Psicanalise,filosofia e ciencia no discurso freudiano valeria ghisi

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PSICANÁLISE, FILOSOFIA E CIÊNCIA NO DISCURSO FREUDIANO (Psychoanalysis, Philosophy And Science in the Freudian Discourse) Valéria Ghisi 1 Sérgio Scotti 2 Resumo: Dois aspectos principais destacam-se no discurso freudiano sobre a filosofia. Em primeiro lugar encontramos a todo tempo a tentativa de expor a psicanálise como algo radicalmente diferente do discurso filosófico com o intuito de estabelecer a primeira no campo da ciência. Em segundo lugar, e em decorrência do primeiro objetivo, podemos encontrar de forma sistemática a desvalorização do pensamento filosófico em relação ao pensamento cientifico. Este artigo se propõe a estabelecer, cronologicamente, a posição da filosofia no discurso freudiano de forma a explicitar as questões implicadas em tais afirmações. Poderemos acompanhar o movimento que, simultaneamente, afasta a psicanálise da filosofia para aproximá-la da ciência mas que deixa aberto um espaço para o trabalho especulativo característico das construções freudianas. Palavras-Chave: Freud, Psicanálise, Filosofia Abstract: Two main features stand out in the Freudian discourse on philosophy. First, we frequently find an attempt to expose psychoanalysis as something radically different from the philosophical discourse in order to establish the first in the field of science. Secondly, and as a result of the first objective, we can find in a systematic devaluation of the philosophical thought in relation to scientific thinking. This article tries to establish, chronologically, the philosophy position in Freudian discourse in order to clarify the issues involved in such statements. We can follow the movement that simultaneously removes psychoanalysis from philosophy to bring it closer to science but that leaves a space open for speculative work characteristic of Freudian constructs. Key-words: Freud, Psychoanalysis, Philosophy Mesmo tendo muitos temas em comum, a articulação entre filosofia e psicanálise não se mostra evidente. Se tomarmos como ponto de partida as referências freudianas à Filosofia veremos o quanto tal aproximação pode ser problemática. Dois aspectos principais destacam-se no discurso freudiano sobre a filosofia. Em primeiro lugar encontramos a todo tempo a tentativa de expor a psicanálise como algo radicalmente diferente do discurso filosófico com o intuito de estabelecer a primeira no campo da ciência. Em segundo lugar, e em decorrência do primeiro objetivo, podemos encontrar de forma sistemática a desvalorização do pensamento filosófico em relação ao pensamento cientifico. Este artigo se propõe a estabelecer, cronologicamente, a posição da filosofia no discurso freudiano de forma a explicitar as questões implicadas em tais afirmações. Poderemos acompanhar o movimento que, simultaneamente, afasta a

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  1. 1. PSICANLISE, FILOSOFIA E CINCIA NO DISCURSO FREUDIANO (Psychoanalysis, Philosophy And Science in the Freudian Discourse) Valria Ghisi1 Srgio Scotti2 Resumo: Dois aspectos principais destacam-se no discurso freudiano sobre a filosofia. Em primeiro lugar encontramos a todo tempo a tentativa de expor a psicanlise como algo radicalmente diferente do discurso filosfico com o intuito de estabelecer a primeira no campo da cincia. Em segundo lugar, e em decorrncia do primeiro objetivo, podemos encontrar de forma sistemtica a desvalorizao do pensamento filosfico em relao ao pensamento cientifico. Este artigo se prope a estabelecer, cronologicamente, a posio da filosofia no discurso freudiano de forma a explicitar as questes implicadas em tais afirmaes. Poderemos acompanhar o movimento que, simultaneamente, afasta a psicanlise da filosofia para aproxim-la da cincia mas que deixa aberto um espao para o trabalho especulativo caracterstico das construes freudianas. Palavras-Chave: Freud, Psicanlise, Filosofia Abstract: Two main features stand out in the Freudian discourse on philosophy. First, we frequently find an attempt to expose psychoanalysis as something radically different from the philosophical discourse in order to establish the first in the field of science. Secondly, and as a result of the first objective, we can find in a systematic devaluation of the philosophical thought in relation to scientific thinking. This article tries to establish, chronologically, the philosophy position in Freudian discourse in order to clarify the issues involved in such statements. We can follow the movement that simultaneously removes psychoanalysis from philosophy to bring it closer to science but that leaves a space open for speculative work characteristic of Freudian constructs. Key-words: Freud, Psychoanalysis, Philosophy Mesmo tendo muitos temas em comum, a articulao entre filosofia e psicanlise no se mostra evidente. Se tomarmos como ponto de partida as referncias freudianas Filosofia veremos o quanto tal aproximao pode ser problemtica. Dois aspectos principais destacam-se no discurso freudiano sobre a filosofia. Em primeiro lugar encontramos a todo tempo a tentativa de expor a psicanlise como algo radicalmente diferente do discurso filosfico com o intuito de estabelecer a primeira no campo da cincia. Em segundo lugar, e em decorrncia do primeiro objetivo, podemos encontrar de forma sistemtica a desvalorizao do pensamento filosfico em relao ao pensamento cientifico. Este artigo se prope a estabelecer, cronologicamente, a posio da filosofia no discurso freudiano de forma a explicitar as questes implicadas em tais afirmaes. Poderemos acompanhar o movimento que, simultaneamente, afasta a
  2. 2. 149 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 149 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. psicanlise da filosofia para aproxim-la da cincia mas que deixa aberto um espao para o trabalho especulativo caracterstico das construes freudianas. Primeira dcada: a criao de uma psicologia cientfica distinta da filosofia Em 1890, ao escrever sobre o tratamento psquico, Freud apresenta a cincia mdica como uma disciplina recm afastada da filosofia que se interessa exclusivamente pelos aspectos fsicos das doenas. Ao dedicarem-se apenas ao corpo, os mdicos cometeriam o erro de deixar o psiquismo nas mos dos filsofos. necessrio que a medicina se interesse sobre os efeitos do psiquismo sobre o corpo e o abordem desde uma perspectiva cientifica. Assim procedendo seria possvel constituir um verdadeiro conhecimento sobre o psiquismo e estabelecer procedimentos mais eficientes para o tratamento das neuroses uma vez que estas, segundo Freud, so influncias modificadas da vida psquica sobre o corpo. necessrio ento que se desenvolva uma disciplina mdica que tome como objetivo o estudo das influncias do psiquismo sobre o corpo sem, com isso, abandonar o terreno da cientificidade e retornar filosofia Em A interpretao dos sonhos (1900) Freud anuncia o tom de suas criticas filosofia afirmando ser a tarefa da psicanlise trazer para o discurso cientifico o estudo dos processos inconscientes, recusado pelos filsofos que estabelecem a equivalncia entre conscincia e psiquismo. Sem determinar quais seriam esses filsofos, Freud insiste na originalidade de seu objeto. Enquanto a psicologia lidou com esse problema atravs de uma explicao verbal no sentido de que psquico significava consciente, e de que falar em processos inconscientes era um contra-senso palpvel, qualquer avaliao psicolgica das observaes feitas pelos mdicos sobre os estados psquicos anormais estava fora de cogitao. Mdico e filsofo s podem unir-se quando ambos reconhecerem que a expresso processos psquicos inconscientes a expresso apropriada e justificada de um fato solidamente estabelecido. S resta ao mdico encolher os ombros quando lhe asseguram que a conscincia uma caracterstica indispensvel do psquico, e talvez, se ele ainda sentir respeito suficiente pelos enunciados dos filsofos, ele possa presumir que eles no estavam tratando da mesma coisa ou trabalhando na mesma cincia. (p.636) O mesmo argumento retomado diversas vezes nessa primeira dcada do sculo XX. Podemos encontra-lo em 1901, nas paginas 108 e 109 dos Fragmentos da anlise de um caso de histeria, e tambm nos textos: Sobre a psicoterapia (1904), O chiste em suas relaes com o inconsciente (1905), Delrio e sonho na Gradiva de Jensen (1907) O homem dos ratos (1909) No texto de 1904 evidente a proposta freudiana de afastar radicalmente a psicanlise da filosofia pois tal aproximao seria algo temvel para a nova cincia. Freud inicia sua conferncia afirmando que se as teorias psicanalticas encontraram algum reconhecimento o mesmo no pode ser dito da tcnica que as acompanha. Atribui essa dificuldade ao fato de que a psicoterapia seria muitas vezes vista pelos mdicos como uma espcie de misticismo no cientfico indigno do interesse de um investigador da natureza. (p.224) dessa viso de psicologia que Freud tenta afastar a psicanlise ao prop-la sob a forma de uma psicologia cientifica(p.245). Ao final da mesma conferencia Freud afirma: Mas no temam os senhores que isso nos precipite nas profundezas da mais obscura filosofia. Nosso inconsciente no de modo algum idntico ao dos filsofos, e alm disso, a maioria destes nada quer saber sobre o psiquismo inconsciente(p.252)
  3. 3. 150 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 150 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. De toda forma Freud tenta estabelecer a diferena entre dois campos que, em sua escrita, so radicalmente distintos. Se o filosofo aborda o inconsciente, este no o mesmo inconsciente da psicanlise pois considerado apenas enquanto o oposto ao consciente. Se rejeita a ideia de inconsciente porque est submisso perspectiva consciencialista, que nada tem a ver com a psicanlise. Portanto, a psicanlise se estabelece alheia toda e qualquer proposio filosfica. Segunda dcada: a cincia psicanaltica A segunda dcada de escritos freudianos ir deixar um pouco de lado o distanciamento da filosofia para empreender um maior posicionamento da psicanlise enquanto prtica clnica cientifica. Nesta poca Freud ir escrever diversos textos que tem por objetivo apresentar a clinica da psicanlise e, simultaneamente, estabelece-la como uma prtica cientifica, ou seja, baseada na experimentao e na observao de fenmenos determinados. Em 1912, no texto intitulado Recomendaes aos mdicos que exercem a psicanlise encontramos a afirmao recorrente de que, em psicanlise, a tcnica se estabelece como consequncia da experincia clnica. Segundo Freud: Uma das reinvindicaes da psicanlise em seu favor indubitavelmente o fato de que, em sua execuo, pesquisa e tratamento coincidem; no obstante, aps certo ponto, a tcnica exigida por um ope-se requerida por outro. () Casos que so dedicados, desde o principio, a propsitos cientficos sofrem em seu resultado; enquanto os casos mais bem sucedidos so aqueles em que se avana, por assim dizer sem qualquer intuito a vista, em que se permite ser tomado de surpresa por qualquer nova reviravolta neles, e sempre se o enfrenta com liberalidade, sem quaisquer suposies. (p.128) Desta passagem podemos concluir que a psicanlise clnica obtm seus melhores resultados quando no segue um roteiro pr-determinado de procedimentos e quando no orientada por suposies. O mesmo argumento ser repetido em 1913 em Sobre o inicio do tratamento, quando a anlise comparada ao jogo de xadrez no qual apenas o inicio e o fim das partidas podem ser objeto de recomendaes, entre estes dois pontos o que existe uma infinidade de jogadas possveis. Freud afirma que as recomendaes que se estabelecem em relao conduo de uma psicanlise no exigem aceitao incondicional e ope-se claramente a qualquer mecanizao da tcnica. Torna-se ento legitimo questionar a cientificidade da prtica psicanaltica. Sem um planejamento de aes, sem determinao de objetos especficos e, consequentemente, sem um procedimento que possa ser repetido e verificado, como pode a psicanlise estabelecer-se enquanto uma cincia? Na conferencia XXVIII de 1916 novamente encontramos o argumento de que o que bom para a terapia prejudicial para as pesquisas mas desta vez o foco o fenmeno da transferncia. Uma das objees frequentemente feitas contra a psicanlise, ressaltada por Freud no referido texto, a suposio de que o mdico influencia o paciente de tal forma que os resultados objetivos das descobertas psicanalticas se tornam duvidosos. Freud responde a tal considerao afirmando que em psicanlise, ao contrario das terapias sugestivas, a transferncia tambm submetida ao tratamento. Esta analisada como mais uma das manifestaes da neurose e constantemente resolvida por ser considerada expresso da doena. O tratamento sugestivo, este sim poderia ser alvo das criticas feitas contra a psicanlise uma vez que estimula e preserva cuidadosamente a transferncia, mantendo-a intocada. Em 1918 Freud retoma os dois temas acima apresentados e concebe a psicanlise como um conhecimento ainda em construo e, portanto, incerto e inacabado. Sua proposta de admitir as imperfeioes, aprender novas coisas e alterar o
  4. 4. 151 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 151 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. mtodo quando necessrio. Continua, entretanto, a recusar que o analista , aproveitando-se da situao da transferncia, imponha-se ao paciente e determine suas aes ou pensamentos. Recusamo-nos, da maneira mais enftica, a transformar um paciente que se coloca em nossas mos em busca de auxlio em nossa propriedade privada, a decidir por ele seu destino, a impor-lhe nossos prprios ideais e, com o orgulho de um Criador, a form-lo nossa prpria imagem e verificar que isso bom. (p.178) Logo em seguida, neste mesmo texto, Freud ira retomar o tema da filosofia para afirmar que a psicanlise no deve se colocar a servio de qualquer perspectiva filosfica. Seria uma grave desvio tico assumir uma determinada viso de mundo e imp-la aos pacientes. Novamente vemos que na escrita freudiana a filosofia surge como um desvio, um equivoco, e mesmo, um problema. Desta vez no se trata de estabelecer a psicanlise enquanto cincia, e por isso afasta-la da especulao filosfica, o que encontramos a recusa explicita em adotar uma filosofia e divulga-la por meio do trabalho analtico. Assim, a psicanlise no uma filosofia e to pouco compartilha de alguma viso de mundo. Ao contrario, tal procedimento radicalmente oposto liberdade que a psicanlise pretende garantir a seus pacientes. Terceira dcada: a especulao psicanaltica Em 1920, no polmico texto Alm do principio de prazer, Freud apresentar uma escrita sobre a filosofia um tanto diferente do que apontamos at ento. No capitulo VI encontramos explicitamente a referencia especulao psicanaltica. Freud no evita tomar este rumo, at ento severamente criticado. Ao contrrio, alerta seus leitores sobre sua proposta e segue adiante. O que se segue especulao, amide especulao forada, que o leitor tomar em considerao ou por de lado, de acordo com sua predileo individual. mais uma tentativa de acompanhar uma ideia sistematicamente, s por curiosidade de ver at onde ela levar. (p.35) Encontraremos nessa especulao referncias um tanto vagas a Plato, Empdocles e Kant. Do primeiro Freud recorta parte da fala de Aristfanes, em O banquete, para apresentar a inicial indiferenciao sexual humana. Freud se refere aos conceitos de Neikos e Philia, formulados por Empdocles, para apresentar as pulses de vida e morte. Kant mencionado na medida em que, para Freud, as descobertas psicanalticas poderiam colocar em dvida sua proposio de que tempo e espao seriam formas necessrias do pensamento. As referncias filosficas no discurso freudiano so escassas e sempre pontuais. Muitas vezes do a impresso de possurem somente um valor retrico por serem apenas recortes deslocados de todo contexto que os origina e sem qualquer discusso complementar. Tais analogias aparecem apenas como forma de ilustrar o pensamento freudiano j que este no se considera filiado a nenhuma filosofia. Tudo se passa como se as descobertas psicanalticas, originadas da experincia e da observao, encontrassem sua antecipao nas intuies dos mais renomados filsofos. Em Resistncias psicanlise (1925) Freud retoma seu argumento de que o psquico dos filsofos no similar ao da psicanlise e o privilegio dado conscincia impede o dialogo entre as duas disciplinas. Em A questo da anlise leiga (1927) ir retomar o problema da cientificidade da psicanlise e sua relao com a filosofia. Freud prope-se, no inicio do segundo capitulo, a apresentar a psicanlise de uma forma compreensvel a um publico que no participa do meio analtico.
  5. 5. 152 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 152 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. Exporei isso dogmaticamente, como se fosse uma estrutura terica completa. Mas no suponha ele que ela surgiu como essa estrutura, como um sistema filosfico. Nos a desenvolvemos lentamente, lutando com todos os pequenos detalhes da mesma, temo-la modificado sem cessar, mantendo um continuo contato com a observao, at que ela finalmente adquiriu uma forma na qual perece ser suficiente para nossas finalidades. (...) A cincia, como se sabe, no uma revelao; muito depois de seus primrdios ainda lhe faltam os atributos de determinao, imutabilidade e infalibilidade pelos quais o pensamento humano to profundamente anseia. (p.187) Opondo o surgimento revelado do sistema filosfico lenta e trabalhosa evoluo cientfica Freud insere a psicanlise nesta ultima categoria. Mesmo se o produto final possa ser semelhante a uma filosofia o processo que o constitui o implicaria no campo cientifico. A cincia psicanaltica se interessa por um difcil e novo objeto de pesquisa, o psiquismo inconsciente, e o fundamenta atravs do estudo dos sonhos e dos sintomas neurticos. A psicanlise encontra nestes um sentido e lhes explica, por isso poderia ser considerada uma cincia. Para Freud uma psicologia que no capaz de explicar os sonhos no pode ser capaz de compreender o psiquismo e, consequentemente, no constitui uma cincia psicolgica. Tal afirmao estabelecida para diferenciar a psicanlise da psicologia em duas abordagens diferentes: a psicologia que se desenvolve nas universidades e nos laboratrios, que se dedicam ao estudo da fisiologia dos rgos dos sentidos, e a psicologia no cientifica que todo e qualquer filosofo, escritor ou historiador ou biografo se autoriza a propor. Um pouco mais adiante, entretanto, Freud ira afirmar seu interesse em permanecer em contato com o modo popular de pensar (p.190) tentando tornar suas construes cientificamente teis ao invs de rejeit-las. Essa a maneira que Freud encontra para, simultaneamente, reconhecer que muito de suas teorias j se encontra nas especulaes de poetas, escritores e filsofos sem, contudo, abrir mo de seu pioneirismo cientifico. Mais a frente encontraremos a distino entre a psiquiatria, que procura os determinantes somticos das perturbaes mentais, e a psicanlise. No discurso de Freud ambas tem igual status de cincia mas diferem em seus objetos. justamente por ser diferente da medicina que a psicanlise pode contribuir para a cincia. Freud afirma que o tratamento das neuroses apenas uma das utilidades da psicanlise uma vez que esta pode se constituir como um conhecimento indispensvel para as cincias humanas em geral. No ps-escrito de 1927, anexo ao j referido texto, encontramos o resgate da afirmao de que cura e pesquisa so inseparveis quando se trata da psicanlise. Essa cincia que se constri no contato com cada paciente e o efeito desse novo conhecimento no processo teraputico constitui, para Freud, o aspecto mais feliz do trabalho analtico. Quarta dcada: a Weltanschauung da psicanlise Em 1932 Freud dedica toda uma conferncia para tratar das relaes entre psicanlise, filosofia e cincia. Seu discurso parte de uma questo central que se desdobra em outra: A psicanlise conduz a uma determinada Weltanschauung e, em caso afirmativo, a qual? (p;155) Logo de inicio Freud apresenta sua concepo do que uma Weltanschauung: Em minha opinio, a Weltanschauung uma construo intelectual que soluciona todos os problemas de nossa existncia, uniformemente, com base em uma hiptese superior dominante, a qual, por conseguinte, no deixaria nenhuma pergunta sem resposta e na qual tudo o que nos interessa encontra seu lugar fixo. (p.155)
  6. 6. 153 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 153 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. O desejo por construes desse tipo constitui, na viso freudiana, algo extremamente humano e responde ao anseio pela segurana trazida pelo conhecimento absoluto que ensina, de forma inequvoca, a lidar com as dificuldades do dia a dia. A psicanlise permite cincia compreender tais exigncias da mente humana e examinar suas origens. Tal fato, entretanto, no significa justificar ou desprezar tais criaes, trata-se apenas de desvendar suas motivaes. A psicanlise no constitui por si prpria uma Weltanschauung mas participa da Weltanschauung cientifica. Esta ltima tambm supe uma forma de explicar o mundo mas tal objetivo um projeto futuro a ser atingido de forma lenta e seguindo um mtodo bastante especifico do qual no participam outras fontes de conhecimento alm da elaborao intelectual de observaes cuidadosamente escolhidas. (p.156) Nenhum conhecimento cientifico deriva da revelao ou da adivinhao, estas so apenas iluses criadas para dar aparncia de realidade a impulsos plenos de desejos. (p.156) Como exemplos dessas iluses Freud cita a arte, a religio e a filosofia, as quais se diferem estruturalmente da cincia pois apenas esta ltima trabalha com a realidade. Ao colocar a filosofia ao lado da iluso e cincia ao lado da realidade Freud deixa clara a hierarquia entre as duas disciplinas. No se trata apenas de estabelecer diferenas mas sim de estabelecer um julgamento valorativo entre as duas. No licito declarar que a cincia um campo da atividade mental humana, e que a religio e a filosofia so outros campos, de valor pelo menos igual, e que a cincia tem por que interferir nelas: que todas elas tem iguais pretenses de serem verdadeiras e que toda pessoa tem a liberdade de escolher de qual delas ira derivar suas convices e em qual delas depositara sua crena. Uma opinio como esta vista como especialmente superior, tolerante, emancipada e livre de preconceitos incultos. Infelizmente, no sustentvel e compartilha de todos os aspectos perniciosos de uma Weltanschauung no cientifica, e a esta equivale, na pratica. (p.157) Torna-se assim bastante claro e evidente os motivos que levam Freud a distanciar a psicanlise da filosofia e aproxim-la da cincia. Suas teorias, na medida em que se pretendem verdadeiras, no podem ser tomadas como iluses filosficas. Trata-se de trazer, para a psicanlise, a qualidade de cincia capaz de descrever e operar sobre a realidade e de afast-la de qualquer proximidade a um discurso de valor inferior. Para Freud a filosofia diferencia-se da cincia por apegar-se iluso de ser capaz de apresentar uma viso de mundo coerente e sem falhas a partir de operaes puramente lgicas e aceitar a intuio como fonte de conhecimento. Freud compara a lenta, hesitante e laboriosa (p.169) marcha da cincia ao processo analtico em si. A observao constante, os novos fatos que se impem, a construo de hipteses prvias que sero comprovadas ou refutadas e a renncia a concluses precipitadas so prticas compartilhadas por cientistas e psicanalistas em seus respectivos trabalhos. Assim sendo, a Psicanlise no constitui uma Weltanschauung prpria, ela compartilha da Weltanschauung cientifica por seu mtodo e, principalmente, por sua nfase no mundo real e rejeio das iluses. Ainda sobre a filosofia, Freud ira estabelecer a crtica do que denomina como niilismo intelectual, a saber, a crena de que a verdade no existe e de que a cincia uma iluso como as outras, tambm um produto das necessidades humanas. O niilista intelectual adota a posio de que no existe conhecimento seguro da realidade pois encontramos e vemos apenas o que desejamos. Portanto, pouco importa a opinio que se adota, ela no deixa de ser apenas uma opinio entre outras uma vez que no existe o critrio de verdade que as distinguiria. Igualmente verdadeiras e falsas no se verifica uma hierarquia entre as diferentes crenas. Afirmando sua falta de interesse e capacidade para se aprofundar no tema Freud limita-se a afirmar que:
  7. 7. 154 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 154 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. A teoria anarquista soa como sendo maravilhosamente superior enquanto se refere a opinies sobre coisas abstratas mas desmorona ao primeiro passo que da na vida pratica. (...) o mesmo espirito cientifico que especula acerca da estrutura dos tomos, ou acerca da origem do homem, e que planeja a construo de uma ponte capaz de suportar uma carga. Se isso em que acreditamos fosse realmente coisa sem importncia, se no houvesse aquilo que se chama conhecimento, e que se diferencia das opinies por corresponder realidade, poderamos construir pontes tanto com papelo como com pedras (...) Mas os prprios anarquistas intelectuais rejeitariam tais aplicaes praticas de sua teoria. (p.172) Em ultima anlise, o argumento freudiano remete pratica o valor da cincia. Ela verdadeira porque funciona. Da mesma forma a psicanlise estabeleceu-se enquanto cincia inicialmente por seu valor teraputico, j havia afirmado Freud no mesmo ano de 1932 ao final de sua conferencia anterior. da condio original de mtodo de tratamento que a psicanlise extraiu as verdades que agora pode apresentar a respeito da natureza humana. No Esboo de psicanlise (1938) encontramos ainda uma ltima vez a mesma referencia filosofia enquanto ligada ao consciencialismo e em oposio ao psiquismo inconsciente da psicanlise. Neste texto, deixado inacabado em virtude de sua morte, Freud repete aquilo que pudemos encontrar durante toda sua obra de modo constante e repetitivo. A filosofia, na perspectiva freudiana, fundamentalmente contrria psicanlise e isso em dois nveis distintos. A estrutura interna da filosofia, na medida em que esta se constri por meio do uso da logica e da intuio, se ope s pretenses cientificas da psicanlise que se deseja fundamentada na observao da realidade. Os pressupostos tericos configuram o outro ponto de distanciamento na medida em que Freud identifica a filosofia aceitao exclusiva de um psiquismo consciente, oposto ao fundamental conceito psicanaltico de um psiquismo inconsciente. Freud antifilsofo? Existe, entretanto, ao lado do homogneo discurso antifilosfico trs aspectos que devem ser considerados para estabelecer uma leitura mais ou menos adequada das relaes entre Freud a filosofia e a cincia. A biografia de Freud, que nos da indcios de algum que se interessa bastante pela filosofia; o contexto histrico, que estabelece a prevalncia da cincia sobre a filosofia quando se trata do valor das proposies sobre o psiquismo e a metapsicologia, soluo freudiana para a parte especulativa de sua teoria. Em sua biografia encontramos diversos elementos significativos do interesse pela disciplina especulativa. Durante a faculdade de medicina Freud acompanhou os seminrios de Brentano destinados iniciao reflexo filosfica e histria da filosofia. Ernest Jones, na biografia que escreve sobre Freud, ressalta que o estudo da filosofia, anteriormente obrigatrio durante trs anos do curso de medicina, foi suspenso quando Freud ingressou na faculdade. A no obrigatoriedade, entretanto, no o afastou dos estudos filosficos. A retirada da Filosofia como disciplina obrigatria indicativa do descrdito da mesma no meio mdico-cientfico no qual Freud esteve inserido e do qual tirou sua formao fundamental. Podemos notar ento, desde esse inicio acadmico, a posio ambivalente da filosofia em relao a construo do pensamento freudiano. Na mesma obra, Jones relata que cerca de 10 anos aps o curso com Brentano Freud teria escrito para Martha, ento sua noiva, um ABC filosfico no qual desenvolvia uma espcie de introduo filosofia com o intuito de interess-la pelo seu trabalho. Em uma carta de 16 de agosto de 1882, tambm a Martha, Freud declara que a
  8. 8. 155 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 155 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. filosofia cada vez mais o fascina mesmo a tendo imaginado como um refugio para sua velhice. J a Fliess escreve, em janeiro de 1897, que a filosofia era seu objetivo originrio e, em abril de 1896, assinala que passando da medicina para a psicologia estaria realizando seus desejo de juventude em relao aspirao ao conhecimento filosfico. Jones ainda menciona que Freud, ao ser por ele questionado sobre a quantidade de suas leituras em filosofia, lhe teria dito que enquanto jovem sentia-se fascinado pela especulao mas dela se afastou corajosamente e por isso lera poucas obras filosficas. Tem-se a impresso de que a Filosofia era um grande interesse do jovem Freud que teve de ser abandonado em virtude do desejo de que a psicanlise fosse levada a srio nos meios cientficos. Sua inclinao para a filosofia ficou limitada a seu crculo mais ntimo e negada quando se tratam de declaraes pblicas. Entretanto, a mesma aparece em seu textos, principalmente nos de sua maturidade e velhice, camuflada sob um pseudnimo: a metapsicologia. A metapsicologia Sob o nome de metapsicologia encontraremos a poro especulativa da psicanlise implicada na construo de seus conceitos de base. A partir da observao dos fenmenos psquicos encontrados no trabalho clnico com as neuroses faz-se necessria a construo de abstraes que permitam explic-los. Os fatos, se considerados isoladamente, no permitem que se compreenda o mecanismo envolvido nos processos psquicos. De tal condio decorre a necessidade da elaborao dos conceitos metapsicolgicos. Essa forma de especulao, entretanto, difere da especulao filosfica por dois aspectos. Ela consequente observao, mantendo-se a ela ligada, e consiste em uma construo provisria, passvel de ser alterada a qualquer tempo, assim que novos fatos que a contradigam sejam observados. Essa duas caractersticas se opem ao apriorismo das causas primeiras, conceitos que, tomados como verdades, determinam a especulao. Em resumo podemos dizer que a especulao metapsicolgica parte da observao para chegar formulao de conceitos de base provisrios enquanto a especulao filosfica se inicia a partir de conceitos a priori. Em A interpretao dos sonhos (1900) ao ressaltar a insuficincia do conhecimento existente sobre o psiquismo Freud anuncia seu procedimento de construo conceitual. No h no momento, nenhum conhecimento psicolgico estabelecido a que possamos subordinar aquilo que o exame psicolgico dos sonhos nos habilita a inferir como base de sua explicao. Pelo contrrio, seremos obrigados a formular diversas novas hipteses que toquem provisoriamente na estrutura do aparelho psquico e no jogo de foras que nele atuam.... nem mesmo partindo da mais minuciosa investigao dos sonhos ou de qualquer outra funo psquica tomada isoladamente, possvel chegar a concluses sobre a construo e os mtodos de funcionamento do instrumento anmico, ou pelo menos, prov-las integralmente (p.543). a partir de diversas hipteses provisrias que se inicia a construo da psicanlise. O jogo de foras, o inconsciente, o conflito psquico so algumas das construes que aparecem desde o incio das produes psicanalticas. Estas, contudo, passam por diversas reformulaes no decorrer do desenvolvimento da psicanlise, de modo que em 1937 Freud, j prximo sua morte, escreve no a compreenso definitiva de sua cincia mas um Esboo de Psicanlise no qual afirma que: Em nossa cincia, tal como nas outras, o problema o mesmo: por trs dos atributos (qualidades) do objeto de exame que se apresenta diretamente nossa
  9. 9. 156 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 156 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. percepo, temos de descobrir algo que mais independente da capacidade receptiva particular de nossos rgos sensoriais e que se aproxima mais do que se poderia supor ser o estado real das coisas. No temos esperana de poder atingir esse estado em si mesmo, visto ser evidente que tudo que de novo inferimos deve, no obstante, ser traduzido de volta para a linguagem de nossas percepes, da qual nos simplesmente impossvel libertar-nos. Mas aqui reside a verdadeira natureza e limitao de nossa cincia (p.210). Em sua vertente terica a cincia psicanaltica se apresenta sempre em construo e de modo algum se prope a oferecer verdades acabadas e definitivas. Ao contrrio, a psicanlise se mostra lacunar e, portanto, aberta para novas contribuies em um contnuo e constante processo de construo. Ao mesmo tempo em que, repetidamente, Freud identifica a psicanlise s cincias naturais, existe a necessidade de estabelecer construes especulativas que possam integrar os elementos observados na clinica. Ao escrever a Histria do movimento psicanaltico (1914) Freud retoma os principais pontos de sua teoria. Seu interesse encerrar uma discusso acerca daquilo que poderia ser, adequadamente, chamado de psicanlise estabelecendo claramente seus postulados e hipteses fundamentais. Ao reconhecer a aproximao entre o resultado de suas pesquisas e o pensamento de alguns filsofos, entre eles Nietzsche, Freud afirma ter negado a si mesmo o enorme prazer da leitura das obras de Nietzsche, com o propsito deliberado de no prejudicar, com qualquer espcie de idias antecipatrias, a elaborao das impresses recebidas na psicanlise. (1914, p.26) Em seguida afirma: Tive portando de me preparar e com muita satisfao para renunciar a qualquer pretenso de prioridade nos muitos casos em que a investigao psicanaltica laboriosa pode apenas confirmar as verdades que o filsofo reconheceu por intuio. (FREUD, 1914, p.26) Concluso O que podemos notar, a partir do recorte acima estabelecido, que Freud se afasta da filosofia na medida em que esta pressupe a especulao como mtodo, na medida em que a intuio ocupa o lugar da pesquisa exeustiva sobre os fenmenos observveis. Trata-se de uma questo metodolgica completamente inserida no tempo histrico em que Freud elabora a psicanlise. Sua formao mdica, o crculo social no qual divulga seus trabalhos e do qual espera obter reconhecimento e o cientificismo caracteristico do pensamento do inicio do sculo XX o levam recusar a filosofia. Esta, entretanto, se apresenta sob a forma de metapsicologia, espao construdo para dar vazo s formulaes especulativas da psicanlise sem que estas entrem radicalmente em contradio com as pretenses cientificas freudianas. Torna-se, portanto, intil a tentativa de enquadrar a psicanlise em qualquer um dos dois sistemas de pensamento. Sempre haver algo que escapa s delimitaes da cincia ou da filosofia. nesse sentido que podemos compreeender as palavras de Freud em seu texto As resistencias psicanlise (1925) Sucede, ento, que a psicanlise nada deriva, seno desvantagens, de sua posio intermediria entre a medicina e a filosofia. Os mdicos a vem como um sistema especulativo e recusam-se a acreditar que, como toda outra existncia natural, ela se fundamenta numa paciente e incansvel elaborao de fatos oriundos do mundo da percepo; os filsofos, medindo-a pelo padro de seus prprios sistemas artificialmente construdos julgam que ela provm de premissas impossveis e censuram-na porque seus conceitos mais gerais (que s agora esto em processo de evoluo) carecem de clareza e preciso. ( p.243).
  10. 10. 157 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 157 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. Notas 1. Psicanalista, doutoranda em Psicologia (UFSC), estgio de doutorado (Paris 7) financiado pela CAPES. 2. Psicanalista, doutor em Psicologia Clnica pela USP, professor colaborador do Programa de Ps- Graduao em Psicologia da UFSC. Referncias Bibliogrficas FREUD, Sigmund. (1890) Tratamento psquico ou anmico In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1900) A interpretao dos sonhos In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1901) Fragmentos da analise de um caso de histeria In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1904), Sobre a psicoterapia In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1905) O chiste em suas relaes com o inconsciente In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1907) Delrio e sonho na Gradiva de Jensen In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1909) O homem dos ratos In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1912) Recomendaes aos mdicos que exercem a psicanlise In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1913) Sobre o inicio do tratamento In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1914) Histria do movimento psicanaltico In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1916) Conferencia XXVIII A transferncia In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1918) Linhas de progresso na terapia psicanaltica In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1920) Alm do principio de prazer In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1925) Resistncias psicanlise In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1927) A questo da anlise leiga In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1932) Conferncia XXXIV - Explicaes, Aplicaes e Orientaes In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1932) Conferncia XXXV A questo de uma Weltanschauung In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. ____. (1938) Esboo de psicanlise In: Edio Standard brasileira das obras psicolgicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
  11. 11. 158 | P s i c a n l i s e , F i l o s o f i a e C i n c i a Valria Ghisi & SrgioScotti 158 Revista Digital AdVerbum 6 (2): Ago a Dez de 2011: pp. 148-158. JONES, Ernest. (1989) Sigmund Freud: Vida e obra. Rio de Janeiro: Imago.