãode tecnologia deverá se direcionar, commaior ênfase, para atingir os pequenosagricultores e, por outro lado, o conteúdoda pesquisa deverá ser original e criativopara enfrentar um desafio científico di-fícil, mas gratificante para os pesquisado-res e para a economia nacional.
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