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Valências Verbais no Português Clássico Projeto de Pesquisa Maria Clara Paixão de Sousa maio, 2007 [ 1 ]

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Valências Verbais no Português Clássico

Projeto de Pesquisa

Maria Clara Paixão de Sousa

maio, 2007

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Valências Verbais no Português Clássico

Projeto de Pesquisa para estágio de pós-doutorado

Maria Clara Paixão de Sousa

sob a supervisão de

Esmeralda Vailati Negrão

Departamento de LingüísticaFaculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

Universidade de São Paulo

Conteúdo

Apresentação......................................................................................................................................... 3I. Objetivos e Resultados Esperados...................................................................................................... 4II. Justificativas........................................................................................................................................... 5III. Procedimentos e Cronograma........................................................................................................ 12IV. Anexo: Projeto “A Sintaxe da Ordem no Português, 1400-1900”............................................ 16

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Apresentação

Apresenta-se aqui o plano de trabalho para um estágio de pós-doutorado a ser realizado entre

outubro de 2007 e outubro de 2008 junto ao Departamento de Lingüística da Faculdade de

Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, sob supervisão da

Professora Esmeralda Vailati Negrão, como parte do projeto “Alternâncias de diátese em português

brasileiro: possíveis influências do contacto com povos africanos” (Viotti & Negrão, em curso). A pesquisa

a ser realizada ao longo do estágio é também parte do projeto “A Sintaxe da Ordem no Português,

1400-1900” (Paixão de Sousa, em curso), cuja primeira etapa está sendo realizada desde 2004

junto ao Departamento de Lingüística da Universidade Estadual de Campinas (com término

em setembro de 2007). Ao longo deste ano de estágio, será desenvolvida uma sistematização

descritiva das valências verbais em textos portugueses escritos entre os séculos 15 e 19, produto

que interessa centralmente aos objetivos dos dois projetos maiores citados acima, como se

mostrará aqui.

Na seção I, apresenta-se um resumo pontual dos Objetivos e Resultados Esperados do estágio;

na seção II, Justificativas, indicam-se os pontos de confluência entre os dois projetos

envolvidos na pesquisa proposta; a seção III delineia os Procedimentos e o Cronograma da

pesquisa; por fim, a seção IV, Anexo, reproduz o projeto “A Sintaxe da Ordem no Português, 1400-

1900” em sua íntegra.

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I. Objetivos e Resultados Esperados

1. Objetivos

1. Conferir uma fundação teórica na área de semântica para o projeto “A Sintaxe da Ordem no

Português, 1400-1900”, favorecendo assim o desenvolvimento da hipótese central ali trabalhada

quanto à mudança gramatical que sela o fim do Português Clássico;

2. Contribuir para a linha de investigação diacrônica do projeto “Alternâncias de diátese em português

brasileiro: possíveis influências do contacto com povos africanos”, trazendo à luz dados representativos do

estágio de língua que, por hipótese, teria sofrido mudanças em razão do contato com as línguas

africanas ao longo do período colonial;

3. Estabelecer parâmetros para estudos comparados entre as gramáticas do Português Clássico e

do Português Brasileiro quanto à estruturação das diáteses, com base nos resultados da

generalização descritiva a ser formulada para as valências verbais atestadas em textos

selecionados do período 1400-1900.

2. Resultados Esperados

1. Dicionário das Valências Verbais no Português Clássico (1400-1700) - Versão Piloto

2. Artigo: “Ordem de Constituintes e Promoção Argumental no Português Clássico e no Português Brasileiro: um

Estudo Comparado”.

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II. Justificativas

Este projeto se constituiu na confluência de duas pesquisas em andamento: o projeto “Alternâncias de

diátese em português brasileiro: possíveis influências do contacto com povos africanos” (Viotti & Negrão, em curso), e

o projeto “A Sintaxe da Ordem no Português, 1400-1900” (Paixão de Sousa, em curso). O objetivo de

Viotti & Negrão (em curso) é “analisar algumas caraterísticas da inferface sintaxe-semântica do

português brasileiro, que o diferenciam do português europeu. Essas características estão associadas ao

comportamento de certos verbos que apresentam uma alternância de diátese particular. A hipótese a ser

explorada é a de que esse comportamento pode estar associado ao contacto do português com certas

línguas africanas”. O objetivo de Paixão de Sousa (em curso) é “demonstrar que a evolução diacrônica

dos padrões de ordem atestados em textos escritos em português entre os anos 1400-1900 refletem

uma mudança gramatical que remete, centralmente, à codificação das relações entre sintaxe e discurso

na frase abstrata”. Dois pontos de contato entre os dois projetos se destacam. O primeiro é o interesse

pela mudança gramatical na língua portuguesa e a época estudada – o período colonial. O segundo

ponto de contato é o interesse central em construções sintáticas ligadas ao fenômeno da promoção

argumental – abordadas por Viotti & Negrão (em curso) como possibilidades estruturais ligadas à

codificação da semântica argumental, e por Paixão de Sousa (em curso) como construções derivadas de

deslocamento de constituintes focalizados/topicalizados. Essa dupla confluência motivou a iniciativa de

colaboração entre os dois projetos, sob forma da pesquisa inicial de curta duração aqui delineada.

Antes de tudo, importa situar a importância de um estudo sobre o português do período clássico para

os objetivos do projeto “Alternâncias de diátese em português brasileiro...”. No artigo “Estratégias de

impessoalização no Português Brasileiro” (Negrão & Viotti, em curso), que explora a hipótese das mudanças

gramaticais sofridas pelo português graças ao contato com as línguas africanas, as autoras trazem como

principais elementos de análise dados de natureza sintático-semântica que mostram certas estratégias de

impessoalização e reordenação dos argumentos na sentença do português brasileiro, que o diferenciam

sensivelmente em relação ao Português Europeu. A partir da observação já clássica de Withaker-

Franchi(1989), no sentido de que a classe de verbos que aceita alternância causativa parece estar se

alargando no Português Brasileiro, elas relacionam certos fenômenos característicos da gramática

brasileira a mudanças na estrutura temática dos verbos, afirmando que:

“Em português brasileiro, diferentes tipos de verbo sofrem mudanças em sua estrutura temática e permitem certas realizações sintáticas de sua estrutura argumental que, em português europeu, ou não são possíveis, ou são restritas a uma classe específica e limitada de verbos”.

Um dos verbos que estaria incluido nesta classe ampliada de alternância de diátese no Português

Brasileiro seria o verbo “dar”, que aceita, como mostram as autoras, formas especiais de

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impessoalização. Nos exemplos (1) a seguir reproduzo três usos de “dar” em construções transitivas

exemplificados pelas autoras; em (2), as formas possíveis de passivização:

(1) (a) O Pedro deu este livro para a Regina(b) Aquela firma deu bons brindes no natal(c) Minha chácara está dando estas jaboticabas deliciosas

(2) (a) Este livro foi dado pelo Pedro para a Regina / Deu-se este livro para a Regina

(b) Bons brindes foram dados por aquela firma no natal / Deu-se bons brindes naquela firma no natal

(c) * Essas jaboticabas deliciosas estão sendo dadas na minha chácara / * Está-se dando essas jaboticabas deliciosas na minha chácara

Como observam as autoras, no uso exemplificado em (1c) e (2c) o verbo “dar” não aceita construções

passivas. Entretanto, nesta mesma acepção, ele aceita outras estratégias de impessoalização, não

disponíveis inteiramente para os usos (1a, b) e (2a, b):

(3) (a) Minha chácara está dando estas jaboticabas deliciosas(b) ∅ Está dando estas jaboticabas deliciosas na minha chácara.(c) Essas jaboticabas deliciosas estão dando na minha chácara

(4) (a) Aquela firma deu bons brindes no natal(b) ∅ Deu bons brindes naquela firma no natal.(c) *Bons brindes deram naquela firma no natal. (sem a interpretação de “eles” oculto)

(5) (a) O Pedro deu este livro para a Regina(b) * ∅ Deu este livro para a Regina ( mas __ Deu este livro para a Regina)(c) * Esse livro deu para a Regina (sem a interpretação de “eles” oculto)

Negrão & Viotti (em curso) salientam que sentenças como (3 b) e (4 b), com o sujeito apagado e sem a

marca morfológica de passivização; e (3 c), com promoção do argumento interno para posição de

sujeito, não fazem parte da gramática do Português Europeu. Justamente sentenças como essas

sugerem, conforme as autoras, que:

“o verbo dar aceita passar por um processo de impessoalização no qual os argumentos internos do verbo, com papéis temáticos mais baixos na hierarquia temática, são realizados na posição de sujeito, quando argumentos com papéis temáticos mais altos, como o de agente, por exemplo, não estão presentes na diátese verbal. Em [Minha chácara está dando estas jaboticabas deliciosas], um argumento-fonte (minha chácara), mais alto na hierarquia temática, ocupa posição de sujeito, enquanto um argumento-resultativo, mais baixo na hierarquia temática, ocupa a posição de complemento do verbo. A sentença [ Está dando estas jaboticabas deliciosas na minha chácara ] mostra que é possível demover-se o argumento externo para uma posição periférica, deixando a posição de sujeito desocupada. Com isso, o argumento interno pode passar a ocupar a posição de sujeito. É isso o que mostra a sentença [Essas jaboticabas deliciosas estão dando na minha chácara]. Esse processo é o que tipicamente acontece com verbos da classe de alternância causativa. O que chama a atenção é que nem o verbo dar, nem seus equivalentes em várias línguas européias, fazem parte dessa classe de verbos” [meu grifo].

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Assim, para Negrão & Viotti (em curso), as estratégias de impessoalização do Português Brasileiro

podem ser expressas pela flexibilidade das diáteses nesta gramática, e são um fator central a diferenciá-

la do Português Europeu. Esta hipótese faz surgir uma pergunta fundamental, do ponto de vista dos

estudos históricos sobre a língua portuguesa: se as diáteses do Português Brasileiro se diferenciam das

diáteses do Português Europeu, como elas se comparam com as diáteses do português falado no

período colonial – ou seja, do Português Clássico? A pergunta é relevante uma vez que diversos estudos

(Ribeiro 1998; Galves 2001; Paixão de Sousa 2004; Galves & Paixão de Sousa 2005; Galves, Namiuti &

Paixão de Sousa 2005; Galves, Britto & Paixão de Sousa 2006) têm demonstrado que o português

brasileiro tem como antecedente diacrônica uma gramática muito distinta da gramática do português

europeu atual. Noutros termos: é na gramática do Português Clássico que o estado original da língua

trazida para o Brasil deve ser pesquisado. Se voltarmos, então, à pergunta sugerida acima (como as

diáteses características do Português Brasileiro se comparam às diáteses do Português Clássico?),

verificaremos ser impossível respondê-la, uma vez que não temos à disposição, no estágio atual das

pesquisas na área, uma descrição sistemática da estrutura temática dos verbos neste período da língua

portuguesa. Esta é a tarefa a que o trabalho aqui proposto se lança.

O estudo das diáteses no Português Clássico pode demonstrar três cenários possíveis. No primeiro

cenário, a semântica argumental nos textos clássicos poderiam revelar-se semelhantes ao Português

Europeu, com menor flexibilidade de alternância em relação ao Português Brasileiro. Num segundo

cenário, os verbos nesses textos poderiam se apresentar semelhantes ao que se observa para o

Português Brasileiro, mais flexíveis quanto à alternância que os verbos do Português Europeu. Num

terceiro cenário, a sintaxe e a semântica dos verbos nos textos clássicos seria distinta tanto do

Português Europeu como do Português Brasileiro. Qualquer um dos três cenários representaria,

entretanto, a base diacrônica sobre a qual as hipóteses de mudança podem ser desenvolvidas no projeto

“Alternâncias de diátese em português brasileiro: possíveis influências do contacto com povos africanos”.

Algumas indicações quanto aos três cenários potenciais podem ser buscadas nos trabalhos sobre a

ordem relativa entre verbos e seus argumentos realizados em Paixão de Sousa (2004) e Paixão de Sousa

(em curso). Venho demonstrando, nesses trabalhos, que a gramática do Português Clássico, tal como

representada nos textos escritos entre 1500-1700, apresenta uma propriedade central: a organização da

frase em torno de uma posição sintática codificadora da saliência informacional, que acarreta a

promoção do termo mais saliente, entre os participantes da diátese verbal, para uma posição de

destaque à esquerda do verbo. Essa propriedade distingue sensivelmente a ordem superficial dos

constituintes nos textos clássicos da ordem atestada nos textos escritos depois de meados do século 18.

Como defendi em Paixão de Sousa (2004), a mudança gramatical ocorrida entre o Português Clássico e

o Português Europeu pode ser explicada pelo desativamento desta propriedade de saliência à esquerda, [ 7 ]

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determinada pela pragmática, em favor da fixação de uma ordem SVO sintaticamente determinada. Em

meu atual projeto de pesquisa (cf. Seção IV), estou defendendo que a passagem do Português Clássico

para o Português Brasileiro, ao contrário, se dá como uma radicalização da propriedade de

deslocamento à esquerda dos elementos discursivamente salientes:

“as construções de “promoção argumental” no PB seriam diacronicamente derivadas das construções de fronteamento{XVS} noPC. (...) O PB refletiria do PC não uma ordem superficial particular, mas sim uma propriedade abstrata: a de sempre posicionar o tópico sentencial à esquerda do verbo. No PC, quando o tópico sentencial não coincide com o sujeito gramatical, superficializa-se a ordem {XVS} – simplesmente porque {S} permanece em IP. No PB, quando o tópico sentencial não coincide com o sujeito gramatical, ele é promovido a sujeito gramatical. De certa forma, no PB a propriedade de se deslocar o tópico sentencial à esquerda se radicaliza, em relação ao PC”

O que chamo de “fronteamento”, no Português Clássico, é a construção na qual um elemento

discursivamente saliente aparece à esquerda do verbo (exemplos de Gandavo, 1557):

(6) (a) A quarta capitania, que é a dos Ilhéus se [deu] a Jorge de Figueiredo Correa(b) Os mesmos sinais lhes [deram] estoutros dos Castelhanos do Peru (c) A de guerra se [faz] desta mesma raiz, e depois de feita fica muito seca(d) Desta mesma Mandioca , [fazem] outra maneira de mantimentos que se chamam beijus

A ordem {XVS} é muito freqüente nos textos portugueses até o início do século 18, e eu a tenho

interpretado como sinal de que na gramática do Português Clássico, a ordem de constituintes é

governada primordialmente por requerimentos pragmáticos, que obrigam o elemento discursivamente

saliente a ocupar a posição à esquerda do verbo (cf. IV. Anexo, seção 1). A freqüência de {XVS} decai

sensivelmente a partir dos anos 1700, dando lugar à predominância da ordem {SVX} no Português

Europeu (cf. Paixão de Sousa, 2004), em uma evolução que eu interpreto como sinal do fim da

gramática clássica do português.

Note-se, entretanto, que nos meus trabalhos anteriores conferi uma perspectiva puramente sintática

para esta comparação diacrônica – não tendo abordado sistematicamente a questão da semântica verbal.

Nesses trabalhos explico o “fronteamento” como uma operação de tipo movimento de focos, para uma

posição sintática acima dos núcleos funcionais organizadores da estrutura argumental (VP) e de

caso/concordância (IP) (no esquema abaixo, essa posição é o especificador da categoria F):

(7) [CP [C] [FP X [ F-V ][IP [ I-t ] [vP [ v-t ] [VP [ V-t ] ] ] ] ]

Nessa hipótese (cf. Anexo, seção 1), a organização superficial da ordem decorreria do movimento de

um dos constituintes de VP para a posição de especificador de FP, independente da estrutura

argumental projetada inicialmente em VP. Entretanto, à luz do trabalho de Negrão & Viotti (em curso)

sobre as estratégias de promoção argumental no Português Brasileiro, e do que afirmam as autoras

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sobre a relação estreita entre a semântica do verbo e o potencial de flexibilidade de sua diátese, essa

hipótese pode ser reavaliada, perguntando-se: a produtividade da construção de “fronteamento” se

mostra diferente a depender da semântica do verbo? Noutros termos: verbos de diferentes classes

semânticas apresentam diferentes probabilidades de aparecer em uma construção de fronteamento – ou

seja, com a ordem {XVS}?

Se a resposta a esta pergunta for positiva – isto é, se observarmos uma diferença no comportamento

dos verbos de diferentes classes quanto à superficialização da ordem {XVS} – a hipótese do

fronteamento como movimento de focalização deverá ser repensada, para que se possa formular a

natureza da interferência da semântica do verbo nessas construções. Para sabê-lo, faz-se necessário

realizar um levantamento dos padrões de ordem em relação aos tipos de verbo nos textos clássicos do

português, como o que proponho neste estágio de pesquisa.

É portanto desta forma que se configuram os dois pontos de confluência principal entre os projetos de

pesquisa envolvidos no trabalho aqui proposto. De um lado, o estudo das diáteses no Português

Clássico contribuirá para os objetivos de investigação diacrônica do projeto de Viotti & Negrão (em

curso). De outro lado, o estudo sistemático da semântica argumental permitirá uma abordagem mais

refinada da hipótese sobre os padrões de ordem no Português Clássico trazida por Paixão de Sousa (em

curso), ao incluir neste projeto uma abordagem semântica, até o momento não contemplada.

Alguns dados preliminares1 confirmam o interesse desse projeto conjunto – exemplifica-se aqui o caso

do verbo “dar”, cuja diátese no Português Brasileiro é estudada detalhadamente em Negrão & Viotti

(em curso). Em uma observação inicial, já se nota que algumas construções características do

Português Clássico com este verbo se distanciam de diáteses esperada hoje no Português Europeu;

veja-se, abaixo, o uso de “dar” no sentido de “acontecer”:

(8) (a) E sendo já entre as ilhas do Cabo Verde (as quais iam demandar para fazer aí aguada), deu-lhes um temporal, que foi causa de as não poderem tomar, e de se apartarem alguns navios da companhia. (b) A Rainha, que ia algumas jornadas diante, deram-lhe as dôres do parto de noite, e dizem algumas pessoas, que parira uma filha

Esses exemplos mostram uma estrutura argumental diferente da estrutura transitivo-ativa de “dar” em

Português Europeu, ou seja, com Agente, Tema e Alvo; aqui, parece-nos, não há um argumento

agentivo controlador. Outras construções com “dar” mostram diferentes diáteses, como as

exemplificadas abaixo, em que tampouco há um argumento agentivo controlador:

(9) (a) Uma planta se dá também nesta província , que foi da ilha de São Thomé

1 Os dados preliminares foram colhidos em um estudo das estruturas argumentais atestadas no texto de Pero Magalhães de Gandavo (1502), História da Província Santa Cruz, realizado como atividade didática junto aos alunos do curso “Seminário Temático em Gramática”, que estou ministrando desde março de 2007, na Pós-graduação em Lingüística do IEL -Unicamp.

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(b) Algumas deste Reino se dão também nestas partes, convém a saber, muitos melões, pepinos, romãs, e figos de muitas castas.

Embora não se tenha atestado, nessas observações preliminares, construções equivalentes a (3c) acima

(ou seja, do tipo “Essas jaboticabas deliciosas estão dando na minha chácara”, onde um argumento interno

ocupa a posição de sujeito, e o argumento principal está apagado), os dois exemplos em (9) acima

mostram um uso que poderia ser analisado como bastante próximo a isso: o argumento interno está

fronteado, e o uso de SE indica uma estratégia de impessoalização (impossível no Português Brasileiro

nesse contexto, como mostram Viotti & Negrão).

Exemplos como esse mostram que a comparação diacrônica entre os verbos que apresentam

alternância de diátese no Português Brasileiro atual e seus “antecedentes” nos textos clássicos podem

ser reveladores de contrastes sintáticos distintos daqueles observados ao se comparar o Português

Brasileiro com o Português Europeu atual.

Essas observações iniciais provém de um estudo preliminar realizado no sentido de verificar a hipótese

central do projeto de Paixão de Sousa (em curso), segundo a qual a descrição dos padrões de ordem no

Português Clássico depende da compreensão do estatuto discursivo de cada elemento da sentença, mais

que de seu estatuto em termos de função sintática (sujeito, objeto). Essa idéia levou à realização de uma

descrição inicial do texto História da Província Santa Cruz levando em conta o estatuto temático dos

argumentos. Esse estudo, em andamento, vem mostrando que a ordem {V-Complemento} é freqüente

quando o argumento externo não está expresso e quando não há um argumento estativo; mas que,

quando há mais de um argumento expresso, a ordem entre eles varia, não sendo possível generalizar-se

em termos de “SV”, “VS”, etc. É uma sistematização dessa observação inicial que o projeto “A Sintaxe

da ordem no Português” busca com a construção do dicionário de valências verbais. Outros procedimentos

serão combinados com este no prosseguimento do projeto; notadamente, um estudo sistemático do

estatuto discursivo dos constituintes nas construções de fronteamento (Castro Alves e Paixão de Sousa,

em curso), e uma análise teórica da estrutura envolvida na construção de fronteamento.

Reproduz-se, abaixo, o plano de trabalho completo de Paixão de Sousa (em curso); a construção do

dicionário de valências está prevista no item 2.2.2. Em seguida, na seção III, detalham-se os

procedimentos a serem seguidos no desenvolvimento da descrição das valências, como parte do estágio

de pesquisa a ser realizado junto ao Departamento de Lingüística da FFLCH-USP.

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Projeto A Sintaxe da Ordem no Português, 1400-1900: Plano de Trabalho Resumido1. Formação da Base Documental

1.1 Objetivo: Formar uma base documental para o período em estudo, representativa do ponto de vista de volume de dados e qualidade filológica das fontes.1.2 Principais Procedimentos

1.2.1 Desenvolver técnicas de pesquisa relativas a processamento de textos e busca de dados (data-mining) que favoreçam o trabalho ágil e preciso com o material empírico de trabalho.1.2.2 Desenvolver uma reflexão historiográfica crítica sobre a representatividade dos textos-fonte em relação às propriedades gramaticais em análise.

1.3 Resultados Preliminares e Trabalhos em Andamento1.3.1 Corpus Inicial – cf. http://www.ime.usp.br/~tycho/corpus1.3.2 Projeto Memórias do Texto: Aspectos tecnológicos na construção de um corpus histórico do português, cf. http://www.ime.usp.br/~tycho/participants/psousa/memorias/

2. Descrição e Análise dos Dados Empíricos2.1 Objetivo: Descrever e analisar a ordem de constituintes da sentença em textos portugueses clássicos e modelar a dinâmica da evolução diacrônica dos padrões de ordem atestados.2.2 Principais Procedimentos

2.2.1 Desenvolver um quadro metodológico rigoroso que oriente o trabalho de identificação e classificação dos dados:

• Desenvolver uma reflexão sobre a participação das propriedades sintáticas e semântico-pragmáticas na atividade de descrição gramatical;

• Pesquisar as teorias sobre a relação entre o componente informacional e o compoente computacional na arquitetura da gramática;

2.2.2 Desenvolver produtos de referência para estudos históricos e teóricos da sintaxe da língua portuguesa, a partir dos resultados dos levantamentos de dados, com alcance na comunidade de pesquisa:

• Dicionário das valências verbais no Português Clássico (1400-1700);• Gramatica Descritiva da Ordem de Constituintes no Português (1400-1700).

2.2.3 Desenvolver a modelagem e quantificação estatística dos dados empíricos, nos termos de Kroch 1989 (Constant Rate Effect).

2.3 Resultados Preliminares e Trabalhos em Andamento2.3.1 Desenho da Estrutura Descritiva2.3.2. Castro Alves, F. & Paixão de Sousa, M.C. Continuidade do Tópico e Ordem de Constituintes em Textos Portugueses do Século 16.

3. Reflexão Teórica e Modelagem da Mudança: 3.1 Objetivo: Analisar estruturalmente a ordem superficial atestada nos dados, explicar as propriedades gramaticais em jogo em cada etapa, e modelar a interpretação da evolução diacrônica dos dados modelados como reflexos de uma mudança gramatical.3.2 Principais Procedimentos

3.2.1 Desenvolver a hipótese de trabalho sobre a estrutura da frase no Português Clássico: {TOP } [CP ... C [FP ... F [IP ... I [vP ...v [VP ...V ]]]]

• Formalizar a natureza do núcelo funcional FP e modelar a derivação da operação de fronteamento (“movimento” para FP);

• Formalizar a relação entre o elemento externo {TOP} e a sentença, em particular quanto ao estabelecimento de co-referencialidade, no discurso, entre este elemento e constituintes internos.

3.2.2 Pesquisa teórica sobre sobre a relação entre o componente informacional e o compoente computacional na arquitetura da gramática, e sobre a teoria da Mudança Gramatical no quadro gerativo: motivações e instanciamentos; o lugar da variação diacrônica na arquitetura da gramática.

3.3 Resultados Preliminares e Trabalhos em Andamento3.3.1 Levantamento Bibliográfico (Teoria da Mudança: Motivações e Instanciamentos; Formulação conceitual para “saliência”, “foco”, “tópico”; Desenvolvimento da hipótese estrutural abstrata).3.3.2 Paixão de Sousa, M.C.: Uma posição à esquerda para tópicos sentenciais no Português Clássico.

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III. Procedimentos e Cronograma

1. Procedimentos

1.1 Universo de Pesquisa

Para desenvolver a descrição sistemática das valências verbais, serão escolhidos cinco textos para serem

descritos exaustivamente – ou seja, com todos os seus verbos levantados e classificados segundo sua

estrutura temática, a expressão de seus argumentos e sua ordem relativa. A previsão é que esta vertente

dos trabalhos leve cinco meses para ser completada, em sua primeira versão2. O levantamento realizado

neste Corpus Principal (cf. 1.1.1) indicará quais verbos mercem uma pesquisa mais extensa, por

apresentarem maior complexidade e variedade de construções. Os verbos assim identificados serão

investigados, em seguida, num corpus mais extenso, para que se possa ter maior segurança da

generalidade dos usos encontrados.

Tanto os textos do Corpus Principal como os textos do corpus complementar foram preparados e

editados na primeira fase do projeto de Paixão de Sousa (em curso), como parte do Corpus Histórico do

Português Tycho Brahe. O material se encontra disponível em formato eletrônico, podendo ser processado

com facilidade em planilhas de processamento comuns (de aplicativos do tipo Excell), conferindo

bastante agilidade ao trabalho, conforme se constatou no estudo preliminar.

1.1.1 Corpus Principal

(a) Duarte Galvão, 1435: Crônica del-Rei Afonso Henrique (53.500 palavras)(b) Pero Magalhães de Gandavo, 1502: História da Província Santa Cruz (22.944 palavras)(c) Manuel dos Santos, 1672: História Sebástica (54.000 palavras)(d) José Daniel Rodrigues da Costa, 1757: Entremezes de Cordel(e) Marquês de Alorna, 1802: Memórias

1.1.2 Corpus Complementar

• Corpus Histórico do Português Tycho Brahe - 40 textos,

2 O estudo preliminar com base no texto História da Província Santa Cruz mostra ser possível analisar até 15 verbos em uma hora de trabalho. Um texto de cerca de 30.000 palavras possui em média 600 orações principais (ou seja, 600 verbos a serem analisados); o conjunto dos cinco textos a serem levantados exaustivamente (o Corpus Principal da pesquisa, cf. 1.1.1 acima) totaliza 276.550 palavras, podendo-se calcular cerca de 5.500 verbos no total. Assim, o processamento dos cinco textos deve tomar no mínimo cerca de 360 horas de trabalho (cerca de 60 dias úteis, considerando-se seis horas de trabalho diário).

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http://www.ime.usp.br/~tycho/corpus (cf. Detalhamento em Anexo, seção 3)

1.2 Procedimento de Descrição das Valências

O procedimento básico a ser seguido na descrição das valências será a classificação das construções

atestadas com cada verbo em termos de expressão da semântica argumental (papéis

temáticos/propriedades semânticas) e ordem. No estudo preliminar, isso está sendo feito da maneira

esquematiza em (10) abaixo3:

(10)

n. V ordem ocorrência

[534] dar (desencadeador + c) afetado estativo AFET_ESTAT_VE tanto que o matador vê tempo oportuno, tal pancada lhe [dá] na cabeça, que logo lha faz em pedaços.

Nesta primeira abordagem, usei como padrão de descrição os critérios de Cançado (2001) para a

semântica argumental do Português Brasileiro: desencadeador, afetado, estativo, com [ + ou – controle ].

Entretanto, um dos pontos centrais desta fase do projeto é refinar e discutir esses critérios de descrição.

Isto será possível graças à inserção do projeto numa instituição com forte tradição de estudos na

interface sintaxe-semântica, como é o caso do Departamento de Lingüística da FFLCH-USP. Neste

sentido, prevê-se que o estágio seja complementado com a realização de cursos na área de semântica

oferecidos na pós-graduação daquele departamento, além de sessões de consultoria semanais junto à

supervisora dos trabalhos. A sistematização desses critérios de descrição permitirá dois desdobramentos

futuros: a continuidade da descrição das valências no Português Clássico, formando o dicionário

completo, e a continuidade dos trabalhos comparativos entre Português Brasileiro, Português Clássico

e Português Europeu.

1.3 Produtos

Os cinco textos a serem descritos neste ano resultarão no Piloto do Dicionário de Valências do Português

Clássico. Esse piloto, em formato eletrônico, será apresentado à comunidade de pesquisa ao final do

estágio. O retorno possibilitado por este primeiro lançamento possibilitará a absorção de avanços e

modificações que vierem a ser sugeridas; o plano para o futuro é expandir essa versão piloto, de modo a

formar o Dicionário completo, este a ser colocado à disposição também em forma impressa. O

segundo produto será um artigo onde se apresentarão os principais resultados do estágio de pesquisa,

3 A classificação é feita em uma planilha de cálculos; assim, o conjunto dos dados classificados pode ser ordenado conforme a coluna desejada – por tipo de verbo, por argumentos expressos, etc., possibilitando um mapeamento ágil da análise a cada ponto do trabalho.

[ 13 ]

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com o título provisório “Ordem de Constituintes e Promoção Argumental: um Estudo Comparado do Português

Brasileiro com o Português Clássico”.

A seguir, apresenta-se o cronograma para a realização dessas atividades ao longo do ano de estágio.

3. Cronograma

Outubro, 2007 – Fevereiro, 2008

• Descrição Inicial dos cinco textos do Corpus Principal • Consultoria Semanal com a Supervisora• Realização de um Curso na área de Semântica, na pós-graduação do DL-FFLCH-USP

Março, 2008 – Julho, 2008

• Apresentação da versão inicial do trabalho para o DL-FFLCH-USP• Revisão da Descrição Inicial• Descrição do Corpus Complementar• Consultoria Semanal com a Supervisora• Realização de um Curso na área de Semântica, na pós-graduação do DL-FFLCH-USP

Agosto, 2008 – Setembro, 2008

• Apresentação do Dicionário Piloto para o DL/FFLCH/USP• Redação do Artigo

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Referências Bibliográficas

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Castro Alves, F. e Paixão de Sousa, M.C. (em curso). Continuidade do Tópico e Ordem de Constituintes em Textos Portugueses do Século 16. Unicamp, Ms.

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Negrão, E.V. & Viotti, E. (em curso). Estratégias de Impessaoalização no Português Brasileiro. FFLCH-USP, ms.

Paixão de Sousa (em curso). A Sintaxe da Ordem no Português, 1400-1900. Projeto de Pesquisa, Unicamp.

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Ribeiro, I. (1998). A mudança sintática do PB é mudança em relação a que gramática?. In: A. Castilho (org.), Para a história do português brasileiro, vol I: Primeiras idéias. São Paulo: Humanitas.

Viotti, E. & Negrão, E.V. (em curso). Alternâncias de diátese em português brasileiro: possíveis influências do contacto com povos africanos. Projeto de Pesquisa, FFLCH-USP.

Withaker-Franchi, R.C. (1989). As Construções Ergativas. Um estudo semântico e sintático. Dissertação de Mestrado, Unicamp.

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IV. Anexo: Projeto “A Sintaxe da Ordem no Português, 1400-1900”

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A Sintaxe da Ordem no Português, 1400-1900

Resumo

Esta pesquisa tem por objetivo principal demonstrar que a evolução diacrônica dos padrões de

ordem atestados em textos escritos em português entre os anos 1400-1900 refletem uma

mudança gramatical que remete, centralmente, à codificação das relações entre sintaxe e

discurso na frase abstrata, conforme entendidas no quadro teórico gerativista, em sua versão

minimalista. Neste plano teórico, as mudanças gramaticais consituem-se como alterações nas

propriedades lexicais dos núcleos funcionais (ou seja: nos planos não-universais da arquitetura

da gramática), que serão refletidas na produção lingüística de gerações diacronicamente

subsequentes de falantes de uma língua particular. O fator central na mudança gramatical

envolvida no fim do assim chamado “Português Clássico” (1500-1600) seriam as propriedades

lexicais do núcleo funcional responsável pela articulação entre a sintaxe e o discurso nas línguas

naturais. Proponho como hipótese inicial para a sentença abstrata na gramática representada

nos textos até o século 17 a estrutura [CP ... [ C ] [FP ... [F]] [IP ... [ I ] [vP ...[ v ] [VP ...[ V ] ]]]] , onde

F (lócus de codificação das relações entre sintaxe e discurso) tem traços [+φ]. Essa hipótese

estrutural corresponde satisfatoriamente às condições de interpretação contextual das diferentes

ordens superficiais dos constituintes (em especial, quanto aos sujeitos referenciais), e descreve

satisfatoriamente a variação empírica detectada nos textos quanto aos constituintes que podem

ocupar a posição pré-verbal interna. Defenderei que uma mudança nas propriedades lexicais do

núcleo F (de traços [+φ] para traços traços [-φ] noPortuguês Europeu; e a desativação do traço

[afetivo]/[afetivo] no Português Brasileiro) é o fator central responsável pela reorganização da

sintaxe da ordem a partir dos textos representativos do século 18.

O desenvolvimento dessa hipótese fundamenta-se em uma análise que articula as propriedades

computacionais e as propriedades semântico-discursivas envolvidas no ordenamento de

constituintes, tal como essas podem ser investigadas em textos escritos. O trabalho inclui

portanto a descrição e análise de dados, a reflexão sobre as condições de interpretação de dados

documentais no quadro metodológico autorizado pela teoria gerativa da gramática, e a reflexão

sobre os mecanismos responsáveis pelas mudanças gramaticais nesse quadro teórico.

[ 17 ]

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1. Introdução

Nos textos portugueses escritos até o século 17 é bastante freqüente a ordem superficial {XVS}4 (onde

X é um complemento do verbo):

(1) (a) Uma carta de Vossa Reverência me deu o padre Frei Ene perto de Cascais (Chagas, 1631)(b) A este livro chamão elles: “Quid pro quo”: quer dizer, huma couza por outra (Costa, 1601)(c) Na Côrte andou este Rei dous anos (Couto, 1554)

As ordens {XVS} são epecialmente representativas de uma propriedade gramatical central da língua

representada nos textos do Português Clássico: a organização da frase em torno de uma posição

sintática codificadora da saliência informacional na periferia esquerda. Essa propriedade gramatical

promove o termo mais saliente, entre os participantes da diátese verbal, para essa posição de destaque à

esquerda. Na estrutura abstrata refletida nos padrões em (1) acima, {X} especifica um núcleo funcional

localizado acima de I, ao qual o verbo (V-I) está integrado. Esse núcleo (F) codifica sintaticamente as

relações discursivas que podem ser expressas no interior da frase por meio de traços abstratos

morfológicos. O verbo é o núcleo lexical que compartilha este traço [+φ] com F, e que portanto deve

(sempre) se integrar a F, e constituintes que compartilhem este traço [+φ] podem especificar F-V:

(2) [CP [C] [FP X-[+φ] [ F-V-[+φ] ][IP [ I-t ] [vP [ v-t ] [VP [ V-t ] ] ] ] ] onde F [+φ]

Demonstrarei nesta pesquisa que esta formalização para a estrutura da frase permite explicar todas as

ordens superficiais atestadas nos textosdo Português Clássico, e as proporções relativas entre elas

(inclusive quanto à variação empírica na posição de pronomes clíticos). Além disso, a hipótese se

adequa às interpretações contextuais correspondentes às construções nos textos: os dados preliminares

desta pesquisa indicam que as ordens {XVS} no Português Clássico remetem à maior saliência

contextual de {X} em relação aos demais constiuintes da frase5. A adequação intepretativa é uma

4 Nesta apresentação usarei a marca {...}, colchetes, para indicar a ordem superficial dos termos; ou seja, a

seqüência{XVS}, por exemplo, não faz referência à posição estrutural de {X}, de {V} ou de {S}.

5 Fundamentalmente, os sujeitos pós-verbais nos textos da época não aceitam inequivocamente a interpretação de focos,

como acontece com os sujeitos “invertidos” no Português Europeu Moderno. Isso já indica ser mais adequado analisar

{XVS}, no Português Clássico, como análogo às assim chamadas “inversões germânicas”– que não são, a rigor,

inversões de {S}, mas fronteamentos de {X}-{V}; e não às “inversões românicas”, que são focalizações de sujeito. Além

do contraste interpretativo quando ao estatuto de S, as inversões românicas e germânicas diferenciam-se por sub-

configurações específicas da porção pós-verbal das sentenças: as germânicas são tipicamente {XVSX}, como em (1a-c)

acima; as românicas, tipicamente {(X)VXS}. Os dados preliminares mostram que a configuração específica {XVSX} é a [ 18 ]

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propriedade importante da hipótese, por dois motivos: primeiro, porque a interpretação dos dados

permitirá formalizar as propriedades abstratas de F. Segundo, porque a interpretação é um dos aspectos

centrais a diferenciar as ordens {XVS} no Português Clássico das ordens {XVS} do Português

Europeu moderno e a aproximá-las das ordens {XV} do Português Brasileiro onde {X} é um tópico

sentencial.

No detalhamento que segue apresentarei os dados iniciais que fundamentam essa interpretação dos

constituintes pré-verbais nos textos representativos do Português Clássico (em contraste com sujeitos e

outros elementos pós-verbais). Esses dados indicam que nesta língua, a organização da sentença gravita

em torno de uma posição pré-verbal discursivamente saliente, que me parece poder ser adequadamente

formalizada como a projeção FP proposta em URIAGERAKA (1998), RAPOSO & URIAGEREKA (2005). FP,

para esses autores, é a categoria funcional onde se codifica a relação sintaxe-discurso no interior da

frase na línguas românicas; a realização do verbo em F e sua especificação por um de seus

complementos modela na frase o “ponto de vista” da proposição. A propriedade abstrata de F marca a

saliência relativa ao ponto de vista a ser codificado na frase; os constituintes que especificam F são os

mais salientes em relação aos demais participantes da diátese verbal – tanto tópicos sentenciais, como

focos e operadores de ênfase. RAPOSO & URIAGEREKA (2005) sugerem que o caso abstrato realizado em

F é o caso “citativo”; assumirei, inicialmente, esta formulação, pois ela parece adequada à observação da

possibilidade de se encontrarem tanto focos como tópicos nesta posição nos textos clássicos6. Precisar

formalmente a natureza da “saliência” codificada em F, detalhando seus condicionantes discursivos e

formais, será uma das tarefas centrais no desenvolvimento dessa pesquisa.

Nesta Introdução, quero indicar como a hipótese estrutural (2) acima, considerada a análise preliminar

de {X} em spec-FP como “saliente” (foco/tópico), se associa a uma perspectiva diacrônica

interessante, especialmente no que se refere às estruturas de deslocamento e apagamento de

argumentos nas variantes modernas do português: o Português Europeu (PE) e o Português Brasileiro

(PB). De um lado, o contraste interpretativo (e certas diferenças sintáticas) que observei entre {XVS}

no Português Clássico e {XVS} no Português Europeu mostrariam que a mudança para o PE incide

numa reorganização dos mecanismos de codificação entre sintaxe e discurso na frase abstrata, onde a

ordem {VS} cuja freqüência cai mais agudamente nos textos com o fim do período clássico.

6 Parece-me adequado sugerir que, uma vez que F codifica “ponto de vista”, a “importância relativa” entre os

constituintes pode estar ligada à topicalidade em alguns casos, e à saliência informacional em outros. Isso explicaria,

portanto, a possibilidade de se encontrarem tanto focos como tópicos nesta posição: se o importante é salientar a

topicalidade, o tópico sentencial é movido à esquerda. Se o importante é salientar a referencialidade, há um foco

(“informação nova”), e este deve ser movido à esquerda. O caso “citativo” reflete também a idéia de “aboutness”,

delineada em VALLDUVÍ (1993) para encompassar as propriedades de topicalidade e saliência referencial que se mesclam

em diferentes medidas nos elementos focais e tópicos. [ 19 ]

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propriedade de “saliência à esquerda” parece ficar desativada. De outro lado, no que se refere à

mudança do Português Clássico para o PB, também se abre uma perspectiva diacrônica interessante: se

a posição estrutural à esquerda no Português Clássico codifica a saliência informacional de tal modo a

poder abrigar “focos” e “tópicos sentenciais” (e se a extensão do levantamento de dados comprovar a

indicação preliminar da elevada freqüência de ocorrência de {XV} onde {X} é um tópico sentencial no

Português Clássico), forma-se um quadro interessante para interepretar os antecedentes diacrônicos das

construções de topicalização e promoção argumental no PB.

Comecemos por notar que no Português Europeu moderno, a ordem superficial {XVS} ainda é

atestada:

(3) PE:(a) A sopa comeu o Paulo onde foco: o Paulo (Costa 1998:109)(b) A esse teu amigo tem dado atenção só o Pedro onde foco: o Pedro (Ambar 1992:81)(c) Em Lisboa mora o Pedro onde foco: o Pedro (Ambar 1992:78)

As ordens {XVS} no PE e no PC, embora superficialmente semelhantes, apresentam diferenças

interpretativas importantes: no PE, {S} recebe aí a interpretação de foco (segundo Ambar, 1992, e

Costa, 1998, entre outros); no Português Clássico, como demonstrarei mais adiante, não recebe. No

PE, portanto, essas ordens derivam da “demoção” do sujeito para uma posição pós-verbal – ou seja,

são aí, de fato, “inversões” da ordem canônica {SV} (que, defendo, não é canônica no PC).

Coerentemente, enquanto no PE {XVS} é menos atestado que {SVX}, nos textos clássicos há um

equilíbrio entre as duas ordens superficiais.

A principal diferença de {XVS} no PC e no PE, portanto, é que no PC esta ordem deriva de uma

operação sintática sobre {X}, e no PE, em geral, de uma operação sintática sobre {S}. Proponho que

isso corresponde a uma mudança gramatical na qual a propriedade morfológica de F como [+CITATIVO]

se perdeu no PE.

Por outro lado, a propriedade que permite {XVS} como operação de {X} (e não de {S}) no PC tem

como contraparte, no PE, uma construção muito especial, o chamado “movimento afetivo”:

(4) Muito uísque bebeu o capitão! (Raposo, 1998)

As construções de “movimento afetivo” são também atestadas nos textos clássicos:

(5) Muito estimara eu que fôsse tal o meu desembaraço (Chagas, 1631)

A possibilidade do “movimento afetivo” no PE indica que a associação de F a um traço (não-

[ 20 ]

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morfológico) [afetivo] se manteve nesta gramática7. Assim, enquanto no PC F é morfológico e sempre

presente nas derivações (podendo ou não carregar o traço adicional [afetivo]), no PE F cumpre

exclusivamente a função de abrigar o traço [afetivo], e portanto só participa das derivações em que há

um constituinte marcado com este traço. Já no Português Brasileiro, a construção {XVS} com com

valor afetivo de {X} não é gramatical – o que seria uma indicação inicial de que no PB o traço [afetivo]

de F não está mais ativo:

(6) PB: * Muito uísque bebeu o capitão!

De fato, no PB ordens {XVS} não parecem naturais nem com a associação de um valor afetivo para

{X}, nem como focalizações do sujeito, como acontece no PE:

(7) PB:(a) * A sopa comeu o Paulo(b) * A esse teu amigo tem dado atenção só o Pedro (c) * Em Lisboa mora o Pedro

Segundo importantes estudos (cf. Kato 2000, sobretudo), apenas ordens {VS} com verbos mono-

argumentais são possíveis e naturais no PB:

(8) (a) Chegou a encomenda.(b) Apareceu a menina.

Entretanto, os estudos também indicam que o estatuto de {a encomenda} ou {a margarida} nas

sentenças acima como “sujeitos” é discutível; tais elementos, apesar de poderem ser analisados como

sujeitos semânticos do verbo, parecem se comportar, de fato, como complementos sintáticos:

(9) (a) Chegou as encomendas. (b) Apareceu as meninas.

Inversamente, no PB os complementos semânticos do verbo (argumentais e outros, como locativos,

circunstanciais), quando são tópicos sentenciais, podem aparecer em posição pré-verbal. Mas, nessa

configuração, esses “complementos semânticos” parecem comportar-se como sujeitos gramaticais:

7 Talvez esta manutenção reflita, de fato, um resquício conservador do PE em relação à gramática clássica; encontro, por

exemplo, em Costa (1998), a seguinte possibilidade para a posição dos sujeitos em “construções afetivas (portanto,

sujeitos não focalizados:

(i) Muito vinho o João bebeu !

A ordem acima ({X-afetivo SV}) está mais de acordo com a descrição do PE moderno proposta por Costa, em que a

ordem {VS} só se explica por focalização de {S}.[ 21 ]

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(10)(c) O filé acompanha fritas.(d) A máquina está lavando os tapetes.

Uma boa hipótese para comparar PB e PC quanto à ocupação da posição esquerda FP seria a seguinte:

no PB, o traço abstrato de caso [CITATIVO] não se perdeu; daí a produtividade das construções {XV}

onde {X} é um topico sentencial, nessa gramática. Assim, no PB a propriedade morfológica que

permite {XVS} como operação sobre {X} (caso abstrato [CITATIVO]) permanece. Entretanto, em

associação a outras propriedades da gramática do PB (essencialmente, no que respeita as possibilidades

de apagamento dos argumentos), a operação do caso [CITATIVO] sobre {X} complemento não resulta

em “inversão” dos constituintes sujeitos – mas sim na promoção de {X} a sujeito sintático (como

indica a concordância entre {o filé} e {acompanha}, {a máquina} e {está}, nos exemplos acima).

Ou seja: as construções de “promoção argumental” no PB seriam diacronicamente derivadas das

construções de fronteamento{XVS} noPC:

(11)(e) A esse livro chamam eles “Quid pro quo” (A esse livro: complemento fronteado)(f) Esse livro chama “Quid pro quo” (Esse livro: complemento promovido)

Assim, o PB refletiria do PC não uma ordem superficial particular, mas sim uma propriedade abstrata: a

de sempre posicionar o tópico sentencial à esquerda do verbo. No PC, quando o tópico sentencial não

coincide com o sujeito gramatical, superficializa-se a ordem {XVS} – simplesmente porque {S}

permanece em IP. No PB, quando o tópico sentencial não coincide com o sujeito gramatical, ele é

promovido a sujeito gramatical. De certa forma, no PB a propriedade de se deslocar o tópico sentencial

à esquerda se radicaliza, em relação ao PC; mas nos dois casos, o traço morfológico de F pode ser o

mesmo. A questão da da perda de {VS} no PB estaria relacionada a propriedades que governam IP

(como a impossibilidade de categorias vazias no especificador de I), não com as propriedades abstratas

de F.

Na minha hipótese, portanto, o fim da gramática clássica estaria relacionado fundamentalmente a

mudanças nas propriedades lexicais de F. No PE, F fica associado exclusivamente ao traço [afetivo] e

portanto só aparece quando há um X com traço [afetivo], perdendo o traço morfológico de caso

[CITATIVO]. No PB, o traço [afetivo/afetivo] se desativa, e o traço morfológico [CITATIVO] permanece

ativo.

Com relação às propriedades de F (ou seja: com relação às propriedades sintáticas que codificam

valores discursivos no interior da frase), estes seriam os contrastes centrais entre PC, PB e PE.

Entretanto, as ordens {XV} superficias, nas três gramáticas, podem envolver outras propriedades, que

[ 22 ]

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não analiso como relacionadas às propriedades de F: centralmente, os casos em que o {X} pré-verbal

superficial não é um tópico sentencial (nem um foco), mas sim um tópico do discurso. Sob a rubrica

“tópicos do discurso” compreendo os elementos {X} em {XV} que não fazem parte da diátese verbal

– e portanto, não participam da derivação da sentença no plano sintático. O estatuto de {X} enquanto

tópico do discurso ou tópico sentencial é ambíguo em muitos casos, como discutirei mais à frente;

considerarei que {X} é inequivocamente um tópico do discurso (e não um constituinte do interior da

frase) quando não for possível atribuir a {X} um estatuto de argumento do verbo, estando todos os

argumentos já representados na frase. Ou seja: incluo aqui os assim chamados “tópicos pendentes”, e

também os assim chamados “tópicos retomados” (que na minha perspectiva apenas coincidem

referencialmente com um constituinte que, na sentença, participa da diátese verbal):

(12)

(a) O ir para o Natal, como lá se disse, eu o tenho quási por impossível ...(Chagas, 1631) (b) A Rainha , deram-lhe as dores do parto (Couto, 1554)(c) Esses rapazes , dêem-lhe muitos recados (Mão Inábil, 1691) (d) A gente , parte dela se afogou, por se querer lançar a nado à terra, e a outra, que se deixou

ficar na náo, toda se salvou, porque da terra lhe acudiram logo muitas almadias (Couto, 1554)

Minha análise para {XV} em exemplos como (2) acima seria a de {X} como adjunto da frase:

(13) {TÓPICO DO DISCURSO} [CP ... ]

Considerando que construções deste tipo são comuns no PE moderno e no PB, a construção

{TOP}[frase] poderia ser analisada como diacronicamente estável (e universal):

(14)

(a) PE: Os gerentes, trata-os como se foram míseros contínuos REF(b) PB: A Patrícia, ela não faz nada o dia inteiro. REF

Diferenças importantes são observadas: no PC e no PE, quando o tópico do discurso coincide

referencialmente com o argumento “objeto”, este é representado lexicalmente no interior da frase (é a

assim chamada “retomada clítica”). No PB, quando o tópico do discurso coincide referencialmente

com o argumento “sujeito”, este é representado lexicalmente no interior da frase (é a assim chamada

“retomada pronominal”). Essa diferença, entretanto, se explica plenamente pelas diferentes condições

quanto ao apagamento de argumentos em cada caso (cf. Kato & Negrão, 2000; Cyrino, 1994). Se

levarmos isso em conta, construções acima no PC, no PE e no PB são paralelas.

Podemos então resumir da seguinte forma os contrastes preliminares entre as três variantes, quanto às

[ 23 ]

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operações que poderiam se relacionar à superficialização de ordens {XV}:

(15) Operações Resultantes na Ordem Superficial {XV}: Português Clássico, Europeu e Brasileiro

ADJUNÇÃO MOVIMENTO NA SINTAXE

adjunção à esquerda:tópicos do discurso

movimento à esquerda:tópicos sentenciais

movimento à esquerda:focos

movimento à esquerda: “afetivo”

PC √ √ √ √

PE √ * * √

PB √ √ * *

No PE, {X} pré-verbal superficial pode ser um sujeito “normal” ou um tópico do discurso, um

constituinte afetivo, mas não um foco; no PB {X} pré-verbal superficial pode ser um um sujeito

“normal”, um tópico sentencial, um tópico do discurso, mas não um foco nem um constituinte afetivo.

No PC, os elementos pré-verbais superficiais podem ser focos, tópicos sentenciais, ou tópicos do

discurso; isso vale tanto para complementos como para sujeitos. Os sujeitos em {VS}, como já sugeri,

são menos salientes que os pré-verbais. Mostro para isso algumas evidências preliminares.

Começo por evidências relativas à proporção relativa das ordens superficiais nos textos, pelo estudo

preliminar de um texto português escrito em 1552 (A História da Província Santa Cruz, de Pero Magalhães

de Gandavo, nascido em 1502, cf. GANDAVO, 1576). Ali, as sentenças {S V} representam 42% das

orações principais absolutas:

(16) { S V ...}:

(a) Os louros têm um cabelo muito fino (b) As mulheres trazem uns paus grossos à maneira de maças

As sentenças com outros constituintes precedendo o verbo representam 41% do total de principais

(sendo 58% delas com sujeitos nulos e 32% com sujeitos pós-verbais):

(17) { X V ...}:

(a) A quinta capitania a que chamam Porto Seguro , conquistou Pero do Campo Tourinho. (b) Alguns deles houveram já os Portugueses às mãos

Os 17% de dados restantes são sentenças verbo-iniciais, como em (3) acima (sendo 86% delas com

sujeitos nulos e 14% com sujeitos pós-verbais):

[ 24 ]

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(18) { V...}:

(a) Carece de três letras, convém a saber , não se acha nela , f, nem, l, nem , R, coisa digna de espanto

(b) Tem esta província assim como vai lançada da linha Equinocial para o Sul, oito capitanias povoadas de Portugueses

Em resumo: neste texto, do total de sentenças que não são iniciadas pelo verbo, 50% são iniciadas pelo

sujeito, e 50% por outros constituintes. Isso já é indicativo da generalização de que nos textos clássicos,

os sujeitos não predominam, em relação a outros constituintes, na posição pré-verbal. Outra

perspectiva interessante para olhar esses dados é a constatação de que os sujeitos nulos são a opção

preferida, neste e em outros textos preliminarmente estudados, oscilando entre 50 a 70% das

realizações nas sentenças principais. Restam portanto 50 a 30% de casos com sujeitos lexicais. Os

sujeitos lexicais, por sua vez, dividem-se, em média, entre 50 a 40% pós-verbais, e 50 a 60% pré-

verbais. Isso, por si, já mostra uma característica marcante da sintaxe superficial dos textos clássicos: a

opção pelo sujeito pré-verbal, nesses textos, compete francamente com a opção pós-verbal – ao

contrário do que acontece nos textos do PE moderno, nos quais a maioria dos sujeitos lexicais tende a

ser pré-verbais. Essas duas constatações empíricas estritamente quantitativas já justificam desconfiar

que não estamos, aqui, diante de uma gramática “SV” padrão. Estamos, ao menos, diante de um fato

empírico interessante: enquanto nas variantes modernas do português as ordens as ordens { X V S}

claramente fogem à ordem “canônica” ({S V}), isso já não é claro para o Português anterior ao século

17.

A questão das quantidades brutas de ocorrência, entretanto, precisa ser modulada por um segundo

fator, antes de se chegar a uma proposta de análise abstrata: qual a qualidade informacional dos sujeitos

lexicais pré-verbais e pós-verbais nesse sistema? Evidentemente, num sistema SV espera-se que os

sujeitos pré-verbais sejam menos salientes informacionalmente que os sujeitos pós-verbais – uma vez

que nesses sistemas, VS corresponde a uma inversão do sujeito por conta de requerimentos semântico-

pragmáticos, ou seja, VS é uma focalização do sujeito. Mas os dados preliminares indicam que, quando

se estudam os contextos de ocorrência das ordens SV e VS nos textos clássicos, o que se constata é

exatamente o contrário: ali, às ordens SV corresponde, sempre, uma saliência semântico-pragmática do

sujeito, em maior grau do que se atesta para as ordens VS.

Mostro aqui exemplos de construções com sujeito pré-verbal do tipo {S CLÍTICO V}, a partir de

constatações preliminares em Paixão de Sousa (1998a, 2004a). Os sujeitos nessa configuração são

interpretáveis como focos (ou ao menos: como informação nova), como fica claro quando observamos

os contextos dos exemplos (1) (a)-(g) abaixo:

(19) Exemplos de SV com próclises, séculos 16 e 17:

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(a) Os Índios da terra as costumam tomar em seus ninhos quando são pequenas (Gandavo, 1502) (b) Os moradores da terra os matam com arpões (Gandavo, 1502)(c) Os Índios da terra lhe chamam em sua língua Hipupiára... (Gandavo, 1502) (d) Dom Jorge de Castro o foi buscar (Gandavo, 1502) (e) Jordão de Freitas lhe mandou responder com um Requerimento (Couto, 1548)(f) Duarte Nunes me avisa tem comprado sessenta peças de boa artilharia... (Vieira, 1608)(g) Jerónimo Nunes me escreveu hoje tivera carta de V. Ex.a. ...(Vieira, 1608)

(20) Contexto de (1a), Os Índios da terra as costumam tomar em seus ninhos quando são pequenas:Há nesta província muitas aves de rapina muito formosas e de várias castas , convém a saber , Águias , Açores, e Gaviões , e outras de outros gêneros diversos e cores diferentes , que também tem a mesma propriedade. As Águias são muito grandes e forçosas : e assim remetem com tanta fúria a qualquer ave , ou animal que querem prear, que às vezes acontece nestas partes virem algumas tão desatinadas seguindo a presa , que marram nas casas dos moradores, e ali caem à vista da gente sem mais se poderem , levantar. Os Índios da terra as costumam tomar em seus ninhos quando são pequenas , e criam-nas em umas sorças, para depois de grandes se aproveitarem das penas em suas galantarias acostumadas.

(21) Contexto de (1b), Os moradores da terra os matam com arpões:

É tão grande a cópia do saboroso e sadio pescado que se mata, assim no mar alto , como nos rios e baías desta província de que geralmente os moradores são participantes em todas as capitanias, que esta só fertilidade bastara a sustentá-los abundantíssimamente , ainda que não houvera carnes nem outro gênero de caça na terra de que se prouveram como atrás fica declarado. E deixando a parte a muita variedade daqueles peixes que comumente não diferem na semelhança de cá, tratarei logo em especial de um certo gênero deles que há nestas partes, a que chamam peixes bois: os quais são tão grandes , que os maiores pesam quarenta cinqüenta arrobas. Tem o focinho como de boi , e dois cotos com que nadam à maneira de braços. As fêmeas têm duas tetas com o leite das quais se criam os filhos. O rabo é largo rombo e não muito comprido. Não tem feição alguma de nenhum peixe somente na pele quer-se parecer com tuninha. Estes peixes pela maior parte se acham em alguns rios, ou baías desta costa , principalmente onde algum ribeiro, ou regato se mete na água salgada são mais certos: porque botam o focinho fora, e pastam as ervas que se criam em semelhantes partes, e também comem as folhas de umas árvores a que chamam Mangues, de que há grande quantidade ao longo dos mesmos rios. Os moradores da terra os matam com arpões , e também em pesqueiras costumam tomar alguns , porque vem com a enchente da maré aos tais lugares, e com a vazante se tornam a ir para o mar de onde vieram.

(22) Contexto de (1c), Os Índios da terra lhe chamam em sua língua Hipupiára, ...

E tanto que o Monstro se lançou em terra deixa o caminho que levava , e assim ferido urrando com a boca aberta sem nenhum medo, remeteu a ele e indo para o tragar a unhas e a dentes , deu-lhe na cabeça uma cutilada muito grande: com a qual ficou já muito débil , e deixando sua vã porfia, tornou então a caminhar outra vez para o mar. Neste tempo acodiram alguns escravos aos gritos da Índia que estava em vela : e chegando a ele o tomaram todos já quase morto, e dali o levaram dentro à povoação , onde esteve o dia seguinte à vista de toda gente da terra. E com este mancebo se haver mostrado neste caso tão

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animoso como se mostrou e ser tido na terra por muito esforçado, saiu todavia desta batalha tão sem alento, e com a visão deste medonho animal ficou tão perturbado e suspenso , que perguntando-lhe o pai , que era o que lhe havia sucedido , não lhe pode responder: e assim esteve como assombrado sem falar coisa alguma por um grande espaço. O retrato deste Monstro, é este que no fim do presente capítulo se mostra , tirado pelo natural. Era quinze palmos de comprido e semeado de cabelos pelo corpo, e no focinho tinha umas sedas muito grandes como bigodes. Os Índios da terra lhe chamam em sua língua Hipupiára, que quer dizer demônio d'água.

(23) Contexto de (1d), Dom Jorge de Castro o foi buscar, e (1e), Jordão de Freitas lhe mandou responder com um Requerimento:

Chegado o Galeão a Malaca, sabendo Ruy Vaz Pereira, Capitão da Cidade, que ali vinha ElRei de Maluco já feito Christão, o foi buscar, e o levou comsigo, fazendo-lhe a Cidade um grande recebimento, e foi aposentado em casas, que para êle estavam já prestes. Aqui acharam novas, que ElRei Aeiro (o irmão que governava o Reino) estava muito poderoso, e bem, e quieto. E como Jordão de Freitas era homem, que entendia mui bem a terra, receou que com a chegada d'ElRei Dom Manoel, feito Christão, houvesse alguma alteração em os naturaes, e que lhe não quizessem entregar o Reino, com achaque de mudar lei, porque havia o Aeiro de os ter persuadido, que se o recebessem, logo os havia de obrigar a se fazerem Christãos.

E querendo atalhar a isto, ajuntando-se com o Capitão em casa d'ElRei, apresentou-lhe êstes inconvenientes, dizendo, que pelos escusar lhe parecia bem ficar ElRei Dom Manuel naquela fortaleza, e que iria êle tomar posse da de Maluco; e que na monção prenderia o Governador Aeiro, e o embarcaria pera a India, e que então iria ElRei Dom Manoel, e que tomaria livre, e desembaraçadamente posse do seu Reino. Pareceo aquilo bem a ElRei, e ao Capitão de Malaca, e mais Fidalgos, e Capitães, que ali havia, que pera isso se chamaram.

Vinda a monção, se embarcou Jordão de Freitas, e foi surgir em Talangame, como atrás dissemos. Dom Jorge de Castro o foi buscar , e o levou para sua casa, e logo lhe fez entrega da fortaleza, dando-lhe conta do estado em que as cousas estavam. Ruy Lopes de Villa-Lobos, sabendo ser chegado Capitão novo, o mandou visitar; Jordão de Freitas lhe mandou responder com um Requerimento, em que lhe dizia, que logo se fôsse fóra daquelas Ilhas, que eram d'ElRei de Portugal, fazendo sôbre isso seus protestos, como os passados de Dom Jorge.

(24) Contexto de (1f), Duarte Nunes me avisa tem comprado sessenta peças ... e (1g), Jerónimo Nunes me escreveu hoje tivera carta de V. Ex.a. ...

Do Pôrto chegou aqui navio em catorze dias com cartas de 15 do passado, em que se avisa por muitas vias haver chegado a Portugal caravela da Baía, com nova de Sigismundo ter deixado a ilha de Taparica: nisto concordam todos, e alguns acrescentam que ao embarcar lhe mataram os nossos novecentos homens. Os navios em que se retirou Sigismundo eram dezoito. Os que de aqui partiram encorporados padeceram no cabo de Finisterra uma terrível tempestade, de que arribou uma nau a Amsterdam muito destroçada, dando semelhantes novas dos que lá ficaram, e se nos disse ontem que alguns haviam arribado a Rochela, de que V. Ex.a. lá terá mais verdadeiras notícias. Da mesma armada do Brasil arribou a Roterdam outra nau de guerra, que haverá quinze dias que partiu, obrigada da contrariedade dos tempos e muito mais da rebelião

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dos soldados. Tudo se arma contra esta gente, e em tudo peleja Deus por nós. Esperamos que com tantos desenganos se lhe abram os olhos, e que acabem de vir em algum acomodamento, que sempre será melhor que a continuação da guerra, e nos deixará mais hábeis para fazermos outros, que tanto nos importam. Duarte Nunes me avisa tem comprado sessenta peças de boa artilharia para as duas naus, mas não diz o calibre: fala com grandes temores do grande empenho em que se tem metido, receando que faltem as assistências de Portugal; e verdadeiramente que é matéria digna de grande admiração que venham cada dia navios de tantos portos do Reino, e que, tendo os mais tristes mercadores avisos de seus correspondentes, só aos ministros de S. M. faltem, sendo tantos e de tanta importância os negócios que aqui se tratam. Jerónimo Nunes me escreveu hoje tivera carta de V. Ex.a. com recado de virem as letras no correio seguinte, e por isso o não torno a lembrar a V. Ex.a.

Em todos esses exemplos, os termos {S} em {S CLÍTICO V} têm em comum o fato de constituirem a

primeira remissão a um determinado referente (num contexto textual longo; por vezes, sua primeira

referência no texto inteiro). Essa característica contextual das ocorrências de {S CLÍTICO V} é

notavelmente recorrente, tanto em textos escritos nos séculos 16 e 17, como em textos escritos entre os

séculos 13 e 15 (cf. Paixão de Sousa, 1998, 2004a). No caso de alguns tipos de “sujeitos” específicos,

até o presente momento não encontrei nenhuma exceção a esta generalização (é o caso dos sujeitos SN

nomes próprios; por sinal, como sugeri em Paixão de Sousa, 2004a, essa propriedade dos sujeitos SNs

nomes próprios pode explicar o fato de alguns gêneros textuais apresentarem uma proporção de {S

CLÍTICO V} mais elevada que a média: tipicamente, as crônicas históricas e narrativas em geral, nas quais

há plena oportunidade para o aparecimento desse contexto discursivo). Castro Alves & Paixão de Sousa

(em andamento) proporá uma sistematização desta constatação com uma análise metodológica mais

rigorosa dos contextos de ocorrência.

Por ora resumo as constatações preliminares: os dados empíricos relativos à freqüência de ocorrência e

à interpretação contextual dos sujeitos nas ordens { S V } indicam que os sujeitos pré-verbais nos

textos clássicos apresentam sempre a propriedade de serem contextualmente salientes.

Essa “saliência” se desdobra em dois casos estruturalmente independentes: ou são focos/tópicos

sentenciais (que analiso como movidos à esquerda; e que, em sentenças com clíticos, realizam-se como

{ S CLÍTICO V }), ou são tópicos do discurso (que analiso como adjuntos à frase; e que, em sentenças

com clíticos, realizam-se como { S V CLÍTICO}), como veremos agora. Quanto ao estatuto interpretativo

dos sujeitos em {S V CLÍTICO}, Paixão de Sousa (2004a) e Galves Britto e Paixão de Sousa (2006) já

mostraram que os sujeitos pré-verbais nessa configuração podem ser consistentemente interpretados

como tópicos contrastivos8. Vejamos alguns exemplos:

8 A idéia dos sujeitos com ênclise como tópicos contrastivos nos textos clássicos é herdeira de uma longa tradição de se

analisarem as contruções com ênclise em geral, no português clássico e arcaico (como nas demais línguas românicas

medievais), em função da famosa “Lei de Tobler-Mussafia”, que descreve a impossibilidade dos pronomes átonos

aparecerem em primeira posição estrutural nessas línguas. Salvi (2002), entre outros, propõe que as ordens { X V clítico} [ 28 ]

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(25) Exemplos de SV com ênclises

(a) Elles conheciam-se , como homens , Christo conhecia-os , como Deus. (Vieira, 1608)(b) Deus julga-nos a nós por nós ; os homens julgam-nos a nós por si (Vieira, 1608)

(26) Contexto para Elles conheciam-se , como homens , Christo conhecia-os , como Deus: Mas qual é, ou póde ser a razão porque onde dois homens tão grandes, tão qualificados e tão santos, como Job e S. Paulo, não reconhecem nada de culpa, lh'a haja de arguir Deus, e pedir-lhes conta? A primeira razão, e da parte de Deus (a qual só póde ignorar quem o nãoconhece) é, porque ainda nas coisas mais interiores nossas, conhece Deus muito mais de nós, do que nós de nós. Quando Christo na meza da ultima Cêa revelou aos Apostolos, que um d'elles o havia de entregar: “Amen dico vobis, quia unus vestrum metraditurus est”, diz o Evangelista, que muito tristes todos com tal noticia, começou cada um a perguntar: “Nunquid ego sum, Domine?” Por ventura, Senhor, sou eu esse? Pedro, André, João e os demais, excepto Judas, bem sabia cada um de si, que não era o traidor, nem tal coisa lhe passára pelo pensamento; pois porque se não deixam estar muito seguros na boa fé da sua lealdade, mas pondo em duvida o de que não duvidavam, pergunta cada um a Christo se é elle o traidor: “Nunquid ego sum?” Porque ainda a propria consciencia os não accusava, sabiam todos que sabia Christo mais de cada um d'elles, do que elles de si. Elles conheciam-se, como homens, Christo conhecia-os, como Deus. Esse foi o erro e engano de S. Pedro, que estava á mesma meza!

(27) Contexto de Deus julga-nos a nós por nós ; os homens julgam-nos a nós por si :

No Juiso de Deus havemos de ser julgados pelos mandamentos: quem guardou os mandamentos póde estar seguro; no juiso dos homens não aproveita guardar os mandamentos. Fizestes o que vos mandaram, e muito melhor do que vol-o mandaram, e sobre isso sois julgado e condemnado. Como a sem-razão é tão moderna, não ha exemplo d'ella nas Escripturas; tel-o-hão os vindoiros, se o crêrem. Deus julga a cada um pelo que é, os homens julgam a cada um pelo que são. Mais claro. Deus julga-nos a nós por nós; os homens julgam-nos a nós por si .

Observe-se, nos dois exemplos, como os pares {Elles}/{Cristo} e {Deus}/{os homens} são

contrastados entre si ao longo do período; em Galves, Britto e Paixão de Sousa (2006) mostramos que

esta configuração contextual se confirma na maioria dos casos em que se encontra essa construção (ou

em sua totalidade, a depender do texto) nos textos escritos por autores nascidos até 1700 (depois disso,

os contextos de ocorrência de {S V CLÍTICO} são os mais variados, levando-nos a considerar que, aí, essa

construção já não remete a qualquer configuração discursiva especial).

Mostramos também, naquele trabalho, que o mesmo contexto de contrastividade se observa com a

correspondem, no romance medieval, a uma estrutura verbo-inicial. A partir deste quadro geral, Galves (2002) sugeriu

que as construções SV com ênclises, no Português Clássico, corresponderiam a topicalizações do sujeito com valor

contrastivo – uma proposta que foi plenamente comprovada por Galves, Britto e Paixão de Sousa (2006). [ 29 ]

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topicalização de complementos nos textos clássicos:

(28) Exemplos de Deslocamentos com Retomada Clítica:

(a) A José deu-lhe Jacob por benção, que crescesse: Filius accrescens Joseph, filius accrescens: A Ruben deu-lhe Jacob por benção, que não crescesse: Ruben primogenitus meus non crescas. (Vieira, 1608).

Assim, as construções com sujeitos pré-verbais seguidos de ênclise e as construções de deslocamento

com retomada clítica podem receber a mesma análise nesta gramática: são estruturas verbo-iniciais, nas

quais o elemento pré-verbal é um tópico marcado, adjunto à sentença. Nas topicalizações de

complementos, o tópico adjunto coincide referencialmente com o complemento expresso na sentença

por meio de um pronome clítico; nas topicalizações de sujeitos, o tópico adjunto coincide

referencialmente com o sujeito pro, nulo, na sentença.

A ênclise se explica como derivada da restrição ao clítico em posição inicial, fato fartamente descrito

para o português desta época (e explicado recentemente, no quadro da morfologia distribuída, por

Galves e Sandalo, 2004). Ou seja: basicamente, no português escrito antes do século 18, nas ordens {S

V CLÍTICO} não está em jogo o estatuto de {S} pré-verbal enquanto sujeito, mas sim enquanto tópico

adjunto9.

Em resumo, a posição de {S}, em qualquer das duas configurações pré-verbais aqui analisadas, é a

mesma posição que outros {X} pré-verbais (a posição externa própria para tópicos do discurso e a

posição interna própria para elementos fronteados).

Daí surge uma pergunta evidente: onde estarão os sujeitos não-salientes nesta gramática? Como lembrei

em Paixão de Sousa (2004a), numa língua que permite o sujeito nulo (como é, claramente, o caso do

Português Clássico), é natural supor que todo sujeito lexicalmente realizado carregue alguma relevância

informacional. Assim, os sujeitos “menos salientes” podem ser, simplesmente, não-lexicalizados.

Entretanto, no Português Clássico, entre os sujeitos lexicalizados, os pós-verbais seriam relativamente

menos salientes que os pré-verbais. Para sustentar essa hipótese, é preciso demonstrar que se podem

encontrar nos dados sujeitos pós-verbais que não recebem a interpretação de focos; vamos analisar

neste sentido os seguintes exemplos:

(29) Exemplos de { X (CLÍTICO) V (CLÍTICO) S}

(a) Então despediu logo Pedro Álvares um navio com a nova a el-Rei Dom Manuel (Gandavo, 1502)

(b) Nisto conheceu o mancebo que era aquilo coisa do mar: (Gandavo, 1502)

9 Do ponto de vista estatístico, Paixão de Sousa (2004a) reforça essa análise: demonstrei ali que o padrão de evolução

diacrônica de {S V clítico} é paralelo ao padrão de {X V clítico} em que {X} é um complemento retomado nos textos

dos séculos 16 e 17 (período clássico); entretanto, nos textos dos séculos 18 e 19 (início do PE moderno), o padrão de

evolução da construção {S V clítico} se diferencia significativamente, até o ponto desta passar a ser a ordem mais

comum nos textos do final do período.[ 30 ]

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(c) Partidos êstes navios, daí a oito dias o fez também o Villa-Lobos na sua náo (Couto, 1548)(d) Na Côrte andou este Rei dous anos (Couto, 1548) (e) Morre enfim Cristo na cruz (Vieira, 1608)(f) aprazivel, e generoso lhe respondeo Dom Duarte (Céu, 1658)

Observando-se o contexto maior das ocorrências, constata-se que em nenhum dos casos os sujeitos

pós-verbais são “informação nova” - ao contrário, todos eles têm sua referência estabelecida no

contexto anterior. Ou seja, exatamente o contrário do que observamos acima para os sujeitos pré-

verbais:

(30) Contexto de (1a), Então despediu logo Pedro Álvares um navio com a nova a el-Rei Dom Manuel:

Reinando aquele muito católico e sereníssimo Príncipe el-Rei Dom Manuel, fez-se uma frota para a Índia de que ia por capitão mór Pedro Álvares Cabral: que foi a segunda navegação que fizeram os Portugueses para aquelas partes do Oriente. A qual partiu da cidade de Lisboa a nove de Março no ano de 1500. E sendo já entre as ilhas do Cabo Verde (as quais iam demandar para fazer aí aguada) deu-lhes um temporal, que foi causa de as não poderem tomar, e de se apartarem alguns navios da companhia. E depois de haver bonança junta outra vez a frota, empegaram-se ao mar, assim por fugirem das calmarias de Guiné, que lhes podiam estorvar sua viagem, como por lhes ficar largo poderem dobrar o cabo de Boa Esperança. E havendo já um mês , que iam naquela volta navegando com vento próspero , foram dar na costa desta província : ao longo da qual cortaram todo aquele dia, parecendo a todos que era alguma grande ilha que ali estava , sem haver Piloto, nem outra pessoa alguma que tivesse notícia dela , nem que presumisse que podia estar terra firme para aquela parte Ocidental. E no lugar que lhes pareceu dela mais acomodado , surgiram aquela tarde, onde logo tiveram vista da gente da terra: de cuja semelhança não ficaram pouco admirados, porque era diferente da de Guiné, e fora do comum parecer de toda outra que tinham visto. Estando assim surtos nesta parte que digo, saltou aquela noite com eles tanto tempo, que lhes foi forçado levarem as âncoras , e com aquele vento que lhes era largo por aquele rumo, foram correndo a costa até chegarem a um porto limpo e de bom surgidouro onde entraram : ao qual puseram então este nome, que hoje em dia tem de Porto Seguro , por lhes dar colheita e os assegurar do perigo da tempestade que levavam. Ao outro dia seguinte , saiu Pedro Álvares em terra com a maior parte da gente: na qual se disse logo Missa cantada , e houve pregação : e os Índios da terra que ali se ajuntaram ouviam tudo com muita quietação , usando de todos os atos e cerimônias que viam fazer aos nossos. E assim se punham de joelhos e batiam nos peitos , como se tiveram lume de Fé, ou que por alguma via lhes fora revelado aquele grande e inefável mistério do Santíssimo Sacramento. No que mostravam claramente estarem dispostos para receberem a doutrina Cristã a todo tempo que lhes fosse denunciada como gente que não tinha impedimento de ídolos , nem professava outra lei alguma que pudesse contradizer a esta nossa , como adiante se verá no capítulo que trata de seus costumes. Então despediu logo Pedro Álvares um navio com a nova a el-Rei Dom Manuel, a qual foi dele recebida com muito prazer e contentamento: e daí por diante começou logo de mandar alguns navios a estas partes, e assim se foi a terra descobrindo pouco a pouco e conhecendo de cada vez mais, até que depois se veio toda a repartir em capitanias e a povoar da maneira que agora está.

(31) Contexto de (1b), Nisto conheceu o mancebo que era aquilo coisa do mar:[ 31 ]

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Na capitania de São Vicente, sendo já alta noite a horas em que todos começavam de se entregar ao sono , acertou de sair fora de casa uma Índia escrava do capitão: a qual lançando os olhos a uma várzea que está pegada com o mar, e com a povoação da mesma capitania, viu andar nela este monstro, movendo-se de uma parte para outra, com passos e meneios desusados, e dando alguns urros de quando em quando tão feios , que como pasmada e quase fora de si , se veio ao filho do mesmo capitão , cujo nome era Baltesar Ferreira, e lhe deu conta do que vira, parecendo-lhe que era alguma visão diabólica. Mas como ele fosse homem não menos sisudo que esforçado, e esta gente da terra seja digna de pouco crédito , não lho deu logo muito a suas palavras , e deixando-se estar na cama, a tornou outra vez a mandar fora dizendo-lhe que se afirmasse bem no que era. E obedecendo a Índia a seu mandado foi : e tornou mais espantada , afirmando-lhe e repetindo-lhe uma vez e outra , que andava ali uma coisa tão feia , que não podia ser senão o demônio. Então se levantou ele muito depressa , e lançou mão a uma espada que tinha junto de si , com a qual botou somente em camisa pela porta fora, tendo para si (quando muito) que seria algum Tigre, ou outro animal da terra conhecido com a vista do qual se desenganasse do que a Índia lhe queria persuadir. E pondo os olhos naquela parte que ela lhe assinalou , viu confusamente o vulto do monstro ao longo da praia , sem poder divisar o que eram por causa da noite lho impedir e o monstro também ser coisa não vista , e fora do parecer de todos os outros animais. E chegando-se um pouco mais a ele para que melhor se pudesse ajudar da vista , foi sentindo do mesmo monstro : o qual em levantando a cabeça, tanto que o viu , começou de caminhar para o mar de onde viera. Nisto conheceu o mancebo que era aquilo coisa do mar, e antes que nele se metesse , acodiu com muita presteza a tomar-lhe a dianteira.

(32) Contexto de (1c), Partidos êstes navios, daí a oito dias o fez também o Villa-Lobos na sua náo (Couto, 1548):

Com isto se despedio Belchior Fernandes, e os Castelhanos ficaram naquele lugar esperando pela galeota, que era nas Filipinas, e uns poucos deles sairam um dia em terra pera tomarem mantimentos, e deram os negros neles, e mataram alguns, ao que acudiu Francisco Marinho, Mestre do campo, com alguma gente, e também o mataram com muitos de sua companhia, e o Ruy Lopes de Villa-Lobos imaginou sempre que fora ardil do Belchior Fernandes Correa, e que deixara peitados os da terra pera darem aos Hespanhoes, se fôssem a ela.

Neste mesmo tempo chegou a galeota das Filipinas com muitos mantimentos, e deo por novas, que o galeão São Joanilho era partido pera a Nova Hespanha, e que aquela terra era muito boa, e fertil, e que os naturaes os desejavam lá muito. Com estas novas tornou o Villa-Lobos a mandar a galeota, e um bargantim, em que foi o mesmo Pero Ortiz, pera que se confederasse com os da terra, e lhe trouxessem mantimentos. Partidos êstes navios, daí a oito dias o fez também o Villa-Lobos na sua náo , e dous bergantins que fez, (porque outro navio dos da sua companhia era perdido), e tomou a derrota das Filipinas, e tendo navegado cincoenta léguas, lhe deram os brizas, com que não pôde passar, e despedio os bergantinas pera as Filipinas, e neles Frei Jerónimo de Santo Estevão, Prior dos Agostinhos, e êle se foi meter em uma baía da Ilha de Cesarea, chamada Blancai, onde se deixou ficar mais de um mês esperando pelos bergantins, e ali lhe vendiam os da terra algum pouco mantimento. (Couto, 1548)

[ 32 ]

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(33) Contexto de (1d), Na corte andou este Rei dous anos.E assim agora daremos conta do que aconteceo ao Rei dos Magores, que deixámos desbaratado de Xircan, e acolhido pera Pérsia, porque são cousas, que convém a nossa história, pera melhor entendimento dela. Pelo que se há de saber, que partido Hamau Paxá do Reino do Cinde, (como atrás dissemos no Capítulo III do X Livro da quarta Década), foi ter à Corte de Casbim, onde Xá Ismael residia, que o recebeo honradamente, compadecendo-se de suas misérias, e consolando-o, prometeu-lhe tôda ajuda, e favor que pudesse pera cobrar seus Reinos, mandando-lhe dar aposentos, e tôdas as cousas necessárias à sua pessoa, e Estado. Na Côrte andou este Rei dous anos , dilatando-lhe o Ismael de dia em dia o socorro, sem acabar de concluir em alguma cousa. O Hamau Paxá sempre trouxe suas inteligências antre os inimigos pera ser avisado do que passava, andando muito enfadado das dilações daquele Rei. (Couto p 16)

(34) Contexto de (1d), Morre enfim Cristo na cruz (Vieira, 1608):

A maior defeza e justificação que Christo teve de sua innocencia, foi o depoimento de Pilatos, quando pedindo agua lavou as mãos, e pronunciou que elle era innocente no sangue d'aquelle Justo: “Accepta aqua, lavit manus coram populo, dicens: Innocens ego sum à sanguine Justi hujos”. Reparou n'esta agua e n'este sangue São Cyrillo Jerosolymitano, e disse com opinião singular, que aquella agua e aquelle sangue, que sahiu do lado de Christo na cruz, faziam alusão a esta agua e a este sangue: “Erant hæc duo de latere, judicant aqua, clamantibus verò sanguis”. A agua significava a agua com que Pilatos lavou as mãos: “Accepta aqua, lavit manus”: o sangue significava o sangue que o mesmo Pilatos declarou por justo, e os accusadores tomaram sobre si: “Sanguis ejus super nos”: de maneira, que assim como cá o réo ou o homiziado traz no seio os papeis de sua defeza, assim Christo metteu no coração aquella agua e aquelle sangue, em que consistiam os testemunhos authenticos de sua innocencia. Ora vêde agora sahir a Christo do Pretorio de Pilatos, acompanhado de grande tropel de justiças, e vereis, na representação d'aquella tragedia, o que cada dia acontece no mundo. O innocente caminhava para o supplicio, o pregão dizia as culpas, o coração levava as defezas. As culpas do pregão eram falsas, as defezas do coração eram verdadeiras; mas como o coração no mundo não vale testemunha, morreu crucificada a innocencia. Quantos traslados d'este processo se formam cada dia no juiso humano! Por isso os innocentes padecem, e os culpados triumpham. Quem mais innocente que José, quem mais culpado que a Egypcia? Mas a culpada mostrava os indícios na capa, e o innocente tinha as defezas no coração; por isso ella triumpha, e elle padece. Morre emfim Christo na cruz , abre-lhe uma lança o peito, fica o coração patente, e então sahiram em publico as suas defezas: Exivit sanguis, et aqua. Pois agora depois de Christo morto? Sim, agora, que essa é a diferença que ha de um Juiso a outro juiso. No Juiso depois da morte, que é o Juiso de Deus, então valem as defezas do coração; no juiso d'esta vida, que é o juiso dos homens, nenhuma valia teem.

(35) Contexto de (1e), aprazivel, e generoso lhe respondeo Dom Duarte (Céu, 1658):

Vendo a Noviça que este naõ queria contribuir para os gastos da profissaõ por escuzala; mandou chamar a Dom Duarte de Castellobranco seu cunhado, marido de sua segunda irmã Dona Luiza de Mendoça, que morreo a poucos annos de cazada sem deixar successaõ. Vindo Dom Duarte lhe communicou a resoluçaõ em que se achaua, sem meyos para conseguila, pello injusto enfado

[ 33 ]

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de seu Pay, e lhe pedio que em quanto este nao passasse, lhe fizesse emprestimo daquella soma de dinheyro que hauia de mister para os gastos da funçaõ; aprazivel, e generoso lhe respondeo Dom Duarte , seria logo obedecida, acrecentando que naquelle dia tinha cobrado de hum rendeyro a mesma quantia. (Céu, 1558)

Nos exemplos acima, os referentes correspondentes aos sujeitos nas sentenças {XVS} são

mencionados de uma a quatro vezes antes das sentenças em análise (o referente correspondente a

{Pedro Álvares}, duas vezes; o referente correspondente a {o mancebo}, quatro vezes; o referente

correspondente a {o Villa-Lobos}, três vezes; o referente correspondente a {este Reis}, uma vez; o

referente correspondente a {Christo} quatro vezes e o referente correspondente a {Dom Duarte} duas

vezes). Se nos ativermos estritamente à definição clássica de “focos” como “informação nova”,

veremos que em nenhum desses casos os sujeitos pós-verbais pode ser considerado focalizado (como o

seriam na interpretação de um falante do PE moderno). 10

Nos textos representativos do português clássico, as evidências empíricas iniciais apontam, portanto,

para um sistema fortemente “pro-drop”, no qual os sujeitos lexicais podem aparecer em posição pré-

verbal ou pós-verbal em proporções variáveis. Entretanto, a proporção de sujeitos pós-verbais é

sempre considerável, representando uma média de 20% das sentenças principais ao longo do período

(cf. Paixão de Sousa, 2004a). Em termos interpretativos, constata-se que os sujeitos pré-verbais são

sempre pragmaticamente salientes. Nas construções SV com próclises, correspondem a informação

nova – podendo, portanto, ser considerados focos discursivos. Nas construções SV com ênclises,

correspondem a tópicos contrastivos. Já os sujeitos pós-verbais, nos casos sistematizados até o

momento, não recebem necessariamente uma interpretação de saliência informacional, não

constituindo informação nova, nem elementos contrastados. Além disso, Paixão de Sousa (2004a)

demonstrou que o comportamento das freqüências de SV com próclises nestes textos evolui de modo

perfeitamente paralelo com as freqüências de quaisquer outros XV com próclises (em especial, àquelas

construções tradicionalmente interpretadas como afetivas ou focalizadas, como Quantificador-V,

Complemento-V sem retomada), e que o comportamento das freqüências de SV com ênclises nestes

textos evolui de modo perfeitamente paralelo com as freqüências de quaisquer outros XV com ênclises.

As duas constatações preliminares – quanto às proporções relativas das construções, e quanto às suas

10 Note-se, ainda, que em todos esses casos vemos que a configuração da “inversão germânica” ({XVSX}), e não

“românica” ({(X)VXS}) – essa última, de fato relacionada à focalização do sujeito. Os dados de Paixão de Sousa (2004a)

mostram, por sinal, que na queda generalizada das ordens {VS} a partir do século 17, a configuração particular {XVSX}

é a que apresenta a taxa de queda mais aguda. De fato, as ordens {VS} restantes nos textos dos anos 1800 são as

“inversões românicas”.[ 34 ]

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interpretações contextuais – parecem indicar fortemente a hipótese de que nos textos clássicos, a

posição pré-verbal em que se superficializam os sujeitos não é uma posição canônica de sujeitos, mas

sim uma posição governada por requerimentos pragmático-discursivos, e que abrigará constituintes

focalizados ou topicalizados em geral.

A hipótese de trabalho desta pesquisa para compreender a mudança deste padrão clássico para os

padrões modernos (português e brasileiro) são as mudanças nas propriedades do núleo funcional F em

diferentes sentidos em cada uma das variantes modernas. A seguir, busco fundamentar esta proposta de

trabalho e justificar a relevância de seu desenvolvimento, argumentando centralmente que:

1. A proposta se justifica no plano das análises gramaticais disponíveis para a sintaxe do português

entre os períodos arcaico e clássico, e aprofunda algumas das propostas mais recentes no

quadro gerativo. Entretanto, a hipótese faz avançar consideravelmente esse debate, ao abordar

de maneira inovadora dois fatos empíricos problemáticos para as demais análises: o problema

da interpretação dos sujeitos pré-verbais e pós-verbais nos textos clássicos enquanto tópicos

marcados, focos, ou “neutros”; e o problema da identificação estatística das variantes

superficiais em jogo na evolução diacrônica dos dados.

2. A proposta permite modelar a mudança gramatical que dá fim à sintaxe “clássica” de forma

apropriada ao espírito mais recente da teoria gerativa. Na versão minimalista da teoria, a

variação lingüística – e portanto, a mudança – deve se localizar no plano das propriedades

lexicais: sendo a computação inerte, neste quadro, a rigor, não há mudança sintática. Minha

hipótese coaduna-se a este espírito, ao indicar que a “reorganização” da sintaxe do Português

Clássico na sintaxe do Português Europeu Moderno é um reflexo superficial da mudança em

um único traço formal de uma categoria funcional (o traço [φ] de F, referente ao caso abstrato

[CITATIVO]); e a “reorganização” da sintaxe do Português Clássico na sintaxe do Português

Brasileiro é um reflexo superficial da mudança em um único traço formal de uma categoria

funcional (o traço [afetivo] de F), em combinação com outras mudanças já bem descritas na

literatura quanto às possibilidades de apagamento de argumentos.

[ 35 ]

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2. Justificativas e Fundamentação Teórica

2.1 Justificativas

A relevância dessa proposta se desdobra em três planos: trata-se de um estudo relevante para a

expansão dos conhecimentos sobre a diacronia do Português e sobre a sintaxe das variantes atuais;

para o aprofundamento dos conhecimentos sobre as relações entre sintaxe-discruso na arquitetura da

gramática e na mudança gramatical; e para o avanço nas metodologias de pesquisa de base teórica

gerativista fundadas em dados documentados.

No contexto dos estudos sobre a sintaxe do português, a natureza da posição superficial pré-verbal no

Português Clássico é um tema importante de pesquisa tendo em vista as mudanças gramaticais

posteriores, que originam o Português Europeu e o Português Brasileiro. Os estudos gerativistas sobre

essas variantes sincrônicas do português têm mostrado propriedades contrastivas interessantes no que

tange os fenômenos de deslocamento e apagamento de constituintes argumentais. Em muitos trabalhos

dedicados a esses temas, os padrões de ordem nos textos clássicos têm constituido uma referência

comparativa importante, tanto no que tange os pontos de semelhança entre a sintaxe desses textos e a

sintaxe atual do PB (de um lado) e do PE (de outro lado), como no que tange os pontos de contraste.

Entretanto, o interesse recente frente ao Português Clássico ainda não pode contar com algo que

deveria constituir o ponto de partida para estudos comparados: uma descrição sistemática e rigorosa

dos padrões de ordem na língua que antecede PE e PB, e uma investigação teórica sobre os

condicionantes gramaticais desses padrões. Esta pesquisa se lança a este desafio, considerando que um

quadro descritivo sistemático da sintaxe da ordem no Português Clássico será de grande valor para as

pesquisas sobre PE e PB que incluam uma perspectiva diacrônica dos fenômenos relacionados com a

ordem superficial.

Este estudo se insere ainda em um quadro mais amplo das investigação em teoria gramatical sobre a

relação sintaxe-discurso na arquitetura da gramática. Pela relação que pretende estabelecer entre a

ordem dos constutintes e seu estatuto informacional, esta pesquisa pode contribuir para as linhas que

investigam a relação entre o componente computacional e o componente informacional na arquitetura

da gramática no quadro gerativo. O estudo da sintaxe do Português Clássico interessa ainda ao âmbito

geral das pesquisas sobre mudança gramatical por representar um “estudo de caso” bastante particular:

um caso de mudança com duas “filhas”, que implica mudança na sintaxe com manutenção do léxico

não-funcional básico.

Por fim, a proposta se reveste de relevância no plano metodológico, ao trabalhar um problema crucial

[ 36 ]

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para os estudos baseados em documentação e quantificação de dados no quadro gerativo: o problema

da interpretação dos dados quantificados. Numa perspectiva gerativista, os dados, e sua quantificação,

devem ser mediados por hipóteses sobre as estruturas abstratas, de modo que a quantificação funcione

como guia das pesqusias, mas não como seu fim.

2.2 Fundamentação Teórica

A proposta de trabalho delineada nesta pesquisa fundamenta-se em desenvolvimentos recentes dentro

do quadro da teoria gerativa sobre a mudança gramatical, mais especificamente no que remete à

contribuição do programa minimalista para o estudo da mudança sintática. Para sintetizar essa

contribuição, remeto à seguinte afirmação de E. Raposo, em Raposo (1998): “there is no syntactic change.”11

Essa noção fundamentalmente minimalista de que “não há mudança sintática” é (paradoxalmente) o

caminho inicial para que os estudos lingüísticos por fim abordem a história das línguas no nível que

sempre foi o mais desafiador, ou seja, no plano das mudanças na sintaxe.

Entre as questões principais que ocuparam o estudo histórico das línguas desde os primeiros anos do

século 19, a mudança sintática representou um grande desafio para os paradigmas clássicos da

Lingüística Histórica: a concepção de gênese e evolução; o conceito de famílias de línguas; a

concentração das reflexões no plano das mudanças aparentes, sob a forma de diversidade fonética,

morfológica, e lexical12. A concentração sobre as mudanças lingüísticas na dimensão do observável

marca as principais linhas teóricas sobre a mudança entre os séculos 19 e 20. É também marcante,

nessas linhas, a concepção da mudança como um fato da ordem do evidente, do esperado, do não-

problematizado – visto que empiricamente vivenciado. Neste ponto podemos compreender o

11 “Strictly speaking, there is no syntactic change. The principles of the computational system are inert, reacting blindly to

the lexical properties of functional words like ele. The properties of these words do indeed change over time, and that is

all there is. The subject matter of historical studies should thus be how and why these properties change, and how these

changes interact with an inert computational system” (Raposo 1998:89).

12 Questões bem sintetizadas na seguinte pergunta de MaxMüller, em seu ensaio sobre a história do Indo-Europeu

publicado em 1864: “Wherever we look at language, we find that it changes. But what makes language change? How is it

that one and the same word assumes different forms in different dialects (and we intentionally apply the name of dialect

not only to Scotch as compared with English, but to French as compared with Italian, to Latin as compared with Greek,

to Old Irish as compared with Sanskrit. These are all dialects; they are members of the same family, varieties of the same

type, and each variety may, under favoring circumstances, become a species). How is then, we ask, that the numeral four

is four in English, quatuor in Latin, cethir in Old Irish, chatvar in Sanskrit, keturi in Lithuanian, tettares in Greek,

pysires in AEolic, fidvor in Ghotic, fior in Old High-German, quatre in French, patru in Wallachian? Are all these

varieties due to accident, or are they according to law; and, if according to law, how is that law to be explained?” (Max

Müller, 1864: 187) [ 37 ]

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deslocamento radical que o surgimento da teoria gerativa causa na concepção da “Mudança”13. O

conceito gerativista de Gramática como um objeto mental que emerge, nas mentes individuais, a partir

da experiência lingüística num período específico do desenvolvimento dos falantes, permite um olhar

renovado sobre os problemas centrais da Lingüística Histórica, em particular por obrigar a uma

reformulação da questão central dos estudos da mudança – tal seja: “Como o tempo age sobre as línguas?”.

Numa abordagem gerativista, essa pergunta pode ser refeita nos seguintes termos: “Como o tempo age

sobre as sucessivas gerações de falantes, alterando as condições para a emergência de gramáticas particulares”? O foco

dos estudos históricos, no quadro gerativo, desloca-se portanto da produção lingüística para os

mecanismos que geram esta produção14.

Na teoria gerativa, “Language change is by definition a failure in the transmission across time of lingusitic features”15.

Há dois caminhos lógicos para se entender as causas da mudança definida como relativa ao processo de

aquisição da linguagem: como resultante de uma propriedade do mecanismo de aquisição (uma falha da

aquisição) ; ou como resultante de uma contingência externa que afeta o processo de aquisição (uma

diferença nos dados disponíveis). As diferentes propostas para se compreender a Mudança irão variar

conforme diferentes modelos para compreender o processo e o mecanismo de aquisição da linguagem.

Entre as linhas que, neste quadro teórico, propõem modelos de mudança centrados em motivações

fundamentalmente internas, destaca-se a proposta de um algoritmo da aquisição da linguagem, em

Clark & Roberts (1993), cujo equilíbrio pode ser afetado por mudanças (graduais) em variáveis-chave:

ao se atingir um nível crítico, se desencadeia a mudança no sistema, e o algoritmo gera um novo

conjunto de regras. O algoritmo objetiva chegar o mais próximo possível do conjunto de dados da

experiência lingüística; nessa perspectiva a mudança gramatical surge de alterações em uma ou mais

13 Bem representado pelas palavras de D. Lightfoot : “Grammars, in our perspective, are mental entities which arise in the

minds of individuals when they are exposed as children to some triggering experience. In that case, the central mistery

for historical linguists is why they have anything to study: why do languages have histories? Why do changes take place,

and why are languages not generally stable?” (...) David Lightfoot, “The Development of language”, 1999.

14 “When traditional historical linguists speak of a language changing, somebody with a biological view of grammars takes a

reductionist stance and thinks of individual grammars changing and the changes spreading through a population. When

others ask why a language should have changed in such a way, we ask why grammars should have changed, aiming to

explain the complex by the simple. This shift of perspective makes a big difference. So when we think about change

over the course of time, diachronic change, we shall now think not in terms of sound change or language change but in

terms of changes in these grammars, which are represented in the mind/brains of individuals” David Lightfoot, “The

Development of language”, 1999.

15 “Language change is by definition a failure in the transmission across time of lingusitic features. Such failures, in

principle, could occur within groups of adult native speakers of language, who for some reason substitute one feature for

another in their usage, as happens when new words are coined and substituted for old ones; but in the case of syntactic

and other grammatical features, such innovation by monolingual adults is largely unattested. Instead, failures of

transmission seem to occur in the course of language acquisition; that is, they are failures of learning”. (Kroch 2001:2) [ 38 ]

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variáveis, capazes de ocasionar um erro no algoritmo. Entre as linhas que propõem modelos de

mudança centrados em motivações fundamentalmente externa, destacam-se as propostas de Lightfoot16

(1999) (para quem a mudança gramatical surge de uma alteração nos dados lingüísticos primários

cruciais, cues, capaz de gerar a hipótese de uma gramática diferente)17, e Kroch (2001)18.

Conforme venho sugerindo em algumas oportunidades (cf. Paixão de Sousa 2006b), em termos

gerativistas, o efeito fundamental dos eventos externos em termos de mudança é o de abalar a situação

ótima de experiência lingüística, afetando assim o surgimento de uma gramática particular em

determinada geração. Nesse sentido o estudo da Mundaça Gramatical no quadro gerativo pode

contribuir significativamente no antigo debate entre internalismo e externalismo; aqui, as situações de

contato serão consideradas importantes por constituirem fatores potencialmente perturbadores das

condições necessárias para a emergência de uma gramática particular. Ressalte-se que a aquisição da

linguagem não é concebida aqui como “transmissão da língua”; a relação entre mudança e aquisição não se

limita portanto ao problema da “transmissão lingüística irregular”, como se dá em outros quadros teóricos.

No quadro gerativo, as situações de contato de populações podem ter por conseqüência a emergência

de novas gramáticas a partir de reestruturações, limitadas por dois fatores principais: os dados primários

disponíveis para a aquisição para aquela geração, e as possibilidades e limites estabelecidos pela GU.

Neste sentido, o “resultado” das situações importantes de contato não será necessariamente observável

na forma de “rastros” ou “marcas” visíveis na produção lingüística da nova geração (por exemplo, sob

forma de estruturas mistas ou empréstimos), mas por exemplo na forma inovações conformes à GU, e

que emergem nas gramáticas dos falantes diante das condições a que estiveram expostos no processo

16 “If people produce utterances corresponding fairly closely to the capacity of their grammars, then children exposed to

that production would be expected to converge on the same grammar. This is what one would expect if grammars have

structural stability, as we have claimed. In that case, diachronic change would be expected only if there were some major

disruption due to population movement. Not only is this what one would expect naively and pre-theoretically; it is also

what many learnability models would lead one to expect.” (Ligntfoot, 1999)

17 Crucialmente, para Lightfoot: “...children´s linguistic development results from their finding certain abstract structures in their chaotic environment, in much the same way that the development of their visual systems results

from exposure to very specific, abstract, visual stimuli like edges and horizontal lines. This is pretty much what one

would expect of selective learning quite generally. (...) One line of argument for this cue-based approach to acquisition is

that it permits the right kind of contingent explanation for structural changes which may take place as one generation of

speakers comes to converge on a grammar chich is structurally distinct from grammars of earlier generations”.

(Lightfoot 1999:19)

18 “Since, in an instance of syntactic change, the feature that the learners fail to acquire is learnable in principle, having

been part of the grammar of the language in the immediate past, the cause of the failure must lie either in some change,

perhaps subtle, in the character of the evidence available to the learner or in some difference in the learner, for example

in the learner´s age at acquisition, as in the case of change induced through second-language acquisition by adults in a

situation of language contact.” (Kroch, 2001) [ 39 ]

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de aquisição. Com isso, a resposta gerativista para alguns dos principais problemas enfrentados pelas

teorias da mudança quanto ao papel do contato se torna muito interessante.

Da perspectiva gerativista, portanto, não importa o estudo da mudança como instância da evolução de

um organismo externo (social, cultural ou abstrato) “língua” - mas sim o estudo da mudança como

instância auxiliar para a compreensão dos mecanismos que relacionam a capacidade inata dos falantes

com os dados da experiência lingüística. É este, por sua vez, o ponto que determina a relevância teórica

dos estudos históricos sobre as línguas neste quadro. Os desafios do estudo da mudança gramatical sob

a perspectiva gerativista residem na relação entre variações no particular e determinações do universal19.

Cabem, nesses estudos da mudança, perguntas teóricas cruciais: o lugar da variação na arquitetura da

gramática; o papel dos dados de língua externa na aquisição da língua; o que se aprende, o que se sabe

(Pintzuk, Tsoulas & Warner, 2001) .

Ao mesmo tempo, o estudo da Mudança traz para o quadro gerativo questões metodológicas centrais:

como trabalhar no com o dado documental e sem acesso a experimentos elicitados; como distinguir

metodologicamente as propriedades gramaticais e os acidentes históricos nos dados de língua externa.

Na confluência dessas questões teóricas e metodológicas, temos visto os principais desafios e as

principais contribuições das pesquisas nesta linha20. As pesquisas sobre mudança gramatical têm

procurado construir metodologias mais adequadas para o trabalho com os dados históricos; sobretudo,

buscam apoiar-se na ampliação dos universos empíricos de análise, com grandes recolhas de dados e

quantificação estatística. No entanto, e este é o passo interessante, a análise desses dados precisa ser

enfrentada de forma mediada; a evolução dos fatos de língua não é a evolução das gramáticas, mas

apenas seu possível reflexo. O termo “reflexo” surge da investigação que dá início, no ambiente

gerativista, a esta busca por uma pesquisa com dados aliada à uma mediação teórica da análise: o

19 “Over historical time languages change at every level of structure: vocabulary, phonology, morphology and syntax. How

and why such change occurs are the key questions addressed by the discipline of historical linguistics. From the

perspective of modern generative grammar, language change is narrowly constrained by the requirement that all

languages conform to the specifications of the human language faculty; but the fact of language change, like the brute

fact of the structural diversity of the world´s languages, marks a limit to the biological specification of language. Just how

wide a range of variation biology allows is perhaps the major open question of theoretical linguistics; but whatever that

range may be, it is the field on which historical developments play themselves out.” Anthony Kroch, Syntactic Change,

2001 .

20 Como resumi em Paixão de Sousa (2006a), “a metodologia da lingüística gerativa construiu um mecanismo que, em tese,

dá suporte analítico à investigação: a pesquisa nesse quadro teórico se dá como experimentação. O que os gerativistas

fazem, quando estudam as gramáticas, é partir da produção lingüística como dado empírico, e propor experimentos nos

quais se consulta a intuição gramatical dos falantes. É de fato o julgamento dos falantes sobre os dados (e não os dados

imediatos) o objeto da observação e da investigação nessas pesquisas. O acesso à intuição dos falantes é portanto a

ferramenta metodológica fundante, que dá sentido e possibilita a análise dos fatos da gramática. Evidentemente, essa

ferramenta não está disponível para o estudo de línguas faladas no passado”. [ 40 ]

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“Reflexes of Grammar in Patterns of Language Change”, de A. Kroch, em 1989. O trabalho neste projeto se

filia à linha proposta por Kroch (1989, 1994, 2001).

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3. Plano de Trabalho

3.1 Formação da Base Documental

3.3.1 Objetivo

Formar uma base documental para o período em estudo, representativa do ponto de vista de volume de dados e qualidade filológica das fontes.

3.3.2 Principais Procedimentos

3.3.2.1 Desenvolver técnicas de pesquisa relativas a processamento de textos e busca de dados (data-mining) que favoreçam o trabalho ágil e preciso com o material empírico de trabalho.

3.3.2.2 Desenvolver uma reflexão historiográfica crítica sobre a representatividade dos textos-fonte em relação às propriedades gramaticais em análise.

3.1.3 Resultados Preliminares: Corpus Inicial

I autor nasc. obra n.palavras1. Lopes, Fernão (1380) Chronica del Rey D. Ioam I (93.781)2. Galvão, Duarte (1435) Crônica del-Rei D. Afonso Henriques (53.500)3. Pina, Ruy de (1440) Crônica del-Rei D. Diniz (80.188)4. Barros, João de (1497) Gramática (41.333)5. D. João III (1502) Cartas (56.479)6. Gandavo, Pero Magalhães de (1502) História da Província de Santa Cruz (22.944)7. Pinto, Fernão Mendes (1510) Perigrinação (52.555)8. Holanda, F. (1517) Da pintura antiga (52.538)9. Couto, Diogo do (1542) Décadas (47.605)10. Luis de Sousa (1556) A vida de Frei Bertolameu dos Mártires (53.986)11. Brito, Bernardo de (1569) Da Monarquia Lusitana (50.394)12. Lobo, F. R. (1579) Côrte na Aldeia e Noites de Inverno (52.837)13. Severim de Faria, M. (1583) Discursos vários políticos (53.471)14. Brandão, Antonio (1584) Monarchia Lusitana (51.293)15. Almeida, Manuel Pires de (1597) Poesia e Pintura (26.988)16. Galhegos, M. (1597) Gazeta (35.714)17. Costa, Manuel da (1601) A Arte de Furtar (52.867)18. Melo, F. M. de (1608) Cartas Familiares (58.070)19. Melo, F. M. de (1608) Tácito (35.039)20. Vieira, A. (1608) Cartas (57.088)21. Vieira, A. (1608) Historia do Futuro (50.190)22. Vieira, A. (1608) Sermões (53.855)23. Chagas, António das (1631) Cartas Espirituais (54.477)24. Bernardes, Manuel (1644) Nova Floresta (52.374)25. Brochado, José da Cunha (1651) Cartas (35.058)26. Céu, Maria do (1658) Vida e Morte de Madre Helena da Cruz (27.419)27. Manuel dos Santos (1672) História Sebástica (100.345)28. Barros, André (1675) Vida do apostólico padre Antonio Vieira (52.005)29. Argote, Jeronimo Contador de (1676) Regras da Língua Portuguesa (47.080)

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30. Gusmão, Alexandre de (1695) Cartas (32.253)31. Cavaleiro de Oliveira (1702) Cartas (51.234)32. Aires, Matias (1705) Reflexões sobre a Vaidade dos Homens (56.479)33. Verney, L. A. (1713) Verdadeiro Método de Estudar (49.335)34. Costa, Antonio (1714) Cartas (27.096)35. Garção, Correia (1724) Obras Completas (24.932)36. Pina Manique, D. I. de (1733) Cartas (28.975)37. Alorna, Marquesa de (1750) Cartas, Marquesa de Alorna (49.900)38. Costa, J.D. Rodrigues da (1757) Entremezes de Cordel (26.078)39. Garrett, J.B.S.L. de Almeida (1799) Cartas (42.947)40. Garrett, J.B.S.L. de Almeida (1799) Teatro (44.252)41. Garrett, J.B.S.L. de Almeida (1799) Viagens na minha terra (51.544)42. Alorna, Marquês da Fronteira e (1802) Memórias do Marquês da Fronteira e d'Alorna (54.588)43. Branco, Camilo Castelo (1826) Amor de Perdição (21.541)44. Eça de Queirós, J.M. (1836) Cartas (33.703)45. Ortigão, R. (1836) Cartas a Emília (32.441)

II autor nasc. obra n.palavras46. Vários (séc. 19) Atas da Irmandade do Rosário (8.670)47. Vários (séc. 19) Cartas Brasileiras (124.000)48. Vários (séc. 17) Manuscritos das Mãos Inábeis (18.014)

(150.684)

total de palavras 2.279.455total de textos 48

(cf. Referências bibliográficas completas em http://www.ime.usp.br/~tycho/corpus)

3.1.4 Trabalhos em Andamento

3.1.4.1 Memórias do Texto: Aspectos tecnológicos na construção de um corpus histórico do português,

cf. http://www.ime.usp.br/~tycho/participants/psousa/memorias/

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3.2 Descrição e Análise dos Dados Empíricos

3.2.1 Objetivo

Descrever e analisar a ordem de constituintes da sentença em textos portugueses clássicos e modelar a dinâmica da evolução diacrônica dos padrões de ordem atestados.

3.3.2 Principais Procedimentos

3.3.2.1 Desenvolver um quadro metodológico rigoroso que oriente o trabalho de identificação e classificação dos dados:

• Desenvolver uma reflexão sobre a participação das propriedades sintáticas e semântico-pragmáticas na atividade de descrição gramatical;

• Pesquisar as teorias sobre a relação entre o componente informacional e o compoente computacional na arquitetura da gramática;

3.3.2.2 Desenvolver produtos de referência para estudos históricos e teóricos da sintaxe da língua portuguesa, a partir dos resultados dos levantamentos de dados, com alcance na comunidade de pesquisa:

• Dicionário das valências verbais no Português Clássico (1400-1700);

• Gramatica Descritiva da Ordem de Constituintes no Português (1400-1700).

3.3.2.3 Desenvolver a modelagem e quantificação estatística dos dados empíricos, nos termos de Kroch 1989 (Constant Rate Effect).

3.2.3 Resultados Preliminares: Desenho da Estrutura Descritiva

I. Termos da Oração

I.1 Predicadores/Núcleos da oração, segundo estrutura argumentalI.1.1.1 Predicadores verbais com estrutura de três argumentosI.1.1.2 Predicadores verbais com estrutura de dois argumentosI.1.1.3 Predicadores verbais com estrutura de um argumentoI.1.1.4 Predicadores verbais com estrutura sem argumento

I.2 Argumentos (Sintagmas Maiores selecionados pelo predicador)I.2.1 Argumentos Externos (“sujeito”)

I.2.1.1 Argumentos Externos com Referência DefinidaI.2.1.1.1 Expressos I.2.1.1.2 Não-expressos

I.2.1.2 Argumentos Externos com Referência Indefinida

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I.2.1.2.1 ExpressosI.2.1.2.2 Não-expressos

I.1.2.3 Argumentos Externos sem referênciaI.2.2 Argumentos internos

I.2.2.1 Complementos DiretosI.2.2.2 Complementos DativosI.2.2.3 Outros Complementos

I.3 Adjuntos do verbo (Sintagmas Maiores não selecionados pelo predicador)I.4 Adjuntos do nome, ou Sintagmas Menores

II. Arquitetura da Oração

II.1 ConcordânciaII.1.1 Relações de Concordância entre os Sintagmas (concordância verbal)II.1.1 Relações de Concordância Internas aos Sintagmas (concordância nominal)

II.2 RegênciaII.2 Relações de Regência entre os Sintagmas (regência verbal)II.2 Relações de Regência Internas aos Sintagmas (regência das preposições)

II.3 OrdemII.3.1 Padrões de Ordenação Relativa entre os Sintagmas II.3.2 Padrões de Ordenação Relativa Internas aos Sintagmas

III. Arquitetura do PeríodoIII.1 Relações de CoordenaçãoIII.1.1 Relações de Coordenação Mediadas III.1.2 Relações de Coordenação Imediatas (Justaposição)

III.2 Relações de SubordinaçãoIII.2.1 Relações de Subordinação Entre SintagmasIII.2.1.1 ComplementaçãoIII.2.1.2 Adjunção

III.2.2 Relações de Subordinação nos SintagmasIII.2.2.1 Relativização

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IV. Arquitetura da Oração e Hierarquia Pragmático-funcional

IV.1 Padrões de Ordem Segundo as Freqüências de OcorrênciaIV.1.2 Padrão de Ordem Básico entre SintagmasIV.1.3 Padrão de Ordem Básico nos SintagmasIV.1.4 Padrões de Ordem Especiais entre SintagmasIV.1.5 Padrões de Ordem Especiais nos Sintagmas

IV.2 Construções de Fronteamento: Tópico Sentencial, Focalização e Fronteamentos AfetivosIV.2.1. Tópicos Sentenciais IV.2.2. Focos (Amplos, Estreitos, Contrastivas)

IV.2.3. Fronteamentos Afetivos

IV.2.3 Construções com Tópicos Discursivos IV.2.3.1 Tópicos Discursivos co-referentes com argumentos do verbo IV.2.3.2 Tópicos Discursivos não co-referentes com argumentos do verbo

3.2.4 Trabalhos em Andamento

3.2.4.1. Castro Alves, F. & Paixão de Sousa, M.C. Continuidade do Tópico e Ordem de

Constituintes em Textos Portugueses do Século 16. (cf. Anexo: Versão Preliminar )

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3.3 Reflexão Teórica e Modelagem da Mudança:

3.3.1 Objetivo

Analisar estruturalmente a ordem superficial atestada nos dados, explicar as propriedades gramaticais em jogo em cada etapa, e modelar a interpretação da evolução diacrônica dos dados modelados como reflexos de uma mudança gramatical.

3.3.2 Principais Procedimentos

3.3.2.1 Desenvolver a hipótese de trabalho sobre a estrutura da frase no Português Clássico: {TOP } [CP ... C [FP ... F [IP ... I [vP ...v [VP ...V ]]]]

• Formalizar a natureza do núcelo funcional FP e modelar a derivação da operação de fronteamento (“movimento” para FP);

• Formalizar a relação entre o elemento externo {TOP} e a sentença, em particular quanto ao estabelecimento de co-referencialidade, no discurso, entre este elemento e constituintes internos.

3.3.2.2 Pesquisa teórica sobre sobre a relação entre o componente informacional e o compoente computacional na arquitetura da gramática, e sobre a teoria da Mudança Gramatical no quadro gerativo: motivações e instanciamentos; o lugar da variação diacrônica na arquitetura da gramática.

3.3.3 Resultados Preliminares: Levantamento de tópicos e bilbiografia

3.3.3.1 Teoria da Mudança: Motivações e Instanciamentos

A) Principais questões a serem exploradas quanto à mudança do Português Clássico ao PE:

a) como o núcleo funcional F teria passado a ser interpretado como não morfológico; noutros termos, como uma determinada geração de falantes passa a interpretar sujeitos não focalizados ({VS}) como focalizados, e vice-versa?

b) qual a relação desta mudança com a mudança nos padrões rítmicos (que diferenciam PC e PE, mas aproximam PC e PB) segundo (Galves & Galves 1998)?

B) Principais questões a serem exploradas quanto à mudança do Português Clássico ao PB:

a) como se dá a manutenção do traço [CITATIVO] no PB, e como esse se radicaliza de modo a passar do movimento de argumentos para a periferia esquerda para o movimento e promoção de argumentos?

b) como esta radicalização se relaciona com as mudanças nas propriedades de apagamento de argumentos?

c) como compreender essas mudanças e manutenções no contexto do debate sobre a gramática do PB como fruto do “contato lingüístico” versus “deriva orgânica da língua”?

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3.3.3.1 Formulação conceitual para “saliência”, “foco”, “tópico” (“sentencial”, “do discurso”)

A) Pesquisa Bibliográfica Preliminar:

a) O “Information Packaging” de Chafe, (1976), Vallduví, (1992); a “topicality framework” de Givón (1992, 1993);

b) diferentes noções de “tópico”: “pressuposição” (Chomsky 1971, Jackendoff 1972), “background” (Dahl 1974, Chafe 1976), “tema” (Contreras 1976), “informação antiga” (Välimaa-Blum 1988), “given” (Halliday 1984);

c) diferentes noções de “foco”: “foco” em oposição a “ground-tail”, Vallduví, (1992); “foco” como referencialidade forte (Grosz 1981, Garrod & Stanford 1982, Gundel, Hedberg & Zacharski 1992); “foco” como operador lógico de “saturação” referencial (exhaustiveness) (Szabolcsi, 1981); “foco” como operador da estrutura quantificacional (Partee 1991).

3.3.3.2 Desenvolvimento da hipótese estrutural abstrata

A) Principais questões a serem exploradas quanto à hipótese estrutural:

a) formalização da “saliência” codificada em F;

b) formalização do traço [citativo];

c) formalização do traço [afetivo]/[afetivo];

d) derivação relativa ao cancelamento dos traços morfológico e não-morfológico de F por V e por DPs;

e) combinação do núcleo da predicação com o núcleo F;

f) combinação do núcleo F com o núcleo C;

g) natureza formal do núcleo C (C lexical versus não-lexical; o problema do “que” nulo)

h) cliticização dos pronomes átonos à esquerda de F;

i) estabelecimento da coincidência de caso gramatical entre “tópicos do discurso” adjuntos e as categorias no interior da frase;

j) combinação das propriedades de FP com as propriedades de IP no que se refere ao apagamento de argumentos

B) Pesquisa Bibliográfica Preliminar:

a) Sobre as propriedades de F e seus traços formais; sobre a derivação relativa a F: Uriagereka (1998), Raposo (1998), Nunes & Raposo (1998), Kato & Raposo (2000), Nunes & Uriageraka (2002), Hornstein, Nunes, & Grothman (2005), Raposo e Uriageraka (2005), Corver & Nunes (2006);

b) Sobre a relação entre “informação” e sintaxe no interior da frase: Li (1976), Hawkins (1994), Lambrecht (1994), Kiss (1995), Reinhart (1995), Britto (1998), Naro & Votre (1999), Negrão & Viotti (2007);

c) Sobre movimento de focos e topicalizações em geral: Pontes (1987), Duarte (1997), Ambar (1999), Rochemont & Culicover (1990), Zubizarreta (1998, 2002);

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d) Sobre as propriedades de F em relação a C/I-V: Thurneysen (1992), Roberts (1993), Galves (1994), Vance (1995), Schwartz, & Vikner (1996), Torres Morais (1995, 1996), Ribeiro (1996), Kroch & Taylor (1997), Kaiser (2002);

e) Sobre as propriedades da periferia esquerda em geral: Raposo (1996), Cinque (1990, 1983), Fontana (1993), Rizzi (2003, 1991);

f) Sobre a idéia da cliticização dos pronomes átonos a F: Benincá (1989), Pagotto (1996), Riemsdijk (1999), Cardinaletti (1999), Raposo (2000), Duarte & Matos (2000), Luján (2000), Martins (1994, 2000), Galves (2002), Costa & Martins (2003), Galves & Sandalo (2005);

g) Sobre as propriedades dos argumentos no português (concordância e apagamento): Schellert (1958), Perlmutter (1976), Vance (1989, 1997), Ambar (1992), Duarte (1992, 1993); Cyrino (1993, 1994); Kato (1993); Negrão & Müller (1996), Barbosa (1996, 2000); Berlinck (1997), Eguzkitza & Kaiser (1999), Galves (2000), Kato & Negrão (2000), Ferreira (2000), Costa & Duarte (2002), Costa & Galves (2002), Costa (2004, 2001, 1996);

h) Sobre a diacronia da sintaxe da ordem em geral: Benincá (1995), Hawkins (1990), Pinkster (1991), Ribeiro (1995a), Salvi (1990, 1992, 2004) .

3.3.4 Trabalhos em Andamento

3.3.4.1. Paixão de Sousa, M.C.: Uma posição à esquerda para tópicos sentenciais no Português

Clássico. (cf. Anexo: Versão Preliminar )

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4. Resultados Esperados – Resumo

4.1 Desenvolvimento do Quadro Teórico

1. Contribuição para a reflexão teórica sobre Mudança Gramatical no programa minimalista.2. Contribuição para a reflexão teórica sobre a relação sintaxe-discurso na periferia esquerda

da frase.

4.2 Desenvolvimento de Metodologias de Pesquisa

1. Sistematização de um corpo metodológico para estudos gramaticais com base em copora de documentação lingüística.

2. Aprofundamento do debate sobre o estatuto dos dados atestados na linguagem escrita para a reflexão lingüística de base internalista.

4.3 Produtos para a Comunidade de Pesquisa

1. Ampliação da base empírica para estudos históricos da língua portuguesa.2. Construção do Dicionário das Valências Verbais no Português Clássico (1400-1700). 3. Construção da Gramatica Descritiva da Ordem de Constituintes no Português Clássico (1400-

1700).

4.4 Formação Discente

1. Contribuição formadora para pesquisadores das áreas de gramática e lingüística histórica, com interesse de pesquisa sobre a sintaxe e a história da língua portuguesa;

2. Contribuição formadora para pesquisadores da área de sintaxe, com interesses de pesquisa sobre a sintaxe da ordem e a codificação de relações discursivas na frase abstrata.

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