PROPOSTA DE CONDUÇÃO DO SEMINÁRIO Sebastião...Ambiental em Diferentes Instituições de Ensino...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
SETOR DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Edival Sebastião Teixeira
RELATÓRIO CONCLUSIVO DE ESTÁGIO PÓS-DOUTORAL
I – Identificação
Pós-doutorando: Edival Sebastião Teixeira
Supervisora: Prof.ª Dr.ª Araci Asinelli da Luz
Linha de Pesquisa: Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano
II – Título do Projeto: Representações Sociais sobre Meio Ambiente e Sobre
Educação Ambiental em Estudantes de Formação de Professores em Diferentes
Instituições do Brasil e de Portugal.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO......................................................................................
2. REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................
2.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: TEORIA E FENÔMENO...................
2.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO
AMBIENTAL.........................................................................................
3. METODOLOGIA..................................................................................
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................
4.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE MEIO AMBIENTE................
4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL...
4.3 SOBRE A OCORRÊNCIA DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE
EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS CURSOS...........................................
5. PRINCIPAIS CONCLUSÕES DA INVESTIGAÇÃO.............................
6. AGRADECIMENTOS............................................................................
7. REFERÊNCIAS.....................................................................................
8. APÊNDICE............................................................................................
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1. INTRODUÇÃO
O projeto – Representações Sociais sobre Meio Ambiente e sobre Educação
Ambiental em Diferentes Instituições de Ensino Superior do Brasil e de Portugal –
articula-se com investigações que são desenvolvidas no Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional, da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná (PPGDR), focadas na temática das representações sociais de meio
ambiente e práticas pedagógicas em educação ambiental.
O PPGDR congrega pesquisadores das áreas de sociologia, psicologia,
educação, biologia, química, agronomia, geografia e engenharia florestal. Seu
objetivo é constituir-se como um espaço para a práxis relativa à teorização e a
práticas que ocorrem na interface entre sociedade e natureza, através da produção
e difusão de conhecimento científico, na perspectiva interdisciplinar, contribuindo
com a formação de profissionais capazes de atuar na pesquisa, no ensino e como
agentes de desenvolvimento regional em bases sustentáveis, com habilidades para
dialogar com os diferentes campos do conhecimento.
O Programa está estruturado com uma Área de Concentração –
Desenvolvimento Regional Sustentável – e três linhas de pesquisa: 1) Ambiente e
Sustentabilidade, que privilegia estudos sobre: a) a biodiversidade e os recursos
naturais da região, na perspectiva da conservação e da restauração do meio e das
espécies nativas e o seu aproveitamento, respeitando as dimensões culturais,
sociais e econômicas, b) implicações das atividades humanas no meio, incluindo o
monitoramento de contaminantes nos alimentos e no ambiente, c) análise das
condições atuais e das possibilidades de uso de tecnologias apropriadas à
produção, à transformação e à circulação de produtos regionais em bases
sustentáveis; 2) Regionalidade e Desenvolvimento, que prioriza estudos sobre: a)
organizações públicas e privadas e as estratégias para o desenvolvimento regional
sustentável, b) representações sociais e percepção ambiental; 3) Educação e
Desenvolvimento, que prioriza estudos sobre: a) educação e sustentabilidade; b)
representações sociais e desenvolvimento, c) relações entre linguagem, educação e
trabalho.
É nesse contexto que foi desenvolvido o projeto de pesquisa
Representações Sociais sobre Meio Ambiente e Práticas Pedagógicas em Educação
Ambiental, apoiado financeiramente pelo Edital MCT/CNPq 03/2009 - Consolidação
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de Novos Campi e Novas Universidades. Essa pesquisa, já concluída, teve por
objetivo contribuir com o estudo sobre relações entre representações sociais sobre
meio ambiente e práticas pedagógicas escolares desenvolvidas em diferentes
instituições de ensino básico, localizadas na região sudoeste do Paraná.
Com o desenrolar dessa pesquisa novas questões foram surgindo,
particularmente no concernente às relações entre as representações sobre meio
ambiente e práticas sociais em diferentes contextos e às relações entre
representações sociais sobre meio ambiente, educação ambiental e formação de
professores.
Desta forma, no âmbito do PPGDR, além das pesquisas centradas na
questão das representações sociais de meio ambiente e educação ambiental na
educação básica, outras investigações foram sendo desenvolvidas com o aporte da
teoria das representações sociais investigando relações entre representações e
práticas sociais em diversos contextos. Contudo, permaneceram em aberto lacunas
identificadas relativas representações de meio ambiente, educação ambiental e
formação de professores.
Por essa razão, foi proposta como parte das atividades de um estágio pós-
doutoral no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do
Paraná uma investigação sobre o tema da formação de professores particularmente
no que diz respeito às temáticas da educação ambiental, em diferentes instituições
de ensino superior.
A inserção de Portugal na pesquisa decorreu do interesse do pesquisador
em aproveitar uma estada de três meses de estudos em Psicologia Ambiental na
Universidade de Évora para desenvolver um estudo comparativo. A proposição
desse estudo foi feita ao Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Paraná, no contexto do projeto de pós-doutoramento.
O trabalho ora apresentado, portanto, consiste no relatório conclusivo das
atividades de pós-doutoramento desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Paraná. A parte principal do texto consiste na
apresentação e discussão dos resultados de uma investigação que teve por objetivo
analisar as relações que existem entre as representações sociais sobre meio
ambiente e sobre educação ambiental em estudantes de formação de professores
em diferentes instituições do Brasil e de Portugal. Como apêndice é apresentada
uma descrição sumária das demais atividades desenvolvidas no estágio.
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS: TEORIA E FENÔMENO
As representações sociais consistem em um conjunto de valores, ideias e
práticas que possibilitam às pessoas orientarem-se em seu mundo material e social
e controlá-lo, bem como se comunicarem na medida em que fornece aos membros
de determinada comunidade um conjunto de códigos que permitem classificar e
nomear os vários aspectos da realidade individual e coletiva (MOSCOVICI, 2003).
Por essa razão, esse fenômeno, ao mesmo tempo social e individual, tem sido
objeto de investigação em diversos contextos sociais.
Na pesquisa social, a expressão “representações sociais” refere-se a um
fenômeno e a um método, isto é, a um objeto e a uma teoria que o explica e que
orienta o seu estudo. Enquanto método considera “a diversidade dos indivíduos,
atitudes e fenômenos, em toda sua estranheza e imprevisibilidade”, tendo por
objetivo “descobrir como os indivíduos e grupos podem construir um mundo estável,
previsível, a partir de tal diversidade” (MOSCOVICI, 2003, p. 79). Por sua vez,
enquanto objeto, as representações sociais têm a ver com formas de conhecimento
elaborados socialmente e partilhados que permitem a construção de uma realidade
comum a determinado grupo social. Assim, pontua Jodelet (2001, p. 22),
[...] Igualmente designada como saber do senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este, devido à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais.
Esses conhecimentos socialmente elaborados, portanto, não são
conhecimentos de tipo científico, embora uma representação social possa ter como
ponto de partida um conhecimento científico, como exemplifica o caso clássico
investigado por Moscovici (2012) sobre a representação da psicanálise. Então, as
representações sociais – enquanto fenômeno – se referem aos conhecimentos de
senso comum que se manifestam em conceitos, explicações e afirmações
originadas no cotidiano, através dos processos de comunicação interindividual, e
que têm a capacidade de orientar condutas. Em outras palavras, tratam-se de
teorias do senso comum, constituídas de conceitos articulados, que se originam das
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e nas práticas sociais, que dão sentido a realidade social, tornando “familiar o não-
familiar, ou a própria não-familiaridade” (MOSCOVICI, 2003, p. 54).
Enquanto método, a teoria das representações sociais, considera dois
processos cognitivos como sendo os geradores das representações: a ancoragem e
a objetivação. Por meio desses processos, os indivíduos inserem em seus quadros
de referência o “novo”, comparando-o e interpretando-o relativamente ao já familiar,
o que permite, por sua vez, reproduzi-lo e controlá-lo (MOSCOVICI, 2003).
A ancoragem é o processo por meio do qual o indivíduo suporta e
transforma o desconhecido, reduzindo-o a categorias e imagens relacionadas a
coisas que lhes são familiares. Isto é, a ancoragem “transforma algo perturbador,
que nos intriga, em nosso sistema de categorias e o compara com um paradigma de
uma categoria que nós pensamos ser apropriada” (MOSCOVICI, 2003, p. 61). Por
essa razão, o autor em questão afirma que sua teoria não concebe a existência de
um pensamento ou uma percepção que não possuam ancoragem, porque os
sistemas de classificação e nomeação não são simplesmente meios para rotular ou
graduar pessoas ou objetos. Com efeito, diz Moscovici,
não podemos esquecer que interpretar uma idéia1 ou um ser não-familiar sempre requer categorias, nomes, referências, de tal modo que a entidade nomeada possa ser integrada na “sociedade de conceitos” de Gombrich. Nós os fabricamos com esta finalidade, na medida em que os sentidos emergem, nós os tornamos tangíveis e visíveis e semelhantes às idéias e seres que nós já integramos e com os quais nós estamos familiarizados (MOSCOVICI, 2003, p. 70).
Enfim, a ancoragem tem a ver, então, com a assimilação de imagens, ideias
e pensamentos novos, a cognições anteriores propiciando, dessa forma, o
surgimento de novas representações sociais. Por meio desse processo os
acontecimentos são incorporados e reinterpretados mediante três condições: a
primeira condição é a atribuição de um sentido ao objeto novo que se relacione com
algum sentido já estabelecido, já portador de um significado; a segunda condição
tem a ver com a instrumentalização do saber, mediante a qual o sujeito interpreta o
conhecimento novo dando-lhe uma nova forma, traduzindo-o e incorporando-o ao
1 Conforme grafia no original, anterior à vigência do Acordo Ortográfico firmado entre os países de língua
portuguesa. Esse procedimento de manter a grafia de determinadas palavras tal como no original, em citações literais, ocorreu em todas as situações similares a esta neste relatório.
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seu universo socialmente vivido; finalmente, a terceira condição consiste no
enraizamento, isto é, uma espécie de organização estrutural do objeto novo ao
sistema de pensamento do sujeito (MOSCOVICI, 2003).
A objetivação, por sua vez, torna concreto algo abstrato, como a
transformação de uma ideia, um pensamento, em uma ação, em um ato de
comportamento. Em outras palavras, o que é uma cognição, pelo processo da
objetivação transforma-se em algo tangível; de uma cognição a um ato manifesto.
É, pois, pelo construto da objetivação que se explica o fato de um ente
imaginário tornar-se um ente “quase tangível”, para usar as palavras de Moscovici
(2003).
Portanto, a objetivação é o processo por meio do qual se une o não familiar
com a realidade, tornando-se, dessa forma, esse não familiar em realidade. Assim,
“percebida primeiramente como um universo puramente intelectual e remoto, a
objetivação aparece, então, diante de nossos olhos, física e acessível. [...] objetivar
é descobrir a qualidade icônica de uma idéia; é reproduzir um conceito em uma
imagem” (MOSCOVICI, 2003, p. 72).
A objetivação se divide em três fases: a primeira é uma construção seletiva
que ocorre a partir do contato do sujeito com os conhecimentos científicos. As
pessoas se apropriam desses conhecimentos, incorporando-os ao seu universo
conceitual de acordo com suas interpretações. A segunda fase é chamada de
esquematização, processo este pelo qual se fundamenta determinada
representação atribuindo-lhe um significado e uma forma de organização, mediante
a qual a ideia básica da representação será veiculada. Por fim, na terceira fase da
objetivação ocorre a atribuição de uma função à representação que seja capaz de
produzir um efeito, isto é, que seja capaz de orientar condutas (JODELET, 2001).
Entendemos que o modo como Jovchelovitch (2000) se refere a esses
processos é bastante elucidativo e, por essa razão, transcrevemos um trecho de sua
obra:
A objetivação e a ancoragem são as formas específicas de mediação social das representações sociais, que elevam para um nível “material” a produção simbólica de uma comunidade. Elas dão conta da concreticidade das representações sociais e ao mesmo tempo podem ser comparadas com os processos de condensação e deslocamento [...]. Objetivar é condensar significados diferentes – que podem ser ameaçadores, ou indizíveis – para fazê-los familiares, domesticados. Ao assim fazer, sujeitos sociais ancoram o desconhecido em uma realidade já institucionalizada e deslocam
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a geografia de significados estabelecidos que as sociedades lutam para perpetuar. Esses são processos que mantêm e desafiam, que reproduzem e superam, que se formam, e, ao mesmo tempo, ajudam a formar a vida social de uma comunidade (JOVCHELOVITCH, 2000, p. 81-82).
De acordo com Almeida (2009), Willem Doise assinala que a teoria das
representações sociais pode ser considerada como uma grande teoria no sentido
em que sua finalidade é a de propor conceitos de base para a identificação e análise
de diferentes dinâmicas sociais. Não obstante, pontua o autor, como as demais
grandes teorias nas ciências humanas, a teoria das representações sociais
necessita ser completada “por descrições mais detalhadas dos processos que sejam
compatíveis com a teoria geral...” (DOISE, 1993, apud ALMEIDA, 2009, p. 717).
Assim, essa grande teoria de que fala Doise, desdobra-se em correntes
complementares, não incompatíveis entre si pelo fato de provirem da mesma matriz
(SÁ, 1998). As principais correntes teóricas que se desenvolveram a partir da grande
teoria são: a abordagem culturalista; a abordagem societal; a abordagem estrutural.
Na abordagem culturalista, de Denise Jodelet, o enfoque privilegiado para a
compreensão das representações sociais é histórico e cultural. No desenvolvimento
da pesquisa sob esse enfoque, devem-se apreender os discursos individuais e
grupais que mantém as representações sociais; os comportamentos e as práticas
sociais que manifestam as representações; identificar e analisar documentos e
registros que institucionalizam comportamentos e práticas; identificar e analisar as
diferentes interpretações que tais comportamentos e práticas recebem dos mais
variados meios de comunicação de massa (ALMEIDA, 2005).
Jodelet (2009) propõe um esquema de análise das representações sociais
de indivíduos e grupos que delimita em três esferas o pertencimento das
representações. No esquema proposto, o sujeito é concebido como ator social ativo,
que é afetado pelos diferentes aspectos da vida cotidiana que se desenvolvem em
contextos de interação e inscrição. A inscrição de que fala a autora, compreende
tanto a participação do sujeito em uma rede de interações por meio da comunicação,
quanto à “pertença social”, a qual se define em vários níveis: “o do lugar na estrutura
social e da posição nas relações sociais, o da inserção nos grupos sociais e culturais
que definem a identidade, o do contexto da vida onde se desenrolam as interações
sociais, o do espaço social e público” (JODELET, 2009, p. 696).
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As esferas de pertencimento propostas no esquema de Jodelet são: a esfera
da subjetividade; a esfera da intersubjetividade; a esfera da transubjetividade. Na
primeira esfera consideram-se os processos que operam no nível dos indivíduos,
devendo-se distinguir dentre as representações aquelas que o sujeito elabora
ativamente daquelas que o sujeito integra passivamente no contexto de sua vida
cotidiana. “Levar em consideração o nível subjetivo”, acrescenta a autora em
questão, “permite acessar os significados que os sujeitos, individuais ou coletivos,
atribuem a um objeto localizado no seu meio social e material, e examinar como os
significados são articulados à sua sensibilidade, seus interesses, seus desejos, suas
emoções e ao funcionamento cognitivo” (JODELET, 2009, p. 697).
Na esfera da intersubjetividade o foco recai sobre as situações que
contribuem para o estabelecimento das representações que são elaboradas em
interação, considerando-se, sobretudo, “as elaborações negociadas e estabelecidas
em comum pela comunicação verbal direta”.
E na esfera da transubjetividade, devem-se levar em consideração os
processos que atravessam tanto o nível subjetivo quanto o nível intersubjetivo. Ou
seja, essa esfera remete a tudo que é comum aos indivíduos e aos grupos sociais
dos quais participam. Por conseguinte, o foco de análise recai sobre a importância
dos repertórios que servem à construção das significações partilhadas; e recai
também sobre o espaço social e público em que circulam as representações
provenientes de diferentes fontes: os meios de comunicação de massa, as normas
institucionalizadas, as ideologias, as religiões, dentre outras.
Na abordagem societal, Wlillem Doise propõe um modelo teórico
metodológico para o estudo quantitativo das representações sociais, fenômeno que
define “como princípios organizadores das relações simbólicas entre indivíduos e
grupos” (DOISE, 2002, p. 30).
Esse autor defende que o estudo das representações sociais exige a
abordagem do objeto a partir de três hipóteses, as quais, por sua vez,
corresponderiam ao que chama de investigação em três fases: 1ª) a identificação
dos referentes ou pontos de referência comuns aos indivíduos e grupos implicadas
nas trocas simbólicas em análise; 2ª) a explicação de como e por que os indivíduos
de determinado grupo diferenciam-se entre si nas relações que eles mantêm com a
representação social em análise; 3ª) a identificação das ancoragens “das tomadas
de posição em outras realidades simbólicas coletivas, como as hierarquias de
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valores, as percepções que os indivíduos constroem das relações entre grupos e
categorias e as experiências sociais que eles partilham com o outro” (DOISE, 2002,
p. 30).
Nessa corrente da grande teoria toma-se como pressuposto que as
produções culturais e ideológicas dão significação aos comportamentos individuais,
ao mesmo tempo em que criam diferenciações sociais a partir de princípios gerais.
Almeida (2005), afirma que na abordagem societal a análise do objeto deve levar em
conta: as experiências individuais, no sentido de identificar os modos pelos quais os
indivíduos organizam suas experiências com o meio ambiente; os processos
interindividuais e situacionais que estão na raiz das dinâmicas sociais; os modos
pelos quais as diferentes posições sociais ocupadas nas interações modulam os
processos individuais e interindividuais; os sistemas de crenças, representações,
avaliações e normas sociais dos sujeitos.
Já na abordagem estrutural, de Abric, considera-se que toda representação
social organiza-se e estrutura-se em torno de um núcleo central. De acordo com
Franco (2004), toda objetivação que se cristaliza passa a constituir o núcleo de
determinada representação, o qual é composto por um ou vários elementos cuja
finalidade é, ao mesmo tempo, dar uma significação e uma espécie de organização
à representação. Assim, é a presença de determinados elementos centrais que
asseguram a permanência de uma representação (SÁ, 1996).
É pela identificação desse núcleo que se infere a existência de consensos
relativamente compartilhados acerca de algum objeto. Por essa razão, entende-se
que o núcleo central repercute a memória coletiva, o que implica admitir que sua
formação seja marcada pelas condições históricas inerentes ao contexto do grupo
social que o manifesta (SÁ, 1996; FRANCO, 2004; CROMACK, BURSZTYN &TURA,
2009).
O núcleo central organiza-se como uma estrutura hierarquizada, que se
determina pela natureza do objeto e pelo sistema de valores e normas sociais que
constituem o contexto ideológico do grupo. Este núcleo é formado por um ou mais
elementos que dão o significado à representação, de modo que se constitui como
seu elemento essencial.
De acordo com Sá (1996; 1998), em torno dos atributos centrais de uma
representação orbitam um conjunto de elementos periféricos passíveis de captação
e compreensão.
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O núcleo central confere uma base relativamente estável à representação,
de modo que se caracteriza por ser um tanto resistente a mudança. Por isso,
“assegura a continuidade e a permanência de uma representação por tempos mais
ou menos longos” (POLLI et al., 2009), a despeito do contexto imediato no qual a
representação é posta em evidência.
Já o sistema periférico é mais maleável e suscetível à mudança e, por essa
razão, consegue integrar experiências particulares, a heterogeneidade e as
idiossincrasias. Cromack, Bursztyn & Tura (2009, p. 628), afirmam que o sistema
periférico “promove a interface entre a realidade concreta e o núcleo central,
atualizando-o e contextualizando-o constantemente, daí resultando sua mobilidade e
flexibilidade, permitindo a expressão individualizada e tornando possível que a
representação social se ancore na realidade do momento”.
Enfim, a teoria das representações sociais esboçada em linhas gerais nesse
tópico, tem sido amplamente utilizada para analisar práticas sociais por diversas
disciplinas, além da psicologia, tais como a geografia, a história, a saúde, a
educação, a antropologia e a sociologia, dentre outras. No Brasil são inúmeros os
pesquisadores de diferentes disciplinas que se dedicam à compreensão de tais
fenômenos com o aporte da teoria das representações sociais, dentre os quais
alguns foram referenciados acima.
Para o conceito de práticas sociais nesta pesquisa lançamos mão das
conclusões de Almeida, Santos & Trindade (2000) quanto a que tais práticas
referem-se a conjuntos de ações organizadas em encadeamento e padronizadas
pelos indivíduos. Por conseguinte, as práticas sociais não são meros atos
desprovidos de significação, mas, por outro lado, não se trata também de ações que
vão além do senso comum.
Todavia, ainda que o conceito especificado seja simples, o estudo das
práticas sociais evoca questões muito importantes, sobretudo, concernentes à
delimitação do objeto de estudo e aos delineamentos metodológicos, pois não basta
apoiar-se em descrições ou em inferências acerca de articulações entre
representações e práticas. Com efeito, é necessário “construir instrumentos que
permitam uma coleta mais próxima do contexto concreto em que elas se
desenvolvem, permitindo compreender os significados que vão adquirindo em
contextos diversos” (ALMEIDA, SANTOS & TRINDADE, 2000, p. 264).
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2.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
De acordo com Reigota (2007), não há consenso na comunidade científica
sobre a definição de meio ambiente, e por essa razão o autor prefere considerá-lo
como representação e não como conceito. Para esse autor nas investigações sobre
representação social sobre meio ambiente que têm adotado a linha da psicologia
social o ambiente tem sido representado mais comumente sob três concepções:
antropocêntrica, globalizante e naturalista.
Os sujeitos que representam meio ambiente na concepção antropocêntrica
focalizam sua atenção na utilidade dos recursos naturais para a sobrevivência do ser
humano, os quais dispõem destes para garantir melhor condição de vida para si. Os
que se pautam na concepção globalizante observam as relações de reciprocidade
entre a sociedade e a natureza, enfocando aspectos naturais, políticos, sociais,
econômicos, filosóficos e culturais, compreendendo o ser humano como social. Já
na terceira concepção, os aspectos ressaltados são os da natureza, com o meio
ambiente voltado apenas para o que é natural envolvendo, portanto, conceitos tais
como os de ecossistema, habitat e ecologia. Nessa visão, o ser humano é um
observador passivo que estaria fora do contexto da fauna e da flora, e do meio
abiótico, não tendo com esses laços de responsabilidades ou pertencimento.
Embora tenha constatado que não se esgotam os mais variados conceitos
de meio ambiente e suas definições, Reigota (2007), contudo, considera que o termo
parece indicar uma amplitude maior do que a noção de ecossistema sugere.
Um ecossistema pode ser compreendido como o conjunto dos seres bióticos
e abióticos que interagem entre si em determinado espaço, trocando insumos e
energia de modo equilibrado e interdependente. Por sua vez, a noção de meio
ambiente implica considerar a inserção humana como parte desse espaço,
interagindo com os demais componentes e inserindo a dimensão social em seus
vários aspectos, tais como o histórico, o cultural, o político e o econômico.
Por sua vez, Raynaut (2004, p. 27) considera que a palavra meio ambiente
designa “o mundo físico e biótico encarado nas suas relações com o homem”. Para
o autor, trata-se de uma noção multicêntrica que se aplica “conforme as perspectivas
adotadas, a indivíduos, grupos, organismos e populações de seres vivos”. Assim,
concordando-se com Raynaut, entender-se-ia o meio ambiente como um espaço de
interações entre elementos naturais e culturais, as quais são passíveis de serem
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compreendidas a partir de determinadas perspectivas de tempo, de espaço e de
concepções de mundo.
Em Saber Ambiental, Leff (2007, p. 17) afirma que “o ambiente emerge
como um saber integrador da diversidade, de novos valores éticos e estéticos e dos
potenciais sinergéticos gerados pela articulação dos processos ecológicos,
tecnológicos e culturais”.
Assim, considerando autores como Leff (2007), Raynaut (2004) e Reigota
(2007), o conceito de meio ambiente envolve elementos biogeoquímicos, sociais e
culturais, avançando para uma visão que vai além de uma perspectiva meramente
naturalista. Aceitando essa noção, tomamos neste projeto de pesquisa o conceito
apresentado por Marcos Reigota, ou seja, a concepção de meio ambiente como
referente a um “lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e
sociais estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam
processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de
transformação do meio natural e construído” (2007, p. 154).
Enquanto espaço determinado, o conceito de meio ambiente incorpora uma
dimensão temporal. Desta forma, considerando-se todos os cuidados necessários
para a generalização de resultados de investigação científica, é possível utilizar o
recurso do recorte para que seja possível obter um conhecimento contextual mais
aprofundado.
Enquanto lugar percebido, esse conceito de meio ambiente leva em conta
que cada sujeito o delimita e sobre ele atua a partir de suas representações,
informações específicas, experiências e vivências cotidianas em seu tempo e
espaço.
E enquanto espaço de interações dinâmicas, nessa concepção se aceita que
as constantes transformações propiciadas pelas interações entre fatores bióticos e
abióticos, entre grupos sociais e o meio natural ou construído implica
transformações no próprio indivíduo. Com efeito, interagindo com os elementos do
seu ambiente num processo criativo que é ao mesmo tempo interno (no sentido
subjetivo) e externo, ao transformar o ambiente o ser humano também modifica sua
própria visão a respeito da natureza e do meio em que vive. Em outras palavras, ao
transformar seu ambiente a humanidade transforma-se a si mesma.
Assim, ao se aceitar o conceito de meio ambiente enquanto espaço onde
seres humanos e natureza tecem relações, ao invés de um espaço em que tais
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elementos apenas intercambiam, se pretende salientar que o estudo do meio
ambiente e daquilo a ele relacionado exige ultrapassar limites disciplinares,
principalmente do campo da biologia e considerar outros campos, como os das
ciências sociais.
É nesse sentido que se pode compreender – ressalvando-se a possibilidade
de outras leituras – a afirmação de Reigota (2007, p. 14) acerca de que “o primeiro
passo para a realização da educação ambiental deve ser a identificação das
representações das pessoas envolvidas no processo educativo”.
O autor fez essa afirmação mencionando o contexto de um curso de
formação de educadores ambientais por ele ministrado na década de 1990. Na
opinião de Reigota, ao se identificarem tais representações melhor podem ser
programadas atividades de capacitação tendo em vista que as práticas pedagógicas
são executadas conforme as concepções de mundo, de homem e de educação dos
educadores. E as representações a que se refere o autor em questão são as sobre
meio ambiente e sobre educação ambiental.
A intensidade dos impactos das ações humanas sobre o ambiente nunca
foram tão marcantes e abrangentes quanto os que decorreram dos avanços da
industrialização, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX (LIMA, 2005).
Com efeito, o sistema de produção e a matriz de consumo que se seguiram à
segunda guerra mundial foram, e vêm sendo, apoiados no uso intensivo de recursos
naturais desconsiderando-se, todavia, os potenciais impactos desse modelo de
desenvolvimento. E esse modelo que desconsidera os impactos da atividade
econômica sobre o ambiente, produz “além da poluição habitual, acidentes de maior
magnitude que, ao serem divulgados, alertavam a opinião pública para o potencial
dos novos riscos que ameaçavam a vida social” (LIMA, 2005, p. 27 e 28).
De fato, a lista de desastres ambientais causados pela ação humana a partir
da segunda metade do século próximo passado é extensa. Lima (2005) cita, por
exemplo, os acidentes nas usinas nucleares de Three Miles Island e Chernobyl, em
1979 e 1986, respectivamente e o vazamento de gás na planta de Bhopal da Union
Carbide em 1984. Esses eventos causaram a perda de milhares de vidas humanas,
bem como a contaminação permanente, ou pelo menos muito prolongada, de
grandes extensões territoriais.
Por sua vez, Antunes &Teixeira (2011) mencionam os problemas de saúde
causados pela poluição ambiental na região de Cubatão nos anos de 1980; a
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degradação ambiental causada pela mineração e pela exploração predatória do
Cerrado e da Amazônia, sobretudo a partir da década de 1970; a intoxicação por
agrotóxicos utilizados nas plantações de tomate do Nordeste e de tabaco no Sul; o
grande derramamento de petróleo no Alasca com o acidente do navio petroleiro
Exxon Valdez em 1989, cujos efeitos ainda são sentidos na vida marinha da região;
e os casos mais recentes do vazamento de óleo de refinaria da Petrobrás ocorrido
em 2005, na planta de Araucária, Paraná, que comprometeu seriamente a fauna e a
flora, bem como o abastecimento de água para populações ribeirinhas do Rio Iguaçu
e a explosão da plataforma de petróleo da Shell no Golfo do México em 2011.
Pode-se citar também como catastrófico o naufrágio do navio petroleiro
Prestige na costa da Galícia em 2002, contaminando milhares de quilômetros do
litoral francês, espanhol e português. Apesar de decorridos 12 anos desde esse
evento, implicações politicas, sociais, econômicas e culturais são ainda sentidas
(MIRA, 2013).
Então, problemas como esses não foram e não são ignorados pelos meios
acadêmicos, empresariais, intelectuais e governamentais. Por isso, debates como os
suscitados por publicações como o livro de Rachel Carson (2010) e o Relatório
Meadows em 1972 repercutiram amplamente no mundo. Esse último documento,
elaborado pelo MIT a pedido do Clube de Roma, apontava para a possibilidade do
esgotamento de determinados recursos naturais em curto espaço de tempo em
função do modelo econômico vigente.
Contudo, a Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente,
promovida pela ONU em 1972, na cidade de Estocolmo, fracassou na elaboração de
um acordo em escala global para a redução da atividade industrial. O fracasso
decorreu da divergência de posição entre os países então considerados
desenvolvidos e os países considerados então em desenvolvimento. Os primeiros
propunham a redução da atividade industrial – o que ficou conhecido como
desenvolvimento zero – ao passo que os segundos defendiam o crescimento da
atividade industrial em seus territórios, posição esta que ficou conhecida como a do
“desenvolvimento a qualquer custo” (ANTUNES e TEIXEIRA, 2011).
Mas a conferência de Estocolmo teve resultados significativos, com
destaque para a “Declaração sobre o Ambiente Humano”. Nesse documento os
conferencistas propuseram que é indispensável um trabalho de educação em
questões ambientais com o objetivo “de favorecer a formação de uma opinião
-
16
pública bem informada e uma conduta dos indivíduos, das empresas e das
coletividades, inspiradas no sentido de sua responsabilidade com a proteção e
melhoria do meio, em toda a sua dimensão humana” (ONU, 1972). Assim no ano de
1977 na cidade de Tbilisi, definiram-se objetivos fundamentais da educação
ambiental (ONU, 1977), a qual foi definida como “uma dimensão dada ao conteúdo e
à prática da educação, orientada para a resolução dos problemas concretos do meio
ambiente por intermédio de enfoques interdisciplinares e de uma participação ativa e
responsável de cada indivíduo e da coletividade” (BRASIL, 1997, p. 229).
Posteriormente, nas conferências de Moscou, 1987 e do Rio de Janeiro, em 1992,
consolida-se a ideia de que a educação ambiental deveria fazer parte das políticas
educacionais dos países signatários desses eventos promovidos pela ONU.
Com efeito, desde o início da década de 1990 já estão já claras as relações
entre economia, problemas sociais e ambientais (LEFF, 2006; SUÁREZ &
MARCOTE, 2009), de modo que é consenso na comunidade científica internacional
atual que a crise ambiental tenha como causa direta aspetos socioeconômicos. Isto
é, se aceita cabalmente que o crescimento econômico ilimitado implica, para além
do avanço sobre recursos naturais, o problema dos resíduos gerados pela
transformação industrial e, consequentemente, a poluição das águas, dos solos e
dos ares.
Na década de 1990, ainda, concebia-se como finalidade para a educação
ambiental o desenvolvimento de atitudes, valores e condutas em favor da
preservação ambiental, ou, como se passa a falar mais claramente após a
Conferência do Rio de Janeiro de 1992, uma educação que visa à sustentabilidade.
E então, mesmo uma década após a Rio-92, a ONU declara o período 2005-2014
como a década da educação ambiental para o desenvolvimento sustentável
(SUÁREZ & MARCOTE, 2009).
Suárez e Marcote (2009, p. 90) consideram que atualmente um novo passo
foi dado quanto aos fins da Educação Ambiental, isto é, mudou-se de foco: de uma
educação a favor do meio ambiente para “uma educação para transformar a
sociedade, de modo que se busquem as mudanças econômicas, sociais, políticas e
culturais que nos levem a alcançar um modelo de desenvolvimento que implique não
-
17
só a melhora ambiental, mas também uma melhora social, econômica e política em
nível global.”2.
No Brasil a temática da educação ambiental ganha relevância e começa a
aparecer em trabalhos científicos já partir de meados da década de 1980
(GUIMARÃES, 2007). Além disso, a Constituição de 1988 estabelece que ao Poder
Público o dever de promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino. A
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, estabelece a educação
ambiental como diretriz para a elaboração de currículos e, posteriormente, nos
Pârametros Curiculares Nacionais (PCN) sugere-se que essa modalidade da
educação deva ser entendida como uma dimensão transversal dos currículos
escolares (BRASIL, 1997). Em 1999 é promulgada a Lei 5975, a qual estabelece a
política nacional de educação ambiental (BRASIL, 1999).
Enrique Leff (2007) entende que a proposta para a educação ambiental da
conferência de Tibilisi fundamenta-se numa abordagem holística e interdisciplinar de
mundo e de ciência, em oposição à abordagem racional e instrumental que
desembocou na crise socioambiental. Por essa razão, afirma o autor, a educação
ambiental deve fundar-se sobre dois princípios básicos: 1º) “uma nova ética que
orienta os valores e comportamentos sociais para os objetivos de sustentabilidade
ecológica e equidade social”; 2º) “uma nova concepção do mundo como um sistema
complexo levando a uma reformulação do saber e a uma reconstituição do
conhecimento” (LEFF, 2007 p. 237).
Mas, adotar esses princípios implica adotar uma ou outra dentre visões de
mundo. Por sua vez, diferentes visões de mundo orientam diferentes projetos de
sociedade e de educação. Desta forma, uma sociedade conservadora tenderia a
uma educação igualmente conservadora, ao passo que uma sociedade não
conservadora tenderia a um projeto de educação aberto à transformação. Assim, no
Brasil, autores como Carvalho (2004), Loureiro (2004), Jacobi (2003) e Guimarães
(2007) afirmam a manifestação de duas tendências da educação ambiental: uma
conservadora ou convencional – que seria hegemônica em nosso país – e a outra,
transformadora ou crítica. Para este último autor, é necessário qualificar as
diferentes propostas de educação ambiental presentes na sociedade, tendo-se em
2 Em espanhol no original.
-
18
vista a importância do desvelamento “da apropriação ideológica que dela fazem
grupos dominantes” (2007, p. 67).
Na visão conservadora a prática pedagógica focaliza o indivíduo e sua ação
no ambiente no sentido de sensibilizar para determinada forma de relação homem-
natureza, a qual consiste numa visão dualista que separa em polos distintos a
sociedade e a natureza (LOUREIRO, 2004; GUIMARÃES, 2007; MIRANDA,
MIRANDA & GIOTTO, 2009). Assim, como afirma Mauro Guimarães, essa visão
conservadora se torna ingênua e simplista, pois ao focalizar apenas o
comportamento dos indivíduos em relação às suas práticas ambientais não propicia
meios para que os educandos percebam as “relações de poder que engendram a
realidade socioambiental, e simplista por estabelecer relações lineares (não
complexas) de causa e efeito dos fatos sociais” (GUIMARÃES, 2006, p. 25).
Na prática pedagógica conservadora os educadores geralmente apresentam
temas ambientais de forma abstrata, neutra e descontextualizada da realidade
social. Os alunos recebem, assim, grande quantidade de informações desconexas,
com inúmeros relatos sobre o estado de miséria e da degradação ambiental, ou
ainda, e mais frequentemente, abordando aspectos pontuais, com temáticas
predominantes como o lixo, a proteção do verde, o uso e a degradação de
mananciais e ações para conscientizar a população em relação à poluição do ar, tais
como apontam os estudos realizados por Kus (2012) e Sander (2012) sobre
representações sociais de meio ambiente e práticas pedagógicas em educação
ambiental com professores de diferentes níveis de ensino.
Por sua vez, Loureiro (2006), entende que a visão conservadora ignora a
ação humana na esfera social negando, ao mesmo tempo, a historicidade e a práxis.
O que resulta disso seria a ênfase numa ecologia descontextualizada dos problemas
ambientais e assim, a luta pela proteção da natureza se sobressai como algo
hierarquicamente prioritário sobre a luta por justiça e igualdade social, ao invés de
ambas as coisas – a proteção da natureza e a luta pela justiça – serem percebidas
como intrinsecamente vinculadas.
Enfim, sendo a concepção de sujeito das pedagogias conservadoras – como
Teixeira (2008) as define – a mesma da educação ambiental conservadora, a prática
pedagógica nesta última, tal como nas primeiras, tende a localizar no indivíduo,
senão a origem dos problemas ambientais, pelo menos grande parte da solução. Por
essa razão, não questiona a forma de relação homem-natureza dualista, cartesiana,
-
19
que separa em polos distintos a sociedade e a natureza, o sujeito e o objeto
(LOUREIRO, 2004; GUIMARÃES, 2007).
Da mesma forma, nunca problematiza as causas e as consequências sociais
e econômicas da crise ambiental, as quais têm sua origem nas formas de relação
engendradas pelo capitalismo (ANTUNES & TEIXEIRA, 2011). Pelo contrário, ao
limitar-se ao apelo para a sensibilização em relação à necessidade de preservar e
conservar o ambiente mediante a utilização de práticas pontuais acaba
despolitizando o debate e não estabelecendo qualquer relação entre a educação e a
possibilidade de transformação da sociedade (GUIMARÃES, 2007).
Por sua vez, na vertente crítica da educação ambiental privilegia-se a
dimensão política da questão ambiental. Por isso, a ênfase recai no questionamento
do modelo econômico vigente, concebendo-o como motivador das formas de relação
social que engendram e mantém os problemas ambientais, os quais são, portanto,
problemas sociais. Desta forma, para Guimarães (2007), as propostas da educação
ambiental crítica são “voltadas para as transformações da sociedade em direção à
igualdade e à justiça social” (2007, p. 19).
Então, considerando-se que o conhecimento é uma construção social,
historicamente datada, não neutra, que atende a diferentes fins reproduzindo e
produzindo relações sociais (LOUREIRO, 2006), a educação ambiental nessa
vertente se constitui como uma ação política orientada para a transformação das
estruturas sociais, econômicas e políticas vigentes. E é por essa razão que a prática
pedagógica crítica visa muito mais do que a mudança de atitude para com o meio
ambiente imediato. Com efeito, como a compreende Carvalho (2004), na educação
ambiental crítica as dimensões éticas e políticas são essenciais, tendo em vista a
necessária construção de uma cidadania ativa a qual implica a formação de um
sujeito capaz de agir em defesa dos direitos de camadas mais amplas da população.
Direitos estes, que se diga, incluem a manutenção de um ambiente saudável para si
e para os outros e que seja capaz de sustentar a vida com uma boa qualidade.
Especificamente, os resultados das investigações sobre representações
sociais sobre meio ambiente e práticas pedagógicas em educação ambiental na
Educação Básica que obtivemos (ANTUNES & TEIXEIRA, 2011; TEIXEIRA &
ALGERI, 2011; MACHADO & TEIXEIRA, 2011) não têm sido diferentes dos
encontrados na literatura quanto ao fato de que os professores que atuam nesse
nível de educação, em geral têm uma concepção naturalista e antropocêntrica e que
-
20
suas práticas em educação ambiental priorizam ações pontuais e fragmentadas,
para não dizer superficiais, tais como também apontam autores como Segura
(2001); Velloso (2006); Thomaz & Camargo (2007); Costa (2009); Farias (2009);
Brasil (2009); Rodrigues e Loureiro (2001) para citar apenas alguns exemplos de
estudos da última década. Esses dados sugerem fortemente que a questão da
formação dos educadores para lidar com questões ambientais precisa ser ainda
bastante analisada, sobretudo, tendo-se em vista as possibilidades que
investigações nesse sentido têm de aportarem subsídios para essa formação. E
essa foi uma das motivações para o estudo ora relatado.
-
21
3. METODOLOGIA
Participaram da investigação 100 estudantes brasileiros e 74 estudantes
portugueses, de ambos os sexos, matriculados em cursos de formação de
professores na Universidade Federal da Fronteira Sul e na Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, no Brasil e na Universidade de Évora e no Instituto
Superior de Educação e Ciências de Lisboa, em Portugal. Todas essas instituições
concordaram com a realização do estudo.
Todos os sujeitos tinham idade superior a 18 anos, foram informados dos
objetivos da investigação e participaram voluntariamente da pesquisa. O projeto foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná (CAAE: 15468213.1.0000.5547). Em Portugal, não houve a necessidade
de o projeto passar por comitê de ética em pesquisa.
No Brasil os cursos dos estudantes pesquisados eram as licenciaturas em
Letras Português-Inglês, em Letras Português e Espanhol, em Matemática, em
Ciências Naturais, em Ciências Biológicas e em Química. Já em Portugal os cursos
eram de formação de professores em Educação Física, em Artes Visuais, em Letras
Português e Espanhol, em Matemática, em Educação Pré-escolar e 1º Ciclo,
Educação Básica3 e em Intervenção Comunitária.
Os dados foram coletados mediante utilização de um protocolo elaborado
especificamente para o estudo.
O instrumento era composto por duas questões de evocação livre, cujos
termos indutores eram Meio Ambiente e Educação Ambiental e questões
dissertativas nas quais os sujeitos deveriam justificar as evocações induzidas pelos
respetivos termos indutores.
Foi solicitado aos sujeitos que escrevessem as primeiras quatro palavras
que lhes viessem à mente quando pensassem em Meio Ambiente. Posteriormente
os sujeitos deveriam escolher as duas palavras que consideravam mais importantes
dentre as que evocaram e, em seguida, justificar suas evocações e importância
atribuída. Para o termo indutor Educação Ambiental, além dessas questões havia
outras questões dissertativas em que os sujeitos deveriam, ainda, dizer o que
entendiam por educação ambiental, se observam o desenvolvimento de práticas
3 O que se denomina Ensino Básico em Portugal corresponde ao que se denomina no Brasil como
Ensino Fundamental.
-
22
pedagógicas de educação ambiental em seus cursos e, em caso afirmativo, que
descrevessem as principais práticas.
Os questionários foram aplicados pelo pesquisador e colaboradores em sala
de aula, nos meses de maio e junho de 2013 no Brasil. A coleta de dados em
Portugal, feita exclusivamente pelo pesquisador, se deu em setembro e outubro do
mesmo ano, também em sala de aula.
Os dados obtidos com as questões de evocação livre foram tratados de
acordo com os procedimentos usuais para a identificação do núcleo central de uma
representação social. Para tanto se utilizou o programa computacional EVOC e as
orientações descritas em Sá (1996). Para a análise pelo programa EVOC foram
desprezadas as palavras cuja frequência de evocação foi inferior a três. O programa
computacional utilizado permitiu identificar a frequência de evocação (f), a ordem
média de evocação por palavra (Ome), os elementos mais suscetíveis de pertencer
ao núcleo central das representações sociais pesquisadas, bem como os elementos
da periferia próxima, os elementos de contraste e os elementos da periferia distante.
A frequência intermediária (FI) escolhida foi igual a 10 e a ordem média de
evocação (Ome) obtida pelo tratamento dos dados pelo EVOC foi igual a 2,50.
As evocações para cada grupo de estudantes para cada termo indutor,
foram agrupadas em um quadro geral onde há quatro células ou quadrantes
principais. Assim, as palavras que tiveram frequência de evocação superior à FI e
cuja Ome foi inferior a 2,50, foram alocadas no quadrante superior esquerdo. Isto é,
nesse quadrante estão as palavras (elementos) mais evocadas e mais prontamente
evocadas, as quais, por sua vez, são as mais suscetíveis de pertencer ao núcleo
central da representação social em análise.
No quadrante superior direito foram alocadas as palavras (elementos) cuja
evocação foi superior à FI, mas que não estiveram dentre as mais prontamente
evocadas. Esses elementos compõem a periferia próxima do núcleo central.
No quadrante inferior direito foram alocadas as palavras (elementos) cuja
frequência de evocação foi igual ou inferior à FI escolhida, mas que estão dentre as
mais prontamente evocadas, isto é, cuja Ome foi inferior a 2,50. Esses são os
elementos de contraste.
Finalmente, no quadrante inferior direito estão alocados os elementos que
fazem parte da periferia distante do núcleo central. Trata-se das palavras cuja
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23
frequência de evocação foi inferior à FI e que estão dentre as menos prontamente
evocadas, isto é, cuja Ome é igual ou superior a 2,50.
Os critérios de confirmação de pertencimento ao núcleo central das
representações sociais analisadas foram: frequência de evocação superior à FI;
anterioridade de evocação, ou seja, cuja Ome foi inferior a 2,50; percentual de
importância atribuída pelos sujeitos aos elementos evocados igual ou superior e 50.
Desta forma, portanto, somente os elementos que atenderam a todos esses critérios
foram confirmados como pertencentes ao núcleo central das representações.
Os dados obtidos com as questões dissertativas foram submetidos à análise
de conteúdo, conforme descrita por Bardin (1979) e Franco (2008). Foram excluídos
da análise por esse procedimento os questionários em que os sujeitos não
responderam à seguinte pergunta: Para você, o que é Educação Ambiental? Desta
forma, excluiu-se 10, dos 100 questionários respondidos pelos estudantes brasileiros
e um dentre os 74 questionários portugueses. A análise de conteúdo privilegiou a
identificação de unidades temáticas.
Para inferência sobre as representações sociais identificadas, os dados
tratados pelo programa EVOC foram cruzados com os dados obtidos pela análise de
conteúdo. Esses procedimentos para coleta de dados visando a identificação e
análise do núcleo central de uma representação social têm sido utilizados com
frequência em investigações na área, tais como nos estudos de Cromack; Bursztyn
& Tura (2009), POLLI et al. (2009), Machado & Aniceto, (2010), Kus (2012) e Vieira
& Resende (2012).
-
24
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE MEIO AMBIENTE
Mediante o termo indutor Meio Ambiente os estudantes brasileiros fizeram
450 evocações, utilizando 114 palavras distintas das quais 34 foram evocadas três
ou mais vezes, totalizando 329 evocações, as quais correspondem a 73,11% do
total de evocações dos estudantes brasileiros para esse indutor.
Os resultados obtidos pelo tratamento dos dados com o programa EVOC
são apresentados no quadro 1.
Quadro 1 – Distribuição dos elementos evocados conforme a FI, a frequência de evocação (f), e a ordem média de evocação (Ome) / estudantes brasileiros.
FI Elementos f Ome
< 2,50
Elementos f Ome
≥ 2,50
>10
Preservação
Natureza
Água
Fauna
39
28
22
14
1,90
2,18
2,00
2,36
Poluição
Conscientização
Animais
Flora
Vida
Floresta
Biodiversidade
Desmatamento
22
19
15
15
14
14
13
11
2,54
2,79
2,73
3,00
2,50
2,64
2,61
2,54
≤ 10
Árvores
Lixo
Homem
Rios
Reciclagem
Proteção
Seres vivos
Mundo
Respeito
Educação
Verde
10
9
7
7
5
4
4
3
3
3
3
2,10
2,11
2,14
2,29
1,60
1,75
2,25
2,00
2,00
2,33
2,33
Sustentabilidade
Reflorestamento
Sociedade
Saúde
Ecossistemas
Cuidado
Destruição
Futuro
Sobrevivência
Meio Ambiente
Matas Ciliares
10
5
4
4
4
3
3
3
3
3
3
2,70
3,20
2,50
2,75
3,00
2,67
3,00
3,00
3,00
3,30
3,67
Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.
-
25
Dentre os elementos mais suscetíveis de pertencer ao núcleo central das
representações sociais sobre meio ambiente dos estudantes brasileiros
pesquisados, isto é, aqueles de maior frequência e mais prontamente evocados,
confirmaram-se como pertencentes a esse núcleo os elementos Água e
Preservação. Esses elementos, além de estarem dentre os de maior frequência e
mais prontamente evocados, foram considerados 86,36% e 82,05%,
respectivamente, mais importantes que os demais dentre todas as vezes em que
foram evocados, confirmando-se, dessa forma, seu pertencimento ao núcleo central.
No núcleo periférico próximo (quadrante superior direito, em destaque),
destacam-se os elementos Conscientização, o qual foi considerado mais importante
que os demais em 57,89% das vezes em que foi evocado e os elementos Vida e
Desmatamento, considerados mais importantes que os demais, respectivamente, em
57,14% e 54,54% das vezes em que foram lembrados. Assim, esses resultados
denotam a importância de tais elementos nas representações sociais sobre meio
ambiente dos estudantes brasileiros pesquisados, ainda que os mesmos pertençam
ao núcleo periférico dessas representações.
Observando-se os elementos do núcleo central (Água e Preservação), os
demais elementos do quadrante superior esquerdo em destaque (Natureza e Fauna)
e o conjunto dos elementos da periferia próxima, nota-se que dentre as 12 palavras
mais evocadas há predominância de elementos biogeoquímicos do ambiente,
conforme se demonstra no quadro 2.
Quadro 2 – Elementos biogeoquímicos e elementos sociais e culturais no núcleo central e periferia próxima das representações sociais sobre meio ambiente dos estudantes brasileiros.
Elementos Biogeoquímicos Elementos Sociais e Culturais
Água
Animais
Biodiversidade
Fauna
Flora
Floresta
Natureza
Vida
Conscientização
Desmatamento
Poluição
Preservação
Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.
-
26
Esse desequilíbrio na distribuição dos elementos, em que os biogeoquímicos
se sobressaem sobre os sociais e culturais, também aparece nas respostas às
questões dissertativas. Com efeito, quando solicitados a justificar suas evocações,
bem como a atribuição de maior ou menor importância a determinados elementos,
em geral os estudantes brasileiros enfatizaram os primeiros elementos em
detrimento dos sociais e culturais. Quanto a esses últimos aspectos, as repostas
desses estudantes remetem mais à degradação dos ambientes, como sugerem os
elementos Desmatamento e Poluição ou a atitudes que visam à preservação
ambiental, como sugerem os elementos Conscientização e Preservação, do que às
causas políticas, econômicas e históricas da problemática ambiental.
Ou seja, apesar de aspectos sociais e culturais que remetem a atitudes, tais
como a conscientização, a preservação, a poluição, a reciclagem, a proteção, a
educação, o cuidado e o reflorestamento estarem presentes nas representações
sociais sobre meio ambiente dos estudantes brasileiros, como se pode observar no
conjunto dos dados alocados no quadro 1, os resultados que obtivemos indicam a
presença de uma concepção que não avança para além de uma perspectiva
naturalista de meio ambiente, tal como Reigota (2007) a define.
Assim, com base nos resultados que obtivemos, mostrados nos quadros 1 e
2 e na concepção de Reigota (2007), formulamos as representações sociais dos
estudantes brasileiros pesquisados da seguinte maneira: o meio ambiente se refere
a um lugar determinado ou percebido, composto basicamente de elementos
biogeoquímicos e bastante suscetíveis de degradação pela ação humana, sendo,
portanto, necessária sua preservação. Os aspectos sociais e culturais aí envolvidos
têm mais a ver com atitudes ou ações de preservação ou de recomposição do que
com o fato de que o meio ambiente mesmo consiste de ambos os aspectos, os
quais, por sua vez, estão em constantes relações dinâmicas e processos de
interação que implicam transformações no meio natural e construído (REIGOTA,
2007).
Quanto aos estudantes portugueses pesquisados, os mesmos fizeram 308
evocações mediante o termo indutor Meio Ambiente, utilizando 105 palavras
distintas, das quais 25 foram evocadas três ou mais vezes, totalizando 212
evocações, as quais correspondem 68,83% do total de evocações desses
estudantes para o termo indutor em questão.
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27
Os resultados obtidos pelo tratamento dos dados com o programa EVOC
são apresentados no quadro 3.
Quadro 3 – Distribuição dos elementos evocados conforme a FI, a frequência de evocação (f), e a ordem média de evocação (Ome) / estudantes portugueses.
FI Elementos f Ome
< 2,50
Elementos f Ome
≥ 2,50
> 10
Natureza
Reciclagem
Verde
Água
35
29
13
11
1,86
2,58
2,31
2,10
Poluição
Árvores
24
12
2,54
2,79
≤ 10
Floresta
Sustentabilidade
Rios
Pureza
Saúde
Flores
Ar puro
Fauna
Flora
10
6
4
3
3
3
3
3
3
2,10
1,67
1,75
1,67
1,67
2,00
2,33
2,33
2,33
Animais
Preservação
Espaços verdes
Lixo
Ecologia
Sociedade
Terra
Vida
Atmosfera
Cuidado
9
9
5
5
4
4
4
4
3
3
3,00
3,11
2,60
3,40
2,50
2,75
2,75
2,75
3,00
3,33
Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.
Dentre os quatro elementos mais frequentes e mais prontamente evocados
pelos estudantes portugueses, foram confirmados como pertencentes ao núcleo
central de suas representações sociais sobre meio ambiente os elementos
Reciclagem, Natureza e Água, os quais foram considerados mais importantes que
os demais em 75,86%, 74,28% e 63,64%, respetivamente, de todas as vezes em
que foram lembrados.
Os elementos Poluição e Árvores, os quais, embora não tenham sido
considerados mais importantes que os demais, tampouco estejam dentre os mais
prontamente evocados, estão dentre as de maior frequência, dado que sugere sua
importância na periferia próxima do núcleo central das representações sociais sobre
meio ambiente dos estudantes portugueses.
Então, comparando-se os núcleos centrais – e suas periferias próximas –
das representações sobre meio ambiente de ambos os grupos de estudantes
-
28
pesquisados, não se observam diferenças significativas, a não ser pelos elementos
que os compõem. No caso brasileiro estão Preservação e Água, ao passo que no
caso português estão Reciclagem, Natureza e Água. Ou seja, em ambos há uma
atitude – preservar ou reciclar – e elementos biogeoquímicos que precisam ser
preservados ou reciclados: Água e Natureza.
Os resultados que obtivemos acerca da importância atribuída ao elemento
Água pelos dois grupos de estudantes pesquisados, são compatíveis com achados
anteriores nossos e de outros autores, com estudantes e professores de instituições
urbanas e rurais de nível fundamental, médio ou superior, bem como com sujeitos
não estudantes, no Brasil e em Portugal, como se pode observar em Pinto (2004),
Guerra; Schmidt & Gil Nave (2008), Polli et al (2009), Machado & Teixeira (2011),
Teixeira & Algeri (2011), Kus (2012), Kus, Guimarães & Teixeira (2012), Yamada,
Favarim & Teixeira (2013).
Da mesma forma que no caso dos brasileiros, os estudantes portugueses,
diante do termo indutor Meio Ambiente, evocam livremente com mais frequência
elementos biogeoquímicos que elementos sociais e culturais. Essa afirmação se
sustenta na observação do conjunto dos elementos do núcleo central e da periferia
próxima. Ou seja, dentre os seis elementos aí alocados, apenas dois (Reciclagem e
Poluição) são de origem social ou cultural. O primeiro consiste numa ação ou
atitude, ao passo que o segundo resulta de ações humanas – portanto sociais –
sobre o meio, como se observa no quadro 4.
Quadro 4 – Elementos biogeoquímicos e elementos sociais e culturais no núcleo central e periferia próxima, das representações sociais sobre meio ambiente dos estudantes portugueses.
Elementos Biogeoquímicos Elementos Sociais e Culturais
Água
Árvores
Natureza
Verde
Poluição
Reciclagem
Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.
Quando se observa todas as 25 palavras evocadas três ou mais vezes pelos
estudantes portugueses, a predominância de elementos biogeoquímicos sobre
elementos sociais e culturais se avoluma. Com efeito, apenas sete elementos
-
29
desses últimos são encontrados, dentre os 25. São eles, ordenados da menor para a
maior ordem média de evocação: Sustentabilidade (1,67), Poluição (2,54),
Reciclagem (2,58), Sociedade (2,75), Preservação (3,10), Cuidado (3,33) e Lixo
(3,40).
Com isso podemos dizer que nas representações sociais sobre meio
ambiente dos estudantes portugueses pesquisados, à semelhança do que ocorre
dentre os estudantes brasileiros pesquisados, predominam elementos
biogeoquímicos. Em outras palavras, trata-se, também, de uma representação de
tendência naturalista.
E isso também se observa nas respostas às questões dissertativas. Quando
instados a justificar suas escolhas, em geral os estudantes portugueses pesquisados
mencionavam a importância da preservação e do cuidado para com o ambiente
tendo em vista a manutenção da vida e a garantia de um ambiente saudável para as
gerações futuras.
A atitude, a ação ou a importância da reciclagem aparecem com veemência
tanto nas evocações quanto nas respostas dos estudantes portugueses. Isto se
pode justificar pelo de fato de que essa temática tem sido amplamente difundida
pelos meios de comunicação, sido objeto de inúmeros projetos de educação
ambiental (GUERRA, SCHMIDT & GIL NAVE, 2008) em Portugal; e objeto de
programas tais como a separação e coleta seletiva de resíduos em inúmeras
instituições públicas ou privadas na Europa ocidental.
Por fim, afirmamos que no tocante a representação social sobre meio
ambiente, os resultados que obtivemos com os estudantes de formação de
professores brasileiros e portugueses pesquisados não diferem substancialmente
dos achados publicados em outros estudos, tais como os de Martinho & Talamoni
(2007), Reigota (2007), Machado e Teixeira (2011), Kus, Guimarães & Teixeira
(2012), Yamada, Favarim & Teixeira (2013). Todos esses estudos, realizados com
docentes ou discentes de graduação, do ensino médio ou do ensino fundamental,
concluem que as representações sociais em questão focalizam o ambiente sempre
numa perspectiva que enfatiza mais os aspectos biogeoquímicos do meio ambiente
do que os aspectos sociais e culturais.
Por outro lado, nossos resultados para o termo indutor Meio Ambiente
também nos permitem afirmar a sensibilidade dos estudantes brasileiros e
portugueses para com a problemática ambiental, ainda que os grupos difiram entre
-
30
si em alguns aspectos: os estudantes brasileiros destacam a necessidade de
preservar, ao passo que os estudantes portugueses ressaltam a necessidade de
reciclar. Ambos os grupos, portanto, têm atitudes diferentes: de preservar, não usar
ou usar bem (Brasil) ou de reciclar o que já foi usado (Portugal).
Esse modo de representar socialmente o meio ambiente repercute nas
representações sociais sobre educação ambiental dos estudantes pesquisados,
como se demonstrará a seguir.
4.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Para o termo indutor Educação Ambiental os estudantes brasileiros fizeram
436 evocações, utilizando 155 palavras distintas das quais 35 foram evocadas cinco
mais vezes, totalizando 298 evocações que correspondem a 68,35% do total de
evocações dos estudantes brasileiros para esse termo indutor. Os resultados são
apresentados no quadro 5.
Quadro 5 – Distribuição dos elementos evocados conforme a FI, frequência de evocação (f) e a ordem média de evocação (Ome) / estudantes brasileiros.
FI Elementos f Ome
< 2,50
Elementos f Ome
≥ 2,50
≥ 10
Conscientização Preservação Meio ambiente Escola
51 33 25 14
2,06 2,27 2,44 2,29
Natureza Respeito Poluição Educação
15 11 11 10
2,53 2,64 2,82 2,90
< 10
Reciclagem Lixo Reeducação Sustentabilidade Responsabilidade Conhecimento Reflorestamento Sociedade Necessidade Homem Ensino Família Incentivo Projetos Práticas Seres humanos
9 7 6 6 6 6 6 6 6 5 5 4 4 3 3 3
1,89 2,29 1,67 1,67 1,83 2,00 2,00 2,17 2,33 1,80 2,40 1,75 2,00 2,00 2,33 2,33
Criança Vida Florestas Conservação Divulgação Ação Importância Cuidado Futuro Qualidade Vida
6 6 5 4 4 3 3 3 3 3 3
2,50 3,33 2,60 2,75 2,75 2,67 2,67 3,00 3,00 3,00 3,33
Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.
-
31
Os resultados obtidos com o tratamento dos dados pelo programa EVOC,
apresentados no quadro 5, indicam que o núcleo central das representações sociais
sobre educação ambiental dos estudantes brasileiros estrutura-se em torno dos
elementos Conscientização, Preservação e Escola. Essas palavras tiveram uma
frequência de evocação superior às demais, foram também as mais prontamente
evocadas e consideradas mais importantes que as demais em 78,43%, 51,51% e
50,00%, respectivamente, das vezes em que foram lembradas. A palavra Meio
Ambiente, também está dentre as mais frequentes e mais prontamente evocadas, o
que denota sua importância na representação, ainda que não tenha sido
considerada mais importante que as demais em pelos menos 50% das vezes em
que foi lembrada.
Como se pode observar no quadro 5, na periferia próxima do núcleo central
(quadrante superior direito, destacado) estão os elementos Natureza, Respeito,
Poluição e Educação. Dentre os elementos de contraste (quadrante inferior
esquerdo, destacado) chamamos atenção para Reeducação, Conhecimento,
Necessidade, Reciclagem, Sociedade, Homem, Ensino, Projetos e Práticas. Por sua
vez, na periferia distante (quadrante inferior direito, destacado) observam-se, dentre
outros, elementos Vida, Criança, Divulgação, Ação, Importância, Futuro e Vida.
Desta forma, pode-se afirmar que os elementos pertencentes à periferia
próxima, o conjunto dos elementos de contraste e os elementos da periferia distante,
bem como os próprios elementos do núcleo central, sugerem que para os
estudantes brasileiros a educação ambiental prioriza atividades educacionais cuja
finalidade é conscientizar para a preservação ambiental. Com efeito, no caso desses
estudantes sempre há em suas evocações pelo menos um elemento que pode ser
facilmente associado à educação, seja esta em sentido escolar, seja em sentido
amplo. No núcleo central há o elemento Escola, na periferia próxima, Educação,
dentre os elementos de contraste estão Reeducação, Conhecimento, Ensino,
Projetos e Práticas; e na periferia distante, estão os elementos Criança, Divulgação,
Ação, Futuro e Vida.
Tal como fizemos com o termo indutor Meio ambiente, também separamos
os resultados obtidos pelo programa computacional EVOC em elementos
biogeoquímicos e elementos sociais e culturais. Não obstante, tendo em vista que os
elementos ligados à educação também são sociais e culturais, também subdividimos
entre elementos sociais e culturais gerais e elementos sociais e culturais facilmente
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32
associados á educação escolar ou não escolar. O quadro 6 apresenta os resultados
obtidos com os estudantes brasileiros.
Quadro 6 – Elementos biogeoquímicos e elementos sociais e culturais no núcleo central, periferia próxima, elementos de contraste e periferia distante das representações sociais sobre educação ambiental dos estudantes brasileiros.
Elementos Biogeoquímicos
Elementos Sociais e Culturais
Gerais Associados à Educação
Meio ambiente Natureza Florestas
Conservação Cuidado Lixo Poluição Preservação Qualidade Reciclagem Reflorestamento Necessidade Respeito Responsabilidade Seres humanos Sustentabilidade
Conscientização Escola Educação Criança Vida Divulgação Ação Importância Futuro Vida Reeducação Conhecimento Sociedade Homem Ensino Família Incentivo Projetos Práticas
Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.
O quadro 6 nos mostra a predominância de elementos sociais e culturais
livremente evocados pelos estudantes brasileiros, sobre os elementos
biogeoquímicos, mediante o termo indutor Educação Ambiental. Também mostra a
predominância de elementos facilmente associados à educação sobre elementos
sociais e culturais gerais. Contudo, os resultados que obtivemos pela análise do
conteúdo das questões dissertativas, indicam que esses estudantes,
maioritariamente, representam socialmente a educação ambiental a partir de uma
perspectiva conservadora, como a definem Jacobi (2003), Carvalho (2004), Loureiro
(2004) e Guimarães (2007), por exemplo.
Isto é, se por um lado os elementos sociais e culturais aparecem com
veemência nas evocações dos estudantes brasileiros pesquisados, por outro se
-
33
trata, sobretudo, de que a educação ambiental deve estar a serviço da conservação,
de modo que uma discussão sobre as causas sociais e culturais da problemática
ambiental – salvo poucas exceções como se verá mais adiante neste texto – em
geral não é considerada pelos estudantes como práticas de educação ambiental.
Por sua vez, os estudantes portugueses fizeram 311 evocações para o
termo indutor Educação Ambiental, utilizando 136 palavras diferentes, das quais 24
foram evocadas três ou mais vezes, e que correspondem a 60,77% do total de
evocações dos estudantes portugueses mediante esse indutor. O quadro 7
apresenta os resultados.
Quadro 7 – Distribuição dos elementos evocados conforme a FI, frequência de evocação (f) e a ordem média de evocação (Ome) / estudantes portugueses. .
FI Elementos f Ome
< 2,50
Elementos f Ome
≥ 2,50
≥ 10
Reciclagem
Preservação
Poluição
Ensinar
36
19
10
10
1,50
1,95
2,10
2,30
Ambiente
Respeito
16
12
2,62
2,58
< 10
Cuidar
Aprender
Natureza
Cidadania
Lixo
Ecoponto4
8
7
7
5
4
3
2,37
2,00
2,14
1,80
1,50
2,00
Proteger
Limpar
Reutilizar
Água
Animais
Sustentabilidade
Alertar
Informação
Consciencialização
Escola
Futuro
Renovar
9
8
5
4
4
4
3
3
3
3
3
3
2,89
3,62
2,60
2,50
2,50
3,00
2,67
2,67
3,00
3,00
3,00
3,00
Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.
O tratamento dos dados pelo Programa EVOC indica que o núcleo central
das representações sociais sobre Educação Ambiental dos estudantes portugueses
4 Os Ecopontos são containers para coleta seletiva de resíduos, distribuídos em vários pontos de fácil
acesso nas cidades portuguesas.
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34
pesquisados estrutura-se em torno dos elementos Poluição, Preservação,
Reciclagem, Ensinar. Essas palavras foram mais frequentes e mais prontamente
evocadas que as demais e foram consideradas mais importantes em 80,00%,
63,19%, 63,16% e 60,00%, respectivamente, das vezes em que foram evocadas.
A periferia próxima do núcleo central é composta pelos elementos Ambiente
e Respeito e os elementos de contraste são Cuidar, Aprender, Natureza, Cidadania,
Lixo e Ecoponto. Assim, todos esses elementos fornecem indícios de como os
estudantes portugueses representam socialmente a educação ambiental.
Como no caso dos estudantes brasileiros, também os portugueses focalizam
a preservação do meio ambiente. Mas, dão grande importância à reciclagem de
resíduos e isto aparece tanto em suas evocações, como o próprio termo reciclagem
o atesta bem como menções à reutilização e à coleta seletiva de lixo, um tanto
débeis nas evocações livres, porém veementes nas respostas às questões
dissertativas.
E ao separarmos os resultados obtidos pelo programa computacional EVOC
para o termo indutor Educação Ambiental em elementos biogeoquímicos e
elementos sociais e culturais, notamos alguma diferença com o que ocorre com os
estudantes brasileiros pesquisados. O quadro 8 apresenta os resultados obtidos
com os estudantes portugueses.
Quadro 8 – Elementos biogeoquímicos e elementos sociais e culturais no núcleo central, periferia próxima, elementos de contraste e periferia distante das representações sociais sobre educação ambiental dos estudantes portugueses.
Elementos Biogeoquímicos
Elementos Sociais e Culturais
Gerais Associados à Educação
Água Ambiente Animais Natureza
Cidadania Cuidar Ecoponto Limpar Lixo Poluição Preservação Proteger Reciclagem Respeito Reutilizar Sustentabilidade
Alertar Aprender Consciencialização Ensinar Escola Futuro Informação Renovar
Fonte: dados coletados e organizados pelos pesquisadores.
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35
Como o resultados alocados no quadro 8 nos mostram, por um lado, assim
como dentre os estudantes brasileiros, no caso dos estudantes portugueses
pesquisados há predominância de elementos sociais e culturais livremente evocados
sobre os elementos biogeoquímicos, mediante o termo indutor Educação Ambiental.
Por outro lado, há uma diferença no que concerne aos elementos sociais e culturais,
pois, como se nota, os elementos gerais predominam sobre os elementos facilmente
associados a educação.
É de se notar, a respeito, a presença dos elementos Cuidar, Ecoponto,
Limpar, Lixo, Poluição, Preservação, Proteger, Reciclagem e Reutilizar, alguns dos
quais débeis em evocação, mas veementes nas respostas dissertativas, como já o
dissemos. A presença de tais elementos nas representações sociais sobre
Educação Ambiental dos estudantes portugueses pesquisados encontra alguma
justificação no relato de Guerra; Schmidt & Gil Nave (2008).
Em investigação desenvolvida em 15 mil estabelecimentos de ensino
portugueses, de todos os níveis, Guerra, Schimidt & Gil Nave (2008) avaliaram a
situação dos projetos de Educação Ambiental e de Educação para o
Desenvolvimento Sustentável então em andamento nessas instituições. Os autores
do estudo identificaram as dinâmicas, os constrangimentos e as potencialidades dos
projetos desenvolvidos nas escolas por iniciativa das próprias escolas, ou de ONGs,
de autarquias, ou de empresas ligadas ao setor ambiental.
Com relação às temáticas mais abordadas nos projetos, os autores
verificaram uma concentração em temas que denominam como muito restritos, a
saber: política dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar); fauna e flora; conservação da
natureza, sendo que este último consiste, para esses autores, na “âncora
fundamental” da educação ambiental portuguesa.
Os autores ainda observam que a ênfase no tema dos 3Rs tem a ver com a
política portuguesa para a questão ambiental, a qual compromete-se com metas e
diretrizes europeias para os investimentos em Educação Ambiental. “Daí, a
produção sistemática e relativamente volumosa de materiais didácticos e da
promoção desta área temática por parte de entidades públicas e por empresas de
resíduos patrocinadas, em larga medida, também pela Administração Local e
Central.” (GUERRA; SCHMIDT & GIL NAVE, 2008, p. 13).
Com efeito, os resultados desse estudo demonstram que a política dos 3Rs
é trabalhada em 46% dos projetos de educação ambiental, sendo ainda que outros
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36
42% dos projetos tratam de temas como compostagem e a questão de resíduos
perigosos. Ou seja, 88% de todos os projetos mencionados pelas escolas
portuguesas estão ligados à questão dos resíduos.
Contudo, observando-se os dados em conjunto, nota-se uma semelhança
entre os estudantes pesquisados de ambos os grupos. Os elementos sociais e
culturais aparecem em maior número que os elementos biogeoquímicos, todavia,
isso não parece significar que para esses sujeitos, brasileiros e portugueses, a
educação ambiental deva enfatizar também as causas sociais e culturais da
problemática ambiental, como se mostrará aquando da discussão dos resultados
obtidos pela analise do conteúdo das respostas às questões dissertativas sobre
educação ambiental. Se há uma diferença, a mesma tem a ver com ações: os
estudantes brasileiros pesquisados ressaltam a temática da conscientização para a
preservação dos recursos naturais, ao passo que os estudantes portugueses, além
de realçarem a preservação, também atribuem grande importância à reutilização e à
reciclagem.
De tudo que dissemos, resulta que para os estudantes portugueses
participantes da pesquisa, a educação ambiental consiste em atividades
pedagógicas cuja finalidade é conscientizar para preservação ambiental.
Os resultados obtidos com os estudantes brasileiros compatibilizam-se com
os achados de Teixeira & Saccol (2012) e de Vendrúsculo et al (2013), ainda que
esses autores tenham realizado sua investigação com professores. Os autores
identificaram que dentre as concepções de educação ambiental de seus sujeitos de
pesquisa, destacam-se aquelas voltadas para a conservação dos ambientes
naturais. Na mesma linha encontram-se os estudos de Morales (2009) e Kus (2012),
os quais concluíram que seus sujeitos de pesquisa também priorizam em suas
práticas pedagógicas ações mais voltadas à preservação ambiental do que, por
exemplo, à discussão da problemática ambiental em sentido mais amplo. Por sua
vez Guimarães (2006) aponta a predominância no Brasil de concepções de
educação ambiental que priorizam e preservação da natureza em detrimento de
concepções voltadas à crítica da racionalidade instrumental e do modelo econômico
que nela se sustenta de cuja ação resulta a problemática ambiental (LOUREIRO,
2004; LEFF, 2006; LEFF, 2007; GUIMARÃES, 2006).
No caso dos estudantes portugueses, os resultados obtidos também
encontram justificação na literatura. Além do estudo de Guerra, Schmidt & Gil Nave
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(2008), já mencionado, aportamos também as conclusões de Pinto (2004) e Leão et
al (2011), para quem a educação ambiental em Portugal desenvolve-se nos anos de
1990, tendo como referência as mesmas deliberações de reuniões internacionais
promovidas pela ONU desde os anos de 1970 nas quais se destaca que dita
educação consiste em processos por meio dos quais indivíduos e coletividades
constroem valores, conhecimentos, atitudes e competências voltadas para a
conservação do ambiente.
Quanto aos dados obtidos com as questões dissertativas, dez dentre os 100
estudantes brasileiros não responderam à pergunta sobre o que entendiam por