Projeto Integrador - Turma de Meio Ambiente - IFSC
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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
DE SANTA CATARINA
CURSO TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE
PROJETO INTEGRADOR
DIAGNÓSTICO TÉCNICO SOCIOAMBIENTAL DA REGIÃO DO
ENTORNO DO TREVO DA SETA – FLORIANÓPOLIS/SC
Amanda Aparecida Torres Rodelo
Bruna Caroline Fraga
Fernanda Tereza de Macedo
Flávia França Dinnebier
Iohranna Helena Müller
Isabella Almeida
Spigolon
Joyce Gabriela da Cunha
Juliana Rodrigues Walendy
Luiz Henrique Silveira
Luiza de Oliveira Silva
Marcele Eifler de Oliveira
FLORIANÓPOLIS
2013
Amanda Aparecida Torres Rodelo
Bruna Caroline Fraga
Fernanda Tereza de Macedo
Flávia França Dinnebier
Iohranna Helena Müller
Isabella Almeida
Spigolon
Joyce Gabriela da Cunha
Juliana Rodrigues Walendy
Luiz Henrique Silveira
Luiza de Oliveira Silva
Marcele Eifler de Oliveira
DIAGNÓSTICO TÉCNICO SOCIOAMBIENTAL DA REGIÃO DO
ENTORNO DO TREVO DA SETA – FLORIANÓPOLIS/SC
FLORIANÓPOLIS, julho de 2013
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DA CONSTRUÇÃO CIVIL
CURSO TÉCNICO EM MEIO AMBIENTE
Amanda Aparecida Torres Rodelo
Bruna Caroline Fraga
Fernanda Tereza de Macedo
Flávia França Dinnebier
Iohranna Helena Müller
Isabella Almeida Spigolon
Joyce Gabriela da Cunha
Juliana Rodrigues Walendy
Luiz Henrique Silveira
Luiza de Oliveira Silva
Marcele Eifler de Oliveira
DIAGNÓSTICO TÉCNICO SOCIOAMBIENTAL DA REGIÃO DO ENTORNO DO
TREVO DA SETA – FLORIANÓPOLIS/SC
Projeto Integrador submetido ao Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Santa Catarina como parte dos requisitos para obtenção do
Diploma de Técnico em Meio Ambiente.
Orientadores(as): Profª MSc. Aline Gevaerd Krelling
Profª MSc. Débora Monteiro Brentano
Prof° Dr. Fernando Teixeira
Prof° Esp. Luiz Carlos M. Cavalheiro
Prof° Esp. Ricardo Reis Maciel
Prof° Dr. Walter Martins Widmer
FLORIANÓPOLIS, julho de 2013
RESUMO
A presente pesquisa é fruto do Projeto Integrador desenvolvido pelos alunos da turma
do 3º módulo do Curso Técnico de Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – campus Florianópolis.
O trabalho envolveu pesquisa bibliográfica, embasamento legal, levantamento de dados
em órgãos governamentais, análise da área de estudo, o entorno do Trevo da Seta, situado na
porção centro-oeste da Ilha de Santa Catarina, e entrevistas semi-estruturadas qualitativas
com a população local. Esta região foi escolhida para estudo por suas diversas características
e problemáticas, como expansão urbana, intenso fluxo de veículos, difícil mobilidade urbana,
construções irregulares, infraestrutura sanitária insatisfatória, presença de Unidades de
Conservação e Áreas de Preservação Permanente (em especial o manguezal). Essas
características do local permitiram a aplicação das competências adquiridas durante o curso.
Foram abordados aspectos ambientais, urbanísticos e de infraestrutura sanitária, entrevistou-se
a população local, especialmente em relação à percepção ambiental, e foi realizada a
investigação da qualidade da água. O objetivo principal da pesquisa foi a realização de um
diagnóstico técnico socioambiental da área, que deve ser utilizado como base para o
desenvolvimento dos Projetos Integradores das seguintes turmas do Curso de Técnico
do Meio Ambiente. O trabalho visa trazer informações para uma futura busca de melhorias
sociais e ambientais no local.
Palavras-chave: Diagnóstico socioambiental, Trevo da Seta, investigação da qualidade da
água.
ABSTRACT
This research is the result of the Integrator Project developed by the students of 3rd
semester of Environment Technical Course of Federal Institute of Education, Science and
Technology of Santa Catarina - Campus Florianópolis. The work involved bibliography
research and the study of a certain area, the surroundings of the Trevo da Seta, in the central-
west of the island of Santa Catarina, which was chosen because of its particularities and issues
such as urban expansion, heavy flow of vehicles, difficult urban mobility, irregular buildings,
poor sanitary infrastructure, presence of special protected areas, specially mangroves, all
characteristics that allowed the application of the skills acquired during the course. Subjects
as environment, urban and sanitary infrastructure were approached, the local population was
interviewed, especially in relation to environmental perception, and the water quality was
investigated. The main objective of this research was to make a social and environmental
technical diagnosis of the area, which shall be used by the upcoming classes of the
Environment Technical Course as a basis for the next Integrator Projects. This research aims
to provide information for future pursuit of social and environmental improvements in the
area.
Keywords: environmental and social diagnosis, Trevo da Seta- Florianópolis, investigation of
water quality.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Localização da Área de Estudo................................................................................ 2
Figura 2 – Mapa de Hipsometria............................................................................................... 6
Figura 3 – a) Localização da Bacia Hidrográficado Rio Tavares;
b) Área de estudo com os cursos de água............................................................................... 7
Figura 4 – Imagem de satélite apontando o afluente do Rio Tavares
onde obteve-se os dados físicos............................................................................................... 8
Figura 5 – Perfil de elevação do rio principal da área de estudo.............................................. 8
Figura 6 – a) Mapa geológico da Ilha de Santa Catarina;
b) Domínios geológicos na área de estudo............................................................................ 9
Figura 7 – Rochas do embasamento cristalino na área de estudo............................................ 10
Figura 8 – Mapa de domínio do Bioma Mata Atlântica
e seus remanescentes vegetais.................................................................................................. 12
Figura 9 – Proporção da área desmatada, até 2010 da Mata Atlântica.................................... 13
Figura 10 – Usos da vegetação no Estado de Santa Catarina.................................................. 14
Figura 11 – Representação dos ecossistemas da Mata Atlântica presentes na área de
estudo....................................................................................................................................... 15
Figura 12 – Epífita da família Bromeliácea............................................................................. 16
Figura 13 – Heliconia farinosa................................................................................................. 17
Figura 14 – Guarapuvu............................................................................................................. 18
Figura 15 – Palmito (Euterpe edulis)........................................................................................ 19
Figura 16 – Lagarto não identificado....................................................................................... 19
Figura 17 – Tucano.................................................................................................................. 19
Figura 18 – Mapa apresentando a distribuição geográfica
dos manguezais no mundo........................................................................................................ 20
Figura 19 – Estruturas adaptadas para oxigenação do sistema
radicular (pneumatóforos). Manguezal do Rio Tavares.......................................................... 21
Figura 20 – Espécie vegetal do mangue apresentando raízes escoras.
Manguezal do Rio Tavares...................................................................................................... 21
Figura 21 – Construções às margens do Rio Tavares, onde o manguezal
foi provavelmente suprimido................................................................................................... 24
Figura 22 – Construção presente dentro do Manguezal do Rio Tavares.................................. 24
Figura 23 – Resíduos sólidos depositados no Manguezal do Rio Tavares.............................. . 24
Figura 24 – Queima de resíduos sólidos e tubulação que provavelmente lança
esgoto doméstico dentro do manguezal.................................................................................... 25
Figura 25 – Funções dos ecossistemas e serviços relacionados.............................................. 26
Figura 26 – Elementos para o Pagamento de Serviços ambientais...................................... 27
Figura 27 – Valor econômico total dos ecossistemas e da biodiversidade........................... 28
Figura 28 – Principais serviços ambientais prestados por florestas e área úmida................ 30
Figura 29 – Buffer hidrografia, satélite 2009....................................................................... 35
Figura 30 – Unidades de Conservação................................................................................. 35
Figura 31 – Unidades de Conservação................................................................................. 36
Figura 32 – Imagens da evolução de ocupação do entorno do Trevo da Seta...................... 40
Figura 33 – Imagens da evolução de ocupação do entorno do Trevo da Seta...................... 41
Figura 34 – Imagens da evolução de ocupação do entorno do Trevo da Seta...................... 44
Figura 35 – Imagem área do entorno do Trevo da Seta, com detalhe do aterro
da Baía Sul, 2004................................................................................................................ 45
Figura 36 – Imagem aérea do entorno do Trevo da Seta, 2012........................................... 45
Figura 37 – Manifestação em reação aos acidentes ocorridos na SC 405, após
a construção da faixa adicional, 2012................................................................................. 46
Figura 38 – a) Indício de favelização; b) Construções em margens de rio.......................... 47
Figura 39 – Crianças brincando às margens da Rodovia Diomício Freitas......................... 47
Figura 40 – Via SC 405, centro-bairro................................................................................. 47
Figura 41 – Rodovia Diomício Freitas, aeroporto-centro.................................................... 48
Figura 42 – Servidão Nelson Serafim Pereira...................................................................... 48
Figura 43 – Calçamento SC 405.......................................................................................... 49
Figura 44 – Calçada esburacada SC 405.............................................................................. 49
Figura 45 – Exemplo de poste em mal estado...................................................................... 49
Figura 46 – Excesso de fiação elétrica.................................................................................. 49
Figura 47 – Placa e anuncio na área de estudo................................................................. 49
Figura 48 – Centro Comunitário.......................................................................................... 50
Figura 49 – Creche................................................................................................................. 50
Figura 50 – Igreja................................................................................................................. 50
Figura 51 – Zoneamento...................................................................................................... 52
Figura 52 – Zoneamento...................................................................................................... 52
Figura 53 – Adequação dos usos e atividades as áreas..................................................... 54
Figura 54 –Utilização.......................................................................................................... 55
Figura 55 -a) Zoneamento; b) Residências em APL na servidão........................................ 56
Figura 56 – Residências em APL na Servidão Nelson Serafim Pereira (Chino)................ 56
Figura 57 – a) Zoneamento.; b) Abertura de valas de drenagem em APP na Rodovia
SC 405 – centro-bairro (lado direito) da rodovia................................................................... 57
Figura 58 – a) Zoneamento.; b) Construções em topos de morro,
APP Rodovia SC 405.............................................................................................................. 57
Figura 59 – a) Zoneamento. Aeroporto-centro.;b) Rodovia Diomício Freitas
(lado direito) da rodovia.......................................................................................................... 57
Figura 60 – a) Zoneamento.; b) Rodovia Diomício Freitas
(lado esquerdo) da rodovia..................................................................................................... 58
Figura 61 – a) Zoneamento.; b) Rodovia Diomício Freitas
(lado esquerdo) da rodovia..................................................................................................... 58
Figura 62 -a) Fundos da creche – passagem para o caminho da trilha do
Manguezal; b) Fundos da creche – passagem para caminho da trilha do Manguezal........... 59
Figura 63 -a) Resquícios de materiais de construção sólidos encontrados ao longo
da trilha do manguezal; b) Diversos tipos de resíduos encontrados ao longo da trilha
do manguezal.......................................................................................................................... 59
Figura 64 – a) Madeiras e papa entulho na trilha.; b) Fim da trilha do manguezal,
ás margens da orla marítima, a Baía Sul................................................................................ 60
Figura 65 – a) Zoneamento.; b) Comércio ao lado do mangue.............................................. 60
Figura 66 – a) Depósito de madeira nos fundos de um comércio na mangue;
b) Depósito de resíduos no mangue......................................................................................... 60
Figura 67 – a) Problema de infraestrutura urbana; b) Falta de calçada para pedestres
e areia invadindo a pista.......................................................................................................... 61
Figura 68 – a) Caminhões utilizando a passagem;
b) Problema de infraestrutura urbana...................................................................................... 61
Figura 69 – a) Servidão Nelson Serafim Pereira;
b) Acesso perpendicular à Servidão Nelson Serafim Pereira................................................. 62
Figura 70 – a) Resíduos na Servidão Nelson Serafim Pereira
b) Lixeira da COMCAP.......................................................................................................... 62
Figura 71 – Drenagem pluvial na Servidão Nelson Serafim Pereira
b) Cano de esgoto sanitário despejado em vala com mau estado de
conservação na Servidão Nelson Serafim Pereira................................................................... 63
Figura 72 – a) Lateral da Rodovia Deputado Diomício Freitas; b) Manguezal..................... 63
Figura 73 – a) Rodovia Deputado Diomício de Freitas
b) Lateral da Rodovia Deputado Diomício Freitas................................................................. 63
Figura 74 – Manguezal do Rio Tavares.................................................................................. 64
Figura 75 – Lixo nas proximidades do recurso hídrico........................................................... 67
Figura 76 – Lixo amontoado no Manguezal........................................................................... 67
Figura 77 – Imagem de Satélite da área de estudo, apontando a área na qual é atendida
pelo sistema de abastecimento integrado (verde) e a área que é atendida pelo sistema
Costa Leste/Sul (rosa)........................................................................................................... . 69
Figura 78 – Observação de lançamento de efluentes na Servidão Nelson Serafim
Pereira, Costeira do Pirajubaé, Florianópolis/SC................................................................... 71
Figura 79 - Mapa com a localização dos pontos de coleta de água para análise de
colimetria e toxicidade aguda.................................................................................................. 78
Figura 80 -Desenho amostral da avaliação da qualidade de água......................................... 79
Figura 81 - Coleta das amostras: a) Coleta no Ponto 1; b) Coleta no Ponto 2;
c) Coleta no Ponto 3; d) Coleta no Ponto 4; e) Coleta no Ponto 5........................................ 80
Figura 82 - Esquema explicativo do Método de Tubos Múltiplos......................................... 81
Figura 83 - Preparo das diluições das amostras...................................................................... 82
Figura 84 - Inoculação das amostras diluídas......................................................................... 83
Figura 85 - Repicagem dos tubos de CLT positivos para o VB e EC.................................... 83
Figura 86 - Reações envolvida na metodologia de Colilert®................................................ 85
Figura 87 - Preparação das diluições das amostras para quantificação de coliformes
totais e E. coli pelo método Colilert®............................................................................... 85
Figura 88 - Procedimetos do método de Colilet®: a) Adição do
substrato DST®; b)Trasferencia da amostra para placa Quanti-Tray®; e
c) Placa passando pela seladora......................................................................................... 86
Figura 89 - Teste de toxicidade aguda: a) Esquema do teste de toxicidade aguda
com Daphnia magna; b) Preparo do teste; c) Inserção dos organismos-teste.................... 87
Figura 90 – Áreas de abrangência das entrevistas............................................................. 97
Figura 91 – Modelo GATS................................................................................................ 112
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Dias e horários da coleta convencional realizada pela COMCAP....................... 67
Quadro 2 – Dias e horários da coleta seletiva realizada pela COMCAP................................ 68
Quadro 3 – Volume da amostra para preparo da solução-teste............................................... 88
Quadro 4 – Dados obtidos através da análise das amostras coletadas em
cinco pontos, da nascente à foz da área de estudo................................................................ 88
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Dados de colimetria para os cinco pontos coletados,com linha
demarcando o limite estabelecido para enquadramento do curso d’água em
Classe 2 para água doce e Classe 1 para água salobra....................................................... 89
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 01
2 ASPECTOS AMBIENTAIS ..................................................................................... 05
2.1 Caracterização da rede hidrográfica............................................................ 05
2.2 Geologia .......................................................................................................... 09
2.2.1 Embasamento cristalino....................................................................... 10
2.2.2 Planícies costeiras................................................................................ 11
2.3 Mata Atlântica e seus ecossistemas............................................................... 11
2.3.1 Floresta Ombrófila Densa.................................................................... 15
2.3.2 Manguezais.......................................................................................... 20
2.4 Serviços ambientais........................................................................................ 25
2.4.1 Tipos de serviços ambientais............................................................... 26
2.4.2 Pagamento por serviços ambientais..................................................... 27
2.4.3 Serviços ambientais na Floresta Ombrófila Densa............................. 29
2.4.4 Serviços ambientais no Manguezal..................................................... 31
2.5 Proteção jurídica............................................................................................ 33
3 ASPECTOS URBANÍSTICOS................................................................................ 39
3.1 Resgate do histórico local.............................................................................. 39
3.2 Aspectos estruturais e urbanos atuais.......................................................... 46
3.3 Plano Diretor na área de estudo................................................................... 51
3.4 Comparação do Plano Diretor com alguns pontos da área de estudo...... 55
4 INFRAESTRUTURA SANITÁRIA ....................................................................... 66
4.1 Esgotamento sanitário, resíduos sólidos e drenagem urbana.................... 66
4.2 Abastecimento de água.................................................................................. 68
5 INVESTIGAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA................................................. 71
5.1 Proteção legal dos recursos hídricos............................................................ 74
5.2 Avaliação da qualidade da água................................................................... 76
5.3 Metodologia.................................................................................................... 77
5.3.1 Plano de Amostragem......................................................................... 78
5.3.2 Coleta das amostras............................................................................. 79
5.3.3 Método de Tubos Múltiplos................................................................ 80
5.3.4 Método Colilert®................................................................................ 84
5.3.5 Teste agudo de toxicidade.................................................................. 86
5.4 Análise dos resultados................................................................................... 88
6 EDUCAÇÃO AMBIENTAL................................................................................... 91
6.1 Perspectiva de Educação Ambiental........................................................... 91
6.2 Percepção Ambiental.................................................................................... 92
6.3 Metodologia da pesquisa.............................................................................. 94
6.4 Análise das entrevistas.................................................................................. 99
6.5 Proposta de ação............................................................................................ 105
7 DISCUSSÃO.............................................................................................................. 107
8 RECOMENDAÇÕES............................................................................................... 110
ANEXOS....................................................................................................................... 115
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 145
1
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho, fruto de ações coletivas realizadas pelos alunos do 3º módulo
do Curso Técnico de Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
de Santa Catarina – campus Florianópolis, tem como objetivo relatar as atividades
desenvolvidas durante o Projeto Integrador - doravante, também denominado PI - realizado
após a integralização das competências previstas nas respectivas Unidades Curriculares do
curso supracitado.
De acordo com o vigente Plano de Desenvolvimento Institucional do IFSC
(2011), a prática profissional nos diversos cursos da Instituição deve ser um dos elementos
fundamentais do currículo. Para tal, devem estar incluídas nas Unidades Curriculares, tanto na
forma de atividades em laboratório, como na forma de Projetos Integradores.
Sendo assim, os Projetos Integradores caracterizam-se como um exercício de
pesquisa e desenvolvimento da prática profissional dos alunos. O PI é o espaço vivo do
currículo que permite não só a experiência direta, mas, sobretudo, o exercício necessário para
interpretar, questionar e (re)elaborar os conceitos, relacionando-os ao contexto real em sua
complexidade (PDI, 2011).
Neste contexto, os PIs desenvolvidos na área técnica voltada ao Meio Ambiente
consistem na realização de pesquisas orientadas ou projetos de extensão, que tenham como
finalidade buscar soluções aos problemas socioambientais nos tempos hodierrnos. Como
forma de integralizar as competências técnicas e profissionais desenvolvidas durante o curso,
o Projeto Integrador da referida turma teve como objetivo principal a realização de um
diagnóstico técnico socioambiental em uma determinada região do município de
Florianópolis – Santa Catarina.
A área de estudo escolhida para o desenvolvimento do PI localiza-se no entorno
do denominado Trevo da Seta, na porção centro-oeste da Ilha de Santa Catarina, região sul do
Brasil (Figura 1), abrange ruas pertencentes a dois bairros: o Rio Tavares e a Costeira, ambos
compreendidos na Bacia Hidrográfica do Rio Tavares.
2
Figura 1 – Localização da Área de Estudo.
Fonte: FLORIANÓPOLIS, 2004.
Segundo o IBGE (2010) a população da cidade de Florianópolis é de 421.240
habitantes, com uma área territorial de 675,409 km2
e densidade demográfica de 627,24
hab/km2. Os bairros do Rio Tavares e Costeira do Pirajubaé têm respectivamente 1.082 e
9.301 habitantes.
Esta área está compreendida entre duas Unidades de Conservação (UC), o Parque
Munici pal do Maciço da Costeira (PMMC) e a Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé. O
PMMC é a segunda maior Unidade de Conservação de Florianópolis, com área de 1453,3 ha,
criado com o objetivo de proteger um grande manancial hídrico e um importante
remanescente florestal (BARBOSA-NETO, 2012). A Reserva Extrativista, criada por decreto
em 1992, tem o objetivo de preservar a tradição cultural da pesca artesanal, apresentando uma
extensão de aproximadamente 1444 ha, sendo que 740 ha são de manguezais do Rio Tavares
(IBAMA, s.d).
Por ser o acesso principal entre a região central e o sul da ilha, juntamente com o
único acesso ao Aeroporto Internacional de Florianópolis, apresenta intenso tráfego de
veículos, trazendo problemas de mobilidade urbana local, devido à carência de infraestruturas
mínimas que atendam as demandas desta área.
A explosão demográfica e a expansão urbana tiveram impactos severos ao
ambiente do entorno da região. O surgimento de novas rodovias como a SC 405 e a Avenida
Deputado Diomício Freitas, aumentou ainda mais o processo de favelização que já estava em
curso desde os primórdios da ocupação. As comunidades avançam cada vez mais em direção
às encostas, orientadas apenas pelas condições naturais, que não são adequadas, pois ocorrem
justo em áreas de grande declividade e de risco ambiental (BARBOSA-NETO, 2012).
O espaço estudado foi delimitado pelos professores orientadores do PI, após uma
fundamentada avaliação dos aspectos sociais e ambientais existentes na região, os quais
demonstraram-se potencialmente problemáticos e conflituosos. Tais problemas abrangem
3
pontos como: ocupações imobiliárias, mobilidade urbana, resíduos sólidos e intenso
tráfego de automóveis.
Desta forma, considerando-se as características do local e a fim de diagnosticar
tecnicamente os problemas socioambientais, bem como levantar possíveis soluções, foram
trabalhados cinco grandes eixos temáticos na área de estudo escolhida, sendo eles:
Aspectos ambientais;
Aspectos urbanísticos;
Infraestrutura sanitária;
Investigação da qualidade da água;
Educação ambiental.
Os aspectos ambientais foram pesquisados com a finalidade de se compreender as
dinâmicas físico-naturais da região, através da abordagem de pontos como geologia,
caracterização da malha hidrográfica e dos ecossistemas locais.
Os aspectos urbanísticos contextualizaram questões relacionadas ao histórico
local, à infraestrutura atual na região e à aplicabilidade do Plano Diretor na área.
A infraestrutura sanitária teve como foco questões relacionadas ao abastecimento
de água na área de estudo, abordando também os aspectos de esgotamento sanitário, resíduos
sólidos e drenagem urbana.
A investigação da qualidade da água foi realizada com a finalidade de averiguar a
contaminação dos recursos hídricos por efluentes carreados com coliformes termotolerantes
e/ou com substâncias tóxicas.
E por fim, a educação ambiental foi trabalhada com foco na percepção ambiental
que os indivíduos têm do local em que vivem – perpassando os demais eixos citados
anteriormente, por ser vista como uma ferramenta fundamental para a proposição de ações
educativas sociais e ambientais na região.
Ressalta-se, desta maneira, que o presente projeto teve a função essencial de
iniciar um trabalho socioambiental na referida área de estudo, a fim de que os dados e
informações levantadas sejam usados como base para o desenvolvimento de futuros PIs,
realizados pelos próximos e sucessivos formandos do Curso Técnico de Meio Ambiente,
neste mesmo local.
Tal estratégia baseia-se na importância da manutenção de trabalhos futuros que
também tenham como intuito trabalhar a conscientização e o empoderamento comunitário.
Esse caráter de continuidade visa favorecer a leitura crítica da realidade pelos diretamente
4
envolvidos com os problemas presentes na região, estes, agentes ativos na busca de potenciais
melhorias sociais e ambientais no local.
5
2 ASPECTOS AMBIENTAIS
O embasamento físico-natural da área estudada também é de grande relevância
para a compreensão das dinâmicas e dos conflitos socioambientais existentes na região. Desta
forma, aspectos relativos à caracterização da malha hidrográfica e dos ecossistemas locais
serão aqui abordados, com base em pesquisas bibliográficas e observações em campo.
A área em estudo situa-se em uma região com recursos hídricos, apresentando
características geológicas bem determinadas e um bioma bem definido, a Mata Atlântica,
compreendendo dois ecossistemas típicos: a Floresta Ombrófila Densa e os Manguezais.
2.1 Caracterização da rede hidrográfica
Uma bacia hidrográfica é um sistema que integra as conformações de relevo e
drenagem. A parcela da chuva que se abate sobre a área da bacia e que irá transformar-se em
escoamento superficial, chamada precipitação efetiva, escoa a partir das maiores elevações do
terreno, formando enxurradas em direção aos vales. Esses, por sua vez, concentram esse
escoamento em córregos, riachos e ribeirões, os quais confluem e formam o rio principal da
bacia. O volume de água que passa pelo exutório na unidade de tempo é a vazão ou descarga
da bacia (ROMERA E SILVA, 2003).
Os cursos d’água existentes na área de estudo (Figura 3b) integram a bacia
hidrográfica do Rio Tavares. Os rios são de pequeno a médio porte, cujos principais
tributários nascem nas elevações rochosas, com cotas de aproximadamente 700m, conforme é
demonstrado no mapa de hipsometria (Figura 2). Esses percorrem áreas da planície costeira e
deságuam na Baía Sul, após atravessarem grande extensão do Manguezal. Além disso, a
inclinação acentuada entre a planície e a encosta na área de estudo faz com que se formem
vertentes como córregos e quedas d’água, gerando, portanto, cursos d’água dependentes do
regime pluviométrico (ARAUJO, 1993).
6
Figura 2- Mapa de Hipsometria.
Fonte: Geoprocessamento Corporativo da Prefeitura municipal de Florianópolis
A bacia hidrográfica do Rio Tavares é a segunda maior bacia da Ilha em extensão,
com aproximadamente 7 km. É formada principalmente pelo Rio Tavares e pelo Rio Riberão
da Fazenda, localizando-se na porção centro-oeste da Ilha (Figura 3a), entre as coordenas
geográficas 27°31‟34” e 27°43‟05” de latitude Sul e entre as coordenadas 48°20‟30” e
48°30‟23” de longitude Oeste de Greenwich, possuindo uma área total de 48,36 km²
(CARUSO, 1983).
7
(a)
(b)
Figura 3 - (a) Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Tavares. Fonte: PEGAS & TIRLONI
(2009) e (b) área de estudo com os cursos de água presentes. Fonte: Google Earth
Não houve uma delimitação de uma sub-bacia hidrográfica da área de interesse,
porém, com base em imagens de satélites pode-se obter os dados físicos de um afluente do Rio
Tavares que está inserido na área, o qual atravessa boa parte da área de estudo, sendo de
grande relevância, pois serviu de referência na coleta de amostras para avaliação da qualidade
da água na área objeto de estudo (Figura 4).
8
Figura 4 - Afluente do Rio Tavares onde obteve-se dados físicos.
Fonte: Google Earth.
Este rio tem uma extensão de aproximadamente 600 metros e pode ser classificado
como de ordem 3, em função da sua ramificação. O perfil de elevação do mesmo foi
construído através do Google (Figura 5), podendo-se observar que o rio tem dois trechos
típicos: o primeiro mais íngreme, indo da cota 64m à cota 14m, com um percurso total de
125m e declividade média de 0,4 m/m; o segundo mais plano, indo da cota 14 m à cota 2 m,
percorrendo uma distância de 454m e com declividade média de 0,02 m/m.
Figura 5 - Perfil de elevação Do afluente do Rio Tavares.
Fonte: Google Earth.
9
2.2 Geologia
Sob o ponto de vista geológico-geomorfológico, a região de estudo constitui-se por
dois domínios morfoestruturais: o embasamento cristalino, caracterizado por ser mais antigo,
constituindo a elevação do morro e do maciço e; a planície costeira, mais recente, sendo
representada pelos sedimentos de origem continental, transicional e marinho (CARUSO JR,
1993 citado por HORN, 2006), conforme apresentado na figura abaixo. O limite de transição
entre os distintos domínios geológicos demarcado na figura foi realizado de modo didático na
área de estudo, sem poder afirmar com exatidão o ponto exato de transição entre ambos.
(a)
(b)
Figura 6 – (a) Mapa geológico da Ilha de Santa Catarina. Fonte: Horn Filho et. al., 2005 e (b) Demarcação
estimada dos Domínios geológicos na área de estudo (amarelo- planície costeira, vermelho- embasamento
cristalino e azul - delimitação da área de estudo). Fonte: Geoprocessamento Corporativo da Prefeitura municipal
de Florianópolis.
10
2.2.1 Embasamento cristalino
O embasamento cristalino, denominado por serra litorânea na Ilha de Santa
Catarina, possui morfologia típica de maciços rochosos. Essas serras apresentam aspecto de
cristas, devido ao acentuado declive das encostas (superior a 45° de inclinação), que são
sutilmente drenadas através de vales pouco profundos em forma de “V” (CECCA, 1997).
Segundo Horn (2006), os maciços do embasamento cristalino são constituídos
principalmente por rochas de granito, riolito e diabásio (Figura 7). Essas rochas são mais
antigas, datadas do Pré-Cambriano (FLORIANÓPOLIS, 2004 citado por FLORIANÓPOLIS,
2009).
Os terrenos cristalinos formam uma dorsal central orientada de NNE e SSW ao
longo de toda e extensão da Ilha (FLORIANÓPOLIS, 2009) e o maciço rochoso do Morro da
Costeira, parte da área de estudo, pertence a esta dorsal.
A presença dos morros serve como anteparo para o depósito de material
sedimentar, comumente retrabalhado e muitas vezes derivado dos próprios morros ou de
ambientes transicionais e marinhos (FLORIANÓPOLIS, 2009).
Figura 7 - Rochas do embasamento cristalino na área de estudo.
Fonte: Arquivo próprio.
11
2.2.2 Planícies costeiras
As planícies costeiras constituem uma extensão de áreas baixas e planas com
cobertura sedimentar, formadas pela deposição de origem continental, transicional e marinha.
São formações mais recentes, datas do período Quaternário da Era Cenozóica, sendo que sua
geração está intrinsecamente relacionada à sedimentação, devido às variações do nível do mar
durante o Quaternário, resultantes da alteração do volume do mar nos períodos de glaciação e
interglaciação (CECCA, 1997). Os terrenos sedimentares nas partes baixas formam a planície
costeira com depósitos aluviais, dunas, restingas e manguezais (FLORIANÓPOLIS, 2009).
Segundo Cecca (1997), de acordo com o nível energético o qual o ambiente está
sujeito, pode-se distinguir três ambientes de planícies costeiras na Ilha de Santa Catarina: o
setor leste, submetido à atuação das ondas e ventos de alta energia; o setor oeste, onde águas
são protegidas pelas baías; e o litoral norte, de nível energético intermediário.
A região de estudo localiza-se no setor oeste, compreendendo as águas protegidas
pela baía sul, as quais apresentam baixa energia, e, por estarem associadas a pequenas
profundidades e à deposição de sedimento fluvial, ocasionam a formação de manguezais,
conforme observado na área de estudo.
2.3 Mata Atlântica e seus ecossistemas
O Bioma de Mata Atlântica é um dentre os biomas brasileiros, o qual estende-se
do nordeste ao sul do país, ocupando originalmente toda a costa litorânea brasileira e
penetrando no continente, sendo uma área de transição entre o litoral e outros biomas do país.
Recebe tal nome devido ao fato de ser uma vegetação litorânea banhada pelo Oceano
Atlântico, sendo altamente influenciada por seus elementos climáticos. Trata-se de um Hotspot
mundial, ou seja, uma das áreas mais ricas em biodiversidade e também mais ameaçadas do
planeta (ONG SOS MATA ATLÂNTICA, 2013).
A mata atlântica destaca-se entre os ecossistemas brasileiros por apresentar os
maiores índices de diversidade já encontrados em florestas tropicais e um alto nível de
endemismo (GIULIETTI & FORERO, 1990; McNEELY et. al., 1990 citado por PEREIRA
& ALVES, 2007). Existe neste ambiente, vários casos de endemismo de vertebrados,
contudo, sua fauna de insetos ainda é pouco conhecida, sendo comum o relato do encontro de
novas espécies neste ambiente (MOURE, 1995; AMARANTE et. al., 1999 citado por
PERUQUETTI et. al., 1999).
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2013), atualmente os remanescentes de
vegetação nativa de mata atlântica estão reduzidos a cerca de 22% de sua cobertura original e
12
encontram-se em diferentes estágios de regeneração. Apenas cerca de 7% estão bem
conservados em fragmentos acima de 100 hectares (Figura 8). Este histórico de degradação é
datado desde tempos remotos, com a chegada de europeus ao Brasil, tendo início com a
extração do Pau Brasil (Caesalpinia sp). A exploração madeireira, mineração, agricultura e
pecuária, sempre foram os fatores contribuintes para redução da área de cobertura original da
mata atlântica. Hoje a maior ameaça é a pressão dos centros urbanos, devido à fixação do
homem na zona costeira ser cada vez maior, resultando na fragmentação crescente da
vegetação.
O desmatamento entre os anos de 2011 e 2012, segundo o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) (2013), foi de 219 km² de vegetação de floresta, 15 km² de
vegetação de restinga, e 0,17 km² de manguezais. Além de ser uma das regiões mais ricas do
mundo em biodiversidade, a mata atlântica tem importância vital para aproximadamente 120
milhões de brasileiros que vivem em seu domínio, onde são gerados aproximadamente 70%
do PIB brasileiro, prestando importantes serviços ambientais.
Figura 8 – Mapa de domínio do Bioma Mata Atlântica e seus remanescentes vegetais.
Fonte: Google imagens.
Ao se tratar da situação na região sul do Brasil, os desflorestamentos para retirada
de madeira, abertura de áreas para agropecuária, a exploração de minérios, a ocupação das
13
áreas litorâneas para implantação de balneários e o crescimento muito rápido dos centros
urbanos, foram os principais fatores que reduziram para cerca de 17% a cobertura florestal
original do Estado de Santa Catarina (FATMA, 2013). Apesar desse histórico de degradação
do Bioma no Estado, de acordo com os Índices de Desenvolvimento Sustentável 2012 do
IBGE, foi a União Federativa que mais preservou a área de vegetação da mata atlântica, tendo
uma proporção de área desmatada de aproximadamente 77% (Figura 9).
Figura 9 – Proporção da área desmatada, até 2010, da Mata Atlântica, segundo as Unidades da Federação
abrangidas no inventário.
Fonte: IBGE, 2012.
De acordo informações do Programa de Proteção a Mata Atlântica, citado por
Diário Catarinense (2012), florestas em estágio médio, avançado e primário ocupam 41,5% de
Santa Catarina, o que corresponde a cerca de 40 mil km² (Figura 10).
14
Figura 10 - Usos da vegetação no Estado de Santa Catarina
Fonte: Diário Catarinense (2012).
A capital catarinense, Florianópolis, tem uma área total de 67.541 ha. De acordo com
a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, toda vegetação
do município pode ser protegida pela Lei da Mata Atlântica – Lei n. 11.428/2006. A área de
mata atlântica registrada no município no ano de 2011 foi e 13.337 ha, e, juntamente com os
manguezais e restingas, a porcentagem de remanescentes florestais em Florianópolis é de
25,3%.
A temperatura, a frequência das chuvas, a altitude, a proximidade do oceano e a
composição do solo determinam as variações de vegetação que definem os diferentes
ecossistemas que constituem a mata atlântica. Esses ecossistemas recebem denominações
como: Floresta Ombrófila Densa, Floresta de Araucária ou Ombrófila Mista, Campos de
Altitude, Restingas e Manguezais (UFV, 2012). Na região de estudo ocorrem dois desses
ecossistemas: Floresta Ombrófila Densa e Manguezal, que podem ser visualizados na Figura
11.
15
Figura 11 – Representação dos ecossistemas da mata atlântica presentes na área de estudo.
Fonte: Geoprocessamento Corporativo da Prefeitura municipal de Florianópolis.
2.3.1 Floresta Ombrófila Densa
Floresta grandiosa e heterogênea, de solo bem drenado e com grande fertilidade, é
caracterizada por apresentar árvores de folhas largas, sempre-verdes, de longa duração e
mecanismos adaptados para resistir tanto a períodos de calor extremo quanto de muita
umidade. Sua vegetação apresenta altura média de 15 metros, mas as grandes árvores chegam
a atingir até 40 metros. Diversas espécies de invertebrados, anfíbios, répteis, aves e mamíferos
são encontrados neste ecossistema (INSTITUTO RÃ-BUGIO, 2006).
As florestas ombrófilas densas caracterizam-se por fanerófitos, lianas lenhosas e
epífetas em abundância. A característica ombrotérmica dessa vegetação está presa a fatores
climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25°C), e de altas precipitações, bem
distribuída durante o ano, cujo período seco varia de 0 a 60 dias, o que determina uma
situação bioecológica praticamente sem período biologicamente seco.
Ainda segundo Veloso et. al. (1991) esse tipo vegetacional foi subdividido em
cinco formações, ordenadas segundo a hierarquia topográfica que refletem fisionomias
diferentes de acordo com as variações ecotípicas das faixas altimétricas, são elas: formação
aluvial; formação das terras baixas; formação submontana; formação montana e; formação
alto-montana.
No que diz respeito à topografia da área estudada, com limite superior de 200 m
(PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORIANÓPOLIS - GEOPROCESSAMENTO
16
COORPORATIVO, 2009), a região se enquadra em três das cinco formações citadas
anteriormente:
Formação aluvial: não varia topograficamente e apresenta sempre os
ambientes repetitivos, dentro dos terraços aluviais dos flúvios.
Formação das terras baixas: de 0 a 40 metros.
Formação submontana: situada nas encostas dos planaltos e/ou serras
de 40 a 500 metros.
Conforme o Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico de
Florianópolis/SC – Diagnóstico da caracterização física (FLORIANÓPOLIS, 2009), no
município, a floresta ombrófila densa estende-se em dois ambientes: planície quaternária
litorânea e as encostas dos morros pré-cambrianos (embasamento cristalino).
A floresta de planície quaternária possui solo de baixa fertilidade com matas de no
máximo 15 metros; diversos tipos de bromeliáceas compõem a paisagem. Trata-se de uma
floresta quase extinta na Ilha devido à crescente ocupação das áreas de planície, restando
poucas áreas com aparecimento de pequenas porções isoladas ou com profundas modificações
humanas, estando restrito às unidades de conservação e/ou áreas de difícil acesso (CARUZO,
1983 citado por FLORIANÓPOLIS, 2004).
Já a floresta das encostas dos morros pré-cambrianos é a legitima floresta
atlântica, que dá nome ao bioma, com árvores atingindo mais de 30 metros de altura e muitas
epífitas das famílias das Bromeliáceas (Figura 12), Orquidáceas, Aráceas, Piperáceas,
samambaias e lianas (cipós) das famílias das Bignoniáceas e Sapindáceas (KLEIN; 1978,
citado por FLORIANÓPOLIS, 2004).
Figura 12 – Epífita da família Bromeliácea.
Fonte: Arquivo próprio.
17
Com base no Plano de Municipal Integrado de Saneamento Básico de
Florianópolis/SC (FLORIANÓPOLIS, 2009), no que diz respeito à vegetação secundária, a
área de estudo apresenta características de capoeirinha (estágio inicial de regeneração),
capoeira (estágio médio de regeneração) e capoeirão (estágio avançado de regeneração).
A capoeirinha, ou estágio inicial de regeneração, pode durar de 6 até 10 anos em
função do grau de degradação do solo ou da escassez de sementes. Nas capoeirinhas
geralmente existem grandes quantidades de capins e samambaias de chão. Predominam
também grandes quantidades de exemplares de árvores pioneiras de poucas espécies. A altura
média das árvores em geral não passa dos 4 metros e o diâmetro de 8 centímetros
(FLORIANÓPOLIS, 2009). Embaúbas (Cecropia spp) e Heliconia farinosa (Figura 13) são
exemplos de espécies que ocorrem na área de estudo.
Figura 13 – Heliconia farinosa
Fonte: Arquivo próprio.
A capoeira, ou estágio médio de regeneração, surge depois dos 6 anos de idade,
durando até os 15 anos. Neste estágio as árvores atingem altura média de 12 metros e
diâmetro de 15 centímetros. Nas capoeiras a diversidade biológica aumenta, mas ainda há
predominância de espécies de árvores pioneiras como as capororocas, ingás e aroeiras. A
presença de capins e samambaias diminui, mas em muitos casos resta grande presença de
cipós e taquaras (FLORIANÓPOLIS, 2009). O guarapuvu (Schizolobium parahiba) (Figura
14), por exemplo, é uma espécie que ocorre na região estudada.
18
Figura 14 – Guarapuvu.
Fonte: Arquivo próprio.
No estágio avançado de regeneração, o capoeirão, se inicia geralmente depois dos
15 anos de regeneração natural da vegetação, podendo levar de 60 a 200 anos para alcançar
novamente o estágio semelhante à floresta primária. A diversidade biológica aumenta
gradualmente à medida que o tempo passa e que existam remanescentes primários para
fornecer sementes. A altura média das árvores é superior a 12 metros e o diâmetro médio é
superior a 14 centímetros. Neste estágio, os capins e samambaias de chão não são mais
característicos. Começam a emergir espécies de árvores nobres como as canelas, cedros,
sapucaias e imbuias. Os cipós e taquaras passam a crescer com as árvores assim como as
palmeiras (FLORIANÓPOLIS, 2009). Algumas das espécies que ocorrem no estágio
avançado dentro da área de estudo são: figueira (Ficus spp.) e o palmito (Euterpe edulis)
(Figura 15).
19
Figura 15 - Palmito (Euterpe edulis).
Fonte: Arquivo próprio.
Em relação à fauna da área de estudo, devido aos desmatamentos, à caça e ao
confinamento do território, os animais maiores foram os primeiros prejudicados. Desta forma,
os remanescentes animais são menor porte como pequenos mamíferos, répteis, anfíbios e uma
infinidade de insetos. Entre os mamíferos nativos, encontra-se a irara, o mão pelada
(guaxinim), o cachorro do mato (graxaim), o tamanduá mirim, o tatu, a paca, a cotia, o coati e
pequenos ratos silvestres. Os répteis são representados pelos lagartos teiú e outros menores
(Figura 16); cobras como a coral, a jararaca, a jararacuçu, a rateira (caninana) e outras
menores, como a cipó, a verde e a d'água (BARBOSA NETO, 2012). A avifauna é outro
destaque, onde dezenas de pequenas espécies de pássaros frutíferos e outros tantos residentes
como as aracuãs, gralhas azuis, tucanos (Figura 17) e curiangos, convivem com aves de
rapina, como gaviões e corujas, algumas delas migratórias, como no caso do falcão peregrino.
Aves costeiras também sobrevoam frequentemente áreas do Maciço da Costeira, cruzando-o.
Figura 16 – Lagarto não identificado. Figura 17 – Tucano.
Fonte: CID NETO, 2010 citado por BARBOSA NETO, 2012. Fonte: Google imagem.
20
2.3.2 Manguezais
Os manguezais são ecossistemas costeiros característicos das regiões tropicais e
subtropicais do planeta (Figura 18). Ocorrem em regiões abrigadas, como baías, lagoas e
estuários, sendo sua localização restrita às faixas entre marés, sofrendo, portanto, influência
direta do seu regime. De águas salobras, caracterizam-se como ambientes de transição entre
os meios aquáticos e terrestres (Schaeffer-Novelli, 1995).
Figura 18- Mapa apresentando a distribuição geográfica dos manguezais no mundo.
Fonte: http://formulageo.blogspot.com.br
Este ecossistema caracteriza-se como vegetação com influência fluviomarinha
dentre áreas de formação pioneira, e consiste na associação de árvores halófitas, arbustos e
outras plantas. De acordo com Mitsch & Gosselink (1986), os manguezais se desenvolvem
sobre condições físico-químicas extremas, tais como anoxia sub-superficial, salinidade
ocasionada pela intrusão das marés e substrato inconsolidado. Segundo os mesmos autores,
para se estabelecerem, as espécies apresentam mecanismos e estruturas especiais destinadas a
amenizar as condições estressantes, o que as capacita a ocupar áreas distintas, onde é inviável
a ocupação pela maior parte das espécies vegetais.
Dentre estes mecanismos, Tomlinsom (1994) destaca os pneumatóforos (Figura
19) e raízes escoras (Figura 20), que apresentam-se como adaptações morfológicas destinadas
à oxigenação do tecido radicular, uma vez que tais estruturas possuem lenticelas, pequenos
poros de captação de gases para o transporte de oxigênio até o sistema radicular das plantas,
facilitando
21
assim as condições para a respiração celular e consequentemente, para a absorção dos
nutrientes.
Figura 19 – Estruturas adaptadas para oxigenação do sistema radicular (pneumatóforos). Manguezal do Rio
Tavares.
Fonte: Arquivo próprio.
Figura 20 – Espécie vegetal do mangue apresentando raízes escoras. Manguezal do Rio Tavares.
Fonte: Arquivo próprio.
Os manguezais possuem alta produtividade, mantida principalmente pela chegada
de nutrientes junto ao fluxo de água doce, sendo o material orgânico produzido,
subsequentemente redistribuído para as águas costeiras, na forma particulada e dissolvida, por
ação das marés. Estima-se que em média cerca de 10 à 14 toneladas de matéria orgânica
sejam produzidas em uma área de 1 hectare, no período de um ano, e que pelo menos 10%
dessa produção seja transformada em biomassa de peixe e de outros animais (Bodero, 1993).
22
Devido à uma dinâmica peculiar, este ecossistema apresenta uma grande
variedade de nichos ecológicos, nos quais a fauna é representada principalmente pelo Filo
Mollusca (mariscos, caramujos e broca-de-madeira), o Filo Crustacea (caranguejos,
camarões e siris), a Superclasse Pisces (peixes) e a Classe Aves (aves residentes e
migratórias).
Na costa brasileira os manguezais ocorrem desde a foz do Rio Oiapoque (Amapá-
04°30‟N), até o Estado de Santa Catarina, tendo como limite sul a cidade de Laguna
(28º30‟S). A flora do manguezal brasileiro é representada principalmente por três gêneros, os
quais distribuem-se por todo o território onde há o ecossistema: Avicennia (mangue siriba ou
preto), Laguncularia (mangue branco) e Rhizophora (mangue sapateiro ou vermelho)
(ANEXO A).
O manguezal é tido como um dos ecossistemas mais emblemáticos na zona
costeira. O seu papel de proteger a costa, de conter sedimentos oriundos das bacias
hidrográficas e de ser habitat de inúmeras espécies biológicas, o caracteriza como um
verdadeiro berçário do mar. Porém, apesar de sua importância, suas áreas tem sido
historicamente degradadas, principalmente devido à intensa ocupação urbana presente nas
zonas costeiras, considerando-se que, atualmente, cerca de 60% da população humana do
mundo vive a uma distância de 60 km a partir da linha de costa (THE WORLD BANK,
1996).
Confirmando a tendência de uma maior densidade populacional na zona costeira,
o estado de Santa Catarina apresenta 32,5% de sua população residente nos municípios
costeiros, os quais representam apenas 9,7% da área do estado (OLIVEIRA, 2001).
O Manguezal do Rio Tavares, presente na área de estudo, está localizado na
porção sudoeste da Ilha de Santa Catarina, mais especificamente na Baía Sul, sendo parte do
município de Florianópolis – SC, estando entre as coordenadas geográficas 27º 38` 40``e 27º
40` 06`` de Latitude Sul e 48º 30` 17`` e 48º 33` 39`` de Longitude Oeste e fazendo divisa
com os bairros Costeira do Pirajubaé, Carianos, Tapera, Rio Tavares e Campeche, com cerca
de 740 hectares de área (OLIVEIRA, 2001).
Segundo Souza et. al. (1969), no manguezal do Rio Tavares a Siriúba (Avicennia
schaueriana) apresenta melhores adaptações para o seu estabelecimento, ocupando espaços
desde a baixa-mar até onde alcançam as águas da preamar. Os autores verificam que junto às
barras dos cursos d‟agua nas baías, a vegetação apresenta seu maior desenvolvimento,
diminuindo o porte das árvores à medida que diminui a salinidade e aumenta a correnteza,
23
havendo, nesta situação, o predomínio da Laguncularia, provavelmente devido à capacidade
de fixação ao substrato, com raízes mais profundas e mais resistentes.
As marismas ocupam áreas na parte frontal do manguezal e uma pequena região
na parte de maior deposição sedimentar no canal do Rio Tavares, constituindo-se em
agrupamentos monoespecíficos de Spartina alterniflora. As marismas são ecossistemas
dominados por plantas herbáceas anuais e perenes, que se estendem na faixa maré, em regiões
costeiras protegidas possuidoras de baixa a moderada hidrodinâmica. Esses complexos
vegetacionais são altamente produtivos, de inegável importância para o ambiente costeiro,
pois parte de sua produção primária será exportada para diferentes compartimentos do
ecossistema costeiro adjacente, fluindo em forma de energia química através da cadeia trófica
(ADAM, 1993). Nos terrenos mais altos, menos sujeitos à ação das marés, são encontradas
uma série de espécies arbustivas e herbáceas características de ambientes de transição.
O manguezal do Rio Tavares é atualmente o maior manguezal da ilha, e teve sua
área reduzida principalmente com a implantação da Base Aérea de Florianópolis e do
Aeroporto Hercílio Luz, por meio de aterros e drenagens artificiais. A rodovia que atravessa o
manguezal no sentido norte-sul forma um dique de represamento das águas da maré, que por
causa disso, tem como único acesso o canal principal. O bairro de Carianos é uma das áreas
que foram aterradas e na porção leste e sul este manguezal perdeu área pelos desmatamentos e
drenagens para ceder lugar às pastagens.
Atualmente, o problema das ocupações urbanas clandestinas às margens do
manguezal se intensificou devido ao aumento populacional e expansão urbana na cidade,
aumentando o aterramento de áreas deste ecossistema para construção de moradias e
estabelecimentos comerciais, que acabam despejando esgotos sanitários no manguezal. Esta
realidade foi constatada através das visitas de campo ao local, onde foi observado e registrou-
se fotograficamente a intensa ocupação antrópica sobre o manguezal (Figuras 21 e 22), além
de terem sidos detectados prováveis focos de poluição e contaminação provenientes das
construções ali estabelecidas (Figuras 23 e 24).
24
Figura 21 – Construções às margens a área do Rio Tavares, onde o manguezal foi provavelmente suprimido.
Fonte: Arquivo próprio.
Figura 22 - Construção presente dentro do Manguezal do Rio Tavares.
Fonte: Arquivo próprio.
Figura 23 – Resíduos sólidos depositados no Manguezal do Rio Tavares.
Fonte: Arquivo próprio.
25
Figura 24 - Queima de resíduos sólidos e tubulação que provavelmente lança esgoto doméstico dentro do
manguezal.
Fonte: Arquivo próprio.
2.4 Serviços ambientais
Os serviços ambientais são aquele que abrangem o conjunto de processos naturais
dos ecossistemas, os quais são capazes de assegurar a ocorrência da vida no planeta, bem
como as condições para as atividades produtivas. Neste sentido, o trabalho é realizado pelos
ecossistemas, mas a atuação do ser humano para mantê-los ou restaurá-los é considerada parte
da tarefa (SENADO, 2013). Desta forma, os serviços ambientais consistem na integração
entre os serviços proporcionados ao ser humano pelos ecossistemas naturais, assim como
pelos providos por ecossistemas manejados pelo homem.
Destaca-se que os ecossistemas são constituídos por processos naturais complexos
entre todos os organismos neles inseridos, sejam bióticos ou abióticos, sendo de extrema
importância para a vida humana, pois exercem diversas funções, como: purificação das águas
e do ar, mitigação de fenômenos climáticos, decomposição de resíduos, geração de solos
férteis, controle de processos erosivos, dispersão de sementes através da polinização
promovendo a reprodução da vegetação, e, entre tantos outros serviços ambientais, auxiliam
também no processo do sequestro de carbono por meio da vegetação. Sendo assim, os
processos ecossistêmicos naturais promovem a sobrevivência de todos os seres, assim como
são responsáveis pelo fornecimento de bens e serviços relevantes para o ser humano, de forma
direta ou indireta.
Segundo Seehusen et. al, (2011), os serviços ambientais podem ser definidos após
a identificação de suas funções e contribuições para a sociedade (Figura 25). A existência
26
desses serviços depende diretamente da conservação e da preservação ambiental, bem como
de práticas que minimizem os impactos das ações humanas sobre o ambiente (ISA, 2009).
Figura 25 - Funções dos Ecossistemas e Serviços Relacionados.
Fonte: MMA, 2011.
2.4.1 Tipos de Serviços Ambientais
A Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM) é um programa de trabalho
internacional desenvolvido para atender as necessidades de informações científicas dos
tomadores de decisões e do público sobre os impactos que as mudanças nos ecossistemas
causam ao bem-estar humano e as opções de respostas a essas mudanças.
O AEM divide os serviços ambientais em quatro categorias, as quais facilitam as
análises dos contextos, assim como as características dos serviços e suas respectivas
transações – desde o surgimento de um mercado para serviços ambientais até a participação
de governos e organizações não governamentais.
Serviços de Provisão: relacionam a capacidade dos ecossistemas de prover bens
como água, frutas, raízes, castanhas e fitofármacos (conhecidos popularmente como plantas
medicinais), pescados, mel, madeiras, fibras e matéria prima para geração de energia, como
lenha, carvão e óleos.
Serviços Reguladores: são benefícios obtidos a partir de processos naturais que
regulam as condições ambientais. Estão relacionados à capacidade das florestas em absorver
carbono através da fotossíntese do CO2 atmosférico, ao controle de enchentes e erosão, à
purificação e regulação dos ciclos das águas e ao controle de pragas e doenças.
Serviços Culturais: são benefícios recreativos, educacionais, estéticos e
espirituais que os ecossistemas propiciam aos seres humanos. Quando um cidadão busca
descanso e lazer nas praias, no campo e nas demais paisagens naturais, por exemplo, está
obtendo um serviço ambiental cultural da natureza.
27
Serviços de Suporte: são aqueles que contribuem para outros serviços, como a
formação de solos, ciclagem de nutrientes e a polinização e dispersão das sementes.
2.4.2 Pagamento por Serviços Ambientais (PSA)
A preservação dos ecossistemas juntamente aos serviços ambientais por eles
prestados não causa atração econômica num primeiro olhar. Porém, levando em conta os
custos usados na recuperação de áreas degradadas, perdas por incêndios florestais e
despoluição de rios, fica claro que o investimento na manutenção de serviços ambientais
prestados pela natureza é compensatório.
Transações relacionadas aos serviços ambientais necessitam do surgimento de
compradores e vendedores que se identifiquem e que estejam dispostos a estabelecer a relação
de fornecimento e pagamento. Entende-se como pagamento por serviços ambientais
(florestais) a remuneração, em espécie monetária ou por outros meios, para agentes
determinados – responsáveis pela conservação ou reflorestamento de áreas específicas – a fim
de propiciar à natureza a prestação de um determinado serviço ambiental (NUSDEO, 2012).
O PSA é um instrumento que estabelece alguns elementos e aprofunda as
transações por esses serviços. De acordo com Pereira, et.al. (2008) o PSA pode ser definido
como uma transação voluntária, na qual um serviço ambiental bem definido ou um uso da
terra que possa assegurar este serviço é comprado por, pelo menos, um comprador, de, pelo
menos, um provedor, sob a condição de que o provedor garanta a provisão deste serviço.
Figura 26 - Elementos para o Pagamento de Serviços Ambientais.
Fonte: Adaptado do Senado, 2013.
No entanto, a valoração é a maior dificuldade para o PSA. O problema ocorre na
estimativa dos valores para esses serviços, devido à complexidade dos ecossistemas e seus
valores ecológicos, econômicos e socioculturais. Segundo Nusdeo (2012), esquemas de
28
pagamento por serviços ambientais são inevitavelmente submetidos ao ferramental econômico
básico da economia convencional, que consiste em analisar estruturas de ofertas e demandas,
formação de preços e comportamentos nas transações específicas.
Os valores atribuídos aos ecossistemas e à biodiversidade são divididos em três
grupos:
Valores intrínsecos: são baseados em sistemas teológicos ou éticos, não
podem ser captados em termos monetários.
Valores de uso: compõem o valor econômico total dos ecossistemas e da
biodiversidade. Podem ser direto, indireto ou de opção.
Valores de não uso: também compõem o valor econômico total dos
ecossistemas e da biodiversidade, e são divididos em valores de existência e de legado.
Figura 27 - Valor Econômico Total dos Ecossistemas e da Biodiversidade.
Fonte: MMA, 2011.
A mensuração dos valores econômicos auxilia nas comparações com outros bens
produzidos e com recursos financeiros, dando mais transparência sobre ganhos e perdas que
envolvem os conflitos de escolha. As possíveis formas de remuneração por serviços
ambientais são amplas, incluindo, além da transferência direta de recursos, também o
favorecimento a obtenção de créditos, a isenção de taxas e impostos, o fornecimento de
serviços coletivos, a disponibilização de tecnologia, e a capacitação técnica e o subsídio a
produtos (NUSDEO, 2012). Dentre as modalidades de remunerações citadas no Código
Florestal estão:
O Mercado de Carbono com a realização de transações de créditos de
carbono em mercados regulamentados pelo Protocolo de Quioto e mercados
voluntários; ICMS-Ecológico onde municípios recebem parte dos recursos
financeiros arrecadados através do ICMS com base em critérios ambientais;
REDD que é a definição de valor financeiro para carbono retido nas florestas
e aplicação de incentivos para que países em desenvolvimento possam adotar
29
medidas de redução de gases estufa e os Projetos de Proteção de Recursos
Hídricos, modalidade de pagamento por serviços ambientais que envolvem
remuneração pela proteção de bacias hidrográficas responsáveis pelo
abastecimento de cidades ou alimentação de hidrelétricas (SENADO, 2013).
Em Santa Catarina, estão sendo implantadas políticas de pagamento por serviços
ambientais, com vários exemplos no Brasil. O pagamento é efetuado ao proprietário para a
manutenção da cobertura florestal protetora de nascentes, mantenedora de biodiversidade ou
armazenadora de carbono (SCHROEDER, 2012).
Estudiosos promovem esforços em âmbito mundial, para o aprimoramento de
conhecimentos sobre os valores dos serviços ambientais, com a finalidade de informar e
conscientizar os cidadãos, as empresas e os tomadores de decisão sobre os valores da
biodiversidade e impactos econômicos de sua perda.
2.4.3 Serviços Ambientais na Floresta Ombrófila Densa
Os desastres ambientais resultam da ação humana sobre ecossistemas frágeis e
susceptíveis a fenômenos naturais intensos como as tempestades, os vendavais e as
inundações. Santa Catarina soma, a cada ano, bilhões de reais em prejuízos pelos desastres
ambientais. Tais desastres provocam perdas de vidas humanas, de animais e de plantas, além
de cultivos e do patrimônio público e privado. Em geral, os ambientes mais degradados são
mais sujeitos aos desastres (SCHROEDER, 2012).
De acordo com Schroeder (2012), os ecossistemas biodiversos e bem conservados
como as florestas, minimizam a intensidade dos desastres, possibilitando redução de perdas.
A presença de florestas ao longo dos rios, que são áreas de preservação permanente, nas
encostas íngremes e topos de morros, reduz a velocidade da água que escoa, bem como
mantém mais estáveis as encostas dos morros, diminuindo as chances de escorregamentos.
Todas as perdas evitadas representam recursos mantidos, e isso é um dos grandes serviços da
biodiversidade.
A floresta ombrófila densa, que é um dos ecossistemas pertencentes à Mata
Atlântica, afeta grande parte da população brasileira, comunidades que vivem e beneficiam-se
de seus recursos. Entre os seus serviços ambientais pode-se citar o provimento da água, a
regulação dos ciclos das chuvas, a polinização natural provida por remanescentes de
vegetação nativa e plantações agrícolas, a proteção contra desastres naturais e pestes
agrícolas, a beleza cênica, a recreação e ainda os serviços culturais e teológicos. Favorece as
30
populações globais considerando sua importância quanto aos recursos genéticos, proteção das
espécies endêmicas e ainda ajuda na mitigação das mudanças climáticas (NUSDEO, 2010).
As matas são percebidas como mais importantes na prestação de serviços
ambientais do que para o fornecimento de produtos. A proteção e a regularização de fontes de
água e rios é a função ambiental das florestas mais valorizadas. Em Santa Catarina, a
biodiversidade movimenta a economia com madeiras, erva-mate, palmiteiro, pinhão e,
recentemente, com o turismo em áreas conservadas. A população catarinense percebe as
florestas como grande produtora de serviços ambientais (MAAS, 2011).
Tanto serviços ambientais diretos quanto indiretos são proporcionados pelas
florestas. Hoje, cada vez mais os serviços de uso indireto são estudados e valorados, trazendo
uma nova visão sobre as funções das florestas. Alguns exemplos desses serviços são:
assegurar o abastecimento de água por meio da preservação de bacias hídricas e águas
subterrâneas, conservar e proporcionar a manutenção da biodiversidade nos diferentes
ecossistemas e proteger o solo contra erosão, conservando sua fertilidade (Figura 28), sendo
que o armazenamento de carbono é um dos principais serviços prestados pelas florestas, o
qual está relacionado com a atenuação do aquecimento global (MAAS, 2011).
Figura 28 - Principais serviços ambientais prestados por florestas e área úmida.
Fonte: ISA, 2008.
As florestas conseguem absorver e armazenar átomos de carbono por meio da
fotossíntese, realizando assim, um dos serviços ambientais mais importantes e essenciais à
vida. As árvores exercem um importante papel mediante as ameaças do aquecimento global
providas pelo efeito estufa, agindo como sumidouros de carbono, ou seja, realizam a fixação e
31
o armazenamento do carbono, reduzindo as concentrações de dióxido de carbono presentes na
atmosfera (SANQUETTA, 2007 citado por MAAS, 2011).
2.4.4 Serviços Ambientais no Manguezal
O manguezal está presente na formação pioneira de influência marinha ou
restinga, caracterizando-se como um ecossistema que cumpre funções de proteção à costa e à
biodiversidade, bem como fornecedor de recursos para o consumo humano (SCHROEDER,
2013).
Nota-se que a zona costeira é uma região peculiar do ponto de vista ecológico,
pois abrange a transição entre o meio aquático, marinho, terrestre e aéreo, com intensas trocas
de nutrientes e energia entre os diversos ambientes. Nos aspectos sociais e econômicos, a
zona costeira brasileira apresenta particularidades, envolvendo, especialmente: o modelo de
ocupação territorial, a concentração populacional, a predominância de complexos industriais e
portuários e a variedade de recursos naturais, que incluem fauna e flora. Sendo assim, esta
região demanda uma aplicação de instrumentos legais e a implantação de programas de
Gestão Ambiental com intuito de salvaguardar e conservar estes recursos, atingidos por
impactos ambientais com características específicas (FARIAS, 2004).
Os manguezais, neste contexto, sempre tiveram destaque exclusivo por constituir
um ecossistema de grande valor pelos seus serviços ambientais, atuando como: atenuador da
erosão costeira; mantenedor da biodiversidade marinha, limnica e terrestre; filtro biológico;
beleza cênica; fonte de proteína para as comunidades ribeirinhas; atenuador de microclima;
aprisionamento de sedimento; bom indicador do aquecimento global e do aumento do nível
médio relativo dos mares; beleza cênica; dentre outros. Além disso, são considerados Áreas
de Preservação Permanente por força da Lei n. 12.651/2012 (Código Florestal) e recebem
proteção legal por diversos outros dispositivos (JUNIOR, 2001).
A valoração do manguezal depende diretamente do tipo de serviço ambiental
analisado e o método utilizado. Geralmente, quando citado, o manguezal logo é relacionado
aos serviços ambientais ligados à pesca e ao turismo, no entanto, estudos recentes discutem a
importância do manguezal como bioindicador das mudanças climáticas e elevação do nível
médio dos mares. Sabe-se também que os bosques de mangue absorvem quatro vezes mais
carbono quando comparados a outras formações florestais, pela dinâmica dos bosques e
retenção do próprio carbono através do solo.
32
seguintes:
Dentre os serviços ambientais contidos no ecossistema manguezal estão os
Capacidade de recarga dos aquíferos, controle de inundações; estabilização
da linha de costa e controle de erosão; retenção de sedimentos, substâncias
tóxicas e resíduos sólidos; exportação de biomassa; proteção contra
tormentas e ventos fortes, estabilização de microclimas; beleza cênica
explorada pelo ecoturismo; manutenção da biodiversidade costeira e estoque
pesqueiro; diversidade funcional e biológica; singularidade do patrimônio
cultural. (JUNIOR, 2010 citado por SEEHUSEN et. al., 2011).
De acordo com Schroeder (2012) o manguezal é um ecossistema de grande
importância, pois desempenha diversas funções naturais, ecológicas e econômicas, dentre as
quais destacam-se as seguintes:
Proteção da linha de costa: a vegetação desempenha a função de uma barreira,
atuando contra a ação erosiva das ondas e marés, assim como em relação aos ventos. Promove
também a retenção de sedimentos carreados pelos rios em virtude do baixo hidrodinamismo
das áreas de manguezais. As partículas carreadas precipitam-se e somam-se ao substrato e tal
sedimentação possibilita a ocupação e a propagação da vegetação, viabilizando a estabilização
da vasa lodosa a partir do sistema radicular dos mangues.
Ação depuradora: o ecossistema funciona como um filtro biológico em que
bactérias aeróbias e anaeróbias trabalham a matéria orgânica e a lama promove a fixação e a
inertização de partículas contaminantes, como os metais pesados.
Área de concentração de nutrientes: localizados em zonas estuarinas, os
manguezais recebem águas ricas em nutrientes oriundos principalmente dos rios e do mar.
Aliado a este favorecimento de localização, a vegetação apresenta uma produtividade elevada,
sendo considerada como a principal fonte de carbono do ecossistema. Por este motivo as áreas
de manguezais são ricas em nutrientes.
Renovação da biomassa costeira: como áreas de águas calmas, rasas e ricas em
alimento, os manguezais apresentam condições ideais para reprodução e desenvolvimento de
formas jovens de várias espécies, principalmente crustáceos e peixes. Funcionam, portanto,
como verdadeiros berçários naturais.
Áreas de alimentação, abrigo, nidificação e repouso de aves: as espécies que
ocorrem neste ambiente podem ser endêmicas, estreitamente ligadas ao sistema, visitantes e
migratórias, onde os manguezais atuam como importantes mantenedores da diversidade
biológica.
Os manguezais cobrem áreas significativas do litoral catarinense e em
Florianópolis cobria originalmente cerca de 4% da Ilha. Essas áreas foram e continuam sendo
33
afetadas de diferentes formas, principalmente com relação à expansão das cidades próximas a
estes ambientes. É possível observar desde pequenos aglomerados de árvores até bosques
mais expressivos, onde ocorre uma única espécie vegetal ou uma composição entre duas ou
mais espécies (TOGENELLA et. al., 2006 citado por SCHROEDER, 2012).
Por fim, destaca-se que os manguezais são compostos por regiões de águas
salobras e caracterizam-se como área de transição entre os ambientes aquáticos e terrestres.
São de extrema importância por estar entre os ecossistemas mais produtivos do mundo; neles
encontram-se grande quantidade de matéria orgânica, áreas extensas de reprodução de
inúmeras espécies e abrigos para diversas e inúmeras espécies. Entretanto, é uma área
subutilizada e degradada, não sendo percebida como de suma importância ecológica e
econômica.
2.5 Proteção jurídica
Conforme visto anteriormente, a área de estudo – região do entorno do Trevo da Seta,
na Baía Sul de Florianópolis - faz parte do Bioma Mata Atlântica. Além disso, o local está na
interface de duas Unidades de Conservação: o Parque Municipal do Maciço da Costeira e a
Reserva Extrativista Marinha de Pirajubaé. À área de estudo são aplicáveis diferentes normas
jurídicas ambientais, algumas de caráter mais amplo, como a Constituição Federal de 1988 e o
Código Ambiental (Lei n. 12.651/2012), e outras mais específicas, relacionadas a determinadas
características do local, como o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (Lei n. 7.661/1988
e Decreto 5.300/2004), a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei n.
9.985/2000) e a Lei da Mata Atlântica (Lei n. 11.482/2006). Neste contexto, tais leis serão
brevemente explicadas e relacionadas ao local de estudo.
A Zona Costeira e a Mata Atlântica são patrimônio nacional, nos termos do art.
225, § 4º, da Constituição Federal, sendo que a última está incluída entre os ecossistemas
vulneráveis às mudanças climáticas, de acordo com a Resolução n. 4º da Comissão Nacional
de Biodiversidade. A referida mata é também um dos 34 hot spots mundiais, que são áreas
prioritárias para conservação, pois apresentam alta biodiversidade e são bastante ameaçadas de
degradação.1
A vegetação do Bioma Mata Atlântica já foi extinta em vários locais devido à
ocupação humana da zona costeira e à exploração ilimitada dos recursos naturais, que iniciou
1 Para mais informações visite The Biodiversity Hotspots no sítio eletrônico Internacional Conservation,
disponível em: <http://www.conservation.org/where/priority_areas/hotspots/Pages/hotspots_main.aspx>. Acesso
em 11 de julho de 2013.
34
com a chegada dos colonizadores ao Brasil. Isso gerou a necessidade de proteger de forma
especial o que restou do bioma, sendo, para tanto, instituída a Lei da Mata Atlântica (Lei n.
11.428/2006), que protege os remanescentes de formações florestais nativas e os ecossistemas
associados. A Lei protege a Floresta Ombrófila Densa e o Manguezal, que são ecossistemas
encontrados na área de estudo.
A Lei classifica a Mata Atlântica em quatro tipos de vegetação: primária e secundária
em estágio de regeneração inicial, médio ou avançado. A vegetação da Mata Atlântica pode
ser cortada, suprimida e explorada apenas em casos especiais, sendo que a vegetação primária
é a mais protegida pela Lei, seguida pela vegetação secundária em estágio de regeneração
avançado, médio e inicial. É possível o corte da vegetação primária apenas para atividades de
pesquisas científicas, práticas preservacionistas e atividades de utilidade pública. Já a
vegetação secundária, em seus diferentes estágios de regeneração, é passível de corte também
para atividades de interesse social, enquadrando um grande rol de atividades (LEMOS, 2013).
Se o corte for feito de forma dolosa, a Lei da Mata Atlântica, art. 42, e a Lei de Crimes
Ambientais (Lei n. 9.605/1998) prevêem punições como a pena de detenção, de 1 (um) a 3
(três) anos e/ou multa para a danificação de vegetação primária ou secundária, em estágio
avançado ou médio de regeneração.
Também é aplicável ao local de estudo o Código Florestal, instituído pela Lei
12.651/2012, o qual reconhece a vegetação e as florestas nativas como bens de interesse
comum a todos os habitantes do país, conforme art. 2º da citada Lei.
O Código Florestal estabelece Áreas de Preservação Permanente (APPs),
caracterizadas por serem “áreas cobertas ou não por vegetação nativa, com a função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade,
facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das
populações humanas” (art. 3º, II).
A vegetação das APPs deve ser mantida pelo proprietário da área e, caso tenha sido
suprimida, deve-se promover sua recomposição. As APPs presentes no local de estudo são:
faixas marginais dos cursos d’água, com uma largura mínima de 30 metros a 500 metros,
variando conforme a largura do curso d’água (art. 4º, I); as áreas no entorno das nascentes no
raio mínimo de 50 (cinquenta) metros (art. 4º, I); as restingas, como fixadoras de dunas ou
estabilizadoras de mangues (art. 4º, VI); e os manguezais, em toda a sua extensão (art. 4º,
VII). Na imagem a seguir estão destacadas em verde as Áreas de Preservação Permanente
(identificadas pela Prefeitura Municipal de Florianópolis) relacionadas com a hidrografia
local, sendo marcados 30m das margens dos rios e 50m de raio ao redor das nascentes.
35
Figura 29 - Buffer Hidrografia, satélite 2009.
Fonte: Prefeitura Municipal de Florianópolis, Geoprocessamento Corporativo.
Além de conter APPs, o local está na interface de duas Unidades de Conservação: a
Reserva Extrativista Marinha de Pirajubaé e o Parque do Maciço da Costeira (PMMC), ambas
identificadas por imagens de satélites (Figura 30 e 31).
Figura 30 - Unidades de Conservação.
Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de Florianópolis.
36
Figura 31 - Unidades de Conservação.
Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de Florianópolis. Nesta imagem, em verde mais
claro (acima) está parte do Parque Municipal Maciço da Costeira e no verde mais escuro (abaixo) está parte da
Reserva Extrativista de Pirajubaé.
As Unidades de Conservação são regidas pela Lei n. 9.985/2000, ou Lei do Sistema
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o qual engloba Unidades federais, estaduais e
municipais (art. 3º). A criação dessas Unidades tem o objetivo de preservar relevantes
paisagens naturais, para contribuir com a manutenção da diversidade ecológica e promover o
desenvolvimento sustentável (art. 4º). As Unidades de Conservação, de acordo com art. 7º,
dividem-se em dois grupos com características específicas: um deles abrange as Unidades de
Proteção Integral, na qual se enquadra o Parque Municipal do Maciço da Costeira; e o outro
abrange as Unidades de Uso Sustentável, como a Reserva Extrativista de Pirajubaé.
Devido ao fato de o Parque Municipal do Maciço da Costeira ser categorizado como
área de proteção integral, é possível realizar no local apenas pesquisas científicas, bem como
atividades de educação ambiental, de recreação e de turismo ecológico, conforme art. 11 da
Lei do SNUC. O PMMC foi criado em 1995, por meio do Decreto Municipal n. 4.605/95,
tendo como órgão ambiental responsável por sua gestão a Fundação Municipal do Meio
Ambiente de Florianópolis (FLORAM). O Parque ocupa 1.456 hectares de área, a qual é
caracterizada pelo Código Ambiental Brasileiro como Área de Preservação Permanente. Ele
se localiza no centro da Ilha de Santa Catarina e é cercado por áreas urbanizadas, sendo uma
delas o local de estudo, conforme dados do sítio eletrônico da Prefeitura Municipal de
Florianópolis. O parque apresenta um remanescente florestal que comporta todas as etapas de
37
recuperação da mata atlântica, mais especificamente, a sucessão ecológica da floresta
ombrófila densa. Ele protege também um importante manancial hídrico, que é utilizado por
diversas pessoas para abastecimento formal e informal de água, inclusive por alguns dos
residentes da área de estudo. Toda a Unidade de Conservação encontra-se sobre o maciço
cristalino, composto principalmente por distintos granitos e diques de diabásio. (BARBOSA
NETO, 2012)
Em relação à Reserva Extrativista de Pirajubaé, parte dela encontra-se dentro da área
de estudo. A Reserva foi regulamentada por meio do Decreto n. 553 de 20 de maio de 1992,
sendo coordenada pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio). Localiza-se na
Baía Sul da Ilha de Santa Catarina, próximo ao aeroporto da cidade, e possui uma área de
1444 hectares, dos quais 740 ha são de manguezais do Rio Tavares e 704 ha pertencem ao
Baixio da Tipitingana. A Reserva foi criada prioritariamente para preservar a tradição cultural
da pesca artesanal de berbigão (Anomalocardia brasiliana), da qual os extrativistas locais
obtêm sua renda. O Plano de Utilização publicado pela Portaria do IBAMA n. 78/96 passou a
permitir a exploração sustentável da Reserva pelos extrativistas moradores do local,
regulamentando comportamentos para a exploração racional da fauna marinha e
responsabilizando a população local pela participação na preservação, recuperação, defesa e
manutenção da Unidade de Conservação. (art. 23,§ 1º, Lei do SNUC)
O local está dentro da Zona Costeira do Brasil, a qual é regulamentada pelo Plano
Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC), instituído pela Lei n. 7.661/1988 e regulado
pelo Decreto 5.300/2004, o qual dispõe sobre as regras de uso e de ocupação da zona costeira
e estabelece critérios de gestão da orla marítima. A zona costeira abrange uma faixa marítima
e uma faixa terrestre, sendo que a parte marítima estende-se por doze milhas náuticas no mar,
compreendendo todo o mar territorial, e a faixa terrestre abrange os limites dos municípios
que sofrem influência direta dos fenômenos que ocorrem na zona costeira, conforme art. 3º do
Decreto n. 5.300/2004, abrangendo, portanto, todo o município de Florianópolis.
Analisando o local com base no art. 26, XII, do Decreto, ele pode ser caracterizado
como: área de interesse especial em áreas com urbanização consolidada, representado por
ambientes com ocorrência de unidades de conservação, de comunidades tradicionais, cercados
por áreas de médio a alto adensamento de construções e população residente, com
características de orla abrigada. Além disso, devido à ocorrência de berbigão no local (animal
pertencente ao grupo dos moluscos), conforme art. 20 do Decreto, deve ser feita uma
identificação e uma delimitação dos bancos de moluscos, para sua proteção pelo órgão
ambiental.
38
Para que seja feita a supressão da vegetação nativa da zona costeira, o Decreto n.
5.300/2004, art. 17, estabelece que deve ser compensada a área desmatada por outra que
esteja, prioritariamente, na mesma zona afetada. O Decreto estabelece, também, no art. 16,
que os empreendimentos na zona costeira devem ser compatíveis com a infraestrutura de
saneamento e sistema viário existentes, devendo a solução técnica adotada preservar as
características ambientais e a qualidade paisagística.
Ao analisar a legislação ambiental aplicável à área de estudo, percebe-se que diversas
restrições legais ao uso dessa área se aplicam. Percebe-se em campo a presença de diversas
irregularidades, dentre elas: construções em áreas de APPs e em parte da Reserva Extrativista
de Pirajubaé, falta de infraestrutura sanitária adequada para a zona costeira e supressão da
vegetação da Mata Atlântica sem a devida autorização.
Destaca-se, ainda, que os remanescentes de floresta ombrófila densa e de manguezais
no local de estudo são Áreas de Preservação Permanente, estando algumas partes protegidas
também como Unidade de Conservação (parte da RESEX de Pirajubaé), porém, ambos os
ecossistemas pertencem à um bioma ameaçado – a Mata Atlântica – a qual requer proteção
especial.
Por fim, percebe-se que a área de estudo está em um local extremamente vulnerável
ambientalmente e em um bioma ameaçado, apresentando ocupações irregulares e problemas
de infraestrutura sanitária, ensejando, portanto, uma maior aplicação real da proteção legal já
existente.
39
3 ASPECTOS URBANÍSTICOS
Tendo como foco verificar e registrar algumas questões referentes ao uso e ocupação
do solo urbano na área de estudo, foram realizadas observações em campo, pesquisas
bibliográficas e pesquisas em campo referentes ao resgate histórico local, aos aspectos
estruturais socioambientais e à aplicabilidade do Plano Diretor na área.
3.1 Resgate do histórico local
O resgate histórico da região foi feito através de pesquisas bibliográficas, fotos
encontradas no Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF) e entrevistas com
moradores e comerciantes estabelecidos na região estudada.
A área de estudo era originalmente composta pelo Manguezal do Rio Tavares e pela
Mata de encosta do Morro do Maciço da Costeira. Segundo trabalhos de Klein & Neto (1991),
há indícios de que todos os manguezais da Ilha de Santa Catarina foram
profundamente modificados pelo homem, para aproveitamento da siriúba (Avicennia) para
lenha (utilizada principalmente como combustível nos engenhos de farinha e aguardente), do
mangue vermelho (Rhizophora) para tintura das redes e, finalmente, do mangue-branco ou
mangue-de-curtume (Laguncularia), para extração de tanino para os curtumes. Devido à isso,
tais manguezais encontram-se completamente descaracterizados quanto à dispersão e a
abundância das diferentes espécies. Ainda, segundo Caruso (1990), em 1797 o então
Governador Miranda Ribeiro já relatava a existência na ilha de 16 curtumes, além de diversos
engenhos que utilizavam-se de matéria prima dos manguezais, inclusive do Manguezal do Rio
Tavares.
Os primeiros registros fotográficos aéreos da região datam de 1938 (IPUF),
quando já se observava a existência de duas vias de acesso: a atual Rodovia Deputado
Diomício Freitas e a estrada que deu origem a SC 405 (Figura 32). Nota-se que já existiam
indícios de áreas descampadas no lado direito da SC 405 (sentido centro), bem como algumas
ruas estreitas ao longo da via e na direção do morro. Manchas claras nas fotos possivelmente
indicam áreas de manguezal devastadas, provavelmente consequência das históricas
explorações das madeiras dos manguezais da Ilha.
40
Segundo Oliveira (2001), a construção da via de acesso ao aeroporto na primeira
metade do século XXI, influenciou grandemente a ocupação na região, visto que a via
facilitou o acesso ao local. No entanto, não identifica-se a presença de ocupação antrópica no
entorno das vias ou sobre o manguezal, talvez, devido à qualidade da imagem.
Já na figura 32, datada de 1957, percebe-se um escurecimento das áreas de manguezal,
indicando uma possível recuperação da vegetação. Observa-se algumas alterações na região
no entorno do Trevo da Seta, porém, devido à baixa definição da foto, não é possível
afirmar se são ocupações antrópicas.
Figura 32 - Imagens da evolução de ocupação do entorno do Trevo da Seta.
Fonte: Oliveira (2001).
Na foto de 1979 (Figura 33), aproximadamente 20 anos depois, é claramente visível a
drástica transformação da paisagem: a área em torno do Trevo da Seta aparece intensamente
ocupada, tanto do lado esquerdo quanto do lado direito (sentido centro), com
ocupações sobre áreas de manguezal. Na SC 405 aparecem novas ruas que seguem em direção
à encosta, e surgem ocupações sobre o manguezal do lado esquerdo (sentido centro), que
41
não apareciam nas fotos anteriores. A Rodovia Diomício Freitas apresenta um alargamento de
sua dimensão transversal, além de diversas ocupações no seu entorno. Nota-se que foi
construída uma nova pista e uma nova ponte sobre o rio.
Na foto de 1994 (Figura 33) percebe-se o agravamento da situação e a intensificação
da ocupação antrópica no local, observando-se a existência de muitas novas construções sobre
o manguezal. Foi construída também a via paralela à Rodovia Deputado Diomício Freitas, que
aparece na foto de 1979. Sendo esta menos destacada, pois confunde-se com as construções ao
seu redor. Vale ressaltar que todas essas ocupações foram feitas de forma irregular, já que
encontram-se sobre área de manguezal, que segundo a Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965,
vigente na época, estabelece o mangue como Área de Preservação Permanente (APP).
Figura 33 - Imagens da evolução de ocupação do entorno do Trevo da Seta.
Fonte: Oliveira (2001).
Alguns autores indicam certos fatores que possivelmente contribuíram para a expansão
urbana nesta região. Com a construção da ponte Hercílio Luz, na primeira metade do século
XX, o processo de urbanização de Florianópolis se intensifica, facilitando as
42
atividades de comércio em uma fase de consolidação da importância da cidade como sede
administrativa do governo estadual.
Além deste marco a década de 1960 foi caracterizada por profundas mudanças na
estrutura urbana do município, onde a construção da BR 101, a construção da Avenida Rubens
de Arruda Ramos (Beira Mar Norte) e a implantação da UFSC são marcos de
relevante importância (OLIVEIRA, 2001). Segundo Teixeira (1998), a dinamização dos
setores comerciais no município nestes períodos acarretou reflexos imediatos para o processo
de ocupação do centro urbano principal; a especulação imobiliária sobre os poucos espaços
disponíveis cresceu, restando à população de menor renda procurar em áreas periféricas
lugares para se estabelecer e construir moradia. De acordo com o mesmo autor, o poder
público também passou a ocupar novas áreas nas periferias do centro urbano principal.
Desta forma, a ocupação urbana foi cada vez mais se aproximando das áreas de encosta e
manguezais da cidade.
Apesar do manguezal do Rio Tavares ter um histórico de exploração de seus recursos
muito antigo, foi na década de 1970 que começaram a ocorrer as primeiras ocupações
clandestinas em suas áreas. De acordo com uma denúncia formulada no dia 11 de dezembro
de 1976 pelo jornal “O Estado”, aterros passaram a surgir de um dia para o outro naquele
local, destinados a abrigar pequenos casebres que eram utilizados como moradia de pessoas
oriundas de classes com pouco poder aquisitivo. Segundo a reportagem o mais grave é que
tudo vinha ocorrendo com a anuência de alguns órgãos públicos, como a Capitania dos Portos
e a Prefeitura Municipal de Florianópolis (TEIXEIRA, 1998).
A situação continuou a se agravar nos anos sucessivos e os pequenos aterros se
multiplicaram, assim como a quantidade de construções e famílias. Segundo o mesmo jornal,
do dia 21 de janeiro de 1982, já haviam mais de 100 casebres “miseráveis” instalados na
região, abrigando uma população de mais de 800 pessoas, em sua maioria constituindo-se de
sub-empregados da construção civil, que anteriormente residiam em casas alugadas e que
encontravam no mangue a única alternativa para fugir da crise, pois ali deixariam de pagar
aluguel e além disso construiriam suas casas com restos de madeiras recolhidas de edifícios
em construção na cidade (TEIXEIRA, 1998).
Já na década de 80 ocorreram as primeiras manifestações da comunidade reivindicando
providências dos órgãos oficiais do município a fim de resolver problemas que começavam a
surgir. Em outubro de 1982 as estradas de acesso ao Sul da ilha e ao aeroporto ficaram
embaixo d'água devido à maré alta e muitos casebres foram inundados e famílias
desabrigadas. Os moradores reclamavam da falta de apoio das autoridades e relatavam que se
arrependiam de terem ido morar naquela região (mangue) que sempre inundava (TEIXEIRA,
43
1998). Em 1986 o assunto das inundações no mangue voltou ás páginas do jornal “O
Estado”, desta vez de forma mais grave devido ao maior número de pessoas ali residentes.
Estas informações corroboram com os relatos de moradores antigos da região que foram
entrevistados durante as visitas à área de estudo, que disseram haver passado pelas situações
descritas acima.
Ainda nesta época a comunidade em torno do Trevo da Seta já estava
estabelecida, e devido aos apelos dos moradores, foram construídos o Centro Comunitário
Costeira do Pirajubaé (1984), a Igreja (1985), bem como a Creche Crescer (1992). Além
destas obras, a Reserva Extrativista Marinha de Pirajubaé foi concretizada em 1992, a fim de
melhorar e regular as relações entre os moradores extrativistas e o manguezal.
No ano de 1984, o jornal “O Estado” publicou matéria referente ao agravamento da
situação de alagamento da região, levantando as primeiras discussões acerca das
responsabilidades dos problemas da área. Segundo uma matéria de 31 de julho de 1984, os
moradores culpavam o poder público pela situação de calamidade em que se encontravam,
pois constantemente tinham suas casas invadidas pelas águas de marés altas. Porém, a
prefeitura Municipal, apesar de tratar com descaso a situação, começava a cobrar impostos
das famílias que haviam invadido a área, desconsiderando a ilegalidade das ocupações
(TEIXEIRA, 1998).
De acordo com comparações feitas através de fotos aéreas do local, no período entre
1978 e 1981 o manguezal do Rio Tavares sofreu uma redução em sua área de 3,25 km²,
equivalente a 28,34%, demonstrando que as ocupações clandestinas na região foram
ocorrendo sem que medidas fossem tomadas (TEIXEIRA, 1998). Segundo o mesmo autor,
por tratar-se de uma localidade onde perceptivelmente a população apresentava elevado grau
de carência econômica e cultural, os níveis de exigência social relativos aos aspectos de
manutenção da qualidade ambiental eram baixos, o que contribuiu para que o estado de
degradação do manguezal se agravasse. Estas informações também corroboram com os
relatos dos moradores antigos da região que foram entrevistados e descreveram haver passado
pelas situações descritas acima.
Na figura 34, que apresenta a vista aérea da região em 1994 e 1998, percebe-se o
agravamento da situação e a consolidação da ocupação antrópica em toda a área no entorno do
Trevo da Seta, demonstrando que a expansão urbana não foi resolvida e apenas agravou-se,
devido ao acréscimo populacional. Na figura 36, registrada no ano de 2012, é visível a
diminuição da área de manguezal devido as ocupações humanas, percebendo-se claramente o
aumento das ocupações nas encostas do morro.
44
Segundo a proprietária de uma madeireira estabelecida na SC 405, a área em torno da
Rodovia mudou muito desde sua chegada na região, em 1988. De acordo com relatos pessoais
quase toda a área ainda era coberta pelo manguezal e a maré alta chegava até a encosta do
morro, cobrindo de inúmeros caranguejos a precária rua asfaltada que havia no lugar da SC
405; quase não havia ônibus que passava por ali, “naquele fim de mundo”, relatou a
entrevistada. Ainda segundo a mesma pessoa, a maioria dos estabelecimentos comerciais
em torno da SC
405 são de origem familiar, em que geralmente o pai comprava um terreno e o dividia entre
seus filhos, porém, atualmente, a situação mudou muito e os comércios já trocam de
proprietários com maior frequência, surgindo cada vez mais novos pontos comerciais no
local.
Figura 34 - Imagens da evolução de ocupação do entorno do Trevo da Seta.
Fonte: Oliveira, (2001).
De 1998 a 2012 (Figuras 34, 35 e 36), alguns fatores como a construção do aterro na
Costeira de Pirajubaé e a construção da Via Expressa Sul influenciaram a vinda de novos
moradores ao sul da Ilha, visto que o acesso foi facilitado, porém, ressalta-se que esses
empreendimentos foram realizados devido ao aumento do fluxo rodoviário já ocorrente em
direção ao Sul da Ilha em anos anteriores.
45
Figura 35 - Imagem aérea do entorno do Trevo da Seta, com detalhe do aterro da Baía Sul, 2004.
Fonte: IPUF.
Figura 36 - Imagem aérea do entorno do Trevo da Seta, 2012.
Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de Florianópolis.
Houve também um acréscimo no número de estabelecimentos comerciais na SC 405
e na Rod. Diomício Freitas, e com essa intensificação da ocupação urbana no local,
muitos problemas surgiram e foram destacados pela própria população nas entrevistas de
percepção ambiental. Dentre eles pode-se destacar a ocorrência de muitos acidentes devido ao
fluxo intenso de veículos na SC 405 e a falta de infraestrutura para tornar viável a mobilidade
dos pedestres de forma segura. No ano de 2012 moradores do Rio Tavares se uniram e
46
fizeram manifestações ao longo da SC 405 (Figura 37), parando a Rodovia para protestar
contra a falta de segurança e contra os inúmeros acidentes ocorridos.
Figura 37 - Manifestação em reação aos acidentes ocorridos na SC 405, após a construção da faixa
adicional, 2012.
Fonte: Conselho Fazenda do Rio Tavares.
Por fim destaca-se um grande crescimento, populacional e do setor imobiliário, nos
últimos 10 anos na região, devido principalmente ao marketing positivo feito para atrair
turistas e moradores para a cidade. Este fator tem atraído tanto pessoas com alta renda, as
quais direcionam-se para o Sul da Ilha, visto que supostamente esta é uma das últimas regiões
da cidade que possui áreas legais para construção; quanto pessoas de renda mais baixa, que
acabam se estabelecendo em áreas irregulares, devido á expansão urbana e ao
crescimento do setor imobiliário.
De acordo com relatos de comerciantes estabelecidos na SC 405 houve um boom
imobiliário em 2002, quando o fluxo da SC 405 e da Rod. Diomício Freitas aumentou
fortemente, assim como o número de comércios e casas na região. Tudo isso demonstra uma
falta de planejamento e trabalho conjunto entre os setores de turismo, planejamento urbano
e ambiental da cidade, o que resulta em prejuízos a população e ao meio ambiente.
3.2 Aspectos estruturais e urbanos atuais
Através de observações em campo, percebe-se que a área de estudo é caracterizada por
diversas construções irregulares, existindo ocupações de encostas, indícios de favelização
(Figura 38) e, além disso, construções em áreas de mangue, margens de rios e orla marítima.
47
a) b)
Figura 38 – a) Construções em margens de rio b) Indício de favelização.
Fonte: Arquivo próprio.
Não foram observados parques para lazer e nem arborização nas vias. Crianças
brincando na rua mostram um pouco da realidade atual do local (Figura 39).
Quanto ao sistema viário, uma das vias principais, a SC 405 (Figura 40) tem uma
largura de quatro pistas, afunilando para três pistas, no sentido centro bairro, sendo a
pista central reversível em horários de maior movimento, tendo um fluxo intenso de carros
diariamente, sendo inclusive motivo de reclamação devido a acidentes sofridos por moradores
e usuários das vias. Além de ser a origem de grande poluição sonora e atmosférica.
A via perpendicular, a Rodovia Deputado Diomício Freitas, como mostra a figura 42,
tem duas pistas, sendo essas elevadas por conta das enchentes que ocorriam no local.
As servidões, como a Nelson Serafim Pereira (Figura 41) são estreitas tendo
apenas uma pista e não existem calçadas.
Figura 39 - Crianças brincando às margens da Rod. Figura 40 - Via SC 405, centro-bairro.
Diomício de Freitas Fonte: Arquivo próprio.
Fonte: Arquivo próprio.
48
Figura 41 - Servidão Nelson Serafim Pereira Figura 42 - Rod. Diomício Freitas, aeroporto-centro. Fonte: Arquivo próprio. Fonte: Arquivo próprio
A qualidade dos abrigos de ônibus é aparentemente boa, porém, eles não se encontram
em grande número, sendo os pontos sinalizados apenas por placas. Existe grande fluxo de
ônibus, principalmente na via principal, sendo elogiado inclusive por moradores, porém, não
existem ciclovias nas ruas da área de estudo.
Percebe-se a existência de sinalizações públicas, como placas de trânsito, sinaleiras e
faixas de pedestres. Não há estacionamento municipal, existindo apenas os destinados ao
comércio.
A conservação das calçadas é variável, havendo trechos com calçamento bem
conservado (Figura 43), calçamento esburacado (Figura 44) ou ausência de calçamento, sendo
no geral precário, já que não há uma padronização. Desta forma, a mobilidade para pessoas
com restrição física é ainda mais deficitária, tendo em vista que nem sempre há calçadas, ou
estas estão esburacadas, dificultando a mobilidade.
Observa-se que há postes de fiação aérea por toda a via, sendo que alguns desses postes
estão em estado precário de conservação e/ou apresentam grande quantidade de fios aéreos
(Figura 45 e 46).
49
Figura 43 - Calçamento SC 405. Figura 44 - Calçada esburacada SC 405.
Fonte: Arquivo próprio. Fonte: Arquivo próprio.
Figura 45 - Exemplo de poste em mau estado Figura 46 - Excesso de fiação elétrica.
Fonte: Arquivo próprio. Fonte: Arquivo próprio.
As principais atividades econômicas na área de estudo envolvem madeireiras,
lojas de móveis e mecânicas. A grande quantidade de placas e anúncios nestes comércios
causam certo grau de poluição visual (Figura 47).
Figura 47 – Placas e anúncios na área de estudo.
Fonte: arquivo próprio.
Como espaço destinado às atividades culturais e eventos na comunidade, existe um
Centro Comunitário (Figura 48) que oferece cursos para os moradores, podendo ser usado
também como salão de festas, eventos comunitários, grupos de mães e terceira idade. A área
50
de estudo também apresenta uma creche comunitária (Figura 49) e uma igreja
(Figura 50), porém, não inclui posto policial, escolas e posto de saúde, sendo os dois
últimos localizados nas proximidades da área de interesse delimitada.
Figura 48 - Centro Comunitário. Figura 49 – Creche comunitária.
Fonte: Arquivo próprio. Fonte: Arquivo próprio.
Figura 50 - Igreja.
Fonte: Arquivo próprio.
Atualmente está prevista a duplicação da Rod. D e p u t a d o Diomício Freitas e,
para isso, será necessária a desapropriação da população residente no local, sendo que a
maioria das casas afetadas estão irregulares. Como, de acordo com a Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Urbano (SMDU), a grande maioria das pessoas residentes nas áreas de
manguezal tem poder aquisitivo muito baixo, há uma séria dificuldade em lidar com esta
questão, pois muitas vezes, as famílias realocadas voltam para a área invadida.
Conforme informações prestadas pela SMDU, os terrenos irregulares podem ser
regularizados pela Prefeitura, desde que não estejam em APPs. Caso as construções estejam
em APPs, além de não serem regularizadas pela Prefeitura, podem ser demolidas.
Ao analisar a região em relação ao Plano Diretor, percebeu-se que há diversas
construções irregulares e em APPs. Porém, percebe-se que essas áreas são atendidas por
serviços de fornecimento de energia elétrica, correios, abastecimento de água e coleta de lixo.
Ao questionar a SMDU a respeito desses serviços em áreas não autorizadas pela Prefeitura,
51
foi relatado que a Prefeitura Municipal de Florianópolis impetrou ação judicial contra a
CELESC, em 2004, e obteve êxito na proibição de fornecimento de energia elétrica para áreas
irregulares. Atualmente, para fornecer energia para novas instalações, a CELESC precisa de
alvará da Prefeitura. Porém, se já há edificação, é solicitada apenas a autorização, que é
concedida pela Prefeitura caso não esteja em APP. Já a CASAN abastece qualquer região,
independente de estar irregular ou não.
3.3 Plano Diretor na área de estudo
O Plano Diretor é a lei que orienta a execução de políticas públicas, estabelece o uso
do solo e regulamenta sua ocupação. As leis que orientam a concepção do Plano Diretor são o
Estatuto da Cidade (Lei Federal 10.257/2001) e a Lei Orgânica do Município de Florianópolis,
de 05 de abril de 1990.
O Plano Diretor de Florianópolis é dividido em zoneamentos: Distrito Sede e Distrito
Balneário. A área de estudo está no Distrito Sede, conforme Lei Complementar da
Prefeitura Municipal de Florianópolis n. 01/1997.
Os objetivos principais da Lei Complementar 001/97 são: disciplinar e controlar a
ocupação urbana; garantir espaço para a implantação de vias; manter a identidade urbana das
áreas residenciais homogêneas; descentralizar as atividades geradoras de emprego (centros de
bairros); reforçar a vocação sócio-econômica do Município; e incentivar a melhoria da infra-
estrutura turística do Município.
Na Secretaria Municipal do Desenvolvimento Urbano (SMDU) foram obtidas imagens
com a divisão do solo conforme o Plano Diretor, como se mostra a seguir:
52
Figura 51 - Zoneamento. Fonte: Prefeitura Municipal de Florianópolis, Geoprocessamento Corporativo, Acesso
Interno. Em marrom está a Área Mista de Serviço (AMS), em verde escuro Área de Preservação Permanente
(APP), em laranja Área Residencial Predominante (ARP-4), em verde “limão” Área Verde do Sistema Viário
(AVV), em verde claro Áreas de Preservação de Uso Limitado (APL).
Figura 52 - Zoneamento. Fonte: Prefeitura Municipal de Florianópolis, Geoprocessamento Corporativo, Acesso
Interno. Em marrom está a Área Mista de Serviço (AMS), em verde escuro Área de Preservação Permanente
(APP), em laranja Área Residencial Predominante (ARP-4), em verde “limão” Área Verde do Sistema Viário
(AVV), em verde claro Áreas de Preservação de Uso Limitado (APL).
Verifica-se que a área de estudo é composta pelas seguintes áreas de usos urbanos:
Áreas Residenciais Predominantes (ARP) e Áreas Mistas de Serviço (AMS), previstas no art.
10 do Plano do Distrito Sede. Além disso, possui também área de uso não urbano (art. 20):
Área de Preservação Permanente (APP) e Área de Preservação de Uso Limitado (APL).
53
As Áreas Residenciais (AR) são aquelas destinadas à função habitacional,
complementadas ou não por atividades de comércio e serviços vicinais de pequeno porte,
subdividindo-se em: Áreas Residenciais Exclusivas (ARE) e Áreas Residenciais
Predominantes (ARP) (art. 11).
Áreas Mistas (AM) são aquelas que concentram atividades complementares à função
residencial, sendo que nas Áreas Mistas de Serviço (AMS) predominam as atividades de
serviço pesado (art. 12).
As Áreas de Preservação com Uso Limitado (APL) são aquelas que pelas
características de declividade do solo, do tipo de vegetação ou da vulnerabilidade aos
fenômenos naturais, não apresentam condições adequadas para suportar determinadas formas
de uso do solo sem prejuízo do equilíbrio ecológico ou da paisagem natural (art. 22).
As Áreas de Preservação Permanente (APP) são "non aedificandi", ressalvados os usos
públicos necessários, sendo nelas vedada a supressão da floresta e das demais formas de
vegetação nativa, a exploração e a destruição de pedras, bem como o depósito de resíduos
sólidos e qualquer forma de parcelamento do solo. Nos mangues é proibido o corte da
vegetação, a exploração dos recursos minerais, os aterros, a abertura de valas de drenagem, e
o lançamento no solo e nas águas de efluentes líquidos poluentes desconformes com os
padrões de emissão estabelecidos pelo art. 19 do Decreto Estadual n. 14.250/81 ou legislação
posterior que regulamente a matéria. Já nos mananciais, nascentes, áreas de captação d'água,
faixas sanitárias e faixas marginais dos corpos d'água, é proibida a supressão de vegetação de
qualquer porte, o lançamento de qualquer efluente não tratado, o emprego de pesticidas,
inseticidas e herbicidas, e a realização de cortes, aterros ou depósitos de resíduos sólidos.
(Art. 137, caput, § 2º e § 3o)
Dependendo do tipo de classificação do solo (diferentes definições de áreas
urbanas e não urbanas) há usos que são adequados (A) e outros que são proibidos (P),
conforme tabela de adequação dos usos e atividades às áreas, anexa ao Plano Diretor do
Distrito Sede.
A adequação dos usos às áreas é determinada pela avaliação simultânea da sua ·
espécie, do seu porte e periculosidade, podendo os usos ser Adequados (A), Toleráveis (T) ou
Proibidos (P), conforme tabelas dos Anexos II e III do Plano Diretor do Distrito Sede (art.
37). Denominam-se Adequados os usos compatíveis com a destinação da área; toleráveis os
usos desconformes cuja adequação às áreas pode ser alcançada excepcionalmente pelo
cumprimento de disposições especiais fixadas pelo Órgão de Planejamento, podendo ser
54
exigida em qualquer tempo a adoção de dispositivos e instalações que eliminem os incômodos
e a poluição; Proibidos os usos incompatíveis com a destinação da área (art. 37, § 1º, 2º, 3o).
Figura 53 - Adequação dos Usos e Atividades às Áreas.
Fonte: Anexo II da Lei Complementar n. 001/97 (*), de 18 de fevereiro de 2007, do Município de
Florianópolis.
As utilizações do solo predominantes no local de estudo são comerciais e
residenciais, como pode ser visto na figura 54.
55
Figura 54 - Utilização. Fonte: sítio eletrônico da Prefeitura Municipal de Florianópolis, Geoprocessamento
Corporativo. Em verde está uso residencial, em azul uso comercial, em amarelo uso religioso, em laranja
prestação de serviço, em verde musgo industrial, em branco terreno.
Conforme informações da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano
(SMDU), o Plano Diretor prevê, na área, uma via que não foi executada, pois ela iria mexer
muito com os ecossistemas locais, iria interferir no mangue. Por essa razão foi alterado o
traçado da via e o local do elevado, para o qual foi construído.
3.4 Comparação do Plano Diretor com alguns pontos da área de estudo
Segundo o Plano Diretor Municipal de Florianópolis, as APL não são áreas adequadas
para moradia por conta da declividade do solo, do tipo de vegetação ou da vulnerabilidade aos
fenômenos naturais, assim como prejuízo do equilíbrio ecológico ou da paisagem natural (art.
22). Na área de estudo foram observadas algumas construções em APL como exemplo a
servidão Nelson Serafim Pereira (Chino), conforme figura 55 e 56. Em entrevistas realizadas
junto à comunidade, percebemos que essa área é considerada pelos próprios moradores como
uma área de risco.
56
a) b)
Figura 55 – a) Zoneamento. Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de Florianópolis,
acesso interno. b) Residências em APL na Servidão. Fonte: Arquivo próprio.
Figura 56 - Residências em APL na Servidão Nelson Serafim Pereira (Chino)
Fonte: Arquivo próprio.
Em Áreas de Preservação Permanente (APP), como nos mangues, é proibido o corte da
vegetação, a exploração dos recursos minerais, os aterros, a abertura de valas de drenagem, e o
lançamento no solo e nas águas de efluentes líquidos poluentes desconformes com os padrões
de emissão estabelecidos pelo art. 19 do Decreto Estadual n. 14.250/81. Porém, em saída
á campo, podemos observar supressão e corte da vegetação do Manguezal, a queima de
resíduos próximos à vegetação, abertura de vala de drenagem e possível lançamento de
efluentes na rede pluvial indo diretamente para o Manguezal do Rio Tavares (Figura 57).
57
a) b)
Figura 57 – a) Zoneamento. Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de Florianópolis,
acesso interno. b) Aberturas de valas de drenagem em APP Rodovia SC 405 – Centro - Bairro (Lado direito) da
Rodovia. Fonte: Arquivo próprio.
Com relação à APPs, não é permitida nenhum tipo de construção, porém isso foi
presenciado na área de estudo, em topos de morro e às margens do Rio Principal, o Rio
Tavares (Figuras 58, 59 e 60).
a) b)
Figura 58 – a) Zoneamento. APP. Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de Florianópolis,
acesso interno. b) Construções em topos de morro, APP Rodovia SC 405 – Centro-Bairro (Lado esquerdo) da
Rodovia. Fonte: Arquivo próprio.
a) b)
Figura 59 – a) Zoneamento. Aeroporto Centro. Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de
Florianópolis, acesso interno. b) Rodovia D. Diomício Freitas – (Lado direito) da Rodovia. Fonte: Arquivo
próprio.
58
a) b)
Figura 60 – a) Zoneamento. Aeroporto Centro. Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de
Florianópolis, acesso interno. b) Rodovia D. Diomício Freitas – (Lado esquerdo) da Rodovia. Fonte: Arquivo
próprio.
Quando comparado ao que estabelece o Plano Diretor Municipal de Florianópolis para
a região, com o que se observa na prática na área de estudo, percebemos outra realidade.
As figuras 61 (a e b) referem-se a uma área que, segundo o Plano Diretor Municipal,
deveria ser uma AVV (Área Verde do Sistema Viário). No entanto em saída a campo,
observamos a existência de residências, comércios (madeireira, oficina mecânica e lojas), sem
presença de qualquer tipo de área verde, exceto na região próxima ao Manguezal, fundos da
creche existente nessas limitações. Além de impedir as belezas naturais do local, essas
edificações estariam, conforme o Plano Diretor, irregulares.
a) b)
Figura 61 – a) Zoneamento. Aeroporto Centro. Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de
Florianópolis, acesso interno. b) Rodovia D. Diomício Freitas – (Lado esquerdo) da Rodovia. Fonte: Arquivo
próprio.
59
a) b)
Figura 62 – a) Fundos da creche – passagem para caminho da trilha do Manguezal - AVV. Fonte: Arquivo
próprio. b) Fundos da creche – passagem para caminho da trilha do Manguezal. Fonte: Arquivo próprio.
Em uma trilha sobre o Manguezal do Rio Tavares, fundos da creche e próximo às
margens da Baía Sul, foi observada a presença de entulhos e resíduos sólidos (pneus, garrafas
pet, restos de resíduos de construções, etc.). Percebe-se o descaso da população e do Poder
Público com essa situação, e a falta de fiscalização dessa área que também faz parte do
Manguezal local (Figuras 63 e 64).
a) b)
Figura 63 – a) Resquícios de materiais de construção sólidos encontrados ao longo da trilha do manguezal.
Fonte: Arquivo próprio. b) Diversos tipos de resíduos encontrados ao longo da trilha do manguezal. Fonte:
Arquivo próprio.
60
a) b)
Figura 64 – a) Madeiras e papa entulho na trilha. b) Fim da trilha do manguezal, na Baía Sul.
Fonte: Arquivo próprio.
Conforme relatos de moradores a parte do comércio foi se expandindo para cima do
mangue, sendo que hoje há várias atividades de risco e poluentes que depositam seus
resíduos no local, como pode ser visto nas ilustrações a seguir:
Figura 65 – a) Zoneamento. Fonte: Geoprocessamento Corporativo Prefeitura Municipal de Florianópolis,
acesso interno. b) Comércio ao lado do mangue. Fonte: Arquivo próprio.
a) b)
Figura 66 – a) Depósito de madeira nos fundos de um comércio no mangue. b) Depósito de resíduos no
mangue. Fonte: Arquivo próprio.
Além das irregularidades em relação ao zoneamento, foram observadas diversas
outras na infraestrutura urbana. Não há calçadas para pedestres, a areia invade a pista, as lojas
estão construídas sem a devida distância da rua, bueiros encontram-se sem a devida
manutenção. No local há muitas lojas de móveis e materiais de construção, cujo transporte é
a) b)
61
feito por caminhões, que param nas vias de pedestres para descarga. Algumas dessas situações
foram registradas fotograficamente, como pode ser vistos nas imagens a seguir:
Figura 67- a) Problema de infraestrutura urbana. b) Falta de calçada para pedestres e
Fonte: Arquivo próprio areia invadindo a pista.
Fonte: Arquivo próprio
Figura 68 – a) Caminhões utilizando a passagem . b) Problema de infraestrutura urbana.
Fonte: Arquivo próprio Fonte: Arquivo próprio
Na Servidão Nelson Serafim Pereira as pessoas reclamaram da declividade da rua,
especialmente nos dias de chuva, sendo que muitos já se acidentaram no local. Além disso, os
veículos têm dificuldade para subir o morro. Existe um corrimão no início da subida, porém
ele abrange um pequeno comprimento da rua. Além disso, há pequenas vielas perpendiculares
à referida servidão, sem qualquer tipo de calçamento ou segurança para os moradores.
62
Figura 69 - a) Servidão Nelson Serafim Pereira b) Acesso perpendicular à Servidão Nelson
Fonte: Arquivo próprio. Serafim Pereira
Fonte: Arquivo próprio.
Na referida Servidão há problema no acondicionamento dos resíduos, sendo que os
moradores já solicitaram lixeiras à COMCAP, que disponibilizou alguns exemplares, porém
ainda em quantidade insuficiente para a demanda local. O sistema de drenagem urbana
também é extremamente precário, sendo que a água fica exposta e mistura-se, muitas vezes,
com os resíduos. Observa-se também canos que despejam esgoto doméstico em valas sem a
devida proteção e isolamento, sendo que moradores locais reclamam do odor que vem desses
locais.
Figura 70- a) Resíduos na Servidão Nelson Serafim b) Lixeira da COMCAP. Fonte: Arquivo próprio.
Pereira. Fonte: Arquivo próprio.
63
Figura 71- a) Drenagem pluvial na Servidão b) Cano de esgoto sanitário despejado em vala com
Nelson Serafim Pereira. mau estado de conservação na Servidão Nelson
Fonte: Arquivo próprio. Serafim Pereira. Fonte: Arquivo próprio.
Ao lado e abaixo da Ponte da Rodovia Deputado Diomício Freitas foram observadas
irregularidades, além do fato das construções serem todas em APPs. A infraestrutura sanitária
é bastante problemática, sendo que não há coleta nem tratamento do esgoto doméstico. Não há
ruas adequadas nem calçadas para pedestres.
Figura 72- a) Lateral da Rodovia Deputado b) Manguezal do Rio Tavares.
Diomício Freitas. Fonte: Arquivo próprio. Fonte: Arquivo próprio.
Figura 73- a) Rodovia Deputado Diomício b) Lateral da Rodovia Deputado Diomício Freitas.
Freitas. Fonte: Arquivo próprio. Fonte: Arquivo próprio.
64
Edson Rosa, no jornal eletrônico Notícias do Dia (publ i cado em 30/03/2013 ) ,
tratou a respeito do parecer do ICMBio (Instituto Chico Mendes da Biodiversidade)
sobre a duplicação da Rodovia Deputado Diomício Freitas, entre o elevado da Costeira
e o estádio da Ressacada, em Florianópolis. A duplicação prevê a construção de mais
uma ponte sobre o Rio Tavares, cortando ao meio a área de manguezal da Reserva
Extrativista do Pirajubaé.
Figura 74- Manguezal do Rio Tavares.
Fonte: Daniel Queiroz/ND, jornal eletrônico Notícias do Dia.
Segundo o Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura), a estrada não chegará a
interferir na vida do manguezal. O ICMBio deu parecer favorável à construção da via, pondo,
porém, condicionantes ao projeto original do Deinfra. Uma delas é a criação de espaço público
sob as pontes do rio Tavares, para recuperação do manguezal e para evitar novas invasões.
Além disso, o ICMBIO propôs também a recuperação de área degradada entre a nova estrada
e a reserva do Pirajubaé, com trilhas ecológicas e Ciclovia, a construção de cinco passagens
subterrâneas para proteção da fauna silvestre que habita a reserva. O ICMBio sugeriu,
também, a construção de um porto para passeios turísticos no manguezal do rio Tavares,
monitorados pelo órgão e tendo como condutores os próprios pescadores e extrativistas da
comunidade.
Outra questão a ser enfrentada no local é a necessidade de relocação da população que
será afetada pela duplicação da Rodovia. Grande parte dessa população está em situação
irregular e é também de baixa renda.
Conforme informação no sítio eletrônico da Associação FloripAmanhã, as baías Norte
e Sul estão contaminadas faz tempo, encontrando-se em permanente estado de alerta,
principalmente na área central, nas pequenas enseadas entre os bairros João Paulo e Costeira
do Pirajubaé. A região está sempre sem balneabilidade, porém, sua despoluição é possível.
Ao analisar o local e compará-lo ao que está previsto pelo Plano Diretor, percebeu-se
várias irregularidades e desrespeito ao Plano, especialmente em relação à devida
65
preservação ambiental. Os problemas urbanísticos da área afetam o meio ambiente local e
causam grande pressão nos ecossistemas, especialmente no manguezal.
66
4 INFRAESTRUTURA SANITÁRIA
Os aspectos de infraestrutura considerados no Projeto Integrador contemplaram a
observação e a verificação das condições de alguns serviços públicos oferecidos na área de
estudo, como água, esgoto, coleta de lixo e drenagem urbana, tendo como foco principal as
questões relacionadas ao serviço de abastecimento de água na região.
4.1 Esgotamento sanitário, resíduos sólidos e drenagem urbana
De acordo com observações feitas em campo, bem como através de informações
repassadas oralmente pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN) com
base em um roteiro técnico feito pelos alunos do curso a região de estudo não é beneficiada
com a coleta de esgoto doméstico.
Através de entrevistas realizadas com os moradores (vide Capítulo 6) percebeu-se
que três tipos de situações referentes ao destino do esgoto doméstico ocorrem na região: (1)
tratamento individual, com fossa séptica (com ou sem sumidouro); (2) ligação na rede pluvial
e (3) lançamento direto nos recursos hídricos.
Em relação aos resíduos sólidos, observou-se em campo uma grande quantidade
de lixo espalhado nas proximidades dos recursos hídricos (Figura 75) os quais podem ter sido
ali diretamente colocados, ou então carreados com a água da chuva. Em áreas próximas ao
Manguezal encontrou-se grande quantidade de lixo amontoado (Figura 76a), também sendo
observada a queima destes resíduos em alguns pontos.
Nas calçadas, observou-se grande quantidade de lixo depositado em sacos
plásticos (Figura 76b), fora de contentores. Tal situação ocasiona problemas relacionados aos
resíduos mal alocados, basta observar que o lixo é aberto por animais de rua, como gatos e
cachorros (Figura 76b).
67
Figura 75 - Lixo nas proximidades do recurso hídrico.
Fonte: Arquivo próprio.
a) b)
Figura 76 - a) Lixo amontoado no Manguezal. b) Lixo depositado nas ruas e sendo aberto por animais.
Fonte: Arquivo próprio.
A coleta dos resíduos domésticos – tanto convencional, quanto seletiva – é
realizada pela Companhia Melhoramentos da Capital (COMCAP) e ocorre semanalmente, em
dias e horários determinados, nos três bairros pertencentes à área estudada, conforme
constatado no site da Comcap e nos quadros 1 e 2 abaixo.
COLETA CONVENCIONAL
LOCAL: DIAS: À PARTIR DAS:
Rio Tavares, SC-405 e
Costeira (Rua João C Jacques)
Terças-feiras, Quintas-
feiras e Sábados
14:00
Quadro 1 - Dias e Horários da Coleta Convencional realizada pela COMCAP.
68
COLETA SELETIVA
BAIRROS DIAS: À PARTIR DAS:
Costeira Quartas-feiras 7:00
Rio Tavares Quartas-feiras 7:00
Quadro 2 - Dias e Horários da Coleta Seletiva realizada pela COMCAP.
É importante destacar que a COMCAP recomenda que o lixo domiciliar seja
colocado na rua em dias e horários certos. Os sacos de lixo com resíduos misturados
(convencional) devem ser acondicionados em contentores ou lixeiras (para residência
unifamiliar) e os resíduos recicláveis secos devem ser colocados em sacos claros e
transparentes.
De uma forma geral, os indivíduos entrevistados não se queixaram de problemas
relacionados à coleta de lixo na região, contudo, é possível afirmar que há grande quantidade
lixo nas ruas e nas proximidades dos recursos hídricos.
De acordo com a Agência Reguladora de Serviços de Saneamento do Estado de
Santa Catarina (Agesan), a drenagem urbana é um conjunto de medidas que têm como
objetivo minimizar os riscos que a população está sujeita, diminuir os prejuízos causados por
inundações e possibilitar o desenvolvimento urbano de forma harmônica, articulada e
sustentável. Ou seja, a drenagem é o gerenciamento da água da chuva que escoa no meio
urbano.
Em relação à drenagem das vias na área de estudo, observa-se a existência de rede
pluvial na região, porém, muitas vezes vista pelos moradores como rede coletora de esgoto, de
modo em que há a ligação errônea do esgoto residencial na rede pluvial. Os entrevistados não
se queixaram de ocorrência de enchentes na região.
4.2 Abastecimento de Água
O sistema de abastecimento de água potável é um processo que deve preencher
todos os requisitos de potabilidade da água, envolvendo desde a coleta até a distribuição da
água potável à comunidade (CASAN, s.d.).
De acordo com a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN), o
tratamento da água tem como finalidade reduzir as impurezas existentes nas águas brutas,
tornando-as potável nas Estações de Tratamento de Água (ETAs), onde a água pode ser
tratada através dos seguintes processos:
69
- arejamento (ou oxidação);
- mistura rápida, em que a água passa por um processo de agitação
artificial intensa;
- floculação (ou coagulação);
- decantação (ou sedimentação),
- filtração,
- desinfecção ou cloragem.
Através de informações fornecidas pela Casan, o serviço de abastecimento de
água da região em estudo é de responsabilidade da própria Companhia, sendo a área servida
por dois sistemas de abastecimento de água: o da Costa Leste/Sul e o de Cubatão/Pilões.
O sistema da Costa Leste/Sul capta água no Parque Municipal da Lagoa do Peri,
onde também localiza-se a Estação de Tratamento de Água (ETA), sendo responsável por
atender as partes médias e altas da região de estudo (Figura 77).
No sistema integrado de Cubatão/Pilões a captação é realizada nos rios Vargem
do Braço e Cubatão, localizados no município de Santo Amaro da Imperatriz, recebendo
tratamento na ETA José Pedro Horstmann, localizada no Morro dos Quadros, no município
de Palhoça. Este último sistema atende a parte plana da área de estudo, situada nas
proximidades da rodovia, a qual liga o centro da cidade ao aeroporto Hercílio Luz, conforme
demonstrado na figura 77.
Figura 77 - Imagem Satélite da área de estudo, apontando a área na qual é atendida pelo sistema de
abastecimento integrado (verde) e a área que é atendida pelo sistema Costa Leste/Sul (rosa).
Fonte Google earth.
70
Após a etapa de tratamento, a água do sistema integrado é bombeada para
reservatórios localizados no Morro da Cruz e a água proveniente do sistema Costa Leste/Sul é
bombeada para os reservatórios distribuídos pela região.
Desses reservatórios, a água tratada é conduzida por gravidade em quantidade e
pressão suficiente através de adutoras, que são tubos geralmente de ferro fundido, com
diâmetro de 400 a 500 mm, atuando como alimentadores do sistema de consumo. A rede
capilar que chega até as residências dos consumidores é constituída pela malha de distribuição
formada por tubos de PEAD (polietileno de alta densidade), com diâmetro variando entre de
300 a 60 mm, sendo formada por conexões e peças especiais.
Segundo o gerente da Superintendência Metropolitana do Meio Ambiente da
Casan, a região de estudo não possui booster – equipamento que bombeia água para atender
os pontos situados em cota acima do reservatório principal. Desta forma o serviço é precário
ou não atende algumas casas localizadas acima da cota do reservatório.
De acordo com o órgão competente o sistema de abastecimento de água oferecido
pela Casan é o único que fornece água tratada aos residentes. Atualmente, este sistema conta
com diversos pontos de ligações, todos com hidrômetros – aparelhos de medição também
conhecidos por “relógio de água”, cuja finalidade é registrar o volume de água consumido
individualmente, permitindo à concessionária realizar a cobrança do serviço através de contas
individualizadas. (SABESP).
Além disso, completa este sistema as denominadas “economias", as quais
abrangem os consumidores de água tratada que não possuem hidrômetro, mas que são
alimentados pela rede, formadas principalmente por moradores de apartamentos.
Através do estudo de percepção ambiental realizado em campo, os moradores
declararam-se satisfeitos com o abastecimento de água fornecido pela Casan. Porém, alguns
constataram que algumas casas não são servidas pelo abastecimento de água da Companhia.
Nestes casos, o abastecimento de água é dado pelo esforço próprio dos moradores, que captam
água de recursos hídricos próximos à região, sem tratamento prévio.
71
5 INVESTIGAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA
A intensa atividade humana decorrente do aumento da densidade populacional
tem aumentado de forma significativa o lançamento de dejetos e resíduos nos corpos d’água
(MELLO, 2009). Esses lançamentos podem causar alterações ao meio e nas características
dos corpos hídricos.
Em vistoria na área de estudo, foi possível perceber que a maioria das residências
que se localizam próximas aos recursos hídricos da região apresentam realidade distante do
que disciplinam leis ambientais para proteção dos recursos hídricos, como o código Florestal
(Lei Federal 12.651/12), que dispõe sobre a proteção da vegetação nativa que tem como umas
das funções ambientais a preservação de recursos hídricos; e, a Resolução do CONAMA nº
430/2011 que dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes.
As construções são muito próximas aos recursos hídricos não respeitando as
áreas de preservação permanente definidas pela legislação, além de existir cursos
d’água canalizados e escondidos em galerias que ficaram por baixo das construções.
Pode-se verificar a existência de lançamentos de efluentes com características
semelhantes a esgotos sanitários (Figura 78). O lançamento de efluentes no corpo receptor
sem tratamento prévio configura o não atendimento à Resolução do CONAMA nº 430/2011,
que ressalta que o recebimento de efluentes sem o prévio tratamento compromete a qualidade
dos corpos d’água e a saúde da população.
Figura 78 – Observação de lançamento de efluentes na Servidão Nelson Serafim Pereira, Costeira do Pirajubaé,
Florianópolis/SC.
Fonte: arquivo próprio.
72
Tratando-se da localidade em questão neste trabalho, inserida no bioma de Mata
Atlântica e parte integrante de manguezal, protegido por Unidade de Conservação de Uso
Sustentável, essa questão se torna ainda mais crítica, pois a Unidade refere-se à categoria de
Reserva Extrativista. O extrativismo é do berbigão, um molusco bivalve, portanto depende da
qualidade do meio para sua reprodução.
A atividade é fonte de renda para aproximadamente 30 famílias que vivem na
localidade (IFSC, s.d.). Estes organismos (berbigão) são alimentícios, comercializados e
consumidos pela população, e, portanto, a má qualidade da água pode levar à sua
contaminação, e ocasionar uma intoxicação alimentar nos consumidores deste molusco. A
intoxicação por toxinas em moluscos bivalves é muito comum no Brasil, necessitando-se de
fiscalização e legislações mais rígidas para impedir o lançamento de efluentes não tratados em
corpos hídricos (IPIMAR, 2002.).
A qualidade da água pode ser determinada através de diversos parâmetros, os
quais representam as suas características físicas, químicas e biológicas. Esses parâmetros
servem de indicadores da qualidade da água e constituem impureza quando alcançam valores
superiores aos estabelecidos para determinado uso (UFV, 2012).
Estudos realizados apresentam que o monitoramento da qualidade da água é um
dos principais instrumentos de sustentação de uma política de planejamento e gestão de
recursos hídricos, visto que funciona como um sensor que possibilita o acompanhamento do
processo de uso dos cursos hídricos, apresentando seus efeitos sobre as características
qualitativas das águas, visando subsidiar as ações de controle ambiental (DIAS, 2010).
Segundo Fernandes (2011), as águas brasileiras têm a sua qualidade (águas
superficiais) determinada conforme os usos a que se destinam, e sua classificação é feita de
acordo com valores de alguns atributos físicos e químicos.
A variabilidade de alguns parâmetros de qualidade da água, em conjunto com a
invariabilidade de outros, demonstra que o ambiente abordado é complexo. Mas os resultados
demonstram, sobremaneira, que estudos convenientemente conduzidos, ainda que simples,
permitem gerar dados que mostram a influência de fatores naturais, sobre a qualidade da água,
como o clima e as marés, e de fatores antropogênicos (SCHULZ,2004).
De acordo com Almeida (2012), as fontes de contaminação antropogênica de
águas subterrâneas são em geral, diretamente associadas a despejos de efluentes domésticos,
industriais, agrícolas e chorume oriundo de aterros de lixo. Sendo assim, pode-se constatar
que os efeitos antrópicos negativos sobre os corpos de água suscitaram a realização de estudos
73
e investigações mais detalhadas, com o objetivo precípuo de identificar e diagnosticar os
impactos e, eventualmente, avaliar o seu nível.
Para a avaliação das condições de qualidade de água determinam-se algumas
variáveis físico-químicas, como: cor, pH, temperatura, turbidez, alcalinidade, dureza total,
dureza em magnésio, dureza em cálcio, fósforo, nitrogênio total e demanda bioquímica de
oxigênio (PAULA, 2005). Entre outras variáveis, Fernandes (2010) cita que alterações na
qualidade da água podem ser identificadas pelo monitoramento de parâmetros de potabilidade
(coliformes totais e/ou termotolerantes, cloro residual livre, nitrato, etc.), que uma vez inter-
relacionados com indicadores de saúde, podem identificar impactos de obras de saneamento
sobre a saúde da população.
Em estudo realizado por Schulz (2004), concentrações de coliformes foram
utilizadas como indicadoras de poluição e respectivo grau de interferência antrópica que
provavelmente tem resultado no desequilíbrio dos ecossistemas aquáticos estudados,
principalmente causados pelos efeitos de lançamento de esgotos e resíduos domésticos em
corpos de água superficiais.
As bactérias do grupo coliformes termotolerantes, principalmente Escherichia
coli, são indicadores biológicos bastante utilizados para avaliação da qualidade da água. Esses
microorganismos estão presentes, em alta densidade, no trato intestinal de animais
homeotérmicos, incluindo humanos, sendo eliminados em grande quantidade nas fezes desses
organismos. Quando encontrados na água indicam a contaminação recente da mesma por
dejetos de origem humana ou outros animais de sangue quente, podendo desta forma,
contaminar a água por microrganismos patogênicos, tornando-se um veículo de transmissão
de doenças (CETESB, 1993).
Além disso, substâncias lançadas na água podem ocasionar atividade tóxica para a
biota local, de acordo com a quantidade e concentração do efluente lançado, alterando as
características do corpo receptor, que pode interferir no ciclo biológico dos organismos
aquáticos presentes. Qualquer substância nociva para um organismo vivo é uma substância
com potencial para causar toxicidade, levando a danos agudos ou crônicos. É muito comum o
uso de ensaios biológicos para avaliar a toxicidade de amostras de água sobre organismos
aquáticos.
Para Mello (2009), a necessidade de uma detecção precoce de danos causados por
esses lançamentos, impulsionou o surgimento de uma nova ciência de caráter multidisciplinar,
que vem sendo reconhecida em nível mundial como capaz de fornecer os instrumentos
necessários à prevenção destes impactos nos ecossistemas: a Ecotoxicologia. Portanto a
74
ecotoxicologia pode ser uma ferramenta de instrumentação legal para proteção da biota em
corpos hídricos.
Visto isso, como forma de verificar a qualidade da água na região em estudo,
através de observações em campo e embasamento na literatura científica, objetivou-se avaliar
a atual situação dos corpos hídricos, com a finalidade de iniciar um trabalho de
monitoramento da qualidade da água no local. Neste contexto, as seguintes hipóteses foram
formuladas:
1. A densidade de coliformes termotolerantes aumenta da nascente
em direção à foz e,
2. Nos pontos onde há lançamento de efluentes existe toxicidade
no corpo hídrico.
5.1 Proteção legal dos recursos hídricos
De acordo com a Resolução CONAMA n. 357/2005 (BRASIL, 2005) o
monitoramento da qualidade da água refere-se à medição ou à verificação dos parâmetros de
qualidade e quantidade de água, de forma continua ou periódica, para o controle e
acompanhamento das condições dos corpos d’água e classificação dos mesmos. Além disso, a
Resolução CONAMA n. 274/2000 (BRASIL, 2000) determina padrões de balneabilidade que
dividem-se nas categorias de água própria e imprópria.
Também, demonstrando preocupações pertinentes à proteção de curso d’ água, o
Código Florestal Brasileiro estabelece como APP às faixas marginais dos recursos hídricos e
áreas no entorno das nascentes e dos olhos d'água, com função ambiental de preservá-los.
A Lei considera a APP com relação às faixas marginais dos recursos hídricos:
Art. 4 Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais
ou urbanas, para os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d'água natural, desde a borda
da calha do leito regular, em largura mínima de:
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d'água de menos de 10 (dez)
metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d'água que tenham de 10
(dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d'água que tenham de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
Já no que se refere às nascentes como: “áreas no entorno das nascentes e dos olhos
d'água, qualquer que seja a sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros”.
75
Com relação ao lançamento de efluentes, a legislação brasileira está amparada na
Resolução CONAMA n. 430 de 13 de maio de 2011 (BRASIL, 2011), que dispõe sobre
condições, parâmetros, padrões e diretrizes para gestão do lançamento de efluentes em corpos
de água receptores. Nesta resolução, são adotadas certas definições para análise do tipo de
efluente e do tratamento exigido. Sendo eles:
I- Capacidade de suporte do corpo receptor: valor máximo de
determinado poluente que o corpo hídrico pode receber, sem
comprometer a qualidade da água e seus usos determinados pela
classe de enquadramento;
II - Concentração de Efeito Não Observado-CENO: maior
concentração do efluente que não causa efeito deletério
estatisticamente significativo na sobrevivência e reprodução dos
organismos, em um determinado tempo de exposição, nas condições
de ensaio;
III - Concentração do Efluente no Corpo Receptor-CECR, expressa em porcentagem:
a) para corpos receptores confinados por calhas (rio, córregos, etc):
1. CECR = [(vazão do efluente) / (vazão do efluente + vazão de
referência do corpo receptor)] x 100.
(...) IV - Concentração Letal Mediana-CL50 ou Concentração Efetiva
Mediana-CE50: é a concentração do efluente que causa efeito agudo
(letalidade ou imobilidade) a 50% dos organismos, em determinado
período de exposição, nas condições de ensaio;
O Art. 16 da mesma Resolução define condições e padrões para o lançamento de
efluentes de qualquer fonte poluidora, declarando que somente poderão ser lançados
diretamente no corpo receptor desde que obedeçam as condições e padrões previstos na
mesma, conforme abaixo:
I - condições de lançamento de efluentes:
a) pH entre 5 a 9;
b) temperatura: inferior a 40°C, sendo que a variação de temperatura
do corpo receptor não deverá exceder a 3°C no limite da zona de
mistura;
c) materiais sedimentáveis: até 1 mL/L em teste de 1 hora em cone
Inmhoff. Para o lançamento em lagos e lagoas, cuja velocidade de
circulação seja praticamente nula, os materiais sedimentáveis deverão
estar virtualmente ausentes;
76
d) regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vez a vazão
média do período de atividade diária do agente poluidor, exceto nos
casos permitidos pela autoridade competente;
e) óleos e graxas:
1. óleos minerais: até 20 mg/L;
2. óleos vegetais e gorduras animais: até 50 mg/L;
f) ausência de materiais flutuantes; e
g) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO 5 dias a 20°C): remoção
mínima de 60% de DBO sendo que este limite só poderá ser reduzido
no caso de existência de estudo de autodepuração do corpo hídrico que
comprove atendimento às metas do enquadramento do corpo receptor.
Com relação à toxicidade, a mesma Resolução propõe em seu art. 18 que “o
efluente não deverá causar ou possuir potencial para causar efeitos tóxicos aos organismos
aquáticos no corpo receptor, de acordo com os critérios de ecotoxicidade estabelecidos pelo
órgão ambiental competente”, e mesmo na ausência de critérios de ecotoxicidade
estabelecidos pelo órgão ambiental para avaliar o efeito tóxico do efluente no corpo receptor,
a Resolução propõe as seguintes diretrizes:
I - para efluentes lançados em corpos receptores de água doce Classes
1 e 2, e águas salinas e salobras Classe 1, a Concentração do Efluente
no Corpo Receptor-CECR deve ser menor ou igual à Concentração de
Efeito Não Observado-CENO de pelo menos dois níveis tróficos, ou
seja:
a) CECR deve ser menor ou igual a CENO quando for realizado teste
de ecotoxicidade para medir o efeito tóxico crônico; ou
b) CECR deve ser menor ou igual ao valor da Concentração Letal
Mediana (CL50) dividida por 10; ou menor ou igual a 30 dividido
pelo Fator de Toxicidade (FT) quando for realizado teste de
ecotoxicidade para medir o efeito tóxico agudo;
II - para efluentes lançados em corpos receptores de água doce Classe
3, e águas salinas e salobras Classe 2, a Concentração do Efluente no
Corpo Receptor-CECR deve ser menor ou igual à concentração que
não causa efeito agudo aos organismos aquáticos de pelo menos dois
níveis tróficos, ou seja:
a) CECR deve ser menor ou igual ao valor da Concentração Letal
Mediana-CL50 dividida por 3 ou menor ou igual a 100 dividido pelo
Fator de Toxicidade-FT, quando for realizado teste de ecotoxicidade
aguda.
5.2 Avaliação da qualidade da água
Para verificação das hipóteses levantadas foram utilizados dois indicadores de
qualidade de água, a colimetria e os estudos ecotoxicológicos.
Para a avaliação das condições sanitárias de uma água através da colimetria,
utilizam-se bactérias do grupo coliforme, que atuam como indicadores de poluição fecal, pois
estão sempre presentes no trato intestinal humano e de outros animais de sangue quente,
sendo eliminadas em grandes números pelas fezes (CETESB, 1993). Porém, o grupo dos
77
coliformes totais não abrange apenas organismos de origens fecais, analisando-se então, para
tais fins, um subgrupo denominado de coliformes fecais ou termotolerantes, que fermentam a
lactose a 44,5±0,2 ºC em 24h.
Embora a utilização dos coliformes termotolerantes, em substituição aos totais,
tenha determinado uma melhoria significativa na detecção da contaminação fecal, logo se
tornou evidente a existência de outros coliformes termotolerantes além de E. coli
(principalmente Klebsiella), os quais, por não serem de origem exclusivamente fecal,
comprometiam a especificidade deste grupo para a finalidade proposta (CETESB, 1993). Em
decorrência disto, as tendências atuais se direcionam para a detecção específica de E. coli, que
é o único componente do grupo coliforme de origem exclusivamente fecal (CETESB, 1993).
Além disso, a E. coli são incapazes de se multiplicar no ambiente aquático e duram cerca de
uma semana, isso significa que se for encontrado contaminação por E. coli no recurso hídrico,
necessariamente esse curso dágua recebeu dejetos de animais de sangue quente
recentemente.
Já a ecotoxicologia é definida como a ciência que estuda os efeitos das substâncias
naturais ou sintéticas sobre os organismos vivos, populações e comunidades, animais ou
vegetais, terrestres ou aquáticos, que constituem a biosfera, incluindo assim a interação das
substâncias com o meio nos quais os organismos vivem num contexto integrado (PLAA,
1982; CAIRNS; NIEDERLEHNER 1995 citado por ZAGATTO; BERTOLETTI, 2006).
A estimativa de toxicidade dessas substâncias é realizada através dos testes de
toxicidade, que são ensaios laboratoriais, realizados sob condições experimentais específicas e
controladas. Nesses ensaios, organismos-testes são expostos a diferentes concentrações de
amostra e os efeitos tóxicos produzidos sobre eles são observados e quantificados (RIBO,
1997; DORNFELD, 2002 citado por COSTA et al., 2008)
5.3 Metodologia
Como forma de realizar a avaliação da qualidade da água com rigor científico,
foram utilizados métodos validados de amostragem e de análises laboratoriais. A metodologia
inclui cinco aspectos específicos, sendo eles: plano de amostragem, coleta das amostras,
método de tubos múltiplos e de Colilert para colimetria e teste agudo, para toxicidade.
78
5.3.1 Plano de amostragem
As amostras de água para análises de colimetria e toxicidade foram coletadas em
cinco pontos da nascente à foz de um recurso hídrico que atravessa a área estudada (Figura
79), desde a parte mais elevada (embasamento cristalino) até a jusante onde há o encontro do
corpo d’água com o Manguezal do Rio Tavares (planície costeira). Os pontos de coleta estão
identificados como P1, P2, P3, P4 e P5, sendo P1 mais à montante e P5 mais à jusante.
Figura 79 – Mapa com a localização dos pontos de coleta de água para análise de colimetria e toxicidade aguda.
Fonte: Geoprocessamento Corporativo da Prefeitura municipal de Florianópolis
A escolha dos pontos de coleta se deu devido à facilidade de acesso, a perenidade
do corpo d’água e ainda pela possibilidade de análise do recurso hídrico desde sua nascente
até a foz, a fim de responder as hipóteses levantadas.
Dessa forma, as coletas das amostras seguiram o desenho amostral previamente
definido (Figura 80), sendo em cada ponto coletado três amostras: duas para colimetria (uma
para metodologia de Tubos Múltiplos e uma para metodologia de Colilert®) e uma para o
teste de toxicidade aguda.
79
Figura 80 – Desenho amostral da avaliação da qualidade de água.
5.3.2 Coleta das amostras
As coletas foram realizadas no dia 01 de julho de 2013 das 14h30min às 17h.
Durante o período de coleta as condições do tempo eram nubladas e a temperatura média na
cidade de Florianópolis era de 16 ºC (Clima tempo, 2013).
As amostras de água foram coletadas manualmente (Figura 81), seguindo
recomendações da CETESB (1993) para análise microbiológica. Movimentou-se o frasco
horizontalmente em relação à subsuperfície, utilizando-se frascos de polietileno previamente
autoclavados à temperatura de 121ºC. Para análise ecotoxicológica seguiram-se as
recomendações da ABNT (2009). Preencheu-se o frasco totalmente para minimizar a presença
de ar, utilizando-se frascos de material que não interfira nos resultados do ensaio.
80
a) b) c)
d) e)
Figura 81 – Coleta das amostras: a) Coleta no Ponto 1; b) Coleta no Ponto 2; c) Coleta no Ponto 3; d) Coleta no
Ponto 4; e) Coleta no Ponto 5.
Fonte: Arquivo próprio.
Em seguida, as amostras de colimetria e ecotoxicologia foram transportadas
imediatamente para os Laboratórios de Microbiologia e de Ecotoxicologia do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina e para o Laboratório Integrado de Meio
Ambiente (LIMA) da Universidade Federal de Santa Catarina. As amostras de colimetria
foram armazenadas em isopor refrigerado e analisadas imediatamente após coleta. As
amostras de ecotoxicologia também foram armazenadas em isopor refrigerado e analisadas
após coleta, exceto para os pontos 4 e 5, onde foram mantidas refrigeradas por oito dias até
realização dos testes com as mesmas.
5.3.3 Método de Tubos Múltiplos
Em laboratório, as amostras foram submetidas à análise para a determinação do
NMP (Número Mais Provável) de coliformes totais e termotolerantes. O procedimento
analítico baseou-se na técnica de tubos múltiplos. Esta técnica é baseada no princípio de que
81
as bactérias presentes em uma amostra podem ser separadas por agitação, resultando em uma
suspensão de células bacterianas uniformemente distribuídas na amostra. A técnica consiste
na inoculação de volumes decrescentes da amostra em meio de cultura adequado ao
crescimento dos microrganismos pesquisados, sendo cada volume inoculado em uma serie de
tubos (Figura 82). Através de diluições sucessivas da amostra, são obtidos inóculos, cuja
combinação de resultados positivos e negativos permite a obtenção de uma estimativa da
densidade das bactérias pesquisadas, através da aplicação de cálculos de probabilidade
(CETESB, 2007).
Figura 82 – Esquema explicativo do Método de Tubos Múltiplos.
Fonte: NAU, A. S.; et. al., 2011.
A técnica dos Tubos Múltiplos foi aplicada durante as análises utilizando-se séries
de 5 tubos em três diferentes diluições. Para os pontos 1, 2 e 3 utilizou-se 10-1
(1ml desta
82
diluição equivale a 0,1ml da amostra), 10
-2 (1ml desta diluição equivale a 0,01ml da amostra)
e 10-3
(1ml desta diluição equivale a 0,001ml da amostra). Já para os pontos 4 e 5 utilizou-se
10-2
(1ml desta diluição equivale a 0,01ml da amostra), 10-3
(1ml desta diluição equivale a
0,001ml da amostra) e 10-4
(1ml desta diluição equivale a 0,0001ml da amostra).
Inicialmente foram preparadas as diluições (Figura 83) decimais da amostra,
assim para o preparo da diluição de 10-1
, 10 ml da amostra bruta foi adicionado a um fraco
contendo 90 ml de água de diluição, após homogeneização do frasco contendo a primeira
diluição foram transferidos novamente 10 ml desse para outro frasco para obtenção da
diluição 10-2
. Procedeu-se nesta sequência até obtenção da diluição desejada.
Figura 83 – Preparo das diluições das amostras.
Fonte: Arquivo próprio.
Para o teste presuntivo preparou-se o Caldo Lauryl Triptose (CLT), meio de
enriquecimento para bactérias, rico em açúcares. Após inoculação (Figura 84), incubaram-se
os tubos em estufa a uma temperatura de 35±0,5 ºC, por 48h. Depois desse período a leitura
foi realizada considerando positivos os tubos de ensaio turvos, com ou sem formação de gás
nos tubos de Durham.
83
Figura 84 – Inoculação das amostras diluídas.
Fonte: Arquivo próprio.
Já para o teste confirmativo preparou-se o Caldo Lactosado com Bile Verde
Brilhante (VB), meio este seletivo em que ocorre a inibição do crescimento de bactérias gram-
positivas e esporuladas, favorecendo apenas o desenvolvimento das gram-negativas e
entéricas. Os tubos positivos de CLT foram repicados (Figura 85) para o VB e incubados em
estufa novamente a uma temperatura de 35±0,5 ºC por 48h. Preparou-se ainda o Meio EC
(EC), meio seletivo para determinação de coliformes termotolerantes que inibem o
crescimento de bactérias gram-positivas e esporuladas, cuja temperatura de incubação permite
a seleção dos coliformes de origem fecal. Da mesma forma que foram repicados para o VB,
os tubos de CLT positivos também foram repicados para o EC e incubados em banho-maria
numa temperatura de 44,5±0,2 ºC, por 24h.
Figura 85 – Repicagem dos tubos de CLT positivos para o VB e EC.
Fonte: Arquivo próprio.
Depois de incubados por 24h (meio EC) e 48h (meio VB), observou-se a turbidez
e a presença obrigatória de gás no interior dos tubos Durham. Tubos com estas características
foram considerados positivos.
84
Com base nos números de tubos positivos, o NMP de coliformes totais e
termotolerantes por 100 ml foram determinados com o auxílio de uma tabela de Número Mais
Provável encontrada na Norma da CETESB/L5.202, em que são dados os limites de confiança
de 95% para cada valor determinado e o índice NMP/100 ml. Como a tabela utilizada traz os
índices NMP em outras diluições, foi necessário o uso da fórmula a seguir para obter o
calculo do NMP nas diluições utilizadas (0,1 mL; 0,01 mL; 0,001 mL e 0,0001 mL):
NMP/100 mL= Código NMP X10/> Volume inoculado
5.3.4 Método Colilert®
Simultaneamente ao método de Tubos Múltiplos realizou-se análise de colimetria
através do método Colilert®, a fim de comparar os resultados encontrados entre duas
diferentes metodologias.
O método Colilert® é um ensaio criado especificamente para contagem do NMP
de E. coli e bactérias do grupo coliformes em água. A técnica utiliza tecnologia de substrato
definido [Defined Substrate Technology® (DST®)] para detecção desses microorganismos,
sendo composto de dois nutrientes indicadores, o-nitrofenil-β-D-galactopiranosídeo (ONPG)
capaz de ser degradado pela enzima de composição dos coliformes totais, β-D-galactosidase,
produzindo então o-nitrofenol, produto de coloração amarela. O segundo nutriente indicador
presente é o β-D glucuronídeo (MUG) que possui a capacidade de ser degradado pela enzima
β-glucuronidase do E.coli resultando na formação do produto fluorescente 4-metil-
umbeliferona. As poucas bactérias, que não pertencem ao grupo dos coliformes, que têm estas
enzimas são seletivamente suprimidas pela matriz especificamente formulada do Colilert. Esta
abordagem diminui a incidência de falso-positivos e falso-negativos. Enquanto que as que não
possuem tal enzima, não podem se reproduzir nem interferir nos resultados (IDEXX, 2008). A
figura 86 ilustra a reação envolvida na metodologia de Colilert®:
85
Figura 86 – Reações envolvida na metodologia de Colilert®.
Fonte: IDEXX, 2008.
A técnica foi empregada nas amostras coletadas nos 5 pontos. O procedimento
iniciou com a preparação das diluições decimais das amostras, conforme figura 87, assim
como na técnica de tubos múltiplos. Para amostras dos pontos 1, 2 e 3 foram realizadas
apenas a diluição de 10-1
(10 ml da amostra bruta foi adicionado a um frasco contendo 90 mL
de água de diluição) e para os pontos 4 e 5 a técnica foi realizada com diluições de 10-2
(1ml
desta diluição equivale a 0,01ml da amostra).
Figura 87- Preparação das diluições das amostras para quantificação de coliformes totais e E. coli pelo método
Colilert® .
Fonte: Arquivo próprio.
Após o preparo das diluições, o substrato DST® foi adicionado aos frascos e
agitado para homogeneização das amostras. O líquido foi transferido para a placa Quanti-
Tray® contendo cavidades, e cada placa foi selada com auxilio de uma seladora. As placas
contendo as amostras foram incubadas por 24h a uma temperatura de 35˚C. Os resultados
foram fornecidos pela coloração e fluorescência das amostras. As cavidades contendo
86
amostras com coloração amarela evidenciaram a presença de coliformes totais e as que
apresentavam fluorescência, quando submetidas à luz ultravioleta a 365nm, confirmaram a
presença de E. coli. Os procedimentos podem ser observados na figura 88.
Figura 88 - Procedimetos do método de Colilet®: (a) adição do substrato DST®; (b) trasferencia da amostra
para placa Quanti-Tray®; (c) Placa passando pela seladora; (D) placa dentro da estufa e: (e) leitura dos
resultados com auxilio da luz ultravioleta.
Fonte: Arquivo próprio.
Com obtenção dos números de cavidades positivas (amarelos para Coliformes
totais e azuis fluorescente para E.coli) obtém-se o número mais provável (NMP) que permite
calcular o número de microorganismos específicos numa amostra de água, utilizando a tabela
de probabilidade com limite de confiança de 95% (IDEXX, 2008) e a fórmula a seguir para
obter o calculo do NMP nas diluições utilizadas (0,1 mL e 0,01 mL):
NMP/100 mL= Código NMP X Fator de Diluição
5.3.5 Teste agudo de toxicidade
Em laboratório, as amostras foram submetidas à análise ecotoxicológica. O
procedimento analítico baseou-se no método de ensaio para Daphnia magna. O princípio do
método, em geral, consiste na exposição de organismos jovens do organismo-teste cultivado,
a várias diluições da amostra por um período de 48h (Figura 89), este teste é estático e sem
fornecimento de alimento (ABNT, 2009).
87
a)
b) c)
Figura 89 – Teste de toxicidade aguda. a) Esquema do teste de toxicidade aguda com Daphnia magna. Fonte:
Adaptado de Brentano (2006); b) Preparo do teste. Fonte: Arquivo pessoal; c) Inserção dos organismos - teste.
Fonte: Arquivo próprio.
Para execução do ensaio foram utilizados neonatos de 2 à 26h, de lotes que
tiveram suas sensibilidades analisadas e encontraram-se dentro dos limites estabelecidos pela
carta-controle elaborada pelo Laboratório de Ecotoxicologia do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Santa Catarina.
Utilizando informações conhecidas das amostras preparou-se uma série de 5
soluções-teste intermediárias de razão de diluição de 2, conforme quadro 3. Preparou-se
também um controle para cada teste executado, contendo somente água de diluição, também
chamado de meio ISO descrito na norma ISO 6341 (ISO, 1996), e os organismos-teste. Para
cada diluição e controle foram adicionados 20 organismos, distribuídos em duas replicatas. Os
organismos foram transferidos para as soluções-teste de forma aleatória, evitando a alteração
da concentração final das mesmas.
88
Solução-teste
%
Fator de
diluição
Volume de
amostra
mL
Volume de água
de diluição mL
Volume final
mL
100 1 100 - 100
50 2 50 50 100
25 4 25 75 100
12,5 8 12,5 87,5 100
6,25 16 6,5 93,8 100 Quadro 3 - Volume da amostra para preparo das soluções-teste.
Fonte: ABNT, 2009.
O ensaio foi mantido entre 20±2ºC por 48h, em ambiente escuro e sem
alimentação dos organismos. Após as primeiras 24h, foi realizada a leitura do teste,
observando e registrando o número de organismos imóveis. E novamente mantido em
ambiente escuro e sem alimentação por mais 24h, repetindo a leitura do teste no final desse
período.
Os resultados foram expressos em fator de toxicidade (FT), menor diluição da
amostra na qual não se observa efeito deletério sobre os organismos-teste. Sendo que os
resultados foram calculados tanto nas primeiras 24h quanto no final do ensaio.
O FT foi determinado através da observação direta da imobilidade dos organismos
na série de soluções-teste, não sendo calculada estatisticamente. O resultado do FT foi
expresso por um número inteiro.
5.4 Análise dos resultados
A partir das análises realizadas, foram encontrados os seguintes resultados:
Pontos
Tubos Múltiplos Colilert® Toxicidade Aguda
Coliformes
Totais
(NMP/100 mL)
Coliformes
Termotolerantes
(NMP/100 mL)
Coliformes
Totais
(NMP/100 mL)
Escherichia Coli
(NMP/100 mL)
FT
Salinidade
(ppm)
P1 800 < 200 15531 160 1 (não tóxico) -
P2 11000 1700 15531 109 1 (não tóxico) -
P3 2600 200 15531 130,4 1 (não tóxico) -
P4 140000 2000 241920 15650 2 8
P5 170000 30000 241920 30760 2 11 Quadro 4 - Dados obtidos através da análise das amostras coletadas em 5 pontos, da nascente a foz da área de
estudo.
89
O gráfico 1 ilustra os dados obtidos após análise de colimetria (coliformes totais,
coliformes termotolerantes e E. coli) para as amostras dos cinco pontos coletados.
1
10
100
1000
10000
100000
1000000
P1 P2 P3 P4 P5
NM
P c
oli
f./1
00
mL
Pontos
Densidade de Coliformes
Colif. Totais - Met. Tubos Múltiplos
Colif. Termotolerantes - Met. Tubos Múltiplos
E. coli - Met. Colilert
CL2 doce = 1000 NMP/100 mL e CL1 salobra= 1000 NMP/100 mL
Gráfico 1 – Dados de colimetria para os cinco pontos coletados, com linha demarcando o limite estabelecido
para enquadramento do curso d‟ água em Classe 2 para água doce e Classe 1para água salobra.
Em relação à densidade de coliformes termotolerantes, percebeu-se o aumento à
medida que as coletas se afastaram da nascente em direção à foz do recurso hídrico,
corroborando a hipótese levantada. Isso se dá provavelmente pelo fato de que os três
primeiros pontos de coleta localizam-se mais afastados dos locais com adensamento urbano,
diferente dos pontos 4 e 5, onde observa-se um aumento na densidade de residências. Quanto
maior o número de residências, maior a probabilidade de lançamentos de efluentes no corpo
d‟água, principalmente domésticos, ainda mais pelo fato da área em questão ser carente de
rede coletora de efluente. O decaimento encontrado no ponto 3 é provável reflexo da
depuração do recurso hídrico em uma área preservada sem a possibilidade de lançamento de
efluente.
De acordo com a Resolução CONAMA n. 357/2005 (BRASIL, 2005) que
estabelece diferentes classes de qualidade dos recursos hídricos, que são padrões de qualidade
da água para atender a usos preponderantes, o corpo d’água em questão, se enquadra na
Classe 2 para águas doces e Classe 1 para salobras (art. 42). Para um recurso hídrico
classificar-se neste enquadramento, deve apresentar um limite máximo de concentração de
1000 NMP/100mL de coliformes termotolerantes para águas doces e salobras. Diante disso,
os pontos 1 e 3 estão de acordo com os limites estabelecidos pela legislação, entretanto os
pontos 2, 4 e 5 estão em desacordo.
90
Se tratando em questões relacionadas à recreação de contato primário, a
Resolução CONAMA n. 274/2000 (BRASIL, 2000) estabelece padrões de balneabilidade,
considerando as águas impróprias para esse uso, quando no trecho avaliado forem obtidos
valores superiores a 2500 coliformes termotolerantes ou 2000 Escherichia coli ou 400
enterococos por 100 mililitros.
Vale lembrar que tanto para classificar as águas quanto para determinar os padrões
de balneabilidade seria necessário um plano amostral mais amplo, incluindo maior número de
coletas e variação temporal.
Ao comparar os métodos de Tubos Múltiplos e Colilert®, pode-se perceber que os
resultados foram semelhantes para os pontos 2 e 5. Porém, houve divergência para os pontos
1 e 3 em relação aos coliformes totais. E ainda, no ponto 4 o resultado de E. coli foi superior
ao de termotolerantes, não condizendo com o esperado, visto que por se tratar de um subgrupo
do grupo de bactérias termotolerantes, deveria ser inferior ou igual a este.
Com relação à toxicidade, apenas os pontos 4 e 5 mostraram-se tóxicos.
Entretanto, há de se levar em consideração que os mesmos apresentaram valores de salinidade
de 8 ppm e 11 ppm respectivamente, enquadrando-se segundo Resolução do CONAMA n.
357/2005 como água salobra (salinidade superior a 5 ppm e inferior a 30 ppm). O organismo-
teste utilizado para análise é de água doce, a salinidade da amostra pode desta forma
influenciar na imobilidade dos mesmos, pois seus efeitos podem ser fisiológicos-osmóticos e
não necessariamente tóxicos.
Visto isso, torna-se necessário utilizar um organismo-teste tolerante a salinidade,
para então verificar se há ou não algum efluente tóxico interferindo na dinâmica do recurso
hídrico, já que pôde-se observar in loco a existência de lançamentos de efluentes que podem
causar toxicidade. Em função da salinidade encontrada, há confusão com relação ao que
estaria causando toxicidade aos organismos, podendo tanto ser os sais dissolvidos quanto
elementos tóxicos presentes nos efluentes lançados, como observado a campo.
As análises de qualidade de água realizadas, juntamente com as observações em
campo, certificam a influência das atividades humanas no corpo hídrico, a qual prejudica a
qualidade do mesmo. Porém, é válido lembrar que para uma avaliação correta da qualidade do
recurso hídrico seria necessário um monitoramento periódico, incluindo maior variação
espacial e temporal.
91
6 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Concomitantemente ao levantamento de informações e diagnóstico técnico das
questões socioambientais na área de estudo, foi realizado um estudo de percepção ambiental
da população residente no entorno do Trevo da Seta, a fim de estruturar futuras ações de
educação ambiental na região, bem como organizar uma atividade educativa como fruto
concreto deste PI, junto à comunidade.
6.1 Perspectiva de Educação Ambiental
Desde a década de 70, a educação ambiental vem ganhando cada vez mais espaço
nas discussões relacionadas à preservação do meio ambiente. A princípio, ela foi colocada
como atividade fundamental em documentos internacionais, os quais mostravam preocupação
com o futuro da Terra. Mais tarde, com a institucionalização da Política Nacional de
Educação Ambiental (BRASIL, Lei n° 9.795) passou a estar presente em todos os níveis e
modalidades de ensino, tendo como um de seus principais objetivos o de capacitar pessoas
para a participação ativa na defesa ao meio ambiente.
Desde então, a educação ambiental tem aparecido em diversos discursos e
documentos oficiais, ora com objetivos claros de conservação dos ambientes naturais, ora
com o discurso da conscientização como forma de garantir a preservação do meio ambiente.
Com o tempo, a questão passou a aglutinar interesses diversos, como a possibilidade de
finitude dos recursos naturais e o direito comum à saúde e à vida.
Atualmente, o debate em torno da educação ambiental carrega muitas
perspectivas, ampliando-se assim a forma de pensá-la e de fazê-la, conforme observado em
estudos de diversos autores, entre eles o de Sauvé (2005). A autora elaborou “uma cartografia
das correntes em educação ambiental”, demonstrando que existem diferentes maneiras de
conceber e praticar a educação ambiental, reconhecendo que o caminho escolhido para
realizá-la pode ser constituído pelas experiências dos sujeitos.
De uma forma geral, a reflexão sobre o assunto vem sendo pautada no atual modo
de vida e na forma exploratória como o homem se relaciona com o meio ambiente,
produzindo e consumindo artigos desnecessários e prejudiciais a todo tipo de vida. Reigota
(1994, p.10) afirma que “a educação ambiental deve ser entendida como educação política, no
sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para exigir justiça social, cidadania
nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza”. Para o autor o
92
componente reflexivo da educação ambiental é tão importante quanto o ativo ou o
comportamental.
Alguns autores avaliam que as práticas de educação ambiental na atualidade
refletem o reducionismo com que a questão é tratada pelo nosso estilo de vida capitalista.
Exemplos disso são as propostas de reciclagem muito presentes nos discursos e projetos de
educação ambiental. Numa perspectiva de formação política, Layrargues (2002) suscita alguns
questionamentos, defendendo que a propaganda da reciclagem pretende mais uma mudança
de comportamento relacionada às técnicas de disposição do lixo, do que a reflexão sobre a
mudança dos valores culturais que sustentam o estilo de produção e consumo da sociedade
moderna. O autor aprofunda a discussão levantando questões como a prática subversiva da
redução do consumo - em uma sociedade explicitamente consumista - e o deslocamento do
consumo material para o não material, como a cultura e a educação.
Barcelos(2004) discute que a educação ambiental no Brasil tem ocorrido muito
bem fora das escolas, pois o próprio País apresenta uma riqueza de diversidades culturais,
além de grandes cidades que representam “miniaturas do mundo”. Sugere ainda que a
educação ambiental permite contribuições pedagógicas e filosóficas para a educação como um
todo, devido à existência deste diálogo constante com as diversidades de realidades que se
nos apresentam.
Por fim, destaca-se que a educação em si é uma palavra carregada de
complexidades, caracterizando-se principalmente como um processo pelo qual as sociedades
reproduzem aquilo que acreditam ser importante para garantir sua cultura e a sua própria
subsistência. Desta forma, Barcelos(2004) coloca de forma brilhante e sutil a proposição de
temas geradores que podem permear toda a educação, como a solidariedade, a fraternidade, o
amor e a tolerância, entendendo os mesmos como valores a serem perseguidos para a
construção de um mundo com pessoas mais felizes.
6.2 Percepção Ambiental
Partindo-se do princípio de que o conhecimento prévio a respeito de uma
determinada comunidade ou grupo social é uma estratégia fundamental para a execução de
ações educativas e/ou sociais nestes meios, assume-se consequentemente, que a realização de
estudos de percepção ambiental é um ponto chave para o início de intervenções e proposições
de trabalhos socioambientais nos variados tipos de comunidades. Tais estudos têm sido
estruturados com base nos aspectos que envolvem a relação do ser humano com o ambiente, a
93
fim de se compreender as interações existentes entre os fatores sociais, econômicos, políticos,
culturais e ambientais de uma localidade ou grupo. Conforme Marin(2003), a percepção
ambiental tem sido estudada, na maioria dos casos, mediante o levantamento de conceitos de
meio ambiente e de fenômenos e problemas ambientais, porém a autora considera
reducionistas os estudos de percepção ambiental que buscam apenas por conceitos. A autora
sugere que há uma riqueza potencial nos aspectos culturais e históricos dos ambientes em que
são realizadas, e que portanto, “o conhecimento sobre o histórico da transformação da
paisagem e da construção de espaços habitados e o contato com as pessoas representam,
portanto, instrumentos valiosos para sensibilização” (MARIN, 2003, p. 619).
Como exemplo desta prática de pesquisa, podemos citar o trabalho de Vargas et.
al. (2002), em que os autores apresentam os resultados preliminares de uma pesquisa
interdisciplinar sobre “percepção social da água”. O grupo de pesquisa elaborou um
diagnóstico da situação concreta dos recursos hídricos de sua região, realizou uma análise
aprofundada da percepção dos usuários residenciais, e uma avaliação da perspectiva das
lideranças políticas, econômicas e sociais que atuam nas esferas local e regional. O
trabalho buscou descrever e analisar o grau de informação, as atitudes, as práticas e a
avaliação que usuários domésticos de diferentes camadas sociais fazem de aspectos centrais
da água, a partir de entrevistas. A percepção ambiental fez parte desse trabalho como “área
interdisciplinar que investiga os vínculos existentes entre as atitudes, os valores e as práticas
de indivíduos e grupos em relação ao meio ambiente (natural e construído) e as respectivas
maneiras de perceber o mundo exterior.” (VARGAS et. al., 2002, pg.4).
Outros trabalhos sobre educação ambiental sugerem que as análises de percepção
ambiental permitem elaborar e conduzir os programas de educação ambiental e de gestão
ambiental com maior êxito, assim como propõe Palma(2005), ao lembrar que a pesquisa de
percepção ambiental pode ser utilizada nas mais variadas áreas do conhecimento e com esta
análise pode-se determinar as necessidades de uma população e propor melhorias. Em sua
dissertação, Ivone Palma descreve uma pesquisa que teve como título “Percepção ambiental
dos usuários em relação ao Parque Farroupilha”, e entre os resultados da pesquisa, a autora
destaca um alto grau de valorização perante aos usuários, a preocupação dos usuários com a
qualidade de vida e como melhorá-la, e ainda a disponibilidade dos mesmos em participar de
projetos de educação ambiental, ou ainda do trabalho voluntário em projetos de educação
ambiental.
A realização de pesquisas sobre a percepção que os indivíduos têm sobre o meio
em que vivem necessita, portanto, considerar os aspectos psicológicos, pois tal percepção
94
encontra-se intimamente ligada ao entendimento subjetivo que cada um constrói, sente ou
percebe do meio em que vive. Neste sentido, considerando a própria definição do termo
percepção, o qual carrega consigo significados como combinação de sentidos no
reconhecimento de objetos, recepção de estímulos, intuição e ideias, Marin(2003) destaca que
tal embasamento semântico enfatiza conceitualmente o campo psicológico, revelando que a
percepção não se dá, portanto, unicamente pela via racional, mas sim, através de um amplo
caminho onde se cruzam imaginação, contemplação e reflexão.
Portanto, torna-se imprescindível refletir sobre a complexidade de se trabalhar
com a percepção ambiental para o início e a manutenção de atividades e/ou pesquisas nesse
campo. A reflexão deve abranger o planejamento da pesquisa e das perguntas, bem como a
atuação dos pesquisadores em campo, os quais devem ter clareza de seus objetivos, postura e
modos de se realizar as abordagens pessoais.
Ainda neste contexto, para o planejamento da pesquisa e análise da percepção
ambiental individual – colocada em forma de respostas pessoais - torna-se necessário atentar
às questões e temáticas sociais, ambientais e culturais, que estejam além do discurso centrado
no senso comum. Sendo assim, a percepção ambiental vai à gênese da existência e descreve os
múltiplos modos de vida reveladores do real sentido de inserção do ser humano no seu
ambiente. Conforme afirma Palma (2005):
A percepção ambiental, sendo usada como um instrumento da educação ambiental,
poderá ajudar na defesa do meio natural, pois ela aproxima o Homem da sua
verdadeira “ casa” , a natureza, despertando-o para o cuidado e o respeito para com a
Terra. Com isso, podemos ter qualidade de vida para todos e para as novas gerações.
(PALMA, 2005, pag.19)
É somente na redescoberta de novos modos de viver e de se relacionar com a
natureza, o lugar habitado e a coletividade, que se pode ancorar uma postura sensível e pró-
ativa, e uma discursividade enraizada e crítica, capaz de gerar o comprometimento das
pessoas, que são foco da educação ambiental (MARIN, 2003).
6.3 Metodologia da pesquisa
Considerando que a participação dos moradores de uma região ou localidade na
resolução de seus problemas ambientais é ato que constitui seu direito e dever, e que,
compreender suas necessidades, angústias e conflitos permite contribuir na resolução dos
mesmos, nossa equipe optou por realizar uma análise da percepção ambiental da
comunidade
95
que vive e/ou trabalha na área de estudo. Essa análise foi viabilizada através da aplicação de
entrevista qualitativa semiestruturada com alguns moradores e comerciantes, procurando
retratar as diversas realidades construídas por estes sujeitos, como resultado de suas relações
com o meio.
Boni e Quaresma (2005) sugerem que na realização deste tipo de pesquisa
estamos em busca de informações não diretas, sob domínio daquelas pessoas que de uma
maneira ou de outra, constroem a realidade em que vivem:
A entrevista como coleta de dados sobre um determinado tema científico é a técnica
mais utilizada no processo de trabalho de campo. Através dela os pesquisadores
buscam obter informações, ou seja, coletar dados objetivos e subjetivos. Os dados
objetivos podem ser obtidos também através de fontes secundárias tais como:
censos, estatísticas, etc. Já os dados subjetivos só poderão ser obtidos através da
entrevista, pois que, eles se relacionam com os valores, às atitudes e às opiniões dos
sujeitos entrevistados. (BONI E QUARESMA, 2005, pg.72)
O planejamento da entrevista deve considerar todas as variáveis possíveis,
tanto na identificação dos locais a serem visitados, como o número mínimo de entrevistas, os
documentos prévios que serão apresentados aos entrevistados, a autorização de uso de
respostas gravadas, bem como a preparação do roteiro ou formulário contendo todas as
questões importantes. (LAKATOS, 1996 citado por BONI E QUARESMA, 2005, pg.72)
As questões elaboradas para esta pesquisa foram definidas com um cuidado
especial que permitisse ao entrevistador entabular uma conversa com o entrevistado, com o
objetivo de resgatar assuntos registrados na memória dos que vivem no local e de analisar as
relações entre os sujeitos e o meio em que vivem. Valoriza-se a conversa, permitindo ativar a
memória do entrevistado a fatos passados, suas histórias de vida. (BOURDIEU, 1999, citado
por BONI E QUARESMA, 2005, pg. 72).
Para melhor identificação dessas relações elegeu-se a pesquisa qualitativa:
De maneira diversa, a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ ou medir os
eventos estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise dos dados. Parte
de questões ou focos de interesses amplos, que vão se definindo à medida que o
estudo se desenvolve. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas,
lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação
estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos
sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo (GODOY, 1995, p.58).
Portanto, esta metodologia difere das pesquisas com abordagens quantitativas
justamente por buscar dados subjetivos no universo pesquisado, adaptando-se adequadamente
à proposta deste trabalho.
96
A opção pela entrevista semiestruturada deu-se em virtude da necessidade de
buscar compreender através de palavras e ações, a relação dos moradores com seu meio, ou
seja, buscar depoimentos onde os indivíduos pudessem exteriorizar a sua percepção de meio
ambiente, e sua participação no processo de construção de sua realidade (REIGOTA, 1994),
procurando identificar um entrelaçamento entre as respostas com a realidade de cada
entrevistado. Nesse sentido, as entrevistas semiestruturadas combinam perguntas abertas e
fechadas, onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. “O
pesquisador deve seguir um conjunto de questões previamente definidas, mas ele o faz em um
contexto muito semelhante ao de uma conversa informal” (BONI E QUARESMA, 2005,
pg.75). Portanto, a entrevista semiestruturada é uma técnica de coleta de dados que supõe uma
conversação continuada entre informante e pesquisador e que deve ser dirigida por este de
acordo com seus objetivos (QUEIRÓS 1988 citado por DUARTE 2002).
A delimitação do universo da pesquisa, ou a definição daquelas pessoas que serão
selecionadas para compor as informações acerca do estudo constitui-se em tarefa importante,
pois poderá interferir no rumo das informações, desqualificando um entendimento geral do
problema estudado. Conforme alerta Duarte (2002, pg.141), a definição da população que fará
parte das entrevistas, os entrevistados, deverá levar em consideração sua representatividade no
grupo em estudo, devendo ser definida antecipadamente pelo entrevistador.
As características da pesquisa, suas circunstâncias e limitações, relacionadas
diretamente ao reduzido prazo para sua aplicação e análise, bem como, a necessidade em
focar e restringir a área de estudo ao espaço comum à realização de outras avaliações
relacionadas com esse projeto (PI), levou à escolha do critério de localidade para aplicação
das entrevistas. Localidade no sentido de eleger ruas do bairro situadas próximas, ou inseridas
no contexto do microcosmo de influência da área de estudo. Assim, as ruas próximas ao
recurso hídrico, local onde nossa equipe realizou a avaliação da qualidade da água, também
foi um dos pontos eleitos para a realização das entrevistas, permitindo um estudo
comparativo, a fim de relacionar a percepção dos moradores com o grau de satisfação dos
entrevistados com os serviços públicos, e assim ponderar se a infraestrutura urbana com suas
qualidades e problemas exerce influência sobre os moradores, e se existe reflexão sobre a
interdependência entre exploração dos recursos naturais e a vida no local.
Os pontos para a realização das entrevistas foram eleitos com base nos
seguintes critérios:
97
Entrevistar pessoas da maior rua da área de estudo por caracterizar-se
como uma área importante para este PI, visto que paralela a esta rua está o recurso
hídrico onde nossa equipe realizou avaliação da qualidade da água,
Entrevistar moradores da reserva extrativista do Pirajubaé, e
Entrevistar comerciantes da avenida principal.
Identificação dos locais de entrevista:
Figura 90 - Área de abrangência das entrevistas. Em vermelho as áreas de abrangência das
entrevistas e em azul os pontos de coleta de água para avaliação da qualidade. Em verde claro a
área de proteção aos recursos hídricos conforme demarcado pela Prefeitura Municipal de
Florianópolis. Fonte: Geoprocessamento corporativo, Prefeitura de Florianópolis.
No que diz respeito ao número de pessoas entrevistadas, o procedimento que se
tem mostrado mais adequado é o de dar andamento na realização das entrevistas até que o
material obtido permita uma análise aprofundada das relações estabelecidas naquele meio e a
compreensão de “significados, sistemas simbólicos e de classificação, códigos, práticas,
valores, atitudes, ideias e sentimentos” (DAUSTER, 1999, citado por DUARTE, 2002,
p.144). Sendo assim, o número de pessoas a serem entrevistadas não ficou engessado em
quantificação, e sim na disponibilidade dos entrevistados, seguindo os critérios de localidade
e representatividade no grupo social, e na qualidade das informações obtidas com as
entrevistas.
98
objetivos:
O roteiro de entrevista foi construído levando-se em consideração os seguintes
Identificar as relações entre os moradores ou comerciantes da região e o
ambiente em que vivem.
Identificar saberes relativos aos ambientes naturais da região e as formas de
relação das pessoas com esses ambientes.
Observar se os moradores ou comerciantes têm conhecimento sobre as áreas de
preservação permanente que se encontram na região de estudo e pontuar o que eles sabem
sobre estas áreas.
Observar as percepções dos moradores e comerciantes sobre transformações na
região ao longo do tempo e qual o sentimento que têm com relação a isso.
Verificar suas preocupações com relação aos problemas ambientais mais
recorrentes no local.
Verificar o nível de satisfação dos serviços públicos oferecidos na região.
Identificar as práticas comunitárias e coletivas, possíveis lideres comunitários e
formas de resolução dos problemas coletivos.
Fazer um levantamento de sugestões de ações de educação ambiental para
esta comunidade, bem como identificar locais onde a nossa equipe de trabalho possa realizá-
las.
Para a realização das entrevistas foram compostos pequenos grupos, com no
mínimo dois alunos, que foram a campo munidos de blocos de anotações e aparelho celular
para a gravação das respostas. Para permitir sua aplicação foram elaborados os seguintes
documentos:
a) Roteiro de entrevistas composto de duas partes (ANEXO B): A primeira para traçar um
perfil socioeconômico dos entrevistados contendo onze (11) questões objetivas, e a segunda
formada por 18 questões subjetivas relacionadas à percepção ambiental dos moradores e
comerciantes envolvidos.
b) Carta convite entregue a todos os entrevistados, convidando-os formalmente a participar
da pesquisa (ANEXO C).
c) Declaração a ser assinada por cada entrevistado em que este permitia o uso de suas
declarações para fins educacionais no âmbito desse projeto (ANEXO D).
Respeitando a divisão de localidade pelos critérios justificados acima, definiu-se
que seriam realizadas quatro (04) entrevistas em cada um desses locais, sendo aceita uma
99
variação para mais ou menos nessa quantidade, em função do volume e qualidade das
informações e do tempo necessário para a realização de cada entrevista.
O período de realização ocorreu entre os dias 28/06 e 02/07/2013, em três
logradouros da área em estudo, identificados como:
a) Servidão Nelson Serafim Pereira (Seu Chino) – dia 28/06, período da tarde, entre os
moradores desse logradouro;
b) Rua Vinte e Cinco de Março – Acesso a Reserva Extrativista do Pirajubaé - dia 29/06,
período da tarde, entre os moradores desse logradouro;
c) Rodovia SC 405 – Estrada Geral - dia 02/07/2013, diretamente com os responsáveis por
casas de comércio dessa via.
6.4 Análise das entrevistas
O conceito de Educação Ambiental, como observa Sauvé (1997, pg.01) embora
tenha referenciado desde suas primeiras definições os aspectos sociais em sua formulação e
objeto, permanecia incompleto, visto que “...foi sempre limitado à proteção dos ambientes
naturais (a seus problemas ecológicos, econômicos ou valores estéticos), sem considerar as
necessidades dos direitos das populações associados com esses ambientes, como parte integral
dos ecossistemas.” (SAUVÉ, 1997, pg.01)
Assim, este estudo de percepção ambiental considerou fundamental dar voz aos
sujeitos que vivem na área do PI. Para analisar as entrevistas realizadas optou-se utilizar como
referência o rol de objetivos definidos para sua realização. O uso desses tópicos não significa
repetir uma sequência de informações, mas sim ordenar os dados para que se pudesse
estabelecer relações, vinculando-as, permitindo assim formar e destacar opiniões coletivas e
as que se destacaram pela sua singularidade. Ocorre também, que ao localizar as respostas
mais representativas em cada item, elas passam a realçar e a interagir com a indagação, como
que respondendo seu questionamento.
Esta ação veio dar visibilidade e destaque as ponderações dos moradores, que
estavam mescladas a outras e, por isso, ocultas. Permite, assim, estabelecer de maneira direta
uma relação que exteriorize um significado comum em relação ao local em que vivem e entre
as opiniões de todos os participantes, salientando suas causalidades, preocupações, dilemas, a
visão e relação do homem com o meio ambiente.
Esse esclarecimento faz-se necessário para realçar os aspectos subjetivos desse
exercício, já que, como assinala Palma:
100
Entende-se por percepção a interação do indivíduo com seu meio. Este
envolvimento dá-se através dos órgãos do sentido. Para que possamos realmente
perceber, é necessário que tenhamos algum interesse no objeto de percepção e esse
interesse é baseado nos conhecimentos, na cultura, na ética, e na postura de cada um,
fazendo com que cada pessoa tenha uma percepção diferenciada para o mesmo
objeto. (PALMA, 2005, pg 27).
Estabelecido esse elo, torna-se possível avançar ainda mais, traçando paralelos
dos depoimentos, realçando necessidades e encaminhando propostas para equacionamento de
situações limite, que somente os sujeitos em questão têm a possibilidade de identificar e de
requisitar uma solução. Afinal, como propõem Maturama & Varela (citados por PALMA,
2005):
O mundo que todos vêem não é o mundo, mas um mundo, que criamos juntamente
com outras pessoas. Esse mundo humano tem por elemento central o nosso mundo
interior de pensamentos abstratos, conceitos, crenças, imagens mentais, intenções e
autoconsciência. (MATURAMA & VARELA, citados por PALMA, 2005, pg. 17)
Para melhor compreender as concepções dos moradores sobre ambiente,
ecossistema, natureza, algumas respostas e afirmações serão associadas às seis diferentes
tipologias das concepções sobre o ambiente na educação ambiental, propostas por Sauvé,
lembrando que “essas concepções sobre o ambiente podem ser consideradas numa
perspectiva sincrônica: elas coexistem e podem ser identificadas nos diferentes discursos e
práticas atuais” (SAUVÉ, 1997, pg. 06).
Sobre as relações entre os moradores ou comerciantes da região e o ambiente em que
vivem: Em todas as entrevistas foi possível perceber que os moradores daquela localidade
gostam de viver ali. Apesar desta constatação, diferentes relações são estabelecidas com o
ambiente em que vivem. Quando um dos moradores foi indagado sobre problemas
ambientais, respondeu estabelecendo uma relação mais ampla do conceito de meio ambiente,
associando a falta de infraestrutura com a origem de problemas ambientais. Em suas palavras:
“Sim. Problemas com esgotos lançados a longa distância na rua e lixo jogado no mato”.
Além de citar uma questão recorrente (esgoto lançados ao longo da via), cita o desrespeito e
desprezo pela natureza, assim como, critica os próprios vizinhos pelo não uso dos serviços
públicos, que reconheceu existente, conferindo-lhes avaliação satisfatória. Para aqueles que
estão a pouco tempo na comunidade, a percepção é outra, já que aparentemente não existem
atividades coletivas entre os moradores: “Não vejo. Eles não se interessam. Eles não estão
101
regularizados” (casas e prédios). O entrevistado refere-se à comunidade como ‟eles‟, os
nativos, demonstrando que não se vê como parte da mesma. Para aqueles diretamente
envolvidos com a Resex, as dificuldades estão relacionadas às regras de extração,
coletivizando uma restrição individual. “...Tem alguns dias que não se pode extrair nada da
Resex, ‟para sobreviver‟‟. Com a reserva, diminuiu a „‟concorrência‟‟. Porém, o
entrevistado afirma que ele e muitos outros extraem clandestinamente.
Identificar saberes relativos aos ambientes naturais da região e as formas de relação das
pessoas com esses ambientes: Muitas são as verdades que surgem em uma pesquisa. Cada
entrevistado exterioriza sua relação com o ambiente, demonstrando um pouco de sua
trajetória, de sua história de vida. Como a resposta de um morador, quando indagado sobre o
que sabia sobre manguezal: ouviu falar, entende que “os peixes fazem a desova nesse
ambiente, assim como os camarões, e depois de procriarem, saem”. Demonstra
conhecimento relativo à importância ecológica do ambiente. Outros relatam a infinidade de
espécies animais e vegetais existentes na região: “Conhece diversos pássaros (papagaio,
tucano) e saguis; Conhece tatu, tamanduá, macaco sagui, este animal é alimentado com
bananas. Cita árvores frutíferas no seu quintal ameixas, laranjas, limão e outras árvores como
o araçá”. Porém, evidencia-se que a percepção sobre a mudança na diversidade de espécies ao
longo do tempo aparentemente não é notada pela população. Não sabiam dizer se as espécies
haviam sumido ou se haviam espécies novas, seus relatos eram mais no sentido de que a
vegetação está diminuindo pelo aumento do número de residências. Outros pontos de vista
emergem nessa questão como, por exemplo, quando uma comerciante com atividade próxima
a Resex, afirma que “Parece que o ser humano vale menos que o meio ambiente!”, onde
relaciona as restrições ambientais como as causadoras de alterações sociais que segregam
vizinhos e parentes. Fez referência a construção do viaduto e da via expressa, cujo traçado
imposto pelas restrições ambientais da área de mangue, exigiu a remoção de várias famílias
do local. Ao comentar essa “mágoa”, diz o seguinte, em meio a lágrimas: “...Isso é meio
ambiente/atrapalhar...”(chorou).
Conhecimento dos moradores ou comerciantes sobre as áreas de preservação
permanente que se encontram na região de estudo e pontuar o que eles sabem sobre
estas áreas (incluindo a percepção sobre a Resex): As categorias que são usadas para
identificar as áreas de preservação, muitas vezes escondem significados que não são visíveis
imediatamente pelos moradores da área de estudo. Neste caso, poucos souberam identificar
102
corretamente quando indagados se conheciam uma reserva extrativista. O mesmo ocorreu
quando solicitado seu conhecimento sobre o que é uma área de preservação permanente.
Vejamos: A Resex, “a reserva daqui...” afirmou um morador, completando: “...tem que ser
respeitada.”A maioria daqueles que identificaram algum espaço como área de preservação, o
fizeram apontando para a encosta do maciço que corre paralelo a SC-405, como APP.
Levavam em consideração a mata de encosta como área de preservação, mas esqueciam de
relacionar os manguezais. Alguns citaram sua importância ecológica ou como local para
garantir a subsistência, mas parecem não relacionar este ecossistema às áreas de preservação.
Um morador próximo a Resex, pescador credenciado pelo órgão que exerce o gerenciamento
da reserva, o ICMBio, foi enfático ao responder uma questão referente o significado de meio
ambiente: “Aqui é reserva. Mas o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente) não quer
que a gente trabalhe.”, referindo-se aos dias intercalados para extração do berbigão. Aqui,
podemos identificar uma clara inserção na tipologia proposta por Sauvé (1997, pg 3) em que
o meio ambiente é considerado como um recurso “para ser gerenciado.” Nota-se que essa
concepção também enquadra-se no próprio conceito da reserva, considerada para extração de
um recurso.
Percepções dos moradores e comerciantes sobre transformações na região ao longo do
tempo e qual o sentimento que têm com relação a isso: As respostas dos moradores acerca
das mudanças ocorridas no bairro, em sua rua, refletem os principais problemas de toda
comunidade, geralmente, sendo visto como resultado da “Ocupação sem regras,
desordenada.”. Outro morador a justifica com as seguintes palavras “Muitas!
(Transformações no bairro). Invasão de mangue e morros. Loteamentos irregulares e outros
regulares, mas que não podiam ser legais (critica a legislação que permite esse tipo de
construção). Observa-se que a maior parte das respostas apontaram a ocupação desordenada e
o crescimento sem planejamento como a maior transformação ocorrida na região. No
depoimento de uma moradora antiga do local, há um relato histórico: “Sim, muita! (mudança)
Cresceu muito, antes não tinha nada! Eu ajudei a deixar aqui mais agradável. Mudei há
quase 40 anos atrás, fui na prefeitura pedir pra colocar luz e fui humilhada, pensaram que eu
queria pedir dinheiro, aí virei as costas e fui embora. Mudei pelas condições financeiras:
sozinha com filhos pequenos ía pra onde? Só consegui vir pra cá. Há 30 anos atrás o pessoal
foi tomando o mangue, que era área da marinha. Os órgãos públicos vinham e derrubavam
tudo, mas de noite agente ia lá e subia tudo de novo. E assim foi indo”. Já outro relato
evidencia o perigo do crescimento desordenado causado ao meio natural, ao comparar a
103
região ao ocorrido em São Paulo, capital, sua terra natal:“Triste. (Compara com São Paulo,
cidade natal, onde havia muitas árvores e agora só existem casas, indústrias). A população
cresce e ocupa o lugar dos animais”. As alterações decorrentes da construção do viaduto e da
via expressa sul também foram citadas. Nas palavras de uma moradora “O maior problema foi
a estrada e a construção do viaduto. Segundo ela, “A estrada e o viaduto “acabou” com
amizades. Antes estava com a família em volta, depois da desapropriação que houve para a
construção do viaduto sua família separou-se”. Aqui, podemos buscar na tipologia de Sauvé
(1997) um caracterização dessa visão de ambiente, enquadrando-a“como um lugar para se
viver...para conhecer e aprender sobre, para planejar para, para cuidar de. Esse é o nosso
ambiente do cotidiano, na escola, nas casas, na vizinhança, no trabalho e no lazer”(SAUVÉ,
1997, pg. 4).
Preocupações com relação aos problemas ambientais mais recorrentes no local: A falta
de uma rede de esgoto foi o principal problema apontado, estando presente em, praticamente,
todos os relatos. Nas palavras de um morador, expressando uma visão mais ampla da falta de
infraestrutura como sendo problema ambiental, mobilizando representantes do poder público
(vereador do bairro, citado em vários momentos): “Esgoto. Foi feito um abaixo assinado
pelos moradores e levado ao vereador do bairro, pra se ter a coleta de esgoto”. Em outra
entrevista, outros problemas foram surgindo, mas a questão do esgotamento sanitário foi a
mais recorrente, porém os moradores souberam destacar outras situações problema: “Posto de
saúde local. Melhorar a estrutura da rua - asfalto no começo é prejudicial (uma ladeira
íngreme)”. “Limpeza de bueiros e colocação de venenos para rato, pois no verão o mau
cheiro é insuportável”. “A taxa de esgoto vem na conta, porém não temos acesso. Sei que o
esgoto vai para o rio”. Um outro morador destaca o problema do lixo, associado a questão do
esgoto: “Esgoto, ocupação irregular, prática de atear fogo no lixo doméstico. Não existe
consciência. ( relata que todos queimam seu lixo, às vezes lixo tóxico, poluindo o ambiente.
Cita que às vezes, dependendo do local e volume do lixo queimado, fica difícil respirar. Citou,
também, a fuligem como um grande problema)”. Destaque também para os problemas
oriundos das alterações pelas quais passa o bairro, relacionados ao aumento populacional e
expansão urbana. Para esse morador, o trânsito é o maior problema: “(Diz que ali tudo
limitado. Não há liberdade para fazer as coisas individualmente.). Falta atitude das pessoas.
Trânsito é o maior problema, ninguém respeita. Falta segurança, ruas e melhores e calçadas.
Faltam praças e áreas de lazer. Perto do Bistek (supermercado) tem um local legal. Neste
momento, faz uma comparação com sua cidade natal e critica a realidade de
104
Florianópolis: aqui tudo é longe, muito distante”. Pôde-se perceber nas entrevistas realizadas
que não ocorre uma a identificação direta do problema ambiental provocado pelo lançamento
do esgoto não tratado no mar (mangue). Essa preocupação não ficou evidente em nenhum
relato. Percebemos também que os problemas relatados, na maioria das vezes, relacionavam
os pontos de vista dos entrevistados à prática de colocar-se à parte ao ambiente em questão,
ou com relação aos problemas, quando dizem “eles não respeitam”, “conheço as
organizações comunitárias, mas não faço parte”, evidencia-se um olhar separado do meio, ou
até mesmo a concepção de que o ser humano não faz parte do meio ambiente: “.... Parece que
o ser humano vale menos que o meio ambiente!”.
Nível de satisfação dos serviços públicos oferecidos na região: Em geral, os serviços
públicos oferecidos (água, coleta de lixo, iluminação pública e outros) foram considerados
bons ou muito bons. A exceção é o esgoto. A falta de rede coletora é o maior problema,
associado a vários outros diretamente vinculados, como a presença de vetores (ratos),
poluição ambiental e doenças. Alguns moradores situados na encosta do maciço da costeira,
em cota (nível) superior a cota do reservatório da companhia de água (CASAN), relataram
que não são atendidos por rede pública de água. Eles captam água de um manancial cuja
nascente fica na encosta dessa elevação. Assim, essa preocupação aparece em seus relatos,
juntamente com a falta de saneamento básico: “Água, dificuldade em conseguir ligação na
Casan, luz Celesc ok. Falta de saneamento, esgoto (comenta sobre despejo de esgoto
doméstico em valas na rua)”.
Práticas comunitárias e coletivas, possíveis lideres comunitários e formas de resolução
dos problemas coletivos: Ficou evidente nos relatos dos moradores mais antigos e integrados
à coletividade, a influência do político local. O vereador, conforme vários relatos, é o
responsável pela resolução dos problemas imediatos, já que, segundo afirmou um morador
tudo é tratado “diretamente com o vereador do bairro, vão até o portão da sua residência
conversar sobre os problemas.”. Ou esse outro, quando afirma: “Todos os problemas são
resolvidos pelo Erádio da Prefeitura”. Para o problema do esgoto, como exposto
anteriormente, o encaminhamento é o mesmo: “Foi feito um abaixo assinado pelos
moradores e levado ao vereador do bairro, pra se ter a coleta de esgoto. (Moradores dizem
que passa a rede coletora na rodovia principal)”. Alguns salientam as práticas individualistas:
“Aqui é cada um por si. O vereador ajuda.” Mas, aparentemente, a presença de uma pessoa
ligada ao setor público presente na comunidade, acaba por desmobilizar os movimentos da
105
coletividade. O problema quando aparece é levado diretamente ao vereador, prática que não
oferece possibilidade a esse grupo social de enxergar-se enquanto coletivo, e não permite
também uma organização desse coletivo na luta por seus interesses. Quando a pergunta sobre
a coletividade e os problemas coletivos era realizada para novos moradores (de até 05 anos no
local), observou-se que muitos deles ainda não identificaram um canal para resolução de seus
problemas ou problemas da comunidade. Alguns acusam o morador nativo (identificados
como manezinhos) como os responsáveis, já que a relação entre eles está “..Difícil. O
morador do local (manezinho) não cuida. Não sabe cuidar.”
Levantamento de sugestões de ações em educação ambiental para esta comunidade:
O problema com maior evidência nas respostas e comentários dos moradores foi a falta da rede
coletora de esgoto. Esta condição está associada a vários problemas nas ruas e no bairro em
geral. As implicações ambientais, em geral, e diretamente ao mangue, e as consequências do
lançamento de esgoto em redes de captação de águas pluviais, assim como, a poluição
advinda dessa ação, podem constituir as informações necessárias e embasar uma atividade de
educação ambiental nesta comunidade. Alguns entrevistados relataram que poderiam ser
realizadas atividades no conselho comunitário. Uma demanda interessante surgiu por parte da
Diretora da Creche Comunitária Crescer, que solicitou uma parceria com os estudantes e
professores do IFSC para a realização de um trabalho educativo junto às crianças da creche
sobre o manguezal. Esta parceria propiciará aos estudantes relacionar os conhecimentos
técnicos com a proteção deste ecossistema tão ameaçado pelo crescimento populacional e
muito próximo da realidade das crianças da creche, não só pela proximidade física em si, bem
como pelo fato de muitas delas serem filhas de extrativistas vinculados à RESEX.
6.5 Proposta de ação
De acordo com o levantamento de ações realizado através das entrevistas, surgiu a
demanda para um trabalho na creche comunitária. De fato, o trabalho com as crianças pode
oferecer uma base interessante para a formação de conceitos mais amplos já na infância, que
permitam o desenvolvimento de outras relações com o meio ambiente, muito mais próximas,
com o objetivo de desenvolver os olhares do ser humano como parte de seu meio e não alheio
a este. Podemos seguir as sugestões de Marin (2008), que propõe que “os estudos sobre
percepção deveriam ir à gênese da existência e descrever os múltiplos modos de vida
reveladores do real sentido de inserção do ser humano no seu ambiente” (MARIN, 2008,
106
pg.216). Portanto delineia-se aqui a sugestão para um trabalho final de formação em educação
ambiental com as crianças e educadoras da creche comunitária, visto que a creche pode ser
considerada um ponto convergente da comunidade, onde pais e filhos tem a possibilidade de
compartilhar atividades em comum, além da possibilidade das educadoras tornarem-se
multiplicadoras dos novos conhecimentos adquiridos em sucessivos anos á novas crianças e
pais.
107
7 DISCUSSÃO
As atividades realizadas durante o Projeto Integrador demonstraram ser de grande
relevância para a formação profissional do Técnico em Meio Ambiente, à medida que,
trabalhar os cinco eixos temáticos de forma integrada, possibilitou a existência de uma visão
holística da problemática socioambiental existente na região de estudo, bem como instigou a
criação de soluções para resolução ou minimização destes problemas. Mais do que isso, o
trabalho preliminar realizado através deste PI, ou seja, um primeiro contato com a
comunidade e o levantamento de dados preliminares, porém relevantes, foi fundamental para o
conhecimento prévio da região em estudo e para a proposição de trabalhos futuros que sejam
viáveis e compatíveis com o contexto socioambiental local.
Por meio de pesquisas bibliográficas e através do embasamento legal, do
levantamento de dados em órgãos governamentais competentes, bem como constatações em
campo e entrevistas semi-estruturadas qualitativas com os moradores da região, foi possível
criar um panorama geral das questões socias e ambientais que acometem a área em estudo nos
dias de hoje.
Através da análise do histórico da ocupação local na região do entorno do Trevo
da Seta, é possível afirmar que o processo de ocupação crescente na região de forma não
planejada foi, à princípio, o principal fator descaracterizador do Manguezal do Rio Tavares.
Ou seja, a falta de planejamento para o uso e a ocupação do solo, juntamente com fatores de
desenvolvimento na capital de Santa Catarina, como a construção do Aeroporto Internacional
Hercílio Luz e suas vias de acesso, proporcionaram o ritmo de ocupação humana no local.
Neste sentido, analisa-se em campo as evidências estruturais oriundas do
processo de urbanização desordenada no local, como: ocupações irregulares em áreas de
manguezal, em encostas, topo de morros e nas proximidades dos recursos hídricos, todas as
áreas já protegidas em 1965, pelo Código Florestal Nacional e atualmente por diversas outras
leis, como a Lei da Mata Atlântica (Lei n. 11.482/2006) e a Lei das Unidades de Conservação
(Lei n. 9.985/2000).
Observa-se que há diversas leis que preveem a preservação do meio ambiente
natural da região, que regulamentam o uso do solo e as atividades humanas no local. As leis são
preceitos que regulam a sociedade, protegem direitos fundamentais, buscam soluções para
conflitos, definem direitos e deveres para uma convivência harmoniosa entre as pessoas e delas
com o meio ambiente. As leis são importantes instrumentos para ordenar a sociedade, porém,
no local de estudo, falta seu cumprimento e efetividade. É necessária uma melhor aplicação da
legislação existente, sendo que a coerção legal e as restrições impostas ao uso do local são
formas importantes de preservação ambiental.
108
Outras situações como: calçadas esburacadas, grande quantidade de fiação
aérea, congestionamentos de automóveis nas vias e ocorrência de acidentes de trânsito,
demonstram também que o contexto da urbanização dos bairros pertencentes à área de estudo
ocorreu de forma desestruturada, sem o apoio de um Plano Diretor consolidado e apto à
gerenciar de forma estratégica o processo de ocupação, fator este que contribui para a
favelização e as condições precárias de certas localidades.
No discurso dos moradores e por meio de constatações em órgãos competentes,
pôde-se identificar o descontentamento com a falta de infraestrutura urbana, com destaque
para a ausência de rede coletora de esgoto e de estação de tratamento na região, os quais não
são fornecidos pela CASAN. As análises microbiológicas da qualidade da água no recurso
hídrico da área de estudo, indicam indiretamente que há possíveis despejos de esgoto nos
corpos d´água, devido a esta falta de infraestrutura sanitária. Além disso, o aumento da
densidade de coliformes fecais aumenta da nascente à foz, resultado este que corrobora com
as evidências de ocupações humanas no local, as quais também aumentam consideravelmente
da nascente à foz.
Nota-se ainda que o serviço público de abastecimento de água é fornecido na
região, mesmo quando as habitações estão em áreas irregulares; já o fornecimento de energia
elétrica é vedado quando em áreas não apropriadas para ocupação, em decorrência de ação
judicial movida pela Prefeitura Municipal de Florianópolis contra a CELESC. Tal situação
indica tanto o fato da prefeitura municipal não encarar de forma uniforme a situação do
fornecimento de serviços públicos nesta área, bem como reflete um relevante problema social,
os quais podem estar relacionados à negligência, à desapropriação e a re-alocação dos
moradores que estão em áreas ilegais.
Em relação à tradição popular de extração e comércio do berbigão como fonte de
renda aos moradores, é possível dizer que esta era feita apenas com cunho econômico, não
levantando preocupações quanto aos impactos ambientais consequentes de tal situação.
Posteriormente, com o desenvolvimento de legislações específicas, a RESEX de Pirajubaé
surgiu como forma de proteger os recursos naturais, permitindo ao mesmo tempo a
exploração sustentável do berbigão. Porém, percebe-se a existência de uma série de conflitos
de interesse que envolvem a área protegida, a atividade econômica e os moradores,
possivelmente devido à falta de diálogo e de acordos entre o poder público e os moradores da
região.
A realização da pesquisa qualitativa da percepção ambiental que os moradores
têm do local em que vivem, permitiu a exteriorização da relação existente entre os indivíduos
e o meio ambiente ao seu redor, tanto o urbano, quanto natural. Alguns pontos recorrentes
foram levantados pelos moradores, como: a relação da falta de infraestrutura com os
109
problemas ambientais, a crítica aos próprios moradores por suas condutas perante o meio
ambiente, as dificuldades trazidas pelas regras de extração de recursos na RESEX, a crítica a
existência de loteamentos de alto padrão que deveriam ser ilegais e o conhecimento
incompleto da legislação ambiental e das áreas protegidas por Lei. Neste sentido, ressalta-se
que existe tanto uma percepção de descaso do poder público para com a região, quanto uma
percepção da responsabilidade de ações individuais ilegais praticadas pelos moradores.
Também foi evidenciada nas entrevistas a falta de conhecimento da comunidade
com relação ao meio ambiente em que está inserida. Quando questionados sobre áreas de
preservação permanente, alguns mencionavam as áreas verdes e encostas de morro, mas
aparentemente não reconheciam os recursos hídricos e o manguezal como áreas de
preservação. Salientamos o que propõe Marin (2003), por reconhecer que o conhecimento
sobre o histórico da transformação da paisagem e da construção de espaços habitados, assim
como o contato com as pessoas, representam instrumentos valiosos para sensibilização.
Relaciona-se que a imobilidade dessa comunidade em transformar a sua realidade, perpassa a
falta de conhecimento relacionada às questões legais de proteção ao meio ambiente, à
urbanização desordenada que vai apagando as trajetórias de construção das comunidades, e à
má gestão das organizações comunitárias, que deixam sua administração a cargo de políticos,
desmobilizando possíveis movimentos de exigência ao poder público.
Por fim, destaca-se que a região tem relevante importância social e ecológica,
abrangendo ecossistemas da Mata Atlântica e abrigando uma parcela considerável dos
habitantes de Florianópolis, os quais ali se instalaram a partir de justificativas pessoais, muitas
vezes inquestionáveis quando abrangem seres humanos de baixa renda. Porém, percebe-se
que existe tanto a necessidade da conscientização individual relativa à proteção do meio
ambiente natural, em sintonia com o desenvolvimento econômico da região, bem como a
responsabilização do poder público por condições adequadas para o meio ambiente urbano,
através do oferecimento de serviços públicos básicos e necessários à sobrevivência. Em todos
os casos, tanto os cidadãos quanto o poder público podem assumir papel fiscalizador de
irregularidades e papel propositor para resolução de problemas, através, principalmente de
ações conjuntas entre o poder público e os moradores diretamente afetados pelas problemáticas
socioambientais existentes na região.
110
8 RECOMENDAÇÕES
A partir da realização do Diagnóstico Técnico Socioambiental na área de estudo é
possível afirmar que a região do entorno do Trevo da Seta apresenta uma diversidade de
problemas sociais e ambientais, bem como alguns pontos conflituosos, existentes devido aos
interesses individuais e coletivos divergentes na comunidade.
Problemas como mobilidade urbana, tráfego intenso de veículos, infraestrutura
urbana precária, ocupações irregulares, ausência de esgotamento sanitário, contaminação de
recursos hídricos e falta de fiscalização e aplicabilidade adequada da legislação ambiental e
urbanística, são ocorrências que acometem a região em estudo.
Neste sentido, destaca-se a importância de existir uma especial atenção a tais
problemas recorrentes na região, através, principalmente, de três formas de atuação: a primeira
delas refere-se à própria atuação dos residentes como agentes integrantes e transformadores do
meio em que vivem; a segunda delas remete-se à atenção dada pelo poder público à área
de estudo, o qual possui a competência e a capacidade de propiciar melhorias de infraestrutura
e de saneamento básico no local; a terceira relaciona-se à aplicação da legislação existente, em
especial à de proteção e de preservação ambiental.
Percebe-se que muitas vezes os problemas sociais e ambientais estão atrelados a
conflitos de interesse, fator este que demonstra a importância da atuação conjunta, do diálogo
e do acordo entre o governo e os cidadãos, principalmente em pontos que esbarram na esfera
legal e na efetividade das normas jurídicas no local.
Em relação aos serviços públicos mínimos necessários na região, ressalta-se a
relevância da organização popular, como forma de promover a cobrança de uma posição
efetiva do poder público, através de exigências relacionadas aos problemas de infraestrutura e
de ausência de serviços públicos. Entretanto, ressalta-se, também, que cada indivíduo deve
compreender e assumir as responsabilidades por seus atos, sejam eles propositais ou
condicionados a certa situação, neste último caso, muitas vezes considerados como
inevitáveis, do ponto de vista pessoal.
Desta forma, torna-se relevante a continuação de um trabalho consolidado na
região, com vistas a transformar de modo positivo os problemas existentes no local e resolver
as situações de conflito. Para tanto, percebe-se a necessidade de uma participação integral e
consciente da comunidade, evitando-se assim a mera proposição de soluções por um grupo
externo, sem o envolvimento dos moradores.
Neste sentido, recomenda-se que as estratégias para a continuidade dos trabalhos
na região devem atentar-se para o empoderamento da comunidade quanto aos problemas
111
existentes no local, bem como as possibilidades para solucioná-los. Ou seja, é fundamental
que sejam oferecidas ferramentas para a conscientização e a governança local, que permitam,
por fim, gerar autonomia aos moradores diretamente atingidos pelos problemas, os quais
tomarão decisões fundamentadas mesmo após a participação de grupos externos, como os
alunos do IFSC.
Sendo assim, sugere-se o uso de metodologias adequadas para o empoderamento e
a governança da comunidade para a gestão local dos problemas socioambientais existentes na
região do entorno do Trevo da Seta, como por exemplo, o uso de uma metodologia específica,
a qual baseia-se no Modelo GATS.
O Modelo GATS – Modelo de Governança da Água e do Território para a
Sustentabilidade, foi desenvolvido pelo Grupo Transdisciplinar de Pesquisas em Governança
da Água e do Território (GTHidro) da Universidade Federal de Santa Catarina e aplicado pela
primeira vez na gestão social dos recursos hídricos e do saneamento em Urubici (Serra
Catarinense) no Projeto Tecnologias Sociais para a Gestão da Água do Programa Petrobrás
Ambiental entre 2007 e 2009.
Organizações ambientalistas sem fins lucrativos como o Instituto Çarakura
(IÇara) – uma Organização da Sociedade Civil de Interesses Públicos (OSCIP) e o Núcleo de
Educação Ambiental do Centro Tecnológico da UFSC (NEAmb), também já obtiveram
sucesso social na aplicação do Modelo GATS em seus projetos. O IÇara utilizou o Modelo
pela primeira vez em Itapema/SC, no projeto “Estudos para a criação de Unidade de
Conservação” em 2009, contando com grande participação da população local, sendo o
modelo posteriormente aplicado em outros projetos com a comunidade de Itapema, em 2010,
2011 e 2012.
O Modelo GATS baseia-se nos “Ciclos de Aprendizagem”, os quais acontecem
através da sucessão de cinco etapas ou tempos, sendo eles: acordo inicial, economia de
experiência, comunidade de aprendizagem, estratégias de governança e avaliação (Figura 91).
112
Figura 91 – Modelo GATS, Adaptado de Silva 2008.
Relatório de Projeto de Pesquisa - Instituto Çarakura 2012
As cinco etapas podem tanto seguir uma ordem cronológica (de cima para baixo),
como também ocorrer simultaneamente ou em ordens diferentes, dependendo da realidade
que se apresenta na comunidade onde o Modelo de Governança é aplicado.
Neste contexto, entende-se que Governança é um conceito bastante amplo, o qual
opera em todos os níveis, como família, vila, município, país, região ou globo. (Nzongola
Ntalaja-2002). De uma maneira simples e direta “governança” significa: o processo de tomada
de decisões e o processo pelo qual as decisões tomadas são implementadas ou não são
implementadas (UN).
O conceito considera o aumento da capacidade de governar ao nível local, não
somente por instituições políticas e governamentais, mas pela comunidade e instituições não-
governamentais, o que pode ser associado com a crescente demanda de fatores de interesse
comum, para os quais a gestão compartilhada é a melhor alternativa. Trata, portanto, de um
processo de empoderamento (OAKLEY & CLAYTON, 2003) de comunidades locais.
O Acordo Inicial é a primeira etapa do Modelo GATS, cujos objetivos são:
esclarecer os objetivos, os resultados esperados e os tipos de atividades; explicitar a ética de
trabalho e estabelecer um termo de cooperação com os participantes e as principais lideranças
da comunidade. Inclui atividades como: esforços de divulgação, a fim de mobilizar o máximo
de pessoas e lideranças comunitárias possíveis; encontros para apresentação e esclarecimento,
a fim de alinhar os participantes quanto aos objetivos do projeto e da metodologia aplicada; e
113
acordos de colaboração e participação, para confirmar e registrar de forma documental o
processo de participação da comunidade nas atividades desenvolvidos.
A Economia de Experiência (EE), segunda etapa do Ciclo de Aprendizagem, é o
processo de investigação da experiência de uma comunidade e da futuridade de cenários de
um tema específico, com vistas a identificar as melhores práticas para uma ação presente no
local. A comunidade aprende com experiências próprias e alheias de sucessos e fracassos,
considerando esta a melhor maneira de não se repetir os erros já cometidos. A EE orienta-se
na construção de um Dossiê construído através do levantamento de registros já existentes e
releva a valorização da cultura e do conhecimento ancestral local.
A terceira etapa – Comunidade de Aprendizagem - é a responsável pela estratégia
pedagógica de inserção social de tecnologias e metodologias para o uso e a gestão sustentável
dos recursos naturais. Os encontros são elaborados para uma compreensão espacial mais
apurada dos recursos naturais e das problemáticas ambientais do local e também para
viabilizar a produção de um zoneamento ambiental participativo e qualificado. As atividades
envolvem encontros que trabalham conceitos operativos como Governança e Tecnologias
Sociais e encontros para o diagnóstico da região (percepção do local; aspectos biológicos,
físicos e sociais; noções de mapas; trilhas; bacia hidrográfica e outros).
A etapa Estratégias de Governança (ou Gestão Local) consiste de uma estratégia
política do processo de Governança. Para isto, trabalha-se a qualificação dos participantes em
conceitos contextualizadores de temas específicos, bem como na formulação de estratégias de
ação local para a resolução de conflitos e problemas socioambientais. Neste momento, espera-
se formalizar um grupo comunitário empoderado em relação à gestão local dos recursos
naturais, no contexto da Governança.
A última etapa – Avaliação e Prospecção –tem como objetivo avaliar o processo
de governança junto a comunidade e de consolidar uma perspectiva de continuidade das
iniciativas, por meio da prospecção dos novos projetos, parcerias e financiamento em torno
das demandas sociais e ambientais, e das estratégias elaboradas. Envolve encontros para o
debate e avaliação das atividades realizadas, bem como debates sobre novas perspectivas de
ação local e tomada de decisões para o futuro, visando obter um documento que relate as
demandas e os anseios da comunidade, frente ao Desenvolvimento Sustentável local.
Desta forma, entende-se a metodologia dos “Ciclos de Aprendizagem”, destacado
por Matulja (2009), em referência à metodologia de Silva (2006), como:
[...] „um tempo no qual a comunidade decide e se organiza para aprender um
conhecimento novo, seja na forma de um conceito, uma metodologia, uma técnica ou
mesmo uma experiência externa. Ou seja, o tempo dedicado ao seu empoderamento a
partir do conhecimento em determinada temática.‟ (MATULJA, 2009 p38).
114
Sendo assim, ressalta-se, por fim, a necessidade de se trabalhar as problemáticas
ambientais e sociais existentes na região de estudo, através da participação efetiva da
comunidade local na gestão dos problemas e tomada de decisões, considerando-se as
peculiaridades do local, tanto cultural quanto estrutural e ambiental.
Frisa-se, portanto, a importância dos grupos externos e propositores assumirem
um papel diretivo e informativo em suas ações, e não simplesmente impositivos, visando o
auto-aprendizado e a transformação interna, de dentro para fora, dos moradores – peças
fundamentais no processo de melhoria social e ambiental no local, capazes tanto de mudarem
atitudes individuais degradantes, quanto exigirem do poder público as melhorias necessárias
para o aumento da qualidade de vida e do bem-estar no local. No entanto, apesar da educação
ambiental ser uma ferramenta poderosa de transformação de paradigmas no âmbito ambiental ,
destaca-se que seus resultados acontecem de forma gradativa e processual, de forma que além
desta ferramenta, a apropriação e aplicação da Legislação ambiental vigente é fundamental
para se alcançar mudanças e ações efetivas.
115
Anexos
116
ANEXO A
NOME
CIENTÍFICO
NOME
POPULAR
HÁBITO FOLHA FLOR FRUTO RAÍZ
Avicennia
schaueriana
Mangue-preto
ou
Siriúba
Laguncularia
racemosa
Mangue-
branco
Rhizophora
mangle
Mangue-
vermelho
ou
Sapateiro
117
ANEXO B
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DA CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO TÉCNICO DE MEIO AMBIENTE
Carta Convite
Nós, alunos(as) do Curso Técnico de Meio Ambiente do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, vimos por meio desta convidá-lo(a) a participar de
nossa pesquisa de Conclusão de Curso. Com esta pesquisa, nós acadêmicos, teremos a
oportunidade de desenvolver procedimentos metodológicos que propiciem sistematizar, na
prática, as competências construídas ao longo do Curso. Temos como objetivo gerar
informações técnicas confiáveis a respeito da área estudada, além de possibilitar à
comunidade pesquisada elementos para a busca de soluções para os problemas
socioambientais enfrentados. Para isso, realizaremos pesquisas em campo para coletas de
dados, entrevista com moradores, além de análises em laboratório, pesquisa bibliográfica,
entre outras metodologias que forem necessárias.
Gostaríamos de esclarecer que a participação na pesquisa não implicará em nenhum
custo para os(as) participantes, que também não irão receber qualquer espécie de reembolso
ou gratificação devido à sua participação. É garantida a confidencialidade, o que assegura a
privacidade dos(as) participantes quanto aos dados obtidos durante a pesquisa. As identidades
serão mantidas em sigilo, sendo que somente serão divulgados dados diretamente
relacionados aos objetivos da pesquisa.
Agradecemos desde já a atenção e colocamo-nos à disposição para esclarecer
eventuais dúvidas.
Aluno (a) do Curso Técnico de Meio Ambiente
Contato: 3221 0564 – Coordenação do Curso Técnico de Meio Ambiente
118
ANEXO C
Autorização para gravação de entrevista e uso de imagem
Eu, .........................................................................................................................,
autorizo a gravação de meu depoimento, bem como o uso de minha imagem, para fins de
pesquisa acadêmica realizada pelos alunos(as) do Curso Técnico de Meio Ambiente. Fui
esclarecido(a) sobre a justificativa, objetivos e procedimentos que foram utilizados na
pesquisa e que essa não tem fins lucrativos. Foi-me garantido que posso retirar o
consentimento a qualquer momento, sem que isso leve a qualquer penalidade e que a minha
identidade será mantida em sigilo.
....................................................................................................
Assinatura – Entrevistado(a)
....................................................................................................
Assinatura – Aluno(a) do Curso Técnico de Meio Ambiente
Florianópolis, ...... de ................................. de 2013.
119
ANEXO D
TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS
1º. Dia de entrevistas – 28 de junho de 2013
Descrição das entrevistas: As entrevistas foram realizadas na Rua Nelson Serafim, nas
residências dos entrevistados.
Entrevista 1
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: SC Município: Vidal Ramos
02. Estado civil:
( x )solteiro ( )casado ( )viúvo ( )desquitado ( )divorciado
03. Escolaridade
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental completo
( ) ensino médio incompleto ( x ) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo. Qual?
04. Principal fonte de renda familiar:
( x )assalariado ( )autônomo( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
( )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos ( x )02 a 05 anos
( )mais de 05 anos ( )mais de 10 anos ( )mais de 20 anos
06. Sobre a residência:
( x ) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição ( ) Imóvel alugado
( ) Imóvel funcional ( ) Imóvel cedido ( ) Outro, qual
07. Número de pessoas na residência: 04 (quatro)
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 03(três)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não ( x ) Sim. Quantos? 01(hum)
10. Se em idade escolar, onde estuda(m)? Não
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
( ) carro próprio ( ) carro da família ( ) moto (x) ônibus ( ) outro
120
Transcrição da Entrevista
1 – Você gosta de viver aqui?
Sim, lugar bom, tranquilo.
2 – Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Bom relacionamento com os vizinhos. Existe um grupo organizado. O vereador do bairro, em
conjunto com a comunidade, está trabalhando pra melhoria da rua. Ex: Calçamento.
3 – Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Sim. Conhece moradores da rua que participam, porém não participa.
4 – Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com eles?
Em conjunto com o vereador do bairro. Geralmente a responsabilidade é do pai ou outro
membro da família.
5 – Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
Sim. Luz (Celesc)
Água vem do morro (caixa + filtro). A água da Casan não chega até a residência.
Esgoto pouco faz uso de fossa (séptica).
6 – Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
Água, dificuldade em conseguir ligação na Casan, luz Celesc ok. Falta de saneamento,
esgoto (comenta sobre despejo de esgoto doméstico em valas na rua).
7 – O que significa Meio Ambiente para você?
Meio Ambiente é tudo, lembra o interior (vivência da infância), o ar que respiramos.
8 – Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
Sim. Problemas com esgotos lançados a longa distância na rua e lixo jogado no mato.
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
Sim. Diferença no ambiente, no verão presença de ventos, sombras através da vegetação,
ressalta a importância da vegetação.
a) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes ambientes?
Conhece diversos pássaros (papagaio, tucano) e saguis.
b) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram mais
recentemente? Quais?
Não percebeu.
c) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Não observou nenhum desaparecimento.
10 – Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
121
Já ouviu falar de mata de encosta, mas não lembra.
11 – E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
Tem pouco conhecimento sobre manguezais. Mas reconhece o manguezal local. O manguezal
pra ela está distante da sua moradia.
12- Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
Não sabe e nem conhece sobre U.C.
13 – Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
Sobre APP é o local onde vive, seu entorno. Sobre limites dessa área tem pouco
conhecimento.
14- Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
Nunca ouviu falar da Resex.
15- Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
Não percebeu transformações, acha que tudo continua igual.
16 – Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
17 – O que poderia ser melhorado na região?
Prioridade esgoto. Na rua, calçamento - pavimentação + drenagem, os lixos jogados na rua
e acesso a ligação de água da Casan para o pessoal que mora na parte de cima do morro.
18 – Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Algo relacionado ao esgoto, lixo. Acredita que os moradores poderiam ajudar cada um
fazendo a sua parte.
Entrevista 2
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: SC Município: Florianópolis
02. Estado civil:
( )solteiro ( )casado ( )viúvo ( x )desquitado ( )divorciado
03. Escolaridade
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental completo (
) ensino médio incompleto ( x ) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo. Qual?
04. Principal fonte de renda familiar:
122
( x )assalariado ( )autônomo( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
( )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos ( )02 a 05 anos
( )mais de 05 anos ( )mais de 10 anos (x )mais de 20 anos
06. Sobre a residência:
( x ) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição ( ) Imóvel alugado
( ) Imóvel funcional ( ) Imóvel cedido ( ) Outro, qual
07. Número de pessoas na residência: 05 (cinco)
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 04(quatro)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não ( x ) Sim. Quantos? 03 + 1(hum) neto
10. Se em idade escolar, onde estuda(m)? Não
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
( ) carro próprio ( ) carro da família ( ) moto (x) ônibus ( ) outro
Transcrição da Entrevista
1 – Você gosta de viver aqui?
Sim, gosta de viver aqui.
2 – Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Boa relação com a vizinhança. Gente “trabalhadeira”, sem projetos e afazeres (coletivos).
3 – Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Sem organizações comunitárias.
4 – Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com eles?
Ligando para os órgãos competentes. Ex: lixo – Comcap se sente responsável alertando os
órgãos públicos. Outro ex: luz de poste acesa, permanentemente em frente à sua residência,
ligou para a Celesc para resolver o problema.
5 – Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
Identifica a coleta de lixo - Comcap
Luz - Celesc
Água vem do morro, pois a água da Casan só vem até a metade da rua, burocracia, não
fizeram pedido da água na Casan, pretende fazer no verão, pois ficam sem água do morro
nessa estação.
123
Esgoto - fossa (séptica), quando enche chama o caminhão limpa fossa para esvaziar ,
cobrando R$600,00 pelo serviço. Não tem rede de esgoto, a maioria utiliza fossa (séptica).
6 – Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
Sobre o lixo está ok, mas em relação ao esgoto acha ruim, devido ao alto custo para despejo
(fossa séptica + caminhão limpa fossa).
7 - O que significa Meio Ambiente para você?
Meio Ambiente, entende por preservação da natureza (bichos e árvores). É isso? (Momento
de dúvida em sua resposta).
8 – Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
Não observa problemas ambientais. Lembra-se de uma situação em que foi achado um bicho
grande, a polícia ambiental foi chamada e levaram o animal. Mas não lembra que animal
era.
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
a) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes ambientes?
Conhece tatu, tamanduá, macaco (sagui), este animal é alimentado com bananas.
Cita árvores frutíferas no seu quintal ameixas, laranjas, limão e outras árvores
como o araçá. Não tem conhecimento sobre vegetação.
b) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram mais
recentemente? Quais?
Não. Porém fala sobre a existência de cobras e dos saguis, que já estão nesse local
por muito tempo.
c) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Não.
10 – Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
Não ouviu falar sobre mata de encosta.
11 – E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
Sobre manguezal, ouviu falar, entende que os peixes fazem a desova nesse ambiente, assim
como os camarões , depois de procriarem, saem. Relação distante com o manguezal.
12 – Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
UC não conhece e nem ouviu falar.
13 – Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
Reconhece área de APP, como a área que está nos fundos da sua residência, e mais acima
também, onde é proibido construções, por causa dos animais e das árvores ali existentes.
14 – Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
124
Não conhece a Resex.
15 – Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
Aumento do número de moradores, antes havia mais vegetação, agora percebe mais casas.
16 – Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
Acha que deveria ter mais árvores e menos construções.
17 – O que poderia ser melhorado na região?
Esgoto - melhorias.
18 – Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Algo relacionado ao meio ambiente (preservação) e o esgoto.
Participaria da reunião.
Local sugerido Conselho Comunitário Costeira.
Entrevista 3
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: SP Município: São Paulo
02. Estado civil:
( )solteiro ( x )casado ( )viúvo ( )desquitado ( )divorciado
03. Escolaridade
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto ( x ) ensino fundamental completo
( ) ensino médio incompleto ( ) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo. Qual?
04. Principal fonte de renda familiar:
(x )assalariado ( )autônomo ( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
OBS: afastado do trabalho em perícia médica
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
( )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos ( )02 a 05 anos
( )mais de 05 anos (x )mais de 10 anos ( )mais de 20 anos
06. Sobre a residência:
125
( x ) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição ( ) Imóvel alugado ( ) Imóvel
funcional ( ) Imóvel cedido ( ) Outro, Qual
07. Número de pessoas na residência: 02 (duas)
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 02(duas)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não ( x ) Sim. Quantos? 01 (hum)
10.Se em idade escolar, onde estuda(m)? Sim. 3º grau – (não soube precisar)
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
( ) carro próprio (x) carro da família ( ) moto ( ) ônibus ( ) outro
Transcrição da Entrevista
1 – Você gosta de viver aqui?
Acha bom o local. Destaca a melhoria que vem sendo feita no calçamento em parceria com o
vereador Erádio. Solicitaram também mais lixeiras junto a COMCAP.
2 – Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Vizinhança tranquila. Não trabalham coletivamente, bom entrosamento com alguns vizinhos,
mas com algumas pessoas pequenas divergências.
3 – Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Sem organizações comunitárias.
4 – Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com eles?
Diretamente com o vereador do bairro, vão até o portão da sua residência conversar sobre
os problemas. Morador entrevistado solicitou com a COMCAP mais lixeiras.
5 – Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
Lixo - COMCAP
Esgoto individual, fossa (séptica) e sumidouro.
Água - CASAN
Luz - CELESC
6 - Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
Os serviços são certinhos. Serviços de qualidade luz e água. Exceto em dias de chuva onde a
água fica mais amarronzada.
7 - O que significa Meio Ambiente para você?
Meio Ambiente é o que está ao redor da gente. Preservação. Proteção.
8 - Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
126
Esgoto. Foi feito um abaixo assinado pelos moradores e levado ao vereador do bairro, pra se
ter a coleta de esgoto. Moradores dizem que passa a rede coletora na rodovia principal.
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
a) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes ambientes?
Animais domésticos, animais observados como belos pássaros, Tucanos, saguis
libero bananas pra eles comerem, cobras - Rateira com 2m, grande, expulsaram
para o mato sem matá-la, aranhas. Árvores frutíferas como caqui, ameixa, amora,
bananeiras, dentro da sua residência, algumas já estavam quando comprou a
residência.
b) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram mais
recentemente? Quais?
Não
c) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Não
10 - Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
Reconhece a mata local à frente da sua residência. Cita árvores frutíferas presente no local.
11 - E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
Mangue fica localizado na parte de baixo, próximo à ponte.
12 - Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
Não conhece.
13 - Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
APP tem várias pessoas que ocupam essas áreas e tem que desocupá-las. Áreas invadidas.
14 - Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
Não sabe.
15 - Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
Na rua não muito, mas na rodovia, o mercado Imperatriz, muitos comércios e a via expressa
concluída.
16- Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
Triste. Compara com São Paulo, cidade natal, onde havia muitas árvores e agora só existem
casas, indústrias. A população cresce e ocupa o lugar dos animais.
17 - O que poderia ser melhorado na região?
Esgoto e resíduos sólidos na rua expostos. Morador entrevistado ligou para a COMCAP
sobre o problema do lixo.
127
18 - Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Esgoto.
Local da atividade sugerida, conversar com vereador do bairro Erádio (ele gerencia) e a
esposa é a líder comunitária.
Entrevista 4
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: SC Município: Biguaçu
02. Estado civil:
( )solteiro ( )casado ( )viúvo ( )desquitado ( x )divorciado
03. Escolaridade
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto (x) ensino fundamental completo
( ) ensino médio incompleto ( ) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo. Qual?
04. Principal fonte de renda familiar:
( )assalariado (x )autônomo ( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
( )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos ( )02 a 05 anos
( )mais de 05 anos ( )mais de 10 anos (x)mais de 20 anos
06. Sobre a residência:
(x) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição ( ) Imóvel alugado
( ) Imóvel funcional ( ) Imóvel cedido ( ) Outro, qual
07. Número de pessoas na residência: 05 (cinco)
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 04(quatro)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não ( x ) Sim. Quantos? 03 (três)
10.Se em idade escolar, onde estuda(m)? Não. 01 semi analfabeto (8° série - Autista)
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
( ) carro próprio ( ) carro da família ( ) moto (x) ônibus ( ) outro
128
Transcrição da Entrevista
1- Você gosta de viver aqui?
Ama viver aqui.
2- Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Boa vizinhança. Não trabalham em conjunto. Há divergências nos projetos, ex: asfalto
colocado no começo da rua prejudicou, ficou pior.
3- Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Sim, Conselho Comunitário. Não participa.
4 - Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com eles?
Todos os problemas são resolvidos pelo Erádio da Prefeitura.
5 - Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
Água - CASAN
Luz - CELESC
Esgoto - fossa
6 - Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
Paga esgoto público. Tem rede de esgoto na rua, porém o pessoal do lado esquerdo (parte
alta) tem acesso. A tubulação passa na rua.
7 - O que significa Meio Ambiente para você?
Árvores, animais.
8 - Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
Não.
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
a) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes ambientes?
Macacos, saguis, pássaros
b) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram mais
recentemente? Quais?
Não
c) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Não
10 - Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
Não.
11 - E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
Reconhece o manguezal local.
129
12 - Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
Reconhece a palavra, mas não sabe.
13 - Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
Não sabe.
14 - Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
Ouviu falar, mas não sabe.
15 - Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
Sim, viaduto, o aumento de casas, urbanização. Havia poucas casas quando veio morar no
local.
16- Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
Acha legal o crescimento do bairro. Lugar calmo, aluguéis de casas sem bagunça na rua.
17 - O que poderia ser melhorado na região?
Posto de saúde local.
Melhorar a estrutura da rua - asfalto no começo é prejudicial
Limpeza de bueiros e colocação de venenos para rato, pois no verão o mau cheiro é
insuportável.
A taxa de esgoto vem na conta, porém não tem acesso. Sabe que o esgoto vai para o rio.
18 - Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Esgoto - mau cheiro e risco de doenças.
2º. Dia de entrevistas – 29 de junho de 2013
Entrevista 5
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: SC Município: Joaçaba
02. Estado civil:
( )solteiro ( )casado ( )viúvo ( )desquitado (x )divorciado
03. Escolaridade
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental completo
( ) ensino médio incompleto (x) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto ( )
ensino superior completo. Qual?
130
04. Principal fonte de renda familiar:
( )assalariado (x )autônomo ( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
Comércio - Bar
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
( )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos ( )02 a 05 anos
( )mais de 05 anos (x )mais de 10 anos ( )mais de 20 anos
06. Sobre a residência:
(x) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição ( ) Imóvel alugado
( ) Imóvel funcional ( ) Imóvel cedido ( ) Outro, qual
07. Número de pessoas na residência: 01 (uma)
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 01(uma)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não (x) Sim. Quantos? 03(três) (31/27/8)
10.Se em idade escolar, onde estuda(m)? Sim, Escola Municipal Urbana Desdobrada Adotiva
Liberato Valentim
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
( ) carro próprio ( ) carro da família ( ) moto (x) ônibus (x) outro taxi
Transcrição da Entrevista
1- Você gosta de viver aqui?
Sim, meu lugar, minha família e meus amigos. Aqui tenho tudo!
2- Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Não! Individualismo. Aqui é cada um por si. O vereador ajuda.
3- Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Centro comunitário, clube de mães. Mas atendem aos interesses do próprio clube. Não é
coletivo.
4 - Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com
eles?
Não sabe explicar. Não existe reunião(s). Não há ligação. Tudo passa pelo vereador.
Antes havia coletivo. Acabou com (a atuação) o vereador.
5 - Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
Todos, menos esgoto. Esgoto não existe. Eu tenho fossa, na frente do meu terreno.
6 - Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
131
Bom!!
7 - O que significa Meio Ambiente para você?
A obra do viaduto cortou os laços das famílias e removeu pessoas. A obra do elevado
(viaduto) foi construída neste local por causa do meio ambiente. A ação (do Estado)
atrapalha a vida das famílias. Isso é meio ambiente/atrapalhar...(chorou....)! Com a
remoção das famílias houve fragmentação... Parece que o ser humano vale menos que o
meio ambiente!
8 - Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
Não vê problemas!
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
a) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes
ambientes?
Não sabe!
b) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram mais
recentemente? Quais?
Não sabe!
c) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Não sabe!
10 - Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
Não sabe!
11 - E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
Tem que existir, né! Mas por causa do mangue estão sofrendo (população). O problema da
estrada! Mangue é um entrave. O meio ambiente atrapalha!
12 - Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
Não sabe!
13 - Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
Não sabe!
14 - Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
Sim. Coisas do mangue
15 - Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
O maior problema foi a estrada e a construção do viaduto.
16- Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
Não é bom! A estrada e o viaduto “acabou” com amizades
132
17 - O que poderia ser melhorado na região?
Mais áreas de lazer, comunidade mais unida, mais representantes (comunitários), outros
vereadores, crianças com direito a esportes e longe das drogas. Campo de futebol,
creches, livrar crianças das drogas, livrar todos das drogas. (relato de prostituição infantil
no local).
18 - Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Todos os laços de família que são respostas para sobrevivência foram impedidos pela
legislação. As pessoas não tem acesso livre a soluções e recursos do local.
Entrevista 6
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: SC Município: Florianópolis
02. Estado civil:
( )solteiro (x )casado ( )viúvo ( )desquitado ( )divorciado
03. Escolaridade
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental completo (
) ensino médio incompleto (x) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo. Qual?
04. Principal fonte de renda familiar:
( x )assalariado (x )autônomo ( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
Obs: pescador profissional 31 anos
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
( )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos ( )02 a 05 anos
( )mais de 05 anos ( )mais de 10 anos (x )mais de 20 anos
Obs: 60 anos vive no local
06. Sobre a residência:
( x ) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição ( ) Imóvel alugado
( ) Imóvel funcional ( ) Imóvel cedido ( ) Outro, qual
07. Número de pessoas na residência: 12 (ele, a esposa e 10 filhos)
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 03(três)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não ( x ) Sim. Quantos? 03 + 1(hum) neto
133
10.Se em idade escolar, onde estuda(m)? Não
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
( ) carro próprio ( ) carro da família ( ) moto (x) ônibus ( ) outro
Transcrição da Entrevista
1- Você gosta de viver aqui?
Sim, principalmente, por causa da pesca
2- Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Boa relação. Não participa.
3- Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Creche, centro comunitário. Mas não participa e não sabe informar o que ocorre lá.
4 - Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com
eles?
Junta toda a comunidade e vem e resolve. Todo mundo junto...bloqueio de rua para fazer
lombada, né...
5 - Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
Sim. O esgoto vai para o mar. Não tem rede de esgoto.
6 - Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
Bom! Exceto o esgoto.
7 - O que significa Meio Ambiente para você?
Coisa para respeitar. Aqui é reserva. Mas o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente) não quer que a gente trabalhe.
8 - Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
Vida difícil do pescador de caranguejo. O IBAMA proíbe. Multa é alta. Sessenta e oito
mil....me multaram.... (Indignado pela multa imposta pelo IBAMA no valor de
R$68.000,00). Não entende os motivos. Não posso parar de trabalhar. Se coloca rede,
tudo é crime ambiental.
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
a) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes
ambientes?
Peixes
b) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram mais
recentemente? Quais?
134
Não!
c) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Não!
10 - Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
Não sabe!
11 - E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
Ele é nosso. É bom....captura de marisco e caranguejos, fornece comida.
12 - Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
Manguezal
13 - Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
Não sabe!!
14 - Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
A reserva daqui... (Resex). Tem que ser respeitada para preservar.
15 - Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
A via expressa foi a maior transformação. A via expressa acabou com o camarão. O
aterro ajuda a acabar de vez (com o camarão).
16- Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
Ruim para quem vive de pesca.
17 - O que poderia ser melhorado na região?
Não sabe
18 - Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Grupo escolar (sugestão de lugar). A reserva é um bom negócio, diante da realidade, para
as oitenta pessoas autorizadas.
Entrevista 7
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: RS Município: Gramado
02. Estado civil:
( )solteiro ( x )casado ( )viúvo ( )desquitado ( )divorciado
03. Escolaridade
135
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental completo ( )
ensino médio incompleto (x) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo. Qual?
04. Principal fonte de renda familiar:
(x )assalariado (x)autônomo ( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
(x )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos ( )02 a 05 anos
( )mais de 05 anos ( )mais de 10 anos ( )mais de 20 anos
06. Sobre a residência:
( ) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição (x) Imóvel alugado ( ) Imóvel funcional
( ) Imóvel cedido ( ) Outro, Qual
07. Número de pessoas na residência: 08 (oito)
OBS: moram na residência duas famílias com filhos
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 04 (quatro)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não ( x ) Sim. Quantos? 01 (hum)
10.Se em idade escolar, onde estuda(m)? Sim. Colégio Júlio Costa Neves
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
( ) carro próprio ( ) carro da família ( ) moto (x) ônibus ( ) outro
Transcrição da Entrevista
1- Você gosta de viver aqui?
O lugar é bom. Mas tudo é perigoso. A cidade aqui é maior que a minha. Estou
aprendendo a viver aqui.
2- Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Não. Pouco tempo morando no local. Trabalho o dia inteiro.
3- Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Clube de mães e uma creche (apontou os fundos da casa, em direção a rua principal, onde
tem uma creche).
4 - Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com
eles?
Não sabe como a comunidade resolve os problemas. Estão preocupadas por que ouviu
falar que a casa vai ser demolida para alargar a rua.
136
5 - Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
Sim.
6 - Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
Lixo e serviço de ônibus são bons. Não há policiamento. A policia rodoviária estadual fica
somente na frente do supermercado Imperatriz.
7 - O que significa Meio Ambiente para você?
Meio ambiente é conscientização. Não jogar lixo na rua. Cuidar da educação dos filhos.
Os filhos (inclui os da amiga com quem divide a casa) participaram da feira de ciências do
colégio. Sempre trazem novidades. Integra os pais com a escola, né.
8 - Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
Lixo na rua, água na rua. Forte odor quase todos os dias, principalmente, em dias quentes
(acham que é do esgoto).
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
a) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes ambientes?
Caranguejo. Não sabe....
b) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram mais
recentemente? Quais?
Não!
c) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Não!
10 - Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
Área verde ao redor de mar e rios
11 - E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
O manguezal, pelo que vi na televisão, é um monte de lodo, preto e fedido....e que tem um
monte de caranguejo.
12 - Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
Grupo que fiscaliza o meio ambiente.
13 - Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
(comparou área de preservação com situação similar no interior de seu estado). Área para
preservar.
14 - Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
Não sabe!
15 - Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
Não Sabe!
137
16- Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
Não sabe!
17 - O que poderia ser melhorado na região?
Aqui é tudo limitado. Não há liberdade para fazer as coisas individualmente. Falta atitude
das pessoas. Trânsito é o maior problema. Falta segurança, ruas e melhores calçadas.
Falta praças e áreas de lazer. Perto do Bistek (supermercado) tem um local legal. (neste
momento, faz uma comparação com sua cidade natal e critica a realidade de Florianópolis).
18 - Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Entender o por quê do cheiro ruim no local.
3º. Dia de Entrevistas – 02 de julho de 2013
Entrevista 8
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: SC Município: Grão Pará
02. Estado civil:
( )solteiro ( )casado ( )viúvo ( )desquitado (x )divorciado
03. Escolaridade
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto (x) ensino fundamental completo
( ) ensino médio incompleto ( ) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto ( )
ensino superior completo. Qual?
04. Principal fonte de renda familiar:
( )assalariado (x )autônomo ( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
( )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos ( )02 a 05 anos
( )mais de 05 anos (x )mais de 10 anos ( )mais de 20 anos
06. Sobre a residência:
(x) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição ( ) Imóvel alugado
( ) Imóvel funcional ( ) Imóvel cedido ( ) Outro, qual
07. Número de pessoas na residência: 05 (cinco)
138
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 02(dois)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não (x) Sim. Quantos? 05(cinco)
10.Se em idade escolar, onde estuda(m)? Sim, Universidade Assesc – curso Mídia Eletrônica
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
(x ) carro próprio ( ) carro da família ( ) moto ( ) ônibus ( )
Transcrição da Entrevista
1- Você gosta de viver aqui?
Gosto! Lugar sossegado. Sem violência. O único problema é a enchente.
2 - Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Não existe (o vereador é a solução).
3- Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Centro comunitário (ajuda com dinheiro).
4 - Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com
eles?
Soluções individuais e manifestações públicas
5 - Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
Tudo ok! Tenho fossa e sumidouro.
6 - Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
Falta ação e serviços (obras) para resolver o problema do alagamento.
7 - O que significa Meio Ambiente para você?
Proteção das áreas ambientais. Mata preservada. Não a ocupação irregular.
8 - Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
Ocupação irregular e casas em áreas de preservação (APP). Aponta para uma casa na
encosta, atrás do terreno do supermercado Imperatriz.
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
Antigamente era menos ocupado (casas). Só no lado direito da rua (onde ele mora)
existiam casas. Lado esquerdo não.
d) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes
ambientes?
Poucos. Gaivotas, pássaros.
e) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram mais
recentemente? Quais?
139
Não sabe!
f) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Não sabe!
10 - Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
Apontou os morros. Citou árvores: Garapuvu e “outras”.
11 - E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
Não deve ser mexido. Protege a fauna dos peixes. Aqui onde moro é mangue!
12 - Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
Não
13 - Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
Tudo aquilo que cresce na natureza a vontade. Ninguém planta. (tem um terreno na lagoa
do Peri e, por isso, conhece bem o que é UC).
14 - Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
Lagoa do Peri
15 - Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
Ocupação sem regras, desordenada.
16- Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
É um erro. A natureza é tão bonita. O esgoto é tratado, aqui. Tem um líquido preto que
todo mês aparece, não sei o que é . Acho que vem da oficina. Tem um cheiro horrível.
17 - O que poderia ser melhorado na região?
Esgoto. Rede de Esgoto. (Apesar de considerar a existência de tratamento, considera a rede
essencial, o que foi possível entender).
18 - Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Esgoto. E se descobrem o que é o líquido preto.
Entrevista 9
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: RS Município: Treze de Maio
02. Estado civil:
( )solteiro (x )casado ( )viúvo ( )desquitado ( )divorciado
03. Escolaridade
140
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto (x) ensino fundamental completo (
) ensino médio incompleto ( ) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo. Qual?
04. Principal fonte de renda familiar:
( )assalariado (x )autônomo ( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
( )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos ( )02 a 05 anos
(x )mais de 05 anos ( )mais de 10 anos ( )mais de 20 anos
06. Sobre a residência:
( ) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição (x) Imóvel alugado
( ) Imóvel funcional ( ) Imóvel cedido ( ) Outro, qual
07. Número de pessoas na residência: 05 (cinco)
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 02(duas)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não ( x ) Sim. Quantos? 03 (três)
10.Se em idade escolar, onde estuda(m)? Sim. Colégio Julio Costa Neto
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
(x ) carro próprio ( ) carro da família ( ) moto ( ) ônibus ( ) outro
Transcrição da Entrevista
1- Você gosta de viver aqui?
Sim, tranqüilidade. Do contexto da região (proximidades, negócios, praias)
2- Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Não. Sem união.
3- Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Não.
4 - Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com
eles?
Não sabe!
5 - Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
Esgoto não tem. Deságua tudo no mangue. Todos jogam tudo no mangue. Luz Ok!.
Outros, também.
6 - Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
141
Precário, esgoto.
7 - O que significa Meio Ambiente para você?
Significa todo contexto onde você vive. A condição natural da área.
8 - Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
Esgoto, maré alta (cheias)
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
Não
a) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes ambientes?
Jacaré no mangue (jura que já viu), caranguejo e paca.
b) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram mais
recentemente? Quais?
Capivara, saracura e muitos ratos
c) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Aves
10 - Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
Mata entre a baixada e o morro.
11 - E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
Vivo em cima dele. Aqui é aterro. Senão seria mangue, igual ao dos fundos.
12 - Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
Parques ambientais. Tem um perto da UFSC, Córrego Grande. No norte da ilha, tem
outro. Há, também, a serra do Morro dos Cavalos / Maciambu (Br 101, sentido sul, a
partir de Florianópolis).
13 - Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
Parques que não podem ser alterados.
14 - Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
Não! Conheço nos estados de Mato Grosso e Rio Grande do Sul. É importante para
preservar o futuro da material prima (extrativismo).
15 - Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
Muitas! Invasão de mangue e morros. Loteamentos irregulares e outros regulares, mas
que não podiam ser legais.
16- Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
Injustiça. O pobre não pode. O rico sim. Falta mobilidade.
17 - O que poderia ser melhorado na região?
142
Esgoto. Saneamento Básico. Rodovia com pista adequada e com acostamentos.
18 - Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Com resolver o problema do esgoto. Enchentes. O comercio está sujeito a enchentes....
Entrevista 10
Diagnóstico sócio-econômico
01. Natural de qual Estado: RS Município: Porto Alegre
02. Estado civil:
( )solteiro ( x )casado ( )viúvo ( )desquitado ( )divorciado
03. Escolaridade
( ) não alfabetizado ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental completo ( )
ensino médio incompleto (x) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo. Qual?
04. Principal fonte de renda familiar:
(x )assalariado (x)autônomo ( )emprego informal
( )funcionário público ( )outro ( )profissional liberal
05. Tempo de residência ou trabalho no local:
( )menos de 01 ano ( )01 a 02 anos (x)02 a 05 anos
( )mais de 05 anos ( )mais de 10 anos ( )mais de 20 anos
06. Sobre a residência:
( ) imóvel próprio quitado ( ) Imóvel em aquisição (x) Imóvel alugado ( ) Imóvel funcional
( ) Imóvel cedido ( ) Outro, Qual
07. Número de pessoas na residência: 04 (quatro)
08. Número de pessoas que compõe a renda familiar: 02 (duas)
09. Tem filhos(as)? ( ) Não ( x ) Sim. Quantos? 02 (dois)
10.Se em idade escolar, onde estuda(m)? Sim. Escolas próximas (não soube precisar)
11. Qual o meio de transporte que você utiliza?
( ) carro próprio ( ) carro da família ( ) moto (x) ônibus ( ) outro
Transcrição da Entrevista
1- Você gosta de viver aqui?
143
Sim. Um dos últimos lugares tranquilos dentro de uma capital.
2- Como é a relação entre os moradores/vizinhos? Há projetos e afazeres coletivos?
Difícil. O morador do local (manezinho) não cuida. Não sabe cuidar.
3- Existem organizações comunitárias? Você conhece ou participa de alguma delas?
Não.
4 - Como a comunidade resolve os problemas do bairro? Qual sua responsabilidade com
eles?
Não vejo. Eles não se interessam. Eles não estão regularizados (casas e prédios).
5 - Você identifica serviços públicos presentes no bairro (água, luz, esgoto)? Quais?
OK! Esgoto não. É jogado no mangue. Falta total de consciência.
6 - Como você avalia a qualidade / funcionalidade dos serviços públicos do local?
Bom.
7 - O que significa Meio Ambiente para você?
Cuidado. Preservar o futuro dos filhos.
8 - Você observa problemas ambientais na sua comunidade? Quais?
Esgoto, ocupação irregular, prática de atear fogo no lixo doméstico. Não existe
consciência.
9 – Você percebe as diferenças entre os ambientes naturais da região em que mora?
Não
a) Você identifica/conhece as espécies animais e vegetais existentes nestes
ambientes?
Gralha, bugio e sagui.
b) Você percebe a existência de espécies animais ou vegetais que apareceram
mais recentemente? Quais?
Sagui.
c) Você sabe informar se alguma espécie desapareceu do local?
Não!
10 - Você já ouviu falar em mata de encosta? O que sabe a respeito?
Já ouvi falar. Região próxima ao mar.
11 - E sobre manguezais, o que sabe a respeito? Qual a sua relação com o manguezal?
Fundo de onde eu moro, há bastante. Dizem que aqui era mangue.
12 - Você sabe o que são Unidades de Conservação? Conhece alguma?
Não
13 - Você sabe o que é uma Área de Preservação Permanente?
144
(apontou o morro em frente). É lá....
14 - Você conhece alguma Reserva Extrativista? Conhece sua função e importância?
Não
15 - Você percebe a ocorrência de transformações na região ao longo do tempo?
Crescimento populacional, muitos prédios e muitas casas. Todo dia uma casa sobre o
mangue.
16- Considerando as transformações ambientais ao longo do tempo, através de registros
fotográficos pessoais e memória, qual o sentimento em relação a isso?
Tristeza.
17 - O que poderia ser melhorado na região?
Infraestrutura
18 - Dê uma sugestão de ação que possa ser realizada pelos alunos do IFSC para melhorias
sociais e ambientais na região:
Esgoto. Muito acidente na estrada.
145
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12.713:
Ecotoxicologia aquática - Toxicidade aguda - Método de ensaio com Daphnia spp.
(Crustacea, Cladocera). Rio de Janeiro, 2009. 23p.
ALMEIDA, L. M.; FREITAS, M. B. Qualidade da água subterrânea e sazonalidade de
organismos coliformes em áreas densamente povoadas com saneamento básico precário.
X Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas – UFRJ. Rio de Janeiro. 2008.
ARAUJO, B. N. Contribuição a qualidade da água da Bacia hidrofica do Rio Ratones-
Poluição orgânica. Dissertação de Mestrado em Geociências, UFSC, Florianópolis. 124 p.,
1993.
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sanitário elevam índices de poluição das baías de Florianópolis. Disponível em:
http://floripamanha.org/2013/07/ligacoes-clandestinas-de-esgoto-sanitario-elevam-indices-de-
poluicao-das-baias-de-florianopolis/#sthash.RfYPlLsx.dpuf. Acesso em 17/06/2013.
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do Maciço da Costeira- Florianópolis- SC. Trabalho de Conclusão de Curso de Geografia.
Universidade Federal de Santa Catarina: Florianópolis, 2012.
BARCELOS, Valdo. (Re)pensando metodologias em educação ambiental no cotidiano da
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ambiental escolar comunitário – PAEC, Caderno 4. Secretaria de Estado de Educação –
SEDUC. Cuiabá: TantaTinta, pág 71-78, 2004.
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