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    onsideraes

    gerais

    sobre

    psicologia

    no

    apo

    VERA PARREIRAS NOVAES

    1

    Orientao vocacional e psicologia in-

    dustrial;

    2

    Psicologia clnica; 3. Psicolo

    gia

    escolar

    rendo realizado visitas a universidades no Japo, com leituras de textos publica

    dos, e mantido entrevistas com alunos de cursos de doutorado em psicologia da

    Universidade de Sophia, em Tquio, julgamos pertinente oferecer uma ligeira e

    curta notcia da situao atual da psicologia naquele pas, abordando

    as

    trs

    maiores reas de aplicao: industrial, clnica e escolar.

    A formao universitria e reconhecimento da profisso do psiclogo no

    Japo semelhante

    situao dos psiclogos brasileiros. Tal como no Brasil, os

    psiclogos so formados em cursos regulares, em faculdades de psicologia parti

    culares ou mantidas pelo governo e a profisso reconhecida, possuindo os

    psiclogos atividades privativas. Tambm existem cursos de ps-graduaode

    mestrado e doutorado nas principais universidades.

    A psicologia,

    de

    um modo geral, considerada, no Japo, como um

    campo de conhecimento muito novo, ainda em fase de desenvolvimento. Desse

    ' Universidade Federal Fluminense.

    Arq.

    bras

    Psic. apl.,

    Rio de Janeiro,

    29 (3): 177-180,

    jul./set. 1977

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    modo recebe grandes influncias dos esquemas europeus (Alemanha e Frana,

    em especial) e americanos. No existem escolas tipicamente japonesas e nenhu

    ma teoria desenvolvida por psiclogos japoneses que se possa destacar.

    No

    que

    se

    refere s relaes entre psicologia e religio, existe, em psico

    logia clnica, um tipo de terapia (morita therapy) que

    se

    baseia em conceitos do

    zen-budismo. A terapia morita aplicada em casos

    de

    pacientes neurticos.

    1. Orientao vocacional e psicologia industrial

    A psicologia, no Japo, no aplicada no campo da orientao vocacional. Uma

    das

    razes mais importantes que explica esse fato a falta de oportunidade que

    os jovens tm, no sentido de escolher suas prprias carreiras, segundo suas

    inclinaes. Geralmente so os pais que escolhem as profisses que os ftlhos

    devem exercer, ou ento, ao terminarem o curso secundrio,

    os

    estudantes so

    encaminhados pelas escolas para as diversas faculdades (vestibulares), de acordo

    com as aptides que demonstraram durante o high school E no fim do curso

    universitrio, as empresas que selecionam e contratam

    os

    recm-formados.

    No

    comum, no Japo, o jovem recm-formado procurar um emprego por

    si

    mesmo.

    As

    empresas no possuem setor de psicologia, ou seja, no existe, no

    Japo, psiclogos especializados em psicologia industrial. O sistema empregatcio

    japons completamente diferente do ocidental.

    As

    pessoas so escolhidas para

    exercer uma determinada funo apenas segundo as suas aptides, ttulos etc.

    A empresa escolhe , segundo suas necessidades, a pessoa mais habilitada para

    exercer uma funo. Podemos dizer que essa uma forma de selecionar, mas

    esse tipo de seleo no efetuado por psiclogos e no possui nenhuma

    caracterstica, ou fase, de seleo profissional, tal como a compreendemos nos

    pases ocidentais.

    No

    h razo para uma empresa japonesa necessitar dos

    servi-

    os de um psiclogo, pois, alm de ele no exercer a seleo propriamente dita,

    o sistema japons de promoes, por exemplo, no obedece ao esquema ociden

    tal (alto rendimento no trabalho), e assim o processo de seleo, na sua totali

    dade, nupca poderia ser desenvolvido.

    O princpio da hierarquia vertical principie) a caracterstica mais impor

    tante da sociedade japonesa. Desde que um grupo esteja fundamentado numa

    ordem hierrquica rgida, permite-se que um indivduo penetre no grupo apenas

    atravs da parte inferior extrema da escala hierrquica. Penetrar por qualquer

    outro ponto dissolveria a ordem e harmonia existentes entre os demais membros

    do

    grupo. Nesse sistema mais vantajoso permanecer para sempre no mesmo

    grupo do que mudar de um para outro. Permanecer significa subir, desde que o

    grupo sempre necessita de novos membros, que sero colocados sempre abaixo

    do ltimo sujeito que entrou, enquanto os mais velhos saem do grupo por

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    aposentadoria, invalidez ou morte. Assim, o sujeito pode acumular um capital

    social , se permanecer sempre no mesmo grupo, que no poderia ser transferido

    com ele para outro grupo. Mudar de empresa, mesmo para atingir um salrio

    superior, significa perder toda a bagagem anteriormente adqUirida. Existem mui

    tas histrias trgicas sobre pessoas que mudaram de empresa no meio de suas

    carreiras.

    difcil, tambm, para o sujeito, retornar ao antigo emprego. Quando

    algum deixa sua empresa, seu posto imediatamente ocupado por outra pessoa

    que

    se

    encontra em posio inferior na escala lerrquica. Seria muito difcil

    encontrar uma vaga, na mesma faixa antiga, ao retornar ao antigo emprego .

    2

    Psicologia clnica

    A psicologia clnica, no Japo, encontra-se pouco desenvolvida. Podemos apon

    tar alguns motivos para esse fato.

    Em

    primeiro lugar, de um modo geral, o

    psiclogo (especialmente o clnico) no possui

    status

    no Japo.

    Existem, mais ou menos, trs mil psiclogos em todo o pas, e a maioria

    trabalha como professor e ou conselheiro nas universidades ou dedica-se

    psico

    logia experimental. Mesmo nas grandes cidades, como Tquio e Osaka, h pou

    cos psiclogos clnicos. A maioria desses clnicos trabalha

    em

    hospitais como

    Assistentes de psiquiatras. Geralmente, o psiclogo que faz as entrevistas de

    acompanhamento com os doentes e, posteriormente, transmite os dados obtidos

    ao psiquiatra.

    Alm do preconceito da classe mdica em relao ao psiclogo, o povo

    japons, de um modo geral, evita procurar os seus servios.

    Por esses motivos, em nvel institucional, s possvel encontrar atendi

    mento psiquitrico. Poucos atendimentos so realizados por psiclogos em nvel

    particular.

    Em aconselhamento psicolgico, as teorias mais utilizadas so a transa

    cional e a rogeriana. A teoria analtica de Jung, assim como diversas teorias

    americanas, so utilizadas em clnica. A teoria behaviorista amplamente utili

    zada em casos de crianas autistas e com problemas de linguagem. A importn

    cia dedicada a Sigmund Freud e sua psicanlise refere-se apenas histria da

    psicologia.

    3. Psicologia escolar

    As escolas japonesas, de um modo geral, no possuem servio de psicologia.

    Diz-se que, em jardins de infncia e escolas de nvel primrio e secundrio, a

    Psicologill

    o

    apo

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    orientao psicolgica realizada pelas prprias professoras e orientadoras peda-

    ggicas quando estas se interessam m tomar conhecimento dos princpios de

    psicologia.

    A grande maioria das escolas no Japo mantida pelo governo. Entre as

    escolas particulares algumas recebem assistncia de psiclogos mas essa assistn-

    cia no sistematizada como nos pases ocidentais.

    Nas

    universidades existem servios de psicologia para atendimento dos

    estudantes m nvel de aconselhamento psicolgico.

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