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PROVA DE HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO Escolha um fato na história da Comunicação. Descubra tudo o que você puder a respeito dele e faça um relatório sobre sua pesquisa que inclua: descrição de como procedeu durante a pesquisa, como organizou o material, quais os resultados e uma descrição da importância do tema ou fato. A Jovem Guarda Alienadora? A Jovem Guarda foi um movimento cultural brasileiro surgido nos anos de 1960 que englobava música, comportamento e moda. Oriunda da influencia do “Rock ‘n Roll”, sobretudo do rock inglês com os Beatles. Inicialmente o movimento era denominado “iê-iê-iê”, uma expressão adaptada do “yeah yeah yeah” da musica “She loves you” dos Beatles. O nome passou a ser Jovem Guarda em 1965 quando surgiu o programa exibido pela rede Record com o mesmo nome. O programa era apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, que foram os maiores nomes do movimento. No texto “História e Musica”, o autor Marcos Napolitano propõe uma periodização na história da música popular brasileira, classificando-a então em períodos. No período que vai de 1959 até 1968 (período de surgimento e ascensão da Jovem Guarda) o autor diz que mudanças drásticas aconteceram na música, tecnicamente falando, como a introdução da guitarra elétrica, por exemplo. E mudanças sócio-culturais também. Consolidou-se a canção como uma

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PROVA DE HISTÓRIA DA COMUNICAÇÃO

Escolha um fato na história da Comunicação. Descubra tudo o que você puder a respeito dele e faça um relatório sobre sua pesquisa que inclua: descrição de como procedeu durante a pesquisa, como organizou o material, quais os resultados e uma descrição da importância do tema ou fato.

A Jovem Guarda Alienadora?

A Jovem Guarda foi um movimento cultural brasileiro surgido nos anos de 1960

que englobava música, comportamento e moda. Oriunda da influencia do “Rock ‘n

Roll”, sobretudo do rock inglês com os Beatles.

Inicialmente o movimento era denominado “iê-iê-iê”, uma expressão adaptada

do “yeah yeah yeah” da musica “She loves you” dos Beatles. O nome passou a ser

Jovem Guarda em 1965 quando surgiu o programa exibido pela rede Record com o

mesmo nome. O programa era apresentado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e

Wanderléa, que foram os maiores nomes do movimento.

No texto “História e Musica”, o autor Marcos Napolitano propõe uma

periodização na história da música popular brasileira, classificando-a então em períodos.

No período que vai de 1959 até 1968 (período de surgimento e ascensão da Jovem

Guarda) o autor diz que mudanças drásticas aconteceram na música, tecnicamente

falando, como a introdução da guitarra elétrica, por exemplo. E mudanças sócio-

culturais também. Consolidou-se a canção como uma poderosa ferramenta ideológica e

cultural, numa perspectiva de engajamento de uma cultura política “nacional-popular”.

Esse período foi marcado pela luta pela liberdade de expressão e contra a censura na

ditadura militar, sobretudo depois do AI-5 em 1967. No entanto, contrariando-se um

pouco a outros movimentos artísticos da época, como o tropicalismo, que era mais

engajado politicamente, a Jovem Guarda é tomada como um modelo alienante, pois não

influenciava as pessoas a lutar por tal liberdade. Proponho o levantamento de algumas

questões, na tentativa de investigar se, de fato, é justo atribuir à Jovem Guarda essa

característica.

Vejamos algumas evidências que podem tornar, no mínimo plausível, a acusação

de ter sido a Jovem Guarda alienante. Após o golpe militar de 64, o governo começa a

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vetar a circulação de qualquer manifestação artística que atacasse a moral ou o regime,

o que foi um grilhão amarrado ao tornozelo da liberdade de expressão. Artistas como

Geraldo Vandré, Chico Buarque e também os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto

Gil, tinham como características o manifesto pela liberdade em suas letras. No entanto,

a Jovem Guarda, por ser “neutra” nessa batalha, era tomada como “ os bons moços” ;

eram aqueles que não contrariavam a moral e/ou a ditadura, ou pelo menos, não

incitavam ninguém a contrariar. A questão que levanto é: não seria muito benéfico ao

governo militar “ter” ao seu lado (nesse caso a neutralidade seria benéfica ao regime,

tomando que não se opor a ele lhe seria interessante) um movimento de influencias

muito fortes que tiraria talvez o foco das pessoas pela luta política tornando-as neutras?

Um movimento que tinha o rock (modelo de rebeldia por todo o mundo) como

característica, poderia talvez suprir uma necessidade de liberdade e rebeldia nas pessoas

sem se opor ao regime. A Jovem Guarda, de fato, seria uma ótima para o governo para

desfalcar os opositores.

No texto de Flora Süssekind, “Literatura e vida literária”, na parte em que fala

da censura no Brasil, ela menciona que, inicialmente, a censura era feita a base de

opressão e violência física (prisões, exílios, torturas, etc.), mas que posteriormente os

opressores mudam sua “estratégia”; A opressão deixa de ser física, no entanto, não

deixa de ser real. O artista agora teria que “andar na linha” para poder gozar de

condições mínimas pra viver ou trabalhar. Eis um trecho do texto:

“Aos intelectuais de acordo com as “gradações da tolerância do poder estatal” cabiam

empregos, financiamentos, bolsas de estudo, publicações. E, quando por algum motivo

se tornam intoleráveis, arma poderosíssima: desemprego, a impossível circulação do seu

trabalho artístico ou teórico. Para os benquistos as bênçãos do pai-Estado; para os outros

“jejum”. (Süssekind, 1985: 25)

Como se comportava sem muita divergência ao que seria o padrão ditatorial,

muitos benefícios podem ter sido concedidos aos artistas e intelectuais da Jovem

Guarda. Tais benefícios podem servir de base para uma possível explicação para o fato

de Roberto Carlos ter se sagrado “Rei da MPB” e, outros artistas igualmente

capacitados, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo, não possuírem tal

nomenclatura.

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Por outro lado, agora apresentarei alguns fatos que servem de “defesa” contra as

acusações proferidas à Jovem Guarda. Erasmo Carlos, numa entrevista ao canal Saraiva

Conteúdo do You Tube, diz: “... existe muito preconceito com a Jovem Guarda pela

alienação política, porque o discurso a Jovem Guarda não tinha. Ninguém lá era

escolarizado. Todos os militantes da ditadura tinham essa escolaridade. Principalmente

na música. Eram todos bem nascidos, não acontecia isso na Jovem Guarda. A única

coisa que a gente queria, o principal propósito, o anseio de todos, era a liberdade, e isso

a gente tinha sem estar engajado (...)”. Segundo Erasmo o discurso da Jovem Guarda era

muito juvenil, muito ingênuo. Mas na mesma entrevista ele relata uma crítica positiva

de Caetano Veloso, que era muito ativo na questão política, a respeito de uma de suas

músicas. Erasmo diz que Caetano Veloso reconhece que a música “Quero que vá tudo

para o inferno” teria mais força de contestação que dez músicas de protesto feitas na

época da linha dura do samba. Isso talvez se dê por um preconceito do samba ter tido

berço negro e proletário, como nos diz Claudia Matos no texto “Acertei no milhar”. O

preconceito a que me refiro não provém de Caetano, mas dos receptores da crítica; o

regime. Uma crítica de algo que nasce de modo tão humilde provavelmente não

chegaria com tanta força quanto algo dito por escolarizados e intelectuais da zona sul.

Mas isso é apenas uma teoria. Que fique claro que não classifico a qualidade de

nenhuma manifestação artística pelo seu berço. Só reproduzo idéias baseadas no

contexto preconceituoso da época em que tratamos.

Dando continuidade, proponho o levantamento de outra questão: Se, de fato, a

Jovem Guarda era “aliada” do governo e gozou dos benefícios que este o concedeu,

como essa “alienação” se refletiria no comportamento das pessoas e nas musicas atuais?

Visto que a Jovem Guarda influenciou e influencia muitos artistas até hoje. Me

proponho a arriscar uma das possíveis respostas com o levantamento de outra questão.

Como dito por Erasmo Carlos, na mesma entrevista citada acima, tanto em suas letras

quanto nas de Roberto se identificavam algumas semelhanças em assuntos de cunho

pouco político como carros, mulheres, etc. Segundo Erasmo, as letras continham coisas

que eles não tinham e que almejavam ter. Como poucos artistas na época tinham o

espaço público que a Jovem Guarda possuía, não teria essa ênfase midiática dos artistas,

essa abrangência territorial, sobretudo pela televisão, influenciado e servido de “válvula

de escape” para pessoas que deveriam estar mais mobilizados politicamente, visto que

atualmente os escândalos políticos existem aos montes e uma minoria se presta a

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protestar? Este texto tem por objetivo levantar questões que possam ser discutidas. De

forma alguma acusa alguém ou alguma coisa por algo.

Durante minha pesquisa recorri à internet para suprir minha necessidade de fatos

que pudessem me servir no levantamento de tais questões. Também usei textos e vídeos

de entrevistas para conseguir o conteúdo suficiente.

O objetivo do trabalho é tentar desvendar o fato da Jovem Guarda ter sido

considerada alienadora. Foram apresentados fatos que indicam uma probabilidade de

serem justas as acusações. Também apresentei uma “defesa” usando como exemplo um

grande nome do movimento. Portanto não será dada culpa ou inocência alguma, os fatos

forma mostrados e as conclusões cabem a cada um. No entanto, a importância não se dá

na culpa ou na inocência e sim na discussão. É fato que atualmente as pessoas são

pouco engajadas a luta política, e que essa luta é importante para um país. Afinal se é

que sejam justas as acusações e a Jovem Guarda fosse mesmo alienadora,

propositalmente ou não, pois poderia alienar ingenuamente, como dito por Erasmo, o

fato é que as pessoas a cada dia estão menos interessadas na luta política.

Entrevista Erasmo Carlos disponível em: http://www.youtube.com/watch?

v=C3eR2FKeZ9Q

Acesso em: 23 fev 2013