PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR – 2013 … · tradições e organizações religiosas, o qual...
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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA PARA JOVENS E ADULTOS CEEBJA GUARAPUAVA
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PROPOSTA PEDAGÓGICA CURRICULAR – 2013
CONCEPÇÃO, CONTEÚDOS E SEUS RESPECTIVOS ENCAMINHAMENTOS
METODOLÓGICOS
DISCIPLINA: ENSINO RELIGIOSO
ENSINO FUNDAMENTAL – FASE II
CONCEPÇÃO DO ENSINO DE ENSINO RELIGIOSO
“Ao repensar nos dados concretos da realidade, sendo vivida, o pensamento profético, que é também utópico, implica a denúncia de como estamos vivendo e o anúncio de como poderíamos viver.” “É essencial que os enfoques da educação de adultos estejam baseados no patrimônio, na cultura, nos valores e nas experiências anteriores das pessoas, e que as distintas maneiras de por em prática estes enfoques facilitem e estimulem a ativa participação e expressão do educando.” (FREIRE, Paulo. Declaração de Hamburgo sobre Educação de Adultos. Item 5, 1997.).
Considerandose as indicações das Diretrizes Curriculares da Educação de
Jovens e Adultos, que propõem o compromisso com a formação humana e com o acesso
a cultura geral, bem como o respeito à diversidade cultural, a disciplina de Ensino
Religioso está pautada no entendimento do conhecimento constituído sobre as diversas
tradições e organizações religiosas, o qual deve dimensionar o respeito na interrelação
entre as diferentes manifestações e crenças religiosas.
Esta concepção, que deve reger o Ensino Religioso, pautouse na necessidade
de superação de uma situação historicamente constituída, que se perfazia no ensino do
catolicismo, o qual expressava a proximidade desde o Império com a Igreja Católica.
Depois, com o advento da República, a nova constituição separou o Estado da Igreja e o
ensino passou a ser laico. Mesmo assim, a presença das aulas de religião foi mantida nos
currículos escolares, devido ao poder da Igreja Católica junto ao Estado brasileiro.
Tal influencia pode ser constatada em todas as Constituições do Brasil, nas
quais o Ensino Religioso foi citado, com a representatividade hegemonicamente cristã
no processo de definição dos preceitos legais. Em conseqüência, desde a época do
Império, a doutrina cristã tem sido a preferência na organização do currículo de Ensino
Religioso.
Entretanto, a vinculação do currículo de Ensino Religioso ao cristianismo e
às práticas catequéticas já não corresponde ao sentido dessa disciplina na escola. Os
debates em torno da sua permanência como disciplina escolar têm sido intensos e a
busca de explicações que justificam as novas configurações da disciplina não se
restringe ao contexto brasileiro.
Castela (2004) afirma que três fatores ajudam a entender a necessidade de
um novo enfoque para o Ensino Religioso:
o primeiro é atribuído à pluralidade social, num Estado não confessional,
laico e que garante, por meio da constituição a liberdade religiosa;
o segundo fator diz respeito à própria maneira de apreender o
conhecimento, devido às profundas transformações ocorridas no campo da
epistemologia, da educação e da comunicação;
o terceiro fator, traço característico da cultura ocidental mostra uma
profunda reviravolta nas concepções, em especial no séc. XIX, que atinge seu ápice na
célebre expressão do filosofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (18441900): “Deus
está morto”, metáfora do autor para dizer que a sociedade não é capaz de crer numa
ordenação cósmica transcendente e imanente.
Isto conduz a uma repulsa aos valores absolutos e também ao
questionamento em qualquer valor ditado por uma ordem superior, visto que o homem é
um ser pensante, logo criador. Para Nietzsche, esta posição subjetiva leva a sociedade ao
niilismo, à decadência moralreligiosa vinculada à manutenção de um local reservado ao
principio transcendente e imanente, o qual vem sendo destruído pela sociedade. Mesmo
que aparentemente contraditório ao que se interpõem nos dias de hoje – uma sociedade
racional e tecnologicamente equipada , há uma necessidade social de retorno a busca de
explicações no sagrado.
Nesse contexto, há um ressurgimento das religiões, já que a limitação da
racionalidade moderna e do saber cientifica se tornarem latentes, fenômeno já
apontados e estudados por autores como o filosofo alemão Edmund Husserl (1859
1938), com a obra A Crise das Ciências Européias, e o filosofo austríaco Ludwig Joham
Wittgenstein (18891951) com seus escritos a respeito do entendimento da linguagem
que circunda o homem e o mundo. Foram críticas sobre a redutibilidade dos saberes do
mundo à linguagem científica e a sua pretensa superioridade em relação às demais
formas de conhecimento e expressão. Assim, fazse necessário superar modelos lineares
e fragmentados de compreensão de realidade e a busca de outros referenciais que
permitam uma analise mais complexa da sociedade. É essa realidade que se coloca
como desafio para a disciplina de Ensino Religioso e para toda a escola.
Desta forma, o processo de ensino e de aprendizagem proposto para este
documento, visa à construção e produção do conhecimento que se caracteriza pela
promoção do debate, da hipótese divergente, da duvida – real ou metódica – do
confronto de idéias, de informações discordantes e, ainda, da exposição competente de
conteúdos formalizados. Opõese a um modelo educacional que centra o ensino tão
somente na transmissão dos conteúdos pelo educador, o que reduz as possibilidades de
participação do educando e não respeita a diversidade religiosa.
Tanto as Diretrizes Curriculares como a Proposta Curricular da EJA, do
Ensino Religioso, expressam a necessária reflexão em torno dos modelos de ensino e do
processo de escolarização, diante das demandas sociais contemporâneas que exigem a
compreensão ampla da diversidade cultural, postas também no âmbito religioso entre os
países e, de forma mais restrita, no interior de diferentes comunidades. Nunca, como no
presente, a sociedade esteve consciente da unidade do destino do homem em todo o
planeta e das radicais diferenças culturais que marcam a humanidade.
Nesse contexto, está a escola e nela o currículo do Ensino Religioso,
historicamente marcado como espaço de transposição do que era a catequese e que
permitia a introdução sistemática e orgânica do complexo doutrinal cristão.
Dentre os desafios para o Ensino religioso na atualidade, podese destacar:
a necessária superação das tradicionais aulas de religião;
a inserção de conteúdos que tratem da diversidade de manifestações
religiosas, dos seus ritos, das suas paisagens e símbolos;
as relações culturais, sociais, políticas e econômicas de que são
impregnadas as diversas formas de religiosidade.
Além disso, é necessário que o Ensino Religioso escolar adquira status de
disciplina escolar, a partir da definição mais consistente de seus conteúdos escolares, da
produção de referênciais didáticopedagógicos e científicos, bem como da formação dos
educadores.
No processo de constituição do Ensino Religioso como disciplina escolar
ainda persiste dúvidas quanto aos conteúdos a serem tratados na escola; portanto, vale
destacar que para a sociedade as religiões são confissões de fé e de crença.
No ambiente escolar, as religiões interessam como objeto de conhecimento a
ser tratado nas aulas de Ensino Religioso, por meio do estudo das manifestações
religiosas que delas decorrem e as constituem. As diferenças culturais são abordadas
para ampliar a compreensão da diversidade religiosa como expressão da cultura,
construída historicamente e, portanto, são marcadas por aspectos econômicos, políticos
e sociais.
Dessa forma, reafirmase o compromisso da escola com o conhecimento,
sem excluir do horizonte os valores éticos que fazem parte do processo educacional.
Em outras palavras, podese dizer que:
Aquilo que para as igrejas é objeto de fé, para a escola é objeto de estudo. Isto supõe a distinção entre fé/ crença e religião, entre o ato subjetivo de crer e o fato objetivo que a expressa. Essa condição implica a superação da identificação entre religião e igreja, salientando sua função social e o seu potencial de humanização das culturas. Por isso, o Ensino Religioso na escola pública não pode ser concebido, de maneira nenhuma, como uma espécie de licitação para as Igrejas (COSTELLA, 2004, pp. 97107).
Desse modo, assim como para as Diretrizes Curriculares para o Ensino
Religioso, esta Proposta Curricular tem como objetivo orientar também a abordagem e a
seleção de conteúdos. Nessa perspectiva, todas as religiões podem ser tratadas como
conteúdos nas aulas de Ensino Religioso, uma vez que o sagrado compõe o universo
cultural humano e faz parte do modelo de organização de diferentes sociedades.
Assim, o currículo dessa disciplina propõese a subsidiar os educandos, por
meio dos conteúdos, à compreensão, comparação e análise das diferentes manifestações
do sagrado, com vistas à interpretação dos seus múltiplos significados. A disciplina de
Ensino Religioso subsidiará os educandos na compreensão de conceitos básicos no
campo religioso e na forma como a sociedade sofre inferências das tradições religiosas
ou mesmo da afirmação ou negação do sagrado.
Por fim, destacase que os conhecimentos relativos ao sagrado e suas
manifestações são significativos para todos os educandos no processo de escolarização,
por propiciarem subsídios para a compreensão de uma das interfaces da cultura e da
constituição da vida em sociedade.
OBJETO DE ESTUDO DO ENSINO RELIGIOSO
O objeto de estudo da disciplina de Ensino Religioso é o sagrado, o qual é
interpretado dentro das Diretrizes Curriculares como foco do fenômeno religioso por
completar algo presente em todas as manifestações religiosas. Esta concepção favorece
uma abordagem ampla de conteúdos específicos da disciplina. Tais conteúdos
privilegiam o estudo das diferentes manifestações do sagrado e possibilitam sua análise
e compreensão como o cerne da experiência religiosa que se expressa no universo
cultural de diferentes grupos sociais.
As expressões do sagrado diferem de cultura para cultura, ou seja, sua
apreensão pode ser realizada somente de acordo com cada realidade. As religiões se
apresentam como modalidades do sagrado que se revelam em processos históricos e em
espaços marcados por representações da necessidade humana de se convergir em uma
unidade sociocultural.
Como parte da dimensão cultural, o sagrado influencia a compreensão de
mundo e a maneira como o homem, não somente o religioso vive o seu cotidiano. Por
isso, o sagrado perpassa todo o currículo de Ensino Religioso de modo a permitir uma
análise mais complexa de sua presença nas diferentes manifestações religiosas, cujas
instâncias podem ser assim estabelecidas:
paisagem religiosa: referese à materialidade fenomênica do sagrado,
apreendida por meio dos sentidos. É a exterioridade do sagrado e sua concretude
constituindo os espaços sagrados.
símbolo: é a apreensão conceitual dada pela razão para se conceber o
sagrado pelos seus predicados, reconhecendo sua lógica simbólica. É entendido como
sistema simbólico e projeção comunicativa cultural.
texto sagrado: é a tradição e a natureza assumida do sagrado como
fenômeno. Pode ser manifestado de forma material (escrito) ou imaterial (oral). É
reconhecido por meio das Escrituras Sagradas, das tradições orais sagradas e dos mitos.
sentimento religioso: é o seu caráter transcendente e imanente não
racional. É a experiência do sagrado em si, a qual escapa a razão conceitual em sua
essência e é reconhecida por seus efeitos. Tratase do que qualifica uma sintonia entre o
sentimento religioso e o fenômeno sagrado.
A partir do objeto de estudo, buscase superar as tradicionais aulas de
religião e entender esta disciplina escolar como processo pedagógico, cujo objetivo é o
conhecimento: o entendimento sobre os cultos (culturas) e sobre o sagrado, de uma
forma que a diversidade cultural e religiosa seja respeitada e que a sociedade, em seu
sentido lato, efetivese.
ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
Propor o encaminhamento metodológico da disciplina de Ensino Religioso
para a Educação de Jovens e Adultos, não se reduz a determinar formas, métodos,
conteúdos ou materiais a serem adotados em sala da aula, mas pressupõe um constante
repensar das ações que subsidiarão esse trabalho. Logo, as praticas pedagógicas
desenvolvidas pelo educador da disciplina poderão fomentar o respeito às manifestações
religiosas, o que amplia e valoriza o universo cultural dos educandos.
É importante ficar claro, que em se tratando da Educação de jovens e
Adultos, cabe ao educador despertar no educando uma nova forma de relação, buscando
junto a ele, elementos oriundos de experiências vividas, que façam parte do seu contexto
social. Dessa maneira, o educando deixa de ser um “depósito de informações” e passa a
ressignificar conceitos anteriormente adquiridos.
Também, fazse necessário superar práticas que tradicionalmente tem
marcado o currículo da disciplina de Ensino Religioso, desvinculandoas das aulas de
religião, seja em relação aos fundamentos teóricos, ao objeto de estudos, aos conteúdos
selecionados, ou, ainda, em relação ao encaminhamento metodológico adotado pelo
educador.
Assim, um dos encaminhamentos propostos para este documento é a
abordagem dos conteúdos de Ensino Religioso, cujo objeto de estudo é o sagrado,
conceito discutido nos fundamentos teóricometodológicos das Diretrizes Curriculares
da disciplina e a base a partir da qual serão tratados todos os demais conteúdos.
Dessa forma, pretendese assegurar a especificidade dos conteúdos da
disciplina, sem desconsiderar sua aproximação com as demais áreas do conhecimento.
Podese citar, por exemplo, que os espaços sagrados também constituem conteúdos de
geografia e de arte; no entanto, o significado atribuído a esses espaços pelos adeptos
desta ou daquela religião será tratado de forma mais aprofundada nas próprias aulas de
Ensino Religioso, cujo foco é o sagrado.
A fim de que o Ensino Religioso contribua efetivamente para o processo de
formação dos educandos, foram indicados, a partir dos conteúdos estruturantes
paisagem religiosa, símbolos e textos sagrados, o conjunto de conteúdos específicos a
serem observados pelo educador no Ensino Fundamental na modalidade de Educação de
Jovens e Adultos.
Os conteúdos propostos nestas Diretrizes contemplam as diversas
manifestações do sagrado, entendidos como integrantes do patrimônio cultural, os quais
poderão ser enriquecidos pelo educador, desde que contribuam para construir, analisar e
socializar o conhecimento religioso, para favorecer a formação integral dos educandos,
o respeito e o convívio com o diferente.
Para corresponder a esse propósito, a linguagem a ser adotada nas aulas de
Ensino Religioso, referente a cada expressão do sagrado, é a pedagógica e não a
religiosa é a adequada ao universo escolar. Da mesma forma devese levar em
consideração que na educação de jovens e adultos as terminologias utilizadas também
devem ser adequadas à realidade dos educandos.
PROGRAMAS SOCIOEDUCACIONAIS
Os Programas Socioeducacionaiss pressupõem conhecimento concreto da
realidade histórica sobre as questões sociais, econômicas, culturais, raciais e ambientais
que embora não sejam genuínas da escola, apresentamse como desafios que implicam,
sobretudo uma compreensão para além da visão idealista sobre tais fatos. Não devendo
serem transversalizados, nem tampouco secundarizados, mais sim contextualizados,
como por exemplo a violência, drogadição( Lei n. º 11.343 de 23/08/2006) , sexualidade
(Lei n.º 9.970 de 17/05/2000), relações com o meio ambiente (Lei n.º 9.795 de
27/04/1999) e o estudo e discussão sobre a Agenda 21. Educação Tributária e Fiscal
(Decreto 1143/99), História da Cultura Afrobrasileira (Lei n.º 10.639/93) e Cultura
Indígena (Lei n.º 11.645/08), História do Paraná (Lei n.º13.381 de 18/12/2001), Direitos
da Criança e do Adolescente (Lei n.º 11.525/07), Música (Lei n.º 11.769 de 18/08/2008),
Direito dos Idosos(Lei n.º 10.741/03) e Educação para o Trânsito (Lei n.º 9.503/97) estas
duas últimas em atendimento à Resolução n.º 07/2010 do CNE/CEB, entre outras que
são vivenciadas nesta sociedade onde nos encontramos inseridos e amparados pelo
aparato legal supracitados.
No Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos – CEEBJA –
Guarapuava todas essas questões são abordadas e desenvolvidas dentro do ambiente
escolar na medida em que os conteúdos de cada disciplina permita tais
contextualizações e também de acordo com o ritmo de cada turma e coerência ao Plano
de Trabalho Docente.
ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS ESTRUTURANTES
Pela observância dos aspectos que marcam o sagrado e as relações que se
estabelecem em decorrência dele, nas diferentes manifestações religiosas a serem
tratadas pelo Ensino Religioso, ressaltase a necessidade de definir como conteúdos
estruturantes desta disciplina, referenciais que incluam nos conteúdos escolares a
pluralidade das tradições religiosas.
Dessa forma, os conteúdos estruturantes compõem os saberes, os
conhecimentos de grande amplitude, os conceitos ou praticas que identificam e
organizam os campos de estudos a serem contemplados no Ensino Religioso.
Apropriados das instâncias que contribuem para compreender o sagrado, os
conteúdos estruturantes propostos para o Ensino Religioso são:
a paisagem religiosa;
o universo simbólico religioso;
o texto sagrado.
Os conteúdos estruturantes de Ensino Religioso não devem ser entendidos
isoladamente; antes, são referencias que se relacionam intensamente para a compreensão
do objeto de estudo em questão e se apresentam como orientadores para a definição dos
conteúdos escolares.
A relação do sagrado com os conteúdos estruturantes pode ser apresentada
conforme o seguinte esquema:
Paisagem Religiosa
Por paisagem religiosa definese a combinação de elementos culturais e
naturais que remetem a experiências do sagrado, que por força dessas experiências
Paisagem Religiosa
Texto Sagrado Símbolo
SAGRADO
anteriores remetem a uma gama de representações sobre o transcendente e o imanente.
Os lugares considerados sagrados são simbolicamente onde o sagrado se
manifesta. Para o homem religioso, a natureza não é exclusivamente natural; sempre está
carregada de um valor sagrado.
A idéia de existência de lugares sagrados e de um mundo sem imperfeições
conduz o homem a suportar suas dificuldades diárias. O homem consagra determinados
lugares porque necessita viver e conviver no mundo sagrado.
Para as religiões, os lugares não estabelecem somente uma relação concreta,
física, entre os povos e o sagrado; neles, há também uma relação préestabelecida entre
ações e práticas. Nessa simbologia, não podem ser ignorados o imaginário e os
estereótipos de cada civilização, impregnados de seus valores, identidade, etc.
Muitas pessoas necessitam de espaços aos quais lhes são atribuídos o
sentido de sagrado, para manifestar sua fé. Com esse lugar definido, entre outras
atividades, organizam ritos, festas, homenagens em prol desse objeto.
Nos momentos em que os grupos se reúnem para reverenciar o divino, para
uniremse ao sagrado, os lugares se transformam num universo especialmente
simbólico, resultante das crenças existentes nas tradições religiosas.
A paisagem religiosa é o fruto do espaço social e cultural construído
historicamente, em vivências dos inúmeros grupos humanos. Portanto, a paisagem
sagrada é uma imagem socialmente construída, de maneira que é preciso compreendêla
corretamente para entender tal aspecto do estudo do sagrado.
Universo simbólico religioso
A complexa realidade que configura o universo simbólico tem como chave
de leitura as diferentes manifestações do sagrado no coletivo, cujas significações se
sustentam em determinados símbolos religiosos.
Os símbolos são linguagens que expressam sentidos, comunicam e exercem
papel relevante para a vida imaginativa e para a constituição das diferentes religiões no
mundo. Neste contexto, o símbolo é definido como qualquer coisa que veicule uma
concepção; pode ser uma palavra, um som, um gesto, um ritual, um sonho, uma obra de
arte, uma notação matemática, entre tantos outros.
De modo geral, a cultura se sustenta por meio de símbolos, que são criações
humanas cuja função é comunicar idéias. Os símbolos são parte essencial da vida
humana, todo sujeito se constitui e se constrói por meio de inúmeras linguagens
simbólicas. Ao abranger a linguagem do sagrado, os símbolos são a base da
comunicação e constituem o veículo que aproxima o mundo vivido, cotidianamente, do
mundo misterioso dos deuses, deusas, encantados, enfim, da linguagem de seres supra
sensíveis que habitam o território do inefável. O símbolo é um elemento importante
porque para o estudo do sagrado também o é.
Texto Sagrado
Os textos sagrados expressam idéias e são meios de dar viabilidade à
disseminação e à preservação dos ensinamentos de diferentes tradições e manifestações
religiosas, o que ocorre de diversas maneiras, como: dança sagrada, pinturas sacras,
textos orais e escritos, entre outras.
Ao articular os textos sagrados aos ritos – festas religiosas, situações de
nascimento e morte –, as diferentes tradições e manifestações religiosas buscam criar
mecanismos de unidade e de identidade do grupo de seguidores, de modo a assegurar
que os ensinamentos sejam consolidados e transmitidos às novas gerações e novos
adeptos. Tais ensinamentos podem ser retomados em momentos coletivos e individuais
para responder a impasses do cotidiano e para orientar a conduta de seus seguidores.
Algumas tradições e manifestações religiosas são transmitidas apenas
oralmente ou revividas em diferentes rituais. Por sua vez, os textos sagrados registram
fatos relevantes da tradição e manifestação religiosa, quais sejam: as orações, a doutrina,
a história, que constituem sedimento no substrato social de seus seguidores e lhes
orientam as práticas. O que caracteriza um texto como sagrado é o reconhecimento pelo
grupo de que ele transmite uma mensagem originada do ente sagrado ou, ainda, que
favorece uma aproximação entre os adeptos e o sagrado.
A compreensão, interpretação e significação do texto podem ser
modificadas, conforme a passagem do tempo ou, ainda, para corresponder às demandas
do tempo presente. Pode também, sofrer alterações causadas pelas diversas
interpretações secundárias diferentes do texto original.
Como conteúdo estruturante, o texto sagrado é uma referência importante
para o Ensino Religioso, pois permite identificar como a tradição e a manifestação
atribui às práticas religiosas o caráter sagrado e em que medida orientam ou estão
presentes nos ritos, nas festas, na organização das religiões, nas explicações da morte e
da vida.
Conteúdos Específicos
Os conteúdos específicos para a disciplina de Ensino Religioso têm como
referência os conteúdos estruturantes, já apresentados. No caso do Ensino Religioso, o
sagrado é o objeto de estudo da disciplina, portanto, o tratamento a ser dado aos
conteúdos específicos estará sempre a ele relacionado.
Ao tratar dos líderes ou fundadores das religiões, o educador enfatizará as
implicações da relação que eles estabelecem com o sagrado, quanto a sua visão do
mundo, atitudes, produções escritas, posições políticoideológicas, etc.
A organização dos conteúdos se referencia em manifestações religiosas
menos conhecidas ou desconhecidas, a fim de ampliar o universo cultural dos
educandos. Por sua vez, o conteúdo templos e espaços sagrados se iniciam da discussão
dos espaços físicos identificados como sagrados. Posteriormente, o educador tratará de
espaços sagrados pouco conhecidos entre os educandos, como por exemplo: mesquitas,
sinagogas, rios, montanhas, entre outros.
Somente depois de trabalhar a composição e o significado atribuído a esses
espaços sagrados, por seus adeptos, serão tratados os espaços sagrados já conhecidos
pelos educandos, que então terão mais elementos para analisar as configurações e
significados dos espaços sagrados que lhes são familiares. Tal organização curricular se
repete nos demais conteúdos, conforme o quadro apresentado a seguir:
O Ensino Religioso na Escola Pública
Ao iniciar o processo pedagógico na disciplina de Ensino Religioso, fazse
necessário esclarecer os educandos acerca de algumas questões importantes, quais
sejam:
as orientações legais;
os objetivos;
as principais diferenças entre aulas de Religião e Ensino Religioso como
disciplina Escolar.
Respeito à diversidade Religiosa
Reconhecer os grupos sociais em sua diversidade cultural é um dado de
realidade que deve ser sempre trabalhado em sala de aula, de modo que também é
interessante que o educador apresente aos educandos alguns instrumentos legais que
buscam assegurar a liberdade religiosa. Os principais são:
Declaração Universal dos Direitos Humanos e Constituição Brasileira:
respeito à liberdade religiosa
Direito a professar a fé e liberdade de opinião e expressão
Direito à liberdade de reunião e associação pacífica
SAGRADO
CONTEÚDOS ESTRUTURANTES
PAISAGEM RELIGIOSA
TEXTO SAGRADOSÍMBOLO
CONTEÚDOS ESPECÍFICOS
Respeito à diversidade religiosa
Lugares sagradosTextos sagrados orais e
escritosOrganizações religiosas
Universo simbólico religiosoRitos
Festas religiosasVida e morte
Direitos Humanos e sua vinculação com o Sagrado.
Lugares Sagrados
No processo pedagógico, educador e educandos podem caracterizar lugares
e templos sagrados, quais sejam: lugares de peregrinação, de reverência, de culto, de
identidade, principais práticas de expressão do sagrado nestes locais. Destacamse:
lugares na natureza: rios, lagos, montanhas, grutas, cachoeiras, etc;
lugares construídos: templos, cidades sagradas, etc.
Textos sagrados orais e escritos
São ensinamentos sagrados transmitidos de forma oral e escrita pelas
diferentes culturas religiosas, expressos na literatura oral e escrita, como em cantos,
narrativas, poemas, orações, etc.
Os exemplos a serem apontados incluem: vedas (hinduísmo), escrituras
baba’is, fé Bahá’I, tradições orais africanas, afrobrasileiras e americanas, Alcorão
(islamismo), etc.
Organizações Religiosas
As organizações religiosas compõem os sistemas religiosos de modo
institucionalizado. Serão tratadas como conteúdos, sob a ênfase das principais
características, estrutura e dinâmica social dos sistemas religiosos que expressam as
diferentes formas de compreensão e de relações com o sagrado. Poderão ser destacados:
os fundadores e/ou líderes religiosos;
as estruturas hierárquicas.
Entre os exemplos de organizações religiosas mundiais e regionais, estão: o
budismo (Sidarta Gautama), o cristianismo (Cristo), confucionismo (Confúcio), o
espiritismo (Allan kardec), o taoísmo (Lao Tsé), etc.
Universo Simbólico Religioso
Os significados simbólicos dos gestos, sons, formas, cores e textos podem
ser trabalhados conforme os seguintes aspectos:
dos ritos;
dos mitos;
do cotidiano.
Entre os exemplos a serem apontados, estão: a arquitetura religiosa, os
mantras, os parâmetros, os objetos, etc.
Ritos
São celebrações das tradições e manifestações religiosas, formadas por um
conjunto de rituais. Podem ser compreendidas como a recapitulação de um
acontecimento sagrado anterior; servem à memória e à preservação da identidade de
diferentes tradições e manifestações religiosas, e podem remeter a possibilidades futuras
decorrentes de transformações contemporâneas. Destacamse:
os ritos de passagem;
os mortuários;
os propiciatórios, entre outros.
Entre os exemplos a serem apontados, estão: a dança (Xire), o candomblé, o
kiki (Kaingang, ritual fúnebre), a via sacra, o festejo indígena da colheita, etc.
Festas religiosas
São os eventos organizados pelos diferentes grupos religiosos, com objetivos
diversos: confraternização, rememoração dos símbolos, períodos ou datas importantes.
Entre eles, destacamse:
peregrinações;
festas familiares;
festas nos templos;
datas comemorativas.
Entre os exemplos a serem apontados, estão: festa do Dente Sagrado
(budista), Ramada (islâmica), kuarup (indígena), Festa de Iemanjá (afrobrasileira),
Pessach (judaica), Natal (cristã).
Vida e Morte
As respostas elaboradas para a vida além a morte nas diversas tradições e
manifestações religiosas e sua relação com o sagrado podem ser trabalhadas sob as
seguintes interpretações:
o sentido da vida nas tradições e manifestações religiosas;
a reencarnação;
a ressurreição – ação de voltar a vida;
além da morte: ancestralidade, vida dos antepassados, espírito dos
antepassados que se tornam presentes, e outras.
AVALIAÇÃO
A avaliação é um meio e não um fim em si mesmo. É um processo contínuo,
diagnóstico, dialético e deve ser tratada como parte integrante das relações de ensino
aprendizagem. Para Luckesi (2000), a avaliação da aprendizagem, é um recurso
pedagógico sutil e necessário para auxiliar cada educador e cada educando na busca e
na construção de si mesmo e do seu melhor modo de vida.
Dentre as orientações metodológicas para a disciplina de Ensino Religioso,
fazse necessário destacar os procedimentos avaliativos a serem adotados, uma vez que
este componente curricular não tem a mesma orientação que a maioria das disciplinas
no que se refere à atribuição de notas e/ou conceitos. Ou seja, o Ensino Religioso não se
constitui como objeto de reprovação, bem como não terá registro de notas ou conceitos
na documentação escolar, isso se justifica pelo caráter facultativo da matrícula na
disciplina.
Mesmo com essas particularidades, a avaliação não deixa de ser um dos
elementos integrantes do processo educativo na disciplina do Ensino Religioso na
modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Assim, cabe ao educador a
implementação de práticas avaliativas que permitam acompanhar o processo de
apropriação de conhecimentos pelo educando e pela classe, tendo como parâmetro os
conteúdos tratados e seus objetivos bem como a realidade e a experiência de vida de
cada educando.
Para atender a esse propósito, o educador terá que elaborar instrumentos que
o auxiliem a registrar o quanto o educando e a turma se apropriaram ou tem se
apropriado dos conteúdos tratados nas aulas de Ensino Religioso. Significa dizer que o
que se busca com o processo avaliativo é identificar em que medida os conteúdos
passam a ser referenciais para a compreensão das manifestações do sagrado pelos
educandos. Da mesma forma devese procurar perceber o quanto o conteúdo ministrado
possui significado no cotidiano dos educandos.
Nesse sentido, a apropriação do conteúdo que fora antes trabalhado pode ser
observado pelo educador em diferentes situações de ensino e aprendizagem. Podese
avaliar, por exemplo, em que medida o educando expressa uma relação respeitosa com
os colegas de classe que tem opções religiosas diferentes das suas; aceita as diferenças e,
principalmente, reconhece que o fenômeno religioso é um dado da cultura e da
identidade de cada grupo social; emprega conceitos adequados para referirse às
diferentes manifestações do sagrado.
Diante da sistematização das informações provenientes dessas avaliações, o
educador terá elementos para planejar as necessárias intervenções no processo de ensino
e aprendizagem, retomando as lacunas identificadas nos processos de apropriação dos
conteúdos pelos educandos, bem como terá elementos para os níveis de aprofundamento
a serem adotados em relação aos conteúdos que irá desenvolver posteriormente.
Nessa perspectiva, o educador de Ensino Religioso terá também, a partir do
processo avaliativo dos educandos, indicativos importantes para realizar a sua auto
avaliação que orientará a continuidade do trabalho ou a imediata reorganização daquilo
que já tenha sido trabalhado, tendo como referência este documento de diretrizes.
É importante lembrar que a disciplina de Ensino Religioso está num
processo recente de implantação nas escolas e que, o ato de avaliar é um dos fatores que
poderá contribuir para sua legitimação como um dos componentes curriculares.
Mesmo que não haja aferição de notas ou conceitos que impliquem na
reprovação ou aprovação dos educandos, estas diretrizes orientam que o educador
proceda ao registro formal do processo avaliativo, adotando instrumentos que permitam
à escola, ao educando, aos seus pais ou responsáveis, identificarem os progressos
obtidos na disciplina.
Com essa prática, os educandos, especificamente, terão a oportunidade de
retomar os conteúdos, como também poderão perceber que a apropriação dos
conhecimentos dessa disciplina lhes possibilita conhecer e compreender melhor a
diversidade cultural da qual a religiosidade é parte integrante, bem como possibilitará a
articulação desta disciplina com os demais componentes curriculares os quais também
abordam aspectos relativos à cultura.
REFERÊNCIAS
CISALPIANO, M. Religiões. São Paulo: Scipione, 1994.
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