Projetos de intervenção em educomunicação: as áreas de intervenção

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Projetos de intervenção em educomunicação Lígia Beatriz Carvalho de Almeida Campina Grande/PB v 1.4 - 22 jul. 16 DOI: 10.13140/RG.2.1.2915.7526 Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional. Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/. Como citar este trabalho (ABNT) ALMEIDA, Ligia Beatriz Carvalho de. Projetos de intervenção em educomunicação. Disponível em: http://issuu.com/ligiacarvalho77/docs/as___reas_de_interven____o_da_educo/1. Acesso em: dia, mês, ano de acesso.

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Material didático para planejamento de intervenções educomunicativas.

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  • Projetos de interveno

    em educomunicao

    Lgia Beatriz Carvalho de Almeida

    Campina Grande/PB

    v 1.4 - 22 jul. 16

    DOI: 10.13140/RG.2.1.2915.7526

    Este trabalho est licenciado sob uma Licena Creative Commons

    Atribuio-NoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional. Para ver uma

    cpia desta licena, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/4.0/.

    Como citar este trabalho (ABNT)

    ALMEIDA, Ligia Beatriz Carvalho de. Projetos de interveno em educomunicao. Disponvel em: http://issuu.com/ligiacarvalho77/docs/as___reas_de_interven____o_da_educo/1. Acesso em: dia, ms, ano de acesso.

  • Projetos de interveno em educomunicao _____________________________________________________________________________

    Sumrio

    Introduo ..................................................................................................................................... 1

    Razes da educomunicao ........................................................................................................... 2

    Conceituando educomunicao .................................................................................................... 4

    Conceituando interveno ............................................................................................................ 5

    Conceituando ecossistemas comunicativos .................................................................................. 7

    Intervenes em educomunicao ............................................................................................. 11

    As reas de interveno ........................................................................................................... 13

    Planejando intervenes em cada rea.................................................................................... 14

    1 Epistemologia da Educomunicao .................................................................................. 15

    2 - Produo miditica ........................................................................................................... 16

    3 - Educao para a comunicao .......................................................................................... 19

    4 - Pedagogia da comunicao ............................................................................................... 21

    5 - Mediao tecnolgica na educao .................................................................................. 25

    6 - Expresso atravs das artes .............................................................................................. 28

    7 - Gesto da Comunicao.................................................................................................... 31

    Situaes prticas ..................................................................................................................... 34

    Educomunicao Corporativa ................................................................................................ 34

    Educomunicao Comunitria ............................................................................................... 35

    Educomunicao Escolar ........................................................................................................ 37

    Referncias .................................................................................................................................. 39

    Lista de Quadros e Figuras

    Quadro 1 Espaos de educao.................................................................................................. 1

    Figura 1- Relao criana/mdia: comportamentos dos pais e educadores ................................. 3

    Figura 2 - Ecossistemas e formao do sentido ............................................................................ 9

    Quadro 2 reas de interveno educomunicativas ................................................................. 13

    Quadro 3 Epistemologia da Educomunicao .......................................................................... 15

    Quadro 4 Produo Miditica .................................................................................................. 18

    Quadro 5 Educao para a Comunicao ................................................................................. 20

    Quadro 6 Pedagogia da Comunicao ..................................................................................... 24

    Quadro 7 Mediao Tecnolgica na Educao ........................................................................ 27

    Quadro 8 Expresso atravs das artes ...................................................................................... 30

    Quadro 9 Gesto da comunicao .......................................................................................... 33

  • Projetos de interveno em educomunicao

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    Introduo

    Educomunicao educao e igualmente comunicao, a educao se constitui

    por meio da comunicao. Educomunicao um campo de conhecimento com

    identidade prpria, mas que surgiu como um denominador comum entre os campos da

    comunicao e da educao, demarcando o espao em que eles se entrecruzam,

    sobrepondo-se.

    A mdia no Brasil considerada uma instncia de educao informal. A maior

    parte dos produtos miditicos voltada ao entretenimento, contudo, mesmo no tendo a

    inteno de educar, a mdia contribui para a educao da populao tanto quanto os

    produtos jornalsticos que, ao fornecerem informao seletiva sobre os fatos, so

    determinantes para que as pessoas construam sua viso de mundo.

    Todavia, a mdia atua tambm em apoio educao formal e no-formal. Para

    entender a questo, preciso conhecer as diferenas entre educao formal, no-formal

    e informal, conforme Gohn (2006):

    Quadro 1 Espaos de educao

    Educao Formal No-Formal Informal

    Caractersticas

    Obrigatria em seu n-

    vel bsico, estruturada,

    organizada, sistem-

    tica, intencionalmente

    planejada e avaliada.

    Cursos livres com inteno

    de ensinar, que capacitam

    para o trabalho, para a

    manuteno da sade, para

    a articulao coletiva, entre

    outros.

    Acontece cotidianamente, de

    forma espontnea na

    convivncia com familiares,

    amigos, colegas e interlocutores

    ocasionais.

    Ambiente

    Escolas de educao

    infantil, bsica e

    superior, credenciadas

    pelo governo.

    Escolas livres (de lnguas,

    de dana, de computao,

    etc) mantidas por

    organizaes do primeiro e

    terceiro setores, emissoras

    educativas etc.

    Mltiplos espaos de

    convivncia e de socializao.

    Lar, instituies religiosas,

    mdia (rdio, tv, jornal, redes

    sociais), clubes, bares, natureza

    entre outros.

    Fonte: elaborado pela autora

    Dessa forma, no se pode generalizar e afirmar que a mdia exclusivamente

    uma instncia de educao informal, ela abre algum espao para a educao formal e

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 2 -

    atua, s vezes, na educao no-formal. O Telecurso, veiculado na televiso aberta,

    um programa que d apoio educao formal. Vale mencionar ainda que as emissoras

    de rdio e tv educativas, assim como os programas educativos, tm a inteno de

    educar.

    Todavia, tendo a expressa inteno de educar ou no, a qualidade dos produtos

    miditicos sempre foi questionada, o que fez brotar a semente da educomunicao.

    Razes da educomunicao

    Compreender o significado de educomunicao requer retornar no tempo para

    entender como o campo de conhecimento surgiu. Suas razes esto basicamente

    entranhadas nos campos da comunicao e da educao. Como consequncia, um

    dilogo constante com ambos pontua as discusses sobre a educomunicao.

    No sculo XX, o avano da tecnologia provocou sucessivas mudanas no

    sistema de comunicao social: surgiram publicaes impressas peridicas, como o

    jornal e a revista. Na sequncia, vieram as mdias eletrnicas de massa: o cinema, o

    rdio, a TV e as digitais, em suportes diversos como computadores e plataformas

    mveis. Conforme surgiram, foram se infiltrando no cotidiano social. O problema que

    elas no s questionavam a ordem e os valores morais existentes, mas tambm os

    conceitos vigentes de cultura e de arte eruditas, provocando abalos nas crenas

    familiares e sociais e motivando discusses sobre a qualidade da sua contribuio para a

    sociedade. A primeira reao da maioria das pessoas tem sido a de condenar as

    inovaes tecnolgicas, contudo, diante da tentativa fracassada de det-las ou de

    impedir o acesso de crianas e jovens a elas, duas principais alternativas acabam se

    constituindo para a famlia e que terminam por envolver tambm os educadores

    (ALMEIDA, 2012).

    A primeira delas, que se denomina educao para a comunicao, mdia-

    educao ou media education, em ingls, passa pelo reconhecimento de que alguns

    produtos miditicos tm qualidade, o que implica em educar os jovens receptores das

    mdias para selecionar o que consumir a partir de critrios que posicionam os produtos

    como benficos ou perniciosos, utilizando processos que abrangem a anlise crtica do

    contedo das mensagens, do seu processo de produo e de sua funo social. Outra

    opo, ao se identificar a importncia da informao e da comunicao social na

    formao para a cidadania, levar os jovens a conviverem com as mdias de forma

  • Projetos de interveno em educomunicao

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    proveitosa, levando-os no s a desenvolverem uma postura crtica em face de suas

    mensagens e de suas propostas, mas a se apropriarem delas para dialogar e negociar

    ideias e valores comuns e se articularem para a construo coletiva de uma realidade

    que os satisfaa e promova melhorias em sua comunidade (ALMEIDA, 2012).

    Figura 1- Relao criana/mdia: comportamentos dos pais e educadores

    pais/ educadores

    opes oferecidas para crianas

    Educao para a comunicao

    Dilogo

    Fonte: produzido pela autora.

    Sendo um movimento de origem tipicamente latina, gestado no seio de

    movimentos sociais, a educomunicao d mais nfase ao ltimo objetivo sem, no

    entanto, descuidar do primeiro, isso porque durante a ditadura na Amrica Latina foi

    preciso alertar a populao sobre duas principais condies: a invaso cultural, que por

    meio da veiculao massiva de produtos miditicos importados colocava em risco a

    identidade nacional, e a explorao a que ela era submetida pelos governos,

    demonstrando serem os meios de comunicao utilizados como aparelhos ideolgicos

    dos Estados.

    possvel identificar nas matrizes da educomunicao motivaes semelhantes

    quelas que impulsionaram a educao. No incio da ditadura, o educador brasileiro

    Paulo Freire defendia a educao para a autonomia e para a liberdade (FREIRE, 2006) e

    afirmava que a pedagogia crtica-educativa faz da opresso e de suas causas objeto de

    reflexo dos oprimidos, de que resulta o engajamento necessrio na luta por sua

    libertao (FREIRE, 1968, p. 34). O mesmo se d em relao educao para a

    APROPRIAO - alm da seleo, produzir textos e

    disseminar ideias prprias usando as mdias.

    RECEPO/CONSUMO - selecionar os poucos produtos miditicos de qualidade para assistir.

    (maior passividade)

  • Projetos de interveno em educomunicao

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    participao, como demonstra o filsofo e educador Pedro Demo, que enfatiza estar a

    educao formando o sujeito capaz de ter histria prpria, e no histria copiada,

    reproduzida, na sombra dos outros, parasitria. Uma histria que permita ao sujeito

    participar da sociedade (DEMO, 2007, p.16).

    Dessa forma, com o envolvimento de educadores, comunicadores sociais e

    membros da sociedade civil, pretendia-se conscientizar as comunidades para que

    reconhecessem o seu prprio potencial para a libertao das condies opressoras, assim

    como o potencial da comunicao para a articulao.

    Portanto, ao denominador comum aos campos da educao e da comunicao

    deu-se o nome de educomunicao, incorporando um neologismo utilizado na Amrica

    Latina, na dcada de 1980, pelo pesquisador Mario Kapln e tambm pela UNESCO

    (SOARES, 2008, p. 43).

    Ismar Soares sintetiza a trajetria da educomunicao, que foi gestada

    nos embates das lutas sociais, junto ao pblico presente nos programas

    de educao de jovens e adultos, numa trajetria que conta mais de 30

    anos. Envolveu, primeiramente, os agentes sociais do movimento

    popular; chegou depois mdia renovando a linguagem e os contedos

    de programas massivos, especialmente na produo de documentrios

    de interesse educativo nas grandes emissoras de rdio e TV, para

    aportar finalmente na escola (SOARES, 2003, p. 9).

    Conceituando educomunicao

    Ismar Soares define a educomunicao como sendo:

    o conjunto das aes inerentes ao planejamento, implementao e

    avaliao de processos e produtos destinados a criar e fortalecer

    ecossistemas comunicativos em espaos educativos, melhorar o

    coeficiente comunicativo das aes educativas, desenvolver o esprito

    crtico dos usurios dos meios massivos, usar adequadamente os

    recursos da informao nas prticas educativas, e ampliar a

    capacidade de expresso das pessoas (SOARES, 2003, p.1).

    Com identidade prpria, o campo de conhecimento legitimou-se no Brasil em

    face dos resultados de pesquisa realizada, no fim da dcada de 1990, por pesquisadores

    do Ncleo de Comunicao e Educao da Escola de Comunicaes e Artes da

    Universidade de So Paulo, junto a agentes culturais de 12 pases da Amrica Latina,

  • Projetos de interveno em educomunicao

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    Portugal e Espanha (SOARES, 2008). A pesquisa revelou que, com o objetivo de

    transformar comunidades oprimidas ou marginalizadas e melhorar as condies de vida

    de indivduos ou dos seus integrantes como um todo, os especialistas recorriam a

    diversas atividades e usavam os recursos da comunicao e da educao (SOARES,

    MACHADO, 2015). As atividades eram categorizadas conforme estivessem

    relacionadas, por exemplo, com os objetivos de: conscientizar os participantes sobre o

    papel dos meios de comunicao; empoderar os indivduos; fomentar o dilogo e

    ampliar a capacidade de expresso; servir como um estmulo aprendizagem ou

    incorporao das tecnologias no cotidiano, entre outras. Dessa categorizao, surgiram

    reas de interveno educomunicativas. Entretanto, surge a questo: o que significa

    interveno1?

    Conceituando interveno

    Vale ressaltar que no se emprega em educomunicao o conceito de

    interveno no sentido de interdio, invaso, imposio ou interrupo, pelo contrrio,

    o sentido o da realizao de atividades, da proposio de alternativas inovadoras, da

    mediao, da oferta de referncias libertadoras, que usualmente, por diferentes motivos,

    no so vislumbradas pelos membros de uma comunidade (SOARES, 2011, p.49).

    comum se deparar com a seguinte justificativa: seus avs e seus pais j faziam

    assim. Pela fora do hbito, muitas vezes, uma situao pode no se alterar por si s,

    existe uma tendncia de reproduzir modelos/referncias de comportamento j

    disponveis entre os humanos, de perpetuar situaes. As intervenes procuram

    fornecer subsdios para o pensar diferente, que impulsione a ao e a mudana - de um

    estado A, para um estado B. A compreenso das dimenses sociais, polticas,

    ideolgicas, culturais e econmicas permite intervir educomunicativamente, permite

    impulsionar o agir, motivando o enfrentamento coletivo de problemas comunitrios. As

    intervenes sociais se voltam para o desenvolvimento pessoal, interessam-se pelo bem-

    estar coletivo dos sujeitos e norteiam-se pela filosofia educomunicativa. Intervir um

    ato de educao social que para Faur (1973, p. 126) "deve proporcionar ao homem a

    1 Conforme o dicionrio da lngua portuguesa (SANTIAGO-ALMEIDA, 2011, p. 410), intervir e interveno significam: in.ter.vir v.t. 1. Tomar parte voluntariamente; intrometer-se. 2. Interpor a sua prpria autoridade,

    iniciativa, competncia. 3. Pr-se como rbitro; mediar, assistir. v.i. 4. Ocorrer incidentalmente; sobrevir.

    in.ter.ven.o [Pl.: -es] s.f. 1. Ato ou efeito de intervir. 2. MED. Cirurgia. 3. Administrao de uma empresa por um

    delegado em caso de irregularidades. 4. Ao direta do governo federal em um estado.

  • Projetos de interveno em educomunicao

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    conscincia do seu lugar na sociedade, fazer-lhe compreender que pode e deve

    participar democraticamente na vida da coletividade e que, desta forma, possvel

    melhorar ou piorar a sociedade". O foco na interveno educomunicativa orienta-se

    principalmente para a escola, mdia e terceiro setor.

    Como o valor perseguido pela educomunicao a vivncia democrtica plena,

    fcil compreender a necessidade de um slido elo entre a educao e a comunicao

    para atingir esse objetivo, uma vez que a mencionada vivncia depende da compreenso

    e da aceitao por parte da populao de direitos e deveres a ela assegurados pelas leis,

    assim como de sua conscientizao de que pode e deve assumir o papel de protagonista

    de sua realidade. Ocorre que os cidados contemporneos so produto de um longo

    processo scio histrico de sonegao de direitos bsicos, durante o qual arcaicas

    estruturas de poder foram internalizadas e naturalizadas pelas pessoas, a ponto de, com

    frequncia, se esquecerem de que a vida em sociedade uma construo humana.

    Assim, ao ignorarem a existncia de muitos de seus direitos e possibilidades, pouco

    provvel que rompam com a ordem hegemnica, que reivindiquem e apoderem-se de

    seus direitos, bem como cumpram seus deveres sociais.

    A educomunicao pretende habilitar os cidados a exercerem seus direitos,

    principalmente aqueles que envolvem a liberdade de expresso e o acesso informao,

    o que implica em, por meio de aes educativas, conscientizar as comunidades sobre o

    poder da articulao comunitria na sociedade e o papel da comunicao e do dilogo

    na construo de conhecimentos e na conquista de melhores condies de vida.

    Importante frisar que se fala aqui da comunicao interativa, dialgica e no daquela

    unilateral, praticada pela maior parte dos meios de comunicao de massa; da

    comunicao que promove o encontro entre diversos pensamentos, permitindo a

    negociao de ideias e a formao de um pensamento inovador, criativo; da

    comunicao que no se limita ao encontro presencial e nem se restringe ao verbal.

    Destaca-se ainda, que a educomunicao prev atividades de interveno no

    apenas na educao formal e nem tampouco envolvendo somente crianas e jovens,

    onde quer que exista a necessidade do dilogo para o entendimento e crescimento, l

    poder atuar o educomunicador.

  • Projetos de interveno em educomunicao

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    Conceituando ecossistemas comunicativos

    O termo ecossistema comunicativo surge do conceito de ecossistema ecolgico,

    que apregoa que os sistemas na natureza so interdependentes e se interinfluenciam.

    Adicionalmente, outro conceito no campo da comunicao considerado, o de ecologia

    cognitiva, proposto por Pierre Lvy e que implica no estudo das dimenses tcnicas e

    coletivas da cognio, da aprendizagem em redes coletivas (LVY, 1993, p. 144-145

    apud SOARES, 2011, p. 43).

    Dessa forma, qualquer rede de comunicao que conecte pessoas com interesses

    em comum pode ser considerada um ecossistema comunicativo. As redes de

    comunicao costumam estar interligadas, de forma que se interinfluenciam. Vejamos

    um exemplo: os cidados se conectam ao ecossistema comunicativo formado pelas

    mdias de massa, o assunto proposto na novela ou na notcia vai pautar as discusses

    nos outros ecossistemas de comunicao dos quais participa: presenciais - famlia,

    escola, trabalho; mediados telefone, whatsapp, facebook e redes como instagram,

    pinterest, google+ entre outras. Por outro lado, tambm os cidados se articulam no

    interior de seus ecossistemas comunicativos e promovem manifestaes para pautar o

    grande ecossistema comunicativo miditico, que ir pautar o ecossistema comunicativo

    governamental e assim por diante.

    Soares (2011, p. 44) destaca que o ecossistema educomunicativo persegue o

    ideal de relaes, construdo coletivamente em dado espao, em decorrncia de uma

    deciso estratgica de favorecer o dilogo social, levando em conta, inclusive, as

    potencialidades dos meios de comunicao e de suas tecnologias. O autor coloca em

    evidncia a necessidade de se cuidar da sade e do bom fluxo das relaes entre as

    pessoas e os grupos humanos e do seu acesso e do uso adequado das tecnologias da

    informao (2002, p. 3) e defende um ecossistema comunicativo que proporcione um

    ambiente de dilogo equilibrado, no qual todas as partes possam se manifestar livre e

    respeitosamente, tornando possvel a avaliao e a negociao das diferentes opinies,

    em busca do melhor para a coletividade.

    Ao abordar o sistema educacional, Soares reconhece que em sociedades

    individualistas, competitivas, que visam apenas classificar os indivduos, esse ideal de

    comunicao um devaneio, nelas se legitimam e naturalizam ecossistemas

    comunicativos rgidos, marcados pela revolta e indisciplina (SOARES, 2011). Percebe-

  • Projetos de interveno em educomunicao

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    se, entretanto, que essa condio pode ser encontrada igualmente em todos os

    ecossistemas comunicativos, no exclusivamente no escolar.

    Para Liana Gottlieb (2010, p. 110), o conceito de ecossistema comunicativo

    envolve:

    as teias de relaes em determinado territrio ou espao educativo

    (presencial ou virtual), que supe-se sejam: a) inclusivas (nenhum membro da comunidade pode sentir-se fora do processo), b)

    democrticas (reconhecendo fundamentalmente a igualdade radical

    entre as pessoas envolvidas) e c) criativas (sintonizadas com todas as

    formas, os procedimentos, as linguagens e as tecnologias que facilitem

    ou tornem possvel a esperada integrao).

    Em relao ao uso da tecnologia, Ismar Soares (2011, p 45) prefere ir alm do

    que props Martn-Barbero2 ao afirmar que ecossistema comunicativo seria a ambincia

    proporcionada pelas novas tecnologias, para Soares a relao dialgica no definida

    pela tecnologia e sim por um tipo de convvio humano que dela se apropria visando

    convivncia saudvel. O convvio saudvel dependente de ecossistemas com fluxos de

    comunicao abertos, dialgicos, participativos, pois s por meio do dilogo coletivo

    que a formao do sentido, a articulao e a mobilizao se tornam possveis.

    A formao de sentido , porm um processo complexo, que perpassa os

    diversos ecossistemas frequentados pelos sujeitos e envolve tanto a comunicao direta,

    que aquela que acontece face a face, quanto a comunicao mediada, em que emissor

    e receptor no esto fisicamente no mesmo local e se comunicam com o auxilio de

    equipamentos tecnolgicos. Forma-se uma intrincada rede de mediaes (MARTN-

    BARBERO, 1997), envolvendo dilogos intrapessoais, interpessoais e grupais, que se

    retroalimentam. Intrapessoal diz respeito aos processos que acontecem subjetivamente,

    o indivduo tem suas crenas e vivncias pessoais que o habilitam a entender um fato,

    uma informao, de maneira nica. Interpessoal a relao entre pessoas, que tambm

    colabora para a formao de sentido, assim como o fazem as relaes entre grupos de

    pessoas em relaes grupais. O indivduo mantm relaes cotidianas nas trs esferas e

    tendo por base essas trocas, forma o sentido das mensagens que recebe.

    2 Martn-Barbero, Jesus. La educacin desde la comunicacin. Buenos Aires: Norma, 2002.

  • Projetos de interveno em educomunicao

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    Assim, no h um nico sentido possvel para uma mesma informao, cada

    indivduo constri o seu sentido a partir das relaes nos diferentes ecossistemas, como

    exemplifica a figura a seguir:

    Figura 2 - Ecossistemas e formao do sentido

    Fonte: produzido pela autora, tendo por base a Teoria das Mediaes de Martn-Barbero

    (1997)3.

    O propsito da educomunicao intervir no sentido de aumentar a conscincia

    crtica e a participao crtica dos sujeitos nos ecossistemas. O trabalho do

    educomunicador planejar, aplicar e avaliar aes, apropriando-se dos recursos das sete

    reas de interveno, apresentadas na sequncia. Seu objetivo, junto s mais diversas

    comunidades, implantar, ampliar ou fortalecer ecossistemas comunicativos, cuidando

    3 Utilizao de clip-arts do Office.com.

  • Projetos de interveno em educomunicao

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    para que eles mantenham um elevado coeficiente dialgico entre seus membros

    (SOARES, 2003).

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 11 -

    Intervenes em educomunicao

    Em educomunicao atua-se com intervenes socioculturais, nas quais o ato de

    intervir est ligado constatao de: explorao humana, conflitos, irregularidades,

    opresso, precrio aproveitamento da capacidade dos indivduos de construrem

    conhecimento e de atuarem como protagonistas de sua prpria realidade, alm da

    supresso dos direitos bsicos, principalmente, do direito informao e

    comunicao. Identificada a necessidade, cabe planejar uma ao de interveno,

    implant-la e avaliar os resultados alcanados. Contudo, para que o educomunicador

    possa atuar como mediador de conflitos, prestar assistncia, gerir relacionamentos, ele

    precisa estar conceitualmente preparado e ter desenvolvido competncias especficas.

    Conforme Soares (2014), as atividades de interveno esto alocadas em sete

    diferentes modalidades ou reas, so elas: 1) educao para a comunicao; 2)

    pedagogia da comunicao; 3) gesto da comunicao; 4) mediao tecnolgica na

    educao; 5) produo miditica educativa; 6) expresso comunicativa por meio de

    linguagens artsticas e 7) epistemologia da educomunicao.

    Este texto aborda o planejamento de intervenes, apresentando, de forma

    didtica, o objetivo que motiva as aes do ponto de vista de cada uma das reas, para

    auxiliar queles que se interessam por atividades educomunicativas e que enfrentam um

    duplo desafio: entender a prpria educomunicao e a diferena conceitual entre as

    reas de interveno. A experincia na formao de educomunicadores leva

    constatao de que os futuros profissionais tm dificuldades de desenhar, com clareza,

    objetivos para seus projetos, dificuldade esta que acaba repercutindo na avaliao das

    intervenes que eles prprios planejam.

    A literatura sobre educomunicao acessvel, estando disponvel em diversos

    idiomas e em livros, manuais, peridicos cientficos, jornais, revistas, sites. Porm, isso

    no ocorre em relao s reas de interveno, sendo Ismar de Oliveira Soares o autor

    que mais esforos faz para sintetizar e disseminar o conhecimento sobre elas.

    Existem publicaes que abordam as modalidades de interveno

    individualmente, contudo um fato que no auxilia a quem quer construir uma viso

    clara sobre o conjunto delas, que frequentemente essas publicaes no utilizam a

    terminologia adotada em educomunicao e nem mencionam o termo educomunicao,

    dificultando aos pesquisadores iniciantes estabelecerem relao do contedo exposto

    com as respectivas reas.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 12 -

    A situao exposta ocorre em funo de a consolidao deste campo de

    conhecimento ser ainda recente e por ter sido ele precedido por correntes de estudo que

    j contavam com uma gama de relevantes publicaes, que costumam compor a

    bibliografia bsica dos estudantes de educomunicao e no fazem referncia s reas

    de interveno, sistematizadas posteriormente. As correntes so: a) em mbito

    internacional, os media studies, chamados aqui no Brasil de mdia-educao ou

    educao para a mdia, que subsidiam os estudos educomunicativos na modalidade de

    interveno denominada educao para a comunicao; b) a pedagogia da

    comunicao, que congrega outros tantos textos, oriundos principalmente do campo da

    educao e que do suporte compreenso da rea de interveno educomunicativa de

    mesmo nome: pedagogia da comunicao; c) arte-educao, reunindo textos do campo

    das artes e da educao, servindo de base para a rea de expresso comunicativa pelas

    artes e d) gesto da comunicao, cujo delineamento terico deriva de disciplinas dos

    campos de saber da administrao (recursos humanos/marketing) e da comunicao

    social (relaes pblicas/jornalismo/publicidade).

    Vale lembrar que o recorte aqui apresentado sobre as reas de interveno,

    advm da experincia pessoal, bem como da interpretao que a autora faz sobre a

    literatura existente, sendo a exposio de ideias neste texto mais um convite ao dilogo

    com outros estudiosos do que pretenso de consolidar conceitos.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 13 -

    As reas de interveno

    Na sequncia apresenta-se um quadro com as reas, seus campos de origem, o

    foco principal de cada uma e os valores que subsomem as aes, para, na sequncia,

    discorrer separadamente sobre elas.

    Quadro 2 reas de interveno educomunicativas

    CA

    MP

    O

    FU

    ND

    AN

    TE

    Media studies Educao Artes Comunicao

    Social Educao

    Educomuni-

    cao

    Administrao/

    Comunicao

    Social

    R

    EA

    S

    Educao para a

    comunicao

    Pedagogia da

    comunicao

    Expresso

    pelas artes

    Produo

    miditica

    Mediao

    tecnolgica na

    educao

    Epistemologia

    da educomu-

    nicao

    Gesto da

    comunicao

    FO

    CO

    P

    RIN

    CIP

    AL

    Capacitar os

    participantes

    para a prtica da

    comunicao

    dialgica, usan-

    do - ou no - as

    tecnologias.

    Usar recursos

    da comuni-

    cao para

    facilitar a

    construo de

    conhecimento.

    Dialogar,

    usando as

    linguagens

    artsticas.

    Produzir

    contedo

    miditico

    com inten-

    cionalidade

    educativa.

    Inserir as

    tecnologias na

    educao.

    Estudar a

    educomu-

    nicao.

    Implantar e

    otimizar flu-

    xos de comu-

    nicao em

    ecossistemas

    comunicativos

    Educao

    para

    a comunicao.

    Educao

    pela

    comunicao.

    Comunica-

    o pela

    emoo.

    Comunica-

    o de valo-

    res e concei-

    tos, usando

    produtos

    miditicos.

    Educao a

    distncia,

    comunicao

    mediada por

    tecnologia.

    Divulgao,

    pesquisa,

    estudo sobre

    a educomu-

    nicao.

    Diagnstico,

    planejamento,

    implementa-

    o e avalia-

    o de ecossis-

    temas

    comunicativos

    .

    VA

    LO

    -

    RE

    S

    Igualdade de acesso, relao dialgica horizontalizada entre todos os envolvidos, com tomadas de

    deciso participativa.

    Fonte: produo da autora

    , no entanto, importante frisar que pouco provvel o desenvolvimento de uma

    estratgia educomunicativa envolvendo uma nica rea de interveno e quando isso

    ocorre, muitas vezes, em funo da falta de conhecimento sobre o pleno potencial da

    educomunicao por parte do estrategista. Potencial este que, infelizmente, deixa de ser

    integralmente explorado quando tal fato ocorre. Emblemtica a situao em que para

    motivar a prtica da lngua portuguesa o professor opta pelo desenvolvimento de um

    jornal escolar. Ele usa a pedagogia da comunicao, uma vez que seu objetivo levar o

    estudante a aprender a lngua materna, no entanto, ele poderia enriquecer a experincia

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 14 -

    de aprendizagem, atuando simultaneamente com educao para a comunicao,

    acrescentando mais um objetivo: levar o estudante a compreender a funo social dos

    jornais, a linguagem jornalstica, as condies de trabalho nas redaes e as etapas de

    produo de um jornal dirio.

    Planejando intervenes em cada rea

    As estratgias intervencionistas a serem desenvolvidas pelo educomunicador

    devem ter um objetivo claro, mantendo relao com o potencial dos ecossistemas

    comunicativos das comunidades analisadas.

    Didaticamente, ao pensar em interveno, convenciona-se a existncia de dois

    polos: a equipe, que protagonizar a interveno e os participantes, que sofrero a

    interveno. Ressalta-se, contudo que as decises sobre o que fazer no podem ser

    unilaterais, os processos devem ser participativos, dialgicos, envolvendo todos: os

    interventores e os participantes.

    O compromisso daqueles que intervm com a transformao que pretendem

    ver na comunidade em que a interveno ocorrer, assim sendo o objetivo ser

    formulado pensando sempre no que se espera que os participantes faam. No correto

    estabelecer como objetivo, por exemplo: explicar o que educomunicao, mas sim

    levar o participante a compreender o que educomunicao. A diferena que, no

    primeiro caso, poder-se-ia dizer que o objetivo foi atingido pelo fato de o interventor ter

    explicado o conceito de educomunicao, contudo para que se alcance a transformao,

    preciso se certificar de que o participante entendeu o conceito, resultado que deve ser

    assegurado atravs de avaliao desenvolvida especificamente para isso.

    Com inteno meramente didtica, na exposio a seguir as reas sero tratadas

    de forma isolada. Sero fornecidos: conceitos, exemplos de situaes problema que

    requeiram interveno, objetivo, metodologia e sugesto de procedimentos para

    avaliao das estratgias.

    Ao considerar a avaliao, importante que ela seja rigorosa, no existem

    frmulas prontas, devem ser definidos indicadores e critrios para mensur-los, se, por

    exemplo, pretende-se aumentar o dilogo em uma comunidade, cabe definir uma forma

    para verificar se todas as pessoas se comunicam, com que frequncia o fazem e qual a

    qualidade da comunicao - elas interagem, so claras, so propositivas ou somente

    reativas, etc.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 15 -

    1 Epistemologia da Educomunicao

    A palavra epistemologia vem do grego: episteme (conhecimento) + logos

    (estudo). Significa estudo do conhecimento. Assim, nessa rea de interveno analisa-

    se a origem, a natureza e a validade do conhecimento sobre educomunicao para a

    sociedade. Segundo Soares (2000), o estudo epistemolgico ocorre na academia, sendo

    conduzido metodologicamente e possibilitando o reconhecimento, a evoluo e a

    legitimao do campo por meio de sistematizaes e anlises sobre seus objetos, sobre a

    sua constituio, fundamentos tericos, metodologias e espaos de trabalho

    (SOARES, 2014, p. 140). Como, no entanto, a academia se organiza sobre um trip que

    rene ensino, pesquisa e extenso, tambm as intervenes na rea acabam

    ultrapassando os muros da universidade, por envolverem seus espaos de trabalho, que

    so as organizaes, as escolas e as comunidades externas.

    Objetivamente, pretende-se a compreenso de conceitos, valores, objetivos e

    metodologias educomunicativas, estudando sua aplicabilidade nas diferentes regies e

    ambientes e observando os resultados alcanados.

    Quadro 3 Epistemologia da Educomunicao

    Pblico alvo: Os interessados na prtica de atividades educomunicativas costumam ser os protagonistas

    dessas aes, entre eles estudantes de graduao ou de ps-graduao, oriundos em sua maioria de

    cursos nas reas de comunicao social e da educao.

    Exemplo de situao problema: Processo de descoberta e de divulgao de resultados em que

    pesquisadores e profissionais verificam estratgias educomunicativas capazes de atender as necessidades

    de adolescentes de comunidades com caractersticas especficas. Eles devero conhecer a fundo os

    parmetros educomunicativos e a comunidade, trabalhar com um pequeno grupo de jovens e avaliar

    quais aes funcionam e quais no, concluindo sobre a possibilidade de as estratgias darem certo em

    comunidades com caractersticas semelhantes.

    Objetivo geral: levar os participantes a entenderem o que a educomunicao, quais so seus objetivos,

    as metodologias que emprega, e tambm a construrem conhecimento sobre ela.

    Metodologia: exposio oral, debate, pesquisa, entrevista, visita, simulao, produo textual e

    miditica.

    Recursos: textos, audiovisuais, podcasts, games, entre outros.

    Avaliao: anlise de depoimento oral, de textos, relatrios, de mdias produzidas.

    Fonte: produo da autora.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 16 -

    2 - Produo miditica

    Conforme Soares (2014, p. 138), esta rea de interveno envolve aes,

    programas e produtos da mdia elaborados a partir do parmetro educomunicativo. Ela

    contempla o trabalho de profissionais que se dedicam a renovar a linguagem e os

    contedos de programas massivos de interesse educativo nas grandes emissoras de rdio

    e TV (SOARES, 2003, p. 9). Enquadra-se no ambiente da comunicao mediada, em

    que emissor e receptor no esto fisicamente presentes no mesmo local, a mensagem

    flui por meio de um suporte tecnolgico como: telefone, computador, televiso, rdio,

    papel, entre outros.

    Por produtos da mdia entende-se materiais produzidos para serem divulgados

    nos veculos de comunicao: filme, novela, desenho animado, documentrio,

    telejornal, artigo de jornal ou revista, folder, fanzine, pea publicitria, programa de

    rdio, livro, jogo eletrnico, etc. Como parmetro educomunicativo delimita-se a

    produo com intencionalidade educativa elaborada em ambientes educacionais formais

    ou no, que ao promover o conhecimento crtico se nutra de: princpios democrticos e

    valores como a cidadania, a solidariedade, a criatividade, o dilogo horizontalizado.

    Especial ateno deve ser concedida ao planejamento do produto miditico.

    Considerando que todas as pessoas produzem cultura, ele deve envolver o pblico alvo,

    usar seu vocabulrio e componentes do seu cotidiano, sendo feito a partir de uma

    perspectiva participativa e assegurando o uso de estratgias que promovam a interao e

    a livre expresso do pblico alvo.

    Contudo, na atualidade, possvel uma compreenso ampliada da atuao nessa

    rea, ao considerarmos que:

    a) ao de mdia o ato de veiculao de mensagens usando os meios de comunicao

    tradicionais ou alternativos, fato que autoriza tambm o envolvimento do

    educomunicador no planejamento e implementao de aes de comunicao no

    necessariamente veiculadas em veculos de massa, mas em mdias alternativas,

    como por exemplo: internet, telefones celulares, rdios comunitrias, jornais de

    baixa circulao, fanzines, em shopping centers, banheiros, ou em meios de

    transporte como metr, motocicleta, nibus, bicicleta, etc.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 17 -

    b) no sentido tecnolgico, um programa de mdia pode se referir a um aplicativo ou a

    um software destinado interao entre pessoas, desenvolvido em equipes

    multidisciplinares com a participao de um educomunicador;

    c) mdia pode significar tanto um suporte fsico para arquivo de dados (DVDs, blu-

    rays, cartes de memrias, pendrives), como a indstria cultural, que produz e

    veicula informaes, ideias, mercadorias e oferece entretenimento. Portanto, um

    produto miditico no precisa, necessariamente, ter vnculos com a mdia de massa,

    podendo ser elaborado por produtoras independentes, ou especializadas em produtos

    educativos e divulgado em canais segmentados ou comercializado em suportes

    como DVDs, blu-rays, cartes de memrias, pendrives.

    Assim, produo miditica educomunicativa a atividade realizada por sujeitos

    individualmente ou em equipes multidisciplinares, que tenham o domnio pleno do

    contedo a ser ensinado, da pedagogia da comunicao que envolve a linguagem

    miditica escolhida e da tcnica de produo. O resultado o desenvolvimento de

    produtos comunicacionais marcados por intencionalidade educativa, a serem exibidos

    em emissoras de rdio, televiso, cinema, veculos impressos, web, circuitos fechados

    nas diferentes organizaes e em ambientes educativos virtuais, entre outros. Contempla

    ainda o desenvolvimento de materiais didticos, para serem utilizados na educao, em

    apoio aprendizagem, como jogos, vdeos, cartilhas, fanzines, etc.

    Os educomunicadores que atuam com produo miditica, alm das mdias de

    massa, usualmente se vinculam s organizaes do segmento da educao formal ou

    no formal, com especial nfase quelas que se voltam para a educao a distncia.

    Importante ressaltar que nesta rea de interveno no se consideram as

    produes amadoras, com qualidade de contedo ou tcnica insuficiente, feitas por

    estudantes, professores e outras pessoas com intenes outras que no a de ensinar algo

    para o espectador ou usurio. Em educomunicao, quando se prope a jovens que

    produzam um jornal ou programa de rdio ou tv, o que importa o processo de

    produo e no o produto final, assim sendo, nesse caso, o objetivo est na rea de

    interveno de educao para a comunicao, j que se pretende que eles aprendam de

    forma prtica o que comunicao e no que o programa criado por eles sirva para

    ensinar algum contedo para algum, at porque, grande parte das vezes, nem existe um

    canal de comunicao em que o produto possa ser veiculado.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 18 -

    Quadro 4 Produo Miditica

    Pblico Alvo: neste caso, os participantes sero os usurios das mdias que iro consumir o produto

    ofertado.

    Exemplo de uma situao problema: Produo de um vdeo para explicar a teoria da relatividade,

    proposta por Einstein.

    Objetivo: por meio de um produto miditico, levar os participantes a aprenderem conceitos.

    Metodologia: manipulao de contedos educativos, utilizando as linguagens miditicas e recursos

    tecnolgicos para produzir um texto miditico.

    Recursos: cmeras, computadores, gravadores de udio, equipamento de iluminao, estdio, atores,

    ilustradores, designers, programadores, entre outros.

    Avaliao: aps expor a audincia ao produto criado, recriando as mesmas condies de audincia que

    ela desfrutaria individualmente, so analisados seus depoimentos orais, textos, relatrios sobre o

    contedo abordado no produto miditico.

    Fonte: produo da autora.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 19 -

    3 - Educao para a comunicao

    Nessa rea, o objeto de estudo a comunicao, entenda-se aqui tanto a

    comunicao direta quanto a comunicao mediada, em que emissor e receptor no

    esto fisicamente no mesmo local. Segundo Ismar Soares (2014, p. 138), rene

    prticas voltadas a sensibilizao e formao das audincias para a convivncia com os

    meios de comunicao media education, educacin en mdios educao miditica.

    Estratgias especficas podem nortear as aes nesta rea de interveno conforme

    o objetivo especfico seja: levar os envolvidos a entender a importncia da comunicao

    e/ou a usar eficazmente a comunicao. Dessa forma, entre outras aes, possvel: a)

    orientar os participantes sobre como deve ser a comunicao entre os membros de uma

    mesma comunidade, estabelecendo regras simples como, por exemplo, no falar ao

    mesmo tempo, escutar os outros; b) estudar estratgias lingusticas; c) aprender como se

    produz mdia, fazendo um jornal, um programa de televiso ou rdio; d) analisar as

    estratgias das grandes corporaes de mdia.

    Tamanha a dimenso que a mdia ocupa nos processos sociais que se entende que

    seus contedos so importantes componentes culturais e artsticos e necessitam ser

    analisados. Para levar os participantes a compreenderem os processos miditicos, so

    desenvolvidas tanto atividades de leitura crtica da mdia quanto de produo de mdia.

    Considerando a educao formal, interessantes indicadores de qualidade para os

    projetos de educao para a comunicao, so fornecidos pela Secretaria Municipal de

    Educao da cidade de So Paulo: a) promover o protagonismo infanto-juvenil atravs

    da comunicao e das Tecnologias da Informao e da Comunicao (TICS); privilegiar

    a participao coletiva dos estudantes; b) garantir o direito comunicao; potencializar

    a expresso comunicativa; c) articular as atividades a contedos das diversas reas de

    conhecimento e aos temas transversais, bem como a outros programas e projetos; d)

    promover a integrao da comunidade escolar; e) realizar a incluso pedaggica; f)

    promover a reflexo crtica sobre a presena dos meios de comunicao na escola e na

    sociedade; g) promover a melhoria na convivncia escolar; h) promover o aprendizado

    atravs da comunicao4 (PREFEITURA DO MUNICPIO DE SO PAULO, 2015).

    4 Consideramos que o objetivo contido no item H enquadra-se na rea de pedagogia da comunicao,

    por se tratar de educao pela comunicao.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 20 -

    Quadro 5 Educao para a Comunicao

    Pblico Alvo: Os participantes potenciais so todos aqueles que usam a comunicao.

    Exemplos de situao problema:

    1. Em um municpio, os estudantes de todas as escolas poderiam compartilhar experincias e

    conhecimento por meio de uma rede de comunicao juvenil. Para isso, possvel preparar os

    alunos das escolas municipais para produzirem pequenos podcasts e post-los em uma rede virtual

    prpria. Importa tambm que os envolvidos compreendam que, para isso, no necessrio copiar

    modelos adotados nas rdios comerciais.

    2. Auxiliar os membros de uma organizao no governamental a produzirem e manterem um site.

    Objetivos - levar os participantes a: 1. ampliar o dilogo entre todos os membros da comunidade; 2. ter

    um olhar crtico para a mdia; 3. compreender como a comunicao pode ajudar as pessoas a construrem

    conhecimento e a se entenderem; 4. entender o papel que os meios de comunicao de massa exercem na

    sociedade.

    Metodologia: debate, anlise de texto, anlise de contexto, estudo de caso, traduo, simulao de

    produo e produo de mdia5.

    Recursos: textos, filmes, udios, cmeras, computadores, gravadores de udio, etc.

    Avaliao: anlise de depoimentos orais, textos e outras produes realizadas, observao de

    comportamento.

    Fonte: produo da autora.

    5 Para detalhamento consultar Almeida, Cerigatto e Andrelo, 2013, p.66.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 21 -

    4 - Pedagogia da comunicao

    Usar a pedagogia da comunicao consiste em promover a construo de

    conhecimento por meio da comunicao dialgica e da relao entre as pessoas,

    utilizando estratgias que impulsionem a interao em uma comunidade de

    aprendizagem, incentivando a participao de todos. tambm comunicar-se bem,

    usando recursos que facilitem a compreenso dos assuntos em pauta. Adotar a

    pedagogia da comunicao ser verdadeiro, evitando pregar uma ideia e no coloc-la

    em prtica.

    Ao mediador da aprendizagem recomenda-se que, alm de dominar o contedo,

    esteja em sintonia com os envolvidos expressando-se de forma simples e clara, com

    exemplos e vocabulrio pertencentes ao cotidiano deles, o que implica em saber ouvi-

    los e conhecer a sua realidade. Outros cuidados so: demonstrar interesse, entusiasmo

    e explorar gestos e voz, evitando exposies montonas; adotar os recursos da

    comunicao visual, jogos eletrnicos e a tecnologia, de forma a potencializar a ateno

    e a compreenso, despertando emoes e auxiliando na memorizao.

    bom observar que apesar de a escola ser o local privilegiado da educao, na

    sociedade atual, a aprendizagem ao longo da vida uma premissa bsica. A

    aprendizagem um valor perseguido nos mais diversos ambientes organizacionais e,

    como consequncia, h demanda para a aplicao da pedagogia da comunicao fora da

    escola. A falta de interao entre as pessoas e a comunicao autoritria, verticalizada,

    antidialgica6 causam problemas nos ambientes empresariais.

    A pedagogia da comunicao implica tambm em no fornecer respostas prontas,

    no impor pontos de vista. Um bom pedagogo da comunicao expe diversos pontos

    de vista sobre os assuntos, oferece subsdios para que os sujeitos comparem argumentos

    contraditrios, reflitam e tirem suas prprias concluses. Essa atitude cabe nos mais

    diversos espaos: na escola, nos jornais, nas organizaes, nas comunidades.

    No ambiente da educao, de acordo com Soares, a pedagogia da comunicao

    relaciona-se a procedimentos que qualificam a aprendizagem, criando condies de

    alterao para melhor da prpria prtica pedaggica (SOARES, ALMEIDA, 2012,

    6 Termo cunhado por Freire (1968).

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 22 -

    p. 123). Nela se auxilia os professores a articular a ao comunicativa no trabalho

    didtico (SOARES, 2000b, p. 63). Penteado (2006, p. 122) destaca:

    Ao colocar em discusso junto aos alunos um problema, indagando,

    ouvindo e acolhendo as opinies e consideraes feitas, por mais

    divergentes que se apresentem, e expondo a sua viso do problema

    e a importncia de sua focalizao na escola, estar dando o primeiro

    passo dentro de uma metodologia comunicacional de ensino.

    Pedagogia a prtica de ensinar (HOLANDA, 1995, p. 490). Contudo, hoje no

    mais se acredita no ensino por transmisso ou em aprendizagem passiva, mas sim em

    construo ativa de conhecimento, em que um indivduo mais experiente atua como

    mediador da aprendizagem. Paulo Freire, um dos tericos de referncia, ao afirmar que

    a comunicao verdadeira no nos parece estar na exclusiva transferncia ou

    transmisso do conhecimento de um sujeito a outro, mas em sua co-participao no ato

    de compreender a significao do significado (FREIRE, 2006, p. 70), condenava a

    noo de transferncia de conhecimento, utilizada no mtodo tradicional de ensino.

    Para o autor, educao comunicao, dilogo, na medida em que no a

    transferncia de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a

    significao dos significados (FREIRE, 2006, p. 69). Dessa forma, ele identificava

    aprendizagem com comunicao e defendia que a construo do conhecimento se daria

    somente por meio do dilogo, desacreditando o mtodo tradicional de ensino. A

    educao tem, ento, o desafio de desenvolver metodologias, que levem aos estudantes

    a compreenderem a significao dos significados, a motiv-los para a aprendizagem.

    Para provocar o envolvimento dos alunos com os contedos curriculares, possvel

    lanar mo de produtos miditicos, como por exemplo: filmes, animaes, programas

    de rdio, histrias em quadrinho, games. Esses recursos tm de ser inseridos na

    educao como disparadores de debates crticos, acarretando fluxos de dilogo,

    incentivando a interao entre os elementos da comunidade de aprendizagem. So

    frmulas para evitar a formao de barreiras aprendizagem e criatividade,

    produzidas na presena de comportamento antidialgico (FREIRE, 1968).

    Entende-se que no possvel o desabrochar da criatividade e a construo de

    conhecimento quando no h interlocuo/entendimento, quando no existem processos

    de comunicao horizontalizados, quando so registrados processos autoritrios que

    inviabilizam a livre expresso.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 23 -

    Todavia, no se trata apenas de usar produtos miditicos e tecnologias da

    informao e da comunicao, recorre-se tambm a estratgias que fomentem e

    facilitem o dilogo, entre elas pode-se mencionar o no posicionamento das carteiras em

    filas, nas quais se enxerga apenas a nuca de interlocutores potencial, organizando-as de

    forma a permitir o trabalho em grupos, ou acomodando-as em um crculo para que todos

    os presentes possam se ver.

    A pedagogia da comunicao pode ser igualmente utilizada para solucionar

    desafios de relacionamento nas diversas organizaes, uma vez que aos problemas de

    comunicao so usualmente atribudas as falhas nos processos e produtos. Na

    atualidade, se espera que a produtividade seja alcanada por meio de comunicao

    excelente, que fomente a criatividade e o saber inovador, seja para a resoluo de

    problemas, como para a proposio de inovaes nos processos. Saber se comunicar no

    uma capacidade nata, ela pode ser aprendida por gestores e lderes nas organizaes,

    principalmente se forem considerados os parmetros educomunicativos, que

    acrescentaro um diferencial cultura organizacional, no apenas do ponto de vista

    econmico, mas principalmente da qualidade de vida dos funcionrios e dos

    consumidores.

    Vale ressaltar que a diferena entre as reas da educao para a comunicao e da

    pedagogia da comunicao que o objetivo da pedagogia da comunicao criar

    condies para que o dilogo se estabelea favorecendo a aprendizagem de contedos

    curriculares e na educao para a comunicao, a comunicao em si o tema de

    estudo, como assevera Porto ao falar sobre a pedagogia da comunicao, diferenciando

    ambas (1998, p. 29):

    [...] no uma pedagogia sobre os meios de comunicao. uma

    pedagogia que estabelece comunicao escolar com os

    conhecimentos, com os sujeitos, considerando os meios de

    comunicao. Dialoga-se com os meios e suas linguagens, em vez de

    falar dos meios.

    Ento, em pedagogia da comunicao o educador se apodera de recursos da

    comunicao para ensinar histria, geografia, e em educao para a comunicao

    questiona-se a prpria comunicao e ensina-se a utilizar formas de comunicao no

    convvio social.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 24 -

    Quadro 6 Pedagogia da Comunicao

    Pblico Alvo: Os principais envolvidos so os educadores, contudo todos os gestores de pessoas podem

    ser beneficiados.

    Exemplos de situao problema: inovar os mtodos de ensino organizando as carteiras das salas de aula

    de forma no tradicional, de forma a permitir o dilogo entre os estudantes; usando produtos miditicos e

    recursos das novas tecnologias da informao e da comunicao; propondo aprendizagem por projetos e

    pesquisa.

    Objetivos: a) levar os participantes a debaterem ou refletirem sobre um determinado assunto que no seja

    a comunicao, usando para isso os recursos da informao e da comunicao; b) motivar para a

    aprendizagem e para o dilogo.

    Metodologia: debate, anlise de textos e vdeos, simulaes, elaborao de propostas.

    Recursos: textos, filmes, udios, cmeras, computadores, gravadores de udio, etc.

    Avaliao: anlise de depoimentos orais, textos e outras produes realizadas, observao de

    comportamento.

    Fonte: produo da autora.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 25 -

    5 - Mediao tecnolgica na educao

    a rea de interveno que se preocupa com a presena das tecnologias como

    elemento interveniente nas mediaes culturais que mobilizam a sociedade, com

    influncias nos modos de perceber o mundo e de produzir cultura (SOARES, 2014,

    p.12).

    Visa incorporao das tecnologias da informao e da comunicao nos

    processos educativos, de forma a ampliar e multiplicar as oportunidades de

    aprendizagem, sempre privilegiando a sua utilizao humanizada e colaborativa, tendo

    como centro do processo o educando e o processo de aprendizagem e no o contedo e

    nem a tecnologia7.

    Soares destaca a preocupao mantida em relao mediao tecnolgica no nvel

    bsico da educao escolar, afirmando que essa rea:

    preocupa-se com os procedimentos e as reflexes sobre a presena das

    tecnologias da informao e seus mltiplos usos pela comunidade

    educativa, garantindo, alm da acessibilidade, as formas democrticas

    de sua gesto. Trata-se de um espao de vivncia pedaggica muito

    prximo ao imaginrio da criana e do adolescente, propiciando que

    no apenas dominem o manejo dos novos aparelhos, mas que criem

    projetos para o uso social das invenes que caracterizam a Era da

    Informao. Esta rea aproxima-se das prticas relacionadas ao uso

    das Tecnologias da informao e Comunicao (TIC), sempre que

    entendidas como uma forma solidria e democrtica de apropriao

    dos recursos tcnicos (SOARES, 2011, p. 48).

    Dessa forma, o educomunicador se questionar: de que forma a tecnologia pode

    colaborar com a aprendizagem, com a criao, assimilao e gesto do conhecimento na

    perspectiva da cidadania, do desenvolvimento e da solidariedade? Parte-se da premissa

    de que a aprendizagem constante, social e universal mantm estreita relao com a

    ampliao da inteligncia coletiva.

    Trabalhar nessa rea de interveno indagar-se constantemente sobre a funo

    e o potencial da tecnologia para o avano da humanidade. Afinal, a mesma tecnologia 7 Afirmamos que o interesse no est na tecnologia no que concerne a seu aspecto fsico (hardware) ou

    de programao (software). Procura-se a insero da mediao tecnolgica de forma a ampliar trocas e dilogos, ento pouco importa se a opo por computadores, smartphones ou tablets, desde que eles sirvam necessidade humana de construo de conhecimento.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 26 -

    utilizada para manter um rgido controle sobre o ser humano pode servir para a

    construo coletiva de conhecimento, rompendo inclusive barreiras semnticas e

    conectando crebros com interesses comuns em qualquer ponto do planeta (LEVY,

    2014). Uma comunidade do sul do planeta pode se beneficiar com modelos de soluo

    de problemas, adotados por uma comunidade localizada ao norte do planeta que tenha

    enfrentado problemas semelhantes.

    Nos processos de educao a distncia, a tecnologia permite que brasileiros, com

    dificuldade de frequncia diria a uma instituio de ensino superior, tenham

    possibilidade de estudar e conectar-se s redes de produo de conhecimento. Ela

    permite a aplicao de metodologias revolucionrias de ensino, assim como a

    aprendizagem autnoma, j que as informaes nunca estiveram to acessveis. A

    tecnologia rompe ainda outras espcies de barreiras fsicas, basta, por exemplo,

    observar animaes tridimensionais que reproduzem o funcionamento do corpo

    humano, permitindo conhec-lo por dentro.

    Entretanto, h ainda um despreparo para a utilizao do pleno potencial da

    tecnologia. Na maior parte das escolas brasileiras, as tecnologias tradicionais continuam

    a ser consideradas novas, tamanho o estranhamento que sua presena causa no ambiente

    educativo. H quem proponha o uso do tablet na educao da mesma forma que se usa o

    caderno de papel. Do ponto de vista do desenvolvedor de solues tecnolgicas, h

    ainda quem desenhe interfaces de computador no amigveis, no as adequando as

    especificidades dos usurios.

    A mediao tecnolgica na educao com parmetro educomunicativo uma

    rea de interveno desafiadora, com muito a se fazer na educao formal, no formal,

    informal e nos mais variados ambientes organizacionais, nos quais aprender

    constantemente passou a ser condio para a sobrevivncia. As empresas multinacionais

    igualmente necessitam da mediao da tecnologia para construir conhecimento inovador

    entre seus pares que beneficiem tanto os seus funcionrios quanto os consumidores.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 27 -

    Quadro 7 Mediao Tecnolgica na Educao

    Pblico Alvo: comunidades aprendentes, com nfase quelas inseridas na educao formal.

    Exemplos de situaes problema:

    1. inserir tablets na escola, orientando gestores, professores e estudantes a utiliz-los de forma a

    otimizar a aprendizagem.

    2. desenvolver ambientes virtuais de aprendizagem dialgicos, usando recursos das tecnologias da

    informao e da comunicao que possibilitem experincias enriquecedoras entre os pares, por

    meio do dilogo e da troca de conhecimento.

    Objetivos: Levar os participantes a incorporarem educomunicativamente as tecnologias da informao e

    da comunicao na educao

    Metodologia: essa rea de interveno requer a elaborao de estratgias personalizadas para

    atendimento de cada comunidade especfica, porm em geral necessrio oferecer treinamento para

    manipulao da tecnologia e de suas linguagens e para produo de mdia, proceder a anlise crtica de

    seu uso.

    Recursos: filmadoras, cmeras de fotografia, computadores, gravadores de udio, banda larga, games,

    blue-rays, etc.

    Avaliao: anlise de depoimentos orais, textos e outras produes realizadas, observao de

    comportamento.

    Fonte: produo da autora.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 28 -

    6 - Expresso atravs das artes

    O potencial de comunicao do ser humano amplo. Diversos tipos de

    linguagens esto a sua disposio, entre elas possvel mencionar: oral, gestual,

    corporal, escrita, artstica. De acordo com a finalidade, o homem pode se apropriar delas

    intuitiva ou racionalmente, usando-as individualmente ou combinando-as, em funo do

    contexto.

    So linguagens artsticas: teatro, mmica, circo, dana, msica, canto, pintura,

    desenho, gravura, grafite, poesia, escultura, arquitetura, moda, decorao, paisagismo,

    culinria, assim como as denominadas artes miditicas, como: fotografia, linguagem

    radiofnica, audiovisual e cinema, novela, arte digital, desenhos animados e animaes

    tridimensionais, games, entre outras.

    A arte permite a construo identitria nas comunidades e abre caminhos para a

    conscientizao social, para a descoberta dos direitos, das obrigaes de cada um

    (BARBOSA, 2015). Ela importante na aprendizagem para desenvolver formas sutis

    de pensar, diferenciar, comparar, generalizar, interpretar, conceber possibilidades,

    construir, formular hipteses e decifrar metforas (BARBOSA, 2004, p. 51).

    , entretanto importante ressaltar que o objetivo da rea de interveno de

    comunicao atravs das artes no tem a ver com o ensino de contedos curriculares de

    arte - movimentos artsticos, histria da arte, produtores de arte, elementos bsicos das

    linguagens artsticas, etc, nem com o domnio tcnico da produo artstica, o que

    interessa aqui a utilizao da linguagem artstica para a interao entre seres humanos.

    Ismar Soares (2015, p. 6) destaca que a rea de interveno rene aes realizadas

    por meio de esforos de arte-educadores no sentido de garantir espaos de fala,

    visibilidade e livre expresso para cada um dos sujeitos sociais, sendo constituda por

    prticas que valorizam a autonomia comunicativa das crianas e jovens mediante a

    expresso artstica arte-educao (SOARES, 2014, p.138).

    Da perspectiva da educomunicao, o dilogo constitui-se sempre o principal foco.

    Dessa forma, a princpio, dois tipos de ao podem ser previstas: a) usar a linguagem

    artstica para estabelecer contato com os sujeitos - um exemplo o ativismo musical de

    Bono Vox, da banda U2 - e b) estimular algum a se expressar por meio dela.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 29 -

    H casos em que o uso da linguagem verbal ou escrita no d conta de criar as

    condies necessrias para o dilogo, assim como outros em que no possvel

    expressar o que se quer dizer, ou estabelecer contato com uma pessoa, a no ser usando

    as linguagens artsticas, que iro auxiliar tanto nos fluxos de dilogo, como na

    construo do conhecimento, deflagrando um processo que, muitas vezes, toca o outro

    de forma inatingvel por outras linguagens. Essa situao mais frequente nas

    intervenes envolvendo populaes em situao de vulnerabilidade social, indivduos

    com dificuldade de socializao ou portadores de deficincias fsicas como, por

    exemplo, os autistas. A linguagem artstica , ento, capaz de conectar indivduos

    dispersos. A arte contagia e mobiliza as dimenses perceptiva, motora e imaginativa ao

    acionar a mente, o corao, o tato. Faz sentir, refletir, sonhar, imaginar, recordar

    (COUTINHO, 2004).

    A relao arte, mdia e tecnologia ampliou as possibilidades de produo e

    expresso artsticas, estabelecendo relevante conexo com o universo juvenil. Lucia

    Santaella (2005, p. 14) destaca que as tecnologias miditicas expandiram o campo das

    artes para as interfaces com o desenho industrial, a publicidade, o cinema, a televiso, a

    moda, as subculturas jovens, o vdeo, a computao grfica etc. Na atualidade os

    jovens tm maior acesso tecnologia disponvel nos computadores, tablets, celulares, o

    que permite que se expressem artisticamente produzindo digitalmente fotografias,

    vdeos, fanzines, animaes, msicas entre outros. Da mesma forma, usam as redes

    digitais com facilidade para divulgar o material produzido, dialogando por meio deles

    com outros jovens igualmente conectados.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 30 -

    Quadro 8 Expresso atravs das artes

    Pblico Alvo: a) Pblico em geral; b) portadores de deficincias fsicas ou psicolgicas; c) populaes

    marginalizadas.

    Exemplo de situaes problema:

    - Chamar a ateno de pessoas ao redor do mundo para uma determinada causa social, utilizando a

    msica;

    - Considerando um jovem infrator, em liberdade assistida, criar oportunidade para a sua integrao com

    a comunidade por meio de atividade coletiva de interveno artstica no ambiente escolar, propondo a

    utilizao por eles de linguagens como: msica, dana, grafite, entre outras.

    Objetivos:

    a) levar os participantes a se comunicarem usando as linguagens artsticas;

    b) Estabelecer contato com as pessoas usando as linguagens artsticas.

    Metodologia: apreciao e leitura crtica de arte comunitria, produo artstica.

    Recursos: textos, filmes, udios, cmeras, computadores, gravadores de udio, instrumentos musicais,

    microfones, tinta, pinceis, etc.

    Avaliao: anlise de depoimentos orais, textos e outras produes realizadas, observao de

    comportamento.

    Fonte: produo da autora.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 31 -

    7 - Gesto da Comunicao

    Esta rea de interveno visa implantao e manuteno de ecossistemas

    comunicativos. Neles, uma vez que o direito voz no deve ser influenciado por

    estruturas hierrquicas ou interesses polticos e econmicos, potencializa-se a

    aprendizagem e a construo de conhecimento colaborativo e inovador. Procura-se

    implantar ambientes democrticos, nos quais a comunicao flua entre todos os

    participantes, que contam com igual oportunidade para se expressar. A comunicao

    pode ser interpessoal ou mediada, ocorrendo em ambientes virtuais - acessados a

    distncia por receptores de um meio massivo de comunicao - ou presenciais, em

    escolas, empresas e organizaes aprendentes.

    A gesto da comunicao, normalmente, precede as atividades educomunicativas a

    serem implantadas utilizando os recursos das outras reas de interveno. O gestor, ou a

    equipe gestora, avalia o potencial e as necessidades de relacionamento nas

    comunidades, realizando um diagnstico da situao existente. Detecta fragilidades na

    comunicao e identifica dificuldades de relacionamento, prope e acompanha a

    implantao de estratgias e de meios de comunicao que permitam ampliar o

    coeficiente comunicativo e fortalecer as relaes, considerando as possibilidades

    oferecidas por todas as reas de interveno.

    Alm de se dedicar ao pensamento analtico e estratgico, cabe ao gestor

    preocupar-se com aspectos pragmticos, que garantam que a comunicao se viabilize

    conforme planejado, zelando pela organizao dos ambientes de trabalho e cuidando

    para que tanto a estrutura fsica, quanto os recursos tcnicos e humanos necessrios

    estejam disposio da comunidade, como afirma Soares (2014, p. 48):

    A rea da gesto da comunicao volta-se para o planejamento e a

    execuo de planos, programas e projetos referentes s demais reas

    de interveno, apontando, inclusive, indicadores para a avaliao de

    ecossistemas comunicacionais. Converte-se, nesse sentido, numa rea

    central e indispensvel, exigindo o aporte de um especialista, de um

    gestor, enfim. Cabe a este cabe no apenas incentivar os educadores para que faam a melhor opo em termos das reas de interveno,

    mas tambm de suprir as necessidades do ambiente no que diz

    respeito aos espaos de convivncia e s tecnologias necessrias.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 32 -

    O que caracteriza a gesto educomunicativa so os valores que sustentam os

    relacionamentos e norteiam os processos nos ecossistemas. Os processos de

    comunicao e a forma como os interessados neles se envolvem so fundamentais,

    cabendo ao gestor capacitar os participantes (SOARES, 2000b). Ser orientado por

    parmetros educomunicativos adotar o planejamento participativo e a gesto

    comunitria dos processos e mdias, recorrer a mltiplos meios de comunicao,

    envolver os participantes na produo dos produtos de comunicao comunitrios e

    desenvolver frmulas que levem todos a dialogar, considerando as especificidades e

    possveis limitaes dos sujeitos participantes.

    Para viabilizar a implantao e a gesto de um ecossistema comunicativo,

    provavelmente ser necessrio levar os envolvidos a refletirem sobre: a cultura de

    participao, a funo da comunicao dialgica, suas vantagens para a comunidade, o

    respeito entre os sujeitos falantes, as formas de opresso ao dilogo, a gesto

    comunitria, as diretrizes para elaborao de projetos de comunicao e a avaliao das

    estratgias propostas. Tambm poder ser preciso orient-los a usar as linguagens

    artsticas e miditicas e os processos interativos de comunicao produo de textos e

    roteiros, o uso da voz e da expresso corporal, tcnicas de entrevista , alm de

    prepar-los para operar artefatos tecnolgicos, como: cmeras, gravadores, softwares de

    edio e veiculao de mensagens, redes digitais de comunicao, entre outros.

    H grandes desafios na gesto educomunicativa da comunicao. Um deles o

    fomento manuteno, nos ecossistemas, de princpios como: solidariedade, tolerncia,

    cooperao, igualdade, comprometimento, tica, respeito, gentileza, entre outros. Outro

    obter a incluso de todos os envolvidos.

    Inserida nesta rea de interveno est a importante atuao do educomunicador na

    esfera pblica, como gestor de polticas pblicas que renam a comunicao e a

    educao, como exemplificam diversos programas educomunicativos j implantados no

    Brasil, caso do programa Nas Ondas do Rdio, da Secretaria Municipal de Educao de

    So Paulo e, em nvel federal, do Mais Educao, do Ministrio da Educao, alm da

    adoo dos parmetros educomunicativos pelo Ministrio do Meio Ambiente

    (SOARES, 2014a).

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 33 -

    Quadro 9 Gesto da comunicao

    Pblico Alvo: Qualquer comunidade aprendente com predisposio a trabalhar sob os parmetros

    educomunicativos.

    Exemplo de situao problema: A associao de moradores de um determinado bairro sente a

    necessidade de otimizar a comunicao entre os moradores, para tanto resolve fazer uma grande

    assembleia em que todos reflitam sobre o desafio e proponham alternativas a serem implantadas

    comunitariamente, visando soluo do problema.

    Objetivos: levar os participantes a diagnosticar, planejar, implantar e avaliar projetos, programas ou

    planos de comunicao, corrigindo rumos quando necessrio, com a finalidade de potencializar os fluxos

    de comunicao na comunidade, usando para isso, as estratgias das demais reas de interveno.

    Metodologia: debate, anlise de texto, anlise de contexto, estudo de casos, elaborao participativa de

    propostas, implantao e avaliao de programas e estratgias.

    Recursos: textos, filmes, cmeras, computadores, gravadores de udio, etc.

    Avaliao: observao de comportamento, anlise de depoimentos orais, de textos e mdias produzidas,

    pesquisa com os envolvidos.

    Fonte: produo da autora.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 34 -

    Situaes prticas

    muito comum a indagao se existe um projeto educomunicativo que se

    enquadre em uma nica rea de interveno e o fato que isso dificilmente ocorre.

    Porm, cabe ao educomunicador aproveitar todo o potencial das aes, dimensionar o

    que ter condio de fazer a cada interveno, ser rigoroso ao delimitar objetivos e

    verificar seu cumprimento.

    Na sequncia, situaes imaginrias demonstram a variedade de objetivos que se

    pode ter em diferentes circunstncias.

    A. Educomunicao Corporativa

    O desafio em uma organizao do primeiro, segundo ou terceiro setores pode ser

    o de tornar o ato de trabalhar significativo para os funcionrios, estimulando o

    protagonismo e a formao de redes dialgicas de cooperao no ambiente de trabalho,

    que usem atitudes inovadoras e a autonomia na resoluo de problemas. Para isso

    possvel utilizar recursos e aes de comunicao, como reunies, palestras, simulaes,

    vdeos, planejamento participativo com o diagnstico da situao e a elaborao de

    propostas, produo de mdias corporativas, entre outros, que conduzam reflexo

    coletiva sobre a funo social da organizao e a qualidade das relaes no ambiente de

    trabalho.

    - reas de interveno e objetivos possveis, considerando o potencial da atividade

    educomunicativa:

    1. Produo Miditica produzir vdeos e aplicativos para demonstrar e auxiliar a

    adoo da metodologia do planejamento participativo e aumentar o coeficiente

    comunicativo no ecossistema organizacional.

    Objetivos: facilitar o processo de compreenso da metodologia, por meio da produo

    de vdeos e aplicativos que considerem as caractersticas dos funcionrios e a cultura

    organizacional. Aumentar o coeficiente comunicativo no ecossistema organizacional.

    2. Pedagogia da comunicao por meio de vdeos e rodadas de conversa as

    pessoas sero conscientizadas sobre a importncia da organizao para a sociedade e

    tambm sobre a importncia da comunicao para a qualidade do relacionamento na

    empresa;

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 35 -

    Objetivo: levar os funcionrios a compreenderem a importncia da organizao para a

    sociedade e da comunicao para eles.

    3. Educao para a comunicao capacitar os colaboradores para a comunicao

    dialgica e para a troca de informaes acerca das suas condies de trabalho, sobre o

    objetivo social da organizao, assim como sobre o seu compromisso social.

    Objetivo: orientar os participantes a se comunicarem e a transmitirem informaes

    eficazmente utilizando a comunicao direta, a comunicao impressa, as redes sociais

    e os aplicativos telefnicos.

    4. Mediao tecnolgica compatibilizar as ferramentas tecnolgicas disponveis

    na organizao com o potencial dialgico e os recursos humanos existentes.

    Objetivo: assegurar que a tecnologia seja corretamente dimensionada e que os

    participantes estejam aptos a sua utilizao, de forma a permitir a sua incorporao no

    cotidiano da comunidade.

    5. Gesto da comunicao - planejar e implantar processos participativos de

    comunicao na comunidade.

    Objetivo: reunir a comunidade, analisar a necessidade cotidiana de comunicao,

    diagnosticar os recursos existentes, definir redes por meio das quais o ecossistema de

    comunicao possa ser viabilizado, atribuir responsabilidades de gesto, prazos de

    implantao, processos de funcionamento e critrios de avaliao.

    B. Educomunicao Comunitria

    Imagine um projeto em uma vila de pescadores, orientado educao para a

    preservao do meio ambiente, no qual tecnologias, como murais, radioamadores,

    telefones celulares e redes de computadores, sejam utilizadas para: articular os

    pescadores, envolver os moradores da comunidade local nas estratgias, divulgar

    informaes e controlar as aes. possvel a existncia de mltiplos objetivos,

    atendendo a cada rea de interveno.

    reas de interveno e possveis objetivos, considerando o potencial da atividade

    educomunicativa:

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 36 -

    1. Produo Miditica produzir vdeos e aplicativos para ensinar os pescadores

    sobre o meio ambiente e para auxili-los no controle dos processos de pesca e de

    comunicao.

    Objetivo: facilitar o processo de ensino-aprendizagem sobre a preservao ambiental e

    de comunicao e controle de processos, por meio da produo de vdeos e aplicativos

    que considerem a caractersticas dos pescadores e das suas comunidades.

    2. Pedagogia da comunicao por meio de vdeos e rodadas de conversa as

    pessoas sero conscientizadas sobre a importncia da preservao do meio ambiente;

    Objetivo: levar os pescadores a entenderem o que a pesca predatria, a gravidade da

    sua prtica e as formas de denncia, as licenas necessrias e as punies previstas em

    lei, a cadeia produtiva da pesca martima, as espcies em extino.

    3. Educao para a comunicao capacitar os pescadores e a comunidade para a

    comunicao dialgica e para a troca de informaes sobre a condio das mars, dos

    pescados, dos navios pesqueiros, transportes terrestres e mercadorias.

    Objetivo: ensinar os participantes a se comunicarem eficazmente utilizando as redes

    sociais e os aplicativos telefnicos.

    4. Mediao tecnolgica compatibilizar as ferramentas tecnolgicas com o

    potencial e recursos existentes.

    Objetivo: assegurar que a tecnologia seja corretamente dimensionada e que os

    participantes estejam aptos a sua utilizao, de forma a permitir a sua incorporao no

    cotidiano da comunidade.

    5. Expresso atravs das artes sensibilizar toda a comunidade para a preservao

    ambiental usando o teatro, ofertando, entre outras, oficinas de desenho, pintura,

    possibilitando que se expressem sobre a temtica em pauta.

    Objetivo: levar a comunidade a expressar-se e a divulgar ideias utilizando as linguagens

    artsticas.

    6. Gesto da comunicao - planejar e implantar processos participativos de

    comunicao na comunidade.

    Objetivo: reunir a comunidade, analisar a necessidade cotidiana de comunicao,

    diagnosticar os recursos existentes, definir redes por meio das quais o ecossistema de

    comunicao possa ser viabilizado, atribuir responsabilidades de gesto, prazos de

    implantao, processos de funcionamento e critrios de avaliao.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 37 -

    C. Educomunicao Escolar

    Uma escola recebe um lote de tablets a serem distribudos para os alunos do terceiro

    ano do ensino mdio e apesar de no ter recebido formao sobre como utiliz-los

    resolve inseri-los no cotidiano escolar em auxlio ao processo de ensino aprendizagem.

    Um educomunicador oferece as opes de: pesquisa de contedos na web; estudo de

    lngua espanhola no aplicativo duolingo; criao de um blog da escola, que permita o

    dilogo com alunos, pais e comunidade sob gesto compartilhada de professores e

    alunos; produo e veiculao no blog de podcasts gravados por alunos, tendo como

    temtica os contedos curriculares.

    reas de interveno e objetivos possveis, considerando o potencial da atividade

    educomunicativa:

    1. Pedagogia da comunicao com o auxlio da tecnologia ser possvel estudar

    espanhol e outros contedos curriculares;

    Objetivo: motivar os jovens para o estudo da lngua espanhola e outros contedos.

    2. Educao para a comunicao capacitar os jovens e professores a: utilizar os

    tablets, a criar blogs e podcasts, produzir e veicular contedos nas mdias.

    Objetivo: ensinar os participantes a se comunicarem eficazmente utilizando blogs e

    podcasts.

    3. Mediao tecnolgica inserir os tablets no cotidiano escolar.

    Objetivo: assegurar que os tablets sejam utilizados no processo de ensino-

    aprendizagem.

    4. Gesto da comunicao - planejar e implantar um blog que auxilie a

    comunicao com a comunidade escolar.

    Objetivo: reunir a comunidade, analisar a necessidade cotidiana de comunicao,

    diagnosticar os recursos existentes, definir redes por meio das quais o blog possa ser

    viabilizado, atribuir responsabilidades de gesto, prazos para implantao do blog,

    processos de funcionamento e critrios de avaliao.

    5. Expresso atravs das artes produzir animaes, ilustraes, fotografias,

    msicas, permitindo que se expressem.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 38 -

    Objetivo: levar a comunidade a expressar-se e a divulgar ideias utilizando as linguagens

    artsticas digitais, assim como lev-los a refletir sobre a funo das artes digitais quando

    inseridas no universo miditico.

    Como se observou, para cada situao exposta existem propostas de trabalho em

    diversas reas de interveno. No entanto, as atividades podem ser desenvolvidas em

    uma s rea, ou nas diversas reas, de forma simultnea ou sequencialmente,

    dependendo do tempo disponvel, dos recursos existentes e da formao da equipe que

    planeja e promove as atividades. Uma equipe multidisciplinar pode enriquecer as

    experincias, possibilitando que se explore todo o potencial de cada atividade realizada.

  • Projetos de interveno em educomunicao

    - 39 -

    Referncias

    ALMEIDA, L. B. C. de. Formao do professor do ensino bsico para a Educao

    para a mdia: avaliao de um prottipo de currculo. 2012. Tese (Doutorado em

    Educao) Faculdade de Educao, Universidade Estadual Paulista, Marlia. 2012.

    ALMEIDA, L. B. C. de; CERIGATTO, M.; ANDRELO, R. . Mdia-educao: uma

    proposta de formao de profissionais de comunicao. Lbero (FACASPER), v. 32, p.

    61-70, 2013.

    BARBOSA, A. M. Porque e como: arte na educao. Arte em pesquisa: especificidades,

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