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PROJETO EM REDE ÁGUA É VIDA por Colégio Guilherme Dumont Villares

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PROJETO EM REDE

ÁGUA É VIDApor

Colégio Guilherme Dumont Villares

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O NOSSO RIACHO CABORÉ

O Tietê é mais importante que o nosso riacho Caboré.Mas não é mais importante que o nosso riacho Caboré,

porque o Tietê não é o nosso riacho Caboré.

O Tietê carrega sujeira e sofás,mas já foi um dia limpo e continua

para aqueles que não se esqueceram do que um dia foi.

Pelo Tietê passa muita gente,gente todo dia, gente toda hora,

gente que sabe que o Tietê desce serra a fora.Mas quase ninguém sabe do riacho Caboré.

Nem onde ele fica,nem onde ele vai.

Só nós conhecemos o nosso riacho.E por isso é mais importante o nosso riacho Caboré.

O Tietê corre da capital para o interior.Com ele desbravou-se o Brasil

e dele faz-se energia.Mas apenas esgoto vem e vai,

no nosso riacho Caboré.

O nosso riacho Caboré não é um gigante, mas é mais importante,

pois é o nosso riacho Caboré.

Maria Antonia Higawa e Gabriel Dourado, alunos da 1ª série do Ensino Médio

(Releitura desenvolvida pelos alunos após sensibilização, análise e leitura do poema de Fernando Pessoa “O rio da minha aldeia”)

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AGRADECIMENTOSUm trabalho coletivo não existe sem pessoas e diálogos, que são o material básico para que possamos materializar qualquer ideia. Muitas são as pessoas que contribuíram com suas ideias, memórias e experiências para a realização desse trabalho.

Agradecemos a colaboração fundamental da Associação Águas Claras do Rio Pinheiros, sem a qual, talvez não percebêssemos, com tanta nitidez, a necessidade urgente de agir. Nossa especial gratidão ao Dr. José Carlos Junqueira Sampaio Meirelles e a Sra. Stela Goldenstein, que nos auxiliaram a estimular sinergias entre os diferentes segmentos da Administração Pública Municipal e Estadual, em prol deste projeto.

Nossa gratidão ao Sr. Gustavo Veronese e ao Sr. Mário Mantovani, da ONG SOS Mata Atlântica̧ que contribuíram para o aprofundamento das discussões e do conhecimento coletivo que possibilitaram a definição de propostas consistentes.

Nosso agradecido reconhecimento a Sra. Dalva Soares Bolognini pela expressiva participação. Aos entrevistados Alexandre Viera de Araújo, Dulce Oliveira, Edna Maria Mendonça Affonso, Guilhermina Reis, Gustavo Veronesi, Josenildo Silva Santos, Maria de Fátima Santana, Polyana Giardino, Raphael Vazami, Ricardo Vieira de Araújo, Roberto Benvenuti, Soraya Moura e Wagner Brandão, nosso respeito e gratidão pelas suas lembranças vívidas e ricos conhecimentos que nos auxiliaram a compor um rico repertório de imagens de época.

Aos nossos mestres e alunos, cuja vontade de fazer acontecer transpôs, literalmente, toda sorte de obstáculos: chuva, lama, alagamento e o próprio tempo, com a inabalável determinação de realizar um trabalho que contribuísse para a construção de um futuro melhor.

Teríamos um caudaloso rio de agradecimentos para fazer a inúmeras pessoas e organizações que contribuíram direta ou indiretamente para que esse trabalho se tornasse realidade e acreditamos que a melhor forma de homenageá-los, seja compartilhando essa experiência compilada nos exemplares de ÁGUA É VIDA que ora publicamos.

Equipe Diretiva Colégio Guilherme Dumont Villares

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ÀS ESCOLAS PEA-UNESCO

“download do arquivo – www.gdv.com.br/escolas_pea. rar”

Atuar em Rede reconforta, traz um sentido de pertencimento, traz um sentimento de que aquilo que eu faço está sendo feito, compreendido, complementado por outros, com os mesmos propósitos e sentidos.

“Atuar em Rede é praticar interdependência na missão e autonomia na ação, interagindo e integrando-se a outros de forma complementar”.

Um dos relevantes motivos para a articulação em Rede de nossas Escolas Associadas à UNESCO, neste projeto, é dar um sentido de movimento, de aliança, de conjunto, de coletividade àqueles que cuidam das Águas por razões semelhantes. Nossas Águas precisam de socorro e é nossa tarefa educativa agir e propor soluções. Enfrentar o problema!

A partir de agora, começamos a atuar em Rede. No decorrer do trabalho, o que você achar muito bom deve ser passado as outras escolas integrantes, para que possa ser preservado, reconhecido, valorizado, continuado, reeditado, referenciado. A sua vitória, a sua realização, a evolução do que você fez, o jeito que você encontrou, o que você observou, o que você conseguiu, significa um avanço seu, um avanço da Rede, um avanço da metodologia e um avanço no objetivo da intervenção na política pública da gestão das Águas com ações educativas, através das escolas PEA-UNESCO.

Tal como na ilustração do mapa aqui disponibilizado, nossas águas podem ser claras, nossa vista pode ser clara... Nosso futuro, através de nossas crianças e jovens, pode ser claro, dependerá apenas da clareza de nossas ideias e da concretude de nossas realizações.

Coordenação PEA-SP 2014

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ÍNDICEApresentação .................................................................................................................................. 11 “O Tietê é mais importante que o nosso riacho Caboré ....................................................... 13

...quase ninguém sabe do riacho Caboré .................................................................................... 15

São Paulo: da taipa ao concreto .................................................................................................... 16

Primórdios Paulistanos ..................................................................................................................... 16

Da bucólica vila à locomotiva do Brasil ...................................................................................... 19

A Metrópole e seus rios ................................................................................................................... 20

“O que nos cabe deste latifúndio” ................................................................................................ 23

Morumbi. ................................................................................................................................................ 23

Vila Sônia. ...............................................................................................................................................27

A Importância da História Oral ..................................................................................................28 O Portal do Morumbi ........................................................................................................................ 28

As histórias que ouvimos......................................................... .......................................................34

Guilherme Dumont Villares: “visionário, empreendedor e benfeitor” ......................................................................................37

O Riacho Caboré nos dias atuais................................................. ........................................... 40 Localização do Córrego Pires-Caboré...................................... .................................................. 42

Registro Fotográfico: aprender a ver ...................................................................................... 51

Registrar para não esquecer: diário de bordo .......................................................................55 1. Da reflexão à mudança: um projeto objetivo ..................................................................59 2.Etapas de pesquisa: estudando o riacho.......................................................................... 60 3.Estudo da Legislação Vigente .............................................................................................. 63 3.1. Algumas considerações teórico-metodológicas............. ......................................... 63

3.2. O projeto municipal “Parque Linear Pires-Caboré” ................................................. 65

4.Nossa Proposta de Intervenção ......................................................................................... 69 a) Iluminação adequada ........................................................................................................ 71

b) Limpeza adequada e unidade estética ....................................................................... 71

c) Reconstrução da ponte e restrição/regularização do trânsito local ............. 71

d) Equipamentos de uso coletivo e de lazer ................................................................. 71

e) Meio ambiente .................................................................................................................... 72

Revitalização em Rede .................................................................................................................73

Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 75

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Sites visitados para pesquisa ....................................................................................................76

Legislação consultada .................................................................................................................76

Anexos .............................................................................................................................................. 77 ANEXO I: Sugestão de Modelo de Formulário de cessão de direitos ...............................77

ANEXO II: Sugestão de Modelo de Diário de Bordo a ser implementado para a pesquisa de campo .............................................................................................................. 78

ANEXO III: Consulta aprofundada do respaldo legislativo para implementação do projeto de intervenção a rios e Córregos ............................................................................ 85

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APRESENTAÇÃOEste trabalho nasce do esforço coletivo, não de uma comunidade escolar ou de alguns professores, mas de um grupo de pessoas, de seres humanos preocupados e sensibilizados com a realidade do seu entorno. Nasce da necessidade de aliar teoria ao pragmatismo e mostrar que é só através do exemplo que se pode fazer a diferença e promover a mudança. Nasce de um olhar mais atento para aquilo que está em abandono e um dia no passado foi um rio...

Há dez anos, nossos mestres e alunos vêm analisando as águas do nosso riacho Caboré e, cada vez mais alarmados, observam que o crescimento e o progresso também são a razão da deterioração, da depredação, da sujidade. Foi o crescimento que transformou o ribeirão em Córrego; foi o progresso que transformou a água em despejo de esgoto; foi a intervenção humana que mudou a paisagem; portanto, é a intervenção humana que pode operar a recuperação, senão do que já tivemos, daquilo que possa ser o mais próximo possível da civilidade e limpeza que desejamos para o futuro, para nossas crianças.

Esta publicação é resultado de um processo de conscientização, pesquisa, registro e proposta de mudança, promovido por professores e alunos.

O corpo docente e discente de nosso colégio, em conjunto com a equipe do SOS Mata Atlântica, realizou diversos estudos do meio, para aferir a qualidade da água, do solo, da vegetação e da paisagem do entorno do riacho Caboré. Ao longo do tempo, percebeu-se que a degradação contínua mudava a paisagem e afetava diretamente a qualidade de vida dos moradores da região.

Desse modo, considerando a culminância da comemoração do Ano Internacional da Cooperação pela Água, celebrado em 2013, o colégio Guilherme Dumont Villares apresenta aos colégios parceiros, às autoridades competentes e à sociedade em geral seu projeto Água é Vida, certo de que essa não é a única e nem a melhor solução, mas é um começo oportuno.

Os alunos, orientados por seus professores, recorreram à História e à Geografia para compreender a realidade em que estão inseridos. Fizemos um minucioso levantamento da história de São Paulo e dos bairros do entorno de nossa comunidade escolar e do riacho Caboré, a fim de compreender como chegamos à realidade que temos hoje. Os alunos das 1as e 2as séries do Ensino Médio tiveram a oportunidade de vivenciar o trabalho de um historiador ou de um geógrafo para além dos livros, fazendo pesquisas in loco e construindo a História a partir de dados empíricos.

De grande valia, foram os testemunhos, entrevistas, fotos e documentos com que os entrevistados contribuíram para a realização material e documental de nossa pesquisa. Em campo, para atuar no processo de aprendizagem e na prática da História Oral, atuaram pequenos entrevistadores: os destemidos alunos dos 8os anos do Ensino Fundamental II tomaram para si canetas, microfones, máquinas fotográficas, câmeras, gravadores e muita, muita vontade para ouvir respeitosamente todos os entrevistados. Estes pequenos heróis aprenderam que a História também se faz de uma boa prosa, desde que documentada, claro.

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Não foi diferente com os alunos dos 9os anos do Ensino Fundamental II. A eles coube a tarefa de visitar muitas vezes o nosso riacho Caboré. Com chuva, com sol, com terra, com lama, com frio, com vento... Lá estavam eles fazendo seus registros fotográficos, escrevendo tudo em seu Diário de Bordo, nessa grande viagem de descoberta de si mesmo. Aquele Córrego, que até então era apenas um problema, tornou-se uma razão para saber mais sobre a realidade do lugar em que esses meninos e meninas vivem.

Diante de toda a documentação obtida, todas as imagens e, sobretudo, da certeza da necessidade de mudança, os alunos das 3as séries do Ensino Médio – descobriram que, para fazer valer os direitos do cidadão, é preciso conhecer a fundo a Constituição do país em que vivem; é preciso ter paciência de compreender os meandros legislativos em níveis federal, estadual e municipal; é preciso pesquisar o que já existe e propor o que pode ser melhorado. Como verdadeiros representantes de sua região, esses jovens compreenderam que podem abraçar uma causa e que a lei serve àquele que dela quer fazer uso. Exerceram seus direitos e, nesse livro, estão suas vozes, seus sonhos, seus desejos e suas aspirações. Através da análise da legislação disponível, propuseram soluções factíveis: não há nenhuma proposta nesse trabalho que não seja realizável, em curto ou em longo prazo.

Porém, tudo isso precisava de um registro maior. Um registro que atendesse à linguagem de nosso tempo. Hoje, o jovem não pesquisa apenas, não é passivo. Para que exista de fato, a “geração tecnológica” anseia por uma linguagem que atinja rapidamente os seus sentidos. Todos os trabalhos de pesquisa, de registros históricos, geográficos, de imagem, cartográficos e iconográficos foram eternizados no filme Água é Vida, cuja realização só foi possível através do empenho das equipes de filmagens, organizadas por professores, alunos e suporte técnico da equipe GDV/TV.

Por fim, desejamos a todos uma leitura inspiradora. Que nossos sonhos possam ser os de outras comunidades escolares, comunidades cidadãs, da sociedade. Que nossos rios possam deixar de ser obstáculo para transformarem-se tão somente no que são: águas. E que elas possam voltar a ser claras. Doces.

Equipe diretiva Colégio Guilherme Dumont Villares.

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“O Tietê é mais importante que o nosso Riacho Caboré.”

Ilustração da aluna Giovanna Furtado Vitorino, 9º ano.

A existência da vida orgânica não prescinde de água. Daí investimentos científicos bilionários para procurar vida fora de nosso planeta – e água – não são mais motes para filmes de ficção científica. A importância da água, hoje em dia, é tão reconhecida que muitas vezes falar sobre ela é, como diz o provérbio popular, “chover no molhado”. Porém, o que se vê no cotidiano de países como o nosso, os “em desenvolvimento”, é uma realidade abismal entre a teoria e a prática, sobretudo quando o assunto é o uso e conservação da água.

O que causa espanto é perceber que, quanto maior o desenvolvimento tecnológico adquirido, maior é o descaso e mau uso da água, assim como de outros recursos, o que pode ser estendido a todos os demais problemas ambientais, de modo que percebe-se que quanto mais primária a sociedade, no sentido tecnológico, melhor é o uso que faz de seus recursos naturais.

As primeiras sociedades humanas, de maneira óbvia e instintiva, desenvolveram-se próximas a grandes rios, dos quais fizeram pleno uso. Perceberam a sua importância e trataram esses rios como grandes aliados ou, até mesmo, verdadeiros deuses. Esta visão pode ser percebida quando estuda-se as civilizações antigas da Mesopotâmia, Egito, Índia, China, Grécia, Roma e da Mesoamérica.

Ao longo da história da humanidade, milhares de grandes cidades se formaram pelo planeta, mas todas tendo como prerrogativa a sua proximidade a grandes rios, favorecendo o seu desenvolvimento e crescimento.

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Porém, essa preciosa aliança - humanos e rios - não demorou muito para mudar. Os rios chegaram até mesmo a serem considerados obstáculos, embora continuassem a ser usados como meios de transporte, abastecimento de água potável, fonte de alimento e lazer. A natureza se impunha à vontade humana: rios cortavam a terra por onde passavam, empurrando o crescimento da população para longe porque precária era a tecnologia. Esta relação de tensão e dualidade pode ser percebida nos períodos medieval e moderno, marcando as histórias dos rios.

A expansão da indústria, a partir do século XVIII, estendendo-se pelo XIX, transformou os rios, espalhados pelas zonas urbanas em desenvolvimento, em verdadeiros esgotos a céu aberto, perdendo todas as suas antigas funções e importância. A vida burguesa urbana se constituía e crescia freneticamente, todavia o avanço tecnológico ainda não apresentava uma solução para resolver o “problema” dos rios.

A partir da segunda metade do século XIX, com o advento da Revolução Técnico-Científica e pleno domínio burguês na vida social e política, a Belle Époque domina o cenário mundial. O luxo, a ostentação e o domínio humano sobre a natureza pareciam não ter fim. Nada, nenhum obstáculo poderia frear tamanha euforia. Como ostentar tamanho luxo em cidades com rios fétidos, irregulares e indomáveis?

As respostas não demoraram a aparecer.

Com o advento da construção de hidrelétricas para abastecer a crescente demanda de energia oriunda dos avanços tecnológicos, cursos dos rios foram modificados de acordo com a necessidade do homem, canalizados, resolvendo, desta forma, inúmeros problemas. Em algumas regiões, a construção de redes de esgoto foi necessária, embora não efetivamente por uma consciência ecológica, já na primeira metade do século XX. Em outras regiões, onde a industrialização foi tardia, os avanços e domínio humano sobre os rios também não foram acompanhados pela sua revitalização e tratamento adequado.

Nossa cidade, a frenética São Paulo, enquadra-se nesta última categoria, com uma industrialização tardia e com uma grande bacia hidrográfica, utilizada por indústrias, população em geral, como uma grande rede de esgoto a céu aberto.

A solução para tal problema não é fácil. Inúmeros projetos já foram apresentados. Bilhões já investidos, porém sem resultados satisfatórios.

A pergunta que permanece é: como o cidadão comum, em seu lar, em seu condomínio, em seu bairro, pode colaborar para resolver um grande problema de sua cidade?

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Ilustração do aluno Henrique Santinato Bertolino, 9º ano.

...quase ninguém sabe do riacho Caboré

A história da cidade de São Paulo, seu crescimento e desenvolvimento ao longo de mais de 450 anos, sempre foi marcada de maneira negativa ou positiva por seus rios. Como descrever a fundação da cidade em pleno século XVI sem citar os rios Anhangabaú e Tamanduateí? Como descrever a ação e importância do Movimento Bandeirante sem citar o Rio Tietê?

Para que se conheça o Caboré, é preciso analisar historicamente a relação humana com os rios na cidade de São Paulo, traçando um paralelo entre a capital e a região do Portal do Morumbi, resgatando a história da metrópole e de seus principais rios.

Nosso percurso vai da história da cidade, quando os rios eram aliados e passaram a ser obstáculos, até serem dominados e mortos, através de um breve relato, para especificamente tratar da história dos rios Tietê e Pinheiros, dos bairros do Morumbi e Vila Sônia e, finalmente dos bairros Pirajuçara e Portal do Morumbi.

Nem tudo se encontra em bibliotecas. Embora os trabalhos acadêmicos publicados na Internet, em sites oficiais (prefeitura, estado e SABESP), em sites de grandes ONGs, imprensa especializada em ciência e em arquivos locais tenham auxiliado a contar o passado, para compreender a história recente da região do Portal do Morumbi, fez-se necessária a realização de entrevistas com moradores antigos, descendentes de proprietários de terras da região, historiadores, bem como corretores de imóveis que atuaram na região: o papel da História Oral tornou-se documento vivo para reviver o Caboré.

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São Paulo: da taipa ao concreto

São Paulo é a maior cidade do Brasil, com uma área de 1525 Km2 e uma população de mais de 11 milhões de habitantes. Sua história teve início em janeiro de 1554, sob o sonho de salvação cristã de um grupo de jesuítas, no alto de uma colina próximo das margens de dois rios. Naquele momento, não era possível pensar que o pequeno povoado que estava nascendo se transformaria em uma das maiores metrópoles do mundo.

São Paulo foi uma cidade bucólica e campestre ao longo dos três primeiros séculos de sua existência, porém nos últimos 150 anos, a metrópole se desenvolveu de maneira desenfreada, maltratando seus recursos naturais em detrimento de seu frenético crescimento econômico.

Primórdios Paulistanos

A fundação de São Paulo foi parte da ocupação e exploração das terras americanas pelos portugueses, a partir do século XVI. Inicialmente, os colonizadores fundaram a Vila de Santo André da Borda do Campo (1553), constantemente ameaçada pelos povos indígenas da região. Nessa época, um grupo de padres da Companhia de Jesus, da qual faziam parte José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, escalaram a Serra do Mar, chegando ao planalto de Piratininga, onde encontraram “ares frios e temperados como os da Espanha” e “uma terra mui sadia, fresca e de boas águas”. Do ponto de vista da segurança, a localização de São Paulo era perfeita: situava-se numa colina alta e plana, cercada por dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú.

Militão Augusto de Azevedo. Igreja e Convento do Colégio (atual Pátio do Colégio), em 1862.

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A data oficial reconhecida para a fundação da cidade de São Paulo é a da conversão de São Paulo, 25 de janeiro de 1554, quando foi rezada a primeira missa no local do colégio fundado pelos jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta que se chamou “Colégio São Paulo de Piratininga”, dando origem ao povoado que se formou ao seu redor. O lugar escolhido foi estratégico, numa elevação entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú, garantindo proteção contra ataques e ampla visibilidade dos caminhos que levavam até lá. Atualmente, o local é conhecido como Pátio do Colégio e mantém parte da colina histórica preservada.

Em 1560, o povoado ganhou foros de Vila e pelourinho, mas a distância do litoral, o isolamento comercial e o solo inadequado ao cultivo de produtos de exportação, condenou a Vila a ocupar uma posição insignificante durante séculos na América Portuguesa.

Em 1681, São Paulo foi considerada cabeça da Capitania de São Paulo e, em 1711, a Vila foi elevada à categoria de Cidade. Apesar disso, até o século XVIII, a cidade continuava como um quartel-general de onde partiam as “bandeiras” - expedições organizadas para apresar índios e procurar minerais preciosos nos sertões distantes. Ainda que não tenha contribuído para o crescimento econômico de São Paulo, a atividade bandeirante foi a responsável pelo devassamento e ampliação do território brasileiro a sul e a sudoeste, na proporção direta do extermínio das nações indígenas que opunham resistência a esse empreendimento.

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Ilustração do aluno Guilherme Francisco da Silva Camargo, 9º ano.

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Da bucólica vila à locomotiva do Brasil

Durante os três séculos iniciais, a cidade de São Paulo esteve contida em seu sítio original, uma pequena elevação entre o rio Tamanduateí e o ribeirão Anhangabaú. O crescimento vertiginoso da urbs iniciou-se com a instalação da ferrovia Santos-Jundiaí na segunda metade do século XIX. A posição estratégica da cidade, como passagem obrigatória entre o porto e as rotas de escoamento do café (então plantado em quase todo o interior paulista), levou à modernização radical de sua estrutura econômica e urbana.

Na passagem do século XIX ao XX, a cidade já estava totalmente transformada. O comércio se diversificou, atraindo todo tipo de atividade, como casas de câmbio e hotéis. A área urbanizada cresceu para atender ao rápido aumento da população, principalmente com a vinda de imigrantes estrangeiros, em sua maioria italianos, portugueses, espanhóis, sírio-libaneses, japoneses e judeus.

Guilherme Gaensly, Rua Libero Badaró, em 1920

A industrialização se acelera após 1914, durante a Primeira Grande Guerra, mas o aumento da população e das riquezas é acompanhado pela degradação das condições de vida dos operários que sofrem com salários baixos, jornadas de trabalho longas e doenças. Só a gripe espanhola dizimou oito mil pessoas em quatro dias.

Os operários se organizam em associações e promovem greves, como a que ocorreu em 1917 e parou toda a cidade de São Paulo por muitos dias. Nesse mesmo ano, o governo e os industriais inauguram a exposição industrial de São Paulo no suntuoso Palácio das Indústrias, especialmente construído para esse fim. O otimismo era tamanho que motivou o prefeito Washington Luís, a afirmar, com evidente exagero: “A cidade é hoje

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alguma coisa como Chicago e Manchester juntas”.

A partir dos anos 30, ao atingir um milhão de habitantes, a cidade assume um perfil de metrópole industrial. Começa a verticalização da área central e a construção de vários bairros industriais e operários, como o Edifício Martinelli, maior arranha-céu de São Paulo, à época, com 26 andares e 105 metros de altura, inaugurado em 1934.

A década de 40 foi marcada por uma intervenção urbanística sem precedentes na história da cidade. O prefeito Prestes Maia colocou em prática o seu “Plano de Avenidas”, com amplos investimentos no sistema viário. Nos anos seguintes, a preocupação com o espaço urbano visava basicamente abrir caminho para os automóveis e atender aos interesses da indústria automobilística que se instalou em São Paulo, em 1956.

A cidade continuava crescendo de forma vertiginosa. O marco simbólico dessa urbanização acontece na comemoração do 4º Centenário da cidade de São Paulo, em 1954, sob o lema ufanista “São Paulo não pode parar”.

Nas décadas seguintes, a vinda de população imigrante e migrante para São Paulo acabou gerando a construção de bairros irregulares nos espaços vazios do sítio urbano, tecendo uma estrutura totalmente caótica de cidade.

Atualmente, vivem em São Paulo mais de 10 milhões de pessoas, sendo que quase um milhão habita favelas. Por São Paulo, trafegam quase seis milhões de veículos, diariamente.

A Metrópole e seus rios

Rio Pinheiros 1930. FONTE: http://vilamundo.org.br/2011/12/enterrados-vivos-a-saga-dos-rios-de-pinheiros/

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A cidade de São Paulo é banhada por uma série de rios, destacando os rios Tietê e Pinheiros. Durante séculos, esses rios sinuosos e com regimes de cheias irregulares transformaram a vida da cidade, tornando-se fronteiras naturais ao seu crescimento – o rio obstáculo. Na região sul, durante quatro séculos, o Rio Pinheiros foi o marco divisor da cidade, o espaço intransponível e limitador do crescimento e da urbanização.

Até os anos 1940, os rios Tietê e Pinheiros foram os grandes locais de lazer e práticas esportivas da cidade. Suas águas serviam como principal atrativo da maioria dos clubes da cidade que instalaram as sedes em suas margens – eram os famosos clubes de regatas, dentre os quais se destacaram os Clube de Regatas Tietê e Clube Esperia.

Rio Tietê – 1905. FONTE: Coleção Folha de São Paulo Antiga

Porém, nem tudo eram flores. Desde tempos remotos, suas inundações causavam espanto e admiração à população, como relato de crônicas publicadas no Jornal O Estado de São Paulo em janeiro de 1919 e assinadas pelo jornalista “P.”:

“Fui ontem, com alguns amigos, ver a enchente do Tietê, sobre a qual corriam pavorosas versões na cidade, chegando-se até a dizer que a Ponte Grande viera abaixo... Fomos, como toda gente por mera curiosidade. Há quanto tempo não se registrava uma enchente assim! [...] Quero ver ainda umas ruas vizinhas à Ponte Grande e à Ponte Pequena, onde habitam famílias das mais pobres e humildes da cidade. Mal dou alguns passos, porém, e sou abordado por um italiano que não sei por que me reconheceu. E sem que lhe perguntasse nada, o pobre homem conta-me a sua desgraça: a casa inteira invadida pelas águas, todos os trajes perdidos – até 120 mil-réis que guardara tão bem guardados![...]1

A cidade de São Paulo crescia freneticamente. Faltavam espaços seguros para a expansão territorial, para a circulação de pessoas e dos novos meios de transporte. O abastecimento

1 SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole. São Paulo sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Cia das Letras, 1992. p. 29 -30.

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de energia elétrica era insuficiente. As propostas de intervenção nos rios Tamanduateí, Pinheiros e Tietê, em função principalmente da valorização imobiliária, existiam desde a década de 1880, porém estudos concretos só tiveram início a partir de 1920. Em 1937, as obras de retificação do Tietê, sob o governo municipal de Prestes Maia, foram iniciadas. Os ambiciosos projetos, além da tentativa de domar os rios, previam um planejamento urbano de criação de grandes avenidas por suas margens e por toda a cidade.

Esse processo foi comemorado com entusiasmo pela população e autoridades:

“O primeiro passo para conquista das várzeas do Tietê. Quase concluídos os estudos de um grande plano de urbanística nas imediações da Ponte Grande – Novo traçado da Avenida Tiradentes, que terá a extensão de três quilômetros – Avenidas para o alto de Santana, Carandiru, Chora Menino e Casa Verde – Linhas gerais do importante projeto que vai ser fixado. A retificação do rio tietê é elemento de maior importância para a urbanização de uma faixa enorme da capital paulista”.2

Já o rio Pinheiros, que desagua no Tietê, sofreu mudanças desde as primeiras levas migratórias do século XX, que se instalaram próximas às suas margens. A partir de 1940, iniciaram-se obras de retificação e a instalação da usina Henry Borden, com o intuito de acabar com as enchentes geradas pelo rio, além da geração de energia para atender as necessidades do homem. Com o decorrer dos anos, as atividades humanas comprometeram a qualidade das águas, tanto do rio Pinheiros quanto do rio Tietê, sendo a situação agravada pela poluição de seus afluentes, dentre esses a Bacia do rio Pirajuçara, que é afluente da margem esquerda do rio Pinheiros.

Reportagem do Jornal O Estado de São Paulo do dia 16 de janeiro de 1938.

O rio Pirajuçara também teve destino similar ao de seus irmãos maiores, Tietê e Pinheiros, sendo utilizado, por muito tempo, como fonte de abastecimento, lazer, pescaria. Tornou-se rio obstáculo com a urbanização de suas margens, como noticiado no Jornal A Gazeta de Pinheiros de 27 de fevereiro de 1959:

“O angustiante problema das inundações continua a preocupar a vida dos moradores de nossa região. Segundo informações que chegaram ao nosso conhecimento, o Córrego Pirajuçara, que se estende por grande setor de nossa região está ameaçando de desabamento várias casas situadas nas imediações da Estrada Francisco Morato. [...] A fim de impedir que tal ameaça venha a se concretizar em futuro próximo, necessário se forma que medidas urgentes sejam determinadas pelas autoridades competentes. Entre elas figuram sua canalização e limpeza periódica de seu jeito.”3

2 http://blogs.estadao.com.br/reclames-do-estadao/tag/tiete/3 Citado em SILVA, Marco Antônio Teixeira. O Ambiente Fluvial das Várzeas no Espaço da

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Não tardou para que a canalização do Pirajuçara no curso da Avenida Eliseu de Almeida fosse concretizado, atendendo ao clamor da imprensa, mas isso não resolveu o problema das inundações, comuns ao longo das décadas posteriores.

Enquanto isso, a cidade se industrializava e crescia rapidamente. Sua população aumentava de maneira vertiginosa. Porém, contrariando o esperado, as preocupações com o esgoto e poluição da bacia hidrográfica que banhava a cidade não existiam. A partir da década 1940, as práticas esportivas nos rios Tietê e Pinheiros foram proibidas. Em pouco tempo, a população foi encontrando novas áreas de lazer: os clubes construíram piscinas para a prática de esportes aquáticos e as margens dos rios foram abandonadas.

“O que nos cabe deste latifúndio”

O Colégio Guilherme Dumont Villares está localizado junto à Avenida Doutor Guilherme Dumont Villares, 723. Faz parte do bairro Vila Suzana, que se integra ao distrito da Vila Sônia, subprefeitura do Butantã. Devido aos aspectos geográficos, sua região foi fortemente influenciada pela ocupação urbana dos bairros do Morumbi e da Vila Sônia.

Morumbi

Morumbi é um distrito da cidade de São Paulo formado por 18 bairros e uma população estimada em aproximadamente 47 mil habitantes, segundo Censo 2010.

A área fazia parte da chamada Fazenda Morumby, uma imensa área de mata fechada com 500 alqueires (cerca de 12 km2) que se estendia da margem do Rio Pinheiros até

Metrópole: a Bacia do Pirajuçara na Metropolização de São Paulo. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2009. p. 122.

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Santo Amaro. Seu nome possui duas interpretações: uma corruptela de Meru-obi, que significa mosca verde, ou Marâ-bi, que significa luta oculta. A região pertencia aos jesuítas durante o período colonial, até que Portugal decidiu expulsar os religiosos da Companhia de Jesus de todos os seus territórios, em 1759. Devolvidas à coroa portuguesa, essas terras a pouco mais de 15 quilômetros do centro de São Paulo, permaneceram como um lugar no meio do nada, até 1820, quando o governo de Dom João VI decidiu doá-las ao inglês John Rudge.

O imigrante iniciou prósperas plantações de chá e vinhedos para produzir por aqui as bebidas que até aquela época tinham de ser importadas. A partir de 1840, a Fazenda Morumby foi mudando de mãos, até que, no começo do século XX, uma praga levou seu então proprietário, Antonio Diederichsen, a desfazer-se das terras. Os donos que sucederam começaram a retalhar o espaço em chácaras, que foram adquiridas por diversas famílias abastadas de São Paulo e por imigrantes em busca de novas oportunidades, que seriam a semente dos loteamentos que compõem o Morumbi.

Esse processo só se intensificou a partir dos 1940, quando já havia certa saturação nas regiões residenciais de Cerqueira César e Higienópolis.

Figura emblemática do Morumbi, o engenheiro Oscar Americano, dono da Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), e a Companhia Imobiliária Morumby, aproveitou o crescimento da cidade para oferecer aos paulistanos a oportunidade de morar num lugar que era realmente distante do centro, mas que oferecia lotes residenciais de tamanho generoso e com muito verde. Faz parte deste processo o loteamento próximo à casa que era a sede da antiga fazenda, nos moldes de bairros como o Jardim América, o que atraiu diversas famílias abastadas.

O próprio engenheiro Oscar Americano foi um dos primeiros moradores do bairro. Durante a década de 1940, sob o projeto do arquiteto Oswaldo Arthur Bratke, construiu sua residência com mais de 1500 m2 e um parque com diversas espécies da flora nacional e estrangeira, integrando-se a casa.

Residência de Oscar Americano em 1974. FONTE: Fundação Maria Luísa e Oscar Americano.

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Paralelamente, o poder público iniciou uma série de construções relacionadas à acessibilidade, em especial a construção de grandes pontes sobre o Rio Pinheiros, que até então se apresentava como o grande obstáculo para o desenvolvimento da região oeste da cidade, visto que o rio cortava a cidade de norte a sul. As pontes Eusébio Matoso, inaugurada em março de 1940, e Engenheiro Roberto Rossi Zuccolo (atual Ponte Cidade Jardim), inaugurada em 1967, são exemplos dessas construções.

Com os novos acessos, houve uma valorização muito grande da região oeste da cidade e, a partir dos anos 50, o que era terra começou a virar asfalto.

A Companhia City, referência no loteamento dos chamados bairros-jardim, implantou o Jardim Guedala perto dos novos marcos do Morumbi. Hoje, suntuoso e repleto de mansões, o Jardim Guedala nasceu como uma opção para os paulistanos de classe média.

O bairro do Morumbi “era do outro lado da colina”, e os acessos para o mundo além rio Pinheiros limitavam-se a algumas poucas ruas e avenidas, algumas delas de terra. Nasceu com status de bairro nobre - grandes casas ocupavam enormes terrenos nas imediações da Rua São Valério, uma das poucas que ligavam a Avenida Francisco Morato ao bairro de Cidade Jardim. Hoje, mais de 50 anos depois, essa mesma rua é uma via congestionada como tantas outras.

A década de 60 foi decisiva para o crescimento do bairro. Em outubro de 1960, foi inaugurado o Estádio Cícero Pompeu de Toledo (São Paulo Futebol Clube). Um ano depois foi entregue a nova sede da Escola Graduada Americana, em seu atual endereço na Avenida Giovanni Gronchi, assim como o Colégio Santo Américo em uma travessa da mesma avenida.

Fonte: Arquivo histórico SPFC

Em 1964, o governador Adhemar de Barros negociou com a família Matarazzo, em troca de dívidas fiscais do grupo com o Estado, o enorme prédio que, desde 1970, na gestão de Roberto Sodré, é sede do Governo do Estado de São Paulo.

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Enquanto grandes empreendimentos nasciam no Morumbi, aos poucos, lindas casas eram construídas na área que foi da família Oscar Americano.

Palácio dos Bandeirantes – 1970. FONTE: http://fotos.estadao.com.br

No final dos anos 60, início dos 70, a classe média se interessou de fato pela região. Com a saturação de bairros como Itaim Bibi, Campo Belo, Brooklin, Moema, Pinheiros, surgiram os empreendimentos vultosos do bairro: Condomínio Portal do Morumbi, Hospital Albert Einstein, Colégio Visconde de Porto Seguro, muitas casas e alguns grandes prédios residenciais. Com eles, surgiu o comércio: padarias, açougues, sapateiros, lavanderias. Supermercado ainda não havia. Por conta dos grandes espaços, dois cemitérios foram inaugurados: o da Paz (1965) e o Morumbi (1968).

Com grande demanda populacional, começaram a surgir espaços de lazer por todo o bairro, que se tornaram uma de suas marcas: Parque Alfredo Volpi (1970), Parque Burle Marx (1995) e Praça Vinicius de Moraes.

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Vila Sônia

Vila Sônia é um distrito da cidade de São Paulo formado por 32 bairros e uma população estimada em aproximadamente 109 mil habitantes, segundo Censo 2010. Seu desenvolvimento ocorreu na década de 1950. Originalmente, o terreno pertencia ao médico Antonio Bueno e a Joaquim Manuel da Fonseca e recebeu este nome em homenagem a uma das filhas de Antonio Bueno. O bairro Vila Sônia faz divisa com o bairro do Morumbi e com o município de Taboão da Serra.

Assim como os terrenos da antiga Fazenda Morumby, a área da Vila Sônia pertencia aos jesuítas até o século XVIII. Até 1915, as terras passaram por diversas famílias, quando foram vendidas para Companhia City, em conjunto com as demais áreas do Butantã.

Desta forma, no início do século XX, a Companhia City começou o loteamento da região, com empreendimentos de alto padrão. Na década de 50, foram loteados os bairros da Vila Londrina e Vila Jussara, gerando muita procura e forte urbanização para a Vila Sônia.

Propaganda Loteamento Vila Londrina – 1954. FONTE: arquivo Cia City.

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IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA ORAL

“Mas quase ninguém sabe do riacho Caboré. Nem onde ele fica, nem onde ele vai.”

O Portal do Morumbi

Portal do Morumbi é um condomínio de prédios localizado na extremidade oeste do Distrito da Vila Sônia, na cidade de São Paulo, inaugurado em 1976. Atualmente, devido à referência histórica “Portal do Morumbi”, houve a associação do topônimo com toda a região próxima ao condomínio, abrangendo, desta forma, os bairros do Jardim Caboré, Vila Suzana, Vila Andrade, Vila Praia, Jardim Taboão.

A história recente do Portal do Morumbi e a escassez de documentação poderiam ser empecilhos para que a história do Caboré fosse escrita. Mas, a pesquisa, matéria didática por excelência, tão afeita a uma escola, somada à vontade de relatar, documentar e promover a mudança, não impediu que o curso natural das descobertas sobre o nosso Caboré se fizessem. Quando escassearam os documentos, entrou em cena a História Oral.

A História Oral vai muito além de uma entrevista. Antes de tudo, ela é a arte de escutar e de se abrir às experiências dos outros. Uma história do bairro feita com a História Oral parte da certeza de que as pessoas entrevistadas podem transformar o nosso olhar sobre o bairro. Cada pessoa compartilha diferentes histórias, problemas, aflições e alegrias. Um acervo de histórias orais sobre um determinado tema é um tecido de experiências, valores e perspectivas.

Sem negar a vocação de escola, o grupo de alunos do 8º ano do Ensino Fundamental do colégio Guilherme Dumont Villares foi apresentado à técnica da História Oral e foram a campo garimpar o que há de mais precioso no povo: histórias!

Realizar discussões teóricas sobre a História Oral para alunos do 8º ano, com aproximadamente 12 anos de idade, foi um desafio muito enriquecedor. A principal preocupação foi torná-las acessíveis, sem negligenciar as questões éticas e históricas envolvidas.

Apoiados na teoria do historiador Alessandro Portelli, construiu-se a ponte para a prática e foi possível constituir alguns pontos de partida seguros para o andamento do trabalho:

• a valorização das fontes orais para a História;

• o respeito às experiências e memórias do outro;

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• o estímulo à criatividade dos alunos durante a preparação e a realização das entrevistas.

O uso da fonte oral no ensino de História proporcionou, simultaneamente, a valorização das experiências pessoais dos entrevistados, a sensibilização sobre a situação do Córrego Caboré e, sobretudo, a formação de alunos sensíveis à escuta do outro.

Dessa maneira, o trabalho, além de se constituir em uma ação de mobilização ambiental, proporcionou conteúdos atitudinais, procedimentais e conceituais4 importantes para a formação desses alunos.

Sensibilizar os jovens moradores do bairro a construir sua própria história foi o primeiro passo para estabelecer a discussão sobre os bairros próximos ao Colégio e sobre o que era um bairro e um distrito, uma vez que todos os bairros da região são identificados genericamente, na linguagem cotidiana, como Morumbi. Foram analisadas as classificações oficias, sem, no entanto, deixar de reconhecer a noção de bairro também como um sentimento de pertencimento e de identidade em relação a um determinado lugar.

Curiosamente, observou-se que o riacho Caboré passou a ser denominado Córrego, forma como é conhecido hoje pela população local, o que já aponta para uma forma diferente de ver e se relacionar com o rio, inclusive apontando para o fim a que se destina hoje: esgoto da maior parte da região.

As discussões apontaram para preocupações que se tornaram perguntas e que podem ser pertinentes a qualquer lugar, a qualquer rio:

• Os moradores reconhecem o Córrego Caboré, entre a rua Luiz Migliano e a avenida Guilherme Dumont Villares, como um patrimônio a ser protegido?

• Quando os bairros próximos ao Colégio Guilherme Dumont Villares foram habitados?

• Por que as pessoas vieram morar nessa região?

• Qual é o perfil socioeconômico dos moradores do bairro?

• O que é um bairro e um distrito?

• Como as pessoas nomeiam e descrevem o bairro? Elas usam as classificações oficiais da prefeitura? Por quê?

• Como o bairro é reconhecido na memória afetiva dos seus moradores?

• Como foi e como é a relação do bairro com a questão da água? Há ou já houve problemas envolvendo abastecimento, enchentes, esgoto, saneamento básico, entre outros?

• O Córrego Caboré sempre foi poluído e descuidado? Quando ele começou a ter os problemais atuais? As pessoas se preocuparam quando os problemas começaram?

• As pessoas se preocupam com o Córrego hoje? As pessoas se referem ao Córrego ou ele não participa do dia a dia dessas pessoas?

• Há uma cultura de uso sustentável da água entre os moradores do bairro?

4 COLL, César et al. Os Conteúdos da Reforma: ensino, aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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• Como os moradores imaginam o bairro daqui a 50 anos? Como elas imaginam que estará a questão da água no bairro e do Córrego daqui a 50 anos?

A partir dessas questões, os alunos iniciaram as suas pesquisas. Buscaram informações sobre o bairro na Prefeitura de São Paulo, no IBGE e na imprensa. Em seguida, iniciaram os contatos com familiares, vizinhos e conhecidos para a identificação de possíveis entrevistados, cujos critérios estabelecidos foram:

• Morador do bairro ou entrevistado com informações relevantes para o projeto;

• Entrevistados que tivessem histórias para contar, fossem elas trágicas, tensas, tristes ou alegres;

• Entrevistados que pudessem falar sobre o Córrego ou sobre a questão da água no bairro;

• Pessoas com disponibilidade e interesse em contribuir para o projeto.

Os entrevistados representaram significativamente o processo e conseguiram propiciar uma interessante reflexão sobre a relação dos moradores com o riacho Caboré.

O papel do entrevistado, nesse momento, foi muito importante para a escrita da história. Além do relato, foi solicitado que fornecessem documentos sobre o tema da entrevista, como fotos, recortes de jornais, objetos, que podiam provocar muitas lembranças, úteis para o tecido narrativo.

Uma vez escolhidos os entrevistados e agendadas as entrevistas, os alunos cumpriram importantes etapas de preparação:

• Discussão e redação do roteiro para a entrevista como referência mínima, com 20 a 30 perguntas subdividadas em:

a. A trajetória de vida no bairro: essas perguntas, feitas no início, permitiram que o entrevistado se apresentasse e explicasse a sua inserção na região;

b. A questão da água no bairro: essas perguntas, feitas no meio da entrevista, provocaram a narração de histórias, opiniões e experiências sobre esse tema;

c. As perspectivas de futuro: as perguntas conclusivas permitiram que o entrevistado fizesse uma reflexão sobre os temas comentados e emitisse opiniões e projeções de futuro.

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Gustavo Veronesi, geógrafo da SOS Mata Atlântica.

Perfazendo esses três blocos, as entrevistas ganharam um planejamento compartilhado e abordaram questões comuns e atinentes à pesquisa dos alunos:

• Entrega prévia dos roteiros ao professor;

• Devolução do roteiro aos alunos com sugestões e comentários;

• Orientação para que a realização de perguntas espontâneas e adaptações que pudessem ocorrer no momento da entrevista;

• Realização da entrevista.

No momento da entrevista, retomamos o pressuposto básico da História Oral: a disposição para escutar o outro. Essa disposição não se expressa apenas na fala, mas na maneira como o grupo conduz o trabalho. Alguns cuidados práticos foram necessários para a produção de um ambiente propício:

• Receber bem o entrevistado e deixá-lo em um local confortável;

• Deixar a sala livre de barulhos externos e sem a movimentação de pessoas;

• Verificar se os equipamentos de gravação estão funcionando e fazer a apresentação do entrevistado;

• Estar atento ao que o entrevistado está dizendo;

• Não cortar a fala do entrevistado. Sempre esperar que ele termine o raciocínio e só depois fazer outra pergunta;

• Se houver necessidade, criar novas perguntas a partir da fala do entrevistado;

• Se houver necessidade, mudar a ordem das perguntas do roteiro ou cancelar alguma pergunta já respondida;

• Apresentar o termo de Cessão de Direitos de Depoimento Oral e Uso de Imagem para conhecimento e assinatura do entrevistado (Anexo I).

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Esses cuidados foram discutidos como um conjunto de práticas e posturas imprescíndiveis para a realização de um bom trabalho. Ao acompanhar algumas entrevistas realizadas na escola, foi gratificante notar como a preparação prévia e as discussões em sala de aula possibilitaram a preocupação com os conteúdos atitudinais e procedimentais.

Um bom exemplo de entrevista de sucesso se deu com o Sr. Alexandre Araújo Vieira, funcionário da escola e antigo morador da região que, ao ser entrevistado por dois grupos atentos e curiosos, sentiu-se muito à vontade e desenhou um mapa da região a partir de suas memórias.

Os alunos conseguiram criar um espaço para a escuta do outro e puderam adquirir aprendizagens importantes, como valorizar a experiência do entrevistado, respeitar a fala alheia e, ainda, refletir sobre a questão do uso da água no bairro a partir dessas experiências e reflexões.

Alexandre Araújo Vieira, funcionário do Colégio Dumont Villares e antigo morador da região, ao desenhar um mapa da região nos anos 60.

Outro passo importante executado pelos alunos foi à transcrição das entrevistas. A partir de discussões sobre a importância da transcrição para a difusão do acervo de entrevistas na linguagem escrita, os alunos socializaram exemplos de acervos de História Oral existentes e compreenderam, também, a importância da difusão desses acervos. Depois destes passos, sentiram-se sensibilizados a produzir seu próprio acervo. A base das pesquisas demonstradas aos alunos foram projetos disponíveis na internet:

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• Projeto de Memória Oral da Biblioteca Mário de Andrade5;

• Museu da Pessoa6;

• Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV)7.

A divulgação do acervo no caso do riacho Caboré é muito importante, pois está ligada diretamente à educação ambiental e à capacidade de sensibilizar o maior número de pessoas sobre o uso sustentável da água e a preservação dos Córregos e rios.

Destacar os aspectos orais e de memória da região foi um grande aprendizado. A transcrição, à primeira vista, pode ser classificada como uma atividade fácil e mecânica, mas foi, trabalhosa, difícil, porém muito interessante. Esses registros da atividade humana, em toda sua complexidade, por meio do trânsito entre a linguagem oral e a escrita, constitui-seem um rico documento8. Compreender que a língua falada possui usos distintos da língua escrita foi fundamental para o sucesso das entrevistas. Para realizar um trabalho, deste porte, é preciso ter atenção aos seguintes aspectos:

• Criar uma pontuação adequada para o sentido da fala do entrevistado. Duas frases podem ter sentidos opostos dependendo do uso da vírgula. Por exemplo: para a pergunta “você morou aqui depois do seu casamento?”, pode se transcrever as respostas “não, morei aqui sempre” ou “não morei aqui sempre”, cujos sentidos são diferentes.

• Modificar as contrações comuns na fala: “tá” (está), “tô” (estou), pra (para) etc.

• Registrar com reticências as frases interrompidas. Por exemplo: “eu me mudei...”, “eu acho...” etc.

• Registrar silêncios significativos e as emoções (riso, silêncio, choro etc).

O último passo foi a análise da entrevista e a consolidação de todas as etapas anteriores em um trabalho escrito com a seguinte estrutura:

a. Histórico do bairro (a partir dos documentos pesquisados na Internet);

b. Perfil biográfico do entrevistado;

c. Transcrição da entrevista;

d. Análise da entrevista;

A partir da análise do material obtido, os alunos realizaram uma reflexão final e avaliaram como as entrevistas contribuíram para enriquecer o tema pesquisado e para responder às questões iniciais. Reunidos os subsídios, o próximo passo foi documental: textos e gravações em áudio e vídeo. Esse acervo pode ser útil para futuras consultas de outros alunos e para a difusão da preocupação com a questão ambiental não só circunscrita ao local de origem, mas aplicável a qualquer outro local afetado por problemas ambientais.

5 http ://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretariascultura/bma/memoria_oral/index.php? p=7962

6 http://www.museudapessoa.net

7 http://cpdoc.fgv.br/acervo/historiaoral/entrevistas8 ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2008.

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Os trabalhos compõem uma contribuição da cultura escolar produzida pelo Colégio Guilherme Dumont Villares e se converteram em uma ação social e política para transformar os rumos da história de poluição e abandono do riacho Caboré. Quando a escassez documental se fez, “os pequenos pesquisadores” foram à caça de histórias e, graças a elas, esse trabalho foi possível.

A aluna Beatriz Grigolli (à esquerda) observa as fotos de família, ao entrevistar a filha Guilhermina Francisca Reis e a neta Ana Cristina Reis (à direita) do engenheiro Guilherme Dumont Villares, que

foi um dos primeiros moradores da região.

As histórias que ouvimos...

Segundo relato da historiadora Soraya Moura, que está em fase final de pesquisa e publicação de um livro sobre a História do Colégio Guilherme Dumont Villares e o patrono que empresta seu nome ao nosso colégio, a região onde atualmente se localiza nossa escola, o “Portal do Morumbi”, nos idos dos anos 1920, era uma região de difícil acesso e basicamente formada por chácaras de veraneio e de pequenos sítios. Nesta época, a região fazia parte do distrito de Santo Amaro, assim como o atual município do Taboão da Serra. Segundo a pesquisadora,

“A história começou em 1915, 1920, quando algumas pessoas resolveram chegar nessa região para chácaras, sítios. Aqui, exatamente [Colégio Guilherme Dumont Villares] onde nós estamos, era geralmente sítio de veraneio, porque aqui existia a estrada que ia para o sul. Era o único caminho que ia para o sul. E essas pessoas acabaram conhecendo estes espaços e criando essas chácaras.9”

Grande parte das terras que hoje fazem parte do bairro da Vila Suzana, localizadas na margem direita do Riacho Caboré, pertenciam à chácara da família do Engenheiro Guilherme Dumont Villares.

Segundo relatos do senhor Raphael Vazami Júnior, as terras localizadas à margem esquerda do riacho pertenciam ao seu pai, que possuía uma chácara onde estava

9 Soraya Moura. Entrevista concedida em 22 de outubro de 2013.

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instalada uma olaria para a produção de tijolos e, ao lado, havia uma chácara e a granja da família Katamoto, conforme relatado pelo Sr. Vazami:

“Tinha o Katamoto que tinha chácara aqui. Uma granja de galinha, de frango. Tinha o Guilherme que tinha fazenda. O Silva de Campos que tinha fazenda de eucalipto. [...] Naquela época, a Rua Luiz Migliano chamava Estrada da Boiada. Os cara conhecia por causa do nome das olarias. Porque ‘Olaria do Seu Raphael’, ‘Granja do Katamoto’, todo mundo conhecia assim. A fazenda do Guilherme tinha lobo, tinha onça, tatu, tinha cobra urutu.10”

A grande virada comercial e urbanística se deu com os loteamentos do Jardim Jussara e Londrina pela Companhia City, nos anos 1950, no outro extremo da Avenida Francisco Morato e, especialmente, com a construção do Condomínio Portal do Morumbi, na década de 1970.

Segundo o senhor Roberto Benvenuti, atual morador do condomínio Portal do Morumbi, corretor de imóveis na época da construção do empreendimento, a região era no “meio do nada”. Havia poucas casas na região e foi durante a construção e inauguração do Portal do Morumbi que a região ganhou visibilidade e passou a se valorizar muito, com o surgimento de novos condomínios de prédios, loteamentos e de casas, abertura e pavimentação de ruas, fundação de lojas, shopping e comércio em geral.

“Aqui era uma fazenda de café e onde é o Portal era a sede da fazenda, onde é o clube do Portal era a sede da fazenda. [...] Quem comprou toda essa área foi a construtora Jaguaré. [...] A construtora Jaguaré era dona dessa área toda do Portal, aonde está o Open Center, aonde está o Trade Center e a Super Quadra inteira.11”

Mesmo depois da inauguração do Portal, a região permaneceu, por alguns anos ainda, como uma região pouco desenvolvida, o que por um lado gerava dificuldades para os moradores. Porém, muitos procuravam este novo estilo de vida, aliando uma estrutura completa de condomínio em meio a uma região cercada de chácaras e vegetação.

“O Portal do Morumbi é uma concepção de 1970 e a inauguração em 1976. [...] Em frente ao cemitério da Paz havia uma chácara de família de japoneses que vendiam verduras, legumes, frango e plantas. Quando me mudei para cá eu comprava lá. [...]

Quando eu mudei não tinha nada aqui. [...] Minha mulher chorava. Para comprar as coisas ela me ligava e eu tinha que passar no Shopping Eldorado para comprar as coisas. Se eu esquecesse alguma coisa, ou faltasse, eu tinha que ir até a Estrada do Campo Limpo ou para a Francisco Morato. Depois a Construtora Alfredo Mathias construiu o Shopping Portal para abastecer as pessoas. [...]12”

Tal situação de pouca estrutura permaneceu nos primeiros anos após a inauguração do condomínio, mesmo depois de novos empreendimentos na região, contudo isto não incomodava a maioria dos moradores do bairro.

Em 1987, o Jornal da Tarde publicou uma matéria na qual descrevia o condomínio e a satisfação da maioria de seus moradores após 11 anos da construção, vivendo em “uma cidade onde moradores não trancam as portas, [...] a vida nessa comunidade é um constante exercício permanente de vivência coletiva.” Conforme afirma o próprio título

10 Raphael Vazami Júnior. Entrevista concedida para os alunos dos 8º anos de Colégio Guilherme Dumont Villares.

11 Carlos Roberto Benvenuti. Entrevista concedida em 31 de outubro de 2013.

12 Idem

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da matéria o condomínio era “Um oásis de cimento”.

Jornal da Tarde – 23 de junho de 1987. Arquivo pessoal de Carlos Roberto Benvenuti.

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Guilherme Dumont Villares: “visionário, empreendedor e benfeitor”.

Mary Billings, primeira da direita para a esquerda, na Chácara. Acervo Família Dumont Villares.

A vida e a obra do engenheiro Guilherme Dumont Villares é marcada pelo empreendendorismo e atitude visionária, permeada por um comportamento humanitário e benfeitor.

Nascido no início do século XX, em uma família abastada e tradicional de São Paulo, teve sempre como referência o famoso tio materno, o inventor Alberto Santos Dumont. Formou-se em engenharia elétrica e, após um ano de estágio prático em usinas da Alemanha, ingressa como engenheiro na empresa Light e Power, na qual trabalhou e consolidou fraterna amizade com o famoso Engenheiro Asa Billings.

A relação de Guilherme Dumont Villares com o desenvolvimento da região oeste da cidade se mistura com a de muitos outros empreendedores e visionários de sua época, não apenas na cidade de São Paulo, mas em várias outras espalhadas pelo mundo. Esse movimento é tradicional “de ir o homem construindo suas novas casas na direção para o onde o Sol se põe, para o oeste. Geralmente as grandes cidades, quando uma pessoa diz que reside no ‘West End’, conclui-se que é pessoa de recursos e que mora no melhor bairro da cidade.”13 Contribui, também, para a busca pelo poente, não apenas a necessidade de novas terras, mas também as questões climáticas, visto que a região localiza-se mais distante da Serra do Mar, tendo um clima mais seco e ameno.

Esse sonho, da busca pelo poente, se concretiza em 01 de agosto de 1935, quando Guilherme Dumont Villares adquiriu uma chácara na Estrada de Itapecerica, com uma

13 MOURA, Soraya. Relatório de Pesquisa – Guilherme Dumont Villares (pesquisa em curso).

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área de 27 alqueires e 2.640m2. Tal propriedade era cortada pela atual Avenida Professor Francisco Morato e muitos dos atuais bairros da chamada região do “Portal do Morumbi” são resultados de loteamentos da antiga propriedade da família Villares.

Planta original pertencente ao Acervo de Luis London

Engenheiro e visionário dos problemas urbanos de nossa metrópole, Guilherme Dumont Villares foi entusiasta e atuante em um grupo de proprietários na elaboração de uma planta da parte oeste da cidade, conforme seu desejo, “uma sugestão para melhoria do seu tráfego”. Tal sugestão, atualmente, é vista como uma previsão para a construção de um Anel Viário para a região metropolitana, com objetivos claros de retirar da região central da metrópole o tráfego, que já na década de 1950 era muito intenso, conforme afirma o próprio Guilherme Dumont Villares em junho de 1956.

“A ‘circular’, pelo trajeto aqui sugerido, teria no mínimo, as seguintes vantagens:

1. Desviar uma parte do tráfego que, vindo de fora, é forçado a atravessar inutilmente a cidade, provocando congestionamento no tráfego central;

2. A interligação dos centros, Osasco – Taboão e Santo Amaro, desenvolvendo nesses bairros satélites e fomentando a muito necessária descentralização da cidade;

3. Atravessando grande número de sítios, granjas e chácaras, viria facilitar enormemente o serviço de abastecimento de alimento à cidade.

4. Sendo o seu trajeto na sua quase totalidade por uma velha estrada, ainda em tráfego, que necessita ser reformada, a sua recomposição seria um serviço relativamente econômico e poderia em curto prazo de tempo estar prestando bons serviços à população de São Paulo.”14

14 Soraya Moura. Relatório de Pesquisa – Guilherme Dumont Villares.

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Além desta visão prática, concreta e empreendedora que tanto influenciou a região, Guilherme Dumont Villares também se destacou como uma figura humanitária e expoente de boas causas, sendo eleito Mordomo do Asylo dos Expostos em 18 de junho de 1936, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Atuou, desta feita, diretamente com crianças abandonadas. Tais crianças eram deixadas por suas genitoras na chamada “roda dos expostos”, cilindro oco que girava em torno de seu próprio eixo, no qual as mães poderiam “depositar” suas crianças de maneira anônima.

Como mordomo, Dumont Villares preocupou-se em garantir um local adequado para as crianças, promoveu reformas no Berçário e, muitas vezes, levou as crianças para sua própria residência.

Tal vocação, de cuidado com as crianças, fora fruto da herança familiar, dado o seu envolvimento e o de grande parte de sua família diretamente na idealização e construção do “Lar São Paulo”, instituição que recebia, preferencialmente, filhos de combatentes falecidos na Revolução de 1932.

Por todas essas qualidades, Guilherme Dumont Villares não constitui apenas um patrono para nossa escola, mas uma verdadeira inspiração, mobilizadora de sonhos. Esta era uma de suas ambições: a vitalização e integração do nosso Córrego Caboré ao conjunto urbano e crescente da região.

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O RIACHO CABORÉ NOS DIAS ATUAIS

“Só nós conhecemos o nosso riacho. E por isso é mais importante o nosso riacho Caboré.”

O levantamento historiográfico do bairro, seja documental, seja através da história oral, deixa claro que o Ribeirão-Riacho-Córrego Caboré não é apenas parte do local. É uma marca de identidade da comunidade, de seus moradores, do nascimento e crescimento. É história, geografia, pertencimento, identidade. É presença física e evolução social. É marcado pelo crescimento e pelo progresso, mas sua degradação contraria esse crescimento.

Até mesmo a mudança de nomes, como visto ao longo das pesquisas feitas pelos alunos e orientada por seus professores, deixa claro que, ao longo da história, aquele que deveria ser um marco geográfico e histórico da comunidade, passou a ser obstáculo, foi esquecido ao longo do tempo e tornou-se esgoto.

Porém, é preciso lembrar que a água não é apenas um elemento primordial ao desenvolvimento humano, mas um recurso essencial à vida, portanto, água é vida.

Hoje, a qualidade da água tem sido foco de preocupação de diversos segmentos da sociedade e é importante que cada vez mais pessoas se envolvam nessa questão.

Como visto ao longo da descrição histórica, a comunidade do Colégio Guilherme Dumont Villares é drenada pela bacia do rio Pinheiros. A vertente onde está o colégio abriga no fundo do vale o antigo Riacho Caboré, a partir daqui denominado Córrego, que é um afluente do Córrego Pirajuçara que, por sua vez, deságua no rio Pinheiros.

A maioria dos membros da comunidade, assim como os muitos alunos do Colégio Guilherme Dumont Villares desconheciam as nascentes do Córrego Caboré.

Diante disso, como compreender a história dessa comunidade, sem contemplá-la efetivamente?

O conhecimento e conscientização sobre o Caboré foi além do dito. Precisou ser visto. Tornou-se necessário não apenas traçar o caminho de suas águas nos mapas e cartas disponíveis, mas trabalhar em campo. Os alunos percorreram o Córrego a partir da nascente até o seu final. Desse estudo, resultaram registros fotográficos, fílmicos e “impressões”, por meio da observação das condições do relevo, da vegetação, das ocupações e possíveis consequências das intervenções do homem no espaço.

Assim, o caminho junto ao Córrego até uma das suas nascentes foi explorado por professores e alunos, que avaliaram as condições do terreno.

Observou-se que o terreno próximo da nascente é íngreme, com vegetação apresentando

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algumas plantas espinhentas e com solo hidromórfico. Foi possível os alunos percorrerem essa área, desde que tomassem alguns cuidados básicos como vestimentas adequadas para a situação. A exploração se deu da nascente do Córrego Caboré até o seu final junto ao Córrego Pirajuçara.

Constatou-se, ao longo desse percurso, que cada vez mais as condições das águas do Córrego estão deterioradas: a coloração da água, de um tom cristalino nas proximidades da nascente, a um cinza cada vez mais escuro à medida que o curso avança em direção a Avenida Professor Francisco Morato. O acúmulo de lixo, principalmente materiais não degradáveis (plástico, pneus, isopor etc) e os odores fétidos exalados foram sentidos pelos alunos ao longo do trajeto.

É evidente que, ao tratar de qualidade da água, essas observações, usando o alcance da visão e do olfato dos alunos foram insuficientes, mas é um bom ponto de partida para um estudo mais aprofundado.

Presença de lixo nas proximidades da nascente

Para aferir devidamente a qualidade da água, seriam necessários parâmetros como DBO, oxigênio dissolvido, pH, temperatura, nitratos, fosfato total, sólidos totais, turbidez, coliformes fecais etc.

Durante dois anos consecutivos, nossos alunos do ensino fundamental participaram do projeto Observando o Tietê, coordenado pela ONG SOS Mata Atlântica - programa de educação ambiental e sensibilização da sociedade que utiliza o monitoramento da qualidade da água por percepção como principal ferramenta. Através da metodologia de monitoramento da qualidade da água por percepção, desenvolvida pelo professor Samuel Murgel Branco, do acompanhamento da equipe técnica do projeto e de professores do colégio, os alunos utilizaram os kits de análise de água disponibilizados. Periodicamente, coletavam amostras e analisavam a qualidade da água do rio, medindo parâmetros químicos como pH, temperatura, fósforo total, nitratos, oxigênio dissolvido e outros parâmetros biológicos e ambientais. As análises permitiam que os alunos percebessem

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a presença ou não de esgotos, saponáceos, sedimentos e produtos químicos utilizados na agricultura.

Os resultados compuseram o banco de dados de um Sistema de Informação Geográfica (SIG) que permitia a visualização da qualidade da água da bacia do Rio Tietê, monitorada através das ações dos vários grupos.

A partir desse monitoramento da qualidade da água, os grupos iniciaram a caracterização ambiental por percepção da região onde atuavam.

O objetivo era mapear a problemática socioambiental da bacia através da percepção da população local e identificar as prioridades do trabalho.

Dessa etapa, resultou o aparecimento de uma verdadeira rede de observadores do rio Tietê, formanda por várias lideranças ambientais regionais, agora habilitadas a interferir nas realidades em que atuavam, a colaborar com outros grupos e segmentos da sociedade interessados na recuperação do rio e a discutir com órgãos governamentais estaduais e municipais, em várias instâncias, os principais conflitos, ameaças e soluções para a preservação e conservação da bacia hidrográfica do Tietê.

A SOS Mata Atlântica está retomando o monitoramento dos rios, Córregos, ribeirões e não foi diferente com os alunos, que se engajaram nesse projeto, de importância ímpar na formação da cidadania, e, mais que isso, da consciência que o Caboré é nosso.

Localização do Córrego Pires-Caboré

Entre as avenidas Guilherme Dumont Villares e a Luís Migliano está o Córrego Caboré ou Pires. Suas nascentes estão localizadas nas proximidades da confluência da Avenida Luís Migliano com a Rua José Coimbra, na área da administração da Subprefeitura do Campo Limpo.

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Localização da Nascente do Caboré

Nascente do Córrego Caboré

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Uma das suas nascentes encontra-se em um terreno - particular e murado - com mata secundária que apresenta algumas espécies exóticas às da região. Observa-se acúmulo de lixos (garrafas, copos de plásticos descartáveis, pets de refrigerantes, restos de alimentos etc), entretanto, não foi constatada a descarga de esgotos.

Nascente do Córrego Caboré

Vegetação próxima da nascente do Córrego Caboré

Por cerca de 300 metros, o percurso do Córrego se dá a céu aberto, até a entrada do condomínio Reserva do Morumbi, em fase de lançamento. A partir desse ponto, encontra-se canalizado e nessa área, sobre o Córrego, observamos a existência de um terreno, provavelmente para mais um novo lançamento imobiliário.

Ainda nesse trecho, está localizada uma parte das casas da Comunidade da Vila Praia, também construída sobre o Caboré.

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Avenida Luís Migliano - Comunidade da Vila Praia As construções estão sobre o Córrego

Na confluência da Avenida Luís Migliano com a Rua Maximino Maciel é possível observarmos novamente o Córrego. Somente a partir desse ponto, verifica-se o lançamento de esgotos. Logo após esse trecho, novamente ocorre a canalização.

Confluência da Avenida Luís Migliano com a Rua Maximino Maciel. Sobre o Córrego, as construções.

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Lançamento de esgoto na confluência da Avenida Luís Migliano com a Rua Maximino Maciel.

O Córrego adentra a Subprefeitura do Butantã na Rua Professor José Horácio Meireles Teixeira acompanhando a Praça José Maria Homem de Montes, depois percorre um trecho confinado junto à Rua Olímpio Rodrigues da Silva, limitado pela via, por prédios e residências.

Praça José Maria Homem de Montes – a partir desse trecho até a Avenida Francisco Morato o Córrego volta a correr a céu aberto

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A partir da praça, acompanhando a Rua Olímpio Rodrigues da Silva, o Córrego recebe mais esgotos o que piora, ainda mais, a qualidade da água.

Trecho do Córrego Caboré confinado junto à Rua Olímpio Rodrigues da Silva, limitado pela via e por prédios residenciais. Do lado esquerdo da foto, podemos observar um terreno que hoje abriga um

condomínio residencial

Ao longo da Rua Olímpio Rodrigues da Silva, o Córrego Caboré. Do lado direito da foto, o Colégio Guilherme Dumont Villares (frente arborizada).

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Os dois trechos seguintes são arborizados, têm praças municipais e há um grande terreno particular livre.

O trecho final do Caboré é canalizado e deságua no rio Pirajuçara próximo ao piscinão da Avenida Francisco Morato, divisa entre os municípios de Taboão da Serra e São Paulo.

Trecho arborizado próximo das avenidas Luiz Migliano e Francisco Morato: Praça Eurydes Luz Angelini e rua Francisco Alves Quinta.

Piscinão da Av. Francisco Morato – próximo do encontro do Córrego Caboré com o Córrego Pirajuçara.

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A linha vermelha corresponde ao traçado aproximado do Córrego Caboré, da sua nascente até desembocar no Córrego Pirajuçara.

Linhas vermelhas: Córregos Caboré e Pirajuçara. Caminho das águas do Córrego Caboré: deságua no Córrego Pirajuçara que deságua no Rio

Pinheiros.

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Ilustração da aluna Mariana Tescarollo Kern Oliveira - 9º ano.

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REGISTRO FOTOGRÁFICO: APRENDER A VER

“Mas apenas esgoto vem e vai, no nosso riacho Caboré.”

Mesmo em uma cidade como São Paulo, onde rios e Córregos poluídos são comuns, muitas vezes, por considerar desagradável, a grande população não costuma parar para observar o cenário e refletir sobre as possíveis causas ou soluções para esse incômodo. Daí a importância do desenvolvimento de projetos que possibilitem a observação e a vivência nas regiões afetadas, além da conscientização sobre um problema que não é do outro, pois fazemos parte de um contexto maior e, por isso, temos o dever de pensar juntos sobre a necessidade da cooperação pelas águas.

Uma vez conhecidas as condições históricas e geográficas, os alunos realizaram um levantamento fotográfico nas imediações do Córrego Caboré, para que ententessem o cenário atual da região às margens do Córrego.

Esse registro fez com que compreendessem, ainda mais, a importância da revitalização das águas da região em que moram, além dos benefícios que podem ter ao buscarem ações concretas em prol dessa causa.

Apesar da facilidade que um jovem tem, atualmente, de registrar em fotografias as mais diversas situações cotidianas, a proposta era que retratassem aspectos que nem sempre são observados por não fazerem parte do seu dia a dia. Desenvolver o olhar desses jovens para o seu entorno, despertou interesses e mostrou que o feio e sujo, pode ser bonito, se visto de outro modo.

A intenção do ensaio fotográfico foi além da obtenção de material para arquivo. Registrar as imagens do Caboré propiciou aos alunos, além de um rico material fotográfico, a reflexão sobre os fatores locais que resultaram no cenário.

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Beatrix de Souza Valiceli, aluna do 9º ano, no ensaio fotográfico.

Grupos pequenos, máximo de 10 alunos, agendados em dias diferentes e com equipamentos adequados - uma máquina fotográfica profissional e duas máquinas semiprofissionais - realizaram o levantamento fotográfico. A orintação a grupos pequenos é mais fácil e as intempéries climáticas, tão comuns à cidade, foram contornadas com maior rapidez, minimizando as dificuldades que naturalmente surgem.

O Diário de Bordo (Anexo II) foi adotado como instrumento de registro das experiências adquiridas durante a realização das visitas, pois possibilita que atividades, ações, reflexões e comentários sejam inseridos em um mesmo documento individual, em fases diferentes. A valorização da autoria do aluno foi constante, visto que o conjunto de material fotográfico obtido mostrava, em sua essência, o olhar e a sensibilidade de cada participante durante o percurso às margens do Córrego.

Inicialmente, foi solicitado ao aluno que refletisse e registrasse no diário as suas motivações e suas expectativas em relação ao projeto que seria realizado, afinal pensar sobre o porquê da realização desse trabalho faz parte do processo de conscientização sobre a importância da cooperação pelas águas e essa conscientização é um projeto de crescimento único, individual e de transformação da cultura cidadã.

Após as orientações iniciais realizadas de acordo com as propostas de cada etapa do trabalho, os grupos percorreram as margens do Córrego, registraram suas observações, os aspectos relevantes sobre as águas, a vegetação e a urbanização em torno do Córrego Caboré, sempre em forma de texto e imagem, utilizando seu diário de bordo individual.

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Alunos dos 9ºs anos entrevistam moradores e coletam dados.

Ao final de cada etapa, os alunos selecionaram fotos que melhor ilustrassem o momento do trabalho, anexando-as aos relatos no diário.

Ao término das visitas exploratórias e de observação, o registro e reflexão final sobre as expectativas iniciais e os resultados obtidos propiciaram aos alunos avaliar o que esperavam, o que encontraram e o que queriam para o Caboré.

Margens e arredores do Caboré

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Perceber a sensibilização de nossos jovens, através de suas imagens e palavras, no entanto, é o resultado mais sólido no caminho da mudança e da tomada de providências para resgate de nossas águas.

Embora degradado, o riacho Caboré exibe sua “biorresistência”.

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REGISTRAR PARA NÃO ESQUECER: DIÁRIO DE BORDO

Lara Vilarinho, aluna do 9º ano, acompanhando instruções sobre o Diário de Bordo.

O Diário de Bordo é um meio de registrar as atividades, reflexões, comentários sobre o modo como o trabalho se desenvolveu em grupo ou individualmente. Esta realmente foi uma forma privilegiada de ser autor, de descrever e refletir sobre os problemas que surgiram, os obstáculos que decorreram do desenvolvimento do trabalho e a forma de superá-los. O registro escrito permite criar o hábito de pensar as práticas e de repensar a própria aprendizagem.

No próprio “Diário de Bordo”, o aluno recebeu orientações sobre a forma de registrar suas descobertas, divididas em reflexões iniciais, etapas do trabalho e reflexão final. Esses registros foram fundamentais, pois ajudaram na sensibilização do olhar e no direcionamento da pesquisa.

Alguns alunos da escola não conheciam o Córrego Caboré ou nunca tinham passado pelas ruas no seu entorno, apesar de morarem perto ou estudarem bem próximos ao local. Ao serem questionados sobre seus conhecimentos prévios da situação atual do Córrego, alguns alunos falaram sobre sua localização ou sobre a poluição, outros reconheceram saber pouco ou quase nada e mesmo passando pelo local, anteriormente, não tinham demonstrado interesse em saber mais sobre o assunto, preferindo evitar o local.

A análise dos registros, ao longo do projeto, fortaleceu a esperança de que alguma ação pudesse ser desenvolvida e utilizada para a melhoria da situação, ou seja, que a partir da iniciativa deles, algo efetivamente fosse feito.

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Os alunos compreenderam que este não é o único Córrego poluído da cidade de São Paulo, mas que é o Córrego do lugar em que moram e sobre o qual procuraram saber mais. Em todos os momentos não faltou otimismo com relação às mudanças que poderão ocorrer a partir deste trabalho, de todas vozes e imagens.

Vista panorâmica do Caboré.

Algumas impressões de alunos:

“Não sei muito sobre o Córrego Caboré. Sei que ele é um Córrego bem sujo...”

Matheus Martins

“Poderíamos levar imagens para a prefeitura tratar o Córrego.”

Lucas Castro

“O Córrego atrapalha no dia-a-dia das pessoas.”

Luana Nardi

“Minha motivação é o aumento de conhecimento sobre o problema.”

Luana Vieira

“Não conheço o Córrego, (...) não sabia nem onde ficava, só sabia que era perto...”

Letícia Appa

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“Tenho certeza que se todos colaborarem com o projeto haverá mudanças positivas no Córrego, pois é importante para nós...”

Larissa Rocha

“... e eu espero que a minha ajuda adiante alguma coisa e que a prefeitura tome providências, pois nós tomamos a iniciativa.”

Gabriela Cabral

“Eu realmente não sei da situação do Córrego e gostaria de, a partir do projeto, fazer o governo “acordar”...”

Clara Prates

(trechos de reflexões dos diários de bordo de alunos dos 9ºs anos)

Vista panorâmica do Caboré.

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“O nosso riacho Caboré não é um gigante, mas é mais importante...”

“Águas são muitas, infindas. Em tal maneira é graciosa [a terra] que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem.”

(Pero Vaz de Caminha, 1º de maio de 1500.)

... pois é o nosso riacho Caboré.

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1. Da reflexão à mudança: um projeto objetivo

No Ano Internacional da Cooperação pela Água, os professores e alunos do Colégio Guilherme Dumont Villares estudaram as águas como um dos elementos naturais e um dos direitos humanos históricos fundamentais. Compreender as suas múltiplas formas de uso das águas, as condições de sua reprodução, a influência histórica sobre os rumos de nossa cidade e do desenvolvimento social brasileiro e mundial como um todo se tornou parte de um projeto único.

Compreender as águas do ponto de vista do habitante e do cidadão comum, isto é, na escala da prática cotidiana, em nosso bairro, nas cercanias do Colégio tornou-se um de nossos objetivos.

Esse esforço coletivo convergiu para um conceito bastante amplo de consciência socioambiental, capaz de reforçar a identidade social e individual em relação ao lugar em que vivemos. A ampla sensibilização e conscientização em relação ao ambiente que nos circunda, a fim de valorizar as práticas ambientalmente responsáveis e sustentáveis, deixou de ser assunto de aula para ser prática.

O Córrego Pires-Caboré, que corre próximo ao Colégio, desde a sua nascente até o trecho em que flui a céu aberto pelas Ruas José Luna, Olímpio Rodrigues da Silva e Pça. Dr. Eurydes Luz Angelini, no bairro do Morumbi, cruzou definitivamente esse caminho de reflexões e questionamentos.

Esgoto despejado no Caboré.

Infelizmente, as condições ambientais do Ribeirão Caboré estão muito degradadas devido ao lançamento de esgotos e de lixo em seu curso e em suas margens – resultado

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histórico da enorme urbanização e industrialização da cidade de São Paulo e do Morumbi, em particular.

Desse modo, tentou-se compreender, nesta pesquisa, o passado e o presente do Córrego, bem como elaborar uma proposta de futuro ambientalmente sustentável para ele e seu entorno.

2. Etapas de pesquisa: estudando o riacho

Em todos os níveis da Educação Básica, no Colégio Guilherme Dumont Villares aprendemos a valorizar a cidadania e o desenvolvimento sustentável. O Projeto Água é Vida primou pela compreensão da condição atual do Córrego Pires-Caboré e a sua importância para os moradores da região, tendo como meta a proposição de algumas medidas de intervenção no sentido de sua revitalização.

Antes do início das intervenções, foi necessário conhecer melhor o entorno que, mesmo fazendo parte do nosso cotidiano, nem sempre é observado.

Após o levantamento historiográfico e histórico da cidade de São Paulo e da região, através de documentos, de relatos de antigos moradores e conhecedores da região, do levantamento topográfico, hidrográfico e das condições do entorno - seja através, fotos, análises laboratoriais da água e projetos desenvolvidos anteriormente, além da análise criteriosa da legislação federal, estadual e municipal vigentes, nasce uma proposta efetiva de intervenção na realidade socioambiental de nossa região com a revitalização do Caboré, tão desejada pela comunidade escolar do Colégio Guilherme Dumont Villares.

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Vista atual do Córrego Caboré e o crescimento residencial do entorno.

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Para grata surpresa de nossos pesquisadores, professores e alunos, já existe uma proposta de intervenção prevista pelo Plano Diretor Estratégico da cidade que contempla Córrego Caboré, nosso Riacho Caboré, prevendo a criação de um “Parque Linear” na região.

Nossa proposta pretende somar-se ao projeto em curso, sugerindo, também, às autoridades competentes estudos mais profundos com o objetivo final de estabelecer um cenário desejável para a garantia de proteção do nosso Riacho Caboré e da melhoria da qualidade de vida na região.

Entorno do Caboré: há consciência da necessidade da revitalização.

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3. Estudo da Legislação Vigente

Antes do estabelecimento da proposta de intervenção, foi imprescindível o estudo da legislação existente em níveis federal, estadual e municipal, contemplando os recursos hídricos e do meio ambiente como um todo, além da análise do atual Plano Diretor do Município de São Paulo e da política efetiva das autoridades competentes em relação aos Córregos da cidade.

Constatou-se, com enorme contentamento, que o programa para a limpeza de Córregos no Município de São Paulo, sob responsabilidade da SABESP, e um plano específico para transformação do Ribeirão Caboré em um Parque Linear já existem15 e é com eles que desejamos partilhar os resultados de nossas observações e inserir nossas propostas efetivas de intervenção.

O estudo das leis é, como se sabe, um assunto bastante especializado. Naturalmente, não é pretensão aqui esgotar o assunto, mas apenas lembrar alguns pontos de apoio político-jurídicos fundamentais para a proposta.

3.1. Algumas considerações teórico-metodológicas

Durante a pesquisa, a baliza ou referência crítica que orientou nossa proposta diz respeito às alternativas mais eficazes e viáveis para se conservar os recursos hídricos de grandes cidades como São Paulo. Como se sabe, toda bacia hidrográfica, com o seu rio ou rios principais, se forma a partir dos pequenos rios e riachos – o que significa que, em termos práticos, se quisermos um dia ver os principais rios da região metropolitana limpos, tais como os rios Tietê e Pinheiros, teremos de pensar também na qualidade das águas dos pequenos Córregos e ribeirões que os alimentam. Invertendo a escala, do Córrego aos grandes rios e bacias e aos grandes domínios da natureza, do local ao global.

Do local ao global, ou da micro à macroescala, trata-se de repensar o nosso modo de vida em sua totalidade: uma transformação socioambiental de maior envergadura exigiria uma profunda mudança de nosso modo de produção e de consumo ao mesmo tempo excessivo, desigual e altamente excludente.

A ideia de desenvolvimento sustentável levada à risca “estimula o surgimento de novas maneiras de produção”, obrigando a alterações substanciais nas relações sociais.16

Eis o que tornaria a legislação ambiental vigente realmente executável a curto e a médio prazos, mas, atualmente, legadas às abstrações teórico-normativas. Do lado de cá, o da realidade nua e crua das nossas cidades atuais, os problemas se acumulam. As causas da degradação das águas nas metrópoles brasileiras, em geral, são facilmente identificáveis, como assevera o professor Aldo da Cunha Rebouças, um grande especialista na área de hidrogeologia da Universidade de São Paulo, hoje mundialmente conhecido:

15 Prefeitura da Cidade de São Paulo – 10 Parques lineares prioritários - Butantã. São Paulo: SMA, 2008.

16 Ribeiro, Wagner Costa. “Entre Prometeu e Pandora – sociedade e natureza no início do século XXI” in: Carlos, A. F. & Lemos, A. (orgs.). Dilemas urbanos: novas abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2003, p. 331.

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“Como resultado do inusitado processo de urbanização no Brasil, teve-se um grande aumento das demandas de água para consumo doméstico, industrial e agrícola, principalmente. Além disso, a não coleta dos esgotos domésticos ou o seu lançamento in natura nos rios, principalmente, bem como de boa parte dos efluentes industriais, engendrou a degradação do ambiente em geral e da água dos rios, lagoas e açudes, em particular, em níveis nunca imaginados”.17

Outro ponto norteador desta proposta foi o raciocínio lógico que, nos dias atuais, não faltam leis de proteção ao meio ambiente e aos recursos hídricos e que tais leis possam evoluir e serem cada vez mais detalhadas, refinadas e concretizadas. A sociedade deve exigir a sua aplicação prática, visando à transformação do espaço, partindo do local para o global, da micro à macroescala. Trata-se de uma questão de ação consciente da sociedade sobre o seu território e o seu ambiente natural: uma questão de políticas públicas e de aplicação de recursos previstos nos orçamentos públicos, ou de outros, consorciados.

Não se trata de uma utopia. O professor Aldo Rebouças assegura que a recuperação de rios, Córregos e mananciais é o “meio mais barato e eficaz de manter a qualidade do abastecimento nas grandes metrópoles” – ao invés de, simplesmente, abandoná-los ao lixo e aos esgotos e de assim partirmos em busca de rios e mananciais cada vez mais distantes. Nas palavras do mesmo autor:

“Algumas cidades e regiões metropolitanas vivem, evidentemente, em ‘stress’ hídrico e, diante da situação urgente e preocupante, há quem diga que a utilização mais eficiente das águas subterrâneas e os programas de recuperação de mananciais deveriam ser esquecidos. Todavia, vale ressaltar que a experiência dos países desenvolvidos, principalmente, mostra que, seja qual for o valor da conta, a gestão integral com a utilização das águas subterrâneas e reuso da água como alternativa para abastecimento total ou complementar e a recuperação de mananciais é a mais barata, regra geral, inclusive do ponto de vista ambiental e de imagem, do que condenar o manancial de superfície a ser definitivamente um depósito de lixo, enquanto busca-se um novo rio para exploração predatória”.18

Isto vai ao encontro da legislação em vigor. O sentido mais geral dessa legislação é o da proteção dos rios e mananciais, conforme os novos paradigmas ambientais desenvolvidos pela ciência contemporânea a partir dos anos 1970: da natureza como mero recurso abundante e supostamente infinito para a natureza como um meio a ser conservado para a vida na Terra das atuais e das futuras gerações.

Nesse processo de mudança de paradigmas, podem-se elencar as Conferências das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Estocolmo-1972, Rio-92, Rio+10, Rio+20), a Agenda 21 Global (que possui o capítulo 18, especialmente dedicado à proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos), a Conferência Internacional sobre a Água e o Meio Ambiente de Dublin (1992) e os Fóruns Mundiais da Água já ocorridos (dos quais destacamos os de Haia-2000, Kyoto-2003 e Marselha-2012).

O Brasil não fugiu à responsabilidade de adequar a sua legislação aos desafios apontados nesses fóruns, conferências e documentos internacionais. Assim, em 1997, foi aprovada a Lei 9.433, que instituiu o Plano Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Recursos Hídricos, os quais estabeleceram um sistema de gerenciamento desses

17 REBOUÇAS, Aldo da Cunha. “Aspectos relevantes do problema da água” in: Rebouças, A. C.; Braga, B. & Tundisi, J. G. (Orgs.). Águas doces no Brasil – capital ecológico, uso e conservação. 2ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Escrituras, 2002, p. 691.

18 Idem, ibidem, p. 692.

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recursos, indicando a formação de uma série de órgãos em diversos âmbitos, entre estes a Agência Nacional de Águas (ANA) e os Comitês de Bacia.

Vale ressaltar, ainda, que tudo isso se apresenta como resultado de uma longa discussão democrática da questão, pois, sem dúvida, resultou em um enorme avanço histórico, que tem permitido concretizar a legislação mais geral já em vigor, em todos os níveis da administração pública, embora haja muito a ser feito.

A Lei 9.433/97 estabelece como conteúdo mínimo dos planos de recursos hídricos, entre outros itens, o diagnóstico da situação atual dos recursos hídricos e propostas para a criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.19 Considerando a microescala, a intenção aqui é colaborar para que haja um processo de conservação do Córrego Pires-Caboré, seja através da implantação do Parque Linear ou por outro projeto.

É nesse sentido, que vale ampliar a visão sobre o corpo de leis nacionais que garantem a conservação do meio ambiente e dos recursos hídricos no nosso país (Anexo III).

3.2. – O projeto municipal “Parque Linear Pires-Caboré”

A fim de compreender a amplitude desta intervenção, foi necessário um profundo estudo acerca da legislação que fundamenta as razões para implementações de mudança na região do Córrego Pires-Caboré. Esse levantamento de fôlego constitui parte do Anexo III desse trabalho. Objetivamente, o plano de Parques Lineares no município, constante do projeto piloto da cidade, que inclui o Córrego Caboré, denominado no documento Pires-Caboré, como um dos 10 Córregos prioritários da subprefeitura do Butantã, refere-se ao “nosso Caboré”, escolhido para nossa proposta de intervenção.

O plano dos Parques Lineares, seguindo as diretrizes do Plano Diretor, visa concretizar, em última instância, as leis e normas constantes do Anexo III. Segundo o documento oficial, trata-se de recuperar para os cidadãos “a consciência do sítio natural, ampliando progressivamente as áreas verdes”. Em termos práticos, um parque linear tem como metas principais:

“- recuperação da qualidade da água;

- revitalização dos Córregos;

- ampliação das áreas verdes e permeáveis;

- requalificação dos espaços públicos e caminhos do bairro;

- inserção de novos usos e recreação e lazer;

- regularização de assentamentos precários;

- criação de novas estruturas de circulação e transporte;

- construção ou tratamento de áreas de referência para a gestão do bairro”.20

19 Governo do Estado de São Paulo. Gestão Participativa das águas. São Paulo: SMA, CPLEA, 2004, p. 39.

20 Prefeitura da Cidade de São Paulo – 10 Parques lineares prioritários - Butantã. São Paulo: SMA, 2008, p. 6.

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O projeto tem associação com o Programa Córrego Limpo da SABESP, cuja finalidade, segundo o site do órgão, compreende:

“O Programa Córrego Limpo contempla ações para ampliar a coleta e tratamento dos esgotos gerados nas bacias hidrográficas dos Córregos urbanos.

Até o momento, 139 cursos d’água foram despoluídos e mais de mil litros de esgotos por segundo foram encaminhados para tratamento.

O projeto depende da parceria com as prefeituras especialmente para remover entulhos e sedimentos das margens e leitos, bem como ordenar a ocupação das faixas ribeirinhas.”21

O que significa iniciar, segundo o Órgão, ao mesmo tempo, um processo educativo ambiental da população:

“O sucesso do projeto depende da participação e envolvimento da comunidade, uma vez que as obras realizadas devem ser mantidas e preservadas. Desta forma, cabe à população cuidar dos Córregos e das áreas ao redor para evitar o depósito de lixo, lançamento de esgotos clandestinos e ocupações irregulares.

Para isso é desenvolvido um trabalho de educação ambiental em que os moradores são convidados a participar do processo identificando a importância do Córrego para a sua região e a necessidade da despoluição para a melhoria da qualidade de vida da população não de forma isolada, mas com ganhos a todos os municípios.

Dentre as ações adotadas está o resgate da importância do Córrego para a região por meio de históricos, palestras e trabalhos apresentados pelas próprias pessoas sobre o que elas conhecem e realizam para a continuidade do programa.”22

Sem dúvida, a nossa participação, como Escola, teria um grande impacto na região, tornando-se essencial na produção da consciência ambiental. Se a legislação ambiental sobre os recursos hídricos e as soluções ambientais, em nosso país, oferecem apoio sólido para intervenções, a questão passa a ser, então, onde e como atuar.

A partir do projeto dos Parques Lineares, elaborado pela subprefeitura do Butantã e publicado em 2008, os alunos do Colégio Guilherme Dumont Villares propuseram algumas intervenções, alterações e acréscimos à proposta inicial, intentando concretizar ao máximo a ideia de um desenvolvimento sustentável para a região. Portanto, contemplando a proposta já existente, a qual se subdivide em diretrizes gerais e diretrizes específicas, agregam-se as propostas de intervenções de nossa comunidade escolar:23

*Diretrizes gerais:

Sobre o item 1:

“Promover a atuação integrada de órgãos públicos, sob a coordenação da Subprefeitura, no planejamento e execução de planos e projetos para o local.”

21 SABESP, Programa Córrego Limpo http://site.sabesp.com.br/ site /interna/ default.aspx?secaoid=79 Acesso em 20.09.13.

22 IDEM, ibidem.

23 PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO – 10 Parques lineares prioritários - Butantã. São Paulo: SMA, 2008, p. 49. Citamos as diretrizes, doravante, no corpo do texto.

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Neste item, nada se tem a acrescentar, a não ser fazer votos para que essa parceria ou integração da SABESP e da Subprefeitura do Butantã ocorra efetivamente.

Sobre o item 2:

“Promover a participação e discussão pública para verificação de demandas locais”.

Neste item, em particular, destacamos que os alunos dos 8os anos do Colégio fizeram pesquisas qualitativas e recolheram dados quantitativos por meio de entrevistas com os moradores da região e, assim, puderam apontar diversas demandas locais, no que se refere à limpeza da rua, ao mau cheiro das águas poluídas e necessidade da revitalização da região.

De modo a atingir a meta deste item, julgamos necessária a promoção de uma campanha de conscientização por meio da ação efetiva do Colégio, nos próximos anos. Para além do simples discurso de conscientização ambiental, o trabalho envolveria todos os anos/séries em trabalhos de estudo do meio com pequenas intervenções, gerando o desenvolvimento de uma consciência ambiental mais efetiva.

O Colégio tem, em seu histórico, a adoção de duas praças públicas na região, que trouxe excelentes resultados para o entorno e o bairro do Morumbi, como um todo.

Acredita-se ser possível, por exemplo, fazer atividades artísticas e recreacionais, assim como atividades científicas de pesquisa escolar em que os alunos possam vivenciar in loco os conhecimentos obtidos em sala de aula.

Sobre o item 3:

“Recuperar a qualidade da água, ampliando a rede de coleta de esgotos da bacia hidrográfica e implantando coletor-tronco.”

Naturalmente, a implantação de um coletor-tronco implica em obras de engenharia de grande vulto e alta complexidade, assunto este em que pouco temos a opinar. Apenas, gostaríamos de lembrar que isso pressupõe, ou implica, uma limpeza geral do terreno e do curso d´água, mantendo a nascente do Córrego protegida da poluição. O trecho a céu aberto do canal deve permanecer como tal: a céu aberto, limpo, cheio de verde, pedras, árvores e passarinhos, mantendo o seu evidente valor estético.

*Diretrizes específicas:

Sobre o item 1:

“Elaborar projeto de urbanização no trecho de favela em conjunto ou em acordo com a SEHAB/HABI, junto à subprefeitura do Campo Limpo”.

Neste item, é justo conservar a população favelada na área ou no bairro em que moram atualmente, melhorando as suas condições de habitação e lhes conferindo o que, após as reflexões filosóficas de Henri Lefebvre, tem sido chamado o “direito à cidade”.24

24 LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Documentos, 1969.

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Foto da paisagem atual no entorno do Caboré. Diário de Bordo.

O urbano nada mais é do que o lugar do encontro e da civilização. Se a cidade é a forma material de realização do urbano, o que pressupõe socialmente, segundo o crítico francês, o encontro, a reunião, o uso coletivo da riqueza social, então, a exclusão da cidade significa a exclusão das promessas civilizatórias mais ricas do urbano. O direito à cidade, para o autor, só pode ser formulado como o direito à vida urbana. Mas não na cidade miserável e degradada pela práxis industrial, mas na cidade transformada e renovada, a de uma nova práxis de uma sociedade urbana, orientada pelo uso e a conservação dos bens coletivos.25 Ainda, nas palavras do crítico:

“O direito à cidade se manifesta como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e ao habitar. O direito à obra (à atividade participante) e o direito à apropriação [do tempo, do espaço, do corpo, do desejo], bem distinto do direito à propriedade, estão implicados no direito à cidade”.26

Conservar a população habitante desta comunidade mais carente – devidamente reurbanizada –, inserida na região, deveria ser uma das prioridades da administração pública. O que significa, portanto, materializar os seus direitos de cidadania, dando-lhes acesso material à cidade, o que é significa dizer: regularizar e melhorar suas condições de habitação e fornecer-lhes o direito ao uso da infraestrutura de serviços do local em que atualmente habitam.

Acreditamos ser de extrema importância diminuir a exclusão socioespacial na cidade, evitando, sempre que possível, deslocamentos de população pobre para a extrema periferia. Quando isso acontece, há a ampliação das enormes desigualdades sociais de nosso país. O espaço do cidadão é, como lembra o geógrafo Milton Santos, “o espaço

25 IDEM, ibidem, p. 108.

26 IDEM, ibidem, p. 131.

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que o faz pertencer à cidade, que o inclui na cidade, que o promove como cidadão. Fora de sua base territorial, a cidadania é uma mera abstração”.27

O plano de diretrizes específicas segue com itens a respeito das faixas edificandi e da regularização fundiária das áreas públicas municipais, com os quais estamos inteiramente de acordo:

“2- Regularizar a situação das faixas edificandi.”

“3- Promover a regularização fundiária das áreas municipais e seu uso, com necessário cadastramento planialtimétrico”.

Sobre o item 4:

“Desenvolver estudos visando viabilizar a incorporação de uma grande área particular lindeira ao parque linear.”

Confirma-se, aqui, que os moradores da região apoiam a compra desse terreno particular em área lindeira ao parque linear, por ser justamente a área mais larga de seu trajeto, o que a torna própria para a utilização como área de lazer, conforme nossa proposta a seguir. Uma área que, para nós, fornece o verdadeiro sentido e dimensão à ideia de um parque.

4. Nossa proposta de intervenção

A proposta elaborada filia-se às ideias conceituais de revitalização de rios e Córregos e de criação de um patrimônio ambiental urbano.

De acordo com o conceito de revitalização proposto pelo Ministério do Meio Ambiente (2006), tal como retomado por Isabela Pereira,

“o termo revitalização de cursos de água compreende o processo de recuperação, conservação e preservação ambiental, por meio da implementação de ações integradas e permanentes, que promovam o uso sustentável dos recursos naturais, a melhoria das condições socioambientais, o aumento da quantidade e a melhoria da qualidade da água para usos múltiplos.

A preservação dos mananciais naturais de água oferece melhores condições de ambientação das cidades, além de proporcionar meios de lazer e recreação para as comunidades. A preservação das várzeas oferece a vantagem da contenção dos problemas de inundação, além da preservação do ecossistema natural. A mata ciliar melhora as condições ecológicas, hidrológicas e morfológicas dos cursos de água, sendo de extrema importância sua recuperação e preservação.”28

27 SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.

28 PEREIRA, Isabela L. Estudos de revitalização de cursos de água – trecho experimental no rio das Velhas (dissertação de mestrado). Belo Horizonte: Escola de Engenharia/UFMG, 2008, p. 5.

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Os benefícios desse processo de revitalização são muitos. Segundo Riley (1998), os seguintes aspectos da restauração de cursos de água poderiam ser listados:

“• redução de danos das inundações; • redução de danos da erosão nas margens dos cursos de água; • preservação ou restauração de recursos históricos ou culturais; • encorajamento de retorno e aves e vida selvagem a refúgios urbanos; • desenvolvimento de trilhas de pedestres e ciclistas; • elevação da qualidade de vida urbana e ambientes vizinhos; • restauração da identidade regional ou local; • fornece cinturões verdes, espaços abertos e parques; • cria oportunidades de navegação e outras recreações aquáticas; • cria oportunidades educacionais interessantes para escolas; • volta ou melhora da pesca recreacional ou comercial; • revive um centro urbano decadente e uma economia comercial depreciada; • cria trabalhos significativos e fornece treinamento para trabalhos; • aumenta o valor de propriedades; • corrige os problemas de performance e reverte os danos de grande e

pequenos projetos de engenharia; • fornece uma fonte segura de alimento para família de pescadores; • volta a vida pública e comercial para regiões ribeirinhas urbanas.”29

Quanto ao conceito de patrimônio ambiental urbano, citemos o conceito proposto pelo professor Eduardo Yázigi:

“Uma associação de conjuntos arquitetônicos com espaços e equipamentos públicos, além dos elementos naturais como vegetação, rios, topografia etc. Estamos falando de coisas físicas, antes de mais nada. Até aí, sabe-se que esses elementos existem em qualquer lugar. A diferença está na carga de valores com que se revestem (...). Classicamente, no patrimônio ambiental urbano, esses valores reportam-se ao caráter social, cultural, histórico, econômico, técnico, afetivo e estético (ou formal).

O patrimônio se distingue da banalidade por sugerir algo que mereça ser preservado devido às cargas de trabalho, apropriação e quaisquer outros valores investidos em sua elaboração. (...) É só na medida em que o patrimônio cria ambiências urbanas que o conceito se completa e faz da cidade algo digno de ser vivido”.30

A ideia de patrimônio ambiental urbano inclui, assim, a ideia da memória histórica e do sentimento de pertença em relação os lugares comuns da cidade. Como aponta Yázigi, o patrimônio deve ser um constructo coletivo permanente e não um simples catálogo definitivo de lugares extraordinários, sagrados, intocáveis. A ideia de patrimônio ambiental urbano concebe e protege o valor de uso do que é um verdadeiro espaço coletivo, para além da ideia de patrimônio como algo “excepcional”. A melhoria da qualidade de vida está também vinculada à conservação de pequenas obras como esta do parque linear.31

29 IDEM, ibidem, p. 6.

30 YÁZIGI, Eduardo. “Patrimônio ambiental urbano: refazendo um conceito para o planejamento urbano” in: Carlos & Lemos, op. cit., p. 253-4, grifo nosso.

31 IDEM, ibidem, p. 253.

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Já foi indicado, anteriormente, os itens que são imprescindíveis à revitalização do rio e à consideração de seu entorno como um patrimônio ambiental urbano, ambos conceitos contemplados pelo plano do Parque Linear Pires-Caboré:

• a instalação do coletor-tronco para a limpeza das águas e eliminação do mau cheiro; • a regularização fundiária das áreas públicas; • a reurbanização da favela próxima ao local e a manutenção da sua população na área

como seu direito à cidade; • a proteção das nascentes do rio, com a manutenção do trecho do canal a céu aberto; • a incorporação do terreno particular lindeiro ao parque; • a discussão pública das demandas sociais e a promoção da educação ambiental na

região.

Agora, avançaremos mais, almejando completar tais propostas:

a) Iluminação adequada

A iluminação no trecho em que o Córrego corre a céu aberto, na rua José Luna e Olímpio Rodrigues da Silva, seria um item de grande valor social e estético. Tais ruas se situam longe da avenida de maior trânsito local - Avenida Guilherme Dumont Villares-, de modo que tendem, atualmente, a ser perigosas e focos de criminosos. A iluminação pública adequada seria um fator de segurança para o parque, além de realçar sua beleza durante a noite, propiciando aos moradores a frequência ao local, apropriando-se do seu entorno.

b) Limpeza adequada e unidade estética

A instalação de lixeiras públicas - preferencialmente de coleta seletiva-, e limpeza regular das ruas, bem como a manutenção da vegetação em todo o percurso do Caboré são imprescindíveis para dar ao parque um valor estético e social permanente.

Outro item que diz respeito à unidade arquitetônica ou construtiva, seria a criação de certa regularidade estética mínima de cores e formas, no trajeto do parque.

Assim, sugere-se a pintura de paralelepípedos em branco e a regularização das fachadas. Inclui-se, também, a articulação dialógica dos moradores para a reforma das fachadas das casas.

c) Reconstrução da ponte e restrição/regularização do trânsito local

Reformar a ponte existente ou construir uma nova ponte de madeira, no trecho mais largo do parque, próximo à Avenida Francisco Morato. Ao mesmo tempo, regularizar o trânsito na região, adicionando faixas de pedestres e proibindo o trânsito de caminhões (reforçando, assim, as placas de trânsito já existentes).

d) Equipamentos de uso coletivo e de lazer

Implantação de bancos ao longo do trajeto e de alguns aparelhos para prática esportiva e recreativa, na sua parte mais larga. Além disso, propomos a instalação de bebedouros e de um chafariz.

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Tais itens visam criar maior interação entre moradores e o público em geral com o ambiente do parque, promovendo um sentido de pertencimento e de identidade histórico-espacial (valor afetivo).

e) Meio ambiente

Recuperação da mata ciliar com espécies nativas, ou seja, “regeneração da biota natural”.32 Por fim, plantação de árvores frutíferas (um eventual pomar) ao longo de seu percurso.

Com tais medidas, estabelece-se a contribuição para que o Parque Linear se torne um verdadeiro “patrimônio ambiental urbano” para seus moradores.

32 SEMADS. Rios e Córregos – preservar – conservar – renaturalizar: a recuperação de rios. Rio de Janeiro: Projeto Planágua, 2001.http://www.pm.al. gov.br/intra/downloads/bc_meio_ambiente/meio_03.pdf (Acesso em 20.09.13).

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REVITALIZAÇÃO EM REDECom a finalização de toda essa pesquisa, começa o nosso trabalho. No entanto, tornou-se primordial compartilhar os esforços e resultados deste que se constitui como projeto piloto, com todos aqueles que também desejam promover mudanças. Mudar é possível. Requer esforço, vontade e determinação.

Como observou-se, tínhamos uma natureza ideal, perfeita, entretanto o progresso e o crescimento nos levaram a ver os rios como obstáculos. Transpusemos os obstáculos. Modificamos seus cursos. Alteramos sua natureza e deterioramos a sua qualidade.

Hoje, nos damos conta de que Água é Vida, a promoção da vida deve começar por nós e através de nós. Não podemos deixar nossas crianças e jovens à margem das ações transformadoras, afinal, são elas que herdarão este mundo.

Na conclusão desse trabalho, constatamos que o mais importante de tudo foi o processo da ação educativa efetiva. Através do relato histórico, foi possível descobrir como tudo começou e porque se processou a mudança. Através da memória de testemunhas diretas ou indiretas, reconhecemos quais foram os agentes da mudança, as razões e as consequências. Através do exame das águas, da investigação da nascente, do entorno, da natureza e dos animais que ainda resistem, percebemos que a água lá está, a espera de que se faça algo em seu favor e em favor de todos. As imagens e os relatos escritos registraram o presente para que o futuro possa ser mudado. Difundimos, entre nossos alunos, a convicção de que a lei existe para que nos utilizemos dela a fim de regular, organizar e construir uma sociedade justa para todos.

Agora, é o momento da mudança. Em rede. Cada um de nós pode e deve olhar para seu entorno, para seu riacho, seu rio, seu Córrego, seu ribeirão e pensar que ele nem sempre esteve aprisionado, nem sempre teve suas águas escuras e malcheirosas. Nem sempre foi assim...

Se o nosso crescimento promoveu a sua degradação, é também através do nosso crescimento que podemos, não apenas recuperar nossos rios, como o “nosso Caboré”, mas recuperar a qualidade de vida de nossas crianças, de nossas famílias e de nossos bairros. Nunca devemos esquecer que é o exemplo do cidadão consciente, preocupado com a cidade e a natureza, que mobiliza outras pessoas.

Nossa Esperança é que nossos jovens se convertam em adultos, que sejam verdadeiros agentes de transformações, pois realmente são os esforços individuais que, somados, promovem as mais consistentes mudanças.

A direção, alunos, professores, corpo técnico e funcionários encontram-se gratificados com os frutos já colhidos por este trabalho em nossa escola. Tudo nos leva a crer que o resultado aqui apresentado será tão mais desejado, compartilhado, aplaudido, defendido, continuado e autossustentado, quanto mais significar um amplo benefício coletivo que possa ser expresso em sentimentos de Paz, Vitória, Capacidade, Fraternidade, Reconhecimento, Amor e Evolução do maior número possível de pessoas beneficiadas pelo resultado construído e alcançado coletivamente.

Que seja esta a nossa Missão!

Colégio Guilherme Dumont Villares 2014

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2008, p. 135.

LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Documentos, 1969.

PEREIRA, Isabela L. Estudos de revitalização de cursos de água – trecho experimental no rio das Velhas (dissertação de mestrado). Belo Horizonte: Escola de Engenharia/UFMG, 2008.

REBOUÇAS, Aldo da Cunha. “Aspectos relevantes do problema da água” in: Rebouças, A. C.; Braga, B. & Tundisi, J. G. (Orgs.). Águas doces no Brasil – capital ecológico, uso e conservação. 2ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Escrituras, 2002.

RIBEIRO, Wagner Costa. “Entre Prometeu e Pandora – sociedade e natureza no início do século XXI” in: Carlos, A. F. & Lemos, A. (orgs.). Dilemas urbanos: novas abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2003.

FILHO, Demóstenes, Romano; SARTINI, Patricia; FERREIRA, Margarida Maria. “Gente cuidando das Águas”: Secretaria do Meio Ambiente Governo do Estado de Minas Gerais, 2002.

ROLNIK, Raquel. São Paulo. São Paulo: Publifolha, 2003.

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.

SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole. São Paulo sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Cia das Letras, 1992.

SILVA, Marco Antônia Teixeira. O Ambiente Fluvial das Várzeas no Espaço da Metrópole: a Bacia do Pirajuçara na Metropolização de São Paulo. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2009.

YÁZIGI, Eduardo. “Patrimônio ambiental urbano: refazendo um conceito para o planejamento urbano” in: Carlos, A. F. & Lemos, A. (orgs.). Dilemas urbanos: novas abordagens sobre a cidade. São Paulo: Contexto, 2003.

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SITES VISITADOS PARA PESQUISAhttp://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/saopaulo-historia.php

http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/index.php?p=12758

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/1164789-confira-todos-os-distritos-e-bairros-da-zona-oeste-de-sp.shtml

http://vejasp.abril.com.br/materia/morumbi-loteamento

http://www.ciacity.com.br/novo/index.php#/historico

http://spantiga.folha.com.br/foto_6.html

http://blogs.estadao.com.br/reclames-do-estadao/category/chuva-2/

http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=81

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sp-gasta-mais-r-1-bi-com-esgoto-no-tiete-,1009365,0.htm

LEGISLAÇÃO CONSULTADAConstituição do Estado de São Paulo de 1989. <<http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/index.htm>>

Constituição da República Federativa do Brasil <<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>>

Governo do Estado de São Paulo. Gestão Participativa das Águas. São Paulo: SMA, CPLEA, 2004.

Prefeitura da Cidade de São Paulo – 10 Parques lineares prioritários - Butantã. São Paulo: SMA, 2008.

PREFEITURA DE SÃO PAULO. Revisão participativa do Plano Diretor Estratégico. (Devolutiva e discussões públicas da Minuta do Projeto de Lei). São Paulo: SMDU, 2013.

SABESP, Programa Córrego Limpo http://site.sabesp.com.br/site/interna/default.aspx?secaoid=79 Acesso em 20.09.2013.

SEMADS. Rios e Córregos – preservar – conservar – renaturalizar: a recuperação de rios. Rio de Janeiro: Projeto Planágua, 2001.

http://www.pm.al.gov.br/intra/downloads/bc_meio_ambiente/meio_03.pdf Acesso em 20.09.13.

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ANEXOSANEXO I: Sugestão de modelo de formulário de cessão de direitos.

CESSÃO DE DIREITOS SOBRE DEPOIMENTO ORAL

PARA O (A) [NOME DA INSTITUIÇÃO]

1. Pelo presente documento, .................................................................................................. (nome),

.......................... (nacionalidade), .................................... (estado civil), .....................(profissão),

carteira de identidade nº .................................., emitida por ..............., CPF nº ............................

residente em .....................................................................................................................................................,

cede e transfere neste ato, gratuitamente, em caráter universal e definitivo ao (à) [NOME

DA INSTITUIÇÃO] a totalidade dos seus direitos patrimoniais de autor sobre o depoimento

oral prestado no dia (ou entre os dias) ..............................................., na cidade ...............................,

perante os pesquisadores ............................................ e ...........................................................................

2. Na forma preconizada pela legislação nacional e pelas convenções internacionais de

que o Brasil é signatário, o DEPOENTE, proprietário originário do depoimento de que trata

este termo, terá, indefinidamente, o direito ao exercício pleno dos seus direitos morais

sobre o referido depoimento, de sorte que sempre terá seu nome citado por ocasião de

qualquer utilização.

3. Fica pois o (a) [NOME DA INSTITUIÇÃO] plenamente autorizado(a) a utilizar o referido

depoimento, no todo ou em parte, editado ou integral, inclusive cedendo seus direitos a

terceiros, no Brasil e/ou no exterior.

Sendo esta a forma legítima e eficaz que representa legalmente os nossos interesses,

assinam o presente documento em 2 (duas) vias de igual teor e para um só efeito.

..................................................... , ................................................ Local Data

________________________________ Nome do cedente

________________________________ Nome do representante da instituição

Fonte: ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro, Editora FGV, 2008, p. 135.

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ANEXO II: Sugestão de modelo de Diário de Bordo a ser implementado para a pesquisa de campo.

Projeto Água é Vida– Fotografia Diário de Bordo

Nome ________________________________________ Turma _______

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Projeto Água é Vida – Fotografia

Em razão das atividades promovidas em torno do Ano Internacional de Cooperação pela Água, tema da UNESCO - 2013, você participará de um levantamento fotográfico das imediações do Córrego Caboré para dar início à campanha relativa à conscientização sobre a importância, os benefícios e os desafios de buscar ações concretas em prol dessa causa. Essa atividade será realizada em duas etapas e, em cada uma delas, gostaríamos que você observasse e registrasse, por meio de fotos e anotações neste Diário de Bordo, aspectos relevantes sobre as águas, a vegetação e a urbanização em torno do Córrego Caboré.

Lembre-se: Você mostrou interesse e se disponibilizou a estar conosco nessa etapa do projeto. Mais do que fotos, queremos que o resultado final da sua participação nessa atividade esteja relacionado à conscientização sobre a importância da cooperação pelas águas.

Desde já, agradecemos a sua colaboração. Parabéns pela iniciativa!

Atenciosamente,

A Direção de Ensino.

Diário de Bordo

(à guisa de sugestão)

O diário de bordo é um meio de registrar as suas atividades, reflexões, comentários sobre o modo como o trabalho se desenvolveu em grupo ou individualmente. É uma forma privilegiada de seu autor descrever e refletir sobre os problemas que vão surgindo, os obstáculos que decorrem do desenvolvimento do trabalho e a forma de superá-los. O registro escrito permite criar o hábito de pensar as práticas, de se pensar a própria aprendizagem.

Após a reflexão inicial, você deve anotar o local onde decorreu a atividade, a data, a hora do início e fim da tarefa, descrever o que fez individualmente ou em grupo. O registro tem que terminar com uma avaliação, uma reflexão sobre o modo como a tarefa ocorreu, o seu efeito no processo de trabalho, as consequências futuras, etc. Por se tratar de uma atividade de fotografia, selecione uma das fotos que você registrou em cada saída para ilustrar sua reflexão.

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Reflexão inicial

Antes de iniciarmos nossas atividades, gostaríamos de saber sobre os seus conhecimentos prévios sobre a situação atual do Córrego Caboré, aproveite para anotar, também, quais são as suas motivações iniciais e suas expectativas em relação ao projeto:

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

1ª Etapa: Foco na natureza

Nessa primeira etapa, ao fazer seus registros e reflexões, observe os aspectos naturais em torno do Córrego: vegetação, animais, águas. Tente responder às perguntas: Quais os tipos de plantas/árvores que encontramos? Elas foram plantadas ou parecem ser nativas? Existem animais vivendo naquela região? Como eles sobrevivem? Como é o percurso das águas do Córrego? Qual é o seu aspecto? Como essas águas chegam ao Córrego ao longo do percurso? O que você encontrou de diferente em relação à natureza da região do Córrego?

Data ___/___/___ Horário das ___/___ às ___/___

Registros e reflexões:

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Foto ilustrativa da 1ª saída:

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2ª Etapa: Foco na cidade

Na segunda etapa, ao fazer seus registros e reflexões, observe os aspectos urbanos em torno do Córrego: construções, ruas, pessoas, interferência humana no curso das águas. Tente responder às perguntas: Como se vive ao redor do Córrego? Tem ruas? Casas? Edifícios? Pontes? Construções? Poluição? Você registrou alguma evidência de que os moradores da região preservam as águas do Córrego? Você registrou alguma interação entre os moradores e o Córrego?

Data ___/___/___ Horário das ___/___ às ___/___

Registros e reflexões:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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Foto ilustrativa da 2ª saída:

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Reflexão final

Parabéns! Você participou de uma atividade que, além de proporcionar experiências positivas para a sua vida, também será utilizada para buscar ações concretas para melhoria da região do Córrego Caboré. Para a finalização do projeto, faça uma avaliação sobre suas expectativas iniciais. Neste texto final, gostaríamos que você respondesse às seguintes perguntas: Qual foi a realidade que você encontrou na região do Córrego? Como você gostaria de ter encontrado as águas dessa região? O que você acha que poderia ser feito para que a situação atual pudesse ser melhorada? Quais são as suas expectativas de mudança em relação à preservação da região retratada?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXO III: Consulta aprofundada do respaldo legislativo para implementação do projeto de intervenção a rios e Córregos

Além do exposto no item 3, e esmiuçado pelo projeto municipal de Parque Linear no item 3.2, fez-se necessário uma consulta aprofundada sobre o respaldo legislativo de que dispomos para levar a cabo o projeto de revitalização do Córrego Pires-Caboré em níveis federal, estadual e municipal.

A consulta que ora expomos pode e deve ser usada em qualquer proposta de intervenção, por isso a transcrevemos de forma detalhada e comentada. Todos os grifos são nossos e utilizados com a finalidade de elucidar, apontar e facilitar os caminhos que podemos percorrer para, juntos, promovemos a mudança necessária em nossos bairros.

Legislação federal: a Constituição Federal de 1988

No Artigo 23 da Constituição Federal de 198833, encontramos a viga mestra que deve fundamentar qualquer proposta de política e mudança ambiental:

Art. 23 - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público;

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;

Além deste Artigo primordial, com o destaque para o seu inciso VI, podemos citar os Artigos 170 e 225 da Lei Maior. Eles trazem itens mais específicos sobre o tema em pauta, itens que deixamos também em negrito, como segue:

Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

(...)

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação;

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

33 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm Acesso em 20.09.2013.

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(...)

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

Nossa proposta está pautada por essas referências norteadoras.

Legislação Estadual: Constituição Estadual de 1989, e outros.

Na Constituição Estadual de São Paulo de 198934, na seção II, CAPÍTULO II, Da Organização Regional, podemos citar, grifando alguns pontos importantes:

SEÇÃO I Dos Objetivos, Diretrizes e Prioridades

Artigo 152 - A organização regional do Estado tem por objetivo promover:

I - o planejamento regional para o desenvolvimento socioeconômico e melhoria da qualidade de vida;

II - a cooperação dos diferentes níveis de governo, mediante a descentralização, articulação e integração de seus órgãos e entidades da administração direta e indireta com atuação na região, visando ao máximo aproveitamento dos recursos públicos a ela destinados;

III - a utilização racional do território, dos recursos naturais, culturais e a proteção do meio ambiente, mediante o controle da implantação dos empreendimentos públicos e privados na região; (...)

Também o capítulo II, sobre o Desenvolvimento Urbano, traz garantias importantes para uma política ambiental sustentável:

CAPÍTULO II Do Desenvolvimento Urbano

Artigo 180 - No estabelecimento de diretrizes e normas relativas ao desenvolvimento urbano, o Estado e os Municípios assegurarão:

I - o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia do bem-estar de seus habitantes;

II - a participação das respectivas entidades comunitárias no estudo, encaminhamento e solução dos problemas, plano, programas e projetos que lhes sejam concernentes;

III - a preservação, proteção e recuperação do meio ambiente urbano e cultural;

34 CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO DE 1989.http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/index.htm Acesso em 20.09.2013.

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IV - a criação e manutenção de áreas de especial interesse histórico, urbanístico, ambiental, turístico e de utilização pública;

V - a observância das normas urbanísticas, de segurança, higiene e qualidade de vida;

Enfim, os capítulos sobre o meio-ambiente e os recursos hídricos contêm itens muito ricos, dos quais selecionamos os seguintes trechos:

CAPÍTULO IV Do Meio Ambiente, dos Recursos Naturais e do Saneamento

SEÇÃO I Do Meio Ambiente

Artigo 191 - O Estado e os Municípios providenciarão, com a participação da coletividade, a preservação, conservação, defesa, recuperação e melhoria do meio ambiente natural, artificial e do trabalho, atendidas as peculiaridades regionais e locais e em harmonia com o desenvolvimento social e econômico.

(...)

Artigo 193 - O Estado, mediante lei, criará um sistema de administração da qualidade ambiental, proteção, controle e desenvolvimento do meio ambiente e uso adequado dos recursos naturais, para organizar, coordenar e integrar as ações de órgãos e entidades da administração pública direta e indireta, assegurada a participação da coletividade, com o fim de:

I - propor uma política estadual de proteção ao meio ambiente;

II - adotar medidas, nas diferentes áreas de ação pública e junto ao setor privado, para manter e promover o equilíbrio ecológico e a melhoria da qualidade ambiental, prevenindo a degradação em todas as suas formas e impedindo ou mitigando impactos ambientais negativos e recuperando o meio ambiente degradado;

(...)

XI - controlar e fiscalizar a produção, armazenamento, transporte, comercialização, utilização e destino final de substâncias, bem como o uso de técnicas, métodos e instalações que comportem risco efetivo ou potencial para a qualidade de vida e meio ambiente, incluindo o de trabalho;

XII - promover a captação e orientar a aplicação de recursos financeiros destinados ao desenvolvimento de todas as atividades relacionadas com a proteção e conservação do meio ambiente;

XIV - promover medidas judiciais e administrativas de responsabilização dos causadores de poluição ou de degradação ambiental;

XV - promover a educação ambiental e a conscientização pública para a preservação, conservação e recuperação do meio ambiente;

XVI - promover e manter o inventário e o mapeamento da cobertura vegetal nativa, visando

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à adoção de medidas especiais de proteção, bem como promover o reflorestamento, em especial, às margens de rios e lagos, visando à sua perenidade;

XVII - estimular e contribuir para a recuperação da vegetação em áreas urbanas, com plantio de árvores, preferencialmente frutíferas, objetivando especialmente a consecução de índices mínimos de cobertura vegetal;

XVIII - incentivar e auxiliar tecnicamente as associações de proteção ao meio ambiente constituídas na forma da lei, respeitando a sua autonomia e independência de atuação;

XX - controlar e fiscalizar obras, atividades, processos produtivos e empreendimentos que, direta ou indiretamente, possam causar degradação do meio ambiente, adotando medidas preventivas ou corretivas e aplicando as sanções administrativas pertinentes;

XXI - realizar o planejamento e o zoneamento ambientais, considerando as características regionais e locais, e articular os respectivos planos, programas e ações;

(...)

Dos Recursos Hídricos

Artigo 205 - O Estado instituirá, por lei, sistema integrado de gerenciamento dos recursos hídricos, congregando órgãos estaduais e municipais e a sociedade civil, e assegurará meios financeiros e institucionais para:

I - a utilização racional das águas superficiais e subterrâneas e sua prioridade para abastecimento às populações;

II - o aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos e o rateio dos custos das respectivas obras, na forma da lei;

III - a proteção das águas contra ações que possam comprometer o seu uso atual e futuro;

IV - a defesa contra eventos críticos, que ofereçam riscos à saúde e segurança públicas e prejuízos econômicos ou sociais;

V - a celebração de convênios com os Municípios, para a gestão, por estes, das águas de interesse exclusivamente local;

Além da Constituição, no Decreto Estadual 43.022, de 7 de abril de 1998, temos determinações legais de um plano emergencial para recuperação dos mananciais da região metropolitana de São Paulo. Dentre outros itens, podemos citar:

§ 1º - O Plano Emergencial de Recuperação dos Mananciais da Região Metropolitana de São Paulo contemplará as ações e obras emergenciais consideradas necessárias nas hipóteses em que as condições ambientais e sanitárias apresentem riscos à vida e à saúde pública ou comprometam a utilização dos mananciais para fins de abastecimento.

§ 2º - Consideram-se obras emergenciais as necessárias ao abastecimento de água, esgotamento e tratamento sanitário de efluentes, drenagem de águas pluviais, contenção de erosão, estabilização de taludes, fornecimento de energia elétrica,

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prevenção e controle da poluição das águas e revegetação.(...)

(...)

§ 2º - A execução de obras emergenciais não implica na regularização das ocupações desconformes à legislação, sendo que medidas de adaptação e de remoção de populações sujeitam-se ao que dispuser os Planos de Desenvolvimento e Proteção Ambiental - PDPA’s específicos de cada qual das APRM’s.

Artigo 3º - As propostas de obras emergenciais que vierem a ser apresentadas pelos Municípios e pelos órgãos e entidades da Administração Estadual, para serem incluídas no Plano Emergencial, deverão atender as seguintes condições:

I - não poderão repercutir, direta ou indiretamente, no aumento da erosão, do assoreamento, da geração de resíduos sólidos ou da carga poluidora lançada em qualquer ponto da bacia, ou diretamente nos cursos de água; (...)

Nível municipal – Plano Diretor Estratégico da Cidade de São Paulo (Lei 13.430/02)

As orientações do Plano Diretor Estratégico da Cidade de São Paulo, neste momento em processo de revisão e discussão pública35, terminarão por concretizar, em escala local, o que as legislações federal e estadual instituíram anteriormente.

Interessante notar, por exemplo, na Seção XV, os pontos que deixamos em grifo a seguir:

SEÇÃO XV Do Plano de Desenvolvimento do Bairro

Art. 115

§ 3º. O plano de desenvolvimento do bairro deve conter, no mínimo, propostas para melhorar:

I – a infraestrutura de microdrenagem e de iluminação pública;

(...)

V – a qualidade ambiental das áreas residenciais;

VI – o sistema viário local e o controle de tráfego;

VII – os espaços de uso público e as áreas verdes, de lazer e de convivência social;

(...)

IX – a limpeza, arborização e jardinagem de passeios, espaços e praças públicas;

X – a coleta de lixo, inclusive a coleta seletiva;

35 PREFEITURA DE SÃO PAULO. Revisão participativa do Plano Diretor Estratégico. (Devolutiva e discussões públicas da Minuta do Projeto de Lei). São Paulo: SMDU, 2013.

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XI – as condições de segurança pública, em especial no entorno dos equipamentos educacionais;

XII – a proteção e uso adequado do patrimônio cultural e ambiental existente;

XIII – as condições para o desenvolvimento de atividades econômicas.

TÍTULO III Da Estruturação dos Sistemas Urbanos e Ambientais

Art. 125 - Os sistemas urbanos e ambientais estruturam o território municipal, a fim de proporcionar a melhoria da qualidade de vida na cidade, a redução das desigualdades socioterritoriais e a diminuição das vulnerabilidades ambientais e urbanas. Parágrafo único. São Sistemas Urbanos e Ambientais:

I – o sistema ambiental;

II - o sistema de saneamento;

III – o sistema de mobilidade;

IV – o sistema de equipamentos urbanos e sociais;

(...)

Lembremos, nesse sentido ainda, que temos artigos específicos sobre áreas verdes na cidade, que implicam na necessidade de criação de parques:

SEÇÃO I Da Estruturação do Sistema Municipal de Áreas Verdes

Art. 128 - O Sistema Municipal de Áreas Verdes é definido pelo conjunto de espaços vegetados e os destinados à implantação de áreas verdes, de propriedade pública ou privada, delimitados pelo órgão ambiental e objetos de proteção e preservação.

Parágrafo único. O Sistema Municipal de Áreas Verdes é necessário à manutenção da qualidade ambiental e ao desenvolvimento sustentável do Município Quanto ao saneamento básico, este deve ser, segundo o Plano Diretor, também ação prioritária para os governos da cidade:

CAPÍTULO II Da Estruturação do Sistema de Saneamento

Art. 137 - O sistema de saneamento é composto pelos serviços, equipamentos, infraestruturas e instalações operacionais necessárias para viabilizar:

I – o abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais com seus respectivos instrumentos de medição;

II – a coleta, afastamento, tratamento e disposição final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o lançamento do efluente final no meio ambiente;

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III – o transporte, detenção ou retenção de águas pluviais;

IV – a coleta, inclusive a coleta seletiva, transporte, transbordo, tratamento e destinação final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas.

Sobre ações prioritárias a respeito do sistema ambiental, destacamos os seguintes artigos e itens, os quais grifamos, como segue:

CAPÍTULO I Das Ações Prioritárias no Sistema Ambiental

Art. 164 - Os programas, ações e investimentos públicos e privados no Sistema Ambiental devem ser orientados para os seguintes objetivos:

I – a recuperação dos recursos hídricos;

II – a redução dos níveis de diversos tipos de contaminação ambiental;

III – a ampliação da oferta de áreas verdes e conservação;

IV – a recuperação das áreas prestadoras de serviços ambientais.

Art. 167 - Os programas, ações e investimentos públicos e privados no Sistema Municipal de Áreas Verdes devem ser orientados segundo as seguintes diretrizes:

I – ampliar as áreas verdes públicas, através da implantação de diferentes tipologias;

II – aprimorar os instrumentos de gestão das áreas verdes públicas;

III – implementar instrumentos de incentivo à preservação de áreas verdes particulares.

Por fim, sobre os sistemas de esgotamento e drenagem, caberia dar destaque aos itens em grifados:

SEÇÃO III Das Ações Estratégicas do Sistema de Esgotamento Sanitário

Art. 176 - Os programas, ações e investimentos, públicos e privados, no Sistema de Esgotamento Sanitário devem ser orientados segundo as seguintes diretrizes:

I – articular a expansão das redes de esgotamento sanitário às ações de urbanização dos assentamentos precários;

II – eliminar os lançamentos de esgotos nos cursos d’água e no sistema de drenagem e de coleta de águas pluviais contribuindo para a recuperação de rios, Córregos e represas.

Art. 177 - São ações prioritárias para a complementação e melhoria do Sistema de Esgotamento Sanitário:

I – expandir as redes de esgotamento sanitário;

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II – implantar, em articulação com outras prefeituras e órgãos públicos caso necessário, novos interceptores e coletores troncos para a ampliação do sistema de afastamento e de novos módulos de tratamento nas Estações de Tratamento de Esgotos – ETES;

(...)

SEÇÃO IV Das Ações Prioritárias do Sistema de Drenagem

Art. 179 - Os programas, ações e investimentos, públicos e privados, no Sistema de Drenagem devem ser orientados segundo as seguintes diretrizes:

I – adequar as regras de uso e ocupação do solo ao regime fluvial nas várzeas;

II – preservar e recuperar as áreas com interesse para drenagem, principalmente várzeas, faixas sanitárias, fundos de vale e cabeceiras de drenagem;

III – respeitar às capacidades hidráulicas dos corpos d´água, impedindo vazões excessivas;

IV – recuperar espaços para o controle do escoamento de águas pluviais.

Art. 180 - As ações prioritárias no Sistema de Drenagem são:

I – elaborar o plano diretor de drenagem e manejo de águas pluviais;

(...)

V – implementar sistemas de detenção ou retenção temporária das águas pluviais que contribuam para melhoria do espaço urbano, da paisagem e do meio ambiente;

VI – desassorear os cursos d’água, canais, galerias, reservatórios e demais elementos do sistema de drenagem;

VII – revisar e implementar a legislação referente aos sistemas de retenção de águas pluviais nas áreas privadas e públicas controlando os lançamentos na fonte de modo a reduzir a sobrecarga no sistema de drenagem urbana;

VIII – adotar sistemas de drenagem que minimizem a poluição difusa carreada para os corpos hídricos.

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CRÉDITOSFicha Técnica Livro

Título Água é Vida

Capa Tela original da Prof.ª Cecília Braun

Produção Colégio Guilherme Dumont Villares

Direção Geral Prof.ª Eliana Baptista Pereira Aun [email protected]

Vice Direção Geral Prof.ª Ana Paula Aun Capucho [email protected]

Direção Pedagógica Prof.ª Ângela Fonseca [email protected]

Coordenação de pesquisa histórica e geográfica Prof.ª Egle Bing [email protected]

Coordenação de Língua Portuguesa Prof.ª Cleusa Dellagnese [email protected]

Coordenação e acompanhamento da análise química das Águas

Prof.ª Eliana Vetos [email protected]

Coordenação Artes Plásticas Prof. Oiram Bichaff [email protected]

Organização geral do Livro Prof.ª Cláudia Cristina de Oliveira [email protected]

Pesquisa histórica, levantamento historiográfico e iconográfico

Prof. Amauri Pedroso [email protected]

Equipe discente 1ª série EM

Frederico Oliveira CostabileGabriel Dourado RibeiroGabriella de Souza DominguesGiovanna Maria MoscatoJéssica Kamimura ArraesLucas Guimarães GarciaLuiza Leal de Lima LemeMaria Antonia Emiko Marques HigawaPedro Bueno CarvalhãesRaphael Messana Gomes Pinto

Pesquisa Geográfica e Topográfica Prof. Masakazu Nomura [email protected]

Equipe discente 1ª e 2ª séries EM

Gabriela Kathlen Giovanna Maria Moscato Lyvia Lika Nishimura Maria Antonia Emiko Marques Higawa Pietro Vaccaro

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Registros Fotográficos e Diário de Bordo Prof.ª Vivianne Hermógenes P. Martinho [email protected]

Equipe discente 9º ano EF

Alexandra PapadopoulosBeatrix de Souza ValiceliCarolina Suñer PereiraCatarina Werneck Q. BarbosaClara Prates da S. A. de SouzaDenise Yukari KamimuraEster Guimarães GarciaGabriela Cabral HenriquesGabriela Ghirardi BaralhasGabriela Ribeiro SoerensenGiovanna Furtado VitorinoGiovanna Sobral AndradeGustavo Andrade F. OliveiraHelena NovakHenrique Santinato BertolinoLara VillarinhoLarissa Rocha PurificaçãoLeonardo Sá Rocha SarabandaLetícia Appa de Oliveira SilvaLuana Aguiar VieiraLuana Alano Vissotto da RosaLuana Nardi LeiteLucas Bertolacini G. CastroLuiz Felipe Okumura SomaMariana Tescarollo K. OliveiraMariana Thereza A. BelhamMatheus Martins Alves BarbozaThéo Souza Prado LourençãoVinícius Romano Silva Vitória Winnischofer

Legislação e propostas de ação Prof. Cláudio Roberto Duarte [email protected]

Equipe discente 3ª série EM

Alexandra PercárioAndré FinkCamilla PelliniGabriel MeierIsabela ScarduelliLaura DellagneseMariana AlmeidaMariana GoldoniRicardo ImagiireSofia Amaral MedeirosSophia MaffeiThuany Dias

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História Oral – pesquisa e entrevistas Prof. Thiago Faria [email protected]

Equipe discente 8º ano EF

Alexandre Prieschl TeixeiraAlexandre Ricardo FonsecaAmanda Henrique de OliveiraAna Carolina Acosta RibeiroAna Carolina Brito PiresArthur Lopes Marques LaraArturo de Souza GouveiaBeatriz Lousada SeveroBeatriz Maximo GalassiBeatriz Nobrega GrigolliBianca BarbieriBruna Gonçalves QuintalBruna Tobias VilardoBruno de Lima AntoniettoBruno Kenzo Silva NakuraBruno Serafini AlmeidaCaio Fernandes MatsuokaCaio Gasparino OlovicsCaio Monteiro CâmperaCamilo Ortega HernandezCaroline Eugenio FerreiraDaniel Ferro LaraDaniel Guilherme Wady MendesDaniel Kuhn NonatoDaniel Torres de Souza PassosDaniela Decnop CoelhoDaniela Moreira EscaleraDante Calmon RoderEduardo Nogueira DinizElisa Cipriano CrapinaEnzo Santos LimeiraÉrica de Freitas Guimarães Salles MartinsFelipe Klinkowstrom BruzettiFelipe Rossi ArtolaFelippe Zanatta TananFernanda Tobias MustaroFernando Cury JacomossiFlora Spina Adeodato de SouzaGabriel Crippa MarquesGabriel de Ridder Deruiz de SouzaGabriel Menezes FinkGabriel VendrameGabriela Suñer PereiraGabriela Yumi Takinaga Pizzi TrentiniGiovanna Couto de Lemos Ferraz CamaraGiovanna Couto PratoGiovanna Ferreira PelaesGiovanna Marasqui SantosGiovanni Kenzo NodaGiulia Coutinho BarretoGustavo Issamu Bogner YamadaGustavo Richter ScrokGustavo Sanches CunhaHenrique Lopes FariaHenrique Pinheiro R. Lopes de BarrosHenry Ortunio HardardtIsabela Caldas GondoIsabella Clementino MessaIsabella Mandetta Molari

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Isabella Pereira DionísioIsabella Rothganger Vaz FreireJoão Pedro Arruda Cardoso de AlmeidaJoão Pedro Wharton SerafimJulia Martins Alves BarbozaJulia Moniz AguiarJulia NogaraJulia Sader Never FerreiraJulia Schmidt Lage BrandãoLara Beltrame SpadotoLara Camargo GamaLarissa Signoreti CanassaLéo Diament SilvaLeonardo Aleixo PereiraLeonardo Obino Lopes da SilvaLuana Giacomini BarbosaLucas Cintra MelloLucas de Britto CapelariLucas Farias da SilvaLucas Santana HenriquesLucas Vazami de SettiLucca Magri BelluccoLuis Varela Brasileiro de AlcântaraLuiz Guilherme de Mello MeninMarcella Lolli SodréMarcelo Aranha PachecoMariana Barbosa de AraújoMarina Tiemi Thomé UchidaMatheus Azevedo VelosoMatheus Teles MachadoMatteus de Oliveira BorelliMurilo Guilherme Correa LimaNicolas Antonio NogueirolNícolas LocatelliOrlando Sergio Prieto NetoOtavio Brasileiro Pires de CamargoPaola Pires ColiPedro Andrade CassantePedro dos Santos Amaral CamargoPedro Felipe da Costa e Silva V.AzevedoPedro Fonseca de SouzaPedro Moraes ScaliseRafael Inati Furquim de CamposRafael Prado SasakiRaíssa Smetana Meirelles dos SantosRebeca Porto de BritoRenata Benyunes ScarpelliRenata Nogueira BottinoRodrigo Cury AlonsoRodrigo Spiess ForteSofia AlfanoStephanie Ferrarini de Freitas JolyStephanie Stewers OliveiraVictor Araújo ReisVictor Lucchetti e SilvaVictor PiresVictor Sampaio MaronVictoria dos Santos Barros GanzarolliVictória Maria Souza Lopes

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Victória Morioka Brito AndradeVictória Ribeiro Carneiro de MenezesVinícius Moura de OteroVinicius Ryugo Ishiy HanadaVinicius SansonVitória Gelsi dos SantosWaldemar Carvalho PintoWilliam Lojo Martins TeixeiraYuri Pellini de OliveiraZaine Ferdinian Gonzales

Dados técnicos Filme

Vídeo Direção Geral

“Água é Vida” (28´43´´), dezembro 2013Prof.ª Meire Oliveira [email protected]. Thiago [email protected]

Equipe discente 8º ano EF

Alexandre FonsecaAlexandre TeixeiraBianca BarbieriDaniel MendesGustavo SrockLarissa CanassaLucas VazamiLucca BelluccoMarcela LolliMarina UchidaMariana BarbosaMatheus BorelliMatheus TelesRaissa MeirelesRebecca Porto

Equipe discente 9º ano EF

Alexandra PapadopoulosBeatrix de Souza ValiceliCarolina Suñer PereiraCatarina Werneck Q. BarbosaClara Prates da S. A. de SouzaDenise Yukari KamimuraEster Guimarães GarciaGabriela Cabral HenriquesGiovanna Furtado VitorinoLarissa Rocha PurificaçãoLeonardo Sá Rocha SarabandaLetícia Appa de Oliveira SilvaLuana Aguiar VieiraLuana Alano Vissotto da RosaLuana Nardi LeiteLucas Bertolacini G. CastroLuiz Felipe Okumura SomaMariana Thereza A. BelhamMatheus Martins Alves BarbozaVinícius Romano SilvaVitória Winnischifer

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Equipe discente 1ª série EM

Frederico Oliveira CostabileGabriel Dourado RibeiroGabriella de Souza DominguesGiovanna Maria MoscatoJéssica Kamimura ArraesLucas Guimarães GarciaLuiza Leal de Lima LemeMaria Antonia Emiko Marques HigawaPedro Bueno CarvalhãesRaphael Messana Gomes Pinto

Equipe discente 2ª série EM

Gabriela KathlenGustavo ZarayaLucas VellozoPietro Vaccaro

Equipe discente 3ª série EM

Gabriel NespoliMariana GoldoniSofia Amaral MedeirosSophia MaffeiThuany Dias de Aro

Equipe discente do Curso GDV-TV Alexandre FonsecaAmanda SanchezAndré SumiBeatriz CarreiraBeatrix de Souza ValiceliCamila BellotiCamila PelliniGabriela KathlenGeorgia MarquesGiovana NathanGiovana Maria MoscatoGustavo MoraesGustavo SrockLeonardo AntônioLetícia NegreirosLyvia Lika NishimuraMaria Antonia Emiko Marques HigawaMarina UchidaMariana BarbosaMarina ResendeMatheus TelesPedro VieiraPietro VaccaroRaissa MeirelesRafaela Carvalho PintoSophie NadasVictória Marques

Trilha Sonora “Qual é o futuro” (Prof.ª Adriana Ferro, Andreia Barros e Larissa Mesquita)“Em teus braços” (Prof.ª Adriana Ferro)

Fotografias UOLFolha de São PauloPrefeitura de São PauloAcervo Anna Reis

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Entrevistados Sr. Alexandre de Araujo VieiraSra. Dulce OliveiraSra. Edna AffonsoSra. Guilhermina ReisSr. Gustavo VeronesiSr. Josenildo Silva SantosSra. Maria de Fátima SantanaSra. Polyana GiardinoSr. Raphael VazamiSr. Ricardo de Araujo VieiraSr. Roberto BenvenuttiSra. Soraya MouraSr. Wagner Brandão

São Paulo/2014.

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