PROPOSTA DE LEITURA DE UMA ODE HORACIANA

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116 117 PROPOSTA DE LEITURA DE UMA ODE HORACIANA Profa. Dra. Vanda Santos Falseth (UFRJ) RESUMO: A partir da leitura e análise da Ode II, 5 de Horácio, pretende-se observar os efeitos de realização poética alcançados pelo poeta e, ao mesmo tempo, mostrar que temas desenvolvidos pelo autor latino encontram ecos na obra de outros representantes da literatura. PALAVRAS-CHAVE: Horácio, lírico, ode, amor. Horácio, poeta romano do século I a. C, demonstrou seu ideal de vida em odes e epodos, sátiras e epístolas, em que pregou a moderação nas ambições, nas paixões, a perseverança nas adversidades, a efemeridade da vida, a perenidade da obra literária, dentre outras. Pretende-se observar os recursos de que se valeu o poeta ao escrever a ode bem como seus reflexos na obra de autores que cultivaram o mesmo gênero literário. A ode II, 5 é considerada erótica. Ela se destina a um anônimo – talvez a ele mesmo – tomado de amor por Lálage, ainda muito jovem. A idade da jovem representa um obstáculo à realização amorosa, por isso, o poeta aconselha deixar amadurecer a uva verde. Pode-se dividir a ode em três movimentos, cujo primeiro vai do verso 1 ao 8. Nondum subacta ferre iugum ualet ceruice, nondum munia comparis aequare nec tauri ruentis in uenerem tolerare pondus. Circa uirentis est animus tuae campos iuuencae, nunc fluuiis grauem solantis aestum, nunc in udo ludere eum uitulis salicto praegestientis. Ainda não é capaz de suportar o jugo, mesmo dominada, ainda não é capaz de igualar as suas obrigações às do amante, nem de suportar o peso do touro que se lança ao amor. O coração da tua novi1ha está voltado para os campos verdejantes, agora abrandando, nos cursos d’água, o incômodo calor, agora desejando, ardentemente, brincar com os bezerros no úmido salgueiro 1 . beneplácito dos deuses, para os empreendimentos portugueses no ultramar. A seqüência dos versos, no que se refere à pietas, apresenta-se em conformidade com a religião vigente na época renascentista, o Cristianismo. Desconstrói-se, então, a veracidade do mito, e a partir daí, instaura-se a religião verdadeira, cuja expansão além-mar, movida pelo ideal de Cruzada, poder-se-ia dizer, encontra respaldo na pietas. No poema cabediano, articula-se, pois, a pietas na interação dos planos mítico e real, resgatando vozes do passado que interagem com as vozes do presente, que, uma vez assimiladas na construção do texto poético, revelam, em pleno, a essência de um novo significado. BIBLIOGRAFIA DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento. Lisboa: Editorial Estampa, 1984 v. 2 PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de História e Cultura Clássica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989. v.II. SILVA, Marilda E. dos Santos. A vertente épica em Miguel de Cabedo. Tese de Doutorado em Letras. Fac. de Letras / UFRJ. Rio de Janeiro, 1980. VIRGILE. Énéide. Texte ét. par René Durand et trad. par André Bellessort. Paris: Les Belles Lettres, 1948, 2 v.

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A partir da leitura e análise da Ode II, 5 de Horácio, pretende-se observaros efeitos de realização poética alcançados pelo poeta e, ao mesmo tempo, mostrarque temas desenvolvidos pelo autor latino encontram ecos na obra de outrosrepresentantes da literatura.

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    PROPOSTA DE LEITURA DE UMA ODE HORACIANAProfa. Dra. Vanda Santos Falseth (UFRJ)

    RESUMO: A partir da leitura e anlise da Ode II, 5 de Horcio, pretende-se observar

    os efeitos de realizao potica alcanados pelo poeta e, ao mesmo tempo, mostrarque temas desenvolvidos pelo autor latino encontram ecos na obra de outrosrepresentantes da literatura. PALAVRAS-CHAVE: Horcio, lrico, ode, amor.

    Horcio, poeta romano do sculo I a. C, demonstrou seu ideal de vida emodes e epodos, stiras e epstolas, em que pregou a moderao nas ambies, naspaixes, a perseverana nas adversidades, a efemeridade da vida, a perenidade daobra literria, dentre outras.

    Pretende-se observar os recursos de que se valeu o poeta ao escrever aode bem como seus reflexos na obra de autores que cultivaram o mesmo gneroliterrio.

    A ode II, 5 considerada ertica. Ela se destina a um annimo talvez aele mesmo tomado de amor por Llage, ainda muito jovem. A idade da jovemrepresenta um obstculo realizao amorosa, por isso, o poeta aconselha deixaramadurecer a uva verde.

    Pode-se dividir a ode em trs movimentos, cujo primeiro vai do verso 1 ao8.

    Nondum subacta ferre iugum ualetceruice, nondum munia comparisaequare nec tauri ruentisin uenerem tolerare pondus.Circa uirentis est animus tuae

    campos iuuencae, nunc fluuiis grauemsolantis aestum, nunc in udoludere eum uitulis salicto praegestientis.

    Ainda no capaz de suportar o jugo, mesmo dominada, aindano capaz de igualar as suas obrigaes s do amante, nem desuportar o peso do touro que se lana ao amor.O corao da tua novi1ha est voltado para os camposverdejantes, agora abrandando, nos cursos dgua, o incmodocalor, agora desejando, ardentemente, brincar com os bezerrosno mido salgueiro1 .

    beneplcito dos deuses, para os empreendimentos portugueses no ultramar. Aseqncia dos versos, no que se refere pietas, apresenta-se em conformidadecom a religio vigente na poca renascentista, o Cristianismo. Desconstri-se,ento, a veracidade do mito, e a partir da, instaura-se a religio verdadeira, cujaexpanso alm-mar, movida pelo ideal de Cruzada, poder-se-ia dizer, encontrarespaldo na pietas. No poema cabediano, articula-se, pois, a pietas na interaodos planos mtico e real, resgatando vozes do passado que interagem com asvozes do presente, que, uma vez assimiladas na construo do texto potico,revelam, em pleno, a essncia de um novo significado.

    BIBLIOGRAFIA

    DELUMEAU, Jean. A civilizao do Renascimento. Lisboa: Editorial Estampa, 1984 v. 2PEREIRA, Maria Helena da Rocha. Estudos de Histria e Cultura Clssica. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1989. v.II.SILVA, Marilda E. dos Santos. A vertente pica em Miguel de Cabedo. Tese de Doutorado em Letras. Fac. de Letras / UFRJ. Rio de Janeiro, 1980.VIRGILE. nide. Texte t. par Ren Durand et trad. par Andr Bellessort. Paris: Les Belles Lettres, 1948, 2 v.

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    os cachos acinzentados com a cor prpura;

    O segundo movimento do poema marcado pela forma verbal noimperativo tolle (v. 9) afasta o desejo, pois a jovem no est preparada para oamor d a impresso de querer refrear os impulsos iniciais, ao mesmo tempo quedeixa entrever a posio do poeta em relao idade ideal da amante. Em tom deaconselhamento, com a frase Tolle cupidinem immitis uuae, o poeta se investede um preceito to comum em suas obras, que a aurea mediocritas, ou seja, amoderao, o equilbrio, o saber esperar o momento certo.

    O tempo assinalado pelo calor - aestum (v. 7) e pe1a chegada do outono autumnus (v. 11), quando a uva mudar de cor, tornar-se- madura, do mesmomodo que a jovem estar pronta para seu amante - reforado pelos elementossensoriais - em consonncia com as cores immitis (v. 10), liuidos (v. 10) e purpureo(v. 11).

    A poesia amorosa de Horcio tambm um meio de expresso de suasidias filosficas, como se pode atestar em: currit enim ferox aetas (v. 13 e 14) - otempo indomvel corre. A fugacidade do tempo, que uma constante na poesia dovenusino, ligada temtica epicurista do carpe diem, perpassa a literatura detodos os tempos, chegando at a modernidade. O referido tema j desenvolvidona literatura grega teve ecos, por exemplo, em Petrarca, Cames, Garcilaso de laVega, S de Miranda, Toms Antonio Gonzaga, Ceclia Meireles e Fernando Pessoa,para no falar de outros.

    Assim, podemos destacar alguns versos de um soneto de S de Miranda,representante do Renascimento portugus, em que h um contraste entre o tempocclico da Natureza e o tempo linear da vida humana. Diz ele:

    cousas, todas vs, todas mudaves,qual tal corao que em vs confia?Passam os tempos, vai dia atrs dia,incertos muito mais que ao vento as naves.

    O tema ecoa em Marlia de Dirceu, de Toms Antnio Gonzaga na Lira38, v. 13-15, em que o poeta demonstra fragilidade pelo passar do tempo quedesgasta o amor:

    Assim tambm serei, minha Marliadaqui a poucos anos,que o mpio tempo para todos corre.

    E tambm, no sculo XX, em Fernando Pessoa, na ode de seu heternimoRicardo Reis:

    Vem sentar-te comigo, Ldia, beira do rio

    Horcio inicia a ode fazendo a comparao entre Llage e uma jovemnovilha, lembrando a usada em Lidia, caracterizada como uma potranca de trsanos (equa trina) que evita qualquer aproximao do sexo oposto (cf. Ode III, 11,9-12), ou aquela relativa a Clo, semelhante a uma cora (inuleo) (cf. Ode I, 23, 1).Nos trs casos o foco da comparao a idade da jovem. Entretanto, a ode analisada a nica que envolve o macho e a fmea. Tal recurso era caro lrica grega arcaica,como se pode observar no fragmento 75 de Anacreonte, que, sem dvida, inspirounosso poeta:

    E se agora ainda livre, pastas,correndo saltitante pelos prados, que um ginete, bem treinado,ainda no te tomou por montaria2 .

    A escolha do animal varia de acordo com o tom que queira dar. Aqui, porexemplo, a figura masculina representada pelo touro tauri (v. 3), ligado expresso subacta ferre ceruice iugum (v. 1 e 2) capaz de suportar o jugo coma idia do amor-prazer presente nec tauri in uenerem tolerare pondus (v. 3 e 4). interessante observar que tal comparao confere ao poema um ar de erotismo,o que fez o mesmo ser retirado dos livros didticos e de algumas edies crticas.

    Prossegue, na segunda estrofe, dirigindo-se ao annimo, falando nanovilha iuuencae tuae (v. 5), que, por ora, s deseja brincar com os bezerros uitulis (v. 8), com a inteno de ressaltar a inocncia da jovem.

    Na poesia lrica h a integrao do eu com a natureza - animal, comoacabamos de ver, e vegetal, uma caracterstica bem marcante da lrica grega arcaica.Digno de nota o que afirma Francisco Adrados (ADRADOS, 1981, p. 127): O amorhumano e o amor vegetal so os mesmos. A comparao da mulher ou do homemlevam-nos ao ambiente dos antigos cultos agrrios em que a vida humana e avegetal andam juntas.

    Encontramos campos uirentis (v. 5 e 6 ), fluuiis (v. 6), salicto (v. 8). H,tambm, duas estaes do ano presentes: o incmodo calor - aestum (v. 7),representando a paixo, a inquietao provocadas na poca do calor, ou seja,durante a juventude, quando todos os desejos se acendem e o autumnus (v. 11) simbolizando a idade madura. A passagem parece pretender reforar a sensualidadeque caracteriza os versos iniciais.

    To11e cupidinemimmitis uuae: iam tibi liuidosdistinguet autumnus racemospurpureo uarius colore; (v. 9-12)

    Afasta o desejo da uva verde:j o outono variado matizar para ti

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    um templo consagrado a Vnus, ou ainda aluses mitolgicas, como Gyges (v. 20),empregado na Ode como nome de um jovem. H aqui uma referncia lenda deAquiles escondido com roupas femininas entre as filhas de Lycomedes ereconhecido por Ulisses. Com o episdio pitoresco, o clima ertico do incio daode, j enfraquecido com o imperativo tolle (v. 9) e o particpio dilecta (v. 17), deixade existir.

    Emil Staiger (STAIGER, 1972, p. 35) ao discorrer sobre as formas deexpresso do lrico, mostra que:

    a linguagem lrica parece desprezar as conquistas de umprogresso lento em direo clareza, da construoparattica hipottica, de advrbios a conjunes, deconjunes temporais a causais. As canes no so igualmentesensveis a todas as conjunes... Um se ou mas de quandoem vez quase no perturbam o clima lrico, mas o que melhorse adapta no caso a parataxe simples.

    Examinando a ode II, 5, constatar-se- que tal afirmao se adapta a ela,com a ocorrncia de apenas duas oraes subordinadas sic... ut (v. 17 e 18) e si (v.21). O tempo gramatical do lrico o presente, realado nesta ode pelo advrbionunc: ualet (v. 1), est (v. 5), currit (v. 13), renidet (v. 15). O futuro um tempo queaparece com alguma freqncia tambm: distinguet (v. 11); sequetur (v. 13);dempserit (v. l4); adponet (v. 15); petet (v. 16), ao lado de advrbios que marcam aproximidade da ao verbal.

    Quanto escolha das palavras (delectus uerborum), sabe-se que Horcioaprovava a inovao lexical, privilegiando o enriquecimento semntico das palavrasantigas, uma vez que o mesmo correspondia ao desejo de exprimir exatamente osaspectos e os matizes do pensamento.

    Isto posto, teceremos breves observaes com relao seleo vocabularda ode estudada. O vocbulo comparis (v. 2) - que aparece aqui substantivadotinha o sentido de companheiro, camarada e posteriormente, de amante, comregistro tambm em Catulo, como atestam os dicionrios, sendo, pois, de usopotico.

    Corroborado pelas mesmas fontes de consulta est o uso potico denitens (v. 17) - particpio presente do verbo nitere, que significa brilhar, reluzir(falando-se do cu, da lua). Compare-se com o seu emprego na ode I, 5, 12 aPyrrha, em que aparece com o sentido de ser brilhante, ser bela (nites). Uma outraocorrncia eminentemente potica o uso adverbial do adjetivo noturnus noturno(v. 18)

    O substantivo iuuencae (v. 6), que reitera a integrao homem/natureza(animal e vegetal), tratada anteriormente, tem como primeira acepo novilha epor renovao semntica jovem de uso potico. Esta inteirao tal que ao

    Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e no estamos de mos enlaadas.

    Interessante observar que foram muitas as mulheres que perpassaram asOdes de Horcio, como Glicera, Lide, Barina, Galatia, Lice, Clo, Neobule, parano falar de outras. Algumas so caracterizadas por aspectos negativos, comoClris (v. 18), a mulher velha que quer rivalizar com a filha, Floe (v. 17), esta, porsua vez, vista como inconstante e devassa (cf. Ode III, 15). J por Llage (que emgrego significa tagarela), apontada pelo doce sorriso e pela voz agradvel (Ode I,22), o poeta demonstra ter admirao.

    iam te sequetur; currit enim feroxaetas et illi quos tibi dempserit

    adponet annos; iam proteruafronte petet Lalage maritum,

    dilecta, quantum non Pholoe fugax,non Chloris albo sic umero nitens

    ut pura nocturno renidet luna mari Cnidiusue Gyges,

    quem si puellarum insereres choro,mire sagacis falleret hospites

    discrimen obscurum solutiscrinibus ambiguoque uoltu. (II, 5, v. 13-24)

    Logo ela te seguir, pois o tempo indomvel corre e ele lheacrescentar os que tiver tirado de ti; logo com a fronte ousada,Llage, que brilha com seu alvo ombro, como a lua clara brilhano mar durante a noite, provocar seu marido, querida como nofoi a fugidia Floe, nem Clris, ou como Giges da Cnido, o qualse misturasses ao coro das jovens, enganaria maravilhosamenteos hspedes sagazes, diferena obscura sob seus cabelosespalhados e seu rosto ambguo.

    No terceiro movimento, o poeta nos apresenta Llage - ousada proterua(v. 15) que logo procurar um marido, num futuro prximo, como podemos observarcom a dupla colocao do advrbio iam em anfora (v. 10, 13 e 15).

    Na quinta estrofe, o poeta afirma que Llage ser mais amada do queFloe, Clris e Giges, lanando mo de um recurso comum ao 1rico que o dacomparao. Para tais smiles Horcio emprega palavras de origem grega: Pholoe,Chloris e Gyges, presentes em outras odes. Embora procure freqentemente asfontes mais antigas da lrica grega, recorre tambm s prticas alexandrinas, comoquando faz localizaes geogrficas: Cnidus (v. 20), cidade da Cria, onde havia

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    CONTOS DE FADA : A INTERFERNCIA DO OLIMPOPor Sonia Branco1

    RESUMO:O texto traa um paralelo entre os mitos gregos e a trajetria dos contos

    populares orais at chegarem aos contos de fada clssicos. Utiliza-se o mito dePrometeu para traar esse comparativo atravs dos contos Baba Yaga, Joo eMaria e O Mgico de Oz.PALAVRAS-CHAVE: Mitos gregos; Contos populares; Contos de Fada; Prometeu.

    No se sabe quando e onde os contos foram adquirindo aspectos ereferncias aos mitos gregos e seus heris, mas em algum momento desta viagemno tempo, e, literalmente, do caminhar daqueles que o faziam por fora de seutrabalho (como os pedreiros livres), o contar oral foi acrescentando temas, omitindofatos, obtendo, do lugar onde se contavam histrias, parte da cultura local e,assim, mitos e contos populares transformaram-se e, juntos, constituram um novocaminhar que beneficiou e ainda hoje, beneficia a humanidade com seus medos,temores, nsias e desejos expostos ao mundo como um expurgo civilizatrio.

    Em toda a sua histria o homem recorreu a deuses, heris e ao imaginriodaquilo que no conseguiam compreender, mas que necessitavam vivenciar paracontinuarem a trilhas caminhos obscuros e desconhecidos a ponto de desbravarnovas terras e combater seus inimigos. Os heris eram de carne e osso, mas osdeuses e seres imaginrios, quem seriam eles, seno a prpria semelhana e formados homens.

    Da palavra grega mythos deriva a portuguesa mito, originalmentesignificava simplesmente palavra, fbula ou histria. Foi a partir da histriada guerra entre persas e gregos, que Herdoto agregou palavra grega o conceitode histria como fato. E anos e anos aps Herdoto as tradies judaico-crist eislmica, alteraram seu significado para mentira, pois para eles, no existiamdeuses, apenas um que era o prprio Logos, o prprio Deus.

    Apesar da interferncia do poder religioso, os mitos no desaparecerampor completo, mas ganharam a importncia de tentar desvendar o incio e odesenrolar da vida: de onde viemos, qual a nossa misso, para onde iremos.

    Os cristos e judeus tentaram distorcer os mitos de forma a fazer crer queeles eram histrias que distorciam relatos bblicos, mas prova-se ento, que aprpria bblia distorce o mito dos deuses olmpicos para criar sua histria do Deusnico.

    Na verdade, os primrdios mticos nasceram nos tempos das cavernas,onde sol e lua, dia e, e todos os fenmenos astrolgicos e naturais eram arepresentao de um desejo ou de um sentimento divino.

    Alguns historiadores associam esses fatos origem dos Deuses, tal como

    lado da expresso ceruice ferrum iugo (v. 1), o poeta emprega comparis termousado comumente para a esfera humana.

    O venusino utiliza, referindo-se a Llage, o particpio passado - dilecta (v.17) do verbo diligere, que quer dizer estimar, amar (com uma afeio fundamentadana escolha e na reflexo), talvez para enfatizar que a jovem merecedora no doamor-desejo, mas de um sentimento verdadeiro, baseado na estima e aceitaodos mesmos valores morais propostos pelo estoicismo a seus seguidores romanos.

    Conclui-se, assim, que as odes ligeiras, nas quais se inserem as de cunhoamoroso, servem de veculo aos pensamentos de Horcio, tais como a moderao,a efemeridade da vida e conseqentemente, o carpe diem. O vate latino, que,atravs da imitao direta ou de temas, ou ainda de idias morais e filosficas,inspirou outros poetas, perpassou todas as pocas, muitas correntes literrias ousimplesmente determinados autores, chegando modernidade.

    Referncias bibliogrficas:

    ADRADOS, F. Rodrgues. El mundo de la lirica griega antigua. Madrid: Alianza

    Ed., 1981.

    COMMAGER, Steele. The odes of Horace. London: Indiana University Press,

    1967.

    HORACE. Odes et podes. Texte t. et trad. par F. Villeneuve. Paris: Les Belles

    Lettres, 1959.

    STAIGER, Emil. Conceitos fundamentais da potica. Trad. de Celeste A. Galeo. RJ: Tempo Brasileiro, 1972.

    NOTAS

    1 A traduo apresentada de nossa responsabilidade.

    2 Traduo de Guida N. P. Horta.