PROINFANTIL Mod IV Vol2unid3

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  • COLEO PROINFANTIL

  • COLEO PROINFANTILMDULO IVunidade 3livro de estudo - vol. 2Karina Rizek Lopes (Org.)Roseana Pereira Mendes (Org.)Vitria Lbia Barreto de Faria (Org.)

    Braslia 2006

    Ministrio da EducaoSecretaria de Educao Bsica

    Secretaria de Educao a DistnciaPrograma de Formao Inicial para Professores em Exerccio na Educao Infantil

  • Livro de estudo: Mdulo IV / Karina Rizek Lopes, Roseana Pereira Mendes, VitriaLbia Barreto de Faria, organizadoras. Braslia: MEC. Secretaria de EducaoBsica. Secretaria de Educao a Distncia, 2006.

    74p. (Coleo PROINFANTIL; Unidade 3)

    1. Educao de crianas. 2. Programa de Formao de Professores de EducaoInfantil. I. Lopes, Karina Rizek. II. Mendes, Roseana Pereira. III. Faria, Vitria LbiaBarreto de.

    CDD: 372.2

    CDU: 372.4

    Ficha Catalogrfica Maria Aparecida Duarte CRB 6/1047

    L788

    Diretora de Polticas da Educao Infantil e do Ensino Fundamental

    Jeanete Beauchamp

    Diretora de Produo e Capacitao de Programas em EAD

    Carmen Moreira de Castro Neves

    Coordenadoras Nacionais do PROINFANTIL

    Karina Rizek LopesLuciane S de Andrade

    Equipe Nacional de Colaboradores do PROINFANTILAdonias de Melo Jr., Amaliair Attalah, Ana Paula Bulhes, Andr Martins, Anna Carolina Rocha, Anne Silva,Aristeu de Oliveira Jr., urea Bartoli, Ideli Ricchiero, Jane Pinheiro, Jarbas Mendona, Jos Pereira SantanaJunior, Josu de Arajo, Joyce Almeida, Juliana Andrade, Karina Menezes, Liliane Santos, Lucas Passarela,Luciana Fonseca, Magda Patrcia Mller Lopes, Marta Clemente, Neidimar Cardoso Neves, Raimundo Aires,Roseana Pereira Mendes, Rosilene Silva, Stela Maris Lagos Oliveira, Suzi Vargas, Vanya Barbosa, Vitria LbiaBarreto de Faria, Viviane Fernandes

    Coordenao Pedaggica

    Roseana Pereira Mendes, Vitria Lbia Barreto de Faria

    Assessoria Pedaggica

    Snia Kramer, Anelise Monteiro do Nascimento, Claudia de Oliveira Fernandes, Hilda Aparecida Linhares daSilva Micarello, Lda Maria da Fonseca, Luiz Cavalieri Bazilio, Regina Maria Cabral Carvalho, Silvia Nli FalcoBarbosa

    Consultoria do PROINFANTIL Mdulo IV

    Ftima Regina Teixeira de Salles Dias, La Velocina Vargas Tiriba

    Autoria

    Adrianne Ogda Guedes, Ana Marta Aparecida de Souza Inez, Claudia Almeida Bandeira de Mello, Daniela deOliveira Guimares, Eduardo Sarquis Soares, Ftima Regina Teixeira de Salles Dias, Jos Alfredo de OliveiraDebortoli, Maria Inz Mafra Goulart, Maria Isabel Ferraz Pereira Leite, Nuelna Gama Vieira, Vitria LbiaBarreto de Faria

    Projeto Grfico, Editorao e Reviso

    Editora Perffil

    Coordenao Tcnica da Editora Perffil

    Carmen de Paula Cardinali, Leticia de Paula Cardinali

  • MDULO IVunidade 3livro de estudo - vol. 2

    Programa de Formao Inicial para Professoresem Exerccio na Educao Infantil

  • SUMRIO

    B - ESTUDO DE TEMASESPECFICOS 8

    FUNDAMENTOS DA EDUCAOFUNDAMENTOS DA EDUCAOFUNDAMENTOS DA EDUCAOFUNDAMENTOS DA EDUCAOFUNDAMENTOS DA EDUCAODIDTICA DA EDUCAO INFANTIL II FUNDAMENTOS DA

    AVALIAO DA APRENDIZAGEM .................................................... 9Seo 1 Concepes de avaliao e princpios norteadores ...... 1 1

    Seo 2 Componentes do processo de avaliao ....................... 20

    Seo 3 O papel da famlia no processo de avaliao da

    aprendizagem e do desenvolvimento das crianas ...... 25

    Seo 4 A avaliao como instrumento orientador de formas

    de articulao com o Ensino Fundamental .................... 29

    ORGANIZAO DO TRABALHO PEDAGGICOELABORAO E ORGANIZAO DE INSTRUMENTOS DE

    ACOMPANHAMENTO E AVALIAO DA APRENDIZAGEM E DO

    DESENVOLVIMENTO DAS CRIANAS ............................................... 37Seo 1 Parmetros para a organizao de instrumentos

    de acompanhamento, observao e avaliao

    das crianas ...................................................................... 39

    Seo 2 Parmetros para a organizao de um roteiro de

    acompanhamento, avaliao, registro e anlise das

    atividades cotidianas e de sua prtica pedaggica ...... 57

    Seo 3 A organizao de portflios como instrumentos de

    registro da trajetria de aprendizagem das crianas no

    mbito dos projetos de trabalho ................................... 62

    c ATIVIDADES INTEGRADoraS 70

  • 8B - ESTUDO DE TEMAS ESPECFICOS

    8

  • 9Fundamentos da EducaoDidtica da educao infantil II -fundamentos dA avaliao da aprendizagem

    Prestar ateno em um aspecto faz com que este salte para o primeiro

    plano, invadindo o quadro, como em certos desenhos diante dos quais

    basta fecharmos os olhos e, ao reabri-los, a perspectiva j mudou.

    talo Calvino1

    1 talo Calvino um escritor que nasceu em Cuba, em 1923 (morreu em 1985), e viveu na Itlia desdebem pequeno. Esse escritor tem uma forma muito interessante de escrever sobre temas do cotidiano,muitas vezes uma forma divertida. Em seus livros ele se revela um observador atento das aes maisbanais das pessoas em sua vida cotidiana, por isso o escolhemos para abrir este texto. O trecho que vocleu nesta epgrafe se encontra no livro Palomar, publicado pela Companhia das Letras, em 1994.

  • 10

    - ABRINDO NOSSO DILOGOPrezado(a) professor(a):

    Dando continuidade aos estudos do PROINFANTIL, vamos discutir o acompanhamento

    da aprendizagem, do desenvolvimento das crianas e da prtica educativa atravs

    da avaliao. A avaliao um componente do processo educativo e, articulada ao

    planejamento, se constitui em um importante instrumento de anlise do trabalho

    pedaggico nas instituies.

    Conforme voc estudou na unidade anterior, a nossa prtica educativa se torna

    significativa quando marcada pela intencionalidade e orientada por estratgias

    que garantam a continuidade dos processos de ensinar e aprender. A avaliao tem

    a importante funo de diagnosticar e apontar rumos para a prtica.

    DEFININDO NOSSO PONTO DE CHEGADA

    Neste texto, refletiremos sobre concepes, funes e princpios norteadores da

    avaliao na Educao Infantil, o papel dos diferentes sujeitos que participam dos

    processos de avaliao e suas interlocues com a famlia. Vamos discutir, tambm,

    a avaliao como instrumento orientador da articulao entre a Educao Infantil e

    o Ensino Fundamental. Os objetivos desta unidade so:

    1. Identificar uma concepo de avaliao a ser assumida pelo(a) professor(a),

    em sua prtica, a partir de anlises de diferentes concepes.

    2. Refletir sobre a importncia da avaliao no processo pedaggico como forma

    de acompanhamento do desenvolvimento e da aprendizagem das crianas,

    reconhecendo diferentes momentos, situaes, modos de avaliar e atores

    desse processo.

    3. Reconhecer que os pais, como primeiros educadores das crianas e parceiros

    da instituio de Educao Infantil na formao humana delas, devem

    participar da avaliao da aprendizagem e do desenvolvimento.

    4. Compreender o acompanhamento e a avaliao do processo de

    aprendizagem das crianas como aes que podem contribuir para

    reformulaes da prtica pedaggica e identificao de formas de articulao

    da Educao Infantil com o Ensino Fundamental.

    -

  • 11

    - CONSTRUINDO NOSSA APRENDIZAGEMEste texto est dividido em quatro sees: na Seo 1, vamos discutir algumas

    concepes de avaliao presentes nas prticas educativas e apontar alguns princpios

    norteadores para a avaliao na Educao Infantil; na Seo 2, abordaremos os

    componentes do processo de avaliao, destacando situaes e momentos favorveis

    para se avaliar; na Seo 3, discutiremos o papel da famlia no processo de avaliao

    da aprendizagem e do desenvolvimento das crianas; e, na Seo 4, a avaliao e o

    acompanhamento do processo de aprendizagem das crianas como aes que podem

    contribuir para a anlise da prtica e identificar formas de articulao com o Ensino

    Fundamental.

    Seo 1 Concepes de avaliao e princpios norteadores

    OBJETIVO A SER ALCANADO NESTA SEO:- IDENTIFICAR UMA CONCEPO DE AVALIAO A SERASSUMIDA EM SUA PRTICA, A PARTIR DE ANLISES DEDIFERENTES CONCEPES.

    Ou isto ou aquilo

    Ou se tem chuva e no se tem sol,

    ou se tem sol e no se tem chuva!

    Ou se cala a luva e no se pe o anel,

    ou se pe o anel e no se cala a luva!

    Quem sobe nos ares no fica no cho,

    quem fica no cho no sobe nos ares.

    uma grande pena que no se possa

    estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

    Ou guardo o dinheiro e no compro o doce,

    ou compro o doce e gasto o dinheiro.

    Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...

    e vivo escolhendo o dia inteiro!

    No sei se brinco, no sei se estudo,

    se saio correndo ou fico tranqilo.

    Mas no consegui entender ainda

    qual melhor: se isto ou aquilo.

    Ceclia Meireles

  • 12

    A poesia de Ceclia Meireles, que voc leu no quadro acima, mostra que, na vida,

    estamos sempre fazendo escolhas, e, para escolher, precisamos avaliar o que h de

    positivo ou negativo em cada situao. A avaliao uma prtica social. O ser humano

    avalia tudo a todo instante. Pensemos em nosso dia-a-dia, nas coisas que julgamos

    boas ou ms, necessrias ou suprfluas, importantes ou secundrias, naturais ou

    artificiais. Como exemplo, podemos pensar que, quando nos preparamos para sair

    de casa, selecionamos a roupa que vamos usar, verificamos as condies em que

    ela se encontra (limpa, bem passada), fazemos comparaes com outras que

    poderamos usar, julgamos qual a melhor e decidimos como vamos nos vestir

    naquele momento. Ou seja, ao fazermos nossas escolhas, estamos, de certa forma,

    verificando, selecionando, analisando e decidindo o que bom para ns em

    determinados momentos. Estamos, ento, fazendo uma avaliao.

    Em nossa prtica pedaggica, o conjunto dessas aes resulta no processo de

    avaliao da aprendizagem e do desenvolvimento das crianas. Entretanto, o uso de

    uma dessas aes isoladamente pode minimizar a ao educativa, impedindo sua

    transformao em prtica refletida, intencional e comprometida com os sujeitos que

    aprendem e ensinam.

    Isso significa que somente podemos considerar que estamos avaliando nossas crianas

    quando selecionamos criteriosamente os aspectos a serem avaliados, verificando

    se as estratgias que escolhemos para avali-las so as mais adequadas para

    obtermos elementos que nos possibilitem comparar avanos, analisar as intervenes

    que fizemos e definir o que necessrio para impulsionarmos a aprendizagem e o

    desenvolvimento das crianas.

    Vejamos, ento, que, quando falamos em avaliao das crianas numa creche, pr-

    escola ou escola, no restringimos o nosso olhar s crianas, mas estamos nos referindo

    a um processo que avalia tambm o trabalho realizado na instituio.

    Avaliar um dos grandes dilemas que vivem todos(as) os(as) professores(as).

    Historicamente, a escola carrega denncias sobre o uso indevido que faz da avaliao.

    Voc j deve ter vivido experincias em que a avaliao na escola serviu como

    instrumento para separar os que sabiam dos que no sabiam, quem poderia prosseguir

    ou quem teria que repetir tudo o que deveria ter aprendido durante todo o ano. Deve

    se lembrar, tambm, do valor atribudo prova como instrumento para manuteno

    da disciplina e classificao dos alunos em fracos, regulares, bons e timos.

    Nossa memria educativa nos remete a uma escola que utilizou, e ainda utiliza,

    instrumentos de medida que serviram, e ainda servem, para o exerccio da

    classificao, seleo e punio em nome da avaliao escolar.

  • 13

    ATIVIDADE 1

    Vamos agora fazer um exerccio de memria, relembrando experincias de

    avaliao que vivemos na escola. Na Unidade 5 do Mdulo III, voc fez um

    exerccio semelhante a este. Tente se lembrar das prticas de avaliao de

    seus(suas) professores(as), no perodo inicial de sua escolarizao, rememorando

    a partir das seguintes indicaes:

    Pense nas atividades realizadas em sala durante as aulas e nas atividades

    propostas nas avaliaes. Tente se lembrar da organizao da turma, do

    comportamento do(a) professor(a) e dos(as) alunos(as). As atividades de

    avaliao seguiam as mesmas orientaes das aulas? A sala ficava organizada

    de maneira diferente? Os(as) professores(as) e os(as) alunos(as) mantinham o

    mesmo comportamento que tinham durante as aulas?

    Tente se lembrar, ainda, dos instrumentos utilizados pelos(as) professores(as)

    (provas, questionrios e outros). Pense sobre o que se desejava avaliar.

    a) Em seu caderno, registre essas lembranas, destacando os sentimentos

    vividos nos momentos de avaliao.

    b) Em seguida, tente refletir sobre qual idia os(as) professores(as) que voc

    teve tinham sobre avaliao. Registre essa reflexo tambm.

    c) Discuta suas reflexes com seus(suas) colegas do PROINFANTIL na reunio

    quinzenal.

    Esperamos que este exerccio tenha servido para estimular questionamentos sobre

    as prticas de avaliao que voc viveu, de modo a favorecer sua reflexo sobre

    como voc vem avaliando as crianas com as quais trabalha.

    Historicamente, desde que a escola existe como instituio legitimada pela sociedade

    para a transmisso de conhecimentos socialmente produzidos, a avaliao tem sido

    um juzo de valor formulado pelos(as) professores(as), orientados(as) por padres de

    referncias universais. Isso significa que j estava previamente definido o que era

    necessrio aos(s) alunos(as) saberem e em que medida deveriam sab-lo; e os que

    no se encaixavam nesse padro eram reprovados. Reporte-se s suas lembranas e

    pense um pouco mais sobre isso.

  • 14

    A foto que aparece no quadro a seguir mostra uma turma do Colgio Caetano de

    Campos, uma escola do municpio de So Paulo no incio do sculo XX, mais

    precisamente no ano de 1908. Nela podemos observar os alunos enfileirados,

    debruados sobre seus cadernos, provavelmente escrevendo a lio que o professor

    dita do fundo da sala. Esta foto retrata um modelo de escola tradicional, onde no h

    espao para uma participao mais ativa dos alunos. Neste modelo de escola, as

    prticas de avaliao esto fortemente ligadas s medidas de conhecimentos.

    A idia de avaliar para medir conhecimentos revela uma concepo de avaliao

    como verificadora do que se espera que seja aprendido, ou ainda, como medida de

    desempenho, o que pressupe a seleo do que medir, das formas de mensurao

    e o que fazer com os resultados obtidos.

    A idia de mensurao ou medida do desempenho escolar dos alunos ganhou fora

    no incio do sculo passado, basicamente na dcada de 30, nos Estados Unidos, e

    influenciou fortemente os estudos e pesquisas sobre o tema no Brasil, principalmente

    a partir da dcada de 60. Enfatizava-se o julgamento dos resultados dos alunos,

    tendo em vista os objetivos propostos.

    So recentes os estudos que apontam para uma avaliao que se diferencie dessa

    perspectiva de julgar resultados e que, ao invs disso, busque a anlise dos processos

    de ensinar e de aprender, considerando os fatores que determinam esses processos.

    Nas perspectivas atuais, a avaliao analisa uma situao ou uma ao como ela e

    o que pode ser feito para transform-la, ou seja, o(a) professor(a) busca definir

    estratgias para diagnosticar o que as crianas sabem sobre determinado assunto e

    analisar os avanos alcanados por elas em determinado perodo.

  • 15

    Essa forma de avaliar inclui, ao invs de excluir em funo de uma medida-padro,

    uma vez que no compara a criana com esse padro, mas valoriza as suas conquistas,

    elevando sua auto-estima. Nessa perspectiva, avaliar implica proceder a uma anlise

    individualizada das aprendizagens das crianas, levando em considerao o processo,

    bem como os contextos em que elas se realizam.

    Medir diferente de avaliar. A medida descreve habilidades com dados

    quantitativos. A avaliao descreve fenmenos e interpreta-os, fazendo uso,

    tambm, de dados qualitativos.

    Indcios

    No se sabe se aconteceu h sculos, ou h pouco, ou nunca.

    Na hora de ir para o trabalho, um lenhador descobriu que o machado tinha

    sumido. Observou o vizinho e comprovou que tinha o aspecto tpico de um

    ladro de machados: o olhar, os gestos, a maneira de falar...

    Alguns dias depois, o lenhador achou o machado, que estava perdido num canto

    qualquer.

    E quando tornou a observar seu vizinho, comprovou que no parecia nem um

    pouco um ladro de machados, nem no olhar, nem nos gestos, nem na maneira

    de falar.

    (GALEANO Eduardo (2004, p. 236).

  • 16

    Sabemos que nenhuma ao humana neutra, ou seja, nossas aes so comandadas

    pelas nossas concepes e tudo que fazemos intencional. Como vimos no fragmento

    apresentado no quadro anterior, nossos preconceitos e crenas influem na avaliao

    que fazemos das situaes e acontecimentos.

    Da mesma forma, a avaliao, no mbito escolar, nunca neutra, pois se sustenta

    nas concepes de criana, de educao, de cultura e de aprendizagem, que orientam

    o cotidiano das instituies.

    Pensemos: o que se avalia na Educao Infantil? O que deve ser objeto de

    avaliao?

    Diante do que temos colocado at o momento, pode ser que voc esteja pensando

    sobre as prticas de avaliao que voc desenvolve na instituio onde trabalha e

    nas concepes que tm orientado essas prticas.

    Ento vamos refletir um pouco mais sobre isso?

    As prticas avaliativas acompanham o desenvolvimento da Educao Infantil e das

    funes que ela foi assumindo historicamente. Nas instituies em que a funo

    bsica a guarda das crianas, ou seja, onde predomina a perspectiva assistencialista,

    no se tem encontrado a avaliao como atividade pedaggica fundamental para o

    acompanhamento da aprendizagem e do desenvolvimento das crianas, uma vez

    que estes elementos no compem o projeto educativo das instituies.

    Quando nos encontramos diante de uma instituio que oferece s crianas e aos

    pais um projeto educativo sustentado por prticas intencionais e bem-estruturadas

    de cuidado e educao das crianas, podemos perceber a busca de uma avaliao

    como mediadora entre a ao educativa e as aprendizagens e o desenvolvimento

    das crianas.

    Que tal pensar um pouco mais sobre suas prticas avaliativas?

  • 17

    ATIVIDADE 2

    No Mdulo III, Unidade 5, voc foi convidado(a) a pensar sobre o modo como

    avalia as crianas com as quais trabalha.

    Pense nas orientaes de sua instituio para a avaliao e o acompanhamento

    da aprendizagem e do desenvolvimento das crianas com as quais voc

    trabalha. Quais so essas orientaes?

    Agora pense no seu dia-a-dia. Como voc acompanha o desenvolvimento das crianas

    com as quais trabalha? Que atividades voc realiza com o objetivo de avaliar as

    crianas? Discuta essas atividades com seus(suas) colegas na reunio quinzenal.

    Talvez, ao responder as questes propostas, voc tenha se deparado com alguns

    dos principais dilemas que vivem os(as) professores(as) da Educao Infantil, quando

    o assunto a avaliao das crianas. Isso bem compreensvel, uma vez que, conforme

    discutimos na pgina anterior, em vrias instituies ainda no possvel observar

    prticas avaliativas bem estruturadas. Isso pode ser mais bem compreendido a partir

    da anlise dos fatores que destacamos a seguir:

    - em primeiro lugar, precisamos nos lembrar de que a maior parte das

    instituies de Educao Infantil se constituiu historicamente para exercer

    as funes de guarda e de assistncia s crianas.

    - essas instituies passaram a fazer parte da Educao Bsica sem, contudo,

    estarem preparadas para assumirem uma funo pedaggica.

    - como conseqncia desse fator, temos poucas experincias de uso de

    instrumentos e aes sistemticas de avaliao na Educao Infantil. Alm

    disso, prticas bem sucedidas de avaliao nesta etapa da Educao Bsica

    so ainda pouco conhecidas pelos(as) professores(as).

    Considerando esses fatores, veremos, a seguir, algumas orientaes para o

    desenvolvimento de prticas avaliativas coerentes com a formao que desejamos

    para as nossas crianas.

  • 18

    Os avanos conseguidos no

    mbito das polticas pblicas para

    a Educao Infantil tm colocado

    em evidncia a funo pedaggica

    das creches e pr-escolas que, a

    partir da Lei de Diretrizes e Bases

    da Educao Nacional em vigor,

    passam a fazer parte da Educao

    Bsica

    nessa mesma lei que encontramos orientaes sobre a avaliao na Educao Infantil.

    O artigo 31 define que esta far-se- mediante acompanhamento e registro do seu

    desenvolvimento, sem o objetivo de promoo, mesmo para o acesso ao Ensino Fun-

    damental.

    Como voc pode ver na Unidade 5, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

    Educao Infantil reforam essa orientao. Tanto na LDB quanto nas Diretrizes h a

    preocupao em resguardar as crianas na Educao Infantil das prticas avaliativas

    do Ensino Fundamental, que, historicamente, tm dado maior importncia aos

    resultados do que aos processos de desenvolvimento.

    Apesar disso, mesmo no tendo notas e sem visar a promoo a etapas posteriores

    da escolarizao, o que se tem encontrado, comumente, nas instituies que atendem

    as crianas de 0 a 6 anos, a adaptao de testes, pareceres descritivos e fichas

    avaliativas usados no Ensino Fundamental, sem que se alterem as formas de

    observao das crianas a partir de um olhar sensvel e reflexivo sobre seu desenvol-

    vimento e suas aprendizagens. (HOFFMANN, 1996).

    Para desenvolver uma prtica avaliativa que d mais importncia aos processos do

    que aos resultados, necessrio que o(a) educador(a) desenvolva a capacidade de

    abrir os olhos, de olhar. Olhar para ver alm do que est visvel. Por isso, fundamen-

    tal que o(a) professor(a) desenvolva habilidades de observao do cotidiano das

    crianas que lhes permitam ver alm do que aparente ou daquilo que se apresenta.

    Nessa perspectiva, a avaliao dinmica, uma vez que deve se efetivar em diferentes

    situaes em que ocorrem as aprendizagens das crianas.

    Pris

    cilla

    Silv

    a N

    oguei

    ra

  • 19

    Observe a imagem no quadro abaixo.

    No quadro anterior, voc pde observar a tela Impresso, nascer do sol, pintado

    por Claude Monet, em 1872. Este quadro pertence (e deu nome) ao chamado

    Movimento Impressionista. Os pintores impressionistas buscavam revelar, em suas

    obras, as impresses visuais produzidas por diferentes cenas e formas da natureza,

    causadas pela incidncia da luz. Para serem capazes de produzir pinturas como a

    que voc viu, os pintores impressionistas provavelmente tiveram que desenvolver um

    apurado senso de observao. Atravs da apreciao da obra de arte, ser que

    tambm ns poderamos aprender a ver com outros olhos?

    A avaliao de grande importncia para o desenvolvimento da crtica e da autocrtica

    do(a) professor(a) em relao ao seu planejamento e s suas formas de atuao.

    tambm uma ao que propicia a anlise do percurso e dos progressos das crianas,

    bem como das relaes que se estabelecem entre os sujeitos envolvidos na ao

    educativa, incluindo a famlia.

    Alguns estudiosos destacam a perspectiva acolhedora da avaliao na Educao

    Infantil, defendendo que, nesta perspectiva, tem-se como objetivo principal

    diagnosticar e incluir as crianas pelos mais variados meios, utilizando os recursos

    necessrios para o acompanhamento da aprendizagem e integrando todas as

    experincias que elas vivem, tendo, assim, um carter global.

  • 20

    Seo 2 Componentes do processo de avaliao

    OBJETIVO A SER ALCANADO NESTA SEO:

    - REFLETIR SOBRE A IMPORTNCIA DA AVALIAO

    NO PROCESSO PEDAGGICO COMO FORMA DE

    ACOMPANHAMENTO DO DESENVOLVIMENTO

    E APRENDIZAGEM DAS CRIANAS, RECONHECENDO

    DIFERENTES MOMENTOS, SITUAES, MODOS

    DE AVALIAR E ATORES DESSE PROCESSO.

    Quem avalia?

    Como vimos, especialmente na Unidade 5 do Mdulo III, a avaliao uma atividade

    que envolve todos os atores que fazem parte dos processos de desenvolvimento e

    aprendizagem das crianas: os(as) professores(as), as prprias crianas, os pais e os

    demais profissionais da instituio. A partir dos princpios norteadores, destacados

    anteriormente, a integrao entre estes atores fundamental para a realizao de

    uma avaliao acolhedora e inclusiva. Algumas questes acerca do desenvolvimento

    e da aprendizagem das crianas podem ser pensadas coletivamente e orientar a

    ao dos envolvidos nas creches, pr-escolas e escolas onde funcionam turmas de

    Educao Infantil, por exemplo:

    - Quem so as crianas?

    - Como elas se desenvolvem?

    - Qual o papel da instituio de Educao Infantil nesse processo?

    - Qual o papel do(a) professor(a)?

    - Como a instituio de Educao Infantil e a famlia podem atuar articulada-

    mente, visando melhores formas de acompanhar a criana?

    Tomando-se estas e outras questes como referncia, pode-se transformar o ato de

    avaliar num processo constante de ao-reflexo-ao e assim orientar a tomada de

    conscincia dos envolvidos, o que ir permitir:

    Ao() professor(a): desenvolver a capacidade de observao e de registro dos

    avanos das crianas, bem como refletir sobre as alternativas e estratgias para as

    intervenes necessrias e, ainda, ampliar a capacidade de reflexo sobre seu fazer

    e sua formao.

  • 21

    instituio: analisar e reorganizar sua estrutura e seu funcionamento em funo

    das demandas das crianas, dos pais e dos(as) professores(as). Repensar, cotidia-

    namente, a proposta de integrao com as famlias e o processo de formao

    continuada dos(as) professores(as) e demais profissionais. Em sntese, avaliar e

    aprimorar continuamente sua proposta pedaggica.

    Aos pais: acompanharem o desenvolvimento de seus filhos, compartilhando com

    a instituio e com os(as) professores(as) os progressos e/ou necessidades das

    crianas, bem como participarem das propostas da instituio, buscando solues

    conjuntas.

    Ao considerarmos todos esses aspectos, estaremos privilegiando a avaliao em

    sua dimenso pedaggica, o que implica pensar que, ao avaliar a aprendizagem

    e o desenvolvimento das crianas, todos os atores do processo esto, tambm, se

    avaliando e sendo avaliados. esse carter de reciprocidade da avaliao que nos

    obriga a pensar o quanto importante a interao entre esses sujeitos.

    atravs de aes sistematizadas e integradas que podemos realizar a avaliao

    numa dimenso pedaggica, que promove na criana uma auto-imagem positiva,

    pois valoriza suas atividades na instituio, sua convivncia com os grupos de

    colegas e seus saberes. Nesse processo, o(a) professor(a) tem um papel fundamen-

    tal de provocador(a), aquele(a) que est atento(a) s condies e capacidades da

    criana e procura conhec-la cada vez mais,

    medida em que a incentiva a buscar novas

    aprendizagens, desafiando-a constantemente e

    valorizando os seus avanos.

    Alguns estudiosos defendem a tese de que as

    expectativas dos(as) professores(as) sobre as

    crianas podem funcionar como elemento

    propulsor do desenvolvimento. No Mdulo II,

    quando estudamos a teoria de Lev Vygotsky, vimos

    que o ser humano constri sua subjetividade na

    relao com outros seres humanos. Nesse sentido,

    a criana internaliza o modo como avaliada pelo

    adulto (se o adulto acredita que a criana pode

    se desenvolver, que capaz, competente) e que

    Pris

    cilla

    Silv

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    oguei

    ra

  • 22

    passa a corresponder quilo que se diz ou se espera dela. Dessa forma, o(a)

    professor(a) que acredita no potencial das crianas e direciona suas aes visando

    desafi-las para novos avanos est contribuindo para que elas tenham a auto-

    estima elevada e construam uma auto-imagem positiva, que favorece novas

    aprendizagens.

    Lembre-se, ento: voc tem um papel muito importante no desenvolvimento

    das crianas quando pratica uma avaliao responsvel e acolhedora e acredita

    no potencial de cada uma.

    ATIVIDADE 3

    Vamos pensar um pouco mais sobre as prticas de avaliao da instituio

    onde voc trabalha. Tente responder, em seu caderno, as questes abaixo:

    1. Existem reunies para se discutir especificamente as prticas de avaliao?

    2. Como o seu trabalho, professor(a), avaliado pela instituio? Quais

    instrumentos so utilizados nesse processo?

    3. Como feita a avaliao de sua instituio? Qual a participao dos pais?

    A partir desta atividade de reflexo sobre as prticas avaliativas na sua instituio,

    vamos avanar um pouco mais, conversando sobre instrumentos e situaes favorveis

    avaliao.

    O que como avaliar?

    Em primeiro lugar, preciso pensar que, em funo da complexidade dos processos

    de ensinar e aprender, no possvel estabelecer aes predeterminadas de avaliao

    das crianas, relacionadas em uma listagem de comportamentos e de aprendizagens.

    Isso impossvel, uma vez que na Educao Infantil a observao do desenvolvimento

    cotidiano da criana o principal instrumento de avaliao. A observao deve ser

    sustentada por conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil e orientada por metas

    e objetivos claros, definidos na proposta pedaggica da instituio e concretizados na

    prtica educativa do(a) professor(a). importante ressaltar que esses objetivos devem,

    necessariamente, levar em conta todos os aspectos do desenvolvimento da criana.

  • 23

    Alm da observao, o registro , tambm, um grande instrumento no processo de

    avaliao das crianas, dos(as) professores(as), de seu trabalho e da instituio. O

    registro pode acontecer atravs de diferentes instrumentos, como, por exemplo:

    fotografias, portflios, relatrios dirios e gerais, desenhos, avaliao do dia pelas

    crianas, dentre outros. O importante pensar no significado dos registros e como

    eles podem apontar caminhos para melhor conhecer e acompanhar o desenvolvimento

    das crianas.

    Quando o(a) professor(a) faz o registro de suas observaes, ele(a) pensa o que

    registrar e analisa aquilo que observou. A escrita uma das formas privilegiadas de

    representao da nossa realidade, nos obriga a reorganizar nosso pensamento e nos

    estimula a refletir sobre o que est sendo representado. O registro tambm

    importante como documentao da histria/processo do trabalho e do

    desenvolvimento da criana.

    Os registros escritos podem ser feitos com a participao das crianas, contribuindo

    para que elas percebam essa importante funo da escrita, mesmo antes de

    saberem escrever. Observe nos quadros abaixo como uma professora de crianas

    de 3 anos fez, a partir do relato dos pequenos, o registro de um passeio a um

    horto botnico da cidade.

    Passeio ao horto

    Eu vi as plantinhas e a borboleta. (Roberta)

    A gente colocou a sementinha no bercinho dela. (Felipe)

    Eu gostei mais da aranha e da sementinha. (Letcia)

    Fiquei com medo do cavalo branco. (Suzana)

    Quando avaliar?

    Pensemos agora em situaes que podem favorecer a observao e o registro da

    avaliao das crianas no cotidiano do trabalho do(a) professor(a) e da instituio de

    Educao Infantil.

  • 24

    A instituio cuja proposta pedaggica est sustentada em aes intencionais

    de cuidado e educao, ou seja, numa perspectiva pedaggica, oferece, s

    crianas, ricas situaes de aprendizagem. Essas situaes so, tambm,

    momentos privilegiados para o(a) professor(a) fazer uma observao sistemtica

    de suas crianas. Vamos pensar em algumas delas:

    Numa turma de crianas de 5 anos, a chegada de um irmo provocou uma

    mudana de atitudes numa das crianas. O menino se tornou mais arredio,

    manifestando dificuldades em se relacionar com as outras crianas. Um dia,

    diante do pedido da professora para que as crianas desenhassem como elas

    eram, o menino em questo desenhou uma janela fechada. Ao observar o

    desenho, a professora e tambm os pais puderam perceber como aquele

    momento estava sendo difcil para a criana, o que fez com que buscassem dar

    a ela mais ateno para ajud-la a superar aquela crise.

    As produes das crianas: so instrumentos importantes para o acompanhamento

    do desenvolvimento das crianas. Todos os tipos de produes (desenhos, registros

    escritos, elaboraes artsticas, entre outros) devem ser apreciados e analisados

    pelos(as) professores(as) com cuidado, pois, atravs deles, tem-se a possibilidade de

    acompanhar a trajetria das crianas, como podemos perceber no relato que

    apresentamos no quadro anterior.

    As produes dos(as) professores(as): so recursos fundamentais para a anlise

    do cotidiano do grupo de crianas e para a reviso das prticas educativas. Nesses

    instrumentos (planejamentos das aulas, relatrios, instrumentos de avaliao,

    propostas de atividades para as crianas e outros) podem ser encontradas informaes

    reveladoras dos avanos do trabalho pedaggico desenvolvido com o grupo e,

    principalmente, das expectativas dos(as) professores(as).

    As atividades em grupos: podemos, atravs da observao do comportamento

    das crianas e de suas reaes frente aos desafios da convivncia com outras crianas,

    analisar os modos de interagir e as necessidades de intervenes nas atividades

    coletivas, visando o desenvolvimento das crianas em seus diferentes aspectos.

    As brincadeiras das crianas: as diferentes formas de brincar que as crianas buscam

    diariamente so momentos fundamentais para a observao sistemtica do(a)

    professor(a). Individual ou coletivamente, as crianas, durante as brincadeiras, revelam

  • 25

    modos de ver, compreender, sentir e representar a realidade e nos fornecem

    importantes subsdios para compreender o seu desenvolvimento. Possibilitam, tambm,

    pensar em atividades, propostas e formas de organizao dos espaos e tempos

    institucionais que favoream suas manifestaes e representaes.

    As atividades individuais das crianas: de um modo geral, todas as atividades que

    as crianas realizam individualmente so fundamentais para a compreenso e o

    acompanhamento do seu desenvolvimento. Em diferentes momentos (atividades de

    movimento, atividades de higiene e alimentao, representaes, escolhas de objetos,

    formas de interao com os adultos e com as outras crianas) possvel ao() profes-

    sor(a) observar, registrar e analisar o comportamento delas.

    Essas so apenas algumas dentre outras muitas possibilidades que o ambiente

    institucional oferece ao() professor(a) para que possa investigar as potencialidades

    de suas crianas e promover as intervenes necessrias ao seu desenvolvimento.

    A atividade proposta a seguir pode ajud-lo(a) a refletir sobre suas prticas de

    avaliao.

    ATIVIDADE 4

    Relacione e descreva, em seu caderno, pelo menos trs situaes do seu

    cotidiano na instituio onde voc trabalha que voc considera como

    momentos privilegiados para a sistematizao da observao e do registro,

    como formas de avaliao do desenvolvimento e da aprendizagem das crianas.

    Discuta com seus(suas) colegas no encontro quinzenal do PROINFANTIL.

    Seo 3 O papel da famlia no processo de avaliao da aprendizagem

    e do desenvolvimento das crianas

    OBJETIVO DESTA SEO:

    - RECONHECER QUE OS PAIS, COMO PRIMEIROS EDUCADORES

    DAS CRIANAS E PARCEIROS DA INSTITUIO DE EDUCAO

    INFANTIL NA FORMAO HUMANA DAS CRIANAS,

    DEVEM PARTICIPAR DA AVALIAO DA APRENDIZAGEM

    E DESENVOLVIMENTO.

  • 26

    Conforme j afirmamos na seo ante-

    rior, os pais so atores fundamentais no

    processo institucional de avaliao e de

    acompanhamento das crianas. Como

    voc j estudou em mdulos anteriores,

    especialmente nos Mdulos II e III, o

    desenvolvimento da criana est

    relacionado tanto com as suas

    condies biolgicas quanto com as condies proporcionadas pelo contexto social e

    cultural em que ela vive. Dessa forma, com os pais e demais integrantes da famlia,

    sejam eles adultos ou crianas, que ela vai interagir, iniciando seu processo de

    socializao e construindo suas primeiras representaes sobre o mundo. A famlia

    constitui-se, assim, na primeira fonte de informaes sobre o mundo e referncia de

    socializao.

    Ao receber a criana, a instituio educativa deve ter conscincia de que ela j traz

    consigo uma histria de experincias e de aprendizagens e determinado ritmo de

    desenvolvimento. Dessa forma, precisa coletar o mximo possvel de informaes

    sobre esses processos, para dar continuidade a eles, respeitando as experincias j

    vividas e constituindo parmetros a partir dos quais possa analisar e acompanhar o

    processo de desenvolvimento das crianas.

    Pense sobre a sua relao com as famlias das crianas com as quais trabalha para

    realizar a atividade proposta a seguir.

    ATIVIDADE 5

    1. De que maneira as famlias contribuem para que voc compreenda melhor

    o desenvolvimento das crianas com as quais voc trabalha?

    2. Como voc acha que pode ampliar a interao com as famlias, no sentido

    de obter informaes mais elaboradas sobre o desenvolvimento das crianas?

    Vamos continuar levantando algumas possibilidades de atuao junto aos pais, visando

    ampliar as possibilidades de melhor avaliar e acompanhar o desenvolvimento e as

    aprendizagens das crianas.

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  • 27

    Comecemos por pensar na instituio de Educao Infantil como aquela que tem

    como finalidade o desenvolvimento integral da criana at seis anos de idade,

    em seus aspectos fsico, psicolgico, intelectual e social, complementando a

    ao da famlia e da comunidade (LDB, art.29). possvel concluir, a partir do

    que diz a lei, que s possvel complementar aquilo que se conhece bem. O grande

    desafio das creches, pr-escolas e escolas que possuem turmas de Educao Infantil,

    alm de conhecer o contexto e as experincias de vida das crianas, buscar

    identificar como as famlias lidam com as caractersticas especficas do

    desenvolvimento infantil, como compreendem os modos de pensar e agir das crianas

    e quais so os estmulos do ambiente familiar para o seu desenvolvimento. Somente

    assim possvel essa ao complementar intencional e bem articulada.

    As prprias crianas so importantes para fazer relatos sobre sua vida em famlia.

    Dando ateno individual a elas, ouvindo-as, estimulando-as a contarem sobre sua

    rotina diria, propondo atividades de registro sobre a famlia, podemos conhecer os

    seus modos de vida. Podemos, inclusive, verificar como a instituio tem interferido

    na rotina familiar.

    A situao descrita no quadro a seguir mostra como as crianas revelam aspectos de

    sua vida familiar e como importante saber lidar com as informaes que elas trazem.

    Carolina, 4 anos, chega escola

    emburrada, brigando com todas as

    outras crianas de seu grupo. A

    professora faz a roda de conversas. Na

    roda, Carolina diz que hoje est igual

    sua me. A professora pergunta por

    qu. Carolina explica:

    Hoje minha me estava muito nervosa. Ela quebrou um espelho l em casa e

    brigou com todo mundo.

    A professora explica que podemos colocar para fora nossa raiva de outras

    maneiras, por exemplo, desenhando. Sugere, ento, que as crianas desenhem

    aquilo que faz com que fiquem zangadas. Todas desenham, inclusive Carolina,

    que, depois de desenhar, se acalma e se integra ao grupo.

  • 28

    Alm disso, outras atividades mais formais podem favorecer nosso relacionamento

    com a famlia, em busca de elementos significativos para a avaliao da aprendizagem

    e do desenvolvimento das crianas. Vejamos alguns exemplos, alm dos que j fo-

    ram apresentados no Mdulo III:

    - Solicitar s crianas tarefas em que necessitem descrever ou representar

    aes de sua rotina familiar e/ou trazer de casa coisas que fazem parte de

    suas vivncias para mostrar ao grupo.

    - Os registros em cadernetas, agendas ou outros instrumentos utilizados pela

    instituio para informaes aos pais e vice-versa.

    - Outras formas mais elaboradas podem ser propostas aos pais, dependendo

    de suas possibilidades e hbitos de escrita, tais como relatrios peridicos

    sobre os avanos das crianas. Assim como os relatrios feitos pelos(as)

    professores(as), so instrumentos importantes para prestar informaes aos

    pais, eles tambm podem fazer uso da escrita para informar instituio

    detalhes sobre a criana. Alm de relatrios, o envio de cartas e bilhetes dos

    pais instituio deve ser estimulado pelos(as) professores(as), pois se

    constituem em preciosos documentos para a avaliao, no s das crianas,

    mas, tambm, da instituio como um todo.

    Se, por um lado, a participao das famlias importante para o trabalho

    desenvolvido nas creches, pr-escolas e escolas onde funcionam turmas de

    Educao Infantil, por outro, incentivando a participao dos pais no desenvolvimento

    da ao educativa, as creches, escolas ou pr-escolas que possuem turmas de

    Educao Infantil podem tambm favorecer a ao dos familiares sobre as crianas,

    uma vez que eles podero conhecer melhor os aspectos do desenvolvimento infantil,

    aprender a reforar as aes da instituio que so por eles aprovadas e descobrir

    que, tambm em casa, podem preparar ambientes favorecedores do

    desenvolvimento das crianas, a exemplo da instituio.

    Para isso, so fundamentais os encontros coletivos e individuais entre pais,

    professores(as) e demais profissionais, programados e preparados com objetivos bem

    definidos. importante que estes sejam verdadeiramente momentos de troca,

    lembrando o que possuem em comum: a responsabilidade com a educao e com o

    cuidado das crianas. O importante que a famlia e a instituio de Educao Infantil

  • 29

    busquem juntas favorecer o desenvolvimento e a construo da autonomia pela

    criana. Entretanto, importante lembrar que cada famlia possui diferentes

    possibilidades de participar da vida da instituio e que essa participao muitas

    vezes envolve conflitos que precisam ser enfrentados com tranqilidade.

    Seo 4 A avaliao como instrumento orientador de formas de

    articulao com o Ensino Fundamental

    OBJETIVO DESTA SEO:

    - RECONHECER O ACOMPANHAMENTO E A

    AVALIAO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

    DAS CRIANAS COMO INSTRUMENTOS QUE

    PODEM CONTRIBUIR PARA REFORMULAES

    DA PRTICA PEDAGGICA E IDENTIFICAO

    DE FORMAS DE ARTICULAO DA EDUCAO

    INFANTIL COM O ENSINO FUNDAMENTAL.

    Nesta seo, vamos retomar algumas idias e buscar estabelecer uma relao entre

    a Educao Infantil e o Ensino Fundamental, bem como discutir o papel da avaliao

    das crianas como elemento que pode favorecer esta inter-relao.

    Para iniciar, vamos fazer outro exerccio:

    ATIVIDADE 6

    A partir de seu conhecimento sobre os anos iniciais do Ensino Fundamental,

    relacione, em seu caderno, aspectos que voc julga comuns e aqueles que julga

    diferentes nas prticas educativas do Ensino Fundamental e naquelas da

    Educao Infantil.

    Agora pense nas prticas de avaliao. O que h de comum e de diferente na

    Educao Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental em relao s

    prticas de avaliao?

    Discuta essas questes com seus(suas) colegas no encontro quinzenal do

    PROINFANTIL.

  • 30

    Acreditamos que voc tenha encontrado tanto aspectos comuns quantos aspectos

    diferentes entre estes dois nveis educacionais. A que se deve este fato? Vamos pensar?

    A integrao da Educao Infantil ao sistema de ensino um fato relativamente novo.

    As mudanas que vm ocorrendo, principalmente a partir da dcada de 90, revelam

    o crescimento, tanto da oferta de vagas para as crianas de 0 a 6 anos quanto da

    compreenso da importncia deste nvel educacional para a formao das crianas e

    para a prpria evoluo qualitativa do sistema de ensino, uma vez que muitas pesquisas

    na rea comprovam que as crianas que freqentam a Educao Infantil apresentam

    melhor desempenho no Ensino Fundamental.

    Entretanto, a avaliao prtica bastante diferenciada nesses dois nveis de ensino. No Ensino

    Fundamental, as crianas, ainda que novas, esto expostas aos ditames de uma avaliao

    que ainda prioriza a verificao de aprendizagens, conforme discutimos na Seo 1.

    Como a avaliao pode favorecer a articulao entre a Educao Infantil e o

    Ensino Fundamental?

    A articulao entre esses dois nveis educacionais uma tarefa necessria. Porm,

    no temos a receita para alcanarmos esta meta.

    muito importante para ns, professores(as) da Educao Infantil, pensarmos no papel

    relevante que cumprem as instituies que oferecem educao e cuidado s crianas

    de 0 a 6 anos nesse contexto social em que novas configuraes da famlia e da infncia

    esto sendo construdas. Lembremos que a valorizao da Educao Infantil, atravs

    de sua insero na Educao Bsica, est se efetivando de forma rpida, inclusive no

    mbito da produo de um novo olhar sobre a infncia. Isso aumenta nossa

    responsabilidade e nos impulsiona a desenvolvermos prticas pedaggicas coerentes

    com as concepes de infncia e aprendizagem que defendemos.

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  • 31

    Isso tem influncia direta sobre as prticas de avaliao, pois estas revelam, como

    dito anteriormente, o projeto educativo do(a) professor(a) e da instituio. Pensemos

    que nosso objetivo que as prticas da avaliao possam contribuir para que a

    Educao Infantil de qualidade se efetive como direito das crianas e das famlias.

    Assim, vamos reforar a idia: no basta que a instituio de Educao Infantil

    assuma que preciso ter uma proposta pedaggica e valorizar a avaliao como

    componente essencial dessa proposta. preciso compreender o importante papel

    que temos de garantir no Ensino Fundamental: a continuidade do propsito

    educativo que perseguimos na Educao Infantil.

    O Ensino Fundamental tem tido dificuldades de implementar novas perspectivas

    para as prticas avaliativas, pois, como vimos anteriormente, est impregnado pela

    cultura da nota e da prova. A dificuldade reside no fato de se ter de construir

    alternativas para avaliar o desenvolvimento a partir de uma concepo de criana

    como ser nico em constante interao com a cultura, como foi visto em mdulos

    anteriores. Os parmetros que se tm utilizado para avaliar as crianas no Ensino

    Fundamental no esto adequados a esta forma de ver a criana e seu

    desenvolvimento.

    As instituies de Educao Infantil tm conseguido significativos avanos em relao

    discusso de propostas pedaggicas. A ampliao desses avanos para o Ensino

    Fundamental , hoje, essencial para que possamos garantir a continuidade do

    processo de formao das crianas.

    E como podemos fazer isso?

    Em primeiro lugar, necessrio conhecer o funcionamento dos sistemas de ensino

    (municipal, estadual e particular) do seu municpio e buscar, de maneira institucional,

    participar de encontros com equipes de professores(as), pedagogos(as) e gestores(as)

    das instituies de Ensino Fundamental para discutir concepes e trocar experincias

    de prticas pedaggicas.

    Dessa forma, os(as) professores(as) da Educao Infantil podero contribuir para a

    reviso da funo que a escola de Ensino Fundamental vem desempenhando ao

    longo da histria, que a de transmitir conhecimentos considerados cientficos,

    acreditando que o conhecimento algo que se adquire de fora para dentro.

  • 32

    Queremos pleitear uma escola que seja responsvel por um processo formador

    muito mais amplo do que apenas passar conhecimentos. o que nos afirma

    Rodrigues (1999) sobre o que se espera da escola:

    o que dela se espera no presente e no futuro relaciona-se com uma tarefa formativa

    do homem e do cidado, para torn-lo competente intelectual, emocional, moral e

    fisicamente efetivo participante na vida social. (RODRIGUES, 1999, p. 19).

    Este debate envolve a Educao Infantil, pois esta, na atual configurao do sistema

    educacional, antecede o Ensino Fundamental e/ou se mistura a ele, uma vez que

    as crianas de 6 anos esto sendo includas nesse nvel de ensino. Dessa forma, as

    prticas pedaggicas da Educao Infantil, com destaque para a avaliao, tm muito

    a contribuir para a continuidade dos processos formativos das crianas no Ensino

    Fundamental.

    A tela que voc v no quadro acima se chama Cu e gua 1 e foi pintada por

    Maurits Escher, um pintor que gostava de brincar com as formas, em 1938.

    Nessa tela, no sabemos se os peixes se transformam em gansos ou vice-versa.

    As imagens esto to integradas que no sabemos dizer com certeza quando

    comeam a se diferenciar. Essa imagem exemplifica como deveria acontecer a

    integrao entre Educao Infantil e Ensino Fundamental: um processo gradual,

    natural, tranqilo.

  • 33

    Como podemos ver, sempre que nos referimos avaliao nos reportamos aos

    conceitos de processo, continuidade, anlise e reflexo, retomando a idia de que,

    quando o(a) professor(a) avalia suas crianas, est avaliando a sua prtica e,

    portanto, se auto-avaliando e avaliando a instituio onde trabalha. Portanto, as

    prticas de avaliao so instrumentos para redirecionar o trabalho na Educao

    Infantil, pois elas contribuem tambm para que as crianas se desenvolvam.

    Conseqentemente, quando so encorajadas a agir com autonomia, quando

    constroem uma auto-imagem positiva, confiando em suas possibilidades de aprender,

    as crianas chegam mais bem preparadas no Ensino Fundamental.

    ATIVIDADE 7

    A partir do estudo deste texto que estamos encerrando, registre, no seu

    caderno, a sua concepo de avaliao.

    PARA RELEMBRAR

    Bem, professor(a), durante o estudo desta unidade, voc

    se deparou com novos conceitos, novas aprendizagens.

    Vamos destacar alguns dos aspectos mais importantes para

    voc relembrar.

    - Reforando uma idia importante: a avaliao uma prticasocial, e por isso sustentada pelo conhecimento que temos sobre

    o que estamos avaliando. Portanto, para avaliar bem preciso

    conhecer bem. No caso da Educao Infantil, importante que voc

    conhea, dentre outros aspectos, as diferentes realidades de suas

    crianas, os fatores que interferem em seus desenvolvimentos e em

    suas aprendizagens.

    - A observao a estratgia privilegiada do(a) professor(a) para avaliaro progresso de suas crianas. Os registros so fundamentais para

    consolidar essa observao e, alm disso, possibilitam ao()

    professor(a) a anlise e a reflexo sobre seu trabalho.

  • 34

    - Vamos nos lembrar, tambm, dos atores envolvidos no processo deavaliao. Pensemos que todos esto comprometidos com o acolhimento,

    a segurana, o desenvolvimento das crianas e o bem-estar coletivo.

    Todos na instituio esto, a todo tempo, ensinando modos de ver, sentir

    e agir sobre o mundo. A avaliao das crianas , tambm, a avaliao

    de todos os sujeitos que participam direta ou indiretamente dos processos

    educativos, incluindo-se a a famlia.

    - No se esquea, tambm, das vrias situaes do cotidiano que vocpode utilizar para observar e avaliar o desenvolvimento de suas crianas,

    assim como os diferentes instrumentos que voc pode utilizar no seu

    trabalho de avaliao.

    - Lembre-se: NO EXISTEM RECEITAS PARA AVALIAR AS CRIANAS.- Mas voc pode aproveitar as experincias de colegas, buscar subsdios

    em estudos e relatos de outras instituies e aproveitar bem as informaes

    dos pais de suas crianas.

    - Por fim, no se esquea de que temos o compromisso de subsidiar acontinuidade da escolarizao de nossas crianas, buscando formas de

    articulao com o Ensino Fundamental.

    ABRINDO NOSSOS HORIZONTES

    Orientaes para a prtica pedaggica

    Professor(a), o tema avaliao muito complexo e no houve inteno de esgot-lo neste

    estudo. Sabemos que em seu dia-a-dia voc ir se defrontar com os dilemas referentes

    s prticas avaliativas, principalmente agora que teve oportunidade de discutir as

    implicaes da avaliao na dinmica institucional e na vida escolar das crianas.

    No texto de OTP desta mesma unidade, voc encontrar algumas sugestes sobre

    como poder realizar a avaliao das crianas. Entretanto, para que voc possa

    estar permanentemente revendo suas formas de avaliar e criando novas formas,

    so importantes o estudo e a discusso com outros(as) professores(as). A seguir,

    sugerimos alguns livros que podem ajud-lo(a) a construir novos instrumentos de

    avaliao do seu trabalho com a criana pequena.

    Esperamos que nosso dilogo tenha sido produtivo e enriquecedor para a sua prtica.

    -

  • 35

    SUGESTES PARA LEITURA

    HOFFMANN, J. Avaliao Mediadora: uma prtica em construo da pr-escola

    universidade. Porto Alegre: Educao e Realidade, 1993.

    LUCKESI, C. C. Avaliao da aprendizagem escolar. So Paulo: Cortez, 1995. 2. ed.

    RODRIGUES, N. Fundamentos da organizao do tempo e do espao nas escolas.

    In: Secretaria de Estado da Educao de Minas Gerais. Tempo escolar: hora de refletir,

    planejar e construir a escola Sagarana. Belo Horizonte: Grfica L, 1999. pp. 15-38.

    WARSCHAUER, C. A roda e o registro. So Paulo: Paz e Terra, 1993.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Lei n 9.394/96, de 20 de

    dezembro de 1996.

    BRASIL. Ministrio da Educao. Referencial Curricular Nacional para a Educao

    Infantil. MEC/DPE/COEDI, 1999.

    CALVINO, talo. Palomar. So Paulo: Companhia das Letras, 1994.

    GALEANO, Eduardo. Bocas do tempo. Porto Alegre: L&PM, 2004. p. 236.

    HOFFMANN, Jussara. Avaliao Mediadora: uma prtica em construo da pr-

    escola universidade. Porto Alegre: Educao e Realidade, 1993.

    HOFFMANN, Jussara. Avaliao na pr-escola. Porto Alegre: Mediao, 2002. 10. ed.

    MEIRELLES, Ceclia. Ou isto ou aquilo. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1990.

    RODRIGUES, N. Fundamentos da organizao do tempo e do espao nas escolas.

    In: Secretaria de Estado da Educao de Minas Gerais. Tempo escolar: hora de refletir,

    planejar e construir a escola Sagarana. Belo Horizonte: Grfica L, 1999. p. 15-38.

  • 3636

  • 37

    Organizao do trabalho pedaggicoElaborao e organizao de instrumentosde acompanhamento e avaliao daaprendizagem e do desenvolvimentodas crianas

    A perfeio

    O que me tranqiliza

    que tudo o que existe,

    existe com uma preciso absoluta.

    O que for do tamanho de uma cabea de alfinete

    no transborda nem uma frao de milmetro

    alm do tamanho de uma cabea de alfinete.

    Tudo o que existe de uma grande exatido.

    Pena que a maior parte do que existe

    com essa exatido

    nos tecnicamente invisvel.

    O bom que a verdade chega a ns

    como um sentido secreto das coisas.

    Ns terminamos adivinhando, confusos,

    a perfeio.

    Clarice Lispector1

    1 Clarice Lispector uma escritora qual voc j foi apresentado(a) em outros mdulos do PROINFANTIL.A poesia que voc leu na abertura deste texto pode ser encontrada no site http://www.vicosa.com.br/lerbr/cl-perfeicao.html

  • 38

    - ABRINDO NOSSO DILOGONas unidades anteriores deste mdulo voc estudou questes fundamentais para

    pensar em seu cotidiano na Educao Infantil: a insero da criana pequena na

    creche ou pr-escola, um momento muito especial para todos os que esto

    envolvidos crianas, famlias e professores(as); as estratgias para que esse

    momento seja vivido da forma mais integradora possvel; o planejamento como

    atividade que organiza os espaos, os materiais, os tempos e o grupo com o

    objetivo principal de criar ambientes de aprendizagem significativos e de desenvol-

    vimento para as nossas crianas.

    Dando continuidade ao que viemos estudando ao longo dos mdulos do

    PROINFANTIL, estaremos nesta unidade pensando sobre a avaliao na Educao

    Infantil e a sua prtica. Vimos, no texto de FE, que a ao de avaliar est ligada

    ao de planejar e ao de observar e registrar o cotidiano, sendo que esses

    so quatro aspectos do mesmo processo: a prtica pedaggica. A avaliao estar

    presente o tempo todo em nossa prtica educativa: quando realizamos o planeja-

    mento, quando recebemos uma criana nova na instituio, quando estabelecemos

    relaes com as famlias etc.

    Como j estudamos no texto de FE, a avaliao no deve ser concebida como um

    instrumento para medir o quanto a criana aprendeu ou no, tampouco uma forma

    de julgar, reprovar ou aprovar uma criana. De fato, a avaliao, tal como a

    concebemos, tem um carter mediador e acolhedor, que nos ajuda a acompanhar a

    criana em todos os momentos vividos na Educao Infantil, contribuindo com seu

    avano na ampliao do conhecimento de si e do mundo. Acompanhar o

    desenvolvimento da criana ajuda o(a) professor(a) a rever e aprimorar seu trabalho

    pedaggico, servindo, inclusive, para pensar e repensar o planejamento e o trabalho

    cotidiano. Nesse sentido, avaliar a criana nos leva tambm a avaliar nosso prprio

    trabalho, uma vez que o foco de nossa atuao a criana com a qual lidamos. Vale

    lembrar que avaliamos no s nosso prprio trabalho e o desenvolvimento da criana,

    mas tambm a instituio na qual estamos inseridos. Afinal, avaliar o movimento

    de pensar tudo que envolve nossa prtica e buscar caminhos de torn-la cada vez

    melhor (mais coerente, mais contextualizada).

    Entretanto, para fazermos esse tipo de avaliao, necessrio criarmos instrumentos

    que nos possibilitem acompanhar o processo de desenvolvimento da criana e do

    trabalho que realizamos com ela. Como devem ser esses instrumentos? O que

    importante considerar quando os elaboramos? Como podemos envolver as famlias

    nesse processo? So essas questes que abordaremos ao longo deste texto.

  • 39

    Tudo o que estamos estudando est interligado? Avaliamos a criana, o(a) professor(a)

    e a instituio: educar um processo dinmico e interligado. Vamos agora pensar

    juntos em como construir instrumentos de avaliao que nos ajudem a acompanhar

    melhor o desenvolvimento de nossos alunos e a repensar nosso trabalho pedaggico?

    Mos obra!

    DEFININDO NOSSO PONTO DE CHEGADA

    Objetivos especficos deste texto:

    1. Observar e avaliar as crianas com base em parmetros sustentados por uma

    concepo de criana, de aprendizagem e de desenvolvimento infantil.

    2. Avaliar-se e avaliar o trabalho cotidiano desenvolvido junto s crianas,

    acompanhando, registrando e analisando as aes realizadas, extraindo

    elementos que contribuam para o avano do trabalho e para a continuidade

    de seu processo de busca de novos conhecimentos.

    3. Organizar portflios que retratem o processo de construo de conhe-

    cimentos e de socializao vividos pela criana na interao com seus pares.

    CONSTRUINDO NOSSA APRENDIZAGEM

    Este texto est dividido em trs sees: a Seo 1 visa construir parmetros para a

    organizao de um roteiro de acompanhamento, observao e avaliao das crianas;

    a Seo 2 est voltada para a avaliao do trabalho desenvolvido com elas no

    cotidiano e a auto-avaliao do(a) professor(a) como instrumento de anlise crtica e

    teorizao sobre sua prtica; e a Seo 3 aborda a organizao de portflios como

    instrumentos de registro da trajetria de aprendizagem do grupo de crianas no

    mbito dos projetos de trabalho.

    Seo 1 Parmetros para a organizao de instrumentos de

    acompanhamento, observao e avaliao das crianas

    OBJETIVO A SER ALCANADO NESTA SEO:

    - OBSERVAR E AVALIAR A CRIANA COM BASE EM PARMETROS

    SUSTENTADOS POR UMA CONCEPO DE CRIANA, DE

    APRENDIZAGEM E DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL.

    -

    -

  • 40

    ATIVIDADE 1

    Para refletir sobre os parmetros usados para avaliar o desenvolvimento das

    crianas com as quais voc trabalha, comece pensando nos parmetros utilizados

    para avaliar o seu prprio trabalho no PROINFANTIL. Voc considera que os

    instrumentos que vm sendo usados para avaliar seu trabalho no PROINFANTIL

    tm possibilitado a voc uma reflexo sobre sua prtica e uma melhoria da

    qualidade desta? Escreva, no seu caderno, como cada um destes instrumentos

    tm contribudo para a melhoria de sua formao e de seu trabalho:

    - construo do portflio;

    - provas bimestrais;

    - observao da prtica; e

    - construo do memorial.

    A professora Jussara Hoffmann muito conhecida por suas pesquisas sobre o tema

    da avaliao educacional afirma que A avaliao deve ser entendida como uma

    prtica investigativa e no sentenciva, mediadora e no constatativa. No so os

    julgamentos que justificam a avaliao, as afirmaes inquestionveis sobre o que a

    criana ou no capaz de fazer. (2000, p. 15). Com isso, ela quer dizer que no

    devemos avaliar as crianas para classific-las, julgando o que sabem ou no sabem

    fazer, padronizando comportamentos, constatando apenas as suas capacidades,

    quantificando seus saberes e apontando seus erros. No processo de avaliao, a

    histria da criana deve ser considerada, suas conquistas valorizadas e suas

    descobertas apreciadas ao pensarmos em formas de interveno que possam

    favorecer o desenvolvimento infantil, a ampliao de seus conhecimentos e seu

    crescimento de um modo geral.

    Avaliar comprometer-se com a criana, com seu sucesso, suas conquistas. A avaliao

    s tem significado para o(a) professor(a) se servir para ele(a) rever seus encaminhamentos,

    pensar em seu planejamento, ou seja, se o ato de avaliar for uma forma de ajudar o(a)

    professor(a) a pensar em maneiras de ajudar as crianas com as quais trabalha.

    Para que o(a) professor(a) proceda a uma avaliao comprometendo-se com a melhoria

    do aprendizado de suas crianas e do seu prprio fazer pedaggico, fundamental

    que ele(a) saiba quais as concepes de criana, de aprendizagem e de desenvol-

  • 41

    vimento servem de base a suas aes, bem como os objetivos da ao pedaggica.

    Aquilo que sabemos e pensamos sobre as crianas (concepo de criana) vai

    influenciar diretamente nossa forma de olhar para elas. No Mdulo II Infncia e

    cultura voc teve a oportunidade de estudar aspectos do desenvolvimento da criana

    e da construo de sua identidade, subjetividade e conhecimentos. Seria importante

    rever especialmente a Unidade 2 para relembrar as teorias sobre o desenvolvimento

    humano que tm dado fundamento aos estudos que temos desenvolvido ao longo

    dos mdulos do PROINFANTIL.

    A cena que apresentamos a seguir nos ajuda a refletir sobre a relao entre a

    concepo que temos de criana e seu desenvolvimento e a ao pedaggica que

    realizamos. Vamos a ela:

    Cena 1

    Uma professora de Educa-

    o Infantil estava no ptio

    com crianas em torno de 4

    anos. L encontraram vrias

    lagartas verdes, de um verde

    brilhante que chamou a

    ateno das crianas. A

    professora levou uma das

    lagartas para a sala dentro

    de um vidro e pediu s

    crianas que desenhassem

    as lagartas que haviam

    acabado de ver no ptio.

    Muitas lagartas verdes fo-

    ram desenhadas. Uma das crianas desenhou uma lagarta no meio de uma rua

    onde passavam carros. Sua cor era amarela.

    A professora ficou se perguntando sobre a produo daquela criana: ser que

    ela no conhecia as cores? Por que teria feito a lagarta amarela? Curiosa,

    perguntou ao menino o porqu de haver escolhido pintar sua lagarta daquela

    cor. Ele respondeu vivamente: A lagarta est amarela porque est com muita

    raiva de estar presa nesse vidro e est fugindo pelas ruas! (referindo-se ao vidro

    em que a professora havia colocado a lagarta).

    Pris

    cilla

    Silv

    a N

    oguei

    ra

  • 42

    ATIVIDADE 2

    O que voc teria a comentar com relao atitude da professora frente ao

    desenho da criana? Anote seus comentrios em seu caderno.

    Podemos refletir sobre essa cena a partir de vrios aspectos. Quando a professora

    decide levar uma das lagartas para a sala e sugere s crianas que a desenhem, ela

    mostra valorizar a curiosidade infantil, estimulando as crianas a observarem o mundo

    sua volta e a represent-lo atravs do desenho, que um importante meio pelo

    qual a criana se expressa. Portanto, a professora concebe as crianas como sujeitos

    ativos no seu processo de construo de conhecimentos.

    Outro aspecto que chama a ateno o fato de a professora ter observado o desenho

    das crianas, percebendo as peculiaridades do desenho do menino que faz a lagarta

    amarela. Ao observar, a professora no se contentou em apenas constatar que a

    lagarta era amarela. Para a professora, o que importava no era o produto da atividade

    a lagarta amarela mas saber sobre o processo de realizao dela, por que o

    menino havia escolhido aquela cor.

    Como vimos, nossas aes so baseadas no modo como vemos a criana, em nossos

    conhecimentos sobre seu desenvolvimento e nos objetivos pedaggicos de nossa

    prtica. Por isso importante sabermos como se d o desenvolvimento infantil.

    Tomemos como exemplo essa professora da criana que desenhou a lagarta amarela.

    Ela poderia acreditar simplesmente que a criana desenhou uma lagarta amarela

    porque no conhecia as cores. Se ela pensasse assim, provavelmente ela poderia

    reprovar a escolha da cor que a criana fez, j que no era a cor da lagarta de

    verdade. No entanto, quando ela se disps a escutar o que a criana tinha a dizer,

    pde conhecer melhor como ela pensava e quais as relaes que tinha estabelecido.

    Muitas vezes as crianas com as quais trabalhamos nos surpreendem com respostas

    inusitadas que mostram o quanto elas pensam sobre o mundo sua volta, bem como

    as ligaes entre os diversos conhecimentos que vo construindo na relao com os

    elementos da cultura, com seus parceiros e com o ambiente. A escuta do ponto de

    vista da criana , portanto, fundamental! Ela nos revela muito sobre quem aquela

    criana, quais so as suas vivncias e experincias e sobre a lgica infantil.

    Vale lembrar que a lgica infantil muito diferente da lgica adulta, e precisamos

    interpretar o que as crianas fazem e falam para compreendermos suas motivaes,

  • 43

    seu modo de ver o mundo. As falas das crianas fornecem preciosas pistas sobre

    suas hipteses, suas idias. Partindo do que elas pensam, podemos desafiar o avano

    de seus conhecimentos com atividades interessantes e instigantes. Precisamos olhar,

    escutar, observar com ateno o que as crianas demonstram, o que chama a sua

    ateno. Isso fornece elementos no s para compreender mais sobre cada uma

    delas, mas tambm para planejar nosso trabalho. Se sabemos os interesses,

    curiosidades, dvidas, dificuldades de nossas crianas, podemos pensar em propostas

    que vo ao encontro delas.

    Quando pensamos em avaliao, no possvel deixar de considerar quais so nossas

    idias sobre quem a criana, quais so as suas experincias, como ela aprende,

    como se desenvolve. So essas idias que iro influenciar em nossa atuao com ela

    e no olhar que lanaremos em sua direo. Somos mediadores do olhar da criana

    sobre o mundo, sobre si mesma e sobre o outro. preciso OBSERVAR, ESCUTAR E

    DIALOGAR COM A CRIANA.

    O(a) professor(a) precisa conhecer as

    crianas com as quais trabalha: como vivem,

    quais suas experincias culturais, do que

    gostam e do que no gostam etc. Precisa

    tambm saber sobre como as crianas se

    desenvolvem, como aprendem, como se

    processa a aprendizagem, bem como quais

    so os objetivos da Educao Infantil, ou seja,

    o que pretendemos propiciar s nossas

    crianas nesse segmento educacional.

    Veja que temos muito a aprender, sempre! Para que a prtica docente seja

    intencional, fundamentada e significativa, precisamos estar constantemente

    investindo em nossa formao! Como a avaliao pode nos ajudar neste processo?

    Que instrumentos de avaliao podemos construir?

    Agora que voc viu a importncia de avaliar a criana para o aprimoramento do

    trabalho do(a) professor(a) e tambm a importncia de nos basearmos no que

    aprendemos sobre o desenvolvimento da criana para realizarmos nossas avaliaes,

    vamos pensar em instrumentos adequados para isso?

  • 44

    Construindo registros de acompanhamento e relatrios de avaliao

    Registrar o que foi vivido pela criana muito importante, pois assim podemos

    acompanhar suas conquistas e seus avanos. importante termos em vista que no

    podemos nos basear apenas em nossa memria; ela muitas vezes falha. Se no

    registramos nossas experincias, corremos o risco de esquecer detalhes preciosos!

    Alm disso, o registro nos permite refletir com maior profundidade, uma vez que a

    linguagem escrita, segundo Vygotsky, mais reflexiva do que a oral.

    Os registros escritos no so apenas instrumentos para prestar contas aos pais ou

    instituio. Nossos escritos servem antes de tudo para organizar, sistematizar nossas

    observaes sobre as crianas e ampliar nossa reflexo sobre o grupo e o trabalho.

    A escrita uma forma de acompanhar nosso prprio processo de desenvolvimento!

    claro que, para os pais, os relatrios sobre as crianas so excelentes instrumentos

    para que eles conheam mais seu filho e o trabalho que estamos desenvolvendo,

    mas isso no quer dizer que escrevemos para mostrar o quanto fizemos nem para

    indicar o que a criana sabe ou no sabe.

    Sabemos que muitas vezes fazer registros escritos pode ser difcil por vrias razes:

    no temos o hbito de escrever textos deste tipo, o tempo sempre reduzido, ficamos

    em dvida sobre o que importante anotar, dentre outras. Entretanto, o importante

    comear de alguma forma, mesmo que no consideremos que esta seja a ideal.

    Podemos, por exemplo, separar um caderno especialmente para os registros. Neste

    caderno voc pode anotar diariamente observaes sobre alguma criana do grupo

    com o qual voc trabalha, respeitando sempre o seu ser diferente dos outros.

    Escolha, a cada dia, uma ou duas crianas para observar com mais ateno. Ao

    observar, importante estar atento(a) ao que a criana realmente faz. Voc pode

    escolher um momento em especial para observar: o momento das brincadeiras, a

    refeio, uma atividade em sala, enfim, aquele momento que chamar mais a sua

    ateno. No seu caderno de registros, marque a data e faa suas anotaes sobre as

    crianas que escolheu observar naquele dia. Escreva pelo menos um pargrafo por

    semana sobre cada criana. Voc vai ver quanto material rico ter para refletir ao

    longo do ano!

    O que importante anotar?

    As crianas mudam a cada momento e nada melhor para acompanhar e mediar

    essas mudanas do que document-las passo a passo.

  • 45

    As diferenas entre as crianas devem ser entendidas

    como normais, nunca desvantajosas. Cada criana

    um ser nico que possui uma histria e diferentes

    vivncias. So incomparveis e possuem seu prprio

    ritmo e suas marcas culturais. Desse modo, o desen-

    volvimento da criana complexo e s pode ser

    entendido se levarmos em conta as mltiplas in-

    fluncias que concorrem na vida de cada uma delas.

    claro que no podemos anotar algo sobre todas as

    crianas todos os dias. Bem sabemos quantas

    demandas temos diariamente! No entanto, vale a

    pena ter sempre seu caderno de anotaes por perto

    para registrar uma fala da criana que chamou a

    ateno, uma pergunta curiosa, um comportamento que merece destaque, a forma

    como a criana toma parte das atividades cotidianas, seus parceiros mais constan-

    tes, o modo como ela resolve seus impasses, como se expressa. Assim, num momento

    oportuno, quando voc tiver mais tempo para investir no seu registro, mais ser

    possvel retomar aquelas anotaes e ampli-las.

    Nesses registros mais freqentes, podemos anotar os aspectos diferenciados de cada

    criana. Trata-se de destacar aspectos mais imediatos que aparecem no cotidiano.

    Observe que estes aspectos podem ser observados em crianas de diferentes idades,

    mesmo os bebs: falas e perguntas das crianas que nos revelam suas idias, modos

    de pensar, dvidas, sugestes; os meios de que se utilizam para se expressar;

    observaes sobre a forma como se relacionam umas com as outras, com os adultos;

    maneira como cada uma expressa sentimentos/vontades/idias no grupo; suas

    iniciativas prprias nas situaes de autocuidado (Veste-se sozinha? Precisa de ajuda

    para se alimentar? Reconhece seus pertences?); como seu corpo se relaciona com o

    espao (movimentos freqentes, como se envolve em propostas que incluam

    movimentos amplos, desafios corporais que exigem equilbrio, destreza, saltos); a

    forma como se inserem nas propostas; iniciativas que nos chamam ateno.

    Os registros individuais de acompanhamento das crianas ajudam a observar o

    movimento delas no dia-a-dia. Esse movimento se modifica muito rapidamente.

    Aquela criana que no incio do ano se mostrou mais retrada, por exemplo, pode

    nos surpreender pouco a pouco, medida em que se sente confiante no grupo,

    com uma atitude mais expansiva.Um beb que iniciou o ano ainda inseguro em sua

    Pris

    cilla

    Silv

    a N

    oguei

    ra

  • 46

    marcha pode rapidamente ir ganhando segurana e desenvoltura. Quando

    registramos o que est acontecendo com a criana, temos a possibilidade de

    pensar quais os motivos que a levam a se comportar desta ou daquela maneira e

    como podemos mediar suas relaes com o ambiente e com as outras crianas,

    favorecendo seu avano no processo de desenvolvimento. O registro tem a funo

    de oferecer ao() professor(a) elementos para que ele(a) decida como encaminhar

    seu trabalho, de modo a promover o desenvolvimento das crianas. Os registros

    so, ainda, excelentes documentos da histria da criana, de suas produes,

    conhecimentos, expresses, de suas mudanas e de seus avanos. Por isso

    importante que, quando a criana muda de professor(a), esses registros sejam

    tambm repassados ao() professor(a) do ano seguinte, possibilitando a continuidade

    do trabalho desenvolvido com ela.

    Alm de se constiturem em documento da histria da criana, tais registros dirios

    fornecem elementos para o(a) professor(a) pensar em como ele(a) poder intervir.

    Isto , se ele(a) observa, por exemplo, que uma criana costuma ter dificuldades para

    inserir-se em brincadeiras com as demais, poder traar estratgias de inclu-la. Esses

    registros so, portanto, instrumento de reflexo para o(a) professor(a), permitindo-

    lhe ter uma viso mais detalhada das crianas com as quais trabalha.

    ATIVIDADE 3

    Escolha uma das crianas de seu grupo e, a partir das perguntas abaixo, escreva

    em seu caderno o que voc observa com relao a ela ao longo de um dia:

    Em quais tipos de brincadeiras ela se envolve?

    Toma iniciativas de autocuidado?

    Transita pelos espaos fsicos com desenvoltura?

    Como comunica/expressa suas vontades, idias

    e opinies?

    Como se relaciona com seus parceiros?

    Quais os amigos que ela costuma buscar mais?

    Pris

    cilla

    Silv

    a N

    oguei

    ra

  • 47

    Como se relaciona com os adultos da instituio? Procura contato fsico?

    Conversa?

    Explora diferentes tipos de movimentos?

    Como se insere nas propostas de atividades?

    ATIVIDADE 4

    A partir do que voc observou com relao criana escolhida na Atividade 3,

    escreva, em seu caderno, o que voc acredita ser importante modificar no seu

    trabalho.

    Quais outras perguntas voc considera importantes para conhecer melhor a

    criana? Que tal fazer uma lista de perguntas? Elas podem ser o seu roteiro

    para a produo de um registro das crianas! Pense no grupo com o qual voc

    trabalha.

    A partir dos registros dirios, o(a) professor(a) poder construir os relatrios de

    avaliao, que trazem a viso da criana por um perodo maior de tempo. Esses

    relatrios podem ser bimestrais ou semestrais. Neles, podemos registrar o

    desenvolvimento da criana de forma global e ampla, acompanhando suas mudanas,

    conquistas e descobertas. Eles trazem tambm os aspectos relativos ao conhecimento

    de mundo que as crianas vo construindo ao longo do processo educativo. Mas

    como fazer esse relatrio? Vamos pensar nisso?

    Proposta pedaggica e avaliao: nossos objetivos guiando o olhar para a

    criana

    Para construirmos tanto os registros dirios quanto os relatrios peridicos de

    avaliao, precisamos nos basear naquilo que pretendemos com o nosso trabalho.

    Por isso, o primeiro passo para construir um relatrio rever os objetivos que voc

    estabeleceu em seu planejamento.

    Precisamos saber o que queremos com o nosso trabalho. Se tivermos esses objetivos

    claros, poderemos observar as crianas para refletirmos se estamos atingindo o

    que pretendamos. Se um objetivo, por exemplo, que as crianas desenvolvam

    sua expresso oral, o(a) professor(a) incentivar isso no cotidiano de diferentes

  • 48

    formas e, a partir do dilogo com a criana, poder observar como ela vem

    utilizando a linguagem oral.

    Assim, sempre que avaliamos e registramos algo, baseamo-nos em nossas metas

    e em nossos objetivos, naquilo que consideramos relevante observar e nas

    concepes de criana o que criana para ns , de desenvolvimento como

    entendemos que ela se desenvolve e de aprendizagem como pensamos que

    ela aprende , que orientam nossa prtica. Nesse aspecto precisamos nos deter

    um pouco. O que queremos com o nosso trabalho com a criana de 0 a 6 anos?

    Quais os nossos objetivos? Avaliamos as crianas em funo delas; portanto,

    preciso ter claro quais so.

    Sabemos que hoje a Educao Infantil parte da Educao Bsica e pre-

    tendemos ter compromisso com um projeto educativo. Isso implica pensar em

    uma prtica intencional e bem-estruturada, em que cabe avaliao mediar a

    ao educativa, as aprendizagens e o desenvolvimento das crianas. Isso quer

    dizer que, alm de estarmos orientados pelos conhecimentos que possumos

    sobre como as crianas se desenvolvem, sobre sua forma prpria de construir

    conhecimentos, temos o compromisso de basear nossa prtica em um projeto

    educativo ou uma proposta pedaggica.

    Uma proposta pedaggica, como voc teve oportunidade de estudar na Unidade 4

    do Mdulo III, delineia as intenes do trabalho desenvolvido na instituio. Alm

    de deixar explcita a viso do que a criana, a proposta estrutura seu currculo,

    ou seja, os diferentes eixos e aspectos que se pretende desenvolver.

    Para tornarmos mais claras essas idias, vamos ler um trecho do relatrio escrito

    por uma professora de Educao Infantil a partir da observao de Tnia, uma das

    crianas com as quais ela trabalha:

    Tnia muito querida pelos amigos e, diferentemente do 1 semestre, ela

    aumentou a sua rede de interaes. Antes ela buscava muito a Diana como sua

    parceira, hoje comum v-la brincando com a Thas, Lusa e com as outras

    crianas do grupo.

    Um dos focos do nosso trabalho foi estimul-la a expor mais os seus desejos e

    insatisfaes. Percebamos que no meio das brincadeiras, e at mesmo nas

    atividades, ela deixava sempre que outros conduzissem, no opinando e deixando

    de lado a sua vontade. Ento a nossa interveno era a de provocar questes

    do tipo: Voc quer ser esse personagem?, Voc concorda com o amigo?.

    Na maioria das vezes a sua resposta era afirmativa.

  • 49

    Com os adultos, a relao de muita confiana. Nos momentos dos rodes ela

    procura se sentar prxima ao adulto e, quando tem algo a dizer, a sua fala

    voltada para o educador. Pontuamos para ela que os amigos tambm querem

    escutar. Isso faz com que ela se mobilize e vena a timidez de se expor. Um

    exemplo disso foi quando a sua me estava de frias e ia busc-la na escola.

    Isso, para ela, era uma novidade especial, mas na hora de contar essa novidade,

    fez-se necessria a presena e a fala do adulto lhe dando suporte.

    Nas atividades, Tnia sempre se mostra muito disposta a participar de tudo o

    que proposto. Os seus desenhos esto cada dia mais repletos de significados

    e ricos em detalhes. Se antes ela dizia no saber fazer sempre que propnhamos

    alguma atividade, hoje tal comportamento foi se dissipando, fazendo surgir uma

    Tnia criativa, que se experimenta mais.

    Antes de partirmos para uma anlise mais detalhada desse relatrio, importante

    contextualizar, em linhas gerais, a instituio em que esta professora trabalha,

    destacando suas finalidades educativas e os eixos de trabalho que orientam sua

    prtica. Trata-se de uma instituio de Educao Infantil que tem como finalidade o

    desenvolvimento integral da criana em seus aspectos fsico, cognitivo, afetivo e

    social. Nesse sentido, preocupa-se em estimular a criatividade, a livre expresso, a

    iniciativa e a independncia pessoal e social, alm de buscar o desenvolvimento de

    relaes entre sade e educao e contribuir para a socializao do indivduo.

    Para atingir sua finalidade, a metodologia que a instituio utiliza parte da criao

    de situaes capazes de valorizar atitudes de responsabilidade, urbanidade,

    integrao social, cooperao e solidariedade, bem como de experincias prticas

    e facilitadoras do aperfeioamento intelectual, fsico e social, dentre outros aspectos.

    Outros pontos importantes dizem respeito valorizao da criana e de seu contexto

    de ao, experincias e saberes. Alm disso, a instituio de Educao Infantil

    deve favorecer a auto-estima, autonomia e autoconfiana das crianas e valorizar

    as interaes sociais como mobilizadoras da aprendizagem e do desenvolvimento

    das crianas.

    Vamos agora, a partir da anlise de alguns aspectos do relatrio de Tnia,

    compreender como as finalidades educativas podem ser percebidas ao longo desse

    relatrio. O relatrio reflete justamente isto: as metas educacionais da instituio e

    aquilo que ela valoriza.

  • 50

    Tnia muito querida pelos amigos e, diferentemente do 1 semestre, ela

    aumentou a sua rede de interaes. Antes ela buscava muito a Diana como sua

    parceira, hoje comum v-la brincando com a Thas, Lusa e com as outras

    crianas do grupo.

    Um dos focos do nosso trabalho foi estimul-la a expor mais os seus desejos e

    insatisfaes. Percebamos que no meio das brincadeiras, e at mesmo nas

    atividades, ela deixava sempre que outros conduzissem, no opinando e deixando

    de lado a sua vontade. Ento a nossa interveno era a de provocar questes

    do tipo: Voc quer ser esse personagem?, Voc concorda com o amigo?.

    Na maioria das vezes a sua resposta era afirmativa.

    Neste trecho, o eixo que est em destaque o relativo s interaes scio-afetivas e

    construo da identidade. Aqui vemos que o relatrio no se restringe a

    constataes, mas busca compreender o movimento da criana, descrevendo formas

    de interveno para que ela avance em suas conquistas, ampliando suas relaes

    interpessoais.

    A professora demonstra que tem como um de seus objetivos que a criana expresse

    opinies, se coloque no grupo, movimento fundamental na construo de sua

    identidade e auto-estima.

    Esto em destaque as interaes sociais que Tnia estabelece, uma vez que a

    instituio trabalha a valorizao das interaes entre as crianas como mobilizadoras

    de aprendizagem e desenvolvimento. Neste sentido, Tnia comeou o ano precisando

    de um incentivo maior dos(as) professores(as) para ampliar sua rede de relaes,

    pois durante um tempo restringiu-se a buscar mais exclusivamente apenas uma de

    suas colegas para estar junto. Outro ponto que fica claro neste trecho diz respeito

    inteno da instituio em relao formao da identidade da criana, quando

    problematiza o fato de Tnia no emitir suas opinies, nem expressar desejos e idias.

    Aqui o trabalho foi o de instig-la a expor mais suas vontades, colocando-se mais

    ativamente frente ao grupo.

    Vejamos outro trecho:

  • 51

    Com os adultos, a relao de muita confiana. Nos momentos dos rodes

    ela procura se sentar prxima ao adulto e, quando tem algo a dizer, a sua

    fala voltada para o educador. Pontuamos para ela que os amigos tambm

    querem escutar. Isso faz com que ela se mobilize e vena a timidez de se

    expor. Um exemplo disso foi quando a sua me estava de frias e ia busc-

    la na escola. Isso, para ela, era uma novidade especial, mas na hora de

    contar essa novidade, fez-se necessria a presena e a fala do adulto lhe

    dando suporte.

    Tambm neste trecho a questo da interao social aparece, destacando o fato

    de Tnia buscar mais o adulto e confiar nele. Esta confiana um ponto importante

    para o desenvolvimento de Tnia, que ir se apoiar nos adultos de referncia para

    ir pouco a pouco se aventurando mais a se expor para o grupo. A participao

    do(a) educador(a), sua mediao, reconhecida como fundamental, no s no

    sentido de dar criana confiana para entrar no grupo (ou seja, sua insero

    tambm est em questo neste trecho), mas tambm relaciona-se com a

    possibilidade de dar valor sua histria pessoal a me, que mora longe e que

    est em visita Tnia. O relatrio deixa evidente que reconhecer a histria da

    criana, sua famlia, e trazer esta histria para o grupo de suma importncia para

    a construo da identidade pela criana.

  • 52

    Vejamos agora outro trecho desse relatrio:

    Nas atividades, Tnia sempre se mostra muito disposta a participar de tudo o

    que proposto. Os seus desenhos esto cada dia mais repletos de significados

    e ricos em detalhes. Se antes ela dizia no saber fazer sempre que propnhamos

    alguma atividade, hoje tal comportamento foi se dissipando, fazendo surgir uma

    Tnia criativa, que se experimenta mais.

    O relatrio nos possibilita enxergar a ateno que a instituio de Educao Infantil

    d produo plstica criativa da criana, bem como forma como se relaciona

    com adultos e parceiros focos do trabalho na Educao Infantil e revela a

    valorizao da produo artstica e cultural da criana, uma vez que seus desenhos

    so reconhecidos enquanto produes prprias, que trazem significados pessoais.

    A produo rica em detalhes valorizada e o(a) professor(a) investe tambm,

    neste momento, na valorizao da autoconfiana e auto-estima da criana, uma

    vez que a partir do reconhecimento de si mesma enquanto algum que produz

    algo importante, valioso e apreciado por seus parceiros, que ela poder constituir

    uma identidade prpria.

  • 53

    Esse exemplo de relatrio, embora incompleto, nos revela que podemos registrar

    e trazer aspectos prprios da criana que vo se transformando a partir da

    interveno pedaggica do(a) professor(a). As questes que orientaram a escrita

    do relatrio focalizaram a insero da criana na instituio,