Projeto gráfico-editorial para publicação impressa em Educação a Distância
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Universidade Federal de Santa Catarina
Alice Demaria Silva
Projeto gráfico-editorial para publicação
impressa em Educação a Distância
Florianópolis
2007
Alice Demaria Silva
Projeto gráfico-editorial para publicação
impressa em Educação a Distância
Trabalho apresentado como requisito par-cial para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso [EGR 5010], do curso de graduação em Design do Departamento de Expressão Gráfica da Universidade Federal de Santa Catarina, realizado sob a orientação do Prof. Dr. Richard Perassi.
Florianópolis
2007
Termo de aprovação
Alice Demaria Silva
Projeto gráfico-editorial para publicação
impressa em Educação a distância
Trabalho apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso [EGR 5010], do curso de graduação em Design do Departamento de
Expressão Gráfica da Universidade Federal de Santa Catarina.
_________________________________Profª Marília Marques Guimarães, MsC.
Coordenadora do Curso
_________________________________Profº Richard Perassi Luiz de Souza, Dr.
OrientadorDepartamento de Expressão Gráfica
_________________________________Profª Berenice Santos Gonçalves, Dra.
Departamento de Expressão Gráfica
_________________________________Diogo Henrique Ropelato
Designer gráfico graduado pela UFSC
Florianópolis, agosto de 2007.
Agradecimentos
Conheci essa área da Educação por acaso. Um estágio no Núcleo de Educação a Dis-
tância (NED) do SENAI/SC - Florianópolis me fez conhecer uma modalidade de ensino que por
vezes desacreditei. Aos meus colegas de trabalho durante aquele ano de 2006, agradeço por me
apresentarem de forma tão emocionante para algo do qual eu duvidava, não entendia e questio-
nava - e muito! Agradeço esses colegas, em especial à Cristiane Jaroseski, Juliana Vieira, David
Vitor Graminho, Márcia Luz, Magrit Dorotea Döding, Rozangela Aparecida Valle e Alessandra
Zago, pela disposição para conversas, discussões e reflexões sobre o nosso cotidiano.
Este trabalho também não seria possível sem a colaboração de Raphael Geremias, do
SENAI/SC - Joinville, coordenador do projeto de EaD que concedeu o uso do recurso didático
aqui apresentado.
Ainda, aos meus atuais colegas de trabalho, agradeço pelas dicas e sugestões sem-
pre bem-vindas, que tornaram esta pesquisa mais prazerosa e instigante. À FabriCO pela
incrível capacidade de assumir que o aprendizado acontece no presente, em conjunto e in-
cessantemente.
Não poderia deixar de agradecer aos meus amigos e amigas que souberam compreen-
der quando me ausentei de nossos encontros. Ou pior, quando estive neles e continuei a pen-
sar e falar o que sequer interessava a eles. Agradeço pela paciência e pelas palavras de apoio!
Ao meu orientador, Richard Perassi, pesquisador extraordinário, que não conhecia
antes de me aventurar nesta jornada. Muito obrigada pelas conversas e apontamentos, eles
foram muito importantes para que eu descobrisse em que ponto eu queria chegar.
À Soraya Falqueiro, agradeço pela sua leitura dedicada e entusiasmada. Num misto de
aprendizado e ajuda mútua, nos divertimos relendo e corrigindo esta pesquisa.
Aos meus pais – Auri e Emirane – e meus irmãos – Álvaro e Áurea –, agradeço pe-
los braços abertos que sempre encontrei. Minha família, berço de discussões enérgicas sobre
qualquer assunto – desde a criação do mundo até a validade do leite – é, com certeza, meu
ponto de partida. Aprendi com eles (e elas) que as reflexões, sobre o mundo que nos cerca ou
sobre o trabalho que fazemos, são tão importantes quanto o riso coletivo.
Em especial, agradeço ao André, que durante essa jornada me fez acreditar em um
potencial que eu sequer conhecia – ou fazia questão de conhecer. Obrigada pelo apoio, pela
paciência, pelas broncas e conversas.
E agradeço todos que, de certa forma, também colaboraram com esta pesquisa. Com
certeza um pedacinho de vocês está nessas páginas.
Valeu, galera!!!
Resumo
O objetivo deste trabalho é estudar aspectos relevantes para a produção de um material didáti-
co impresso para Educação a Distância. Foram pesquisadas algumas características desta mo-
dalidade de ensino e, com base nesses conhecimentos, levantadas questões ligadas ao projeto
gráfico destes recursos de ensino. Composição visual, tipografia e imagens são tratados como
elementos-chave para o sucesso do material didático, bem como o uso de cores e o suporte a
ser utilizado. Também foi elaborado um projeto prático e analisado com base nas informações
pesquisadas.
Palavras-chave: Projeto gráfico. Design. Educação a Distância. Material didático impresso.
Abstract
This project objective is studying important aspects for the production of printed study
material for Distance Education. Features of this kind of educational method had been
researched and, based on these knowledges, studies had been made about the graphic project
of these teaching resources. Visual composition, typography and images are key-elements for
the study material, as well as the use of colors and the kind of material that will be printed. A
practical project has also been developed and analyzed based on the researched information.
Key-words: Graphic project. Design. Distance Education. Printed study material.
Lista de ilustrações
Figura 1: As partes do tipo. ........................................................................................................................28
Figura 2: Classificação dos tipos .............................................................................................................28
Figura 3: Família tipográfica Helvética. .................................................................................................29
Figura 4: Estudos para elaboração do grid ..........................................................................................40
Figura 5: Definição do grid e bloco de texto ......................................................................................41
Figura 6: Parte da família tipográfica Kepler .......................................................................................42
Figura 7: Parte da família tipográfica Cronos Pro ..............................................................................42
Figura 8: Imagem da página com a aplicação das cores ................................................................43
Figura 9: Ícones utilizados no material didático ................................................................................43
Figura 10: Capa do material didático . ...................................................................................................44
Lista de quadros
Quadro 1 - Quadro de cores ....................................................................................................................33
Lista de abreviaturas e siglas
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem
DIN - “Deutsche Industrie Normen” (Normas Industriais da Alemanha)
EaD – Educação a distância
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Indústrial
Sumário
1 Introdução ................................................................................................................................11
2 Educação a Distância (EaD) ...................................................................................................13
2.1 Conceituação e considerações ....................................................................................................................13
2.1.1Aspectos positivos ...........................................................................................................................15
2.1.2Outras considerações e aspectos negativos ..........................................................................15
2.2 Características do método de ensino .......................................................................................................16
2.2.1 Mediatização ....................................................................................................................................16
2.2.2 Motivação ..........................................................................................................................................18
2.2.3 Mídias na EaD ...................................................................................................................................19
2.3 Sobre Didática aplicada à EaD ....................................................................................................................20
2.3.1 Recursos didáticos em EaD .........................................................................................................20
2.3.2 Material didático impresso ..........................................................................................................21
3 Projeto gráfico em EaD .........................................................................................................23
3.1 O projeto gráfico editorial ............................................................................................................................23
3.1.1 A composição gráfico-visual .......................................................................................................24
3.1.2 Tipografia e legibilidade ...............................................................................................................26
3.1.3 Outros elementos ...........................................................................................................................30
3.1.4 Cor .........................................................................................................................................................32
3.1.5 Papel – suporte ................................................................................................................................33
3.2 O projeto gráfico-editorial didático . .........................................................................................................35
4 Descrição do material produzido ........................................................................................38
4.1 O briefing .........................................................................................................................................38
4.2 Análise da Informação ....................................................................................................................................39
4.3 Desenvolvimento .............................................................................................................................................40
5 Análise do material produzido ............................................................................................45
5.1 Parâmetros analíticos .....................................................................................................................................45
5.2 As relações de proporcionalidade do projeto .......................................................................................45
5.3 Estética e usabilidade na ocupação das páginas ..................................................................................46
5.4 Dinamismo e ritmo de visualização e leitura .........................................................................................47
5.5 Aspectos estéticos e didáticos da publicação .......................................................................................47
6 Considerações finais ..............................................................................................................49
Referências .................................................................................................................................51
Apêndice .....................................................................................................................................53
Apêndice A - Exemplo do projeto em fase de finalização ........................................................................54
Anexos .........................................................................................................................................55
Anexo A – Autorização de uso do projeto gráfico .......................................................................................56
Anexo B – Mini-ilustrações (ícones) sobre os boxes ...................................................................................57
11
1 Introdução
Este trabalho se propõe a uma pesquisa teórica e prática sobre projeto gráfico. A finali-
dade do estudo teórico aqui proposto é considerar os aspectos formais como elementos estéticos
e comunicativos, que deverão agregar valor pedagógico à diagramação dos textos e à composição
das páginas. Isso será feito de acordo com as características específicas do material analisado.
A finalidade do trabalho como um todo é, portanto, compor e analisar um projeto
gráfico, aprimorando seus aspectos formais para fins didático-pedagógicos.
O objeto do presente estudo é um material didático impresso produzido para um cur-
so superior de tecnologia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Santa Catarina
(Senai/SC).
Esta pesquisa tem como objetivo principal analisar o projeto gráfico deste material
destinado a Educação a Distância destacando a função didático-pedagógica da composição
gráfica para o ensino. Os objetivos específicos são: estudar conceitos de projeto gráfico em
Educação, produzir um projeto gráfico para um material didático de Educação a Distância e
elaborar relatório de análise do material produzido.
A necessidade deste trabalho surgiu das situações vivenciadas diariamente, durante
o período de um ano de estágio no Núcleo de Educação a Distância do SENAI/SC - Florianó-
polis. A reflexão e os estudos sobre os projetos gráficos foram intensificados a partir do início
do trabalho profissional com materiais para Educação a Distância. Isso levou à percepção das
questões envolvidas em projetos gráficos destinados à Educação.
Atualmente, a Educação a Distância vive uma expansão muito relevante, devido ao inte-
resse de ampliar em grande escala a oferta de educação e qualificação com custos reduzidos e por
meio de recursos de grande abrangência. Em busca de custos mais baixos que os das qualificações
presenciais, muitas empresas estão migrando para a modalidade de capacitação a distância.
A importância das pesquisas em Educação a Distância é ressaltada, considerando in-
clusive a melhor estruturação, visando projetos gráficos coerentes com suas funções didático-
12
pedagógicas. O projeto deve colaborar para que a temática seja didaticamente apresentada ao
público em processo de educação ou capacitação.
Tendo em vista o que foi exposto, este projeto se justifica por colaborar no processo
de profissionalização da pesquisadora e por pesquisar possibilidades de aprimoramento de
projetos gráficos destinados a agregar usabilidade, inteligibilidade e conforto visual no pro-
cesso de Educação a Distância, que se encontra em expansão na atualidade devido ao seu valor
humano e social.
O título inicial deste trabalho foi, até a data da sua apresentação, “Projeto gráfico
de um recurso didático: material impresso para Educação a Distância”. Sua modificação foi
sugerida pela Professora Berenice Santos Gonçalves, buscando uma aproximação com o real
interesse da pesquisa desenvolvida, o projeto gráfico-editorial.
O trabalho está dividido em quatro grandes partes, além da introdução e conclusão.
Na primeira parte é possível observar diversos aspectos da Educação a Distância:
seus pontos fortes e fracos, as mídias utilizadas e, em especial, algumas características do
recurso didático impresso.
Na segunda parte são abordados os aspectos do projeto gráfico: a malha gráfica, as
famílias tipográficas, os elementos não-textuais (imagens, ilustrações, gráfico e diagramas), a
cor e o suporte (papel). Nesta parte também se encontram orientações de pedagogos que são
interessantes para o profissional que deseja desenvolver um recurso didático.
A terceira parte é a apresentação do projeto gráfico do estudo de caso: um projeto
gráfico desenvolvido para os Cursos Superiores de Tecnologia do SENAI/SC. As etapas de pro-
jetação também são demonstradas pela descrição da concepção da malha gráfica, dos recursos
não-textuais utilizados, das famílias tipográficas escolhidas. As ilustrações, de Giuliano Bene-
det, são apresentadas como ponto forte do projeto por sua beleza e capacidade de síntese.
A última parte se dedica à análise do material desenvolvido com base na pesquisa
realizada. São utilizados quatro parâmetros analíticos: as relações de proporcionalidade do
projeto, estética e usabilidade na ocupação das páginas, dinamismo e ritmo de visualização e
leitura e os aspectos estéticos e didáticos da publicação.
13
2 Educação a Distância (EaD)
2.1 Conceituação e considerações
Neste item, os conceitos e idéias apresentadas são principalmente decorrentes do
livro de Maria Luiza Belloni, “Educação a Distância” (2001), no qual a autora cita e interage
com as idéias de outros autores como Cropley e Kahl (1983), Campion (1992), Keegan (1983),
Trindade (1998) e Holmberg (1990). O livro-texto sobre o tema, produzido pelo Laborátório
de Ensino a Distância da Ufsc em 1998, também é utilizado como referência para os textos
que compõem este item.
Para esses autores, a Educação a Distância (EaD) é um processo de ensino-aprendi-
zagem no qual não existe o contato face a face entre professores e estudantes. Sua principal
característica é, portanto, a aprendizagem decorrente do estudo pessoal orientado pela estru-
tura institucional. Isso permite um alto grau de aprendizagem individualizada.
Neste ambiente pedagógico, em que não é comum encontro presencial ou contigüi-
dade entre professor e aprendente, os instrumentos de mediação (que prevê a relação entre
professor e os aprendentes ou os estudantes em geral) e de mediatização (que prevê as inter-
faces que promovem a mediação em EaD) têm papel de destaque entre as instâncias de ensino-
aprendizagem, como afirma Moore (1973, apud Ufsc, 1998, p. 22):
Educação a distância pode ser definida como a família de métodos instrucio-
nais nos quais os comportamentos de ensino são executados em separado
dos comportamentos de aprendizagem, incluindo aqueles que numa situação
presencial (contígua) seriam desempenhados na presença do aprendente de
modo que a comunicação, entre o professor e o aprendente, deve ser facilita-
da por dispositivos impressos, eletrônicos, mecânicos e outros.
A comunicação não-contígua é o ponto de distinção da EaD, requerendo especial con-
sideração sobre dois aspectos: 1- a mediação pedagógica e 2- a autonomia de aprendizagem.
De posse do conhecimento desses dois aspectos, que determinam as especificidades
pedagógicas e didáticas, que essa modalidade de educação exige, é importante mediatizar o
discurso pedagógico, seja pela forma ou pelo conteúdo. As estruturas de tutoria também são
14
imprescindíveis para essa concepção, cujo foco está direcionado ao sujeito aprendente, que
assume para si a auto-aprendizagem. Nesse processo, o indivíduo é o responsável por sua
aprendizagem.
No caso da autonomia do aprendente em EaD, é proposta a separação em pequenos
módulos de ensino, facilitando a escolha e a composição de um “cardápio” personalizado para
cada indivíduo uma vez que há a possibilidade de que a totalidade dos estudantes não esteja
preparada para a auto-gestão de seu aprendizado.
A EaD também se caracteriza por atender predominantemente um público adulto,
capaz de alcançar sucesso neste modelo de auto-aprendizagem se estiver motivado a melhorar
suas habilidades e conhecimentos. Nesse sentido, a EaD pode ser vantajosa para este público,
em geral formado por trabalhadores, que tem o intuito de aumentar a suas competências, seja
por meio de reciclagem, treinamento, aperfeiçoamento ou capacitação.
De acordo com os autores pesquisados, a EaD se caracteriza por:
Uma mediação indireta (mediatização) entre professor e estudantes, tornando essa
questão crucial para a compreensão e efetivação do processo de ensino a distância.
Uma substituição, portanto, da mediação direta do professor na relação ensino-
aprendizagem por uma relação indireta denominada de “mediatização”.
Um conjunto de canais e meios de armazenamento e distribuição de informação é
requerido para compensar a distância entre a instância de ensino e de auto-aprendi-
zagem, levando as mensagens pedagógicas até os estudantes ou, nesse caso, apren-
dentes.
Uma denominação específica para o estudante, chamado de “aprendente”, porque o
termo designa um tipo de estudante, geralmente adulto e trabalhador, que é capaz de
se responsabilizar pelo próprio processo de aprendizagem.
O foco deste trabalho, portanto, recai sobre um procedimento específico do processo
de mediatização entre as instâncias de ensino e os aprendentes, visando estudar princípios de
composição, formatação ou diagramação, com base em um material impresso desenvolvido
para EaD.
•
•
•
•
15
2.1.1 Aspectos positivos
Por ser um processo pedagógico particular, expressando características próprias, a
Educação a Distância está mais habilitada para atuar em determinadas situações e menos ha-
bilitada para atuar em outras. As vantagens da EaD possibilitam a democratização do acesso
à educação porque não há necessidade de deslocamento dos estudantes de seu meio cultural e
natural. A democratização também é promovida com a redução dos custos de produção do ma-
terial instrucional na medida em que se aumenta a quantidade de alunos atendidos (economia
de escala). Os custos elevados de desenvolvimento dos cursos em EaD são compensados com
o crescimento da população estudantil atendida.
A formação fora da sala de aula propicia ao aluno uma aprendizagem ligada à experi-
ência e à vivência, relacionando a aprendizagem à vida profissional e social.
Por ser um sistema que se caracteriza pelo foco no estudante, a EaD também propõe
que o estudante seja um parceiro no processo de construção do conhecimento, dando a ele as
ferramentas para buscar novos conhecimentos e abrindo espaço para que ele compartilhe suas
próprias investigações sobre o assunto no ambiente pedagógico.
Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem não exigem a presença dos estudantes para
estabelecer a troca de experiências, permitindo que estudantes de várias culturas e regiões
sejam agrupados no mesmo espaço virtual e tornando desnecessário o encontro num espaço
físico comum.
2.1.2 Outras considerações e aspectos negativos
Belloni (2001) indica a EaD como campo de atendimento de populações adultas, as
quais não dispõem de condições de tempo e mobilidade para usufruir do ensino convencional
devido à necessidade de se dedicar ao trabalho e ao pouco tempo disponível para os estudos.
Entretanto, a mesma autora reconhece a falta do contato com o ambiente escolar e da inte-
ração direta dos estudantes em bibliotecas, laboratórios e mesmo em salas de aula. O deslo-
camento do ambiente de estudo da escola para a casa e o isolamento com relação aos colegas
modificam, com ganhos e perdas, as condições de estudo.
16
Há ainda preconceitos sobre EaD pela ênfase dada aos aspectos tecnicistas durante
os últimos séculos de sua atuação. Depois de sua maior popularização, o pleno sucesso de suas
ações foi comprometido pela a falta de hábito, por parte dos estudantes, com relação às práti-
cas de auto-estudo e de auto-gestão.
Os materiais de apoio didático à EaD, também, são ainda criticados. Segundo o livro–
texto “Introdução a Educação a Distancia”, do Programa de Capacitação a Distância, publicado
pela Ufsc (1998), uma das limitações da EaD no Brasil é a falta de mão-de-obra especializada
para preparação de materiais de apoio didático, principalmente, os impressos.
Outros aspectos negativos, que foram reunidos e descritos por Belloni (2001), asso-
ciam a ação pedagógica da EaD ao modelo fordista de produção industrial. São citados: 1- a
racionalização das atividades; 2- a divisão acentuada do trabalho; 3- o alto controle dos pro-
cessos de trabalho; 4- a produção em massa de “pacotes educacionais”; 5- a concentração e a
centralização da produção, e 6- a burocratização”, como principais características fordistas dos
modelos atuais de EaD.
A crítica a esses aspectos considera, por exemplo, que a produção em massa de pa-
cotes educacionais pode fazer com que cursos voltados a públicos distintos recebam mesmo
tratamento. Assim, a falta de tratamento adequado e especializado para cada curso – e cada
público – pode ser um aspecto negativo das práticas em EaD.
Para os críticos do processo, cada público exige uma pesquisa contextual e um tra-
tamento formal coerente com a relação eficiente entre o conteúdo e contexto cultural. No
entanto, é mais fácil e mais barato utilizar um mesmo layout replicado para cursos destinados
a variados públicos, sem uma pesquisa contextual e sem uma fundamentação formal que via-
bilize a aprendizagem em situações específicas.
2.2 Características do método de ensino
2.2.1 Mediatização
Em qualquer sistema de ensino-aprendizagem a mediação pedagógica é fator impor-
tante. Na educação presencial essa mediação entre a oferta da informação e a aprendizagem
17
por parte dos estudantes é feita pelo docente. Na EaD, essa mediação acontece por meio dos
textos e de outros materiais distribuídos ao aluno.
Segundo Ramos (1990, apud Preti, 2007), a idéia principal da EaD é o fato da relação
educativa entre o professor e o aprendente não ser direta, mas “mediada e mediata”. Entre
esses dois termos há uma sutil diferença. Na mediatização, o sujeito entra em relação com
outras pessoas ou coisas por meio de uma terceira. Na mediação, o sujeito atua como árbitro,
mediador. Portanto, a distinção entre os dois termos está na presença ou ausência de um ter-
ceiro sujeito, como instância mediadora (Ferreira, 1999).
O termo “mediatizar” interessa de maneira particular ao conteúdo deste trabalho,
que busca descrever e analisar um recurso didático (livro impresso) produzido para EaD. Isso
porque a mediação em EaD, considerando a interação entre professor e aprendente, é indireta
- como foi dito inicialmente.
O termo “mediatizar” significa “escolher, para um dado contexto e situação de comu-
nicação, o modo mais eficaz de assegurá-la” (Rocha e Trindade, 1988 apud Belloni, 2001,
p. 63). Essa escolha começa com a seleção do meio de comunicação mais adequado à situação.
Em função do meio escolhido, é necessário conceber o projeto de formalização dos conteúdos
de maneira que a recepção, a compreensão e ação pedagógica com os conteúdos propostos
sejam beneficiadas pela formatação da mensagem ou do material didático.
A EaD consiste no tratamento eficaz do conteúdo e da forma de ensino-aprendiza-
gem, de acordo com o contexto em que se situa o aprendente. A codificação e o tratamento
formal das mensagens pedagógicas e os canais de comunicação compõem e representam a
instância de mediatização na EaD.
Francisco Gutierrez e Daniel Prieto, em seu livro “A mediação pedagógica” (1994),
propõem três tipos de tratamento para uma “mediação pedagógica alternativa”. 1- O primeiro
com base no tema; 2- o segundo com base no interlocutor, e 3- o terceiro com base na forma.
Esse terceiro tipo de tratamento é do interesse imediato deste trabalho.
A mediatização trata dos conteúdos e, também e principalmente, das formas de ex-
pressão dos diferentes temas, a fim de tornar possível e produtivo o processo pedagógico. Além
de tornar possível a aprendizagem, a forma de apresentação dos conteúdos didáticos aumenta
18
as possibilidades comunicativas e didáticas, potencializando a eficácia de todo o processo. O
objetivo é compor “um documento auto-suficiente, que possibilite ao estudante realizar sua
aprendizagem de modo autônomo e independente” (Belloni, 2001).
Considerando a diagramação e o layout do material didático como estudo da forma
ou formatação de apresentação do conteúdo, a forma é muito importante na mediatização
pedagógica.
O trabalho de elaboração da forma relaciona o prazer estético ao reforço da signifi-
cação do conteúdo, visando aumentar o significado do processo de construção e apropriação
do conhecimento, por parte do interlocutor ou aprendente. Compor e reforçar o sentido do
conteúdo didático com a forma do produto pedagógico representa o sucesso da mediatização
(Gutierrez; Prieto, 1994).
Além da sua relação com a forma e com o tratamento dos conteúdos; mediatização
também significa conceber estratégias de ensino pensando no desenvolvimento de metodolo-
gias para EaD; a escolha, produção e implementação das mídias escolhidas estrategicamente e
a convivência bem dialogada com os aprendentes (Belloni, 2001).
2.2.2 Motivação
O sucesso da aprendizagem em EaD depende também de motivação. Segundo Belloni
(2001), o sucesso do aprendente depende da sua motivação e das condições de ensino. Sobre
a aprendizagem de adultos ela ainda comenta que
um processo de ensino e aprendizagem centrado no estudante será então
fundamental como princípio orientador de ações de EaD. Isto significa não
apenas conhecer o melhor possível suas características sócio-culturais, seus
conhecimentos e experiências, e suas demandas e expectativas, como in-
tegrá-las realmente na concepção de metodologias, estratégias e materiais
de ensino, de modo a criar através dele condições de auto-aprendizagem
(BELLONI, 2001, p. 31).
Essa busca por informações sobre o aprendente auxilia tanto na concepção da lingua-
gem textual, quanto na linguagem visual do curso.
19
Sobre a importância da qualidade do suporte utilizado pelo aluno na motivação de
seu aprendizado, Belloni (2001) afirma que a “motivação para adquirir conhecimento e quali-
ficações e a disponibilidade de materiais apropriados” (p. 33) são as ferramentas básicas para
que os aprendentes adultos tenham sucesso no modelo de auto-aprendizagem.
O material a ser disponibilizado ao aluno, portanto, deve ser apropriado ao estudo
individualizado e solitário, de modo que o motive ou, pelo menos, não o desanime na busca
de sua qualificação.
Outros princípios didáticos, além da mediatização pedagógica e da motivação, tam-
bém constituem o “corpus teórico-metodológico” da EaD, tais como: 1- a necessidade da in-
teração e da interatividade; 2- o estímulo da autonomia e da autogestão; 3- a instigação da
aprendizagem significativa; 4- colaboração e cooperação na aprendizagem e 5- a avaliação de
todo o processo de ensino e da mediação (SOUZA, 2007).
2.2.3 Mídias na EaD
Além dos ambientes virtuais e sistemas de teleconferência e tele-presença, Belloni
(2001) afirma que é recomendável o uso de meios “leves” (selfmedia), tais como compact disks
(CD) e materiais impressos, pois esses meios não apresentam restrição de local e horário e
favorecem a autonomia e a liberdade ao estudante na gestão de seu aprendizado.
Tradicionalmente, há meios que caracterizam o processo por serem constantemente
utilizados na história da EaD. Há três gerações de processos midiáticos aplicados na educação
e ensino a distância.
O ensino por correspondência representa a primeira geração, com início ainda no século
XIX, seu advento acompanha o desenvolvimento da imprensa e dos caminhos de ferro. Essa fase é
caracterizada pela lenta e limitada interação com o professor e a grande autonomia do estudante.
Em meados dos anos 1960, começa a aparecer a segunda geração que se caracteriza
pela integração dos meios audiovisuais com o uso do impresso e o início do uso de computa-
dores. Belloni (2001, p. 56) afirma que “seus principais meios são o impresso, os programas
de vídeo e áudios, difundidos via cassetes ou via antena (broadcasting)”.
20
A terceira geração, com o aumento e a propagação das novas tecnologias de informação
e comunicação, começa a aparecer na década de 1990, utilizando os meios de suas antecesso-
ras e outros mais novos, como a correspondência eletrônica (e-mails); compact disks (CD) com
conteúdos didáticos; unidades de curso sob a forma de programas interativos informatizados e
Ambientes Virtuais de Aprendizagem, entre outros. Entretanto, os materiais impressos ainda
não foram dispensados e continuam sendo úteis no conjunto dos recursos utilizados.
2.3 Sobre Didática aplicada à EaD
A Didática é o campo de estudos e atividades aplicadas à formulação e desenvolvi-
mento de conhecimentos, procedimentos e técnicas de ensino em todos os seus aspectos prá-
ticos e operacionais. “A técnica de estimular, dirigir e caminhar, no decurso da aprendizagem,
a formação do homem” é produto da Didática (Aguayo, 1970 apud Piletti, 1987, p. 43).
Claudino Piletti (1987) utiliza o termo “recursos de ensino” para descrever os com-
ponentes do ambiente de aprendizagem que estimulam o aluno durante a busca pelo conhe-
cimento, entre esses, “livros e mapas, objetos físicos, fotografias, fitas gravadas, gravuras, fil-
mes e outros”.
2.3.1 Recursos didáticos em EaD
A forma é a expressão do conteúdo, e quanto mais bela e expressiva for aquela, mais se aproximarão os destinatários do conteúdo, mais facilmente
se apropriarão dele. (Gutierrez; Pietro, 1994)
Os recursos didáticos são todos aqueles que visam ajudar o estudante em sua apren-
dizagem, facilitando, incentivando e possibilitando um eficiente processo de ensino-aprendi-
zagem (Cerqueira; Ferreira, 2007).
Como exemplos de recursos didáticos utilizados em EaD, atualmente, são citados : os
impressos (livros-texto, estudos de caso, boletins e jornais); cassetes, CD e DVD; videoconfe-
rências e teleconferências; CD-ROM e Ambientes Virtuais de Aprendizagem (Ufsc, 1998).
21
Em princípio, qualquer pessoa tem competência para exercer a auto-aprendizagem
desde que possua ou tenha acesso a “materiais suficientemente compreensíveis e atrativos”,
portanto, a qualidade pedagógica de materiais didáticos para EAD é imprescindível para o
sucesso do procedimento (Flemming, Luz, Coelho, 2007).
Em síntese, material didático é todo meio pelo qual a informação pode chegar ao alu-
no com a finalidade de construção do conhecimento. Todavia, os materiais produzidos para
EaD devem ser planejados e produzidos de acordo com o caráter auto-instrutivo desta moda-
lidade de educação ou ensino – tendo em vista, o afastamento físico entre professor e apren-
dente e, ainda, a característica de que geralmente se trata de um público adulto.
O material didático para EaD deve conter todas as funções que um tutor desempe-
nharia em situação convencional, tais como, “guiar, motivar, interessar, expor, explicar, pro-
vocar, relembrar, fazer perguntas, discutir respostas alternativas, elogiar o progresso do aluno
assim por diante” (Ufsc, 1998).
Uma especificidade do material elaborado para EaD é, portanto, além de pretender
a transmissão de informações, funcionar também como elemento de motivação, diálogo e in-
teratividade com o aprendente. A separação (visual) entre o que é conteúdo e o que é dialogo,
provocação ou discussão, também, é essencial.
2.3.2 Material didático impresso
Eduardo Santos e Marcos Rodrigues (1999) definem o material impresso utilizado
em EAD como o tradicional livro-texto, apostila, guia de estudos e estudos de caso, e que estes
devem ser preparados para a aprendizagem sem o docente. O material impresso é considera-
do por esses autores, como o suporte mais transparente ou isento porque não compete com o
conteúdo dirigido ao aprendente.
Por essa e outras características, o material impresso continua importante mesmo com
as novas tecnologias, porque pode e deve complementá-las. São destacadas outras vantagens como
a facilidade de manuseio, de leitura, de controle, além do baixo custo, promovendo a familiaridade
dos usuários com o material por não necessitar de equipamentos sofisticados para o uso.
22
Apesar das vantagens apresentadas, a crítica recai sobre a passividade do material
impresso, que não permite a retro-alimentação. O seu potencial é limitado, porque necessita
ser utilizado em conjunto com um outro serviço de esclarecimento para suprir as dúvidas do
aprendente, além de exigir maior motivação do estudante.
Diante do exposto até este ponto, fica estabelecido que o ambiente pedagógico é ca-
racterizado pela atividade didática, ou seja, pela atividade de comunicação que visa o ensino-
aprendizagem. O ambiente pedagógico em EaD apresenta características próprias, devido à
relação indireta entre o professor e o aprendente e a necessidade do aprendente se responsa-
bilizar por sua própria aprendizagem. Isso interpõe, além das possibilidades de mediação, a
necessidade de mediatização, procedimento que é desenvolvido por meio de instrumentos de
orientação, alimentação, atendimento e controle das atividades do aprendente.
Entre os instrumentos de mediatização, encontram-se ambientes, canais, meios e
materiais de ensino-aprendizagem. Vale reafirmar que este trabalho manifesta especial in-
teresse pelo material impresso com finalidade didática utilizado em EaD. Por isso, são apre-
sentados a seguir os elementos do projeto gráfico-editorial aplicado à educação e ao ensino a
distância.
23
3 Projeto gráfico em EaD
3.1 O projeto gráfico editorial
Quando o projeto é de livro o desafio é correr a maratona sem diminuir o ritmo[...] Quando o projeto é de publicação pontual o desafio é obedecer os
rituais sem repetir esquemas (Melo, 2005, p. 82-83).
O projeto gráfico de uma publicação é o planejamento da disposição dos elementos de
suas páginas e da reunião dessas páginas e capas para formar o conjunto da publicação. Este
estudo ou projeto definirá as características visuais da peça gráfico-editorial.
Um projeto bem elaborado deve prever as necessidades que surgirão no desenrolar do
processo de compor graficamente um texto. Segundo Lucy Niemeyer (2003, p. 11), o projeto
gráfico de uma peça tem influência direta na percepção e interpretação da informação, porque
“só será percebida, compreendida e utilizada a informação que se apresentar ao seu destinatá-
rio de modo adequado e eficiente”.
De acordo com Emanuel Araújo (1986, p.299), o projeto gráfico de uma publicação
(ou de outro material impresso) envolve “a escolha correta do tipo, do sistema de composição
em que se devem gravar os caracteres, do papel onde se imprimirá essa composição e, final-
mente, o cálculo prévio da quantidade de páginas que deverá ter o livro”.
Esse autor não cita outros elementos visuais que não os tipos e o sistema ou estrutura
de composição. A tipografia é o elemento clássico e permanente do projeto gráfico editorial,
sendo o fator mais importante da diagramação. Todavia, com o desenvolvimento da tecnolo-
gia gráfica, considerando as imagens e outros elementos visuais, ampliaram-se as preocupa-
ções formais do projeto gráfico-editorial.
A modernização dos sistemas de impressão e a informatização do processo de criação
destituíram o tipógrafo como o único responsável pelo planejamento visual e reforçaram o
papel do designer gráfico que, além de pensar no planejamento dos elementos da composição,
como imagens, cores e tipos de uma publicação, também assumiu necessariamente as decisões
técnicas, considerando os suportes, os tipos de impressão e os acabamentos.
24
Ao projeto gráfico editorial, interessam diversos elementos, entre os quais, este tra-
balho trata, mais especificamente, 1- da composição visual da página, considerando: diagra-
mação, layout, cores e suportes, e 2- das fontes e dos grafismos, tendo em vista: ilustrações,
gráficos, tabelas e boxes.
3.1.1 A composição gráfico-visual
Os conceitos apresentados a seguir são propostos a partir da pesquisa realizada nos
textos de Bringhurst (2005), Lupton (2006) e Haslam (2007).
Considera-se composição gráfico-visual a concepção do conjunto da publicação, como
apresentação da seqüência de páginas organizadas de acordo com o projeto gráfico.
A composição prevê o formato e a aparência geral da publicação como suporte do
conteúdo editorial. Os elementos visuais de cada uma das páginas são compostos a partir de
uma malha gráfica geral, aqui tratada como grid. Essa malha orienta e dá unidade ao conjunto
das diagramações de cada uma das páginas da publicação.
Além da grade e da diagramação dos títulos e das colunas de textos, com espaços para
ilustrações, os aspectos gerais da composição, de cada página ou da publicação como todo, são
tratados como partes do layout da página ou do produto.
O grid, ou malha gráfica, é utilizado na divisão e disposição do conteúdo na página. O
termo diagrama também é utilizado para definir este controle sobre a página. De acordo com
Lupton (2006, p.113), os diagramas são
projetados para responder às pressões internas do conteúdo (textos, ima-
gens, dados) e às pressões externas da margem ou da moldura (página, tela,
janela), os diagramas eficientes não são fórmulas rígidas, mas estruturas fle-
xíveis e resilientes – esqueletos que se movem em uníssono com a massa
muscular da informação.
A vantagem da utilização de uma malha é que esse “esqueleto” servirá para nortear o
diagramador durante a composição prática da publicação. Ele é o suporte básico para a dispo-
sição dos elementos do projeto.
25
A construção dessa malha também favorece o trabalho em equipe, pois o responsável
pelo projeto não precisa ser o mesmo que irá diagramar o texto.
O grid ou diagrama pode apresentar uma ou várias colunas. Uma opção muito flexível
pode ser a de diagramas modulares, com “divisões horizontais consistentes de cima a baixo,
além de divisões verticais da esquerda para a direita” (Lupton, 2006, p.151). Eles ordenam a
posição e a delimitação dos elementos e podem gerar infinitas variações.
O grid que prevê apenas uma coluna de texto soluciona bem os documentos simples.
Já o de múltiplas colunas oferece mais flexibilidade para publicações que integram texto e
ilustrações ou para aquelas que têm hierarquias trabalhosas.
A base para a composição de um grid é a proporcionalidade. As proporções exercem
forte influência sobre a visão do homem. Na página, descansa o bloco de texto, a mancha
gráfica. A relação entre a forma da página e a mancha é fundamental para “prender o leitor ao
livro”, todavia, os erros nessas proporções podem “fazê-lo dormir, enervá-lo ou afugentá-lo”
(Bringhurst, 2005, p. 161).
Não se pode dizer que existem proporções ideais, apesar dos estudos geométricos que
se desenvolvem desde a Antiguidade, mas as relações proporcionais podem significar impo-
nência ou acanhamento.
Em geral, a base dos diagramas gráficos é uma proporção matemática. A chamada
proporção áurea ou proporção divina, que pôde ser observada na natureza, foi indicada por
matemáticos e estetas como a origem definitiva da beleza e da verdade. Essa proporção é es-
tabelecida com base nas proporções do pentágono e na divisão de um segmento em média e
extrema razão. O produto dessa divisão é utilizado para compor as medidas dos lados de um
retângulo, cuja relação entre o lado menor e o lado maior seja igual à relação entre o lado maior
e a soma da medida dos dois lados. A representação algébrica da relação é a : b = b : ( a + b ). O
resultado da divisão da medida dos lados é aproximadamente 1,61803.
A diagramação é resultado do trabalho de planejamento da disposição dos elementos
textuais na página impressa, obedecendo proporções e situações previstas no grid. Nesse mo-
mento, verifica-se também a propriedade e o bom desempenho da malha proposta anterior-
26
mente. Os blocos de texto, as margens, os títulos correntes e os fólios devem ser ordenados na
proposta de diagramação, obedecendo ao grid quanto às proporções estabelecidas.
Além da ocupação da página, é preciso atentar para os espaços em branco, porque esses
oferecem descanso ao olhar do leitor e possibilitam o manuseio da publicação. As margens laterais
distintas alteram a estabilidade do bloco de texto na página, tornando-a dinâmica. Ao contrário, as
margens regulares não instigam o interesse do leitor, porque estabilizam a composição.
O planejamento das entrelinhas dos blocos de texto é importante para guiar o olhar
do leitor entre uma linha e outra, considerando a distância entre as bases das linhas de texto.
A entrelinha muito pequena ou do mesmo tamanho que o corpo da fonte pode tornar
a leitura desagradável. Caso a entrelinha seja muito maior que o texto haverá a dissipação do
bloco de texto, que será percebido como várias linhas separadas.
O alinhamento do bloco de texto também tem importância na percepção do leitor,
podendo ser justificado à esquerda e à direita, justificado somente à esquerda ou somente à
direita, pode ser também centralizado, cada um desses alinhamentos corresponde à uma in-
tensidade de leitura.
Outros elementos também precisam ser posicionados na página, como os fólios e
títulos correntes. Os fólios são as numerações das páginas, geralmente posicionados nas mar-
gens e alinhados ao bloco de texto. Em algumas publicações, os fólios aparecem em apenas
uma das páginas, compondo a numeração par ou ímpar.
Os aspectos aqui considerados, quando somados aos estudos de cores, à escolha do
papel e aos critérios de acabamento considerando o efeito tátil e visual da página e da publica-
ção, vão compondo no âmbito do projeto gráfico o layout das páginas e da publicação.
3.1.2 Tipografia e legibilidade
Nesta seção reúne-se os estudos de Niemeyer (2003), Bringhurst (2005), Rocha
(2005) e White (2006).
A legibilidade de um texto impresso está relacionada à capacidade de identificar gru-
pos de caracteres como palavras e que estes tenham significado para o leitor. A falta de legi-
27
bilidade de um texto afetará a velocidade de leitura e exigirá um maior esforço mental para o
reconhecimento das letras e, por conseqüência, para o entendimento do texto.
É importante ressaltar a diferença entre legibilidade e leiturabilidade, porque en-
quanto a primeira trata da visibilidade do texto e da forma a segunda versa sobre o conteúdo
e a sua linguagem, tendo em vista a capacidade do leitor em compreendê-lo e interpretá-lo. A
função do designer em um projeto gráfico está relacionada à legibilidade, sendo a leiturabili-
dade responsabilidade do autor e do editor da publicação.
O nível de iluminação, o grau de contraste entre a letra e o fundo ou o suporte, e o
nível de cansaço visual do leitor também influenciam na legibilidade. Além dela, outros prin-
cípios são importantes para a página de uma publicação.
Tanto a legibilidade quanto o riso, a graça e a alegria se sustentam no significado, e
este é responsabilidade do autor, das palavras, do assunto e não das letras. Todavia, a forma
também influencia na significação geral do texto e, assim, a escolha de letras menos formais
pode reforçar a graça de uma citação. Entretanto, o significado de um texto não será predomi-
nantemente determinado pela sua tipografia, mas por também ser campo de significação, não
é interessante que as letras escolhidas entre em conflito com o significado do texto lingüístico.
A responsabilidade da forma dos tipos é interpretar e reforçar a comunicação do texto, refor-
çando sua coerência interna, exceto nos casos em que se pretende ironizar o que foi escrito.
Nessa perspectiva, a melhor fonte de texto é aquela que de tão cômoda fica invisível,
transparente. A fonte escolhida deve ser adequada ao assunto e esta escolha deve ser direcio-
nada ao público-alvo, não ao gosto do designer.
Sobre a escolha do tipógrafo (ou designer) da fonte que será utilizada em uma publi-
cação, Bringhurst (2005, p. 29) tem a seguinte visão:
A tipografia é a arte e o oficio de lidar com essas unidade de informação [os
caracteres] de duplo significado. O bom tipógrafo trabalha com elas de modo
inteligente, coerente, sensível. Quando o tipo é mal escolhido, aquilo que as
palavras dizem lingüisticamente e aquilo que as letras inferem visualmente,
ficam dissonantes, desonestos, desafinados.
E para saber qual a melhor escolha, dentre tantas opções que se tem atualmente, é
necessário pesquisar e conhecer fontes e suas peculiaridades.
28
Para o entendimento dos parágrafos seguintes, faz-se necessária uma breve descrição
da anatomia dos caracteres. Esta definição é importante para a classificação dos tipos.
Figura 1: As partes do tipo.
Fonte: Niemeyer (2003. p. 30-32).
A haste é o traço vertical ou diagonal de uma letra. A barra é o traço horizontal das
letras.
O eixo é a inclinação resultante da forma como a fonte foi desenhada, quanto mais
inclinado o eixo, mais humanista, relacionando-se com a escrita manual. Quanto me-
nos inclinado, mais mecânico e racionalista.
Serifa é o traço que fica no final ou no início de uma haste. Elas podem ter diversas
formas: triangular, quadrada, hairline (um traço muito fino), curva e reta.
As famílias tipográficas podem ser classificadas pelo desenho de seus caracteres:
Figura 2: Classificação dos tipos.
Fonte: Lupton (2006, p. 42).
As fontes Humanistas são baseadas na caligráfica clássica. Essas fontes imitam o de-
senho de manuscritos. Seu eixo é levemente inclinado para a esquerda, não possuem grandes
contrates entre as hastes e suas serifas são triangulares e ligadas as hastes por curvas.
•
•
•
29
As fontes Transicionais têm o eixo mais vertical e maior contrates entre as hastes.
Possuem formas mais precisas e serifas mais pontiagudas.
As fontes chamadas Modernas tem uma base forte nas proporções matemáticas. O
contraste entre as hastes é muito forte e as serifas são finas e retas. Seu eixo é vertical e seus
desenhos tendem a uma configuração geométrica.
As fontes Egípcias foram muito utilizadas na publicidade do início do século XX. Tem
as serifas grossas e são muito pesadas visualmente.
As Sem Serifa Humanistas se valem do traço caligráfico, mas abandonam as serifas.
São mais delicadas, com diferenças sutis entre as hastes.
As Sem Serifa Transicionais têm o mesmo caráter uniforme e ereto das transicionais
serifadas. Possuem pouco contraste entre as hastes, mas não são monolineares.
As Sem Serifa Geométricas tiveram origem no movimento modernista, possuem uma
forte inspiração racionalista e geométrica e são monolineares.
As famílias tipográficas são fontes que possuem as mesmas características básicas
com diversas variações de pesos e larguras. São respeitadas as relações de altura e proporções
gerais das letras e é possível encontrar versões com e sem serifa da mesma fonte.
A vantagem das famílias tipográficas é que, por vezes, se faz necessária a combinação
de fontes num mesmo projeto e elas tornam mais fácil a escolha no momento de combinar
fontes num mesmo contexto.
Figura 3: Família tipográfica Helvética.
Fonte: Araújo (1986, p. 351).
30
3.1.3 Outros elementos.
Nesta seção apontam-se os estudos de Bringhurst (2005), White (2006), Lupton (2006).
A importância das imagens, gráficos e tabelas em publicações para ensino a distância
podem ser explicadas pela capacidade de síntese e de elucidação de idéias que estes elementos
podem ter.
Para White (2006, p. 143), as imagens são o maior ponto de atenção de uma pági-
na, “são rápidas, emocionais instintivas e despertam”. Elas são elementos estratégicos, que
aproximam o leitor da informação, não devem ser utilizadas com o mero propósito de alegrar
a página ou dividir blocos de texto. As publicações devem ser uma mistura entre o visual e o
verbal, juntos devem criar (e ser) uma parceria.
Os boxes, caixas que abrigam pequenas quantidades de texto, podem ser utilizados
para destacar pontos importantes e convidar os leitores para conhecer o conteúdo, pois “as
pessoas são atraídas por tudo o que parece curto e fácil” (Idem, p.171). Se repetirmos de modo
consistente, padronizados e coerentes, os boxes podem valorizar a publicação.
Os fios podem organizar o espaço da página, enfatizar palavras ou criar contrastes de
peso. Eles determinam limites e podem tornar uma página clara, caso o bloco de texto pareça
bagunçado demais.
É possível classificar fotos e ilustrações no contexto de publicações pela sua relação
com o conteúdo, podendo ser emocionais, informativas e circunstanciais.
As de clima emocional são conceituais estimulantes, aguçam o interesse. Causam im-
pacto, intrigam, seduzem de forma a prender o leitor. Propõe-se um melhor termo
para elas: chamariz.
As informativas são aquelas que documentam fielmente a realidade. São factuais e é
preciso tratá-las simples e diretamente, de forma que não percam a sua credibilidade.
As circunstanciais são as imagens banais que não merecem destaque, mesmo sendo as
melhores que temos. Elas não merecem destaque, devem ficar pequenas.
É preciso que a escolha das imagens seja feita com base no significado delas, não ape-
nas em sua beleza. A relevância da imagem para a publicação deve ser levada em consideração.
•
•
•
31
O destaque da imagem escolhida também é ponto fundamental, bem como o tamanho e a
localização dela devem ser pertinentes com o objetivo do livro.
No caso de desenhos e ilustrações, deve-se valer da seletividade, através da omissão
de informações desnecessárias ao entendimento do assunto; as visualizações que o desenho
permite, tais como cortes e vistas explodidas; a explicação do funcionamento das coisas com
gráficos e fluxogramas; e por fim, a combinação de foto e ilustração, permitindo a explicação
da construção do objeto da foto através do desenho técnico além da sua margem.
O uso de tabelas, diagramas e gráficos também podem auxiliar na legibilidade e na
riqueza visual de uma publicação. Diagramas organizam as informações e facilitam a com-
preensão dos leitores através de comparações visuais. Portanto, faz-se necessário que se ilu-
mine a relação entre os dados em vez de aprisioná-los em celas protegidas fortemente. Duas
sugestões simples podem otimizar a visualização de uma tabela de relações: a eliminação dos
fios tipográficos, utilizando o preenchimento da linha com uma cor pálida, para o acompanha-
mento de linhas horizontais longas; e a substituição de numerais por pontos, permitindo uma
comparação visual e descartando a leitura individual de cada numeral.
O uso de gráficos em publicações auxilia na percepção da informação. Eles represen-
tam um contexto, demonstram conexões, elucidam conceitos e “aumentam a velocidade da
comunicação ao mostrar estatísticas de modo mais rápido e claro do que as palavras” (White,
2006, p. 157)
Um bom gráfico para uma publicação é funcional, persuasivo, eficaz e útil. Respec-
tivamente ele deve apresentar os fatos; anunciar uma opinião; ser claro e rápido; focar-se
em comparações como: grau de importância, modificações, probabilidades, relevância para o
leitor.
Deve-se buscar a relação visual entre o texto e os outros elemento, tais como ilustra-
ções, fotografias, diagramas e tabelas. Dessa forma, a inserção desses elementos deve estar
de acordo com a publicação. É papel do designer decidir como dispor os elementos dentro da
página impressa, e devem ser decididas “caso a caso”. Bringhurst (2005, p. 28) acredita que “a
página tipográfica é um mapa da mente; é também com freqüência um mapa da ordem social
da qual emerge. E, para bem ou para mal, mentes e ordens não param de mudar.”
32
3.1.4 Cor
Neste tópico foram pesquisados os estudos de Oliveira (2002), White (2006), Leoni
et al. (2007) e Gonçalves (2007).
O uso das cores em publicações impressas serve como um recurso estético, bem como
recurso funcional, com os propósitos de identificação, ênfase, associação, organização, persu-
asão. Ela pode ser utilizada como elemento de hierarquização de informações ou como ele-
mento de associação indicando códigos culturais.
Os atributos que permitem identificar e avaliar uma cor são: matiz, saturação e valor. O
matiz é aquilo que permite a identificação da cor, ou seja, seu comprimento de onda. Ele é a cor
em si: verde, vermelho ou azul. A saturação, se refere ao grau de pureza de uma cor: sem adição
de cinza ou outras cores ela fica saturada, pura. O valor indica o índice de luminosidade de uma
cor, e pode ser variado através da adição de preto (rebaixamento) ou branco (dessaturação).
Em publicações impressas coloridas utiliza-se pelo menos quatro cores básicas para
formar as demais. São elas: ciano, amarelo, magenta e preto (CMYK). No caso de publicação
em offset, o uso de cores, irá torná-la mais cara, pois para cada cor precisa-se de uma chapa
diferente e uma impressão em separado. A impressão digital, processo relativamente novo no
mercado brasileiro, não necessita de chapas diferenciadas, mas também utiliza as quatro cores
básicas para produção e, dependendo da tiragem, encarece o produto final.
As relações sensoriais, psicológicas e culturais podem ser observadas no quadro a
seguir, que demonstra algumas implicações de cada cor.
É preciso atentar que esta é apenas uma referência, pois a nacionalidade, a idade,
o ambiente social, a classe econômica ou mesmo o ânimo do receptor podem afetar a forma
como ele irá reagir às cores.
33
Quadro 1 - Quadro de cores
Fonte: White (2006, p. 204)
3.1.5 Papel – suporte
Nesta seção foram utilizadas as pesquisas de Oliveira (2002) e White (2006) para sua
elaboração.
34
O formato mais comumente utilizado na indústria brasileira é o BB (66 x 96 cm) – ou
a metade deste em gráficas menores – para impressões em offset. Para os processos eletrográ-
ficos e digitais, os formatos Din (A0 e suas subdivisões A1, A2, A3, A4, etc) são mais comuns.
A relevância dos formatos utilizados para impressão está na escolha do formato final
que a publicação terá. A impressão em offset oferece uma boa relação custo/benefício para
grandes quantidades. Portanto no caso de uma publicação em offset, a escolha do tamanho
das páginas deve estar intimamente ligado ao seu formato aberto, pois o aproveitamento do
papel será maior no momento do refile (acabamento do material, feito com base nas marcas
de corte).
No caso de impressões digitais, a utilização de A3 ou A4 como formatos finais não
permitem a utilização de sangramentos, que é o excesso de impressão, aquilo que ultrapassa
os limites da marca de corte. Será necessário refilar a página para obter esse resultado, dimi-
nuindo um pouco mais o formato final.
A relação entre o papel e a impressão é muito importante. Para White (2006, p. 24)
o produto impresso não pode existir sem o seu substrato. Impressão e papel
são como o yin e yang. Por isso é que você deve levar em conta os atributos
físicos do objeto para produzir uma comunicação impressa excelente. O pa-
pel sobre o qual você imprime não é mera superfície neutra, vazia, esperando
ser recoberta. Deve ser usado como participante ativo no processo de comu-
nicação.
Diante do exposto até o momento, percebe-se a importância dos conhecimentos re-
lativos a disposição de elementos num espaço, a necessidade de entendimento sobre fontes,
cores e proporções além do conhecimento sobre a percepção visual de elementos não-textuais
como pré-requisitos para uma publicação impressa bem embasada. Além da pesquisa sobre o
produto e o público que irá usufruí-lo, o profissional que for responsável pelo planejamento de
um material didático para EaD deve possuir esses conhecimentos mínimos, pois o aprendente
precisa se sentir seguro, motivado e capaz. Seguro de que aquele recurso didático tem valida-
de e é confiável; motivado pelo ritmo e leveza do texto e dos elementos e capaz de entender
e tornar-se parte do processo de ensino aprendizagem pela relação afetiva que ele estabelece
com o material didático.
35
3.2 O projeto gráfico-editorial didático.
No momento da elaboração de um projeto gráfico para um material impresso deve-se
ponderar os aspectos estéticos, simbólicos, técnicos e econômicos. No caso de um material
para EaD também se faz necessário considerar os aspectos didáticos do material.
É comum a inserção de indagações e frases de motivação, com o intuito de impulsio-
nar a aprendizagem, instigar a autonomia e incentivar o estudo (Souza, 2002). Nesses casos,
o projeto gráfico deve prever espaços bem determinados para que essa interação com o aluno
não se confunda com o conteúdo do texto.
A seguir, são expostas algumas recomendações de Gutierrez e Prieto (1994) sobre
o material didático em seu livro “A Mediação Pedagógica: educação a distância alternativa”.
Nele, os autores fazem uma série de advertências para a produção de um material didático
realmente efetivo, desprendendo-se dos padrões já estabelecidos.
Os autores propõem, primeiramente, um diagnóstico sobre o tratamento da forma dos
materiais didáticos utilizados em EaD, criticando o uso de um conceito formal rígido que será
replicado no conjunto de materiais em quaisquer temas e circunstâncias. Assim, como alterna-
tiva para as formas estereotipadas é indicada a preocupação com a beleza, a expressividade, a
originalidade e a coerência na formatação dos materiais de acordo com suas especificidades.
A crítica recai também sobre a ênfase ao “conteudismo” que faz das imagens um
reforço direto do texto. Assim, as imagens apenas repetem o conteúdo verbal sem buscar um
enriquecimento para o tema e para a percepção do leitor sobre elas. Isso estende a crítica sobre
a infantilização, a trivialidade das imagens e ainda sobre estereotipação dos personagens.
A “pobreza expressiva” é evidenciada pela má distribuição dos elementos visuais e
verbais nos espaço e pelo uso de imagens sem um bom tratamento expressivo, acarretando na
falta de riqueza ou pobreza visual, indicada pela pouca variedade e força de atração visual que
não auxiliam a mediatização.
A “falta de interdisciplinaridade” na construção de materiais didáticos, dificultando a
busca pela melhor forma de mediatização. Os diagramadores e ilustradores são considerados
36
apêndices no processo de produção, restringindo sua participação no processo decisório e im-
pedindo, em parte, o uso de seus conhecimentos na renovação dos materiais.
As recomendações, que visam incrementar o processo de comunicação dos materiais
didáticos por meio do aprimoramento de sua forma de apresentação, prescrevem:
Tomar conhecimento das características do público receptor.
Perceber as dificuldades dos interlocutores, reconhecendo os pontos obscuros do tex-
to para esclarecê-los com outros recursos comunicativos.
Buscar a síntese textual e visual, porque a beleza está na simplicidade.
Investir no humor e criar personagens que promovam a identificação do leitor.
Investir em outras imagens belas e lúdicas, que propiciem empatia e reflexão.
Cuidar da diagramação, visando mobilidade, simplicidade e equilíbrio no desenho
das letras, na distribuição dos textos e na relação de espaços cheios e vazios.
Trabalhar com linguagens e códigos já conhecidos e inovar sua apresentação.
De posse de conhecimentos sobre a linguagem, a técnica e o público, encontrar solu-
ções específicas para textos e públicos diferenciados.
As recomendações indicadas acima visam alcançar uma série de resultados interme-
diários, que serão importantes no resultado final do trabalho desenvolvido, com relação à
qualidade de forma e conteúdo nos materiais didáticos.
A melhoria da expressividade ou da força expressiva na relação entre textos e imagens
amplia a atração visual e, também, orienta a percepção e a leitura, tanto da forma como do
conteúdo. Tudo isso promove o “enriquecimento do tema e da percepção”, ou seja, torna mais
rico o material. Para tanto, é necessário variar o estímulo visual e, ao mesmo tempo, manter
o ordenamento da página, além de compor personagens e cuidar das relações de contraste,
preservando devidamente os espaços vazios necessários.
A união eficiente entre texto e imagem, compondo um conjunto agradável, atrai e
mantém o interesse do leitor. As imagens devem não apenas reforçar, mas também comple-
mentar o texto. A imagem eficiente compõe uma síntese da significação do texto, especial-
mente nas ocasiões em que o conteúdo é extenso e variado, assim, é capaz de “tornar o texto
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
37
compreensível”. Além disso, a clareza e a simplicidade com incrementos, que implicam em
acentuações visuais de algum aspecto-chave, repetições de detalhes e tratamento de imagens
colaboram para a compreensão do texto.
A organização dos elementos textuais e visuais, através da composição do discurso
verbal e do tratamento da forma, estabelecendo pontos de atração e momentos de descanso e
de leitura para se “estabelecer um ritmo”, como o processo de repetição e variação de elemen-
tos dentro da mesma unidade.
A dificuldade em se estabelecer um ritmo eficiente está na falta de variações, cor-
rendo o risco de cair na monotonia. Na falta de variação, não há pontos de atração, curvas
de atenção, não há altos e baixos, tudo conspira para uma homogeneidade insuportável. Para
conseguir o ritmo, são necessárias mudanças de intensidade na combinação de elementos
formais; contrastes não apenas no interior de uma imagem, mas também entre imagens; regu-
laridade na diagramação, jogo com os espaços em branco e as caixas de texto; reafirmação de
um mesmo elemento formal; jogo de equilíbrio e compensações pela cadência do texto.
Para ser interessante e instigante, o ritmo de leitura ou visual deve “provocar surpre-
sas e rupturas”, com jogos de imagens que tenham variações, contraposições e justaposições.
O rompimento perturba a ordem da percepção para apropriação e aprofundamento do tema.
Algumas sugestões para conseguir surpresa e ruptura prevêm a subversão de hábitos de per-
cepção; a apresentação de contra-estereótipos visuais; a variação de esquemas estruturados de
diagramação; as imagens abertas a mais de uma interpretação; as mudanças sutis ou explícitas
entre figura e fundo; as ilusões e os “enganos” de percepção.
Todos os procedimentos apontados acima, provocando surpresas e rupturas e dinami-
zando o ritmo de leitura visam “conseguir variedade na unidade”, uma vez que a ordenação do
conjunto composto por texto e imagem é necessária para aprendizagem, mas que não admite
rigidez sob pena de perda de interesse e atenção. A função da estrutura de um material didático
é permitir a disposição de elementos da melhor forma em determinados momentos, compondo
unidade com variedade. Outras sugestões para se conseguir a variedade na unidade prevê o uso
de imagens com temas complementares ao eixo central do texto; a junção de diferentes enfoques
de um mesmo tema; o uso de recursos variados de diagramação, de acordo com o tema tratado;
os contrastes bem-selecionados, e variadas fontes de inspiração da imagem.
38
4 Descrição do material produzido
O objeto de estudo deste trabalho é o projeto gráfico de um impresso para EaD. O
material didático foi desenvolvido para ser utilizado em algumas disciplinas dos cursos su-
periores de tecnologia do Senai. A autorização para apresentação do material está em anexo
(Anexo A).
O material foi projetado para ser impresso em formato A4, pois o aprendente será o
responsável pelo processo de impressão. O material é colorido e pode ser impresso em qual-
quer impressora, sem a necessidade de refile.
O conteúdo do material se refere a procedimentos da indústria alimentícia. Ele é diri-
gido a aprendentes que compõe um público adulto universitário interessado no aprendizado de
sistemas de análise de perigo e pontos críticos de controle no processamento de alimentos. Uma
amostra da diagamação – uma aula – pode ser observada no Apêndice A.
O processo de planejamento e produção do material foi composto inicialmente por
um briefing, que orientou a concepção da publicação, com a definição do formato e do trata-
mento estético que seria dado ao material, promovendo também a escolha do suporte e do
tipo de impressão.
4.1 O briefing
O termo briefing é original da língua inglesa, que significa um conjunto de informa-
ções e instruções que serão executadas. O termo foi incorporado ao jargão das áreas de Publici-
dade, Marketing, Design e outras, indicando uma série de dados e informações resultantes de
um levantamento contendo informações e apontamentos sobre o objeto a ser desenvolvido.
No caso do projeto em questão, o briefing foi realizado junto à equipe editorial do
material didático produzido para os cursos a distância do Senai/SC, sendo apresentado de
maneira esquemática:
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__________________________________________________________________
Cliente: SENAI/SC
Produto: Projeto gráfico de publicação (impresso) para disciplinas a distância.
Objetivo: criar um projeto gráfico que atenda à necessidade do cliente em dis-ponibilizar algumas disciplinas dos seus cursos superiores de tecnologia (CST) a distância.
Características do material: isenção da responsabilidade do cliente (SENAI/SC) em imprimir o material. O usuário final é quem será responsável pela impressão, se assim optar, pois o mesmo conteúdo será disponibilizado na sala de aula do AVA.
Cores: possibilidade de usar cores em todo o material. O cliente sugeriu que para cada área do conhecimento se utilizasse uma cor: azul para empreendedorismo, verde para saúde e outros.
Características dos CSTs: Os cursos de tecnologia têm um caráter tecnicista, e não voltado para a pesquisa, como os cursos superiores tradicionais. As áreas dos cursos são variadas: saúde, computação, alimentos, telecomunicações, auto-mação, biológicas, e outras.
Público-alvo: A maioria dos estudantes desses cursos no SENAI tem média de 20 até 23 anos de idade, salvo exceções.
Metáfora: utilização de personagens que facilitem a identificação dos alunos com o material.
Tratamento do texto: seriam utilizados muitos elementos para quebrar a mono-tonia do texto, tendo em vista a idade do público-alvo. Negritos em palavras ou frases inteiras ou caixas de destaque para parágrafos importantes no decorrer do texto. No corpo do texto também existirão momentos de diálogo com os alu-nos, com os seguintes recursos: você sabia, atenção, dicas, saiba mais, reflexão, pesquisa, links, atividade individual, atividade em grupo, avaliação, destaque, referências.
Observações: Os materiais didáticos desses cursos serão disponibilizados para os estados de Santa Catarina e Goiás. __________________________________________________________________
4.2 Análise da Informação
Esta etapa é composta pela análise do briefing e pela pesquisa de referências visuais
que caracterizam o público a ser atingido. Com base nas informações contidas no briefing,
chegou-se as seguintes conclusões:
40
o layout serviria para todos os CSTs do cliente, portanto, apresentava-se uma dificul-
dade na utilização de metáforas para o tratamento formal – ícones e boxes. A opção
foi de um tratamento genérico, mas que tivesse identificação com o público jovem.
não existia a certeza de que a impressão do material seria feita em páginas duplas (ou
frente e verso), por isso optou-se por um projeto em uma página apenas.
o uso de caixas, com a cor identificada pelo cliente para a área do conhecimento ser-
viria para abrigar os textos dos recursos saiba mais, dicas, link e outros.
como referência visual observou-se imagens bem acabadas, de cores fortes, e de ân-
gulos retos.
4.3 Desenvolvimento
A composição das páginas foi realizada a partir de um grid de três colunas, que abri-
garia um bloco de texto sem divisões – uma coluna apenas. Isso traria a possibilidade de abri-
gar tanto as caixas de diálogo quanto as ilustrações em uma ou duas colunas. Essa solução se
mostrou inviável pela quantidade de ilustrações e diálogos que apareciam seqüencialmente no
texto, o que impossibilitaria uma disposição equilibrada dos elementos na página e que, em
alguns momentos, acabavam com a mancha gráfica do bloco de texto.
Figura 4: Estudos para elaboração do grid
Fonte: Arquivo pessoal
•
•
•
•
41
Apresentada esta dificuldade, optou-se pelo uso de duas colunas apenas, deixando
uma grande margem direita para o aluno utilizar a área para fazer anotações e apontamen-
tos. A disposição dos elementos (imagens, gráfico, ilustrações e outros) acontece preenchendo
uma coluna, e se necessário, se estendendo até a outra.
Figura 5: Definição do grid e bloco de texto.
Fonte: Arquivo pessoal.
Decidido isso, o próximo passo foi a disposição de outros elementos na página, tais
como fólios e títulos correntes.
Decidiu-se pela localização do fólio no canto inferior direito da página, alinhando-se
com o título corrente, disposto no canto superior direito, com o nome da disciplina e da aula.
Nas páginas de início de aulas, apresenta-se apenas o nome da disciplina.
O bloco de texto tem uma relação aproximada da seção áurea, estando na proporção
de 1 : 1,642.
Tomadas essas decisões, iniciou-se a definição das famílias tipográficas que seriam
utilizadas no projeto.
No bloco de texto principal, utilizou-se a fonte Kepler, do designer de tipos Robert
Slimbach. Segundo Rocha (2005, p.118) é um tipo muito “legível mas menos rígido e racional”.
Para isso, Slimbach buscou inspiração nos traços e proporções caligráficos das fontes humanis-
tas e fugiu da racionalidade dos tipos modernos. O designer do tipo queria “dar um ar contem-
porâneo, mesmo conservando as características da escrita manual“ (Idem, 2005, p 118).
42
Kepler Medium
Kepler Medium Italic
Kepler Semibold
Kepler Semibold Italic
Kepler Bold
Kepler Bold Italic
Figura 6: Parte da família tipográfica Kepler.
Percebeu-se a necessidade de combinar outra família tipográfica para os momentos
de diálogo no texto, que se propõem quebrar a monotonia do texto. Numa pesquisa entre as
outras fontes concebidas por Slimbach, foi encontrada a Cronos. Essa fonte sem serifa tam-
bém tem em seu desenho uma forte inspiração na caligrafia e nos tipos transicionais.
Cronos Pro Subhead
Cronos Pro Subhead Italic
Cronos Pro Semibold Subhead
Cronos Pro Semibold Subhead Italic
Cronos Pro Bold Subhead
Cronos Pro Bold Subhead Italic
Figura 7: Parte da família tipográfica Cronos Pro.
Para títulos e destaques de palavras, utilizou-se o negrito, reservando o itálico para o
destaque de termos estrangeiros ou científicos.
Conforme comentado no briefing, cada área do conhecimento terá uma cor a ser ex-
plorada. As cores serão utilizadas nos títulos, boxes e fios. Para os títulos utilizou-se cores mais
rebaixadas, adicionando o preto. Mas para os boxes, fios e outros detalhes trabalha-se sempre
com valores entre 20% e 40% de cada cor primária, para evitar peso excessivo na página.
43
Figura 8: Imagem da página com a aplicação das cores.
Fonte: Arquivo pessoal.
Para os momentos de diálogo com o aluno, optou-se pela produção de mini-ilustra-
ções (Anexo B) sobre boxes de fundo colorido. A cor do boxe é bem dessaturada.
Figura 9: Ícones utilizados no material didático.
Fonte: SENAI, 2007
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A capa do material foi projetada sem metáforas. Como os materiais servirão para
todos os cursos superiores do SENAI/SC, optou-se pela utilização de palavras replicadas com
destaque para algumas que compõem a parte central. As palavras foram retiradas de um texto
disponibilizado pelo SENAI/SC e se referem aos Cursos Superiores de Tecnologia. A utilização
de várias cores facilita a combinação com as diversas cores que deverão ser utilizadas ao longo
da implementação do projeto. Uma faixa com a cor da disciplina identifica a área do conheci-
mento e destaca o título da disciplina.
Figura 10: Capa do material didático.
Fonte: Arquivo pessoal.
A partir desta descrição do material desenvolvido, faz-se necessária uma análise do
material com base no apresentado até o momento, abordando os aspectos positivos e negati-
vos do material em relação a sua forma.
45
5 Análise do material produzido.
5.1 Parâmetros analíticos
De acordo com os autores pesquisados para a composição deste trabalho, a EaD re-
quer um processo de mediatização entre as instâncias de ensino e os aprendentes, os quais
têm necessidade e capacidade de aprendizagem a distância porque são responsáveis por sua
auto-aprendizagem.
O material didático impresso é um elemento de mediatização ainda bastante consi-
derado nos processos de EaD, mesmo que o trabalho de impressão seja realizado no local de
aprendizagem e o conteúdo enviado por via eletrônico-digital.
O material didático que é objeto de estudo deste trabalho foi planejado e desenvol-
vido para ser enviado por meio digital, mas para ser impresso no local de aprendizagem e
utilizado como material impresso. Portanto, os parâmetros de avaliação utilizados na análise
do material didático em estudo serão as indicações pertinentes às características positivas
indicadas para a composição de material didático impresso.
Seguindo as indicações dos autores estudados, o material didático projetado será ana-
lisado e avaliado de acordo com sua composição, tendo em vista 1- as relações de proporcio-
nalidade; 2- as interações entre partes ocupadas e partes vazias; 3- o ritmo e o dinamismo da
composição das páginas e da publicação como um todo; 4- a coerência entre os tipos escolhidos
e o conteúdo divulgado, e 5- a aparência geral do projeto de publicação com relação aos critérios
estéticos, comunicativos e estimulantes que se espera de um material didático em EaD.
5.2 As relações de proporcionalidade do projeto
A malha definida para este projeto gráfico define a separação entre as duas colunas
que abrigam o bloco de texto e uma terceira reservada ao aprendente. Não foi definida uma
área especial para a disposição das imagens, pois a quantidade de imagens explicativas utiliza-
das no conteúdo é muito grande e precisam ficar próximas do texto à que se referem.
46
A proporção do bloco de texto em relação à coluna em branco é de um quarto. Como
esta coluna não foi uma solicitação do cliente, e sim uma sugestão da equipe que participou
do projeto, optou-se por não dar muito destaque a mesma. O objetivo pretendido ao colocá-la
no projeto foi atingido e a mancha gráfica continuou ocupando um espaço coerente, de acordo
com a sua função na página.
A proporção da mancha gráfica, numa relação próxima da seção áurea torna a página
agradável e simples, porque isso é o que propõe a teoria a respeito e o que sugere a percepção
visual da composição gráfica.
Como este projeto não previu páginas duplas (frente e verso), deparou-se com uma
dificuldade na disposição dos títulos correntes (nome da disciplina e da aula), que foram agru-
pados numa mesma linha.
A entrelinha escolhida chega perto de 150% em relação ao tamanho da fonte e está
um pouco acima do recomendado pelos autores estudados, pois o bloco de texto pode se des-
prender. Porém, certos fatores, como o tamanho dos caracteres com ascendentes e descenden-
tes pequenas em relação a altura-de-x e a largura das colunas, indicaram a necessidade desta
relação de entrelinha.
5.3 Estética e usabilidade na ocupação das páginas.
Para valorizar o layout da página foram utilizados pequenos desenhos sobre os boxes,
quebrando a monotonia do bloco de texto extenso. As ilustrações também foram inseridas no
meio do bloco de texto, desfazendo a aparente rigidez das duas colunas. A coerência visual do
projeto, com o uso dos boxes e ilustrações, proporciona a interação entre as sensações de va-
riedade e unidade, deixando a composição equilibrada, mas sem redundar na monotonia visu-
al. Os pequenos desenhos sobre os boxes, chamados de ícones, receberam tratamento gráfico
diferenciado, utilizando o mesmo traço nas doze aplicações. Isso colaborou com o sentido de
unidade entre as partes do material. A disposição desses ícones sobre boxes de uma mesma cor
em todo o material também reforça a coerência visual do projeto. A coerência formal e visual
transmite segurança ao aprendente e credencia o material.
47
O espaço reservado na direita da página tem como objetivo transmitir a sensação
de que o aprendente é parte do processo e responsável por sua aprendizagem. O fio gráfico
reforça ainda mais a organização da página, distinguindo muito bem o espaço destinado ao
aprendente e o espaço do conteúdo.
Apesar de colaborar com a boa adaptação do conteúdo à página, a utilização de duas
colunas, com o fio gráfico na lateral, dificultou o trabalho do diagramador. Foi preciso verifi-
car caso a caso o melhor modo de solucionar a inserção de tabelas muito extensas, bem como
uma grande seqüência de imagens na mesma página, sempre encaixando o conteúdo na malha
gráfica proposta.
5.4 Dinamismo e ritmo de visualização e leitura
Para conquistar o dinamismo na leitura, duas famílias tipográficas foram escolhidas
e solucionaram bem esta dificuldade que, uma vez superada, veio atender a uma necessidade
didática. As fontes que possuem a mesma estrutura básica, quando combinadas, não geraram
ruídos ou inconsistência visual no material didático. O contraste moderado entre as hastes e
sua inspiração caligráfica torna suave o bloco de texto.
A utilização de duas colunas oferece a possibilidade e a sensação de leitura mais rápi-
da, semelhante à leitura de revistas. Esta escolha é considerada por profissionais da área como
ideal para o público jovem, que nem sempre está habituado à leituras longas. Isso também
diminuiu a densidade da mancha, criando uma pequena área de respiro no meio da página.
Os boxes são retangulares e os ícones ficam levemente deslocados para fora deles,
quebrando a seriedade da composição. Eles escapam pelas arestas e invadem o bloco de texto,
harmonizando ainda mais a estrutura de colunas.
5.5 Aspectos estéticos e didáticos da publicação
A utilização da cor no material é um ponto forte no projeto gráfico realizado, des-
pertando o interesse para a leitura e chamando atenção para os boxes que destacam pontos
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importantes do material. Os ícones bem trabalhados também são pontos interessantes do
material. Pela variedade de ícones, a cada página que o aprendente vira é uma nova possi-
bilidade de conhecer um dos doze desenhos. Esses fatores, bem como o uso de ilustrações e
diagramas tornam o material mais leve e convidativo para a leitura, auxiliando na motivação
necessária para EaD.
A possibilidade do uso de cor em EaD não é uma constante, por isso este aspecto foi
bem aproveitado, mas com moderação: utilizou-se cores de baixa saturação, para não criar de-
sequilíbrio visual na página e, assim, também evitou-se um aumento dos custos de impressão
(caseira).
A identificação entre o aprendente e o material é ampliada pela variedade dos ele-
mentos na página, oferecendo elementos de interesse a diferentes perfis psicológicos, além de
procurar o interesse de todos pela riqueza visual de cores e imagens.
49
6 Considerações finais
Após estudos e conhecimentos a respeito de aspectos da EaD e de suas possibilidades
de produção e aplicação de design voltado para essa área, é importante considerar a necessi-
dade dos conhecimentos aqui apresentados para o desenvolvimento de um material didático
impresso, que seja eficiente do ponto de vista pedagógico e estético-gráfico.
Os requisitos para formalizar uma publicação deste tipo são relacionados ao tempo
que o usuário final dispõe e necessitará para realizar a auto-aprendizagem. Uma vez que o
tempo é, geralmente, escasso e que o êxito depende da disposição e auto-gestão do próprio
aprendente, a capacidade de motivação do produto com relação ao trabalho de aprendizagem
é o aspecto-chave na elaboração do material gráfico.
O material como instrumento de mediatização entre o conhecimento e o aprendente
não pode provocar a ampliação da fadiga no processo de aprendizagem, devendo inclusive
combate-la por meio de estímulos visuais entre outros.
Os conhecimentos apresentados nesta pesquisa visam incrementar os aspectos di-
nâmicos e instigantes do texto gráfico para EaD, considerando as idéias de ritmo e ruptura
propostas por Gutierrez e Prieto (1994). A escolha orientada de tipos, de cores, de formatos e
acabamentos nas composições visuais dos materiais gráficos permite que o designer seja um
agente ativo no processo de planejamento do material didático da modalidade EaD.
As estratégias de ensino não são de sua alçada direta, porém o designer atua pro-
fissionalmente na forma gráfica, indicando como serão apresentados os conteúdos e, assim,
atuando na percepção e na disposição do usuário, durante o processo de auto-aprendizagem.
Utilizando-se dos recursos que fazem parte de seu repertório profissional, o designer deve
trazer perspectivas de aprimoramento no desempenho deste processo pedagógico que se for-
talece a cada dia.
Nesse sentido, há a necessidade da integração de designers nas equipes multidiscipli-
nares que trabalham em EaD, favorecendo a elaboração e produção de recursos didáticos cada
vez mais eficientes, por meio de recursos renovados e consistentes com a proposta de EaD.
50
Pedagogos, designers e ilustradores devem trabalhar num espaço predominante-
mente colaborativo em que teorias, idéias e conhecimentos devem ser estudados, avaliados e
aplicados, de acordo com as necessidades de cada curso em especial.
Durante este trabalho foi possível notar um ponto de convergência entre as idéias
de pedagogos e designers, pois as recomendações apresentadas por estudiosos da educação
foram complementadas com as indicações feitas pelos autores da área de Design aqui apre-
sentados. A relação que as imagens devem ter com o texto, considerando as necessidades de
ritmo e ruptura e da organização consistente da página impressa foram apontadas pelas duas
áreas de conhecimento.
Interessante é perceber que a área pedagógica, que não estuda especificamente as
formas de uma composição, preocupa-se com as relações visuais. Fato que demonstra a ne-
cessidade de conhecimentos específicos que os designers podem desenvolver em outras áreas
como a Educação. Nesse sentido, considerando as perspectivas atuais de crescimento da EaD,
é preciso atentar para abertura de novos mercados, nos quais os designers podem ter papel
importante, até mesmo imprescindível, desde que sejam também capacitados para entender
as peculiaridades dessa modalidade de ensino.
Diante deste cenário, as pesquisas e discussões sobre a relação entre a composição da
forma e o entendimento do conteúdo no processo de aprendizagem em EaD são necessárias.
Espera-se o fomento de mais pesquisas sobre a relação que se estabelece entre forma e o con-
teúdo na Educação a Distância; contando com a colaboração de diversas áreas das ciências. O
potencial da EaD para a democratização da educação e do ensino, pode ser muito bem aprovei-
tado se todo o processo se desenvolver com conhecimentos teóricos e práticos adequados em
busca da qualidade e da eficiência.
51
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52
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Apêndice
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Apêndice A - Exemplo do projeto em fase de finalização
Anexos
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---------- Forwarded message ----------From: Geremias, Raphael <[email protected]>Date: 19/07/2007 15:20Subject: RES: Autorização de uso do projeto gráfico - CSTTo: Alice DeMaria <[email protected]>Cc: Norton Paim Moreira < [email protected]>
Ok, Alice. Sua solicitação foi aprovada, com as seguintes ressalvas: - Não apresentar a logo SENAI ou derivações dela;- Não apresentar o conteúdo das disciplinas;- Limitar-se ao projeto gráfico;- Não utilizar a estrutura pedagógica estabelecida pelo SENAI; Saudações,
...........................................................Raphael Silveira GeremiasCoordenador de Educação a Distância - SENAI/SCRua Arno Waldemar Doehler, 957 - CEP 89219-510Zona Industrial Norte - Joinville/SCFone: (47) 3441-7778 / Fax: (47) 3441-7776http://www.sc.senai.br/eadhttp://www.sc.senai.br/senaivirtual‘SENAI/SC - A Industria do Conhecimento’
Anexo A – Autorização de uso do projeto gráfico
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Anexo B – Mini-ilustrações (ícones) sobre os boxes
Atenção Atividade Atividade em grupo
Avaliação Destaque Dica
Link Pesquisa Referências
Reflexão Saiba Mais Você sabia?