PROPOSTA DE CONDUÇÃO DO SEMINÁRIO Sebastião...Ambiental em Diferentes Instituições de Ensino...

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Edival Sebastião Teixeira RELATÓRIO CONCLUSIVO DE ESTÁGIO PÓS-DOUTORAL I Identificação Pós-doutorando: Edival Sebastião Teixeira Supervisora: Prof.ª Dr.ª Araci Asinelli da Luz Linha de Pesquisa: Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano II Título do Projeto: Representações Sociais sobre Meio Ambiente e Sobre Educação Ambiental em Estudantes de Formação de Professores em Diferentes Instituições do Brasil e de Portugal.

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

    SETOR DE EDUCAÇÃO

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

    Edival Sebastião Teixeira

    RELATÓRIO CONCLUSIVO DE ESTÁGIO PÓS-DOUTORAL

    I – Identificação

    Pós-doutorando: Edival Sebastião Teixeira

    Supervisora: Prof.ª Dr.ª Araci Asinelli da Luz

    Linha de Pesquisa: Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano

    II – Título do Projeto: Representações Sociais sobre Meio Ambiente e Sobre

    Educação Ambiental em Estudantes de Formação de Professores em Diferentes

    Instituições do Brasil e de Portugal.

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    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO......................................................................................

    2. REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................

    2.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: TEORIA E FENÔMENO...................

    2.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO

    AMBIENTAL.........................................................................................

    3. METODOLOGIA..................................................................................

    4. RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................

    4.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE MEIO AMBIENTE................

    4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL...

    4.3 SOBRE A OCORRÊNCIA DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE

    EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS CURSOS...........................................

    5. PRINCIPAIS CONCLUSÕES DA INVESTIGAÇÃO.............................

    6. AGRADECIMENTOS............................................................................

    7. REFERÊNCIAS.....................................................................................

    8. APÊNDICE............................................................................................

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    1. INTRODUÇÃO

    O projeto – Representações Sociais sobre Meio Ambiente e sobre Educação

    Ambiental em Diferentes Instituições de Ensino Superior do Brasil e de Portugal –

    articula-se com investigações que são desenvolvidas no Programa de Pós-

    Graduação em Desenvolvimento Regional, da Universidade Tecnológica Federal do

    Paraná (PPGDR), focadas na temática das representações sociais de meio

    ambiente e práticas pedagógicas em educação ambiental.

    O PPGDR congrega pesquisadores das áreas de sociologia, psicologia,

    educação, biologia, química, agronomia, geografia e engenharia florestal. Seu

    objetivo é constituir-se como um espaço para a práxis relativa à teorização e a

    práticas que ocorrem na interface entre sociedade e natureza, através da produção

    e difusão de conhecimento científico, na perspectiva interdisciplinar, contribuindo

    com a formação de profissionais capazes de atuar na pesquisa, no ensino e como

    agentes de desenvolvimento regional em bases sustentáveis, com habilidades para

    dialogar com os diferentes campos do conhecimento.

    O Programa está estruturado com uma Área de Concentração –

    Desenvolvimento Regional Sustentável – e três linhas de pesquisa: 1) Ambiente e

    Sustentabilidade, que privilegia estudos sobre: a) a biodiversidade e os recursos

    naturais da região, na perspectiva da conservação e da restauração do meio e das

    espécies nativas e o seu aproveitamento, respeitando as dimensões culturais,

    sociais e econômicas, b) implicações das atividades humanas no meio, incluindo o

    monitoramento de contaminantes nos alimentos e no ambiente, c) análise das

    condições atuais e das possibilidades de uso de tecnologias apropriadas à

    produção, à transformação e à circulação de produtos regionais em bases

    sustentáveis; 2) Regionalidade e Desenvolvimento, que prioriza estudos sobre: a)

    organizações públicas e privadas e as estratégias para o desenvolvimento regional

    sustentável, b) representações sociais e percepção ambiental; 3) Educação e

    Desenvolvimento, que prioriza estudos sobre: a) educação e sustentabilidade; b)

    representações sociais e desenvolvimento, c) relações entre linguagem, educação e

    trabalho.

    É nesse contexto que foi desenvolvido o projeto de pesquisa

    Representações Sociais sobre Meio Ambiente e Práticas Pedagógicas em Educação

    Ambiental, apoiado financeiramente pelo Edital MCT/CNPq 03/2009 - Consolidação

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    de Novos Campi e Novas Universidades. Essa pesquisa, já concluída, teve por

    objetivo contribuir com o estudo sobre relações entre representações sociais sobre

    meio ambiente e práticas pedagógicas escolares desenvolvidas em diferentes

    instituições de ensino básico, localizadas na região sudoeste do Paraná.

    Com o desenrolar dessa pesquisa novas questões foram surgindo,

    particularmente no concernente às relações entre as representações sobre meio

    ambiente e práticas sociais em diferentes contextos e às relações entre

    representações sociais sobre meio ambiente, educação ambiental e formação de

    professores.

    Desta forma, no âmbito do PPGDR, além das pesquisas centradas na

    questão das representações sociais de meio ambiente e educação ambiental na

    educação básica, outras investigações foram sendo desenvolvidas com o aporte da

    teoria das representações sociais investigando relações entre representações e

    práticas sociais em diversos contextos. Contudo, permaneceram em aberto lacunas

    identificadas relativas representações de meio ambiente, educação ambiental e

    formação de professores.

    Por essa razão, foi proposta como parte das atividades de um estágio pós-

    doutoral no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do

    Paraná uma investigação sobre o tema da formação de professores particularmente

    no que diz respeito às temáticas da educação ambiental, em diferentes instituições

    de ensino superior.

    A inserção de Portugal na pesquisa decorreu do interesse do pesquisador

    em aproveitar uma estada de três meses de estudos em Psicologia Ambiental na

    Universidade de Évora para desenvolver um estudo comparativo. A proposição

    desse estudo foi feita ao Programa de Pós-Graduação em Educação da

    Universidade Federal do Paraná, no contexto do projeto de pós-doutoramento.

    O trabalho ora apresentado, portanto, consiste no relatório conclusivo das

    atividades de pós-doutoramento desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em

    Educação da Universidade Federal do Paraná. A parte principal do texto consiste na

    apresentação e discussão dos resultados de uma investigação que teve por objetivo

    analisar as relações que existem entre as representações sociais sobre meio

    ambiente e sobre educação ambiental em estudantes de formação de professores

    em diferentes instituições do Brasil e de Portugal. Como apêndice é apresentada

    uma descrição sumária das demais atividades desenvolvidas no estágio.

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    2. REFERENCIAL TEÓRICO

    2.1 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: TEORIA E FENÔMENO

    As representações sociais consistem em um conjunto de valores, ideias e

    práticas que possibilitam às pessoas orientarem-se em seu mundo material e social

    e controlá-lo, bem como se comunicarem na medida em que fornece aos membros

    de determinada comunidade um conjunto de códigos que permitem classificar e

    nomear os vários aspectos da realidade individual e coletiva (MOSCOVICI, 2003).

    Por essa razão, esse fenômeno, ao mesmo tempo social e individual, tem sido

    objeto de investigação em diversos contextos sociais.

    Na pesquisa social, a expressão “representações sociais” refere-se a um

    fenômeno e a um método, isto é, a um objeto e a uma teoria que o explica e que

    orienta o seu estudo. Enquanto método considera “a diversidade dos indivíduos,

    atitudes e fenômenos, em toda sua estranheza e imprevisibilidade”, tendo por

    objetivo “descobrir como os indivíduos e grupos podem construir um mundo estável,

    previsível, a partir de tal diversidade” (MOSCOVICI, 2003, p. 79). Por sua vez,

    enquanto objeto, as representações sociais têm a ver com formas de conhecimento

    elaborados socialmente e partilhados que permitem a construção de uma realidade

    comum a determinado grupo social. Assim, pontua Jodelet (2001, p. 22),

    [...] Igualmente designada como saber do senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este, devido à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais.

    Esses conhecimentos socialmente elaborados, portanto, não são

    conhecimentos de tipo científico, embora uma representação social possa ter como

    ponto de partida um conhecimento científico, como exemplifica o caso clássico

    investigado por Moscovici (2012) sobre a representação da psicanálise. Então, as

    representações sociais – enquanto fenômeno – se referem aos conhecimentos de

    senso comum que se manifestam em conceitos, explicações e afirmações

    originadas no cotidiano, através dos processos de comunicação interindividual, e

    que têm a capacidade de orientar condutas. Em outras palavras, tratam-se de

    teorias do senso comum, constituídas de conceitos articulados, que se originam das

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    e nas práticas sociais, que dão sentido a realidade social, tornando “familiar o não-

    familiar, ou a própria não-familiaridade” (MOSCOVICI, 2003, p. 54).

    Enquanto método, a teoria das representações sociais, considera dois

    processos cognitivos como sendo os geradores das representações: a ancoragem e

    a objetivação. Por meio desses processos, os indivíduos inserem em seus quadros

    de referência o “novo”, comparando-o e interpretando-o relativamente ao já familiar,

    o que permite, por sua vez, reproduzi-lo e controlá-lo (MOSCOVICI, 2003).

    A ancoragem é o processo por meio do qual o indivíduo suporta e

    transforma o desconhecido, reduzindo-o a categorias e imagens relacionadas a

    coisas que lhes são familiares. Isto é, a ancoragem “transforma algo perturbador,

    que nos intriga, em nosso sistema de categorias e o compara com um paradigma de

    uma categoria que nós pensamos ser apropriada” (MOSCOVICI, 2003, p. 61). Por

    essa razão, o autor em questão afirma que sua teoria não concebe a existência de

    um pensamento ou uma percepção que não possuam ancoragem, porque os

    sistemas de classificação e nomeação não são simplesmente meios para rotular ou

    graduar pessoas ou objetos. Com efeito, diz Moscovici,

    não podemos esquecer que interpretar uma idéia1 ou um ser não-familiar sempre requer categorias, nomes, referências, de tal modo que a entidade nomeada possa ser integrada na “sociedade de conceitos” de Gombrich. Nós os fabricamos com esta finalidade, na medida em que os sentidos emergem, nós os tornamos tangíveis e visíveis e semelhantes às idéias e seres que nós já integramos e com os quais nós estamos familiarizados (MOSCOVICI, 2003, p. 70).

    Enfim, a ancoragem tem a ver, então, com a assimilação de imagens, ideias

    e pensamentos novos, a cognições anteriores propiciando, dessa forma, o

    surgimento de novas representações sociais. Por meio desse processo os

    acontecimentos são incorporados e reinterpretados mediante três condições: a

    primeira condição é a atribuição de um sentido ao objeto novo que se relacione com

    algum sentido já estabelecido, já portador de um significado; a segunda condição

    tem a ver com a instrumentalização do saber, mediante a qual o sujeito interpreta o

    conhecimento novo dando-lhe uma nova forma, traduzindo-o e incorporando-o ao

    1 Conforme grafia no original, anterior à vigência do Acordo Ortográfico firmado entre os países de língua

    portuguesa. Esse procedimento de manter a grafia de determinadas palavras tal como no original, em citações literais, ocorreu em todas as situações similares a esta neste relatório.

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    seu universo socialmente vivido; finalmente, a terceira condição consiste no

    enraizamento, isto é, uma espécie de organização estrutural do objeto novo ao

    sistema de pensamento do sujeito (MOSCOVICI, 2003).

    A objetivação, por sua vez, torna concreto algo abstrato, como a

    transformação de uma ideia, um pensamento, em uma ação, em um ato de

    comportamento. Em outras palavras, o que é uma cognição, pelo processo da

    objetivação transforma-se em algo tangível; de uma cognição a um ato manifesto.

    É, pois, pelo construto da objetivação que se explica o fato de um ente

    imaginário tornar-se um ente “quase tangível”, para usar as palavras de Moscovici

    (2003).

    Portanto, a objetivação é o processo por meio do qual se une o não familiar

    com a realidade, tornando-se, dessa forma, esse não familiar em realidade. Assim,

    “percebida primeiramente como um universo puramente intelectual e remoto, a

    objetivação aparece, então, diante de nossos olhos, física e acessível. [...] objetivar

    é descobrir a qualidade icônica de uma idéia; é reproduzir um conceito em uma

    imagem” (MOSCOVICI, 2003, p. 72).

    A objetivação se divide em três fases: a primeira é uma construção seletiva

    que ocorre a partir do contato do sujeito com os conhecimentos científicos. As

    pessoas se apropriam desses conhecimentos, incorporando-os ao seu universo

    conceitual de acordo com suas interpretações. A segunda fase é chamada de

    esquematização, processo este pelo qual se fundamenta determinada

    representação atribuindo-lhe um significado e uma forma de organização, mediante

    a qual a ideia básica da representação será veiculada. Por fim, na terceira fase da

    objetivação ocorre a atribuição de uma função à representação que seja capaz de

    produzir um efeito, isto é, que seja capaz de orientar condutas (JODELET, 2001).

    Entendemos que o modo como Jovchelovitch (2000) se refere a esses

    processos é bastante elucidativo e, por essa razão, transcrevemos um trecho de sua

    obra:

    A objetivação e a ancoragem são as formas específicas de mediação social das representações sociais, que elevam para um nível “material” a produção simbólica de uma comunidade. Elas dão conta da concreticidade das representações sociais e ao mesmo tempo podem ser comparadas com os processos de condensação e deslocamento [...]. Objetivar é condensar significados diferentes – que podem ser ameaçadores, ou indizíveis – para fazê-los familiares, domesticados. Ao assim fazer, sujeitos sociais ancoram o desconhecido em uma realidade já institucionalizada e deslocam

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    a geografia de significados estabelecidos que as sociedades lutam para perpetuar. Esses são processos que mantêm e desafiam, que reproduzem e superam, que se formam, e, ao mesmo tempo, ajudam a formar a vida social de uma comunidade (JOVCHELOVITCH, 2000, p. 81-82).

    De acordo com Almeida (2009), Willem Doise assinala que a teoria das

    representações sociais pode ser considerada como uma grande teoria no sentido

    em que sua finalidade é a de propor conceitos de base para a identificação e análise

    de diferentes dinâmicas sociais. Não obstante, pontua o autor, como as demais

    grandes teorias nas ciências humanas, a teoria das representações sociais

    necessita ser completada “por descrições mais detalhadas dos processos que sejam

    compatíveis com a teoria geral...” (DOISE, 1993, apud ALMEIDA, 2009, p. 717).

    Assim, essa grande teoria de que fala Doise, desdobra-se em correntes

    complementares, não incompatíveis entre si pelo fato de provirem da mesma matriz

    (SÁ, 1998). As principais correntes teóricas que se desenvolveram a partir da grande

    teoria são: a abordagem culturalista; a abordagem societal; a abordagem estrutural.

    Na abordagem culturalista, de Denise Jodelet, o enfoque privilegiado para a

    compreensão das representações sociais é histórico e cultural. No desenvolvimento

    da pesquisa sob esse enfoque, devem-se apreender os discursos individuais e

    grupais que mantém as representações sociais; os comportamentos e as práticas

    sociais que manifestam as representações; identificar e analisar documentos e

    registros que institucionalizam comportamentos e práticas; identificar e analisar as

    diferentes interpretações que tais comportamentos e práticas recebem dos mais

    variados meios de comunicação de massa (ALMEIDA, 2005).

    Jodelet (2009) propõe um esquema de análise das representações sociais

    de indivíduos e grupos que delimita em três esferas o pertencimento das

    representações. No esquema proposto, o sujeito é concebido como ator social ativo,

    que é afetado pelos diferentes aspectos da vida cotidiana que se desenvolvem em

    contextos de interação e inscrição. A inscrição de que fala a autora, compreende

    tanto a participação do sujeito em uma rede de interações por meio da comunicação,

    quanto à “pertença social”, a qual se define em vários níveis: “o do lugar na estrutura

    social e da posição nas relações sociais, o da inserção nos grupos sociais e culturais

    que definem a identidade, o do contexto da vida onde se desenrolam as interações

    sociais, o do espaço social e público” (JODELET, 2009, p. 696).

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    As esferas de pertencimento propostas no esquema de Jodelet são: a esfera

    da subjetividade; a esfera da intersubjetividade; a esfera da transubjetividade. Na

    primeira esfera consideram-se os processos que operam no nível dos indivíduos,

    devendo-se distinguir dentre as representações aquelas que o sujeito elabora

    ativamente daquelas que o sujeito integra passivamente no contexto de sua vida

    cotidiana. “Levar em consideração o nível subjetivo”, acrescenta a autora em

    questão, “permite acessar os significados que os sujeitos, individuais ou coletivos,

    atribuem a um objeto localizado no seu meio social e material, e examinar como os

    significados são articulados à sua sensibilidade, seus interesses, seus desejos, suas

    emoções e ao funcionamento cognitivo” (JODELET, 2009, p. 697).

    Na esfera da intersubjetividade o foco recai sobre as situações que

    contribuem para o estabelecimento das representações que são elaboradas em

    interação, considerando-se, sobretudo, “as elaborações negociadas e estabelecidas

    em comum pela comunicação verbal direta”.

    E na esfera da transubjetividade, devem-se levar em consideração os

    processos que atravessam tanto o nível subjetivo quanto o nível intersubjetivo. Ou

    seja, essa esfera remete a tudo que é comum aos indivíduos e aos grupos sociais

    dos quais participam. Por conseguinte, o foco de análise recai sobre a importância

    dos repertórios que servem à construção das significações partilhadas; e recai

    também sobre o espaço social e público em que circulam as representações

    provenientes de diferentes fontes: os meios de comunicação de massa, as normas

    institucionalizadas, as ideologias, as religiões, dentre outras.

    Na abordagem societal, Wlillem Doise propõe um modelo teórico

    metodológico para o estudo quantitativo das representações sociais, fenômeno que

    define “como princípios organizadores das relações simbólicas entre indivíduos e

    grupos” (DOISE, 2002, p. 30).

    Esse autor defende que o estudo das representações sociais exige a

    abordagem do objeto a partir de três hipóteses, as quais, por sua vez,

    corresponderiam ao que chama de investigação em três fases: 1ª) a identificação

    dos referentes ou pontos de referência comuns aos indivíduos e grupos implicadas

    nas trocas simbólicas em análise; 2ª) a explicação de como e por que os indivíduos

    de determinado grupo diferenciam-se entre si nas relações que eles mantêm com a

    representação social em análise; 3ª) a identificação das ancoragens “das tomadas

    de posição em outras realidades simbólicas coletivas, como as hierarquias de

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    valores, as percepções que os indivíduos constroem das relações entre grupos e

    categorias e as experiências sociais que eles partilham com o outro” (DOISE, 2002,

    p. 30).

    Nessa corrente da grande teoria toma-se como pressuposto que as

    produções culturais e ideológicas dão significação aos comportamentos individuais,

    ao mesmo tempo em que criam diferenciações sociais a partir de princípios gerais.

    Almeida (2005), afirma que na abordagem societal a análise do objeto deve levar em

    conta: as experiências individuais, no sentido de identificar os modos pelos quais os

    indivíduos organizam suas experiências com o meio ambiente; os processos

    interindividuais e situacionais que estão na raiz das dinâmicas sociais; os modos

    pelos quais as diferentes posições sociais ocupadas nas interações modulam os

    processos individuais e interindividuais; os sistemas de crenças, representações,

    avaliações e normas sociais dos sujeitos.

    Já na abordagem estrutural, de Abric, considera-se que toda representação

    social organiza-se e estrutura-se em torno de um núcleo central. De acordo com

    Franco (2004), toda objetivação que se cristaliza passa a constituir o núcleo de

    determinada representação, o qual é composto por um ou vários elementos cuja

    finalidade é, ao mesmo tempo, dar uma significação e uma espécie de organização

    à representação. Assim, é a presença de determinados elementos centrais que

    asseguram a permanência de uma representação (SÁ, 1996).

    É pela identificação desse núcleo que se infere a existência de consensos

    relativamente compartilhados acerca de algum objeto. Por essa razão, entende-se

    que o núcleo central repercute a memória coletiva, o que implica admitir que sua

    formação seja marcada pelas condições históricas inerentes ao contexto do grupo

    social que o manifesta (SÁ, 1996; FRANCO, 2004; CROMACK, BURSZTYN &TURA,

    2009).

    O núcleo central organiza-se como uma estrutura hierarquizada, que se

    determina pela natureza do objeto e pelo sistema de valores e normas sociais que

    constituem o contexto ideológico do grupo. Este núcleo é formado por um ou mais

    elementos que dão o significado à representação, de modo que se constitui como

    seu elemento essencial.

    De acordo com Sá (1996; 1998), em torno dos atributos centrais de uma

    representação orbitam um conjunto de elementos periféricos passíveis de captação

    e compreensão.

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    O núcleo central confere uma base relativamente estável à representação,

    de modo que se caracteriza por ser um tanto resistente a mudança. Por isso,

    “assegura a continuidade e a permanência de uma representação por tempos mais

    ou menos longos” (POLLI et al., 2009), a despeito do contexto imediato no qual a

    representação é posta em evidência.

    Já o sistema periférico é mais maleável e suscetível à mudança e, por essa

    razão, consegue integrar experiências particulares, a heterogeneidade e as

    idiossincrasias. Cromack, Bursztyn & Tura (2009, p. 628), afirmam que o sistema

    periférico “promove a interface entre a realidade concreta e o núcleo central,

    atualizando-o e contextualizando-o constantemente, daí resultando sua mobilidade e

    flexibilidade, permitindo a expressão individualizada e tornando possível que a

    representação social se ancore na realidade do momento”.

    Enfim, a teoria das representações sociais esboçada em linhas gerais nesse

    tópico, tem sido amplamente utilizada para analisar práticas sociais por diversas

    disciplinas, além da psicologia, tais como a geografia, a história, a saúde, a

    educação, a antropologia e a sociologia, dentre outras. No Brasil são inúmeros os

    pesquisadores de diferentes disciplinas que se dedicam à compreensão de tais

    fenômenos com o aporte da teoria das representações sociais, dentre os quais

    alguns foram referenciados acima.

    Para o conceito de práticas sociais nesta pesquisa lançamos mão das

    conclusões de Almeida, Santos & Trindade (2000) quanto a que tais práticas

    referem-se a conjuntos de ações organizadas em encadeamento e padronizadas

    pelos indivíduos. Por conseguinte, as práticas sociais não são meros atos

    desprovidos de significação, mas, por outro lado, não se trata também de ações que

    vão além do senso comum.

    Todavia, ainda que o conceito especificado seja simples, o estudo das

    práticas sociais evoca questões muito importantes, sobretudo, concernentes à

    delimitação do objeto de estudo e aos delineamentos metodológicos, pois não basta

    apoiar-se em descrições ou em inferências acerca de articulações entre

    representações e práticas. Com efeito, é necessário “construir instrumentos que

    permitam uma coleta mais próxima do contexto concreto em que elas se

    desenvolvem, permitindo compreender os significados que vão adquirindo em

    contextos diversos” (ALMEIDA, SANTOS & TRINDADE, 2000, p. 264).

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    2.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

    De acordo com Reigota (2007), não há consenso na comunidade científica

    sobre a definição de meio ambiente, e por essa razão o autor prefere considerá-lo

    como representação e não como conceito. Para esse autor nas investigações sobre

    representação social sobre meio ambiente que têm adotado a linha da psicologia

    social o ambiente tem sido representado mais comumente sob três concepções:

    antropocêntrica, globalizante e naturalista.

    Os sujeitos que representam meio ambiente na concepção antropocêntrica

    focalizam sua atenção na utilidade dos recursos naturais para a sobrevivência do ser

    humano, os quais dispõem destes para garantir melhor condição de vida para si. Os

    que se pautam na concepção globalizante observam as relações de reciprocidade

    entre a sociedade e a natureza, enfocando aspectos naturais, políticos, sociais,

    econômicos, filosóficos e culturais, compreendendo o ser humano como social. Já

    na terceira concepção, os aspectos ressaltados são os da natureza, com o meio

    ambiente voltado apenas para o que é natural envolvendo, portanto, conceitos tais

    como os de ecossistema, habitat e ecologia. Nessa visão, o ser humano é um

    observador passivo que estaria fora do contexto da fauna e da flora, e do meio

    abiótico, não tendo com esses laços de responsabilidades ou pertencimento.

    Embora tenha constatado que não se esgotam os mais variados conceitos

    de meio ambiente e suas definições, Reigota (2007), contudo, considera que o termo

    parece indicar uma amplitude maior do que a noção de ecossistema sugere.

    Um ecossistema pode ser compreendido como o conjunto dos seres bióticos

    e abióticos que interagem entre si em determinado espaço, trocando insumos e

    energia de modo equilibrado e interdependente. Por sua vez, a noção de meio

    ambiente implica considerar a inserção humana como parte desse espaço,

    interagindo com os demais componentes e inserindo a dimensão social em seus

    vários aspectos, tais como o histórico, o cultural, o político e o econômico.

    Por sua vez, Raynaut (2004, p. 27) considera que a palavra meio ambiente

    designa “o mundo físico e biótico encarado nas suas relações com o homem”. Para

    o autor, trata-se de uma noção multicêntrica que se aplica “conforme as perspectivas

    adotadas, a indivíduos, grupos, organismos e populações de seres vivos”. Assim,

    concordando-se com Raynaut, entender-se-ia o meio ambiente como um espaço de

    interações entre elementos naturais e culturais, as quais são passíveis de serem

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    compreendidas a partir de determinadas perspectivas de tempo, de espaço e de

    concepções de mundo.

    Em Saber Ambiental, Leff (2007, p. 17) afirma que “o ambiente emerge

    como um saber integrador da diversidade, de novos valores éticos e estéticos e dos

    potenciais sinergéticos gerados pela articulação dos processos ecológicos,

    tecnológicos e culturais”.

    Assim, considerando autores como Leff (2007), Raynaut (2004) e Reigota

    (2007), o conceito de meio ambiente envolve elementos biogeoquímicos, sociais e

    culturais, avançando para uma visão que vai além de uma perspectiva meramente

    naturalista. Aceitando essa noção, tomamos neste projeto de pesquisa o conceito

    apresentado por Marcos Reigota, ou seja, a concepção de meio ambiente como

    referente a um “lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e

    sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam

    processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de

    transformação do meio natural e construído” (2007, p. 154).

    Enquanto espaço determinado, o conceito de meio ambiente incorpora uma

    dimensão temporal. Desta forma, considerando-se todos os cuidados necessários

    para a generalização de resultados de investigação científica, é possível utilizar o

    recurso do recorte para que seja possível obter um conhecimento contextual mais

    aprofundado.

    Enquanto lugar percebido, esse conceito de meio ambiente leva em conta

    que cada sujeito o delimita e sobre ele atua a partir de suas representações,

    informações específicas, experiências e vivências cotidianas em seu tempo e

    espaço.

    E enquanto espaço de interações dinâmicas, nessa concepção se aceita que

    as constantes transformações propiciadas pelas interações entre fatores bióticos e

    abióticos, entre grupos sociais e o meio natural ou construído implica

    transformações no próprio indivíduo. Com efeito, interagindo com os elementos do

    seu ambiente num processo criativo que é ao mesmo tempo interno (no sentido

    subjetivo) e externo, ao transformar o ambiente o ser humano também modifica sua

    própria visão a respeito da natureza e do meio em que vive. Em outras palavras, ao

    transformar seu ambiente a humanidade transforma-se a si mesma.

    Assim, ao se aceitar o conceito de meio ambiente enquanto espaço onde

    seres humanos e natureza tecem relações, ao invés de um espaço em que tais

  • 14

    elementos apenas intercambiam, se pretende salientar que o estudo do meio

    ambiente e daquilo a ele relacionado exige ultrapassar limites disciplinares,

    principalmente do campo da biologia e considerar outros campos, como os das

    ciências sociais.

    É nesse sentido que se pode compreender – ressalvando-se a possibilidade

    de outras leituras – a afirmação de Reigota (2007, p. 14) acerca de que “o primeiro

    passo para a realização da educação ambiental deve ser a identificação das

    representações das pessoas envolvidas no processo educativo”.

    O autor fez essa afirmação mencionando o contexto de um curso de

    formação de educadores ambientais por ele ministrado na década de 1990. Na

    opinião de Reigota, ao se identificarem tais representações melhor podem ser

    programadas atividades de capacitação tendo em vista que as práticas pedagógicas

    são executadas conforme as concepções de mundo, de homem e de educação dos

    educadores. E as representações a que se refere o autor em questão são as sobre

    meio ambiente e sobre educação ambiental.

    A intensidade dos impactos das ações humanas sobre o ambiente nunca

    foram tão marcantes e abrangentes quanto os que decorreram dos avanços da

    industrialização, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX (LIMA, 2005).

    Com efeito, o sistema de produção e a matriz de consumo que se seguiram à

    segunda guerra mundial foram, e vêm sendo, apoiados no uso intensivo de recursos

    naturais desconsiderando-se, todavia, os potenciais impactos desse modelo de

    desenvolvimento. E esse modelo que desconsidera os impactos da atividade

    econômica sobre o ambiente, produz “além da poluição habitual, acidentes de maior

    magnitude que, ao serem divulgados, alertavam a opinião pública para o potencial

    dos novos riscos que ameaçavam a vida social” (LIMA, 2005, p. 27 e 28).

    De fato, a lista de desastres ambientais causados pela ação humana a partir

    da segunda metade do século próximo passado é extensa. Lima (2005) cita, por

    exemplo, os acidentes nas usinas nucleares de Three Miles Island e Chernobyl, em

    1979 e 1986, respectivamente e o vazamento de gás na planta de Bhopal da Union

    Carbide em 1984. Esses eventos causaram a perda de milhares de vidas humanas,

    bem como a contaminação permanente, ou pelo menos muito prolongada, de

    grandes extensões territoriais.

    Por sua vez, Antunes &Teixeira (2011) mencionam os problemas de saúde

    causados pela poluição ambiental na região de Cubatão nos anos de 1980; a

  • 15

    degradação ambiental causada pela mineração e pela exploração predatória do

    Cerrado e da Amazônia, sobretudo a partir da década de 1970; a intoxicação por

    agrotóxicos utilizados nas plantações de tomate do Nordeste e de tabaco no Sul; o

    grande derramamento de petróleo no Alasca com o acidente do navio petroleiro

    Exxon Valdez em 1989, cujos efeitos ainda são sentidos na vida marinha da região;

    e os casos mais recentes do vazamento de óleo de refinaria da Petrobrás ocorrido

    em 2005, na planta de Araucária, Paraná, que comprometeu seriamente a fauna e a

    flora, bem como o abastecimento de água para populações ribeirinhas do Rio Iguaçu

    e a explosão da plataforma de petróleo da Shell no Golfo do México em 2011.

    Pode-se citar também como catastrófico o naufrágio do navio petroleiro

    Prestige na costa da Galícia em 2002, contaminando milhares de quilômetros do

    litoral francês, espanhol e português. Apesar de decorridos 12 anos desde esse

    evento, implicações politicas, sociais, econômicas e culturais são ainda sentidas

    (MIRA, 2013).

    Então, problemas como esses não foram e não são ignorados pelos meios

    acadêmicos, empresariais, intelectuais e governamentais. Por isso, debates como os

    suscitados por publicações como o livro de Rachel Carson (2010) e o Relatório

    Meadows em 1972 repercutiram amplamente no mundo. Esse último documento,

    elaborado pelo MIT a pedido do Clube de Roma, apontava para a possibilidade do

    esgotamento de determinados recursos naturais em curto espaço de tempo em

    função do modelo econômico vigente.

    Contudo, a Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente,

    promovida pela ONU em 1972, na cidade de Estocolmo, fracassou na elaboração de

    um acordo em escala global para a redução da atividade industrial. O fracasso

    decorreu da divergência de posição entre os países então considerados

    desenvolvidos e os países considerados então em desenvolvimento. Os primeiros

    propunham a redução da atividade industrial – o que ficou conhecido como

    desenvolvimento zero – ao passo que os segundos defendiam o crescimento da

    atividade industrial em seus territórios, posição esta que ficou conhecida como a do

    “desenvolvimento a qualquer custo” (ANTUNES e TEIXEIRA, 2011).

    Mas a conferência de Estocolmo teve resultados significativos, com

    destaque para a “Declaração sobre o Ambiente Humano”. Nesse documento os

    conferencistas propuseram que é indispensável um trabalho de educação em

    questões ambientais com o objetivo “de favorecer a formação de uma opinião

  • 16

    pública bem informada e uma conduta dos indivíduos, das empresas e das

    coletividades, inspiradas no sentido de sua responsabilidade com a proteção e

    melhoria do meio, em toda a sua dimensão humana” (ONU, 1972). Assim no ano de

    1977 na cidade de Tbilisi, definiram-se objetivos fundamentais da educação

    ambiental (ONU, 1977), a qual foi definida como “uma dimensão dada ao conteúdo e

    à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio

    ambiente por intermédio de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e

    responsável de cada indivíduo e da coletividade” (BRASIL, 1997, p. 229).

    Posteriormente, nas conferências de Moscou, 1987 e do Rio de Janeiro, em 1992,

    consolida-se a ideia de que a educação ambiental deveria fazer parte das políticas

    educacionais dos países signatários desses eventos promovidos pela ONU.

    Com efeito, desde o início da década de 1990 já estão já claras as relações

    entre economia, problemas sociais e ambientais (LEFF, 2006; SUÁREZ &

    MARCOTE, 2009), de modo que é consenso na comunidade científica internacional

    atual que a crise ambiental tenha como causa direta aspetos socioeconômicos. Isto

    é, se aceita cabalmente que o crescimento econômico ilimitado implica, para além

    do avanço sobre recursos naturais, o problema dos resíduos gerados pela

    transformação industrial e, consequentemente, a poluição das águas, dos solos e

    dos ares.

    Na década de 1990, ainda, concebia-se como finalidade para a educação

    ambiental o desenvolvimento de atitudes, valores e condutas em favor da

    preservação ambiental, ou, como se passa a falar mais claramente após a

    Conferência do Rio de Janeiro de 1992, uma educação que visa à sustentabilidade.

    E então, mesmo uma década após a Rio-92, a ONU declara o período 2005-2014

    como a década da educação ambiental para o desenvolvimento sustentável

    (SUÁREZ & MARCOTE, 2009).

    Suárez e Marcote (2009, p. 90) consideram que atualmente um novo passo

    foi dado quanto aos fins da Educação Ambiental, isto é, mudou-se de foco: de uma

    educação a favor do meio ambiente para “uma educação para transformar a

    sociedade, de modo que se busquem as mudanças econômicas, sociais, políticas e

    culturais que nos levem a alcançar um modelo de desenvolvimento que implique não

  • 17

    só a melhora ambiental, mas também uma melhora social, econômica e política em

    nível global.”2.

    No Brasil a temática da educação ambiental ganha relevância e começa a

    aparecer em trabalhos científicos já partir de meados da década de 1980

    (GUIMARÃES, 2007). Além disso, a Constituição de 1988 estabelece que ao Poder

    Público o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino. A

    Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, estabelece a educação

    ambiental como diretriz para a elaboração de currículos e, posteriormente, nos

    Pârametros Curiculares Nacionais (PCN) sugere-se que essa modalidade da

    educação deva ser entendida como uma dimensão transversal dos currículos

    escolares (BRASIL, 1997). Em 1999 é promulgada a Lei 5975, a qual estabelece a

    política nacional de educação ambiental (BRASIL, 1999).

    Enrique Leff (2007) entende que a proposta para a educação ambiental da

    conferência de Tibilisi fundamenta-se numa abordagem holística e interdisciplinar de

    mundo e de ciência, em oposição à abordagem racional e instrumental que

    desembocou na crise socioambiental. Por essa razão, afirma o autor, a educação

    ambiental deve fundar-se sobre dois princípios básicos: 1º) “uma nova ética que

    orienta os valores e comportamentos sociais para os objetivos de sustentabilidade

    ecológica e equidade social”; 2º) “uma nova concepção do mundo como um sistema

    complexo levando a uma reformulação do saber e a uma reconstituição do

    conhecimento” (LEFF, 2007 p. 237).

    Mas, adotar esses princípios implica adotar uma ou outra dentre visões de

    mundo. Por sua vez, diferentes visões de mundo orientam diferentes projetos de

    sociedade e de educação. Desta forma, uma sociedade conservadora tenderia a

    uma educação igualmente conservadora, ao passo que uma sociedade não

    conservadora tenderia a um projeto de educação aberto à transformação. Assim, no

    Brasil, autores como Carvalho (2004), Loureiro (2004), Jacobi (2003) e Guimarães

    (2007) afirmam a manifestação de duas tendências da educação ambiental: uma

    conservadora ou convencional – que seria hegemônica em nosso país – e a outra,

    transformadora ou crítica. Para este último autor, é necessário qualificar as

    diferentes propostas de educação ambiental presentes na sociedade, tendo-se em

    2 Em espanhol no original.

  • 18

    vista a importância do desvelamento “da apropriação ideológica que dela fazem

    grupos dominantes” (2007, p. 67).

    Na visão conservadora a prática pedagógica focaliza o indivíduo e sua ação

    no ambiente no sentido de sensibilizar para determinada forma de relação homem-

    natureza, a qual consiste numa visão dualista que separa em polos distintos a

    sociedade e a natureza (LOUREIRO, 2004; GUIMARÃES, 2007; MIRANDA,

    MIRANDA & GIOTTO, 2009). Assim, como afirma Mauro Guimarães, essa visão

    conservadora se torna ingênua e simplista, pois ao focalizar apenas o

    comportamento dos indivíduos em relação às suas práticas ambientais não propicia

    meios para que os educandos percebam as “relações de poder que engendram a

    realidade socioambiental, e simplista por estabelecer relações lineares (não

    complexas) de causa e efeito dos fatos sociais” (GUIMARÃES, 2006, p. 25).

    Na prática pedagógica conservadora os educadores geralmente apresentam

    temas ambientais de forma abstrata, neutra e descontextualizada da realidade

    social. Os alunos recebem, assim, grande quantidade de informações desconexas,

    com inúmeros relatos sobre o estado de miséria e da degradação ambiental, ou

    ainda, e mais frequentemente, abordando aspectos pontuais, com temáticas

    predominantes como o lixo, a proteção do verde, o uso e a degradação de

    mananciais e ações para conscientizar a população em relação à poluição do ar, tais

    como apontam os estudos realizados por Kus (2012) e Sander (2012) sobre

    representações sociais de meio ambiente e práticas pedagógicas em educação

    ambiental com professores de diferentes níveis de ensino.

    Por sua vez, Loureiro (2006), entende que a visão conservadora ignora a

    ação humana na esfera social negando, ao mesmo tempo, a historicidade e a práxis.

    O que resulta disso seria a ênfase numa ecologia descontextualizada dos problemas

    ambientais e assim, a luta pela proteção da natureza se sobressai como algo

    hierarquicamente prioritário sobre a luta por justiça e igualdade social, ao invés de

    ambas as coisas – a proteção da natureza e a luta pela justiça – serem percebidas

    como intrinsecamente vinculadas.

    Enfim, sendo a concepção de sujeito das pedagogias conservadoras – como

    Teixeira (2008) as define – a mesma da educação ambiental conservadora, a prática

    pedagógica nesta última, tal como nas primeiras, tende a localizar no indivíduo,

    senão a origem dos problemas ambientais, pelo menos grande parte da solução. Por

    essa razão, não questiona a forma de relação homem-natureza dualista, cartesiana,

  • 19

    que separa em polos distintos a sociedade e a natureza, o sujeito e o objeto

    (LOUREIRO, 2004; GUIMARÃES, 2007).

    Da mesma forma, nunca problematiza as causas e as consequências sociais

    e econômicas da crise ambiental, as quais têm sua origem nas formas de relação

    engendradas pelo capitalismo (ANTUNES & TEIXEIRA, 2011). Pelo contrário, ao

    limitar-se ao apelo para a sensibilização em relação à necessidade de preservar e

    conservar o ambiente mediante a utilização de práticas pontuais acaba

    despolitizando o debate e não estabelecendo qualquer relação entre a educação e a

    possibilidade de transformação da sociedade (GUIMARÃES, 2007).

    Por sua vez, na vertente crítica da educação ambiental privilegia-se a

    dimensão política da questão ambiental. Por isso, a ênfase recai no questionamento

    do modelo econômico vigente, concebendo-o como motivador das formas de relação

    social que engendram e mantém os problemas ambientais, os quais são, portanto,

    problemas sociais. Desta forma, para Guimarães (2007), as propostas da educação

    ambiental crítica são “voltadas para as transformações da sociedade em direção à

    igualdade e à justiça social” (2007, p. 19).

    Então, considerando-se que o conhecimento é uma construção social,

    historicamente datada, não neutra, que atende a diferentes fins reproduzindo e

    produzindo relações sociais (LOUREIRO, 2006), a educação ambiental nessa

    vertente se constitui como uma ação política orientada para a transformação das

    estruturas sociais, econômicas e políticas vigentes. E é por essa razão que a prática

    pedagógica crítica visa muito mais do que a mudança de atitude para com o meio

    ambiente imediato. Com efeito, como a compreende Carvalho (2004), na educação

    ambiental crítica as dimensões éticas e políticas são essenciais, tendo em vista a

    necessária construção de uma cidadania ativa a qual implica a formação de um

    sujeito capaz de agir em defesa dos direitos de camadas mais amplas da população.

    Direitos estes, que se diga, incluem a manutenção de um ambiente saudável para si

    e para os outros e que seja capaz de sustentar a vida com uma boa qualidade.

    Especificamente, os resultados das investigações sobre representações

    sociais sobre meio ambiente e práticas pedagógicas em educação ambiental na

    Educação Básica que obtivemos (ANTUNES & TEIXEIRA, 2011; TEIXEIRA &

    ALGERI, 2011; MACHADO & TEIXEIRA, 2011) não têm sido diferentes dos

    encontrados na literatura quanto ao fato de que os professores que atuam nesse

    nível de educação, em geral têm uma concepção naturalista e antropocêntrica e que

  • 20

    suas práticas em educação ambiental priorizam ações pontuais e fragmentadas,

    para não dizer superficiais, tais como também apontam autores como Segura

    (2001); Velloso (2006); Thomaz & Camargo (2007); Costa (2009); Farias (2009);

    Brasil (2009); Rodrigues e Loureiro (2001) para citar apenas alguns exemplos de

    estudos da última década. Esses dados sugerem fortemente que a questão da

    formação dos educadores para lidar com questões ambientais precisa ser ainda

    bastante analisada, sobretudo, tendo-se em vista as possibilidades que

    investigações nesse sentido têm de aportarem subsídios para essa formação. E

    essa foi uma das motivações para o estudo ora relatado.

  • 21

    3. METODOLOGIA

    Participaram da investigação 100 estudantes brasileiros e 74 estudantes

    portugueses, de ambos os sexos, matriculados em cursos de formação de

    professores na Universidade Federal da Fronteira Sul e na Universidade

    Tecnológica Federal do Paraná, no Brasil e na Universidade de Évora e no Instituto

    Superior de Educação e Ciências de Lisboa, em Portugal. Todas essas instituições

    concordaram com a realização do estudo.

    Todos os sujeitos tinham idade superior a 18 anos, foram informados dos

    objetivos da investigação e participaram voluntariamente da pesquisa. O projeto foi

    aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Tecnológica Federal

    do Paraná (CAAE: 15468213.1.0000.5547). Em Portugal, não houve a necessidade

    de o projeto passar por comitê de ética em pesquisa.

    No Brasil os cursos dos estudantes pesquisados eram as licenciaturas em

    Letras Português-Inglês, em Letras Português e Espanhol, em Matemática, em

    Ciências Naturais, em Ciências Biológicas e em Química. Já em Portugal os cursos

    eram de formação de professores em Educação Física, em Artes Visuais, em Letras

    Português e Espanhol, em Matemática, em Educação Pré-escolar e 1º Ciclo,

    Educação Básica3 e em Intervenção Comunitária.

    Os dados foram coletados mediante utilização de um protocolo elaborado

    especificamente para o estudo.

    O instrumento era composto por duas questões de evocação livre, cujos

    termos indutores eram Meio Ambiente e Educação Ambiental e questões

    dissertativas nas quais os sujeitos deveriam justificar as evocações induzidas pelos

    respetivos termos indutores.

    Foi solicitado aos sujeitos que escrevessem as primeiras quatro palavras

    que lhes viessem à mente quando pensassem em Meio Ambiente. Posteriormente

    os sujeitos deveriam escolher as duas palavras que consideravam mais importantes

    dentre as que evocaram e, em seguida, justificar suas evocações e importância

    atribuída. Para o termo indutor Educação Ambiental, além dessas questões havia

    outras questões dissertativas em que os sujeitos deveriam, ainda, dizer o que

    entendiam por educação ambiental, se observam o desenvolvimento de práticas

    3 O que se denomina Ensino Básico em Portugal corresponde ao que se denomina no Brasil como

    Ensino Fundamental.

  • 22

    pedagógicas de educação ambiental em seus cursos e, em caso afirmativo, que

    descrevessem as principais práticas.

    Os questionários foram aplicados pelo pesquisador e colaboradores em sala

    de aula, nos meses de maio e junho de 2013 no Brasil. A coleta de dados em

    Portugal, feita exclusivamente pelo pesquisador, se deu em setembro e outubro do

    mesmo ano, também em sala de aula.

    Os dados obtidos com as questões de evocação livre foram tratados de

    acordo com os procedimentos usuais para a identificação do núcleo central de uma

    representação social. Para tanto se utilizou o programa computacional EVOC e as

    orientações descritas em Sá (1996). Para a análise pelo programa EVOC foram

    desprezadas as palavras cuja frequência de evocação foi inferior a três. O programa

    computacional utilizado permitiu identificar a frequência de evocação (f), a ordem

    média de evocação por palavra (Ome), os elementos mais suscetíveis de pertencer

    ao núcleo central das representações sociais pesquisadas, bem como os elementos

    da periferia próxima, os elementos de contraste e os elementos da periferia distante.

    A frequência intermediária (FI) escolhida foi igual a 10 e a ordem média de

    evocação (Ome) obtida pelo tratamento dos dados pelo EVOC foi igual a 2,50.

    As evocações para cada grupo de estudantes para cada termo indutor,

    foram agrupadas em um quadro geral onde há quatro células ou quadrantes

    principais. Assim, as palavras que tiveram frequência de evocação superior à FI e

    cuja Ome foi inferior a 2,50, foram alocadas no quadrante superior esquerdo. Isto é,

    nesse quadrante estão as palavras (elementos) mais evocadas e mais prontamente

    evocadas, as quais, por sua vez, são as mais suscetíveis de pertencer ao núcleo

    central da representação social em análise.

    No quadrante superior direito foram alocadas as palavras (elementos) cuja

    evocação foi superior à FI, mas que não estiveram dentre as mais prontamente

    evocadas. Esses elementos compõem a periferia próxima do núcleo central.

    No quadrante inferior direito foram alocadas as palavras (elementos) cuja

    frequência de evocação foi igual ou inferior à FI escolhida, mas que estão dentre as

    mais prontamente evocadas, isto é, cuja Ome foi inferior a 2,50. Esses são os

    elementos de contraste.

    Finalmente, no quadrante inferior direito estão alocados os elementos que

    fazem parte da periferia distante do núcleo central. Trata-se das palavras cuja

  • 23

    frequência de evocação foi inferior à FI e que estão dentre as menos prontamente

    evocadas, isto é, cuja Ome é igual ou superior a 2,50.

    Os critérios de confirmação de pertencimento ao núcleo central das

    representações sociais analisadas foram: frequência de evocação superior à FI;

    anterioridade de evocação, ou seja, cuja Ome foi inferior a 2,50; percentual de

    importância atribuída pelos sujeitos aos elementos evocados igual ou superior e 50.

    Desta forma, portanto, somente os elementos que atenderam a todos esses critérios

    foram confirmados como pertencentes ao núcleo central das representações.

    Os dados obtidos com as questões dissertativas foram submetidos à análise

    de conteúdo, conforme descrita por Bardin (1979) e Franco (2008). Foram excluídos

    da análise por esse procedimento os questionários em que os sujeitos não

    responderam à seguinte pergunta: Para você, o que é Educação Ambiental? Desta

    forma, excluiu-se 10, dos 100 questionários respondidos pelos estudantes brasileiros

    e um dentre os 74 questionários portugueses. A análise de conteúdo privilegiou a

    identificação de unidades temáticas.

    Para inferência sobre as representações sociais identificadas, os dados

    tratados pelo programa EVOC foram cruzados com os dados obtidos pela análise de

    conteúdo. Esses procedimentos para coleta de dados visando a identificação e

    análise do núcleo central de uma representação social têm sido utilizados com

    frequência em investigações na área, tais como nos estudos de Cromack; Bursztyn

    & Tura (2009), POLLI et al. (2009), Machado & Aniceto, (2010), Kus (2012) e Vieira

    & Resende (2012).

  • 24

    4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

    4.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE MEIO AMBIENTE

    Mediante o termo indutor Meio Ambiente os estudantes brasileiros fizeram

    450 evocações, utilizando 114 palavras distintas das quais 34 foram evocadas três

    ou mais vezes, totalizando 329 evocações, as quais correspondem a 73,11% do

    total de evocações dos estudantes brasileiros para esse indutor.

    Os resultados obtidos pelo tratamento dos dados com o programa EVOC

    são apresentados no quadro 1.

    Quadro 1 – Distribuição dos elementos evocados conforme a FI, a frequência de evocação (f), e a ordem média de evocação (Ome) / estudantes brasileiros.

    FI Elementos f Ome

    < 2,50

    Elementos f Ome

    ≥ 2,50

    >10

    Preservação

    Natureza

    Água

    Fauna

    39

    28

    22

    14

    1,90

    2,18

    2,00

    2,36

    Poluição

    Conscientização

    Animais

    Flora

    Vida

    Floresta

    Biodiversidade

    Desmatamento

    22

    19

    15

    15

    14

    14

    13

    11

    2,54

    2,79

    2,73

    3,00

    2,50

    2,64

    2,61

    2,54

    ≤ 10

    Árvores

    Lixo

    Homem

    Rios

    Reciclagem

    Proteção

    Seres vivos

    Mundo

    Respeito

    Educação

    Verde

    10

    9

    7

    7

    5

    4

    4

    3

    3

    3

    3

    2,10

    2,11

    2,14

    2,29

    1,60

    1,75

    2,25

    2,00

    2,00

    2,33

    2,33

    Sustentabilidade

    Reflorestamento

    Sociedade

    Saúde

    Ecossistemas

    Cuidado

    Destruição

    Futuro

    Sobrevivência

    Meio Ambiente

    Matas Ciliares

    10

    5

    4

    4

    4

    3

    3

    3

    3

    3

    3

    2,70

    3,20

    2,50

    2,75

    3,00

    2,67

    3,00

    3,00

    3,00

    3,30

    3,67

    Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.

  • 25

    Dentre os elementos mais suscetíveis de pertencer ao núcleo central das

    representações sociais sobre meio ambiente dos estudantes brasileiros

    pesquisados, isto é, aqueles de maior frequência e mais prontamente evocados,

    confirmaram-se como pertencentes a esse núcleo os elementos Água e

    Preservação. Esses elementos, além de estarem dentre os de maior frequência e

    mais prontamente evocados, foram considerados 86,36% e 82,05%,

    respectivamente, mais importantes que os demais dentre todas as vezes em que

    foram evocados, confirmando-se, dessa forma, seu pertencimento ao núcleo central.

    No núcleo periférico próximo (quadrante superior direito, em destaque),

    destacam-se os elementos Conscientização, o qual foi considerado mais importante

    que os demais em 57,89% das vezes em que foi evocado e os elementos Vida e

    Desmatamento, considerados mais importantes que os demais, respectivamente, em

    57,14% e 54,54% das vezes em que foram lembrados. Assim, esses resultados

    denotam a importância de tais elementos nas representações sociais sobre meio

    ambiente dos estudantes brasileiros pesquisados, ainda que os mesmos pertençam

    ao núcleo periférico dessas representações.

    Observando-se os elementos do núcleo central (Água e Preservação), os

    demais elementos do quadrante superior esquerdo em destaque (Natureza e Fauna)

    e o conjunto dos elementos da periferia próxima, nota-se que dentre as 12 palavras

    mais evocadas há predominância de elementos biogeoquímicos do ambiente,

    conforme se demonstra no quadro 2.

    Quadro 2 – Elementos biogeoquímicos e elementos sociais e culturais no núcleo central e periferia próxima das representações sociais sobre meio ambiente dos estudantes brasileiros.

    Elementos Biogeoquímicos Elementos Sociais e Culturais

    Água

    Animais

    Biodiversidade

    Fauna

    Flora

    Floresta

    Natureza

    Vida

    Conscientização

    Desmatamento

    Poluição

    Preservação

    Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.

  • 26

    Esse desequilíbrio na distribuição dos elementos, em que os biogeoquímicos

    se sobressaem sobre os sociais e culturais, também aparece nas respostas às

    questões dissertativas. Com efeito, quando solicitados a justificar suas evocações,

    bem como a atribuição de maior ou menor importância a determinados elementos,

    em geral os estudantes brasileiros enfatizaram os primeiros elementos em

    detrimento dos sociais e culturais. Quanto a esses últimos aspectos, as repostas

    desses estudantes remetem mais à degradação dos ambientes, como sugerem os

    elementos Desmatamento e Poluição ou a atitudes que visam à preservação

    ambiental, como sugerem os elementos Conscientização e Preservação, do que às

    causas políticas, econômicas e históricas da problemática ambiental.

    Ou seja, apesar de aspectos sociais e culturais que remetem a atitudes, tais

    como a conscientização, a preservação, a poluição, a reciclagem, a proteção, a

    educação, o cuidado e o reflorestamento estarem presentes nas representações

    sociais sobre meio ambiente dos estudantes brasileiros, como se pode observar no

    conjunto dos dados alocados no quadro 1, os resultados que obtivemos indicam a

    presença de uma concepção que não avança para além de uma perspectiva

    naturalista de meio ambiente, tal como Reigota (2007) a define.

    Assim, com base nos resultados que obtivemos, mostrados nos quadros 1 e

    2 e na concepção de Reigota (2007), formulamos as representações sociais dos

    estudantes brasileiros pesquisados da seguinte maneira: o meio ambiente se refere

    a um lugar determinado ou percebido, composto basicamente de elementos

    biogeoquímicos e bastante suscetíveis de degradação pela ação humana, sendo,

    portanto, necessária sua preservação. Os aspectos sociais e culturais aí envolvidos

    têm mais a ver com atitudes ou ações de preservação ou de recomposição do que

    com o fato de que o meio ambiente mesmo consiste de ambos os aspectos, os

    quais, por sua vez, estão em constantes relações dinâmicas e processos de

    interação que implicam transformações no meio natural e construído (REIGOTA,

    2007).

    Quanto aos estudantes portugueses pesquisados, os mesmos fizeram 308

    evocações mediante o termo indutor Meio Ambiente, utilizando 105 palavras

    distintas, das quais 25 foram evocadas três ou mais vezes, totalizando 212

    evocações, as quais correspondem 68,83% do total de evocações desses

    estudantes para o termo indutor em questão.

  • 27

    Os resultados obtidos pelo tratamento dos dados com o programa EVOC

    são apresentados no quadro 3.

    Quadro 3 – Distribuição dos elementos evocados conforme a FI, a frequência de evocação (f), e a ordem média de evocação (Ome) / estudantes portugueses.

    FI Elementos f Ome

    < 2,50

    Elementos f Ome

    ≥ 2,50

    > 10

    Natureza

    Reciclagem

    Verde

    Água

    35

    29

    13

    11

    1,86

    2,58

    2,31

    2,10

    Poluição

    Árvores

    24

    12

    2,54

    2,79

    ≤ 10

    Floresta

    Sustentabilidade

    Rios

    Pureza

    Saúde

    Flores

    Ar puro

    Fauna

    Flora

    10

    6

    4

    3

    3

    3

    3

    3

    3

    2,10

    1,67

    1,75

    1,67

    1,67

    2,00

    2,33

    2,33

    2,33

    Animais

    Preservação

    Espaços verdes

    Lixo

    Ecologia

    Sociedade

    Terra

    Vida

    Atmosfera

    Cuidado

    9

    9

    5

    5

    4

    4

    4

    4

    3

    3

    3,00

    3,11

    2,60

    3,40

    2,50

    2,75

    2,75

    2,75

    3,00

    3,33

    Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.

    Dentre os quatro elementos mais frequentes e mais prontamente evocados

    pelos estudantes portugueses, foram confirmados como pertencentes ao núcleo

    central de suas representações sociais sobre meio ambiente os elementos

    Reciclagem, Natureza e Água, os quais foram considerados mais importantes que

    os demais em 75,86%, 74,28% e 63,64%, respetivamente, de todas as vezes em

    que foram lembrados.

    Os elementos Poluição e Árvores, os quais, embora não tenham sido

    considerados mais importantes que os demais, tampouco estejam dentre os mais

    prontamente evocados, estão dentre as de maior frequência, dado que sugere sua

    importância na periferia próxima do núcleo central das representações sociais sobre

    meio ambiente dos estudantes portugueses.

    Então, comparando-se os núcleos centrais – e suas periferias próximas –

    das representações sobre meio ambiente de ambos os grupos de estudantes

  • 28

    pesquisados, não se observam diferenças significativas, a não ser pelos elementos

    que os compõem. No caso brasileiro estão Preservação e Água, ao passo que no

    caso português estão Reciclagem, Natureza e Água. Ou seja, em ambos há uma

    atitude – preservar ou reciclar – e elementos biogeoquímicos que precisam ser

    preservados ou reciclados: Água e Natureza.

    Os resultados que obtivemos acerca da importância atribuída ao elemento

    Água pelos dois grupos de estudantes pesquisados, são compatíveis com achados

    anteriores nossos e de outros autores, com estudantes e professores de instituições

    urbanas e rurais de nível fundamental, médio ou superior, bem como com sujeitos

    não estudantes, no Brasil e em Portugal, como se pode observar em Pinto (2004),

    Guerra; Schmidt & Gil Nave (2008), Polli et al (2009), Machado & Teixeira (2011),

    Teixeira & Algeri (2011), Kus (2012), Kus, Guimarães & Teixeira (2012), Yamada,

    Favarim & Teixeira (2013).

    Da mesma forma que no caso dos brasileiros, os estudantes portugueses,

    diante do termo indutor Meio Ambiente, evocam livremente com mais frequência

    elementos biogeoquímicos que elementos sociais e culturais. Essa afirmação se

    sustenta na observação do conjunto dos elementos do núcleo central e da periferia

    próxima. Ou seja, dentre os seis elementos aí alocados, apenas dois (Reciclagem e

    Poluição) são de origem social ou cultural. O primeiro consiste numa ação ou

    atitude, ao passo que o segundo resulta de ações humanas – portanto sociais –

    sobre o meio, como se observa no quadro 4.

    Quadro 4 – Elementos biogeoquímicos e elementos sociais e culturais no núcleo central e periferia próxima, das representações sociais sobre meio ambiente dos estudantes portugueses.

    Elementos Biogeoquímicos Elementos Sociais e Culturais

    Água

    Árvores

    Natureza

    Verde

    Poluição

    Reciclagem

    Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.

    Quando se observa todas as 25 palavras evocadas três ou mais vezes pelos

    estudantes portugueses, a predominância de elementos biogeoquímicos sobre

    elementos sociais e culturais se avoluma. Com efeito, apenas sete elementos

  • 29

    desses últimos são encontrados, dentre os 25. São eles, ordenados da menor para a

    maior ordem média de evocação: Sustentabilidade (1,67), Poluição (2,54),

    Reciclagem (2,58), Sociedade (2,75), Preservação (3,10), Cuidado (3,33) e Lixo

    (3,40).

    Com isso podemos dizer que nas representações sociais sobre meio

    ambiente dos estudantes portugueses pesquisados, à semelhança do que ocorre

    dentre os estudantes brasileiros pesquisados, predominam elementos

    biogeoquímicos. Em outras palavras, trata-se, também, de uma representação de

    tendência naturalista.

    E isso também se observa nas respostas às questões dissertativas. Quando

    instados a justificar suas escolhas, em geral os estudantes portugueses pesquisados

    mencionavam a importância da preservação e do cuidado para com o ambiente

    tendo em vista a manutenção da vida e a garantia de um ambiente saudável para as

    gerações futuras.

    A atitude, a ação ou a importância da reciclagem aparecem com veemência

    tanto nas evocações quanto nas respostas dos estudantes portugueses. Isto se

    pode justificar pelo de fato de que essa temática tem sido amplamente difundida

    pelos meios de comunicação, sido objeto de inúmeros projetos de educação

    ambiental (GUERRA, SCHMIDT & GIL NAVE, 2008) em Portugal; e objeto de

    programas tais como a separação e coleta seletiva de resíduos em inúmeras

    instituições públicas ou privadas na Europa ocidental.

    Por fim, afirmamos que no tocante a representação social sobre meio

    ambiente, os resultados que obtivemos com os estudantes de formação de

    professores brasileiros e portugueses pesquisados não diferem substancialmente

    dos achados publicados em outros estudos, tais como os de Martinho & Talamoni

    (2007), Reigota (2007), Machado e Teixeira (2011), Kus, Guimarães & Teixeira

    (2012), Yamada, Favarim & Teixeira (2013). Todos esses estudos, realizados com

    docentes ou discentes de graduação, do ensino médio ou do ensino fundamental,

    concluem que as representações sociais em questão focalizam o ambiente sempre

    numa perspectiva que enfatiza mais os aspectos biogeoquímicos do meio ambiente

    do que os aspectos sociais e culturais.

    Por outro lado, nossos resultados para o termo indutor Meio Ambiente

    também nos permitem afirmar a sensibilidade dos estudantes brasileiros e

    portugueses para com a problemática ambiental, ainda que os grupos difiram entre

  • 30

    si em alguns aspectos: os estudantes brasileiros destacam a necessidade de

    preservar, ao passo que os estudantes portugueses ressaltam a necessidade de

    reciclar. Ambos os grupos, portanto, têm atitudes diferentes: de preservar, não usar

    ou usar bem (Brasil) ou de reciclar o que já foi usado (Portugal).

    Esse modo de representar socialmente o meio ambiente repercute nas

    representações sociais sobre educação ambiental dos estudantes pesquisados,

    como se demonstrará a seguir.

    4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

    Para o termo indutor Educação Ambiental os estudantes brasileiros fizeram

    436 evocações, utilizando 155 palavras distintas das quais 35 foram evocadas cinco

    mais vezes, totalizando 298 evocações que correspondem a 68,35% do total de

    evocações dos estudantes brasileiros para esse termo indutor. Os resultados são

    apresentados no quadro 5.

    Quadro 5 – Distribuição dos elementos evocados conforme a FI, frequência de evocação (f) e a ordem média de evocação (Ome) / estudantes brasileiros.

    FI Elementos f Ome

    < 2,50

    Elementos f Ome

    ≥ 2,50

    ≥ 10

    Conscientização Preservação Meio ambiente Escola

    51 33 25 14

    2,06 2,27 2,44 2,29

    Natureza Respeito Poluição Educação

    15 11 11 10

    2,53 2,64 2,82 2,90

    < 10

    Reciclagem Lixo Reeducação Sustentabilidade Responsabilidade Conhecimento Reflorestamento Sociedade Necessidade Homem Ensino Família Incentivo Projetos Práticas Seres humanos

    9 7 6 6 6 6 6 6 6 5 5 4 4 3 3 3

    1,89 2,29 1,67 1,67 1,83 2,00 2,00 2,17 2,33 1,80 2,40 1,75 2,00 2,00 2,33 2,33

    Criança Vida Florestas Conservação Divulgação Ação Importância Cuidado Futuro Qualidade Vida

    6 6 5 4 4 3 3 3 3 3 3

    2,50 3,33 2,60 2,75 2,75 2,67 2,67 3,00 3,00 3,00 3,33

    Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.

  • 31

    Os resultados obtidos com o tratamento dos dados pelo programa EVOC,

    apresentados no quadro 5, indicam que o núcleo central das representações sociais

    sobre educação ambiental dos estudantes brasileiros estrutura-se em torno dos

    elementos Conscientização, Preservação e Escola. Essas palavras tiveram uma

    frequência de evocação superior às demais, foram também as mais prontamente

    evocadas e consideradas mais importantes que as demais em 78,43%, 51,51% e

    50,00%, respectivamente, das vezes em que foram lembradas. A palavra Meio

    Ambiente, também está dentre as mais frequentes e mais prontamente evocadas, o

    que denota sua importância na representação, ainda que não tenha sido

    considerada mais importante que as demais em pelos menos 50% das vezes em

    que foi lembrada.

    Como se pode observar no quadro 5, na periferia próxima do núcleo central

    (quadrante superior direito, destacado) estão os elementos Natureza, Respeito,

    Poluição e Educação. Dentre os elementos de contraste (quadrante inferior

    esquerdo, destacado) chamamos atenção para Reeducação, Conhecimento,

    Necessidade, Reciclagem, Sociedade, Homem, Ensino, Projetos e Práticas. Por sua

    vez, na periferia distante (quadrante inferior direito, destacado) observam-se, dentre

    outros, elementos Vida, Criança, Divulgação, Ação, Importância, Futuro e Vida.

    Desta forma, pode-se afirmar que os elementos pertencentes à periferia

    próxima, o conjunto dos elementos de contraste e os elementos da periferia distante,

    bem como os próprios elementos do núcleo central, sugerem que para os

    estudantes brasileiros a educação ambiental prioriza atividades educacionais cuja

    finalidade é conscientizar para a preservação ambiental. Com efeito, no caso desses

    estudantes sempre há em suas evocações pelo menos um elemento que pode ser

    facilmente associado à educação, seja esta em sentido escolar, seja em sentido

    amplo. No núcleo central há o elemento Escola, na periferia próxima, Educação,

    dentre os elementos de contraste estão Reeducação, Conhecimento, Ensino,

    Projetos e Práticas; e na periferia distante, estão os elementos Criança, Divulgação,

    Ação, Futuro e Vida.

    Tal como fizemos com o termo indutor Meio ambiente, também separamos

    os resultados obtidos pelo programa computacional EVOC em elementos

    biogeoquímicos e elementos sociais e culturais. Não obstante, tendo em vista que os

    elementos ligados à educação também são sociais e culturais, também subdividimos

    entre elementos sociais e culturais gerais e elementos sociais e culturais facilmente

  • 32

    associados á educação escolar ou não escolar. O quadro 6 apresenta os resultados

    obtidos com os estudantes brasileiros.

    Quadro 6 – Elementos biogeoquímicos e elementos sociais e culturais no núcleo central, periferia próxima, elementos de contraste e periferia distante das representações sociais sobre educação ambiental dos estudantes brasileiros.

    Elementos Biogeoquímicos

    Elementos Sociais e Culturais

    Gerais Associados à Educação

    Meio ambiente Natureza Florestas

    Conservação Cuidado Lixo Poluição Preservação Qualidade Reciclagem Reflorestamento Necessidade Respeito Responsabilidade Seres humanos Sustentabilidade

    Conscientização Escola Educação Criança Vida Divulgação Ação Importância Futuro Vida Reeducação Conhecimento Sociedade Homem Ensino Família Incentivo Projetos Práticas

    Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.

    O quadro 6 nos mostra a predominância de elementos sociais e culturais

    livremente evocados pelos estudantes brasileiros, sobre os elementos

    biogeoquímicos, mediante o termo indutor Educação Ambiental. Também mostra a

    predominância de elementos facilmente associados à educação sobre elementos

    sociais e culturais gerais. Contudo, os resultados que obtivemos pela análise do

    conteúdo das questões dissertativas, indicam que esses estudantes,

    maioritariamente, representam socialmente a educação ambiental a partir de uma

    perspectiva conservadora, como a definem Jacobi (2003), Carvalho (2004), Loureiro

    (2004) e Guimarães (2007), por exemplo.

    Isto é, se por um lado os elementos sociais e culturais aparecem com

    veemência nas evocações dos estudantes brasileiros pesquisados, por outro se

  • 33

    trata, sobretudo, de que a educação ambiental deve estar a serviço da conservação,

    de modo que uma discussão sobre as causas sociais e culturais da problemática

    ambiental – salvo poucas exceções como se verá mais adiante neste texto – em

    geral não é considerada pelos estudantes como práticas de educação ambiental.

    Por sua vez, os estudantes portugueses fizeram 311 evocações para o

    termo indutor Educação Ambiental, utilizando 136 palavras diferentes, das quais 24

    foram evocadas três ou mais vezes, e que correspondem a 60,77% do total de

    evocações dos estudantes portugueses mediante esse indutor. O quadro 7

    apresenta os resultados.

    Quadro 7 – Distribuição dos elementos evocados conforme a FI, frequência de evocação (f) e a ordem média de evocação (Ome) / estudantes portugueses. .

    FI Elementos f Ome

    < 2,50

    Elementos f Ome

    ≥ 2,50

    ≥ 10

    Reciclagem

    Preservação

    Poluição

    Ensinar

    36

    19

    10

    10

    1,50

    1,95

    2,10

    2,30

    Ambiente

    Respeito

    16

    12

    2,62

    2,58

    < 10

    Cuidar

    Aprender

    Natureza

    Cidadania

    Lixo

    Ecoponto4

    8

    7

    7

    5

    4

    3

    2,37

    2,00

    2,14

    1,80

    1,50

    2,00

    Proteger

    Limpar

    Reutilizar

    Água

    Animais

    Sustentabilidade

    Alertar

    Informação

    Consciencialização

    Escola

    Futuro

    Renovar

    9

    8

    5

    4

    4

    4

    3

    3

    3

    3

    3

    3

    2,89

    3,62

    2,60

    2,50

    2,50

    3,00

    2,67

    2,67

    3,00

    3,00

    3,00

    3,00

    Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.

    O tratamento dos dados pelo Programa EVOC indica que o núcleo central

    das representações sociais sobre Educação Ambiental dos estudantes portugueses

    4 Os Ecopontos são containers para coleta seletiva de resíduos, distribuídos em vários pontos de fácil

    acesso nas cidades portuguesas.

  • 34

    pesquisados estrutura-se em torno dos elementos Poluição, Preservação,

    Reciclagem, Ensinar. Essas palavras foram mais frequentes e mais prontamente

    evocadas que as demais e foram consideradas mais importantes em 80,00%,

    63,19%, 63,16% e 60,00%, respectivamente, das vezes em que foram evocadas.

    A periferia próxima do núcleo central é composta pelos elementos Ambiente

    e Respeito e os elementos de contraste são Cuidar, Aprender, Natureza, Cidadania,

    Lixo e Ecoponto. Assim, todos esses elementos fornecem indícios de como os

    estudantes portugueses representam socialmente a educação ambiental.

    Como no caso dos estudantes brasileiros, também os portugueses focalizam

    a preservação do meio ambiente. Mas, dão grande importância à reciclagem de

    resíduos e isto aparece tanto em suas evocações, como o próprio termo reciclagem

    o atesta bem como menções à reutilização e à coleta seletiva de lixo, um tanto

    débeis nas evocações livres, porém veementes nas respostas às questões

    dissertativas.

    E ao separarmos os resultados obtidos pelo programa computacional EVOC

    para o termo indutor Educação Ambiental em elementos biogeoquímicos e

    elementos sociais e culturais, notamos alguma diferença com o que ocorre com os

    estudantes brasileiros pesquisados. O quadro 8 apresenta os resultados obtidos

    com os estudantes portugueses.

    Quadro 8 – Elementos biogeoquímicos e elementos sociais e culturais no núcleo central, periferia próxima, elementos de contraste e periferia distante das representações sociais sobre educação ambiental dos estudantes portugueses.

    Elementos Biogeoquímicos

    Elementos Sociais e Culturais

    Gerais Associados à Educação

    Água Ambiente Animais Natureza

    Cidadania Cuidar Ecoponto Limpar Lixo Poluição Preservação Proteger Reciclagem Respeito Reutilizar Sustentabilidade

    Alertar Aprender Consciencialização Ensinar Escola Futuro Informação Renovar

    Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.

  • 35

    Como o resultados alocados no quadro 8 nos mostram, por um lado, assim

    como dentre os estudantes brasileiros, no caso dos estudantes portugueses

    pesquisados há predominância de elementos sociais e culturais livremente evocados

    sobre os elementos biogeoquímicos, mediante o termo indutor Educação Ambiental.

    Por outro lado, há uma diferença no que concerne aos elementos sociais e culturais,

    pois, como se nota, os elementos gerais predominam sobre os elementos facilmente

    associados a educação.

    É de se notar, a respeito, a presença dos elementos Cuidar, Ecoponto,

    Limpar, Lixo, Poluição, Preservação, Proteger, Reciclagem e Reutilizar, alguns dos

    quais débeis em evocação, mas veementes nas respostas dissertativas, como já o

    dissemos. A presença de tais elementos nas representações sociais sobre

    Educação Ambiental dos estudantes portugueses pesquisados encontra alguma

    justificação no relato de Guerra; Schmidt & Gil Nave (2008).

    Em investigação desenvolvida em 15 mil estabelecimentos de ensino

    portugueses, de todos os níveis, Guerra, Schimidt & Gil Nave (2008) avaliaram a

    situação dos projetos de Educação Ambiental e de Educação para o

    Desenvolvimento Sustentável então em andamento nessas instituições. Os autores

    do estudo identificaram as dinâmicas, os constrangimentos e as potencialidades dos

    projetos desenvolvidos nas escolas por iniciativa das próprias escolas, ou de ONGs,

    de autarquias, ou de empresas ligadas ao setor ambiental.

    Com relação às temáticas mais abordadas nos projetos, os autores

    verificaram uma concentração em temas que denominam como muito restritos, a

    saber: política dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar); fauna e flora; conservação da

    natureza, sendo que este último consiste, para esses autores, na “âncora

    fundamental” da educação ambiental portuguesa.

    Os autores ainda observam que a ênfase no tema dos 3Rs tem a ver com a

    política portuguesa para a questão ambiental, a qual compromete-se com metas e

    diretrizes europeias para os investimentos em Educação Ambiental. “Daí, a

    produção sistemática e relativamente volumosa de materiais didácticos e da

    promoção desta área temática por parte de entidades públicas e por empresas de

    resíduos patrocinadas, em larga medida, também pela Administração Local e

    Central.” (GUERRA; SCHMIDT & GIL NAVE, 2008, p. 13).

    Com efeito, os resultados desse estudo demonstram que a política dos 3Rs

    é trabalhada em 46% dos projetos de educação ambiental, sendo ainda que outros

  • 36

    42% dos projetos tratam de temas como compostagem e a questão de resíduos

    perigosos. Ou seja, 88% de todos os projetos mencionados pelas escolas

    portuguesas estão ligados à questão dos resíduos.

    Contudo, observando-se os dados em conjunto, nota-se uma semelhança

    entre os estudantes pesquisados de ambos os grupos. Os elementos sociais e

    culturais aparecem em maior número que os elementos biogeoquímicos, todavia,

    isso não parece significar que para esses sujeitos, brasileiros e portugueses, a

    educação ambiental deva enfatizar também as causas sociais e culturais da

    problemática ambiental, como se mostrará aquando da discussão dos resultados

    obtidos pela analise do conteúdo das respostas às questões dissertativas sobre

    educação ambiental. Se há uma diferença, a mesma tem a ver com ações: os

    estudantes brasileiros pesquisados ressaltam a temática da conscientização para a

    preservação dos recursos naturais, ao passo que os estudantes portugueses, além

    de realçarem a preservação, também atribuem grande importância à reutilização e à

    reciclagem.

    De tudo que dissemos, resulta que para os estudantes portugueses

    participantes da pesquisa, a educação ambiental consiste em atividades

    pedagógicas cuja finalidade é conscientizar para preservação ambiental.

    Os resultados obtidos com os estudantes brasileiros compatibilizam-se com

    os achados de Teixeira & Saccol (2012) e de Vendrúsculo et al (2013), ainda que

    esses autores tenham realizado sua investigação com professores. Os autores

    identificaram que dentre as concepções de educação ambiental de seus sujeitos de

    pesquisa, destacam-se aquelas voltadas para a conservação dos ambientes

    naturais. Na mesma linha encontram-se os estudos de Morales (2009) e Kus (2012),

    os quais concluíram que seus sujeitos de pesquisa também priorizam em suas

    práticas pedagógicas ações mais voltadas à preservação ambiental do que, por

    exemplo, à discussão da problemática ambiental em sentido mais amplo. Por sua

    vez Guimarães (2006) aponta a predominância no Brasil de concepções de

    educação ambiental que priorizam e preservação da natureza em detrimento de

    concepções voltadas à crítica da racionalidade instrumental e do modelo econômico

    que nela se sustenta de cuja ação resulta a problemática ambiental (LOUREIRO,

    2004; LEFF, 2006; LEFF, 2007; GUIMARÃES, 2006).

    No caso dos estudantes portugueses, os resultados obtidos também

    encontram justificação na literatura. Além do estudo de Guerra, Schmidt & Gil Nave

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    (2008), já mencionado, aportamos também as conclusões de Pinto (2004) e Leão et

    al (2011), para quem a educação ambiental em Portugal desenvolve-se nos anos de

    1990, tendo como referência as mesmas deliberações de reuniões internacionais

    promovidas pela ONU desde os anos de 1970 nas quais se destaca que dita

    educação consiste em processos por meio dos quais indivíduos e coletividades

    constroem valores, conhecimentos, atitudes e competências voltadas para a

    conservação do ambiente.

    Quanto aos dados obtidos com as questões dissertativas, dez dentre os 100

    estudantes brasileiros não responderam à pergunta sobre o que entendiam por