Projeto Final de Graduação -...

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ANÁLISE DO FLUXO PRODUTIVO DE UM ESTALEIRO Aluno: Jônatas Lucialdo Peixoto de Almeida Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica, Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro Naval e Oceânico. Orientador: Eduardo Gonçalves Serra Rio de Janeiro Abril de 2016

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ANÁLISE DO FLUXO PRODUTIVO DE UM ESTALEIRO

Aluno: Jônatas Lucialdo Peixoto de Almeida

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Naval e Oceânica,

Escola Politécnica da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro Naval e Oceânico.

Orientador: Eduardo Gonçalves Serra

Rio de Janeiro

Abril de 2016

ANÁLISE DO FLUXO PRODUTIVO DE UM ESTALEIRO

Jônatas Lucialdo Peixoto de Almeida

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO

NAVAL E OCEÂNICO.

Examinado por:

_______________________________________________

Prof. Eduardo Gonçalves Serra, D. Sc.

_______________________________________________

Prof. Severino Fonseca da Silva Neto, D. Sc.

_______________________________________________

Prof. Jean David Job Emmanuel Marie Caprace, Ph. D.

Rio de Janeiro

Abril de 2016

ii

iii

Almeida, Jônatas Lucialdo Peixoto

Análise do Fluxo Produtivo de um Estaleiro/ Jônatas

Lucialdo Peixoto de Almeida – Rio de Janeiro: UFRJ/ ESCOLA

POLITÉCNICA, 2016

xiv, 64 p.:xii; 29,7 cm.

Orientador: Prof. Eduardo Gonçalves Serra, D. Sc.

Projeto de Graduação – UFRJ/POLI/ Engenharia Naval e

Oceânica, 2016

Referência Bibliográfica: p.60.

1. 1. Construção Naval 2. Análise de Fluxo 3. Estaleiro I.

Gonçalves Serra, Eduardo. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Naval e Oceânica.

2. III. Título.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer à minha mãe Ivoneide, in memorian, meu Pai José, pelo exemplo

que sempre me deram amor e todo o apoio nessa longa jornada. Agradeço também a

minha irmã Janayna, pelo carinho e torcida, a vocês minha família a eterna gratidão.

À minha amada esposa Renata Spena, fonte de inspiração, carinho e amor infinito pela

sua incondicional ajuda, em todos os momentos, mas, principalmente nessa jornada

final tendo sido decisiva para que eu me mantivesse motivado e focado nos objetivos. À

você pequena Alice Spena dos Santos Peixoto que veio ao mundo como fruto do nosso

amor para nesse momento tão especial de nossas vidas. Você minha Filha nos fez

conhecer o mais puro e verdadeiro sentimento de amor, aquele transforma nossas vidas.

Não poderia deixar de agradecer ao meu Orientador Prof. Eduardo Serra, Professor e,

grande inspirador para neste trabalho prático de Planejamento e Controle da Produção.

Ao grande mestre Severino Fonseca pelo seu caráter e inteligência emocional que nos

inspira ao Prof. Jean-David Caprace pela sua competência e disposição em ajudar a todo

tempo e, minha querida e amada “Maestra” Marta por ser Marta e me ensinar a dizer

“ꜟNo”. Gostaria de fazer um agradecimento especial a empresa Edson Chouest

Offshore – ECO Companhia que acreditou em mim, investiu na minha formação e me

proporcionou todos os dias o prazer de trabalhar junto dos meus amigos: Beny

Petrowisky Junior, Ugo Fernandez, Thiago Reis, Nara Chauffe, Vinícius Roxo, Flávio

Miranda, Carol Villanueva e David Munaretto, todos grandes profissionais, inteligentes

e muito competentes no que fazem, servindo como bons exemplos para o exercício da

profissão.

iv

À Confraria dos Acadêmicos da Naval pela honra de ter sido um de seus fundadores ao

lado de grandes Confrades e, pelas inúmeras experiências que agregaram valor a minha

formação cívica e acadêmica, entidade esta na qual tive a honra de ser Presidente e

aprender juntos de tantos amigos a transformar nossos sonhos em realidade, Bons

ventos. Ao Centro Acadêmico de Engenharia – CAEng pela oportunidade concedida a

mim de ter sido seu Presidente quando completou 100 anos, junto de tantos outros

amigos que se tornaram Diretores não por opção, mas pelo destino, para juntos

representarmos milhares de colegas de classe, nas mais diferentes instâncias da

Poli/UFRJ à fim de continuar ajudando a construir o Brasil. Ao Diretório Central dos

Estudantes – DCE Mário Prata pelas oportunidades concedidas a mim de compor os

Conselhos de Ensino – CEG e Universitário – CONSUNI como titular na representação

discente sempre compondo uma frente ampla, democrática pela construção de uma

Universidade soberana, representativa e ampla. À Fernando Antônio Sampaio do

Amorim, ou simplesmente Fernandão, meu Professor de Engenharia Naval, amigo e

Padrinho, in memorian, pelos ensinamentos transmitidos na prática e, por ter me

ensinado a: ”- Tocar o barco em frente, sempre...” mas, por também ter me

proporcionado inúmeras experiências multidisciplinares na Extensão. Aos meus

queridos alunos, crianças de Macaé – RJ que confiaram a mim parte de suas infâncias

para receberem amor, afeto e muitos ensinamentos na Arte da construção naval.

Obrigado por transformarem meu caráter em responsabilidades e lições de vida. Aos

amigos de longa data, de todos os cantos do Brasil, aos Companheiros Leais do Colégio

Militar por sempre me acompanharem em todos os momentos da minha vida, Zum

Zaravalho!

v

Gostaria de agradecer a Ana Paula Costa por ter acreditado em mim, quando nem

mesmo eu acreditava, por ter proporcionado minha permanência na Universidade,

manutenção de um sonho, além de ter sido minha primeira chefe e ter me mostrado com

sua humildade e inteligência como desempenhar a função de engenheiro naval em prol

de seu país. Por ter me proporcionado ainda conhecer 2 engenheiros navais impolutos,

Isaías Quaresma Masetti e Fábio Gondim Palazzo com quem pude vivenciar a arte e

técnica de nosso ofício, juntamente de jovens colegas de profissão entre eles André

Longo, meu compadre e amigo de todas as horas. À Everton de Almeida (General

Eletric Oil&gás), Antônio Prates (Forship Engenharia) e Luiz Rosário (Morning Star

Consulting) por me ensinarem enquanto estive sob seus comandos, a ter os valores

éticos e morais na execução das tarefas mais simples. À Simone Morandini, Técnica de

assuntos educacionais da UFRJ, à serviço na secretaria de graduação do Departamento

de Engenharia Naval da Escola Politécnica pela competência, ética e respeito à

dignidade dos alunos, seus pares e Professores, sempre disposta a ouvir e orientar de

forma concisa e profissional assuntos acadêmicos e experiências de vida, obrigado por

você ter me ensinado pelo exemplo que és como nossa Universidade deve ser: “ –

Excelente, sem deixar de ser pública...” Quero agradecer à Dª Anita e Seu Roberto,

meus sogros e também minha cunhada Mari Spena por me incentivarem, torcerem por

nós, mas principalmente por ajudar na criação da nossa pequena Alice, além dessa

grande família que me “adotou” e sempre estão presentes em todas as horas nos

apoiando, alegrando e compartilhando o amor... Giesteira & Chianca vocês são

incríveis, muito obrigado!!! Meu eterno agradecimento.

vi

Um muito obrigado aos amigos não citados aqui, que me ajudaram nessa longa jornada,

além é claro de todos os meus familiares que sempre torceram e de alguma forma

também estiveram comigo nessa travessia.

Muito obrigado!!!

vii

“Se você quer construir um navio,

não reúna as pessoas só para tarefas e trabalhos;

Ensine-as a almejar a infinita imensidão do mar.”

(S. Exupéry )

viii

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheiro Naval e Oceânico.

Análise do Fluxo Produtivo de um Estaleiro

Jônatas Lucialdo Peixoto de Almeida

Abril, 2016

Orientador: Eduardo Gonçalves Serra, D. Sc.

Departamento: Engenharia Naval e Oceânica

O processo de fabricação em estaleiros navais exige atenção ante a complexidade de

gerir recursos para execução da obra. Neste contexto este trabalho se insere como forma

de identificar uma lacuna de produção e propor melhorias operacionais, com foco no

corte de chapas por plasma no estaleiro de estudo de caso. A metodologia utilizada para

executar este trabalho abrange bibliografias de planejamento e controle de produção,

bem como transcrição de experiências vivenciadas pelo autor durante visitação técnica

ao estaleiro. Os resultados obtidos irão permitir o fomento à busca constante pelo

empreendedorismo como forma de conter gastos nos processos já utilizados neste setor

de corte de chapas. A conclusão deste trabalho irá debater os resultados obtidos, as

análises geradas e as críticas quanto ao desenvolvimento do trabalho sugerindo novas

linhas de estudos e abordagens para temas semelhantes.

Palavras-chave: Construção naval, Planejamento e controle de produção, Máquina de

corte de chapas, Layout.

ix

Abstract of undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Naval Architecture and Marine Engineering

Analysis of a Shipyard Production Flow

Jônatas Lucialdo Peixoto de Almeida.

April, 2016

Advisor: Eduardo Gonçalves Serra, D. Sc.

Graduation: Naval Architecture and Marine Engineering

A shipyard manufacturing process requires attention due to complexity of its resource

management. Therefore, the objective is identify findings in production and propose

operational improvements, focused on sheet plate cutting by plasma in the shipyard

where the study case was done. The methodology applied covers bibliographical

resources on Production Planning and Control, as well as transcriptions of the author's

experiences during the technical visit to the shipyard. The results going to improve

entrepreneurship studies and develop new strategies to be used in current steel plate

cutting processes. In this conclusion, analysis and results are addressed with criticism in

order to suggest new studies and approaches for similar topics.

Keywords: Shipbuilding, Production Planning and Control, Plate Cutting Machine,

workflow of the layout.

x

Sumário

1 Introdução ................................................................................................................................ 15

1.1 Relevância do trabalho ................................................................................................ 15

1.2 Objetivo .................................................................................................................... 16

1.3 Metodologia............................................................................................................... 17

1.4 Visões gerais do trabalho .............................................................................................. 17

2 O setor de Apoio Marítimo ....................................................................................................... 18

3 O estudo de caso: Estaleiro de médio porte dedicado a um único cliente ................................ 19

3.1 Localização ................................................................................................................ 19

3.2 Porte do estaleiro ........................................................................................................ 20

3.3 Instalações ................................................................................................................. 25

3.4 Planta baixa ................................................................................................................ 28

4 Conceitos de Planejamento e Controle de Produção – PCP .................................................... 28

4.1 Layout da produção ..................................................................................................... 29

5 Caracterização do processo produtivo da empresa ................................................................. 36

5.1 Representação do Layout de produção............................................................................ 36

6 Análises ..................................................................................................................................... 42

6.1 Mapofluxograma ......................................................................................................... 44

6.2 Ferramenta computacional ............................................................................................ 45

6.3 Cruzamento dos fluxos de produção ............................................................................... 50

6.4 Tempo de produção ..................................................................................................... 53

6.5 Movimentação de cargas ............................................................................................. 55

xi

7 Pontos de melhoria ................................................................................................................... 56

8 Conclusões ................................................................................................................................ 59

9 Bibliografia ............................................................................................................................... 61

xii

Sumário de Figuras

Figura 1 – Mão de obra gerada na Indústria Naval 2005-2015 (Fonte: Sinaval, 24-07-2015) .... 15

Figura 2 – Publicada em 06/11/2015|Seção: Notícias da Semana| Sinaval .............................. 18

Figura 3 – DEZ/ 2014, Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo – Abeam .......... 19

Figura 4 – Estaleiro de construção e Reparo de EAM ............................................................... 21

Figura 5 – Caracterização dos níveis tecnológicos dos estaleiros (Fonte: CEGN, USP, 2007) ..... 23

Figura 6 – Embarcações atracadas ao Cais e, uma EAM à contra bordo (esq.) .......................... 23

Figura 7 – Galpão de corte de chapas de aço ........................................................................... 25

Figura 8 – Vista lateral do Dique Flutuante Sansão .................................................................. 26

Figura 9 – Carreta para transporte de peças de até 500 ton ................................................... 27

Figura 10 – Guindaste de 340 HP, içamento de 220 t a 89 m de altura..................................... 27

Figura 11 – Trator tipo empilhadeira ....................................................................................... 27

Figura 12 – Estaleiros anteriores a 2ª Guerra mundial ............................................................. 28

Figura 13 – Modelo com foco no processo .............................................................................. 32

Figura 14 – Modelo com foco no produto ............................................................................... 35

Figura 15 – Representação da Planta baixa do setor de corte de Plasma ................................. 37

Figura 16 – Eletroímã içando chapa de aço para ser utilizado na CNC ...................................... 38

Figura 17 – Sucatas de alumínio separadas para reuso na CNC ................................................ 39

Figura 18 – Máquina CNC de corte com plasma ....................................................................... 40

Figura 19 – Comparação TIG (Esq.) e Plasmas (Dir.) ................................................................. 41

Figura 20 – Cavaletes destinados ao armazenamento das chapas de aço ................................ 42

Figura 21 – Mapofluxograma do chão de fábrica do galpão de corte ....................................... 45

Figura 22 – Peças de corte geradas automaticamente pela software ....................................... 46

Figura 23 – Peças para corte reorganizadas ............................................................................. 46

Figura 24 – Nesting de uma chapa de aço recebida pelo operador .......................................... 48

xiii

Figura 25 – Bloco 3D com todos os painéis, chapas e perfis montados .................................... 50

Figura 26 – Fluxo de produção ................................................................................................ 52

Figura 27 – Iteração final entre diagrama e matriz de relação ................................................. 53

Figura 28 – Anotações do controle de processamento da CNC ................................................ 57

Figura 29 – Informações do setor de corte na CNC .................................................................. 58

Sumário de Tabelas

Tabela 1 – Comparação entre os modelos de Layout ............................................................... 34

Tabela 2 – Pesos e descrições de importância entre setores .................................................... 43

Tabela 3 – matriz de relacionamento das áreas do galpão de corte ......................................... 43

Tabela 4 – Legenda dos códigos, linhas e descrição das relações ............................................. 50

Tabela 5 – Análise qualitativa entre as áreas do galpão e suas relações ................................... 51

Tabela 6 – Tempos das diversas ações relacionadas ao corte a plasma .................................... 54

xiv

15

1 Introdução

1.1 Relevância do trabalho

Um país com dimensões continentais cujo litoral ultrapassa os sete mil

quilômetros de extensão do Cabo Orange (AP) ao Arroio Chuí (RS), detentor

domar territorial que somam 3,5 milhões de quilômetros quadrados, além de

possuidor do comércio exterior nos seus mares (95%), inúmeras riquezas

minerais de seus leitos marinhos tem o cenário favorável para o

desenvolvimento e consolidação de uma Indústria Naval forte.

Muitos são os motivos que fazem da Indústria Naval brasileira

estratégica para o desenvolvimento da nação. A indústria naval apresentou ciclos

de destaque no cenário mundial (Figura 1), com picos após a crise mundial de

1973 e ressurgindo no começo dos anos 2000 através de um grande incentivo

governamental, principalmente devido às encomendas de navios petroleiros,

Sondas de perfuração, plataformas de petróleo e diversas embarcações de apoio

marítimo Offshore.

Figura 1 – Empregos diretos gerados pela indústria naval no Brasil (1960 - 2015) estabelecido com [5] e [16]

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

19

60

19

65

19

70

19

75

19

79

19

80

19

85

19

90

19

96

20

01

2006

2007

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

20

13

20

14

20

15

1.430

39.155

3.500

82.472

Empregos gerados pela indústria naval no Brasil (1960 - 2015)

16

O mercado de apoio às Plataformas Offshore movimentou na economia

brasileira, em 2012 mais de US$ 2,5 bilhões de dólares e contava com

aproximadamente mais do que uma centena empresas brasileiras autorizadas [1]

pela Agência Nacional de Transporte Aquaviário – ANTAQ.

A crise financeira iniciada, em 2015 na maior empresa de exploração de

petróleo do Brasil – Petrobras reduziu entre 2014 – 2015 em 11% o número de

postos para trabalhadores marítimos no Estado do Rio de Janeiro e retirou de

contrato 90 embarcações de apoio [17].

Este cenário reforça ainda mais a ideia da busca pela eficiência. Para isto

o estudo de caso analisado teve foco no setor de corte de chapas metálicas, em

um estaleiro de médio porte [9] criado e dedicado exclusivamente para

construção e reparo deste tipo de Embarcações.

1.2 Objetivo

O principal motivo pelo qual este trabalho é proposto é analisar a etapa

do corte de chapas e peças de aço no processo de fabricação dos estaleiros. O

estudo foi desenvolvido a partir das informações colhidas no dia-a-dia das

operações.

Desta forma espera-se atingir o objetivo de propor uma solução viável

tecnicamente, de fácil implementação no setor de corte de chapas. Esta é a

lacuna existente na gestão de recursos que pode ser uma solução em tempos de

crise.

17

1.3 Metodologia

A metodologia utilizada na confecção deste trabalho buscou em

referências bibliográficas soluções para da gestão da produção. Estas análises

também se apoiaram em experiências de campo, no qual foram compreendidos

os principais aspectos incorporados no discorrer deste trabalho.

1.4 Conteúdo do trabalho

O presente trabalho está estruturado da seguinte forma:

A Seção 1 faz uma introdução do atual cenário de construção naval no país,

sendo seguido da Seção 2 justifica a seleção do setor de embarcações de

apoio marítimo.

A partir da Seção 3 será realizada a apresentação do estaleiro de médio

porte dedicado a este tipo de embarcação para estudo de caso e, melhor

compreensão das análises por se ter tido acesso a linha de produção da

máquina de corte.

Os conceitos que envolvem o planejamento e controle de produção serão

apresentados na Seção 4 para embasamento da caracterização do fluxo

produtivo transcritas na Seção 5. A Seção 6 seguinte irá descrever o atual

fluxo produtivo do setor de corte do estaleiro, culminando pelas análises na

Seção 7.

Algumas propostas de melhorias são transcritas na Seção 8 e, por fim as

Conclusões e críticas ao trabalho, bem como sugestões de estudos

continuados do setor de corte para melhoramento dos resultados.

18

2 O setor de Apoio Marítimo

Este nicho de mercado recebeu o maior aporte financeiro, no último

trimestre de 2015 oriundos do Fundo de Marinha Mercante – FMM do Brasil

(Figura 2). Este financiamento proporcionou o surgimento de novos estaleiros,

com uma característica especial, cascos bateriam quilha com contratos de

afretamento já assinados gerando garantias de contratação de mão de obra e

navipeças.

Estes tipos de navios representam cerca de 500 Embarcações de Apoio

Marítimo, atuando em água territorial brasileiras, sendo das quais 60% de

embarcações com bandeiras estrangeiras e 40% de bandeiras brasileiras (Figura

3). Esta quantidade de navios indica que para um estaleiro dedicado a EAM

pode representar o desenvolvimento de um nicho de mercado na construção

naval e reparo.

Figura 2 – Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore do BRASIL [18]

19

Figura 3 – EAM por % da bandeira: vermelha (Brasil) e azul (estrangeira), DEZ/2014, águas brasileiras [1]

3 O estudo de caso: Estaleiro de médio porte dedicado a um único

cliente

3.1 Localização

O estaleiro em questão utilizado para estudo de caso localiza-se na

Região Sul do Brasil, na margem esquerda do Rio Itajaí-Açu que corta o

município [7] de Navegantes – SC. Esta região que tem se destacado nos últimos

anos como pólo de construção naval [16] para embarcações de apoio marítimo –

EAM.

O estaleiro analisado é especializado na construção e reparo de

embarcações para Apoio às plataformas de Petróleo do tipo: AHTS (Anchor

Handling Tug Supply), PSV (Plataform Supply Vessel), OSRV (Oil Spill

Recovery Vessel) e WSV (Well Stimulation Vessel).

20

3.2 Porte do estaleiro

Apesar do cenário desfavorável, no último trimestre de 2015 o estaleiro

foi prioridade do Fundo de Marinha Mercante – FMM para receber aporte

financeiro à fim de realizar uma Expansão do estaleiro em Navegantes (SC) e

Construção de navios de apoio marítimo na ordem de R$ 143 milhões [5].

3.2.1 Número de empregos

O diferencial deste estaleiro é possuir tanto um Dique Flutuante para

embarcações EAM, quanto duas Carreiras de lançamento transversal de EAM

com até 115 metros de comprimento e acima de 7.000 ton de arqueação [3],

além de mais de 14 pontes rolantes de diversos tamanhos de 7, 16, 25 e 40

toneladas que interligam todos os galpões internamente. Sua força de trabalho

que já chegou a ser superior a 2000 (semestre de 2014) funcionários, antes da

crise econômica [4], atualmente (primeiro semestre de 2016) é na ordem de 1200

funcionários, sendo destes apenas 60 no turno da noite.

3.2.2 Área livre do estaleiro

O estaleiro possui uma área total de 175.000 m² das qual o total de área

coberta são 31.145 m² (Figura 4). Está dividido em 3 galpões de estoque (sendo

um na entrada do estaleiro e 2 à esquerda da foto) e armazenagem (a) 1 galpão

de corte e processamento de chapas, (b) 1 de oficinas e acessórios, com pipe

shop, prensa hidráulica e calandra, (c) 1 galpão de montagem de painéis, além

do galpão mais alto, em destaque (d) galpões de montagem de blocos, o

galpão(e) de Pintura.

Possui um pátio descoberto para armazenagem de peças e chapas de aço na

parte posterior dos galpões. Na frente dos galpões estão dispostas paralelamente

21

duas linhas de (f) edificação de blocos, as duas carreiras transversais (g, h) e

uma área escavada no cais para posicionamento do Dique Flutuante (i).

Figura 4 – Vista aérea do Estaleiro de construção e reparo deste estudo de caso [4]

3.2.3 Principais Características

Torna-se importante então compreender os diferentes tipos de estaleiros para

que se possa fazer a caracterização adequada da produção no estaleiro. Neste estudo de

caso pôde-se observar que o Estaleiro se possui uma estrutura principal de carreira

lateral, elemento que enquadra entre o primeiro e segundo níveis tecnológicos

pertencentes aos primeiros estaleiros, anteriores a década de 1960 no Brasil (Figura 5).

A movimentação de cargas é limitada ao uso de guindastes cuja capacidade é de

220 toneladas, caminhões esteiras de 500 toneladas e conjunto de trilhos para

deslocamentos de blocos e navios. Esta limitação para içamento de carga se deve ao fato

do estaleiro não possuir dique escavado e, portanto não existir necessidade de pórticos

com grande capacidade de içamento, superiores a 1500 toneladas como o estaleiro não

possui um dique escavado [19].

Segundo o estudo de construção naval desenvolvido pelo Banco Nacional de

Desenvolvimento – BNDES um estaleiro que pertença aos níveis 1 e 2 edificam de 250

a 30 blocos por embarcação, enquanto os estaleiros do nível mais elevado, portanto 5,

22

processam de 12 a 20 blocos. Essa capacidade de içamento influencia diretamente na

redução dos prazos de construção [19].

O Processamento de aço para este estaleiro se enquadra na definição dada aos

estaleiros compreendidos entre os níveis 2 e 3, pois utiliza sistema de corta a plasma e

semi-automática, através de máquina de corte com controle numérico – CNC fabricada

em 2004, modelo Avenger 2, cujas características serão discorridas na seção 5 deste

trabalho.

Outro elemento relevante na definição dos níveis tecnológicos do sistema do

estaleiro diz respeito ao sistema computacional CAD/CAM, cujas siglas na língua

inglesa traduzem respectivamente: Computer Aid Design e Computer Aided

Manufacturing. O significado real destas ferramentas é utilizar ferramentas

computacionais para auxiliar as etapas dos processos produtivos, desde sua concepção

até a fabricação.

Neste aspecto o estaleiro em questão apresenta nível 2-3, pois possui

ferramentas de projeto que transforma as geometrias desenvolvidas pelo CAD para

gerar os programas para o corte de chapas na CNC. No entanto foi identificado um

sistema de planejamento [12], em inglês Material Requirement Planning – MRP

apresentando inconsistências, uma vez que os bancos e dados não são informatizados

(Figura 5).

23

Figura 5 – Caracterização dos níveis tecnológicos dos estaleiros (Fonte: CEGN, USP, 2007)

O Estaleiro possui capacidade para atracação de cinco navios simultaneamente

(Figura 6) no cais a fim de realizar obras de reparos menores ou mesmo obras de

acabamento. Uma solução utilizada para aumentar a capacidade de atracação da sua

área de cais é a amarração à contra bordo das EAM que já estejam atracadas aos

cabeços de amarração de 200 toneladas.

Figura 6 – Embarcações atracadas ao Cais e, uma EAM à contra bordo (esq.)

24

A produção do estaleiro deste estudo de caso, em 2015 foi de 6 EAM,

sendo dois tipo AHTS 21000, um PSV 4500 para Petrobras, todas estão em

operação na Bacia de Campos, litoral do Estado do Rio de Janeiro. Além destas

3 EAM em operação há 1 WSV em processo de aceitação pela Petrobras.

Existem ainda mais duas embarcações edificadas; Um PSV 4500 em fase de

pintura aguardando ser lançado e, outro AHTS 21000 ainda no galpão.

Além destas EAM novas, também foram feitos processo de adequação

aos requisitos contratuais para atender ao contrato de Afretamento do cliente, em

4 navios de apoio tipo PSV para início de contrato, no segundo semestre de

2014. Este processo de adequação visa instalação de novas bombas de sucção

para atender a vazão exigida em contrato, teste de mar e substituição de cabos de

aço, nos guindastes e guinchos de bordo, além de todas as inspeções exigidas

para voltar a operar com a embarcação.

Em menor escala de processamento de aço, mas não menos importante

devido a quantidade de mão de obra empregada também deve ser considerado

atendimentos de docagem de classe e reparos emergenciais em EAM que já

estavam em operação com diferentes clientes.

3.2.6 Produção

A capacidade anual de produção é de 15 mil toneladas por ano [10],

desde 2011. Antes da crise da área de construção naval, a produção do setor de

cortes de chapas e peças de aço chegou a cortar 500 toneladas por mês, o que dá

uma média de 16,6 toneladas/dia, equivalente a capacidade de corte do MPG

Shipyards de Portugal [8], em um único mês de 2012. Atualmente o corte de

chapas de aço é na ordem de 270 toneladas por mês, no estaleiro deste estudo de

caso, o que daria uma média de 9 toneladas por dia.

25

3.3 Instalações

A área de produção de corte de chapas e peças de aço consiste em um

galpão compartilhado com o setor de processamento e linha de fabricação de

painéis. Esta área coberta tem aproximadamente 50 m de largura, 200 m de

comprimento e uma altura de aproximadamente 6 m (Figura 7).

3.3.1 Área de Produção

Este setor de corte possui 2 eletroímãs com capacidade de içamento para

7 t, na entrada e, 16 t na saída do galpão. Ambos estão conectados em pontes

rolantes que se movem sobre trilhos por todo o galpão, sendo capazes de realizar

a interligação com o galpão de montagem de perfis e sub painéis no fundo do

galpão.

Figura 7 – Galpão de corte de chapas de aço

3.3.2 Dique Flutuante

O Dique flutuante (Figura 8) tem capacidade de içamento de 7000

toneladas de arqueação [11], sendo capaz de atender aos navios com até 115 m

de comprimento. Define-se por arqueação a expressão do tamanho total de uma

embarcação, em função do volume de todos os espaços fechados conforme

26

Convenção Marítima Internacional sobre arqueação de Navios (1969) e normas

nacionais.

Figura 8 – Vista lateral do Dique Flutuante Sansão

3.3.3 Principais equipamentos

O estaleiro conta ainda com 3 Guindastes tipo grua de 220 toneladas

(Figura 10), 2 carretas para transporte de carga pesada (Figura 9), além de 10

tratores tipo empilhadeira (Figura 11). Auxiliando nas operações de carga e

descarga de equipamentos bem como na movimentação destas partes entre

galpões, oficinas e cais.

27

Figura 9 – Carreta para transporte de peças de até 500 toneladas

Figura 10 – Guindaste de 340 HP, içamento de 220 toneladas a 89 m de altura

Figura 11 – Trator tipo empilhadeira

28

3.4 Planta baixa

A planta baixa do estaleiro em estudo obedece a um Layout pré 2ª Guerra

mundial (Figura 12). Este tipo de layout utilizava a técnica de Job Shop nos

Estados Unidos da América [12]. Estes estaleiros possuíam dificuldades de

içamento, área de estoque e, a maioria dos componentes do navio era montada

ao lado dos navios.

Esta definição de Layout, portanto está em consonância a seção 3.3 sobre

as características do estaleiro que o enquadra como sendo um estaleiro, no que

tange sua estrutura principal, contemporâneo aos estaleiros anteriores a década

de 1960 (Figura 5)

Nestes estaleiros as oficinas, tubulações e maquinários giravam entorno

da carreira de lançamento e do píer de acabamento, sendo alguns serviços

finalizados, somente após o lançamento do navio.

Figura 12 – Primeira geração de estaleiros [12]

4 Conceitos de Planejamento e Controle de Produção – PCP

Production Planning and Control em inglês, ou simplesmente PCP são as

definições para o sistema de gestão dos recursos de uma empresa. Nesta gestão

29

são analisados os recursos das operações, bem como todas as informações

referentes ao processo de produção [12].

Através destas análises se podem traçar estratégias de ação, desenvolver

visão global dos negócios e prever demandas. Estas habilidades permitem gerar

previsões, listar recursos e prazos no cumprimento das tarefas relativas ao

processo de fabricação.

4.1 Layout da produção

O arranjo e disposição dos equipamentos, maquinários, instalações,

prédios e galpões constituem o Layout da produção. O Projeto do estaleiro

analisado neste estudo foi planejado de acordo com o Layout utilizado nos

outros 4 estaleiros da matriz americana. Galpões interligados por pontes

rolantes, guindastes com grande capacidade de içamento e diques flutuantes para

auxiliar nas operações de reparo e acabamento.

A vantagem deste modelo pré-concebido é a melhoria das instalações

existentes, além do posicionamento mais adequado do chão de fábrica, pelo

simples fato de não existir limitação ou restrição ao Layout no terreno.

Existem duas formas de organização dentro do Layout de chão de fábrica

[15]: A disposição em blocos ou a disposição em estações de trabalho. Ambas

têm suas vantagens e desvantagens.

A primeira diz respeito à disposição em blocos dentro dos galpões, esta

disposição exige atenção redobrada, pois a má distribuição destes blocos implica

no maior deslocamento das pessoas e está sujeito as restrições e limitações do

espaço.

30

A segunda é a disposição em estações de trabalho. Nesta forma os

equipamentos estão mais bem posicionados, pois leva em conta o deslocamento

do operador. Esta é a estrutura presente no estaleiro estudado neste trabalho.

Outro importante fator que deve ser levado em conta na definição do

Layout é a análise do fluxo produtivo no que diz respeito ao Abastecimento de

Matéria prima e expedição do produto. No caso do estaleiro em estudo o fluxo

das chapas de aço entra pelo pátio de edificação e se destina aos galpões de

montagem ao fundo, conforme pôde ser observado na Figura 7, da seção anterior

que discorreu sobre a caracterização do estaleiro.

O Layout também considera as Condições ergonômicas e ambientais à

fim de proporcionar uma melhor interação trabalhador e equipamento. Esta

iteração leva em conta a postura em que o operador trabalha (em pé ou sentado)

e quais os movimentos realizados pelo empregado para evitar esforços. Foi

observado que todas as oficinas do estaleiro em questão consideram estas

premissas de ergonomia e segurança do trabalhador.

Quanto às condições ambientais, a temperatura do ambiente é mais

amena que os estaleiros do sudeste, pela posição geográfica próxima a latitude

26° ao sul. Esta posição geográfica garante ainda no verão uma maior

iluminação (intensidade, sombra, foco) com o por do sol próximo a 19h30.

Outros aspectos ambientais como ventilação são satisfatórios por conta

do pé direito dos galpões. A radiação é mais amena pela latitude que se encontra.

Aerodispersóides (quantidade de partículas no ar) e ruído (constante e

intermitente que é pior) apresentam níveis aceitáveis, tendo sido observado o uso

dos Equipamentos de Proteção Individual – EPI.

31

A vibração é mais observada já nos serviços de testes e provas de mar

dentro dos navios lançados, também em níveis aceitáveis controlados por

empresa terceirizada. Estas condições de trabalho geram um aspecto psicológico

positivo no chão de fábrica e Cognição elevada que refletem na grande

produtividade do estaleiro.

Os princípios gerais observados no Layout do estaleiro em questão

privilegiaram o fluxo em linha reta de movimentação entre a matéria prima,

componentes e, os produtos finais. Estes fluxos evitam os deslocamentos

confusos que poupam energia e tempo, obedecendo ao principio da mínima

distância.

A movimentação de cargas pesadas são realizadas nas menores distâncias

possíveis devido a interligação dos galpões através das pontes rolantes e, do

sistema de trilhos que ligam o pátio de edificação e as carreiras de lançamento.

Estes aspectos observados nos Layouts dos galpões visam reduzir também a

freqüência da movimentação de cargas (blocos e painéis) e proporcionar uma

maior flexibilidade permitindo mudanças dentro dos galpões adequando o

posicionamento necessário para proporcionar maior conforto.

4.1.1 Tipos de Layout

Ao se falar em Layout duas características são preponderantes: Volume

de produção que mensura a capacidade de produzir certa quantidade de peças em

um determinado tempo, por exemplo, 10 peças/hora. A outra variável tão

importante quanto a primeira é o Tempo de produção, esta segunda variável

mensura o tempo necessário para fabricação de uma peça no mesmo período que

foi adotado pelo Volume de produção.

32

a) Existe o modelo focado no processo: Também conhecido como Layout

funcional (Figura 13), uma tradução literal do modelo americano do Job shop.

Neste arranjo os equipamentos estão agrupados por tipos semelhantes o que

permite a produção de pequena quantidade de cada tipo de produto, porém uma

grande variedade de produtos.

Figura 13 – Modelo com foco no processo [14]

As principais características são a rapidez e facilidade na mudança da

composição do produto – mix de produção. Neste modelo o fluxo de materiais é

intermitente e complexo. Tal fato exige um PCP com operadores qualificados

devido ao tempo longo de produção

Este longo processo termina por gerar uma maior espera que provoca

filas, caso transformem-se em gargalos o modelo Job shop exigirá um controle

elevado de estoque.

Deve-se avaliar qual o arranjo que corresponde ao menor deslocamento

total do conjunto de produto. Para cada configuração calcula-se o produto

volume versus distância total percorrida, em logo em seguida este somatório.

b) O modelo focado no produto: Dispostos em linha de montagem, organiza as

instalações de forma que as operações são dispostas na sua sequencia lógica.

Este modelo é utilizado quando se tem baixo número de produtos e um grande

volume na produção por ser mais caro sua implementação.

33

Os equipamentos são especializados, mais caros e quaisquer mudanças

na produção são difíceis, por serem complexas. O fluxo de matérias é constate,

ordenado de forma que obedece a lógica da mínima distância.

Os operadores têm pouca qualificação e são caracterizados como sendo

uma mão-de-obra barata de treinamento fácil e rápido. A desvantagem desta

mão de obra é que contribui muito pouco para empresa, e depois de muito tempo

o operador tende a errar mais, a produção cai.

Uma metodologia utilizada para mitigar este risco quanto à mão de obra

é utilizar o rodízio, pois concebe uma visão global de toda a produção,

contribuindo tecnicamente para o desenvolvimento profissional, no entanto cabe

ressaltar que o rodízio pode gerar conflitos hierárquicos e questões salariais.

Quanto à aplicabilidade do PCP neste modelo não apresenta maiores

dificuldades, pois o projeto da linha é mais difícil de distribuir as tarefas na

estação de trabalho para que a carga de trabalho esteja equilibrada, isto provoca

um menor tempo de produção e os níveis de estoques são menores (buffer).

Este modelo permite ainda uma movimentação do fluxo de materiais que

obedece a mínima distância e a movimentação nos equipamentos de forma mais

simples, por exemplo com esteiras.

c) O modelo Celular: Desenvolvido nos anos 20 pelo russo MNTPOOAHOB

visa absorver as vantagens do planejamento em linha e do modelo dos processos.

Este modelo agrupa peças feitas por uma família de equipamentos diferentes

dispostos em U.

Este modelo mitiga atrasos na fabricação, pois caso uma peça exija mais

de uma célula U devido a sua complexidade, outras peças poderão ser

produzidas nas outras células U.

34

A tabela 1 visa elencar as principais características dentro de um tipo de

processo produtivo, bem como comparar as duas versões antagônicas de

processos, Foco no Processo versus Foco no produto.

Tabela 1 – Comparação entre os modelos de Layout

Comparação entre

modelos x aspectos Foco no processo Foco no produto

Equipamentos menor nível maior nível

Operador menos qualificação mais qualificação

Movimentação mais simples mais complexo

Estoque menor nível maior nível

Tempo de Produção menor nível maior nível

Mudança na produção mais lento mais rápido

Automação mais fácil mais difícil

d) Modelo de Posição Fixa: O produto se mantém estático e os equipamentos

que se dirigem até a linha de produção. Este modelo muito utilizado nas Obras

de construção civil, bem como na construção naval têm problemas no fluxo de

acesso e saída de equipamentos (gargalo de logística), além de superposição de

tarefas.

35

Figura 14 – Modelo com foco no produto [14]

Todos os modelos descritos representam alguns dos mais usuais da

indústria, no entanto há casos que podem surgir um modelo Híbrido, constituído

pela combinação desses diferentes tipos de Layout aproveitando-se do que há de

melhor neles para atender uma necessidade específica.

4.1.2 Fluxo produtivo

Normalmente quando acontecem estrangulamentos na linha de produção,

quando ocorrem estes eventos há o surgimento de filas.

A primeira solução que se pensam é na duplicação de equipamentos e

recursos, no entanto estas soluções exigem um aporte financeiro para serem

executadas. Estas, portanto, não são soluções triviais que serão facilmente

tomadas.

Outra solução usual, nos processos com foco no produto são os estoques

reduzidos mantidos próximos aos equipamentos, o chamado buffer. Esta solução

mitiga a paralisação da linha de produção caso ocorra uma possível falha.

Quando se tem uma peça, produto que tem de passar por duas células

para ser produzida, a solução pode ser duplicar uma máquina para umas das

células. Isso caso seja vantajoso, considerando um grande volume de produção.

Rebalancear a linha também pode ser uma solução plausível no que tange

ao ataque dos pontos de estrangulamentos, antes mesmo de duplicar os recursos

36

e meios de produção. O conceito de balanceamento em uma linha de produção

consiste em distribuir a carga das várias operações o mais uniformemente

possível pelos vários Postos de Trabalho.

O balanceamento da linha obedece ainda a tênue relação entre tempo do

ciclo de produção de um produto e o número de postos de trabalho deste

produto. A perfeita combinação entre estas duas equações garante um fluxo

produtivo mais eficiente.

Portanto após analisar os tipos de modelos de Layout caracterizados

neste capítulo, o Job Shop se mostrou mais adequado na aplicação prática do

estaleiro envolvido no estudo de caso, pois há menor nível de equipamentos,

menor tempo na produção e, conseqüentemente menos componentes em estoque.

5 Caracterização do processo produtivo da empresa

5.1 Representação do Layout de produção

O galpão de corte apresenta 6 subdivisões de espaços internos sendo

apenas uma definida com barreiras físicas, por motivos de segurança, trata-se do

setor onde se encontram as mesas de corte.

As demais áreas que serão representadas por números subsequentes de

acordo com a ordem de execução das tarefas no setor, sendo todos interligados

por 2 pontes rolantes com capacidades de içamento de 16 toneladas, sendo

localizado uma na entrada e outra na saída do galpão.

Dentro do setor delimitado, no entorno da CNC (Figura 15) estão

localizadas as bandejas com mufla d’água para amenizar as altas temperaturas

(16000 °C), ruídos, radiação ultravioleta, intensidade da luz e fumaças dos gases

tóxicos oriundos do corte de plasma, da máquina de corte automático – CNC,

representada pelo numeral 5 na Figura 15.

37

Ambas auxiliam nas operações de suprimento e retirada de chapas para

corte conforme esquematizado na Figura 15, cuja legenda numerada por zonas

de representam o esquema de processamento do setor de corte de chapas neste

estudo de caso:

1. Entrada do galpão;

2. Ponte rolante para movimentação na entrada do galpão;

3. Setor de estoque inicial de chapas;

4. Mesa de corte #1;

5. CNC de corte à plasma;

6. Mesa de corte #2;

7. Setor de armazenamento para sobras de aço inox e alumínio;

8. Cilindros de gás para abastecimento da CNC;

9. Setor de armazenamento para sobras das chapas de aço;

10. Setor de armazenamento de chapas processadas pela CNC;

11. Ponte rolante de movimentação de carga na saída do galpão;

12. Saída do galpão de corte.

Figura 15 – Representação da Planta baixa do setor de corte de Plasma

38

O setor de entrada é o perímetro no chão de fábrica, onde ficam

armazenadas as chapas de aço novas, separadas pela espessura e tipo de aço

naval, conforme pode ser observado na Figura 16.

Figura 16 – Eletroímã içando chapa de aço para ser utilizado na CNC

No setor onde ficam as sucatas das chapas de Alumínio (Figura 17) tem

menor escala do que o aço. Observa-se que estas sucatas têm menor área

disponível para reutilização e não possuem identificação aparente da espessura

ou tipo de chapas, nem ao menos uma disposição lógica de armazenagem das

chapas.

39

Figura 17 – Sucatas de alumínio separadas para reuso na CNC

O modelo de CNC (Figura 18) utilizado é a Esab – Avenger 2, máquina

mais versátil da fabricante cuja velocidade máxima é de 25.400 mm por minuto

e precisão de posicionamento com faixa de varação em +/- 0,015, operando a

50/60 Hz e 30 A com 3 fases 230/460/575 VAC [13].

As vantagens também do plasma vão além da velocidade, pois não há

necessidade de pré-aquecimento da chapa de aço, baixas deformações nas peças,

além de grande precisão no corte e acabamento. Esta variável provoca uma

desvantagem no que dizem respeito à limitação da espessura para corte da chapa

até 150 mm. Para corte a plasma a largura da fenda à medida que a espessura da

chapa aumenta exige uma corrente mais elevada e maior bocal, altura da tocha,

velocidade do corte e também do gás que pode ser ajustado pelo operador da

CNC na fase de preparação do corte [20].

40

Figura 18 – Estaleiro deste estudo de caso – CNC, Nov/2015, Navegantes – SC, Brasil

O processo de corte à plasma é feito através de um fluxo contínuo ejetado

no bico da cabeça de corte na faixa de 30A até 720A [20], atingindo 25.000 K. O

plasma é um processo energização do vapor ionizado que transforma as

propriedades elétricas e de temperatura dos gases remove o material da chapa

por arraste, cortando o material por Fusão. Este corte apresentará então pequena

Zona Afetada por Calor – ZAC, baixa deformação e alta qualidade [21].

Este processo é oriundo do arco elétrico do processo TIG (1950), pois os

cientistas descobriram que à medida que diminuíam o diâmetro de saída do bico

ejetor, aumentava-se a velocidade e temperatura do gás que ao invés de soldar,

cortava os metais. Tal calibração determina as características do arco plasma,

uma comparação entre estes dois métodos se encontram destacados a seguir

(Figura 19).

41

Figura 19 – Comparação TIG (Esquerda) e Plasmas (Direita)

Existem dois tipos de corte por plasma, o método convencional que

utiliza gases como hélio e hidrogênio que tem alto custo sendo necessária

adequação do gás para cada tipo de material, bem como a sua vazão desse gás e

a capacidade de condução da corrente na tocha do bico de corte.

O processo com ar comprimido, que não pode cortar aço inox e alumínio,

utiliza o oxigênio presente no ar que potencializa em 25%, cuja desvantagem é a

composição dos eletrodos feitos de zircônio que se desgastam rapidamente

devido a erosão do metal. O processo chega a ser 5 vezes mais rápido que o

oxicorte.

O setor representado na Figura 20 representa o local do galpão de corte

que é destinado para armazenar chapas processadas de aço, ao fundo, indica

também os cavaletes que armazenam as chapas de aço que ainda tem área

aproveitável para novos cortes, à direita, bem como mostra o armazenamento de

chapas grossas para corte, no canto esquerdo e inferior da foto.

42

Figura 20 – Cavaletes destinados ao armazenamento das chapas de aço

O setor onde são armazenados as chapas e peças cortadas ficam próximo

da saída do galpão de corte, identificado na parte superior da Figura 20, próximo

ao galpão transversal de montagem de blocos e painéis.

6 Análises

Através dessa caracterização do Layout [14] foi possível representar uma

matriz de qualidade entre estas zonas numeradas e a relação de necessidade entre

elas. A descrição irá permitir identificar o tipo de relação entre as zonas do

galpão e, através de valores ponderados qualitativamente representados por

vogais, (Tabela 2) se poderá determinar um peso que será identificado pela cor

correspondente a vogal utilizada.

43

Tabela 2 – Pesos e descrições de importância entre setores

Peso Descrição

a Absolutamente necessário

e Essencialmente necessário

i Importante

o Ordinário

u Pouco importante

x Não desejável

Tabela 3 – matriz de relacionamento das áreas do galpão de corte

1. Entrada do galpão 1 3. Setor de estoque inicial de chapas a 2 4. Mesa de corte #1 o a 3 6. Mesa de corte #2 o a a 4 7. Setor de armazenamento p/ sobras de aço inox/ alumínio u o i i 5 8. Setor de armazenamento de sobras das chapas de aço u o i i u 6 9. Setor de armazenamento p/ chapas processadas pela CNC u u a a o o 7 11. Saída do galpão de corte u u i i o o a 8

Através dessa análise é possível identificar a grande variedade (Tabela 3)

que envolve as relações nas diferentes áreas do galpão. Nesta análise não são

consideradas a CNC e, nem as pontes rolantes. Outra consideração que deve ser

feita trata-se da área localizada para armazenamento de suprimento dos gases da

CNC que não foi considerado nesta matriz por não existir fluxo de chapas

Porém, esta área de armazenamento de gases exige atenção especial

quanto a segurança e mobilidade do galpão, uma vez que deveria estar

localizado fora do galpão. Esta disposição atual no galpão oferecer riscos pela

característica inflamável dos gases.

Este tipo de matriz de relação expresso na Tabela 3 permite ainda separar

as relações de influência das diferentes áreas de acordo com suas principais

características. Observando a linha 11 acerca da Saída do galpão pode-se

44

perceber que ela tem grande importância e possui 2 classificações ordinária,

contudo deve-se considerar como é realizado o escoamento de chapas

processadas através da saída do galpão. No estaleiro deste estudo de caso pôde-

se perceber tal escoamento sendo realizado por carretas móveis.

As classificações Ordinárias para o Setor de armazenamento de chapas

processadas pela CNC é absolutamente necessária para a Ponte rolante de

movimentação de carga na saída do galpão. Transcrevendo de forma assertiva as

relações diretas entre essas 3 áreas do galpão de corte percebe-se que existe

utilização das pontes rolantes de 16 toneladas superdimensionada para retirada

das peças menores processadas pela CNC.

Outra conclusão que se pode observar na Tabela 3 trata da importância

destacada nos 2 setores de reaproveitamento de chapas, ambos foram

qualificados pela grande influencia que exercem nas diferentes áreas do galpão

de corte, conforme observado nas linhas 7 e 8 da Tabela 3.

6.1 Mapofluxograma

Baseado no esquema representativo do galpão de corte pode-se observar

o mapofluxograma de produção neste setor do CNC a plasma do estaleiro neste

estudo de caso (Figura 21).

45

Figura 21 – Mapofluxograma do chão de fábrica do galpão de corte

As chapas chegam pelo portão de entrada para armazenagem no setor (3)

buffer da Figura 21. Neste momento o operador da CNC inicia a preparação do

corte ao receber as chapas do setor nas mesas de corte representada pelos

números 4 e 6. A partir daí então, as sobras são destinadas ao setor de

armazenagem 7 e 9, sendo as peças processadas destinadas ao setor 10, também

caracterizado como um buffer a partir daí são encaminhadas para montagem dos

painéis e blocos em outras áreas, saindo pelo portal de saída representado pelo

numeral 12. As setas vermelhas indicam retorno fluxo secundário de chapas.

6.2 Ferramenta computacional

O conceito de Nesting é traduzido como o conceito de programação

numérica através da qual uma ferramenta computacional otimiza e simula [22] a

organização das peças contidas numa única chapa metálica para serem cortadas

na CNC (Figura 22).

46

Figura 22 – Peças de corte geradas automaticamente pelo software

O Nest, portanto é o arquivo de saída desta programação numérica que

será enviada para a CNC representando a melhor forma de disposição das peças

(Figura 22) organizadas automaticamente pelo software Omni win, de origem

alemã que faz interface com o sistema CAD, utilizado pelo setor de engenharia,

sendo capaz de gera simulações de Nesting e corte de chapas e gerando

relatórios e informações para o MRP da empresa.

A Figura 23, no entanto se pode perceber que esta forma de organização

gerada pelo software não foi a melhor disposição. Neste momento o Nesting é

modificado manualmente pelo programador de corte e, após 3 horas de trabalho

ainda sobram espaços considerados que ainda poderiam ser utilizados, conforme

o destaque pelo círculo amarelo.

Figura 23 – Peças para corte reorganizadas

Existem várias ferramentas computacionais que realizam esta

programação numérica de Nesting, uma comparação realizada no Sul do Brasil

entre dois softwares similares (Sigmanest e Trutops) em Outubro de 2013

47

apresentou variação de apenas 5% no número de peças para 2 amostras idênticas

[23].

Fluxograma 1 - Processo de geração do Nest de corte no estaleiro do estudo de caso adaptado [22]

Este processo de geração do Nest visa utilizar a menor área possível da

chapa para se obter as peças, então o Operador executa a sequência de tarefas

observadas no Fluxograma 1. As premissas são melhoria do processo de corte,

poupando consumíveis e equipamentos.

Esta orientação é executada quando o Programador de corte faz sua

Avaliação 1, quando analisa alguma inconsistência na peça oriunda da

engenharia ou na sua Avaliação 2, pelo simples fato de ligar cada peça através

de um elo metálico de ligação que se rompe pelo próprio peso das peças.

48

Após estas duas avaliações que consistem em looping o Programador é

capaz de gerar um arquivo de entrada para CNC contendo informações

necessárias tanto para o operador de corte quanto para o computador da CNC.

Esta entrada de dados, normalmente é feita através de uma mídia

eletrônica de transporte de dados, tais como pen drive e/ou disquete, quando

deveria ser realizada por uma rede de dados informatizada, diretamente da base

de dados para a CNC.

A figura a seguir representa esta mídia impressa para informação do

operador de corte (Figura 24).

Figura 24 – Nesting de uma chapa de aço recebida pelo operador

Nessa etapa preliminar do processo de corte pode-se intensificar a prática

da reutilização de sobras de chapas já processadas, cujas áreas residuais sejam

compatíveis com as peças alocadas no buffer das chapas que tiveram poucos

cortes.

O conceito de buffer muito utilizado na logística de indústrias pode ser

aplicado aqui, se considerar que os cavaletes de armazenagem das sobras de

49

corte, são chapas de aço e/ ou alumínio que podem ser reutilizadas e alimentar o

processo de corte da CNC.

Esta percepção, ainda prematura do operador, está inserida do Nesting de

corte da CNC, no campo Plate information no qual existem informações como

as dimensões da chapa (12192 x 2436 mm), peso total da chapa (4433 kg) e peso

a ser processado (2187 kg), o que representa utilização de 49% da área

disponível da chapa utilizada.

Também podem ser observadas no canto superior direito (Figura 24), as

estatísticas de produção, Production Statistics, cujas informações são

importantes para a gestão do processo. Entre elas estão o tempo de

processamento desta chapa, a quantidade de peças e, o comprimento que será

cortado pela CNC.

Antes de se iniciar o processo de corte são gerados modelos

tridimensionais dos Blocos do Navio (Figura 25). Nesta representação se podem

observar as chapas que serão processadas, localizado na planilha do canto lateral

esquerdo da Figura 25.

Estas informações teriam capacidade de promover um controle, em

tempo real, caso fossem marcadas conforme processamento. Estas informações

poderiam ainda fazer parte de um banco de dados único a todos os setores do

estaleiro, em especial ao setor de engenharia, projetos e compras.

Ao subutilizar a função de controle e automação desta planilha perde-se a

grande capacidade de informação, uma vez que a lista de Chapas pertencentes ao

bloco não são destacadas, por exemplo, com a distinção de cores (verde para

processado e vermelho para não processado) à medida que são processadas na

CNC.

50

Esta forma de representação em três dimensões à fim de permitir uma

visão global de todas as peças cujo objetivo é validar o corte, bem como gerar

desenhos auxiliares para futuras montagens dos conjuntos e subconjuntos doas

blocos e painéis.

Figura 25 – Bloco 3D com todos os painéis, chapas e perfis montados

6.3 Cruzamento dos fluxos de produção

Para analisar a organização espacial dentro do galpão de corte foi

utilizada uma técnica [14] que relaciona a proximidade das diversas áreas

através de pesos qualitativos (Tabela 4) ligados por retas especificando cada

relação.

Tabela 4 – Legenda dos códigos, linhas e descrição das relações

51

Esta análise requer separação das áreas mais representativas (Tabela 5)

em códigos que designarão estes espaços, facilitando as análises de inter-

relações, sendo ponderadas pelos pesos atribuídos um a um em cada ligação.

Tabela 5 – Análise qualitativa entre as áreas do galpão e suas relações

D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8

1. Entrada do galpão D1 a o o u u u u

3. Setor de estoque inicial de chapas D2 a a o o u u

4. Mesa de corte #1 D3 a i i a i

6. Mesa de corte #2 D4 i i a i

7. Setor de armazenar sobras de aço inox/ alumínio D5 u o o

8. Setor de armazenar sobras das chapas de aço D6 o o

9. Setor de armazenar chapas processadas pela CNC D7 a

11. Saída do galpão de corte D8

Após traduzir o peso das relações dentro do galpão de corte na

visualização gráfica (Figura 26) pode-se perceber um cruzamento de fluxos

produtivo, Absolutamente necessários, com distâncias muito grandes entre as

áreas D2-D4 e D3-D7, locais que pela sua importância deveriam ficar mais

próximos da CNC.

Outra percepção inicial trata-se das relações Importante entre os setores

D3 e D4 com D8 tornando-os mais perceptíveis através deste diagrama. Ficou

evidente que as distâncias Primordiais indicadas pela linha tracejada também

podem ser diminuídas.

52

Figura 26 – Fluxo de produção do galpão de corte de chapas

A ordem indicada para melhor sequência de processos é aproximar as

distâncias entre as estações que são Absolutamente necessárias, rearranjando as

Especialmente necessárias previamente, de forma que as relações Não

desejáveis também sejam consideradas.

Para este estudo de caso, a nova reorganização foi testada de forma

iterativa, até atingir esta disposição no Layout (Figura 27). Essa ordenação

respeitou a importância atribuída para cada relação (Tabela 5) a fim de se obter

um resultado ótimo do fluxo produtivo no galpão estudado.

Uma sugestão de organização considerada ideal seria estudar a

viabilidade técnica e econômica para posicionar a CNC no sentido transversal do

galpão. Esta posição garantiria maior liberdade para o fluxo primordial entre

entrada, buffer de chapas e saída, além de facilitar o fluxo secundário entre os

setores de “Armazenamento de sobras”.

53

Figura 27 – Iteração final entre diagrama e matriz de relação

Outro fato que pode ser observado (Figura 27) são as relações diretas que

foram propostas ao aproximar as estações D5 e D6 (de sobras) da estação D2

(armazenamento de chapas). O primeiro aspecto trata-se do potencial financeiro

deste capital imobilizado que não pode ser reaproveitado para novos cortes e, no

segundo aspecto o valor que pode ser agregado à produção pelo reuso destas

sobras diminuindo o impacto ambiental do descarte de lixo pelo estaleiro [22].

6.4 Tempo de produção

O tempo de corte do Nesting (Tabela 7) similar a chapa de aço em

estudo, com 12 mm [8] de espessura por plasma e velocidade de corte a 200

cm/min, contendo 7 peças na marcação, cujo perímetro de corte é de 70 m foi

no total de 44 minutos.

54

Tabela 6 – Tempos das diversas ações relacionadas ao corte a plasma de uma chapa de 12 mm

Etapas do corte de chapas de aço Tempo produtivo,

em minutos

Tempo não produtivo,

em minutos

Transporte de chapa até a mesa - 5

Carregamento e verificação - 2

Alinhamento da chapa - 2

Corte (marcação na chapa) 11 -

Corte (aberturas) 3 -

Corte (contornos) 31 -

Marcação das peças com tinta 5 -

Transporte da chapa até o parque - 35

Tempo total das atividades 50 44

Analisando a Tabela 6, acerca do tempo de produção pode-se perceber

que o somatório do tempo gasto com tarefas que não acrescentam valor

agregado ao produto, totalizaram 44 minutos, o que representa um total de 88%

do tempo produtivo gasto no processamento. Paralelamente a este processo

ocorre o processamento de dados para gerar o Nest da CNC, totalizando 180

minutos.

6.3.1 Tempo de espera

O tempo de espera também deve ser considerado, por conta das eventuais

falhas que possam surgir nos componentes da cabeça de corte do plasma que

implica na paralisação imediata do processo de corte, cuja substituição e

manutenção do bico duram aproximadamente 5 minutos.

55

Outro tempo de espera em torno de 2 minutos é a falha na cabeça de

corte por congestionamento do fluido arrefecedor que implica na abertura e

manutenção do fluido até recolocação em operação.

Uma falha mais comum é o ajuste dos parâmetros de corte no painel de

controle, ou em último caso, com o deslocamento do operador de corte até o

setor de projeto para discussão. Tal ajuste leva de 2 a 20 minutos [8].

6.5 Movimentação de cargas

O processamento de chapas de aço em um dia gera o volume, expresso

em toneladas, muito grande de peças e chapas processadas. As observações

durante 1 dia, realizadas na visitação técnica em Novembro de 2015, a CNC

deste estudo de caso gerou 52 toneladas de carga para serem transportadas

dentro do galpão pelas pontes rolantes e, para fora do galpão de corte em direção

aos demais galpões de montagem dos painéis e edificação dos blocos através de

empilhadeiras e carretas de movimentação de carga.

Esta movimentação de carga é realizada por uma equipe de

aproximadamente 6 pessoas, responsáveis pelo recebimento de novas chapas de

aço, alimentação de chapas de aço nas bandejas da CNC, retirada alternada das

peças cortadas e posicionamento das peças produzidas para continuidade do

fluxo de produção destinada ao galpão de montagem.

Observando os resultados obtidos nestas análises seriam recomendáveis:

Avaliar economicamente a viabilidade aumentar a quantidade de auxiliares no

setor de corte para operar as pontes rolantes, permitindo ao Operador da CNC

focar apenas nas atividades de corte. Avaliar também uma nova disposição das

zonas dentro do galpão para realizar uma otimização do fluxo de produção.

56

7 Propostas de melhoria

Os estudos realizados permitiram identificar alguns pontos de melhorias,

conforme destacado nas análises obtidas na seção 6 acerca que permitam

visualizar possíveis aplicações práticas para aperfeiçoar as operações com no

setor de corte de chapas.

(1) A primeira observação diz respeito ao software utilizado para geração

do Nesting. O estaleiro deve usar versão mais atual da fabricante

Messer® cuja versão mais aprimorada [24] mitigaria o tempo gasto

na criação deste Nesting manualmente pelo Programador de corte e,

evitaria paralisação na CNC para reajuste de parâmetros no corte.

(2) A criação de uma rede interna de transmissão de dados eletrônicos

para interligar os diversos setores viabilizaria a criação de uma base

de dados consolidada. O Nesting poderia ser feito inclusive, a partir

das sobras nas chapas já processadas pela CNC, gerando economia no

custo de construção dos navios.

(3) Após analisar o layout do galpão de corte as duas sugestões seriam:

Retirar os cilindros de gás para fora do galpão, fato que criaria uma

área livre para proporcionar maior mobilidade nas operações. Esta

área livre poderia servir também como espaço para reorganização das

estações aproximando aquelas com maior fluxo de chapas.

(4) O gasto de tempo na preparação do código numérico para corte

poderia ser mitigado com treinamento e capacitação do programador

e, com calibração do software para níveis de exigência selecionados

para simulação – “Programação fora da linha” de corte para uso das

ferramentas aprimoradas.

57

(5) As análises da matriz de qualidade, bem como os diagramas de

operação descreveram aspectos importantes do galpão de corte que

podem mitigar desperdício e fomentar novas práticas procedimentais.

(6) Ferramentas para retirar peças menores da mesa de corte podem

facilitar esta tarefa para os operadores, no entanto o uso intensivo da

ponte rolante para tal tarefa através do eletroímã torna o fluxo de

produção mais lento e oneroso.

(7) A utilização de estrados e cestas no setor de armazenamento de peças

processadas facilitaria a retirada destas do galpão de corte, seja pela

ponte rolante ou pela empilhadeira do setor, garantindo o transporte

de maior numero de peças com maior segurança e agilidade.

(8) Registrando à mão, as informações do setor de corte na planilha de

controle (Figura 28) os coordenadores de equipe no setor perdem

precisão no repasse e controle de informações acerca das quantidades

reais e tipos de chapas que estão alocadas no setor.

Figura 28 – Anotações do controle de processamento da CNC

58

(9) O operador da CNC não abastece com informações técnicas um

banco de dados comum aos demais setores, em tempo real. Estas

informações são registradas nas planilhas e papeletas de controle da

produção (Figura 29). Enquanto poderiam abastecer planilhas de

controle que diferenciariam o volume de corte planejado ante ao corte

realizado para gerar indicadores na gestão de processos.

Figura 29 – Informações do setor de corte na CNC

59

8 Conclusões

Nesse trabalho se buscou analisar o fluxo no processo de corte de chapas

através do método da CNC a plasma, para se identificar possíveis melhorias no

custo de produção no estaleiro do estudo de caso.

Ao realizar este estudo a maior frustração foi identificar que o sistema

integrado de gestão empresarial, cuja sigla em inglês significa Enterprise

Resource Planning – ERP poderia estar mais completo, principalmente no que

tange os aspectos de gestão e transmissão de dados com foco no setor de corte

para melhoramento contínuo no fluxo de produção.

O foco desse trabalho foi à comparação das vantagens entre um processo

real e outro idealizado através das análises do mapofluxograma [14], porém

como o tempo para a realização do mesmo é curto, não foi apresentado um

estudo detalhado das influências dos volumes significativo no processo de corte

de chapas, cujo estudo considerasse as distâncias do centro geométrico de cada

setor, volume transferido e tempo de processamento em cada setor denotando

uma variável importante para análise quantitativa dos processos de produção.

Para complementar este estudo seria interessante realizar análises

variando outros parâmetros como velocidade do corte e tempo de geração do

Nesting, bem como amostras de outros materiais sendo cortados na CNC, estas

variações permitiriam consolidar percepções, aumentar a escala de análises na

produção de peças cortadas e, consequente obtenção de resultados mais precisos

que seriam úteis nas tomadas de decisão.

60

A maior motivação encontrada ao realizar este estudo foi ter identificado

soluções viáveis técnica e economicamente, para aplicação imediata sem ônus ao

estaleiro, sendo exigido apenas uso de equipamentos que o estaleiro já possui,

seja alicates para retiradas de peça na CNC, ou seja, palestes e cestas na retirada

de peças do galpão de corte. Olhar para dentro dos processos, com visão

imparcial de fora pode trazer estes benefícios operacionais.

Estas soluções quando utilizadas em conjunto podem promover

modificações sensíveis na gestão dos recursos. O simples ato de registrar dados

oriundos do processo, ou mudança comportamental durante a operação são

capazes de fomentar uma nova cultura organizacional com foco no

reaproveitamento de bens processados sendo aplicáveis aos demais setores do

estaleiro.

61

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