Psicologia - a mente, as emoções e a conação

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A MENTE 19. A MENTE: PROCESSOS COGNITIVOS, EMOCIONAIS E CONATIVOS O SABER, O SENTIR, O FAZER A mente é um sistema que integra os processos cognitivos e também os processos emocionais e conativos. É uma manifestação total de processos dinâmicos que interagem constantemente de formas complexa: os processos mentais implicam-se mutuamente de forma integrada. Processos Cognitivos – Relacionam-se com o saber, respondem à questão “O quê?”, englobam a perceção, a memória e a aprendizagem; Processos Emotivos – Relacionam-se com o sentir, respondem à questão “Como?”, englobam a emoção, o afeto e o sentimento; Processos Conativos – Relacionam-se com o fazer, respondem à questão “Porquê?”. O pensamento, associado à dimensão cognitiva da mente, envolve os processos cognitivos, os emocionais e os conativos. 20. O CARATER ESPECIFICO DOS PROCESSOS COGNITIVOS A cognição é o conjunto de mecanismos pelos quais um organismo adquires informação, a trata, a conserva, a explora; designa também o produto mental deste mecanismo, quer seja encarado de um modo generalizado quer a propósito de um caso particular. Os processos cognitivos são complexos, porque implicam um conjunto de estruturas que recebem, filtram, organizam, modelam, retêm dados provenientes do meio. PERCEÇÃO A perceção é um processo cognitivos através do qual contactamos com o mundo, que se caracteriza pelo facto de exigir a presença do objeto, da realidade a conhecer. Pela perceção, organizamos e interpretamos as informações veiculadas pelos órgãos dos sentidos (informações sensoriais). O PROCESSO PERCETIVO O teu conhecimento é contruído poe diferentes sistemas sensoriais. S diferentes modos de interação com o mundo são processados paralelamente pelos sistemas sensoriais, que são

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A MENTE

19. A MENTE: PROCESSOS COGNITIVOS, EMOCIONAIS E CONATIVOS

O SABER, O SENTIR, O FAZER

A mente é um sistema que integra os processos cognitivos e também os processos emocionais e conativos. É uma manifestação total de processos dinâmicos que interagem constantemente de formas complexa: os processos mentais implicam-se mutuamente de forma integrada.

Processos Cognitivos – Relacionam-se com o saber, respondem à questão “O quê?”, englobam a perceção, a memória e a aprendizagem;

Processos Emotivos – Relacionam-se com o sentir, respondem à questão “Como?”, englobam a emoção, o afeto e o sentimento;

Processos Conativos – Relacionam-se com o fazer, respondem à questão “Porquê?”.

O pensamento, associado à dimensão cognitiva da mente, envolve os processos cognitivos, os emocionais e os conativos.

20. O CARATER ESPECIFICO DOS PROCESSOS COGNITIVOS

A cognição é o conjunto de mecanismos pelos quais um organismo adquires informação, a trata, a conserva, a explora; designa também o produto mental deste mecanismo, quer seja encarado de um modo generalizado quer a propósito de um caso particular.

Os processos cognitivos são complexos, porque implicam um conjunto de estruturas que recebem, filtram, organizam, modelam, retêm dados provenientes do meio.

PERCEÇÃO

A perceção é um processo cognitivos através do qual contactamos com o mundo, que se caracteriza pelo facto de exigir a presença do objeto, da realidade a conhecer. Pela perceção, organizamos e interpretamos as informações veiculadas pelos órgãos dos sentidos (informações sensoriais).

O PROCESSO PERCETIVO

O teu conhecimento é contruído poe diferentes sistemas sensoriais. S diferentes modos de interação com o mundo são processados paralelamente pelos sistemas sensoriais, que são sensíveis a determinados tipos de estímulos. Embora a receção sensorial seja diferentes para os diferentes órgãos dos sentidos, há 3 elementos comuns: o estímulo físico; a sua tradução em impulsos nervosos e a resposta à mensagem como perceção.

A perceção começa nos órgãos recetores que são sensíveis a estímulos específicos. A sensação é o processo de detenção e receção dos estímulos nos órgãos dos sentidos. A maior parte das entradas sensoriais percebem-se como uma sensação identificada com um estímulo específico, que é traduzido em impulsos nervosos que são conduzidos ao sistema nervoso central e processados pelo cérebro.

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A nossa relação com o meio está condicionada pela sensibilidade dos nossos recetores sensoriais, que diferem nas diversas espécies animais.

A perceção envolve a interpretação das informações sensoriais recebidas. A perceção é uma atividade cognitiva que não se limita ao registo da informação sensorial: implica atribuição de sentido, que remete para a nossa experiência.

As perceções, diferentemente das sensações, são fruto de um trabalho complexo de análise e de síntese, destacando o seu caráter ativos e mediatizado pelos conhecimentos, experiências, expetativas e interesses do sujeito.

A PERCEÇÃO COMO REPRESENTAÇÃO

A perceção constrói uma representação mental ou imagem da realidade. A perceção visual dá-nos um mundo tridimensional, estável e com significado. É no cérebro que se vão estruturar e organizar as representações do mundo. A informação proveniente dos órgãos sensoriais é tratada pelo cérebro.

MEMÓRIA

É a nossa memória que retém conhecimentos, informações, ideias, acontecimentos, encontros. E este património torna-nos únicos, assegurando-nos a nossa identidade pessoal.

Essencial à nossa sobrevivência, é a memória que nos permite, sempre que precisamos atualizar a informação necessária para dar resposta aos desafios do meio. Aprendemos a lidar com o meio e é a memoria que atualiza, sempre que precisamos, os comportamentos aprendidos adaptados à situação. A memória está na base de todos os processos cognitivos. Sem memória não há cognição.

Processos da memória

Poderemos dizer que estamos programados para filtrar os estímulos e para recusar os dados que são irrelevantes.

Cabe ao cérebro selecionar o que é revelante para assegurar a própria sobrevivência do individuo e da espécie. O que o cérebro determina como importante, ou não, ocorre no processo percetivo propriamente dito e no processamento da informação.

A informação é recebida pelos órgãos dos sentidos, retida rapidamente e sem seguida processada, tratada. A memória é o conjunto de processos e estruturas que codificam, armazenam no cérebro em armazenar, reter e recordar a informação.

1 - Codificação – Prepara as informações sensoriais para serem armazenadas no cérebro. Consiste na tradução de dados num código. A atenção que dedicamos às informações a memorizar implica uma codificação mais profunda.

2 - Armazenamento – Cada um dos elementos que constituem a memória de determinado acontecimento está registado em várias áreas cerebrais. Registado em diferentes códigos. Quando uma experiência é codificada e armazenada, ocorrem modificações no cérebro de que resultam traços mnésicos (engramas). O processo de fixação é complexo, estando o material armazenado sujeito a modificações contínuas.

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3 - Recuperação – Recupera-se a informação: lembramo-nos, recordamos, evocamos uma informação. Primeiro processa-se o reconhecimento, e de seguida a evocação. Um acontecimento é recordado mais facilmente se a pessoa voltar a sentir o mesmo estado emocional que experimentou durante o episódio de aprendizagem.

MEMÓRIAS

Memória a curto prazo

A memória a curto prazo retém a informação durante um período limitado de tempo, podendo ser esquecida ou passar a memória a longo prazo. Na memória a curto prazo há duas componentes: a memória imediata – o material recebido fica retido durante um fração e tempo – e a memória de trabalho – mantemos a informação enquanto ela nos é útil. A memória imediata e a memória de trabalho são complementares, formando a memória a curto prazo.

Qualquer informação que tenha estado na memória a curto prazo e que se tenha perdido, estará perdida para sempre, só se mantendo se transitar para a memória a longo prazo.

Memória a longo prazo

A memória a longo prazo é um tipo de memória que é alimentada pelos materiais de memória de a curto prazo que são codificados em símbolos. A memória a longo prazo retém os materiais durante horas, meses ou toda a vida. Há também 2 tipo de memória a longo prazo: a memória não declarativa (ou implícita ou sem registo) e a memória declarativa (ou explicita ou com registo).

A memória não declarativa é uma memória automática, que mantém as informações subjacentes à questão “Como?”. O exercício, o hábito, a repetição do conjunto das práticas tornaram essa atividade automática, reflexa. Só se acede a este tipo de memória, agindo.

A memória declarativa implica a consciência do passado, do tempo, reportando-se a acontecimentos, factos, pessoas. Distinguem-se, neste tipo de memória, 2 subsistemas: a memória episódica – envolve recordações, reporta a lembranças da tua vida pessoal, é uma memória pessoal que manifesta uma relação íntima entre quem recorda e o que se recorda – e a memória semântica – refere-se ao conhecimento geral sobre o mundo, e não tem localização no tempo.

MEMÓRIA CONSTRUÍDA

Quando evocamos um objeto, facto ou acontecimento, a sua representação na memória não é uma reprodução fiel. As representações implicam uma seleção da informação, a sua codificação, a associação a experiência anteriores ou a acontecimentos relevantes.

Marcadas pela experiência, pelas emoções, pelos afetos, as representações são guardadas pela memória, sendo ativadas sempre que necessário. A realidade exterior ausente pode ser substituída por uma realidade interior mantida pela memória, que entretanto foi modificada.

Processo ativo

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A informação que apreendemos de um mesmo episódio da vida é, já à partida, diferente. Cada um de nós enquadra a informação nos conhecimentos que já temos, enquadra os acontecimentos no contexto das nossas experiências e expetativas.

A memória reconstrói os dados que recebe dando relevo a uns, distorcendo ou omitindo outros. Quando os acontecimentos estão muito marcados pela emoção, os pormenores escapam. Neste caso, o cérebro preenche essas falhas, reconstrói, portanto, a memória. Às vezes é difícil distinguir o que se passa do que na realidade aconteceu. A memória é um processo ativo, dinâmico. De notar que não temos consciência deste processo. As representações que retemos aparecem-nos tão claras que acreditamos ser a reprodução fiel do que realmente aconteceu.

Assim como a memória individual é condição da identidade pessoal, há também uma memória coletiva que é parte integrante da identidade de cada família, grupo social e nação. Do passado retêm-se determinados factos e esquecem-se outros: há um seleção e uma idealização do passado. O processo de reconstrução da memória social das nações ou grupo sociais em que o apagamento de determinados factos e a exaltação de outros tem por objetivo reforçar os laços sociais, sendo uma forma de definir a sua identidade.

ESQUECER PARA MEMORIZAR

O esquecimento é a incapacidade, provisoria ou definitiva, de recordar, de recuperar dados, informações, experiências que foram memorizados.

O esquecimento é essencial, pois seria impossível conservar todos os materiais que armazenamos. O esquecimento tem uma função seletiva e adaptativa: afasta a informação que não é útil e necessária. Afasta também os conteúdos conflituosos.

A memória tem caráter seletivo na medida em que nem toda a informação é guardada, e um caráter adaptativo – a informação é transformada.

Esquecimento regressivo

O esquecimento regressivo ocorre quando surgem dificuldades em reter novos materiais e em recordar conhecimentos, factos e norma aprendidos recentemente. Poder ser devido à degenerescência dos tecidos cerebrais.

Esquecimento motivado

Nós esqueceríamos o que, inconscientemente, nos convém esquecer. Assim, os conteúdos traumatizantes, penosos, as recordações angustiadas seriam esquecidos para evitar a angústia e a ansiedade, assegurando, assim, o equilíbrio psicológico – recalcamento. Através do recalcamento os conteúdos do inconsciente seriam impedidos de aceder ao ego, à consciência. É um mecanismo de defesa que tem como objetivos reduzir a tensão provocada por conflitos internos.

Interferência das aprendizagens

As novas memórias interferem com a recuperação das memórias mais antigas – processos de interferência.

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Atualmente pensa-se que, mais do que desaparecer, o que acontece ao material que não conseguimos recordar é ter sofrido modificações, geralmente por efeito de transferências de aprendizagens e experiências posteriores.

APRENDIZAGEM

Todos os comportamentos normais, comuns, diários, são aprendidos, isto é, adquiridos nos processos e socialização, ao longo do tempo, em diferentes contextos.

A aprendizagem é uma modificação relativamente estável do comportamento ou do conhecimento, que resulta do exercício, experiencia, treino ou estudo. É um processo que, envolvendo processos cognitivos, motivacionais e emocionais, se manifesta em comportamentos.

Mas, nem todas as mudanças de comportamento são produto da aprendizagem; Há uma série de comportamentos que são inatos e se atualizam sem exigirem aprendizagem (p.e. pestanejar, respirar).

No ser humanos, a aprendizagem é a base do conjunto de comportamentos que o distinguem dos outros animais. A imaturidade do ser humano, que o torna dependente dos adultos durante tanto tempo, colocou no centro da sua evolução e desenvolvimento a aprendizagem. A aprendizagem é um processo cognitivo fundamental no processo de adaptação ao meio, é um processo cognitivos que nos torna humanos.

PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

Há comportamentos que estão diretamente relacionados com os estímulos do meio e que são previveis a partir da presença do estímulo. Este tipo de comportamentos insere-se na aprendizagem não simbólica (aprendizagem não associativa e associativa). Outros comportamentos, como cumprimentar as pessoas, ler, são aprendizagens simbólicas, porque envolvem a maneira como interpretamos a realidade.

1 – Aprendizagem não associativa (o indivíduo aprende as características de um só tipo de estímulos)

A habituação – aprender a não reagir a determinado estímulo – permite-nos selecionar o que nos interessa no meio ambiente, centrando a nossa atenção no que é essencial para nós.

Através da sensitização aprendem-se as propriedades de um estímulo ameaçador ou prejudicial e a apurar os reflexos para se prepararem para a defesa ou para a fuga.

2 – Aprendizagem associativa (para se aprender tem de se associar estímulos e respostas ou associar estímulos)

2.1. O condicionamento clássico (não envolve a vontade do sujeito: o sujeito é passivo)

Pavlov descobriu o reflexo condicionado – um estímulo, que não provocava qualquer resposta específica, depois de associado a outro estímulo, passou, por si só, a provocar uma resposta condicionada.

Estímulo neutro – Estimulo que, antes do acondicionamento, não produz a resposta desejada;

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Estímulo não condicionado, incondicionado – Estímulo que desencadeia uma resposta não aprendida;

Resposta incondicionada – Resposta inata, não aprendida;

Estímulo condicionado – Estímulo neutro que, associado ao estímulo incondicionado passa a provocar uma resposta semelhante à desencadeada pelo estímulo incondicionado;

Resposta condicionada – Resposta que, depois do condicionamento, se segue ao estímulo, que antes era neutro.

O estímulo incondicionado provoca resposta incondicionada – processo inato não aprendido

O estímulo neutro, durante o processo de condicionamento, transforma-se em estímulo condicionado.

O estímulo condicionado provoca resposta condicionada. A resposta condicionada e a resposta incondicionadas são semelhantes.

A resposta condicionada podia ser extinta: se o estímulo condicionado fosse apresentado várias vezes sem ser seguido do estímulo incondicionado, a resposta condicionada acabava por desaparecer.

2.2. O condicionamento operante

“A Caixa de Skinner” – O rato aprendeu a obter alimento: graças ao reforço (consequência positiva), o animal aprendeu a carregar na alavanca. No caso de se suspender o reforço, a resposta aprendida extingue-se.

Reforço – estímulo positivo ou negativo que, por trazer consequências positivas, aumenta a probabilidade de uma resposta ocorrer.

Reforço positivo – estímulo que tem consequências positivas e que se segue a um dado comportamento

Reforço negativo – o sujeito evita uma situação dolorosa, se se comportar de determinado modo. É a eliminação do estímulo que permite evitar a situação dolorosa.

Ambos têm estas consequências: fortalecer, aumentar a ocorrência de um comportamento. Aumentam a probabilidade que a resposta ocorra.

O castigo é um procedimento que diminui a probabilidade de ocorrer uma resposta através do recurso a um estímulo aversivo. É infligido quando não há resposta ou quando a resposta não é a desejável. O reforço negativo visa aumentar a ocorrência do comportamento, o castigo visa diminuir ou evitar que um comportamento não desejável se repita.

A recompensa é o procedimento ou estimulo usado para aumentar a probabilidade de resposta. Corresponde ao reforço positivo do condicionamento operante.

3 – Aprendizagem por observação e imitação (aprendizagem social ou por modelação)

Muito do que aprendeste em contexto social, ao longo do processo de socialização, observando e imitando os outros. Em muitos casos, basta a observação para aprendermos.

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Bandura confirmou que a experiencia dos outros pode conduzir à aquisição de novos comportamentos. Um individuo pode adquirir um novo comportamento a partir da observação de um modelo. É através da modelação – observação, imitação e integração - que uma pessoa pode aprender um comportamento que passa a fazer parte do seu quadro de respostas. Não basta, no entanto, observar e reter um comportamento para o imitar. A fase de execução implica fatores internos do próprio sujeito.

A teoria cognitiva e social considera que cada individuo possui um conjunto de competências que permitem a aprendizagem e o desenvolvimento. A aprendizagem é a aquisição de conhecimentos através do processamento cognitivo da informação.

4 – Aprendizagem com recurso a símbolos e representações

4.1. Aquisição de conhecimentos

Existem esquemas cognitivos prévios que permitem enquadrar as novas aquisições. Os novos conhecimentos podem aumentar e enriquecer os esquemas cognitivos preexistentes, podem modifica-los ou podem suscitar a criação de novos esquemas. Contudo, este processo é complexo, porque os esquemas cognitivos são estruturas dinâmicas que proporcionamos conhecimentos que já possuímos e integram os conhecimentos novos. Só há aprendizagem se houver esta relação, este processo de integração.

4.2. Aquisição de procedimentos e competências

De modo a executar determinada tarefa, temos que desenvolver um conjunto de ações concertadas, que se designam por procedimentos.

Sempre que surge a necessidade de aprender algo de novo, um nova competência, mobilizamos os esquemas gerais relacionados. Aplicas os esquemas gerais desta competência, à nova tarefa, fazendo as adaptações necessárias, integrando os novos elementos que te permitam ser eficaz. Com a repetição, vais progressivamente corrigindo as ações inadequadas, repetes as que avalias como adequadas, até o processo se tornar automático (passa a fazer parte de memória a longo prazo).

COMO APRENDES, QUANDO APRENDES

A aprendizagem é um processo cognitivo que implica que o ser humanos interaja com o meio, a partir da sua experiencia de vida. Para se adaptar, cada um de nós tem de gerir a informação que recebe, tendo em conta as solicitações da situação e as informações que já possuímos. A aprendizagem é um processo pessoal, que envolve a totalidade da pessoa: o seu pensamento, as suas emoções, sentimentos e afetos, a sua história de vida. Ao aprender, modificamo-nos e reorganizamo-nos interiormente.

Motivação

Aprende-se melhor e mais depressa se tiveres motivação, se estás interessado por um assunto ou tema. Motivado, tens uma atitude ativa e empenhada no processo de aprendizagem e, por isso, aprendes melhor. Contudo, a relação entre a aprendizagem e a motivação é dinâmica. A motivação pode ocorrer durante o processo de aprendizagem.

Os conhecimentos anteriores

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Há conhecimentos, aprendizagens prévias, que, se não tiverem sido concretizados, não te permitem aprender. Uma nova aprendizagem só acontece quando o material novo se incorpora, se relaciona, com os conhecimentos e saberes que possuímos.

A quantidade de informação

A nossa possibilidade de aprender novas informações é limitada e, por isso, é preciso proceder-se a uma seleção da informação relevante, organizando-a de modo a poder ser gerida em termos de aprendizagem.

A diversificação das atividades

Quanto mais diversificadas foram as abordagens a um tema, quanto mais diferenciadas formas as tarefas, maior é a motivação e a concentração e melhor decorre a aprendizagem.

A planificação e a organização

A definição clara de objetivos, a seleção de estratégicas, é essencial para uma aprendizagem bem-sucedida. É preciso planificar, organizar o teu trabalho por etapas, e ir avaliando os resultados. Além da eficácia, promovem o controlo dos teus processos de aprendizagem e, desse modo, a tua autonomia.

A cooperação

Determinados tipos de problemas são melhor resolvidos e a aprendizagem é mais eficaz se trabalharmos de forma cooperativa com os outros. A aprendizagem cooperativa, ao implicar a interação e a ajuda mútua, possibilita a resolução de problemas complexos de forma eficaz e elaborada.

AS EMOÇÕES

Emoções são encaradas como processo com valor adaptativo, fundamentais no ato de decidir.

21. CARATER ESPECIFICO DOS PROCESSO EMOCIONAIS

É muito difícil escondermos as nossas emoções. As emoções estão presentes nas interações sociais, acompanhando ou até substituindo a expressão linguística.

O carater prematura do ser humanos torna-o dependente dos adultos que dele cuidam, com quem tem de comunicar para poder manifestas as suas necessidades e desejos. É através das emoções que comunicamos, elaborando um sistema de troca através de gestos e mímicas. Os sinais emocionais constituem um sistema de comunicação precoce que permite ao bebé levar o adulto a participar na sua sensibilidade e a obter as respostas necessárias ao seu bem-estar e à sua sobrevivência. Por sua vez, o adulto interpreta e responde.

As emoções têm um valor adaptativo, porque são sinalizadoras de determinados estados. O código de comunicação que as constitui pode ser menos preciso que o código linguístico, mas a comunicação é mais rápida e poderosa.

EMOÇÕES, AFETOS E SENTIMENTOS

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As emoções estão relacionados com o tempo;

As emoções variam de intensidade;

As emoções refletem-se em alterações corporais;

As emoções têm causas e objetos a que se dirigem;

As emoções caracterizam-se pela sua versatilidade, aparecendo e desaparecendo com rapidez;

As emoções caracterizam-se pela sua polaridade: são positivas (alegria) ou negativas (desgosto, medo);

As emoções não são hábitos, são reações a experiencias especificas;

A emoção é determinada pela interpretação dos factos.

As emoções são processos desencadeados por um acontecimento, pessoa, situação, que é objeto de uma avaliação cognitiva nem sempre consciente. A emoção é uma experiência subjetiva que pode ser acompanhada por reações orgânicas, gestos, expressos vocais. Pode traduzir-se por uma tendência para a ação. Há diferentes tipos de emoções:

Emoções primárias – alegria, tristeza, medo, cólera, surpresa ou aversão; Emoções secundárias – vergonha, ciúme, culpa ou orgulho; Emoções de fundo – bem-estar, mal-estar, calma ou tensão.

As emoções primárias são inatas, úteis para uma reação rápida quando surgem determinados estímulos do meio: externo ou interno.

As emoções secundárias foram-se construindo sobre as emoções iniciais e seriam as que se experimentam mais tarde. Implicam uma avaliação cognitiva das situações e o recurso a aprendizagens feitas.

Afetos e Sentimentos

Nas relações que estabelecemos interferem os afetos uma vez que somos afetados pelos outros e afetamo-los. Os afetos exprimem-se através das emoções, sendo organizados pelas experiencia emocionais que se repetem. Os afetos, exprimidos através de amor ou ódio, são vividos intensamente sob a forma de emoções.

Os sentimentos são estados voltados para o nosso interior, são privados e não são observáveis. Os sentimentos prolongam-se no tempo e são de menor intensidade de expressão e não se associam a uma causa imediata. Não é inerente aos sentimentos termos consciência deles. Passamos por 3 fases:

1 – O estado de emoção: emoção é desencadeada e experimentada inconscientemente;

2 – O estado de sentimento: pode ser representado de forma não consciente;

3 – O estado de sentimentos tornado consciente: conhecido pelo organismo que experimenta a emoção e o sentimento.

COMPONENTE DAS EMOÇÕES

1 – Componente cognitiva: Se não tivesse presenciado a cena, ou se não tivesse conhecimento do facto, não experimentaria qualquer emoção;

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2 – Componente avaliativa: Reação à situação em função dos interesses, valores e objetivos.

3 – Componente fisiológica: Refere-se às manifestações orgânicas da emoção

4 – Componente expressiva: Tem uma função social importante, porque é uma forma de comunicação;

5 – Componente comportamental: O estado emocional pode levar ao desencadeamento de um conjunto de comportamentos;

6 – Componente subjetiva: É o estado afetivo associado à emoção. É o mais difícil de conhecer e estudar.

Conclusão: A emoção não se pode reduzir a nenhuma das componentes que enunciámos, sendo que cada um influencia todas as outras.

PERSPETIVAS SOBRE AS EMOÇÕES

Perspetiva evolutiva

Darwin: As emoções têm uma relação muito estreita com a evolução das espécies

Procurou traços comuns na expressão das emoções entre os diferentes povos primitivos; Recolheu dados junto dos psiquiatras sobre a manifestação das emoções em doentes

mentais; Registou as reações dos seus filhos face a situações que lhes provocavam alegria,

frustração, etc.. A partir destes dados e de fotografias de pessoas em estados emocionais semelhantes,

procurou comparar a expressão das emoções humanas com a dos animais (macacos) produzindo um catálogo das emoções.

Há 6 emoções universais: Alegria, Tristeza, Surpresa, Cólera, Desgosto e Medo Todas as manifestações corporais, de cada emoção, têm um valor comunicacional para os

que estão presentes, que podem evitar uma situação de confronto; As emoções têm um papel adaptativo fundamental na história da espécie humana, sendo

determinantes na nossa capacidade de sobrevivência. Há emoções que se manifestam da mesma forma, universais, independentemente dos

processos de aprendizagem e da cultura onde se observam (medo e surpresa foram as que a tribo teve mais dificuldade em reconhecer).

Existe um conjunto de emoções não aprendidas partilhadas pela Humanidade e que são património comum ao nível da sua expressão facial.

Perspetiva fisiológica

William James apresentou uma teoria das emoções que contraria o que nos parece evidente e indiscutível. Assim sendo, ele afirma que, numa situação de perigo, não fugimos porque temos medo, mas sim “temos porque fugimos”, isto porque sentimos medo a partir do momento em que nos apercebemos das reações fisiológicas: pernas a tremer, coração a bater mais forte, etc.. Os estímulos estão inicialmente ligados a respostas físicas que só mais tarde são interpretadas como emoções.

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Segundo William, são as componentes fisiológicas dos comportamentos que geram as emoções; Portanto, se retirarmos as componentes fisiológicas ficamos apenas com a perceção cognitiva e não emocional;

Esta perspetiva defende que não só a mente influencia o corpo, mas também o corpo influencia a mente.

Perspetiva cognitivista

É o modo como encara uma situação, como interpreto que causaria a emoção e não os acontecimentos, ou seja, as nossas cognições (perceções, recordações, aprendizagens) são um elemento fundamental do desenvolvimento das nossas emoções.

A interpretação dos acontecimentos depende da minha história pessoal, dos meus quadros cognitivos e do meu contexto de vida. Então, a emoção é determinada pelo modo como representamos a situação e pela avaliação pessoal que lhe atribuirmos. P.e., as emoções não são as mesmas se o acontecimento é percebido como novo ou como habitual.

No entanto, críticos desta teoria defendem que afirmar que há um processamento cognitivo prévio às emoções não significa que encaramos a situação afetados pelas nossas interpretações, recordações e expetativas. Também defendem que não é necessário estar em posse de aptidões cognitivas desenvolvidas para experimentarem emoções, pois animais e recém-nascidos são capazes de as exprimir.

Perspetiva culturalista

Defende que as emoções são comportamentos aprendidos no processo de socialização, ou seja, são resultado de uma construção social, necessitam de ser aprendidos.

As emoções e as diferentes formas de as exprimir variam de cultura para cultura, e portanto, no tempo e no espaço. Exemplo disso, em algumas culturas não se admite que um homem chore, enquanto noutras essa expressão é valorizada.

Cada cultura tem o seu conjunto de regras que especificam o tipo de emoções que se podem manifestar nas diferentes situações.

Pessoas da mesma cultura sentem de maneira idêntica a mesma emoção. Existe, por assim dizer, uma linguagem de emoção reconhecida por todos aqueles que pertencem à mesma cultura.

A RAZÃO E A EMOÇÃO

O processo de tomada de decisão passa por ter conhecimento da situação sobre a qual se tem se decidir; conhecer as diferentes opções de ação e conhecer as consequências de cada opção no presente e no futuro.

Para Damásio, a emoção e a razão estariam na base das nossas decisões. A tomada de decisão seria suportada por 2 vias complementares funcionando paralelamente:

1 – A representação das consequências de uma opção é disponibilizada pelo raciocínio: avaliação da situação, levantamento das opções possíveis, comparações lógicas, etc.;

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2 – A perceção da situação provoca, ao mesmo tempo, a ativação de experiências emocionais experimentadas anteriormente em situações semelhantes.

As emoções são processos indispensáveis no ato de decidir.

Marcador somático – Mecanismo automatizado que suporta as nossas decisões

Um mecanismo automático orientaria a nossa tomada de decisão: não perdemos tanto tempo a analisar a situação; apercebendo-nos do que seria inútil analisar todas as possibilidades, poderíamos escolher à sorte; e poderíamos transferir a responsabilidade da decisão para a pessoa que colocava as alternativas.

Por mais simples que a decisão seja, existe sempre uma emoção associada à escolha feita. Sem emoção, ficaríamos impossibilitados de fazer as escolhas mais simples.

A associação feita entre a situação complexa e o estado emocional associado a esse tipo de situações permite o estabelecimento da ligação entre o tipo de situação e o estado somático, isto é, o estado do corpo. As manifestações corporais associadas simulariam as consequências esperadas orientando as escolhas.

Quando ocorre a necessidade de decidir, um processo é aberto: o estado somático pode então atuar como um sinal de alarme e levar à rejeição de uma opção, ou como um sinal de incentivo, atração e levar à sua adoção. Os marcadores somáticos informam o córtex sobre as decisões a tomar. O nosso pensamento tem necessidade das emoções para ser eficaz.

A CONAÇÃO

22. O CARÁTER ESPECIFICO DOS PROCESSOS CONATIVOS

Esta mente em construção integra as diferentes dimensões: conhecer, sentir e agir.

A conação é constituída por um conjunto de processos que se ligam à execução de uma ação ou comportamento, que movem o ser humano num determinado sentido.

Em todos os comportamentos existem 2 componentes: componente objetiva - manifesta-se nos movimentos e que se pode observar -, e componente subjetiva – disposição interna para a ação, que é a conação.

A conação é inerente aos comportamentos que envolvem esforço, desejo, vontade, em que há uma tendência consciente para agir, para atuar.

É isto, no fundo, a conação: a motivação, o empenho, a vontade e o desejo que move os indivíduos em direção a um fim ou objetivo que, ao dar sentido à sua ação, faz com que esta tenha significado para ele.

INTENCIONALIDADE

Os pensamentos, emoções, perceções, comportamentos, etc., são intencionais e acerca de algo: quando pensamos, pensamos acerca de alguma coisa, quando sentimos, sentimos acerca de alguma coisa.

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Searle considera a intencionalidade a grande diferença entre um computador e a mente humana: o computador não pensa, porque não acede ao sentido, ao conteúdo. Só funciona sobre símbolos abstratos, sem significado. Apesar de outros animais terem desejos e intenções, só o ser humano os associam à linguagem e ao significado.

A intencionalidade do funcionamento mental e da ação dos seres humanos indica-nos que o que sentimos, fazemos e pensamos tem um propósito.

A forma como reagimos a alguma coisa ou como nos relacionamos com os outros são processos organizados pelo sentido.

Os significados vão sendo construídos a partir do nosso envolvimento no mundo e das experiências que temos ao longo da vida: não são independentes dos contextos em que surgem, nem do que sabemos e sentimos, nem das intenções que orientam esse mesmo envolvimento.

TENDÊNCIA

Tendência é um impulso espontâneo que orienta a conduta do indivíduo. A tendência vai do sujeito para o objeto. Ela respondeu a uma necessidade interna (pulsões sexuais, afetivas, intelectuais, etc.). Somos levados a realizar os nossos próprios fins com o que o mundo nos oferece; a tendência está sempre presente, persistente, inacabada.

O comportamento desencadeado por uma tendência é acompanhado por um ciclo motivacional:

1 – Necessidade: Desequilíbrio provocado por uma carência, uma privação;

2 – Impulso: A experiência do défice orgânico desencadeia uma energia ou tensão que visa a ação e que é o impulso. A necessidade passa, portanto, a ser representada pelo impulso que orienta o organismo em direção a um objetivo;

3 – Resposta: É constituída pelas atividades desenvolvidas e desencadeadas pelo impulso para se obter o que se necessita;

4 – Saciedade: Quando o objetivo é alcançado, o impulso desaparece ou é reduzido. O equilíbrio é restabelecido.

Quanto à origem:

Tendências primárias – manifestam-se desde o nascimento e são independentes da aprendizagem. Contudo a sua manifestação e expressão são condicionadas por normas e regras sociais;

Tendências secundárias – são aprendidas, adquiridas no processo de socialização e correspondem a necessidades sociais.

Quanto ao objeto:

Tendências individuais – Relacionam-se com os interesses do indivíduo e visam o seu desenvolvimento e preservação.

Tendências sociais - Estão na base das interações sociais e têm a ver com o estabelecimento das relações com os outros;

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Tendências ideais – Relacionam-se com a promoção de valores que podem ser intelectuais, estéticos e éticos.

Esforço de Realização

O conceito de esforço de realização relaciona-se com o empenho para concretizarmos os nossos desejos e objetivos.

As motivações organiza-se segundo uma hierarquia de necessidades representada numa pirâmide: na base estão as necessidades básicas que asseguram a sobrevivência, e no topo a necessidade de autorrealização.

Necessidades fisiológicas

São vitais para o ser humano. A sua satisfação assegura a sobrevivência - a fome, o sono, a sede, o evitamento da dor -, já que visam a manutenção do equilíbrio interno do organismo.

Necessidades de segurança

O indivíduo procura satisfaz a necessidade de se sentir protegido relativamente ao meio, potencialmente perigoso, e dispor de um ambiente estável.

Necessidades de afiliação

É a necessidade de receber e dar afeto, confiança, amor. Esta necessidade reflete-se na procura de fazer parte de grupos: família, amigos, trabalho.

Necessidades de estima

Necessidade de se sentir respeitado e estimado pelos outros. A autoestima dependeria em grande parte da satisfação desta necessidade. A necessidade de se sentir competente dependeria da satisfação das necessidades de estima, que desenvolveria sentimentos de autoconfiança, já a sua frustração pode dar origem a sentimentos de inferioridade.

Necessidades de autorrealização

Necessidade que cada um tem de realizar o seu potencial tornando-se em tudo aquilo em que uma pessoa é capaz de se tornar. As necessidades de autorrealização manifestar-se-iam pela necessidade de o indivíduo concretizar as suas potencialidades, de atingir a sua realização pessoal e de conseguir obter êxito e sucesso. É necessário esforço para atingir a autorrealização.