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Instituto SENAI de Tecnologia em Meio Ambiente
Relatório Técnico
Monitoramento da qualidade das águas na bacia do Rio Doce
Acidente Ambiental - Samarco Mineração ocorrido em 05/11/2015
Belo HorizonteNovembro de 2015
Relatório Técnico
Nº 1
Data: 09/11/2015
Monitoramento da Qualidade das Águas na Bacia do Rio Doce
Cliente: Instituto Mineiro de Gestão das Águas
Elaborado por: Instituto Senai de Tecnologia em Meio Ambiente
Coordenação: Zenilde das Graças Guimarães Viola
Controle de VersõesVersão Data Autor Verificado Notas da Revisão
R0 09/11/2015 Zenilde das Graças Guimarães Viola
Marcos Bartasson Tannús
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1. IntroduçãoEm decorrência do rompimento de duas barragens de propriedade da SAMARCO, no distrito de Bento Rodrigues no dia 05 de novembro de 2015, com consequências em praticamente toda a bacia hidrográfica do rio Doce, o IGAM solicitou ao Centro de Inovação e Tecnologia SENAI FIEMG, por meio do Instituto SENAI de Tecnologia em Meio Ambiente, a realização de coletas e análises de água e sedimentos dos corpos de água afetados, bem como do rejeito das barragens rompidas. Os trabalhos iniciaram-se no dia seguinte ao evento com o planejamento do roteiro e deslocamento da equipe para a área.
2. Plano de Amostragem
1º dia) Saída de Belo Horizonte na tarde de 06/11/2015
Planejamento de amostragem: Local do acidente até Ipatinga. Coletas não realizadas nessa data. Na região próxima ao acidente (Rio Gualaxo e Rio do Carmo) não foi possível coletar amostras devido ao volume de rejeitos e curso corpos de água completamente assoreados.
Código Descrição
Rio Gualaxo do Norte a partir do ponto mais próximo da pluma visível do rejeito
Rio Gualaxo do Norte a montante da localidade de Pedras
Rio Gualaxo do Norte próximo a sua foz no Rio do Carmo
RD071 Rio do Carmo, próximo à sua confluência com o rio Piranga.
RD072 Rio Doce, logo após sua formação, depois da confluência dos rios Piranga e do Carmo
RD019 Rio Doce a montante da foz do rio Casca
RD023 Rio Doce a montante da comunidade de Cachoeira dos Óculos
2º dia) Coletas realizadas no dia 07/11/2015
Planejamento de amostragem: Local do acidente até Governador Valadares com o objetivo de coletar trechos do Rio Doce antes da chegada da onda de rejeitos.
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RD072 Rio Doce, logo após sua formação, depois da confluência dos rios Piranga e do Carmo
RD019 Rio Doce a montante da foz do rio Casca
RD023 Rio Doce a montante da comunidade de Cachoeira dos Óculos
RD044* Rio Doce na cidade de Governador Valadares
RD045* Rio Doce a jusante da cidade de Governador Valadares
Obs: * Os pontos RD044 e RD045 ainda não haviam recebido a onda de rejeitos.
Foram coletadas amostras de água e sedimentos em todos os pontos.
3º dia) Coletas realizadas no dia 08/11/2015
Planejamento de amostragem: Coleta realizada de jusante para montante partindo de Governador Valadares
RD033 Rio Doce a jusante da cachoeira escura
RD035 Rio Doce a jusante do ribeirão Ipanema e jusante da confluência com o rio Piracicaba
RD044* Rio Doce na cidade de Governador Valadares
RD045* Rio Doce a jusante da cidade de Governador Valadares
RD083* Rio Doce, após a foz do rio Santo Antônio
Obs: * Os pontos RD044, RD045, RD083 ainda não haviam recebido a onda de rejeitos.
Foram coletadas amostras de água e sedimentos em todos os pontos.
3. Definição e frequência dos ensaios
Frequência de coleta
Águas superficiais: coletas diárias
Sedimentos: A cada 7 dias
Ensaios a serem realizados
Plano 1: Definido no dia 06/11/2015
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Frequência diária
Águas superficiais:
Condutividade elétrica laboratório
Condutividade elétrica in loco
Oxigênio dissolvido
pH in loco
Temperatura da água
Temperatura do ar
Sólidos dissolvidos totais
Sólidos em Suspensão Totais
Sólidos sedimentáveis
Sólidos totais
Turbidez
Alumínio dissolvido
Manganês total
Frequência - a cada 3 (três) dias incluir:
Águas superficiais:
Cádmio Total
Chumbo total
Cobre Dissolvido
Mercúrio total.
Frequência - a cada 7 (dias) dias incluir:
Sedimentos:
Ensaio qualitativo com varredura completa de metais por espectroscopia de raio x.
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Ensaio quantitativo (relação abaixo e outros que forem detectados no ensaio qualitativo):
Arsênio total
Cádmio total
Chumbo total
Manganês total
Cromo total
Níquel total
Alumínio dissolvido
Ferro dissolvido
Cobre dissolvido
4. ResultadosOs resultados encontrados foram comparados com a média da série histórica para o período de 1997 a 2015, conforme os gráficos apresentados a seguir.
Nos municípios de Periquito e Governador Valadares as amostras coletadas nos dias 07 e 08/11 ainda não haviam recebido a onda de rejeitos.
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Resultados na calha principal do Rio Doce
0123456789
10
07/11/2015 08/11/2015 média histórica
Limite inferior Limite superior
pH
0
50
100
150
200
250
300
350
07/11/2015 08/11/2015 média histórica
Condutividade Elétrica (µS/cm)
6
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
600.000
700.000
07/11/2015 08/11/2015 média histórica Limite legislação
Turbidez (UNT)
0123456789
07/11/2015 08/11/2015 média histórica Limite legislação
Oxigênio Dissolvido (mg/L)
7
Ensaios ainda não concluídos para as amostras coletadas no dia 08/11/2015
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
07/11/2015 08/11/2015 média histórica
Sólidos totais (mg/L)
0
50
100
150
200
250
300
350
07/11/2015 08/11/2015 média histórica
Sólidos dissolvidos totais (mg/L)
8
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
07/11/2015 08/11/2015 média histórica
Sólidos em Suspensão Totais (mg/L)
Resultados de metais
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5. Discussão dos Resultados
Nos três pontos coletados em Periquito e Governador Valadares ainda não havia chegado o rejeito. Para esses pontos observou-se que todos os parâmetros estão em conformidade com a série histórica analisada no período de 1997 a 2015.
Os pontos coletados no Rio Doce em Santa Cruz do Escalvado, Rio Casca, Marliéria, Ipatinga e Belo Oriente já haviam sido atingidos pelos rejeitos e observou-se alterações na maioria dos parâmetros monitorados.
O pH dá uma indicação sobre a condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água em uma faixa de 0 a 14. Observou-se em todos os pontos coletados valores de pH dentro do limite estabelecido na legislação (faixa de 6 a 9) que são valores compatíveis para a maioria dos
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organismos. Isso significa que o rejeito não deve está sofrendo alteração química à medida que avança nos corpos de água, nem mesmo passando por processo de diluição de componentes que venham alterar as condições de neutralidade da água.
A condutividade elétrica permite afirmar o teor de sais dissolvidos na água. Águas correntes com um teor aceitável de sal apresentam condutividade abaixo de 1000S/cm. Embora se tenha encontrado valores de condutividade 6 vezes acima da média histórica observada, os valores estão abaixo de 320S/cm.
A turbidez na água, nessa situação foi provocada pela presença do rejeito de minério deixando a sua aparência opaca (marrom avermelhada) e pode reduzir a penetração da luz prejudicando a vida aquática. Além disso, é esteticamente desagradável na água potável e nas medidas acima de 50NTU (unidades de turbidez) requer filtração, coagulação química para a remoção dos sólidos suspensos e melhor eficiência no processo de desinfecção da água para o seu tratamento para abastecimento. Destaca-se que nos cinco pontos monitorados foram observados valores da ordem de milhares de unidades de turbidez.
As baixas concentrações de oxigênio, com valores abaixo de 1mg/L, também são causadas pela presença do rejeito, que impede a passagem da luz e a realização da fotossíntese. Caso o oxigênio seja totalmente consumido tem-se condições anaeróbicas com geração de maus odores. A redução de oxigênio também é provocada por temperaturas elevadas da água (acima de 20ºC), o que foi observado devido às próprias condições do clima, com temperaturas ambientes de 28,3 e 31,4ºC, nos locais de coleta.
Ressalta-se que no local mais próximo ao acidente, Rio Doce no município de Rio Doce, os valores encontrados foram mais baixos em relação ao ponto mais a jusante, Rio Doce em Rio Casca, para os parâmetros turbidez, condutividade elétrica e pH e melhor para oxigênio dissolvido. Isso se deve à passagem da onda de cheia no primeiro ponto a mais tempo, em relação ao momento que foi realizada a coleta. Isso evidencia que com a redução da vazão de rejeitos espera-se uma recuperação mais rápida ao longo do Rio Doce.
As medidas de sólidos e metais foram concluídas até o momento para os pontos em Santa Cruz do Escalvado e em Rio Casca.
Avaliando-se a série de sólidos (totais, dissolvidos e em suspensão) nesses dois pontos verificou-se que, em decorrência da presença do rejeito, os sólidos em suspensão aumentaram na ordem de milhares sendo a maior parcela da medida de sólidos totais, enquanto a proporção dos sólidos dissolvidos está na ordem de centenas em decorrência de um aumento de cerca de 3 a 6 vezes em relação ao observado na série histórica.
Considerando-se o aspecto pastoso e opaco das amostras devido à grande proporção de sedimentos nas amostras e, conforme apresentado pelos valores elevados de turbidez e sólidos em suspensão, as medidas de metais superaram os valores observados na série histórica principalmente no município de Rio Casca cuja amostra foi coleta em período mais próximo à passagem da onda de rejeitos.
Metais pesados não são substâncias estranhas para o meio ambiente, pois pertencem ao sistema natural dos elementos. Em primeiro lugar são contidos em numerosos minerais e rochas. Muitos desses elementos são pouco solúveis e são adsorvidos aos sólidos em suspensão e sedimentos. A solubilidade de todos os metais depende muito do valor de pH e do potencial redox do meio. Naturalmente, as concentrações encontradas nos sedimentos são
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maiores do que na água. Condição como a diminuição do pH da água podem proporcionar a liberação desses elementos do meio sólido para água. No entanto, como apresentado anteriormente, o pH não apresentou variação, o que é um fator positivo para a remoção desses rejeitos para o tratamento de água para um possível abastecimento.
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