Propaganda - ideologia e manipulaç¦o

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Livro bastante esclarecedor elaborado por Nelson Jahr Garcia, onde o autor aborda a correlação entre a propaganda e seu uso como ferramenta de manipulação ideológica.

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    PROPAGANDA: IDEOLOGIA EMANIPULAO

    Nlson Jahr Garcia

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  • Os textos da Ridendo Castigat Mores foram gentil-mente cedidos por Nlson Jahr Garcia, que nasceuem So Paulo, formado na Faculdade de Direito doLargo So Francisco. Professor da USP, e de outrasFaculdades Particulares. Fez mestrado edoutoramento em Cincias da Comunicao na ECA-USP. Escreve livros, artigos. webdesigner e ebook-publisher.

    Tem um site fcil de acessar: www.jahr.org, filiado www.ebooksbrasil.com, onde edita vrios livros,especialmente clssicos. Espera, como retribuio,sentir que, difundindo conhecimento, contribuiupara o desenvolvimento da cultura humana.

    Com o riso castigam-se os costumes.

  • PROPAGANDA: IDEOLOGIA EMANIPULAO

    Nlson Jahr Garcia

    Propaganda comercial, eleitoral e ideolgica

    Ao assistir televiso, ler um jornal ou revista, ouvir rdio ou olhar umcartaz de rua, tem-se a ateno despertada para mensagens que convi-dam a experimentar um determinado produto ou a utilizar algum servio.So anncios que pedem para usar um sabonete, fumar cigarros decerta marca, depositar dinheiro numa caderneta de poupana e inme-ros outros. Outras vezes, embora sem se referir especificamente aosprodutos ou servios, os anncios mencionam uma determinada empre-sa ou instituio, falam de sua importncia para a sociedade, dos em-pregos que ela propicia ou de sua contribuio para o progresso dopas. Procuram, dessa forma, criar uma imagem positiva da entidadepara que se a considere com simpatia. Trata-se, em todos esses exem-plos, de publicidade, tambm denominada propaganda comercial.A propaganda eleitoral, geralmente, realizada em vsperas de elei-es. Suas mensagens, veiculadas pelos meios de comunicao oudivulgadas diretamente atravs de discursos e apelos pessoais, convi-dam a votar em determinado candidato, enaltecem suas qualidadespositivas e informam sobre as obras que realizou no passado e as que

  • ir fazer no futuro, se eleito.A produo desses anncios envolve diversas e diferentes etapas. Aempresa que deseja aumentar as vendas, o nmero de usurios de seusservios, ou o candidato que quer ser eleito, contrata uma agncia depropaganda. A partir da, profissionais especializados passam a estudarcuidadosamente os diversos aspectos que lhes permitam adquirir umperfeito conhecimento da situao. Verificam as caractersticas doproduto ou servio, formas de distribuio, preos e informam-se sobreos concorrentes. No caso de candidatos a cargos polticos, analisamsuas qualidades, aspectos fsicos, idias que defendem etc. Obtido omaior nmero possvel de informaes, a agncia passa a investigar osprovveis consumidores ou eleitores. Pesquisa seus hbitos, expectati-vas, motivaes, desejos e todos aqueles elementos necessrios paraprever as atitudes que podero assumir em face das propostas a seremapresentadas. Verifica, ainda, os hbitos de leitura, locais que freqen-tam, canais de televiso e estaes de rdio que preferem e os respecti-vos horrios. De posse de todos esses dados, relativos ao que deve seranunciado, s pessoas que devem receber as mensagens e aos veculosde divulgao, a agncia prepara a campanha. Tem condio, assim, decriar os comerciais e anncios de forma atrativa e convincente para, emseguida, difundi-los nos locais, veculos e horrios mais adequados consecuo dos objetivos que tem em vista.A pessoa que recebe a comunicao no encontra nenhuma dificuldadeem perceber que se trata de propaganda, ou seja, de que existe o fimespecfico de gerar uma predisposio para a compra ou utilizao daservio, criar uma imagem favorvel da empresa ou obter votos. Pode,inclusive, evitar os apelos desligando a TV, mudando a estao do rdioou simplesmente no prestando ateno.H uma outra forma de propaganda que se desenvolve de maneira bemmais complexa. Nos casos at agora mencionados a meta era estimularapenas a prtica de um ou alguns atos isolados. Promovia-se, comovimos, a escolha de bens ou servios de certas empresas ou a opo devoto para o candidato de determinado partido. A propaganda ideolgi-

  • ca ao contrrio, mais ampla e mais global. Sua funo a de formar amaior parte das idias e convices dos indivduos e, com isso, orientartodo o seu comportamento social. As mensagens apresentam umaverso da realidade a partir da qual se prope a necessidade de mantera sociedade nas condies em que se encontra ou de transform-la emsua estrutura econmica, regime poltico ou sistema cultural.No mais to fcil perceber que se trata de propaganda e que hpessoas tentando convencer outras a se comportarem de determinadamaneira. As idias difundidas nem sempre deixam transparecer suaorigem nem os objetivos a que se destina. Por trs delas, contudo,existem sempre certos grupos que precisam do apoio e participao deoutros para a realizao de seus intentos e, com esse objetivo, procu-ram persuadi-los agir numa certa direo. E eles conseguem, muitasvezes, controlar todos os meios e formas de comunicao, manipulandoo contedo das mensagens, deixando passar algumas informaes ecensurando outras, de tal forma que s possvel ver e ouvir aquilo quelhes interessa.Os noticirios de jornais, rdio e televiso e os documentrios cinema-togrficos transmitem as informaes como se fossem neutras, mera esimples descrio dos fatos ocorridos. Mas, em verdade, essa neutrali-dade apenas aparente, pois as notcias so previamente selecionadase interpretadas de molde a favorecer determinados pontos de vista. Osfilmes de fico, romances, poesias, as letras de msicas e expressesartsticas de maneira geral parecem resultar da livre imaginao dosmais variados artistas. Todavia, a distribuio a promoo das obrasso controladas de modo a s tronar conhecidas aquelas cujo contedono contrarie as idias dominantes. As denominaes de ruas e praas,as placas comemorativas e de sinalizao, as esttuas e efgies depessoas, colocadas nos mais diversos logradouros, aparentemente sedestinam apenas a servir de orientao ou a decorar os ambientes.Porm, na maioria dos casos, cuja vida deva servir de exemplo, com oobjetivo de que sejam imitadas em benefcio da realizao dos interes-ses promovidos pela propaganda. Professores extravasam sua funo

  • de transmitir conhecimentos cientficos para divulgar concepes com-prometidas com certas posies. Lderes religiosos, que se prope aorientar seus adeptos pelos caminhos da paz espiritual e da salvaoeterna, acabam empurrando-os para aes que favorecem lucrosmateriais e ambies terrenas.Por toda a parte e em todos os momentos so propagadas idias queinterferem nas opinies das pessoas sem que elas se apercebam disso.Desse modo, so levadas a agir de uma outra forma que lhes imposta,mas que parece por elas escolhida livremente. Obrigadas a conhecer arealidade somente naqueles aspectos que tenham sido previamentepermitidos e liberados, acabam to envolvidas que no tm outraalternativa seno a de pensar e agir de acordo com o que pretendemdelas. Um exemplo concreto, dentro da histria brasileira, permitiresclarecer melhor essa amplitude da propaganda ideolgica.Em abril de 1964, alguns militares, com apoio de polticos, empresriose segmentos da classe mdia, tomaram o poder atravs de um golpe deestado. O novo regime poltico foi redefinido no sentido de restringir aparticipao popular, impedindo quaisquer reivindicaes, movimentosou conflitos. Paralelamente, propunha-se a reorientao do sistemaeconmico para um modelo de desenvolvimento que, diferentementedas propostas nacionalistas anteriores, permitiria maior penetrao decapital externo no pas.Essas diretrizes eram fixadas em funo dos interesses das empresasmultinacionais, dos grandes proprietrios de terras, industriais, comerci-antes e banqueiros. Atravs delas, estimulava-se a acumulao decapital sem os incmodos das tenses causadas pela luta reivindicatriados trabalhadores.Mas esses objetivos no poderiam ser realizados sem o apoio e acolaborao dos trabalhadores em geral e da classe mdia. Necessita-vam-se dos operrios nas fbricas, dos colonos nas fazendas e dosfuncionrios nas reparties. Era preciso que todos trabalhassem e seesforassem o mais possvel, sem grandes exigncias, para promover aexpanso econmica. claro que tal apoio no seria conseguido se as

  • pessoas visadas no estivessem convencidas de que atuavam em funode seus prprios interesses e benefcios. Para isso o governo promoveuuma intensa campanha de propaganda ideolgica, que se resolveudurante vrios anos.Inicialmente improvisada e pouco sistemtica, a propaganda logopassaria a ser orientada por rgos especialmente criados para coorde-nar as campanhas. A Assessoria Especial de Relaes Pblicas daPresidncia de Repblica (AERP) encarregou-se da propaganda nosgovernos de Costa e Silva e Mdici. Geisel teve a Assessoria de Im-prensa e Relaes Pblicas (AIRP), depois desmembrada em duas.Figueiredo criou a Secretaria da Comunidade Social (SECOM), poste-riormente substituda pela Secretaria de Imprensa e Divulgao (SID).Organizou-se, em todo o pas, um sistema de censura de tal formarigoroso que quase nada podia ser divulgado sem prvia autorizao.Qualquer informao ou notcia que no estivesse de acordo com aideologia oficial do governo era proibida e podia acarretar a punio doresponsvel. Estabelecido, dessa forma, o controle absoluto das infor-maes, a propaganda passava a desenvolver-se sem nenhum obstcu-lo. O primeiro passo foi justificar o golpe do estado e o regime implan-tado. Explicava-se que o militares haviam tomado o poder porque oBrasil era um pas desorganizado pelas crises econmicas e distrbiospolticos constantes que os governantes e administradores corruptosno conseguiam solucionar. A dramtica ameaa de subverso e guerrarevolucionria, orientada por comunistas portadores de ideologiasexticas e aliengenas, era o pretexto anunciado para justificar o car-ter autoritrio e repressivo do governo.Procurando legitimar o regime, a propaganda encarregou-se deenaltecer os presidentes, apresentando-os como lderes os mais indica-dos para serem chefes de governo. Com a construo de uma imagempositiva dos presidentes, esperava-se conseguir despertar a confianada populao para as suas decises, explicaes e esclarecimentos.Pretendia-se obter, tambm, a submisso s convocaes demobilizao para o trabalho e apoio ao governo.

  • Mas no bastavam imagens; era preciso alguns fatos concretos quemostrassem governos atuantes, e a propaganda se encarregou dedifundi-los. Todas as realizaes, pequenas ou grandes, eramdivulgadas para todo o Brasil com insistncia e repetio. A todo omomento, na imprensa, rdio, televiso ou cinema, se mencionavam aindustrializao do Nordeste, a Transamaznica, os milhes alfabetiza-dos pelo Mobral e tantos outros.Muitos feitos foram exagerados e dramatizados ao extremo, com oobjetivo de sugestionar os ouvintes. Sugeria-se que naquele perodo sefizera mais que em toda a histria anterior do pas; inmeras constru-es eram apresentadas como as maiores do mundo. Afirmava-se quetodas a realizaes visavam ao bem estar da populao em geral,ocultando-se que os maiores beneficiados eram os detentores dogrande capital.Apelava-se para o orgulho patritico da populao, mas o amor ptria passou a ser sinnimo de submisso ao governo. Quem contes-tasse o regime militar passava a ser considerado antibrasileiro, e oslogan de 1970 impunha: Brasil, ame-o ou deixe-o.Em seguida, a propaganda procurava instilar o esprito de f no paspara que a populao, confiando no futuro, aguardasse chegada de diasmelhores e suportasse calmamente as dificuldades. Diziam que o Brasilera uma grande extenso de terras frteis cujas inmeras riquezaspermitiriam que viesse a se transformar em grande potncia. Prometia-se a produo de ouro, urnio, ferro, petrleo e alimentos em grandesquantidades, quando ento no haveria mais problemas nem sofrimen-tos.Otimismo e confiana passaram a ser a tnica das mensagens. Chegoua hora de crescer sem inflao (Castelo Branco). Confiamos noBrasil ( Costa e Silva). Ningum segura o Brasil (Mdici). Este um pas que vai pra frente (Geisel). O Brasil encontrou a sada.Vamos todos crescer (Figueiredo). Foram pocas e slogans diferentes,mas sempre o mesmo sentido.Legitimados o golpe e o regime, construda a boa imagem dos presiden-

  • tes e suas realizaes, estimulados o patriotismo e a confiana, restavapedir apoio e convocar para o trabalho. Participao, a idia-chaveda segunda metade dos anos 60 continuaria um lema a ser repetidopelos anos afora. Pague seus impostas (Castelo Branco). A ordemdo Brasil o progresso. Marche conosco (Costa e Silva). Voc estconvidado a participar das duzentas milhas (Mdici). O Brasil otrabalho e participao de todos (Geisel). Todos esses slogans, cadaum na sua poca, foram intensa e sistematicamente repetidos em todosos meios de comunicao.A propaganda deu resultados. Grande parte da populao acreditou noque ouvia confiando em que os governos militares eram legtimos edefendiam seus interesses. Submeteu-se s decises polticas e colabo-rou com o seu trabalho. Os objetivos foram alcanados em sua maiorparte. O pas superou a crise em que se encontrava em 1964, expan-diu-se o sistema financeiro, o capital estrangeiro investiu em todos ossetores, diversificou-se a agricultura e se desenvolveu a indstria. Asfbricas, as fazendas e os bancos cresceram e com eles os lucros. Osgrandes beneficiados foram os proprietrios do grande capital. Umapequena parte da populao recebeu alguns poucos frutos desse desen-volvimento, mas os capitalistas viram sua riqueza multiplicar-se rapida-mente, ficando com a maior parte. Para as classes trabalhadoras,contudo, a pior conseqncia foi a alienao produzida pela propagan-da, a ignorncia sobre suas prprias condies de vida e seu papel nasociedade. Mistificadas, perderam grande parte da sua capacidade deorganizao e luta em defesa de seus prprios interesses, e s ao finaldos anos 80 que viriam a recuperar parte de sua fora.Esses exemplos so simplificativos para mostrar a fora de expanso dapropaganda ideolgica. Ela foi empregada em todas as pocas conheci-das da histria, pelos mais diversos grupos e lderes. Uns para manter ostatus quo e garantir seu poder, outros para transformar a sociedadetodos procuraram envolver as massas na consecuo de determinadosobjetivos e realizao de certos interesses. Inmeras vezes a propagan-da foi total, utilizada no apenas para divulgar alguns idias e princpios,

  • mas para incutir toda uma viso do mundo e sua histria, de idias erespeito do papel de cada indivduo e sua famlia, da posio dosgrupos e classes na sociedade e para impor valores e padres decomportamento como os mais adequados e mais justos.A propaganda nem sempre se desenvolveu da mesma maneira, masvariou conforme o momento histrico que foi realizada. Em cada poca,o modo de produo econmico vigente, o estdio em que se encontra-vam as foras produtivas, a posio e capacidade das classes sociaisem conflito que determinaram a forma, o contedo e o grau de intensi-dade das campanhas. Mas h alguns aspectos que permanecem cons-tantes, repetem-se na histria, e podem ser considerados princpiosgerais. o que se ver a seguir.

    Classes Sociais, Ideologia e Propaganda

    As aes humanas se definem e se distinguem pelo fato de que sorealizadas com um carter eminentemente social, baseadas na coopera-o entre diversos indivduos. Para que possam satisfazer s suasnecessidades, as pessoas dependem de bens e produtos os mais diver-sos. A produo e distribuio desses bens exigem o trabalho integradode vrios homens, colaborando uns com os demais. Para que essacolaborao seja possvel, indispensvel que haja certas idiasorientadoras, partilhadas pela maioria, que a oriente numa mesmadireo, permitindo a consecuo dos objetivos comuns. Cada indiv-duo precisa ter concepes a respeito do meio em que vive, dos objeti-vos que devem ser atingidos e do seu papel no conjunto das relaessociais. Somente quando essas idias coincidem com as dos demaismembros da sociedade que lhes possvel agir e participar de formaharmnica e integrada.As idias no surgem fortuitamente na mente humana, mas so produzi-das a partir da percepo da realidade concreta, tal como vivida pelosmembros da sociedade. Ocorre que as pessoas no vivem da mesma

  • forma. Embora se encontrem perante uma mesma realidade, inserem-senela de maneiras diferentes, advindo da diversas e distintas formas depensar. Em outras palavras, as idias so determinadas pela posioque se ocupa no contexto social. Resta verificar como se caracterizamas diferenas de participao dos indivduos em uma mesma sociedade.A forma como os homens se encontram integrados na produo econ-mica determina os limites de sua atuao e participao em todos osnveis sociais, estabelecendo o seu espao. A expresso espao, noaspecto social, tem um sentido especfico. a rea, definida por certoslimites, dentro dos quais os indivduos e grupos podem agir. No setrata de uma rea fsica ou geogrfica, mas de um conjunto de relaes.Isto significa dizer que as pessoas, em suas relaes com os objetosmatrias e imateriais e com outros indivduos, esto condicionadas porcertas barreiras que restringem suas possibilidades de ao. o casodas classes sociais. Uma classe social se constituem pelo conjuntodaqueles indivduos que tm uma mesma posio e ocupam o mesmoespao no plano da produo econmica, situao que lhes determinauma mesma forma de participao a nvel poltico e cultural. Quando aproduo se encontra organizada em moldes capitalistas, a sociedadese caracteriza pela diviso em duas classes fundamentais: os trabalhado-res de um lado e os capitalistas do outro. Essas duas classes vivem emcondies totalmente diversas e antagnicas.Os trabalhadores tm o seu espao delimitado pelo fato de que entramna produo apenas com sua fora de trabalho, participando dosresultados atravs de um salrio que lhes garantem, exclusivamente, omnimo necessrio prpria subsistncia. Refletindo essamarginalizao econmica, em nvel poltico, os trabalhadores soapenas os sujeitos passivos das decises e medidas geradas no seio doEstado. Essas decises so tomadas e implementadas atravs dergos governamentais, onde os representantes dos trabalhadores noexistem ou constituem uma minoria insignificante. No plano cultural, damesma forma, a situao reflete a realidade econmica, sendo mnimasas possibilidades de acesso aos produtos culturais para qualquer traba-

  • lhador. Poucos podem estudar em escolas alm de determinado grau,no tm condies de adquirir livros, discos ou quadros, nem de fre-qentar concertos, cinema ou teatro.Por outro lado, o espao dos patres, dos capitalistas, bem maisamplo. Eles so os proprietrios dos meios de produo: as terras,mquinas, ferramentas. Nessa condio, apropriam-se da maior partedos bens produzidos, fato que se concretizam no seu crescente enrique-cimento. Conseguem controlar rgos do governo para que as decisese medidas sejam favorveis aos seus interesses e tm grande acesso produo cultural que, inclusive, ajudam a financiar.Essa diversidade de posies, frente a uma mesma realidade, determi-nam as concepes a respeito dela sejam igualmente distintas. Se paraos mais privilegiados trata-se de uma sociedade bem organizada e justa,para os demais ela lhes parece absurda e desumana.Todavia, os limites que definem os espaos das classes sociais no soestticos nem eternos. Em determinados momentos histricos surgempossibilidades, para uma classe ou parte dela, de ampliar seu campo deao. A possibilidade aparece, geralmente, quando um grupo adquiremaior fora em virtude do aumento numrico de sues membros, ou porse ter organizado melhor, ou qualquer outra razo que permita visualizaruma alternativa de lutar e conquistar melhores condies de existncia. o que tem ocorrido com os operrios da maioria dos pases deeconomia capitalista. O desenvolvimento econmico faz com que sejamnecessrios trabalhadores com melhor habilitao profissional. Peloprprio fato de serem mais qualificados e, portanto, intelectualmentemelhor preparados, esses operrios encontram-se com mais condiesde entender a situao e perceber a contradio entre o baixo nvelsalarial e os altos lucros das empresas. A partir do momento em quepassam a trocar informaes e discutir sua situao, comeam a adqui-rir maior capacidade de organizao e mobilizao, que lhes permitelutar o obter melhores condies de vida.Ocorre, contudo, que devido s dissidncias e antagonismos existentesentre as classes sociais, a ampliao do espao de atuao de uma,

  • geralmente, implica a reduo do espao da outra. Realmente, a possi-bilidade de os trabalhadores obterem um aumento salarial resulta naigual possibilidade de reduo dos lucros dos patres. Da mesmaforma, a participao poltica atravs da eleio de alguns representan-tes operrios significaria uma diminuio do nmero equivalente derepresentantes dos patres e assim por diante. nessa contradio que se definem os interesses das classes sociais. Oespao passvel de ser ocupado pelos trabalhadores constitui, aomesmo tempo, uma rea passvel de ser perdida pelos patres. Esseespao corresponde, nesse momento, aos interesses dos setores emconflito. Isso significa dizer que o interesse de uma classe socialcorresponde possibilidade que ela tem de ampliar o espao queocupa ou necessidade de defend-lo contra as ameaas de outraclasse. Nesse caso, para a classe operria trata-se de um interesse detransformao, com menor ou maior mudana de suas condies. Paraa classe patronal, significa um interesse de manuteno, de conservar asociedade na forma como se encontra organizada, impedindo umamudana que signifique a perda de uma rea j ocupada e das vanta-gens e privilgios que ela representa. A intensidade da mudana variade acordo com as condies concretas em que se encontra a sociedadenaquele momento. Pode haver pequenas mudanas quantitativas, commaior ndice salarial, mais representantes polticos, direito de freqentarescolas de grau mais elevado. Pode, tambm, traduzir-se em radicaistransformaes qualitativas, como a mudana do sistema econmico oudo regime poltico. Voltemos, agora, anlise da forma como se desen-volvem as idias dos agentes sociais.Qual a primeira condio necessria para que uma classe consigarealizar seus interesses, atuando no sentido de ampliar ou manter seuespao? Antes de mais nada preciso que seus membros percebamque essa possibilidade existe. Para tanto importante que tenhamconhecimento da situao em que vivem, saibam qual a sua fora equais as condies em que se encontram os membros de outras classes.S ento tm condies fixar objetos e traar os caminhos mais ade-

  • quados para atingi-los, que podem ser desde uma reivindicao peranteum tribunal at uma greve geral e mesmo uma revoluo armada. Emoutras palavras, preciso que a classe adquira conscincia das suasreais condies de existncia e das possibilidades de mudana ou danecessidade de manuteno nessas mesmas condies. Essa conscin-cia nada mais que um conjunto de idias a respeito da realidadesocial, ou seja, uma ideologia.Uma ideologia contm trs tipos bsicos de idias, que so as represen-taes, os valores e as normas. Representaes so idias a respeito decomo a realidade: como est organizada a sociedade, em que classesse divide, se h ou no explorao de uma pela outra, como ocorre aexplorao etc. Valores so idias a respeito de como deve ser arealidade: a organizao social deve ser diferente, sem classes e semexplorao ou, ento, tudo deve permanecer como est. Finalmente,normas so aquelas idias a respeito do que deve ser feito para trans-formar a realidade ou mant-la nas condies em que se encontra: votarno candidato que torne a sociedade menos injusta, organizar uma grevepara forar o governo a providenciar mudanas ou, para aqueles quequerem manter a situao, usar fora policial para reprimir reivindica-es, demitir operrios grevistas etc.Uma vez definida, a ideologia serve como modelo para a compreensoda realidade e guia orientador da conduta de todo o grupo e de cadaindivduo em particular. Resta verificar de que forma essa ideologia propagada, tornando-se conhecida pelos diversos membros de umaclasse social ou, at mesmo, por toda a sociedade.Uma ideologia nunca surge, ao mesmo tempo, para todos os membrode uma determinada classe. Geralmente so apenas uns poucos, umpequeno grupo que consegue adquirir conscincia e visualizar umquadro completo de sua realidade. Todavia, sua atuao isolada podeno ser suficiente. De nada adiantaria se apenas alguns lderes sindicaisfizessem uma greve. Se os operrios de um nico setor da indstrialutarem por seus interesses, podem ser despedidos sem nada obter, semrealizar nenhuma mudana. Os empresrios, tambm, pouco conseguiri-

  • am se apenas alguns reagissem contra as ameaas aos seus privilgiosou s uns poucos procurassem obter medidas que assegurassem maio-res lucros. Da a importncia do apoio, seno de todos, ao menos deuma grande maioria dos membros de uma mesma classe, para quepossam atingir qualquer resultado. Por essa razo que um grupo, perce-bendo possibilidades de progresso ou a necessidade de defesa contracertas ameaas, procura difundir suas idias. Sua expectativa a deintegrar o maior nmero de pessoas que, aceitando os mesmos valorese normas, atuem numa mesma direo, permitindo que os objetos sejamatingidos. Seno houver idias comuns, torna-se impossvel coordenar,integrar as aes, organizar as lutas e os movimentos.Ocorre tambm, muitas vezes, que determinado objetivos que podemser atingidos por certa classe se a outra resistir e impedir as aes.Nesse caso se torna necessrio que a outra classe d seu apoio e, atmesmo, colabore ativamente para a consecuo daqueles objetivos, oque exige que a ideologia seja aceita tambm pelos seus membros. Ospatres querem manter ou aumentar seus lucros, precisam do trabalhode seus empregados, sem o qual lhes impossvel realizar esse intento.Para os trabalhadores, tambm, mais fcil conquistar melhores condi-es se puderem contar com o apoio dos empresrios, situao queraras vezes ocorre na realidade concreta. Por essas razes que osgrupos sociais procuram difundir suas idias, no s para aqueles quepertencem mesma classe social como aos de outras. Essa difuso daideologia se faz pela propaganda ideolgica.

    O Desenvolvimento da Propaganda

    A propaganda ideolgica envolve um processo complexo, com termose fases distintas. O emissor, grupo que pretende promover a difusode determinadas idias, ao visar outros com interesses diversos, realizaa elaborao de sua ideologia para que as idias nela contidas pare-am corresponder queles interesses. Feito isso, procede um trabalhode codificao. pelo qual transforma as idias em mensagens que

  • atraiam a ateno e sejam facilmente compreensveis e memorizveis.Atravs do controle ideolgico o emissor manipula todas as formasde produo e difuso de idias, garantindo a exclusividade na emissodas sua prprias. Procura, dessa forma, evitar a possibilidade de que osreceptores venham a receber, ou mesmo produzir, outra ideologia queos oriente contra os interesses do emissor. A partir da as mensagensso emitidas atravs da difuso, que procura atingir o mais rapida-mente possvel um maior nmero de pessoas.

    Elaborao

    Quando a propaganda ideolgica se faz entre os membros de umamesma classe social, as idias a serem propagadas no precisam sofrernenhum tipo de elaborao mais significativo. Isto porque se trata depessoas que, por pertencerem mesma classe, ocupam uma mesmaposio, donde se segue que tenham interesses comuns. Nesta caso, asidias defendidas por uns dificilmente seriam rejeitadas pelos demais.No haveria grandes dificuldades para operrios transmitirem a outros aidia de que sua situao precria e da necessidade de se mobilizarempara conquistar melhores condies. Podem surgir divergncias quanto forma e ao momento da mobilizao, mas dificilmente quanto idiaem si. Um grupo de empresrios tampouco teria dificuldades paramostrar aos demais a importncia de se ajustar certas medidas econ-micas, de forma a aumentar os lucros de todos. Nesses casos, pratica-mente no h necessidade de convencer, de persuadir, pis que a apre-sentao clara das idias j deve ser suficiente para que os receptoresdem sua adeso e apiem as propostas. A propaganda adquire,nesses casos, um carter de demonstrao e conscientizao. Procuraexplicar a realidade existente, mostrar a necessidade de mud-la oumant-la e indicar formas de realizar interesses que so comuns.Se a propaganda realizada de uma classe social para outra que teminteresses diversos, a simples difuso da ideologia j no suficientepara gerar adeso. Nesse caso, o grupo emissor, antes de difundir suas

  • idias, elabora-as para que se adaptem s condies dos receptores,criando a impresso de que atendem a seus interesses. Mas a verdade que as idias contm apenas os objetivos do emissor, e a impressocontrria s possvel se, ao se reportar realidade, as mensagensocultem ou deformem alguns de seus aspectos. Nesse caso, convenci-dos de que as propostas atendem s suas necessidades, os receptoresno tm razo para discordar delas. A elaborao, dessa forma, escon-de quais so os interesses reais existentes por trs da ideologia, aomesmo tempo que oculta a realidade vivida pelos receptores, para queestes no possam formular outras idias que melhor correspondam sua posio. Neste caso, a propaganda no tem mais o carter deconscientizao, mas de mistificao, manipulao e engano.A forma mais utilizada na elaborao das ideologias a universalizao.As idias, que na realidade se referem aos interesses particulares deuma classe ou grupo, so apresentadas como propostas que visam aatender a todos e satisfazer s necessidades da maioria. No Brasil, istotem sido constantemente feito com relao s medidas governamentais,apresentadas atravs de frmulas do tipo: benefcios para o povo,progresso do pas, desenvolvimento nacional, para o bem detodos, para todos os brasileiros.A elaborao tambm tem sido feita por transferncia, em que osinteresses contidos na ideologia so transferidos e atribudos diretamen-te aos receptores. Um dos primeiros a adotar ostensivamente essafrmula, no Brasil, foi Getlio Vargas. Seus inmeros discursos comea-vam dirigidos aos Trabalhadores do Brasil e seguiam com a enumera-o das medidas tomadas pelo governo como tendo sido adotadas parabeneficiar os operrios. Ajudava-se os industriais com incentivos,emprstimos e subsdios. Mas a propaganda transferia as vantagenspara os trabalhadores alegando que, com o estmulo s indstrias, estasteriam condies de oferecer melhores empregos.A universalizao e a transferncia tambm se processam de forma maissutil. H expresses que no tm significado muito preciso, de tal formaque cada pessoa lhes d uma interpretao. o que ocorre com os

  • conceitos de democracia, igualdade, justia, liberdade e tantosoutros. Quando algum fala em democracia a um grande nmero depessoas, cada uma entende a palavra num sentido relacionado suaprpria condio. Pequenos empresrios pensam em maior aberturapara decidir sobre seus prprios negcios ou na possibilidade deconcorrer com as multinacionais em igualdade de condies. Operriospensam em liberdade de lutar eficazmente por melhores condies detrabalho. Estudantes imaginam maior participao dos alunos nasdecises e atividades escolares, e assim por diante. E a palavra demo-cracia insistentemente utilizada pelos polticos e homens de governo,que raramente explicitam a que se referem concretamente. A propagan-da age, assim, resumindo as idias em expresses ambguas dos tiposmencionados. Consegue-se, com isso, que cada um dos que ouvem amensagem concorde com ela, por acreditar que diga respeito a si e aseus interesses e necessidades, e acabe apoiando o sistema econmicoe o regime poltico.A universalizao e a transferncia so feitas, ainda, de forma indireta.Ao invs de apresentar propostas como possveis de atender a todos,mascara-se a diferena entre os indivduos, grupos e classes sugerindo-se a igualdade. Mostra-se a sociedade como um todo homogneo ondeno h diferenas de posies e interesses. Tal imagem acaba por levar concluso de que quaisquer medidas beneficiam a todos sem discrimi-nao, j que so iguais. Expresses do tipo todos so iguais perante alei; teses sobre o Brasil ser um pas cordial onde todos falam a mesmalngua e professam a mesma religio, a propalada afirmao de que noBrasil no h racismos nem preconceitos, so argumentos empregadoscom aquele objetivo. Ao serem convencidas de que so cidados deum pas onde todos so tratados igualmente, as pessoas acabam porno perceber a explorao de que so vtimas. As divergncias compases estrangeiros, at mesmo em caso de guerras, tm permitidomanipular a populao para que esta sinta participar de um todo nico.A nica diferena passa a ser entre nacionais amigos e estrangeirosinimigos. Nesse contexto, todas as idias e propostas so recebidas

  • como visando ao interesse geral.Quando no possvel ocultar as diferenas existentes na sociedade,procuram minimiz-las, torn-las insignificantes. A frmula maiscomumente empregada para tal tipo de sugesto a do chamado mitodo esforo pessoal. A idia divulgada alegando-se que a diferenaentre ricos e pobres corresponderia a uma distino entre pessoas maise menos esforadas. Afirma-se que os que detm grande quantidade debens conseguiram adquiri-los porque trabalharam muito para isso, e quequalquer pessoas que se exera o suficiente pode atingir altos cargos eganhar muito bem. Tomam-se alguns exemplos de pessoas bem-sucedi-das, apesar de sua origem bastante humilde, alegando que progrediramporque estudaram com afinco e se esforaram muito. Embora essesexemplos raramente ultrapassem uma dezena, num pas de milhes, ficaa idia de que qualquer um, com tenacidade, pode atingir a nvel dosmais privilegiados na sociedade. Essa idia parece anular a contradioentre as classes, em que uma explorada pela outra e no tem alternati-vas para fugir dominao. Todavia, oculta um aspecto importante dospases subdesenvolvidos. Nesses, a grande massa populacional, devido subnutrio, doenas, necessidade de trabalhar desde criana, notem condies de se esforar ou estudar.H outras situaes em que as diferenas e contradies entre asclasses sociais so muito gritantes. Quando se v, numa mesma regio,favelas e manses luxuosssimas, famintos ao lado de indivduos ostensi-vamente poderosos, no h meios de se ocultar ou minimizar as diversi-dades. A propaganda recorre, ento, ocultao dos efeitos da explo-rao. No nega a pobreza existente, mas esconde que ela existe paragarantir o enriquecimento de alguns. assim que a elaborao se faz,no sentido de desvalorizar os benefcios recebidos pela classe dominan-te. Formulam-se argumentos de que as pessoas no podem comer almde um certo limite, no podem utilizar mais de um automvel ao mesmotempo, para concluir que a riqueza no to significativa nem toatraente. Afirmam-se serem to poucos os privilegiados que aredistribuio de sua riqueza s daria uma pequena e insignificante parte

  • para cada um. Ou, ento, procura-se apresentar a riqueza como des-vantajosa sob argumentos do tipo dinheiro no traz a felicidade,dinheiro acarreta preocupaes, rico morre de enfarte, os ricos,para manter sua fortuna, precisam trabalhar mais que os pobres e notm tempo de aproveitar a vida, Natal de pobre mais humano e noto formal quanto o dos ricos. Aproveita-se a diferena de costumes,onde os hbitos das classes mais abastadas so postos como desagra-dveis e cansativos. Rico no pode comer vontade por ter de obe-decer a regras de etiqueta ou ento tem de comer pouco por educa-o. Sugere-se, com isso, que a condio dos explorados menosdesagradvel que a dos exploradores.Quando no possvel ocultar os benefcios para as classes dominan-tes, disfaram-se os prejuzos para os dominados. Nega-se, por exem-plo, que os salrios sejam to baixos como de fato so. Diz-se queassistncia mdica garantida pelos Institutos de Previdncia, a existnciade produtos a preos mais baixos por subsdio do governo, a constru-o de estradas e avenidas, a assistncia das Delegacias do Trabalho, asegurana policial, tudo deve ser considerado como um salrio indireto,j que so vantagens que independem de pagamento direto dos empre-gados e custariam carssimas se no fosse assim. Tenta-se, tambm,sugerir que se a situao no to boa, resta o consolo de que poderiaser pior. Exemplo sugestivo dessa ttica ocorreu em fins de 1976,quando o governo brasileiro lanou uma campanha que, entre outrascoisas, afirmava: Se voc est triste porque perdeu seu amor, lembre-se daquele que no teve uma amor para perder (...); se voc estcansado de trabalhar, lembre-se daquele angustiado que perdeu o seuemprego; se voc reclama de uma comida mal feita, lembre-se daqueleque morre faminto (...), lembre-se de agradecer a Deu, porque hmuitos que dariam tudo para ficar no seu lugar.Para disfarar os efeitos da dominao procura-se, tambm, atribu-losa um bode expiatrio, um elemento, muitas vezes externo, que responsabilizado pelos problemas. Crises internacionais, alto preo deprodutos importados, ao de empresas e grupos estrangeiros,

  • corrupo de alguns polticos, infiltrao comunista at mesmo misterio-sas foras ocultas passam a ser apresentados como responsveis portodos os males. Fatos e pessoas do passado, tambm, costumam serresponsabilizados por problemas presentes, ocultando-se, dessa forma,a real origem dos males. Assim que a colonizao portuguesa teriasido a causa original do subdesenvolvimento brasileiro e das precriascondies econmicas atuais. Ou ento foi o sistema de monocultura daeconomia cafeeira, adotado nos comeos do sculo, que gerou a atualcrise econmica. Com tudo isso, a classe dominante disfara sua explo-rao sobre os demais e neutraliza a possibilidade de que lutem pormelhores condies de vida.Chega-se, mesmo, a atribuir a culpa da pobreza aos prprios pobres.Por no se interessarem em estudar, por no ferverem as guas conta-minadas, que so incompetentes, pobres e doentes.Dessa forma, grande parte da populao, que no tem nenhum acesso assistncia mdica e educacional, v inverter-se a relao para se tornarculpada pelo que no tem condies de fazer. em parte com esseobjetivo que os textos de certas campanhas repetem to insistentemen-te: voc tambm responsvel, O Brasil feito por ns, no deixede vacinar seu filho. De tanto ouvir tais apelos, os receptores acabamsentindo-se culpados pelos problemas, com a impresso de que, se elesexistem, porque no tomaram alguma providncia para a qual foramalertados. Por toda a parte, na sociedade, esto pessoas a afirmar quese tivessem estudado mais, ou trabalhado com mais afinco, ou feito issoe aquilo, poderiam encontrar-se em melhores condies. Sequer perce-bem que sua situao fruto do fato de pertencerem a uma classe qual no so dadas outras alternativas e a s poucas apresentadas soilusrias.Mascara-se, tambm, a dominao e a explorao de classes atribuin-do-se a algumas pessoas ou a certos rgos e instituies toda a res-ponsabilidade pelas medidas tomadas e implementadas. Apregoa-se,por exemplo, que o governo, o presidente, ou alguns burocratas quedetm o poder e se encarregam de todas as decises. Oculta-se que,

  • na verdade, eles no detm o poder, mas apenas o exercem na defesados interesses dos detentores do capital. esse disfarce permite sugerirque todas as decises so tomadas por pessoas ou grupos neutros edesinteressados, cuja nica preocupao progresso do pas.Na maioria dos pases da Amrica Latina, as classes dominantes, asque realmente detm o poder da deciso, so compostas por propriet-rios de capital financeiro, latifundirios, empresrios nacionais associa-dos aos de empresas multinacionais. com a plena conscincia dessasituao, as populaes talvez no apoiassem seus governos, porqueperceberiam que a participao do povo insignificante e seus interes-ses no so atendidos. Por essa razo, deformam a realidade, atribuin-do todo o poder de deciso ais militares ou tecnocratas. Como estesno so banqueiros nem latifundirios, podem afirmar que os interessesvisados so os do povo. Na verdade, estes militares e tecnocratas soinstrumentos - de boa ou m-f - de grupos cujos interesses no podemdeixar de realizar. Estes, a propaganda esconde e no deixa aparecercomo os realmente beneficiados.Ttica muito empregada a de construir a imagem de um lder, respon-svel por todas as medidas, nico detentor do poder. Enquanto apopulao acreditar nele no percebe quem so os verdadeiros privile-giados que se encontram por trs das decises. Alm disso, h semprea possibilidade de se substituir um lder por outro, em pocas de criseeconmica ou poltica, convencendo a populao de que o substitutopoder solucionar todos os problemas. So os chamados lderescarismticos, homens que parecem possuir dotes e atributos excepcio-nais. A propaganda cuida de propalar insistente e repetidamente asqualidades daquele que dirige. Gnio poltico, inteligente, hbil, deinusitada memria, e superior a todos os demais, a ele deve caber oexerccio pleno do poder. Mas no bastam as qualidades excepcionais;os lderes s so seguidos se forem capazes de compreender a condi-o de seus liderados. A propaganda cuida deste aspecto tambm,apresentando-o como popular, simples, acessvel e, portanto, capaz decompreender melhor que ningum os problemas da maioria.

  • A elaborao da ideologia tambm tem sido feita pela negao dequaisquer possibilidades de mudanas que possam beneficiar os recep-tores, como forma de fazer com que estes aceitem as propostas apre-sentadas como as nicas possveis. Assim, quando trabalhadorespretendem maior participao nos resultados econmicos atravs deaumentos salariais, argumentam que impossvel melhorar os salrios,porque haveria tal aumento de custos para as empresas que as levaria falncia, deixando os operrios em situao ainda pior: a do desempre-go. Outras vezes, procuram demonstrar que as contradies e desigual-dades so naturais e inevitveis, que sempre haver pessoas privilegia-das e outras destitudas de quaisquer recursos, de nada adiantando lutarcontra isso. Afirmam mesmo que a realidade de tal ou qual formaporque Deus quis assim e intil pretender transformar a natureza emque s o Todo Poderoso pode decidir. Ou ento se utiliza a tcnicade criar uma imagem das pessoas que seja incompatvel com qualquerproposta de mudana social. Sob o rtulo de carter nacional brasilei-ro se atribui uma srie de caractersticas populao, onde se diz queo homem brasileiro se define pelo individualismo, pela emotividade, pelavocao pacifista e outros. Da concluem e argumentam que, sendoindividualista, pouco dado ao trabalho em conjunto e em cooperao, incapaz de se organizar em partidos polticos, justificando o controleautoritrio dos partidos pelo governo. Sendo emotivo, de comporta-mento pouco racional, alega-se que no deve ter maior participaopoltica pelo voto direto, que exige senso crtico e tirocnio. Apoiando-se na idia de que o povo brasileiro cordial e pacfico, afirma-se que contrrio aos conflitos e se probem as greves e movimentos de contes-tao, porque seriam insuflados por agentes comunistas estrangeiros.Chega-se a falsificar e deformar fatos da histria, a fim de esconder acapacidade de uma classe para obter a realizao de seus interesses.Uma das formas de os indivduos melhor conhecerem suas condiesde existncia, sua posio na sociedade, a compreenso do passadohistrico. Importa ter noo das prprias razes, das origens e dodesenvolvimento da classe social a que se pertence, das lutas e conquis-

  • tas obtidas pelos antepassados. So aspectos importantes para que osmembros de uma sociedade possam localizar-se no tempo, compreen-dendo o processo de desenvolvimento em que esto inseridos. Da apreocupao daqueles que detm o poder em interpretar a histria aseu favor, deformando o passado histrico de certos grupos, para queno adquiram conscincia a respeito de sua prpria fora.A atuao das classes mdia e trabalhadora teve um papel importantena evoluo de todos os pases capitalistas. Suas exigncias determina-ram uma srie de medidas que permitiriam uma organizao maisracional e eficiente do trabalho. Todavia, a histria universal foi escrita eensinada nas escolas como um conjunto de fatos resultantes das deci-ses de apenas alguns homens, ora heris, ora tiranos. A histria pas-sou a ser um conjunto de atos e comportamentos das elites, como se amaioria das populaes no tivesse nenhum papel no processo. Essainterpretao, quando disseminada, gera um impresso de que os povosso incapazes de decidir sua prpria vida, necessitando das elites paracuidar de seus interesses.Mas nem sempre possvel ocultar totalmente os interesses dos recep-tores ou a sua capacidade de escolher seu prprio destino. Nesse casoa elaborao tem sido feita pelo adiamento, para um futuro vago, dassatisfao de certas necessidades. As elites e os governantes costumamprometer futuros grandiosos quando haver bem-estar para todos.Sugerem que se deve suportar alguns problemas e aceitar sacrifcios,em funo dos melhores dias que viro. As descobertas de riquezas, osavanos tecnolgicos, tm sido constantemente alardeados, de formadramtica, como as novas fontes que traro o progresso e desenvolvi-mento para todos. Com tudo isso se faz que as pessoas, confiando noamanh, no dia melhor para seus filhos, aceitem passivamente suasagruras.Todos os casos acima mencionados constituem frmulas de apresenta-o das idias e propostas de grupos que deformam a realidade, ocul-tando o fato de que elas se referem exclusivamente satisfao de seusobjetivos. Adequando-as, assim, aos interesses de todos ou, mais

  • especificamente, dos receptores, tornam possvel fazer com que sesubmetam e at mesmo colaborem para a realizao daqueles intentos.Existem ainda outras possibilidades de elaborao de ideologia, cadamomento histrico determinando quais so as mais eficazes.

    Codificao

    A realidade social extremamente complexa. So indivduos, gruposmenores ou maiores e classes sociais interando-se uns com os outros ese defrontando com objetos que podem ou no satisfazer as suasnecessidades. Integram-se econmica, poltica e culturalmente, com-pondo toda uma trama de relaes altamente diversificada. Por partici-parem de formas diferentes dessas relaes os homens tm conheci-mentos e experincias igualmente diversas. Sua capacidade de compre-enso varivel. Enquanto uns tm mais facilidade para entender certosfenmenos, outros no conseguem sequer perceb-los. Outros, ainda,nem chegam dar ateno a um grande nmero de fatos e acontecimen-tos, por no consider-los importantes, embora possam interferirprofundamente em suas vidas. Uma ideologia, por refletir a realidade,reflete tambm grande parte de sua complexidade e, para muitos,dificilmente compreensvel em seu todo. Nessa condies a propa-ganda, para transmitir a ideologia, precisa adaptar e adequar as idiasnela contidas s condies e capacidade dos receptores de tal formaque tenham sua ateno despertada para as mensagens e consigamentender seu significado. Pois bem, codificao processo pelo qual asidias so transformadas em mensagens passveis de serem transmitidase entendidas.H inmeras formas pelas quais as idias so codificadas antes de suadivulgao. Em primeiro lugar, levando-se em conta aquelas pessoasque tm dificuldade em entender certas idias complexas, procura-sesimplific-las. Essa simplificao pode ser maior ou menor, em funo

  • do grau de compreenso daqueles que devero receb-las. Lenin,procurando definir a maior forma de organizar a propaganda socialista,afirmava que o agitador para atingir uma grande massa, deveria transmi-tir uma s idia ou um pequeno nmero delas. Hitler, por sua vez,entendendo que a capacidade de compreenso do povo era limitada,considerava que a propaganda deveria restringir-se a poucos pontosrepetidos como estribilhos. A propaganda, dessa forma, procura difun-dir apenas o essencial do contedo de uma ideologia, selecionandoalgumas idias fundamentais, restringindo-se a uma ou se limitando a ummero sinal simblico.As declaraes, programas e manifestos, entre outros, constituemformas de simplificao em que se encontram selecionadas e destaca-das as idias centrais de uma determinada ideologia. O Credo contmas idias bsicas defendidas pela Igreja Catlica.O Manifesto Comunista constitui uma sntese das principais conclu-ses contidas no pensamento socialista tal como formulado por Marx eEngels.Procurando obter simplificao ainda maior, a propaganda utiliza frmu-las curtas que contenham uma ou alguma das idias mais importantes deuma dada corrente ideolgica. A palavra de ordem contm, em umaexpresso curta, o principal objetivo a ser atingido em determinadomomento.Quando, durante os movimentos estudantis ocorridos ao final dos anos60, defendia-se a idia de que era necessrio reduzir a verba destinadas Foras Armadas para que fosse possvel atender s necessidadesbsicas do povo, adotou-se, para difundi-la, a palavra de ordem Maispo, menos canho.O slogan, outra forma de simplificao muito semelhante palavra deordem, contm um apelo aos sentimentos de amor, dio, indignao ouentusiasmo daqueles a quem se dirige. Aqui comea o pas da liberda-de, escreviam os revolucionrios franceses na fronteira de seu pas.Esses mesmos revolucionrios adotavam o lema Liberdade, igualdadee fraternidade para representar suas idias e despertar a emoo dos

  • ouvintes.A frmula mais sinttica que se pode utilizar para exprimir uma idia osmbolo, breve sinal que resume uma ideologia ou que a representa.Justamente por ser bastante simples, usado constantemente pelapropaganda. Impresso em jornais, panfletos, nas bandeiras, pintandonas paredes e muros, utilizando como distintivo nas roupas, permitedifundir a idia a que se refere de forma ampla e rpida.Os smbolos so formados por sinais grficos, gestos ou expresses ecumprimentos repetidos pelos adeptos de uma determinada corrente.Foram empregados em todas as pocas e, dentre os conhecidos, oadotado pelos aliados durante a Segunda Guerra Mundial pode serconsiderado dos mais perfeitos. O V era bastante simples: apenasdois traos retos que podiam ser rapidamente reproduzidos, comqualquer instrumento de escrita, em papis, paredes, no cho ou emquaisquer objetos. Alm disso, era suficientemente sugestivo por ser aletra inicial da palavra Vitria ( Victory), que representava o principalobjetivo dos aliados. Importa lembrar que a palavra vitria comea coma letra V tanto em ingls, como em francs, espanhol ou portugus, oque lhe dava um grande valor para ser difundida em nvel internacional.Era um sinal verstil, que podia passar de grfico para plstico e serfeito com os dedos indicador e mdio ou com os dois braos erguidos.Alm disso, tornou-se sonoro, porque a letra V, em cdigo Morse,formada por trs pontos e um trao, e passou a ser associada ao trechoinicial da Quinta Sinfonia de Beethoven, que tem trs notas curtas e umalonga.Alm da simplificao, as idias tornam-se mais acessveis quandoassociadas a outras mais simples. Essa associao feita por semelhan-a, se a idia transmitida explicitada por outra diferente, mas com aqual guarda alguma similitude de forma ou estrutura e que seja maissimples. Para transmitir as idias relativas organizao poltica do pase estrutura dos rgos de governo, tem sido muito utilizado o recursode compar-las a um sistema familiar. A famlia uma realidade maisconhecida e vivida pelos receptores, que nem sempre conseguem

  • compreender toda a complexidade das instituies governamentais.Durante o Estado Novo, procurou-se uma frmula para apresentar aidia de que o Brasil era uma s nao, unida sob a direo de GetlioVargas, lder absoluto a quem deveriam ser atribudas todas as decisese toda responsabilidade. Para tanto, dizia-se: A nao uma grandefamlia, Getlio, o pai dos pobres, Getlio, o pai dos trabalhado-res.

    As ideologias geralmente se referem a certas situaes que, por jamaisterem sidos presenciadas pelos receptores, so pouco compreensveis.Como explicar o valor e a importncia de um regime liberal e democr-tico a quem tenha vivido apenas sob sistemas autoritrios ? Nesse casoa associao da idia feita por contraste, em que se compara a situa-o a ser explicada a outra contrria, porm mais conhecida. Essa afrmula constantemente empregada por grupos de oposio que apre-sentam suas propostas recorrendo a imagens de um regime sem censu-ra, sem violncia policial etc.A ilustrao de idias com exemplos concretos conhecidos outraforma comum de codificao. Aqueles que defendem a necessidade deque a direo da economia fique a cargo da iniciativa privada costumamapoiar-se na tese da incompetncia administrativa e gerencial do gover-no. Para demonstr-la recorrem freqentemente a exemplos bemconhecidos de empresas e reparties pblicas desorganizadas eineficientes. A existncia de favelas serve para ilustrar a idia de que ogoverno deve investir antes na soluo do problema habitacional que naconstruo de obras sunturias. Lenin, para explicar essa forma deapresentar as mensagens, levantava a hiptese de se ter de explicar umagreve. Segundo ele, para defini-la em suas caractersticas mais impor-tantes, o agitador deveria ilustrar a noo de greve tomando um fatobastante conhecido por seus ouvintes, como o de uma famlia de grevis-tas pobre e faminta. A partir desse exemplo que procuraria mostrar oabsurdo da contradio entre a riqueza de uns em oposio misriaabsoluta de outros. S ento que seria possvel explicar a greve comouma conseqncia da forma de organizao econmica do sistema

  • capitalista.Outro aspecto importante a ser considerado na codificao o fato deque as pessoas j carregam consigo uma srie de concepes a respei-to da realidade em que vive. Ideologias j existentes, idias e crenas asmais diversas, mitos e supersties do aos indivduos que vivem emuma cultura uma verso de seu ambiente e de sua vida, uma explicaoda realidade, que lhes permitem integrar-se ao meio e exercer umdeterminado papel. A propaganda no deve deixar de considerar, aodifundir novas idias, o fato de que elas podem chocar-se com as jexistentes, por serem diversas e mesmo contraditrias. Nesse caso, aomesmo tempo que se apresentam certas idias, pode-se negar as jexistentes, procurando mostrar que so falsas e no correspondem realidade. o que ocorre com alguns pregadores protestantes aodifundir suas idias aos adeptos da f catlica combatendo a prtica daadorao dos santos e criticando a utilizao de imagens como asexistentes nas igrejas catlicas.Essa orientao, contudo, nem sempre eficaz, porque as pessoastendem a se apegar emocionalmente a certas concepes que, s vezes,trazem consigo desde a infncia e rejeitam qualquer nova explicao.Outra possibilidade, nesse caso, a de fundir a idia a ser propagadacom as concepes j existentes, soluo que inclusive facilita a aceita-o das mensagens, porque baseadas em idias j aceitas como verda-deiras. A propaganda hitlerista pregava a pureza da raa ariana, desti-nada a dominar o mundo, ao mesmo tempo que condenava e combatiaos judeus. Essas idias, contudo, no foram criadas pelos nazistas, masj se encontravam disseminadas pela Alemanha. A propaganda nazistase apropriou delas, combinando-as com as propostas do partido paratorn-las mais convincentes.

  • Controle ideolgico

    Por mais que um grupo elabore sua ideologia, ocultando que se refereexclusivamente a seus objetivos, para obter o apoio dos demais, possvel que estes acabem por adquirir conscincia de sua prpriaposio na sociedade e de que seus interesses so diversos. Nessahiptese, poderiam formular outra ideologia, mais adequada s suascondies, que os levaria a agir em sentido diverso daquele pretendidopelos emissores da propaganda. Por essa razo, os grupos que propa-gam suas idias, geralmente procuram evitar que os receptores possamperceber a realidade por outro prisma que no aquele que lhes pro-posto. Fazem isso tanto impedindo a formao de outras ideologiascomo neutralizando a difuso das j existentes. O controle ideolgicocompreende todas as formas utilizadas para que determinados indivdu-os e grupos no tenham condies de perceber sua realidade e, assim,fiquem impedidos de formar sua prpria opinio.Os indivduos e grupos s podem adquirir conscincia de suas reaiscondies de vida por duas vias: a observao direta do meio em quevivem ou atravs das informaes obtidas de outros, seja pessoalmente,seja pelos meios de comunicao. Da o controle ideolgico se realizarsobre o meio ambiente, sobre os meios de comunicao e sobre aspessoas.A remodelao do ambiente fsico permite torn-lo mais adequado sidias difundidas pela propaganda. Procuram, assim, fazer com que asimagens percebidas confirmam as idias apresentadas. Desde a Antigui-dade se encontram momentos em que os grupos detentores do poderprocuraram moldar a decorao do meio, de forma a apoiar suasidias. Inmeros reis, imperadores e dirigentes polticos mandaramconstruir grandes monumentos para reforar a idia de seu poder eprestgio.No Brasil, Getlio Vargas foi um dos que mais se preocuparam com aforma do ambiente urbano como instrumento de confirmao das suasidias. A eficincia e modernidade de suas medidas eram sugeridas

  • atravs de inmeras construes que indicavam um governo organizadoe empreendedor. A idia do seu carisma e de sua personalidade forteera reforada atravs das suas fotografias, obrigatoriamente afixadas emtodas as escolas, fbricas, reparties pblicas, bares e restaurantes,vages de trens. Sua efgie estava nas moedas, selos, placas comemo-rativas e de inaugurao. Bustos de bronze foram erigidos em diversoslocais. Seu nome foi atribudo a inmeras ruas e logradouros pblicos.Sua imagem, dessa forma, impregnava todos os lugares e ambientesdurante todo o tempo.As idias e concepes, contudo, nem sempre provm da percepodireta do meio ambiente. Devido complexidade do contexto em quevivem as pessoas, elas s tm condies de se informar e seconscientizar a respeito de sua sociedade atravs dos meios de comuni-cao. O controle desse meio se faz, principalmente, pela sua utilizaodireta. Dado o fato de que a comunicao depende, cada vez mais, deaparelhagem sofisticada e bastante cara, torna-se inevitvel que osmeios sejam controlados por pessoas e grupos da classe economica-mente mais forte. Ele os utilizam exclusivamente para a difuso dasidias e opinies que lhes so favorveis, no permitindo que se propa-guem ideologias contrrias ou fatos que contestem seus interesses. Apopulao fica, desse modo, impossibilitada de ter acesso maior partedos aspectos de sua realidade e, assim, impedida de compreenderexatamente sua posio e seu interesses, termina por ser envolvida nanica ideologia que lhe apresentada.A censura oficial, realizada por rgos governamentais, tambm uminstrumento de controle ideolgico. Atravs dela se definem os limitesdo que pode ou no ser divulgado, neutralizando-se as possibilidadesde manifestaes contrrias aos valores defendidos pelos governos.Sem acesso s informaes que lhe possam fornecer uma viso dosdiversos aspectos do mundo em que vive, a populao acaba tendouma viso deformada da realidade, que a conduz a se comportar dentrodos estritos limites traados a partir dos interesses da classe dominante.O controle ideolgico se exerce, tambm, diretamente sobre as pesso-

  • as, seja reprimindo ou corrompendo lderes para que desistam ou sejamimpedidos da tentativa de conscientizar seus liderados, seja exercendopresses constantes par que os receptores no tenham condiespsicolgicas de julgar, analisar e avaliar as idias que recebem.Geralmente surgem, no seio das classes dominadas, alguns indivduosque, apesar de toda a censura e manipulao dos meios de comunica-o, conseguem perceber melhor certos aspectos da realidade e procu-ram transmitir sua compreenso aos demais, conscientizando-os. ocaso dos lderes operrios, estudantes, religiosos e intelectuais. Nessescasos, a classe dominante, diretamente ou atravs dos rgos dogoverno, procura neutralizar esses lderes atravs de ameaas, prises,torturas ou exlio. Outras vezes, a neutralizao se faz de forma no toviolenta atravs da cooptao. Cooptao o processo pelo qual umindivduo ou pequeno grupo recebe concesses e privilgios, em trocados quais deva deixar de defender os interesses da classe social qualpertence, para defender aquele que lhe fez as concesses. o caso detrabalhadores e intelectuais que so contratados para exercer certoscargos privilegiados no governo ou em empresas privadas.A presso sobre as pessoas pode, tambm, concretizar-se atravs deperseguies, denncias e acusaes insistentes contra aqueles que noseguem determinada orientao. o caso das patrulhas ideolgicas,expresso muito empregada no Brasil, a partir de 1978, para qualificaros grupos que criticam repetidamente alguns artistas, intelectuais epessoas muito populares que no aderem s idias defendidas poraqueles grupos. O cineasta Carlos Diegues e o cantor Caetano Velosoj se queixaram por serem exageradamente criticados ao no assumi-rem as posturas exigidas por militantes esquerdistas. Pel afirmou serperseguido e criticado por grupos que no admitiam sua recusa emassumir a liderana na luta contra o racismo. A mesma forma de pres-so tem sido feita, desde os comeos do sculo, sobre aqueles quedefendem a necessidade de se dar maior ateno aos problemas sociaiscomo o analfabetismo, a misria, o alto ndice de enfermidades etc.Inmeros so os que esto prontos a acus-los de anarquistas, comu-

  • nistas, agentes russos ou cubanos, antipatriotas. Trata-se de uma formade perseguio que visa, seno obter a adeso do pressionado, aomenos conseguir seu silncio para que no expresse idias julgadasinconvenientes.A presso psicolgica uma das formas mais interessantes de controle.Atua diretamente sobre os receptores, afetando sua capacidade deanlise, para que recebam as mensagens da propaganda dentro de umapostura passiva e submissa.As pessoas, em condies normais, ao receberem uma informao ouassistirem a um fato, procuram compreender a situao, analisar os prse contras, verificar se se trata de algo que lhes diga respeito diretamenteassim por diante. o que se chama senso crtico. Todavia, em determi-nadas situaes de envolvimento emocional, tenso nervosa, temor,cansao fsico e mental, os indivduos tendem a ter o seu senso crticodiminudo. Nesses momentos, ouvem as afirmaes ou assistem aosfatos sem avali-los, aceitando passivamente o que lhes apresenta. Apropaganda utiliza inmeras formas de presso para neutralizar o sensocrtico dos receptores e lograr convenc-los. O recurso mais emprega-do a organizao de grandes concentraes de massas. Nessasocasies, as marchas, as msicas e cnticos ampliados por alto-falantes,as luzes, o lanamento de folhetos e papis, o ritmo dos tambores, asbandeiras, estandartes, os discursos inflamados, tudo reflete sobre ospresentes. Envolvem as pessoas com tal intensidade que, quase hipnoti-zadas, tornam-se mais sugestionveis s mensagens que recebem. Foicom o emprego constante desses recursos que Adolf Hitler conseguiamanter as multides em contnuo estado de exaltao e conduzi-las aodelrio.Algumas prticas religiosas tambm so empregadas como instrumentosde presso psicolgica para obter a adeso fantica dos receptores.Produzem esgotamento fsico, fazendo as pessoas ficarem muito tempoem p, ajoelhadas ou participando de longas e cansativas danas.Geram ansiedade atravs da espera do sacerdote que se atrasa, daescurido ou luz muito intensa, palmas, msicas e cantos ritmados, da

  • repetio dos sons de tambores. Embriagam com incenso, lcool, fumoe drogas inebriantes. Despertam temor com ameaas de infernos,monstros e demnios. Em meio a tudo isso fazem-se as pregaes,conseguindo no s convencer os receptores. como lev-los a verda-deiros estados de possesso e transe. So os recursos adotados pordiversos cultos msticos praticados no Brasil e na frica e, embora deforma menos profunda e pouco intensa, por quase todas as seitasreligiosas existentes na face da terra.Dentre as formas de presso psicolgica conhecidas, a mais intensa e,talvez, a mais eficaz a denominada lavagem cerebral. realizadacom indivduos ou grupos que so conduzidos a locais afastados, deonde no podem sair durante algumas semanas ou meses, ocasio emque so freqentemente bombardeados com novas idias. Baseia-seessa tcnica no fato de que os conhecimentos, idias e reflexos dosindivduos servem para que possam adaptar-se e manter-se em equil-brio como o seu meio. Conseqentemente, ao se criar um novo ambien-te onde os hbitos e reaes costumeiras so insuficientes para obten-o do equilbrio, torna-se mais fcil incutir novas orientaes. Se, almdisso, forem feitas presses que diminuem o senso crtico, a possibilida-de de persuaso ainda maior.H ainda, uma tcnica de controle ideolgico que procura impedir queas pessoas adquiram conscincia de suas condies de vida, distraindosua ateno. Atravs dos meios de comunicao, bombardeia-se asociedade com notcias sobre fatos suficientemente atrativos para queos indivduos tenham sua ateno desviada dos problemas econmicose sociais. Baseia-se no fato de que as pessoas tm um limite de percep-o e ateno e que, saturadas por um certo nmero de informaesque apelam para as emoes e sentimentos, no lhes sobra espao nemtempo para receber outras idias. Grandes torneios desportivos, crimescometidos com crueldade, tm sido constantemente alardeados paraenvolver os receptores em sua discusso e distra-los das questes maisgraves.

  • Contrapropaganda

    Quando no conseguem obter o monoplio das informaes atravs docontrole ideolgico, os grupos procuram neutralizar as idias contrriasatravs da contrapropaganda.Ela se caracteriza pelo emprego de algumas tcnicas que visam ameni-zar o impacto das mensagens opostas, anulando seu efeito persuasivo.Procura colocar as idias dos adversrios em contradio com a reali-dade dos fatos, com outra idias defendidas por eles prprios ou emdesacordo com certos princpios e valores aceitos e arraigados entre osreceptores. Outra vezes, atua de forma indireta, tentando desmoralizaras idias, no pela crtica personalidade ou ao comportamento daque-les que as sustentam. Critica-se o sacerdote para desmerecer o conte-do de suas pregaes, ataca-se alguns dirigentes polticos para comba-ter a filosofia adotada pelo governo e assim por diante.A contrapropaganda, na prtica, se concretiza atravs da emisso demensagens que, associadas aos argumentos ou personalidades dosadversrios, despertam reaes negativas.A apresentao de fatos que estejam em contradio com as mensa-gens adversrias, sugerindo sua falsidade, irrealidade ou absurdo, realizada com o intuito de despertar dvida em relao a elas. Acontrapropaganda dos defensores do sistema capitalista procura neutra-lizar as idias socialistas difundindo, dramaticamente e com estardalha-o, notcias sobre fugas de pessoas que viviam em pases comunistas. Oobjetivo desse procedimento o de sugerir que no deve ser bomaquele regime, se a pessoas que nele vivem querem fugir de l.Os fatos que se contrapem s idias da propaganda adversria costu-mam ser totalmente forjados. No tendo condies de verificar, atravsde fonte segura, a veracidade ou no das informaes, os receptorestendem a aceit-las ou, ao menos, permanecem indecisos. Durante a

  • Segunda Guerra Mundial os aliados criaram uma estao de rdio quese fazia passar por alem e irradiava notcias para a Alemanha. Um dosinformes, apresentado como comunicado oficial do governo nazista etransmitido quando Hitler insistia em que estava vencendo a guerra,gerava certa perplexidade. A notcia dizia que alguns soldados alemesestavam desertando do front e deveriam ser denunciados por qualquerpessoa que conhecesse seu paradeiro. Suscitava-se, assim, dvidas emrelao vitria de um exrcito cujos soldados estavam fugindo.A contrapropaganda tambm atua sobre o temor, mostrando que asidias adversrias, se concretizadas, podem causar graves prejuzos emalefcios s pessoas. As campanhas anticomunistas constituem osexemplos mais significativos.Nos pases do bloco ocidental, inclusive o Brasil, ainda se repete atcnicas que vem sendo posta em prtica h anos de divulgar notciasde atrocidades cometidas na Unio Sovitica, China, Cuba, Nicargua,e pases africanos. Fala-se em crianas e mulheres fuziladas, homenscruelmente torturados, degolados e queimados. Ao mesmo tempoinsiste-se que tais fato sero sempre inevitveis para qualquer pas queopte pelo sistema socialista. Com isso, conseguem incutir um tal medona populao que as convencem a apoiar o governo em sua aorepressiva contra os adeptos de idias igualitrias, sejam socialistas ouapenas superficialmente semelhantes.A contrapropaganda tambm realizada no sentido de despertardesprezo pelos adversrios e suas idias, associando-os a situaescontrrias aos princpios e valores respeitados pelos receptores. Oscomentrios que se fazem a respeito de alguns dirigentes governamen-tais, acusando-os de desonestos, corruptos, homossexuais e, at mes-mo, de trados pelas esposas, visam desmoraliz-los e gerar desprezopelas propostas e idias que defendem.Com o objetivo de desmoralizar as manifestaes estudantis, afirmou-seque se tratava de filhinhos de papaique, ao invs de estudar e cumprirsuas obrigaes, permaneciam fazendo badernas e arruaas, preju-dicando o trnsito, gerando insegurana para o povo e criando dificul-

  • dades para todos. Conseguiam, dessa forma, despertar a hostilidade edesprezo de grande parte da populao contra os movimentos e, assim,abafar a questo dos problemas sociais que estavam sendo levantadospelos universitrios.As questes de natureza econmica ou poltica so extremamentesignificativas para maioria das pessoas, j que se relacionam intimamen-te com suas condies de vida. Por essa razo, a propaganda procuraapresentar as idias dentro de um clima de grande seriedade, s vezesat solene, que torne possvel despertar a ateno para a importnciados assuntos abordados. Da grande parte da contrapropaganda atuaratravs do humor, da stira ou da piada, ridicularizando as idias epessoas que as defendem. Procuram, assim, gerar desinteresse pelocontedo das mensagens e desvalorizar sua importncia.Os veculos de comunicao, constantemente, difundem charges,apelidos e stiras que desmoralizam e desfiguram dirigentes e lderespolticos, tornando-os engraados ou mesmo ridculos. Quebram,assim, a imagem de respeito que estes pretendam impor e afetam ocontedo de suas afirmaes.Os slogans tambm so ridicularizados, para perder seu efeito persuasi-vo e de impacto. No Brasil, os temas das campanhas governamentaistm sido automaticamente ironizados com sugestiva criatividade. Para afrase Brasil, ame-o ou deixe-o criou-se a resposta O ltimo, apaguea luz do aeroporto. Quando se disse O Brasil deu um passo frente,contestou-se rapidamente E estava beira do abismo. Contra o temaO Brasil feito por ns respondia-se O difcil desat-los.A contrapropaganda, portanto, o instrumento utilizado por um grupoatravs das formas e recursos mencionados, visando neutraliza a foradas teses e argumentos da propaganda adversria. Dessa forma, ameni-zando o efeito persuasivo das idias contrrias s suas, o grupo podedesenvolver sua prpria campanha de propaganda, sem a necessidadede recorrer a outros artifcios e precaues que esclaream a razo dasdiferenas entre suas propostas e as alheias.

  • Difuso

    Elaborada a ideologia, realizada sua codificao e estruturado o sistemade controle ideolgico, procede-se difuso sistemtica das mensa-gens.Dentre as formas de difuso utilizadas pela propaganda ideolgica, aoral, atravs da palavra falada, ainda das mais importantes. Emprega-da desde a antiguidade, foi a forma preferida por inmeros lderes.Hitler considerava que todos os acontecimentos importantes e todas asrevolues foram produzidas pela palavra falada. Lenin dizia que oagitador, antes de mais nada, deveria agir de viva voz. Os discursospolticos, pregaes religiosas, declaraes de lderes e homens degoverno tm sido, em grande parte, os maiores responsveis pelapropagao das ideologias em todos os recantos do mundo. Uma desuas grandes vantagens permitir ao orador observar diretamente areao dos seus ouvintes e, a partir dela, reforar certos argumentos,insistir em determinados aspectos, dar maior ou menor nfase s pala-vras, repetir afirmaes, aumentar ou diminuir pausas, sublinhar asidias com gestos e expresses fisionmicas. Alm disso, o discurso e apregao constituem as nicas formas que permitem reunir um grandenmero de pessoas, at mesmo em grande praas pblicas, de tal formaque cada indivduo sinta sua personalidade diluir-se na multido, perce-bendo-se como parte de um todo e tendendo a acompanhar as mani-festaes da maioria. Tem-se a a possibilidade de produzir uma im-presso de unanimidade to persuasiva quanto os argumentos doorador. Esse clima pode ainda ser reforado pela preparao dasclaques, grupos de pessoas previamente encarregadas de aplaudir eovacionar o orador. Outra vantagem da palavra falada, quando proferi-da diretamente pelos lderes, a sua maior credibilidade. O oradorpode impor uma imagem de sinceridade, impossvel de ser transmitidapor outro meio; suas afirmaes tm mais calor e se tornam mais huma-

  • nas.

    Se a expresso oral encontrava limites restritos de tempo e espao nopassado, hoje, com a evoluo tecnolgica dos meio de comunicaode massa, adquiriu uma amplitude quase infinita. Os satlites tm possi-bilitado que muitas declaraes do papa ou do presidente dos EUA,dentre outros, sejam divulgadas imediatamente maioria dos pases doglobo terrestre.A imprensa, o mais antigo dos meios materiais de comunicao, exerceum papel importante em propaganda. Jornais e revistas, por informaremconstantemente sobre os fatos regionais e internacionais, contribuem emalto grau para fornecer aos leitores uma determinada viso da realidadeem que vivem. Dessa maneira transmitem os elementos fundamentaispara a formao de um conceito da sociedade e do papel que cada umdeve exercer nela. Por trabalhar com fenmenos apresentados demaneira aparentemente objetiva, como se fosse a mera e simples apre-sentao dos fatos puros, tais como realmente ocorreram, adquire umaaparncia de neutralidade que assegura a confiana da maioria dosleitores. Mas essa neutralidade no real. As notcias internacionais sodistribudas por agncias especializadas, principalmente as norte-americanas Associated Press e United Press International, onde seselecionam as informaes segundo os critrios estabelecidos pelosinteresses econmicos e polticos dos grupos que as controlam. Essasinformaes so enviadas s redaes, onde, juntamente com as notci-as locais, so novamente selecionadas, agora com observncia deoutros critrios, determinados pelo interesse dos proprietrios dosjornais ou dos que neles anunciam. Dessa forma, a imprensa acaba porconstituir um elemento de manipulao de grupos internacionais enacionais que s permitem a transmisso daquelas mensagens quepossam reforar sua ideologia.Alm da seleo de informaes, h outros meios de manipulao dosfatos. Um deles a fragmentao da realidade, implcita na prpriaforma como so apresentadas as notcias. Para se adquirir conscinciada realidade social, necessrio que se percebam as relaes entre os

  • diversos fenmenos, obtendo-se a viso de conjunto necessria paraver a sociedade como um todo integrado, em que os fatos econmicos,polticos e culturais sejam vistos tal como se determinam reciprocamen-te. A grande imprensa, ao contrrio, aponta os fatos isolados uns dosoutros, mantendo ocultas aquelas relaes. O leitor, em relativamentepouco tempo, acaba lendo notcias as mais variadas sobre esportes,crimes, cotaes de bolsa, inflao, desastres, guerras externas, decla-raes de brasileiros e estrangeiros. Recebe uma viso catica darealidade, sem perceber os efeitos que os fatos tm uns sobre os ou-tros.Outra forma de manipulao realizada pelo maior ou menor destaqueque se d notcia. A pgina em que colocada, a dimenso do texto,o ttulo, o maior ou menor nmero de pormenores contidos na descri-o permitem dar aos fatos um outro significado. As greves organizadaspelos sindicatos operrios, por exemplo, que tm uma enorme reper-cusso econmica e poltica, geralmente so tratadas pela grandeimprensa como um simples fato acidental sem maior significao. OEstado de S. Paulo, por exemplo, menciona-as em pequenos espaosnas pginas de economia, ao lado de outras informaes, como posiode preos no mercado, cotaes de bolsa, dando a impresso de umsimples fenmeno corriqueiro sem maiores conseqncias.H tambm a interpretao das informaes, geralmente realizadadentro de uma linha preestabelecida pela direo do jornal, que determinada pelos interesses ali defendidos. As notcias a respeito dospases socialistas so selecionadas a interpretadas de forma altamentenegativa. Pouco se mencionam as providncias bem-sucedidas, toma-das na China e em Cuba, para melhoria dos nveis de educao esade. Mas um grande destaque dado s prises polticas e torturas,mostrando-se apenas o lado negativo daqueles sistemas. J em relaoaos Estados Unidos, insiste-se no desenvolvimento econmico, naperfeio do sistema democrtico. Mas pouco se menciona aexplorao dos povos subdesenvolvidos por aquele pas, ou a interven-o norte-americana em pases onde se fazem revolues e se depem

  • homens de governo que no aceitam certas imposies. Silencia-sesobre a corrupo poltica existente. Pouco se fala sobre a vida cadavez mais angustiada da juventude americana, que vai buscar nas drogaso nico consolo para suas crises existenciais.Alm dos aspectos mencionados, que fazem parte da rotina dos peri-dicos, estes tambm so empregados para difundir a declarao doshomens pblicos. O prprio governo usa espao dos jornais pararelacionar suas realizaes. Grupos particulares tambm aproveitam aimprensa, pagando o espao, para apresentar suas idias.At agora falamos da imprensa vinculada aos interesses dos gruposeconmicos mais fortes. Mas ela tambm adotada, algumas vezes,por grupos minoritrios no ligados aos detentores do poder. A Histriado Brasil registra o aparecimento de inmeros jornais e pequenasrevistas da imprensa operria e estudantil que procuram evidenciar ascontradies do sistema vigente e transmitir propostas alternativas.Geralmente so peridicos de vida curta, logo obrigados a fechar emvirtude de dificuldades financeiras resultantes de presses dos gruposeconmicos mais fortes ou mesmo por imposio policial, que nopermite que se excedam limites preestabelecidos por setores da classedominante.A propaganda emprega ainda o cinema, tanto com filmesdocumentrios quanto de fico. Os documentrios tm a grandevantagem, para os que o utilizam, de que montado com imagensverdadeiras, extradas diretamente da realidade, fato que lhes d extre-ma credibilidade. Todavia, a possibilidade de selecionar, dentre asimagens possveis, aquelas que confirmem e reforcem uma determinadaidia, permite uma grande oportunidade de manipulao. No Brasil, osdocumentrios cinematogrficos so obrigatoriamente exibidos nas telasdos cinemas por imposio legal. So sistematicamente utilizados paraengrandecer o regime poltico vigente e enaltecer a capacidade dosdirigentes e empresrios. O contedo mais constante desses filmesdocumentrios a apresentao de grandes realizaes governamentaisou de setores privados da agricultura, indstria e comrcio.

  • Quase sempre trazem cenas que sugerem apoio e unanimidade pelapresena sorridente e confiante das autoridades civis, militares e eclesi-sticas ou de multides populares que aplaudem. Os documentriospodem ser falsificados, montados com sons e cenas verdadeiros, massem nenhuma relao uns com os outros, fato que raramente percept-vel para a maioria dos espectadores. Pode-se acrescentar sons degritos, tiros, aplausos a cenas eu que na verdade no ocorreram. Multi-des podem ser associadas a reunies onde no h mais de uma dezenade pessoas. Essa possibilidade de associar e fundir trechos diversos defilmes e sons permite ao produtor transmitir a idia que lhe aprouver.Os filmes de fico, sendo produzidos no com cenas reais e objetivas,mas interpretadas e montadas, no tm o mesmo ar de autenticidade eo poder persuasivo dos documentrios. Mas, atravs da trama desituaes que se pode criar, da variedade imensa de ritmo de som eimagens possveis de se obter, permitem criar um clima de envolvimentoemocional que facilita a inculcao de idias e valores. Alm disso,projetados em salas escuras, podem contar com maior receptividade, jque no existem outros fatos que possam distrair a audincia.O roteiro padro dos filmes de aventura americanos permite avaliarbem seu valor como instrumento de transmisso de idias. Geralmenteso compostos de trs idias essenciais. Uma primeira mostra umasituao de paz e harmonia. Em seguida h o aparecimento de umaameaa para, finalmente, se sucederem as tentativas de defesa queculminam com um final herico. O espectador, envolvido pelo climaharmonioso inicial, levado a indignar-se contra o sujeito da ameaa,que pode ser um indgena, um criminoso ou um espio russo. Afinal,acaba identificando-se com o heri ou heris que vm proporcionar asoluo feliz. Todo filme acaba reduzido a uma proposta maniquestaem que se apresentam apenas duas alternativas: a certa ou a errada, aboa ou a m. Todo esse contexto permeado de cenas de amor e dio,atos de maldade ou bondade, violncia e carinho intensos, algunstoques erticos. O ritmo das cenas se alterna da lentido rapidezextrema, as msicas acompanham o crescendo e variam da doce

  • suavidade de um coro celestial veemncia das marchas de guerra,tudo para conduzir o receptor a um clmax. Foi atravs desses recursosque o cinema norte-americano conseguiu impor ao mundo ocidentalcertas imagens estereotipadas como a do indgena selvagem e assassi-no, dos alemes e japoneses frios e calculistas da Segunda GuerraMundial, ou do agente russo desumano, traioeiro e criminoso. E tudoisso em contraste com a figura do norte-americano bom, leal, corajosoe honesto.O cinema tambm pode ser utilizado para conscientizar o espectadoracerca das contradies sociais, embora nem sempre esses filmesconsigam vencer os obstculos da censura e das presses econmicas.No Brasil, tivemos o perodo do chamado Cinema Novo, entre o finaldos anos 50 e comeo dos 60, onde se produziram alguns filmes quemostravam a misria dos sertes e o drama das favelas brasileiras. Maisrecentemente, fizeram-se alguns filmes sobre a corrupo policial e aviolncia urbana.O rdio tambm um instrumento da propaganda, com a grandevantagem de poder transmitir as mensagens com rapidez e amplitude,permitindo mesmo que certos fatos sejam divulgados imediatamenteaps ocorrerem.Permite dirigir-se s camadas mais humildes da populao, inclusiveanalfabetos, que muitas vezes no tm acesso a outros meios de infor-mao. Permite tambm o estabelecimento de um clima de intimidade,onde o locutor sussurra opinies para o ouvinte, criando uma situaode amizade e de descontrao informal bastante sugestiva. Por sertratar de concesso governamental que pode ser cassada a qualquermomento, induz seus proprietrios e funcionrios a evitar a difuso demensagens em desacordo com a ideologia proclamada oficialmente.Alm disso, pelo fato de, como a imprensa, depender de anncioscomerciais para se manter, o rdio se torna um instrumento passvel deser controlado pelos interesses das classes dominantes que pagam essesanncios. largamente empregado para a divulgao dos discursos,declaraes e mensagens dos dirigentes e rgos governamentais. A

  • irradiao oficial chamada Hora do Brasil foi criada por GetlioVargas com esse objetivo e, embora reformulada, permanece at hojecom o nome de A voz do Brasil.A televiso serve antes de mais nada para e difuso de notcias, otelejornalismo. Como a imprensa escrita, passa por processos deseleo e interpretao, depende de anncios pagos e de concessogovernamental, o que a transforma em instrumento de difuso dasideologias dos grupos econmicos ou do governo. A forma como soproduzidos os programas deu televiso o carter de instrumento paratornar a populao mais passiva. Novelas, programas de auditrio,shows de variedades, apresentao de cantores, jogos, disputas,esportes e sorteios absorvem grande parte da capacidade crtica doespectador, conduzindo-o a uma espcie de fuga da realidade. Desvian-do sua ateno das questes sociais, induz alienao. Tome-se oexemplo do programa Slvio Santos, h anos sendo veiculado aosdomingos, desde a manh at a noite. Toda a produo caracterizadapor um clima constante de suspense e de agitao crescentes, comenorme variedade de apresentaes. Os sorteios, anunciados desde oincio do programa, so realizados ao final quando, em alguns segundos,algum pode tornar-se um milionrio. Envolve-se a audincia de talforma e com tal ritmo que lhe impossvel raciocinar sobre o que v eouve. E no faltam os elogios e enaltecimentos a polticos egovernantes.O teatro teve papel importante na divulgao dos ideais da RevoluoFrancesa e na preparao da Revoluo Russa. Os revolucionriosbolchevistas, por exemplo, o empregavam para a apresentao depeas rpidas onde se criticavam a nobreza, a decadncia do capitalis-mo e se enalteciam os operrios, camponeses e o regime socialista. NoBrasil o teatro tem-se desenvolvido bastante e muito empregadocomo instrumento de crtica e contestao dos valores e costumesvigentes. Contudo, devido ao alto preo dos ingressos, a maioria daspeas atinge apenas a uma pequena elite econmica e cultural. Dessaforma, pelo pequeno pblico a quem se dirige, perde grande parte do

  • seu valor como meio de transmisso de idias e de conscientizao.Os cartazes, ilustrados ou no, em cores ou em branco e preto, sobastante utilizados para afixao em muros e paredes visando transmitiralgumas idias fundamentais atravs de um impacto rpido. Alm deles,inmeros outros impressos se prestam a auxiliar na difuso de mensa-gens. Os manifestos explicam e defendem uma determinada posioperante certos fatos econmicos e polticos. Os panfletos divulgamfatos, notcias ou crticas a determinadas idias e propostas. Os volan-tes servem para difundir nomes, frases, slogans, palavras de ordem esmbolos ou para anunciar e convocar reunies e movimentos. Distribu-dos diretamente para os receptores ou lanados do alto de edifcios oude avies, so mais freqentemente adotados por aqueles que, por seoporem aos detentores do poder e contestarem a ideologia dominante,no conseguem ter acesso imprensa, rdio ou televiso. O livro, porsuas prprias caractersticas, se destina a levar idias apenas a umpequeno nmero de pessoas: aquelas que tm grau de instruo maiselevado.As idias nazistas na Alemanha tiveram no livro Minha Luta, de AdolfHitler, um dos seus mais importantes instrumentos de divulgao. NoBrasil, foi durante a ditadura de Getlio Vargas que mais se produziramlivros com o objetivo especfico de apoiar a propaganda. Centenas deobras elogiosas ao regime e enaltecedoras da personalidade de Vargasforam escritas, em linguagem simples a acessvel, para que fossem lidaspelo maior nmero possvel de pessoas.Alm dos meios de comunicao propriamente ditos, a propagandatambm se apia em inmeros outros suportes. Qualquer objeto ouespao que possa ser visto por um razovel nmero de pessoas aproveitado. As paredes so pichadas com frases, slogans e smbolos.As placas de inaugurao e sinalizao difundem realizaes, prestigiamlderes polticos e homens pblicos. As cdulas e moedas, os selospostais, contm mensagens e efgies de homens pblicos. Faixas eestandartes ostentam mensagens e smbolos. Esttuas e bustos concreti-zam o prestgio daqueles que devem ser considerados heris. Alto-

  • falantes auxiliam a ampliar o alcance dos discursos e declaraes.Avies escrevem mensagens de fumaa nos cus.H, ainda, uma outra forma de difuso de idias que se caracteriza peloanonimato: o rumor. A informao, geralmente falsa, circula de pessoa,podendo atingir grande parte de uma populao. Como muito difcildescobrir a fonte inicial da informao, o rumor constitui um instrumentomuito til para aqueles que, por qualquer razo, pretendem transmiti-lasem serem identificados.

    Efeitos da Propaganda Ideolgica

    A propaganda ideolgica permite disseminar, de forma persuasiva, paratoda a sociedade, as idias de determinado grupo. Depois de emitidaatravs dos diversos meios e suportes de comunicao, elas passam aser retransmitidas, direta ou indiretamente, no seio das diversas institui-es sociais, ampliando e reforando o processo de difuso. A ideolo-gia, dessa forma, se espalha e impregna todas as camadas da socieda-de. Na famlia, na escola ou no trabalho, em todas as partes e por todosos meios, todos passam a ser orientados para os mesmos fins e enqua-drados dentro dos mesmos princpios.Nas famlias, os pais, que sofrem o efeito persuasivo da propaganda,acabam transferindo para seus filhos as concepes e normas de con-duta que lhes foram inculcadas. Acreditam, na maioria das vezes, que aexperincia adquirida lhes d condies de orientar seus filhos, deforma neutra e objetiva, para que julgam ser o melhor caminho.Impem regras de respeito e obedincia, indicam os cursos que devemrealizar e as profisses que podem exercer. Dessa maneira, moldamseus filhos para que ingressem no contexto social da forma mais ade-quada realizao dos interesses da classe ideologicamente dominante.Em cada classe social as famlias produzem os novos membros quedevero entrar, disciplinadamente, no sistema econmico, poltico ecultural, reproduzindo o papel de seus antecessores. Criam os operriosesforados e submissos, os gerentes hbeis e obedientes, e, at mesmo,

  • os novos privilegiados que devero saber como manter e reforar opoder e a dom