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Projeto de engenharia de métodos numa fábrica de sorvetes
Raquel Ferreira de Negreiros (UFERSA) [email protected]
Roberta Nayhane de Lima (UFERSA) [email protected]
Resumo
O aumento da produtividade aliado a qualidade do produto e conforto do funcionário é um
tripé almejado pela grande maioria das empresas. Para se obter tais requisitos é importante
que exista um estudo de tempos e movimentos em busca de otimizar os serviços. O presente
artigo aborda a utilização da engenharia de métodos e processos, aplicando algumas
ferramentas que possibilitam analisar pontos críticos e a partir destes obter melhorias em uma
fábrica de sorvete, mostrando que, com pequenos reajustes pode-se encontrar diversas
alternativas para solucionar problemas.
Palavras-chave: Engenharia de métodos; Produtividade; Fábrica de sorvetes.
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1. Introdução
Desde a Revolução Industrial intensificou-se o processo de mecanização dos processos de
produção. Ou seja, passou-se a utilizar máquinas buscando aumentar a produtividade. Assim,
o homem atua como agente controlador. Na maioria das indústrias esse fenômeno foi
percebido. No caso do sorvete, o seu processo produtivo passou a ser bastante mecanizado, e
sofreu significativas melhorias.
Segundo Chiavenato (2005), atualmente, os produtos concorrem não somente em função de
preço e qualidade. O tempo também possui grande importância. Racionalizar significa estudar
os métodos e procedimentos para reduzir o trabalho para que o esforço seja mais produtivo.
Dessa maneira, para seguir firme no mercado competitivo, é de suma importância estudar as
possíveis melhorias que podem ser conseguidas através da engenharia de métodos, que tem
como objetivo estudar quantitativamente e qualitativamente um processo produtivo.
Este artigo tem por objetivo analisar o processo produtivo do sorvete, aplicando a engenharia
de métodos e processos, numa tentativa de se obter melhorias na fabricação do mesmo.
2. Referencial Teórico
A Engenharia de Métodos estuda e analisa o trabalho de forma sistemática, resultando desta
análise, o desenvolvimento de métodos práticos e eficientes e o estabelecimento de padrões de
realização. (SOUTO, 2002)
Segundo Barnes (1977) é o estudo sistemático dos sistemas de trabalho com o objetivo de
projetar o melhor método de trabalho, geralmente o de menor custo, padronizar este método
de trabalho e determinar o tempo gasto por uma pessoa qualificada e devidamente treinada,
trabalhando em ritmo normal, para executar uma operação específica.
Um tipo de legislação, com grande importância na indústria alimentícia é o BPF, Boas
Práticas de Fabricação. Possuem medidas que são dadas em caráter geral, para qualquer tipo
de alimento, e algumas específicas para determinadas categorias. A principal finalidade da
BPF é garantir a qualidade sanitária e a conformidade dos produtos alimentícios com os
regulamentos técnicos. A base para implantar a BPF é a criação de um manual.
O programa BPF compreende seis elementos, que são eles:
- Fábrica e imediações;
- Pessoal;
- Limpeza e sanitização;
- Equipamentos e utensílios;
- Processos e controles;
- Armazenamento e distribuição.
3. Metodologia
O estudo de caso foi realizado com base em visitas técnicas feitas na empresa, com o
acompanhamento da supervisora de produção e no uso de uma entrevista semi-estruturada por
Souto (2002). Nas visitas foi possível obter alguns dados relativos ao processo produtivo. A
funcionária permitiu o estudo do tempo de envase do sorvete de coco de 10L, com uso de
cronometro e ainda, a medida de algumas distâncias percorridas pelos funcionários, que foram
realizadas com o auxílio de uma fita métrica. A revisão da literatura também auxiliou o estudo
de caso, dando suporte nas medições, e nos posteriores cálculos que foram efetuados.
3.1. Caracterização
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A empresa estudada é uma sociedade Limitada. Atua no mercado desde 1996 no segmento de
sorvetes em Mossoró e região. Desde o início os seus produtos foram desenvolvidos
enfatizando o valor nutricional, a qualidade e a segurança alimentar. Produzem sorvetes e
picolés, e contam com uma produção de, em média, 900 litros de sorvetes por dia, feitas por
estoque. Segue as regras da Anvisa, e treina os funcionários seguindo as recomendações da
BPF (Boas Práticas de Fabricação). Contam com a atuação de cinco funcionários na produção
e um na administração, como mostra o quadro 1:
OPERADOR RESPONSABILIDADE
Operador 01 Controle do almoxarifado e câmara fria
Operador 02 Fabricação do sorvete
Operador 03 Fabricação do picolé
Operador 04 Fabricação dos recheios e embalagens
Operador 05 Supervisionar e auxiliar na fabricação das embalagens
QUADRO 1 - Quadro de funcionários.
Atua produzindo sorvetes dos mais variados sabores, desde aqueles de frutas, até os mais
“sofisticados”, chamados Italianos. Conta também com a produção de picolés, que variam de
acordo com tamanho/preço.
3.2. Descrição do processo produtivo
O processo de fabricação do sorvete conta com nove etapas, que são elas: Preparo da
embalagem, pesagem de insumos, pasteurização, homogeneização, refrigeração, maturação,
definição do sabor, envase, armazenamento. A seguir, são descritas essas tarefas.
- Preparo da embalagem: A empresa adquire os chamados potes de sorvete, que podem ser de
variados tamanhos. Um funcionário fica responsável por carimbar todas as embalagens com
as informações de sabor e data de validade.
- Pesagem de insumos: Paralelo ao preparo das embalagens ocorre à pesagem de insumos. Um
funcionário recebe os insumos através de uma janela que liga uma sala de controle do
almoxarifado até a área produtiva, abaixo da janela existe uma pequena bancada que pode ser
deixado o material. É feito o transporte da bancada situada abaixo da janela até outra bancada,
onde fica a balança para fazer a medição.
- Pasteurização: O processo tem inicio com a adição de água, essa acontece através de um
encanamento, que leva essa água devidamente tratada ao pasteurizador. Em seguida, coloca-
se o leite em pó, a gordura vegetal e o açúcar. Essa máquina mistura os ingredientes, enquanto
eles estão sendo agitados, o aquecimento é continuo até que a temperatura de pasteurização é
alcançada. Isso ajuda a dissolver os ingredientes, bem como matar todos os organismos
patogênicos. O tratamento térmico mais elevado é eficaz na destruição de microorganismos,
além de melhorar o corpo, a textura e o sabor do produto.
- Homogeneização: Esse processo dá mais cremosidade ao sorvete, melhorando sua
consistência.
- Refrigeração: Após a mistura ser homogeneizada, é resfriada a cerca de +4°C, no banco de
gelo, para evitar o crescimento de microorganismos e uma viscosidade excessiva.
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- Maturação: A maturação da mistura ocorre em um período de no mínimo 4 horas, que é
necessária para que ocorra a solidificação da gordura, hidratação dos espessantes e
estruturação da gelatina. A textura e corpo do produto tornam-se mais suaves, a resistência à
fusão é aumentada e o batimento torna-se mais fácil. O tempo máximo recomendado para o
período de maturação é de 24 horas com a temperatura de +4°C.
- Definição do sabor: Ocorre no batedor, o operador coloca o sabor escolhido na máquina e
enquanto a calda vai passando para GM (máquina produtora) vai havendo a mistura com o
sabor definido.
- Envase: Nesta etapa, o operador da segura a embalagem do sorvete enquanto ela é
preenchida. O processo é continuo até acabar todo o sorvete fabricado, contido na máquina.
- Armazenamento: O produto final é levado até a câmara frigorífica, onde fica armazenado até
o momento da sua distribuição.
3.3. Arranjo físico atual
Segundo Paladini (2009) “O arranjo físico se refere ao planejamento do espaço físico a ser
ocupado e representa a disposição d máquinas e equipamentos necessários à produção dos
produtos/serviços da empresa”.
A fábrica de sorvetes está situada na cidade de Mossoró-RN, região do semi-árido do nordeste
brasileiro. Esta região se caracteriza pelo clima quente e seco, com baixo volume
pluviométrico. O prédio está localizado no centro da cidade, área predominantemente
comercial. Em sua estrutura física, possui piso de cerâmica, assim como recomendado pela
Anvisa, janelas com telas protetoras, como medida de controle de pragas. Possui dois
almoxarifados. O primeiro onde ficam armazenados todos os insumos ainda lacrados, e o
outro, já dentro da área produtiva, que fica todo aquele material que já foi violado.
O fluxograma é uma das “ferramentas da qualidade”. Ele tem importante papel no
entendimento do processo e na padronização, onde é um dos itens essenciais para um padrão
técnico (Falconi apud Souto, 2002).
O gráfico do fluxo do processo representa as atividades realizadas no decorrer da produção do
sorvete. Iniciando na armazenagem da matéria-prima no almoxarifado até a armazenagem do
material pronto na câmara fria. A figura 1 mostra o fluxograma, identificando as distâncias
percorridas pelos funcionários.
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Símbolo Descrição Distância
Matéria-prima no depósito (almoxarifado 01)
Do almoxarifado 01 à janela da produção 3,08m
Da bancada da janela até o local de pesagem 6,28m
Separar e pesar o material
Do local de pesagem ao pasteurizador 5,20m
Colocar os ingredientes no pasteurizador
Aguardar a fabricação da calda
Colocar o sabor definido no batedor
Processo de fabricação do sabor
Sistema de envase do sorvete
Transporte até a câmara fria
Material pronto armazenado na câmara fria
FIGURA 1 - Gráfico do fluxo do processo atual.
O mapofluxograma representa a movimentação física de um item através dos centros de
processamento dispostos no arranjo físico de uma instalação produtiva, seguindo uma
seqüência da figura 1. (SOUTO, 2002).
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A partir do gráfico do fluxo do processo foi possível construir o mapofluxograma do processo
produtivo, que descreve a rotina dos operadores fornecendo uma visão compacta e global do
processo existente na área de produção. Como pode ser visto na figura 2:
FIGURA 2 – Mapofluxograma do processo atual.
As demarcações de cor rosa descrevem o processo realizado pelo operador responsável pelo
almoxarifado, enquanto, o de cor laranja é realizado pelo outro operador responsável pela área
produtiva. Percebe-se que devido ao tamanho reduzido da fábrica, as distâncias percorridas
pelos funcionários não são grandes. Na figura 3 consta o atual layout da área de produção da
empresa.
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FIGURA 3 – Layout atual da área produtiva.
Ao fazer uma análise no layout atual, percebe-se que, os funcionários não dispõem de uma
sala de descanso, os espaços para fluxo são bem limitados, a máquina embaladora de picolé
esta situada em um local que não permite seu funcionamento, fazendo com que, quando ela
precisa ser utilizada tem que ser rearranjada dificultando ainda mais o fluxo dos funcionários.
Outro fator que pode ser analisado é com relação a sala de controle do almoxarifado que
possui espaço não utilizado.
Não foram realizadas medidas quanto aos possíveis riscos sofridos pelos trabalhadores.
Porém, ao se analisar a área produtiva é possível perceber que o local é bem iluminado,
contando com iluminação artificial e natural, através de janelas, porém há uma escassez no
que se refere à ventilação do local. A empresa possui seu próprio manual BPF, e umas das
suas principais preocupações é com a higiene e limpeza da área de produção.
3.4. Estudo do tempo
É o tempo utilizado para a determinação da capacidade de trabalho do processo produtivo
onde há atividades de operadores, seja em atividades exclusivamente manuais, seja na
interação homem-máquina. (TIGRINHO, 2009)
Foram feitas inicialmente cinco cronometragens para determinação do tempo padrão de
envase da máquina produtora GM, para preencher uma embalagem de 10 litros de sorvete de
côco, conforme valores no Quadro 2:
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Cronometragem 1 2 3 4 5
Tempo
Cronometrado
(minutos)
3,75
3,67
3,9
3,9
3,73
QUADRO 2 - Tempos cronometrados.
Para determinação do número de ciclos foi utilizado o coeficiente de distribuição normal para
uma probabilidade 95% que equivale a 1,96. Para cinco cronometragens realizadas o
coeficiente em função do numero de cronometragens realizadas d2 é de 2,326.
De acordo com a fórmula estatística a seguir foi determinado o número cronometragem igual
à 1,04 não sendo necessária fazer mais nenhuma cronometragem.
FIGURA 4 – Fórmula do número de ciclos a serem cronometrados. Fonte: PEINADO e GRAEML (2007).
Para encontrar a velocidade de envase máquina, foi levado em conta o tempo já calculado
anteriormente pelo operador. Dessa forma a máquina levava um tempo de em média 3
minutos para preencher completamente uma embalagem de 10 litros de sorvete. Porém, pode-
se observar de acordo com as cronometragens feitas que a máquina está 25% mais lenta.
Assim, a taxa de velocidade utilizada nos cálculos foi de 75%.
TN = TC X v
TN = 3,79 x 0,75
TN = 2,8425 min
Para determinação do fator de tolerância, foi utilizado o quadro que apresenta as tolerâncias
propostas por Benjamin W. Niebel. Dessa forma foi escolhida a tolerância para trabalho
realizado em pé que equivale a 2% do tempo trabalhado as pausas para necessidades pessoais,
equivalente e 5% desse tempo.
FT = 1/1-p
FT = 1/1-0,07; onde p = tempo não trabalhado/tempo trabalhado.
FT = 1,075
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Após determinado o tempo normal que é o tempo cronometrado ajustado à velocidade, leva-
se em conta que o operário não trabalha o dia todo sem tempos para pausas e necessidades
pessoais. O tempo padrão é calculado multiplicando-se o tempo normal pelo fator de
tolerância calculado anteriormente, conforme a fórmula a seguir:
TP = TN x FT
TP = 2,8425 x 1,075
TP = 3,055 min
TEMPO PADÃO = 3,055 min
4. Proposição de soluções alternativas para melhoria do sistema
É notório que, o principal problema enfrentado pelos funcionários que trabalham na área de
produção da empresa é a falta de espaço para fluxo de pessoas e transportes de insumos. Na
tentativa de obter melhorias tanto para o conforto dos funcionários, como para um aumento na
produtividade, foi proposto um novo layout do posto de trabalho estudado.
FIGURA 5 – Layout Proposto da área de produção.
O layout proposto visa diminuir ainda mais as distâncias para o transporte dos insumos. E
como foi dito anteriormente, essas distâncias são relativamente pequenas, mas ainda podem
ser reduzidas com um rearranjo. É possível também reaproveitar espaços que são mal
utilizados, aumentando o Almoxarifado 1, onde não havia espaço suficiente para armazenar
toda a matéria-prima, possibilitando assim, maior conforto e possível aumento da
produtividade da empresa. O novo mapofluxograma ficaria da seguinte forma:
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FIGURA 6 – Mapofluxograma atualizado.
Pode-se observar que com um novo arranjo no layout foi possível diminuir ainda mais o
tempo de transporte dos insumos, pois o almoxarifado 1 fica ligado a sala, através de uma
janela, que no mesmo espaço já possui uma bancada com a balança utilizada nas medições.
Seguindo nessa mesma linha de raciocínio o almoxarifado 2 ficou mais próximo do local onde
é feita a pesagem. Isso foi possível já que, a sala de controle de almoxarifado tinha bastante
espaço inutilizado, e poderia facilmente ser diminuída.
5. Considerações Finais
A empresa esta situada numa área comercial da cidade de Mossoró. Seu espaço físico é
bastante limitado, o que impossibilita crescimento da indústria. O layout proposto é uma
tentativa de melhorar o fluxo de pessoas no processo produtivo. Entretanto, se houver um
aumento da demanda, a empresa não terá capacidade produtiva para atender seus clientes, já
que existe certa dificuldade relacionada a espaço.
Segundo relatos do funcionário responsável pelo envase, a máquina costumava operar
enchendo em média embalagens de 10L em 3 minutos, entretanto esse não foi o tempo-padrão
estabelecido. Sugere-se, então, que a máquina responsável por esse processo passe por uma
avaliação de desempenho para identificar qual o problema está ocorrendo.
Referências
BARNES, Ralph M. Estudo de movimentos e de tempos. 6. ed. São Paulo, Edgard Blücher, 1977.
CHIAVENATO, I. Administração da Produção. ed. Campus. São Paulo, 2005.
PALADINI, E.P. Avaliação Estratégica da Qualidade. Ed. Atlas. São Paulo-SP, 2009.
PEINADO, J.; GRAEML, A. R. Administração da produção: operações industriais e de serviços. Curitiba:
Unicenp, 2007.
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SOUTO, M. S. M. Lopes. Apostila de Engenharia de métodos. Curso de especialização em Engenharia de
Produção – UFPB. João Pessoa. 2002.
TIGRINHO, J.J. Engenharia de Métodos. Curso de Engenharia de Produção, 2009.