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PROJECTO DE ARQUITECTURA I exercício 2. fase.1 1 TEMA: A FORMA ARQUITECTÓNICA escala da edificação “(qualquer construção) enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e funcionais, não é ainda arquitectura; quando se perde em intenções meramente decorativas, tudo não passa de cenografia; mas quando – popular ou erudita – aquele que a ideou pára e hesita ante a simples escolha de um espaçamento de pilares ou da relação entre a altura e a largura de um vão, e se detém na obstinada procura de uma justa medida entre cheios e vazios, na fixação dos volumes e da subordinação deles a uma lei, e se demora atento ao jogo dos materiais e ao seu valor expressivo, quando tido isto se vai pouco a pouco somando em obediência aos mais severos preceitos técnicos e funcionais, mas, também, àquela intenção superior que escolhe, coordena e orienta no sentido inicial toda essa massa confusa e contraditória, transmitindo assim ao conjunto ritmo, expressão, unidade e clareza – o que confere à obra o seu carácter de permanência – isto sim, é arquitecturaLúcio Costa (1980) in Arquitectura “A forma tridimensional da arquitectura não é o exterior de um sólido mas sim o invólucro côncavo e convexo do espaço. Por sua vez o espaço não é o vazio do lugar geométrico onde ocorrem actividades diversas. No caso da arquitectura, a 'invenção' refere-se a um sistema espacial organizado que é experimentado através da sua utilização e compreendido através da sua forma” Giancarlo de Carlo (1975) in 'L'idea plastica como sfida alla tecnologia' O conceito “forma arquitectónica” é frequentemente utilizado para destacar atributos de natureza plástica ou sensorial, associados à aparência externa (elementos visuais) dos objectos arquitectónicos: formato, contorno, textura, jogo dos volumes, tratamento de superfícies, conjunção de cheios e vazios. Esta interpretação é redutora da complexidade da forma arquitectónica porque cria a ilusão de que as soluções arquitectónicas podem ser subdivididas em partes relativamente independentes entre si e produzidas de modo cumulativo, ainda que por procedimentos de natureza muito distinta. Por outro lado, ao estar implicitamente associado à ideia de arquitectura como arte plástica, contribui para que se analisem as suas características no mesmo registo contemplativo que caberia a uma obra tradicional de pintura ou de escultura, que o observador aprecia mediante a abstracção de todas as circunstâncias externas. Refira-se que noutras áreas de conhecimento (e.g. biologia) o conceito "forma" não se refere à aparência de algo, mas à sua constituição interna, à ordem determinada e determinante de uma coisa ou de um processo, à lógica que define as relações estabelecidas entre as suas partes e o todo i.e., à sua dimensão global. Essa lógica pode ou não comparecer na figura aparente e ser apreendida inteiramente pelos sentidos. Nos trechos de Lúcio Costa e de Giancarlo de Carlo acima citados, está subjacente ao conceito de forma arquitectónica aspectos relacionados com a composição, a função e a técnica . Com efeito a “forma” arquitectónica corresponde a uma solução para um problema de transformação espacial. Isto significa que quem procura uma solução arquitectónica, não procura apenas um certo tipo de funcionamento, mas uma “forma” que o possibilite; não quer simplesmente uma certa relação com o contexto urbano, mas uma “forma” que tenha essa relação; não quer uma técnica construtiva, mas uma “forma” na qual ela faça sentido. Pode-se querer que essa “forma” seja adequada a certos usos, certas técnicas construtivas e até a certos valores estéticos; pode-se também avaliar a “forma” em relação ao seu desempenho funcional e técnico; mas não é possível gerar a “forma” analiticamente e por partes. Isto também significa, entre outras coisas, que a independência total da “forma” arquitectónica, mesmo que fosse desejada, não seria praticável, porque a “forma” não é parte da solução arquitectónica, mas sim a solução como um todo. A 'razão de ser' da arquitectura prende-se com o uso e com a fruição por parte dos seus potenciais utilizadores, e portanto a forma arquitectónica constitui-se como um suporte para a sucessão de eventos que constitui a vida das pessoas. O reconhecimento da forma decorrerá do conjunto de efeitos que o objecto arquitectónico é capaz de produzir sobre os sentidos do observador ou do utilizador, em função do desígnio que lhe é atribuído. CONCEITO DE ORDEM E DE ESTRUTURA Em arquitectura os conceitos de ORDEM e de ESTRUTURA referem-se à organização da forma arquitectónica e portanto aos princípios constitutivos. Como tal, não se restringem apenas à composição geométrica do objecto construído para também se referirem ao modo como os espaços se articulam e relacionam entre si, i.e., à capacidade do sistema espacial ser fruído - visualizado, compreendido e percorrido - tanto pelo utilizador regular como pelo utilizador ocasional (visitante). ORDEM refere- se à dimensão local do sistema espacial, i.e. à configuração dos espaços enquanto elementos singulares enquanto que a ESTRUTURA trata da dimensão global do sistema espacial, i.e. da sua configuração como um todo.

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PROJECTO DE ARQUITECTURA I exercício 2. fase.1

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TEMA: A FORMA ARQUITECTÓNICA escala da edificação

“(qualquer construção) enquanto satisfaz apenas às exigências técnicas e funcionais, não é ainda arquitectura;quando se perde em intenções meramente decorativas, tudo não passa de cenografia; mas quando – popular ouerudita – aquele que a ideou pára e hesita ante a simples escolha de um espaçamento de pilares ou da relação entrea altura e a largura de um vão, e se detém na obstinada procura de uma justa medida entre cheios e vazios, nafixação dos volumes e da subordinação deles a uma lei, e se demora atento ao jogo dos materiais e ao seu valorexpressivo, quando tido isto se vai pouco a pouco somando em obediência aos mais severos preceitos técnicos efuncionais, mas, também, àquela intenção superior que escolhe, coordena e orienta no sentido inicial toda essamassa confusa e contraditória, transmitindo assim ao conjunto ritmo, expressão, unidade e clareza – o que confere àobra o seu carácter de permanência – isto sim, é arquitectura”

Lúcio Costa (1980) in Arquitectura

“A forma tridimensional da arquitectura não é o exterior de um sólido mas sim o invólucro côncavo e convexo doespaço. Por sua vez o espaço não é o vazio do lugar geométrico onde ocorrem actividades diversas. No caso daarquitectura, a 'invenção' refere-se a um sistema espacial organizado que é experimentado através da sua utilização ecompreendido através da sua forma”

Giancarlo de Carlo (1975) in 'L'idea plastica como sfida alla tecnologia'

O conceito “forma arquitectónica” é frequentemente utilizado para destacar atributos de natureza plástica ou sensorial,associados à aparência externa (elementos visuais) dos objectos arquitectónicos: formato, contorno, textura, jogo dos volumes,tratamento de superfícies, conjunção de cheios e vazios.

Esta interpretação é redutora da complexidade da forma arquitectónica porque cria a ilusão de que as soluções arquitectónicaspodem ser subdivididas em partes relativamente independentes entre si e produzidas de modo cumulativo, ainda que porprocedimentos de natureza muito distinta. Por outro lado, ao estar implicitamente associado à ideia de arquitectura como arteplástica, contribui para que se analisem as suas características no mesmo registo contemplativo que caberia a uma obratradicional de pintura ou de escultura, que o observador aprecia mediante a abstracção de todas as circunstâncias externas.

Refira-se que noutras áreas de conhecimento (e.g. biologia) o conceito "forma" não se refere à aparência de algo, mas à suaconstituição interna, à ordem determinada e determinante de uma coisa ou de um processo, à lógica que define as relaçõesestabelecidas entre as suas partes e o todo i.e., à sua dimensão global. Essa lógica pode ou não comparecer na figuraaparente e ser apreendida inteiramente pelos sentidos.

Nos trechos de Lúcio Costa e de Giancarlo de Carlo acima citados, está subjacente ao conceito de forma arquitectónicaaspectos relacionados com a composição, a função e a técnica. Com efeito a “forma” arquitectónica corresponde a uma soluçãopara um problema de transformação espacial. Isto significa que quem procura uma solução arquitectónica, não procura apenasum certo tipo de funcionamento, mas uma “forma” que o possibilite; não quer simplesmente uma certa relação com o contextourbano, mas uma “forma” que tenha essa relação; não quer uma técnica construtiva, mas uma “forma” na qual ela faça sentido.Pode-se querer que essa “forma” seja adequada a certos usos, certas técnicas construtivas e até a certos valores estéticos;pode-se também avaliar a “forma” em relação ao seu desempenho funcional e técnico; mas não é possível gerar a “forma”analiticamente e por partes. Isto também significa, entre outras coisas, que a independência total da “forma” arquitectónica,mesmo que fosse desejada, não seria praticável, porque a “forma” não é parte da solução arquitectónica, mas sim a soluçãocomo um todo.

A 'razão de ser' da arquitectura prende-se com o uso e com a fruição por parte dos seus potenciais utilizadores, e portanto aforma arquitectónica constitui-se como um suporte para a sucessão de eventos que constitui a vida das pessoas. Oreconhecimento da forma decorrerá do conjunto de efeitos que o objecto arquitectónico é capaz de produzir sobre os sentidosdo observador ou do utilizador, em função do desígnio que lhe é atribuído.

CONCEITO DE ORDEM E DE ESTRUTURA

Em arquitectura os conceitos de ORDEM e de ESTRUTURA referem-se à organização da forma arquitectónica e portanto aosprincípios constitutivos. Como tal, não se restringem apenas à composição geométrica do objecto construído para também sereferirem ao modo como os espaços se articulam e relacionam entre si, i.e., à capacidade do sistema espacial ser fruído -visualizado, compreendido e percorrido - tanto pelo utilizador regular como pelo utilizador ocasional (visitante). ORDEM refere-se à dimensão local do sistema espacial, i.e. à configuração dos espaços enquanto elementos singulares enquanto que aESTRUTURA trata da dimensão global do sistema espacial, i.e. da sua configuração como um todo.

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OBJECTIVO:Compreensão do conceito de ORDEM e de ESTRUTURA do espaço arquitectónico e dos seus elementos demodelação

DESENVOLVIMENTO

Manipulação e assemblagem de uma série repetitiva de elementos curvos laminares com dimensões pré-determinadas (do tipo cascas metálicas (autoportantes) de cobertura)

COMPOSIÇÃO ARQUITECTÓNICA

Conceber uma forma tridimensional (contentor de actividades) percorrivel e diversificada, a partir da manipulação deelementos curvos laminares autoportantes, tendo como principio orientador uma composição bidimensionalpreviamente seleccionada.

A solução final deve:- basear-se em conceitos de ordem e de estrutura no que se refere à organização volumétrica e à fruição do espaço

interior e exterior.

- ser potencialmente estimulante, “per si” e no conjunto, por via da atribuição quer de escala/dimensão quer deatributos visuais (e.g. condições de iluminação; cromatismos; texturas).

REGRA

- Trabalhar em maqueta à escala 1/200 modelos parciais que representem situações tipo e encontrar a formaadequada de os interligar;

- Constituir uma estrutura única contentora de espaço interior;

- Definir um percurso;- Atribuir uma orientação fixa ao tabuleiro base em função dos pontos cardeais;- Explorar:

- as transições entre os diversos “espaços“ considerados, tanto a partir de um ponto fixo, como do corpo emmovimento;

- o carácter do apoio das coberturas no complemento da definição da abertura ou do enclausuramento dos

espaços: apoio contínuo ou interrompido (parietal), apoio pontual (pilar/viga);- a atribuição de valores cromáticos e texturais, tanto às cascas, como aos apoios

DESENHO LIVRE

Em folhas A3, executar – directamente à luz do sol ou em situação de forte contrate luz/sombra - 3 desenhos de 1/2Hde contraste e sombra, da composições parciais e/ou intermédias de estudo evidenciando interior e exterior .Primeiro desenhe o que vê com sombras, nas três situações. De seguida, para adquirir a ambiguidade do

campo/contracampo, ao repetir os desenhos, utilize o preto para as áreas de sombra e deixe a branco as áreasiluminadas.

DESENHO DOCUMENTAL

Em folha A3 executar: a planta térrea, 1 corte pelo meio eixo da composição e 2 alçados da construção tridimensionalà escala 1/100 ou 1/200, por observação directa do objecto. Use as medidas do modelo transpondo-as para o papel criando a planta. Produza os seguintes desenhos tomando

por base a posição relativa da observação e que toma para a orientação da planta. Use criticamente osconhecimentos dos exercícios do semestre anterior.

MATERIAL

Tubo metálico tipo spiro de esquentador. – cascas.Roofmate, balsa ou madeira - molde e contra molde.Roofmateou eferovite de alta densidade - apoios.

Base de mesa plástica com grelha métrica impressa, Tesoura, x-acto ,lima , cola dupla face, cola.BLOCO (diário de bordo)

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PRODUÇÃOExecutar molde e contra molde a partir de desenho em Autocad. Prensar entre os dois os troços do tubo metálico tipo

spiro de esquentador à escala (com folga) de forma a executar as cascas. Na manipulação escolher o tipo de apoioem roofmate ou similar. Processo “ON MAKING”

CRONOGRAMA

lançamento do exercício 26 de Abril (4ª feira)entrega e apresentação final 17 de Maio (4ª feira)

PEÇAS A APRESENTAR

apresentação final:proposta 3d final + conjunto de DESENHOS DOCUMENTAIS em A3 (representados à escala 1/200) + diário degráfico (desenhos de esboços da evolução da proposta e conjunto de DESENHOS LIVRES)

ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO- 12 ou mais cascas curvas de 12mX1m, com flexa de 1m- 12 ou mais cascas curvas de 9mX1m, com flexa de 1m

- 12 ou mais cascas curvas de 6mX1m, com flexa de 1m

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Composições Bidimensionais (propostas): princípio orientador

Theo van Doesburg (1883 - 1931) 1931 Vilmos Huszar (1884 - 1940) 1931

Henryk Stazewski (1894 - 1988) 1931 Camille Graeser (1892 –1980) 1951