Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro...

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PráticasAfetivasFemininasemNossaSenhoradoDesterronoSéculoXIX

AntônioEmilioMorga

Manaus-2017

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FichaCatalográficaelaboradaporSuelyO.Moraes-CRB11/365

M847pMorga,AntônioEmílio

PráticasafetivasfemininasemNossaSenhoradoDesterronoséculoXIX/AntônioEmilioMorga.–Manaus:EDUA,2017.

81p.;21cm

ISBN978-85-7401-XXX-X1.Históriasocial.2.Movimentofeminista.I.Título.

CDU930.85

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AOLEITOR,UMAVISOAos leitores um alerta se faz necessário. Algumas modificações foram

feitas na dissertação. Porém nada que altere a formatação original. Asmodificações realizadaspor forçada formataçãoem livro levouemcontaanecessidadededeixar fluiro texto.Dadoo recado,esperoquesejaumaboaleiturapelasociedadedeNossaSenhoradoDesterrodoséculoXIX.Ondedassuas entranhas borbulham suas contradições e afirmações. Entrem... Sejambem vindos pelas esquinas, ruas, ruelas, gabinetes oficiais, vida familiar ebodegas.

Dissertação de mestrado/Bolsa/CAPES, defendida no Programa de Pós-GraduaçãoemHistóriaSocialdaUniversidadedeSãoPaulo/USP,1994.

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AGRADECIMENTONesteespaço,gostariaprimeiramentededeixarconsignadoomeucarinho

eaminhagratidãoàProf.Dra.EnideMesquitaSamaraqueacreditoudesdeoprimeiroinstantenapesquisaequeorientoucomseuargutosensocríticoesteestudo e me transmitiu constantemente, através de suas sólidas intervençõesmetodológicas,asegurançanecessáriaquemepossibilitouconcluí-lo.

Também quero deixar registrada a solicitude a mim dispensada pelosfuncionáriosdaBibliotecaPúblicadoEstadodeSantaCatarina,especialmenteaquelesquetrabalhavamnaSessãodePeriódicosequesempremeatenderamcomdedicaçãoeboavontade.

Não poderia de deixar de registar que sem o auxílio da bolsa de estudofornecidapeloprogramademandasocial-CAPES,estapesquisajamaisteriasidorealizada.

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PREFÁCIO

AmulherdeDesterroentrerelatosdeviajantesedispositivosderegulação

Na ilha de Santa Catarina, as práticas afetivas femininas estariam sob omantodeNossaSenhoradoDesterro.Mas,abaixo,estendiam-sebelaspraias,montanhasematasiluminadaspelosolforteque,paraencantarmaisaindaestepedacinho de terra banhado pelomar, bronzeava os ombros descobertos demulheres,descritaspormarinheirosviajantes, comosedutoras.Aconstruçãodehábitos sociais–nestepedacinhode terranoBrasil Império–nãopodia,evidentemente, se desprender totalmente das riquezas naturais, o que setornariaumdesafioàassepsiamodernaderenegaronatural.Difícilnãosuporneste cenário, que as práticas afetivas femininas não se tornariam um dueloentreosagradoeoprofano,ouentreaciênciaedesconhecimento.Nocentrododebate,ocorpodasmulheres,suasindumentárias,seusgestos,acirculaçãonosespaçospúblicosetc.passavamasersubmetidosadispositivossociaisderegulação,numgestodemodernização,nãosomentedascondiçõesmateriais,mas, também, da alma, sob a insígnia do que hoje preferimos chamar deproduçãodeumadadasubjetividade.

Nesta obra, Antônio Emilio Morga constrói uma narrativa fluida pelosrelatosdeviajantesnosséculosXVIIIeXIXna ilhadeSantaCatarina, lugarestratégico para o ancoradouro de navios. Relatos de viajantes de diversaspartesdomundocompõempartedacartografiadasrelaçõessociaistrazidasàsuperfície, no qual pode-se sentir claramente, o modo como as fontes sãotrabalhadas,odestaquepara avidapulsandoe, também, sendocombatidanafrieza de dispositivos higienistas pautados, sobretudo, no discurso damedicina. Momento em que os discursos científicos e religiosos davam asmãospararegularocomportamentoalheio.

Como nos conta Morga, “[...] no dizer dos viajantes, as mulheres erambelas e cordiais com os estrangeiros, adoravam conversas sobre amor e

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recebiamde‘bomgrado’ospresentesquelhesofereciam[...]”.Nesteperíodo,asmulheresfrequentavamigrejaseprocissões,oqueagradavaaosdefensoresde“boaspráticas”,masbagunçavamocoretodamoraledosbonscostumesaoseremvistasembailes,lojas,praçasereuniõessociais.

Considerando o período histórico, as práticas afetivas femininasdestoavamdeoutroslugaresdopaís,relaçãoqueaparecejánosrelatosequeMorga não deixa passar. Observe! Nesta ilha ensolarada “a roupa era maisrudimentarpossível–eapior também.Usavamoshomens,apenas,ceroulascompridasecamisa;asmulheres,umcamisolãocorrido,ochaléacobrir-lheso tronco, deixando, muitas vezes, mais encobertos os seios”. Pelo visto, osrelatos de viajantes contribuíram para a construção discursiva da mulhersedutoradaIlhadeSantaCatarina,objetivodoprimeirocapítulodestelivro:Amulhersedutoranosrelatosdosviajantesestrangeiros.

Mas o que se poderia esperar de uma burguesia que se formava na ilhapreocupada com hábitos “saudáveis” tanto para os corpos quanto para oespírito? Após o desenvolvimento da ocupação da ilha com chegada dosimigrantes açorianos, como descreve Morga, as autoridades da cidadecomeçam a delinear uma cartografia urbana, no qual podemos acentuandocomo centro das preocupações a falta de higiene. Este, talvez, seja osignificante (higiene)principalno segundocapítulo–Omédio, a cidade eamulher.

A limpeza da cidade não estava desconexa da limpeza dos corpos e dapurificaçãodoshábitos.Diantedeumacidadequeaspiravasemodernizar,osaber médico – higienista – era o caminho científico para respaldar aimposiçãodenovaspráticas.Tudogiravaem tornodeumademonizaçãonafaltadehigieneparajustificarasmudanças.Morgaépreciso:

AcidadedeNossaSenhoradoDesterro,doséculoXIX,eradescritacomo

umacidadeemprestadaedeimundicesacumuladas.Falava-sedosodoresdaságuasestagnadas,dofedordapodridãodosdetritoscomolugarondereinavaosmiasmas.

Essadescriçãojádemonstravaopoderqueodiscursomédicoexerciapara

oprocessodehigienizaçãodoespaçourbano.

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Ao passo que o discurso médico se ocupada com a higiene, o espaçourbanopassavapormudançascomocrescimentodocomércioeaexpansãodaelitedesterrense,levandoas“mazelas”sociais,ouseja,osdespossuídosdacidadeparaoutraslocalidades.Ahigieneesuafaltademarcavatambémaelitee os despossuídos. Entre os relatos que Morga seleciona, o de Ribeiro deAmeigaclassifica,porexemplo,asprostitutascomoasde“maisbaixaclasse”.Amétricaparaclassificaroespaçosocialemoralpassapelahigiene.

A imprensa passa também a ter uma função estratégica neste projetohigienista.Passouaseromeiopeloqualseexerciaa“vigilância,correãoeocontrole sobre fazeres ao cotidiano da população”. Os jornais da épocacompõem uma importante fonte para Morga discorrer sobre este campoimaterialdodiscursoqueseafetivanaspráticas.Assim,podemosentenderodiscursonosentidoqueFoucault(1986,p.56)atribui,nãodeumarelaçãodesignificaçãoentrepalavrase coisas,masenquanto“[...]práticasque formamsistematicamenteosobjetosdeque falam”.Ou seja, odiscursohigienista damedicina dá visibilidade a um padrão de normalidade e saúde (o objeto dodiscurso) e passa a atravessar outros campos da sociedade, como o daimprensa,constituindoumapráticadiscursivaque,sistematicamente,seinserenosatos,naspráticassociais,nomodoqueossujeitosvãolidarcomahigienedoespaçoedoscorpos,produzindodeterminadasubjetividade,naturalizandooque foi resultadodeumarelaçãodepoderqueestáaserviçode interessesespecíficos.

Nesse projeto higienista, os discursos criam um novo campo devisibilidadeparaamulher,“[...]onderecaisobreelatodaordemdesuspeitanoespaço público”. Temos já dadas as pistas de que as práticas médico-higienistasvãodelimitar tambémascondutas femininas.Passa-sea regularasexualidade, o comportamento dos que se amam, o perfil da esposa e omodelodemãe.

Divididoemtrêspartes,oscaminhosdestaobrapassamdaconstruçãodamulher sedutorana ilhapara amulher reguladapelodiscursohigienista, atéchegarnapartefinal:Amulhernaliteratura.SeupontodepartidaéacriaçãodoGabinetedeLeitura,oquesetornarianumabibliotecapública.NoSéculoXIXseviuformarumambienteculturalnaDesterroformadaporescritores,

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jornalistas,artistasplásticosemúsicos.Aamarraçãodeste livrose fecha.Deuma ilha dada às práticas “duvidosas” à construção de hábitos saudáveis nomomentoemqueseconsolidavaumaelitequeencontranodiscursocientíficomeioparaconstruirsuadistinçãosocialeimposiçãodenovoscódigossociais.Aefetivaçãodessescódigosencontraforçanadifusãodaliteraturaromânticae nas peças teatrais que difundiam uma espécie de “[...] pedagogia docomportamento [e] atendiam aos interesses da burguesia ascendente noBrasil”.

A literatura, amúsicaeo teatro funcionamcomomeiode recodificar aspráticasdesociabilidadedapopulação.Nessenovocenário,amulherpassouaser “símbolo da castidade e da pureza, torna-se o ideal a ser perseguido”.Estavam dadas aí, as linhas subjetivas dos dramas na literatura: a dualidadeentre amulher sedutora – temadoprimeiro capítulo– e a angelical que, naversão científica, é a mulher asséptica, limpa, que sabe qual seu lugar nasociedade.

RaquelA.S.Venera

Profª.doProgramadePós-GraduaçãoPatrimônioCulturaleSociedadedaUniville

JoséIsaíasVenera

Prof.daUnivalieUniville

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Sumario

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULOI:Amulhersedutoranosrelatosdosviajantesestrangeiros

CAPÍTULOIImédico,acidadeeamulher

CAPÍTULOIII:AmulhernaliteraturadesterrensenoséculoXIX

CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

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INTRODUÇÃO

Ocronistaquenarraosacontecimentos,semdistinguirentreosgrandese

os pequenos, leva em conta a verdade de que nadado que umdia aconteceupodeserconsideradoperdidoparaahistória.

WalterBenjaminAhistoriografiadeSantaCatarina,nosúltimosdezanos, temencontrado

umcampofértilnaHistóriaSocial,preocupadacomaanáliseeapercepçãodeprocessos históricos antes escondidos nas entrelinhas documentais econsiderados por alguns pesquisadores como de menor importância para oentendimentodanaturezadassociedadese,emparticular,comocotidianodapopulaçãodaIlhadeSantaCatarina.

A diversificação temática e a mudança de métodos de abordagenspossibilitaramqueumageraçãodepesquisadoresemhistóriaenriquecesseoquadro conceitual da historiografia catarinense. Neste sentido, osmarginalizados, a mulher, as festas, o cotidiano e a família ganhamvisibilidadenasnovasinterpretaçõesmetodológicas.

O presente trabalho segue por essa trilha e tem por objetivo trazer àsuperfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro noséculo XIX, por tratar-se de um local privilegiado para observarmos essaquestão.

AcidadedeDesterro–queem1894passouadenominar-seFlorianópolis–, no decorrer do século XIX, sediou funções militares, administrativas,portuáriasecomerciais.

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Acolonizaçãodestaregião,matizadapelaimigraçãodoscasaisaçorianos,proporcionouummaiorequilíbrioentreaquantidadedemulheresbrancasemrelação à população masculina do que em outras áreas do Brasil Colonial.Algumasinvestigaçõeshistóricas têmbuscadoevidenciarcorrelaçõesentreaformaçãohistóricadessaregiãoeoscostumesdosseushabitantes;interessa-nos,emparticular,verificarcomofoiconstruídauma imagemdamulherdeNossa Senhora do Desterro, marcada pela ênfase no seu desembaraço naspráticasafetivas.

Na perspectiva de relacionar o cotidiano dos sujeitos com astransformações das formas de falar sobre o assunto e recuperar o percursodosprocedimentossobreaspluralidadesdedizeresdiantedaspráticasafetivasfemininas, trabalhamosasfontescomolhardejardineiroquepreparaaterraparasementeiraeque,porpequenodescuido,podeserfisgadopelaspaixõesqueexalamdadocumentaçãoperscrutada.

Atento a esta provocação, entre o profano e o sagrado, no lugar dosobjetosbuscamosencontrarapluralidadedas relaçõese retomaras relaçõespontuais, o que no decorrer das investigações possibilitou para nós osurgimentodedeterminadosobjetosepermitiureconstruiratramadosdizeressobreosobjetos.

Paraescavacarestesobjetosetrazeràluz-matinal,fez-senecessáriotodoumaprendizadosobrecomoperceberas falas sobreacidade, asmulheresesuaspráticasdesociabilidade.

Para este aprendizado, buscamos os trabalhos que estudaram a condiçãofemininanoséculoXIX.E,entreestes,aspesquisasdeEnideMesquitaSamaraque traça o perfil da família paulista, as relações de poder e estratégias dasmulheresdentrodestecampode tensõeseMariaOdilaSilvaDiasque trazàtonaocotidianodasmulherespobresbuscandooentendimentoda formaçãodasociedadepaulistanadaqueleperíodo.MagaliEngel,porsuavez,nostrazàsuperfície o mundo do saber médico e a prostituição na cidade do Rio deJaneiro.E,porfim,LanaLagedaGamaLima,noseuensaio"Aboaesposaeamulherentendida",sevoltaparaacondiçãofemininanoséculoXVIII.1

Diante deste quadro referencial e da ausência momentânea dahistoriografia catarinense sobre o mundo feminino de Nossa Senhora do

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Desterro,brotaodesejoprimeiroparaarealizaçãodestapesquisa.

A partir do século XVIII ocorreu, em diversos países da Europa, umagrande difusão estética de sociabilidade, simultaneamente à remodelação doespaçourbano.Nestatransição,queseinsinuoupeloreordenamentodasvidasdos sujeitos e do espaço urbano impostas pelo capitalismo internacional notranscurso do século XIX, as reformas urbanas e sociais foram alguns dosaspectos que mais fortemente caracterizaram as mudanças operadas nesteperíodo. Inserida neste contexto, a Ilha de Santa Catarina, através de suaincipiente elite, tratou de adequar-se aos novos ventos da modernidade.Verificamos que, neste período, a introdução e a circulação de umadiversificadasériedeimagensediscursospossibilitoutodoumcampovariadode reformas sociais, administrativas, sanitárias e urbanísticas, demonstrandoque Nossa Senhora do Desterro não ficou imune às mudanças estruturaisocorridasemváriasregiõesdoBrasilnodecorrerdoséculoXIX.

Apartirdaí,comoevidenciou-seaolongodapesquisa,apopulaçãodailhatravou intensa resistência ao processo de modernização preconizada pelaincipiente elite desterrense. As estratégias de remodelação das formas desociabilidadeedoespaçourbanotranspareceramdeformasutilnocotidianodoshabitantesdeDesterro.

Um dos elementos que se revelaram estratégicos nesta tentativa denormatizar os comportamentos afetivos dos sujeitos foram as políticas desaneamento produzidas neste período na Ilha. Através delas ativaram-sevaloreseosaxiomasdesociabilidadedifundidospelocientificismomédico-higienistaquenoseusabersobreourbanoesobreossujeitoscorrigiaantigoshábitoscoloniaisdesociabilidades.2

Umdos fatores subjacentes a estaproblematizaçãoqueestevenabasedeum considerável número de transformações que se operaram na época foisobreavisibilidadedamulher.

Neste estudo, tentamos analisar, sem a pretensão de esgotar o assunto,comosearticularamalgumasfalassobreaspráticasafetivasfemininas.

Na primeira parte, interessa-nos investigar os relatos de viagens que osviajantes estrangeiros fizeram a respeito do comportamento da população

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femininada IlhadeSantaCatarinanodecorrerdoséculoXVIIIeaprimeirametade do século XIX. Rastreando os seus registros como fonte deinvestigação, num primeiro momento, tentaremos verificar como o olharmasculinoliaeconstruíaascondutasafetivasdasmulheresdeDesterro.

Na parte II, pretendemos demonstrar, através do discurso médico-higienista, as práticas discursivasmasculinas que vão normatizar as práticasafetivas das mulheres de Nossa Senhora do Desterro, a partir da segundametadedoséculoXIX.

Eporfim,naparteIII,analisamosasintervençõesliteráriasproduzidasemNossa Senhora do Desterro sobre o comportamento afetivo feminino nodecorrerdoséculoXIX.

NapesquisaprocedidaparaaconfecçãodestetrabalhoutilizamosoacervodaBibliotecaPúblicadeSantaCatarina,aBibliotecadaUniversidadeFederalde Santa Catarina, o Arquivo do Instituto Histórico e Geográfico de SantaCatarinaeoArquivoPúblicodeSantaCatarina.

As fontes diretamente ligadas ao nosso tema encontram-se localizadasprincipalmente na Biblioteca Pública de Santa Catarina e na Biblioteca daUniversidade de Santa Catarina no Setor de Obras Raras. Na primeira,pesquisamososjornais:OCorreioOfficial,OArgos,ODespertador,CorreioCatharinense,OConservador,OBotafogo,OCruzeirodoSul,OChaveco,OCatharinense,OMosquito,ONovoÍris,OSantel.Todososperiódicosacimacitadossãodosanosde1850a1888.Muitosdessesjornaistiveramexistênciaefêmera.

Na segunda, fichamos "Ilha de Santa Catarina: relatos de ViajantesEstrangeiros nos séculos XVIII e XIX" e "Ensaio sobre a salubridade,estatísticaePathologiadaIlhadeSantaCatarina”eemparticulardacidadedeNossaSenhoradoDesterroealgunsaspectosdaproduçãoliteráriacoeva.

Para trabalhar coma documentação escolhida, é preciso ter emconta osseus limitespoisprovêmdedeterminados setores sociais e atendema certasintervençõessobreoscomportamentos.ReconstituindoascondiçõesemqueasfalassobreasmulheresdeDesterroforamenunciadas,podemosreinserirtaisfalas no contexto social da época e buscar recuperar, no âmbito destasrelações,asestratégiasafetivasdasmulheres.

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Os capítulos deste trabalho são pontos nodais. Apesar da aparenteindependência entre si, possuem um fio condutor que os une. Isto só foipossível, em parte, pela documentação e a maneira como ela foi lida e seteceramosnósdarededosobjetosreveladospelasescavaçõesrealizadasnasfontes.Talvez,Enzensbergertenhaseusmotivosaofalarque

[...],orecontadornãoéimparcial:eleintervémnanarração.Suaprimeira

intervenção se dá no fato de escolher esta, e não outra história.O interessereveladonessabuscanãotemacompletudecomofim.Orecontadordeixadelado,traduz,fazrecortes,montaetranspõesuaprópriaficçãoaoconjuntodeficcões encontradas, e isso com plena consciência e talvez não sem algumcontragosto.3

Feitastodasestasponderações,esperamosterprovocadonoleitorodesejo

eavontadedepassearconosconomundoqueasfalasmasculinasconstruíramsobreavisibilidadefemininanaIlhadeSantaCatarina.

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CAPÍTULOI:Amulhersedutoranosrelatosdosviajantesestrangeiros

AIlhadeSantaCatarinaeraumpontoestratégicodereabastecimentodos

navios nacionais e estrangeiros que nela aportavam em busca de víveresnecessários à existência das suas tripulações.O fato de os preços praticadosnesta região serem inferiores aos preços de outros portos, e as qualidadesportuáriasdaIlha,foramfatoresquecontribuíramparaqueDesterrorecebessenodecorrerdosséculosXVIIIeXIXavisitadosviajantesestrangeiros.

Identificamos algumas características nas falas dos viajantes estrangeirosque tivemos a oportunidade de analisar e temas que decorreram de suasobservaçõesdaspráticasafetivasnocotidianodasmulheresdeDesterro.Entreestes temasdestacamosalgunspontosquecontribuíramparaqueosviajanteselaborassemumconjuntode imagensdamulhersedutoraemNossaSenhoradoDesterro.

Nodizerdosviajantes,asmulheresdaIlhaerambelasecordiaiscomosestrangeiros,adoravamconversarsobreoamorerecebiamde"bomagrado"ospresentesquelheseramoferecidos.Tinhampredileçãopelamúsica,dançaepelasintrigasamorosasquecorriamsoltas.Alémdisso,vestiam-secommaiselegância e bom gosto do que as mulheres de outras regiões do Brasil.Adoravam passeios clandestinos,mas, quando em apuros, sacrificavam seusamantes para defender sua honra. Observamos que estes temas sãocaracterísticasquepermeiamasfalasdosviajantesaoregistraremaspráticasafetivasdasmulheresdeDesterronodecorrerdosséculosXVIIIeXIX.

Na Ilha de Santa Catarina as mulheres eram frequentemente vistascirculando no espaço público: igrejas, bailes, procissões, lojas, praças ereuniõessociaisdiversas,locaisqueofereciamaosviajantesumamplocampo

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de leituras possíveis. É provável que o relativo nivelamento social dapopulaçãoda Ilhano séculoXVIII e a cartografiadeumaelite incipientenaprimeira metade do século XIX, diluíssem as desigualdades sociais, para apercepçãodosviajantes,poisocontrapontomaisrecorrentequeencontramosnosrelatosdeviagensrelaciona-seaocontrasteentreoshábitoseoscostumesda mulher urbana e da mulher rural da Ilha e do litoral continental. Nãoencontramos nos relatos de viagens estudados, referência a um territórioespecífico onde pudéssemos identificar a circulação exclusiva de mulherespobres. Estes territórios onde circulavam as mulheres pobres só serãomencionadosnasegundametadedoséculoXIX,emestudofeitopelomédicoJoãoRibeirodeAlmeida em1863, identificandobairrospobres e ligando aatividadeeconômicadasmulherescomaprostituição.4

OnaturalistaGeorgHeinrichvonLangsdorffqueestevena IlhadeSantaCatarina entre 1803 e fevereiro de 1804, registrou a sociabilidade e aelegância dasmulheres.As representantes do sexo feminino não são feias eentre asmulheres de classemais alta estão algumas que,mesmonaEuropa,teriammotivosparaseafirmaremcomobeldades.

Na maioria são de estatura média, bem constituídas, de cor castanha

(‘basané’) sebemquealgumassãomuitoclaras, têm fortescabelos pretos eolhos escuros e sensuais; [...]. Presentes europeus, mesmo os maisinsignificantes,comofitas,brincos,etc.,sãogratamenterecebidos.5

LangsdorffaocomentarabelezafemininanaIlha,fazinsinuaçõesquanto

aogostodasmulherespelosadornos.Emnenhummomentoquestionaoutraspossibilidadescomo,porexemplo,acarestiadocomérciolocaltestemunhadopelo próprio viajante, o que explicaria, em parte, o interesse das mulherespelosadornosoferecidospelosviajantes.Pelocontrário,induzseusleitoresapensarqueasmulheres sedeixavam levarpela"delicadeza"dosviajantesaooferecerempresentesquesegundoeleeram"insignificantes".

OswaldoRodriguesCabral, aocomentarosprimórdiosdo séculoXVIII,faladasdificuldadesmateriaisencontradaspelosprimeirospovoadores,sendouma delas era a precariedade do comércio. Por não haver quase nada acomprarnocomércio,odinheirotornava-sedesnecessário,poisastrocasdemercadorias entreos ilhéuse as embarcaçõesnacionais e internacionaisque

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nela aportavam tornaram-se transações comerciais frequentes entre apopulação e os viajantes. A carência de um comércio que atendesse àsnecessidadesimediatasdapopulaçãoeraatenuadaporestesistemacomercial.

Como parte das dificuldades encontradas pela população dentro dessaprecariedadedocomércio,encontrava-seoacessoaovestuário.Destaforma,aroupaeraamais rudimentarpossível -eapior também.Usavamoshomensapenas ceroulas compridas e camisas e as mulheres vestiam um camisolãocorrido, o chale a cobrir-lhes o tronco, deixando, muitas vezes, malencobertos os seios.6Alguns viajantes que visitaram a Ilha são unânimes aoafirmar que a Vila de Nossa Senhora do Desterro sentia profundamente acarênciaderoupasdevestirequeosmoradoresdavampreferênciaàtrocademercadorias nativas - peixe, farinha,madeira, frutas, entre outros - com osestrangeirosporroupas.

NofinaldoséculojáhaviaumcomérciorazoávelnaViladoDesterro.Asmulheres encontravam nas lojas e armazéns alguns itens referentes ao seuviver cotidiano. Podia-se encontrar em alguns estabelecimentos: luvas,sombrinhas, lenço, seda, fitas, pulseiras, anéis, água de cheiro, botas, leque,camisadecambraiaeseda,chale,entreoutros.

Langsdorff, ao afirmar que as mulheres da Ilha de Santa Catarinaadoravamreceberpresentes"insignificantes",estavafalandodequalmulher?Ou estaria o viajante construindo, através do seu imaginário, a mulhersedutoraqueseuolhareuropeuidentificavanaspráticassociaisdasmulheresemDesterrodoséculoXIX?

OgostopelosadornoseavidaemsociedadecultivadapelasmulheresdaIlhamereceu,nasegundametadedoséculoXIX,umquestionamentoporpartedeumpregador:“[...]opredicantedoRosárioafirmou,emtermosabsolutos,que-asjoias,sedasecustososadornos,comqueasmulheresseapresentam,sãoobtidosàcustadesuahonra”.7Anotapublicadaem1868,noperiódico"ODespertador",dirigia-seaumpúblicointernoequedialogavacomoshábitosda comunidade em que estava inserido. Neste caso, a narração das práticasafetivas femininas não se distanciava da existência do narrador nem dospersonagens constituídospelosdiscursos, tinhamcomoobjetivo intervirnoscostumesdasmulheresdaIlha.

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OprimeirorelatoquetemosemmãosafalardasociabilidadefemininaemDesterronoséculoXVIIIfoiregistradopeloabadebeneditinoAntoineJosephPernetty, que participou da expedição do célebre navegador francês LouisAntoinedeBougainvillequetinhaintençãodefundarumacolôniafrancesanasIlhasFalkland (Malvinas).DomPernettychegouàViladeNossaSenhoradoDesterro em 29 de novembro de 1763 e constatou que os habitantes da Ilha(homens emulheres) viviamnaociosidade e queo pouco trabalho existenteera feito por escravos. Sobre as mulheres, o viajante registrou que “[...] asportuguesasestabelecidasounascidasnaIlhadeSantaCatarinaenascostasdaterra firmequepercorremos, sãomuitobrancasdepele, apesardo calordoclima.Elas possuem, emgeral, olhos grandes e bempuxados,mas de rostopouco embelezado”. 8 Paulo José Miguel de Brito que esteve na Ilha emsetembrode1797,tambémficouadmiradodosmodossociáveisdasmulheres.AocompararasmulheresdaIlhacomasdeoutrasregiõesdoBrasil,ponderaquenãoencontrounasmulheresdeoutrasparagensa"polidez,urbanidadeeboasmaneiras"quetinhapercebidonasmulheresdaIlhadeSantaCatarina:

As mulheres são em geral agradáveis em suas maneiras; observam

cuidadosamente os seus deveres domésticos; são prendadas, industriosas, efecundas:asmaisnobres,ouasmaispolidasecivilizadassãodotadasdemuitaurbanidade, demaneiras dóceis, emeigas; são inclinadas aos divertimentos;sabemcantar, tocar alguns instrumentos de cordas, dançar, e não se observanela aquela bisonhice, que se encontra nasmulheres de outrasCapitanias doBrasil.9

O naturalista Auguste de Saint-Hilaire em sua viagem pela província de

SantaCatarina, em1820, avalizao registroqueMigueldeBrito fez sobreacordialidade e sociabilidade da população feminina e confirma o que umabadebeneditino,em1763,registrousobreabelezafeminina.

Asmulheres sãomuito claras; de ummodo geral têm olhos bonitos, os

cabelos negros e muitas vezes uma pele rosada. Elas não se escondem àaproximaçãodoshomenseretribuemoscumprimentosquelhessãodirigidos.Jádescreviosmodos canhestrosdasmulheresdo interior, que ao saíremàsruascaminhamcompassoslentosumasatrásdasoutras,semviraremacabeça

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nemparaumladonemparaooutro,esemfazeremomenormovimento.NãoaconteceomesmocomasdeSantaCatarina.10

Fatoque,segundoele,asdiferenciavadasmulheresdeoutras regiõesdo

Brasil.TendoconstatadoodesembaraçodasmulheresdaIlha,aocompará-lasàs mulheres de Minas Gerais, Saint-Hilaire formula juízo ético diante daspráticassociaisdasmulheresdeDesterro:

Elasnãodemonstramomenorembaraço,eàsvezeschegammesmoater

um certo encanto; frequentam as lojas tão raramente quanto asmulheres deMinas (1820), mas quando andam pelas ruas em grupos, colocam-segeralmenteao ladoumasdasoutras;não receiamdarobraçoaoshomensemuitas vezes chegam a fazer passeios pelo campo. Para sair elas não seenvolvem num manto negro ou numa capa grossa, se vestem com maisdecênciaebom-gostodoqueasmulheresdointerior.11

Seu arguto senso de observação perscrutou o comportamento dos Ilhéus

durante cerimônia matrimonial acontecida num domingo ao entardecer naresidência dos pais da noiva, filha do coronel de engenharia Antônio JoséRodrigues, a quemSaint-Hilaire conheceuna cidadedoRio de janeiro.Esteacontecimentosocialdesterrensechamou-lheaatenção,poisnãoesperavaque"numpaíscatólico, tivesse sidoescolhidoumdomingoparaa realizaçãodocasamento". Conta que após a cerimônia matrimonial, os convivasparticiparamdeumbaile noqual asmulheres que se encontravampresenteschamaram a atenção do viajante por estarem bem vestidas e por nãodemonstrarem o menor "embaraço" quando os homens lhes dirigiam apalavra.

Celebradoocasamento,oaltarfoiimediatamenteretiradoeasalaencheu-sedegente.Todossepuseramadançar,sendoafestaassistidapelooficianteepor outros eclesiásticos. Havia muitos homens presentes, entre oficiais efuncionários públicos, e umas quinzemulheres. Todas estavam muito bemvestidas e dançavam muito bem, não se mostrando constrangidas oudesajeitadascomoasmulheresdeMinas.Deummodogeraloshomensnãoasassediavam, mas quando eles lhes dirigiam a palavra elas respondiamamavelmenteesemembaraço.12

Navirgindadematinaldaprimaverade1807,JohnMaweabaixaâncoranoDesterro.OrelevodaIlhacomseusverdes,flora,floresemorroschamaram

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atençãodocoevoviajante.Nestavisãoafrodisíaca, suasobservaçõessobreasociabilidade da população acompanham o testemunho dos viajantesestrangeirosquenelaestiveram.Mawenãoviuumpovoentregueàociosidadecomo constatou Pernetty, pelo contrário, encontrou artífices de todas ascategorias: "alfaiates, sapateiros, funileiros, marceneiros e ferreiros". Sobreos modos de vida da população registra que são urbanos e educados. Asmulheres são bonitas, cordiais com os estrangeiros, gostam de conversar epossuemcomoumadaslabutasdiáriasfazerrendadebilrocomhabilidadeebom gosto. Entretanto, o seu testemunho se contradiz com o testemunho deSaint-Hilaire quando ambos discorrem sobre a visibilidade feminina naprovíncia de São Paulo. Enquanto o naturalista afirma que não teve contatocom o sexo feminino paulistano, Mawe observa que "[...] as mulheresparticipavam de todas as festas públicas que em geral se terminavam comreuniõesondesejogavabaralhoousedançava”.13

A visibilidade feminina testemunhada pelos viajantes, na Ilha de SantaCatarina,noslevaaumamulhersedutora.Contudo,devemosficaratentosparaa construção da mulher neste período, pois uma das características maismarcantesdestesséculosfoiaveiculaçãodeumasériedemanuaisdediversasprocedências, orientando as práticas de sociabilidade. Neste sentido,proliferavamoslivrosdeboasmaneirascomointuitodeconciliaraartedasedução com as regras de etiqueta, que tinham como objetivo ensinar umasériedetécnicasparaorientaroscontatosentreossexos:

[...]ensinandoasmulherescomoseportardiantedoshomens,comoaceitar

a corte, aconselhando que as relações ‘fossem estabelecidas com excessivacautela’,queascabeçasnãosechegassemmuitoperto lendoomesmolivro,queasmoças‘nãoaceitassemsemnecessidadeoauxílioparasecobrircomacapa,oxale,calçarasgalochas’,etc.14

Odiscursomoralista da época construía discursos referentes às virtudesnecessáriasnamulherquesepretendiatomarcomoesposa.NoséculoXVIII,FranciscoJoaquimdeSouzaNunes,escrevia:"[...]seja,poisamulherqueseprocura para esposa formosa ou feia, nobre ou mecânica, rica ou pobre;porém, não deixe de ser virtuosa, honesta, honrada e discreta".15 Robert deBloisrecomendaàsdonzelas:

[...] conduzir-se bem no mundo. Damas devem saber falar com graça

quando estão em sociedade, mas não tagarelar demais, pois passarão por

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pedantes e fúteis, enquanto as silenciosas serão tidas por tolas. Diante doshomens,espera-sequesejamaomesmo tempoafáveise reservadas:nadademuitaamabilidade,senãoqueremseracusadasdeimpudência.16

O recato no viver e no vestir faziam parte da clivagem das condutas

femininas no séculoXIX e deveriam ser atentamente observadas para evitarconstrangimentos. Estas prescrições comportamentais referentes às atitudesfemininas e ao seu modo de trajar, como veremos mais adiante em NossaSenhora do Desterro, causaram uma série de interpretações por parte dosviajantesestrangeirosepordeterminadossetoressociais.

Nestesentido,podemosperceberqueoolhardosviajantesnãoeralinear,algunssediferenciavamnamaneiradeperceberamulhernoespaçopúblico.Uma destas distinções poderia ser de ordemmoral, pois condicionados porvaloresprovenientesdaculturaeuropeia,osviajantesaovivenciaremosusoseoscostumesdapopulaçãodaIlhanãoestavamisentosdeumpré-julgamento.É bom lembrar que, mesmo sendo filhos da cultura europeia, os viajantestinhamformação,experiênciase interessesdiversificados,que transpareciamnosseusrelatosenamaneiradeverosmesmosobjetos.

Saint-Hilaire,porexemplo,temumolhardiferenciadodeoutrosviajantesdiantedousodeadornosporpartedasmulheresdeDesterro.Aoconstatarque"[...] oshomens seprivamde tudoem favorde suas esposas e amantes [...]",asseguraque

[...]emnenhumoutrolugarexistecomoali,umadesproporçãotãogrande

entre as roupas dasmulheres e as dos homens.Nos domingos e dias santostodas as mulheres do campo se assemelham a damas de alta classe, e namaneiracomoseacham trajadosos seusmaridos fazcomqueelespareçamseuscriados.17

Após estas observações sobre osmodos desembaraçados e sociáveis das

mulheres,constatouqueapopulaçãofemininadoDesterroerahabitualmentemaior que a população masculina. Justifica tal fato em duas direções: aprimeira,devidoaopendornaturaldoshomenspelomar;asegunda,aotemordo serviço militar. Esses dois fatores conjugados, conforme o viajante,contribuiu para que umgrande número deles se decidisse pela vida nomar.Fazendo com isto que na Ilha existisse virtualmente mais mulheres do que

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homenseconcluindoassimqueessadesproporçãoe"[...]oexageradoamordasmulherespelosatavios,tornaramaprostituiçãoextremamentecomum".18

MariaOdilaaorastrearouniversofemininonacidadedeSãoPaulo,eaoperscrutar na documentação estudada, encontra nos silêncios dos arquivos ocotidiano dasmulheres pobres no séculoXIX.Maria Odila nos oferece umcampode tensões,atéentãoescondidasouomitidaspelosviajantes.Aofalardasmulherespobres,

[...] transmitem imagens de vultos escuros envoltos em panos negros e

quase nadamais acrescentam sobre suas condições de vida.Os preconceitosimpõemsilêncioeomissãosobreondemoravamecomosobreviviam.19

Saint-Hilaire enfatizava a existência de certa movimentação noturna de

mulherespelasruasdeSãoPaulo.Diantedestamovimentação,registravaumgrandenúmerodeprostitutas,"detodasasraças",fervilhandopelascalçadas,

Passeavam vagarosamente de um lado para outro ou esperavam nas

esquinas os fregueses. Devo dizer, porém, que elas jamais abordavam aspessoas.Tambémnão lançavam injúriasaoshomensouumasàsoutras.Malolhavamospassantes,mantinhamumacertacomposturaexteriorenadahavianelas do cínico descaramento, tão revoltante, das prostitutas parisiense declassebaixa,nessamesmaépoca.20

OspreconceitosdeSaint-Hilairetambémserevelamquandoafirmaqueas

mulheresdointeriordaIlhadeSantaCatarinagastavamtudooqueganhavampara sustentar seus caprichos e quando omite informações sobre asobrevivência das mulheres urbanas. É importante observar a sequência danarrativa do viajante: inicia descrevendo o desembaraço dasmulheres e suapreocupação com a beleza, vestuário e o gosto pelos atavios e finalmentesugerequeadesproporçãoexistenteentreonúmerodehomensemrelaçãoaonúmerodemulheres e o gosto dasmulheres por umavida de luxo eramosresponsáveis pela prática da prostituição em Desterro. Embora formuleexplicaçõessobreascausasdaprostituiçãoemDesterro,nãoexplicitaapartirdequeelementosconcluiuqueaprostituiçãoeracomumnestalocalidade.Queatitudes femininas o naturalista leu como sinais exteriores da prostituição?Saint-Hilaire, comooutrosviajanteso fizeram,pré julga aspráticas afetivasfemininas em Desterro a partir de valores éticos provenientes, como não

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poderia deixar de ser, de sua formação, experiências e interesses, que numaleituraatentatransparecememseurelato.

Não eram só os viajantes que censuravam o desgarre das mulheres deDesterro, a "coquetterie", ao que tudo indica, fazia parte do cotidiano dasmulheresdaIlha.Em1857,umdenuncianteanônimoqueseidentificavacomo"OAlmocreve", atravésdo jornal “OArgos” reclamavacontra "as senhorasirrefletidas que se animam a entrar na casa de Deus para orar, com ochapelinhonacabeça,comofoivistonaigrejadoMenino".Nãosatisfeitopeladenúncia,oalmocrevecomenta:"[...]dizemqueimitamasIrmãsdeCaridade,masestasnãousamchapéus, sim toucas,para compora cabeça, cujocabelotrazem-no tão aparado (segundo dizem), que parece raspado a navalha [...]”.Porfim,sugeriaoseverocensorque"[...]assenhorasconservassemosseuschapéusnamãoouosentregassemàssuasmucamas[...]".Quantoaoscensoresqueficavampoliciandoogostodasmulherespelosatavios,suascensurasnãomereciam o menor crédito diante do público feminino. Segundo Cabral, odescrédito aos censores fica evidenciado nas festas religiosas, onde "[...] asmulheres pouca bola estavam dando para os censores e, nas festas eprocissões, exibiam os seus atavios, como em todas as épocas”. Sobre osataviosutilizadospelasmulheresdaIlhadeSantaCatarina,emdiasdefestas,Cabralrelacionouosseguintesadornosperdidospelasmulheresnumsóano:"1pulseiradecontasdecoralinafinaencastoadasemouro;1alfinetedepeito,deouroepedrasfinas;1pulseiradeourocomlavores”.21

Teria o mesmo sentido, o uso dos adornos pela mulher do nordestecanavieiro e pelamulher da Ilha de SantaCatarina?NoNordeste patriarcal,segundo Gilberto Freyre, onde predominava a vontade do homem sobre amulher, cujo papel na vida masculina era ser um objeto ornamental com afinalidade de se embelezar para os olhos do pai, irmão,marido e filhos, osadornos"passaramaconstituir testemunhodoapreçodoshomens"diantedesuasmulheresque,"[...]porsuasgraçasfísicasquedeviammereceromáximode aperfeiçoamentos, através de artifícios que enfatizassem artisticamente osencantosnaturaisdecondiçõesespecificamentefeminina”.

OutracaracterísticaapontadaporFreyreparaogostofemininodiantedosatavios é correlacionada à miscigenação sanguínea e aos aspectossocioculturais do Brasil patriarcal. A essa reciprocidade de influências, namodafeminina,pode-seacrescentar,"[...]adeadornosdeNossaSenhoraede

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santas, mulheres, que, de adornos de altar, passaram a ser adaptados amulherescomuns,ouque,demulherescomuns, foram transferidosaostatusde adorno de santas”. Embora Gilberto Freyre tenha como referência depesquisa a sociedade patriarcal do Nordeste canavieiro, onde as relaçõeseconômicase familiaresnãoeramdissociadasdagrandepropriedade,oquedifere da constituição familiar do Sul do Brasil e dos modos de vida dasmulheres - como bem lembrou Eni Samara em estudo sobre as condiçõesfamiliares e femininas em São Paulo do século XIX -, sua pesquisa nos érelevante na medida em que oferece instrumental para pensarmosdeterminadas práticas socializantes desse país multirracial e comcaracterísticassocioculturaisdiversificadas.22

Em Nossa Senhora do Desterro o processo de colonização se deufundamentado na pequena propriedade, caracterizando, portanto, ummodelofamiliardiferenciadodonordestecanavieiro,ondeasrelaçõesdeconvíviosederamdentrodeoutrasatividadeseconômicasquenãoagrandepropriedade.ApesquisadeFreyreéelucidativanamedidaemquedemonstraqueousodeadornos,quemereceudosviajantesestrangeirosquevisitaramaIlhadeSantaCatarinanodecorrerdo séculoXVIII eXIXumacensuravelada,nãoéumacaracterísticasocioculturaldamulherdaIlhadeSantaCatarina.Pelocontrário,apráticafemininadousodeadornosperpassaportodateiasocialdoBrasil,constituindo-se,destaforma,empeçadacoquetteriefeminina,presentedesdeoperíodocolonialatéostemposatuais.

AViladeNossaSenhoradoDesterro,noperíodoemqueGeorgHeinrichVon Langsdorff (1803) a visitou contava aproximadamente com 500habitações,sobreumafaixadeterraacidentadadedeclividadesuave,enquantoa população da Ilha de Santa Catarina era composta de 10.000 almasaproximadamente. Conta o viajante que a vida social dos moradores daprovíncia era de uma cordialidade e hospitalidade o que tornava o convíviogratificante:

À noite, reúnem-se em grupos de pequenas famílias onde, segundo o

costume português, dançam, riem, fazem gracejos, cantam e brincam. Osinstrumentosmaiscomunssãoaguitarraeosaltério.Amúsicaéexpressiva,agradável e contagiante, [...] falam geralmente do amor e da moça dassaudadesesuspirosdocoração.23

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Além do registro da vida cotidiana dos moradores e da beleza do sexofeminino, Langsdorff narra as peculiaridades pertencentes ao universofeminino:

[...]acresce-sequeobelosexorecebecommuitagentilezaoshóspedese,

em geral, não vive retraído ou confinado como na própria terra natal,Portugal, onde as damas vivem, durante o ano inteiro, enclausuradas, ou seescondempordetrásdasportaseespiamovisitantepeloburacodafechaduraoupelafendadaporta.Tãosemimportânciaquepossaparecertalobservação,nãofaltampequenasintrigasdeamorqueseespalhamaqui.24

OttoVonKotzebue,em1815,vivenciounaIlhaocotidianodosmoradores,

eemparticular,otempoqueestesdespendiamcomolazer.NoséculoXVIII,um estrangeiro já proferira comentários sobre a grande ociosidade em queviviamoIlhéuserelataovivenciado:

À tarde dedicavam-nos ao lazer; os bem-humorados habitantes da Ilha

frequentementereuniam-seaoredordenossastendas,eumadupladeviolinoeflauta, o que aumentava a nossa alegria, convidava-os a dançar e cantar, edando-nosaoportunidadedeapreciaragraçacomqueasmeninasdançavamofandango.25

Duperry em 16 de outubro de 1822, na sua perspicácia, observou

particularidades entre a população feminina do Litoral Continental e apopulação da Ilha de SantaCatarina. E entre as particularidades, destacamosaquelaspertinentesàspráticasafetivas.Emrelaçãoaovestuáriodasmulheresda Ilha, observou que, "[...] as senhoras adotaram as modas francesas; e,trajadascomsimplicidadeeelegânciaelasatraemashomenagens.Sãocheiasdevivacidade.Vimosalgumasqueeramlindas”.ArespeitodasmulheresquehabitavamoLitoralContinental,chamouatençãoparaofatodeque

[...], embora ponham um certo esmero em seus adornos, elas usavam

vestimentas simples de uma beleza notável. Um vestido leve de chita quedesenha uma estrutura bem apanhada, algumas flores colocadas com artesobre a bela cabeleira, lhes dão um ar provocante. Elas possuem aquelacoqueteriatãocomumaoseusexo,[...].26

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Duperrey, ao dar seu testemunho sobre a sociabilidade feminina, atestacom aval de verdade, o depoimento de outros viajantes que o precederam,quandoestessereferemabenevolênciacomqueasmulheresdaViladeNossaSenhora do Desterro dedicavam aos estrangeiros. "[...] mas existe em seuscostumesalgoquepareceriacontraditóriocomavidaretiradaqueelaslevamno campo, pois que frequentemente fazemamizade comosmarinheiros queaportamemsuasportas”.Dizaindaque:"Outracoisa,dignadenotaéqueociúmepareceserendêmicoentreosmaridos,oqueseéumtanto tirânico,épelomenosdesculpável".27EmsuasexcursõespelolitoraldeSantaCatarina,onaturalistafrancêsRenéPrimevèreLesson(1822)relataosmodosdevidadoshabitantes. Descreve as habitações como lugares simples, onde os móveiscompõem-se de alguns objetos grosseiros, que segundo ele, indicam acarênciaderecursosmateriaisquepossibilitariaumavidadeconfortoebem-estar.Contudo,segundoele,énoaposentoda"donadacasa"queseencontraumcertoconfortoondealgunssimplesarranjostaiscomoutensíliosdecobre,bibelôs, uma estampa colorida sobre a cama faziam parte deste cenário queserviacomopeçaderecepção.Quantoaoshabitantesdessaregião,Lessonosretrata como "afáveis, atenciosos e solícitos". E relatou os costumes dasmulheres:

[...]esuasjovensfilhas,seguindoocostume,corriamaprocuraralgumas

floresecompunhamramalhetesqueeramoferecidoscomumsorrisosobreoslábios com gestos os mais desembaraçados, [...] as moças daqui, com agalanteriainerenteaoseusexo,sabemsepôr,[...].Umvestidodechitacobrelevementesuaestatura,semesconderadocilidade, [...]oqueunidoaolharesexpressivos justificam bastante o extraordinário ciúme dos maridos e avigilânciadospais.28

RobertAvé-Lallemant,emsuaviagempelaprovínciadeSantaCatarinano

anode1858,descreveaIlhacomoumlugaraprazívelparaseviver,aoladodas "Musas" que adoram andar pelo campo em busca do "império daliberdade".

Quem gosta de fugir ao tumulto da cidade e de viver no campo, no

recolhimento da Natureza e das Musas, que com ele de bom gradoperambulam, e amamas alturas azuis e o império da liberdade - encontraráfelizasilonasencostasdaIlhadeSantaCatarina.29

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SobreoshabitantesdeNossaSenhoradoDesterro,oviajante tevepouca

oportunidadedeconhecer.Justificaafaltadeconhecimentosobreapopulação,por não haver vida pública na "pequena bolorentaDesterro".Apesar de nãoencontrarvidapública,Avé-Lallemant,teveseuencontrocomapopulaçãoporocasiãodeumafestareligiosa.

Todavia, em 30 demaio houve a festa da romaria doMenino Jesus, do

outro lado da Serra do Sinal. De manhã foi muita gente para lá; encontreicavalheirosesenhorasmuitoelegantesacavalo,porémmuitomaisgenteapé;etinhamboaaparênciaosgruposdepessoasataviadasquedesciamdaencostaparaapraiaousaíamdosescuroscafezais,dirigindo-seàcapela.30

DomPernetty,queestevena Ilhaem1763,comentaa surpresadealguns

oficiaisnorte-americanosaoencontrarem"[...]váriassenhorasedeserembemacolhidos[...]"numjantaroferecidopelogovernadordaProvíncia.Asurpresadosoficiaisdava-sepelofatodeosportuguesespossuíremareputaçãode"[...]serem extremamente ciumentos [...]", que pudessem permitir às senhoras departicipar de tais reuniões. Logo após o jantar, "[...] teve lugar, então, umaespéciedebaile,ondeassenhorasfiguravamcomosenhores;retiramos-nosàsduasoutrêshorasdanoite,bastantesatisfeitos”.31DavidPorter,oficialnorte-americano que esteve na Ilha de Santa Catarina em 1812, comentou em seurelatoque"[...]agentedasaldeiasébemvestida,agradávelejovialnoaspecto;as mulheres são bonitas e graciosas em suas maneiras; os homens sãoextremamenteciumentosecreioque,paraisso,tenhamsuficientesmotivos".32Lesson em seu relato registrou que "[...] as menores coisas servem paraesboçaroaspectomoraldeumaregiãooudeumpovo”.Fundamentadonestejuízo ético, e na condição de observador, o naturalista fez o seguintecomentário:

Masdeumavezahistórianaturalnoslançounosmatos,ondeencontramos

o pessoal da equipagem ocupado em outras pesquisas que não eramprecisamenteaquelasespecíficasdenossamissão.Pelotempoquedurounossaestadia,certosespososdesconfiados,faziamcativassuascaras-metades.33

Uma das imagens reincidentes registrada por alguns viajantes que noschama atenção, além da sociabilidade da população deDesterro e da beleza

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feminina é a que registrou o ciúme da população masculina. Contudo, nãoencontramosnadocumentaçãoanalisada,vestígiodealgumfatoocorridoemNossa Senhora do Desterro, onde o ciúme estivesse na raiz de algumadesavença amorosa. Isto não significa a inexistência de requerimentos dedivórcionaIlhadeSantaCatarinanoséculoXIX,apenasnãoencontramosnasfontes que tínhamos disponível, indício de divórcio motivado pelo ciúme.Provavelmente, tal documentação esteja guardada no Arquivo da Cúria deFlorianópolis. Divórcios,motivados por ciúme, neste período, na cidade deSão Paulo, foram encontrados porMariaBeatrizNizza da Silva ao analisarprocessos de separação conjugal. E entre eles, destacamos um, que teve"consequênciasterríveis".Tratava-sedoprocessodeCatarinaRodriguesPinta,acusadainjustamentedeadultériopelomaridoeseviciadaporeleváriasvezes.Eentreestassevícias,"[...] lhefezumamortalferidanaspartesvergonhosas,rasgandocomasmãos,querendo-lhetiraramadreparafora".34 EniSamara,ao analisar um conjunto de motivos que culminavam com o pedido dedivórcioporpartedasmulheresnacidadedeSãoPaulono séculoXIX,nosrevelaqueassevíciaseramdasmaisfrequente.

Oabandonodolarvinha,geralmente,associadoaoadultérioou‘sevícias

graves’, jáqueaIgreja impunhacláusulasrestritivasàsseparações.Sabemosquemuitasmulheresoptavamporestaúltimaalegação,poisaIgrejaimpunhaa condição de não coabitação com o adúltero, logo depois de conhecido oadultério,eomesmofatoestavaprevistonalegislaçãocivil.35

Nas primeiras décadas do século XIX, devido ao grande número de

pedidosde separação, foramelaboradasváriasexplicaçõespara justificarosmotivos que levavam as mulheres a pedir a separação. Uma delas, a queexplicavaapartirdarevoltafemininacontraareclusãoeorecato.

Qualquermulher,sóporqueseachacasadacomummarido,quedesejando

serhonrado,lheproíbecertasvisitas,eamizades,quelhenãoconsentebailes,óperas, e espetáculos proibidos, que lhe nega certos vestidos, e ornatosindecentes, jámurmura, já semaldiz, e desembainhando a espada da língua,entra sem piedade a cortar neste desgraçado vociferando: É umNero, é umtirano.36

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Outra explicação apresentada fundamentava-se na educação. Partia doprincipioqueamáeducaçãorecebidanacasapaternanãopreparavaamulherparaaobediênciadiantedoseumarido:

Outra, que sendo mal educada na casa de seus pais, que pelo amor, e

mimosdesordenados, que lhe inspiraram, ignoraoque é decência, respeito,obediência,esujeição,seporacasoacertacomummaridoquequergozardapreeminênciadehomem,que lhecompete,quea repreende,equeacorrige,comoestádesacostumadadestemododetratamento,oestranha,elevantando-sesemoutracausa,fogedesuacasa,voaaprocuraroasilodaqueles,quetãomal a educaram, que em lugar de lhe inspirarem a obrigação, que ela, apatrocinam,etomamempontosdehonra,oquenãoémaisdoquedesonra.37

Em Nossa Senhora do Desterro era costume dos casais em litígio

comunicar à sociedade e ao comércio, através da imprensa, que seencontravamseparadosouemprocessodeseparação.ComoéocasodeAnaJoaquina, que em 1853, se viu abandonada com seis filhos pequenos e fezcircular pela imprensa que se encontrava em litígio com seu marido edesautorizava qualquer transação comercial que envolvesse a chácarapertencenteàfamília,"poisqueantesdissonadadeviaocasal".Odenunciado,apóstrêssemanas,fezcircularnaimprensasuaversão:Contaele,quepegousuamulher em ato criminoso e pelo ocorrido acabou ficando desamparadoconjuntamentecomseusfilhos,cobertosdevergonha.Equenãosatisfeitapeloato, "[...] ela e seu cúmplice invadiram minha casa levando meus filhos ealgunspertences".38Emoutrocasodeseparação,D.AntôniaMariadosSantos,em1855,comunicava:

ABaixoAssinada,mulherdoSr.MajorJoaquimJoséRibeiroMaiato,faz

público que se acha litigando perante a autoridade competente, com seumaridodequemviveabandonadahá21anossobreumaseparaçãoamigáveldebens;eporisso,epeloestadodedecrepitudedeseumaridoserãonuloseinválidostodosequaisquercontratosqueelefizer,deoraemdiante,atéqueseverifiqueaditaseparação.39

NãopassaramdespercebidasparaonaturalistaLessonasmúltiplasformas

deseduçãoqueosestrangeirospossuíam.

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Núbeis desdemuito cedo, as jovens estão com a idade de doze ou trezeanos engajadas nos laços do himeneu. Elas revelam aos estrangeiros umabenevolênciaquesedeclaroudesdeoprimeirovislumbre.Éverdadequeestespossuemnúmerosmeiosdesedução,equeospresentestemperadoscomsuaspalavrasapresentam-sedeumaformatãoarrebatadoraqueédifícilresistir.40

Sobre os jogos do amor, da paixão e da honra damulher da Ilha faz a

seguinteobservação.Euasvibonitas:disseram-mequeelassãocomoasmulherescivilizadas

poisadoramasintrigasamorosas.Todaviaéprecisoamantesousadosporque,seusmaridosciumentossãovigilantes,e,nascircunstânciasdifíceis,elasestãosempreprontasasacrificarseusgalantesparasalvarsuahonra.41

Para Maria Beatriz, a noção de "honra" em Souza Nunes, encontra-se

associada à noção da "fama", entendida aqui como opinião pública. Nãopodemos esquecer que Nunes é um homem inserido na cultura do AntigoRegime, onde fama, reputação e honra, pertenciam ao domínio do espaçopúblicoetinhamcomoestratégiaregulamentaraspráticasdesociabilidade.Aopiniãopúblicaproblematizavaamoraleaordem,emumaépocaemqueasemoçõeseaintimidadedosujeitoeramobjetoaseradministradopelareligiãocristãepelapsicologiaqueveiculavamqueoshomensvivemtambémdassuasintenções. Também neste período, acreditava-se que a mulher não deveriasaberlerenemescrever,poispermanecendonas"trevas",evitariaseenvolvernos jogos sedutores que poderiam causar uma série de transtornos para amulher,comoobservaSuzanneComte:“[...]assimnãosepoderácomunicar-lhegalanteiosquesehesitariadizeremsuapresença;semcontarqueoDiaboétãomalignoqueinspirariatalvezàsmaissensatasodesejoderesponder".42

Segundo Samara, o adultério ou a quebra da fidelidadematrimonial eraconsiderada uma falta grave para ambos os sexos. O Código Filipino secaracterizavapelabranduranapuniçãodohomemadúltero.Jáoantigodireitoportuguêspuniacompenademorteoadultério, tantoamulhercasadacomoseu cúmplice. Diz ainda Samara que o código criminal brasileiro de 1830manteveamesmadistinçãoemrelaçãoaossexos.43

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CarlSeidler,mercenáriosuíço-alemãocontratadopeloexércitoimperialpara lutar na campanha da Cisplatina, desembarcou no porto da capital daprovínciadeSantaCatarinanumamanhãde1825.Anoite quepassou, até orompimento damanhã redentora, é narrada por ele como uma longa noite,cheiadeexpectativaeansiedadediantedo"fabulosoparaísodonovomundo".Assim que o dia se fez presente, desembarcou na Ilha de Santa Catarina. Omovimento da cidade chamou-lhe a atenção com suas ruasmovimentadas eaglomeração no mercado de peixe. E confirmou o que "ouvira" sobre osmodosdasmulheresdeDesterro:

Oqueeuouviraa respeitodassenhorasmepareceuconfirmadodesdeo

primeirodia,poisàtarde,estandoeuajanelacomalgunsdemeusconhecidos,aopassearemdiversasdessasbelasdiantedacasacomo seudesembaraçoàportuguesa,foramelasasprimeirasanossaudar,contrariamenteaoscostumesbrasileiros, e com uma amabilidade e olhares tais que bem se podiacompreenderqueosoficiaisestrangeiroslheseramhóspedesbemapreciados.44

Relata ainda que "falar da Europa" era gratificante na medida em que

provocavaa"maisvivaatenção"dasfamíliasquevisitava.Temasreferentes"amoda","fidelidade"e"amor"eramassuntospreferidosdasmulheres.

ÀsamáveiscidadãsdaViladoDesterroeraespecialmenteagradávelfalar

daEuropa,comamaisvivaatençãoficavatodaafamíliasuspensaaoslábiosdo narrador de fábulas, indagava de mil pequenas particularidades, pelasmulheres alemãs, pelo amornaAlemanha, pelamoda alemã, pela fidelidadealemã; [...]. De cada vez crescia a confiante amizade dessas livres filhas danatureza, de modo que em pouco tempo nos sentíamos tão íntimos, tãoconfortadosnocírculodessaboagentecomosefossenossafamília;eisqueembreveeudeveriaromperesseslaços,detãobomagradoalimentados,semdesconfiançaesemsegundasintenções,evoltaraomeiodosmulatosdoRiodeJaneiro.45

AovivenciarocotidianodapopulaçãodaIlha,Seidlerconstataque"[...]as

jovens,[...],nãosãotãoretraídasetímidas[...]"comoasmulheresdoRiodejaneiro que "[...] ao entrar o estranho as senhoras ou moças fugissem."; aocontrário, emDesterro, juntamente com seus amigos se sentia estimulado a

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pediro"necessáriofogoeumcopocomágua"eemalgumasoportunidadesasbeldades da Ilha de Santa Catarina nos convidavam "para entrar na casa", enestasocasiões,"[...]entãotodopessoalfemininoaparecianosmelhorestrajese procurava por meio de palestra à vontade, alegre e às vezes espirituosa,distrairdamelhormaneirapossívelohóspede”.Oolharperspicazdoviajante,nãodeixoudeperceberadiferençaentreasmulheresdaIlhadeSantaCatarina,doRiodeJaneiroedaBahia.SobreasmulheresdacapitaldoBrasil,alémda"pele entre parda e amarela" e o cultivo pela vida de sociedade, Seidler fazalgumasobservaçõesdiantedaamabilidadequedispensavamaosestrangeiros.

Tantoasmoçascomoassenhoras,emgeral,apreciamosestrangeiros;as

primeiras,porquecomumaligaçãoamorosaouquemsabeumcasamentosejulgam mais livres e mais intimamente endeusadas [...]; as últimas, porquejulgampodermelhorcontarcomasuadiscrição,[...],demodoqueémenosdereceartranspireosegredo.46

Pela leitura feita por Seidler referente aos modos de vida da populaçãofemininadaIlhadeSantaCatarinaedeoutrasregiõesdoBrasil,ondeamulherfoi caracterizadacomosedentadedesejose aventuras, é tentadorpensarmosquetodasasregiõesdoBrasilImperialeramoprópriojardimdoÉdem.EmnenhummomentodesuanarrativaSeidlertentacompreenderqualjuízoéticofundamentava as práticas afetivas das mulheres da comunidade em que seencontrava.Aoomitirumaleituraquelevasseseusleitoresaoentendimentodoqueacontecianesta região,Seidlerprovocaa imaginaçãodo leitor,paraqueesteelaboreamulhersedutoradoBrasileemparticulardamulherdaIlhadeSanta Catarina. Avaliando as condutas das mulheres, a partir de princípiosmorais pretensamente universais, as narrativas refletem esses valores, queeram destinados a leitores que a princípio pertenciam ao mesmo universoculturaldeSeidler.Senãotivermosistoemconta,incorremosnomesmoerrode Seidler, de não perceber outras leituras capazes de revelar os princípioséticossubjacentesàspráticassociaisdasmulheresdasregiõesquevisitava.

A narrativa mais surpreendente sobre as mulheres do litoral de SantaCatarinafoiadoaventureirosuíçoHeinrichTrachsler(1828),na"ViladeSãoFranciscodeLaguna".Sobreocotidianodosmoradoresoviajante registrouque são esforçados, trabalhadores, abastados e bons comerciantes. "Em todapartefomosrecebidosatenciosamente"inclusivepelo"belosexo",diantedesta

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amabilidade todo batalhão arrumou namorada, "e pouco importava aossoldadosseerambrancasoupretas".Trachsler registroucomosucumbiuaoprimeiroolhar,aosencantosda"queridaFrancisca".

Enquanto vadiamos até a extremidade da Vila, fomos cativados por um

belíssimorostodeMadonaeficamoscomoqueparalisados.[...].Debruçadaameiocorpoforadajanela,avistamos,tomadosdeencantoedignosdeinvejaumopulentoeondeantecolo,cujabrancuraevolumeharmoniosotranspareciavelado,traiçoeiramente,porumsimpleselevevestidodetrabalhocaseiro;poraíchegava-seàconclusãodosricoseviçososencantosdestaPsiquetropical.47

Além da cordialidade dasmulheres que os recebiam para saborear uma

xícaradecafé,narraqueoutrosacontecimentososcativaram.Eentreeles,o"círculo familiar" e as conversas das "admiráveis filhas" que gostavam dedissertarsobreo"amor".

[...], a senhorapuxouaconversaemprimeiro lugar sobreanossapátria,

usos e costumes, etc., passando finalmente ao capítulo do amor, assunto quesuas admiráveis filhas tratavamcom toda anaturalidade ediscretamodéstia,trocandoamabilidade.Essecírculo familiar tão íntimoeamigo fezcomquenossentíssemosemcasa,eopassardashorasnãoerapercebido.48

A conversa despretensiosa e a troca de gentilezas ocorrida entre os

viajantes e asmulheres quevisitavam sãodescrita pelo aventureiro: "É fácilimaginar como nós, jovens rapazes, íamos nos derretendo como açúcar”.Nesta passagem "[...] íamos nos derretendo como açúcar [...]"; não estarianosso aventureiro "possuído" pelo desejo que fluía diante do aconchegofamiliar propiciado pelos encantos que este encontro proporcionava? TeriaTrachslerdiscernimentodoquerealmenteacontecia?Ouestariaentregueasuaimaginação ao registrar os momentos por ele e seus amigos vivenciados eexperimentados?Parece-nosqueomomentolúdicoeoaconchegofamiliarnoqual o viajante permaneceu inserido por algumas horas proporcionaram-lheuma convivência prazerosa. Em certos momentos o aventureiro deixatransparecer a ambiguidade do seu olhar diante do vivenciado naquelemomentoporsuaexistência:

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[...], e quanto ao vinho, as filhas de Eva; depois de muita insistência,também o experimentaram. As doces pombinhas mostraram-se realmenteafáveis e até confiadas para conosco, mas com muita decência, pois eramfilhasde família.Umavezqueeramsolteiras,debaixodavistadamãe,nempor sombra pensar em excessos se podia; elas queriam satisfazer suacuriosidadefemininaeintroduziranós,forasteiros,comcordialliberdade,nosantuáriofamiliar.Asbrasileirasnãocostumamservistasporhomens,mashámuita exceção, principalmente na intimidade do lar. Tanto mais gostam deexibir-senasigrejasefestividadespúblicas!49

Trachslerdeixatransparecerodesejoqueafloradiantedoexperimentado

por ele e seus amigos. Ora colocando-se como observadores ativos naconstrução do lúdico "desejávamos e esperávamos por elas", ora comoobservadoresinocentes,poisseconsideravam"verdesnaartedoamor",dianteda voluptuosidade feminina. É importante observarmos a trajetória de suanarrativa.Atravésdela,podemosperceberaambiguidadedasuafala.Primeiroinduz seus leitores a imaginar que as mulheres com quem dialogava seinsinuavamgraçasaosseusardissedutores.Numsegundomomentosecolocanacondiçãodeseduzidoedeumaingenuidadeangelical.Emoutromomento,nãoafirmaenemnegaaconstruçãodesuafala;eleorienta,guia,conduzseusleitoresafazeraleituraquemelhorlhesconvém.Efinalmentereconhecequeé"pelabocaprofanadossoldadosextasiados"quesãoproferidososelogiosdiantedaspráticasafetivasdasmulheresquevisitava.

Acumplicidadedosviajantesdiantedosacontecimentosse tornaevidentenamedida emque eles constroem a imagemda fluidez das práticas afetivasfemininas e afirmamconstantemente teremgozadodosprazerespropiciadospelaspráticasdesociabilidadedapopulaçãofemininadaIlhaedolitoral.Emváriosrelatosdeviagensessacumplicidadeécolocadadeformasutil,comose estivessem sendo simplesmente narradores das práticas sociais dapopulação. Entretanto, uma leitura mais atenta dos fatos narrados pelosviajantes demonstra que eles são partícipes na construção da imagem damulhersedutoradaIlhaedolitoraldeSantaCatarina.

Ao tentarem envolver seus leitores nas suas aventuras amorosas, osviajantes sugerem que foram partícipes dos acontecimentos e não merosespectadores.Osrelatosdeviagenssãoumafontehistóricasingularnamedida

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emqueaquelequeenunciaoacontecimentomuitasvezesnarraasuaprópriaatuação. Aquele que enuncia é um narrador, mas também um produtor doacontecimentonarrado.Emcertaalturadoseurelato,oviajantepededesculpaaos "indulgentes leitores" pela sua narrativa pormenorizada dosacontecimentos. Trachsler deixa transparecer que deseja aprisionar seusleitores num jogo de sedução com uma serie de descrições provocantes:"doces lábios", "boca de cereja", "voluptuosos saracoteios com o corpo","sinuososeio", "rosa certamente ainda não tocada", e "íamos nos derretendocomo açúcar", são expressões que ponteiam a trajetória da trama narrada.Posteriormente recua pedindo desculpa aos seus "indulgentes leitores" pelorelato detalhado, argumentando que sua narrativa poderia servir"eventualmentedeintroduçãoaumcapítulosobreoscostumesbrasileiros".Écomo se, para explicar o modo como foi envolvido a participar dosacontecimentos,Trachslercolocassenanarrativaumaleituracapazde tornarevidentesuaparticipação,masmedianteaumprincípioquesupostamenteeleconsiderava nobre. E ao eximir-se da culpa por ter usufruído dos "prazeresmundanos"narrados,inocentaasmulheresquevisitavadequalquerreferênciaàpráticadaprostituição.Este temaéabordadonofinaldoseurelatoquandoseu batalhão deixa a cidade de "São Francisco de Laguna". "As mulheresmundanas seguiram-nos até aqui e teriam acompanhado os soldados aindamais longe, não fosse dada ordempelo coronel de enxotá-las comvaras decarregarfuzil”.

Oviajantenãonosoferecequalquerpossibilidadedeidentificaçãodequemeramessasmulheresqueclassificacomo"mundanas".Suaobservaçãosetornainterrogativanamedida emquecolocaumadiferenciaçãoentre asmulheresque acompanharam os soldados até um determinado percurso da marcha,daquelascomquemdividiumomentosdeinesquecívelfelicidade.Aodiscernircomnitidezentremulhereshonradaseprostitutas,estariaTrachelerainformarpara seus leitores que as mulheres com quem se envolvera não eramprostitutasedessaformatornandosuanarrativamaisconsistentee instigantenamedidaqueexigiriadoseuleitorumexercíciodedecodificaçãodosrituaisde sedução? Ou estaria pré-julgando, como o fizeram outros viajantes,determinados comportamentos que seu olhar observava a partir dos seusvalores,experiênciaseinteresses?50

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Com base neste conjunto de falas sobre as mulheres da Ilha de SantaCatarina,edo litoral,podemosacreditarnabenevolênciadasmulheresdestaregião para com os viajantes ou estas atitudes femininas reincidentementerelatadas seriam uma criação do imaginário destes viajantes? Queinstrumentos teríamos para testar a veracidade dos fatos narrados pelosviajantes ao descreverem asmulheres da Ilha e do litoral de Santa Catarinacomosedutoras?

Amulher sedutora seria só fruto da imaginação dos viajantes? Perguntaquenãoconseguimosresponderdesdeoiníciodestapesquisaequepermaneceobscura.Confessoquecompletamenteembriagadotraveiintensoduelodesdeo inícioemquecomeceiamanusearasnarrativasdosviajantesestrangeirosquevisitaramaIlhadeSantaCatarinanodecorrerdoséculoXVIIIeprimeirametadedoséculoXIX.QuepapelcoubeàmulherdaIlhaedolitoralnosjogosda sedução? Instigado por esta pergunta e seduzido pelas narrativas dosviajantesprocuramosencadearumconjuntode imagensquepossibilitaramaconstruçãodamulhersedutora.

Uma primeira questão é indagar a veracidade das cenas de seduçãorelatadaspelosviajantes.Outraquestão,diantedafrequênciadestesrelatos,équestionar qual o papel dasmulheres nestes jogos de sedução. Pensar numamulher submissa, que ficava a mercê dos jogos amorosos dos viajantes,também seria equivocado por impossibilitar-nos de compreender a própriadinâmicadasformasdesociabilidadesdestasmulheres.

Outraleiturapossívelparanãoincorrernoerrodenãoveroutrasleiturassubjacentes ao universo feminino, é a que relaciona, por exemplo, ocasamento como a única oportunidade de realização para a mulher nasociedadepatriarcalbrasileira.

Parece-nosqueasmulheresda Ilhaedo litoralnãoeram indiferentesaojogo da sedução. Pelas narrativas dos viajantes podemos observar -resguardando o que fazia parte do imaginário de quem narrava - que asmulheresdestasregiõestambémemdeterminadosmomentoserampartícipesdesituaçõesenvolventes.Nossahipótesese justificanamedidaemque todosos viajantes descrevem de forma sistemática uma mulher benevolente eamável.Emnenhumaocasiãoencontramosreferênciaaocontrário.Sedeumlado só temos falasmasculinas construindo amulher sedutora, portanto, é a

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partirdelasquecontamosoquesepassounaIlhaenolitoral,poroutro,ficauma pequena dúvida diante dos papéis que elas encenaram. Em momentoalgumestamosadizerqueasmulheresdestasregiõeseramsedutoras,apenaschamamos a atenção do leitor para o fato de que sem exceção todosabsolutamente todos os viajantes registraram uma mulher sedutora nestaregião.

Nesta perspectiva, Heinrich Trachsler foi um sedutor seduzido pelosencantosda"queridaFrancisca"eporquenãodizerdopróprioacontecimento.Ele também é o convidado de Francisca e suas irmãs para o vivenciadonaquelemomento onde o café, o vinho e a ceia configuravamos jogos daspossibilidadessedutoras.Oviajanteeseusamigosemdeterminadosmomentossucumbiram a todos os encantos das mulheres e foram expostos aos seusjogos.51 Não é objetivo deste capítulo ir em busca de uma verdade dosacontecimentos e sim tentar compreender as práticas afetivas femininas quepossibilitaramaconstruçãodamulhersedutoranaIlhadeSantaCatarina.

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CAPÍTULOIImédico,acidadeeamulher

O processo de ocupação efetiva da Ilha de Santa Catarina ocorreu nogovernodoBrigadeiroSilvaPaes,comachegadados imigrantesaçorianos.Emcarta de23demarçode1742, dirigida aogovernodaMetrópole,SilvaPaesdemonstravaaimportânciadeiniciaropovoamentocomcasaisdasIlhasdo Arquipélago dos Açores e argumentava que os filhos desses poderiamincorporar as tropas para proteger a nova terra.52 Com esses argumentos,SilvaPaestentavasensibilizarogovernodaMetrópoleparaanecessidadedepovoarefazeradefesadaIlhadeSantaCatarina,conformeeraopropósitodaCoroa Portuguesa. No começo de 1748, chegou à Ilha a primeira leva deimigrantesaçorianoscompostapor461pessoas;asegundanasemanadenatalde 1749, com 1.066 colonos; a terceira contendo 1.478 pessoas, chegou em1752;aquartaem1756com520imigrantes.De1748a1756,chegaramàIlhadeSantaCatarina3.525colonosaçorianos.53

FoiapartirdaprimeirametadedoséculoXIXqueasautoridadesdacidadedeNossaSenhoradoDesterrocomeçaramadelinearumacartografiaurbanadiantedoquadrodaformaçãosocialqueailhacomeçavaadesenhar.

OsproblemasurbanoscomeçamapreocuparasCâmaras:oabastecimento

d’água,a limpezapública,adesobstruçãodoscórregos,a iluminação.Tudo,problemasqueaadministraçãotentaresolver,aoladodemedidastendentesadar às mesmas vilas um aspecto mais regular. [...]. As pequenas fortunascomeçam a surgir e, com elas, as casas se assobradam e se mobíliam. Ocomércio melhora, os ofícios encontram procura, o número de escravosaumenta, a navegação se intensifica. [...]. Os filhos destes remediados doDesterro jásecaminhamparaasarmas,paraoclero,paraocomércio.Eosdospobresfaziam-sealfaiates,sapateiros,ferreiros,marceneiros.Esboçava-seaformaçãodeumasociedade.54

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Questionandousosecostumesdapopulação,odiscursomédico-higienistaseapresentavacomoosabereofazercapazesderespondercientificamenteosváriosaspectosdaurbanizaçãoqueseprocessavaemváriasregiõesdoBrasil.NaIlha,oprocessodeurbanizaçãosedeuconjuntamentecomaclivagemdascondutas.E,na tentativadenormatizarhábitosecostumes,vários segmentossociaisdaIlhaintervinhamnaspráticasdesociabilidadedapopulação.E,entreestas, a visibilidade feminina tornou-se alvo predileto dessas intervenções.Como intuito de corrigir comportamentos considerados inconvenientes, emsuacolunadeinformes,ojornal"OMosquito"publica:

A bem de não passar pelo dissabor de ser objeto das criticas livres das

esquinas,parecejustoquecertaviúvamoça,provocadoraeinsensata,moderemais o entusiasmo onde quer que se ache. Se a sua posição não lhemerecerespeito,façaaomenospornãoesquecer-sedequenãoémocinhacompatívelparatodososdesafiosamorososdesalão.

Experimentemo-la,Desterro.55Oconfinamentodamulhernaintimidadedolar,teoriadifundidaporvárias

correntesnoséculoXIX,tinhacomoobjetivoimplícitoevitaradesagregaçãofamiliar.Éimportanteobservarqueodiscursomédico-higienistaassociavaocrescimentourbano à dissoluçãodosusos e costumes.Assim, o pensamentomédico e jurídico do século XIX fornecia argumentos para normatizar aspráticasafetivasfemininas.56NaIlhadeSantaCatarina,pretendia-sequeestasprescriçõessobreourbanoviabilizassemaimplantaçãoefetivademedidasdecontrole sobre a cidade e sobre os usos e costumes da população e, emparticular, as práticas afetivas femininas. Regulamentar a desordem urbanadeixada de herança pelo período colonial constituía-se o maior desafio daincipienteelitedesterrense.Areordenaçãodoespaçourbanocomoobjetodaesfera do saber médico – embora os agentes dessas falas na Ilha tambémfossemconstituídosporcronistas,jornalistas,funcionáriospúblicos,militaresgraduadosecomerciantes–,estevemarcadaporcontradiçõeseambiguidades.Sedeumladotratava-sededarumnovoaspectoacidade,dooutrotinha-searesistênciadossujeitosàsmudanças.57

Essanovamaneiradefalardourbano,inauguradanoapagardasluzesdoséculoXVIII e que se propagouno decorrer do séculoXIX, assegurou uma

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estratégia de controle dos sujeitos na maioria das cidades brasileiras. Orefinamento da família colonial, através do discurso médico-higienista,possibilitouo surgimentoda famíliaburguesaque traziaconsigoodiscursoda modernidade. Não só o espaço urbano se educava, a vida privada dossujeitos valorizava a intimidade do homem. "Os indivíduos aprenderiam acultivar o gosto pela saúde, exterminando, assim, a desordem higiênica dosvelhoshábitoscoloniais”.58

AintroduçãodenovosequipamentosdesociabilidadenoespaçourbanodaIlha apresentava simbologias a seremdescodificadas no cotidiano.O sujeitocivilizado e aburguesado, de maneiras polidas e sempre pronto a um gestocortês,eraumsímboloaserdesvendadoeassimilado.Tornava-senecessário,portanto,adifusãodeumapedagogiadacordialidade.

Ahigiene refleteaquioprocessodecivilizaçãoquemoldagradualmente

as sensações corporais, aperfeiçoando-as, delineando a sua subtileza. Estahistória é a do polimento da conduta, e também a do engrandecimento doespaçoprivadooudoautoconstrangimento:cuidadodesiparasi, tarefacadavezmaisdelimitadaentreoíntimoeosocial.59

Aimprensa,quenacidadedeNossaSenhoradoDesterroseconsolidaem

1850,incorporaodiscursodamodernidadepreconizadopelaelitelocalque,nodecorrerdoséculoXIX,patrocinaasclivagensdascondutasdapopulação.A inserção dos novos códigos de posturas no cotidiano da Ilha teve, naimprensa, o instrumento que possibilitou a veiculação desses saberes. Apopulação passou a usar os jornais como dispositivo que denuncia, vigia epune.E,aodenunciar,exercemocontrolesobreainfraçãoesobreoinfrator.Eaocontrolar inserena teiasocialverdades referentesaovivercotidianoe,porisso,determinaoqueécorreto.

Nesta perspectiva, a partir da segunda metade do século XIX, ostransformadores da paisagem urbana da Ilha utilizam a imprensa comoinstrumento para veicular uma série de saberes sobre os mais variadosaspectosdourbanoedaspráticasdesociabilidadesdossujeitos.Nestesentido,coubeaelaopapeldeintervirdeformasistemáticanosusosecostumesdosilhéus.

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Jánãobastasódenunciar.Acidadeévistacomocoisadoente,queprecisaser desinfetada.O empreendimento exigeumconstante verificar doobjeto asertratado,tornandonecessáriaumafocalizaçãodospontosdemanifestaçõesdas tensões. A cidade de Nossa Senhora do Desterro, do século XIX, eradescrita como uma cidade empestada e de imundícies acumuladas. Falava-sedos odores das águas estagnadas, do fedor da podridão dos detritos comolugarondereinavamosmiasmas.

Neste sentido, a medicina apossou-se do espaço urbano e imprimia asmarcasdoseupoder.NaCapitaldaProvínciadeSantaCatarina,encontrouumcampo fértil –matas, pântanos, rios, cemitérios, casas, águas e epidemias –que, no dizer médico, identificava o aspecto de insalubridade da Ilha. Estessaberes produzidos para problematizar o urbano continuavam ditando asnormas e fixando procedimentos que asseguravam o controle territorial e adisciplinarizaçãodoscorpos."Foitambémpretextandosalvarosindivíduosdocaosemqueseencontravamqueahigieneinsinuou-senaintimidadedesuasvidas".60

Ao final do século XVIII, conforme dados obtidos pelo governo daCapitania deSantaCatarina em1795, aVila deDesterro contava com3.757moradores e a população da Ilha totalizava 9.160 pessoas. Já no início doséculoXIX,aViladeNossaSenhoradoDesterrocontava,em1810,comumapopulaçãode5.250habitantesdistribuídosem954fogos.Em1872,segundoorecenseamento geral, habitavam na cidade de Desterro 9.108 pessoas. Nomunicípio havia um total de 25.709 habitantes.Auguste de Saint-Hilaire, emsuavisitaaIlhadeSantaCatarinaem1820,produziuumdiversificadorelatodasituaçãolocal.Contaeleque,nesteperíodo,aIlhapossuíacercade12.000habitantes,deacordocom"dadosoficiais"quecoligiu.Entretanto,questionavaestesdadosconsiderandoqueapopulaçãodeveriasermaior,umavezque"[...]muitas pessoas, na esperança de impedirem que algunsmembros da famíliasejam convocados para servir na Guarda Nacional, nunca declararam onúmeroexatodeseuscomponentes".61

OswaldoCabralchamaaatençãoparaolentocrescimentodeedificaçõesno perímetro urbano da Ilha, pois segundo ele, em 1796 havia emDesterro666 habitações, e em 1876 havia na cidade de Desterro 1.775 casas dehabitações.Segundoele,"[...]emoitentaanoshaviamsidoconstruídasapenas

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1.109casas,oequivaledizer14,emmédiaporano,poucomaisdeumapormês,índicebastantedesprezível,semdúvida,paraumaCapital".62

Diante deste cenário, o ritmo de problematização higienista referente aoaspectourbanonaIlhadeSantaCatarina,apartirdasegundametadedoséculoXIX, se deu num processo mais intenso. Num primeiro momento,denunciando,atravésdaimprensa,oestadosanitáriodaIlhae,numsegundo,intervindoatravésdeobrassaneadorasnoespaçourbanodacidade.

Ojornal"OArgos",emsuaediçãododia1de janeirode1862,chamaàatençãodasautoridadesparaotristeabandonoemqueseencontramaspraias,asruaseocemitériopúblico.

ÀCâmaraMunicipal,apresenta-nosotristeespetáculo-aspraiassemcais

eimundas,pelomeiodasruasvêem-semontesdeimundícies,animaismortos,charcosd’águaestagnadas;aruadovigário,porexemplo,desdeoCampodoQuartel atéa ruadaTronqueiraestáumverdadeiroprecipícioporondenãopode passar uma carroça d’água; o campo do Quartel, o Largo do Palácioestãoconvertidosempastagensde30a40cavalos(!);umamultidãodecabrasarrombam as cercas e destroém as plantações. E oCemitério Público, onderepousamosrestosdepessoascarastalvezaosSrs.vereadoresaindamaisdoqueanosestavaemtalabandonoqueoEx.moSr.PresidentenãopodedeixardefazersentiráCâmaraMunicipal.63

TambémosmoradoresdaruaÁurea,protestavamcontraocostumedeum

vizinhoque:[...]éuseiroadissolveremvasilhasseusmausaromaselançá-losàruado

alto das janelas, com o que nem só emporcalha a rua como também osvizinhos são obrigados com semelhante procedimento a sofrerem essedesagradávelcheiro.64

Falas protestavam pela imprensa das condições urbanas e apontavam

irregularidades nos usos e costumes da população. Práticas cotidianas antescostumeiras tornam-se objeto de questionamentos. O poder público, emDesterro,respondiaaestescamposdetensõescomaremodelaçãodoespaçourbano.

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Em1837,com50candeeiros,foiiniciadaailuminaçãopública.Aculturaganha seu espaço com a criação daBiblioteca Pública, em 1855.A limpezaurbana,comaconcessãodosserviçosderemoçãoem1884,tentavamelhoraroaspectodacidade.Omercadopúblicoéinauguradoem1851.OHospitaldeCaridade,fundadoem1dejaneirode1789,foireformadoem1856.Em1885,delineia-seoprojetodeajardinamento,apenasapartesuperiordaPraçaBarãodaLaguna.Oaterrodasruascentraisprocessou-seem1830.65

Aocupaçãodoperímetrourbanopelocomércioepelaelitedesterrensefoioperacionalizando,gradualmente,odeslocamentodapopulaçãodespossuída.Aestacoubeasencostasdosmorrosquecircunvizinhavamacidade."Afinal,apopulaçãopobrefoi,aospoucos,deixandoasruascentrais,caminhandoparaaperiferia da cidade, numpassobastante lento,mas constante, ininterrupto".66Fazendocomqueos cortiços semultiplicassemnosbairrosmaispobres:daToca,daPedreira,daFigueiraepartedaTronqueira."Paraorico,oar,aluz,ohorizontedesimpedido,oretirodojardim;paraopobre,oespaçofechado,sombrio,ostetosbaixos,aatmosferapesada,aestagnaçãodosfedores".67

OsviajantesestrangeirosquevisitaramaIlhanodecorrerdoséculoXVIIIe primeira metade do século XIX, ao registrarem seu olhar pela cidade,deixaram,emumasériede relatos, suas impressões referentesaoaspectodesalubridadeda IlhadeSantaCatarina.O inglêsGeorgeAnsonchegouà Ilhaem1762, quandoGovernavaneste períodooBrigadeiro José daSilvaPaes.AnsonrelataqueaIlhapossuiumaspectoinsalubre,provenientedoarabafadoe úmido provocado pelos vapores. O viajante inglês JohnMawe, em 1807,apresentaaIlhacomoumlugarde"[...]grandeszonaspantanosas,porondeseabriramextensoscaminhossobreestacas".68DomPernetty,queestevenaIlhaem 1763, explica que a palidez da população branca emNossa Senhora doDesterroéprovocadapela insalubridade,pois:“Oar insalubredesteclimaéverdadeiramente a causa da palidez dos brancos que ali habitam [...]”.69 OrussoVassiliGolovnin,em1808,relataqueasdesvantagensencontradaspelosnavios, na Ilha de Santa Catarina, “[...] se dão no término do verão, pois équandoasdoençasepidêmicasaparecem”.70

Observemos que, na perspectiva do olhar dos viajantes, a Ilha de SantaCatarina é descrita como território propício à insalubridade. Alguns dados,

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como, por exemplo, o surgimento de epidemias nos meses de verão,superfíciecompostadelagoas,montanhas,pântanoseplaníciesconferemcomalguns dados encontrados nas obras de Oswaldo Rodrigues Cabral, JoãoRibeirodeAlmeidaenosjornaispublicadosnodecorrerdoséculoXIX.Nãopodemos esquecer que ambos autores aquimencionados erammédicos comvisões e concepções higienistas e que a imprensa, em Desterro, foi grandeinstrumental utilizado pelos modernistas na veiculação de saberes quedifundiammudançasnoespaçourbanoenosusosecostumesdapopulação.

ApedidodoPresidentedaProvínciadeSantaCatarina,omédicomilitarDr.JõaoRibeirodeAlmeidaproduziuumamplorelatóriosobreascondiçõessanitárias da cidade de Nossa Senhora do Desterro – ruas, asseio público,pântanos, águas, exercício da medicina, alimentação pública, solo, praças,clima, habitações, atmosfera e polícia sanitária –, radiografando a cidade,apresentando-a em 1863, dentro de um quadro caótico. Este relatório foipublicadoem1864,comotítulode"EnsaiossobreaSalubridade,EstatísticaePatologiadaIlhadeSantaCatarinaeemparticularacidadedeDesterro".Dr.Ribeiro, além de traçar uma radiografia das condições sanitárias, faz umadescriçãodetalhadadecadaumadasmoléstiasmaisfrequentesediagnosticaacausadainsalubridade.

O testemunho do seu relato é evocado através dos bairros onde seconcentraapopulaçãodespossuídadacidade.Sãoeles:daToca,ondemoraapopulação de pescadores ou lavadeiras, descrita como "[...] gente dada aotrabalho mas pouco amiga do asseio [...]"; da Pedreira e uma parte daTronqueiraondeseencontramchoupanasdeaspectobastantemiseráveleque"[...] resideumatribode lavadeirasdecondiçõesdiversas,umas livres,outrasescravas (mas com permissão de residir fora de casa) e outras também deescravasque sóvem lavar [...]".Quantoàpopulaçãomasculinadessebairro,Dr. Ribeiro é melancólico ao afirmar que ela é composta de "soldados".Finalmente, o bairro da Figueira, com uma boa aparência em relação aosoutrosbairros,éonde"habitagrandenúmerodeSacerdotisasdaSífilis".

Nos cortiços daTronqueira, especies de colmêas, somente ocupadas por

zangãos,sãoosquartosoucubículosnojentoshabitadospromiscuamentepor6,8e10pessoasàsvezes,semdistinçãodesexonemidade;demodoquetemaiascrençasumafamosaescolapraticadeimoralidadeedevassidão.Obeco

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sujo tem mistérios bem sujos, que convém respeitar, para ocupar-me aindaumavezcomasmargensdoarroiodaFonte-grande,quepassapelaPedreira.71

AocontráriodeSaint-Hilaire,queomitiu referênciasquepossibilitassem

identificarquemeramasprostitutaseondeelasmoravamemNossaSenhorado Desterro, Ribeiro de Almeida não só identifica estas mulheres, comodelimitaoBairrodaFigueira como territórioondemoravame classifica asprostitutas que ali residem em grupos como as de "mais baixa classe". Dr.Almeida identifica ainda que estes três bairros possuem o solo "[...]impregnadocomoseachadematériasorgânicasemdecomposição[...]",queexpostoasintempériesdotempo"exalacheiropestilencial".Esteconjuntode"enfermidades" é responsável pela insalubridade da cidade e provoca umasériededoençasAlémdemostrarumquadrodesfavoráveldacidade,RibeirodeAlmeidatraçaumperfilmórbidodashabitaçõesedapopulaçãodaIlhadeSanta Catarina. Descreve a cidade com suas praças, águas, ruas, praias, eterrenosabandonadoscomocompletaimundícieeafirmaqueapaisagemnãoerapiorporque"[...]temoDesterroexcelentesfiscais;nocentrodacidadeoscães e o vento Sul; nos arrabaldes os urubus [...]".72 Ao traçar o recorte doespaço urbano da cidade de Nossa Senhora do Desterro, o médico Ribeirocoloca a cidade como sendo o lugar da promiscuidade e da insalubridade.Comonãopoderiadeixarde ser, colocaa cidadeeapopulaçãodeDesterrodentro dos preceitos médico-higienistas da época, diagnosticando eclassificandocomo"coisadoentequeprecisavasertratada".

Aspráticasmédico-higienistas introduzidasnoBrasilno iníciodoséculoXIX tiveram um papel importante na remodelação dos modos de vida noespaço urbano. Em Desterro, a higienização não se fez presenteexclusivamentenoaspectofísicodacidade;elaperpassoupelateiadosocial,intervindonaspráticassocializantesdos indivíduos.Coubeaela redefinirosprocedimentos corretos de urbanidade e sociabilidade da população. Já nãohavia,nodizerdaeliteedahigienização,mais lugarparaquedeterminadosprocedimentos continuassem a fazer parte do convívio social. Novosequipamentosdeurbanidadeesociabilidadeeramintroduzidosnocotidianodapopulação com o objetivo de "auxiliar" os sujeitos a se tornarem polidos,corteses e contidos em suas manifestações públicas. Na cartografia dasintervençõesmédico-higienistas, no espaço urbano da Ilha e nas práticas de

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sociabilidadedossujeitos,umadasmanifestaçõespúblicasquesequestionavaemNossaSenhoradoDesterro,nesteperíodo,eraaFestadoDivinoEspíritoSanto, de tradição açoriana. Na Ilha, a Festa do Divino Espírito Santo erafestejadanomêsdejunho.Em1854,ojornal"CorreioCatarinense",apedidodeumdevoto,descreveafestareligiosa.

A algazarra que se tem feito nestas presenteiras noites, nos arredores da

nossa Matriz foi ouvido em lugares muito distantes; Os Inocentes atospraticados dentro do Templo por certas pessoas, que felizmente são bemconhecidas,temsidoobservadospormuitagente;asmaneirasdelicadascomque alguns assistentes tem tratado aos músicos da folia é coisa por todossabida;easfelizes lembrançasdeofertasaoDivinoEspíritoSantosegredos,quequasesemprecontémalgumMimo,quedeixaoarrematantecomacaraàbanda, também não são estranhas; e o que se tem posto em prática, perantepessoas honestas, nestes leilões, onde muitas vezes não se paga o que secompra,nãoescreveremosporsercoisamuitonotória.73

A festa do Divino era organizada tradicionalmente pelos Irmãos da

Confraria do Espírito Santo e patrocinada pela população. Dias antes dosfestejos,os irmãossaempelas ruasdacidadeapedirbrindesacompanhadospelafoliaque:

[...],eraumapequenacompanhiademúsicosdemúsicosecantores,sempre

pronta a entoar, de casa em casa, ou grupo delas, melodia desafinadíssima,com vozes ainda piores, acompanhadas pela detestávelmúsica arrancada deumarabeca,umaviolaeumtambor.74

Asmissaseprocissões,desdeostemposdoBrasilcolonial,erammotivosparaosencontrossociaise familiares.EmNossaSenhoradoDesterro,estasfestas aconteciam numa pluralidade de referências e significados. Traziainserida dentro de si simbologias familiares, políticas, sexuais, econômicas,sociais,amorosaseculturais.

Todosacorriamàscasasdosconhecidos,doscompadres,dosparentes.Já

eram esperados. Já se contava com eles nessa época. [...]. Havia sempre umlugar àmesapara todos.E,paradormir, arrumava-se,dava-seum jeito. [...].Era o colorido da cidade emdias da festa dePassos.E vinhamde véspera...

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Depoisdacomida,espalhavam-sepelacidade,emvisitasaparentes,aoutroscompadres,aoutrosconhecidos.75

Entretanto, nem todos encontravam um lugar para se abrigar na casa de

algum"compadre"ou"parente".MuitosdosperegrinosvindosdointeriordaIlha e do litoral continental, não encontrando guarida na casa de umconhecido,seabrigavamnointeriordaigreja.

[...], por todo o espaço, junto aos ângulos dos altares, às colunas,

formavam-se os grupinhos, sentados no chão, as mães aninhando os filhoscomopudessem,nasdobrasdasaia,fazendodosjoelhostravesseiro,[...],atéoraiardodia.76

Segundo Alain Corbin, o progresso da individualização dos sujeitos

difundidonoséculoXIXéacompanhadopelosentimentodevulnerabilidade:"[...]tudoissoincrementaoprestígiodoencontroamoroso[...]".77Portanto,oespaço sacro e seus rituais tornam-se lugares propícios para odesenvolvimentodosjogosamorosos.E,entreessesrituais,osacramentodaconfissão também é o lugar de acúmulo de informação e por que não umdispositivo de controle dos sentimentos femininos. Ali, a mulher de formasutil, entre lamúrias e queixumes, coloca toda sua solidão. A intimidadefeminina,avidaprivadaepúblicaeramexpostas.Dessamaneira,oconfessorpenetranosmaisíntimossegredosfemininose,apretextodeguiarcomseusconselhos a uma vida "saudável", penetra no que acontece no leito nupcial,abrindoassimprecedente,viaconfessionário,paraaintervençãodascondutasdossentimentosfemininos.

Atento ao amálgama entre o profano e o sacro, o jornal "O Mosquito"publica advertênciadiantedaspráticasdenamorodapopulaçãoda Ilhanumatodefé.

Na noite de 19, foi visto durante a procissão do glorioso Marty São

Sebastião, alguns grupos de homens que talvez não lembrando-se queacompanhavam um ato religioso, iam tratando de namorar; outros a darembeliscões, outros em fim a praticarem atos indignos. O mesmo sucedeu natrasladaçãodaimagemparasuacapela.Podíamossequiséssemosdescriminarosnomes,masparanãoofendersensibilidades,deixamosdeofazer.Apenaspedimosquequemnãotemdevoçãonãoacompanheprocissão,enãoencare

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umatoreligioso,comoumcarnaval.Seriabomque-OEx.Sr.Bispoacabassecomessasprocissões.78

Com o objetivo de corrigir determinados comportamentos que, segundo

osdenunciantes,eraminconvenientes,ojornal"OArgos"publicaadvertência,assinadapelos"Os5estafermos":

Previni-seacertosmocinhos,quediariamentesefazemdeengraçadosno

AdrodaIgrejaMatriz,exercendo-secompretensõesdeternuranosgestosdosmicos,queassuasgraçasnãotemgraçaalguma;equesenãodeixaremdesernamora paredes, ou namorados sem ventura, que com suas asneiras eespantosos gritos que ali dão incomodam as pessoas, que moram nasproximidades,corremmuitoriscodeparticiparaseuspaisasuabelaconduta,paraseremconvenientementereprimidos.79

Em Nossa Senhora do Desterro, segundo o olhar das autoridades, as

festividadessubvertemasregras,asnormaseaetiqueta.E,emfunçãodestesdesviosdecomportamento,asautoridadesentendiamqueeraprecisorestaurarmecanismos de policiamento dos hábitos e dos costumes. Não podemosesquecer que, na ótica dos moralistas do século XIX, as mulheres tinhamgrandesoportunidadesnasidasàsigrejasparaexibirem-seouseduzir.

NaIlhadeSantaCatarina,aimprensapossibilitouumaconstantevigilânciaecontrolesobreossujeitosnoespaçourbano.Estavigilânciaerainvisívelnamedida em que os anúncios, notas, pequenas denúncias ou ameaças, na suagrandemaioria,eramassinadosporpseudônimos.AimprensanaIlhatornava-se,portanto,ummeioparaexerceravigilância,correçãoeocontrolesobrefazeres pertinentes ao cotidiano da população. Ao intervir nos campos detensões, a burguesia em ascensão diagnosticava as mazelas do urbano. Aoveicular uma série de informações a respeito dos hábitos e costumes dapopulação da Ilha e simultaneamente transcrever informes e artigoscientíficos,peçasliteráriasenotíciaspublicadasemoutrosjornais,aimprensalocal buscava o cientificismo como suporte de "verdades" nas intervençõessobre a cidade e sobre as práticas cotidianas locais. A intervenção exercidapela imprensa atingiu, de forma sistemática, outra prática socializante emDesterro.

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Regulamentar as práticas e normatizar os comportamentos dos sujeitos,diantedesiediantedooutro,pareceserafunçãodoprogramacarnavalesco.Naesferapúblicaburguesatornava-senecessáriaaconvivênciapúblicaequeestafossedisciplinadaporumcódigoéticodesujeiçãodiantedanorma.Essenovo código ético requeria um reconhecimento dos equipamentosintroduzidospelaelitedesterrensenoespaçopúblico.

Aotomarsobresiaresponsabilidadedecivilizaracidadeparaconverterem espaço higienizado, os médicos incorporaram como objetos deinvestigaçãotodasaspossibilidadesesituações.Incluindoaí,avisibilidadedamulher,onderecaisobreelatodaordemdesuspeitanoespaçopúblico.Nestaperspectiva, as práticas médico-higienistas tiveram papel preponderante naremodelação e redefinição dos modos de vida da população feminina. Aconstituiçãodeumaverdadeiracondutaafetivaqueorientasseasmulheresnoseu cotidiano teve, no saber médico, um dos seus principais fundamentos.MariaAngelaD'Incao80 tem, por hipótese, que ao longo do séculoXIX, noBrasil, o conceito de sexualidade e de amor sofreram rupturas deentendimento e de significados. Uma dessas rupturas se encontra no "[...]afastamentodoscorposdosqueseamam,osquaispassaramasermediadospor um conjunto de regras prescritas pelo amor romântico".81 Estasprescriçõessoboamoresobasformasdeamortinhamointuitodeintervirnas determinadas práticas afetivas femininas consideradas comoinconvenientesaoperfildeesposa-mãeidealizadopelodiscursohigienista.

No caso específico das mulheres da Ilha de Santa Catarina, ocomportamento"estranho"vaicompreendertodasasatividadeseposturasquenão se enquadrassem no perfil de esposa-mãe idealizado pelo discursohigienista.Aincorporaçãodamulhercomoobjetodosaberedofazermédicosituava-se num universo discursivo complexo, marcado não só pelascontinuidades e descontinuidades que se expressavam no campo discursivo-médico, mas, também pelas ambiguidades localizadas no âmbito do ideárioburguês.

Detentor da verdade científica, o médico reivindica para si o papel deorientador do processo de constituição da mulher-mãe, enquadrada nospadrõeshigiênicosedesociabilidadesdeconteúdoburguês.

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Recortes damulher saudável,mãe, esposa, amante eram veiculados pelaliteratura médica e imprensa. A moral era questionada e os hábitosreformuladosdeacordocomos interessesdaeliteemascensão.Amulher,amaternidadeeoamorforamtemascorriqueirosnocotidianodaspáginasdosjornais. O romantismo proliferava nos textos que prescreviam sobre asmulhereseosentidodamaternidade:

Éocoraçãodeumamãeafontemaispuradaternura.Éodepósitomais

sagradodessachama,quedivinizaamulher,eafazcredoradamaissublimeveneraçãonaescalasocial.Eisemfimdefinido...;masquedigo?Àspalavrassãopoucasparaquepossamdaalmanarrarossentimentos.Quemjustamentepoderádescreveroestadodocoraçãomaternonostransesdasaudadequandoao separa-ser de um filho, a quem consagra tantos títulos de amor, vairepresentaracenadespedida.82

Não podemos deixar passar despercebida a diferenciação colocada pelos

médicosentreasváriasconcepçõesdeamor.[...] chamam amor a essas fantasias de imaginações febris, que as fazem

perseguirquimeras,almejaressaridículauniãodecoraçõesemqueocorponãoentra,queosabrasacomesseamoremqueseamasóporseamar,essesentimento que se nutre de si mesmo, de tristes suspiros, e que é edificadosobreaabnegação,taléoamorromântico,essemísticoeapaixonadodelírio.83

É através da perspectivamédico-higienista do séculoXIX, que amulher

passouasofrerumasériedeintervençõesnoseucomportamentoafetivo.EstasintervençõesforampossíveisnamedidaemqueaspráticasdegovernosobreossujeitossetornaramobsoletasnodecorrerdoBrasilColonial.Nestecaso,"[...] o instrumento adequado ao controle da vida íntima deveria, portanto,ostentarinsígniasdepoderesabersobreamoral”.84

O verdadeiro amor, preconizado pelos médicos, não negava o amorinstintivo.Aocontrário,elevinhaacompanhadodeumpragmatismoinseridonamoral.

O amor verdadeiro, o material, é esse sentimento instintivo, irrefletido,

essa voz eloquente e poderosa, essa inclinação irresistível e indomável, que

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nos aponta, nos arrasta para amulher capaz de nos felicitar; para amulhercujo corpo e alma resumem todas as qualidades, todos os predicados quecarecemos, e cuja organização é conformada de modo que, ajustando-se ànossa, possa assim produzir esse todo cujo fim é a conservação da espécie,perpetuidadedouniverso,harmoniadosseusórgãos.85

Nestesentido,nodecorrerdoséculoXIX,emNossaSenhoradoDesterro,

a imprensa torna-se o instrumental de veiculação não só do discurso demodernização e disciplinarização do espaço urbano, mas, também, daclivagemdas condutas femininas, através de artigos, romances em folhetim,poesia,anúncios,notaseadvertênciasquenesteperíodosecaracterizavamporcorrigiroscomportamentossociaiseafetivosdasmulheres,construindo,comisto, a pedagogia dos sentimentos difundida no século XIX pelo discursomédico-higienista.Nestaperspectiva,avirtudefemininaeraexaltadaatravésdaimprensanaIlhadeSantaCatarina.

Amulher.-Moralmentefalando,amulheréumcânticoeternodeDeus;é

uma harmonia de anjos; e o nascer perpétuo da aurora; é murmurador doarroio que serpeia em torno á rosa espontânea que ao pé da fonte nasceu; émaná dos israelitas cristalizado; é o oásis no deserto da vida; é o sonho dopoeta; é o despertar do crente; é a esperança do ambicioso; é Gênesis dareligiãouniversal;éaseitageraldetodosospaíses;éaimagemesculpidanocrâniodetodasasraças;éavidaacabeceiradoagonizante;éÚnicasaudadequeohomem levaparao túmulo; éoazuldocéuquealentaonáufragonomeiodatempestade;éabrisadamanhãqueperpassaorostoafogueadodoqueardeemfebre;é...é...é...86

Tambémapareciamnaspáginasdos jornais locais, conselhosàs casadas,

informandomaneirasdegovernarumafamília.Antecipadamentedeveconvencer-sedequeadoismeiosdegovernaruma

família: um pela expressão de vontade, que pertence à força, o outro peloirresistívelpoderdadoçura,queémuitasvezessuperioraforça.87

Norefinamentodomodelodemulher,apregoadopelasnormasmédicasde

higienização, as atitudes habituais estavam sujeitas a correções através daimprensa.Em1888,publicou-seem"OMosquito"que:

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Pede-seaumamoçamoradoraàruadacarioca,ofavordequandoralhar

com o seu namorado, tenha mais um pouco de atenção; ao menos com afamíliadefronte,oantespuxe-lheasorelhasenãogritetanto.Tomecuidado.88

Advertências sobre os comportamentos femininos através da imprensa

eram uma constante. Como esta publicada no jornal "Correio Catarinense"chamando atenção de algumas "moças" sobre a molestação de seus"cachorrinhos".

Asmoçasdoscachorrinhosda ruaMeninoDeus,bomseriaquedeles se

desfizessem.Pois os tais cachorrinhos a todos que por ali passou atracam etambémdãoasuadentadinha,mesmonapresençadesuasSras,quemuitoseregozijamdofato.89

Com o intuito de corrigir determinado comportamento, um anônimo

identificando-se apenas como "O Fujão", através da imprensa, denunciava apresençadeumaviúvaqueseencontravaacompanhadadesuasfilhas,duranteumsaraurealizadoemumadastabernasdaIlha.

Ficamosemgrandeconfusãoemumsarauaqueassistimosnodia25do

correntemêsemumadastabernasdaruadoPríncipe,porverumaviúvacomsuasfilhasquesetempor...Seriabom,enoslhepedimosnãocontinuemporquepodeperderaamizade,quelheéconveniente,eporqueficafeio...90

Interessantecrônicapublicadapelojornal"OArgos",comotítulo:"Novo

métododeirabailessemconvite",assinadapelo"Kikiriki",emquenarraasartimanhasdeumamoçaparaparticipardeumbaile.

Umadama,moçoila,muipresumida,equemorreporcasar, sabendoem

determinadodiaquetinhadehaverumbaile,bebiaosaresparairáele,afimdeverumgentilemandesuapredileçãoqueládeviaachar-se,mascomonãoopodiafazerpornãoterrecebidoconvite,estudouummeiofácildeconseguiro seu intento. Hei-lo: Na tarde do dia do baile, e já quase ao anoitecer,preparou-secomoumacoquete,e foivisitarcertaamiga,vizinhadacasadobaile, que estava convidada, a qual logo que a viu em casa, adivinhou-lhe o

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pensamento,mandando recadoávizinhaque levaria emsuacompanhia a talamiga,estafezprevenirafamíliaqueficavanessanoitecomaamiga,porestalhe pedir, já se sabe, e assim a tal moçoila conseguiu bailar, conversar, enamorartodaanoiteaopredileto.Semserconvidada,enemafamíliasaber!Aloção é excelente: o barrete um tanto apertado;mas não deixará de servir aalguém.91

Apesar dos controles maternos em dias de bailes, havia sempre a

oportunidadeparacertosacontecimentosamorosos,comoestedenunciadopor"TabacoeTigela".

Previne-se às mães de família que vão a bailes de evitarem suas filhas

namoraremahomenscasados,comoumamocinhaqueeucásei,que,paraterentradanosbailes,vê-seforçadaanamorarumhomemcasado,ecomovejoque istonão éprópriopara a reputaçãodeumamoça, por issoprevinoporesteanúncio,paranãocontinuarapraticarsemelhantesabusos.92

A conduta masculina também estava sujeita à intervenção da imprensa,

como estratégia para a criação de referências: "Pede-se ao Sr. chegador decavalo,quedeixedecriticardavidadasmoçasdaruadaCarioca,comasuasopa bem calado, e não seja cacete, lembre-se que é casado". 93Críticas aocomportamentomasculinotambémfaziampartedaestratégiapedagógicadasclivagens das condutas. Insinuações jocosas, muitas vezes, eram veiculadaspelaimprensa.

Com o sugestivo título: "Quem me avisa meu amigo é", o jornal "OComercial"advertesobreacondutadecerto"Mergulhão".

Previne-se aoMergulhão que deixe de rondar à noite certa casa, pois a

continuar com a espionagem ficará sem orelhas; lembre-se, o Mane cocodaquela tarde,nocaminho -do JoséMendes -,ondeumsoldadoo fezuntarcebo nas canelas, e dar, toda a força á maquina das gâmbias, deixando eabandonandomulher e filhos, contentando-se apenas com gritar, de vez emquando.94

Vimos que a imprensa, em Nossa Senhora do Desterro interviu

conjuntamentecomaeliteemascensãodeformasistemáticanoscostumesdapopulação em vários aspectos do cotidiano. Através dela, veiculou-se uma

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pedagogiadepráticasdeurbanidadeesociabilidadesqueinterferiunosfazeresdos sujeitos. Tanto em nível do privado, como a nível público, os sujeitostiveram seus costumes contestados por um saber médico fundamentado noaspecto da urbanidade e sociabilidade. Talvez o impacto desta intervençãopedagógicasobreosusosecostumesdoviverdapopulaçãodaIlhadeSantaCatarinae,emparticular,dasmulheres,encontre-seexatamentenamaneiradecomo as falas discursivas masculinas operaram diante das práticas afetivasfemininas,emDesterro.

Falar de uma supostamulher sedutora na Ilha nos séculos XVIII e XIX,parece ser tarefa que perpassa por todos setores da vida social da Ilha.Masafinal, que vozes formularam a mulher sedutora de Nossa Senhora doDesterro?

Nossahipóteseédequeestasvozesatendiamaumsaberdeterminadoquepor sua vez correspondia aos interesses de um segmento perfeitamentelocalizado na teia que constituía o social. Neste período, identificados porfuncionários públicos graduados, comerciantes ávidos de progresso emodernidade,militaresdepatentes,políticos,profissionaisliberais,jornalistase literatosquenodecorrerdoséculoXIX,comodemonstraahistoriografia,defendiammudançasdehábitosecostumesdapopulação.

Foi através das propostas higienistas de uma medicina da moral, quepossibilitou a intervenção pedagógica sobre os sujeitos. Operacionalizandoconceitos, a higienização tinha respostas para os vários aspectos ditosproblemáticos oriundos do período colonial. A inserção no conjunto dasociedadedeumanovamoralvinhaacompanhadadeumpodersobreourbanoesobreoscomportamentosafetivosdapopulação. Inseria-se, atravésdaartede governar, um conjunto de habilidades, de táticas e técnicas quepossibilitaramanormatizaçãodoespaçourbanoedaspráticasdecondutasdapopulação.

NaIlhadeSantaCatarina,atravésdestesdispositivos,asmulheresvãotersuas práticas afetivas vigiadas e controladas por vários agentes do saber.Coubeaodiscursomédico-higienistaofereceros instrumentais teóricosparaqueessesagentespudessem,emnomedamoral,administrareoperacionalizaraspráticasafetivasemNossaSenhoradoDesterronodecorrerdoséculoXIX.

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"Amedicinamoral, comoonome sugere, seria a especialidademédica que,pordelegaçãocientífica,teriadireitossobreamoraldosindivíduos".95

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CAPÍTULOIII:AmulhernaliteraturadesterrensenoséculoXIX

Em1769,oGovernadordeSantaCatarina,JoãoAlbertoMirandaRibeiro,

foiconsultadopelovice-rei,CondedeAzambuja,quedesejavasabersehavialetrados na Capital da Província. E se houvesse, que o governador os “[...]propusessemparaJuízesdedemarcaçõesdeterrasesesmarias”.96Emrespostaàconsulta,ogovernadorcomunicouaovice-reiquenãohavianaIlha“letradeformados”. Isto é, não havia naCapital, pessoas portadoras de diplomas emqualqueráreadoconhecimento,oquenãosignificavadizerquenãoexistissemletradosemDesterro.97

Ocenário cultural deNossaSenhora doDesterro nodecorrer do séculoXIX, era formado pelo Gabinete de Leitura, criado em 183198, LiceuProvincial, Biblioteca Pública, ambos fundados em 1855 pelo Presidente daProvínciaDr.JoãoJoséCoutinho,TeatroSantaIsabel,criadoem1857,eporuma imprensa iniciada em1831 coma fundaçãodo jornal “OCatarinense”,por iniciativa de Jerônimo Francisco Coelho, tendo seu primeiro númerocirculadoem28dejulhode1831.Noanoseguinte,apareciamosjornais“OExpositor” e “O Benfazejo”. Completavam ainda o ambiente culturaldesterrense, jornalistas, cultores das letras, artistas plásticos, músicos eescritoresligadosaalgumassociedadesdramáticasamadoras.

Ao que tudo indica, na Ilha de Santa Catarina, a grande maioria dapopulaçãoeraanalfabeta.Segundoorecenseamentogeralde1872,habitavamna cidade deNossa Senhora doDesterro 9.108 pessoas. Em todomunicípiohavia 25.073 almas, sendo 20.636 analfabetos e 5.073 consideradas como“sabendo ler e escrever”. Em 1890, o quadro era o seguinte: para umapopulação de 30.687, computados aqui os moradores da cidade e da Ilha,

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existiam23.676quenãoliamnemescreviam,sendoque7.011foraminseridosnafaixadosquesabiamlereescrever.99

As problematizações emergentes sobre o urbano na primeirametade doséculoXIXcorrelacionaram-seaumadiversificaçãodafiguradamulher.Oraeravistacomosedutora,namoradeiraevaidosa,oracomoesposa,filhaemãe.Estas configurações surgiram no limite e no duelo entre o profano e osagrado.

Averdadeiracondiçãodamulher,apregoadapelosabermédicohigienista,teve na literatura romântica e em outras expressões culturais o seu agenteveiculador.Nestaperspectiva,osromanceseaspeçasteatraisaodifundiremapedagogia dos comportamentos atendiam aos interesses da burguesiaascendentenoBrasil.EmNossaSenhoradoDesterro,nodecorrerdoséculoXIX, eram veiculadas pela imprensa as diversasmanifestações artísticas queexpressavamaeducaçãosentimentalintroduzidapeloromantismo.

Não encontramos, no transcurso da pesquisa, evidências que possamatestar ter havido, através da imprensa, uma campanha contra as práticasafetivas femininas na Ilha de Santa Catarina ao longo do século XIX. Noentanto,podemosverificaraocorrênciadeumasériedepequenasadvertênciasqueinformamsobreoquepoderiamseraspráticasdesociabilidadedamulherdeNossaSenhoradoDesterro.

Pede-seaumamoçamoradoraàruadacarioca,ofavordequandoralhar

com o seu namorado tenha mais um pouco de atenção; ao menos com afamíliadefronte,ouantespuxe-lheasorelhasenãogritetanto.Tomecuidado.100

EentreasmanifestaçõesartísticasemDesterro,amúsicafoi,nodizerde

algunsviajantesestrangeirosquenelaestiveramnodecorrerdosséculosXVIIIeXIX,umdosespaçosdavisibilidadefeminina.

MigueldeBrito,queestevenaIlhaem1797,ficousurpresodeencontraraqui boa música e principalmente de encontrar mulheres que “[...] sabemcantar, tocar algum instrumento de cordas, e dançar”.101 Langsdorff (1803)comentaqueanoiteemDesterroeramovimentada.Asfamíliassereuniamem

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pequenos grupos para cantar e dançar. Acompanhados por uma músicaexpressivaeagradável.102OttovonKotzebue(1815),aorelatarocotidianodapopulação,teceelogiosàalegriaproporcionadapelamúsicadeuma“dupladeviolinoeflauta”quecontagiavaosviajantes.103

Énasresidênciasdealgumaspersonalidadesdomundosocialdesterrense,ou nos teatros, que, segundo Cabral, a música contagiava os ouvintes econquistava novos adeptos. Entre estes, as mulheres que cada vez maisparticipavam ativamente das muitas sociedades musicais surgidas nesteperíodo. Nos concertos que ocorreram na cidade de Nossa Senhora doDesterronoséculoXIX,apresençafemininanacondiçãodemúsicassetornouuma constante. Em 1875, as mulheres se fizeram presentes em váriosconcertos:MariadaSilveiraHautz,AnaLucindaMacedoMaiaeFannyRiedel(soprano), além de Helena Kirbach, Maria José Alves de Brito, IsabelMedeiros e Beselissa da Conceição Pamplona. Todas elas eram tambémpianistas:

[...]raroeraacasadegentedaclassemédiaquenãotivesseoseupiano.[...].

Possuir um piano era o desejo de toda gente. Era sinal de prosperidade.Deeducação.Debomgostoefinura.Eumpianonasaladavastatussocialaquemotivesse.104

No transcurso do séculoXIX, surgiram na Ilha de SantaCatarina váriosgruposmusicais.Entreelesdestacamos:“ParaísoDesterrense”,fundadoem29desetembrode1861.“SociedadeHarmonia-Lírica”,em21demaiode1876;em 1878 “Clube Musical 19 de junho”; “União Musical” em 1858, e “ASociedade Euterpe 4 de Março”, em 1867, que trazia no seu repertóriocomposições de Lizt,Verdi, Rossini eDonizzetti.A Sociedade Euterpe 4 deMarço era frequentada pela “fina flor” da sociedade desterrense. Moças esenhoras.

Exibiam seus dotes instrumentais e vocais moças da mais alta posição

social, como Das. Guiomar Esteves, Baselissa Pamplona, Fanny Boethgen,Chiquinha Sousa eMelo, Zélia Costa, as filhas do maestro Hautz, netas docirurgião Tomás Silveira de Souza e outras.Muitas eram já casadas, outrasaindanaesperançadeummatrimônio.105

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Osatavioseoluxodasmulheresquepertenciamaestasociedadetornou-seumproblemaparaadiretoria,poisinibiaaparticipaçãodeoutrasmulherestalentosas,masdecondiçõesfinanceirasdemenorabrangência.Paraevitaro“luxo excessivo” de certas damas, a diretoria, “em aviso público” de 12 dedezembro de 1877, solicitava às senhoritas e senhoras que comparecessemcomvestuáriosmaismodestos.Fatoquemereceudojornal“OConservador”,elogioemseueditorial.“[...],pois,assim,outrasjovenssenhorasesenhoritas,deeducação,masdepossesmenosavultadas, sentir-se-iammenosacanhadasfrenteàsqueseexibiamcomdemasiadorequinte”.106

O gosto pelo luxo dasmulheres deNossa Senhora doDesterro se faziapresenteemtodososacontecimentossociais.AugustedeSaint-HilaireemsuaviagempelaprovínciadeSantaCatarina(1820)observouque:

AsmulheresmaisricasdacidadeacompanhamamodadoRiodeJaneiro,

queporsuavezsegueadaFrança.Asmulheresdocampo,quenãotrabalhamforadecasaeemnadaseparecemcomasnossascamponesas,[...],todaselas,semexceção,usamvestidosdechitaoudemusselinaeumxaledesedaoudealgodão; os cabelos são arrepanhados no alto da cabeça e presos com umatravessa,emuitasvezesenfeitadoscomfloresnaturais.Duranteasemanaelasusam apenas os sapatos,mas aos domingos calçammeias também; nos diasdas grandes festas religiosas poucas são as que vão à missa sem estaremcalçadascomsapatosforradosdedamasco(1820).[...],elasfiametecem,masdeummodogeralempregamoqueganhamunicamenteparasatisfazeroseugostopelasroupasbonitas.107

Dom Pernetty (1763) já afirmava que asmulheres da Ilha se vestiam de

acordocomamodaeuropeia:Estesxalesasportadorasosarrumavamàmodadohábitodascarmelitas:

umânguloaomeiodascostaseapontaopostacobrindoacabeça.Asoutraspontas, depois de cobrirem os braços até o cotovelo, cruzavam-se sobre opeito,àmodadomanteletedasdamasfrancesas.Mashaviaquempassasseaspontaspelasaxilas,deixandodeforaopeito,modomuitoincômodo,diziaomongeitinerante.108

Umcronistasocialdaépocaencantadíssimocomo“charmedasmulheres

belas” que compareceram a um dos primeiros bailes realizados na casa do

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governador, em julho de 1869, registra seu entusiasmo diante do luxoostentadopelasmulheresda Ilha: “[...] compareceuo altomundo, emmassa,ostentandooquehaviademelhoremmatériadevestidos,casacosejoias”.109Levadopeloentusiasmodoacontecimentosocialepelaelegânciafeminina,ocronista acrescenta que elas eram “[...] o elo que nos prende à existência, obálsamoconsoladorquenossantificaosofrer”.110

ComentaCabralque:Desdeostemposcoloniaisqueasociedadedesterrensemereceuelogiosde

quantospuderampenetrarnasuaintimidade.Todosforamunânimesemtecerelogios à grã-finagem do Desterro, mesmo quando dela havia apenas umpequenocírculobastantereduzidoedepoucasignificação.E,taiselogios,taisreferênciaslisonjeiras,nãorarosefizeramnabasedecomparaçãocomoutroscentros,outras comunidadesquenabasedacomparaçãocomoutroscentrosquenãolhespareceramsuperiores,antes,bemaocontrário.111

Mas,nãosódemúsicaviviaoambienteculturaldaIlhadeSantaCatarina.

Neste período, o teatro também fazia parte das manifestações artísticas. NoséculoXIX,acidadedeDesterropossuíaas seguintes sociedadesdramáticasamadoras:SociedadeDramáticaFênixCatarinense(1868),SociedadeRecreioDramático (1864), Sociedade Dramática Particular União Artística (1840),Sociedade Dramática União e Harmonia (1866), Sociedade DramáticaParticular União dos Artistas (1873), Sociedade Dramática Particular UniãodosEstudantes (1878),SociedadeDramáticaSãoPedrodeAlcântara (1840),Sociedade Dramática Particular Juvenil Catarinense (1852), entre outras.Algumas destas sociedades dramáticas tiveram um período de existênciarelativamente curto. Uma das peculiaridades destas sociedades dramáticasamadoras era a ausência da mulher no seu quadro de atores. Os papéisfemininos eram interpretados pelo sexomasculino.Altino Flores argumentaque foramosatoresamadores, JoséCândidoCapelaeAlferesSecundinodeMeloeSilva,quesedestacaramnainterpretaçãodepapéisfemininos.CabralformulaaseguintehipóteseparaausênciafemininanaartecênicadacidadedeNossaSenhoradoDesterro.

Vale apena salientar quemuitas destas sociedadesdramáticas particulares

não contavam com elementos femininos no seu ‘cast’, para representar ospapéisdestinadosaelas.Nãoerapróprioparamoçasesenhorasdefamílias,

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ospaisemaridosnãoconsentiamqueasfilhaseesposasfizessemdecômicas,comrequebros,declaraçõesdeamor,eoutrosparangoléspeloestilo...E,genteduvidosa não seria admitida para contracenar comos rapazes de ‘bem’, queeramosamadoresdaépoca.112

Nas frases recheadas de imagens românticas os dramas e comédias

provocavam situações comovedoras, ferindo a alma dos espectadores. É apartir da segunda metade do século XVIII que o drama burguês buscatransformaraartedeclamatória:desenvolvendoaintriga,abuscadoterríveledo patético. Tratava-se de buscar na emoção o modo de como o públicoresponde às transformações do condimento das sensibilidades.113 Nestaperspectiva o teatro funcionava como instrumental pedagógico para orefinamentodassensibilidadesindividuaisecoletivas.“Osprantosvertidosemcomumselamumaespéciedepactosocialdesensibilidade,quefazdoteatroumtipodeassembleiapolítica”.114

Odramaromânticobuscavanatragédiacotidianadossujeitossuatemática.Orealismoinvadeocenário:Amoresimpossíveis,naufrágios,sofrimentodosnegros nas senzalas,mulheres e suas inquietudes e outras inverosimilhançaspara retratar toda uma desordem social e moral. No refinamento dassensibilidadesqueseoperavanasociedadedesterrense,oteatropossibilitouàelite desterrense veicular, indiretamente, normas pedagógicas decomportamentos nas práticas de condutas da população, e em particular naspráticasafetivasfemininas,poiseradebomtomque:

[...] umadonzela baixaria sempreos olhosquando falasse, a não ser que

fosseumadespudoradaouqueaatrizestivesserepresentandomuitomaloseupapel.Mesmoas‘sabidas’,as‘sabichonas’,nãoousariamlevantá-losaonoivoescolhidopelospais,emborajáestivessementreguesaoutrosamores.115

Nesta perspectiva, poder-se-ia dizer que o teatro na Ilha, respondia aos

anseios da incipiente elite que no transcurso do século XIX patrocinava aremodelaçãodo espaçourbano e a clivagemdas condutasdapopulação.Aomexercomasensibilidadeeasemoçõesdossujeitos,adramaturgiadaépocainserianovossignosdecomportamentopúblico.NaIlhadeSantaCatarina,eracomumaoespectadorchorarempúblicodiantedosinfortúniosdos“sujeitos”colocadosemcena.

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Eram apreciados, no século, estes dramalhões, cheios de situações

tocantes, comovedoras, ferindo a alma dos espectadores que não seenvergonhavam de deixar correr, barbas abaixo, lágrimas abundantes. Era aprova de serem pessoas de sentimentos... Homens e mulheres choravam naplateiae,tantomelhorapeça,quantomaiorexcitaçãoprovocavaàsglândulaslacrimais - tanto mais gabado o ator que pusessem maior ênfase às frasesromânticasecriasseasmaispungentessituações.116

Nestesentido,adramaturgiaemNossaSenhoradoDesterro,correspondia

aos desejos da burguesia em ascensão, em sua busca por uma tipologiacorrespondenteàimagemsocialporelaintroduzidanoconjuntodasociedadedesterrense.Aliteratura,amúsicaeoteatroserevelaramcomoinstrumentosestratégicos junto aos anseios da elite para remodelar as práticas desociabilidadedapopulaçãoeespecificamentedamulheremNossaSenhoradoDesterro,noséculoXIX.Buscava-senesteperíodo,atravésdaarte,dispositivoque auxiliasse na clivagem das condutas, ao mesmo tempo que seoperacionalizava intermitentes reformas urbanas. Tratava-se de buscar umequilíbrio entre o tolerável e o intolerável no espaço público. A eliteemergente oriunda da burocracia administrativa, comercial e militar, e, emparte,porsetoresligadosàterraditavamformasdeocupaçãodeterritóriosdesociabilidade.

Ojornal“OArgos”emsuaspáginas,noanode1861,publicaumartigosobreo“TeatroCatarinense”emqueaimportânciadaarte,namodelaçãodascondutas,foipreconizada.

Incontestavelmente,oteatroéotermômetrodograudecivilizaçãodeum

povo.Aí, de um relance de olhos se pode julgar da índole, da instrução, dacivilização e mesmo da moral pública e doméstica do espectador. Afora oabuso que se possa fazer do teatro, é ele uma escola animada, que num sóquadronosmostraalutadaspaixõeseotriunfodavirtudesobreocrime.Oque não sentimos com a leitura de um livro, sentimos ao ver umarepresentação.EmSantaCatarinahádessanotáveltendênciaparaacivilizaçãopormeiodoteatro.Oespíritodeassociaçãopararepresentarsuspende-seporalgum tempo, mas nunca se extingue. Um teatro material é, pois, uma

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necessidade para desenvolver o teatro moral, escola de costumes e deinstrução.117

Namedidaemqueosespaçosprivadosiamdeixandodeserpúblicos,iam

sendo introduzidos no espaço social dos sujeitos e da cidade novosequipamentosdeencontrossociaisedeconvíviocotidiano.Osclubessociaissurgiam gradativamente e ocupavam os antigos espaços particulares deapresentações. “Os salões particulares foram, aos poucos, fechando as suasportas, ao mesmo tempo em que os clubes iam abrindo as suas, acolhendomaisgente,recebendomaiornúmerodefrequentadores”.118

Osurgimentodosclubessociais,desdeasegundametadedoséculoXIX,além de possibilitar à burguesia ascendente um aprendizado constante derequintenasrelaçõessociais,tinhamcomofunçãoregulamentaraspráticasenormatizar os comportamentos dos sujeitos diante de si e diante do outro.Neste sentido, as associações propiciavam o espaço ideal para o exercíciodestas novas formas de sociabilidade. Esta parece ser uma das funções dosclubessociaisnodecorrerdoséculoXIX.Nessessalõespraticava-seamúsica,as danças, os saraus literários, os bailes e comemorações, representando opontoaltodavidasocialdaelitedesterrense:

As danças mais conhecidas eram as Habaneiras, as Varsovianas, as

Mazurcas, os Schottiches, as Valsas, as Polonaises e as Quadrilhas. [...]. Asdamasesenhoritas-asBelas,comoentãosedizia-sentavam-seemcadeirasalinhadas ao longo das paredes dos salões e osmarmanjos agrupavam-se àentrada - elas nos seus melhores babados, pufes e outros panejamentosvolumososeabundantes-elesnassuassobrecasacas,deluvasecalçasbrancase escarpins de verniz. As meninas-môças, como sempre, em todas as eras,segredando suas confidências às primas e amigas; as velhotas, fofocando,reparandoosvestidosalheios,osnamoricosdasconhecidas,osmodosdestaoudaquela, sem tirar oolhodaprópria prole feminina, que a rapaziada eraafoita-pela frente, como cara de songa-monga, muito respeitosa mas, aomenorcochilodavelha,jásesabe,davaoseuapertinhodemão,ou“chegavamais para perto”, quando o código da ética e da moral recomendava, nascontradanças, um espaço vazio, livre e desocupado, entre os pares, de, pelomenos,meiometro.119

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Naesferapúblicaburguesatornava-senecessárioaconvivência,equeestafosse disciplinada por um código ético de sujeição diante da norma. Dessamaneira, a pedagogia da sociabilidade era introduzida no cotidiano dapopulação através dos códigos de condutas que regulamentavam ofuncionamento das associações culturais, sociais, musicais, dramáticas eoutras. Esse novo código ético requeria, não só o aprendizado, mas umreconhecimento dos equipamentos introduzidos pela burguesia no espaçopúblico dos sujeitos. A simbologia da diferenciação desta forma não seencontrava só nas práticas discursivasmas sematerializava na existência dodia-a-diadapopulação.

AdisciplinarizaçãodoespaçourbanoesocialoperacionalizadoemNossaSenhoradoDesterro,atravésdotempo,equeculminoucomo“fechamento”dasociedadedesterrense, tornou-seumdosdispositivosdecontrolesobreaspráticasafetivasfemininas.

[...] essa acentuada acessibilidade, essa liberdade de que gozavam as

mulherescatarinenses,nãoduroumuito.Àmedidaqueotempofoipassando,asociedade foi-se fechando, gradativamente, cada vezmais, e, se nos idos doséculo XVIII, os viajantes de certa categoria eram aqui acolhidos até comfestas emPalácio, pois erameles, de certomodo, uma raridadena terra, noséculoseguinteahospitalidadenãochegavamaisataisexageros...120

Amulher figurava como expressão sublimada para os poetas da Ilha. A

poesia romântica desterrense, em muitos casos, introduzia uma concepçãoerótica - sensual capaz de superar as ansiedades da paixão irrealizada. Noséculo XIX, o amor romântico representava “A configuração de umsentimentoamoroso,ascondutasqueeleinspira,revelamaomesmotempoossonhoseróticoseastensõesqueasociedadeatravessa”.121

Nesta perspectiva, o estado emotivo conduz a linguagem a semanifestardiante do ser pretensamente amado. Muitos dos poemas publicados naimprensa desterrense deixam transparecer a sensualidade cheia desublimações, perdida entre os sonhos, devaneios e desejos irrealizados.Buscando elementos da natureza, ou a divindade para expressar seusentimento, o poeta desterrense manifesta o amor e o desejo pela mulheramada.OséculoXIX irábuscarnamulheroanjobom,protetora,piedosaenascida para a benemerência. Neste sentido, a mulher aparece como

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mensageiradoideal.Mas,buscandonosistemadasrepresentações,nofinaldoAntigo Regime, os artistas da segunda metade deste século enfocam e dãoênfase ao enigma da feminilidade. A educação sentimental, introduzida peloromantismo, modifica atitudes e hábitos amorosos. O amor românticoestabelecenovosprocedimentosdeliberação.

Os romancistas, especialmente Zola, farão com que este inquietante

modelodedevoradoraseinsinueatéoambientepopulardossubúrbios.Paraoshomensdaépoca,atormentadospelomedodamulher,maisdoquenuncaépreciso aplacar a sexualidade da companheira e submetê-las à ordemmasculina.122

Aomesmotempoemquedesnudaopudorfeminino,oamorromânticoo

eleva à sublimação das sublimações. A mulher, símbolo da castidade e dapureza, torna-se o Ideal a ser perseguido. PaulHoffmann ao tratar do amoridealemsuaplenitudedizque“[...]escapadorealevivenasfronteirasdaviaondeseconfundemapresençaeaausência,orostodoseramadoeasimagensdarecordaçãoedosono”.123

Para Corbin, a literatura difundida propõe uma série de modificações eestabelecemodelosde condutas e “traça itinerários espirituais”que invocamumnovosistemaamoroso.

Oprimeiroolharquesecruzaesedemora,alongínquamúsicadavoz,a

doçuradoperfumenaturalque se filtra atravésdos trajes levesasseguramasalvaguardadopudorfemininoeforjamgrilhõesindestrutíveis.124

Logo após a revolução francesa, Jean-Marie Gautier ao analisar um

conjunto de correspondências íntimas, nos primórdios do século XIX,encontranestascorrespondênciasaviolênciadalinguagemdapaixão.Oduelodo amor vai em busca do limite entre o Profano e o Sagrado. A mulherdivindadeeangelical,sedutoraefatalduelam-seconstantementenaliteratura.Manuais sobre a ciência do amor proliferam. Os saberes médicos sobre amulher e a ciência do amor prescrevem verdades, normas e condutas. Apoesia,oromanceeoteatroinvademaintimidadefeminina,estimulando,noespectador, imagens deAnjo eDemônio, de Santa aMariaMadalena. Nestaprofusãodeimagens-aimagemdoinfortúnio-adesgraçaamorosa.Ecomelas,novossignossurgemnasuperfíciecomoestivessempedindopassagem.

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Na intimidade o ciúme emerge, provoca e arde. A perda do amor provocasoluço. Chora-se na intimidade, nos segredos da alma. O culto à morteamorosa altera comportamento e provoca o profano.O sagrado emerge nojogolúdicodapaixão.

O ‘amor perdido’ soluça; os ciúmes assumemas formas da demência; opoderio do sentimento produz a tentação da morte. Em suma, enquanto seoperaaprivatizaçãodaslágrimas,exacerba-senoscomportamentosocódigoclássico do desregramento. Mas, ao mesmo tempo, prolifera a linguagemangélica; a metáfora religiosa invade o discurso: o amante é uma criaturaceleste;ocultoquesedevotaaele,umaadoração.125

A vulnerabilidade sentimental dos sujeitos manifestada pelo ‘bailar dos

corpos’,impedequeosentimentoseexprimanalinguagem.Eleporsiproduz-sepelogesto.A linguagemcorporal flui signos foradequalqueralcancedalinguagem. Nesta perspectiva a linguagem romântica manifesta toda suasensualidadeatravésdesutilezasnodizer.

Oamorfísicodominaoromanceeapoesia.Aobscenidade,aumsótempo

onipresente e oculta nos volteios do texto, impõe ao leitor uma permanentedecodificaçãoqueatiçaoprazerdatransgressão.Aelipse,alítoses,aperífraseouaindaametáforaconvidamaimaginaçãoatrabalhar.Assimfuncionamasevocações do paroxismo do gozo. Nesta literatura, pode-se ‘tomar umamulher ’,que ‘seentrega’,então,a ‘felicidade’ -àsvezesocoito,àsvezesoorgasmo-éfeitade‘indizíveisgozos’,de‘insólitasdelícias’,deum‘prazerlouco,quaseconvulsivo’.126

Desvendadopelolibertino,oromanceafloraosaspectossecretosdavida

sexual dos sujeitos, deleitando-se nos escândalos da inversão. Lugar dametáfora, a literatura torna-se fonte para compreensão e análise dos papéisfemininos.

A mulher não faz senão deixar adivinhar sua sensualidade; evita assim

comprometer-se plenamente.Ademais, o novo erotismo impõe a delicadeza;autoriza todos os refinamentos, todas as complicações sensoriais.Gracioso,charmoso, o flerte permite o empregode qualidades intelectuais e artísticas.127

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EmNossaSenhoradoDesterro,omundofemininoédescortinadoatravésdeumaliteraturaquerevelaumamulhersedutora,doce,ingênuaeangelical.

OpoetaJoséElisiáriodaSilvaQuintanilha foiunsdospoetas Ilhéusquemaisfalousobreoamor.“...Nãosei!Meucoraçãoestádesperto!Domina-o...Ama-o... Ele é teu, agora...”.128 Sílvio Pélico de Freitas Noronha, foi outropoetadesterrense a falardo amor edadesconfiançada amadadiantedo seusentimento.

Eufuiporticantor!AsminhastardesErampassadasnumsorrirdeamor...Indamelembro,tantaluzeuviaQuandofitavaoteugentilfulgorElatãomeiga,tãogentil,formosatalveznãocrênesseamorprofundo,EdoceebeladesmentindoobardoDigaqueloucotantoamornomundo.129Acontribuiçãofemininaparaaliteraturadesterrensepoder-se-iadizerque

foitímida.ElasóvaisetornarvisívelcomapoetisaLauraEmíliaNunesPires,em1871,naspáginasdojornal“ARegeneração”.LauraEmíliaNunesPires,comotodosospoetasdoséculo,buscousuainspiraçãonador.Opoema“UmaLágrima”tratavadeumahomenagemaumaprimaeamigaCorinadeFariasRamosquefaleceunesteperíodo.“[...],eramuitocomumentreasmulheresdoséculopassado escreverempoemaspara outrasmulheres.Dedicados àquelasquejáhaviampartido,deixandoumaprofundasaudadeemseuscorações”.130

No séculoXIX funcionam, em certas tendências da literatura, elaboradasformas de sexualidade que ultrapassam a manifestação do sentimentoamoroso.Nestasregiões,osliteratospasseiamembuscadojardimdoÉdenàprocura dos amores contrariados, sem esperança. A imagem do serpretensamente amado é descrito em um conjunto de imagens, onde asexualidadetransbordaemsuavespalavras-gestos.Dessamaneira,oromancedesenhouomodelodamulherfácil,ingênua,espirituosa,gulosaporcaríciasdaalcova,que trazconsigoodinamismo,ofrescoreasinceridadedoamorromântico.

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A bipolaridade feminina modela as figuras da volúpia que povoam oimaginário.Impõeumincessantevaivémdaidealizaçãoàdegradação;[...].Ocódigodoamorromânticoditaàmulherumangelicalismodoleitoquehojepoderiafazersorrir.Otabuquepesasobreamanifestaçãododesejofemininoobriga a amante a simular a presa que não saberia ‘entregar-se’ sem que ovigor do assalto viesse ao menos justificar a ‘derrota’. Um corpoexcessivamente e loquaz na volúpia impõe, após o êxtase’, as posturasredentorasdapureza.131

Muitas vezes as poesias publicadasna imprensavinhamassinadas como

pseudônimo do autor. Talvez, o poeta querendo se resguardar de possíveiscomentáriosdasociedadedesterrense,escondia-seatrásdeumnomefictício.Resguardando sua identidade, enquanto ser que insinua; mantinha a mulheramadaprotegidada“exposição”pública.

Apráticadoanonimatonãofoisóexercidaatravésdaliteratura.Poder-se-iadizerqueoanonimatosurgianasociedadedesterrensedoséculoXIXcomoum código referencial para se criticar determinadas práticas de condutas emodosdevidaquenãomaispertenciamao imagináriodocotidianodeumaeliteemascensão,atarefadaemproduziroutrosafazeresparalegitimaraartede governo132 sobre a população da Ilha, num período em que os sujeitossurgemcomoumobjetoaseradministradopeloEstado,damesmaformaqueasrelaçõescomerciaiseaprodução.

Precisar a entrada do romantismo na Província Catarinense, como ideiaidealemovimento,parece-nos tarefa improfícua.Poder-se-iaatédizerqueoromantismo, com estas características, na Ilha de Santa Catarina, passoudespercebido. Entretanto, como fenômeno estético ao que tudo indica, suaexistênciainicia-senasegundametadedoséculoXIX.

Amaturaçãodosespíritosqueumdiateriaquevir,jásefaziadebilmentenotada. Na Assembleia Provincial, fúteis questiúnculas sobre os maisinsignificantes assuntos, tais como fixação de local para instalarem feiraslivres, davam lugar à discussão de problemas mais sérios de importânciasocialmaisampla.ConstaquealgunsparlamentaresliamRousseau,Voltaire...133

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O tom romântico fazia parte de novelas, poesias, artigos e crônicasveiculadas através da imprensa desterrense, denunciando práticas julgadasinaceitáveis pela elite ascendente local. E entre estas práticas, ascorrelacionadas com a afetividade feminina mereceu uma vigilância e umcontrolemaisfrequentenaspáginasdosjornais.Eracorriqueiro,nodecorrerdoséculoXIX,encontrarna imprensa local informaçõessobreosmodosdecomportamentos femininos nos espaços públicos e privados. Essasinformações eram frequentes nos textos que prescreviam sobre o amor,fidelidade,sedução,asseio,moda,lazer,costumesecondutassociais.

Na versão difundida pela literatura, o “amor romântico”, embora seprojetasse como um amor volatizado, que o discurso médico higienistaidentificou como “delírio”, estabeleceu múltiplas interrelações com aintervençãomédica sobre as famílias e as condutas afetivas, e emparticulardasafetividadesfemininas.

Apartirde16de junho1887,HorácioNunesPirespublicaem folhetim,atravésdo“JornaldoComércio”,oromance“D.JoãodeJaqueta”134 ,sobreoqualoautoradvertiuaosleitoresque:

Os tipos que apresento ao público nunca existiram na freguesia onde se

passaaaçãodaminhanovela:oscostumes sim,emquase sua totalidade.Nadescriçãodelesnãoháomenordesaireparaalocalidade,cujoshabitantessãobemconhecidospeloseucaráterhonestoeamoraotrabalho.Omeu‘D.João’apresenta-se de jaqueta nova e calças por meia canela, pedindo a todos umolharbenignoeumsorrisodeproteção.Eleé realmenteoqueparece ser: -modesto,humildeeinofensivo...inofensivosobretudo.135

OromancedeHorácioNunesinicia-seem1877.Nesteperíodo,“OBrasilaindaéumpaíscolonial, [...],quandoaparecemosprimeiroscapítulosdeD.JoãodeJaqueta”.136Eomododeseredeagireraditadopelos“[...]filhosdefamíliasabastadasdointerior,decomerciantesedeprofissionaisliberaisquedefiniamomododeserdaclassedominantedaépoca”.137

Neste período em queHorácio Nunes escreve seu romance, a cidade deNossa Senhora do Desterro passava por uma remodelação dos usos ecostumes. A imprensa e a elite, em ascensão, operacionalizavam uma“verdadeira revolução” no espaço urbano e na remodelação das condutasafetivas da população. Os jornais publicavam posturas municipaisregulamentando diversas práticas socializantes. Entre elas, a brincadeira

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carnavalizante do entrudo e a festa do Divino Espírito Santo. A geografiaurbana da cidade se remodelava seguindo os preceitos modernizantesapregoadas pela classemédia local. Enfim, a Ilha de SantaCatarina iniciavalentamente,enumprocessodescontínuo,astransformaçõesurbanaseafetivasveiculadas por um saber médico higienista oriundo da “modernidade” quecaracterizavaoséculoXIX.

OromancedeHorácioNunespossuicomoumadastramasasconquistasamorosasdeRosalina, filhado famosoMajorAnacletodaTrindadequeeraum “[...] homem rústico, falador e ambicioso de posições”. 138 Já sua filha,“[...]educara-senacapitaleespecializara-sena“ciênciadonamoro”,masvivianointeriordaIlha”.139

AjovemRosalinaera,[...]umainteressanteeespirituosamoçaqueseeducaraemumcolégioda

capital, donde levara para casa do pai bastante conhecimentos, inclusive aciênciadonamoro,completamentedesenvolvida.[...]realmentebonitacomsuacor morena, com os seus olhos rasgados e negros, com os seus lábioscarnudosevermelhos,comoseucabelopretoevasto,comoseunarizinhodivinamentemodelado.140

Sedutora, Rosalina envolvia seus admiradores num jogo lúdico e “Os

rapazes da freguesia faziam-lhe roda e empregavam todos os meiosimagináveis para serem por ela distinguidos”.141 Sediada por seus galantes,pois tinhaconhecimentododesejoquedespertava,Rosalinanãosentiaculpapelo assédio. Pelo contrário, transferia a culpa para a própria condiçãoamorosa, “[...] quem manda que todos, [...] gostem de mim”. Na sua trama,sabia ela que as artimanhas amorosas se faziamnecessária pois, “É verdadequepossocasarcomumegostardooutro...Tem-sevisto tantodisso!”.Paraelaapossibilidadedoamorduploera“[...]oúnicorecurso,porquenãoseriade bom coração desgostar [...]” dos “[...] pobres rapazes que tanto medesejam...”.142

Embuscadoentendimentodo jogoamorosoprincipiou“acantaràmeiavoz”:

Deixamosasmágoas,osprantossentidos,oslutos,ascismas,

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tristonhasdedor;gozemosdavidaosencantosqueridos,domundofaçamosmilmundosdeamor.Soubela!nãomentemoslisosespelhos,aságuasserenasdasfontesgentis...adoroumnamoro,nãoqueroconselhos...aneloasventurasdosgozosfebris.143Rosalina, “[...] vaidosa e fingida como todas as namoradeiras [...]”, tinha

ciência e conhecimento dos jogos amorosos. E em particular, o jogo dasedução.Olimitedajovem“namoradeira”eraaprópriapossibilidade“[...]deavançose recuos,deentregasparciais,umsedá senegando”.144 Nomundofeérico, lugar da magia feminina, o impossível não se realiza, pois ele ésempreoenunciadodeoutrosacontecimentos.

Para a mulher não há impossíveis. Quando a mulher concebe um

pensamentoéinútildizer-lhe:-“nãoirásavante”-,porqueelaarrostarátudo,saltará por cima de tudo para realizar o seu pensamento. A palavra -impossível-foiinventadapeloshomensparaporemumparadeiroaosdesejosda mulher... mas a mulher ri-se do frágil obstáculo e vai caminhandosempre...145

E ao caminhar pelos jogos da sedução, Rosalina trava uma luta íntima

diante das palavras cheias de ardis proferidas por umdos seus galantes.Elabalança,questionaeseenvolve.Porémelaresisteàspalavraseàentrega.Suahonra não entra no jogo da sedução. Cautelosa, sabia que sua reputação ehonra corria perigo se concretizasse os desejos do seu galante.O temor davergonha pelo juízo ético formulado pela opinião pública ressoa em seuspensamentos.

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[...] se umdia se descobre aquilo que com tanto cuidado se ocultava?...Oqueficasendoamulherquesedeixaseduzirporumailusãodemomento,porumamiragemquesobasuaformasedutoraocultaaagoniadavergonha.146

AspalavrasdoseugalanteeramfortesparaocoraçãodeRosalina.Juca,o

galante,nãopoupavapalavrasparaenunciarseusentimento.E como tu és bela...Oh! minha rosa peregrina, desabrochada em plena

primaveranaignoradaesolitáriadevesa.Emborarasgandoasvestes,emboradilacerandoascarnesnosespinhosque tecercam,heidecolher-te,oh!rosa,paratodososdiasaspirarosteusdivinosodores,paraatodasashorasgozarosteusdocesencantos,[...],astuaspétalasperfumadas!...Ésbela,ésbelacomoosanjos,eeuteamocomtodoofogodamocidade,comtodooadordosvinteecincoanos!...[...],osteuslábiossãoduasrosaspurpurinasqueseabremaosbeijosdaaurora,embalsamandooambientecomosseusodorescelestiais,oteu sorriso prende-me, cativa-me, subjuga-me, mata-me; [...]. Quando eu tecontemplo, como agora, sinto incendiar-me o coração e a alma a chamaardentedeumamorlouco,enorme,infinito,[...].Etuésbela,ésbelacomoasrosasebelacomoosanjos!147

Diantedas insinuações amorosasdo seugalante edando-se contadeque

elenãoadesejavaparatorná-lasuaesposaesimparaamanteevendooperigoquecorriadiantedosacontecimentos,Rosalina“Pálida,trêmula,comosolhosfaiscantes e as feições contraídas” e num esforço para salvar sua honra ereputação,elalhetraduztodoosignificadodacortequeelelhefazia.

Ah! compreendoagora!... - exclamouela, depoisdeobriga-lo a curvar a

cabeça ante o seu olhar que despendia raios. O senhor queria seduzir-me...queria perder-me... queria colocar-me a par dessas desgraçadas que serevolvem na lama da vergonha, vencidas pela sedução, [...]. Estás enganadosenhor!...Eu serei uma mulher inconstante, volúvel, caprichosa... mas nuncasereiumamulherinfame!148

Rosalina não se deixou “engambelar” pelas palavras sedutoras do seu

galante. Poderia se tornar “caprichosa e volúvel”, mas nunca uma mulher“infame”. Sua honra e reputação se encontravam acima das leviandadesinerentes aos jogos da sedução. “Que anjo foi esse, que revelou por aquela

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honra,que,deslumbradapelavertigemdodescontentamento,resvalavaàbeiradeumabismosemfundo”?149

SegundoNunes,Que mulher, com o espírito acanhado, ignorante, não se teria deixado

arrastar por aquelas palavras cintilantes como pérolas, suaves como umperfumeequesuspiravamtãodocescomoasnotas lânguidaseharmoniosasdeumacançãodemelancólicassaudades.150

HorácioNunesem“D.JoãodeJaqueta”nãotraçasóumperfildosusose

costumesdacidadeedocampo (interiorda ILHA).Trazaténósa “delicadasituação damulher na sociedade patriarcal do II Império” vista e pensada apartir doolhar românticoqueperpassavapor todaa sociedadebrasileiranoséculoXIX.

Nunes constrói e apresenta a conduta afetiva deRosalina a partir de umconjuntodecontradições:quevaidesdeeducaçãoeignorância,passandopelaingenuidade rústica e modelação da conduta, e apresentando através doscostumesIlhéusadiferenciaçãodomundourbano-rural.Eporfim,trazendoàsuperfície a condição da mulher inserida na família “patriarcal”. Ora nacondiçãodemulhersujeito,oranademulherobjeto.

AjovemRosalinaescapadestascontradiçõespelaeducaçãoquerecebeu,eapartirdapluralidadepedagógicaconseguelocomover-secomdesenvolturanointeriordessascontradições.Pluralidadeesta,quelhepermitiaatravessaromundoamorososemsetornarleviana.

Rosalina é o ‘eterno feminino’ que não toma a iniciativa amorosa

ostensivamente;deixa-seconquistar,dissimulandoemobjetosuacondiçãodesujeitodaescolhaamorosa.Acontradiçãoévisível.HorácioNuneslevaatéolimiteasituaçãodeRosalina:nãofossesuainstrução(elogioàescolapública)e sua inteligência, deixar-se-ia engambelar pelas palavras sedutoras de Juca.Não fosse sua educação, facilmente se tornaria prostituta. Sem tocardiretamentenoassunto,adicotomiaromânticavirgem\prostitutatrazàtonaosparâmetros da mulher na sociedade patriarcal. Horácio Nunes coloca suapersonagem numa situação perigosa e extrema, mas isto não impede queRosalina,apesardoseujogoedissimulação,preenchaopapeldelegitimadoradaascensãosocialdohomemedamanutençãodasociedadedeclasses.151

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Rosalina,personagemcriadaapartirdoimagináriofemininodeHorácioNunes, portanto, construída através do olhar masculino, encontra na falaliteráriaespaçoparasuavisibilidade.EédedentrodestavisibilidadefemininaquepodemosouviravozdeRosalina.Mulherque seelaborae se revelanojogo amoroso, mas sem perder a noção de sua condição de mulher nasociedade patriarcal do II Império, onde a honra e reputação pertencia aodomíniopúblico.

A clivagem das condutas, operacionalizada na Ilha de Santa Catarina notranscurso do século XIX, repassa por uma pluralidade de acontecimentos.Nesteperíodo,acidadedeNossaSenhoradoDesterro, comopatrocíniodedeterminadossetoressociais,questionadeterminadaspráticasdesociabilidade,fatosedesejos.

Retratodecostumes,o romance ‘D. JoãodeJaqueta’,deHorácioNunes,nãodeixadeespelhara sociedadedesterrensedo séculoXIX.Sociedadequepassavaporumaclivagemdascondutaseremodelaçãodoseuespaçourbanocomaintroduçãodenovosagentessociaisnocotidianodapopulação.Nunes,portanto, não se encontrava imune aos acontecimentosde transformaçõesnaIlhadeSantaCatarina.Pelocontrário,ocupandoalgunscargosadministrativosnaCapitaldaProvíncia,oautorerapartícipedestastransformações.

Nesta perspectiva, Rosalina pertence ao imaginário feminino da Ilha deSanta Catarina e é apresentada ao público como conhecedora da arte donamoro. Rosalina, a namoradeira, a sedutora dos “lábios carnudos evermelhos”,de“cormorena”, e “olhos rasgadosenegros”, está inseridanocotidianodavisibilidadefeminina.Éopróprioautordoromance‘D.JoãodeJaqueta’ que alerta aos seus leitores que “Os tipos que apresento ao públiconunca existiram na freguesia onde se passa a ação da minha novela: oscostumessim,emquasesuatotalidade”.152

Alguns viajantes, que visitam a Ilha nos séculos XVIII e XIX, tambémregistraramemseusrelatosqueasmulhereseramsedutorasedadasapasseiosclandestinospeloscampos.

SeriaaartedonamoroporpartedasmulheresnacidadedeNossaSenhorado Desterro um costume corriqueiro? O que se passava no imaginário dosviajantesedeHorácioNunesparaqueestesconstituíssemumapráticaafetiva

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feminina em Desterro? Narrador e objeto narrado não estariam neste casointerligados por acontecimentos que naquelemomento vivido pertenciam aocotidianodapopulaçãoaoqualestavaminseridos?Umapopulação,conformedemonstraahistoriografia,deintensasociabilidadecotidiana.

Neste emaranhado de falas é tentador falar na existência de umamulhersedutoranodecorrerdoséculoXIX,na IlhadeSantaCatarina.Porémcomoidentificar a mulher real da mulher imaginária? Principalmente quando oimagináriosocial,

[...]constróiaantimulher(ousetratadaverdadeiranaturezafemininaque

serevelaquandodeixadasematuteladohomem?):fontedopecado,ardilosa,propiciadoradaperdição,incapazdeguardarsegredo,mentirosa,inspiradoradecrimes...153

Nestesentido,estamulherimagináriavem,[...] por suavez, expressa emartigosde jornal que louvamo estereótipo

desejado do feminino ou execram o seu oposto, encarnando na figuradebochadadaprostituta,destruidoradelares,desencaminhadoradajuventude.Amulher ideal se corporifica nas representações icnográficas de cartazes elitografias,quadroseesculturas,ocupaespaçonasobrasliteráriasepoéticaseseinserenoprocessoeducacional,comotemadetextosmorais.154

Nosso objetivo, neste capítulo, não é inferir uma verdade para a

pluralidade de leituras possíveis diante dos documentos analisados, e simtrazer à superfície investigações que possibilitem verificar falas queregistraram, no passado, determinadas práticas sociais da população, emparticular dos modos de vida das mulheres da Ilha de Santa Catarina, notranscursodoséculoXIX.

A minha primeira ideia foi de casar com ela. Amava-a e julguei um

momentoqueelameamassetambém.Masdepoisqueaconhecimais,depoisque compreendi a sua leviandade, as suasperfídias, o seugênio inconstante,sufoqueimeuamornascente,eolheiparaelacomoparaumpassatempo,umbrinco, um objeto de luxo, mas não como para uma mulher digna de seramada... A loureira, como todas as loureiras, há de pagar, por onde pecou:

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queratodos,masficaráreduzidaaumsó,eessemesmoopiordetodos,senãomorrersolteirona...Enfim...desfrutemosenquantopudermos,edepois.155

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CONCLUSÃO

Oshomens,comoasflores,voltam-separaondeosolnasce!

WalterBenjaminÉpossívelconcluiroinconcluso?Afinalnojogodaseduçãoquemseduz

quem?Nascenasnarradasporumapluralidadede falas, as fontes semostraram

duranteasescavaçõescomoterritórioscheiosdeardis.Assim se revelaram as narrativas dos viajantes, os jornais e a produção

literáriadesterrensenesteperíodo,cheiasdedesejoslúdicosqueafloravamemcadanovoolhar.

Paixão temática versos paixão literária-histórica. Intenso combate.Estratégiasreformuladasaolongodopercurso.

Entre o trágico e o cômico a leitura que seduz e embriaga e revela oinusitado das entrelinhas documentais. Afinal, quem narra, narra com oflorescerdoseuimaginário.

NodecorrerdoséculoXIX,acidadedeNossaSenhoradoDesterropassoude forma gradativa pormudanças urbanas e demodos de sociabilidades. Ocrescimento populacional, a diversificação de suas atividades urbanas,juntamente com a complexidade de sua estrutura sócio-econômica-políticatransformavamacidade.

Acidadeiriaconfiguraraimagemreduzidadoproblemáticomicrocosmo

social;presençaassustadoraeaomesmotempofascinanteporsuavariedadeepor tornar acessível um recorte em algo inabarcável. O medo e o fascínioorientamumaatitudeexploratóriaquefarádacidadeumobservatórioextenso,mascomlimitesdelineados.[...],terraincógnita.156

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Nomeiodestemurmurardodia-a-dia,acidadeaguçadaviaseuscontornos

seremmodelados.Cidade e sujeitos eram expostos diante de suas práticas. Falas emergiam

pelasuperfíciedosobjetosrevelandooutrasformasesentidos.A mulher boa, meiga mas ignorante, pode - ainda assim - tornar o lar

domésticoumasilo casto, uma enseada tranquila.Amulher doce, carinhosa,mas instruída, de talento, com a dupla chamada imaterial do amor e dainteligênciaaflamejar-lhenocoraçãoenocérebro,essatornaráorecintodafamília prestigioso como um templo invencível como as mais roqueirascidadelas.157

A história dos objetos, história dos sujeitos se misturam nas metáforas

onde verdades traçam a cartografia da incipiente elite deNossa Senhora doDesterro.

NaIlha,osábiopescadortemnoolharomomento-únicoparapercebernaondulaçãodomarapassagemdocardume.Talcomoopescador,onderesideapaciênciaemdecernirafalsamanchadepeixedamanchadosmovimentosdos peixes, o pesquisador ao alargar sua sensibilidade com argúcia, ampliaseu dançar nômade em busca da melhor escavação nas entrelinhas de umcorpodocumental,eaoidentificarobjetosrevelaoutroscamposdetensõesatéentãoadormecidos.

Edentreestes,aimagemdamulhersedutoraqueosviajantesestrangeirosquevisitaramaIlhanodecorrerdosséculosXVIIIeprimeirametadedoXIX,construíramdamulherdeDesterro.

Aoreincidirememimagensqueinduzseusleitoresaconstruíremamulhersedutoraqueadoravareceberpresentesegostavadepasseiosclandestinos,osviajantes em uma leitura subjacente deixam emergir a superfície que emnenhum momento de suas narrativas tentam compreender qual juízo éticofundamentava as práticas afetivas das mulheres da comunidade em que seencontravam. Ao omitirem uma leitura que levasse seus leitores aoentendimento do que acontecia nesta região, os viajantes provocavam aimaginaçãodoleitor,paraqueesteelaboreamulherdaIlhadeSantaCatarina.

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Avaliando as condutas das mulheres, a partir de princípios moraispretensamente universais, as narrativas refletem esses valores, que eramdestinadosaleitoresquepertenciamaomesmouniversoculturaldosviajantes.Se não tivermos isto em conta, incorremos mo mesmo erro deles, de nãoperceberoutrasleiturascapazesderevelarosprincípioséticossubjacentesàspráticassociaisdasmulheresdasregiõesquevisitavam.

Outro campode tensões a emergir no cotidianodapopulaçãoda IlhadeSanta Catarina, refere-se a reordenação urbana e as novas práticas desociabilidade colocadas pela elite local. Através da imprensaoperacionalizava-se a clivagens das condutas. Esta inserida no contexto dapedagogia dos comportamentos difundida neste período pelo discursomédico-higienista.

Eporfim,apesquisarevelaocotidianodasmulheressedutorasdacidadedeNossaSenhoradoDesterronavisãodaliteraturadaIlha.

Diante desse emaranhado de falas, em tempos que se diferenciam pelaexposiçãodosobjetos,ficasedutorpositivaraveracidadedosfatosimediatos.Haveria uma Prática Afetiva Feminina em Nossa Senhora do Desterro noséculo XIX? Pergunta que diante das fontes analisadasmerece por parte dopesquisadorumaequidistânciadaspaixõesimediatas.

Algumas observações merecem uma atenção. O que seria fruto daimaginação dos viajantes diante das práticas de sociabilidade feminina nestaregião e o que realmente acontecia. Seriam as mulheres partícipes destesacontecimentos narrados? Ou estariam os viajantes julgando os modosfemininosapartirdevaloreséticosprovenientesdeoutrasvivênciasculturais?Aelitelocalaopatrocinaraclivagemdecondutasfemininasreafirmavaoqueos viajantes estrangeiros registraram a respeito das mulheres ou estariamapenas atendendo interesse imediatos de modernidade diante de uma novapráticadesociabilidade?Estariaa literatura ilhoaareconstruirosfazeresdeseduçãofemininaouestaacompanhavaomovimentoliteráriodaépocaquenamaioria das vezes colocava a mulher ora como anjo ora como MariaMadalena.

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Afirmar a existência de uma mulher sedutora, como demostra adocumentação trabalhada, é, pelo menos, temerária, na medida em que talafirmação impossibilita a percepção dos movimentos de superfície e ametamorfosedosobjetosquecompõeaquelemomentovividopeloshabitantesdaIlhadeSantaCatarina.

Nesseestudo,tentamospenetrarnesseconjuntovariadodefalas,buscandopercebercomosearticularamalgunssaberessobreosmodosdasmulheresdaIlhadeSantaCatarina.

[...]opapelatribuídoàmulhernafamília,aideiadeumafelicidadesocial

segundoanaturezaestãodatadosdemaisdosiníciosdadominaçãoburguesa,oudosiluminismosdoséculo18,paraquepassempornósimpunemente.158

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1)Aesserespeitover,SAMARA,EnideMesquita.Asmulheres,o poder e a família. São Paulo: Marco Zero, 1989; DIAS,Maria Odila da Silva. Quotidiano e poder em São Paulo noséculo XIX. São Paulo: Brasiliense, 1984; ENGEL, Magali.Meretrizes e doutores: saber médico e prostituição no Rio deJaneiro (1840-1890). São Paulo: Brasiliense, 1989; LIMA,Lana Lage da Gama (Org.). Mulheres adúlteros e padres:história e moral na sociedade brasileira. Rio de Janeiro: DoisPontos,1987.↵

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2)Ibid.↵

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3)ENZENSBERGER,HansMagnus.Ocurtoverãoda anarquia,citado na folha Ilustrada, suplemento daFolha São Paulo, p.A-29,9maio1987.↵

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4)ALMEIDA, João Ribeiro. Ensaio sobre a salubridade,estatística,epatologiadaIlhadeSantaCatarinaeemParticulardaCidadedeDesterro.In:A.,Carneiro(Org.).EnciclopédiadeSantaCatarina.Desterro:Typ.J.J.Lopes,1864.p.47.Acervodo Setor de obras raras da Universidade Federal de SantaCatarina.↵

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5)LANGSDORFF,G.H.Von. "Bemerkungen auf einerReise umdieWelt in dean Jahren 1805 bis 1807". Trad. deDolores R.SimõesdeAlmeida. In:BERGER,Paulo (Org.). IlhadeSantaCatarina:relatosdeviajantesestrangeirosnosséculosXVIIIeXIX.2.ed.Florianópolis:UFSC;AssembleiaLegislativa,1984.p.163.↵

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6)CABRAL, Oswaldo Rodrigues.Nossa Senhora do Desterro.Florianópolis:Lunardelli,1979.v.1,p.275-276.↵

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7)JornalODESPERTADOR,30maio1868.↵

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8)DOM PERNETTY, Antoine. "Historie d'un voyage aux IslesMalouines,faiten1763-1764...".Trad.deCarmenLuciaCruz.In:BERGER,Paulo(Org.).IlhadeSantaCatarina:relatosdeviajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. 2. ed.Florianópolis:UFSC;AssembleiaLegislativa,1984.p.83.↵

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9)BRITO,PauloMiguelde.MemóriapolíticasobreaCapitaniadeSantaCatarina.Florianópolis:LivrariaCentral,1932.p.74.↵

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10)SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem a Curitiba e SantaCatarina.Trad.ReginaRegisJunqueira.BeloHorizinte:Itatiaia;SãoPaulo:UniversidadedeSãoPaulo,1979.p.173-174.↵

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11)Ibid.,p.173-174.↵

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12)Ibid.,p.183.↵

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13)MAWE, John. "Travels in the Interior of Brasil". Trad. deSolena Benevides Viana. In: BERGER, Paulo (Org.). Ilha deSantaCatarina: relatos de viajantes estrangeiros nos séculosXVIII e XIX. 2. ed. Florianópolis: UFSC; AssembleiaLegislativa,1984.p.190.↵

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14)SOUZA,GildadeMelloe.Oespíritodasroupas:amodanoséculo dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p.92.↵

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15)ApudSILVA,MariaBeatrizNizza da.Sistema deCasamentono Brasil Colonial. São Paulo: T. A. Queiroz: Ed. daUniversidadedeSãoPaulo,1984.p.197-8.↵

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16)DIBIE, Pascal. O quarto de dormir: um estudo etnológico.Trad. de Paulo Azevedo Neves da Silva. Rio de Janeiro:Globo,1988.p.77.↵

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17)SAINT-HILAIRE,1979,p.174.↵

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18)Ibid.,p.175.↵

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19)DIAS,MariaOdilaLeitedaSilva.QuotidianoepoderemSãoPaulonoséculoXIX.SãoPaulo:Brasiliense,1984.p.14.↵

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20)ApudRAGO,Margareth.Os prazeres da noite: prostituição ecódigos da sexualidade feminina em São Paulo (1890-1930).RiodeJaneiro:PazeTerra,1991.p.53.

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21)Apud CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora doDesterro.Florianópolis:Lunardelli,1979.v.2,p.291.↵

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22)FREYRE,Gilberto.Modosdehomem&modasdemulher.RiodeJaneiro:Record,1987.p.42-3.

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23)LANGSDORFF,1984,p.163.↵

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24)Ibid.,p.163.↵

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25)KOTZEBUE,Ottovon."VoyageofDiscoveryintheSouthSeaandtoBehring'sStraits...",Trad.MartimAfonsoPalmadeHaro.In:BERGER,Paulo(Org.).IlhadeSantaCatarina:relatosdeviajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. 2. ed.Florianópolis:UFSC;AssembleiaLegislativa,1984.p.228.↵

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26)DUPERREY,Louis Isidore. "Voyage autor dumonde...".Trad.Gilberto Gerlach e Martim Afonso Palma de Haro. In:BERGER, Paulo (Org.). Ilha de Santa Catarina: relatos deviajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. 2. ed.Florianópolis:UFSC;AssembleiaLegislativa,1984.p.258-64.↵

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27)Ibid.,p.258.↵

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28)LESSON,RenéPrimevère. “VoyageautourDuMonde”.Trad.deGilbertoGerlach.In:BERGER,Paulo(Org.).IlhadeSantaCatarina:relatosdeviajantesestrangeirosnosséculosXVIIIeXIX.2.ed.Florianópolis:UFSC;AssembleiaLegislativa,1984.p.267.↵

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29)AVÉ-LALLEMANT, Robert. Viagens pelas províncias deSanta Catarina, Paraná e São Paulo (1850). TraduçãoTeodoro Cabral. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo:UniversidadedeSãoPaulo,1980.p.20.↵

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30)Ibid.,p.69.↵

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31)DOMPERNETTY,1984,p.78.↵

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32)PORTER,David. "GiornalediunaCrocieraFattaNell'OceanoPacífico...". Trad. Inácio Dell Antônio. In: BERGER, Paulo(Org.).IlhadeSantaCatarina:relatosdeviajantesestrangeirosnos séculos XVIII e XIX. 2. ed. Florianópolis: UFSC;AssembleiaLegislativa,1984.p.291.↵

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33)LESSON,1984,p.267.↵

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34)SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Sistema de Casamento noBrasilColonial.SãoPaulo:T.A.Queiroz;Ed.daUniversidadedeSãoPaulo,1984.p.223.↵

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35)SAMARA, Eni deMesquita.A família brasileira. São Paulo:Brasiliense,1983.p.122.↵

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36)ApudSILVA,1984,p.210.↵

Page 122: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

37)Ibid.,p.210.↵

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38)JornalOCONSERVADOR,13maio1855.↵

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39)Ibid.↵

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40)LESSON,1984,p.267.↵

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41)Ibid.,p.268.↵

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42)ApudDIBIE,1988,p.77.↵

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43)SAMARA,1983,p.120.↵

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44)SEIDLER,Carl.DezanosnoBrasil.Trad.BertholdoKlinger.BeloHorizonte:Ed.Itatiaia;SãoPaulo:Ed.daUniversidadedeSãoPaulo,1980.p.241.↵

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45)Ibid.,p.261.↵

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46)Ibid.,p.72.↵

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47)TRACHSLER,Heinrich."ReisenSchicksaleundTragikomischeAlbenteureinesSchweizers...".Trad.de.Pe.RobertoHyrobeck.In:BERGER,Paulo(Org.).IlhadeSantaCatarina:relatosdeviajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. 2. ed.Florianópolis:EditoradaUFSC;AssembleiaLegislativa,1984,p.324.↵

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48)Ibid.,p.325-326.↵

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49)TRACHSLER,1984,p.326.↵

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50)TRACHSLER,1984,p.328-329.↵

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51)TRACHSLER,1984,p.326.↵

Page 137: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

52)CABRAL, Oswaldo R. Os Açorianos. Anais do PrimeiroCongresso de História de Santa Catarina, Florianópolis,ImprensaOficial,v.2,p.513,1950.↵

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53)CABRAL,1950,p.521-523.↵

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54)CABRAL,1950,p.577-578.↵

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55)JORNALOMOSQUITO.SantaCatarina:6jan.1889.↵

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56)ENGEL, Magali. Meretrizes e doutores: saber médico eprostituição no Rio de Janeiro (1840-1890). São Paulo:Brasiliense,1989.p.11.

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57)CABRAL, Oswaldo Rodrigues.Nossa Senhora do Desterro,notíciaI.Florianópolis:Lunardelli,1979.p.183.↵

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58)COSTA,JurandirFreire.Ordemmédicaenormafamiliar.2.ed.RiodeJaneiro:EdiçõesGraal,1983.p.12.↵

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59)VIGARELLO,Georges.O limpo e o sujo: a higiene do corpodesde a Idade Média. Tradução Isabel St. Aubyn. Lisboa:Fragmentos,1988.p.10.

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60)COSTA,1983,p.12.↵

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61)SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagens a Curitiba e SantaCatarina.TraduçãoReginaRegisdeJunqueira.BeloHorizonte:Itatiaia;SãoPaulo:Ed.daUniversidadedeSãoPaulo,1978.p.167.↵

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62)CABRAL,1979,p.242.↵

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63)JORNALOARGOS.SantaCatarina:1jan.1886.↵

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64)JORNALOMERCANTIL.SantaCatarina:13jul.1862.↵

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65)CABRAL,1979,p.77;80;128;458.↵

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66)Ibid.,p.245.↵

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67)CORBIN, Alain. Saberes e odores: o olfato e o imagináriosocialnosséculosXVIIIeXIX.TraduçãoLígiaWatanabe.SãoPaulo:CompanhiadasLetras,1987.p.191.↵

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68)MAWE, John. "Travels in the Interior of Brasil". Tradução deSolenaBenevidesViana.EditoraZélioValverde,1944.[Ediçãooriginal! London 1822]. In: BERGER, Paulo (Org.). Ilha deSantaCatarina: relatos de viajantes estrangeiros nos séculosXVIII e XIX. 2. ed. Florianópolis: Editora da UFSC;AssembleiaLegislativa,1984,p.193.↵

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69)DOM PERNETTY, Antoine. "Histoire d'un Voyage aux IslesMalouines, fait em 1763-1764...". Paris, chez Saillant Nyon,Delalain, 1770. Tradução de Carmen Lucia Cruz Lima. In:BERGER, Paulo (Org.). Ilha de Santa Catarina; relatos deviajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX; 2. ed.Florianópolis: Editora daUFSC;AssembleiaLegislativa,1984.p.86.↵

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70)GOLOVNIN, Vassili Mihailovitch. Tradução do CondeEmanuel deBennigsen,SãoPaulo, 1951. In:BERGER,Paulo(Org.). IlhadeSantaCatarina; relatosdeviajantesestrangeirosnos séculos XVIII e XIX. 2. ed. Florianópolis: Editora daUFSC;AssembleiaLegislativa,1984.p.205.

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71)ALMEIDA, João Ribeiro de. Ensaio sobre a salubridade,estatísticaepatologiadaIlhadeSantaCatarinaeemparticulardaCidade deDesterro.Desterro: Typ. J. J. Lopes, 1864 apudCARNEIRO, A. Enciclopédia de Santa Catarina. SantaCatarina:[s.n.,s.d.].v.13,p.45-46.(Cópiadatilografada-setordeSantaCatarina/BibliotecaCentraldaUFSC).↵

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72)Ibid.,p.45.↵

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73)CORREIOCATARINENSE.SantaCatarina:7jun.1854.↵

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74)CABRAL,OswaldoR.NossaSenhoradoDesterro:memóriaII.Florianópolis:Lunardelli,1979.p.269.↵

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75)Ibid.,p.260.↵

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76)Ibid.,p.260.↵

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77)CORBIN,Alain,A relação íntimaouosprazeresda troca. In:PERROT, Michelle (Org.). História da vida privada: daRevolução Francesa à Primeira Guerra. Tradução DeniseBottmanneBernardoJoffily.SãoPaulo:CompanhiadasLetras,1991.p.503.

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78)JornalOMOSQUITO.SantaCatarina:7fev.1889.↵

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79)JornalOARGOS.SantaCatarina:18fev.1856.↵

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80)D'INCAO, Maria Angela. "Amor romântico e famíliaburguesa". In: ______. (Org.). Amor e família no Brasil. SãoPaulo:Contexto,1989.p.61.↵

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81)Ibid.,p.61.↵

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82)JornalOMENSAGEIRO.22set.1855.↵

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83)ApudCOSTA,1983,p.230.↵

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84)Ibid.p.63.↵

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85)Ibid.p.230.↵

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86)JornalOARGOS.SantaCatarina:8jan.1858.↵

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87)JornalOCOMERCIAL.SantaCatarina:23maio1858.↵

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88)JornalOMOSQUITO.SantaCatarina:18nov.188.↵

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89)Jornal O CORREIO CATARINENSE. Santa Catarina: 13 abr.1853.↵

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90)JornalOARGOS.SantaCatarina:28abr.1858.↵

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91)JornalOARGOS.SantaCatarina:31jul.1861.↵

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92)JornalOARGOS.SantaCatarina:26abr.1861.↵

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93)JornalOMOSQUITO.SantaCatarina:16jan.1889.↵

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94)JornalOCOMERCIAL.SantaCatarina:15jan.1868.↵

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95)COSTA,1983,p.64.

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96)CABRAL, Oswaldo Rodrigues.Nossa Senhora do Desterro:memóriaII.Florianópolis:Lunardelli,1979.p.91.↵

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97)Ibidem,p.91.↵

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98)A proposta da criação de um Gabinete de Leitura surgiu naSociedade Patriótica, fundada no Desterro, em 1831. Emdezembro,DiogoDuarte Silva, o ex-poeta de 1816 e, agora,deputado à Assembleia Geral, propõe que o Gabinete setransformeemBibliotecaabertaaopúblicoparaaqualdoa,noano seguinte, cerca de 800 livros de sua propriedade(SACHET,Celestino.A LiteraturaCatarinense. Florianópolis,Lunardelli,1985.p.28).↵

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99)VerCABRAL,1979.↵

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100)JornalOMOSQUITO.SantaCatarina:18nov.1886.↵

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101)BRITO,PauloJoséde.MemóriapolíticasobreaCapitaniadeSantaCatarina.Florianópolis:LivrariaCentral,1932.p.74.↵

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102)LANGSDORFF,G.H.von."BermerkungenaufeinerReisedieWeltindenJhren1805bis1807."FrankfurtamMain,1812,inVerlag bei friedrichWilmans. Tradução deDolores R. Simõesde Almeida. In: BERGER, Paulo (Org.). Ilha de SantaCatarina:relatosdeviajantesestrangeirosnosséculosXVIIIeXIX. 2. ed. Florianópolis: Editora da UFSC \ AssembleiaLegislativa,1984.p.163.↵

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103)KOTZEBUE, Otto von. "Yoyage of Discovery in the SouthSea, and to Behring's Straits..." London: Printed for Sir R.PhillipsandCo...1821.TraduçãodeMartimAfonsoPalmadeHaro. In:BERGER,Paulo. IlhadeSantaCatarina: relatosdeviajantes estrangeiros nos séculos XVIII e XIX. 2. ed.Florianópolis:EditoradaUFSC\AssembleiaLegislativa,1984.p.163.↵

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104)CABRAL,1979,p.66.↵

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105)Ibid.,p.24.↵

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106)Ibid.,p.24.↵

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107)SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagens pela província deCuritiba e SantaCatarina. Tradução Regina Regis Junqueira.BeloHorizonte:Itatiaia;SãoPaulo:Ed.daUniversidadedeSãoPaulo,1979.p.174.↵

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108)Apud CABRAL, Oswaldo R. Nossa Senhora do Desterro:notíciaI.Florianópolis:Lunardelli,1979.p.336.↵

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109)Apud CABRAL, Oswaldo R. Nossa Senhora do Desterro:memóriaII.Florianópolis:Lunardelli,1979.p.37.↵

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110)Ibid.,p.37.↵

Page 196: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

111)Ibid.,p.17.↵

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112)Ibid.,p.166.↵

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113)CF. VICENT_BUFFAUT, Nane. História das lágrimas:séculosXVIIIeXIX.TraduçãoLuizMarqueseMartaGambini.RiodeJaneiro:PazeTerra,1988.p.91.↵

Page 199: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

114)Ibid.,p.95.↵

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115)CABRAL,OswaldoR.NossaSenhoradoDesterro:memóriaII.Florianópolis:Lunardelli,1979.p.169.↵

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116)Ibid.,p.169.↵

Page 202: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

117)JornalOARGOS.SantaCatarina:8mar.1861.↵

Page 203: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

118)CABRAL,OswaldoR.NossaSenhoradoDesterro:memóriaII.Florianópolis:Lunardelli,1979.p.77.↵

Page 204: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

119)Ibid.,p.25-26.↵

Page 205: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

120)Ibid.,p.19.↵

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121)CORBIN,Alain.A relação íntimaouosprazeresda troca. In:PERROT, Michelle (Org.). História da vida privada: daRevolução Francesa à Primeira Guerra. Tradução DeniseBottmanneBernardoJoffily.SãoPaulo:CompanhiadasLetras,1991.p.518.

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122)Ibid.,p.519.↵

Page 208: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

123)Ibid.,p.522.↵

Page 209: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

124)Ibid.,p.522.↵

Page 210: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

125)Ibid.,p.524-525.↵

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126)Ibid.,p.529.↵

Page 212: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

127)Ibid.,p.546.↵

Page 213: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

128)Ibid.,p.120.↵

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129)JornalOMERCANTIL.SantaCatarina:3jun.1866.↵

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130)SIQUEIRA, Elizabeth Angélica Santos; DANTAS, MarluceOliveiraRaposo.ATemáticadospoemasfemininosnorecifenoséculoXIX.Mulheres-Século XIX, Revista do curso de Pós-Graduação em Letras, Florianópolis, Editora da UFSC, n. 23,p.256,1992.↵

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131)CORBIN,1991,p.530.↵

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132)FOUCAULT, Michel. "A governabilidade". In: ______.Microfísica do poder. Tradução e organização RobertoMachado.6.ed.RiodeJaneiro:Graal,1986.p.287.↵

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133)CORBIN,1991,p.45.↵

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134)PIRES, Horácio Nunes. D. João de Jaqueta: cenas da roça.Porto Alegre: Movimento; Brasília: INL, Fundação NacionalPró-Memória,1984.↵

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135)Ibid.,p.24.↵

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136)APPEL, Carlos Jorge, "D. João de Jaqueta, um elogio àinteligência". In: PIRES,HorácioNunes.D. João de Jaqueta:cenas da roça. Porto Alegre: Movimento; Brasília: INL,FundaçãoNacionalPró-Memória,1984.p.10.↵

Page 222: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

137)Ibid.,p.10.↵

Page 223: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

138)PIRES,1984,p.25.↵

Page 224: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

139)Ibid.,p.11.↵

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140)Ibid.,p.26;36;7.↵

Page 226: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

141)Ibid.,p.26.↵

Page 227: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

142)Ibid.,p.37.↵

Page 228: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

143)Ibid.,p.37-38.↵

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144)SOUZA,GildadeMelloe.Oespíritodasroupas:amodanoséculo dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. p.92.↵

Page 230: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

145)PIRES,1984,p.43.↵

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146)Ibid.,p.90.↵

Page 232: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

147)Ibid.,p.73-74.↵

Page 233: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

148)Ibid.,p.91.↵

Page 234: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

149)Ibid.,p.92-93.↵

Page 235: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

150)Ibid.,p.93.↵

Page 236: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

151)APPEL,1984,p.14.↵

Page 237: Práticas Afetivas Femininas em Nossa Senhora do Desterro ...ecoemlivros.ufam.edu.br/attachments/article/2/... · superfície a imagem da mulher sedutora de Nossa Senhora do Desterro

152)PIRES,1984,p.24.↵

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153)PESAVENTO,SandraJatahy.Mulheresehistória:ainserçãodamulher no contexto cultural de uma região fronteiriça (RioGrande do Sul).Mulheres-Século XIX, Revista do curso dePós-Graduação emLetras, Florianópolis,Editora daUFSC, n.23,p.57,1992.↵

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154)Ibid.,p.57.↵

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155)PIRES,1984,p.75.↵

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156)BRESCIANI, M. S. M.. "Metrópoles: As faces do monstrourbano (as cidades no século XIX)". Revista Brasileira deHistória,SãoPaulo,ANPUH/MarcoZero,v.5,n.8/9,p.60,set.1984/abr.1985.↵

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157)JORNALDOCOMÉRCIO,28out.1882.

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158)RIBEIRO,RenatoJanine.Aeducaçãodoamor:Goethecriouomais perfeito "romance de formação" europeu. Folha de SãoPaulo,SãoPaulo,23out.1994.Mais!,sextocaderno,p.7.↵