Psicodiagnóstico Tradicional e Interventivo

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    Psicologia: Teoria e Pesquisa

    Jul-Set 2010, Vol. 26 n. 3, pp. 505-513

    Psicodiagnstico Tradicional e Interventivo:

    Confronto de Paradigmas?

    Valria Barbieri1

    Universidade de So Paulo (Ribeiro Preto)

    RESUMO - A atividade psicodiagnstica valorizada na Psicologia por sustentar seu status cientco e fundamentar a identidadeprossional. Embora o Psicodiagnstico Tradicional contraponha atividades avaliativas e teraputicas, o PsicodiagnsticoInterventivo as aproximou, modicao que acarretou consequncias epistemolgicas e metodolgicas. O presente estudoexaminou essa alterao e suas consequncias para o status cientco da Psicologia e para a identidade prossional. Paratanto, realizou-se uma exposio dos paradigmas quantitativo e qualitativo de investigao e uma anlise dos fundamentosepistemolgicos e metodolgicos dessas duas prticas. As concluses revelam que o Psicodiagnstico Interventivo encontra-se coerentemente baseado na perspectiva qualitativa, ao contrrio do Tradicional, que apresenta embates paradigmticosinternos. Diante disso, o Psicodiagnstico Interventivo oferece aos psiclogos um modelo de identicao prossional maisslido que o Tradicional.

    Palavras-chave: epistemologia; metodologia; cincia; psicodiagnstico tradicional; psicodiagnstico interventivo.

    Traditional Psychodiagnosis and Therapeutic Assessment:

    Paradigms Confrontation?

    ABSTRACT - Psychodiagnostic activity is appreciated in Psychology for sustaining its scientic status and supporting theprofessionals identity. Although the Tradicional Psychodiagnosis contrasts diagnostic and therapeutic activities, the TherapeuticAssessment has approximated them. This change has generated epistemological and methodological consequences. The presentstudy analyzed such a change and its consequences to Psychologys scientic status and professionals identity. To achieve thisgoal, a presentation of the quantitative and qualitative investigation paradigms and an examination of the epistemological andmethodological foundations of those practices were accomplished. The conclusions show that the Therapeutic Assessment iscoherently founded on the qualitative approach, in contrast to the Traditional Psychodiagnosis that presents internal paradigmaticcontradictions. Given this, the Therapeutic Assessment offers psychologists a more solid basis for professional identicationthan the Traditional Assessment.

    Keywords: epistemology; methodology; science; traditional psychodiagnosis; therapeutic assessment.

    1 Endereo para correspondncia: Departamento de Psicologia e Edu-cao, Faculdade de Filosoa, Cincias e Letras de Ribeiro Preto,Universidade de So Paulo (FFCLRP-USP), Bloco 5. Av. Bandeirantes,3900, Monte Alegre, Campus Universitrio. Ribeiro Preto, SP. CEP14040-901. Fone: (16) 3602 37 98.E-mail: [email protected]; [email protected].

    A atividade diagnstica destaca-se na Psicologia por duasrazes: (a) garante ostatus cientco dessa rea de conheci-mento por empregar instrumentos que atendem exigncias de

    padronizao; (b) constitui o marco distintivo da identidadeprossional do psiclogo, pelo carter privativo do uso detestes psicolgicos.

    Em Psicologia Clnica, o diagnstico um passo anterior psicoterapia, tendo como objetivo investigar os recursose diculdades do indivduo e indicar a interveno apro-

    priada. Embora tenha pontos de contato com a psicoterapia(e.g., identicao dos conitos nodais da personalidade,considerao de uma complexa interao dinmica de va-riveis) apresenta marcada diferena com ela, uma vez queintervenes teraputicas no fazem parte do seu processo.

    Nesse sentido, a sesso destinada devoluo dos resultadostem um intuito principalmente informativo, embora nela pos-sam sobrevir, de maneira involuntria, efeitos teraputicos.

    Essas ocorrncias levaram prossionais e pesquisadores ase interessarem pelos mecanismos teraputicos presentesna avaliao psicolgica, surgindo investigaes sobre sua

    potencializao e viabilidade de atualizao. Nasceu assimo Psicodiagnstico Interventivo (ou Avaliao Teraputica),cuja principal caracterstica a realizao de intervenes(assinalamentos, interpretaes, holding) durante as entre-vistas e aplicaes de tcnicas projetivas.

    Essa variao em relao ao Psicodiagnstico Tradicionalacarreta modicaes nesse processo que extrapolam o m-

    bito prtico, alcanando o tico, o terico, o metodolgico eo epistemolgico. Essas modicaes devem ser examinadasminuciosamente a m de avaliar se o Psicodiagnstico In-terventivo pode ser considerado uma vertente do Tradicionalou est se constituindo como campo de trabalho diverso.

    Nesses termos, este estudo visa examinar as diferenase semelhanas entre o Psicodiagnstico Tradicional e o In-terventivo em termos de seus fundamentos epistemolgicose metodolgicos. Tal anlise ter como objetivo averiguarse o Psicodiagnstico Interventivo comprometeria a consi-derao da Psicologia como cincia e se agiria como fatordesintegrador da identidade prossional do psiclogo. Paratanto, sero expostos e debatidos os fundamentos loscos

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    dos paradigmas quantitativo e qualitativo, as peculiaridadesmetodolgicas das pesquisas vinculadas a eles e as atuais

    posies quanto s suas possibilidades de integrao. Emseguida sero apresentadas as caractersticas e formas deorganizao do Psicodiagnstico Tradicional e do Interven-tivo, e analisados os seus pressupostos epistemolgicos emetodolgicos. Por m, ser efetuada uma comparao entre

    eles luz do debate anterior.

    Paradigmas Quantitativo e Qualitativo de

    Investigao Cientfca: Epistemologia

    A relao correntemente estabelecida entre as perspectivasqualitativa e quantitativa de investigao de rivalidade, oque conduz a um debate terico em que uma s se dene poroposio outra (Davila, 1995). Esse antagonismo foi criticado

    por Gutirrez e Delgado (1995) e por Conde (1995a, 1995b),por transformar em simples discusso metodolgica o queseria, na verdade, duas abordagens diferentes de construoda realidade. Assim, as tcnicas e prticas de investigao

    prprias de cada perspectiva no rastreiam um fenmeno quej estava l, esperando para ser descoberto, mas edicamresultados, produtos e nveis diferentes do real (Gutirrez &Delgado, 1995). Evidentemente, isso no signica que os pa-radigmas no devam ser continuamente questionados quanto sua validade, rigor, utilidade e aplicabilidade.

    Um paradigma denido como um conjunto de modelosde investigao que inclui lei, teoria, aplicao e instrumentosde pesquisa (Pacheco Filho, 2000a). Ele estabelece uma sriede denies, entre elas quais seriam os fenmenos passveisde investigao (os que podem ser traduzidos para a lingua-gem do paradigma), os mtodos e tcnicas para faz-lo, almdos conceitos a serem utilizados na interpretao dos dados.Assim, haveria um direcionamento da pesquisa para aquiloque o paradigma considera importante e, com exceo deuma faixa pequena de variao, os resultados das pesquisas

    permaneceriam dentro de uma margem de previsibilidade.Dessa maneira, qualquer perspectiva de investigao,

    quantitativa ou qualitativa, parte de pressupostos que confor-mam e restringem o signicado dos dados e, em consequncia,as concluses que adviriam deles. Nos termos de McGrath eJohnson (2003), a metodologia faz o signicado, j que tudoaquilo que ns sabemos, ns apenas o sabemos no contextodas pressuposies dos paradigmas e dos instrumentos de co-leta de dados privilegiados por eles. Como os paradigmas soconstitudos no contexto de determinantes histricos, polticos,

    socioeconmicos e culturais, necessrio considerar suascaractersticas metodolgicas no seio desses determinantes.

    Contextualizao Histrico-Filosfca dos

    Paradigmas Quantitativo e Qualitativo

    Embora Conde (1995a) situe as origens das perspecti-vas quantitativa e qualitativa nos pensamentos de Plato eAristteles, respectivamente, as razes da primeira podemser retroagidas at a losoa pr-socrtica de Pitgoras, que

    preconizava a reduo dos fenmenos empricos mate-mtica. A despeito dessa origem longnqua, foi somente no

    Renascimento que a perspectiva quantitativa oresceu. Nocontexto scio-histrico da queda do feudalismo e ascensoda burguesia, implicando que a ordem social era dinmica eno esttica, os dogmas da Igreja foram postos em questo,surgindo preocupaes com o desenvolvimento de mtodosde produo e avaliao da legitimidade do conhecimento,que ultrapassassem as distores introduzidas pela falibili-

    dade humana.Do ponto de vista da losoa da cincia, os fundamentosda perspectiva quantitativa tambm podem ser remetidos ao

    positivismo lgico do chamado primeiro crculo de Viena(Proctor, 2005). Seu pressuposto era o de que existia ummundo material ordenado, xo e cognoscvel via racioc-nio disciplinado e aplicao correta e sistemtica de umametodologia especca (Hanson & Grimmer, 2007); comisso, o caminho a trilhar para ascender dos dados empricosat as leis gerais sobre a natureza (mtodo) ocupou lugar dedestaque (Pacheco Filho, 2000b). Os fenmenos sociais e psi-colgicos teriam uma realidade concreta e independente do

    pesquisador (objetivismo) e suas relaes seriam investigadasem termos de efeitos causais. Nesse sentido, as abordagensquantitativas adotariam uma metodologia nomottica, porsua caracterstica de coletar e assimilar os fatos visandoformular leis imutveis e universalmente aplicveis, ou seja,generalizar (Gelo, Braakmann & Benetka, 2008).

    A preocupao com a objetividade tornou-se importante,e sua determinao exigia procedimentos que impedissem oudiminussem a necessidade do julgamento. Conceitos comodedignidade, validade e signicncia estatstica passarama ser usados criteriosamente, com o propsito de descrever

    partes da realidade com certo grau de certeza (Hanson &Grimmer, 2007). Os pesquisadores seriam espectadoresobjetivos da natureza, isentos da inuncia de suas leis, oque lhes conferia umstatus epistemolgico superior ao dossujeitos/objetos de estudo. Os instrumentos deveriam permitira medio dos fenmenos, o que forneceria insightsobre anatureza essencial da realidade (matemtica). Os experimen-tos, que haviam sido introduzidos por Galileu, tornaram-se oideal metodolgico da pesquisa cientca (Conde, 1995a) que

    privilegiava a validade interna do conhecimento (produzidonos laboratrios) em detrimento da externa (transposio doconhecimento para o mundo concreto).

    Por sua vez, o paradigma qualitativo, conforme originadono pensamento de Aristteles, preconizava uma aproximaoda natureza no que ela possua de mais sensvel e concreto,

    propondo como mtodo para a sua averiguao a observa-o, a descrio e a comparao de exemplares. Assim, ele compatvel com uma metodologia idiogrca (Gelo & cols.,2008; Hanson & Grimmer, 2007), que busca a representaode um evento singular, de uma realidade temporalmente limi-tada, visando compreender o fenmeno em sua factualidade.

    A despeito de apresentar origens na Antiguidade, apossibilidade de fazer pesquisa qualitativa tornou-se umarealidade somente a partir da dcada de 1960, com o interesseno pluralismo epistemolgico, metodolgico e cultural. Odescontentamento com os rumos positivistas que tomava ainvestigao dos fenmenos sociais levou vrios cientistasa proporem uma abordagem contextualizada e holsticados seres humanos. As vises de mundo subjacentes a essa

    perspectiva incluam o subjetivismo, que concebe a expe-

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    rincia subjetiva como fundamental em qualquer processode conhecimento, e o construcionismo, que considera oconhecimento como uma construo resultante da interaoentre os indivduos e o mundo social (Gelo & cols., 2008).Observar, descrever e compreender tornaram-se as novas

    palavras de ordem, e o empreendimento do cientista passoua ser a construo e gerao do conhecimento, ao invs da

    conrmao ou refutao de hipteses (Bamberg, 2003).Os alicerces da abordagem qualitativa integram as tra-dies loscas da Fenomenologia (estudo do fenmenomental conforme experimentado pela prpria pessoa), da Her-menutica (compreenso dos fenmenos a partir do ponto devista do outro) e do Interacionismo Simblico (consideraoda ao humana como baseada em signicados construdosna interao social) (Gelo & cols., 2008).

    De acordo com essas fundamentaes, foi atribudo umpapel central aos sujeitos da pesquisa (agora chamados par-ticipantes), s suas experincias pessoais singulares e suarelao com o pesquisador; ainda, o distanciamento afetivo doinvestigador foi considerado prejudicial para a compreensodo comportamento humano (McGrath & Johnson, 2003). Comisso, houve uma redenio dostatus dos dados colhidos, desua anlise e interpretao, bem como do que poderia contarcomo conhecimento: este passou a ter como objetivo no ocontrole e a predio, mas a expanso da capacidade humana

    para a ao, o seu potencial de transformao da realidade.

    Metodologias Quantitativa e Qualitativa de

    Investigao Cientfca

    Os pressupostos loscos das abordagens quantitativase qualitativas de investigao se reetem em suas distintasmetodologias, ou seja, no conjunto de regras, princpios econdies formais que guiam a investigao cientca. As-sim, os designs de pesquisa quantitativa e qualitativa variam,incluindo os mtodos de seleo da amostra, coleta, anlisee interpretao dos dados (Gelo & cols. 2008).

    Davila (1995) descreve a pesquisa quantitativa comosistematizada por uma srie de passos sucessivos e organi-zados, cada um responsvel pelo seguinte. Das hipteses sconcluses haveria um conjunto de normas a seguir (mtodo),com o incio de uma investigao sendo o momento em quetudo se dene. Essa rotinizao de procedimentos causa aimpresso de autonomia do processo, com o mtodo adqui-rindo supremacia sobre o problema investigado, que deve sermoldado, contrado e distendido em sua funo.

    J no enfoque qualitativo, o incio da investigao no omomento decisivo, mas apenas uma tarefa entre outras, todas

    passveis de reformulaes. No se subentende uma padroni-zao de procedimentos, pois o objetivo nal (transformaoda realidade e produo de conhecimento socialmente til) queos sobredetermina, tendo primazia sobre o mtodo. Ele novisa o controle do fenmeno, mas sua compreenso, a buscado sentido da experincia vivida pelos participantes. Para tanto,o pesquisador examina os modos como as aes humanas eas identidades sociais esto localmente constitudas no uxode uma vida social e cultural (Marecek, 2003).

    O tipo de conhecimento informado pelas perspectivasquantitativa e qualitativa diverge: a primeira gera a desco-

    berta de leis que regem uma realidade, visando sua generali-zao; a segunda gera signicados, conceitos, novas teoriasou revises de antigas. Quanto denio da amostra, a

    perspectiva quantitativa busca atender o critrio da repre-sentatividade estatstica, o que torna a quantidade de sujeitosum tema importante. J na abordagem qualitativa, trabalha--se com um nico indivduo ou com um grupo composto

    por pessoas que de fato esto juntas na realidade. O que setorna relevante no o nmero de sujeitos, mas a natureza dacomposio do grupo, sendo os critrios de seleo empre-gados os de compreenso, pertinncia e riqueza informativa(Gelo & cols., 2008). Os sujeitos so vistos como autores do

    processo de construo do conhecimento, em colaboraocom o pesquisador.

    No que concerne aos procedimentos de coleta de dados,Conde (1995b) pondera que o nvel de realidade construdo

    pelas perspectivas que d sentido ao seu emprego. Dessemodo, as diretrizes quantitativas requerem instrumentos ca-

    pazes de medir uma varivel especca da maneira mais purapossvel (isolando-a dos efeitos do contexto), para identicarrelaes de causa e efeito em termos de seus determinantes

    proximais e imediatos. Acrescente-se que a escolha do ins-trumento tambm denida em termos de sua adequaoaos procedimentos de anlise estatstica a que os dados serosubmetidos. Por sua vez, os instrumentos determinam o tipode questes a serem pesquisadas, que devem ser passveis decaptao e mensurao por eles.

    J na pesquisa qualitativa, por seu compromisso deinterrogar a subjetividade e sua nfase na diversidade derespostas, uma situao examinada por meio da coleta dedados de mltiplas e variadas fontes, com o pesquisador de-vendo determinar o que ela signica para os seus integrantes.Os instrumentos privilegiados so abertos, considerandoque a melhor forma de alcanar uma viso mais adequadada pessoa completa por meio da liberdade de expresso.Essa liberdade no signica que o pesquisador qualitativoinicie a sua empreitada sem pressuposies, j que a adoode qualquer paradigma implica numa pr-denio dos fe-nmenos passveis de investigao. Sem essas teorias ouideias anteriores, ele no conseguiria selecionar quais desuas observaes seriam consideradas como dados; mesmoassim, o emprego de mtodos mais indutivos deixa o caminhoaberto para o encontro com o novo e o inesperado. Contradi-zendo o princpio de que a conduta do examinador deve ser

    padronizada para minimizar sua inuncia nos resultados,no paradigma qualitativo ele tem um papel vital na coleta,anlise e interpretao dos dados. No que concerne coleta,os dados so criados conjuntamente por ele e pelos respon-dentes, sendo que o relacionamento entre ambos determina,em parte, aquilo que dito (Kvale, 2003).

    A anlise dos resultados no paradigma quantitativoconsiste em um passo posterior coleta e visa descobrir re-lacionamentos causais entre variveis. Assim, ela segue umadireo que vai do descritivo ao inferencial (Gelo & cols.,2008). J nas abordagens qualitativas, a anlise acontecesimultaneamente coleta dos dados: a partir do momentoem que entra em contato com a informao, o pesquisador aanalisa e interpreta. Com isso, em todo momento so feitasdevolues ao indivduo ou grupo em estudo, sendo que o pesquisador que se constitui na unidade de investigao

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    (Davila, 1995). H, portanto, uma interao contnua entreavaliao e interveno, cada uma se constituindo e sendoconstituda pela outra. Essa simultaneidade no desobrigao cientista de se debruar posteriormente sobre os dados,

    buscando maior sistematizao deles (Barbieri, 2008). Nessaetapa, uma das principais diculdades consiste em selecionara partir da enorme quantidade de dados obtidos; contudo, a

    maior liberdade que o pesquisador dispe permite considerardistines renadas, excees e padres complexos de rela-o entre eles. Os tipos mais comuns de anlise realizadosso a temtica e a de contedo (Gelo & cols., 2008).

    Com relao s limitaes de cada perspectiva de in-vestigao, Gelo e cols. (2008) alertam que, no caso dasmetodologias quantitativas, a denio da medida comomera designao de nmeros a objetos e eventos de acordocom regras especcas leva a uma codicao ambguados fenmenos mentais. Essa ambiguidade, acrescida slimitaes dos procedimentos estatsticos, poderia acarretardiculdades para obter um claro entendimento do fenmenooriginal no momento da anlise (ontologia da varivel) e paraalcanar uma interpretao terica signicativa sobre ele eseus relacionamentos com outros fenmenos (epistemologiada varivel). Rozin (2009), por sua vez, atenta que a sosti-cao metodolgica das abordagens quantitativas no devesuplantar o interesse pelo que as pessoas fazem no mundo real.Quanto abordagem qualitativa, Yanchar, Gantt e Clay (2005)armam que ela tambm apresenta limites no que concerne aoestudo da experincia humana. Segundo eles, como o pontofocal das experincias muda durante o processo de reexo,as pessoas nunca so capazes de examin-las completamenteno momento em que passam por elas. Em outras palavras,quando algum chamado a reetir sobre sua experincia, ofoco muda da vivncia concreta imediata para a anlise dela,que geralmente ocorre de forma retrospectiva. Assim, persistecerto distanciamento tanto do participante com relao pr-

    pria experincia, quanto do investigador, que a compreende ea interpreta em funo do paradigma que adota.

    No que diz respeito capacidade de generalizao dosdados, McGrath e Johnson (2003) sustentam que tanto osestudos experimentais como os naturalsticos so fracos.Segundo eles, as investigaes experimentais no podemreivindicar alm dos sistemas articiais nelas construdos.Do mesmo modo, as investigaes qualitativas no podemarmar alm dos sistemas naturais includos em seus estudos.

    Considerando as limitaes das duas perspectivas, Ort(1995) sustenta que elas devem manter uma relao decomplementaridade por decincia. Posio semelhante defendida por Conde (1995b), que sugeriu a existncia de umcontinuum entre ambas. Essa integrao endossada tambm

    por outros pesquisadores, que argumentam que a atitude deconsider-las como opostas leva a negligenciar seus aspectoscomuns; por exemplo, ignora-se que mesmo os pesquisadoresexperimentais no se aferram ferozmente a hipteses prvias,

    j que no raro haver reformulao delas aps uma anlisepreliminar dos dados (Marecek, 2003). Tambm o acordo in-tersubjetivo entre pesquisadores, uma das formas de calcularo nvel de objetividade do conhecimento, compartilhado

    por ambas as perspectivas. Nesse sentido, muitas pesquisasmisturam mtodos e tcnicas quantitativas e qualitativas(Hanson & Grimmer, 2007).

    Compartilhando dessa tendncia integrao das pers-pectivas, Gelo e cols. (2008) descrevem uma nova abordagemque vem sendo desenvolvida nas ltimas dcadas, aMixed

    Methods Research (MMR). Eles consideram que haveriaquatro instncias principais para a combinao dos dois pa-radigmas: (1) pensar dialeticamente sobre a integrao deles;(2) usar um novo paradigma; (3) ser pragmtico; e (4) colo-

    car a compreenso substantiva em primeiro lugar (tambmconhecida como concept-driven research). Em termos dosdelineamentos de pesquisas, os designs mais conhecidos daMMR seriam a triangulao (utilizao, na mesma pesquisa,de mtodos quantitativos e qualitativos, sem haver suprema-cia de um sobre o outro), o embutido (em que um conjuntode dados desempenha um papel secundrio e de apoio paraum estudo de outro tipo), o explanatrio (que obtm dadosquantitativos para depois explic-los usando dados qualita-tivos) e o exploratrio (uso de resultados qualitativos parainformar resultados de um mtodo quantitativo). O MMRapresenta procedimentos especcos para a denio daamostra, coleta, anlise e interpretao dos dados, segundo odesign do estudo e sua caracterstica monofsica ou bifsica.

    Outro representante da tendncia integrao dos pa-radigmas Proctor (2005). Ele sustenta que, embora os

    paradigmas paream manter uma unidade, as mudanas naontologia, metodologia e epistemologia ocorrem de modoindependente. Desse modo, ele defende uma abordagemnaturalstica da cincia, considerando que as armaessobre a metodologia e as prticas cientcas no podem ser

    justicadas por argumentos ontolgicos, mas devem seravaliadas empiricamente, do mesmo modo que as hiptesesou teorias, quanto sua capacidade de permitir progressos.

    Yanchar e cols. (2005), por sua vez, adotam a perspec-tiva da concept-driven research. Eles armam que poucoconhecimento cientco genuno tem sido gerado por meioda adoo rgida de qualquer um dos dois paradigmas, jque eles possibilitam certos tipos de compreenso, masimpedem outros, crtica vlida tambm para o pluralismometodolgico. Como alternativa, eles propem a chamadaMetodologia Crtica, que envolve, alm da reexo e revisodos mtodos antigos, o desenvolvimento de novos, baseadosnas exigncias da explorao terica e em sua autoavaliaocrtica. Assim, eles recomendam uma atitude de esclarecer

    pressupostos loscos e explorar abordagens no ortodoxase criativas para a pesquisa cientca. Nesse caso, os mtodosse tornariam orientados para a prtica e se conformariam ssutilezas de questes especcas dentro de um programa de

    pesquisa. As inovaes metodolgicas seriam vistas como umprocesso que ocorre sincronicamente com um exame crtico erenamento dos pressupostos bsicos do pesquisador, temasda pesquisa e teoria.

    A nosso ver, essas propostas de integrao so aindacriticveis, porque nenhuma delas resolveu a questo sub-

    jacente da contradio dos paradigmas. No caso da MMR,trabalha-se ao mesmo tempo com mltiplas vises de mun-do nem sempre coerentes entre si, o que acarreta perda desolidez e de senso de unidade da pesquisa. Na perspectivanaturalstica, o critrio de ordem superior de valorao da

    pesquisa, de natureza exclusivamente emprica, consistentecom uma viso funcionalista do mundo, passvel de promoverno o avano, mas o retrocesso do conhecimento cientco.

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    Psicodiagnstico Tradicional e Interventivo

    Finalmente, no que diz respeito Metodologia Crtica, elaprovoca somente um deslocamento da idolatria do mtodopara a da teoria. Ainda, a proliferao de metodologias queessa abordagem fomenta acompanhada do risco de que elas

    passem a fazer sentido somente no contexto de uma ou pou-cas teorias. Com isso, o dilogo cientco e a possibilidadede avaliao da qualidade do conhecimento obtido cam

    comprometidos. Diante dessa situao, sustentamos quea integrao bem sucedida das abordagens metodolgicasquantitativa e qualitativa deve ser necessariamente acompa-nhada por desenvolvimentos na losoa da cincia, que ato momento no tm sido satisfatrios para promover umafundamentao estvel que sustente tal integrao.

    Marecek (2003) considera a complementaridade entre asduas abordagens como um mito, por torcer a discusso paraum foco meramente metodolgico. Camic, Rhodes e Yardley(2003) acrescentam que mesmo quando se trata somente deuma questo de mtodo, as abordagens quantitativas e qua-litativas podem produzir resultados contraditrios a respeitodo mesmo fenmeno.

    Embora cada paradigma tenha as suas virtudes e apresenteproblemas diferentes, mas igualmente srios, a maior parte daPsicologia Acadmica apresenta forte preferncia pelas abor-dagens quantitativas (Aguinis, Pierce, Bosco & Muslin, 2009;Ato & Hox, 2009; Gelo & cols., 2008; Hanson & Grimmer,2007; Rozin, 2009). Camic e cols. (2003) armam que, como

    prosso, a Psicologia geralmente considera que os nmerosso mais reais do que as palavras, e que as respostas a testestipo lpis e papel so mais verdadeiras do que s entrevistas.

    Diante dessas consideraes, e atentando para o fato deque o Psicodiagnstico (Tradicional) visto como um dos

    pilares que garantem a autenticidade cientca da Psicologia,o exame de seus fundamentos e formas de realizao soba tica dos paradigmas cientcos discutidos importante

    para averiguar a coerncia dessa prtica e as diculdadesque ela impe.

    Psicodiagnstico Tradicional:

    Defnio, Objetivos e Organizao

    O processo psicodiagnstico aqui debatido refere-sequele descrito por Ocampo, Arzeno e Piccolo (1979/1986),modelo mais difundido na Amrica Latina. Ele resultou deuma srie de modicaes ao longo da histria da Psico-logia, iniciadas com a adoo, pelo psiclogo, do modelomdico, visando localizar nos protocolos dos testes sinais

    de patologias especcas2, at a incorporao do referencialpsicanaltico em sua realizao. De acordo com Ocampo ecols., essa incorporao deveria ser parcial, restrita utili-zao de conceitos da Psicanlise para a interpretao domaterial produzido pelo paciente. A transposio da din-mica do processo psicanaltico para a avaliao psicolgicaera energicamente reprovada, j que isso signicava aceitarcondutas do paciente como atrasos, silncios e produesespontneas, muitas vezes incompatveis com a atitude

    2 Ainda hoje a denio de sinais psicopatolgicos nas tcnicas de ava-liao constitui um tema importante na literatura da rea e uma prticaregular entre prossionais.

    necessria para responder aos instrumentos de exame. Ossettings avaliativo e teraputico foram claramente diferen-ciados, o que implicava que no primeiro no havia lugar paraintervenes. Os psiclogos que buscaram aproximar essesdois processos foram vistos como prestando um desservio

    prosso, acusados de distorc-la devido sua identicaocom o psicanalista.

    A compreenso de Ocampo e cols. (1979/1986) sobre oPsicodiagnstico Tradicional foi sumariada por Cunha, Frei-tas e Raymundo (1986), que o deniram como um processotemporalmente limitado, que emprega mtodos e tcnicas

    psicolgicas para compreender os problemas, avaliar, classi-car e prever o curso do caso, culminando na comunicaodos resultados. Ele teria um carter cientco porque parte deum levantamento prvio de hipteses, a serem conrmadas ouno por passos predeterminados, e seria estabelecido to logoas entrevistas permitissem levant-las. Ele teria como objetivoconseguir uma descrio e compreenso profunda e completada personalidade do paciente, visando explicar a dinmica docaso no material recolhido, integrando-o num quadro global

    para, a partir da, formular recomendaes teraputicas.Os passos necessrios para alcanar esses objetivos

    seriam:

    1) Entrevista inicial com o paciente, para conhec-loe extrair informaes visando formular hipteses

    para planejar a bateria de testes a aplicar. Tais hi-pteses seriam traduzidas em forma de perguntasnorteadoras do processo subsequente.

    2) Aplicao de testes para investigar as hiptesesanteriores. Cunha e cols. (1986) concordam que os

    problemas do encaminhamento so reformuladospelo psiclogo em termos diretamente relacionadoscom as tcnicas e mtodos que utiliza. A bateriade testes deve ser aplicada em uma sequncia es-

    pecca, considerando o aspecto avaliado por cadaum, seu nvel de estruturao e carter ansiognico.Ocampo e cols. (1979/1986) armam que os testes

    projetivos so fundamentais na avaliao porqueapresentam padronizao, o que confere uma se-gurana importante ao diagnstico.

    3) Entrevista devolutiva, cujo objetivo comunicar aopaciente o que se passa com ele e orient-lo comrelao conduta a ser seguida. Ocampo e cols.(1979/1986) sustentam que a transmisso da infor-mao o objetivo bsico dessa entrevista, mas, svezes, ela adquire uma importncia transcendental,quando nela surgem lembranas reprimidas ou ati-tudes inesperadas que podem alterar o plano tticoantes construdo.

    4) No caso de encaminhamento, h redao de informepara o prossional remetente.

    Com relao coleta de dados na entrevista inicial, Cunhae cols. (1986) armam que dependendo dos objetivos doPsicodiagnstico a abordagem se torna menos diretiva ouformal, porque se busca compreender a pessoa em relaocom as circunstncias e acontecimentos de sua vida presen-

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    te e passada. Assim, visa-se descrever o problema atual ecoloc-lo numa perspectiva histrica para apreender o seusignicado dentro de um processo vital, num contexto tem-

    poral, afetivo e social.Com referncia aos potenciais efeitos teraputicos da en-

    trevista devolutiva, eles so considerados por Ocampo e cols.(1979/1986) como involuntrios, j que o objetivo de todo

    o processo seria meramente o diagnstico, e intervenesteraputicas nesse momento seriam consideradas perigosas,podendo prejudicar o vnculo com o prossional e provocarabandono, por parte do paciente, pela ansiedade.

    Psicodiagnstico Tradicional e Cincia

    A assero de Cunha e cols. (1986) de que o Psico-diagnstico um processo cientco porque parte de umlevantamento de hipteses a serem ou no conrmadas

    por meio do seguimento disciplinado de passos especcos(mtodo) revela sua concepo no paradigma quantitativode investigao (Davila, 1995; Hanson & Grimmer, 2007).Esse trabalho permitiria ascender dos dados empricos for-necidos pelo paciente at a sua classicao em categoriasgerais (Gelo & cols., 2008). A sistematizao do processoem passos implica numa rotina de procedimentos que limi-ta a liberdade do psiclogo, que ca restrita escolha dosinstrumentos que empregar.

    A necessidade de traduzir as hipteses levantadas naentrevista em termos do que os instrumentos podem respon-der requer a realizao de recortes, adies, alongamentos,contraes e distores na problemtica apresentada pelo

    paciente. Assim, as tcnicas de avaliao psicolgica deter-minariam o que pode ser apreendido dos casos especcos.

    Nessa condio, em que a resposta est presente antes dapergunta, o conhecimento produzido permanece esttico,repetitivo e deformado pelos ajustes que o fenmeno passou

    para adaptar-se ao que seria investigvel pelas tcnicas.Ocampo e cols. (1979/1986) armam que os testes

    so importantes no Psicodiagnstico por apresentarempadronizao, ou seja, atenderem aos requisitos cientcosdos instrumentos das abordagens quantitativas (Hanson& Grimmer, 2007); tais caractersticas constituem-se emcritrios primordiais de sua escolha, pressupondo queelas garantiriam o status cientco do processo com-

    pleto. Esses critrios tambm so exigidos das tcnicasprojetivas, mesmo ao custo da negao de suas razesepistemolgicas, j que seu bero paradigmtico con-

    siste na perspectiva clnico-qualitativa de investigao.Finalmente, a separao entre investigao e interveno outra semelhana entre o Psicodiagnstico Tradicionale o paradigma quantitativo.

    Contudo, ilusrio acreditar em uma identicao un-voca entre o Psicodiagnstico Tradicional e a perspectivaquantitativa, uma vez que algumas de suas caractersticasopem-se frontalmente aos pressupostos dessa abordagem.

    Nesse sentido, o reconhecimento de Cunha e cols. (1986)de que no Psicodiagnstico existe uma grande complexi-dade de variveis, comparvel da situao teraputica, ea considerao de que o seu objetivo obter uma descrioe compreenso profunda e completa do paciente est enrai-

    zado indiscutivelmente no paradigma qualitativo (Bamberg,2003; Gelo & cols., 2008). O alcance desse intuito, todavia, incompatvel com uma metodologia de comprovao/refutao de hipteses que prev passos pr-denidos parao seu desenvolvimento, e com a mutilao dos problemasexistentes na vida real para encaix-los na cama de Procustodos testes psicolgicos.

    Ainda, no Psicodiagnstico Tradicional, a diretriz de quea escolha dos testes deve basear-se em critrios de validadee preciso estatsticas pressupe buscar a avaliao de vari-veis puras, isoladas do contexto de vida da pessoa, j quequanto maiores os ndices de validade e preciso, maior seriaessa pureza. No entanto, no momento da sntese nal, seusresultados devem ser inseridos no contexto de vida do indi-vduo, de modo a informar sobre as relaes deles com suascircunstncias pessoais passadas e presentes (Cunha & cols.,1986); enm, novamente busca-se um objetivo qualitativo

    por meio de instrumentos quantitativamente padronizados.Quanto s tcnicas projetivas, que permitem averiguar demodo mais coeso diversas variveis em interao e, assim,ascender singularidade do paciente, sua utilizao permane-ce restrita indicao dos nveis de integridade das funesegoicas, ou seja, adaptao do indivduo realidade. Comisso, no se alcana o sentido psicolgico da experincia,

    permanecendo-se num plano formal.Diante dessa situao, muitos psiclogos dedicados

    avaliao psicolgica defendem que a combinao de tcni-cas quantitativas e qualitativas conferiria ao seu trabalho umcarter mais abrangente e uma compreenso mais completado paciente. Contudo, esse argumento sujeito s mesmascrticas atribudas s propostas de integrao das duas abor-dagens, j que persiste o problema da desarmonia na junodos paradigmas devido ausncia do debate epistemolgi-co. Tangenciando o mbito paradigmtico, a resoluo dascontradies tentada no nvel da operacionalizao prtica,

    basicamente no uso dos recursos do prossional, que se tor-na o elemento responsvel por fazer uma articulao coesadaquilo que no pode ser integrado.

    Em suma, o modo de organizao e execuo do Psico-diagnstico Tradicional no permite atingir o seu objetivode obter uma compreenso profunda, integrada e completade uma pessoa em sua singularidade. Nesse contexto, nofaz sentido opor os processos Psicodiagnstico Tradicionale Interventivo em termos de suas diferenas de paradigmas,

    j que estes se embatem e se confrontam dentro do prpriomodelo clssico de avaliao. Considerando que exatamen-te essa prtica contraditria que dene a nossa identidade

    prossional, o psiclogo apareceria como uma sobreposiodissociada das identidades do mdico, do fsico e do psica-nalista, ou seja, um falso Self.

    Psicodiagnstico Interventivo

    Embora a prtica do Psicodiagnstico Interventivo tenhasido sistematizada na dcada de 1990, possvel encon-trar menes a ela j em 1935, quando Morgan e Murraydebateram o uso do Teste de Apercepo Temtica (TAT)na psicoterapia, assunto que foi retomado por Bellak em1974. Logo depois, Friedenthal (1976) props a aplicao

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    Psicodiagnstico Tradicional e Interventivo

    do Teste de Relaes Objetais (TRO) acompanhada por per-guntas, assinalamentos e interpretaes. Mais recentemente,destacam-se os trabalhos de Finn (1994), que se dedicou Therapeutic Assessment utilizando o Inventrio Multif-sico Minnesota de Personalidade Forma 2 (MMPI-2) e,no Brasil, os de Ancona-Lopez e cols. (1995), num enfoquefenomenolgico-existencial. Assim, existem maneiras di-

    versas de realizar o Psicodiagnstico Interventivo, baseadasem diferentes referenciais tericos e/ou utilizando variadostipos de instrumento, no se podendo falar de uniformidadede procedimentos ou de unanimidade paradigmtica.

    O Psicodiagnstico Interventivo abordado neste estudo aquele concebido no contexto do referencial psicanalticode compreenso da personalidade, instrumentalizado pelastcnicas projetivas e entrevista clnica. Ele comeou a sermais bem delineado no incio do ano 2000 (Barbieri, 2002)e, a partir da, novas contribuies no cessaram (Tardivo,2006; A. M. T. Trinca, 2003; Vaisberg, 2004). descendentedo Psicodiagnstico Compreensivo (W. Trinca, 1984) queabrange as dinmicas intrapsquicas, intrafamiliares e so-cioculturais como foras em interao, formando uma teiaque pode resultar em sofrimento e desajuste. Essa tramaconferiria um signicado idiossincrtico para a experinciado indivduo e para o seu sintoma.

    O Psicodiagnstico Interventivo de orientao psicanal-tica no se organiza em termos de passos a serem seguidos,mas de eixos estruturantes que compartilha com o Psicodiag-nstico Compreensivo:

    1) Objetivo de elucidar o signicado latente e as ori-gens das perturbaes;

    2) nfase na dinmica emocional inconsciente dopaciente e de sua famlia;

    3) Considerao de conjunto para o material clnico;

    4) Busca de compreenso globalizada do paciente;

    5) Seleo de aspectos centrais e nodais para a com-preenso dos focos de angstia , das fantasias emecanismos de defesa;

    6) Predomnio do julgamento clnico, implicando nouso dos recursos mentais do psiclogo para avaliara importncia e o signicado dos dados;

    7) Subordinao do processo diagnstico ao pensamen-to clnico: ao invs de existir um procedimento uni-forme, a estruturao do psicodiagnstico depende dotipo de pensamento clnico utilizado pelo prossional;

    8) Prevalncia de mtodos e tcnicas de exames fun-damentados na associao livre, como entrevistaclnica, observao, testes psicolgicos utilizadoscomo formas de entrevistas, cujos resultados soavaliados por meio da livre inspeo.

    A adoo desses eixos permite alcanar a compreenso dapessoa em sua singularidade, o que essencial para realizar

    intervenes. Portanto, h pouco lugar para interpretaesoriundas dos estudos de padronizao de testes psicolgicos.

    A realizao de devolutivas no tem apenas o intuito deinformar o paciente, como acontece no trabalho tradicional,mas de oferecer a ele uma experincia transformadora pormeio do vnculo com o psiclogo, que coloque em marchaos seus processos de desenvolvimento.

    Psicodiagnstico Interventivo e Cincia

    A descrio do Psicodiagnstico Interventivo revela im-portantes semelhanas entre seus pressupostos e aqueles daperspectiva qualitativa de investigao cientca.

    O primeiro ponto em comum a simultaneidade dos pro-cessos de avaliao e interveno, ou de coleta e anlise dedados (Barbieri, 2008; Davila, 1995). Assim, o conhecimento construdo de maneira conjunta no momento da interao entreo prossional/pesquisador e o paciente/participante, com o

    primeiro fazendo sua interpretao3 do material oferecido pelosegundo, que o aceita, rejeita, restringe ou amplia, reformando oque foi dito e devolvendo-o ao psiclogo, que efetua as revisesnecessrias; assim, o paciente/participante colabora ativamentena gerao do conhecimento. Essa cooperao se desenrola nocontexto de uma relao prossional e, portanto, permanecequalitativamente assimtrica, mas no autoritria. Como coletae anlise ou avaliao e interveno so constitudas uma pelaoutra, o procedimento no isento do trabalho de levantamentode hipteses pelo prossional, pois so elas que norteiam ainterveno, do mesmo modo que o pesquisador qualitativotambm inicia seu trabalho com algumas pressuposies arespeito do fenmeno em investigao (Marecek, 2003). Adiferena com relao ao Psicodiagnstico Tradicional queo apego s hipteses no se mantm necessariamente por todoo processo, j que elas so colocadas prova no momento deseu surgimento e, a partir da, mantidas para aprofundamento,ganhando contornos diferentes, ou substitudas, no determi-nando, assim, o processo completo de avaliao. Portanto,similarmente s metodologias qualitativas, o incio de um

    processo diagnstico/interventivo no o momento mais im-portante, mas apenas uma tarefa entre outras (Davila, 1995).Com isso, no h o estabelecimento sistemtico de passos aserem seguidos e, consequentemente, o nmero de sessesno denido de maneira precisa aps a primeira entrevista.4

    Os instrumentos menos estruturados de avaliao/inter-veno, por permitirem uma apropriao pessoal por parte do

    paciente, possibilitam o alcance do sentido idiossincrtico da

    sua experincia, objetivo tambm das pesquisas fundamenta-das no paradigma qualitativo (Gelo & cols., 2008; Marecek,2003). Sua anlise pelo mtodo da livre inspeo viabiliza aapreenso da singularidade pessoal, ao invs de conform--la aos moldes das interpretaes advindas dos estudos de

    padronizao. Desse modo, h a possibilidade de geraode novos conhecimentos e do encontro com o inesperado e

    3 O termo interpretao utilizado aqui em um sentido amplo, queinclui o psicanaltico, mas no se restringe a ele.

    4 Os dados disponveis at o momento sugerem que o nmero de sessesnecessrias no Psicodiagnstico Interventivo diretamente proporcional rigidez defensiva do paciente e inversamente proporcional experi-ncia clnica do psiclogo.

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    mesmo com o velho, mas transformado e reformulado emfuno das diversas inuncias contextuais que recebe, e quelhe conferem um signicado particular.

    O psiclogo, na medida em que quem integra o quese diz, torna-se, de fato (em conjunto com o paciente), oelemento mais importante da avaliao/interveno. O riscode cair em um solipsismo ingnuo contrabalanado pela

    participao do paciente no processo, que funciona comoum controle da conabilidade das intervenes; tambm essa participao que facilita selecionar o material clinica-mente signicativo, retirando-o da esfera da consideraosolitria do psiclogo. somente nesse contexto de uma

    profunda compreenso individual que possvel expandir aao humana e implementar uma conduta transformadora,objetivos tanto do Psicodiagnstico Interventivo quanto dainvestigao qualitativa (McGrath & Johnson, 2003).

    Portanto, conforme o concebemos, o PsicodiagnsticoInterventivo de orientao psicanaltica aparece comocoerentemente fundamentado no paradigma qualitativo decompreenso da realidade. Evidentemente, como camponovo e recm-constitudo em nossa prosso, muito aindadeve ser ponderado em relao aos fundamentos desse m-todo clnico, particularmente os de natureza terica, tcnicae tica, de modo a consolid-lo cada vez mais, garantindo oseu lugar na cincia psicolgica.

    Consideraes Finais

    O nascimento do Psicodiagnstico Interventivo im-plicou em reconsideraes de natureza paradigmt ica,metodolgica, instrumental e tica em relao ao modelotradicional, que o tornaram uma atividade bastante diferenteda prtica clssica. Assim, mais do que uma derivao do

    procedimento original, o Psicodiagnstico Interventivo um campo de conhecimento e aplicao clnica com carac-tersticas prprias.

    Suas bases paradigmticas qualitativas, coerentes com suamaior liberdade metodolgica, a preferncia por instrumen-tos pouco estruturados e o reconhecimento da inuncia do

    pesquisador/prossional na qualidade dos dados, fornecemfundamentos harmoniosamente integrados para a construo/denio de uma identidade prossional slida, em que obje-tivos cientcos e ticos se encontram. Nesses termos, o queassistimos atualmente com o Psicodiagnstico Interventivo uma mudana dos valores relativos fase inicial de arti-culao da Psicanlise ao Psicodiagnstico, em que aqueles

    psiclogos que buscaram transpor o mtodo psicanalticopara a situao de avaliao foram acusados de desvirtuarnossa identidade. Ao contrrio, os argumentos expostos nesteestudo permitem armar que, ao invs de constituir-se comoagente desintegrador de nossa identidade, o PsicodiagnsticoInterventivo a fortalece e estabiliza.

    As consideraes deste artigo no permitem dizer queexiste um confronto de paradigmas entre o PsicodiagnsticoInterventivo e o Tradicional. Essa impossibilidade decorredas contradies internas deste ltimo, que fazem com queele apresente alguns pontos de encontro com o primeiro eoutros de franca oposio, que at o momento no parecemsucientes para situar essas duas formas de trabalho clnico

    e cientco como rivais ou antagnicas. prefervel, por-tanto, consider-las simplesmente como prticas diferentes,

    baseadas em concepes diversas de cincia, normalidadee patologia.

    Embora o Psicodiagnstico Interventivo seja um mtodomais recente que o Tradicional, consideramos que este ltimotambm carece de estudos relativos s suas bases epistemol-

    gicas e metodolgicas, em funo de seus embates internos.Essa observao remete primeira questo que nos propuse-mos debater neste estudo, ou seja, at que ponto a prtica doPsicodiagnstico Interventivo comprometeria a consideraoda Psicologia como cincia. Nossas ponderaes mostramque este no o caso, j que ele se fundamenta rmemente no

    paradigma qualitativo de investigao e, assim, proporcionaa compreenso e a transformao do seu sujeito/objeto coma nalidade tica de reduzir o sofrimento humano. Portanto,ele se sustenta numa concepo de cincia que vai alm danfase na experimentao que visa o controle e a predio.

    O domnio da perspectiva quantitativo-positivista naPsicologia no deve inibir nossos movimentos em direoao desenvolvimento dessa importante e promissora estratgiade pesquisa/interveno. Nesse sentido, compactuamos comLagache (1974), que arma que o psicanalista no deve sesentir em posio inferior aos especialistas das outras cin-cias, nem se alienar na via de uma imitao servil delas. Foina tentativa de aproximar-se das perspectivas quantitativas deinvestigao que o Psicodiagnstico Tradicional se perdeu e,em decorrncia disso, ofereceu-nos uma gura desarticuladacomo modelo de identicao. Nesse contexto, o Psico-diagnstico Interventivo permite iniciar um novo captulona escrita de nossa identidade prossional, tambm local etemporalmente constituda e, por isso, em eterno processode mudana.

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    Recebido em 18.09.08

    Primeira deciso editorial em 23.09.09

    Verso fnal em 31.05.10

    Aceito em 05.07.10 n