PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE

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Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação

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Sou Flávia Andressa Farnocchi Marucci, psicóloga formada pela Universidade Federal de São Carlos. Possuo Mestrado em Psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) e Especialização em Psicologia Hospitalar pelo Conselho Federal de Psicologia. Atualmente, atuo como psicóloga assistente do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento do Hospital das Clínicas (HCFMRP-USP), preceptora do Programa de Aprimoramento Profissional em Psicologia Clínica e Hospitalar e supervisora do Programa de Residência Multiprofissional (HCFMRP-USP). Possuo experiência em Psicologia da Saúde e Análise do comportamento.E-mail: [email protected]

Claretiano – Centro UniversitárioRua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP [email protected]: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006www.claretianobt.com.br

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Flávia Andressa Farnocchi Marucci

BatataisClaretiano

2015

PSICOLOGIA APLICADA À SAÚDE

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© Ação Educacional Claretiana, 2015 – Batatais (SP)Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.

CORPO TÉCNICO EDITORIAL DO MATERIAL DIDÁTICO MEDIACIONAL

Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação: Aline de Fátima Guedes • Camila Maria Nardi Matos • Carolina de Andrade Baviera • Cátia Aparecida Ribeiro • Dandara Louise Vieira Matavelli • Elaine Aparecida de Lima Moraes • Josiane Marchiori Martins • Lidiane Maria Magalini • Luciana A. Mani Adami • Luciana dos Santos Sançana de Melo • Patrícia Alves Veronez Montera • Raquel Baptista Meneses Frata • Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli • Simone Rodrigues de Oliveira

Revisão: Cecília Beatriz Alves Teixeira • Eduardo Henrique Marinheiro • Felipe Aleixo • Filipi Andrade de Deus Silveira • Juliana Biggi • Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz • Rafael Antonio Morotti • Rodrigo Ferreira Daverni • Sônia Galindo Melo • Talita Cristina Bartolomeu • Vanessa Vergani Machado

Projeto gráfico, diagramação e capa: Bruno do Carmo Bulgareli • Eduardo de Oliveira Azevedo • Joice Cristina Micai • Lúcia Maria de Sousa Ferrão • Luis Antônio Guimarães Toloi • Raphael Fantacini de Oliveira • Tamires Botta Murakami de Souza

Videoaula: Fernanda Ferreira Alves • José Lucas Viccari de Oliveira • Marilene Baviera • Renan de Omote Cardoso

Bibliotecária: Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

INFORMAÇÕES GERAISCursos: GraduaçãoTítulo: Psicologia Aplicada à Saúde Versão: dez./2015Formato: 15x21 cmPáginas: 122 páginas

616.0019 M353p Marucci, Flávia Andressa Farnocchi

Psicologia aplicada à saúde / Flávia Andressa Farnocchi Marucci – Batatais, SP : Claretiano, 2015.

122 p.

ISBN: 978-85-8377-418-1

1. Psicologia da saúde. 2. Processo saúde-doença. 3. Modelo biopsicossocial. 4. Enfrentamento. 5. Interdisciplinariedade. I. Psicologia aplicada à saúde.

CDD 616.0019

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SUMÁRIO

CONTEúDO INTRODUTóRIO

1. GLOSSáRIO DE CONCEITOS ............................................................................ 112. EsquEma dos ConCEitos-ChavE ............................................................... 163. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 174. E-REFERÊnCia .................................................................................................. 18

unidadE 1 – FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAúDE

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 212. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 21

2.1. A CIÊNCIA PSICOLóGICA ........................................................................ 212.2. AS PRINCIPAIS TEORIAS PSICOLóGICAS ............................................... 242.3. A PSICOLOGIA DA SAúDE ....................................................................... 33

3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 443.1. PSICOLOGIA DA SAúDE ........................................................................... 44

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 455. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 476. E-REFERÊnCias ................................................................................................ 477. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 48

unidadE 2 – VARIáVEIS PSICOLóGICAS NA DETERMINAÇÃO DA SAúDE

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 512. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 52

2.1. SAúDE E COMPORTAMENTO ................................................................. 522.2. PREVENÇÃO DE DOENÇAS ..................................................................... 562.3. ADESÃO AO TRATAMENTO ..................................................................... 602.4. TEORIAS DE COMPORTAMENTO E SAúDE ........................................... 632.5. PERSONALIDADE E SAúDE ..................................................................... 67

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3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 693.1. SAúDE E COMPORTAMENTO ................................................................. 69

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 705. E-REFERÊnCias ................................................................................................ 736. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 73

unidadE 3 – ESTRESSE E DOENÇA

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 772. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 77

2.1. ESTRESSE ................................................................................................. 772.2. MODELOS DE ESTRESSE E DOENÇA ...................................................... 852.3. ENFRENTAMENTO .................................................................................. 872.4. ESTRESSE RELACIONADO COM O TRABALHO ...................................... 92

3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 963.1. ESTRESSE E ENFRENTAMENTO ............................................................... 963.2. ESTRESSE NO PROFISSIONAL DE SAúDE ............................................... 97

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 975. CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 996. E-REFERÊnCia .................................................................................................. 1007. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 100

unidadE 4 – RElação EquipE intERdisCiplinaR-paCiEntE

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 1032. CONTEúDO BáSICO DE REFERÊNCIA ............................................................. 104

2.1. O TRABALHO EM EQUIPES DE SAúDE ................................................... 1042.2. RELAÇÃO PROFISSIONAL DE SAúDE E PACIENTE ................................. 1092.3. VARIáVEIS QUE ATUAM NA PROMOÇÃO DE SAúDE ............................ 113

3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES ......................................................... 1183.1. RELAÇÃO EQUIPE DE SAúDE E PACIENTE ............................................. 118

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ....................................................................... 1195. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 1216. E-REFERÊnCias ................................................................................................ 1227. REFERÊNCIAS BIBLIOGRáFICAS ..................................................................... 122

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

Conteúdo Fundamentos da Psicologia da Saúde. Fatores evolutivos

e saúde. História de vida na determinação da saúde/doença. Variáveis psicossociais do tratamento. Estresse e doença: me-canismos fisiológicos e enfrentamento. Adoecimento no traba-lho. Psicossomática. Relação equipe interdisciplinar-paciente.

Bibliografia BásicaBOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

DAVIDOFF, L. Introdução à psicologia. 3. ed. São Paulo: Makron Books, 2001.

FRIEDMAN, H.; SCHUSTACK, M. W. Teorias da personalidade. São Paulo: Harbra, 1996.

Bibliografia Complementar

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2000.DALLY, P.; HARRINGTON, H. Psicologia e psiquiatria na enfermagem. São Paulo: EPU, 1996.FIGLIE, N. B.; BORDIN S.; LARENJEIRA, R. Aconselhamento em dependência química. São Paulo: Roca, 2010.HOLMES, D. Psicologia dos transtornos mentais. 2. ed. Tradução de Sandra Costa. Porto Alegre: 1997.MELLO FILHO, J. Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.ORLANDO, I. J. O relacionamento dinâmico enfermeiro-paciente. São Paulo: EPU, 1997.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

É importante saber: ––––––––––––––––––––––––––––––––Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que deverá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os principais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedimentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?) referentes a um campo de saber.Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibilizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdos Digitais Integradores” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias (vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto), como também garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos temas estudados. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito de avaliação. ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

1. INTRODUÇÃOSeja bem-vindo ao estudo de Psicologia Aplicada à Saúde

na modalidade a distância. Neste conteúdo, apresentaremos uma introdução ao estudo da Psicologia da Saúde, dando ênfase à sua aplicabilidade aos profissionais de saúde que lidam diariamente com pacientes, e que exercem, portanto, um papel importante no estabelecimento de relações interpessoais que sejam capazes de promover saúde e qualidade de vida.

Talvez você possa estar se perguntando: Por que estudar psicologia? Porque a prática dos profissionais que lidam com a saúde está intimamente relacionada ao cuidado e relacionamento com o paciente, e, logo, compreendê-lo pode facilitar seu trabalho, como também melhorar a sua qualidade de vida. Além disso, a compreensão do que é saúde hoje destaca que, além de fatores biológicos e sociais, ela é determinada, também, por fatores psicológicos, que estudaremos também nesta obra.

Apesar de as áreas que lidam com a saúde já terem desenvolvido seu próprio corpo de conhecimento, o diálogo com outras ciências pode promover a compreensão de outros fenômenos e abrir novas possibilidades. No último século, a Psicologia vem dialogando com as ciências da saúde, a fim de ampliar a visão do ser humano, considerando-o para além de seu corpo biológico.

A Psicologia pode auxiliar na reflexão sobre o processo saúde-doença, na compreensão do homem como ser integral, na discussão sobre os limites da atuação profissional e na problematização de discursos científico-hegemônicos, buscando a construção de uma relação de vínculo profissional-paciente que gere novos discursos e, com isso, construa novas práticas profissionais e de saúde.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

A Psicologia Aplicada à Saúde tem como objetivo apresentar como a psicologia compreende o ser humano e sua relação com os processos de saúde e doença; possibilitar a compreensão das variáveis que interferem na formação de sintomas e nos comportamentos de saúde; e abrir espaço para a discussão da relação entre o profissional de saúde e o paciente. Para isso, dividimos o conteúdo em quatro unidades de estudo.

Na Unidade 1, você será apresentado à ciência da psicologia e conhecerá algumas das abordagens teóricas mais importantes, o behaviorismo, a gestalt e a psicanálise. Esta breve introdução servirá de base para a compreensão da psicologia da saúde, que será discutida com maior detalhamento. Ainda nesta unidade, será discutido o conceito de saúde, segundo alguns modelos históricos e de acordo com o modelo biopsicossocial. Também serão apresentados os fatores que contribuíram para o surgimento de uma psicologia da saúde e as perspectivas de trabalho e pesquisa neste campo.

Na Unidade 2, vamos nos dedicar ao estudo das variáveis psicológicas e comportamentais que podem influenciar e determinar a saúde do indivíduo. Discutiremos como padrões de comportamento podem trazer benefícios e prejuízos à saúde e a diferença entre prevenção primária, secundária e terciária. Também será apresentado o conceito de adesão ao tratamento e os fatores que interferem neste comportamento. Estudaremos sobre o modelo trasteórico, que descreve 5 estágios de prontidão para mudança e a associação entre alguns tipos de personalidade e o surgimento de doenças.

O próximo tema a ser estudado será o mecanismo fisiológico do estresse e as estratégias de enfrentamento. Este assunto será abordado na Unidade 3, que pretende apresentar

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

os modelos de interação entre estresse e saúde, os efeitos do estresse no organismo, e os estilos de enfrentamento (focado na emoção ou nos problemas). Também será discutido sobre o estresse relacionado ao trabalho e Síndrome de Burnout em profissionais de saúde.

Em nossa última unidade, o assunto principal será a relação do profissional de saúde com o paciente. Para isso, serão apresentados os conceitos de equipes inter, multi e transdiciplinar em saúde. Abordaremos variáveis facilitadoras da construção de uma relação de ajuda com o paciente e sobre a importância da empatia, da autonomia, da informação, do suporte social e da espiritualidade na promoção de saúde.

Então, preparados? Vamos começar!

1. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS

O Glossário de Conceitos permite uma consulta rápida e precisa das definições conceituais, possibilitando um bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de conhecimento dos temas tratados.

1) Adesão ao tratamento: disposição do paciente a seguir o regime de tratamento receitado e conseguir fazê-lo.

2) Autonomia: independência, liberdade ou autossufi-ciência. Capacidade de gerenciar a própria vida.

3) Behaviorismo: teoria psicológica que considera o comportamento como objeto de estudo da psicologia. Nesta abordagem, o comportamento é compreendido na interação entre o organismo e o ambiente.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

4) Biofeedback: sistema que proporciona informações auditivas ou visíveis com relação a estados fisiológicos involuntários.

5) Modelo Biopsicossocial: forma de compreender a saúde como sendo determinada por compomentes biológicos, psicológicos e sociais.

6) Comunicação médico e paciente: interação social entre equipe de saúde e paciente na qual há trocas de informação.

7) Comportamento: interação do indivíduo com o seu ambiente.

8) Contexto biológico: são os aspectos do nosso corpo que influenciam a saúde e a doença: nossa conformação genética e nosso sistema nervoso, imunológico e endócrino.

9) Contexto psicológico: fatores psicológicos como o pensamento, a percepção, a motivação, a emoção, a aprendizagem, a atenção, a memória, os quais acarretam implicações para a saúde.

10) Contexto social: a forma como nos relacionamos com os outros e com o nosso ambiente também influencia em nossa saúde.

11) Desamparo aprendido: resignação passiva e desani-mada de uma pessoa diante do estresse persistente e incontrolável.

12) Despersonalização: refere-se à perda de idealismo no local de trabalho, desencadeando atitudes negativas para com aqueles que recebem o serviço ou a atenção do empregado.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

13) Doenças crônicas: é uma doença que persiste por períodos superiores a seis meses e não se resolve em um curto espaço de tempo.

14) Empatia: é a capacidade de compreender a emoção do outro. É uma resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa, e não à sua própria situação. Capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas e experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia.

15) Enfrentamento: conjunto de estratégias, cognitivas e comportamentais, utilizadas pelos indivíduos para lidar com uma ameaça iminente. Este se processa mediante a mobilização de recursos naturais, com fins de administração de situações estressoras, consistindo de interação entre o organismo e o ambiente.

16) Enfrentamento focalizado na emoção: estratégia de enfrentamento em que a pessoa tenta controlar a resposta emocional ao estressor.

17) Enfrentamento focalizado no problema: estratégia de enfrentamento para lidar diretamente com o estressor, na qual são reduzidas as demandas do estressor ou aumentados os recursos para atender a essas demandas.

18) Equipe interdisciplinar: consiste no estabelecimento de associação intencional de duas ou mais áreas do saber, para alcançar um conhecimento mais amplo e diversificado.

19) Equipe multidisciplinar: são equipes formadas por vários profissionais de diferentes áreas, que buscam abranger os diferentes aspectos de uma mesma

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

situação, sem haver uma relação entre si, cada um dentro de seu saber.

20) Equipe transdiciplinar: é a justaposição de diversas disciplinas para descrever uma nova forma de compreender os fenômenos.

21) Estresse: processo pelo qual percebemos e responde-mos a eventos, chamados de estressores, que são per-cebidos como danosos, ameaçadores ou desafiadores.

22) Esgotamento: estado de exaustão física e psicológica relacionada com o trabalho.

23) Exaustão: refere-se a sentimentos de ter seus recursos emocionais esgotados, com a correspondente perda de energia e sentimentos de fadiga.

24) Modelo biomédico: visão dominate no século 20, que sustenta que a doença sempre tem uma causa física.

25) Modelo transteórico: teoria de estágios muito utilizada, sustenta que as pessoas passam por cinco estágios quando tentam mudar comportamentos relacionados com a saúde – pré-contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção.

26) Mortalidade: morte; como medida de saúde, número de mortes devido a uma causa específica em determi-nado grupo em certo momento.

27) Personalidade: é o conjunto de características psicoló-gicas que determinam os padrões de comportamento, de pensar e de sentir.

28) Prevenção primária: esforços em favor da saúde para prevenir que doenças ou ferimentos ocorram.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

29) Prevenção secundária: ações adotadas para identificar e tratar a doença no estágio inicial.

30) Prevenção terciária: ações adotadas para conter os danos, uma vez que a doença progrediu além de seus estágios iniciais.

31) Prontidão para mudança: presença de motivação para realizar a modificação de um hábito ou comportamento.

32) Psicanálise: teoria psicológica desenvolvida por Freud que tem como objeto de estudo o inconsciente.

33) Psiconeuroimunologia: campo de pesquisa que enfatiza a interação entre processos psicológicos, neurais e imunológicos no estresse e na doença.

34) Psicossomática: ramo da medicina concentrado no diagnóstico e tratamento de doenças físicas causadas por processos psicológicos deficientes.

35) Resiliência: qualidade de certas pessoas de se recuperarem de estressores ambientais.

36) Síndrome de burnout: ou síndrome do esgotamento profissional, um distúrbio psíquico que tem como características o estado de tensão emocional e de estresse crônicos, provocados por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes.

37) Subjetividade: é composta de ideias, significados e emoções construídos pelo sujeito por meio de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica. É fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.

38) Suporte social: apoio de outras pessoas que transmite preocupação emocinal e auxílio material.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

2. EsquEma dos ConCEitos-ChavEComo você pode observar, o Esquema a seguir possibilita

uma visão geral dos conceitos mais importantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre um e outro conceito e descobrir o caminho para construir o seu conhecimento. Por exemplo, a psicologia aplicada à saúde tem como objetivo a compreensão dos determinates de saúde e doença. Nesse sentido, existem fatores que estão amplamente associados à promoção e à melhora da saúde, como o estabelecimento de uma relação de ajuda com o profissional de saúde, ter autonomia, empatia e informação, a presença de suporte social adequado e a espiritualidade. Em contrapartida, há inúmeras variáveis psicológicas que estão associadas ao aparecimento de doenças. Podemos categorizá-las como o efeito do estresse em nosso organismo e o efeito de padrões de comportamento não saudáveis.

Entretanto, com o uso de estratégias de enfrentamento diante do estresse, podemos minimizar os seus efeitos prejudiciais. Da mesma forma, intervenções comportamentais podem modificar estilos de vida não saudáveis. Assim, podemos perceber que a determinação da saúde e da doença é passível de mudança e não se trata de uma condição estática.

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CONTEúDO INTRODUTóRIO

Figura 1 Esquema de Conceitos-chave de Psicologia Aplicada à Saúde.

3. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICASBOCK, A M. B.; FURTADO, O; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E. ; VALERIO, N. I. Psicologia da Saúde – intervenções em hospitais públicos. In: RANGÉ, B. (Org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.

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CONTEÚDO INTRODUTÓRIO

4. E-REFERÊnCiaDICIONáRIO DE SIGNIFICADOS. Homepage. Disponível em: <http://www.significados.com.br/>. Acesso em: 24 jul. 2015.

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UNIDADE 1FUNDAMENTOS DA PSICOLOGIA DA SAÚDE

Objetivos• Compreender a psicologia como ciência.• Analisar as principais abordagens teóricas da psicologia.• Interpretar saúde em uma perspectiva biopsicossocial. • Analisar os fundamentos da psicologia da saúde e

sua contribuição para a compreensão do processo saúde-doença.

Conteúdos• Fundamentos da Psicologia da Saúde.• Psicossomática.

Orientações para o estudo da unidade

Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Esta unidade compreende o estudo da psicologia da saúde. Os conceitos descritos a seguir serão fundamentais para a compreensão dos demais conteúdos abordados no restante da obra.

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UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE

2) Nesta unidade serão apresentadas apenas algumas das abordagens teóricas da Psicologia; existem outras além das que serão citadas aqui, mas que não abordaremos por não ser este o objetivo de nosso estudo. Portanto, é importante que você pesquise e busque sempre por novos conhecimentos.

3) Não deixe de recorrer aos materiais complementares descritos nos Conteúdos Digitais Integradores.

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UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE

1. INTRODUÇÃO

Nesta primeira unidade, iniciaremos o estudo da Psicologia da Saúde, que é o ramo da Psicologia que se destina a pesquisar e explicar os processos de saúde e doença. No entanto, antes de nos aprofundarmos nesta área específica da Psicologia, precisamos conhecer um pouco melhor essa ciência.

Para isso, iniciaremos nosso estudo com uma introdução à Psicologia como ciência e seu objeto de estudo, além de algumas das principais abordagens teóricas.

Você vai observar que o conceito de saúde se modificou consideravelmente nos últimos anos, e isso está estreitamente relacionado com o surgimento da Psicologia da Saúde. Nosso principal objetivo aqui é demonstrar que os aspectos psicológicos, assim como os biológicos e sociais, têm grande influência na determinação da saúde e da qualidade de vida.

2. CONTEúDO BÁSICO DE REFERêNCIA

O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos Digitais Integradores.

2.1. A CiênCiA PsiCológiCA

O termo psicologia é utilizado em nosso cotidiano com sentidos diversos. Por exemplo, quando dizemos que determinada pessoa tem poder de persuasão ou convencimento, muitas vezes, falamos que ela utilizou "psicologia" para

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UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE

conseguir convencer. Ou quando encontramos alguém que nos faça sentir compreendidos ou que nos dê bons conselhos, muitas vezes, dizemos que tem “psicologia”. Essa psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso comum. Trata-se do conhecimento que as pessoas tem, normalmente de forma superficial, da psicologia enquanto ciência, o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidianos de um ponto de vista psicológico. No entanto, vamos nos concentrar na Psicologia Científica.

Para denominarmos de “científico” um conjunto de conhecimento, é necessário que este tenha um objeto de estudo específico, uma linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicos, processo cumulativo do conhecimento e objetividade (BOCK et al., 1999). É isso que faz da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum. A Psicologia enquanto ciência é relativamente jovem, seu início é datado no final do século 19, embora já existisse há muito tempo na Filosofia, como uma preocupação e necessidade de compreensão do ser humano.

Por ser uma ciência muito nova, a Psicologia não teve tempo ainda de apresentar teorias definitivas, o que faz com que ela seja caracterizada por uma diversidade de objetos de estudo. Contudo, essa diversidade de objetos se justifica pelo fato de os fenômenos psicológicos serem tão diversos e complexos, que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação e, portanto, não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição, medida, controle e interpretação (BOCK et al., 1999; FIGUEIREDO; SANTI, 2004).

A Psicologia é um ramo das Ciências Humanas, e, portanto, tudo que diz respeito ao homem poderia ser seu objeto de

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unidadE 1 – FundamEntos da psiColoGia da saÚdE

estudo, tal como o seu comportamento, a sua consciência ou a sua cognição. Isso nos permite dizer que talvez não exista apenas uma ciência psicológica, mas várias psicologias em desenvolvimento (BOCK et al., 1999). Tal assunto ficará mais claro no próximo tópico desta unidade, no qual estudaremos algumas das teorias psicológicas mais importantes, e, provavelmente, você perceberá que a compreensão do ser humano é estabelecida de forma distinta dentro de cada teoria.

De forma geral, podemos dizer que a matéria-prima da psicologia é o homem, o humano em todas as suas expressões, as visíveis (comportamento) e as invisíveis (sentimentos), as singulares (porque somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) (FIGUEIREDO; SANTI, 2004). E tudo isso pode ser compreendido no termo subjetividade:

A subjetividade é formada de ideias, significados e emoções construídos pelo sujeito segundo as relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica, é fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais (BOCK et al., 1999).

Em resumo, a subjetividade é a maneira de sentir, pensar e fazer de cada um; é o que constitui o nosso modo de ser. Entretanto, a síntese que a subjetividade representa não é inata ao indivíduo; ela é construída a partir do contato com o mundo social e cultural, ou seja, das relações que o sujeito estabelece

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UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE

com o seu ambiente. Assim, com o estudo da subjetividade, a Psicologia contribui para a compreensão da totalidade da vida humana (FIGUEIREDO; SANTI, 2004).

2.2. As PrinCiPAis teoriAs PsiCológiCAs

Como já foi mencionado, a Psicologia é composta por diferentes teorias que buscaram, ao longo de seu desenvolvimento, compreender e explicar a conduta humana. Essas abordagens psicológicas foram influenciadas por escolas filosóficas e movimentos científicos que direcionaram a forma de pensar o mundo na época de sua criação.

As teorias da Psicologia mais importantes são: o Behaviorismo; a Gestalt; e a Psicanálise. Para facilitar sua compreensão, serão apresentadas as principais características de cada uma delas.

Behaviorismo

O termo “behaviorismo” foi inaugurado pelo americano John B.Watson em 1913. No entanto, foi baseado nos estudos de Skinner (1945) que o behaviorismo ganhou grande destaque e se tornou uma das abordagens psicológicas mais utilizadas em vários países. Skinner cunhou o termo “behaviorismo radical” para designar a filosofia da ciência do comportamento. O termo inglês “behavior” significa “comportamento” e, por isso, o behaviorismo também é chamado de Teoria Comportamental, Análise Experimental do Comportamento ou Análise do Comportamento (FIGUEIREDO; SANTI, 2004).

Para o behaviorismo, o objeto de estudo da Psicologia é o comportamento. Contudo, o comportamento não é entendido

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como uma ação isolada, mas sim como uma interação entre o organismo e o seu ambiente. Ou seja, comportamento é a interação entre as ações do indivíduo (respostas) e o ambiente que o cerca (estímulos) (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

A Análise do Comportamento descreve dois tipos: o comportamento respondente e o operante. O primeiro é caracterizado por respostas do organismo que são eliciadas (produzidas) por estímulos do ambiente. São interações do tipo estímulo-resposta, nas quais certos eventos ambientais confiavelmente eliciam certas respostas do organismo que independem de aprendizagem (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Por exemplo, quando alguma luz forte incide em nossos olhos, nossas pupilas são contraídas imediatamente, ou quando entramos em um ambiente muito quente, começamos a transpirar excessivamente.

Nosso organismo já nasce com alguns comportamentos respondentes, por isso, dizemos que as respostas reflexas são instintivos. Esses comportamentos têm um importante valor de sobrevivência, pois são a preparação mínima do indivíduo para reagir aos estímulos ambientais, tais como o reflexo de sucção na amamentação, o reflexo de retirar a mão diante de um estímulo doloroso, entre outros (BOCK et al., 1999). No entanto, aprendemos novas relações de estímulo resposta ao longo de

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nossa vida. São os chamados comportamentos respondentes condicionados (aprendidos), que são adquiridos a partir do pareamento de estímulos eliciadores de respostas com outros estímulos novos (neutros). Isso leva o organismo a responder a estímulos que antes não respondia. O comportamento respondente é muito importante para a compreensão das emoções humanas, pois todas as reações do organismo relacionadas à manifestação de emoção são comportamentos reflexos, é por meio da aprendizagem de novos respondentes que aprendemos a ter medo de algumas coisas, ou a chorar quando ouvimos uma determinada música.

O segundo tipo, ou seja, o comportamento operante, é o tipo de comportamento que abarca a maioria dos comportamentos dos organismos, ou seja, a maior parte de nossas interações com o ambiente. Nesse tipo de comportamento, uma resposta emitida pelo organismo produz uma alteração no ambiente, consequências no ambiente, e o comportamento é afetado (controlado) por essas consequências. Por exemplo, se você vai até uma torneira e utiliza suas mãos para girá-la até sair água, você produziu uma mudança em seu ambiente, antes não tinha água e agora tem. A consequência de seu comportamento (a presença de água) influencia a ocorrência futura da mesma resposta, pois sempre que precisar de água, girará a torneira da mesma forma, já que aprendeu que, assim, consegue obter a água que precisa. O comportamento operante é assim chamado porque ele "opera" sobre o ambiente para modificá-lo (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

É importante entendê-lo para compreendermos como aprendemos nossas habilidades e conhecimento e até mesmo como aprendemos a ser quem somos (o que chamamos de personalidade ou padrão de comportamento). A maior parte de

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nossos comportamentos produz consequências no ambiente, as quais influenciam a ocorrência futura do mesmo comportamento. As consequências produzidas pelo comportamento ocorrem tão naturalmente no nosso dia a dia que nem nos damos conta de que elas estão presentes.

Os comportamentos são mantidos ou deixam de ocorrer em função de suas consequências. Por exemplo, se uma criança apresenta um comportamento de birra porque deseja receber um doce, a consequência oferecida ao seu comportamento influenciará a probabilidade de, no futuro, essa criança voltar a fazer birra. Se os pais cederem ao seu comportamento dando-lhe o doce, há um aumento na chance de ela se comportar da mesma forma na próxima situação em que desejar algo. Em contrapartida, se a consequência apresentada for ignorar ou punir o comportamento da criança, esta provavelmente não utilizará a mesma estratégia na próxima vez que quiser ganhar um doce. Se a consequência aumentar a probabilidade de ocorrência do comportamento, então dizemos que a resposta foi reforçada (a consequência é então chamada de Reforço). No entanto, se a probabilidade do comportamento for diminuída, dizemos que resposta foi punida (punição) (MOREIRA; MEDEIROS, 2007).

A análise do comportamento é bastante abrangente no estudo da psicologia da saúde e é muito aplicada na modificação de comportamentos não saudáveis, na aprendizagem de comportamentos de saúde e na adesão ao tratamento.

Gestalt

Gestalt é um termo alemão sem tradução para o português. O significado mais próximo seria “forma” ou “configuração”, por

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isso a Gestalt é conhecida como “psicologia da forma” (BOCK et al., 1999).

Essa teoria psicológica foi iniciada com base nos estudos de Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941), que fundamentados na Psicofísica, investigaram a percepção e a sensação do movimento. Eles estavam preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na realidade (FIGUEIREDO; SANTI, 2004).

Para a Gestalt, o objeto de estudo da psicologia também é o comportamento, assim como para os behavioristas. No entanto, essas abordagens se diferem na forma como estudam o comportamento. A Gestalt considera que o estudo do comportamento de maneira isolada de um contexto mais amplo pode dificultar sua compreensão ao psicólogo. Na visão dos gestaltistas, o comportamento deveria ser estudado nos seus aspectos mais globais, levando em consideração as condições que alteram a percepção do estímulo (BOCK et al., 1999).

A percepção é o ponto de partida e também um dos temas centrais dessa teoria. Para os gestaltistas, entre o estímulo que o ambiente fornece e a resposta do indivíduo, encontra-se o processo de percepção. O que o indivíduo percebe e como percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento humano. Nesse sentido, a Gestalt insere o conceito de figura/fundo, no qual temos a tendência de organizar nossas percepções no objeto observado (a figura) e o segundo o plano contra o qual ela se destaca (o fundo). Quanto mais clara estiver a forma, mais clara será a separação entre figura e fundo. Como exemplo, observe as imagens apresentadas na Figura 1. O

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que consegue ver? Qual figura emerge e qual fundo permanece? Consegue perceber o dinamismo entre figura que ora emerge e ora vai para o fundo?

Figura 1 Exemplos de figura/fundo.

Na primeira imagem, é possível observar a figura de um cálice ou a face duas pessoas; na segunda, podemos observar a figura de uma dama com chapéu ou a face de uma senhora.

A Gestalt encontra nesses fenômenos da percepção as condições para a compreensão do comportamento humano. A maneira como percebemos um determinado estímulo desencadeará nosso comportamento. Muitas vezes, os nossos comportamentos guardam relação estreita com os estímulos físicos, e outras, eles são completamente diferentes do esperado porque "entendemos" o ambiente de uma maneira diferente da sua realidade (BOCK et al., 1999).

A Gestalt apresenta o conceito de “boa forma”, que implica na apresentação em aspectos básicos do elemento que objetivamos compreender, de forma que permitam a sua decodificação, ou seja, sua percepção total. Se nos

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elementos percebidos não há equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade, não alcançaremos a boa forma (FIGUEIREDO; SANTI, 2004).

O comportamento é determinado pela percepção do estímulo e, portanto, estará submetido à lei da boa forma. O conjunto de estímulos determinantes do comportamento é denominado meio ambiental. São conhecidos dois tipos de meio, o meio geográfico, que é o meio enquanto tal, o meio físico em termos objetivos, e o meio comportamental, que é o meio resultante da interação do indivíduo com o meio físico e implica a interpretação desse meio por intermédio das forças que regem a percepção (BOCK et al., 1999).

Psicanálise

A última teoria psicológica que estudaremos é a Psicanálise, abordagem bastante conhecida que foi desenvolvida por Sigmund Freud (1856-1939), um médico vienense que mudou totalmente o modo de pensar a vida psíquica.

O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria e a um método de investigação, além da prática profissional; enquanto teoria se caracteriza por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Como método de investigação, a psicanálise caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto por meio de ações e palavras ou pelas realizações imaginárias, como os sonhos, os delírios, as associações livres, os atos falhos (FIGUEIREDO; SANTI, 2004).

Freud, em seu livro A interpretação dos sonhos, apresentou a primeira concepção sobre a estrutura e o funcionamento da personalidade. Essa teoria se refere à existência de três sistemas

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psíquicos: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente (BOCK et al., 1999):

• O inconsciente é o conjunto dos conteúdos não presentes no campo da consciência. É formado por conteúdos reprimidos pela ação de censuras internas.

• O pré-consciente é o sistema onde permanecem aqueles conteúdos acessíveis à consciência, que podem ser acessados a qualquer momento.

• O consciente é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Destaca-se a percepção, a atenção e o raciocínio.

Um ponto de destaque nas obras de Freud é a atenção dada ao estudo da sexualidade humana. Ele descrevia que a maioria dos pensamentos e desejos reprimidos por seus pacientes referiam-se a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida, ou seja, que na vida infantil estavam as experiências de caráter traumático, reprimidas, que se configuravam como origem dos sintomas das neuroses.

Posteriormente, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos de id, ego e superego para referir-se aos três sistemas da personalidade. O id constitui o reservatório da energia psíquica, onde estariam as pulsões de vida e de morte. É regido pelo princípio do prazer. O ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, da realidade e do superego. É regido pelo princípio da realidade e suas funções básicas são a percepção, a memória, os sentimentos e o pensamento. O superego origina-se a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. Seu conteúdo refere-se a exigências sociais e culturais (BOCK et al., 1999).

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Outro ponto importante da teoria freudiana são os mecanismos de defesa. Freud observou que diante da percepção de um acontecimento doloroso ou desorganizador, as pessoas podem suprimir a realidade para evitar o sofrimento. Esses mecanismos são processos realizados pelo ego e são inconscientes, ou seja, ocorrem de forma independente da vontade do indivíduo. Veja na Tabela 1 alguns exemplos de mecanismos de defesa:

Tabela 1: Mecanismos de defesa do Ego. Mecanismos de Defesa

Recalque O indivíduo "não vê" o que ocorre. Existe a

supressão de uma parte da realidade. Por

suprimir a percepção do que está acontecendo,

é considerado o mais radical dos mecanismos

de defesa. Os demais referem-se a apenas

deformações da realidade.Formação reativa O ego procura afastar o desejo que vai em

determinada direção, e, para isto, o indivíduo

adota uma atitude oposta a este desejo.Regressão O indivíduo retorna a etapas anteriores de seu

desenvolvimento, é uma passagem para modos

de expressão mais primitivos.Projeção O indivíduo localiza (projeta) algo de si no mundo

externo e não percebe aquilo que foi projetado

como algo seu que considera indesejável. É um

mecanismo de uso frequente e observável na

vida cotidiana.Racionalização O indivíduo constrói uma argumentação

intelectualmente convincente e aceitável, que

justifica os estados "deformados" da consciência.

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2.3. A PsiCologiA dA sAúde

A Psicologia da Saúde é uma área da psicologia que aplica princípios e pesquisas psicológicas para melhoria, tratamento e prevenção de doenças. Inclui como variáveis de interesse as condições sociais (como disponibilidade de serviços de saúde), os fatores biológicos (como longevidade da família e as vulnerabilidades hereditárias a certas doenças) e até mesmo os traços de personalidade ou padrões de comportamentos (como extroversão e sociabilidade) (STRAUB, 2005).

Psicologia da saúde foi definida, pela Associação Americana de Psicologia, como:

Ela abrange o ensino e a prática de qualquer tipo de fenômeno de saúde e de interações entre pessoas, como as relações profissionais-pacientes, as relações humanas dentro de uma instituição de saúde, a questão das doenças agudas e crônicas, o papel das reações adaptativas ao adoecer, a perda, a morte e os recursos terapêuticos (MIYAZAKI et al, 2011).

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O que é SaúdePara compreender melhor como trabalha a psicologia da

saúde, é necessário entender o que é saúde. Por muito tempo prevaleceu o modelo biomédico de saúde no qual, saúde era definida como ausência de doenças. tal definição se concentrava apenas na ausência de um estado negativo, no entanto, a maioria de nós concordaria que a saúde envolve muito mais e não se limita ao nosso bem-estar físico.

A interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais é atualmente considerada fundamental na compreensão do contínuo saúde-doença (miYaZaKi et al, 2011).

Pensando nisso, a Organização Mundial de Saúde (OMS) (2015) propôs a definição de saúde como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doenças ou enfermidades", como era a definição anterior de saúde. Essa definição afirma que a saúde é um estado positivo e multidimensional que envolve três domínios: saúde física, saúde psicológica e saúde social.

• Saúde física: implica em ter um corpo saudável e livre de doenças, com um bom desempenho dos sistemas do nosso corpo e a capacidade de resistir a ferimentos físicos. Ela também envolve hábitos relacionados com o estilo de vida que aumentem a saúde física.

• saúde psicológica: significa ser capaz de pensar de forma clara, ter uma boa autoestima e um senso geral de bem-estar. Inclui a criatividade, as habilidades de resolução de problemas e a estabilidade emocional.

• saúde social: envolve ter habilidades interpessoais, relacionamentos significativos com amigos e família e apoio social em épocas de crise. Está relacionada

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também com fatores socioculturais em saúde, como o status socioeconômico, a educação, a cultura e o gênero.

Cada campo da saúde é influenciado pelos outros dois domínios. Por exemplo, uma pessoa emocionalmente segura de si, que tem boas habilidades de resolução de problemas (saúde psicológica), provavelmente terá mais facilidade para manter relacionamentos sociais sadios (saúde social) do que uma pessoa depressiva que tem dificuldade para se concentrar no problema em questão. da mesma forma, a saúde física fraca apresenta desafios especiais, tanto para a autoestima quanto para relacionamentos com a sua família e seus amigos.

No entanto, a saúde nem sempre foi compreendida dessa forma. Até a primeira parte do século 20, a medicina apoiava-se na fisiologia e na anatomia na busca por uma compreensão mais profunda da saúde e da doença. Esse era o modelo biomédico de saúde, que sustentava que a doença sempre tinha causas biológicas. Esse modelo tornou-se aceito de forma ampla durante o século 19 e representou a visão dominante na medicina até recentemente (MIYAZAKI et al, 2011).

Segundo (STRAUB, 2005, p. 8):O modelo biomédico pressupõe que a doença é o resultado de um patógeno (vírus, bactéria ou algum outro microrganismo que invade o corpo), e não faz menção às variáveis psicológicas, sociais ou comportamentais na doença. Neste sentido, este modelo é reducionista, considerando que fenômenos complexos, como a saúde ou a doença, são derivados de um único fator primário. De acordo com este padrão, a saúde nada mais é do que a ausência de doenças. Dessa forma, aqueles que trabalham apoiados nesta perspectiva concentram-se em investigar as causas das doenças físicas em vez daqueles fatores que promovem a vitalidade física, psicológica e social.

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O modelo biomédico avançou o tratamento de saúde de maneira significativa, entretanto, foi incapaz de explicar transtornos que não apresentavam causa física observável.

O pensamento de que determinadas doenças poderiam ser provocadas por conflitos psicológicos foi desenvolvida durante a década de 1940 pelo trabalho do psicanalista Franz Alexander. Ele trabalhava com pacientes com artrite reumática, e, quando a equipe médica não encontrava agentes infecciosos ou outras causas diretas para a doença, alexander ficava desconfiado pela possibilidade de que fatores psicológicos pudessem estar envolvidos. Ele desenvolveu então o modelo do conflito nuclear, no qual defendia que a presença de determinados conflitos inconscientes poderia levar à presença de reclamações físicas. segundo esse modelo, “cada doença física é o resultado de um conflito psicológico fundamental ou nuclear”. alexander acreditava que indivíduos com "personalidade reumática", que tendem a reprimir a raiva e são incapazes de expressar as emoções, seriam mais propensos a desenvolver artrite (STRAUB, 2005, p. 9).

a partir desses estudos, um grande número de transtornos físicos foram descritos como presumivelmente causados por conflitos psicológicos, surgindo, assim, a medicina psicossomática (psico = mente; soma = corpo), um movimento reformista dentro da medicina que buscava estudar o diagnóstico e o tratamento de doenças físicas supostamente causadas por processos deficientes na mente (stRauB, 2005).

a medicina psicossomática apresentou um importante avanço para a compreensão da saúde, quando comparada ao modelo biomédico, no entanto, foi questionada pela categorização aparentemente arbitrária de algumas doenças

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como sendo de natureza completamente física e outra completamente psicológica. Sua metodologia de pesquisa era fundamentada principalmente em estudos de caso de pacientes individuais, o que fez surgirem críticas em relação à sua confiabilidade, além disso, a medicina psicossomática, assim como o modelo biomédico, apoiava-se no reducionismo, de que um único problema psicológico seria suficiente para desencadear a doença (MELLO,1995; STRAUB, 2005).

Atualmente, a compreensão dos processos de saúde- -doença evoluiu, de forma a serem compreendidos como o resultado da interação de múltiplos fatores, incluindo as condições biológicas, o ambiente e os aspectos psicológicos. Essa tendência contemporânea de ver a doença e a saúde como algo multifatorial é resultado da aproximação entre a medicina e a psicologia (MIYAZAKI et al, 2011).

Um outro exemplo dessa aproximação é a medicina comportamental, que foi concebida com base nos princípios do behaviorismo. Esse campo começou a explorar o papel do condicionamento respondente e operante na saúde e na doença. Um de seus principais resultados foi a pesquisa de Neal miller, que utilizou técnicas de condicionamento operante para ensinar animais e humanos a adquirirem controle sobre certas funções corporais. Ele demonstrou que as pessoas podem adquirir algum nível de controle sobre a sua pressão sanguínea e relaxar a frequência cardíaca quando estiveram cientes desses estados. Essa técnica recebeu o nome de biofeedback, e é muito utilizada até hoje na recuperação de diversas patologias (STRAUB, 2005).

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O surgimento da Psicologia da Saúde

A Psicologia da Saúde foi criada com o objetivo de estudar, de forma científica, as causas e origens de determinadas doenças, principalmente as origens psicológicas, comportamentais e sociais da doença. Ela busca investigar por que as pessoas se envolvem em comportamentos que comprometem a saúde, como fumar e sexo inseguro, e como facilitar a prática de comportamentos que pode preservar, restabelecer ou promover a saúde, como ter uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos. Também se preocupa com a prevenção e o tratamento de doenças, por meio de programas que auxiliem no processo de adaptação à enfermidade e estratégias para facilitar a adesão ao tratamento.

Alguns fatores contribuíram para o surgimento de um campo da Psicologia que se ocupasse exclusivamente de investigar e promover saúde. Segundo Straub (2005), são quatro tendências que desafiaram a medicina e a saúde pública e impulsionaram a criação da psicologia da saúde:

• Aumento da expectativa de vida: com a melhoria dos serviços de saúde e os avanços da medicina, a expectativa de vida aumentou na maioria dos países. Com as pessoas vivendo mais, existe maior consciência publica das questões relacionadas com a saúde, incluindo a preocupação com as questões psicológicas.

• Surgimento de transtornos relacionados ao estilo de vida: até o século 19, as pessoas morriam principalmente de doenças que eram causadas por falta de água potável, por alimentos contaminados, ou por infecções contraídas no contato com pessoas doentes. Não era incomum que centenas ou mesmo milhares de pessoas morressem em uma única epidemia de varíola,

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febre amarela, difteria, gripe ou sarampo. Melhorias em higiene pessoal, nutrição e saúde pública (como tratamentos de esgotos) levaram a um declínio no número de mortes por doenças infecciosas. Porém, apenas após a descoberta da penicilina por Alexander Fleming, em 1928, a saúde pública deu um passo verdadeiramente decisivo. Isso levou a uma mudança no padrão das principais causas de morte, que, antes do século 20, eram transtornos agudos, como tuberculose, gripe e pneumonia, e atualmente está relacionado a doenças crônicas, nas quais a pessoa precisa tratar por muitos anos para prevenir mortes prematuras e manter a qualidade de vida (STRAUB, 2005).

• Modificação no modelo biomédico: os questionamentos em relação ao reducionismo do modelo biomédico levaram à necessidade de pensar em saúde e doença de forma mais abrangente, como já foi discutido anteriormente. A medicina tradicional encontrou dificuldade para explicar por que o mesmo conjunto de fatores de risco algumas vezes desencadeia doenças e outras não. Isso induziu os pesquisadores a descobrir que fatores psicológicos, como a maneira como cada pessoa reage ao estresse, se combinam com fatores de risco físicos para determinar o risco à saúde do indivíduo (MIYAZAKI et al., 2011).

• Aumento dos custos do atendimento em saúde: o crescente aumento nos custos dos serviços de saúde ajudou a focar a atenção na eficácia do custo de promover e manter a saúde. A ênfase da psicologia da saúde em modificar os comportamentos de risco das pessoas, antes que eles causem doenças, tem o

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potencial de reduzir os custos com a saúde de forma expressiva (STRAUB, 2005).

Perspectivas da Psicologia da Saúde

A Psicologia da Saúde desenvolveu alguns modelos ou perspectivas para orientar seu trabalho, objetivando compreender de forma mais ampla os processos de saúde e doença. Cada um desses modelos investiga de forma diferente a mesma coisa e se complementam para a compreensão total da saúde.

O primeiro modelo é a perspectiva do curso de vida, que se concentra em investigar os aspectos da saúde e da doença relacionados com a idade e com os ciclos de vida. Essa perspectiva também examina as principais causas de morte que acometem certos grupos etários. Por exemplo, o uso de substâncias psicoativas é mais frequente em adolescentes, enquanto que as doenças crônicas afetam de forma mais significativa pessoas idosas.

Outra perspectiva é a sociocultural, que se dedica a conhecer a forma como os como fatores sociais e culturais contribuem para a saúde e para a doença. O termo cultura é compreendido como comportamentos, valores e costumes persistentes que um grupo de pessoas desenvolveu ao longo dos anos e transmitiu à próxima geração. Em culturas ou etnias diferentes existe muita diversidade em relação à expectativa de vida e ao nível de saúde, e algumas dessas diferenças refletem uma variação no status socioeconômico. Por exemplo, se compararmos a saúde da população residente no interior do Estado de São Paulo com a saúde da população que vive em pequenas comunidades no interior da Amazônia, encontraremos grandes diferenças

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relacionadas a estruturas de saneamento básico e estilos de vida. Outro exemplo refere-se às religiões que pregam um estilo de vida mais saudável, sem uso de álcool ou alimentos à base de carne animal, hábitos normalmente associados à melhor saúde.

Há também a perspectiva de gênero, que se concentra no estudo de problemas de saúde específicos de cada gênero. Homens e mulheres diferem no risco que apresentam para uma variedade de transtornos, como o índice de doenças cardiovasculares que, historicamente, tem sido maior em pacientes do sexo masculino, embora essa realidade esteja se modificando. Outro exemplo é a depressão, que acomete mulheres em uma frequência muito maior que homens.

todas essas perspectivas se sobrepõem e todas veem a saúde e a doença como produtos da interação de fatores. Elas diferem apenas nos fatores que enfatizam e se complementam (stRauB, 2005). Essas perspectivas se agrupam na perspectiva biopsicossocial, que engloba todas as questões tratadas anteriormente.

a perspectiva biopsicossocial defende que variáveis biológicas, psicológicas e sociais agem em conjunto para determinar a saúde e a vulnerabilidade do indivíduo à doença. Dessa forma, a saúde e a doença devem ser explicadas em relação aos contextos biológico, psicológico e social.

• O contexto biológico: são os aspectos do nosso corpo que influenciam a saúde e a doença: nossa conformação genética e nosso sistema nervoso, imunológico e endócrino. A biologia e o comportamento interagem de forma constante. Por exemplo: alguns indivíduos são mais vulneráveis a doenças relacionadas ao estresse porque reagem com agressividade aos problemas enfrentados. Uma das tarefas da psicologia da saúde

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é explicar como essa influência mútua entre biologia e comportamento ocorre.

• O contexto psicológico: a psicologia da saúde preconiza que a saúde e a doença estão sujeitas às influências psicológicas. Por exemplo, um fator fundamental para determinar o quanto uma pessoa consegue lidar com uma experiência de vida estressante é a forma como o evento é avaliado e interpretado. Eventos avaliados como avassaladores, invasivos e fora do nosso controle nos custam mais do ponto de vista físico e psicológico do que os que são avaliados como desafios menores, temporários e superáveis. De fato, algumas evidências sugerem que, independentemente de um evento ser realmente experimentado ou simplesmente imaginado, a resposta do corpo ao estresse é, de modo aproximado, a mesma. Os psicólogos da saúde pensam que algumas pessoas podem ser cronicamente depressivas e mais vulneráveis a certos problemas de saúde porque revivem eventos difíceis muitas vezes em suas mentes, o que pode ser funcionalmente equivalente a passar repetidas vezes pelo evento real (STRAUB, 2005).

• O pensamento, a percepção, a motivação, a emoção, a aprendizagem, a atenção e a memória têm implicações para a saúde. Os fatores psicológicos também desempenham um importante papel no tratamento de condições crônicas. As intervenções psicológicas ajudam os pacientes a administrar sua tensão, diminuindo, assim, as reações negativas ao tratamento. Aqueles pacientes mais tranquilos em geral são mais capazes e mais motivados para seguir as instruções de seus médicos. Também auxiliam os pacientes a administrar o estresse da vida cotidiana, que parece exercer um

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efeito cumulativo sobre o sistema imunológico. Eventos negativos na vida, como a perda de um ente querido, o divórcio, a perda de emprego ou uma mudança, podem estar ligados à diminuição do funcionamento imunológico e à maior suscetibilidade a doenças (STRAUB, 2005).

• O contexto social: a forma como cada pessoa se relaciona com a outra e com o ambiente também influencia em sua saúde. O gênero de cada um, por exemplo, implica determinado papel social que lhe dá um senso de ser mulher ou homem. Além disso, você é membro de determinada família, comunidade e nação, dessa forma, também tem certa identidade racial, cultural e étnica e vive dentro de uma classe socioeconômica específica. Cada um desses elementos do seu contexto social único influencia suas crenças e comportamentos – incluindo aqueles relacionados com a saúde (STRAUB, 2005).

Em resumo, a perspectiva biopsicossocial enfatiza as influências mútuas entre os contextos biológicos, psicológicos e sociais, que atuam em conjunto na determinação da saúde, como exemplificamos na Tabela 2:

Tabela 2 O modelo biopsicossocial de saúde e doença.

Biológico Psicológico Social

VírusBactériaLesõesGenética

Comportamento Crenças Enfrentamento Estresse

Gênero Estado Civil Emprego Classe Social Etnia

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É com esta concepção de saúde e de psicologia da saúde que daremos seguimento aos nossos estudos. A compreensão desses termos é imprescindível para avançarmos em direção ao nosso próximo tópico, no qual discutiremos as variáveis psicológicas e comportamentais que atuam na determinação da saúde. Este é o assunto da nossa próxima unidade.

3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES

Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. PsiCologiA dA sAúde

A psicologia da saúde foi desenvolvida a partir do conceito ampliado de saúde, com múltiplos determinantes. A evolução na forma de pensar saúde foi fundamental para o surgimento deste campo da psicologia. Contudo, foram os achados da psicologia um dos fatores que estimularam esta evolução no conceito de saúde. Dessa forma, devemos ter sempre em mente o conceito de ser biopsicossocial na determinação dos processos de saúde e doença.

Os textos a seguir ajudarão você a ampliar o conhecimento sobre este tema. É muito importante que você acesse os links apresentados e consulte os materiais indicados.

• GRILO, A.M.; PEDRO, H. Contributos da psicologia para as profissões da saúde. Disponível em: <http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/psd/v6n1/v6n1a05.pdf> Acesso em: 20 dez. 2013.

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UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE

• DE MARCO, M. A. Do modelo biomédico ao modelo biopsicossocial: um projeto de educação permanente. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbem/v30n1/v30n1a10.pdf> Acesso em: 20 dez. 2013.

• TEIXEIRA, J. A. C. Psicologia da saúde. Disponível em:<http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/aps/v22n3/v22n3a02.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2013.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas.

1) Sobre a subjetividade, assinale a alternativa incorreta:a) Ela é construída a partir do contato com mundo social e cultural. b) É composta de ideias, significados e emoções construídos pelo sujeito

a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica.

c) Ela é inata ao indivíduo, ou seja, acompanha-o desde seu nascimento. d) É o que constitui o nosso modo de ser.

2) Sobre o behaviorismo, está correto o que se afirma em:a) O comportamento não é entendido como uma ação isolada, mas sim

como uma interação entre o organismo e o seu ambiente.b) O comportamento respondente é uma resposta emitida pelo

organismo que produz uma consequência no ambiente, e é afetado (controlado) por essas consequências.

c) O comportamento operante é caracterizado por respostas do organismo que são eliciadas (produzidas) por estímulos do ambiente.

d) Essa teoria se refere à existência de três sistemas psíquicos: o incons-ciente, o pré-consciente e o consciente.

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UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE

3) São fatores que contribuíram para o surgimento da psicologia da saúde, exceto:a) Surgimento de transtornos relacionados ao estilo de vida.b) Modificação no modelo biomédico.c) A escolha da psicanálise como abordagem teórica prevalente na área

da Saúde. d) Aumento da expectativa de vida.

4) Em relação à definição de saúde, assinale a alternativa incorreta:a) Saúde social envolve ter habilidades interpessoais, relacionamentos

significativos com amigos e família e apoio social em épocas de crise.b) Saúde física implica ter um corpo saudável e livre de doenças.c) Considera a interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais.d) Concentra sua definição na ausência de doenças ou condições

negativas.

5) Sobre as perspectivas em saúde da família, assinale a alternativa correta:

a) a perspectiva de gênero que se concentra em investigar os aspectos da saúde e da doença relacionados com a idade e ciclos de vida.

a) Homens e mulheres não devem ser diferentes no risco que apresen-tam para transtornos e doenças.

b) A perspectiva sociocultural defende que variáveis biológicas, psicológi-cas e sociais agem em conjunto para determinar a saúde e a vulnerabi-lidade do indivíduo à doença.

c) Todas as perspectivas se sobrepõem e todas veem a saúde e a doença como produtos da interação de fatores.

Gabarito

Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:

1) C

2) A

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UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE

3) C

4) D

5) D

5. CONSIDERAÇÕES

Chegamos ao final da primeira unidade, na qual você teve a oportunidade de conhecer um pouco sobre a ciência da psicologia e algumas abordagens teóricas. Além disso, apresentamos a definição de saúde como determinada por variáveis biopsicossociais. Essa concepção de saúde é a base da Psicologia Aplicada à Saúde, que busca compreender os aspectos comportamentais envolvidos na preservação e promoção da saúde.

Na próxima unidade, descreveremos, de forma mais detalhada, as variáveis psicológicas e comportamentais que interferem na saúde.

Até lá!

6. E-REFERÊnCiasAMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION – APA. Public description of clinical health psychology. Disponível em: <www.apa.org/ed/graduate/specialize/health.aspx>. Acesso em: 12 jan. 2014.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAúDE – OMS. Constituição da Organização Mundial da Saúde. Diponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organiza%C3%A7%C3%A3o-Mundial-da-Sa%C3%BAde/constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html>. Acesso em: 27 jul. 2015.

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UNIDADE 1 – FUNDAmENtos DA PsIcologIA DA sAúDE

7. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICASBOCK, A M. B.; FURTADO, O; TEIXEIRA, M. L. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.FIGUEIREDO, L. C.; SANTI, P. L. R. Psicologia: uma (nova) introdução. São Paulo: EDUC, 2004.

MELLO FILHO, J. Psicossomática hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E. Et al. Psicologia da Saúde. Intervenções em hospitais públicos. In: Bernard Rangé. (Org.). Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.

STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.

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49

VARIÁVEIS PSICOLÓGICAS NA DETERMINAçãO DA SAÚDE

Objetivos• Compreender como variáveis psicológicas e comporta-

mentais podem influenciar a saúde.• Interpretar os tipos de prevenção e os comportamentos

que promovem saúde.• Analisar o processo de adesão ao tratamento.• Identificar características de personalidade ou padrões

de comportamento que estão associados ao desenvol-vimento de algumas doenças.

Conteúdos• Fatores evolutivos e saúde.• História de vida na determinação da saúde/doença.• Variáveis psicossociais do tratamento.

Orientações para o estudo da unidade

Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) O estresse é uma variável psicológica que tem grande associação com os processos de saúde e doença. No

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entanto, pela complexidade do tema, ele não será analisado nesta unidade, mas sim em uma unidade específica para o assunto, a Unidade 3.

2) Durante o estudo desta unidade, procure pensar no seu próprio comportamento em relação à sua saúde. Tente identificar em que padrões de comportamento você se encaixa. Isso facilitará a memorização do conteúdo.

3) Não se esqueça de explorar o material disponível nos Conteúdos Digitais Integradores e procure realizar outras pesquisas sobre este tema. Existem outros aspectos que não puderam ser contemplados aqui.

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UNIDADE 2 – VArIáVEIs PsIcológIcAs NA DEtErmINAção DA sAúDE

1. INTRODUÇÃO

A Psicologia da Saúde busca compreender porque algumas pessoas são mais saudáveis que outras e por que algumas que recebem o mesmo diagnóstico, às vezes, evoluem de formas muito diferentes.

Para responder a estas questões, devemos, antes de tudo, considerar os mecanismos genéticos envolvidos. Algumas pessoas são mais predispostas a desenvolver determinadas doenças que outras, simplesmente porque sua composição biológica a faz mais vulnerável a isso. No entanto, pesquisadores perceberam que outras variáveis poderiam estar presentes na determinação da saúde. Foi verificado que alguns fatores como hábitos de vida mais saudáveis, realização de exames médicos periódicos e mesmos alguns padrões de comportamento (características da personalidade) agiam como proteção à saúde. Todos esses fatores envolvem comportamentos, e como tais, a Psicologia acredita que podem ser modificáveis.

Desse modo, se a saúde da pessoa depende de seus comportamentos e estes são passíveis de modificação, então se torna imprescindível que o profissional de saúde conheça o modo como estes padrões de comportamentos afetam a saúde, para facilitar e promover adesão ao tratamento e hábitos de vida mais saudáveis.

Nesta unidade, exploraremos como variáveis psicológicas e comportamentais podem determinar os processos de saúde e doença. A compreensão desses aspectos fará de você um profissional de saúde mais habilitado e capaz de promover modificações saudáveis nos seus pacientes.

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2. CONTEúDO BÁSICO DE REFERêNCIA

O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos Digitais Integradores.

2.1. sAúde e ComPortAmento

A Psicologia no campo da Saúde vem se constituindo como uma das formas de se compreender o adoecimento e as maneiras pelas quais a pessoa pode manter-se saudável. De forma geral, a Psicologia da Saúde é um campo que estuda as influencias psicológicas na saúde, os fatores responsáveis pelo adoecimento e as mudanças de comportamento das pessoas no adoecer. Ela pode ser compreendida como um domínio da Psicologia que utiliza vários conhecimentos resultantes de estudos e de pesquisas psicológicas, com o intuito de promover e proteger a saúde. É também seu objetivo prevenir e tratar enfermidades, bem como identificar etiologias e disfunções associadas às doenças (CAPITÃO; SCORTEGAGNA; BAPTISTA, 2005).

A saúde, como estudamos na Unidade 1, pode ser considerada um estado de completo bem-estar físico, psicológico e social. Assim, a Psicologia da Saúde volta-se para os aspectos psicológicos da saúde no decorrer da vida de uma pessoa, não como variáveis isoladas, mas como esferas da vida interdependentes que se influenciam mutuamente. Nesta Unidade, exploraremos como os fatores psicossociais e comportamentais exercem influência sobre a saúde e a doença.

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UNIDADE 2 – VArIáVEIs PsIcológIcAs NA DEtErmINAção DA sAúDE

A saúde pode ser influenciada por variadas condições, tais como:

1) diferenças individuais (experiência e história de vida);2) traços de personalidade; 3) sistema de crenças;4) padrão de comportamento;5) redes de suporte social; 6) meio ambiente.

Capitão, Scortegagna e Baptista (2015) “sugerem que os processos psicológicos e os estados emocionais estão diretamente relacionados com a etiologia e a disseminação de doenças”.

Até o início do século 20, as principais causas de morte eram as doenças infecciosas, como pneumonia e tuberculose, entre outras. No entanto, com os avanços da medicina, a reforma sanitária e o desenvolvimento de vacinas cada vez mais eficientes, as epidemias dessas doenças foram controladas. Aos poucos, as doenças crônicas foram substituindo as infecciosas como a principal causa de mortalidade (MIYAZAKI et al., 2011).

A principal causa de morte no mundo atualmente são as doenças cardiovasculares, seguida pelo câncer. Essas doenças são significativamente influenciadas por fatores comportamentais e ambientais, como o hábito de fumar, a falta de exercício físico, comer excessivamente e temperamentos hostis. Por essa razão, houve uma mudança no foco da doença como estritamente fisiológica, para causas fisiológicas e psicológicas.

É difícil imaginar uma atividade ou comportamento que não influencie a saúde de alguma forma, direta ou indiretamente, para melhor ou para pior. O consumo excessivo de álcool é um

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exemplo de comportamento que tem impacto negativo direto sobre a saúde física. Algumas características pessoais como a hostilidade ou a passividade também podem afetar a saúde. Alguns comportamentos afetam a saúde imediatamente, como envolver-se em um acidente de carro sem estar usando o cinto de segurança. No entanto, outros comportamentos afetam a saúde a longo prazo, como é o exemplo do consumo excessivo de gorduras e sódio. Já alguns comportamentos produzem tanto efeitos imediatos quanto a longo prazo, como o uso abusivo de álcool e a prática de exercícios físicos.

Podemos dividir os efeitos dos comportamentos sobre a saúde em dois tipos: efeitos positivos e efeitos negativos (STRAUB, 2005). Veja o Quadro 1:

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UNIDADE 2 – VArIáVEIs PsIcológIcAs NA DEtErmINAção DA sAúDE

Quadro 1 Efeitos dos comportamentos sobre a saúde.Efeitos Positivos Efeitos NegativosComportamentos ou hábitos que apresentam efeito prote-tor sobre a saúde trazem be-nefícios ao indivíduo.

Por exemplo: a prática regular de exercícios físicos, o uso de filtro solar, uma dieta equilibrada, sexo seguro, o uso de equipamentos de segurança etc. Todos esses comportamentos ajudam a "imunizar" a pessoa contra doenças e ferimentos.

Outros comportamentos como ter atividades prazero-sas, tirar férias regularmente, rir, ter amigos, entre outros, também podem produzir efeitos positivos à saúde.

Essas atividades ajudam muitas pessoas a manejar o estresse e a manter uma perspectiva de vida otimista.

São comportamentos ou hábitos relacionados ao estilo de vida que prejudicam a saúde.

Entre os mais comuns estão fu-mar, comer de forma excessiva, consumir substâncias tóxicas, práticas inseguras no trânsito e comportamentos sexuais de risco.

Além desses, a raiva, o estres-se, a tristeza, a hostilidade, entre outros, também podem prejudicar a saúde.

Fonte: Acervo do autor.

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Os comportamentos relacionados com a saúde interagem e frequentemente são inter-relacionados. Além disso, o efeito combinado desses comportamentos prejudiciais à saúde é mais forte do que se a pessoa realizasse apenas um desses comportamentos. Por exemplo, é muito comum que pessoas que fazem uso abusivo de álcool utilizem também outros tipos de substancias tóxicas ou apresentem comportamentos sexuais de risco (CAPITÃO; SCORTEGAGNA ; BAPTISTA, 2005).

2.2. Prevenção de doençAs

A partir da evidência da relação entre o estilo de vida e a saúde, muitas pesquisas tem se dedicado ao estudo da prevenção de doenças (STRAUB, 2005). Os pesquisadores diferenciaram três tipos de prevenção, que são adotados antes, durante e depois que uma doença ataca. Observe o Quadro 2:

Quadro 2 Tipos de Prevenção em Saúde.

Prevenção Primária

Refere-se a ações para promover a saúde que são adotadas para prevenir a ocorrência de doenças ou ferimentos.

Exemplo: o uso do cinto de segurança, o uso de camisinha, uma alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos, evitar fumar e fazer exames de saúde com regularidades.

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Prevenção Secundária

Envolve ações adotadas para identificar e tratar a doença ainda no seu início.

Exemplo: realizar exames regulares para monitorar sintomas, usar medicações e modificar hábitos não saudáveis.

Prevenção Terciária

Implica ações adotadas para conter ou retardar danos, uma vez que a doença já tiver progredido além de seus estágios iniciais.

Envolvem tratamentos mais avançados, como quimioterapia e radioterapia, medicamentos mais fortes, procedimentos cirúrgicos, entre outros.

A prevenção terciária tenta a máxima reabilitação possível

Fonte: Acervo do autor.

Embora a prevenção terciária seja mais cara e menos benéfica do que a prevenção primária e secundária, é a forma mais comum de tratamento de saúde. O tratamento terciário é muito mais fácil de ser realizado, pois o grupo alvo de intervenção, ou seja, aqueles que já estão doentes são facilmente identificados. Além disso, os pacientes em tratamento terciário normalmente têm mais motivação para aderir ao tratamento e tomar parte em outros comportamentos que melhoram a saúde (ALMEIDA, 2005).

Os profissionais da saúde podem contribuir com a prevenção de doenças por meio do acolhimento personalizado

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de cada paciente e de suas demandas. Além disso, os serviços de saúde necessitam pensar em estratégicas para que as formas iniciais de prevenção possam acontecer. As intervenções de promoção de saúde, realizadas nos núcleos de saúde da família, e as campanhas para detecção precoce de doenças são bons exemplos de prevenção primária e secundária, respectivamente.

Apesar das evidências positivas relacionadas à prevenção em saúde, esta ainda encontra diferentes barreiras. Considerando a saúde e outros comportamentos como determinados pela interação entre mecanismos biológicos, processos psicológicos e influências sociais, devemos considerar que os comportamentos relacionados à saúde dependem de variáveis relacionadas não só ao indivíduo, mas também à sua comunidade e aos profissionais de saúde (ALMEIDA, 2005).

Barreiras individuais

Muitas vezes, os comportamentos prejudiciais à saúde não apresentam consequência imediata. Por exemplo, quando vamos a uma churrascaria, não nos sentimos mal naquele momento, pelo contrário, normalmente, nos sentimos bem ao comer uma comida que gostamos, principalmente, se estivermos na companhia de amigos agradáveis. No entanto, o efeito a longo prazo de uma alimentação rica em gordura animal pode trazer sérios riscos à nossa saúde. Da mesma forma, ao ir a uma festa com os amigos e beber bastante, sentimo-nos animados e normalmente felizes. Não há uma consequência imediata para o uso abusivo do álcool; há, no máximo, uma dorzinha de cabeça no dia seguinte. Mas o efeito do uso prolongado de álcool está associado ao aparecimento de diversas doenças.

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O problema está nesse atraso da consequência. Na psicologia comportamental (behaviorista), chamamos isso de "gradiente de reforço" (MOREIRA; MEDEIROS, 2007). Esse princípio diz que as recompensas ou punições imediatas são mais eficazes do que as atrasadas. Muitos comportamentos que favorecem a saúde, como praticar exercícios físicos e seguir uma dieta balanceada são menos prazerosos ou mais cansativos do que suas alternativas menos saudáveis. Se realizar certo comportamento, causa alívio ou gratificação imediata, ou, se não realizar tal comportamento, proporciona desconforto imediato; o comportamento é difícil de ser eliminado.

Barreiras impostas pela família

Os hábitos de saúde normalmente são adquiridos com os pais e outras pessoas que atuam como modelos de comportamentos prejudiciais à saúde. Pais que fumam, por exemplo, tem mais probabilidade de terem filhos fumantes. De maneira semelhante, é comum observar famílias em que todos os membros são obesos, e filhos de alcoólatras têm maior chance de consumirem álcool em excesso (STRAUB, 2005).

Além de uma base genética, muitos desses comportamentos podem ser aprendidos por meio da observação dos comportamentos de risco dos familiares. Diversas outras variáveis familiares foram ligadas a comportamentos de risco, como inconsistência parental, conflitos conjugais, relacionamento coercitivo entre pais e filhos e consumo exagerado de álcool e drogas.

Barreiras impostas pelo sistema de saúde

A medicina e os sistemas de saúde estão, de forma geral, concentrados em condições de tratamento que já estão

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desenvolvidas. Dessa forma, sinais precoces de doenças e fatores de risco acabam sendo negligenciados (ALMEIDA, 2005). Pessoas que não estejam experimentando sintomas de doenças não são estimuladas a buscar orientações com relação a fatores de risco potenciais, e os profissionais de saúde são focados, principalmente, na recuperação de agravos de saúde já presentes, e não na prevenção de doenças futuras. Podemos dizer que já houve alguns avanços nesse sentido, pois há uma crescente preocupação que os estudantes de áreas relacionadas à saúde passem a explorar a promoção de saúde. A criação da Estratégia Saúde da Família é um importante avanço nesse sentido.

2.3. Adesão Ao trAtAmento

A adesão depende da capacidade do paciente em seguir seu tratamento conforme as recomendações da equipe de saúde, estando esclarecido de que essas recomendações e suas ações em favor do tratamento o auxiliarão em sua recuperação. A não adesão consiste na dificuldade ou fracasso, por parte do paciente, em cumprir o programa ou orientação propostos pelos profissionais da saúde. As dificuldades de adesão é um problema comum em várias áreas da saúde, tanto em prevenção, tratamento, como em reabilitação e há necessidade de entendê-la melhor, já que compromete todo o tratamento (SANGUIN; VIZZOTTO, 2007).

Ainda no que se refere à não adesão, inúmeras variáveis estão envolvidas. Fatores de aderência e não aderência estão aqueles relacionados à própria doença, às relações médico-paciente, à personalidade do paciente, ao meio social, ao próprio tratamento e às condições do serviço de saúde. Podemos dividir

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esses fatores em variáveis do paciente, comunicação e variáveis do tratamento (SANGUIN; VIZZOTTO, 2007).

Vamos descrever melhor cada uma delas:1) Variáveis do paciente: os fatores do paciente que

mais estão relacionados com a adesão são o bom suporte social e a percepção de responsabilidade sobre sua saúde. Assim, pacientes que contam com uma boa rede de apoio, na qual são incentivados a realizar corretamente o tratamento, têm auxílio de outras pessoas para organizar a rotina de consultas e medicamentos e recebem suporte emocional e material para cuidar de sua saúde, tendem a aderir melhor ao tratamento. É importante observar que esse apoio social pode ser fornecido tanto pela família como por amigos ou pela comunidade na qual o paciente está inserido. Do mesmo modo, pacientes que idendificam que sua saúde é resultado do seu próprio comportamento e se coloca como responsável pela sua recuperação, atuando de forma mais ativa no tratamento, também apresentam melhor adesão às orientações da equipe de saúde.

2) Comunicação: fatores como o estilo de comunicação do profissional de saúde e a satisfação do paciente com a equipe são variáveis que podem interferir na adesão ao tratamento. É comum que os pacientes saiam de consultas com informações insuficientes ou mesmo com a compreensão errônea de seus problemas. Especialmente, em consultas difíceis, em que os pacientes se encontram em considerável estado de estresse é difícil aceitar tudo que o médico fala. Profissionais de saúde que são bons comunicadores e

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que cumprem com as expectativas de seus pacientes no que diz respeito às informações que recebem, tendem a ter pacientes com maior probabilidade de aderirem às recomendações do tratamento.

3) Variáveis do tratamento: os pacientes têm mais probabilidade de seguir recomendações em que acreditam e que sejam capazes de cumprir. Mesmo quando um tratamento é considerado importante, o fato de o paciente ser capaz de realmente cumprir com as orientações propostas depende de quão difícil ele é e do apoio disponível ao paciente. Quanto mais complexo for o tratamento, menor será a probabilidade de haver adesão completa. Algumas modificações poderiam facilitar a adesão ao tratamento dos pacientes, tais como as descritas no quadro abaixo (STRAUB, 2005):

No Quadro 3, veja as alterações no tratamento que podem facilitar a adesão do paciente.

Quadro 3 Facilitando a Adesão ao TratamentoFacilitando a Adesão ao TratamentoManter o regime de tratamento o mais simples e curto possível.Moldar o tratamento com o estilo de vida do paciente.Simplificar as instruções com linguagem clara para garantir que se compreenda a quantidade, os horários e a duração do tratamento.Assegurar-se de que o indivíduo entende o suficiente da lógica do tratamento para que ele tenha confiança nos prazos a serem cumpridos.Envolver familiares e amigos no tratamento.Sempre dar um retorno sobre o progresso do tratamento ao paciente.

Fonte: Acervo do autor.

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2.4. teoriAs de ComPortAmento e sAúde

A Psicologia da Saúde desenvolveu diversas teorias na tentativa de explicar porque as pessoas praticam ou não determinados comportamentos que promovem ou prejudicam a saúde. Algumas dessas teorias se concentram em prever a maneira como as pessoas tomam decisões sobre determinado comportamento, com base na ideia de que as pessoas são racionais e entram em um processo de pesar os prós e os contras de praticarem determinado comportamento que poderia afetar sua saúde. No entanto, as teses mais amplamente aceitas na Psicologia da Saúde são as teorias com estágios, que pressupõem que a decisão de adotar determinado comportamento saudável seja um processo dinâmico, envolvendo mais de uma decisão e que normalmente requer diversas etapas ou estágios (STRAUB, 2005).

Dentre as teorias com estágios, o Modelo Transteórico, também conhecido como estágios de prontidão para a mudança, formulado por Prochaska e DiClemente (1984), é o mais amplamente utilizado na compreensão da modificação de comportamentos não saudáveis. Essa teoria foi inicialmente desenvolvida para explicar o comportamento envolvido no uso abusivo de substancias psicoativas (drogas), mas posteriormente foi ampliado para todos os comportamentos aditivos e comportamentos relacionados à saúde.

O modelo transteórico sustenta que as pessoas progridem por meio de cinco estágios ao alterar comportamentos relacionados com a saúde. Os estágios são definidos em termos de comportamentos passados e intenções de ações futuras. Esse modelo está focado na mudança intencional, referindo-se à tomada de decisão do indivíduo, e não nas influências sociais

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ou biológicas sobre o comportamento. Dessa forma, a mudança de comportamento tende a se mover ao longo de uma série de estágios, independentemente de a pessoa estar ou não inserida em um plano de tratamento. Os estágios de motivação para a mudança representam a dimensão temporal do modelo transteórico e indicam quando mudanças particulares nas atitudes, intenções e comportamentos tendem a acontecer, possibilitando que o acesso ao estágio de prontidão para mudança no qual o cliente se encontra permita uma adequação das intervenções terapêuticas direcionadas a esse paciente.

São definidos cinco estágios, descritos na Figura 1 a seguir:

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unidadE 2 – vaRiÁvEis psiColÓGiCas na dEtERminação da saÚdE

Fonte: Acervo do autor.Figura 1 Os cinco estágios.

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UNIDADE 2 – VArIáVEIs PsIcológIcAs NA DEtErmINAção DA sAúDE

Para compreender melhor esses estágios de prontidão para a mudança, vamos imaginar um paciente com obesidade mórbida, que foi diagnósticado com hipertensão e diabetes. Além do tratamento medicamentoso, este paciente foi orientado pela equipe de saúde que precisa mudar radicalmente seus hábitos alimentares e praticar algum exercício físico. Trata-se, portanto, de uma importante mudança no estilo de vida desse paciente.

No primeiro estágio do modelo transteórico, a pré-contemplação, esse paciente provamelmente diria: "- Imagina, este médico está exagerando. Não tem nada a ver uma coisa com a outra! Comer me dá prazer, e se eu for ficar preocupado com isso, ai sim vou ficar doente!". Nota-se que há uma ausência de intenção de mudança e o paciente não avalia seu comportamento como problemático.

Na segunda fase, a contemplação, este paciente passa a reconhecer a necessidade de alteração de comportamento, mas ainda não realiza nenhuma mudança de fato: "- Eu preciso parar de comer estas coisas gordurosas, mas não consigo. Eu adoro tudo isso, churrasco, fritura, sorvete. Parar de comer como? Não tem jeito".

Na etapa seguinte, o estágio de preparação, o paciente se organiza no sentido de buscar a ajuda necessária para conseguir mudar seu comportamento. Nosso paciente, por exemplo, agenda consulta com nutricionistas, pesquisa possíveis atividades físicas que poderia realizar e solicita apoio da sua esposa para conseguir mudar seus hábitos alimentares.

Já na fase de ação, nosso paciente coloca em prática as orientações fornecidas pela equipe de saúde, seguindo a dieta proposta para perder peso, diminuindo o consumo de gordura e praticando exercícios físicos diariamente. Este é o estágio no

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qual a mudança de fato ocorre. Em seguida, o paciente busca manter esses ganhos obtidos e evita recaídas, o que configura a etapa de manutenção.

O modelo transteórico reconhece que as pessoas avançam e retrocedem nesses estágios de forma não linear. É comum que pessoas tenham recaídas em relação a comportamentos de risco, como fumar por exemplo. Esse modelo também reconhece que diferentes processos comportamentais, cognitivos e sociais podem assumir preponderância à medida que as pessoas lutam para atingir seu objetivo. Tais processos incluem conscientização (buscar mais informações sobre saúde), substituição do comportamento prejudicial por outro alternativo e receber recompensas de si mesmo ou de outras pessoas pela conquista (STRAUB, 2005).

2.5. PERSONALIDADE E SAúDE

Há algumas décadas, pesquisadores vêm tentando descobrir padrões de comportamentos que se correlacionem com as doenças. Há o interesse de verificar se há um perfil psicológico comum a algumas doenças, pois se esse perfil fosse precocemente identificado nos indivíduos, seria possível realizar intervenções de forma a minimizar os danos causados por esses padrões de comportamento.

Pesquisas sobre desenvolvimento e evolução das enfermidades físicas, emocionais e psicossomáticas têm descrito tipos de personalidades que predispõe o indivíduo a contrair certas enfermidades como, por exemplo, cardiopatias e câncer (DENOLLET, 1998).

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O primeiro padrão de comportamento descrito foi a personalidade tipo A, que foi fortemente associada ao aparecimento de doenças cardiovasculares. Os comportamentos característicos dessa personalidade seriam a impaciência, a competitividade, a urgência de tempo e a hostilidade. Assim, pessoas que apresentam esse padrão de comportamento são mais vulneráveis a doenças cardíacas.

Contrapondo-se ao tipo A, também foi descrita a personalidade tipo B, que seria a presença de comportamentos opostos ao do tipo A. Pessoas com este padrão de comportamento são mais tranquilas e capazes de se recuperar mais rapidamente de situações estressantes do que os indivíduos tipo A. Dessa forma, seriam indivíduos com menor chance de desenvolverem doenças cardiovasculares.

Acompanhando a sequência do alfabeto latino, temos também a personalidade tipo C, que se refere ao padrão de enfrentamento, inicialmente identificado em pacientes com câncer. Esse enfrentamento inadequado é associado à baixa frequência de expressão emocional e comunicação empobrecida dessas emoções e necessidades, e uma preocupação com as necessidades e emoções das outras pessoas. As pesquisas mostraram que pessoas com estas características estavam mais vulneráveis a apresentarem tumores malignos.

Atualmente, novos estudos foram realizados e foi verificado que outro padrão de comportamento parece estar mais associado ao aparecimento de doenças cardiovasculares do que o tipo A. Esse padrão foi chamado de personalidade tipo D, devido à palavra distressed, que pode ser traduzida como aflito ou angustiado. Pessoas com personalidade tipo D apresentam afetividade negativa associada à presença de inibição social. São

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UNIDADE 2 – VArIáVEIs PsIcológIcAs NA DEtErmINAção DA sAúDE

indivíduos que estão mais suscetíveis a vivenciar dificuldades emocionais e interpessoais, ficando vulneráveis a outros fatores de risco psicossociais, como estresse, exaustão vital, depressão, ansiedade e isolamento social. Além disso, são indivíduos que tendem a se engajar menos no tratamento, emitem menor frequência de comportamentos de busca de ajuda e até seu comportamento em consultas e interações com profissionais de saúde em geral é obstáculo para a manutenção de um autocuidado minimamente satisfatório (DENOLLET, 1998).

A definição desses padrões de comportamentos não significa, necessariamente, que todas as pessoas que se enquadrarem nesses tipos de personalidade desenvolverão as respectivas doenças. Apenas sinaliza quais grupos de pessoas são mais vulneráveis a contraí-las.

3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES

Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. SAúDE E COMPORTAMENTO

Nesta unidade, vimos que a saúde pode ser influenciada por diversos fatores e que a forma como nos comportamos tem efeitos diretos sobre a nosso bem-estar. Diversos tipos de doenças poderiam ser evitados ou amenizados com a mudança do estilo de vida e com a adesão correta ao tratamento.

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UNIDADE 2 – VArIáVEIs PsIcológIcAs NA DEtErmINAção DA sAúDE

Os links apresentados a seguir são parte efetiva dos estudos desta unidade. É muito importante que você consulte os materiais indicados:

• BARLETTA, J. B. Comportamentos e crenças em saúde: contribuições da Psicologia para a medicina comportamental. Disponível em: <http://www.seer.imed.edu.br/index.php/revistapsico/article/view/42/41>. Acesso em: 8 jan. 2014.

• REINERS, A. A. O. et al. Produção bibliográfica sobre adesão/não-adesão de pessoas ao tratamento de saúde. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csc/v13s2/v13s2a34.pdf>. Acesso em: 3 jan. 2014.

• ALMEIDA-FILHO, N. Modelos de determinação social das doenças crônicas não-transmissíveis. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v9n4/a09v9n4.pd>. Acesso em: 5 jan. 2014.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder às questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas.

1) Em relação às influencias sobre o processo de saúde e doença, assinale a alternativa INCORRETA:a) A saúde pode ser influenciada por variadas condições, tais como, dife-

renças individuais, traços de personalidade, sistema de crenças, com-portamentos, redes de suporte social e meio ambiente.

b) Os processos psicológicos e os estados emocionais estão diretamente relacionados com a etiologia e a disseminação de doenças.

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c) Nosso comportamento pode ter efeito positivo ou negativo sobre nos-sa saúde.

d) Diante das evidências da influencia de fatores psicológicos e compor-tamentais na saúde, podemos dizer que as variáveis biológicas são irrelevantes.

2) Sobre prevenção em saúde, assinale a alternativa INCORRETA:a) Prevenção terciária implica ações adotadas para conter ou retardar da-

nos, uma vez que a doença já tiver progredido além de seus estágios iniciais.

b) A prevenção secundária é a forma mais comum de tratamento de saúde.

c) O atraso da consequência de um comportamento e os modelos fami-liares inadequados são exemplos de barreiras à prevenção.

d) Prevenção primária refere-se a ações para promover a saúde que são adotadas para prevenir a ocorrência de doenças ou ferimentos.

3) Em relação a adesão ao tratamento, podemos afirmar:a) A dificuldade de adesão não é um problema comum em saúde.b) A adesão consiste na capacidade do paciente em seguir seu tratamen-

to conforme as recomendações da equipe de saúde.c) Características do paciente são determinantes na adesão, independen-

te da sua relação com a equipe de saúde. d) Variáveis do tratamento pouco influenciam na adesão.

4) Descreva os cinco estágios de prontidão para mudança de acordo com o Modelo transteórico.

5) Sobre personalidade e saúde, assinale a alternativa INCORRETA:a) Doenças cardiovasculares foram inicialmente associadas à personali-

dade Tipo A. No entanto, novas evidências científicas mostram uma relação maior entre cardiopatas e personalidade Tipo D.

b) A personalidade Tipo C refere-se ao padrão de enfrentamento identifi-cado em pacientes com câncer.

c) A impaciência, a competitividade, a urgência de tempo e a hostilidade são comportamentos característicos da personalidade Tipo B.

d) Pessoas com personalidade Tipo D apresentam afetividade negativa associada à presença de inibição social.

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UNIDADE 2 – VArIáVEIs PsIcológIcAs NA DEtErmINAção DA sAúDE

Gabarito Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:

1) D

2) B

3) B

4) Pré-contemplação; contemplação; preparação; ação; e manutenção.

5) C

5. CONSIDERAÇÕESComo vimos, há evidências de que as variáveis de

comportamento afetam a saúde e a doença e que fatores cognitivos e comportamentais são fundamentais para predição de comportamento de saúde. Essas informações têm chamado a atenção de profissionais e pacientes para a importância de hábitos de saúde e para o estilo de vida.

A modificação de alguns comportamentos, tais como deixar de fumar, cuidar da alimentação, controlar o estresse, praticar atividades físicas regularmente, dormir um número de horas adequado podem reduzir o aparecimento de doenças crônicas e reduzir a mortalidade. Dessa maneira, prevenir o desenvolvimento de maus hábitos de saúde é prioridade na Psicologia Aplicada à Saúde.

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UNIDADE 2 – VArIáVEIs PsIcológIcAs NA DEtErmINAção DA sAúDE

5. E-REFERÊnCiasCAPITÃO, C. G.; SCORTEGAGNA, S. A.; BAPTISTA, M. N. . A importância da avaliação psicológica na saúde. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1677-04712005000100009&script=sci_arttext>. Acesso em: 27 jul. 2015.

SCIELO. Scientific Electronic Library Online. Disponível em: <http://www.scielo.org/php/index.php>. Acesso em 12 jan.2014.

6. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICASALMEIDA, L. M. Da prevenção primordial à prevenção quaternária. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 23 (1), p. 91-96, 2005.

CAPITÃO, C. G.; SCORTEGAGNA, S. A.; BAPTISTA, M. N. A importância da avaliação psicológica na saúde. Avaliação Psicológica, 4 (1), p. 75-74, 2005.

DENOLLET, J. (1998). Personality and coronary heart disease: the type-D scale-16 (DS16). Annals of Behavioral Medicine, 20(3), 209-215.

MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E.; VALERIO, N. I. Psicologia da Saúde: intervenções em hospitais públicos. In: Bernard Rangé. (Org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos de análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.

SANGUIN, F. P. S.; VIZZOTTO, M. M. Variáveis psicológicas relacionadas ao processo de adesão ao tratamento fisioterapêutico. Mudanças – Psicologia da Saúde, 15 (1) 13-22, jan./jun., 2007.

STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.

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UNIDADE 3ESTRESSE E DOENçA

Objetivos• Compreender o que é estresse e analisar o seu efeito no

nosso organismo. • Interpretar os modelos de estresse e doença.• Descrever as estratégias de enfrentamento diante do

estresse.• Analisar o estresse relacionado com o trabalho e a

síndrome de burnout.

Conteúdos• Estresse e doença: mecanismos fisiológicos e

enfrentamento.• Adoecimento no trabalho.

Orientações para o estudo da unidade

Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) O estudo do estresse e do enfrentamento é um exemplo perfeito sobre a compreensão da saúde segundo o modelo biopsicossocial. Esse modelo foi estudado na

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

nossa primeira unidade. Relembre o seu conteúdo e pense sobre isso durante o seu estudo.

2) Lembre-se sempre de tirar suas dúvidas com seus tutores, pois eles estão preparados para auxiliá-los no processo de aprendizagem.

3) Aprimore seu estudo com pesquisas e leitura das referências bibliográficas da unidade e Conteúdos Digitais Integradores.

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

1. INTRODUÇÃO

Nesta unidade, estudaremos o efeito do estresse sobre a nossa saúde. Vamos discutir sobre formas como o estresse se manifesta em nosso corpo e como interage com nosso organismo, facilitando o aparecimento de doenças.

De fato, o estresse é hoje um sério problema de saúde. Ele está relacionado às seis principais causas de morte – doença cardíaca, câncer, complicações pulmonares, acidentes, cirrose do fígado e suicídio. Isso mostra o impacto do estresse em nossa sociedade e a necessidade de ampliar a compreensão sobre ele.

Estudaremos, também, as estratégias mais utilizadas para o enfrentamento do estresse e como este pode estar associado ao nosso trabalho.

2.  CONTEúDO BÁSICO DE REFERêNCIA

O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos Digitais Integradores.

2.1. estresse

Vamos compreender o que é o estresse. Esse termo, que se popularizou muito nos últimos tempos, tem sido muito usado para descrever inúmeras condições do nosso organismo, tais como cansaço, preocupação ou mesmo nervosismo. No entanto, o estresse vai além dessas situações. Trata-se de um mecanismo fisiológico do organismo, com componentes psicológicos, físicos,

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

mentais e hormonais, que ocorre quando surge a necessidade de uma adaptação a um evento ou situação de importância (MIYAZAKI et al., 2011).

Assim, o estresse[...] caracteriza uma reação fisiológica do organismo sem o qual nós, nem os outros animais, teríamos sobrevivido. Se nosso antepassado das cavernas não reagisse imediatamente, ao se deparar com uma fera faminta, não teria deixado descendentes Nós existimos porque nossos ancestrais se estressavam, isto é, liberavam uma série de mediadores químicos (o mais popular é a adrenalina), que provocavam reações fisiológicas para que, diante do perigo, enfrentassem a fera ou fugissem (FAMILIA.COM.BR, 2015).

Em outras palavras, o estresse é o responsável pelas nossas reações de luta e fuga (MELLO, 1995).

A palavra “estresse” é, algumas vezes, usada para descrever uma situação ou um estímulo ameaçador e, em outras, para descrever a resposta a uma situação. Por exemplo, quando uma pessoa está sofrendo pressão no trabalho, dizemos que ela está sob estresse (estímulo), mas se esta mesma pessoa apresenta dificuldades para se concentrar ou fadiga, dizemos que ela se encontra estressada (resposta).

a psicologia da saúde distingue as propriedades de estímulo do estresse de suas propriedades de resposta. os estressores são estímulos ou eventos que desencadeiam adaptações de enfrentamento. A tensão refere-se às respostas físicas e emocionais que acompanham a percepção que a pessoa tem dos estressores. o estresse é assim definido de forma mais completa como um processo pelo qual alguém percebe e responde a eventos que são julgados como desafiadores ou ameaçadores (STRAUB, 2005).

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

Modelo Transacional do Estresse

Richard Lazarus e colaboradores (1993) propuseram o modelo transacional (ou relacional) do estresse, que descreve o estresse como um processo. A ideia fundamental desse modelo é de que não podemos compreender completamente o estresse examinando eventos ambientais (estímulos) e pessoas (respostas) como entidades separadas; em vez disso, devemos considerá-los em conjunto, como uma transação, na qual cada indivíduo deve ajustar-se de forma contínua aos desafios encontrados (STRAUB, 2005).

Segundo o modelo transacional, o processo do estresse é desencadeado sempre que os estressores excedem os recursos pessoais e sociais que o indivíduo é capaz de mobilizar para enfrentar o estresse. Por exemplo, uma pessoa que perde seu emprego, mas conta com apoio familiar ou com outra fonte de renda, vivenciará o estresse de forma muito diferente do que uma pessoa que fica desempregada sendo o único provedor de sua família. Quando os recursos disponíveis para enfrentar ou se adaptar às situações estressantes não estão disponíveis, o estresse é vivenciado de forma mais intensa.

Por um lado, se os recursos de enfrentamento são suficientemente fortes, não há estresse, mesmo que para outra pessoa a situação pareça insuportável. Por outro lado, se os recursos de enfrentamento são fracos e ineficazes, o estresse ocorre, mesmo que para outra pessoa a demanda da situação possa ser cumprida com facilidade. Uma gestação pode ser uma ótima notícia ou uma situação complicada, por exemplo. Do mesmo modo, algumas pessoas vivenciam tratamentos invasivos, como a realização de uma cirurgia, de forma tranquila e positiva, enquanto outras pessoas sofrem bastante e até mesmo

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unidadE 3 – EstREssE E doEnça

deprimem por causa do procedimento. O nível de estresse dependerá dos recursos de enfrentamento.

É muito comum observar isso no ambiente hospitalar, no qual algumas pessoas recebem diagnósticos graves, como um tumor avançado ou uma doença neurodegenerativa, e ainda assim reagem de forma positiva e esperançosa. Por outro lado, alguns pacientes que recebem diagnósticos menos graves e com chances de resolução, muitas vezes reagem de forma desesperada e com muita ansiedade. Não é apenas o evento que determina o estresse, mas também os recursos de enfrentamento que a pessoa dispõe.

Quando as demandas de um evento ou situação criam estresse, a resposta não é estática, ao contrário, envolve interações e ajustes contínuos, chamados de transações, entre o ambiente e as tentativas de enfrentar o estresse. Cada indivíduo é agente ativo que pode alterar o impacto de um estressor em potencial por meio da utilização dos recursos disponíveis (STRAUB, 2005).

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

Os autores desse modelo acreditam que as transações entre o indivíduo e seu ambiente são motivadas pela avaliação cognitiva que o mesmo faz de um possível problema. Esta avaliação inclui analisar inicialmente se a situação ameaça o bem-estar do indivíduo, em seguida, se existem recursos pessoais suficientes disponíveis para lidar com a demanda e, por último, se a estratégia da pessoa para lidar com a situação ou evento está funcionando.

Quando uma pessoa enfrenta um evento potencialmente estressante, realiza uma avaliação primária para determinar o significado do evento: será que essa situação me causará problemas?

O resultado dessa avaliação é a interpretação do evento de três maneiras:

• irrelevante;• benigno positivo;• desafiador ou ameaçador.

Uma vez que um evento tiver sido avaliado como desafio ou ameaça, a avaliação secundária responde à questão: o que posso fazer para lidar com essa situação? Nesse sentido, a pessoa avalia suas capacidades de enfrentamento para determinar se elas serão adequadas para enfrentar o desafio. Se os recursos são considerados adequados, pouco ou nenhum estresse ocorre. Quando uma ameaça ou desafio é grande e os recursos de enfrentamento são baixos, é provável que haja estresse. Com a reavaliação cognitiva, a pessoa atualiza constantemente sua percepção de sucesso ou falha ante um desafio ou uma ameaça (STRAUB, 2005). Para melhor compreensão, observe o exemplo na Figura 1:

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unidadE 3 – EstREssE E doEnça

Fonte: Acervo do autor.Figura 1 Modelo transacional do estresse.

A avaliação cognitiva nem sempre resulta em menos estresse; às vezes, ela aumenta o estresse. Um evento que originalmente era avaliado como benigno ou irrelevante pode rapidamente assumir um caráter ameaçador se a resposta de enfrentamento fracassa ou se o indivíduo começa a ver o evento de maneira diferente (STRAUB, 2005).

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

O modelo transacional de Lazarus e colaboradores (1993) tem três implicações importantes: em primeiro lugar, as situações ou eventos não são inerentemente estressantes ou não-estressantes, qualquer situação ou evento pode ser avaliado (e experimentado) como estressante por uma pessoa, mas não por outra. Em segundo, as avaliações cognitivas são extremamente suscetíveis a alterações em humor, saúde e estado motivacional. Pode-se interpretar o mesmo evento ou situação de maneiras muito diferentes em ocasiões separadas. Em terceiro lugar, algumas evidências sugerem que a resposta de estresse do corpo é aproximadamente a mesma, mesmo que a situação seja realmente experimentada ou apenas imaginada. Isso significa que até avaliações lembradas ou imaginadas de uma situação podem produzir resposta de estresse (STRAUB, 2005).

É de extrema importância compreender esse caráter relacional do estresse. Como profissional de saúde você encontrará pacientes em situações de enfermidades já instaladas, em exames diagnósticos, em preparação para procedimentos invasivos e, muitas vezes, pacientes em estados terminais. Você logo perceberá que a forma como cada um reage a essas situações será muito diferente de caso para caso. Isso ocorre porque os recursos de enfrentamento disponíveis naquele momento podem ou não ser suficientes para amenizar o estresse. Cabe à equipe de saúde compreender as diferenças individuais presentes no processo de enfrentamento e facilitar a expressão e a comunicação dos sentimentos vivenciados.

Os efeitos do estresse

A reação geral do corpo ao estresse é regulada pelo sistema nervoso central (MELLO, 1995). São muitos os efeitos do estresse

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sobre o nosso organismo, entre eles, os mais comumente relatados são:

1) Queda na produtividade – o sujeito percebe maior dificuldade para efetuar tarefas que antes realizava com facilidade.

2) Confusão mental – o raciocínio pode ficar mais lento e com maior dificuldade de concentração.

3) Apatia – a pessoa pode ficar indiferente a coisas ou atividades em que antes sentia prazer, sente-se sem motivação e desanimado.

4) Sensação de Desgaste – o cansaço é maior do que normalmente e há a sensação de falta de energia;

5) Prejuízo na memória – há maior dificuldade para se lembrar de fatos atuais e antigos;

6) Irritabilidade – o sujeito fica nervoso mais facilmente e perde a paciência com coisas do cotidiano.

As pessoas tendem a desenvolver uma forma de "visão de túnel", na qual limitam seu foco e se tornam menos conscientes do ponto de vista social quando estão estressadas – tendência que pode ser especialmente problemática para o desempenho de grupos ou equipes, principalmente em equipes de saúde, pois a "visão de túnel" pode deixar a pessoa indiferente às necessidades do outro, inclusive do paciente. Por exemplo, um profissional de saúde que se encontra muito cansado e estressado, pode ficar indiferente às queixas de dor de um paciente, agindo sem empatia. À medida que aumentam as demandas (estresse) externo, os comportamentos de grupo, como ajudar os outros, podem ser negligenciados, pois a atenção dos membros individuais do grupo é dirigida para questões envolvidas no cumprimento de suas próprias tarefas imediatas (STRAUB, 2005).

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

No entanto, nem todo o estresse é ruim e causa impacto negativo sobre o bem-estar. Alguns tipos ou quantidades de estresse podem, na verdade, melhorar o desempenho em algumas tarefas. Por exemplo, o estresse de uma avaliação, pode incentivar o aluno a estudar com mais atenção a matéria da aula. O aspecto mais importante de um estressor é seu impacto sobre o corpo. Para cumprir com demandas estressantes, sejam elas boas ou más, o corpo fica excitado e gasta energia. Essa excitação e o gasto de energia constituem o estresse (MELLO, 1995).

2.2. modelos de estresse e doençA

Como já vimos, o estresse está presente na vida de todas as pessoas e desempenha um importante papel na preparação do organismo para reagir a situações de desafio ou ameaça. No entanto, quando o estresse sobrecarrega os recursos de enfrentamento, pode prejudicar a saúde. Nenhum outro tema em Psicologia da Saúde tem gerado tantas pesquisas quanto a maneira como o estresse pode, às vezes, promover doenças. Conexões entre o estresse e doenças foram estabelecidas para muitos transtornos, incluindo câncer, doenças cardíacas e hipertensão. Será apresentado, agora, alguns modelos que buscam explicar como o estresse afeta a nossa saúde.

O modelo da diátese ao estresse

Segundo Straub (2005, p. 90):O modelo da diátese ao estresse propõe que dois fatores que interagem continuamente determinam a suscetibilidade de um indivíduo ao estresse e à doença: fatores de predisposição, que estabelecem a vulnerabilidade à doença, e fatores de precipitação do ambiente.

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

Alguns indivíduos são mais vulneráveis a doença porque reagem mais a determinados fatores ambientais. Acredita-se que essa predisposição reativa (diátese) tenha origem genética, mas alguns teóricos sugeriram que o comportamento adquirido ou traços de personalidade (como ser agressivo ou propenso a ficar zangado) também podem tornar as pessoas mais suscetíveis a doenças relacionadas com o estresse.

Considere um exemplo que talvez seja familiar. Todos os estudantes experimentam diferentes graus de ansiedade em testes. A maioria de nós, contudo, aprende a enfrentar o estresse de fazer exames estudando e mantendo as coisas em perspectiva. Em alguns exemplos, todavia, a ansiedade do teste pode sair de controle, fazendo com que um estudante reaja a exames com grande aumento na frequência cardíaca e na pressão sanguínea. após anos de exames estressantes, essa reatividade cardiovascular anormal e intensa (diátese) pode deixar o estudante mais vulnerável a transtornos cardiovasculares do que o estudante com melhores recursos de enfrentamento.

Modelo da PsiconeuroimunologiaPor muito tempo, acreditou-se que a mente e o corpo

eram sistemas independentes, que não tinham influência um sobre o outro. No entanto, após algumas pesquisas sobre o condicionamento do sistema imunológico, um novo modelo de estresse e doença, conhecido como psiconeuroimunologia, passou a ser estudado. O nome desse campo fala muito sobre seu foco: psico para processos psicológicos, neuro para o sistema neuroendócrino (os sistemas nervoso e hormonal) e imunologia para o sistema imunológico (STRAUB, 2005).

Foram encontradas evidências de interações coordenadas entre o cérebro, o sistema neuroendócrino e o sistema imunológico,

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

e a maior parte dessas pesquisas se concentraram nas relações entre o estresse, a atividade do sistema imunológico e a doença. mudanças adversas no funcionamento imunológico (imunossupressão) foram demonstradas após um divórcio, a perda de um ente querido, a perda do emprego e práticas de exercícios estressantes, durante períodos de exames e em situações de estresse ocupacional (STRAUB, 2005).

Também é destacada a importância dos relacionamentos sociais para o funcionamento saudável do sistema imunológico. A solidão, por exemplo, parece afetar de forma adversa o funcionamento imunológico, assim como o estresse causado por um relacionamento. A imunossupressão foi relacionada com conflitos interpessoais entre casais, mulheres recentemente separadas dos maridos e homens cujas esposas morreram há pouco. Estudos mais recentes demonstraram que a associação entre o enfraquecimento da imunidade e a perda de um ente querido ocorre principalmente entre aquelas pessoas que ficam deprimidas em resposta a essa perda (STRAUB, 2005).

É importante lembrar que, embora o estresse seja inevitável, ele também oferece vantagens. alguns tipos de estresse nos excitam e motivam e frequentemente expõem nossas melhores qualidades e estimulam o crescimento pessoal. no entanto, estresse demais pode sobrecarregar nossa capacidade de enfrentamento e nos deixar vulneráveis a problemas de saúde relacionados a ele.

2.3. enfrentAmento

De acordo com STRAUB (2005, p. 246): O enfrentamento refere-se às formas cognitivas, comportamentais e emocionais como as pessoas administram situações estressantes. Deste modo, o enfrentamento envolve

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

qualquer tentativa de preservar a saúde mental e física, mesmo que tenha valor limitado. O enfrentamento é um processo dinâmico e não uma reação única, ou seja, é uma série de respostas que envolvem a interação do indivíduo com seu ambiente.

Estratégias de enfrentamento

As maneiras como as pessoas lidam com situações estressantes são chamadas de estratégias de enfrentamento. Estas visam moderar ou minimizar os efeitos de estressores sobre o bem-estar físico e emocional. Todavia, nem todas as estratégias de enfrentamento são igualmente eficazes. Algumas proporcionam alívio temporário a curto prazo, mas tendem a ser mal adaptativas a longo prazo. Por exemplo: embora as defesas psicológicas, como escolher não pensar sobre um problema, permitam que as pessoas se distanciem da situação estressante ao negar sua existência, elas não eliminam a fonte de estresse. De maneira semelhante, o álcool ou outras drogas escondem o estresse, mas não resolvem o problema que o gerou (STRAUB, 2005).

Em alguns casos, o estressor não pode ser eliminado e a repetição do fato não pode ser impedida. Nesses casos, as estratégias podem simplesmente ajudar a pessoa a tolerar ou a aceitar a situação, como, por exemplo, no caso de doenças crônicas ou perda de um ente querido.

Para classificar as estratégias de enfrentamento, apresentamos a abordagem desenvolvida por Richard Lazarus (1984). As estratégias de enfrentamento são classificadas como focalizadas na emoção ou no problema.

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

Enfrentamento focalizado na emoção

No enfrentamento focalizado na emoção, são usadas estratégias comportamentais e cognitivas para administrar as reações emocionais ao estresse. As estratégias comportamentais incluem buscar pessoas que ofereçam apoio social, usar álcool ou outras drogas psicoativas ou manter-se ocupado para desviar a atenção do problema. As cognitivas envolvem mudar a maneira como o estressor é avaliado ou negar informações desagradáveis.

As pessoas tendem a utilizar a forma de enfrentamento focalizado na emoção quando acreditam que pouco ou nada possa ser feito para alterar a situação estressante ou quando acreditam que seus recursos ou capacidades de enfrentamento são insuficientes para atender às demandas da situação estressante (STRAUB, 2005).

Existem três tipos de enfrentamento focalizado na emoção:1) Fuga-evitação, na qual o indivíduo se distância física

ou psicologicamente do estressor.2) Distanciamento, que envolve afastar-se psicologica-

mente do estressor.3) Reavaliação positiva, que solicita a reinterpretação da

situação para modificar algo negativo em positivo.

Enfrentamento focalizado no problema

No enfrentamento focalizado no problema,[...] as pessoas lidam diretamente com a situação estressante, seja reduzindo as demandas ou aumentando a capacidade de lidar com o estressor. Elas tendem a contar com estratégias de enfrentamento focalizado no problema quando acreditam que seus recursos e situações são inconstantes (STRAUB, 2005, 153).

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

Existem dois tipos de enfrentamento focalizado no problema: o enfrentamento pró-ativo e o enfrentamento combativo. são eles:

1) Enfrentamento pró-ativo, também chamado enfrentamento preventivo, “as pessoas buscam prever ou detectar estressores potenciais e agir antecipadamente para preveni-los ou minimizar seu impacto” (STRAUB, 2005, p. 154). Usando suas capacidades de resolução de problemas, desenvolvendo uma rede mais forte de apoio social, melhorando seus recursos financeiros ou fortalecendo sua autoestima.

2) Enfrentamento combativo, o indivíduo reage ou tenta escapar de um estressor que não pode ser evitado. Como o estressor é inevitável, pode ser necessária a ajuda externa para enfrentar a situação (STRAUB, 2005).

Uma importante distinção entre o enfrentamento pró-ativo e o combativo está na quantidade de tempo e esforço que as duas técnicas exigem. As habilidades de enfrentamento pró-ativo frequentemente envolvem um esforço a longo prazo, pois a pessoa pode ter que modificar atitudes, estilos cognitivos e comportamentos antigos. Contudo, muitas habilidades de enfrentamento combativo, como as técnicas de relaxamento e o biofeedback podem ser aprendidas rapidamente (STRAUB, 2005).

Para determinar se o indivíduo utiliza estratégias de enfrentamento focalizado na emoção ou no problema, é importante observar a natureza do evento ou a circunstância estressante. Qualquer situação em que seja possível a ação

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construtiva favorece estratégias de enfrentamento focalizado no problema. Ao contrário disso, alguns problemas de saúde, a perda de entes queridos e outras situações que simplesmente devem ser aceitas têm mais probabilidade de desencadear o enfrentamento focalizado na emoção (STRAUB, 2005).

Fatores que afetam a capacidade de enfrentar o estresse

Alguns fatores psicossociais podem afetar o quanto as pessoas conseguem enfrentar estressores potenciais. Entre eles, destacam-se a resiliência, o controle pessoal e o desamparo aprendido.

Resiliência

Resiliência é um termo "emprestado" da física, que significa a capacidade do indivíduo voltar ao seu estado normal, saudável, mesmo após fortes estressores. É a capacidade de desenvolver estratégias de enfrentamento apesar de condições adversas, de se recuperar quando coisas ruins ocorrem e de prosperar frente ao estresse. Por exemplo, pacientes que enfrentam de forma positiva uma doença terminal, ou que superam uma perda importante, podem ser consideradas resilientes.

Controle pessoal: é a crença de que tomamos nossas próprias decisões e determinamos o que fazemos ou o que os outros fazem conosco. As pessoas que possuem forte sensação de controle têm mais probabilidade de utilizar formas adaptativas e focalizadas nos problemas para lidar com o estresse e de controle psicológico sobre comportamentos relacionados com a saúde.

Desamparo aprendido: quando se enfrenta estresse de forma incontrolável e repetidamente, o indivíduo aprende que, independentemente do que ele faça, não pode controlar

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o que lhe causou estresse. As pessoas que não conseguem repetidamente alcançar um objetivo muitas vezes acabam desistindo de tentar. É importante notar ainda que elas também não costumam responder em outros ambientes nos quais o sucesso seja mais provável. Quando alguém passa a acreditar que os resultados de seu comportamento não dependem do comportamento em si, ocorrem significativas consequências motivacionais, emocionais e comportamentais. as pessoas que se sentem incapazes não têm comportamentos saudáveis ou abandonam esses comportamentos antes que eles consigam exercer um efeito positivo sobre sua saúde (stRauB, 2005). um paciente que tentou diversas vezes perder peso, mas não obteve suscesso, pode acabar desistindo de tentar emagrecer, pela crença de que é incapaz.

2.4. estresse relACionAdo Com o trAbAlho

Nos últimos anos, uma grande quantidade de pesquisas examinou as causas e as consequências do estresse relacionado com o trabalho. De fato, todas as pessoas já experimentaram algum tipo de estresse relacionado ao trabalho em algum momento de sua vida. No entanto, esse tipo de estresse poderia ser evitado, e existem inúmeras intervenções para isso.

Para a maioria das pessoas, o estresse no trabalho é breve e não representa ameaça séria para a saúde. Entretanto, ele pode se tornar crônico, se as dificuldades enfrentadas persistirem ao longo dos anos.

Uma fonte de estresse ocupacional é a sobrecarga de trabalho. As pessoas que trabalham muito e em várias tarefas ao mesmo tempo sentem-se mais estressadas. Estas também

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apresentam piores hábitos, experimentam mais acidentes e sofrem de mais problemas de saúde do que os outros trabalhadores (STRAUB, 2005).

É importante observar, contudo, que o número total de horas que uma pessoa trabalha não pode ser o único indicador de estresse. A sobrecarga de trabalho apresenta um componente subjetivo além do componente objetivo. Uma pessoa pode sentir-se muito cansada e estressada com seu horário e outra é capaz de lidar facilmente com isso. Como já dissemos, o estresse vivenciado depende dos recursos de enfrentamento disponíveis.

O estresse no trabalho às vezes ocorre quando as pessoas tentam equilibrar vários trabalhos diferentes ao mesmo tempo e experimentam a sobrecarga de papéis. Os problemas associados a lidar com múltiplos papéis simultâneos são particularmente importantes para as mulheres. A sobrecarga de papéis, associada ao fato de lidar com uma carga pesada de responsabilidades no trabalho e no lar, reduz o aproveitamento de todas as tarefas e piora o humor (STRAUB, 2005). Algumas pesquisas demonstraram que o trabalho pode ser avaliado como desafiador e estimulante tanto para homens quanto para mulheres. No entanto, devido a carga maior de responsabilidade da mulher, com as atividades relacionadas ao lar e à família, elas experimentam níveis mais elevados de estresse.

No entanto, as mulheres que mantém um emprego são geralmente mais saudáveis do que as desempregadas, uma vez que o trabalho é uma importante fonte de autoestima e de satisfação com a vida.

O mais importante não é o número de papéis que uma mulher ocupa, mas a qualidade da sua experiência nesses papéis. Ter controle sobre o próprio trabalho e receber ajuda dos outros

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membros da família ajudam a reduzir a probabilidade de que as demandas de papéis múltiplos sejam estressantes.

De fato, a diferença de gênero em estresse no trabalho já tem diminuído consideravelmente, uma vez que os valores culturais estão se modificando. no entanto, ainda há um longo caminho a percorrer, pois a mulher, muitas vezes, ainda é vista como a única responsável pelos cuidados da casa e dos filhos.

Síndrome de burnout

A síndrome de burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, foi definida como o estado de exaustão física e psicológica relacionada com o trabalho. Sua principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocado por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes.

O sintoma típico da síndrome de burnout é a sensação de esgotamento físico e emocional que se reflete em atitudes negativas, como ausências no trabalho, agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, falhas de memória, ansiedade, depressão, pessimismo, baixa autoestima. Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma, distúrbios gastrintestinais são manifestações físicas que podem estar associadas à síndrome (VARELLA, 2015).

De maneira mais específica, o esgotamento é uma síndrome multidimensional caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e redução em realizações pessoais. A exaustão emocional refere-se a sentimentos de ter seus recursos emocionais esgotados, com a correspondente perda de energia e sentimentos de fadiga. A despersonalização refere-se à perda de idealismo no local de trabalho, desencadeando atitudes negativas para com

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aqueles que recebem o serviço ou a atenção do empregado. A redução em realizações pessoais refere-se à perda de sentimentos de competência e realização no trabalho (STRAUB, 2005).

Segundo Varella (2015) “a síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso”. Os empregos que envolvem responsabilidade com outras pessoas, em vez de responsabilidade com produtos, parecem causar níveis elevados de esgotamento. Os trabalhadores da área da saúde parecem ser especialmente suscetíveis a esse tipo de estresse no trabalho. Pesquisas mostraram profissionais de saúde que relatam sintomas relacionados com o estresse suficientemente sérios, a ponto de serem considerados sinais de maior risco de problemas psiquiátricos (STRAUB, 2005).

A síndrome de burnout normalmente se desenvolve durante o período de alguns anos, no entanto, alguns sinais de aviso podem aparecer mais cedo. Entre eles, inclui-se: sentimentos de exaustão física e mental; perda de significado no próprio trabalho e na vida em geral; dificuldade em se concentrar; aumento de doenças relacionadas com o estresse, como dores de cabeça, dores nas costas e depressão; e temperamento explosivo (STRAUB, 2005).

É importante observar que essa síndrome não é a consequência inevitável de estar empregado em determinadas áreas profissionais. Como nos lembra o modelo biopsicossocial, a suscetibilidade à maioria das condições de saúde – favoráveis ou desfavoráveis – é o produto de fatores sobrepostos em todos os domínios da saúde. Por exemplo, os profissionais da área de saúde que se deparam com pacientes crônicos que mantêm uma visão esperançosa e otimista da vida apresentam menos

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probabilidade de experimentar esgotamento profissional do que os mais pessimistas, ressaltando, assim, a função protetora de certos padrões de comportamentos.

3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES

Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. estresse e enfrentAmento

Como já foi discutido, o estresse tem grande influência na determinação da saúde e tem sido associado a diversos tipos de doenças. O efeito do estresse no nosso organismo depende dos mecanismos de enfrentamento que utilizamos.

O conteúdo complementar apresentado a seguir pretende ampliar e aprofundar o estudo sobre o estresse e as estratégias de enfrentamento. É muito importante que você acesse os links apresentados e consulte os materiais indicados.

• ALMEIDA-FILHO, N. Modelos de determinação social das doenças crônicas não-transmissíveis. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csc/v9n4/a09v9n4. pdf>. Acesso em: 4 ago. 2015.

• CHAVES, E. C. et al. Coping: significados, interferência no processo saúde-doença e relevância para a enfermagem. Disponível em: <http://www.ee.usp.br/REEUSP/upload/html/546/body/v34n4a08.htm>. Acesso em: 4 ago. 2015.

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• YOUTUBE. Jornal Hoje. Muito estresse deixa organismo vulnerável a doenças graves. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Mzrakeau0M>. Acesso em: 4 ago. 2015.

3.2. estresse no ProfissionAl de sAúde

A síndrome de burnout é característica do estresse relacionado ao trabalho. Algumas profissões se destacam pela alta incidência de estresse, entre estes, os profissionais de saúde. O material a seguir foi selecionado para que você conheça mais sobre burnout e pesquise sobre os efeitos do estresse em enfermeiros.

• ARAúJO, T. M.; et al. Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbios psíquicos entre trabalhadoras de enfermagem. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v37n4/16776.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2015.

• SANTOS, A. F. O.; CARDOSO, C. L. Profissionais de Saúde Mental: Estresse, Enfrentamento e Qualidade de Vida. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v26n3/a17v26n3.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2015.

• TVUFPR. Olho clínico: síndrome de burnout. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch ?v=lRlvT3eGpjQ>. Acesso em: 4 ago. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas.

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1) Em relação às Estratégias de Enfrentamento, assinale a alternativa INCORRETA:a) Conjunto de estratégias, cognitivas e comportamentais, utilizadas pe-

los indivíduos para lidar com uma ameaça iminente.b) Faz parte das características da personalidade de cada indivíduo, e,

portanto, não podem ser aprendidas.c) Processa-se mediante a mobilização de recursos naturais, com fins de

administração de situações estressoras, consistindo de interação entre o organismo e o ambiente.

d) A resolução de problemas pode ser considerada uma estratégia ade-quada de enfrentamento.

2) Segundo diversos estudos sobre a relação do estresse e o processo saúde--doença, constata-se que o estresse pode ser sadio ou nocivo. Ele se torna nocivo à saúde quando:a) surge a necessidade de uma adaptação a um evento ou situação.b) alguém percebe e responde a eventos que são julgados como

desafiadores. c) os estressores excedem os recursos pessoais e sociais que o indivíduo

é capaz de mobilizar para enfrentar o estresse.d) os recursos de enfrentamento são suficientemente fortes.

3) Descreva os principais efeitos do estresse no nosso organismo.

4) Sobre a síndrome de Burnout, assinale a alternativa INCORRETA.a) É definida como o estado de exaustão física e psicológica relacionada

com o trabalho.b) O sintoma típico da síndrome de burnout é a sensação de esgotamento

físico e emocional que se reflete em atitudes negativas. c) A síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exi-

ge envolvimento interpessoal direto e intenso. d) A síndrome é uma consequência inevitável de estar empregado em

determinadas áreas profissionais, como na área de Saúde.

5) Explique a relação entre estresse e estratégias de enfretamento.

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

Gabarito

Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:

1) b

2) c

3) Queda de produtividade, confusão mental, apatia, sensação de desgaste, prejuízo na memória e irritabilidade, entre outro.

4) d

5) As estratégias de enfrentamento são os recursos utilizados pela pessoa para lidar com o estresse. Quanto mais recursos de enfrentamento estive-rem presentes, menos efeitos do estresse sobre o organismo.

5. CONSIDERAÇÕES

O estudo dos efeitos do estresse sobre a saúde mostra, de forma clara, a relação entre os aspectos psicológicos e biológicos na determinação dos processos de saúde e doença. O esgotamento emocional que ocorre pelo estresse prejudica o funcionamento do organismo e diminui as defesas naturais do sistema imunológico. Entretanto, as estratégias de enfrentamento podem atuar como fatores de proteção ao estresse, mas apenas quando são utilizadas estratégias adaptativas. Trata-se de um bom exemplo sobre a concepção biopsicossocial de saúde.

Vamos agora nos preparar para iniciar o estudo da última unidade, que apresentará a temática da relação entre o profissional de saúde e o paciente. Antes disso, não se esqueça de explorar os Conteúdos Digitais Integradores desta unidade.

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UNIDADE 3 – EstrEssE E DoENçA

6. E-REFERÊnCiaFAMILIA.COM.BR. Estresse: O que é, o que causa e como controlar. Disponível em: <http://familia.com.br/estresse-o-que-e-o-que-causa-e-como-controlar>. Acesso em: 31 jul. 2015.

IPCS. Instituto de psicologia e controle do stress. Disponível em: <http://www.estresse.com.br/profissionais/dra-marilda-emmanuel-novaes-lipp/>. Acesso em: 4 ago. 2015.

VARELLA, D. Síndrome de burnout. Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/letras/b/sindrome-de-burnout/>. Acesso em: 3 ago. 2015

7. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICASMELLO FILHO, J. Psicossomática Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

MIYAZAKI, M. C.; DOMINGOS, N. A. M.; CABALLO, V. E. et al. Psicologia da Saúde. Intervenções em hospitais públicos. In: Bernard Rangé. (Org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

STRAUB, R. O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005.

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RELAçãO EqUIPE INTERDISCIPLINAR-PACIENTE

Objetivos• Interpretar o conceito de equipe interdisciplinar no

contexto da saúde. • Analisar a importância da relação entre o profissional

de saúde e o paciente.• Compreender variáveis da relação com o paciente para

promover saúde.

Conteúdos• Relação equipe interdisciplinar-paciente. • Variáveis psicossociais do tratamento.

Orientações para o estudo da unidade

Antes de iniciar o estudo desta unidade, leia as orientações a seguir:

1) Esta será a última unidade. No entanto, o tema abordado talvez seja um dos mais importantes para sua atuação profissional. De todos os aspectos psicológicos que foram discutidos até aqui, a relação entre você e seu

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paciente pode ser, muitas vezes, o único instrumento disponível para modificar comportamento e promover saúde.

2) Os Conteúdos Digitais Integradores são fundamentais para a compreensão integral dos assuntos abordados. Não deixe de acessá-los.

3) Entre os Conteúdos Digitais Integradores há um pequeno vídeo sobre empatia. Assista-o pensando no ambiente em que você futuramente trabalhará.

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UNIDADE 4 – RElAção EqUIpE INtERDIscIplINAR-pAcIENtE

1. INTRODUÇÃO

Conforme foi visto na Unidade 1, o modo com entendemos saúde passou por importantes mudanças ao longo do tempo. Essas transformações influenciaram, também, o modo como entendemos o cuidado e como compreendemos a formação dos profissionais que cuidam da saúde.

Segundo Corradi-Webster e Carvalho (2015):Pensar em saúde de modo positivo representa uma mudança grande de paradigma, já que o foco não é mais o déficit, a ausência da saúde ou ausência de enfermidade, e sim o bem estar biopsicossocial. Com base nesta visão, serviços de saúde vêm sendo criados e reestruturados, aproximando-se das comunidades, oferecendo cuidados que vão além da cura, incluindo a promoção, a prevenção e a reabilitação. Vem sendo ampliada a participação de profissionais não-médicos no cuidado, já que o médico deixou de ser a única figura central da assistência.

O cuidado também começa a ser compreendido como integral, ou seja, considera-se que as pessoas devam ter acesso a todos os serviços de saúde necessários e que sejam considerados os aspectos emocionais, físicos e sociais dos usuários. Nesta perspectiva, o usuário passa a ser considerado não como uma unidade individual, mas como alguém que está inserido em uma família, em uma comunidade, em um contexto histórico e social definido.

A fim de garantir a plenitude da assistência, os profissionais da área da Saúde não podem trabalhar sozinhos. O trabalho em equipe se faz fundamental, no qual profissionais com formações e experiências diversas discutem situações, ampliam o olhar e as possibilidades de intervenção (CORRADI-WEBSTER; CARVALHO, 2011).

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2. CONTEúDO BÁSICO DE REFERêNCIA

O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão integral, é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos Digitais Integradores.

2.1. o trAbAlho em equiPes de sAúde

O trabalho em equipe surgiu como uma estratégia para redesenhar o trabalho e promover a qualidade dos serviços. Entre esses processos, pode ser citado o planejamento de serviços, a formação de prioridades, a redução da duplicação dos serviços, a geração de intervenções mais criativas, a redução de intervenções desnecessárias pela falta de diálogo entre os profissionais, a redução da rotatividade, resultando na redução de custos, com a oportunidade de aplicação e investimentos em outros processos (STAUDT, 2008).

A forma como os profissionais se agrupam e trabalham pode variar consideravelmente. O trabalho em equipes pode ocorrer dentro de um contínuo, que vai da atuação paralela à interdisciplinar. Na medida em que avança em direção à interdisciplinaridade, várias mudanças vão ocorrendo:

• a comunicação entre os profissionais e entre estes e os pacientes aumenta e há uma tendência cada vez maior para que as decisões sejam tomadas por meio de um consenso;

• a equipe torna-se mais complexa e há redução na hierarquia;

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• existe uma preocupação crescente com a compreensão e os manejos dos problemas de saúde dentro de uma perspectiva biopsicossocial;

• os resultados são cada vez mais complexos e incluem extensão de serviços, ensino, pesquisa e gestão (MIYAZAKI et al., 2011).

Nem todas as equipes de saúde são interdisciplinares, mas isso não significa que as demais formas de trabalho não sejam eficientes. As equipes são dinâmicas e diversos aspectos podem afetar o seu funcionamento, como fatores pessoais e profissionais, intragrupo e organizacionais (MIYAZAKI et al, 2011).

O conceito de interdisciplinaridade relaciona-se com outros termos, tais como multidisciplinaridade e transdisciplinaridade. Em um serviço de saúde, o trabalho em equipe pode estar organizado segundo uma dessas formas, que vamos detalhar a seguir.

Equipes multidisciplinares

A multidisciplinaridade é a forma de organização de equipe tradicional. Equipes multidisciplinares são formadas por vários profissionais de diferentes áreas, que buscam abranger os diferentes aspectos de uma mesma situação, sem haver uma relação entre si, cada um dentro do seu saber. Neste tipo de organização de trabalho, cada profissional atua de maneira isolada em sua área específica, solicitando a intervenção de outro profissional quando julga necessário, mas sem que haja discussão ou cooperação nas decisões tomadas.

Por exemplo, em uma unidade de saúde na qual a equipe médica tem a possibilidade de encaminhar o paciente para o

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UNIDADE 4 – RElAção EqUIpE INtERDIscIplINAR-pAcIENtE

atendimento de outro profissional, tal como o enfermeiro, o psicólogo ou fisioterapeuta. Esse outro profissional atua como um consultor – cada especialidade atua de forma separada. Logo, não há um trabalho coordenado por parte dessa equipe e uma identidade grupal, ou seja, o médico, em geral, é o responsável pela decisão do tratamento, e os outros profissionais vão se adequar à demanda do paciente e às decisões do médico.

A equipe multidisciplinar deve construir uma relação entre profissionais, considerando um atendimento humanizado. Dessa forma, foca-se nas demandas do paciente, e a equipe tem como finalidade atender a essas necessidades visando seu bem-estar; no entanto, de forma desmembrada, cada profissional em sua área de atuação (STAUDT, 2008).

Equipes interdisciplinares

A interdisciplinaridade consiste no estabelecimento de associação intencional de duas ou mais áreas do saber, para alcançar um conhecimento mais amplo e diversificado. Nesta forma de organização, profissionais de diversas especialidades se reúnem para a resolução de um objetivo em comum.

Pensando em equipe de saúde, profissionais de diferentes áreas discutem e tomam decisões em conjunto sobre os procedimentos e tratamentos indicados para cada paciente. Este tipo de organização, facilita a visão mais ampla do sujeito, de forma a integrar em cada decisão seu componente biológico, psicológico e social.

Podemos pensar no exemplo de uma unidade de saúde na qual todos os profissionais envolvidos com o paciente se reúnem sistematicamente para a tomada de decisão sobre seu tratamento. Nesse caso, o médico informaria aos outros

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profissionais sobre as questões clínicas do caso, enquanto o enfermeiro poderia esclarecer sobre a adesão ao tratamento, e a assistente social, acerca das condições familiares de dar suporte àquele paciente.

Em equipe interdisciplinar, há um nível maior de relação entre as disciplinas. As decisões são normalmente tomadas por meio de trocas de informações de cada especialidade em reuniões de equipe que ocorrem sistematicamente.

A perspectiva interdisciplinar pode possibilitar o exercício de um trabalho mais integrador e articulado, tanto no que diz respeito à compreensão dos trabalhadores sobre o seu próprio trabalho, como no que diz respeito à qualidade do resultado do trabalho. Na análise das relações de trabalho nas equipes interdisciplinares, considera-se o modo como se desenvolve o processo de trabalho e a compreensão acerca dos seus componentes (objetivo e métodos) com vistas à obtenção de um resultado, e a finalidade do processo de trabalho em saúde é, por meio de alguma ação terapêutica, promover saúde (STAUDT, 2008, n.p.).

No entanto, embora a interdisciplinaridade seja a forma de organização de trabalho mais produtiva em saúde, sua aplicação ainda encontra desafios. A prática dos serviços de saúde ainda é extremamente hierarquizada e fragmentada. Além disso, a visão quantitativa ainda supera a qualitativa nas gestões em saúde.

Transdisciplinaridade

A transdisciplinaridade implica uma aplicação em várias disciplinas. Não pressupõe, necessariamente, trabalho em equipe ou coordenação, mas vai mais além: não se resume às interações e às reciprocidades entre as disciplinas, uma vez que propõe a ausência de fronteiras entre elas.

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unidadE 4 – RElação EquipE intERdisCiplinaR-paCiEntE

Não se trata de especialidade diferentes atuando de forma compartilhada, mas sim descrevendo uma nova forma de compreender os fenômenos.

Assim, de acordo com Staudt (2008, n.p.):A necessidade da transdisciplinaridade decorre do desenvolvimento dos conhecimentos, da cultura e da complexidade humana. Ela se preocupa com uma interação entre as disciplinas, promove um diálogo entre diferentes áreas do conhecimento e seus dispositivos, visa cooperação entre as diferentes áreas e contato entre essas disciplinas.

Podemos considerar que a saúde, pela complexidade de seu objeto, se enquadra neste campo. A definição de saúde, que passou por transformações importantes, é um exemplo de transdisciplinaridade. Ela partiu de uma concepção biomédica, baseada exclusivamente no aspecto físico, e avançou para uma definição que engloba as disciplinas biológicas, psicológicas e sociais, de modo a descrever uma nova forma de observar o fenômeno saúde. Observe a Figura 1:

Figura 1 Diferença entre equipes multi, inter e transdisciplinares.

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UNIDADE 4 – RElAção EqUIpE INtERDIscIplINAR-pAcIENtE

2.2. RELAÇÃO PROFISSIONAL DE SAúDE E PACIENTE

O nosso próximo assunto é de extrema importância para a formação na área de Saúde. Enquanto profissional, uma parte importante de suas atribuições será gerenciar e efetuar o cuidado com os pacientes. Esse cuidado por ser realizado de diversas formas, que vão desde um cuidado automático e impessoal até o estabelecimento de uma relação de ajuda. Existem diversas evidências científicas que mostram que a relação estabelecida entre o paciente e o profissional de saúde pode se tornar um adjuvante no processo de cura desse enfermo.

Paciente

Imagine uma pessoa que acaba de receber um diagnóstico de uma doença grave. Apesar de ainda estar chocada com a notícia, ela tem que tomar decisões rapidamente, pois como precisa ser operada com urgência, terá que ficar internada no hospital, e não terá tempo nem de voltar para casa para avisar sua família. Você consegue imaginar como ela se sente? Será que, se ela puder contar com algum profissional de saúde para ajudá-la a se organizar, faria diferença neste momento?

Para o ser humano, a doença é a quebra da harmonia orgânica, interferindo, com todos os setores da sua vida, especialmente, na convivência com os familiares mais próximos. Quando a hospitalização se faz necessária, o indivíduo é retirado de seu ambiente familiar e no hospital encontra um mundo completamente estranho, onde rotinas e normas rígidas controlam e determinam suas ações. Ao ser hospitalizado, o paciente deixa sua família e seu ambiente para ser inserido em um mundo diferente, sendo obrigado, inclusive, a ter seus hábitos modificados para se ajustar às rotinas do hospital (PAULA; FUREGATO, SCATENA, 2000, p. 45).

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UNIDADE 4 – RElAção EqUIpE INtERDIscIplINAR-pAcIENtE

Quando uma pessoa precisa de um serviço de saúde, ela se vê num ambiente totalmente diferente do que está acostumada, onde tem que seguir regras e consequentemente adotar novas atitudes. Nessas situações, a comunicação entre o profissional de saúde e o paciente pode favorecer a adaptação e promover mais bem-estar a este, principalmente se o contato estabelecido favorecer a criação de uma relação de ajuda.

Relação de ajuda e o papel da comunicação

Numa abordagem compreensiva sobre a questão de ajuda, Rogers (2015) afirma:

A relação de ajuda é uma relação na qual pelo menos uma das partes procura promover na outra o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, o melhor funcionamento e maior capacidade de enfrentar a vida.

Desse modo, quando alguém necessita de amparo e outra pessoa é capaz de prestar auxílio, temos uma relação de ajuda. Nesse tipo de relação, o próprio indivíduo é o instrumento terapêutico, por meio da relação interpessoal.

Em contextos de saúde, profissionais podem estabelecer relações de ajuda pelo uso de seus conhecimentos técnicos, de forma a oferecer alívio físico, mas também pelo uso de suas habilidades interpessoais, para oferecer apoio afetivo e informações. Para que o relacionamento estabelecido seja de ajuda, é necessário que o profissional de saúde se coloque em uma posição de igualdade em relação ao paciente, abandonando a postura de especialista, e divida seu conhecimento com o paciente. A compreensão das estratégias de enfrentamento que o paciente utiliza e o não julgamento moral também são fundamentais para facilitar a aproximação com o paciente. Além

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UNIDADE 4 – RElAção EqUIpE INtERDIscIplINAR-pAcIENtE

disso, é necessário cooperação, confiança, participação mútua e uma comunicação eficaz.

A comunicação tem sido um dos pontos mais destacados quando falamos de relação profissional de saúde e paciente. Ela pode ter diversos efeitos sobre o seu bem-estar, entre outros, dos quais destacamos:

• Uma comunicação eficiente pode facilitar que o paciente compreenda seu quadro clínico e as alternativas de tratamento. Muitas vezes, no momento em que o diagnóstico é dado, o paciente está absorto de grande emoção, pelo choque da notícia. Neste momento, dificilmente ele conseguirá compreender todos os detalhes dos procedimentos propostos. Cabe ao profissional de saúde ter a percepção sobre a compreensão do paciente e reorientá-lo em um momento mais oportuno. Além disso, muitos pacientes não conseguem compreender informações transmitidas em termos técnicos da medicina, principalmente quando estamos em um serviço de saúde pública. É necessário adequar as informações em uma linguagem acessível ao paciente e sempre verificar se ele de fato compreendeu as orientações.

• O estabelecimento de uma comunicação eficaz, inserida em uma relação de ajuda, pode facilitar a expressão de sentimentos, desejos e dúvidas do paciente. Consequentemente, isso pode facilitar a escolha de estratégias de enfrentamento mais adaptativas. Além disso, pode aumentar a autonomia do paciente, dando-lhe mais controle sobre o cuidado de sua saúde, e gerar a sensação de ser compreendido e respeitado.

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UNIDADE 4 – RElAção EqUIpE INtERDIscIplINAR-pAcIENtE

A comunicação é definida como sendo a principal característica para o relacionamento humano. E para que traga benefícios, o profissional de saúde deve estar consciente do seu papel nesse processo que exige, além de procedimentos técnicos, escuta e atenção adequada (TIGULINI; MELO, 2002).

A comunicação na área da Saúde é uma estratégia de uso constante no cotidiano do profissional. Quando a comunicação faz parte do trabalho, o paciente passa a vê-lo como uma pessoa capaz de ajudá-lo e passa a estabelecer vínculo com esse profissional. Por exemplo, informar ao paciente que procedimentos estão sendo realizados, de forma empática e com uma linguagem acessível a ele, facilita a confiança e o vínculo com a equipe de saúde.

No entanto, devido à sobrecarga e ao estresse que os profissionais de saúde enfrentam no trabalho, muitas vezes, não apresentam uma comunicação satisfatória com os pacientes submetidos aos seus cuidados. O profissional deve tomar cuidado para que o estresse ocupacional não prejudique seu relacionamento com os pacientes. Desse modo, ele deve buscar conhecê-los, de forma que ocorra o diálogo entre ambos. Deve cultivar a confiança do paciente por meio do respeito e da empatia empreendidos na assistência. Deve proporcionar um relacionamento que favoreça a diminuição da ansiedade da pessoa enferma, fazendo-a perceber que a comunicação pode contribuir no seu processo de restabelecimento.

De acordo com Martins (2015), “a qualidade de um serviço assistencial está diretamente associada à qualidade da relação interpessoal que ocorre entre os pacientes e os profissionais encarregados da assistência”. Por meio de uma comunicação terapêutica e da formação de vínculo entre profissional de saúde

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e paciente, é possível estimular sua autonomia e a autoestima, promovendo sua participação no cuidado e na proteção de sua saúde.

2.3. vAriáveis que AtuAm nA Promoção de sAúde

Tudo o que apresentamos até agora pode ser considerado como variáveis que qualificam o cuidado ao paciente e promovem saúde. Não há dúvidas que o atendimento em equipe interdisciplinar é capaz de oferecer ao paciente um cuidado mais integral e humanizado. Além disso, a relação entre o profissional de saúde e seu paciente interfere de forma significativa na recuperação deste. Descreveremos agora outras variáveis que têm sido sistematicamente relacionadas com a promoção da melhor saúde. Entre elas estão a empatia, a informação, a autonomia, o suporte social e a espiritualidade.

Empatia

Segundo Hoffman (1981, n.p.) a empatia[...] é a resposta afetiva apropriada à situação de outra pessoa. Na psicologia e nas neurociências contemporâneas a empatia seria uma espécie de “inteligência emocional” e pode ser dividida em dois tipos: a cognitiva - relacionada à capacidade de compreender a perspectiva psicológica das outras pessoas; e a afetiva - relacionada à habilidade de experimentar reações emocionais por meio da observação da experiência alheia.

Assim, a empatia pode ser definida como a habilidade de se colocar no lugar da outra pessoa, de sentir como se estivesse na mesma situação que ela. Podemos dizer que é olhar o momento com "o olhar do outro".

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Por exemplo, diante de um paciente acamado, que se queixa de dor e que não responde aos questionamentos do enfermeiro que precisa orientá-lo, o profissional de saúde deve compreender que, diante daquela situação, talvez o paciente não tenha de fato condições físicas e psicológicas de responder e compreender naquele momento, e tentar outras estratégias, como voltar em outro horário ou orientar um familiar.

A empatia é uma habilidade social de extrema importância, capaz de desenvolver a autoconsciência emocional. As pessoas empáticas estão mais sintonizadas com os sutis sinais sociais que indicam que o outro precisa de algo. Por meio da empatia, somos capazes não apenas de manter relações interpessoais mais próximas e equilibradas, como também temos a oportunidade de nos sensibilizarmos para além da nossa própria perspectiva.

A empatia envolve, primeiramente, a percepção da condição de sofrimento do outro e, posteriormente, a expressão de apoio e tentativa de conforto.

Estudos da Psicologia da Saúde apontam que se sentir compreendido e apoiado em situações de crise, como no tratamento de uma doença grave, facilita o processo de aceitação e enfrentamento do paciente, contribuindo, assim, para a melhora da saúde emocional. Além disso, pode aumentar a confiança na equipe e promover adesão ao tratamento (TAKAKI; SANTANA, 2004).

Embora pareça um conceito simples, a empatia não é uma habilidade fácil de se colocar em prática. Se, neste momento, fosse descrito em detalhes o caso de um paciente com doença crônica e suas dificuldades para lidar com o tratamento, talvez você se sentisse sensibilizado e apresentaria empatia apenas ao ler uma descrição. No entanto, no ambiente hospitalar, o volume

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de pacientes que necessitam de cuidado é grande, e, na maioria das vezes, apenas descobrimos as dificuldades enfrentadas pelos pacientes se lhes perguntamos diretamente.

Na rotina corrida do cuidado em saúde, há pouco espaço para a percepção do outro. Ocorre que acabamos nos acostumando com esse cenário e perdemos um pouco nossa sensibilidade. É preciso tomar muito cuidado com essa habituação. Embora possa haver centenas de pacientes presentes na unidade de saúde na qual você se encontra, cada um é único e vivencia seu problema de saúde de forma intensa. O profissional de saúde que consegue manter o foco na relação interpessoal e estabelece vínculo empático com seu paciente, destaca-se e promove a saúde de forma humanizada.

Informação

O oferecimento de informações metodológicas a respeito do quadro clínico do paciente e das possibilidades de tratamento produz benefícios amplos (STRAUB, 2005). Entre estes, observa-se menos emoção negativa e diminuição do risco de não adesão ao tratamento.

O paciente deve ser orientado, com riqueza de informações, sobre para que serve cada exame e procedimento médico, quais são as alternativas de tratamento e as possibilidades terapêuticas. Ao mesmo tempo, é necessário que as informações sejam transmitidas em linguagem clara e acessível ao paciente. Devem-se levar em conta as condições sociais e o nível de instrução do paciente para que as informações sejam compreendidas na totalidade. O uso de termos extremamente técnicos e complicados apenas dificultam o seu entendimento e atrapalha sua adesão ao tratamento.

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Além de informá-lo sobre sua condição de saúde, é necessário incluí-lo no processo de tomada de decisão dos procedimentos que serão realizados.

Autonomia

Outro aspecto importante quando falamos em saúde é a manutenção da autonomia do paciente. Algumas vezes, por conta de uma condição clínica delicada, os familiares e a equipe de saúde, na tentativa de poupar o paciente, acabam tomando decisões sem consultá-lo, ou mesmo tentam esconder deste a notícia de uma piora no quadro. Essas atitudes, na maior parte das vezes, acabam gerando sentimentos de desconfiança e incapacidade.

O paciente tem direito à informação e deve participar das decisões que envolvem sua saúde e sua vida. Esse maior controle permite o fortalecimento das relações entre o paciente e os profissionais que cuidam de sua saúde, a criação de sentimento de responsabilidade no processo de recuperação, além de aumentar a confiança do paciente na equipe e em seus familiares.

Suporte social

O estudo do suporte social também tem recebido bastante destaque na área de Psicologia da Saúde e tem demonstrado atuar como fator de proteção ao estresse psicológico causado pelo diagnóstico de doenças graves.

Suporte social pode ser definido como o grau com que relações interpessoais atendem a determinadas necessidades. Refere-se aos recursos postos à disposição por outras pessoas em situações de necessidade e pode ser medido pela percepção

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individual do grau com que relações interpessoais correspondem a determinadas funções (por exemplo, apoio emocional, material e afetivo) (GRIEP et al., 2005).

O suporte social tem sido relatado como fator que exerce papel na prevenção contra doenças e na manutenção da saúde, e algumas pesquisas mostram que a forma como o grupo social percebe o surgimento de uma doença e a evolução de seu tratamento influencia a escolha dos recursos de enfrentamento que o paciente utilizará. Tem sido associado também ao bem-estar psicológico, ao maior grau de satisfação com a vida e à melhora na autoestima, bem como à menor ocorrência de ansiedade (GRIEP et al., 2005).

Espiritualidade

Nos últimos anos, a religiosidade e a espiritualidade têm sido relacionadas a diversos efeitos benéficos à saúde e ao bem-estar. A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) iniciou um aprofundamento das investigações sobre este aspecto, e, atualmente, o bem-estar espiritual vem sendo considerado como mais uma dimensão do estado de saúde, juntamente com as dimensões física, psicológica e social.

Desde modo, a espiritualidade tem sido relatada com um importante fator no enfrentamento de enfermidades físicas e psicológicas.

Lazarus e Folkman (1986) destacam que a fé parece ser uma importante aliada no processo de adaptação a situações de ameaça à existência, podendo auxiliar o indivíduo a obter ou conservar a esperança, além de ajudá-lo a encontrar um sentido para a vida e facilitar a emergência de recursos psicológicos importantes para combater a doença.

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A prática religiosa está relacionada a um maior nível de satisfação com a vida e relatos de felicidade e a menores níveis de queixas psicológicas. Em uma revisão de literatura realizada por Panzini e Bandeira (2007), as autoras concluem que a maioria das pesquisas sobre o assunto indica que crenças e práticas religiosas estão associadas à melhor saúde física e mental, incluindo efeitos benéficos em relação à dor, debilidade física, doenças do coração, pressão sanguínea, funções imunológicas, doenças infecciosas, câncer e mortalidade, além de maiores níveis de satisfação com a vida, bem-estar, senso de propósito e significado de vida, esperança, otimismo, estabilidade nos casamentos e menores índices de ansiedade, depressão e abuso de substâncias.

3. CONTEúDOS DIGITAIS INTEGRADORES

Os Conteúdos Digitais Integradores são a condição necessária e indispensável para você compreender integralmente os conteúdos apresentados nesta unidade.

3.1. relAção equiPe de sAúde e PACiente

Nesta unidade, estudamos a importância do estabeleci-mento de uma relação de ajuda com o paciente e algumas variá-veis que promovem saúde, como empatia e informação.

O estudo dos materiais complementares é fundamental para aprofundar os conhecimentos e descobrir novos tópicos neste tema. Assim, acesse os Conteúdos Digitais Integradores indicados e complemente seus estudos.

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• AME EDITORINHA. Empatia. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=gPASDkS3F98>. Acesso em: 17 ago. 2015.

• HOGA, L. A. K. A dimensão subjetiva do profissional na humanização da assistência à saúde: uma reflexão. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v38n1/02.pdf> . Acesso em: 17 ago. 2015.

• MACIEL-LIMA, S. M. Acolhimento solidário ou atropelamento? A qualidade na relação pro-fissional de saúde e paciente face à tecnolo-gia informacional. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102--311X2004000200018>. Acesso em: 17 ago. 2015.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS

A autoavaliação pode ser uma ferramenta importante para você testar o seu desempenho. Se encontrar dificuldades em responder as questões a seguir, você deverá revisar os conteúdos estudados para sanar as suas dúvidas.

1) Diante de um paciente que apresenta resistência ao tratamento, qual a forma mais adequada de um profissional da saúde atuar?a) Respeitar a vontade do paciente e não insistir no atendimento; somen-

te prescrever o tratamento se o paciente demonstrar maior aceitação.b) Insistir no atendimento e na prescrição do tratamento, já que o mais

importante é recuperar a saúde do paciente. c) Desenvolver uma boa relação profissional-paciente para conseguir

identificar quais aspectos, internos e externos ao paciente, podem es-tar gerando esta resistência e intervir para modificar estes fatores.

d) Solicitar a intervenção de um psiquiatra, tendo em vista que este é o único profissional responsável pela atenção aos aspectos emocionais dos pacientes.

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2) Qual a importância do trabalho interdisciplinar?a) A possibilidade de dividir tarefas, o que alivia a sobrecarga de alguns

profissionais e aumenta a qualidade do serviço prestado.b) A chance de discutir os casos com profissionais de outras áreas e saber

suas opiniões a respeito dos pacientes.c) A garantia de ter a quem fazer o encaminhamento quando o paciente

apresentar alguma demanda que extrapole as atribuições do médico. d) A união de saberes de diferentes áreas, pois isto possibilita a atenção

integral à saúde do sujeito, um ser biopsicossocial.

3) A falta de compreensão adequada sobre o quadro clínico e seu tratamen-to, pode ser aspecto determinante para a não adesão de pacientes com doenças crônicas. Desde modo, de que forma devem ser transmitidas as informações aos pacientes?

4) Que características são importantes para se estabelecer um bom relacio-namento com seu paciente?

5) Sobre equipe interdisciplinar, assinale a alternativa INCORRETA:a) Neste tipo de organização de trabalho, cada profissional atua de ma-

neira isolada em sua área específica, solicitando a intervenção de ou-tro profissional quando julga necessário, mas sem que haja discussão ou cooperação nas decisões tomadas.

b) Em equipes interdisciplinares há um nível maior de relação entre as disciplinas. As decisões são normalmente tomadas por meio de tro-cas de informações de cada especialidade em reuniões de equipe que ocorrem sistematicamente.

c) Embora a interdisciplinaridade seja a forma de organização de traba-lho mais produtiva em saúde, sua aplicação ainda encontra desafios

d) A interdisciplinaridade consiste no estabelecimento de associação in-tencional de duas ou mais áreas do saber, para alcançar um conheci-mento mais amplo e diversificado.

Gabarito

Confira, a seguir, as respostas corretas para as questões autoavaliativas propostas:

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1) c.

2) d.

3) Fornecer de informações detalhadas ao paciente sobre seu diagnóstico e seu tratamento; usar linguagem apropriada, compreensível ao paciente.

4) Uso de linguagem apropriada, estabelecimento de relacionamento cola-borativo, empatia, fornecimento de informações e disponibilidade para ouvir o paciente.

5) a.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS“O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam” (Guimarães Rosa).

Chegamos ao final da nossa obra. Esperamos que as discussões e temas aqui levantados tenham servido de ocasião para a reflexão sobre a complexidade da figura central de toda a ciência sobre saúde: o paciente.

Com esta proposta, a área de Saúde trabalha com o objetivo de promover a saúde, prevenir a doença, restaurar a saúde e facilitar o enfrentamento da incapacitação e da doença.

Enquanto profissional, você não deve se esquecer que todo paciente tem dimensões físicas, emocionais, sociais e espirituais. E, portanto, para se conseguir uma atenção integral em saúde, todos esses aspectos devem ser considerados.

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6.  E-REFERÊnCiasCARL, R. R. As características de uma relação de ajuda. Disponível em: <https://psicologadrumond.files.wordpress.com/2013/08/tornar-se-pessoa-carl-rogers.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2015

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MARTINS, M. C. F. N. Relação profissional-paciente: subsídios para profissionais de Saúde. Disponível em: <http://www.polbr.med.br/ano97/cezira.php>. Acesso em: 17 ago. 2015.

SciELO. Scientific Electronic Library Online. Disponível em: <http://www.scielo.org/php/index.php >. Acesso em: 12 jan. 2014.

7. REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICASGRIEP, R. H.; CHOR, D.; FAERSTEIN, E. et al. Validade de constructo de escala de apoio social do Medical Outcomes Study adaptada para o português no Estudo Pró-Saúde. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21(3), p. 703-714, maio, 2005.

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