PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio...

82
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS DA TERRA E DO MAR Curso de Tecnologia em Construção Naval PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres RENAN RAUL PEREIRA DA SILVA ITAJAÍ, 2011

description

Estimativa preliminar do desempenho de um kite de 320 m² instalado em um navio porta-contêineres. O objetivo do estudo é demonstrar a viabilidade desse sistema que tem como proposta atuar em conjunto com o motor de combustão principal para economizar combustível. Monografia apresentada em junho de 2011 para a obtenção do título de Tecnólogo em Construção Naval, do Curso de Tecnologia em Construção Naval da Universidade do Vale do Itajaí.

Transcript of PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio...

Page 1: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

DA TERRA E DO MAR

Curso de Tecnologia em Construção Naval

PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

RENAN RAUL PEREIRA DA SILVA

ITAJAÍ, 2011

Page 2: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

RENAN RAUL PEREIRA DA SILVA

PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS:

análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

Trabalho desenvolvido para a obtenção do título de Tecnólogo em Construção Naval do Curso Superior de Tecnologia em Construção Naval - Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar da Universidade do Vale do Itajaí.

Professor Orientador: Eng. Naval Arthur Augusto de Andrade Ennes

ITAJAÍ, 2011

Page 3: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

RENAN RAUL PEREIRA DA SILVA

PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS:

análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

Esta monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Tecnólogo em

Construção Naval e aprovada pelo Curso de Tecnologia em Construção Naval –

Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar – Universidade do Vale do Itajaí.

Área de Concentração: Equipamentos Auxiliares do Sistema Propulsivo

Itajaí, 14 de junho de 2011.

_______________________________________

Prof. Carlos Frederico da Cunha Teixeira

UNIVALI – CTTMar

Presidente da banca

_______________________________________

Prof. Arthur Augusto de Andrade Ennes

UNIVALI – CTTMar

Orientador

_______________________________________

Prof. Luiz Eduardo Bueno Minioli

UNIVALI – CTTMar

Avaliador

Page 4: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

PERMISSÃO PARA PUBLICAÇÃO

ITAJAÍ, 14 de junho de 2011.

Autorizo que este Trabalho de Conclusão de Curso de minha autoria e cujo tema é

Propulsão Auxiliada por Instalações Eólicas, análise do desempenho de um

kite em um navio porta-contêineres, seja publicado na página do curso de

Tecnologia em Construção Naval do site da Universidade do Vale do Itajaí

(www.univali.br) e no Blog da Naval (http://navalunivali.wordpress.com/).

___________________________________________

Renan Raul Pereira da Silva

Page 5: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO

ITAJAÍ, 14 de junho de 2011.

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, estando ciente do disposto no

Art. 60, parágrafo único, do Regulamento de Estágio e na Lei nº 9610 de

18/02/1998, isentando a Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o Curso de

Tecnologia em Construção Naval, a Banca Examinadora e o Orientador de TCC, de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

__________________________________

Renan Raul Pereira da Silva

Page 6: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

Para Utibiriçá João da Silva,

meu avô e melhor amigo.

Page 7: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

AGRADECIMENTOS

Este trabalho é resultado de quatro anos e meio de uma caminhada

pontilhada de pessoas importantes, que serão para sempre lembradas como parte

em minha formação, tanto acadêmica, quanto para a vida.

Agradeço ao meu professor orientador, Arthur Ennes, pelo aprendizado que

recebi e pelas conversas construtivas sobre este estudo.

Ao professor Carlos Teixeira, que semeou a ideia para este estudo, ao

abordar a propulsão eólica em suas aulas na disciplina de Máquinas Marítimas I, e,

posteriormente, por me ceder material de grande valor sobre o tema.

A todos os meus amigos, de faculdade ou não, que estiveram comigo em

tantos desafios, e que ouviram com atenção, ficaram entusiasmados e apoiaram

minha ideia.

À minha família, por sempre depositar confiança em minha capacidade e por

todo o afeto dispensado nesses anos.

Em especial, à Karine, pelo apoio, interesse, incentivo, carinho e

compreensão.

Finalmente e principalmente, aos meus pais, Eduardo e Maria Antonieta, e à

minha irmã, Dafne, por moldarem meu caráter, patrocinarem meus estudos, por

todas as reprimendas, conversas, risos, momentos difíceis, e por me terem feito

seguir o caminho certo, sempre com inabalável amor e carinho.

Page 8: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

Os que se fizeram ao mar em navios,

mercando nas grandes águas, estes viram as

obras do Senhor e suas maravilhas em alto

mar. Sua palavra levantou tremendo vento, que

impeliu para o alto as suas ondas. Subiam até

os céus, desciam aos abismos, suas almas

definhavam em angústias. Titubeavam e

cambaleavam como ébrios, e toda a sua

perícia se foi. Em sua agonia clamaram então

ao Senhor, e Ele os livrou da tribulação.

Transformou a tempestade em leve brisa, e as

ondas do mar silenciaram. E se alegraram

porque elas amainaram, e os conduziu ao

desejado porto.

Salmos 107, 23-30

Page 9: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

RESUMO

Atualmente, a preocupação ambiental com a emissão de gases poluidores e a

crescente alta no preço dos combustíveis pressionam os armadores, que agora

buscam soluções para se adequarem ao contexto atual. A propulsão eólica volta a

ser cogitada, como auxílio à propulsão convencional, de forma a garantir economia

de combustível e redução de emissões. A utilização de kites em alguns navios

mostrou bons resultados para cumprir tais objetivos. O sistema é composto por um

kite, semelhante a um parapente, preso a um cabo na proa do navio. O kite é

controlado eletronicamente, e opera em altitudes de até 300 metros, onde ventos

mais fortes e constantes predominam. As vantagens do uso do kite estão

relacionadas com a facilidade de operação, pouco espaço requerido a bordo, área

vélica pequena e ausência de mastros que possam transmitir forças que adernem o

navio. No presente estudo, uma estimativa para o uso do kite em um navio porta-

contêineres foi realizada. Um modelo de 320 m² pode gerar uma potência de até

2.700 kW, aproximadamente. A economia de combustível chegou a mais de 1.000

toneladas de óleo por ano para o cenário avaliado, o que significa uma economia de

15%. Com o uso de kites maiores, essa economia pode ultrapassar 30%.

Palavras-chave: Propulsão auxiliar eólica. Kite. SkySails.

Page 10: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

ABSTRACT

Nowadays, the concerning about air pollution and the growing fuel oil prices

place stresses at ship owners, which are looking for solutions to adequate to the

actual scenario. Wind propulsion appears again, as assistance to the main

propulsion of the ship, to save fuel and reduce emissions. The using of a kite in some

ships showed good results to achieve these goals. The system is formed by a kite,

similar to that of a paraglider, connected to a rope at the bow of the ship. The kite is

electronic controlled, and operates at altitudes up to 300 meters, where more strong

and constant wind prevail. The advantages of using a kite are related to the easy

operation of the system, less space required onboard, small sail area and the

absence of a mast that can transmit a heeling force to the ship. In the present study,

the use of a kite on a container ship is estimated. A kite with 320 m² can produce a

power up to 2.700 kW, approximately. The fuel savings reached more than 1.000

tons of fuel oil on the evaluated case, meaning a save of 15%. For bigger kites, the

savings may reach more than 30%.

Keywords: Wind assisted propulsion. Kite. SkySails.

Page 11: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: nomenclatura para um aerofólio. Fonte: BRUNETTI, 2005 ....................... 21

Figura 2: dispositivo sujeito a uma força propulsiva F e suas componentes Fs

(sustentação) e Fa (arrasto) imerso em um fluido a uma velocidade v0. Fonte:

adaptado de BRUNETTI, 2005. ........................................................................ 22

Figura 3: escoamento viscoso através de um aerofólio. A camada limite foi

exagerada para maior clareza. Fonte: KREITH et al., 1999. ............................ 23

Figura 4: diagrama polar. Fonte: BRUNETTI, 2005. ................................................. 24

Figura 5: tipos de propulsões eólicas auxiliares em navios. Fonte: adaptado de

YOSHIMURA, 2010. ......................................................................................... 25

Figura 6: combinação de propulsão eólica e propulsão do motor principal. Fonte:

adaptado de ASKER, 1985. .............................................................................. 26

Figura 7: navio-tanque Shin-Aitoku-Maru, utilizando velas rígidas; abaixo, esquema

do dispositivo. Fonte: YOSHIMURA, 2010. ...................................................... 27

Figura 8: Super Eco Ship 2030, projeto do armador japonês NYK, usando velas

rígidas. Fonte: NIPPON YUSEN KABUSHIKI KAISHA - NYK LINE, 2011. ...... 28

Figura 9: esquema do wing sail e sua montagem em um pequeno veleiro. Fonte:

ASKER, 1985. ................................................................................................... 30

Figura 10: Efeito Magnus. Fonte: adaptado de MARCHAJ, 1980. ............................ 31

Figura 11: propulsão do rotor de Flettner em função do ângulo de incidência do

vento em relação à embarcação. Fonte: WINDSHIP, 2011. ............................. 32

Figura 12: o Buckau, operando com dois rotores desenvolvidos por Anton Flettner.

Fonte: PORTAL MARÍTIMO, 2011. ................................................................... 33

Figura 13: E-Ship 1. Fonte: Jörn Prestien – SHIPSPOTTING, 2011 ........................ 34

Figura 14: projeto de navio-tanque equipado com rotores de Flettner. Fonte:

WINDAGAIN, 2011. .......................................................................................... 35

Figura 15: vista lateral e superior do Turbosail. Fonte: FONDATION COUSTEAU,

1986. ................................................................................................................. 36

Figura 16: funcionamento do Turbosail. Fonte: THE NEW ZEALAND DIGITAL

LIBRARY, 2010. ................................................................................................ 37

Figura 17: detalhe das entradas de ar e do flap no Turbosail. Fonte: THE

COUSTEAU SOCIETY, 2002. .......................................................................... 37

Page 12: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

Figura 18: influência da sucção da camada limite em um aerofólio de perfil

NACA0012, com α 10°. À esquerda, fluxo sem controle; à direita, controle por

sucção. Fonte: FOURNIER; PELLERIN; PHUOC, 2010. .................................. 38

Figura 19: o Alcyone. Fonte: THE COUSTEAU SOCIETY, 2002. ............................ 39

Figura 20: MV Beluga SkySails. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?]. ........ 41

Figura 21: componentes do sistema. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?]. 41

Figura 22: MV "Michel A." Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, 2010. .................... 42

Figura 23: o kite. Fonte: SKYSAILS GMBH &CO. KG, [200?]. ................................. 43

Figura 24: ângulos em relação ao vento possíveis de operação. Fonte: SKYSAILS

GMBH &CO. KG, [200?]. .................................................................................. 43

Figura 25: cabo de reboque. Fonte: SKYSAILS GMBH &CO. KG, [200?]. ............... 45

Figura 26: ponto de transmissão de força. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG,

[200?]. ............................................................................................................... 46

Figura 27: guincho. Fonte: SKYSAILS GMBH &CO. KG, [200?]. ............................. 46

Figura 28: mastro de lançamento e recolhimento. Fonte: SKYSAILS GMBH &CO.

KG, [200?]. ........................................................................................................ 47

Figura 29: central de controle. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?]. .......... 48

Figura 30: comparação entre as alturas das velas tradicionais e a do SkySails. A

curva indica a intensidade da energia do vento em função da altitude. Fonte:

SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?]. .............................................................. 49

Figura 31: Comparação entre os ângulos de inclinação de uma embarcação com

vela suportada por mastro e com a utilização do kite. Fonte: SKYSAILS GMBH

& CO. KG, [200-?]. ............................................................................................ 49

Figura 32: seção transversal do kite, mostrando como ele é inflado pelo vento e

adquire o formato de aerofólio. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?]. . 50

Figura 33: envelope de vôo. Fonte: NAAIJEN; KOSTER, 2007. ............................... 51

Figura 34: ângulo de ataque do kite. Fonte: NAAIJEN; KOSTER, 2007. .................. 52

Figura 35: exemplo de trajetória de voo do kite dentro do envelope de vôo. Fonte:

NAAIJEN; KOSTER, 2007. ............................................................................... 53

Figura 36: exemplo do posicionamento do envelope de vôo em um navio, com o

vento aparente soprando por uma bochecha. Fonte: NAAIJEN; KOSTER, 2007.

.......................................................................................................................... 53

Figura 37: diagrama polar mostrando a economia de combustível estimada com um

kite instalado em um navio-tanque. Fonte: NAAIJEN, KOSTER, 2007. ............ 56

Page 13: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

Figura 38: cenários do uso do kite em duas embarcações, com estimativas de

acréscimo de economia de combustível e lucro, no contexto atual e para os

próximos 10 anos. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, 2011. ........................ 59

Figura 39: Log-In Jacarandá. Fonte: Edson Lucas - SHIPSPOTTING, 2011 ........... 65

Figura 40: rota do Log-In Jacarandá. Fonte: LOG-IN LOGÍSTICA INTERMODAL,

2011 .................................................................................................................. 65

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: economia estimada para cada modelo de kite no cenário estudado. ....... 68

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: modelos de kite fornecidos pela SkySails e suas características.............. 44

Tabela 2: potências máximas e mínimas para cada modelo de kite, em kW. ........... 44

Tabela 3: eficiências propulsivas típicas para navios acima de 120m LPP. ............. 55

Tabela 4: Escala Beaufort ......................................................................................... 57

Tabela 5: potências, em kW, para cada modelo de kite, usando como parâmetros as

condições padrão do fabricante. ....................................................................... 61

Tabela 6: parâmetros para cenário 1. ....................................................................... 62

Tabela 7: cenário 1 - potências em kW para cada condição..................................... 63

Tabela 8: parâmetros para cenário 2 ........................................................................ 63

Tabela 9: cenário 2 - potências em kW para cada condição..................................... 63

Tabela 10: estimativa de potências Pk alcançadas pelo kite no navio Log-In

Jacarandá, com velocidade de serviço a 20 nós e ventos a 130° em relação à

embarcação. ..................................................................................................... 66

Tabela 11: estimativa de potências PI-k, em kW, deduzidas do MCP devido ao uso

do kite no navio Log-In Jacarandá . .................................................................. 67

Tabela 12: economia de combustível estimada para o navio Log-In Jacarandá, em

t/ano, para cada modelo de kite no cenário estudado. ..................................... 68

Page 14: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AB: Arqueação Bruta.

BF: Beaufort Force (Força Beaufort).

CFD: Computational Fluid Dynamics (Fluidodinâmica Computacional).

CG: Centro de Gravidade.

GM: Altura Metacêntrica.

IMO: International Maritime Organization (Organização Marítima Internacional).

MARPOL 73/78: Convenção Internacional para a Prevenção de Poluição por Navios

de 1973, modificada pelo Protocolo de 1978 (MARPOL é a abreviatura em

inglês para marine pollution).

MCP: Motor de Combustão Principal.

NACA: National Advisory Committee for Aeronautics (Comitê Nacional para

Aconselhamento sobre Aeronáutica), extinto órgão do governo dos EUA, é

prefixo de uma série de aerofólios criados pelo mesmo.

NYK: Nippon Yusen Kabushiki Kaisha.

rpm: rotações por minuto.

TEU: Twenty Equivalent Unit (unidade equivalente a 20 pés).

USD: United States Dollar (dólar estadunidense).

Page 15: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 16

1.1 Objetivos ..................................................................................................... 17

1.1.1 Objetivo geral......................................................................................... 17

1.1.2 Objetivos Específicos ............................................................................ 17

1.2 Justificativa ................................................................................................ 18

1.3 Metodologia ................................................................................................ 19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 21

2.1 Força de sustentação gerada por um aerofólio ...................................... 21

2.2 Tipos de propulsão eólica auxiliares ........................................................ 25

2.2.1 Velas rígidas .......................................................................................... 26

2.2.2 Rotor de Flettner .................................................................................... 30

2.2.3 Turbosail ................................................................................................ 35

2.3 Kites ............................................................................................................ 40

2.3.1 O kite ..................................................................................................... 42

2.3.2 Cabo de reboque ................................................................................... 45

2.3.3 Guincho ................................................................................................. 46

2.3.4 Sistema de lançamento e recolhimento ................................................. 47

2.3.5 Central de controle ................................................................................ 47

2.4 Como a sustentação é gerada pelo kite ................................................... 50

2.4.1 Envelope de vôo .................................................................................... 51

2.4.2 Força de tração resultante do kite ......................................................... 54

2.5 Interação do kite com o navio ................................................................... 54

2.6 Ventos ......................................................................................................... 56

2.7 Fatores econômicos .................................................................................. 57

2.8 Navios porta-contêineres .......................................................................... 59

Page 16: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

3 RESULTADOS OBTIDOS ......................................................................................... 61

3.1 Análise do kite ............................................................................................ 61

3.2 Escolha do navio ........................................................................................ 64

3.3 Estimativa de desempenho do kite no navio selecionado ..................... 66

3.4 Estimativa de economia de combustível ................................................. 67

3.5 Retorno financeiro ..................................................................................... 69

4 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 70

REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 73

ANEXO A – FICHA TÉCNICA DO NAVIO LOG-IN JACARANDÁ ............................................ 77

ANEXO B – FICHA TÉCNICA DO MOTOR WÄRTSILÄ RT-FLEX 68 ...................................... 79

ANEXO C – PROGRAMAÇÃO DE NAVIOS DO ARMADOR LOG-IN ........................................ 80

Page 17: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

16

1 INTRODUÇÃO

O homem vem usando o vento como força propulsora em embarcações há

pelo menos 5.000 anos. As velas, primeiramente simples, quadradas, e funcionando

somente com ventos pela popa, foram recebendo aprimoramentos em seu formato e

manuseio. As velas triangulares permitiram o avanço da embarcação com ventos

contrários. Nações firmaram seus domínios territoriais e comerciais com poderosas

esquadras, tripuladas por marinheiros habilidosos no uso das cada vez mais

numerosas velas.

O motor a vapor fez sua estréia em uma embarcação no ano de 1805. Ainda

assim, seu mecanismo ainda não era totalmente confiável, e era usado em conjunto

com as velas. Gradativamente, as velas foram perdendo espaço para o motor a

vapor, que ficava menor e mais confiável. Grandes tripulações já não eram mais

necessárias para manejar as velas, os mastros numerosos ocupavam espaço que

poderia ser usado para carga, e, por fim, o aparecimento do hélice, em lugar da roda

de pás, proporcionou um grande incremento de velocidade. Em meados do século

XX, o uso de velas e motor a vapor em conjunto foi praticamente abolido nos navios

de grande porte. Porém, desde o início do século XX, dispositivos que utilizam a

energia do vento, alternativos à vela tradicional, foram inventados e testados em

embarcações. O objetivo de tais sistemas é trabalhar paralelamente com o motor

principal, reduzindo a carga sobre este (assim, reduzindo também o consumo),

ajudando na força propulsiva, se as condições de ventos permitirem. Em

comparação com as velas tradicionais, eles melhoram o aproveitamento do vento

como força propulsiva, por meio do uso de outros materiais, dispositivos mecânicos

e menor área vélica. Estas soluções procuraram satisfazer os requerimentos do

transporte marítimo moderno: grandes velocidades, eficiência, praticidade e maior

espaço para acondicionamento de carga. Porém, até os dias atuais, não haviam

obtido grande apoio da indústria marítima.

Desacreditado durante muitos anos, o uso da propulsão eólica em auxílio ao

motor de combustão volta a ser uma ideia cogitada por alguns armadores, frente à

instabilidade dos preços dos combustíveis e da pressão sobre a indústria marítima

para que emissões de gases poluidores sejam diminuídas.

Page 18: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

17

Entre todos os dispositivos existentes, o kite vem obtendo bons resultados.

Basicamente, o dispositivo é composto por uma pipa, semelhante a um parapente,

conectada a um cabo de reboque, preso a um guincho na proa do navio, que atua

dinamicamente nos movimentos do kite. Este tipo de propulsão já está instalado em

alguns navios cargueiros, e pode gerar uma redução de até 35% do consumo de

combustível anualmente (SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?], tradução nossa).

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Analisar o sistema de propulsão auxiliado por kite em navios porta-

contêineres.

1.1.2 Objetivos Específicos

Descrever os propulsores eólicos existentes em navios e seu funcionamento;

descrever o sistema de propulsão por kites em navios;

realizar estimativas preliminares da força propulsiva de um kite instalado em

um navio porta-contêineres;

realizar estimativas preliminares da economia de combustível e impactos

financeiros e ambientais do uso do kite em um navio porta-contêineres;

listar as vantagens e limitações do uso do sistema.

Page 19: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

18

1.2 Justificativa

O transporte marítimo é o mais eficiente entre todos os outros modais de

transporte, do ponto de vista energético e econômico. Ainda assim, o transporte

marítimo internacional foi responsável pela emissão de 1,024 milhão de tonelada de

CO2 na atmosfera, correspondendo a 2,7% das emissões globais desse gás

(INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION, 2009, tradução nossa). Em vista da

preocupação com o aquecimento global, a IMO, através da convenção MARPOL

73/78, Anexo VI, procura regulamentar a emissão de dióxido de carbono, outros

gases do efeito estufa e gases nocivos à saúde resultantes da queima de

combustíveis. Além disso, vários países, como EUA e nações da União Européia,

possuem restrições à emissão de gases poluidores por navios.

Outro fator causador de pressão para os armadores é o preço dos

combustíveis. A instabilidade do preço do barril de petróleo faz com que os gastos

com a navegação marítima sejam cada vez mais altos. De acordo com o World

Shipping Council (2008, p. 1, tradução nossa), “os gastos com combustíveis

representam por volta de 50 a 60% do total dos custos operacionais de um navio,

dependendo do seu tipo e serviço.” Todo esse custo é repassado ao exportador /

importador no frete, encarecendo toda a cadeia.

A frota mundial de navios mercantes é de aproximadamente 53.000 navios,

dos quais 4.641 são navios porta-contêineres, com média de idade de 10 anos

(INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION, 2009, tradução nossa). Esses

navios transportam por volta de 60% do valor total de mercadorias transportadas no

modal marítimo (WORLD SHIPPING COUNCIL, 2009, tradução nossa). O contêiner

é o padrão mundial de unitização de transporte da maioria dos bens de consumo. É

evidente a alta dependência que comércio global tem dos navios porta-contêineres,

e dos custos envolvidos na operação dessas embarcações. Até 2050, a frota

mundial de navios pode aumentar em até três vezes – reflexo do aumento do

comércio global - e assim aumentariam o consumo de combustíveis, e as emissões

de gases poluidores.

Soluções técnicas e operacionais vêm sendo adotadas para uma adequação

em curto prazo a essa realidade. A prática mais comum atualmente é a redução de

Page 20: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

19

velocidade dos navios, que gera bons resultados – uma economia substancial foi

detectada pelos armadores que a adotaram. Porém, a prática só se justifica se o

tempo de viagem não exceda o programado, caso contrário haverá atrasos, e assim,

mais custos. E, geralmente, navios porta-contêineres trabalham em prazos

apertados.

Nesse cenário, soluções que aliam a economia de combustível e redução de

emissões, sem que comprometam o desempenho da embarcação, vêm sendo

perseguidas com mais freqüência na indústria marítima. A propulsão auxiliar eólica

utilizando um kite aparece como uma solução exeqüível em curto prazo em navios

porta-contêineres, por sua simplicidade e eficiência, proporcionando a economia em

combustível necessária aos armadores para reduzir custos e poluir menos, algo de

vital importância para este modal de transporte atualmente.

1.3 Metodologia

Para a fundamentação teórica, foi feita uma revisão bibliográfica em livros e

artigos científicos sobre aerodinâmica e mecânica dos fluidos, de forma a definir

conceitos sobre o tema e explicar o princípio de funcionamento das propulsões

eólicas.

A descrição dos tipos de propulsão eólica usadas em navios, em especial do

kite, demandou a consulta de artigos científicos, estudos publicados por entidades,

patentes registradas, catálogos, papers, artigos de revistas e sites na internet. A fim

de obter mais detalhes sobre o kite, como características técnicas e preço, foi

mantido contato com um representante do fabricante, através de correio eletrônico.

A consulta de estudos publicados por órgãos não governamentais,

disponíveis em meio eletrônico, sobre impactos no meio ambiente e fatores

econômicos do transporte marítimo, permitiram posicionar o estudo no contexto

atual: altos preços dos combustíveis e preocupação com a emissão de gases

poluidores; e a importância que o transporte marítimo, em especial de cargas

conteinerizadas, tem hoje para a economia global. Este último foi decisivo para a

Page 21: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

20

escolha do tipo de navio a ser usado no estudo. As particularidades da embarcação

utilizada nas estimativas foram obtidas no site do armador.

Para as estimativas, a metodologia utilizada foi baseada nos estudos de

Shukla e Ghosh (2009), e de Naaijen e Koster (2007). Shukla contribuiu com

materiais enviados por correio eletrônico. O método para as estimativas foi

complementado com a consulta de livros sobre projetos de navios.

Page 22: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Força de sustentação gerada por um aerofólio

A força de sustentação é a responsável pelo vôo dos aviões e pela propulsão

gerada por uma vela em um barco. Todos os dispositivos de propulsão

apresentados neste estudo, em especial o kite, trabalham como aerofólios e

obedecem, basicamente, ao mesmo princípio de funcionamento.

A teoria abrange conceitos da mecânica dos fluídos, mais especificamente

dentro da fluidodinâmica, que estuda a interação existente entre um fluido (no caso,

o ar) e um corpo nele imerso, quando entre os dois existe um movimento relativo.

Um aerofólio é um corpo aerodinâmico, de formas alongadas, destinado a

prover uma maior força de sustentação com um mínimo de força de arrasto. Um

corpo que não possui essas características, incapaz de gerar sustentação, é

chamado de corpo abrupto (BRUNETTI, 2005, p. 236). A nomenclatura para um

aerofólio é apresentada na Figura 1.

Figura 1: nomenclatura para um aerofólio. Fonte: BRUNETTI, 2005

Page 23: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

22

O fluxo de um fluido por um aerofólio provoca o aparecimento de uma força

resultante, que pode ser decomposta em duas componentes: força de arrasto, que

atua paralelo ao fluxo do fluido, e força de sustentação, normal às linhas do fluxo,

conforme apresentado na Figura 2.

O atrito de um fluido viscoso com um aerofólio cria um gradiente de

velocidades junto à superfície, criando uma fina camada de fluido adjacente ao

aerofólio, chamada de camada limite, mostrada na Figura 3. Fora dessa camada,

segundo a teoria de Ludwig Prandtl feita em 1904, o fluido pode ser considerado

como ideal, sem viscosidade, e assim o Teorema de Bernoulli (que relaciona a

velocidade do fluido e sua pressão) pode ser aplicado para determinar as pressões

na superfície, já que essas pressões são praticamente as mesmas do que as

pressões fora da camada limite (FINNEMORE; FRANZINI, 2002, tradução nossa).

A explicação mais elementar para o aparecimento da força de sustentação é

o fato de que a velocidade do fluxo de ar no extradorso do aerofólio é maior do que

no intradorso. Assim, o Teorema de Bernoulli mostra que acima do aerofólio há uma

pressão menor, e abaixo uma pressão maior, resultando em uma força para cima

(FINNEMORE; FRANZINI, 2002, tradução nossa).

De acordo com McDonald (1999, p. 70, tradução nossa), “o Teorema de

Bernoulli para o estudo dos aerofólios é reduzido em”:

p 1

2 v2 constante (1)

Onde p é a pressão do ar na seção ao longe, é a densidade do ar, e v é a sua

velocidade.

Figura 2: dispositivo sujeito a uma força propulsiva F e suas componentes Fs (sustentação) e Fa (arrasto) imerso em um fluido a uma velocidade v0. Fonte: adaptado de BRUNETTI, 2005.

Page 24: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

23

Segundo Brunetti (2005, p. 237) “no caso dos aerofólios, as forças de arrasto

e sustentação são dadas, respectivamente, por”:

a Ca v2A

2 (2)

s Cs v2A

2 (3)

Onde Ca e Cs são , respectivamente, os coeficientes de arrasto e sustentação,

e A é a área projetada do aerofólio.

Os coeficientes de sustentação e arrasto são obtidos através de experimentos

práticos em túneis de vento ou por softwares CFD (Computational Fluid Dynamics).

Um dos parâmetros de variação dos coeficientes é ângulo de ataque α. Assim,

conforme o ângulo de ataque aumenta, o coeficiente de sustentação também

cresce, e conseqüentemente, aumenta-se a força de sustentação. Em determinado

ponto, porém, o aumento excessivo do ângulo de ataque faz com que a camada

limite no extradorso do aerofólio descole, e este entra em estol, comportando-se

como um corpo abrupto, e a força de sustentação diminui bruscamente. O diagrama

polar (exemplo na Figura 4) mostra bem as características de um aerofólio, em que

Cs = f(Ca), e o ângulo de ataque é usado como parâmetro.

Figura 3: escoamento viscoso através de um aerofólio. A camada limite foi exagerada para maior clareza. Fonte: KREITH et al., 1999.

Page 25: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

24

Figura 4: diagrama polar. Fonte: BRUNETTI, 2005.

O fato de o fluxo de ar ser mais veloz no extradorso do que no intradorso em

um aerofólio é explicado pela circulação de fluido em torno deste. A circulação é

criada no momento do início do fluxo de ar pelo aerofólio. No bordo de fuga, um

vórtice inicial é gerado, girando no sentido anti-horário. Enquanto o vórtice inicial

gira, uma rotação no sentido horário se desenvolve ao redor do aerofólio, ou seja, na

direção oposta ao do vórtice inicial, devido à transferência de forças viscosas

originadas neste (MARCHAJ, 1980, tradução nossa).

Marchaj ainda diz que quando o vórtice inicial cumpre sua função de iniciar e

desenvolver a circulação, ele separa-se do fólio e acompanha o fluxo na esteira

(MARCHAJ, 1980, tradução nossa). Esse comportamento é explicado pela hipótese

de Kutta-Jukowski. Após isso, o fluxo ao redor do aerofólio estabiliza-se e as

magnitudes da circulação e da força de sustentação são mantidas. Quaisquer

mudanças no ângulo de ataque ou na velocidade do fluido vo levam a um diferencial

de velocidades no bordo de fuga, criando um novo vórtice, alterando a intensidade

da circulação aos novos parâmetros, e, assim, a intensidade da força de

sustentação. Conclui-se, então, que não existiria força de sustentação em um

Page 26: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

25

aerofólio sem a criação de vórtices (FINNEMORE; FRANZINI, 2002, tradução

nossa).

2.2 Tipos de propulsão eólica auxiliares

Existem vários tipos de dispositivos de propulsão eólica auxiliar que foram

usados ou ainda estão em uso em navios, experimentalmente ou em caráter

definitivo. Eles estão listados na Figura 5. Foram considerados neste estudo apenas

os dispositivos com aplicação prática em navios de grande porte.

Estes dispositivos trabalham em conjunto com o motor principal na propulsão

da embarcação. O princípio é praticamente o mesmo para todos os tipos de

propulsão eólica, e é apresentado na Figura 6. O vento, ao passar pelo dispositivo,

gera uma força F cujas componentes são a força de sustentação Fs e de arrasto Fa,

como mostrado na seção 2.1. O vetor F pode ser dividido em outras duas

componentes, Fb (força que tende a criar um ângulo de banda) e Fpv (força propulsiva

da vela na direção do avanço da embarcação). O vetor Fpv soma-se com a força

propulsiva do motor de combustão principal FMCP (ASKER, 1985, tradução nossa).

Figura 5: tipos de propulsões eólicas auxiliares em navios. Fonte: adaptado de YOSHIMURA, 2010.

Dispositivos de propulsão

eólica

Velas mecânicas

Rotor de Flettner

Turbosail

Velas rígidas

Kite (pipa)

Page 27: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

26

Figura 6: combinação de propulsão eólica e propulsão do motor principal. Fonte: adaptado de ASKER, 1985.

2.2.1 Velas rígidas

As velas convencionais não constituem um método ideal para a propulsão de

navios porta-contêineres. O uso de vários mastros, cabos e equipamentos de

regulagem, e a grande área vélica requerida, são incompatíveis com a necessidade

de espaço para a acomodação de cargas, além da pouca eficiência em comparação

com outros dispositivos já existentes.

As velas rígidas apareceram como uma solução às tradicionais. Um exemplo

de aplicação prática de velas rígidas em um navio de grande porte é o navio-tanque

Shin-Aitoku-Maru, de 1.600 toneladas de porte bruto. Em 1980, ele foi equipado com

um modelo de vela rígida comandado por unidades hidráulicas, mostrado na Figura

7 (YOSHIMURA, 2010). Para o futuro, há projetos para grandes navios, como a do

armador japonês NYK, mostrado na Figura 8. Além disso, existem várias

embarcações de pequeno e médio porte que as utilizam.

Page 28: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

27

As velas rígidas atuam com o mesmo princípio das velas convencionais,

porém com menor necessidade de equipamentos, como estais, mastros, etc.; e

maior nível de automação, facilitando seu manuseio. Os materiais utilizados em sua

construção (plástico reforçado com fibras, alumínio, e até mesmo madeira) e seu

formato também contribuem para a melhoria de performance em relação às velas

tradicionais. Possuem formato de um fólio, gerando a propulsão com a regulagem do

seu ângulo de ataque em relação ao vento. A regulagem é feita automaticamente,

por meio de motores elétricos ou hidráulicos.

Figura 7: navio-tanque Shin-Aitoku-Maru, utilizando velas rígidas; abaixo, esquema do dispositivo. Fonte: YOSHIMURA, 2010.

Page 29: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

28

Figura 8: Super Eco Ship 2030, projeto do armador japonês NYK, usando velas rígidas. Fonte: NIPPON YUSEN KABUSHIKI KAISHA - NYK LINE, 2011.

Nos anos 80, o inventor Gunar Asker desenvolveu um tipo de vela rígida que

chamou de wing sail, ou vela-asa, em português (Figura 9). Este modelo, construído

em madeira e testado em um pequeno veleiro, trata-se de um conjunto de duas

velas montadas no convés da embarcação, e são controladas eletricamente de

acordo com a direção do vento, e a fim de adquirir um formato ideal de fólio para

cada situação. As velas rígidas necessitam de menor área vélica do que as velas

tradicionais, e o estudo feito por Asker demonstrou isso, pela aplicação da fórmula

que determina a área vélica máxima possível para uma embarcação, de acordo com

seu deslocamento:

A/( 2/3 ) (4)

Onde:

K é uma constante, que para velas rígidas é 3,2 e para uma vela Genoa

tradicional é de 16;

Page 30: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

29

A é a área vélica, em m2;

é o volume deslocado da embarcação, em m3 (ASKER, 1985, tradução

nossa).

Assim, para um navio de porte médio, com volume deslocado de 30.000 m³,

teremos uma área vélica de 15.448 m² para um velame tradicional, ao passo que

para velas rígidas, essa área seria de apenas 3.090 m².

Em um experimento em um pequeno barco pesqueiro, o Hi-Wind II, durante o

ano de 1984, Asker concluiu que com 50 HP e o wing sail, o barco desenvolveu 8

nós em ventos de 20 nós. Sem o wing sail, a potência necessária para atingir tal

velocidade foi de 70 HP (ASKER, 1985, tradução nossa). A embarcação possuía

comprimento entre perpendiculares de 10 metros, boca na linha d’água de 2,3

metros, deslocamento de 12 t, e foi equipada com um wing sail de 16 m².

Shukla e Ghosh (2009) realizaram estimativas do uso do wing sail em um

navio com 32.992,2 m³ de volume deslocado, 125 m de comprimento total e 25,9 m

de boca, potência instalada de 9501 kW a 111 rpm, e velocidade de serviço de 15

nós, chamado Annapurna. Os estudiosos concluíram que, em uma rota regular entre

Durban e Mumbai, a economia de combustível (no caso, óleo diesel) seria de 61

toneladas / ano, um percentual de 8,3% (ASKER, GHOSH, 2009, tradução nossa).

Com todas as vantagens, e apesar da reduzida área vélica, um conjunto de

velas rígidas montadas em um navio porta-contêineres ainda causaria certa perda

em espaço útil para carga, além de outros transtornos, como na movimentação dos

contêineres em portos, exigindo que as velas sejam retráteis, aumentando o custo

de instalação. Além disso, outro fator complicador é que esse sistema não acaba

definitivamente com a necessidade de grandes mastros, que tendem a elevar o CG

da embarcação, diminuindo GM, conseqüentemente comprometendo a instabilidade

da embarcação. A incidência dos ventos nas velas pode submeter o navio a uma

grande banda, o que torna a navegação perigosa, principalmente em casos de

mudança de lastro, comum em navios de carga como os porta-contêineres.

Page 31: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

30

Figura 9: esquema do wing sail e sua montagem em um pequeno veleiro. Fonte: ASKER, 1985.

2.2.2 Rotor de Flettner

O rotor de Flettner foi desenvolvido pelo engenheiro alemão Anton Flettner,

entre os anos de 1925 e 1926. O dispositivo consiste em um cilindro rotativo, que

utiliza o princípio do Efeito Magnus.

O Efeito Magnus consiste na geração de uma força de sustentação através da

passagem do vento por um cilindro em rotação. A rotação do cilindro cria uma

diferença de velocidades do fluxo de ar, gerando uma diferença de pressão,

explicada pelo Teorema de Bernoulli. A circulação é criada pela rotação do cilindro

em contato com o fluido viscoso. O próprio cilindro atua como o centro do vórtice. O

diferencial de pressões cria uma força de sustentação Fs, que tende a puxar o

cilindro para cima, como mostra a Figura 10. A força de sustentação atua

perpendicularmente ao fluxo paralelo de velocidade vo (MARCHAJ, 1980, tradução

nossa).

Page 32: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

31

Figura 10: Efeito Magnus. Fonte: adaptado de MARCHAJ, 1980.

A rotação do cilindro é gerada por motores elétricos, e pode ser controlada

conforme a direção e intensidade do vento. O dispositivo pode ser utilizado em

ângulos de 45º a 135º em relação ao vento, sendo atingida a máxima performance a

90º, com ventos de través. A Figura 11 apresenta valores da propulsão do rotor em

função do ângulo de incidência do vento em relação à embarcação. As linhas

representam a velocidade do vento, classificadas de acordo com a Escala Beaufort.

Page 33: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

32

Figura 11: propulsão do rotor de Flettner em função do ângulo de incidência do vento em relação à embarcação. Fonte: WINDSHIP, 2011.

Uma característica importante do rotor de Flettner é que a seu coeficiente de

sustentação é diretamente proporcional à razão entre velocidade periférica do

cilindro e velocidade do vento (Vc / Vo). Assim, se a rotação for mantida, a pressão

aumentará até certa magnitude, mesmo se a velocidade do vento aumentar

bruscamente (MARCHAJ, 1980). Isso significa que a embarcação pode funcionar

mesmo em ventos muitos fortes, já que seus efeitos sobre os rotores passam

despercebidos, traduzindo-se em um grande ganho em estabilidade. Experimentos

mostram que o rotor de Flettner é capaz de gerar muito mais força de sustentação

do que aerofólios comuns da mesma área projetada. O coeficiente de sustentação

máximo de um cilindro em rotação pode alcançar valores de até 9, enquanto para

um aerofólio comum esse valor gira em torno de 1,5 (MARCHAJ, 1980, tradução

nossa).

Page 34: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

33

O próprio Anton Flettner, no ano de 1925 equipou um barco chamado Buckau

com dois rotores (Figura 12). Eles foram montados sobre o convés principal, tinham

a altura de 18 metros e 2,8 metros de diâmetro. A rotação dos cilindros era gerada

por um motor elétrico, e atingia até 700 rpm; o sentido de rotação era reversível.

Todo o conjunto pesava apenas 7 toneladas, contra as 35 toneladas do antigo

velame do Buckau, além disso, a área vélica projetada dos rotores era dez vezes

menor do que as velas tradicionais. Os rotores também possibilitaram a operação de

todo o sistema por apenas uma pessoa. A pressão nos cilindros pode ser alterada

rotacionando-os a uma velocidade adequada, a apenas um toque de botão. O efeito

é instantâneo. Isso diminuiu consideravelmente a necessidade de grande força de

trabalho para regulagem de velas, em comparação de quando o Buckau as utilizava.

Do ponto de vista técnico, o experimento de Flettner foi um sucesso. Porém, por

razões econômicas, não houve continuidade com o projeto. Os supostos lucros

obtidos com a instalação dos rotores se tornaram ilusórios, perante o alto preço do

equipamento e da crescente confiabilidade da propulsão mecânica convencional.

Além disso, para a época, o preço do óleo combustível ainda era muito baixo para

justificar a instalação dos rotores.

Figura 12: o Buckau, operando com dois rotores desenvolvidos por Anton Flettner. Fonte: PORTAL MARÍTIMO, 2011.

Page 35: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

34

Em 2010, a empresa alemã de turbinas eólicas Enercon construiu, em

parceria com estaleiros na própria Alemanha, o navio E-Ship 1, de 130 metros de

comprimento, 22,5 metros de boca, 8,3 metros de calado e porte bruto de 5.000

toneladas. A embarcação, que possui quatro rotores instalados, é do tipo roll-on /

roll-off, e é utilizado pela própria empresa para transportar peças de suas turbinas

eólicas a diferentes partes do planeta. Os rotores deste navio possuem 25 metros de

altura e 4 metros de diâmetro. O arranjo dos rotores pode ser facilmente observado

na Figura 13. O navio E-Ship 1, na realidade atual de preocupações com ajustes no

consumo de combustíveis e emissão de gases do efeito estufa, tem muito mais a

ganhar do que o Buckau no início do século XX.

Figura 13: E-Ship 1. Fonte: Jörn Prestien – SHIPSPOTTING, 2011

Há também atualmente outros projetos para a utilização dos rotores de

Flettner, como o da empresa cingapuriana WindAgain, destinados a navios-tanque

(Figura 14).

Para o uso em navios porta-contêineres, o rotor de Flettner possui alguns

inconvenientes. Para ser eficiente, o cilindro precisa ser de grandes dimensões, e o

espaço requerido a bordo para os rotores diminui a capacidade de acomodação de

contêineres sobre o convés principal. A presença dos rotores também atrapalha a

Page 36: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

35

movimentação de contêineres em portos pelos guindastes e portêineres no cais.

Analisando novamente a relação Vc / Vo, é possível observar que, a ventos

constantes, é necessário que a rotação dos cilindros seja aumentada para que haja

mais força de sustentação. Isso se traduz em maior gasto de energia e vibrações,

além de ser negativo no aspecto de segurança a bordo. Apesar de o rotor de

Flettner gerar muito mais propulsão, um aerofólio comum produz sustentação de

forma mais eficiente, sem movimento mecânico de nenhuma de suas peças.

Figura 14: projeto de navio-tanque equipado com rotores de Flettner. Fonte: WINDAGAIN, 2011.

2.2.3 Turbosail

O Turbosail foi idealizado nos anos 80 pelo navegador e ambientalista francês

Jacques Cousteau, e desenvolvido em conjunto com estudiosos da Fundação

Cousteau, os arquitetos navais André Mauric e Jean-Charles Nahon, e com a

empresa francesa especializada em alumínio, a Pechiney. O mecanismo foi

inspirado no rotor de Flettner.

O equipamento, mostrado na Figura 15, é formado por uma torre vertical, em

forma de aerofólio, oca, montada no convés da embarcação, que possui um flap que

é movimentado por meio de comandos eletrônicos conforme a direção do vento.

Além do flap sozinho, todo o conjunto também pode ser movimentado. Na parte

posterior da torre, há entradas de ar que são abertas ou fechadas pelo o flap (Figura

Page 37: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

36

17). Dentro da torre, no topo, há um exaustor que suga o ar por entre as entradas e

o expulsa pelo topo. A sucção evita assim o descolamento antecipado da camada

limite, aumentando a velocidade do escoamento a sotavento, e assim diminuindo a

pressão. Isso maximiza a força de sustentação fornecida pelo aerofólio criando mais

força propulsiva (Figura 16).

O efeito da sucção sobre a camada limite pode ser observado na Figura 18.

Ela apresenta um aerofólio de perfil NACA0012, com ângulo de ataque de 10°. A

sucção foi aplicada a 12% da corda do aerofólio. A sucção da camada limite provou

que a força de sustentação pode ser aumentada, além disso, os padrões do fluxo de

ar foram modificados, causando um atraso na separação da camada limite da

superfície do aerofólio (FOURNIER; PELLERIN; PHUOC, 2010).

Figura 15: vista lateral e superior do Turbosail. Fonte: FONDATION COUSTEAU, 1986.

Page 38: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

37

Figura 16: funcionamento do Turbosail. Fonte: THE NEW ZEALAND DIGITAL LIBRARY, 2010.

Figura 17: detalhe das entradas de ar e do flap no Turbosail. Fonte: THE COUSTEAU SOCIETY, 2002.

Page 39: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

38

Simulações mostraram que a economia de combustível em uma embarcação

equipada com o Turbosail pode chegar a 35% (THE COUSTEAU SOCIETY, 2002).

As vantagens do Turbosail são a eficiência no auxílio à propulsão e a

facilidade de manuseio, totalmente feito por comandos eletrônicos. Além disso, não

há o inconveniente apresentado pelo rotor de Flettner, que deve ser parado

totalmente e ter sua rotação invertida para mudanças de direção, operação que

demanda tempo e gasto excessivo de energia, devido à inércia do cilindro. Além

disso, as partes móveis do Turbosail não são expostas, ao contrário do cilindro em

constante rotação do rotor de Flettner. (FONDATION COUSTEAU, 1986).

Figura 18: influência da sucção da camada limite em um aerofólio de perfil NACA0012, com α 10°. À esquerda, fluxo sem controle; à direita, controle por sucção. Fonte: FOURNIER; PELLERIN; PHUOC, 2010.

Apesar do potencial para uso em grandes embarcações, o Turbosail foi

somente utilizado em embarcações pequenas, para pesquisas da própria Fundação

Cousteau. O primeiro foi o catamarã Moulin à Vent, que utilizou um dispositivo e

serviu como plataforma de testes da invenção. O segundo barco a utilizar o

Turbosail foi o Alcyone (Figura 19), de 30 metros de comprimento e 9 metros de

boca, com deslocamento de 80 toneladas. Totalmente construído em alumínio,

(inclusive as torres do Turbosail), possui um casco que combina o desenho de um

monocasco na proa e de um catamarã na popa. O Alcyone possui duas torres

montadas em seu convés, e que trabalham em conjunto com dois motores diesel.

Cada torre possui uma altura de 10 metros e área vélica de 21 m². Cada torre possui

um gerador hidráulico de 25 HP, que produz eletricidade para operar o exaustor e

Page 40: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

39

mudar a posição da torre. Os engenheiros que desenvolveram o Turbosail sugerem

que, para um navio mercante de 30.000 toneladas de peso leve, duas torres de 200

m² cada seriam necessárias (COLLIE, 1985).

Ainda segundo Collie, o sistema tem melhor desempenho quando o vento em

relação ao barco está em um ângulo de 70° a 120°. Ventos a velocidade de 30 nós

permitem que o Alcyone desenvolva uma velocidade de até 12 nós, usando somente

o Turbosail, sem os motores (COLLIE, 1985). O Alcyone ainda continua a serviço da

Fundação Cousteau.

Figura 19: o Alcyone. Fonte: THE COUSTEAU SOCIETY, 2002.

O Turbosail teve eficiência prática comprovada, mas não passou de modelos

usados em testes em túneis de vento, e do seu uso no Moulin à Vent e no Alcyone.

Seu desempenho no uso em navios é meramente uma estimativa. Assim como o

rotor de Flettner, o espaço requerido a bordo é incompatível com as necessidades

de um navio porta-contêineres de acomodar contêineres sobre o convés principal e

de manuseio dos mesmos em portos.

Page 41: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

40

2.3 Kites

Basicamente, o dispositivo é composto por uma pipa (kite), semelhante a um

parapente, de perfil aerodinâmico, conectada a um cabo preso a um guincho e a um

sistema de lançamento e recolhimento, e uma central de controle para operação

automática (Figura 21). Assim como os outros dispositivos apresentados nesse

trabalho, a proposta do kite é trabalhar em conjunto com a propulsão principal do

navio, visando diminuir gastos com combustíveis e emitir menos gases nocivos ao

ambiente.

Vários experimentos com kites foram realizados para a propulsão de

embarcações. Algumas empresas vêm investindo em pesquisa nesta área, e já

disponibilizam alguns modelos de kite no mercado. No presente estudo, decidiu-se

por usar como referência os kites fornecidos pela SkySails GmbH & Co. KG,

empresa baseada em Hamburgo, Alemanha. A escolha deve-se pelo fato de que

recentemente a empresa instalou kites em navios de grande porte, obtendo bons

resultados, além de certo espaço na mídia. Em 2007, um kite de 320 m² foi instalado

no navio de uso misto (para cargas conteinerizadas e cargas-projeto) MV Beluga

SkySails (Figura 20), de 132 metros de comprimento e 9.747 toneladas de porte

bruto. Outros casos do uso do kite são os dos navios MV Theseus, MV “Michael A.”

(Figura 22) e Maartje Theadora. Para 2011, está prevista a instalação de um kite de

320 m² em um navio-tanque de produtos com capacidade de 30.000 toneladas de

porte bruto, tornando-se assim o maior navio do mundo a usar o auxílio do kite à

propulsão convencional (CARGILL, 2011).

O kite fornecido pela SkySails atua gerando uma força de sustentação, como

um aerofólio. Sua instalação pode ser feita em navios que já estão em operação, ou

em projetos novos.

Em comparação com a propulsão a vela tradicional, o kite pode gerar até 25

vezes mais força propulsiva por metro quadrado (SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-

?]).

Page 42: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

41

Figura 20: MV Beluga SkySails. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?].

Figura 21: componentes do sistema. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?].

Page 43: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

42

Figura 22: MV "Michel A." Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, 2010.

2.3.1 O kite

O kite (Figura 23) é feito com uma dupla camada de tecido de fibras de

polietileno de ultra-alto peso molecular, um plástico de engenharia com excelentes

propriedades mecânicas, sendo altamente resistente ao impacto, abrasão, e com

baixo coeficiente de atrito. Sua aparência é similar aos kites usados como parapente

e kitesurfing.

Page 44: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

43

Figura 23: o kite. Fonte: SKYSAILS GMBH &CO. KG, [200?].

A parte frontal do kite possui portas que permitem a entrada do ar, inflando-o,

moldando assim um perfil aerodinâmico, possibilitando seu uso não somente com

vento pela popa, mas também para ângulos de até 50º na direção do vento (Figura

24). Experiências práticas com o kite fornecido pela SkySails montado em navios

mostraram que a eficiência máxima é atingida com ventos de través, e arribando até

navegar com vento pela popa – entre 90° a 270° (SKYSAILS GMBH & CO. KG,

[200-?], tradução nossa).

Figura 24: ângulos em relação ao vento possíveis de operação. Fonte: SKYSAILS GMBH &CO. KG, [200?].

Page 45: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

44

Atualmente, a SkySails fornece três modelos de kite, com áreas entre 160 m²

a 320 m². Eles são mostrados com detalhes na Tabela 1. O modelo SKS 640 está

previsto para 2014. Um kite com uma carga efetiva de 130 toneladas também está

em desenvolvimento,e é apresentado a título de informação.

Tabela 1: modelos de kite fornecidos pela SkySails e suas características.

Modelo Carga de projeto kite (t)

Área (m²) Carga efetiva kite (t)

Carga efetiva

kite (kN)

SKS 160 16 160 8 78,45

SKS 320 32 320 16 156,91

SKS 640 64 640 32 313,81

130 t (projeto) ... ... 130 1.274,86

Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200?]

Os dados da Tabela 1 referentes à carga efetiva são para as condições

padrão definidas pelo fabricante: velocidade do navio a 10 nós, velocidade do vento

a 25 nós e direção do vento a 130° em relação à embarcação (ventos de alheta). As

cargas efetivas da Tabela 1 são as componentes na direção do rumo da

embarcação (SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200?], tradução nossa). As condições

padrão definidas pelo fabricante são usadas como referência neste estudo.

Para este estudo, a empresa forneceu também os respectivos valores

máximos e mínimos de potência para cada modelo. Eles são apresentados na

Tabela 2. A potência é o produto da força de tração pela velocidade do vento

aparente que passa pelo kite.

Tabela 2: potências máximas e mínimas para cada modelo de kite, em kW.

Modelo do kite Potência (kW)

SKS 160 600 – 1000

SKS 320 1200 – 2000

SKS 640 2400 - 4000

Fonte: KUEHL, 2011

Page 46: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

45

2.3.2 Cabo de reboque

A força gerada pelo kite é transmitida por meio do cabo de reboque (Figura

25) também feito em fibras de polietileno de ultra-alto peso molecular. O material

também garante o baixo peso necessário ao cabo. O suprimento de energia para a

central de controle é garantido por meio de um cabo elétrico especialmente

desenvolvido e integrado ao cabo de reboque. O ponto de conexão do cabo de

reboque com o navio é chamado de “ponto de transmissão de força”, ou de “ponto

de reboque”, que atua no alinhamento do kite para qualquer situação de vento

(Figura 26). O ponto de conexão localiza-se na proa, e requer adaptações mínimas

na estrutura desta, que geralmente já é bem reforçada.

Figura 25: cabo de reboque. Fonte: SKYSAILS GMBH &CO. KG, [200?].

Page 47: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

46

Figura 26: ponto de transmissão de força. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200?].

2.3.3 Guincho

Também instalado na proa, o guincho (Figura 27) lança e recolhe o kite, atua

dinamicamente durante a navegação - sua velocidade pode ser selecionada, para

casos onde o kite tenha que ser estabilizado rapidamente – e possui sistema de

compensação para situações de mar agitado.

Figura 27: guincho. Fonte: SKYSAILS GMBH &CO. KG, [200?].

Page 48: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

47

2.3.4 Sistema de lançamento e recolhimento

O kite é lançado por um mastro retrátil (Figura 28). Ele é erguido por este, é

inflado pela ação do vento e liberado pelo guincho. Após o lançamento, o mastro

recolhe-se. O mastro também atua no recolhimento do kite, atuando na ordem

inversa do lançamento, facilitando a sua armazenagem em um paiol.

Figura 28: mastro de lançamento e recolhimento. Fonte: SKYSAILS GMBH &CO. KG, [200?].

2.3.5 Central de controle

A central de controle, provida de elementos mecânicos e eletrônicos, é a

ligação entre o cabo de reboque e o kite. Ela atua no sistema do governo, puxando e

liberando os tirantes do kite, e assim modificando o seu perfil aerodinâmico e

Page 49: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

48

controlando seu vôo. Os parâmetros para o controle do kite estão instalados por

meio de um software na central de controle. Um computador instalado no passadiço

comanda automaticamente toda a operação, e serve de interface para que o

comandante analise os dados e possa tomar o controle manual, como em casos de

emergência. O sistema de comando também está em comunicação com outros

sensores do navio, como o de posição do leme, anemômetros e GPS. Além desses

sensores, outros que medem o consumo do navio com o uso do kite também são

instalados.

Figura 29: central de controle. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?].

O sistema de controle automático pode ajustar o kite para que fique a uma

altura de até 300 m da embarcação, onde os ventos são 40% mais fortes do que na

superfície (Figura 30). A área vélica reduzida e a sua configuração de suporte sem

mastro, com menor braço de alavanca, garantem mais estabilidade, diminuindo a

banda que uma embarcação provida de vela com mastro pode sofrer, conforme

demonstrado na Figura 31. O kite fornecido pela SkySails atua com ventos entre 3 a

8 na Escala Beaufort. Sistemas de segurança atuam no controle do kite em casos de

Page 50: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

49

emergência, como em fortes rajadas de vento. Eles liberam mais cabo através do

guincho, mudam a direção de vôo do kite, e, se necessário, liberam o próprio kite em

casos extremos.

Figura 30: comparação entre as alturas das velas tradicionais e a do SkySails. A curva indica a intensidade da energia do vento em função da altitude. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?].

Figura 31: Comparação entre os ângulos de inclinação de uma embarcação com vela suportada por mastro e com a utilização do kite. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?].

Page 51: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

50

2.4 Como a sustentação é gerada pelo kite

A força propulsiva do kite é gerada a partir do fluxo de ar que passa através

do seu perfil aerodinâmico. Como tem um formato de um aerofólio, o kite gera uma

força de sustentação. O kite pode permanecer estático, ou realizar uma trajetória de

vôo, que aumenta a velocidade do fluxo de ao seu redor, maximizando a

sustentação. A Figura 32 mostra uma seção do kite. Ele é inflado pelo ar que entra

por cavidades no bordo de ataque, adquirindo o seu perfil aerodinâmico.

Figura 32: seção transversal do kite, mostrando como ele é inflado pelo vento e adquire o formato de aerofólio. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?].

Esse fluxo vem do vento aparente ao qual o kite está submetido, que tem

como componentes o vento real, o vento contrário gerado pelo movimento da

embarcação, e o vento gerado pela própria velocidade de vôo do kite, caso ele

descreva uma trajetória de vôo (NAAIJEN; KOSTER, 2007, tradução nossa).

Page 52: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

51

2.4.1 Envelope de vôo

Naaijen e Koster realizaram um estudo sobre a performance de um kite em

um navio mercante, e, segundo eles, o conjunto de posições possíveis ocupadas

pelo kite no espaço, conectado a um cabo de reboque de comprimento r, é descrito

por um quarto de esfera com raio r, chamado de envelope de vôo (NAAIJEN;

KOSTER, 2007, p. 46, tradução nossa). O envelope de vôo é mostrado na Figura

33.

Figura 33: envelope de vôo. Fonte: NAAIJEN; KOSTER, 2007.

Com a definição do envelope de vôo, é possível determinar:

direção de vôo do kite (XK, YK, ZK);

as componentes do vento aparente submetido ao kite;

velocidade de vôo do kite.

Page 53: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

52

A análise do envelope de vôo permite ajustar o ângulo de ataque do kite, de

forma a provocar uma força resultante de tração paralela ao cabo de reboque

(NAAIJEN; KOSTER, 2007, tradução nossa), conforme mostra a Figura 34.

Figura 34: ângulo de ataque do kite. Fonte: NAAIJEN; KOSTER, 2007.

Como mencionado anteriormente, a velocidade do fluxo de ar em torno do kite

é aumentada para que a sustentação seja maximizada. Para tanto, o kite deve

realizar uma trajetória dentro do envelope de vôo, semelhante a um “oito”, como

mostra o exemplo da Figura 35.

Page 54: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

53

Figura 35: exemplo de trajetória de vôo do kite dentro do envelope de vôo. Fonte: NAAIJEN; KOSTER, 2007.

Naaijen e oster afirmam que “no navio, o envelope de vôo é posicionado de

maneira que sua extremidade seja perpendicular à direção do vento aparente”

(2007, p.49, tradução nossa). Um exemplo desse posicionamento é mostrado na

Figura 36. Dependendo da direção do vento aparente, o kite deve ocupar posições

que contribuam de fato como uma componente na direção de avanço desejada para

o navio. Essas posições são representadas na Figura 36 pela hachura no envelope

de vôo.

Figura 36: exemplo do posicionamento do envelope de vôo em um navio, com o vento aparente soprando por uma bochecha. Fonte: NAAIJEN; KOSTER, 2007.

Page 55: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

54

2.4.2 Força de tração resultante do kite

A força de tração resultante do kite, representada por R na Figura 34, tem

como componentes a força de sustentação e a de arrasto, conforme mencionado na

seção 2.1. Para determinar a magnitude dessas forças, os coeficientes de

sustentação e arrasto do kite devem ser conhecidos. Esses valores podem ser

conseguidos através de análises do perfil aerodinâmico do kite por softwares CFD.

Influem no coeficiente de arrasto do kite o ângulo de ataque, os tirantes que o ligam

a central de controle, as tomadas de ar no bordo de ataque, irregularidades e

rugosidade da superfície, entre outros. O coeficiente de sustentação é influenciado

pelo ângulo de ataque e pela curvatura do kite ao longo de sua envergadura

(NAAIJEN; KOSTER, 2007).

2.5 Interação do kite com o navio

A força de tração do kite provoca no casco o aparecimento de forças

longitudinais, no sentido do avanço (onde a resistência do casco é relevante), e

transversais. Esta última causa um movimento de cabeceio (yaw) do navio, que é a

oscilação horizontal no sentido proa – popa, gerando uma pequena deriva da

embarcação. Esse movimento deve ser compensado com o leme, o que causa mais

resistência do casco ao avanço. Para minimizar o ângulo de correção do leme, o

ponto de transmissão de força do kite deve estar localizado o mais a vante quanto

for possível, ficando óbvia a opção pela proa da embarcação. No estudo realizado

por Naaijen e Koster, a localização do ponto de transmissão de força na proa

demandou uma correção de até 4° no leme. O acréscimo na resistência do casco

devido à deriva e ao ângulo do leme foi de menos de 1% (NAAIJEN, KOSTER,

2007, tradução nossa).

Conforme mencionado na seção 2.3.5, e apresentado na Figura 31, o ângulo

de banda causado pela tração do kite no navio é mínimo, devido à baixa localização

do ponto de transmissão de força, praticamente no nível do convés principal.

Page 56: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

55

Como o kite atua como força adicional na propulsão do navio, o hélice terá

uma carga menor e trabalhará fora das condições para o qual foi projetado. Assim,

menos força propulsiva do hélice será necessária, logo o MCP trabalhará sob menor

carga, reduzindo o débito de combustível, tendo como conseqüência a redução do

consumo.

A força de reboque adicional gerada pelo kite terá contribuição direta sobre a

potência efetiva da embarcação. A potência efetiva (PE), também chamada de

potência de reboque, é o produto da resistência do casco com todos os seus

apêndices pela velocidade de serviço. Essa é a potência medida nas pás do hélice,

descontadas as perdas devido à interação casco-hélice. No seu caminho do MCP

até o hélice, a potência vem sofrendo perdas devido à eficiência do próprio motor, ao

atrito com mancais, rolamentos, gaxeta, além de perdas devido a vibrações. As

potências podem ser medidas em diversos pontos, a saber:

PE: potência efetiva.

PT: potência propulsiva no hélice.

PD: potência entregue ao hélice pelo eixo.

PB: potência no jazente do mancal de escora, junto ao MCP (para motores

Diesel).

PI: potência indicada do MCP.

Para a estimativa das perdas de potência, Barrass propõe que coeficientes

propulsivos sejam utilizados, apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3: eficiências propulsivas típicas para navios acima de 120m LPP.

Relação Descrição Eficiência

PE / PT Eficiência do casco-hélice 98 – 99%

PT / PD Eficiência do hélice 60 – 75%

PD/ PB Eficiência do eixo 96,5%

PB/ PI Eficiência mecânica do MCP 87,5 – 92,5%

Fonte: BARRASS, 2004, tradução nossa.

Page 57: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

56

Para a eficiência do eixo, a porcentagem de 96,5% para uma praça de

máquinas localizada a ¾ do comprimento a ré foi utilizada, sendo este o arranjo

típico de navios porta-contêineres. Para a eficiência mecânica do MCP, foram

utilizados valores para motores Diesel (BARRASS, 2004).

2.6 Ventos

A performance do kite é dependente principalmente das condições de vento.

A altitude de operação, de 100 a 300 metros de altitude, garante que se faça

proveito de ventos mais fortes e estáveis. O ângulo de incidência do vento também

influencia no desempenho, que chega ao ápice com ventos de alheta, entre 120° a

150°.

Outro fator determinante é a velocidade. Essa grandeza pode ser expressa

através da Escala Beaufort de ventos (Tabela 4), que classifica a força dos ventos

com números de 1 a 12. A escala foi criada pelo almirante da Marinha Real Inglesa

Sr. Francis Beaufort.

Figura 37: diagrama polar mostrando a economia de combustível estimada com um kite instalado em um navio-tanque. Fonte: NAAIJEN, KOSTER, 2007.

Page 58: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

57

Tabela 4: Escala Beaufort

Força Beaufort Velocidade do vento (nós) Velocidade do vento (m/s)

0 0 – 0,9 0 – 0,463

1 1 - 3 0,51 – 1,54

2 4 -6 2,06 – 3,07

3 7 -10 3,60 – 5,14

4 11 – 16 5,66 – 8,23

5 17 – 21 8,75 – 10,80

6 22 – 27 11,32 – 13,89

7 28 – 33 14,40 – 16,98

8 34 – 40 17,49 – 20,57

9 41 – 47 21,09 – 24,18

10 48 – 55 24,69 – 28,94

11 56 – 63 28,81 – 32,41

12 ≥ 64 ≥ 32,92

Fonte: BARROS, 2004

Um exemplo da influência dos ventos no desempenho do kite pode ser visto

no diagrama polar mostrado na Figura 37, que relaciona o ângulo de incidência do

vento com a economia em combustível conseguida pelo kite. Os resultados obtidos

são para um navio-tanque de 50.000 toneladas de porte bruto, em uma estimativa

feita por Naaijen e Koster. As linhas mais escuras representam diferentes

velocidades do vento, na Escala Beaufort.

2.7 Fatores econômicos

Todo o sistema é contido em um único módulo, e pode ser instalado na

embarcação por qualquer estaleiro, com supervisão de funcionários capacitados

pelo fornecedor. A instalação em navios já existentes demanda uma análise

estrutural do local de fixação do módulo, corte do convés, aberturas para passagem

Page 59: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

58

de cabos e redes hidráulicas, etc. Em todos os casos analisados, a montagem do

módulo foi feita na proa da embarcação, aproveitando-se de sua bem reforçada

estrutura.

No passadiço, é necessária a instalação dos computadores que comandam

todo o sistema, e que servem de interface para a tripulação. Além do comando do

sistema, os computadores contêm um software para a otimização de rota, de modo

que o navio opere em condições favoráveis para o uso do kite durante a maior parte

da viagem. Serviços complementares envolvem o enrolamento do cabo de reboque

no guincho e acondicionamento do kite no paiol. Todos os trabalhos podem ser

feitos enquanto a embarcação está na água, e etapas como testes, treinamento da

tripulação e comissionamento podem ser realizados com a embarcação navegando,

assim como reparos. Como padrão, o tempo de trabalho necessário para a

instalação gira em torno de 6 dias (SKYSAILS GMBH & CO. KG, [200-?], tradução

nossa).

De acordo com um representante da SkySails, o custo de todo o sistema,

incluindo a instalação, para o modelo SKS 320, fica por volta de € 1.000.000,00 –

aproximadamente USD 1.443.000,00 em maio de 2011 (KUEHL, 2011, tradução

nossa). O custo de manutenção do kite, em um ano é de € 103.000,00 – ou USD

147.800,00 aproximadamente.

A Figura 38 mostra cenários econômicos de utilização do kite em um navio

para cargas-projeto e um navio-tanque de produtos. Com o uso do sistema, o

aumento dos lucros de operação da embarcação podem aumentar em 31 % para o

primeiro exemplo, e em 24 % no segundo, devido à economia de combustível

proporcionada. Com a tendência de aumento do custo dos combustíveis para os

próximos anos, a tendência é que os lucros tenham um aumento de 59% e 43%,

respectivamente. Esses valores podem variar, dependendo do tipo e características

da embarcação, rota e velocidade de serviço.

Page 60: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

59

Figura 38: cenários do uso do kite em duas embarcações, com estimativas de acréscimo de economia de combustível e lucro, no contexto atual e para os próximos 10 anos. Fonte: SKYSAILS GMBH & CO. KG, 2011.

2.8 Navios porta-contêineres

Os navios porta-contêineres desempenham um papel importante na economia

global, pois transportam 60% do valor total de mercadorias movimentadas no modal

marítimo. As características de um porta-contêineres estão relacionadas com a alta

velocidade e rapidez com que a carga é carregada e descarregada em portos, tendo

como conseqüência um maior número de viagens feitas pelo mesmo navio. Outra

característica é o pequeno número de tripulantes necessários para a sua operação.

O projeto desse tipo de navio visa o máximo aproveitamento de espaço para

carregamento de contêineres, abaixo e acima do convés principal (BARRAS, 2004,

tradução nossa).

Page 61: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

60

Existem dois grandes grupos de navios porta-contêineres. Os navios para

viagens intercontinentais podem carregar até 14.000 TEUs, e desenvolvem grandes

velocidades, de 20 a 30 nós, em média. Possuem subclassificações de acordo com

suas dimensões, como panamax, post-panamax, suezmax, capesize. Escalam em

grandes portos. O outro grupo de navios, chamados de container feeders, são de

pequenas dimensões, e carregam de 200 a 1000 TEUs. Desenvolvem velocidades

um pouco abaixo dos navios intercontinentais, por volta de 18 nós. A maioria possui

guindastes de bordo para movimentação de carga. Realizam viagens entre

pequenos e grandes portos, ou para operações onde o uso de um navio

intercontinental não é econômico, geralmente em cabotagem (DOKKUM, 2003).

Em 2009, havia 4.641 navios porta-contêineres, com média de idade de 10

anos (INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION, 2009, tradução nossa).

Page 62: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

61

3 RESULTADOS OBTIDOS

3.1 Análise do kite

Foi realizada uma verificação das informações obtidas sobre os três modelos

de kites fornecidos pela SkySails, usando como parâmetros as condições padrão

definidas pelo fabricante. O objetivo foi validar os valores de potência para cada kite.

Sabendo que a potência do kite é o produto de sua força pela velocidade do vento

aparente que ele sofre, foram obtidos os resultados listados na Tabela 5.

Tabela 5: potências, em kW, para cada modelo de kite, usando como parâmetros as condições padrão do fabricante.

Modelo Potência (kW)

SKS 160 605,40

SKS 320 1.210,79

SKS 640 2.421,59

Foi assumido como vento aparente a diferença entre a velocidade do vento

real (soprando a 130° em relação ao navio) e a velocidade do navio. Para as

condições padrão, o vento aparente é de 7,72 m/s. As potências obtidas ficaram

próximas do mínimo para cada modelo nas condições padrão (como mostrado na

Tabela 2), validando os dados fornecidos pelo fabricante.

Foram ainda criados dois cenários para a verificação das potências fornecidas

pelo kite, dependendo do vento e da velocidade do navio. O objetivo foi criar

situações proporcionais à condição padrão definida pelo fabricante, para

posteriormente realizar as estimativas. No primeiro cenário, o vento foi mantido

constante a 25 nós, soprando a 130° em relação à embarcação, enquanto que o

navio aumentava sua velocidade, partindo de 10 nós até 25 nós. No segundo

cenário, o vento passou a aumentar sua velocidade, iniciando a 20 nós e chegando

Page 63: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

62

até 40 nós, soprando a 130° em relação à embarcação, enquanto a velocidade do

navio foi mantida a 20 nós. Para cada cenário, cinco condições foram definidas.

Analisando a equação 3 (seção 2.1), a força propulsiva aumenta com o

quadrado da velocidade. Assim, se a velocidade aparente dobra, a força do kite

quadruplica. Tendo como referência a condição padrão do fabricante, onde o vento

aparente é de 7,72 m/s, foram feitas relações de velocidades (Rv) do vento aparente

para determinar as potências conseguidas com o kite, através da equação 5.

v 7,72

2

va2

(5)

Assim, a potência do kite fica definida por:

k va (6)

Onde k é a potência do kite e va é o vento aparente. Os parâmetros usados

no primeiro cenário para as condições de 1 a 5 são apresentados na Tabela 6. As

potências obtidas usando a equação 6 são apresentadas na Tabela 7.

Tabela 6: parâmetros para cenário 1.

Parâmetro 1 2 3 4 5

Velocidade do navio (nós) 10 12 15 20 25

Velocidade do navio (m/s) 5,14 6,17 7,72 10,29 12,86

Vento (nós) 25 25 25 25 25

Vento (m/s) 12,86 12,86 12,86 12,86 12,86

Vento aparente (m/s) 7,72 6,69 5,14 2,57 0,00

Relação de velocidades 1,00 0,75 0,44 0,11 0,00

Page 64: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

63

Tabela 7: cenário 1 - potências em kW para cada condição.

Modelo 1 2 3 4 5

SKS 160 605,40 454,72 269,07 67,27 0,00

SKS 320 1.210,79 909,44 538,13 134,53 0,00

SKS 640 2.421,59 1.818,88 1.076,26 269,07 0,00

Para o segundo cenário, os parâmetros utilizados são apresentados na

Tabela 8. As potências obtidas usando a equação 6 são apresentadas na Tabela 9.

Tabela 8: parâmetros para cenário 2

Parâmetro 1 2 3 4 5

Velocidade do navio (nós) 20 20 20 20 20

Velocidade do navio (m/s) 10,29 10,29 10,29 10,29 10,29

Vento (nós) 20 25 30 35 40

Vento (m/s) 10,29 12,86 15,43 18,01 20,58

Vento aparente (m/s) 0,00 2,57 5,14 7,72 10,29

Relação de velocidades 0 0,11 0,44 1 1,78

Tabela 9: cenário 2 - potências em kW para cada condição.

Modelo 1 2 3 4 5

SKS 160 0,00 67,27 269,07 605,40 1.076,26

SKS 320 0,00 134,53 538,13 1.210,79 2.152,52

SKS 640 0,00 269,07 1.076,26 2.421,59 4.305,05

Page 65: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

64

No primeiro cenário, verificou-se que com ventos a velocidade constante, a

potência do kite tende a diminuir com o aumento da velocidade do navio. No

segundo cenário, com a velocidade do navio constante, a potência do kite aumentou

com o aumento da velocidade do vento. Outra constatação é a impossibilidade de

operação do kite quando a velocidade do vento é igual à velocidade da embarcação

(sempre atentando para o fato de que, nas condições apresentadas, a direção do

vento real é de 130° em relação à embarcação).

No cenário 2, a condição 4 apresentou proporcionalmente os mesmos

parâmetros das condições padrão do fabricante, assim foram conseguidas as

mesmas potências para cada modelo de kite das apresentadas na Tabela 5. Ainda

no cenário 2, a condição 5 apresentou valores de potências próximos às potências

máximas de cada modelo de kite fornecido pelo fabricante (Tabela 2). Portanto, para

um navio com velocidade de 20 nós, a máxima potência que o kite pode

desenvolver, respeitando as margens de segurança de operação do kite, é com

ventos de 40 nós.

3.2 Escolha do navio

Para o presente estudo, foi escolhido para as estimativas o navio Log-In

Jacarandá, um porta-contêineres com capacidade para 2.814 TEUs, comprimento

total de 218,45 metros, velocidade de serviço de 20 nós, e arqueação bruta de

28.400 AB (Figura 39). Dados adicionais do navio estão contidos no anexo A. O

navio possui um motor Wärtsilä, modelo 6RT-flex68D, com potência de 18.780 kW, e

consumo específico de 170 g/kWh de óleo combustível. Dados adicionais sobre o

motor são apresentados no anexo B. A rota de atuação do Log-In Jacarandá inclui

os portos de Manaus, Pecém, Fortaleza, Suape, Santos, Paranaguá e Itajaí, nos

sentidos norte e sul. A rota é mostrada na Figura 40.

O principal motivo para a escolha do navio Log-In Jacarandá foi a sua

construção em território brasileiro, no Estaleiro Ilha S/A, no Rio de Janeiro. É o

primeiro navio porta-contêineres construído no Brasil neste século, sendo um grande

marco na indústria naval nacional.

Page 66: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

65

Figura 39: Log-In Jacarandá. Fonte: Edson Lucas - SHIPSPOTTING, 2011

Figura 40: rota do Log-In Jacarandá. Fonte: LOG-IN LOGÍSTICA INTERMODAL, 2011

Page 67: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

66

3.3 Estimativa de desempenho do kite no navio selecionado

De posse dos dados do navio e do kite, foi possível realizar uma estimativa de

economia de combustível para o caso.

Considerando que a velocidade de serviço do Log-In Jacarandá é de 20 nós,

e que essa velocidade será mantida a mesma com o uso do kite, o mesmo só é

utilizável na faixa de ventos entre Beaufort 6 a 8.

A Tabela 10 mostra as potências dos kites (Pk) usados na estimativa, para a

velocidade de serviço de 20 nós e velocidade do vento real aumentando, soprando a

130° em relação ao navio. As velocidades dos ventos reais utilizadas foram as

médias entre a maior e a menor velocidade de cada nível da Escala Beaufort.

Tabela 10: estimativa de potências Pk alcançadas pelo kite no navio Log-In Jacarandá, com

velocidade de serviço a 20 nós e ventos a 130° em relação à embarcação.

Força Beaufort

Vento aparente

(m/s)

Relação de velocidades

Potência do kite

SKS 160 (kW)

Potência do kite

SKS 320 (kW)

Potência do kite

SKS 640 (kW)

BF 6 2,31 0,0900 54,49 108,97 217,94

BF 7 5,40 0,4900 296,64 593,29 1.186,58

BF 8 8,75 1,2844 777,60 1.555,20 3.110,40

Os resultados obtidos na Tabela 10 contribuem diretamente na potência

efetiva PE da embarcação, conforme descrito na seção 2.5. Assim, os coeficientes

propulsivos devem ser aplicados para que a potência PI-k salva no MCP seja

estimada. Foram utilizados os valores médios das eficiências apresentadas na

Tabela 3. Dessa forma, o valor de potência PI-k que o kite salva do MCP, para cada

valor da potência Pk obtido, é:

- k

(7)

Page 68: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

67

Onde Y é o produto da multiplicação de todas as eficiências propulsivas entre

si.

0,985 0,675 0,965 0,9 0,577

As potências estimadas deduzidas do MCP são apresentadas na Tabela 11.

Tabela 11: estimativa de potências PI-k, em kW, deduzidas do MCP devido ao uso do kite no

navio Log-In Jacarandá .

Modelo de kite SKS 160 SKS 320 SKS 640

Força Beaufort

BF 6 94,36 188,71 377,43

BF 7 513,72 1.027,44 2.054,88

BF 8 1.346,62 2.693,24 5.386,49

3.4 Estimativa de economia de combustível

O MCP do Log-In Jacarandá trabalha a 90% de sua potência para que o navio

desenvolva uma velocidade de serviço de 20 nós, ou seja, 16.902 kW. O consumo

específico motor é de 170 g/kWh. A economia de combustível em um ano é medida

em toneladas de óleo combustível. Para que fosse feita uma estimativa dessa

economia, foram analisadas a rota e a programação do armador, apresentada no

anexo C. Assumindo que o navio fique um dia no porto (atracado no cais e

fundeado), e levando em consideração o tempo de viagem típico entre portos dessa

rota, chegou-se a um número de 195 dias navegando em um ano. Para o porto de

Manaus, foram acrescentados mais 4 dias de estadia no porto, devido à viagem de

ida e volta pelo rio Amazonas, onde o kite não é utilizado.

Para a estimativa de economia de combustível, no caso teórico deste estudo,

criou-se um cenário em que o kite fosse utilizado com a direção do vento a 130° em

Page 69: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

68

relação ao navio, com velocidades a Beaufort 8, e velocidade de serviço do navio a

20 nós. Isso caracteriza o desempenho máximo atingido pelo kite para o Log-In

Jacarandá. Foi assumido neste cenário que o kite seja utilizado em metade dos dias

de navegação durante o ano, ou seja, 97 dias.

A equação utilizada para medir a economia de combustível em t/ano foi:

comb 170 24 97

106 (8)

A economia estimada de combustível para o cenário supracitado, em um ano,

é apresentada na Tabela 12. O Gráfico 1 apresenta esses valores em porcentagem

de economia. Sem o uso do kite, em ritmo normal de operação do MCP, o gasto de

combustível em 97 dias é de aproximadamente 6.689 toneladas de óleo pesado.

Tabela 12: economia de combustível estimada para o navio Log-In Jacarandá, em t/ano, para cada modelo de kite no cenário estudado.

Força Beaufort SKS 160 SKS 320 SKS 640

BF 8 532,94 1.065,88 2.131,76

Gráfico 1: economia estimada para cada modelo de kite no cenário estudado.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

SKS 160 SKS 320 SKS 640

Eco

no

mia

est

imad

a

Modelos de kite

Page 70: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

69

3.5 Retorno financeiro

Entre os dois modelos disponíveis atualmente, o melhor desempenho para o

caso estudado foi conseguido pelo kite de 320 m², o maior em área. Assumindo que

este kite foi instalado no Log-In Jacarandá, realizou-se uma estimativa de retorno

financeiro usando o modelo. Conforme apresentado na seção 2.7 (Figura 38),

atualmente o preço do óleo combustível gira em torno de USD 500,00 por tonelada.

Foi considerado também o custo de manutenção do sistema em um ano.

Para o cenário em estudo, o kite SKS 320 permite uma economia durante um

ano de USD 385.189,32. Nessas condições, seriam necessários 45 meses para

haver o retorno do investimento.

Page 71: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

70

4 CONCLUSÃO

A economia teórica de combustível do navio Log-In Jacarandá, utilizando um

kite de 320 m², é de pouco mais de 15% para ventos de alheta de intensidade 8 na

Escala Beaufort. Essa economia pode ser aumentada com a instalação de um kite

com maior área, conforme demonstrado nas estimativas com um kite de 640 m²,

onde a economia estimada chega a mais de 30%.

O retorno financeiro de menos de 4 anos proporciona um bom aproveitamento

da economia obtida após o payback pelo armador, no período de 6 anos restantes

da vida do navio, levando-se em conta a idade média da frota mundial de navios

porta-contêineres. Tal economia pode ser sentida também pelos usuários do

transporte conteinerizado, na forma de diminuição do preço do frete marítimo. Como

a tendência é de alta nos preços dos combustíveis para os próximos anos, a

contribuição do kite no aumento dos lucros para o armador aumenta.

Outra conseqüência direta da economia de combustível proporcionada pelo

kite é a diminuição da emissão de gases do efeito estufa, como o CO2, além de

outros gases poluidores. O kite pode contribuir para que o nível de emissão global

de gases da frota mundial de navios seja diminuído, além de ajudar os amadores a

cumprir os requerimentos do Anexo VI da convenção MARPOL 73/78 e de outros

regulamentos impostos por vários países.

Analisando as características gerais dos navios porta-contêineres, juntamente

com os dados das potências obtidas dos kites disponíveis atualmente, conclui-se

que terão maiores benefícios os navios menores e menos rápidos, de até 20 nós de

velocidade de serviço. Nos grandes navios modernos, que podem atingir até 30 nós,

este benefício não é sentido, pois a velocidade desenvolvida é incompatível com o

uso do kite, que tem sua potência diminuída conforme a velocidade de avanço do

navio aumenta. Para sentir os efeitos da economia de combustível, um navio mais

veloz precisaria reduzir sua velocidade, o que causa atrasos na viagem, além de ir

contra a proposta do kite, que é de atuar em conjunto com o MCP, mantendo a

velocidade de serviço. Essa limitação pode ser solucionada com o desenvolvimento

de kites de maior área e força propulsiva.

Page 72: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

71

Em comparação com outros tipos de propulsão eólica, as principais

vantagens técnicas do kite são:

dispensa o uso de mastros ou outras grandes estruturas de suporte, o que

diminui as forças de adernamento em ventos desfavoráveis, traduzindo-se em

um ganho substancial na segurança de navegação;

a fixação do kite na proa do navio não ocupa espaço útil para carga, e o seu

recolhimento quando da entrada em portos dá acesso livre para que

guindastes operem na carga e descarga de contêineres, sem que nenhuma

estrutura do navio interfira;

grande força propulsiva com uma pequena área vélica. O padrão de vôo

descrito pelo kite aumenta a velocidade do ar que passa pelo seu perfil

aerodinâmico, o que maximiza a força produzida, necessitando assim de

menor área vélica do que outros tipos de propulsão eólica;

o controle automático do kite o torna altamente ágil em mudanças repentinas

de ventos;

facilidade e rapidez de instalação, podendo ser montado em navios

existentes, sem grandes modificações estruturais;

não afeta a visibilidade desde o passadiço;

dispensa tripulação adicional para operá-lo.

Convém notar que os resultados obtidos neste estudo são para uma

determinada condição ambiental. Assim, para estimativas mais completas, deve-se

levar em conta o regime de ventos da rota do navio, para que sejam determinadas

as condições predominantes e a porcentagem de sua ocorrência, para que se faça

uma análise estatística. Por exemplo, mapas de satélite que apresentem a

velocidade e direção dos ventos durante um ano, em uma determinada região dentro

de uma rota estabelecida, na altura de operação do kite, i.e., entre 100 e 300

metros, podem ser utilizados nessa análise. A otimização de rotas deve ser uma

prática adotada por navios que utilizem o kite, a fim de melhorar a economia de

combustível.

Para um estudo mais aprofundado, deve-se também determinar as forças

conseguidas com o kite a partir do estudo de sua dinâmica dentro do envelope de

Page 73: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

72

vôo. Uma das principais variáveis na geração de sustentação, o ângulo de ataque do

kite deve ser conhecido, e assim, seus coeficientes de sustentação e arrasto. O

estudo do kite pode ser estendido para softwares CFD, onde análises em malhas

tridimensionais podem ser feitas.

Finalmente, propõe-se um estudo comparativo dos todos os tipos de

propulsão eólica em navios, tendo como objetivo determinar a eficiência propulsiva,

economia em combustível, redução de emissão de gases do efeito estufa e aspectos

econômicos de cada um.

Page 74: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

73

REFERÊNCIAS

ASKER, Gunnar C. F.. Roller furled Genoa and rigid surface wingsail: a flexible practical wind-assist system for commercial vessels. Journal of Wind Engineering and Industrial Aerodynamics, Amsterdam, p. 61-81. 1985. BARRASS, C. Bryan. Ship Design and Performance for Masters and Mates. Oxford: Elsevier, 2004. BARROS, Geraldo Luiz Miranda de. Conheça o mar. In: BARROS, Geraldo Luiz Miranda de. Estabilidade para embarcações até 300 AB. Rio de Janeiro: Edições Marítimas, 2004. Cap. 1, p. 3-11. BRUNETTI, Franco. Fluidodinâmica. In: BRUNETTI, Franco. Mecânica dos fluidos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. Cap. 9, p. 223-241. CARGILL (China). Cargill Propels Shipping Forward With Largest Kite-powered Vessel. Disponível em: <http://www.cargill.com.cn/china/en/home/news/NA3040941.jsp>. Acesso em: 22 mar. 2011. COLLIE, Elizabeth Miller. Alcyone: Le Navire Marveilleux. Oceanus: The International Magazine of Marine Science and Policy, Woods Hole, v. 28, n. 3, p.56-61, fall, 1985. DOKKUM, Klaas Van. Ship types. In: DOKKUM, Klaas Van. Ship knowledge: A modern encyclopedia. Meppel: Dokmar, 2003. Cap. 3, p. 44-67. CD-ROM. FINNEMORE, E. John; FRANZINI, Joseph B.. Fluid Mechanics with Engineering Applications. 10. ed. New York: Mcgraw - Hill, 2002. FONDATION COUSTEAU (França). Jacques Yves Cousteau; Bertrand Charrier. Apparatus for producing a force when in a moving fluid. US 4630997, 4 Mai. 1984, 23 Dez. 1986. Disponível em: <http://v3.espacenet.com/publicationDetails/biblio?CC=US&NR=4630997&KC=&locale=en_gb&FT=E>. Acesso em: 16 out. 2010.

Page 75: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

74

FOURNIER, Guillaume; PELLERIN, Stéphanie; PHUOC, Loc Ta. Control of turbulent incompressible flows around bluff bodies using Large Eddy Simulations. Disponível em: <http://www.limsi.fr/RS2005/meca/aero/aero11/index.html>. Acesso em: 17 jan. 2010. INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION. International shipping and world trade: facts and figures. Londres, 2009. Disponível em <http://www.imo.org>. Acesso em: 22 abril 2011. KONRAD, John. Skysails – Plus – Top 10 Green Ship Designs. Disponível em: <http://gcaptain.com/ocean-kites-top-10-green-ship-designs?1034>. Acesso em: 08 maio 2011. KUEHL, Henning. SkySails Information - costs. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por: <[email protected]>. em: 5 maio 2011. LOG-IN LOGÍSTICA INTERMODAL. Mapa de atuação. Disponível em: <https://www.loginlogistica.com.br/Empresa/Mapa-Atuacao.aspx>. Acesso em: 31 maio 2011. MARCHAJ, Czeslaw A.. Basic principles of aero-hydrodynamics: airfoil and hydrofoil action. In: MARCHAJ, Czeslaw A.. Aero-hydrodynamics of sailing. New York: Dodd, Mead & Company, 1980. Cap. 2, p. 167-482. MCDONALD, Alan T.. External Incompressible Flows. In: KREITH, Frank et al. Mechanical Engineering Handbook. Boca Raton: Crc Press Llc, 1999. Cap. 3, p. 70-80. NAAIJEN, Peter; KOSTER, Vincent. Performance of auxiliary wind propulsion for merchant ships using a kite. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON MARINE RESEARCH AND TRANSPORTATION, 2., 2007, Ischia. Proceeding. Ischia: University Of Naples, [2007]. p. 45 - 54. Disponível em: <http://www.icmrt07.unina.it/Proceedings/index.htm>. Acesso em: 22 maio 2011. NIPPON YUSEN KABUSHIKI KAISHA - NYK LINE. Super Eco Ship 2030. Disponível em: < http://www.nyk.com/english/csr/envi/ecoship.htm>. Acesso em: 22 abril 2011.

Page 76: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

75

OCEANA (Estados Unidos) (Org.). Shipping impacts on climate: A source with solutions. Washington, 2008. Disponível em: <www.oceana.org>. Acesso em: 16 out. 2010. PORTAL MARÍTIMO. E Ship 1: O Navio movido a energia eólica. Elaborada por Rodrigo Cintra. Disponível em: <http://portalmaritimo.com/2010/09/02/e-ship-1-%E2%80%93-o-navio-movido-a-energia%C2%A0eolica/>. Acesso em: 2 maio 2011. SHIPSPOTTING. Shipspotting.com: Ship photos and ship tracker. Disponível em: <http://www.shipspotting.com/>. Acesso em: 31 maio 2011. SHUKLA, Pravesh Chandra; GHOSH, Kunal. Revival of modern wing sails for the propulsion of commercial ships. International Journal Of Environmental Science And Egineering, [s.l.], p. 75-80. 1 fev. 2009. Disponível em: <http://www.akademik.unsri.ac.id/download/journal/files/waset/v1-2-14-19.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2010. SKYSAILS GMBH & CO. KG (Alemanha) (Org.). SkySails: Technology information. Hamburgo, [200-?]. SKYSAILS GMBH & CO. KG (Alemanha). SkySails: Turn wind into profit. Disponível em: <http://www.skysails.info/index.php?id=472&L=2>. Acesso em: 17 jan. 2010. THE COUSTEAU SOCIETY (Estados Unidos). Alcyone: Daughter of the wind. Chesapeake, 2002. THE NEW ZEALAND DIGITAL LIBRARY (Nova Zelândia) (Org.). Boat Design, Construction, and Propulsion. Disponível em: <http://www.greenstone.org>. Acesso em: 16 out. 2010. WINDAGAIN (Cingapura). WindAgain. Disponível em: <http://www.windagain.com/>. Acesso em: 21 maio 2011. WORLD SHIPPING COUNCIL (Estados Unidos) (Org.). Liner shipping and carbon emissions policy. Washington, 2009. Disponível em: <www.worldshipping.org>. Acesso em: 16 out. 2010. WORLD SHIPPING COUNCIL (Estados Unidos) (Org.). Record fuel prices place stress on ocean shipping. Washington, 2008. Disponível em: <www.worldshipping.org>. Acesso em: 16 out. 2010.

Page 77: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

76

YOSHIMURA, Yasuo. A Prospect of Sail-Assisted Fishing Boats. Publicado por Hokkaido University, Hakodate, Japão, jun. 2002. Disponível em: <http://eprints.lib.hokudai.ac.jp/dspace/bitstream/2115/621/1/JFSF2000.PDF>. Acesso em: 23 jan. 2010.

Page 78: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

77

ANEXO A – FICHA TÉCNICA DO NAVIO LOG-IN JACARANDÁ

Page 79: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

78

Page 80: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

79

ANEXO B – FICHA TÉCNICA DO MOTOR WÄRTSILÄ RT-FLEX 68

Page 81: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

80

ANEXO C – PROGRAMAÇÃO DE NAVIOS DO ARMADOR LOG-IN

Page 82: PROPULSÃO AUXILIADA POR INSTALAÇÕES EÓLICAS: análise do desempenho de um kite em um navio porta-contêineres

81