PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de...

27
Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua. 1 PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS FALANTES DE CRIOULO Ana Maria MADEIRA 1 Maria Francisca XAVIER Maria de Lourdes CRISPIM RESUMO Um dos aspectos problemáticos na aquisição do português europeu (PE) por estrangeiros refere-se à realização e colocação dos pronomes clíticos. Em estudos anteriores efectuados com estudantes universitários estrangeiros aprendentes de PE, encontrou-se evidência de que, após uma fase caracterizada pela omissão de pronomes clíticos e pela sua substituição por outras formas (quer sintagmas preposicionais quer pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. O estudo aqui apresentado visa investigar a aquisição dos padrões de colocação de pronomes clíticos, em PE como língua não materna (L2), por crianças falantes de crioulo cabo-verdiano e guineense, procurando dar resposta às seguintes questões: (1) Quais são os padrões de desenvolvimento que caracterizam a aquisição destes padrões por crianças? (2) Qual é o papel da língua materna (L1) no desenvolvimento das propriedades distribucionais dos clíticos pronominais em crianças? Com o objectivo de procurar resposta para estas questões, foi realizado um estudo com base em dados de juízos de gramaticalidade. Os resultados obtidos foram comparados com os resultados de três grupos de controlo, um constituído por crianças falantes de PE L1 e dois que incluíam crianças falantes de outras L1s. Verificou-se que o percurso seguido na aquisição dos pronomes clíticos pelas crianças falantes de crioulo é distinto quer do observado na aquisição de PE L1 quer do de falantes não nativos adultos descrito em estudos anteriores, registando-se algumas diferenças entre os diferentes grupos de aprendentes. Tal facto sugere que, embora não haja transferência directa da L1, esta desempenha um papel indirecto no desenvolvimento destas propriedades, podendo influenciar o ritmo e possivelmente o percurso de aquisição. Este estudo proporciona um melhor conhecimento do modo como os aprendentes estrangeiros adquirem as propriedades gramaticais do PE e dos efeitos de influência da L1 no processo de aprendizagem, oferecendo oportunidades para uma reflexão sobre os benefícios que tal conhecimento poderá trazer para o ensino de português a estrangeiros. PALAVRAS-CHAVE aquisição; língua não materna; influência da L1; clíticos; ênclise/próclise 1 UNL, Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Linguística, Avenida de Berna, 26-C, 1061-069 Lisboa, Portugal, [email protected]

Transcript of PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de...

Page 1: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

1

PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS FALANTES DE CRIOULO

Ana Maria MADEIRA1 Maria Francisca XAVIER

Maria de Lourdes CRISPIM RESUMO Um dos aspectos problemáticos na aquisição do português europeu (PE) por estrangeiros refere-se à realização e colocação dos pronomes clíticos. Em estudos anteriores efectuados com estudantes universitários estrangeiros aprendentes de PE, encontrou-se evidência de que, após uma fase caracterizada pela omissão de pronomes clíticos e pela sua substituição por outras formas (quer sintagmas preposicionais quer pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. O estudo aqui apresentado visa investigar a aquisição dos padrões de colocação de pronomes clíticos, em PE como língua não materna (L2), por crianças falantes de crioulo cabo-verdiano e guineense, procurando dar resposta às seguintes questões: (1) Quais são os padrões de desenvolvimento que caracterizam a aquisição destes padrões por crianças? (2) Qual é o papel da língua materna (L1) no desenvolvimento das propriedades distribucionais dos clíticos pronominais em crianças? Com o objectivo de procurar resposta para estas questões, foi realizado um estudo com base em dados de juízos de gramaticalidade. Os resultados obtidos foram comparados com os resultados de três grupos de controlo, um constituído por crianças falantes de PE L1 e dois que incluíam crianças falantes de outras L1s. Verificou-se que o percurso seguido na aquisição dos pronomes clíticos pelas crianças falantes de crioulo é distinto quer do observado na aquisição de PE L1 quer do de falantes não nativos adultos descrito em estudos anteriores, registando-se algumas diferenças entre os diferentes grupos de aprendentes. Tal facto sugere que, embora não haja transferência directa da L1, esta desempenha um papel indirecto no desenvolvimento destas propriedades, podendo influenciar o ritmo e possivelmente o percurso de aquisição. Este estudo proporciona um melhor conhecimento do modo como os aprendentes estrangeiros adquirem as propriedades gramaticais do PE e dos efeitos de influência da L1 no processo de aprendizagem, oferecendo oportunidades para uma reflexão sobre os benefícios que tal conhecimento poderá trazer para o ensino de português a estrangeiros. PALAVRAS-CHAVE aquisição; língua não materna; influência da L1; clíticos; ênclise/próclise

1 UNL, Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa, Departamento de Linguística, Avenida de Berna, 26-C, 1061-069 Lisboa, Portugal, [email protected]

Page 2: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

2

Introdução

Um dos aspectos problemáticos na aquisição do português europeu (PE) por

estrangeiros refere-se à realização e colocação dos pronomes clíticos. Em estudos

anteriores efectuados com aprendentes adultos de PE (MADEIRA; CRISPIM;

XAVIER, 2006; MADEIRA; XAVIER, 2009), encontrou-se evidência de que, após

uma fase inicial caracterizada pela omissão de pronomes clíticos e pela sua substituição

por outras formas, os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos em

sequência, ao mesmo tempo que são adquiridas as marcas morfológicas de género,

número e Caso.

O estudo aqui apresentado visa investigar a aquisição dos padrões de colocação de

pronomes clíticos, em PE como língua não materna (L2), por crianças falantes de

crioulo cabo-verdiano e guineense, procurando compreender os padrões de

desenvolvimento que caracterizam a aquisição desta propriedade gramatical por falantes

de crioulo, bem como determinar se existem diferenças significativas no

desenvolvimento desta propriedade gramatical entre crianças e adultos. Ao mesmo

tempo, procurar-se-á investigar qual o papel da língua materna (L1) no desenvolvimento

dos padrões de colocação dos clíticos pronominais em crianças.

O estudo baseia-se em dados recolhidos, através de um teste de juízos de

gramaticalidade, em instituições de ensino nas áreas de Lisboa e Setúbal. Os dados do

grupo de falantes não nativos são confrontados com os dados de três grupos de controlo:

um grupo de crianças falantes nativas de EP e dois grupos de crianças, aprendentes de

PE L2, mas com L1s distintas das do grupo de teste.

Page 3: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

3

Padrões de colocação de clíticos em português europeu

As condições que determinam os padrões de colocação dos clíticos em PE são distintas

das observadas em outras línguas românicas. Enquanto, por exemplo, em línguas como

o espanhol e o italiano, a alternância entre ênclise (ordem verbo-clítico) e próclise

(ordem clítico-verbo) é determinada pela finitude do verbo (ocorrendo a próclise com

formas finitas e a ênclise com formas não finitas do verbo) e, numa língua como o

francês, próclise é generalizada em todos os contextos com excepção das imperativas,

em PE, os dois padrões de colocação são determinados por condições sintácticas muito

específicas (para uma descrição mais detalhada, bem como diferentes propostas de

análise, ver, entre muitos outros, MATEUS et al., 2003; MADEIRA, 1993; DUARTE;

MATOS, 2000). Ênclise, ou a ordem verbo-clítico (cf. (1) abaixo), ocorre apenas na

ausência de certos elementos em posição pré-verbal, tais como negação frásica e outros

constituintes negativos (cf. (2)), quantificadores (cf. (3)), certas classes de advérbios (cf.

(4)), complementadores (cf. (5)) e constituintes-Qu (cf. (6)).2

(1) A Cláudia escreveu-me / * me escreveu uma carta

(2) A Cláudia não / nunca me escreveu / * escreveu-me uma carta 2 Vários autores (FROTA, 1994; DUARTE; MATOS, 2000; MATEUS et al., 2003) têm observado que, especialmente entre as gerações mais jovens, se tem vindo a assistir a uma generalização do uso de ênclise na presença de elementos proclisadores, particularmente em orações subordinadas finitas, mas também em frases com advérbios e quantificadores pré-verbais e em interrogativas-Qu. Este facto poderá explicar os resultados, referentes a estes tipos de contextos, do grupo de falantes nativos, descritos neste artigo.

Page 4: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

4

(3) a. Alguém me escreveu / * escreveu-me uma carta

b. Todos os meus amigos me escreveram / * escreveram-me uma carta

(4) A Cláudia também / já me escreveu / * escreveu-me uma carta

(5) O João pensa que a Cláudia me escreveu / * escreveu-me uma carta

(6) a. Quem me escreveu / * escreveu-me uma carta?

b. A amiga que me escreveu / * escreveu-me uma carta chama-se Cláudia

As análises propostas na literatura para explicar as propriedades distribucionais dos

clíticos nas línguas românicas podem dividir-se em dois grandes grupos: análises que

assumem que os clíticos são projectados directamente nas suas posições de superfície

(e.g STROZER, 1976; SPORTICHE, 1996); e análises que propõem que os clíticos são

gerados em posições argumentais, sendo as suas posições de superfície derivadas por

movimento para categorias funcionais (e.g. KAYNE, 1975, 1991). A maioria das

análises sintácticas dos padrões de colocação de clíticos em EP adoptam esta segunda

perspectiva (MADEIRA, 1993; ROUVERET, 1992; MARTINS, 1994;

URIAGEREKA, 1995; DUARTE; MATOS, 2000; etc.) e assumem movimento do

clítico para um núcleo funcional (e.g. C(omplementador), em MADEIRA, 1993;

W(ackernagel), em ROUVERET, 1992; Σ [Sigma], em MARTINS, 1994; F

[Funcional/Foco], em URIAGEREKA, 1995; AgrS [Concordância de Sujeito] (no caso

de proclíticos) / AgrO [Concordância de Objecto] (no caso de enclíticos), em DUARTE;

MATOS, 2000). Os padrões de ordem específicos do EP são derivados quer da

existência de categorias funcionais que não ocorrem na estrutura frásica de outras

línguas românicas (e.g. ROUVERET, 1992) quer da presença de traços específicos nas

categorias funcionais relevantes em EP (e.g. MARTINS, 1994).

Page 5: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

5

Neste artigo, adoptaremos uma análise de movimento, assumindo que os clíticos, em

EP, são gerados em posições argumentais, alcançando as suas posições derivadas

através de uma operação de movimento. De igual modo, assumiremos que as

propriedades de colocação específicas dos clíticos em EP se podem derivar da proposta

que o EP possui determinadas propriedades funcionais ausentes em outras línguas

românicas (sejam elas núcleos ou traços funcionais). Dados estes pressupostos,

consideramos que uma investigação sobre o processo de aquisição das propriedades de

colocação dos clíticos em EP L2 poderá contribuir para uma melhor compreensão dos

modos como se desenvolve o conhecimento de propriedades do domínio funcional ao

longo do percurso de aquisição.

Clíticos na aquisição de L2 de outras línguas românicas

Existem vários trabalhos que se debruçam sobre a aquisição de L2 dos pronomes

clíticos em línguas românicas como o espanhol, o francês e o italiano (ver, entre outros,

LICERAS, 1985; LICERAS et al., 1997; DUFFIELD; WHITE, 1999; BELLETTI;

HAMANN, 2000; WHITE, 1996; DUFFIELD et al., 2002; LEONINI; BELLETTI,

2004). Em geral, estes estudos concluem que não se registam diferenças significativas

entre falantes de línguas maternas distintas, os quais apresentam um idêntico percurso

de desenvolvimento na aquisição das propriedades sintácticas dos clíticos, semelhante

ao observado na aquisição de L1 destas línguas. Este percurso caracteriza-se por um

recurso frequente a estratégias alternativas, tais como omissão do clítico ou substituição

por um SN pleno, nos estádios iniciais, com um desenvolvimento rápido dos padrões de

Page 6: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

6

colocação dos clíticos, nos estádios seguintes, com colocação dos clíticos

predominantemente em posições apropriadas.

Page 7: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

7

Aquisição de clíticos em português europeu língua materna

O percurso de desenvolvimento observado na aquisição de clíticos em PE língua

materna difere claramente do verificado em outras línguas românicas (DUARTE;

MATOS; FARIA, 1995; FROTA, 1994; MATEUS et al., 2003). Assim, ênclise é o

padrão de colocação preferido em todos os contextos até por volta dos 42 meses. Veja-

se os exemplos em (7) e (8),3 em que o pronome ocorre em posição enclítica numa frase

negativa e numa interrogativa-Qu:

(7) não chama-se nada (20 meses)

(8) porque é que foste-me interromper? (29 meses)

Próclise torna-se o padrão predominante em frases negativas e em orações subordinadas

finitas por volta dos 48 meses.

De entre as principais características observadas na aquisição de pronomes clíticos em

PE L1, destacam-se a omissão do clítico (COSTA; LOBO, 2009) – cf. exemplo (9) –,

‘leísmo’, ou seja, substituição do pronome acusativo de 3ª pessoa pela forma dativa (cf.

exemplo (10)), e duplicação do clítico, ou seja, a sua ocorrência simultânea em posição

pré- e pós-verbal (cf. (11)).

(9) o menino estava a chamar (5 anos)

(10) depois atirou-lhe # ele # para o rio (5 anos)

(11) não te engasgas-te nada! (29 meses) 3 Os exemplos nesta secção são retirados de Duarte, Matos & Faria (1995).

Page 8: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

8

Aquisição de clíticos em português europeu língua não materna

Estudos realizados com base em dados de produção e de juízos de gramaticalidade,

provenientes de aprendentes adultos de PE L2, falantes de línguas com clíticos (línguas

românicas) e de línguas sem clíticos (línguas germânicas) (MADEIRA; XAVIER;

CRISPIM, 2006; MADEIRA; XAVIER, 2009), revelam, à semelhança do que tem sido

observado na aquisição de outras línguas românicas, ausência de efeitos significativos

de influência da L1 no desenvolvimento das propriedades sintácticas dos clíticos.

Independentemente da existência ou não de clíticos nas L1s dos aprendentes, observou-

se a presença de clíticos (em posições distintas daquelas em que ocorrem pronomes

fortes), em dados de produção, desde os níveis mais elementares de proficiência,

recorrendo os aprendentes, de forma pouco significativa, a estratégias de omissão ou

substituição dos clíticos por outras formas (quer sintagmas preposicionais quer

pronomes fortes). Além disso, ao contrário do que se verifica na aquisição de PE como

língua materna, os aprendentes demonstram, desde muito cedo, conhecimento da

distinção entre ênclise e próclise, embora, nos níveis elementares, não tenham ainda

adquirido todas as condições que determinam os dois padrões de colocação e

manifestem uma preferência clara por ênclise, ao contrário do que se verifica na

aquisição de L2 de outras línguas românicas, e tal como se verifica na aquisição de

português L1.

No desenvolvimento dos padrões de colocação dos clíticos, embora se verifiquem

algumas diferenças entre aprendentes, atribuíveis à influência da L1, estas diferenças

manifestam-se sobretudo, a nível do ritmo de desenvolvimento, observando-se um

Page 9: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

9

percurso idêntico para todos os aprendentes na aquisição gradual das condições que

determinam próclise em PE (verificou-se, por exemplo, que a preferência por próclise

na presença de elementos proclisadores surge primeiro em contextos de negação).

Estes resultados são consistentes com um modelo que assume não existir transferência

da L1 no domínio funcional, sendo o desenvolvimento da gramática de interlíngua

caracterizado pela construção gradual da estrutura sintáctica (de baixo para cima) ao

longo do processo de aquisição (Hipótese das Árvores Mínimas, VAINIKKA &

YOUNG-SCHOLTEN, 1996). Assumindo a análise de Duarte & Matos (2000),

segundo a qual os pronomes enclíticos ocupam uma posição mais baixa na estrutura que

os proclíticos, prevê-se, assim, que a ênclise surja, no processo de desenvolvimento,

mais cedo que a próclise.

Questões

Neste trabalho, procuraremos investigar as seguintes questões:

(1) Quais são os padrões de desenvolvimento que caracterizam a aquisição dos padrões

de colocação dos pronomes clíticos por crianças, em PE L2?

Se as crianças apresentam um desenvolvimento paralelo ao observado em português L1,

esperaremos encontrar ênclise generalizada nos estádios iniciais, seguida de aquisição

gradual dos contextos que determinam próclise. Por outro lado, se as crianças falantes

não nativas seguem um percurso idêntico ao verificado em aprendentes adultos, prediz-

se variação nos estádios iniciais, com recurso aos dois padrões de colocação, embora

Page 10: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

10

com preferência inicial por ênclise em todos os contextos, e aquisição gradual de

próclise nos contextos adequados.

(2) Qual é o papel da L1 no desenvolvimento dos padrões de colocação dos clíticos

pronominais em crianças?

Se, ao contrário do que se observou em aprendentes adultos, se observam efeitos de

influência da L1 na aquisição de PE L2 por crianças, espera-se que o percurso de

desenvolvimento desta propriedade gramatical seja predominantemente determinado

pelas características da sua L1. Tanto em crioulo de Cabo Verde (cf. exemplo (12))

como em crioulo da Guiné-Bissau (cf. os exemplos em (13)), os clíticos de objecto

ocorrem exclusivamente em posição pós-verbal, parecendo ter uma natureza afixal.

(12) nha mai sabe ki n odja-bu onti

minha mãe sabe que 1SG ver-2SG ontem

“A minha mãe sabe que eu te vi ontem.” (BAPTISTA, 1997, p.257)

(13) a. karu yara m aja l

carro quase matar 3SG

“O carro quase o matou.” (KIHM, 1994, p.28)

b. ningin ka pudi tuji ne l

ninguém neg poder proibir 1SG 3SG

“Ninguém me pode proibir de o fazer.” (KIHM, 1994, p.164)

Tal implica que, se se verificar que as crianças falantes de crioulo manifestam uma

preferência generalizada por ênclise em todos os contextos, isso poderá ser indicativo

Page 11: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

11

quer da presença de efeitos de influência da L1 dos aprendentes quer de um percurso de

desenvolvimento semelhante ao observado na aquisição de português L1.

Para evitar esta potencial ambiguidade dos resultados, decidiu-se incluir dois grupos de

controlo, constituídos por crianças falantes de outras línguas maternas: um grupo de

falantes de línguas eslavas (russo e ucraniano) e um grupo de falantes de romeno. Tanto

o russo e o ucraniano como o romeno se distinguem do crioulo (e do PE) quanto às

propriedades de elementos clíticos. As duas línguas eslavas, por um lado, apresentam

um sistema de formas clíticas muito restrito: “Ukrainian and Russian are the only

[Slavic] languages with a ‘poorclitic’ system in that only the form by used in

Conditionals is a clitic. On a non-standard level, Russian also has weak forms of the 2

P,SG pronominal and the Dative reflexive” (RIEMSDIJK, 1999, p.83). No romeno, por

seu lado, os clíticos pronominais ocupam uma posição pré-verbal, excepto se o verbo se

encontra no gerúndio ou no imperativo positivo (14).4

(14) a. Alexandru mi- l trimite astǎzi

Alexandru cl(dat-1sg) cl(acus-3msg) envia hoje

“Alexandru envia-mo hoje.” (MONACHESI, 1998, p.100)

b. dǎ-ni- l 4 Apenas o clítico acusativo feminino singular o constitui uma excepção, sendo enclítico ao verbo lexical com formas verbais compostas contendo o auxiliar ter: a. Îl / o / ii / le văd cl(acus-3msg) / cl(acus-3fsg) / cl(acus-3mpl) / cl(acus-3fpl) vejo “Eu vejo-o/a/os/as.” b. Am văzut- o tenho visto cl(acus-3fsg) “Eu vi-a.” c. L- / i- / le- am văzut cl(acus-3msg) /cl(acus-3mpl) / cl(acus-3fpl) tenho visto “Eu vi-o/os/as.” (MARIN, 2004)

Page 12: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

12

dá cl(dat-1pl) cl(acus-3msg)

“Dá-no-lo!” (MONACHESI, 1998, p.106)

No caso de se observar uma preferência generalizada por ênclise no grupo de falantes de

crioulo, a comparação com os resultados destes dois grupos de controlo permitir-nos-á

compreender até que ponto essa preferência é determinada pela influência da L1 dos

aprendentes. Assim, se for esse o caso, esperar-se-á observar resultados distintos nos

dois grupos de controlo. Se tal não se verificar, podemos concluir que tal preferência é,

de facto, consequência do percurso natural de aquisição destas propriedades, que será

idêntico para todos os aprendentes.

O estudo

Metodologia

Participantes

Participaram no estudo 12 crianças, falantes nativas de crioulo de Cabo Verde e da

Guiné-Bissau, com idades compreendidas entre 6 e 11 anos (média de idades: 7,8), que

frequentam estabelecimentos do 1º ciclo do ensino básico em Portugal (3 crianças

frequentavam o 1º ano, 5 crianças o 2º ano, 1 criança o 3º ano e 3 crianças o 4º ano).

Todas as crianças, com excepção de duas, nasceram em Portugal e começaram a

aprender português antes da entrada na escola.

Foram também constituídos três grupos de controlo, com crianças que frequentam o 1º

ciclo do ensino básico: (1) um grupo de 12 crianças, falantes nativas de PE, com idades

Page 13: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

13

compreendidas entre 7 e 11 anos (média de idades: 9), alunas do 1º ciclo do ensino

básico (3 crianças frequentavam o 2º ano e 9 crianças o 4º ano); (2) um grupo de 4

crianças falantes de línguas eslavas (4 falantes de russo e 1 de ucraniano), com idades

entre os 9 e os 10 anos (média de idades: 9,8); e (3) um grupo de 3 crianças falantes de

romeno, também com idades compreendidas entre os 9 e os 10 anos (média de idades:

9,3).

Tarefa

Os dados foram obtidos através de uma tarefa de juízos de gramaticalidade, obtidos

através de um teste realizado online. As frases eram apresentadas apenas oralmente, e

cada frase correspondia à resposta que uma personagem (o Stitch), que estava a

aprender português, dava a uma pergunta feita por uma outra personagem, que era

apresentada como o falante nativo (a ovelha). Após ouvir a frase, pedia-se à criança que

premisse um de dois botões, consoante considerasse que a personagem estava a falar

correctamente ou não.

Page 14: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

14

Figura 1: Imagem do teste de juízos de gramaticalidade

O teste era constituído por 24 frases de teste e 26 distractores. Foram testadas 4

condições:

1. Enclítico em contexto de ênclise (N=2)

(15) Tens aí o teu rádio?

Não, deixei-o em casa.

Page 15: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

15

2. Enclítico em contexto de próclise (N=10)

(16) Hoje fizeste o trabalho de casa sozinho?

Fiz, a minha amiga não ajudou-me.

3. Proclítico em contexto de próclise (N=10)

(17) Ontem foste aos anos do Pepe?

Fui, mas não lhe dei nada.

4. Proclítico em contexto de ênclise (N=2)

(18) Este jogo é muito difícil!

Não é nada! Eu te ensino a jogar.

Resultados

Num primeiro momento, calcularam-se as percentagens globais de respostas-alvo e de

respostas desviantes, para cada um dos grupos. Foram consideradas respostas-alvo as

respostas que correspondiam à aceitação de frases gramaticais e rejeição de frases

agramaticais, e respostas desviantes as que correspondiam à rejeição de frases

gramaticais e aceitação de frases agramaticais, sendo a gramaticalidade das frases

avaliada de acordo com as regras que determinam a colocação dos clíticos nos

diferentes contextos sintácticos, na gramática do português padrão. Estes resultados são

apresentados nas figuras 2 e 3 abaixo.

Page 16: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

16

77,1%

27,8%

75%

18,8%

94,4%

38,9%

95,1%

45,1%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Grupo crioulo Grupo eslavo Grupo romeno Grupo nativo

Aceitação de frases gramaticais Rejeição de frases agramaticais

Figura 2: Percentagens de respostas-alvo

22,9%

72,2%

25%

81,2%

5,6%

61,1%

4,9%

54,9%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Grupo crioulo Grupo eslavo Grupo romeno Grupo nativo

Rejeição de frases gramaticais Aceitação de frases agramaticais

Figura 3: Percentagens de respostas desviantes

Os resultados mostram que os grupos de falantes de crioulo e de línguas eslavas não

estabelecem uma distinção clara entre frases gramaticais e agramaticais.

Independentemente do estatuto gramatical das frases, os dois grupos apresentam

percentagens de aceitação entre 72,2% e 81,2%, e percentagens de rejeição entre 18,8%

e 27,8%. Ao contrário destes dois grupos, os grupos de falantes de romeno e de

português L1 apresentam resultados distintos para os dois tipos de frases, exibindo um

melhor desempenho nos juízos de frases gramaticais que de frases agramaticais.

Page 17: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

17

Relativamente às frases gramaticais, estes dois grupos demonstram conhecimento pleno

das condições relevantes, apresentando percentagens de aceitação que rondam 95% e

percentagens de rejeição rondando 5%. Contudo, na avaliação das frases agramaticais,

ambos os grupos manifestam dificuldades. No caso do grupo romeno, a percentagem de

aceitação destas frases (61,1%) é significativamente mais elevada que a percentagem de

rejeição (38,9%). Quanto ao grupo de falantes nativos, este apresenta valores muito

próximos de aceitação (54,9%) e rejeição (45,1%).

No intuito de compreender a natureza das dificuldades observadas, procedeu-se à

análise das respostas por tipo de contexto. Abaixo, representam-se as percentagens de

aceitação de ênclise e próclise em contexto de ênclise (figura 4) e em contextos de

próclise (figura 5). Na análise dos resultados que se apresentam nas figuras 4 e 5,

considerou-se que houve aceitação de um determinado padrão de colocação se, num

determinado contexto, os informantes (1) aceitam efectivamente esse padrão (frases

gramaticais); e (2) expressam rejeição do padrão alternativo (frases agramaticais).

68,7%

31,3%

56,3%43,7%

75%

25%

85,4%

14,6%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Grupo crioulo Grupo eslavo Grupo romeno Grupo nativo

ênclise próclise

Figura 4: Percentagens de aceitação de ênclise e próclise em contexto de ênclise

Page 18: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

18

46,7%53,3% 55%

45%

35%

65%

32,9%

67,1%

0%

20%

40%

60%

80%

Grupo crioulo Grupo eslavo Grupo romeno Grupo nativo

ênclise próclise

Figura 5: Percentagens de aceitação de ênclise e próclise em contextos de próclise

De modo geral, todos os grupos apresentam melhores resultados em contexto de ênclise

que em contextos de próclise. A preferência por ênclise nos contextos apropriados é

significativa em todos os grupos, com excepção do grupo eslavo, que apresenta valores

muito próximos para os dois padrões de colocação. Em contextos de próclise, a

preferência por próclise é menos marcada e, no caso do grupo eslavo, não existente.

Observa-se aqui, novamente, uma divisão bipartida entre os grupos crioulo e eslavo, por

um lado, e os grupos romeno e nativo, por outro: enquanto os primeiros não parecem

estabelecer uma distinção clara entre ênclise e próclise nestes contextos, apresentando

percentagens elevadas (e com valores muito próximos) de aceitação das duas opções, os

segundos manifestam uma preferência clara por próclise (embora com valores

relativamente elevados de ênclise).

Tendo-se verificado acima que os informantes apresentam resultados distintos para as

frases gramaticais e agramaticais, procedeu-se à separação dos resultados para cada um

dos contextos. Assim, as figuras 6 e 7 apresentam os dados obtidos, para os contextos

que elicitam ênclise, através de frases gramaticais (com pronome enclítico) e

Page 19: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

19

agramaticais (com pronome proclítico), respectivamente, e as figuras 8 e 9 apresentam

os dados obtidos, para os contextos que elicitam próclise, através de frases gramaticais

(com pronome proclítico) e agramaticais (com pronome enclítico), respectivamente.

66,7%75%

100% 100%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Grupo crioulo Grupo eslavo Grupo romeno Grupo nativo

aceitação de ênclise rejeição de ênclise

29,2%37,5%

50%

70,8%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Grupo crioulo Grupo eslavo Grupo romeno Grupo nativo

rejeição de próclise aceitação de próclise Figura 6: Percentagens de aceitação e

rejeição de ênclise em contexto de ênclise (frases de teste gramaticais)

Figura 7: Percentagens de rejeição e aceitação de próclise em contexto de ênclise (frases de

teste agramaticais)

79,2%75,0%

93,3% 94,2%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Grupo crioulo Grupo eslavo Grupo romeno Grupo nativo

rejeição de próclise aceitação de próclise

27,5%15%

36,7% 40%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Grupo crioulo Grupo eslavo Grupo romeno Grupo nativo

aceitação de ênclise rejeição de ênclise

Figura 8: Percentagens de rejeição e aceitação de próclise em contexto de próclise

(frases de teste gramaticais)

Figura 9: Percentagens de aceitação e rejeição de ênclise em contexto de próclise (frases de

teste agramaticais)

É notória a assimetria entre os resultados, não se verificando uma correlação entre a

aceitação de padrões gramaticais e a rejeição de padrões agramaticais, como seria de

esperar, se estas propriedades estivessem plenamente adquiridas. Se, com frases

gramaticais, as percentagens de aceitação do padrão alvo são elevadas em todos os

grupos (mais marcadas nos grupos romeno e nativo), nas frases agramaticais, a

tendência é bem diferente. Assim, em contexto de ênclise, assiste-se a percentagens de

Page 20: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

20

aceitação elevadas de próclise em todos os grupos de aprendentes, superiores às

percentagens de rejeição, nos grupos crioulo e eslavo, e idênticas, no grupo romeno.

Apenas o grupo nativo apresenta uma percentagem elevada de rejeição de próclise neste

contexto. Em contextos de próclise, as percentagens de aceitação de ênclise são mais

elevadas que as percentagens de rejeição, em todos os grupos, particularmente no

crioulo e no eslavo. Assim, embora se observe uma tendência para aceitação de próclise

em contexto de ênclise, em todos os grupos de aprendentes, é nos contextos de próclise

que se observa uma maior oscilação entre os dois padrões, não só nos grupos de

aprendentes mas também no grupo de falantes nativo.

Uma observação mais detalhada dos resultados em contextos de próclise confirma esta

tendência, bem como a existência de assimetrias entre os quatro grupos. Os resultados,

por grupo, estão representados nas figuras 10-13 abaixo,5 onde se apresenta a

comparação entre as respostas de aceitação de frases gramaticais e de aceitação de

frases agramaticais.

70,8%58,3%

87,5%70,8%

79,2%87,5%

75%83,3% 83,3%

62,5%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Neg Qu- Sub Q Adv

aceitação de próclise aceitação de ênclise

75% 75% 75%87,5%

62,5%

87,5%

62,5%

87,5% 100%87,5%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Neg Qu- Sub Q Adv

aceitação de próclise aceitação de ênclise Figura 10: Grupo crioulo Figura 11: Grupo eslavo

5 São utilizadas as seguintes abreviaturas: Neg = contextos de negação; Qu- = interrogativas-Qu; Sub = orações subordinadas (finitas); Q = frases com quantificadores pré-verbais; Adv = frases com advérbios pré-verbais.

Page 21: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

21

100%

33,3%

100%

50%

83,3% 83,3%100%100%

83,3%

50%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Neg Qu- Sub Q Adv

aceitação de próclise aceitação de ênclise

100%

29,2%

95,8%

37,5%

91,7%

70,8%

95,8% 91,7% 87,5%

70,8%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Neg Qu- Sub Q Adv

aceitação de próclise aceitação de ênclise

Figura 12: Grupo romeno Figura 13: Grupo nativo

Uma comparação dos resultados apresentados nas figuras 10-13 revela que a elevada

aceitação de próclise, observada acima (ver figura 8), caracteriza todos os contextos

proclisadores. A seguir ao grupo nativo, é no grupo romeno que se observam os valores

mais elevados de aceitação de próclise, seguido do grupo crioulo e do grupo eslavo.

Relativamente à aceitação de ênclise, observa-se, novamente, uma divisão bipartida

entre os grupos. Assim, nos grupos de falantes de crioulo e de línguas eslavas observa-

se uma elevada aceitação de ênclise em todos os contextos que despoletam próclise. Em

alguns contextos, os valores de aceitação de ênclise excedem mesmo os de aceitação de

próclise (subordinadas e quantificadores, nos dois grupos, e interrogativas-Qu, no grupo

eslavo). Os outros dois grupos, pelo contrário, manifestam uma preferência clara por

próclise em contextos de negação, em interrogativas-Qu e em frases com advérbios pré-

verbais. Nos restantes contextos, enquanto o grupo de falantes nativos continua a

preferir próclise (apresentando, simultaneamente, uma elevada aceitação de ênclise), o

grupo romeno apresenta valores idênticos para ênclise e para próclise.

Page 22: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

22

Conclusões

A análise dos resultados descritos acima indica que, na aquisição dos padrões de

colocação dos pronomes clíticos em PE L2, as crianças falantes de crioulo apresentam

padrões de desenvolvimento distintos dos verificados na aquisição de português L1, por

um lado, e também dos observados em aprendentes adultos investigados em estudos

anteriores. Assim, ao contrário do que acontece em aquisição de português L1, estas

crianças não apresentam evidência de um estádio inicial de ênclise generalizada. Por

outro lado, ao contrário do que tem sido observado em aprendentes adultos, embora se

registe variação entre os dois padrões de colocação, não se verifica um predomínio de

ênclise em nenhum dos contextos investigados. Observou-se que, quando se considera a

distribuição dos dois padrões de colocação globalmente, os falantes de crioulo

manifestam uma ligeira preferência por ênclise em contextos de ênclise (com uma

percentagem de aceitação de 68,7%) e valores elevados de aceitação em contextos de

próclise (46,7%). Contudo, quando se consideram as frases gramaticais e agramaticais

separadamente, observa-se, em contextos de ênclise, uma aceitação de ênclise de 66,7%

e uma aceitação de próclise de 70,8%, e, em contextos de próclise, uma aceitação de

ênclise de 72,5% e uma aceitação de próclise de 79,2%.

A ausência de uma preferência marcada por ênclise parece indicar a ausência de efeitos

directos de transferência da L1. Espera-se, pois, que todos os aprendentes exibam um

percurso idêntico na aquisição destas propriedades. Tal é confirmado pela comparação

dos resultados das crianças falantes de crioulo com os dos falantes de línguas eslavas.

Considerando a distribuição dos dois padrões de colocação globalmente, os falantes

eslavos revelam uma leve preferência por ênclise tanto em contextos de ênclise (56,3%)

Page 23: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

23

como em contextos de próclise (55%). Quando se consideram as frases gramaticais e

agramaticais separadamente, observa-se, em contextos de ênclise, uma aceitação de

ênclise de 75% e uma aceitação de próclise de 62,5%, e, em contextos de próclise, uma

aceitação de ênclise de 85% e uma aceitação de próclise de 75%. Assim, o facto de os

falantes de línguas eslavas, que são línguas que possuem um sistema de clíticos

extremamente pobre, como se descreveu acima, exibirem um desempenho semelhante

ao dos falantes de crioulo, com oscilação entre os dois padrões de colocação (e com

valores ligeiramente mais elevados de aceitação de enclíticos no grupo eslavo), permite

excluir transferência de propriedades da L1. Os resultados mostram que ambos os

grupos evidenciam conhecimento da existência dos dois padrões de colocação dos

clíticos, mas a ausência de uma preferência marcada por ênclise ou próclise, observada

em todos os contextos, sugere que os aprendentes não desenvolveram ainda

conhecimento das condições e das propriedades funcionais que determinam cada um

dos padrões.

Em contraste com estes dois grupos de falantes não nativos, porém, o grupo de falantes

de romeno apresenta um desempenho próximo do dos falantes nativos, que parece

reflectir um percurso de desenvolvimento paralelo ao observado em falantes adultos.

Estes aprendentes apresentam resultados que os distinguem dos outros dois grupos de

aprendentes e os aproximam do grupo nativo, sugerindo que se encontram num estádio

mais avançado de desenvolvimento das propriedades funcionais relevantes. Assim,

considerando os resultados globais, tanto o grupo romeno como o grupo nativo

manifestam uma preferência marcada por ênclise em contextos de ênclise (com uma

percentagem de aceitação de 75%, para o grupo romeno, e 85,4%, para o grupo nativo)

e uma fraca aceitação de ênclise em contextos de próclise (35%, para o grupo romeno, e

Page 24: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

24

32,9%, para os falantes nativos). Considerando as frases gramaticais e agramaticais

separadamente, observa-se, em contextos de ênclise, uma percentagem de aceitação de

ênclise de 100%, para os dois grupos, e uma percentagem de aceitação de próclise de

50%, para os falantes de romeno, e de 19,2%, para os falantes nativos (esta é a única

diferença significativa que se observa entre os resultados dos dois grupos); em

contextos de próclise, as percentagens de aceitação são, para a ênclise, de 63,3%, para

os romenos, e 60%, para os nativos, e, para a próclise, de 93,3%, para os romenos, e de

94,2%, para os nativos. As semelhanças entre os dois grupos são confirmadas pela

análise dos contextos específicos de próclise, onde se observa, no grupo de falantes

romenos, uma aquisição gradual de próclise nos contextos adequados, com uma

preferência por próclise mais marcada em contextos de negação.

Estas assimetrias entre os diferentes grupos de aprendentes sugerem um efeito indirecto

de influência da L1, que, no caso dos falantes de romeno (uma língua que apresenta

maiores semelhanças relativamente ao PE que quer o crioulo quer o russo e o

ucraniano), poderá facilitar a aquisição e acelerar o desenvolvimento das propriedades

relevantes em PE L2.

Contudo, não é claro se as diferenças observadas entre os três grupos de crianças

aprendentes de português L2, que parecem ser condicionadas pelas suas L1s, reflectem

apenas diferenças no ritmo de aquisição ou poderão ser consequência de diferentes

percursos de desenvolvimento das propriedades sintácticas. Ao mesmo tempo, não ficou

claro, a partir da análise dos resultados obtidos, se as diferenças observadas entre o

percurso de crianças falantes de crioulo e o percurso observado em adultos, em estudos

anteriores, será consequência do factor idade ou poderá ser explicado pela influência da

L1 (uma vez que os adultos que constituíram o objecto desses estudos eram falantes de

Page 25: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

25

outras línguas maternas). Estas são questões que permanecem em aberto e que deverão

ser exploradas em trabalhos futuros.

Para rematar, é importante referir que o estudo apresentado neste artigo se deparou com

algumas dificuldades de carácter metodológico, que poderão ter contribuído para que os

resultados obtidos não tenham sido tão claros como seria de desejar. Em primeiro lugar,

por razões práticas, não foi possível determinar, de forma fiável, o nível de proficiência

dos informantes, o que constituiu um obstáculo para a avaliação da homogeneidade de

cada um dos grupos, bem como da comparabilidade dos diferentes grupos. Em muitos

casos, também não foi possível determinar a idade com que as crianças tinham

começado a aprender português e em que condições essa aprendizagem tinha decorrido,

que constituem aspectos importantes da caracterização linguística dos participantes no

estudo. Por outro lado, o facto de dois dos grupos de controlo (eslavo e romeno) serem

constituídos por um menor número de crianças levanta também algumas dúvidas quanto

à legitimidade da comparação dos resultados. Apesar destas questões metodológicas,

parece-nos que os resultados deste estudo levantam questões e sugerem pistas que será

interessante explorar em trabalho futuro.

Referências bibliográficas Baptista, Marlyse (1997) The morpho-syntax of nominal and verbal categories in Capeverdean creole. Dissertação de Doutoramento, Harvard. Belletti, Adriana & Cornelia Hamann (2000) Ça on fait pas! On the L2 acquisition of French by two young children with different source languages. In Catherine Howell, Sarah Fish & Thea Keith-Lucas (orgs.), Proceedings of the 24th Annual Boston University Conference on Language Development, Somerville, MA: Cascadilla Press, pp. 116–127.

Page 26: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

26

Costa, João & Maria Lobo (2009) Clitic Omission in The Acquisition of European Portuguese: Data from Comprehension. In Acrisio Pires & Jason Rothman (orgs.), Minimalist Inquiries into Child and Adult Language Acquisition: Case Studies across Portuguese, Berlin/New York: Mouton de Gruyter, pp. 63–84. Duarte, Inês, Gabriela Matos & Isabel Faria (1995) Specificity of European Portuguese clitics in Romance. In Isabel Faria & Maria João Freitas (orgs.), Studies on the Acquisition of Portuguese, Lisboa: Associação Portuguesa de Linguística e Edições Colibri, pp. 129–154. Duarte, I. & G. Matos (2000) Romance clitics and the Minimalist Program. In João Costa (org.), Portuguese Syntax: New Comparative Studies, Oxford: Oxford University Press, pp. 116–142. Duffield, Nigel & Lydia White (1999) Assessing L2 knowledge of Spanish clitic placement: converging methodologies. Second Language Research 15, pp. 133–160. Duffield, Nigel, Lydia White, Joyce Bruhn de Garavito, Silvina Montrul & Philippe Prévost (2000) Clitic placement in L2 French: evidence from sentence matching. Journal of Linguistics 38, pp. 487–525. Frota, Sónia (1994) Is Focus a phonological category in Portuguese? In Peter Ackema & Maaike Schoorlemmer (orgs.), Proceedings of ConSole I, The Hague: Holland Academic Graphics, pp. 69–86. Kayne, Richard (1975) French Syntax: The Transformational Cycle. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press. – (1991) Romance clitics, verb movement and PRO. Linguistic Inquiry 22, pp. 647–86. Kihm, Alain (1994) Kriyol syntax: the Portuguese-based creole language of Guinea-Bissau. Amsterdam: John Benjamins. Leonini, Chiara & Adriana Belletti (2004) Adult L2 acquisition of Italian clitic pronouns and ‘subject inversion’/VS structures. In Jacqueline van Kampen & Sergio Baauw (orgs.), Proceedings of GALA 2003 (Generative Approaches to Language Acquisition), vol. 2, Utrecht University: LOT Occasional Series 3, pp. 293–304. Liceras, Juana (1985) The value of clitics in non-native Spanish. Second Language Research 1, pp. 151–168. Liceras, Juana, Denyse Maxwell, Biana Laguardia, Zara Fernández, Raquel Fernández & Lourdes Díaz (1997) A longitudinal study of Spanish non-native grammars: beyond parameters. In William R. Glass & Ana Teresa Pérez-Leroux (orgs.), Contemporary Perspectives on the Acquisition of Spanish, Somerville, MA: Cascadilla Press, pp. 99–132.

Page 27: PRONOMES CLÍTICOS NA GRAMÁTICA DE CRIANÇAS … · pronomes fortes), os diferentes padrões de colocação começam a ser adquiridos de acordo com uma sequência fixa. ... através

Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 24 – Aquisição de Português como segunda língua.

27

Madeira, Ana (1993) Clitic-second in European Portuguese. Probus 5, pp. 155–174. Madeira, Ana, Maria de Lourdes Crispim & Maria Francisca Xavier (2006) Clíticos pronominais em português L2. In Fátima Oliveira & Joaquim Barbosa (orgs.), Textos Seleccionados do XXI Encontro da Associação Portuguesa de Linguística, Lisboa: Associação Portuguesa de Linguística, pp. 495–510. Madeira, Ana & Maria Francisca Xavier (2009) The acquisition of clitic pronouns in L2 European Portuguese. In Acrisio Pires & Jason Rothman (orgs.), Minimalist Inquiries into Child and Adult Language Acquisition: Case Studies across Portuguese, Berlin/New York: Mouton de Gruyter, pp. 273–299. Marin, Stefania (2004) Pronominal Clitic Placement is Phonological: Evidence from Romanian Adult and Acquisition Data. Apresentado em Yale Linguistics, Friday Lunch Talks – Fall 2004 (http://www.ling.yale.edu/events/friday_fall04.html). Martins, Ana Maria (1994) Clíticos na história do português. Dissertação de Doutoramento, Universidade de Lisboa. Mateus, Maria Helena, Ana Maria Brito, Inês Duarte & Isabel Hub Faria (orgs.) (2003) Gramática da Língua Portuguesa (5ª edição), Lisboa: Caminho. Monachesi, Paola (1998) The morphosyntax of Romanian cliticization. In P. Coppen, H. van Halteren & L. Teunissen (orgs.), Proceedings of Computational Linguistics in The Netherlands 1997. Amsterdam-Atlanta: Rodopi, pp. 99–118. Riemsdijk, Henk van (org.) (1999) Clitics in the languages of Europe. Typology of Languages in Europe (Project). De Gruyter Mouton. Rouveret, Alain (1992) Clitic placement, focus and the Wackernagel position in European Portuguese. Ms., University of Paris-8. Sportiche, Dominique (1996) Clitic constructions. In Johan Rooryck & Laurie Zaring (orgs.), Phrase Structure and the Lexicon, Dordrecht: Kluwer, pp. 213–276. Strozer, Judith (1976) Clitics in Spanish. Dissertação de Doutoramento, UCLA. Uriagereka, Juan (1995) Aspects of the syntax of clitic placement in Western Romance. Linguistic Inquiry 26, pp. 79–123. Vainikka, Anna & Martha Young-Scholten (1996) Gradual development of L2 phrase structure. Second Language Research 12, pp. 7–39. White, Lydia (1996) Clitics in L2 French. In Harald Clahsen (org.), Generative Perspectives on Language Acquisition, Amsterdam: John Benjamins, pp. 335–368.