Projeto de Pós-doutoramento - eca.usp.br · entrecruzamento da literatura, do desenho, do teatro,...

28
1 Projeto de Pós-doutoramento A PICTOGRAFIA EM ANTONIN ARTAUD: TEATRO E REINVENÇÃO ANATÔMICA Autor: André Silveira Lage Supervisão: Luiz Fernando Ramos

Transcript of Projeto de Pós-doutoramento - eca.usp.br · entrecruzamento da literatura, do desenho, do teatro,...

1

Projeto de Pós-doutoramento

A PICTOGRAFIA EM ANTONIN ARTAUD:

TEATRO E REINVENÇÃO ANATÔMICA

Autor: André Silveira Lage Supervisão: Luiz Fernando Ramos

2

1. J U S T I F I C A T I V A

Poeta maldito, encarnação máxima da potência do gênio romântico, profeta da

Beat Generation, porta voz do movimento anti-psiquiátrico, teórico do Teatro da

Crueldade, ator iluminado, revoltado e louco, Antonin Artaud (1896-1948) é, sem

dúvida, uma das referências mais requisitadas pelo pensamento crítico e pela criação

artística contemporânea. Sua obra fascinou várias gerações e não cessa de nos fascinar,

tanto pela sua complexidade quanto pelo impacto considerável que ela teve e continua a

ter no pensamento contemporâneo. Revolucionária e inovadora, ela marcou uma geração

de atores e encenadores (Julien Beck, Judith Malina, Tadeusz Kantor, Peter Brook,

Robert Wilson) e contribuiu na formação do pensamento crítico de grandes teóricos

franceses do século XX (Maurice Blanchot, Jacques Derrida, Michel Foucault, Gilles

Deleuze). Híbrida e multifacetada, ela ocupa uma posição radicalmente singular : no

entrecruzamento da literatura, do desenho, do teatro, do cinema e da rádio.

Recentemente, pela primeira vez em Paris, uma exposição retrospectiva restituiu

ao público o conjunto da produção literária, gráfica, fílmica e radiofônica de Artaud.

Guillaume Fau - responsável pelo “Acervo Artaud” da Bibliothèque nationale de France

(BnF) – reuniu, na exposição Artaud1, uma grande quantidade de desenhos, retratos, auto-

retratos, documentos raramente accessíveis, fotos de montagens teatrais, filmes nos quais

Artaud era ator, objetos pessoais, primeiras edições publicadas quando ainda vivo, textos

raros sobre os desenhos, diversos manuscritos e um corpus inédito dos cadernos de Rodez

e de Ivry, ilustrando assim a vitalidade e a potência criadora de uma obra que sempre

combateu a língua, os códigos, os signos, as representações, não deixando nenhuma

forma artística intacta, bem como nenhum leitor-auditor-espectador indiferente. É

importante ressaltar que essa exposição teve o mérito de renovar a abordagem crítica

tradicional, de fortalecer a difusão, junto ao grande público, da obra pictográfica de

1 A exposição Artaud aconteceu na Bibliothèque nationale de France (BnF), entre 04 de novembro de 2006 a 04 de fevereiro de 2007.

3

Artaud, e, sobretudo, de não desconectá-la das demais poéticas2 que perpassam e

constituem a sua obra (a literatura, o cinema, o teatro).

É verdade que no Brasil existe ainda uma grande lacuna no que diz respeito ao

estudo dos “sortilégios”, dos “desenhos escritos”, dos retratos, dos auto-retratos e dos

cadernos de Rodez e de Ivry de Antonin Artaud. Não existe atualmente no país nenhuma

pesquisa nessa área, nenhuma referência bibliográfica brasileira sobre o assunto,

nenhuma edição crítica que contemple o conjunto de sua obra pictográfica, bem como o

corpus de textos que ele escreveu sobre seus desenhos, em Rodez e Ivry, entre 1945 e

1948. Tanto a obra pictográfica de Artaud quanto seus textos sobre os desenhos

representam um território desconhecido, pouco explorado, de sua obra. No entanto, trata-

se de um momento extremamente importante, um momento atravessado pelo nascimento

de uma nova poética (o desenho), a qual não apenas retoma e intensifica os postulados e

princípios das outras poéticas (a literatura, o cinema, o teatro), mas também encena, de

forma ainda mais radical, um dos temas mais recorrentes de seus últimos escritos, a

saber, o tema da reivindicação revolucionária de um novo corpo humano. Corpo

infinitamente potencial, com poder de explodir, em luta contínua contra a arte, o suporte,

a organização do organismo, a representação, a língua carcaça e deus.

A obra pictográfica de Antonin Artaud recobre primeiramente essas estranhas

cartas que ele enviava a vários correspondentes em 1937 e 1939 e que ele chamava de

“sortilégios” : “As figuras que eu fazia eram sortilégios – que eu queimava com um

fósforo após tê-las meticulosamente desenhadas”3, escreve Artaud. Missivas

conjuratórias ou agressivas que misturavam escritura e desenho sobre folhas de papel 2 Por « poética » entendo uma poética fundada na idéia de criação, tal como já havia concebido Paul Valéry (a partir de 1937), no seu curso de poética no Collège de France. Tal poética, completa Valéry, se opõe radicalmente à tradição das artes poéticas concebidas como « compilação de regras, de convenções ou de preceitos sobre a composição de poemas líricos e dramáticos ou sobre a construção de versos ». (VALÉRY, P. « Leçon inaugurale du cours de poétique du Collège de France », Variété V, Gallimard : 1944, p. 288-289). Valéry toma a palavra poética no sentido que concerne a etimologia, reatualizando « a noção tão simples de fazer, do grego poïein » e designando o « nome de tudo que trata da criação e da composição de obras cuja linguagem é ao mesmo tempo a substância e o meio ». (VALÉRY, P. « De l’enseignement de la poétique au Collège de France », Variété V, p. 291.) 3 “Et les figures donc que je faisais étaient des sorts – que je brûlais avec une allumette après les avoir meticuleusement dessinées”. Ver o catálogo Dessins. Paris. Edição do Centre George Pompidou, 1987, p. 18. Sortilégio quer dizer, lembremos, um efeito mágico, geralmente nefasto, maléfico, do qual uma pessoa ou um objeto é o objeto, e que resulta de certas operações de magia. O que fazia Artaud se inscreve nesta definição. Lembremos também que em francês a palavra “magie” é anagrama de “image”: magie/image.

4

voluntariamente perfuradas e queimadas, esses sortilégios são um dos exemplos mais

significativos dessa vontade de “enlouquecer o subjétil” da qual fala Jacques Derrida no

seu ensaio dedicado aos desenhos e retratos de Artaud. Escritos e desenhados, eles

conjugam a potência imprecatória das palavras, a força visual dos signos gráficos e a

experiência do fogo voluntariamente aplicado ao papel. Violentamente coloridos,

maculados e maltratados, eles materializam as três dimensões inerentes ao conceito de

“subjétil”, a saber, a dimensão do suporte (o “subjétil” enquanto suporte material da obra

- a folha de papel), a dimensão da figuração (o “subjétil” enquanto figura do Outro, do

interlocutor, daquele a quem o “sortilégio” se endereça), a dimensão de uma operação

mágica e cirúrgica (o “subjétil” enquanto uma operação mágica e cirúrgica, “uma

máquina que tem sopro”4, um projétil que transgride um limite, que maltrata a pele das

palavras, que deforma a língua, que desfigura a sintaxe, que age por perfuração, que

atravessa a folha, a letra, o muro - e passa para o outro lado). Essas três dimensões do

“subjétil” serão os operadores teóricos para a análise dos sortilégios de Antonin Artaud.

O objetivo de tais sortilégios? “Um exorcismo da maldição, uma vituperação corporal

contra as obrigações da forma espacial, da perspectiva, da medida, do equilíbrio, da

dimensão”5, escreve Artaud.

Além desses “sortilégios”, Artaud realiza a partir de 1945 o que ele chama de

“desenhos escritos, com frases que se encartam nas formas afim de precipitá-las”6, bem

como as formas desenhadas e disseminadas nos seus diversos cadernos de Rodez e Ivry e

que ele declarou com veemência serem “notas, palavras e fragmentos”7, inseparáveis de

sua escritura. A partir de 1946, ele desenha uma série de auto-retratos e retratos de seus

amigos (Paule Thévenin, Pierre e Florence Loeb, Jacques e Rolande Prevel, Arthur

Adamov, Roger Blin, Colette Thomas, Minouche Pastier, Lily Dubuffet e outros) e

persiste a sua reivindicação revolucionária de um novo corpo humano, reformulando-a

desta vez através da experiência do rosto, de um “rosto” por vir, de um “rosto humano”

que ainda não encontrou a sua “face”. Desconstruindo a lógica da semelhança com o

modelo, da cópia fiel, os retratos e auto-retratos de Artaud são submetidos a uma espécie 4 Ver o texto « Dix ans que le langage est parti … » (abril 1947), publicado em 1979 na revista Luna-Park, n. 5, p. 8., e em 1987, no catálogo Dessins. Paris. Edição do Centre George Pompidou, 1987, p. 22. 5 Ver o catálogo Antonin Artaud : Dessins. Paris. Edição do Centre George Pompidou, 1987, p. 18. 6 Ver Œuvres complètes, tomo XI, p. 20. 7 Ver o catálogo Antonin Araud : Dessins. Paris. Edição do Centre George Pompidou, 1987, p. 24.

5

de crueldade gráfica que resiste à representação e que nos faz ver o desmoronamento da

figura, a desfiguração do “rosto humano”, ou mais precisamente, a profunda relação entre

o “rosto humano” e a morte : “O rosto humano é uma força vazia, um campo de morte” –

afirma Artaud na plaqueta “O rosto humano” [Le visage humain], escrita em 1947 para

apresentar os seus desenhos e retratos na Galeria Pierre Loeb. É essa crueldade gráfica

impregnada na experiência do rosto bem como a idéia do rosto como subjétil que serão os

conceitos operatórios para a análise dos retratos e auto-retratos de Antonin Artaud.

Ambas se impõem, como veremos, contra o sistema da representação, a técnica do

desenho, a lógica da semelhança, para devolver o rosto ao corpo e para fazer do “rosto

humano” o lugar por excelência da reivindicação revolucionária de um novo corpo

humano.

Até os últimos dias de sua vida, Artaud escreveu e desenhou incansavelmente em

pequenos cadernos escolares que ficaram conhecidos postumamente sob o nome de

Cadernos de Rodez e de Ivry. O conjunto desses quatro centos e seis cadernos redigidos

durante o seu internamento constitui atualmente a parte mais importante do “Acervo

Artaud” na Bibliothèque Nacionale de France, em Paris.8 Nesses cadernos, Artaud

esboça textos e cartas, rememora sonhos, procura escansões visuais ou sonoras, dispersa

por acaso pedaços de frases, desenha, acumula seqüências sonoras, rabisca, alinha uma

seqüência de exorcismos, uma fórmula conjuratória, uma litania de glossolalias (estas

“sílabas inventadas”, estes “vocábulos corporais” de uma língua que ele procura

inventar), constituindo-os não como uma obra propriamente dita (obra no sentido de

produto, resultado final, obra acabada), mas como uma espécie de dramaturgia íntima,

8 Durante os anos 80, uma grande parte desses cadernos começou a ser publicada pelas edições Gallimard sob o nome de Cahiers de Rodez et Cahiers de Retour à Paris [Cadernos de Rodez e Cadernos do Retorno à Paris]. O repertório é gigantesco. Os Cahiers de Rodez (tomo XV a XXI das Obras completas) reúnem cronologicamente os cadernos escritos por Artaud de fevereiro de 1945 a maio de 1946, data de sua saída de Rodez. Os Cahiers de retour à Paris (tomos XXII à XXV) reúnem os cadernos escritos de junho de 1946 a janeiro 1947. Os cadernos redigidos a partir desta data e até a morte de Artaud, no dia 04 de março de 1948, não foram ainda publicados. Paule Thévenin foi a responsável pelo deciframento, pela transcrição, pela transmissão e edição desses cadernos, que se encontram atualmente na seção de Manuscritos modernos da Biblioteca Nacional Francesa, em Paris. Podemos encontrá-los reproduzidos parcialmente e em fac-símile em diversos livros ou catálogos de exposição, como o livro de Paule Thévenin & Jacques Derrida, Antonin Artaud : Dessins et Portraits, o catálogo Œuvres sur papier da exposição realizada no Musée Cantini, e mais recentemente, o catálogo da exposição Antonin Artaud realizada na Bibliothèque Nationale de France (de 7 novembro a 4 fevereiro de 2007). Uma grande parte desses cadernos encontram-se ainda inéditos, mesmo na França.

6

um reservatório de pensamentos, a matéria bruta de uma escritura que encena alguns

temas recorrentes de seus últimos escritos, tais como a luta contra Deus e o “pai-mãe”, a

força da magia, a invenção de um novo corpo humano indissociavelmente poema-

desenho-teatro. São nesses mesmos cadernos que podemos encontrar, de forma dispersa,

os diversos textos que Artaud escreveu sobre a sua prática pictográfica. Inéditos em

português, tais textos constituem um repertório fundamental para a compreensão da obra

pictográfica de Artaud e serão também o suporte teórico para a leitura e a análise da

mesma.9

Considerando a inexistência de pesquisa nesse assunto no território nacional,

tanto a obra pictográfica de Artaud quanto os textos sobre os seus desenhos serão o foco

dessa pesquisa. O projeto de pós-doutorado intitulado A pictografia em Antonin Artaud :

teatro e reinvenção anatômica propõe a análise crítica da obra pictográfica em si, o

estudo aprofundado dos textos teóricos que marcaram profundamente a sua compreensão,

bem como a tradução comentada do corpus de textos que Artaud escreveu sobre seus

desenhos, em Rodez e Ivry, entre 1939 e 1947. O projeto será realizado junto ao

Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, na linha de pesquisa Texto e Cena (área

de concentração Teoria e Prática do Teatro), sob a supervisão do Prof. Luiz Fernando

Ramos. Estrutura-se basicamente em torno de dois eixos : estudos teóricos e tradução

comentada.

O primeiro momento do projeto tem como meta o estudo da obra pictográfica de

Antonin Artaud (os “sortilégios”, “os desenhos escritos”, “as cartas desenhadas”, os

retratos e auto-retratos, as páginas dos cadernos de Rodez e de Ivry), relacionando-a com

os textos e “comentários” que ele escreveu sobre a mesma e com os textos teóricos que

marcaram profundamente a sua compreensão. Privilegiarei o contexto de criação e as

características formais das obras estudadas, a relação entre textos e desenhos, bem como

9 Tais textos foram reunidos publicados pela primeira vez, em 1987, no catálogo da exposição Antonin Artaud: Dessins, Centre George Pompidou, Paris, França. Recentemente, esses mesmos textos foram publicados na edição Artaud : Quarto, Gallimard, 2002.

7

as implicações teóricas do termos “pictografia”, “subjétil”, “pensamento do lance” no

estudo “Enlouquecer o subjétil”, de Jacques Derrida.10

Neste estudo dedicado aos desenhos e retratos de Antonin Artaud, Jacques

Derrida recorre ao termo de “pictografia” para designar esta parte da obra na qual a

pintura, o desenho e a escritura “não toleram nenhuma parede divisória, nem a das artes

nem a dos gêneros, nem a dos suportes nem a das substâncias.”11 Derrida utiliza a

palavra “pictografia” no sentido amplo, afirmando que a escolha da palavra não reconduz

a uma “proto-escritura na qual projetamos todos os mitos de origem”, mas sugere, ao

contrário, a idéia de uma trajetória, a “trajetória daquilo que literalmente está apto a

atravessar o limite entre a pintura e o desenho, o desenho e a escritura verbal, de uma

maneira geral, as artes do espaço e as outras.”12 Derrida trabalha o conceito de

“pictografia”, enriquecendo o seu sentido, circunscrevendo-o num campo que pertence e

excede as artes do espaço, o plano do visível : “a pictografia escuta-se literalmente.”13 E

ela escuta-se literalmente como música, enquanto música: « Se se escuta a pictografia, e

como música, enquanto música, é antes de tudo por certa força de penetração. Da mesma

forma que o som penetra o ouvido e o espírito, o ato pictográfico atinge e bombardeia,

perfura, percute e faz entrar, atravessa. »14

É este conceito de “pictografia” como música, ritmo, bombardeio, perfuração,

percussão, “dilaceramento sonoro” que será preciso estudar, focalizando seu

funcionamento e seus efeitos nos textos e desenhos de Artaud, bem como sua estreita

relação com os motivos essenciais da cena do subjétil (a travessia, o ato de atravessar o

suporte inerte da representação, a palavra “através”15, a expressão “abrir para si uma

10 Este estudo foi publicado originalmente em alemão (Thévenin, Paule e Derrida, Jacques, Antonin Artaud – Zeichnungen und Portraits. München. Shirmer/Mosel, 1986), e, logo em seguida, em francês (idem, Antonin Artaud: Dessins et portraits. Paris, Gallimard, 1986). Em 1998, Geraldo Gerson de Souza propõe a tradução do « Enlouquecer o subjétil (Forcerner le subjectile) e publica-a pela Editora Unesp. Ressalto também a importância de Derrida no que concerne o estudo da obra de Artaud. Ver seus estudos de 1967 : « La parole soufflée » e « Le théâtre et la clôture de la représentation », retomados in L’écriture et la différence. 11Ver « Enlouquecer o subjétil », p. 47. 12 Ibidem. 13 Ibidem. p. 48. 14 Ver « Enlouquecer o subjétil », p. 55. 15 O título de um dos desenhos de Artaud é Desenho para ser olhado de través.

8

passagem”, o “entre”, a força de percussão e de projeção, o trabalho oblíquo que consiste

em “minar” e “limar” a folha, a letra, o muro, a “parede de ferro invisível”).16

Segundo Derrida, o termo “subjétil” não se refere propriamente ao sujeito nem ao

objeto mas aproxima-se do “suporte”, da “superfície”, do “material”, do “corpo único da

obra em seu primeiro acontecimento”, “no nascimento” daquilo “que não se deixa

repetir”, daquilo “que se distingue tanto da forma quanto do sentido e da

representação”.17 Enquanto “suporte”, “material”, “receptáculo da obra”, o “subjétil” é,

segundo as artes, o papel, a tela, a madeira, o mármore, etc.

Mas ele não é só isso. O “subjétil” figura também, entre tantos outros aspectos, o

Outro e não somente o Outro enquanto interlocutor, destinatário (como no caso dos

“sortilégios”), mas o Outro enquanto uma instância mortífera e expropriadora,

representada tanto pela figura do ladrão (daquele que rouba meu corpo, que me priva do

meu próprio nascimento e que, em Artaud, converge na figura de deus) quanto pela

própria instância da língua. Na obra de Artaud, essa instância do outro, do “subjétil”

como figura do Outro, coincide com a instância da língua. O “subjétil” é, nesse sentido, a

própria língua francesa e Artaud faz com ela o que ele faz com o “subjétil”: ataca-a, faz-

lhe uma cena, opera-a, maltrata-a em todos os sentidos. Por exemplo, ao forçar a

gramática da palavra e ao fazer, por meio de tais operações, a língua francesa perder a

razão, entrar em crise, delirar. É esta relação entre a prática do enlouquecimento da

língua e a “força geradora do desenho” que trata-se de estudar. Segundo Derrida: Tudo acontece como se a força geradora do desenho, o que literalmente aí dá forma às formas, se forjasse primeiramente na língua, ou, melhor, na traquéia, nesse lugar em que as diferenças glossomáticas ainda não significam, todas enlouquecidas, fora do senso, que elas existem e prontas a sobrecarregar-se de sentido.18

Essa prática do enlouquecimento da língua (enlouquecer o suporte, o princípio de

organização verbal do pensamento, a sintaxe, a gramática), tal como a desfiguração do

16 Os motivos essenciais da cena do subjétil foram estudados por Jacques Derrida no seu artigo « Enlouquecer o subjétil », p. 51. Jacques Derrida constrói sua argumentação baseando-se no trecho da carta de Vang Gogh citada por Artaud no seu Van Gog, O Suicida da sociedade. Nesta carta, Van Gog utiliza palavras que nomeiam os motivos essenciais da cena do subjétil: « O que é desenhar? Como se chega a isso? É a ação de abrir passagem através de uma parede de ferro invisível, que parece situar-se entre o que se sente e o que se pode. Na minha opinião, para atravessar esta parede, de nada adianta bater nela com força, e sim miná-la, perfurá-la limando-a lentamente e com muita paciência». (ibidem) 17 Ibdem, p. 29. 18 Ver « Enlouquecer o subjétil », p. 103.

9

“rosto humano” no caso dos retratos e auto-retratos, nos conduzirá a estabelecer a relação

entre o desenho e a língua pelo viés das glossolalias de Antonin Artaud.

As primeiras glossolalias de Antonin Artaud se apresentam como simples formas

cabalísticas, como as que emergem na carta do dia 29 de março de 1943 endereçada ao

Doutor Ferdière. A partir de 1945, elas invadem os Cahiers de Rodez, alguns “desenhos

escritos”, assim que os textos sobre os desenhos. Com elas, a crítica da língua, que está

na base da poética de Artaud, será conduzida ao seu paroxismo. Transbordando a lógica

da língua-carcaça, da língua-código, as glossolalias suspendem o valor representativo da

linguagem e pulverizam literalmente os fundamentos racionais de nossas lógicas. Elas

são esta nova língua que forja Artaud nos últimos anos de sua vida, uma língua-corpo

que é, como são seus desenhos e retratos, palco do Teatro da crueldade.

Este projeto tem também como objetivo o estudo das glossolalias de Artaud, bem

como dos textos teóricos que tratam desta noção.19 Trata-se de mostrar como a invenção

de uma nova língua, uma língua-corpo, está diretamente ligada com o que está em jogo

nos desenhos e retratos de Antonin Artaud: o tema da reivindicação revolucionária de um

novo corpo humano. Ou ainda, trata-se de mostrar como as glossolalias e os desenhos e

retratos de Antonin Artaud retomam e relançam o mesmo poder do Teatro da Crueldade,

o poder de fazer “dançar a anatomia humana” que é também o poder de refazer o corpo.

O segundo momento do projeto tem como meta traduzir um corpus de textos que

Artaud escreveu sobre a sua obra pictográfica, em Rodez e Ivry, entre 1945 e 1947. Tais

textos foram publicados em revistas literárias, de maneira dipersa nos volumes XVIII,

19 No seu artigo “Les silences de la voix”, Jean-Jacques Courtine examina a história e a estrutura da glossolalia. Apresenta suas diversas manifestações, disseminadas em campos distintos do conhecimento – religioso, patológico e poético -, e dispersas às margens da instituição eclesiástica, clínica, científica ou literária. Segundo Courtine, a glossolalia era considerada em São Paulo e Coríntios como a “língua dos homens e dos anjos”, em São Lucas como o “dom miraculoso de falar línguas estranhas”. Na segunda metade do século II, ela será tratada como “fenômeno extático-profético” e no século XVI e XVII como a “tradição de uma escrita mística”. No século XIX, começa-se a se falar das “glossolalias espíritas” e finalmente das “glossolalias delirantes” e obscuras dos loucos, quando o falar em línguas deixa de seu um “dom divino” para vir a ser considerado como “sintoma”, recebendo assim suas primeiras características lingüísticas e patológicas. Courtine também abordada a glossolalia como a “simulação dos primeiros momentos da linguagem”, uma representação de sua origem.

10

XX, XXI de suas Obras completas20, e em catálogos de exposições. Recentemente, foram

publicados no volume Artaud, Quarto: Gallimard, 2002. Reuni-los em um único volume

e traduzi-los para o português constituem a segunda meta deste projeto que vai

certamente difundir textos de Artaud de extrema importância.

O corpus de textos que será estudado e traduzido neste projeto concerne os

« comentários » dos desenhos Couti l’anatomie [Couti a anatomia]21, La Machine de

l’être ou dessin à regarder de traviole [A Máquina do ser ou desenho para olhar de

través]22, La maladresse sexuelle de dieu [A inabilidade sexual de deus]23, La Mort et

l’homme [A Morte e o homem]24, os textos que se referem aos sorts [sortilégios], aos

desenhos, aos retratos e auto-retratos tais como Les figures sur la page inerte ... [As

figuras sob a página inerte ...]25, Mes dessins ne sont pas des dessins mais des

documents [Meus desenhos não são desenhos mas documentos]26, Dix ans que le

langage est parti [Dez anos que a linguagem se foi]27, o magnífico texto, Le visage

humain [O rosto humano], escrito para apresentar suas obras na exposição Portraits et

dessins par Antonin Artaud, na Galeria Pierre Loeb, no mês de julho de 1947, bem como

seu último projeto de livro, escrito em 1948 e intitulado 50 dessins pour assassiner la

magie [50 desenhos para assassinar a magia].28

A tradução comentada desse corpus de textos de Artaud sobre seus desenhos e

retratos torna-se indispensável e contribuirá certamente para a difusão de uma teoria do

corpo e da linguagem própria a Artaud.

2. O B J E T I V O S

20 Paule Thévenin foi a responsável tanto pela reedição dos textos de Artaud já publicados em livros de bolso, revistas, plaquetas, jornais quanto pela publicação de textos inéditos, como por exemplo as centenas e centenas de páginas que compõem os seus Cadernos de Rodez e de Ivry. Ela foi a editora dos XXVI volumes que constituem as Obras completas de Antonin Artaud. 21 Rodez, setembro 1945. Oeuvres complètes, tomo XVIII, pp. 73-74. Quarto, p. 1037. 22 Caderno 52. Rodez, janeiro 1946. Oeuvres complètes, tomo XVIII, pp. 259-260. Quarto, p. 1039. 23 Caderno 60. Rodez, fevereiro 1946. Oeuvres complètes, tomo XX, pp. 170-173. Quarto, p. 1041. 24 Rodez, maio 1946. Oeuvres complètes, tomo XXI, pp. 252-255. Quarto, p. 1045. 25 Ver o catálogo Antonin Artaud : Dessins. Paris. Edição do Centre George Pompidou, 1987, p. 18. Quarto, p. 1467. 26 Caderno 97. Maio 1946. Oeuvres complètes de Antonin Artaud, tomo XXI, pp. 266-267. Quarto, 1049. 27 Caderno 285. Abril 1947. Publicado em Luna-Park, n. 5, outubro 1979. Quarto, 1512. 28 A partir deste livro, trata-se de pensar a relação entre texto e imagem, mas também entre a voz e gesto como elementos primordiais e constitutivos dessas duas práticas : escrever e desenhar.

11

Geral:

- Apresentar e analisar a obra pictográfica de Antonin Artaud (os “sortilégios”, “os

desenhos escritos”, “as cartas desenhadas”, os retratos e auto-retratos, as páginas

dos cadernos de Rodez e de Ivry) e os textos teóricos que marcaram

profundamente a sua compreensão. Traduzir um corpus de escritos e

“comentários” de Antonin Artaud sobre a sua obra pictográfica.

Específicos:

- Aprofundar a análise do conceito de “pictografia” em Artaud, seu funcionamento,

tanto nos textos de Artaud quanto na análise de Jacques Derrida.

- Apresentar e analisar os “sortilégios” de Artaud, relacionado-os com o conceito

de “pictografia” e com as três dimensões que perpassam o conceito de “subjétil”

(o “subjétil” enquanto suporte, figura do Outro, operação mágica e cirúrgica).

- Aprofundar a análise do conceito de “subjétil”, seu funcionamento, tanto nos

textos de Artaud quanto na análise de Jacques Derrida, de maneira a articulá-lo a

com a problemática do desenho (desfigurar o rosto humano, o rosto como

subjétil) e a problemática da língua (enlouquecer a língua, a língua como subjétil).

- Estudar a noção de glossolalia, tal como ela aparece nos diferentes campos do

saber : o literário, o místico, o lingüístico, o psicanalítico, de maneira a articulá-la

com a busca da invenção de uma nova língua em Artaud – estes “vocábulos

corporais” que surgem a partir de 1943.

- Estudar a noção de “escritura vocal” em Artaud, bem como as questões que esta

noção levanta para pensar a oralidade, o trabalho da dicção, do dictame, da

respiração, da entonação e do ritmo, tanto no contexto do trabalho do ator quanto

no contexto da dramaturgia íntima dos cadernos de Rodez e de Ivry.

- Difundir o pensamento e a obra de Antonin Artaud através da realização da

disciplina As Poéticas de Antonin Artaud : contaminações entre a escritura, o

teatro, o desenho) para os alunos do Programa de Pós-graduação em Artes

Cênica da Universidade de São Paulo. Estes seminários visam apresentar uma

12

teoria do corpo e da linguagem própria a Antonin Artaud. Pretende-se mostrar

como foram formulados os primeiros passos de tal teoria, levando-se em

consideração o cruzamento de três poéticas : a do desenho, a da escritura, e a do

teatro.

2. 1 Resultados Esperados

- Produzir estudos, ao longo da pesquisa, versando sobre os seguintes tópicos:

1. 1: delimitação e explicitação dos conceitos de “pictografia”, “subjétil”,

“pensamento do lance”.

1. 2: aprofundamento do contexto histórico no qual as obras estudadas foram

criadas.

1. 3: mapeamento do contexto de sua recepção no meio literário e filosófico

francês.

- Produzir a tradução comentada de textos de Antonin Artaud

3. M E T O D O L O G I A 3.1 Estudos teóricos

O projeto será desenvolvido a partir dos seguintes eixos temáticos:

a) A pictografia em Artaud: a cena do subjétil

b) Os sortilégios

c) Os retratos e auto-retratos

b) As glossolalias de Artaud: a invenção de uma língua-corpo.

13

Privilegiarei como corpus teórico: a iconografia dos desenhos e retratos de

Antonin Artaud, publicada em 1986 no belo livro Antonin Artaud: dessins et portraits.29

Trata-se de estudar primeiramente o corpus de seis “sortilégios” reproduzido nesse livro e

ainda inédito no Brasil : Sort à Lise Deharme (05/09/1937), Sort à Jacqueline Breton

(17/09/1937), Sort à Léon Fouks (08/05/1939), Sort à Sonia Mossé (14/05/1939), Sort à

Roger Blin (22/05/1939), Sort à Hitler (setembro 1939). Em seguida, trata-se de estudar o

conjunto de retratos e auto-retratos reproduzidos nesta mesma obra, relacionando-os com

conceitos ou operadores teóricos extraídos das reflexões de Jacques Derrida -

Enlouquecer o Subjétil (Forcener le subjectile, 1986), já traduzido em português por

Geraldo Gerson de Souza e publicado pela editora Unesp30, e a conferência Artaud le

Moma, pronunciada também por Jacques Derrida no dia 16 de outubro de 1996, no

Museum of Modern Art de New York, na abertura da primeira grande exposição mundial

das pinturas e dos desenhos de Artaud : Antonin Artaud : Works on Paper. Em 2002, esta

conferência foi publicada pelas Edições Galilée com o título Artaud le Moma

Interjections d’appel31. Inédita ainda no Brasil, essa conferência constitui uma excelente

contribuição teórica dedicada aos desenhos e retratos de Antonin Artaud.

A bibliografia crítica selecionada para a pesquisa e os textos de Artaud que serão

traduzidos para o português são o suporte teórico para a análise da obra pictográfica

propriamente dita.

3.2 Tradução Comentada

29 Este livro foi publicado originalmente em alemão (Thévenin, Paule e Derrida, Jacques, Antonin Artaud – Zeichnungen und Portraits. München. Shirmer/Mosel, 1986), e, logo em seguida, em francês (idem, Antonin Artaud: Dessins et portraits. Paris, Gallimard, 1986). 30 DERRIDA, J. & BERGSTEIN, L. Enlouquecer o subjétil. Tradução de Geraldo Gerson de Souza, São Paulo : Editora da Unesp, 1998.d 31 O título Artaud le moma refere-se tanto à temática do nome, do apelido (“Artaud le Mômo”) quanto à temática do museu. MOMA, escreve Derrida, « é o apelido familiar que damos, através o mundo e por abreviação, ao Museum of Modern Art. Mas Artaud le Moma interroga também o estranho acontecimento que representa, em 1996, a exposição das obras de Artaud numa das mais consagradas instituições museais da metrópole nova-yorkina – e do mundo ». Inédito no Brasil, esta conferência constitui uma excelente contribuição teórica consagrada aos desenhos e retratos de Antonin Artaud. O título Artaud le Moma não foi julgado apresentável ou decente pelo MOMA. A conferência, a única que foi dada no museu na ocasião não menciona nenhum título público (“ Jacques Derrida … will present a lecture about Artaud’s drawings”).

14

O segundo momento deste projeto consistirá em traduzir um corpus de textos que

Artaud escreveu sobre a sua obra pictográfica, em Rodez e Ivry, entre 1945 e 1947. A

tradução será realizada pelo professor André Silveira Lage e pesquisadores.

4. C R O N O G R A M A Primeiro ano: 2009/2010

1a etapa: primeiro semestre

Análise crítica da obra pictográfica de Antonin Artaud (os “sortilégios”, “os desenhos

escritos”, os retratos e auto-retratos).

Estudo do suporte teórico (Jacques Derrida) e produção de operadores teóricos para a

análise crítica do corpus de textos e pictogramas selecionados.

Produção de operadores teóricos para a leitura do tema da reinvenção do corpo em

Artaud - tema recorrente tanto na sua obra pictográfica quanto nos textos que dialogam

com a mesma.

Encontros com o supervisor da pesquisa.

2a etapa: segundo semestre

Tradução de um corpus de textos escritos em língua francesa por Antonin Artaud.

Trata-se, em particular, de um corpus de “comentários” que ele escreveu sobre sua obra

pictográfica, em Rodez e Ivry, entre 1939 e 1947.

Redação de ensaios temáticos.

Participação em Congressos, eventos e colóquios.

15

Realização da disciplina as Poéticas de Antonin Artaud : contaminações entre a

escritura, o teatro, o desenho, no Curso de Pós-graduação em Artes Cênicas da

Faculdade de São Paulo – USP.

Encontros com o supervisor da pesquisa.

Segundo ano: 2010/2011

3a etapa: primeiro semestre

Viagem para a França : pesquisa do cadernos de Antonin Artaud na Biblioteca Nacional

Francesa, sobretudo aqueles que se encontram ainda não publicados.

Seleção de um corpus de manuscritos inéditos.

Transcrição e tradução do corpus de textos selecionados.

4a etapa: segundo semestre

Revisão da tradução do corpus de textos que Artaud escreveu sobre sua obra

pictográfica, em Rodez e Ivry, entre 1945 e 1947.

Encontros com o supervisor.

Relatório de conclusão.

16

6. B I B L I O G R A F I A

I. OBRAS DE ANTONIN ARTAUD Em volumes : Œuvres complètes, Paris, Gallimard (Collection « NRF »), 1956-1994. (la réédition de

l’ensemble commence à partir de 1976) : Tome I* : Préambule. Adresse au Pape. Adresse au Dalaï-Lama. Correspondance avec

Jacques Rivière. L’Ombilic des Limbes. Le Pèse-Nerfs suivi de Fragments d’un Journal d’Enfer. L’Art et la Mort. Premiers poèmes (1913-1923). Premières proses. Tric-trac du Ciel. Bilboquet. Poèmes (1924-1935).

Tome I** : Textes Surréalistes. Lettres. Tome II : L’évolution du décor. Théâtre Alfred Jarry. Trois oeuvres pour la scène. Deux

projets de mise en scène. Notes sur les Tricheurs de Steve Passeur. Comptes rendus. A propos d’une pièce perdue. A propos de la littérature et des arts plastiques.

Tome III : Scenari. A propos du cinéma. Lettres. Interviews. Tome IV : Le Théâtre et son Double. Le Théâtre de Séraphin. Les Cenci. Dossier du

Théâtre et son Double. Dossier des Cenci. Tome V : Autour du Théâtre et son Double. Articles à propos du Théâtre de la N.R.F. et

les Cenci. Lettres. Interviews. Documents. Tome VI : Le Moine, de Lewis, raconté par Antonin Artaud. Tome VII : Héliogabale ou l’Anarchiste couronné. Les Nouvelles Révélations de l’Etre.

Lettres. Dossier d’Héliogabale. En Marge des Nouvelles Révélations de l’Etre. Tome VIII : Sur quelques problèmes d’actualité. Deux textes écrits pour « Voilà ». Pages

de carnets. Notes intimes. Satan. Notes sur les cultures orientales, grecque, indienne, suivie de le Mexique et la civilisation et de l’Eternelle Trahison des Blancs. Messages révolutionnaires. Lettres.

Tome IX : Les Tarahumaras. Lettres relatives aux Tarahumaras. Trois textes écrits en

1944 à Rodez. Cinq adaptations de textes anglais. Notes de 1943-1944. Lettres de Rodez suivies de l’Evêque de Rodez. Lettres complémentaires à Henri Parisot.

Tome X : Lettres écrites de Rodez (1943-1944).

17

Tome XI : Lettres écrites de Rodez (1945-1946). Tome XII : Artaud le Mômo. Ci-gît précédé de la Culture Indienne. Dossier d’Artaud le

Mômo suivi de Deux lettres. Dossier de Ci-gît précédé de La Culture Indienne. Tome XIII : Van Gogh le suicidé de la société. Pour en finir avec le Jugement de dieu

suivi de Le Théâtre de la Cruauté. Lettres à propos de Pour en finir avec le Jugement de dieu. Dossier de Van Gogh le suicidé de la société. Dossier de Pour en finir avec le Jugement de dieu suivi de Le Théâtre de la Cruauté.

Tome XIV * : Suppôts et Suppliciations : Fragmentations. Lettres. Dossier de Suppôts et

Suppliciations. Tome XIV** : Suppôts et Suppliciations : Interjections. Dossier de Suppôts et

Suppliciations. Tome XV : Cahiers de Rodez (février-mars 1945). Tome XVI : Cahiers de Rodez (mai-juin 1945). Tome XVII : Cahiers de Rodez (juillet-août 1945). Tome XVIII : Cahiers de Rodez (septembre-novembre 1945). Tome XIX : Cahiers de Rodez (décembre 1945-janvier 1946). Tome XX : Cahiers de Rodez (février-mars 1946). Tome XXI : Cahiers de Rodez (avril-25 mai 1946). Tome XXII : Cahiers du Retour à Paris (26 mai-juillet 1946). Tome XXIII : Cahiers du Retour à Paris (août-septembre 1946). Tome XXIV : Cahiers du Retour à Paris (octobre-novembre 1946). Tome XXV : Cahiers du Retour à Paris (décembre 1946-janvier 1947). Tome XXVI : Histoire vécue d’Artaud-Mômo. Tête-à-tête par Antonin Artaud. Tome XXVII : Cahiers du Retour à Paris (février-mars 1947) [à paraître]. Tome XXVIII : Cahiers du Retour à Paris (avril-mai 1947) [à paraître]. L'Arve et l'aume suivi de 24 lettres à Marc Barbezat, Rhône, L'Arbalète, 1989.

18

Nouveaux Écrits de Rodez : Lettres au docteur Ferdière et autres textes inédits suivis de Six lettres à Marie Dubuc, présentation et notes de Pierre Chaleix, Paris, Gallimard (Coll. « L’imaginaire »), 1977.

Desenhos e retratos : ARTAUD, Antonin, Dessins, Exposition du 5 juillet-30 septembre 1980 au Musée de

l’Abbaye Sainte-Croix, Cahiers de l’Abbaye Sainte-Croix, n° 37, Les Sables-d’Olonne, 1980.

THEVENIN, Paule & DERRIDA, Jacques, Antonin Artaud. Dessins et portraits, Paris,

Gallimard (Coll. « NRF »), 1986. ARTAUD, Antonin, Dessins, Exposition du 30 juin-11 octobre 1987 au Centre-Georges

Pompidou : Musée national d’art moderne, Editions du Centre Georges-Pompidou, Paris, 1987 [texte de P. Thévenin].

ARTAUD, Antonin, Œuvres sur Papier, catalogue de l’exposition au musée Cantini,

Marseille, 16 juin-17 septembre 1995, Paris, Musées nationaux, 1995 [textes de J.-M. Rey et J.-L. Schefer].

ARTAUD, Antonin, Works on Paper, catalogue de l’exposition au Museum of Modern

Art de New York, New York, Harry N. Abrahams, 1996. TEXTOS DE ANTONIN ARTAUD TRADUZIDOS EM PORTUGUÊS a) Edições Brasileiras Os escritos de Antonin Artaud. Traducão, préfacio, seleção e notas por Cláudio Willer, Edições L&PM, Porto Alegre, 1983. Linguagem e Vida : Antonin Artaud. Organização e tradução por J. Guinsburg, S. Fernandes Telesi & A Mercado Neto, ,Edições Perspectiva, São Paulo, 1995. O Teatro e seu Duplo. Traduction de Teixeira Coelho et révision de Monica Stahel. Éditions Martins Fontes, São Paulo, 1993. Van Gogh, o suicida da sociedade. Tradução por Ferreira Gullar. Edições José Olympio, Rio de Janeiro, 2003. b) Edições Portuguesas A Arte e a Morte. Traduzido por Aníbal Fernandes. Edições Hiena. Lisboa, 1985. EU, Antonin Artaud. Tradução e notas por Aníbal Fernandes. Edições Hiena, Lisboa, 1988.

19

Heliogábalo ou o Anarquista coroado. Traduzido por Mário Cesariny, Edições Assírio & Alvim, Lisboa, 1991. O Pesa-Nervos. Traduzido por Joaquim Afonso. Edições Hiena, Lisboa, 1989. Os Tarahumaras. Traduzido por Aníbal Fernandes. Edições Ficções. Lisboa, 1985. História vivida de Artaud – Momo. Éditions Hiena, Lisboa. ??? Os sentimentos atrasam. Tradução por Ernesto Sampaio. Edições Hiena, Lisboa, 1993. Em Plena Noite ou o Bluff Surrealista. Tradução por Paulo da Costa Domingos. Edições Frenesi, Lisboa, 2000. II. ESTUDOS INTEIRAMENTE DEDICADOS A ARTAUD ARANTES URIAS, Corrêa, Artaud. Teatro e Cultura, Campinas (Brésil), Ed. da

Universidade Estadual de Campinas, 1988. BORIE, Monique, Antonin Artaud. Le théâtre et le retour aux sources, Paris, Gallimard

(Coll. « Bibliothèque des Idées »), 1989. DANCHIN, Laurent (sous la direction de), Artaud et l’asile 2. Le Cabinet du docteur

Ferdière, Paris, Séguier, 1996. DUMOULIE, Camille, Nietzsche et Artaud. Pour une éthique de la cruauté, Paris, PUF

(Coll. « Philosophie d’aujourd’hui »), 1992. -, Antonin Artaud, Paris, Seuil (Coll. « Les Contemporains »), 1996. -, Artaud, la vie, Paris, Desjonquères, 2003. DUROZOI, Gérard, Antonin Artaud. L’aliénation et la folie, Paris, Larousse (Coll.

« Larousse Université »), 1972. ESSLIN, Martin, Artaud, São Paulo, Editora Cultrix, 1978. [tr. du portugais par James

Amado]. FLOC’H, Katell, Antonin Artaud et la Conquête du corps, Paris, Association Découvrir

(Coll. « Jeunes Talents »), 1995. GOUHIER, Henri, Antonin Artaud et l’essence du théâtre, Paris, Vrin (Coll. « Essais

d’art et philosophie »), 1974. GROSSMAN, Evelyne, Artaud/Joyce. Le corps et le texte, Paris, Nathan, (Coll. « Le

texte à l’œuvre »), 1996.

20

- Artaud, « l’aliéné authentique », Tours, Farrago, 2003. LINS, Daniel, Antonin Artaud. O Artesão do Corpo sem Orgãos, Rio de Janeiro, Relume

Dumará, 1999. MEREDIEU (DE), Florence, Antonin Artaud. Portraits et gris-gris, Paris, Blusson,

1983. -, Antonin Artaud, les couilles de l’Ange, Paris, Blusson, 1992. -, Antonin Artaud. Voyages, Paris, Blusson, 1992. -, Sur l’électrochoc. Le cas Antonin Artaud, Paris, Blusson, 1996. NOËL, Bernard, Artaud et Paule, Paris, Léo Scheer (Coll. « Lignes »), 2003. PREVEL, Jacques, En compagnie d’Antonin Artaud, n. éd., Paris, Flammarion, 1994. QUILIC, Cassiano Sydow, Antonin Artaud: Teatro e Ritual, São Paulo, Edições

Annablume, 2004. ROUMIEUX, André, Artaud et l’asile 1, Au-delà des murs, la mémoire, Paris, Séguier,

1996. REY, Jean-Michel, La Naissance de la poésie, Antonin Artaud, Paris, Ed. Métailié (Coll. « l’Elémentaire »), 1991. O Nascimento da poesia. Tradução por Ruth Silviano Brandão. Edições Autêntica, Belo Horizonte, 2002. SONTAG, Susan, A la rencontre d’Antonin Artaud, Paris, Christian Bourgois, 1976. [tr.

française par Gérard H. Durand]. -, Sob o signo de Saturno, Tradução por Ana Maria Capovilla e Albino Poli Jr. Edições L&PM, Porto Alegre, 1986. THEVENIN, Paule, Antonin Artaud, ce Désespéré qui vous parle, Paris, Seuil (Coll.

« Essais »), 1993. VIRMAUX, Alain, Antonin Artaud et le Théâtre, Paris, Seghers (Coll. « l’Archipel »), 1970. Traduzido por Carlos Eugênio Marcondes de moura. Edições Perspectiva, São Paulo, 1990. VIRMAUX, Alain & Odette, Artaud : un bilan critique, Paris, Belfond (Coll. « Textes et

critique »), 1979.

21

-, Artaud vivant, Paris, Nouvelles Editions Oswald (Coll. « Lumière sur »), 1980. -, Antonin Artaud, Besançon, « La Manufacture » (Coll. « Qui êtes-vous ? »), 1996. -, Artaud / Dulac : La Coquille et le Clergyman. Essai d'élucidation d'une querelle

mythique, Paris, Paris Expérimental, 1999. VIRMAUX, Odette, Le Théâtre et son double, Paris, Hatier (Coll. « Profil d’une

œuvre »), 1975. III. ESTUDOS PARCIALMENTE DEDICADOS A ARTAUD ADAM, Jean-Michel, « Une « variation ramifiée de la langue » », in, Le Style dans la

langue, Paris, Ed. Delachaux et Niestlé, 1996. BLANCHOT, Maurice, « Artaud », in, Le Livre à venir, Paris, Gallimard (Coll. « Idées »), 1959, pp. 53-62. O Livro por vir, Tradução por Leyla Perrone-Moisés. Edições Martins Fontes, São Paulo, 2005. -, « La cruelle raison poétique », in, L’Entretien infini, Paris, Gallimard, 1969, pp. 432-

438. BRANCO, Lúcia Castelo, Coisa de Louco, Belo Horizonte, Mazza Edições, 1998. DELEUZE, Gilles, Logique du sens, Paris, Minuit, 1969, pp. 101-114. -, « La pensée et le Cinéma », in, Cinéma 2. L’Image-Temps, Paris, Minuit, 1985, pp.

203-245.. -, « Pour en finir avec le jugement », in, Critique et Clinique, Paris, Minuit (Coll.

« Paradoxe »), 1993. -, & GUATTARI, Félix, L’Anti-Œdipe. Capitalisme et schizophrénie, Paris, Minuit,

1972.. -, & GUATTARI, Félix, « 28 novembre 1947 – Comment se faire un Corps sans

Organes », in, Mille Plateaux, Paris, Minuit, 1980, pp. 185-204. DERRIDA, Jacques, « La Parole Soufflée », in, L’Ecriture et la différence, Paris, Seuil (Coll. « Points »), 1967, pp. 253-292. A Escritura e a Diferença. Tradução por Maria Marques Nizza da Silva, Edições Perspectiva, São Paulo, 2002. -, « Le Théâtre de la cruauté et la clôture de la représentation », in, L’Ecriture et la

Différence, Paris, Seuil (Coll. « Points »), 1967, pp. 368-441.

22

-, « Forcener le subjectile », in, Antonin Artaud. Dessins et portraits, Gallimard (Coll. « nrf »), 1986, pp. 55-105. Enlouquecer o Subjétil, traduzido por Geraldo Gerson de Souza. Edições Unesp, São Paulo, 1998. FOUCAULT, Michel, Histoire de la folie à l’âge classique, Paris, Gallimard (Coll.

« Tell »), 1976. -, L’Ordre du discours, Paris, Gallimard (Coll. « nrf »), 1971. -, La Pensée du dehors, Montpellier, éd. fata morgana, 1986. GRECO, Garcia Musso, « SUZ/O/SUZ », in, Coisa de Louco, Belo Horizonte, Mazza

Edições, 1998, pp. 83-93. KRISTEVA, Julia, « Le sujet en procès », in, Polylogue, Paris, Seuil, 1977, pp. 55-106. - « Artaud entre psychose et révolte », Préface à Antonin Artaud. L’énonciation ou

l’épreuve de la cruauté, Genève, Droz, 1997. LYOTARD, Jean-François, Des dispositifs pulsionnels, Paris, 10/18, 1973, pp. 99-100. REY, Jean-Michel, « Poétique de la peinture », in, Antonin Artaud. Œuvres sur papier,

catalogue de l’exposition du Musée Cantinin, Marseille, 16 juin-17 septembre 1995, Paris, Musées Nationaux, 1995, pp. 25-38.

-, Le Tableau et la page, L’Harmattan, 1997. -, « La scène du texte », in , Critique, n°, 271, pp. 1059-1073.

- « La demande de crédit », in, Les promesses de l’œuvre : Artaud, Nietzsche, Simone Weil, Paris, Desclée de Brouwer, 2003, pp. 47-86.

- SCHEFER, Jean-Louis, préface à Antonin Artaud. Dessins, Exposition du 5 juillet-30

septembre 1980 au Musée de l’Abbaye Sainte-Croix (Les Sables-d’Olonne), Cahiers de l’Abbaye Sainte Croix, 37, 1980, pp. 41-52.

-, « … cet essouflement de la conscience… », in, Antonin Artaud, Œuvres sur papier,

catalogue de l’exposition du Musée Cantini, Marseille, 16 juin-17 septembre 1995, Paris, Museaux nationaux, 1995, pp. 41-52.

SOLLERS, Philippe, « Le Pensée émet des signes », in, L’Ecriture et l’expérience des

limites, Paris, Seuil (Coll. « Points »), 1971, pp. 88-104. -, « Artaud contre le spectacle », in, Improvisations, Paris, Gallimard, 1991. - « Sur Artaud », in, Eloge de l’infini, pp.858-881.

23

THEVENIN, Paule, « La recherche d’un monde perdu », in, Antonin Artaud. Dessins et

portraits, Paris, Gallimard (Coll. « nrf »), 1986, pp. 9-53. -, « Un insurgé de l’art », in, Antonin Artaud. Dessins, Exposition du 30 juin-11octobre

1987 au Centre Georges-Pompidou, Editions du Centre Georges-Pompidou, Paris, 1987, pp. 7-16.

TODOROV, Tzvetan, « L’art selon Artaud », in, Poétique de la prose, Paris, Seuil,

1971, pp. 212-224. -, Nous et les autres. La réflexion sur la diversité humaine, Paris, Seuil, 1989, pp. 373-

376. IV. ARTIGOS BOUTHORS-PAILLART, Catherine, « Antonin Artaud et son double. La question de

l’aliénation du dire au théâtre et dans la psychose », Théâtre/Public, n° 121, jan-févr. 1995, pp. 70-76.

BENOT, Yves, « Crier sans fin », Europe, n° 667-668, novembre 1984, pp. 16-24. - « Entendre le cri », La pensée : Revue du rationalisme moderne, n° 188, août 1976, pp

100-116. CERTEAU, Michel, « Utopies vocales : glossolalies », in, Traverses, n° 20 (La voix,

l’écoute), 1980, pp. 26-37. DELEUZE, Gilles, « Le schizophrène et le mot », Critique, n° 255-256, août-septembre

1968, pp. 731-746. DERRIDA, Jacques, « Artaud et ses doubles. Entretien avec M. Olivier », Scènes

Magazines, n° 5, février 1987. DUMOULIE, Camille, « Artaud peintre de Van Gogh », NRF, n° 455, 1990, pp. 68-83. -, « Antonin Artaud ou la cruelle exigence du réel », Critique, n° 522, novembre 1990

pp. 945-958. -, Quand les dieux écrivent : notes sur Nietzsche et Artaud », Roman 20-50, 13 juin

1992, pp. 189-197. LE BOT, Marc, « La maladresse sexuelle de dieu », Corps écrit, n° 1, 1982, pp. 207-214. JACOT Jean-Paul, « Jonction, disjonction : les fragments glossolaliques d’Artaud »,

dans Littérature, n° 113, octobre 1996, pp. 63-78.

24

MEREDIEU (DE), Florence, « La pensée émet des signes, le corps émet des sons »,

Traverses, n° 20 (« La voix, l’écoute »), novembre 1980, pp. 46-53. -, « Artaud/Balthus, peinture et mise en scène », Les Cahiers du Musée National d’Art

Moderne, n° 12, décembre 1983, pp. 217-224. -, « Les dessins d’Artaud », Nouvelle Revue Française, n° 301, février 1983. PIERSSENS, Michel, « Ecrires en langues : la linguistique d’Artaud », Langages, n° 91

(Glossolalie), septembre 1988, pp. 111-117. REY, Jean-Michel, « Les sources d’Antonin Artaud », Ecrits du Temps, n° 3,

(« Ecritures de l’autobiographie »), printemps 1983, pp. 37-53. -, « Mort et résurrection d’Antonin Artaud », Le Matin, 6 mars 1984. -, « Le Moment de Rodez », Magazine Littéraire, n° 206, avril 1984, pp. 43-45. -, « Le crédit de l’œuvre », L’inactuel, n° 5, automne 2000. ROGOZINSKI, Jacob, « Tutuguri ou le mythe d’Artaud », Lignes, n° 3, oct. 2000, pp.

71-76. -, « Dieu est (la) mort : expérience de Dieu dans la folie d’Artaud », Poésie, Belin, 1998,

pp. 115-124. ROSOLATO, Guy, « Artaud : le cri », Nouvelle Revue de Psychanalyse, n° 39,

(« Excitations »), printemps 1989, p. 227-239. -, « L’Expulsion », Obliques, n° 10-11, 1976, pp. 41-49. SOLLERS, Philippe, « La Révélation », Magazine littéraire, n° 206, avril 1984, p. 13 et 14. -, « L’affaire Artaud », Le Monde, vendredi 16 septembre 1994, p. 13 et 15. THEVENIN, Paule, « L’imbécillisation par la beat-generation », Tel Quel, n° 24, hiver

1966, pp. 93-94.. -, « Artaud sans légende », Nouvel Observateur, n° 336, 19 avril 1971. -, « Notes de travail sur les mots forgés par Antonin Artaud dans ce texte » [La

maladresse sexuelle de dieu], Peinture/Cahiers théoriques, n° 1, 1971, pp. 40-42. -, « Préface à regarder de traviole », Café Libraire, n° 3, 1983, p. 121.

25

VIRMAUX, ALAIN & ODETTE, « compte rendu de Artaud. Portraits et gris-gris » par

Florence de Mèredieu, Europe, n° 671, mars 1985, p. 295. WEITZMANN, Marc, « Antonin Artaud à corps et à cris », L’Autre journal, 1, 1993. V. PERIÓDICOS E NÚMEROS ESPECIAIS DE REVISTAS Artaud, Actes de Colloque de Cerisy, U.G.E. (« Coll. « 10/18 »), 1973. Antonin Artaud. Figures et portraits vertigineux, (sous la direction de Simon Harel), Actes du Colloque, mai-juin 1993, Montréal, XYZ éditeur (Coll. “Théorie et Littérature”), 1995. Cahiers Renaud-Barrault, n° 22-23, 1958 et n° 69, 1969. Critique, n° 387-388, août-septembre, (n°consacré aux glossolalies ), 1979. Europe, n° 667-668, novembre-décembre 1984, et n° 873-874, janvier-février 2002. K, n° 1-2, 1948. Langages, n° 91, septembre 1988, (n° consacré aux glossolalies). La Tour de Feu, n° 63-64, décembre 1959 et n° 136, 1977. La Tour de Feu, n° 112, Antonin Artaud : La Santé des poètes, décembre 1971. Magazine Littéraire, n° 61, 1972 et n° 206, 1984. Obliques, n° 10-11, 1976. Obsidiane, n° 5, mars 1979. 84, n° 5-6, 1948. VI. TESES LAGE S., André, Antonin Artaud : le corps et le langage. Universidade Paris VIII, 398 páginas. VII. BIBLIOGRAFIA GERAL ANZIEU, Didier, Le corps de l’œuvre : essais psychanalytiques sur le travail créateur,

Paris, Gallimard, (Coll. « Connaissance de l’inconscient »), 1981.

26

-, Le Moi-Peau, Paris, Dunod (Coll. « Psychismes »), 1985. ARISTOTE, La Poétique, Texte, traduction, notes par Roselyne Dupont-Roc et Jean

Lallot, Paris, Ed. Seuil (coll « Poétique », 1980. AULAGNIER, Piera, La violence de l’interprétation : du pictogramme à l’énoncé, Paris,

P.U.F (Coll. « Le fil rouge. Psychanalyse »), 1986. BARTHES, Roland, Le bruissement de la langue. Essais critiques IV, Paris, Seuil (Coll.

« Points »), 1993. -, Critique et vérité, Paris, Seuil, 1966. -, Le Plaisir du texte, Paris, Seuil (Coll. « Tel Quel »), 1973. BENVENISTE, Emile, Problèmes de linguistique générale, 2 vol., Paris, Gallimard (Coll. « Tel »), 1966. BLANCHOT, Maurice, L’Espace littéraire, Paris, Gallimard (Coll. « Folio/Essais »),

1955. -, La part du Feu, Paris, Gallimard (Coll. « nrf »), 1949. -, L’entretien infini, Gallimard (Coll. « nrf »), (Coll. « nrf »), 1969. CERTEAU, Michel de, L’Invention du quotidien : Arts de Faire 1, Paris, Paris, U.G.E.

(Coll. « 10/&8 »), 1980. -, L’Ecriture de l’histoire, Gallimard, Paris, 1945. COMPAGNON, Antoine, « Les glossolalies : une affaire sans histoire ? », in, Critique,

n° 387-388, août-septembre 1979, pp. 825-838. COURTINE, J.-J., “Des faux en langues », in, Le discours psychanalytique, n° 6, 1983,

pp. 35-47. -, « Les silences de la voix », in, Langages, n° 91 (Glossolalies), septembre 1988, pp. 7-

75. DELEUZE, G., Spinoza et le problème de l’expression, Paris, Minuit, 1968. -, Proust et les signes, Paris, P.U.F., 1970. -, Francis Bacon : Logique de la sensation (2 vol.), Paris, Flammarion, 1981. -, Foucault, Paris, Minuit, 1986.

27

DELEUZE, G. & GUATTARI, F., Qu’est-ce que la philosophie ?, Paris, Minuit, 1991. DERRIDA, Jacques, La Dissémination, Paris, Seuil (« coll. « Points »), 1993. DIDI-HUBERMAN, Georges, Ce que nous voyons, ce qui nous regarde, Minuit,

« Critique », 1992. FLOURNOY, Théodore, Des Indes à la planète Mars. Etude sur un cas de

somnambulisme avec glossolalie, Paris, Seuil, 1983. FOUCAULT, Michel, Les Mots et les choses, Paris, Gallimard (Coll. « tel »), 1966. -, « Qu’est-ce qu’un auteur ? », Bulletin de la société française de philosophie, t. LXIV,

1969. JENNY, Laurent, La Terreur et les signes : poétiques de la rupture, Gallimard, 1982. KRISTEVA, Julia, La Révolution du langage poétique : l’avant-garde à la fin du

XIXème siècle. Lautréamont et Mallarmé, Paris, Seuil, (« Coll « Points »), 1974. -, Pouvoirs de l’horreur. Essai sur l’abjection, Paris, Seuil (Coll. « Points »), 1980. LYOTARD, Discours, figure, Paris, Klinckiesck (Coll. « Esthétique »), 1985. MERLEAU-PONTY, Maurice, Le Visible et l’Invisible, Paris, Gallimard (coll. « Tel »), 1964. -, L’Œil et l’Esprit, Paris, Gallimard (coll. « Folio/Essais »), 1964. NANCY, J.-L., & Lacoue-Labarthe, F., L’Absolu littéraire, Paris, Seuil (coll. « Poétique »), 1978. NANCY, J-L, Corpus, Paris, Métailié (coll. « Sciences humaines »), 2000. PIERSSENS, Michel, Savoir à l’œuvre. Essais d’épistémocritique, Lille, Presses universitaires de Lille (Coll. « Problématiques »), 1990. REY, Jean-Michel, Le Tableau et la page, Paris, L’Harmattan (Coll. « esthétiques »), 1997. SAUSSURE, F. de, Cours de linguistique générale, Ed. Payot & Rivages, 1996. STAROBINSKI, Jean, Les Mots sous les mots, Paris, Gallimard, 1971. SULLIVAN, F. A., “Langues (don des) », in, Dictionnaire de spiritualité, t. IX, 1975,

pp. 223-227.

28

-, « Ils parlent en langues… », in, Lumen Vitae, Revue trimestrielle Internationale et de

Cathéchèse, Bruxelles, vol. XXXI, n° 1, 1976. VALÉRY, P. « Leçon inaugurale du cours de poétique du Collège de France », in, Variété V, Gallimard, 1944. -, « De l’enseignement de la poétique au Collège de France », in, Variété V, Gallimard, 1944. VAN GOGH, V., Correspondance générale, Paris, Gallimard, 1990. - Lettres à son frère Théo, Paris, Gallimard ( coll « L’imaginaire »), 1988. -, L’Art et la révolution, Paris, Ed. Sils Maria (coll. « Les immanents » ), 2001. VIII – ARTIGOS SOBRE AS GLOSSOLÁLIAS ALPHANDERY, P., « La glossolalie dans le prophétisme médiéval latin », Revue de

l’histoire des religions, T. CIII, 1931. BOBON, Jean, Introduction à l’étude des néologismes et des glossolalies en

psychopathologie, Liège, H. Vaillant-Carmanne, Paris, Masson, 1952. CENAC, Michel, De certains langages créés par des aliénés. Contribution à l’étude des

« glossolalies », Paris, Jouve, 1925. CHRETIEN, J.-Louis, « Le langage des anges selon la scolastique », in, Critique, n°

387-388, août-septembre, 1979, pp. 674-689. LOMBARD, Emile, « Essai d’une classification des phénomènes de glossolalie », in,

Archives de psychologie 7, n° I, 1908, pp. 1-51. -, De la glossolalie chez les premiers chrétiens et des phénomènes similaires, Lausanne,

Etudes d’exégèse et de psychologie, 1910. WEISS, S. Allen, « La glossolalie et la glossographie dans les délires théologiques », in,

Langages, n° 91, septembre 1988, pp. 105-110 [tr. de Chantal Thomas].