Psicologia_da_Religião

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  L I l MBEM É o HOMEM PRODUTO DO  ACASO? W Criswell Refutoçõo bíblica à teoria do evolucionismo . I O HOMEM NÃO SU SISTE POR SI MESMO  C Morrison Estudos visando demonstrar aos filósofos a existência de um Se r superior .  EDi ÇÕES JERP  Cf - O r O G t C . »  JERP

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~LEIA lAMBEM:o HOMEMPRODUTODO 'ACASO?W. A. CriswellRefutoo bblica teoria do evolucionismo.".....IO HOMEM NO SUBSISTE PORSI MESMOA. C. MorrisonEstudosvisandodemonstraraos filsofosa existnciadeumSersuperior .!.EDiESJERP."Cf)-oOr-OG)-:t>C..JERPMERVAL ROSAProfessor de Psicologia da Religio no SeminrioTeolgico Batista do Norte do Bras"PSICOLOGIA DA RELlGIAO21 edio1979EdiodaJuntadeEducaoReligiosaePublicaesdaConvenoBatistaBrasileiraCASA PUBLICADORA BATISTACaixa Postal 320 - ZC 00Rio de Janeiro - RJTodos os direitos reservados. Copyright @1979 daJUERP paraalngua portuguesa._.19Rospsl Rosa, MervalPsIcologia da reUgIo. 2. edio.Rio de Janeiro, Juntade Educao BeUgioue PubUcaes, Un9.251p.1. Psicologia da BeUgIo. I. Ttulo.CDD- 200.19Capa de "-Nemagradvel nemdesagradvel - respondi.- Apenas existe. 'Istigkeit' - existncia - no eraessa a palavraque Meister Eckhart gostava de usar? Oexistir da filosofia platnica- coma diferena de quePlato parecia ter cometido o enorme, o grotesco erro,deseparar existir de tomar-se e de identific-lo comaabstraomatemtica- a Idia. Ele, pobre mortal, tal-vez jamais tivesse visto umramalhete de flores a bri-lhar comsua prpra luz interior, quase que estreme-cendo sob a tenso da importncia do papel que lhesfora confiado; jamais deveria ter-se apercebido de queessa togrande importnciada rosa, doris e docravoresidiamto-somentenaquiloque eles representavam-uma efemeridade que, no obstante, significava vidaeterna, umperptuoperecer, que era, aomesmo tempo,------24, Citado por Stafford, op. cit., plig. 1.puro Existir; umpunhado de pormenores diminutos esempar, onde, por algumindiz1vel paradoxo, emboraaxiomtico, encontrar-se-ia a divina fonte de toda aexistncia."Continuei a observar as florese, emsualuzvvida,eu parecia captar o equivalente qualitativo da respira-o, mas de uma respirao semretornos a umpontode partida, sem refluxos peridicos, antes em umfluxo repetido, da beleza para uma belesa mais subli-me, de umsignificado profundopara ainda maior. Pa-lavras tais como Graa e Transfigurao vieram-me mente, isto, semdvida, era oque, entre outras coisas,queriamelas significar. Meus olhos se encaminhavamda rosa paraocravo, e daquela incandescncia. de plu-mas para as suaves volutas de ametista animada, queeraoris. A BeatficaViso, 'Sat Chit Ananda' - Exis-tncia-Conscincia-Beatitude - pela primeira vez en-tendi, no em termos de palavras, no por insinua-es rudimentares, vagamente, mas precisa e completa-mente, oque queriamsignificar essas slabas prodigio-sas. Elembrei-me, ento, de uma passagemque leraemumdos ensaios de Suzuki: 'Que oDharma-Cor-preo ~ Buda?' (ODharma-Corpreo deBuda outromodo de se referir Mente, Pecul1aridade, ao Vazio, Dvndade.) Apergunta foi feita, em ummosteiroZen, por ardente e perplexo novio. E, com a vivazinsensatez de um dos Irmos Marx, respondeu-lhe oSuperior: 'Asebe ao fundo do jardim.' 'Epoderia euperguntar' - retrucou timidamente onovio- 'qual ohomemque concebeu essa verdade?' Aoque Groucho,dando-lheuma pancadanas costas comseubasto, res-pondeu: 'Umleo decabelos deouro!'"Quando li sse dilogo, achei-opoucomais oume-nos umamontoado de insensatez. Agora tudo est toclaro como o dia, to evidente como o postulado deEuclides. No h a menor dvida de que o Dharma--Corpreo de Buda seja a sebe do fimdo jardim. Aomesmo tempo, e comigual certeza, ele estas flores,elequalquer coisa que desperte a atenodemeuego(ou melhor, de minha bem-aventurada despersonaliza-o, libertapor ummomentodemeuabraoasfixiante),Assimtambmos livros, que recobrem as paredes demeuescritrio: tais comoas flores, eles tambmluziam,quando para eles olhei, comcores mais brilhantes, comuma importncia mais profunda. Livros vermelhos derubi; livros de esmeralda; livros de gua-marinha, detopso: livros de lps-Iazl de cor to intensa, tointrinsecamente importantes que pareciama ponto desair das estantes, para melhor atrair minha ateno."25Mais adiante, Huxley fala do que elesupe ser os efeitos ge-rais da mescalna sobre os fenmenos perceptivos."Ocrebro dotado de umcertonmero desiste-mas enzimticos que servempara coordenar seu fun-cionamento. Algumas dessas enzimas visam a regular25. Aldous Huxley, As Portas da Percepo, pgs , 9-12.o fluxo de gllcose destinado a alimentar as clulas ce-rebrais. Amescalna, inibindo a produo dessas enzi-mas, diminui a quantidade de glicose disposio deumrgo que temuma fome constante de acar. E,que acontece quando o metabolismo do acar no c-rebro reduzido pela mescalina? Onmero de casosobservadosdiminutoe, pois, aindanoposslvel apre-sentar uma resposta conclusiva. Mas o que temacon-tecido maioria daqueles que tomaramo alcalde, sobcontrole, pode ser assimresumido:"1) Acapacidade de lembrar-se e de. raciocinarcorretamente no sofre reduo perceptlvel. (Ouvindoos regstos de minha conversao, quando sob o efeitoda droga, nada me leva a concluir que estivesse maisestulto do que sou sob condies normas.)"2) AJ3 impresses visuais tornam-se grandementeintensificadas e oolho recupera umpouco da inocentepercepo da infncia, quando o senso no se achavadireta e automaticamente subordinado concepo. OInteresse pelo espao dmnu e a importncia do tem-po cai quase a zero."3> Embora o intelecto nada sofra e a perceposeja grandemente aumentada, a vontade experimentauma grande transformao para pior. OindividuoqueIngere mescalna no v razo para fazer seja o quefor e considera profundamente injustificvel a maioriadas causas que, emcircunstncias normais, seriamsu-ficientes para motiv-lo e faz-lo agir. Elas no opreocuparo, pelasimples razo deter elemelhores co-aas emque pensar."4) Essas 'melhores coisas' podemser experimen-tadas (tal qual se deu comigo) 'l fora', 'aqui dentro'ou emambos os mundos - o interior e o exterior -simultnea ou sucessivamente. Que elas so melhores,isso pa-receaxiomtico a quemquer que tome mescali-Una, desde quepossuaumflgadosoeumamente isen-tade angstias."Esses efeitos da mescalna constituem o tipo dereaoquese poderia esperar de uma droga que tenhaopoder de reduzir a eficincia da vlvula redutora, que o crebro. Quando esse rgo atingido pela carn-cia deacar, osubnutridoegoenfraquece, jnomaisse pode permitir empreender suas tarefas rotineiras eperde todo o interesse por essas relaes de tempo eespaoque possuemto grande valor para oorganismopreocupadocomavida deste mundo. Assimque a Onis-cincia vence a barreira daquela vlvula, comeam aocorrer todas as espcies de fatos desprovidos de utili-dade biolgica. Em certos casos, podero dar-se per-cepes extra-sensoriais. Outras pessoas podem desco-brir ummundo de visionria beleza. Ainda outras tma revelao da glria, doinfinitovalor esignificado daexistncia primeva, do fato objetivo, e no do concei-tuado. No estgio Unal da despersonalizao h. uma'obscura noo' deque Tudo est emtodas as coisas -de Que Tudo , emverdade, cada coisa. Isso , no meu203entender, omximoaqueumamentefinitapodealcan-ar em'aperceber-se' detudoo que est acontecendoemqualquer parte douniverso. "26Huxley fala tambmdeoutrosmeiosdeabrir as portasda per-cepo. Entreeles, mencionaosefeitos dodixidodecarbonoe dalmpada estroboscpca."Uma mistura (completamente atxca) de sete vo-lumes de oxignioe trs de dixidode carbono produz.nos que a inalam, certas modificaes fisiolgicase psi-colgicas, jexaustivamente descritas por Meduna. En-tre estas alteraes, a mais importante (do ponto devista do nosso estudo) uma acentuada ampliao dacapacidade de 'ver coisas' quando os olhos se fecham.Emalguns casos, surgemapenas remoinhos de formascoloridas e. em outros, podem produzir-se recordaesvvidas de passadas experincias. (Dai o valor de C02comoagente teraputco.) Noentanto, outros pacientespodemser transportados, pelodixidodecarbono, paraoOutro Mundodosantlpodas desuas conscincias nor-mais, onde gozaro brevssimas experincias visionrias,inteiramente desligadas de suas histrias pessoais oudos problemas da raa humana emgeral."Aluz desses fatos, torna-se fcil compreender oporqu dos exerccos respiratrios da Ioga: praticadossistematicamente, esses exerccios conduzem, aps certotempo; a prolongadas suspenses da respirao. Essasparalzaes produzem uma elevada concentrao de002nos pulmes e nosangue, a qual, por sua vez, di-minui a eficincia docrebro, comovlvula redutora. epermite oacesso, conscincia, deexperincias vision-rias ou msticas, 'l de fora?'"27Sobre osefeitos da lmpada estroboacpca.dz Huxley:"Sentar-se de olhos cerrados diante de uma lm-pada estroboscpica uma experincia muito curiosa efascinante. Tologoamesma ligada, comeama sur-gir desenhos das mais vivas cores. Essas formas, longede serem estticas, modificam-se incessantemente, acor dominante umafuno da freqncia de descargadoaparelho. Quando a lmpada est cintilando a umafreqncia entre dez a catorze ou quinze por segundo,predominamolaranja e overmelho. Overde e o azulsurgemquando a freqncia excede os quinze ciclos.Depois de dezoito ou dezenove, os desenhos tornam-sebrancos e cinzentos. Nose sabe precisamente a razopela qual aparecemessas formas por efeito doestrobos-cpo. Aexplicao mais vivel seria emtermos de in-terferncia de duas ou mais ondulaes - as vibraesda lmpada e as vrias vibraes da atividade eltricado crebro. Essas interferncias podemser traduzidspelocentro visual enervos ticos emalgoque a mente------26. Id. ibid . pgs , 17 - 1!1.27. Id. ibid., pgs , 133, 134.204transformaemimpresso conscientesoba forma dede-senhos coloridos e animados. Muito mais dif1cil de ex-plicar o fato, constatado isoladamente por vriosexperimep.tadores, de o estroboscpio tender para enri-quecer e intensificar as vises provocadas pela mesca-Una e pelo cido Isrgeo, Eis, por exemplo, umcasoque me foi comunicado por umamigo mdico: Ele to-mara cido lsrgo e estava percebendo, de olhos fe-chados, apenas formas mveis e coloridas. Emseguida,sentou diante de umestroboscpo. Ligada a lmpada,essas formas geomtricas transformaram-se imediata-mente no que meu amigo descreveu como uma 'paisa-gemjaponesa' dencomparvel beleza." 28Como se V, esses fatores naturais alteramas funes normaisda percepo demodosemelhanteaosfenmenos mstcos, tal comonos contamaqueles que a experimentam.Como se podeobservar, aexperinciamstca tenmeno alta-mente complexoe extremamente dificil deexplicar. Aopinio da-queles que estudamo fenmeno mstico varia consideravelmente.Alguns achamquese trata apenas de uma anormalidade psquica,enquanto outros reconhecemo valor Intrnseco dessa expernea,Terminaremoseste captulo, portanto, coma apresentao da opi-nio detrs autoresquantoaomisticismo religioso.Baseado na tpologa deSpranger, Clark dizque h dois tiposdemstcos: omtstcoimanente, queaquele queencontraDeusnaafirmao infinita deste mundo, e o mstco transcendente, o queencontra Deus pela fuga e negao do mundo. Esse autor achaque a maioria dos mstcos uma mistura dos dois tinos. Nestesentido, dizClark, omsteo representativo da vida de equil1brio,poisavida dequalquer umdepende destarelaoentreoimanentee otranscendente. "Omisticismo sadio estabelece o balano entreas funes ativas epassivas dohomem. Expressa tanto oimpulsoparaa vida comooimpulsopara a morte."20Outro valor domisticismoapresentadopor Clarkque, por suanatureza, eleleva oindividuo a retrair-se da sociedade e a explo-rar as grandes possibilidades da vida interior.Omstco tipicamente individualista e reformador, se bemque procure reformar semos alardes dos revolucionrios. Via deregra, corajoso, porqueno tmapegos coisasmateriais, e, con-seqentemente, no temmedodeperder nada, elevaa termo suasconvices, mesmoquando elas so contrrias aostatus quo desuatradio. E, por causa doseu individualismo e senso de indepen-dncia, o mstico quase sempre cumpre uma misso proftica. Afuso domsteoedoprofetaproduz uma personalidade altamente28. Id. ibid., pg, 136.29. Walter Clark, op. cit., pg. 287.criadora. O misticismo, portanto, pode ser uma das experinciasmais enrquecedoras, tanto para o individuo como para a socie-dade.Emseucaptulosobre omisticismo, WilliamJames, que pre-tende analisar o assunto objetivamente, chega s seguintes con-cluses:Estados msticos, quandobemdesenvolvidos, ordinariamente soe tmo direito de ser de autoridade absoluta e incontestvel paraos indivduos que os experimentam.Nenhuma autoridade emana dessa expernca segundo a qualtodos os demais devemaceitar incondicionalmente as "revelaes"que tais msticos tiveram. Em outras palavras, no temos, neces-sariamente, de aceitar a interpretao que o prprio mstico d sua experincia.Finalmente, dizJames, a experinciamsticamostraque onicocritrio de verdade no a conscincia racional e lgica; h maisde umtipo de conscincia. Aexperincia mstica abre a porta dapossibilidade para outra ordemde verdade, na qual podemos acre-ditar, mesmosema possibilidade de demonstrao atravs dos pro-cessos convencionais, acrescentaramos ns.Concluiremos coma opinio de Evelyn Underhill, coma qualestamos de pleno acordo, pelo menos emsuas linhas gerais.Underhill apresentaquatrocaractersticas fundamentais domis-ticismo, 8. saber:overdadeiro misticismo ativo e nrtco e no passivo e te-rico, como muitos supem. Omisticismo umprocesso vital org-nico; algo que todo oser faz, e no alguma coisa a respeito daqual ointelecto forma uma opinio.Os objetivos domisticismosointeiramente espirituais etrans-cendentais. Omisticismo no est interessado de modo algumnoacrscimo, explorao, rearranjo ou melhoramento de qualquercoisano universovisvel. Omstico pe de lado ouniverso, mesmonassuasmanifestaessupernormas. Elenonegligencia seusdeve-res para coma pluralidade, como alegamseus inimigos, mas seucorao est posto no trnco Imutvel.Esse nico para o mstico, no apenas a Realidade de tudoquantoexiste, mastambmumobjetodeAmor vivoepessoal; nuncaumobjeto de explorao.Auniovital comessenico- que a metade suajornada- uma forma altamente avanada de vida. Essa unio no al-canadapeloesforointelectual oupelos desejos emocionais, se bemqueestejampresentese sejamfortes. Essaunio conseguidaatra-vsdeumprocessopsicolgico eespiritual muito rduo, chamadoomtodo mstico, que resulta na criao de umser completamentenovo, ou o EstadoUnitivo, emqueo mstico senteestarunidodefini-tivamente ao Todo."Omisticismo, portanto, no uma opinio, no uma filo-sofia. No tem nadaquever com abuscadeconhecimentoesotrico.Por outro lado, omisticismono apenas opoder decontemplar aeternidade; no devetambmser identificadocomqualquer espciedeesquisitice religiosa. Misticismo onome dado a processoorg-nicoqueenvolveaperfeitaconsumaodoAmoraDeus; oalcanceaqui daheranaimortal dohomem. Ou, sepreferimosmisticismo, a arte de estabelecer uma relao consciente comoAbsoluto."3(}SUMARIOAexperinciamsteaumdoselementos centrais da vida reli-giosa. Podemos dizer que emtoda experincia religiosa profunda.humelemento de misticismo.Adotamos aqui a definio de misticismo dada por Pratt, quediz: "Misticismo a senso-percepo de umser ou de uma reali-dade atravsdemeiosquenoosprocessoscognitivosordinriosouo usodarazo ."H doistipos bsicos demisticismo: oativoeoresponsvo. Noprimeiro, o homem procura, atravs de danas, msicas, Jejuns,drogas, etc., atingir oInfinito; nosegundo tipo, ohomemsimples-mente sedispe areceberaViSitaodivina. Ordinariamente, o ms-ticoumamisturadosdoistipos, havendoapenas apredominnciadeumdoselementos.Entre as caracterstcaa da experincia mstica, salientamos asseguintes: Inefabilidade, isto , a experincia mstca dificilmentepodeser expressaempalavras; qualidadenotca, isto, elauma.forma de reconhecimento, pormadquirido por meios sui generis;transitoriedade, isto, a expernca mstcanopodedurar muito,por causa desua intensidade, se bemque seus efeitos possamter,e quase sempre tm, carter permanente; passividade, isto , elavai almdocontrole consciente doindividuo.Parece haver certos fatores que tornampossivel a experinciamstica.Entreeles, mencionaremos: otemperamentoda pessoa (or-dinariamente omstico introvertidoe decerto modopropenso ao30. Evelyn Under'htll, Mysticism, pago 81.sofrimento); a tradioreligiosa a que oindividuopertence outrofator importantenaproduoda experinciamstica: a capacidadedeauto-sugesto e a foradosimpulsossexuaissotambmconsi-derados fatores importantes na produo desse tipo de experinciareligiosa.Por mtodo mstico, queremos dizer os passos seguidos porquantos procurema experincia mstica na religio. O primeirodesses passos a purificaomstica do"eu". Semessa purificao.oestadomsticojamais seralcanado. O segundopasso chamadode iluminao do "eu", por meio da qual se adquire o "conheci-mento" inefvel, queconstitui umadas caractersticas fundamentaisdo fenmeno mstico. Finalmente, vemo xtase que o estadomsticoemque a alma alcana a unio comoAbsoluto.Aexperincia mstica pode ocorrer fora de umcontextoneces-sariamente religioso. Exemplo dissopodemos ver na mera contem-plaodanaturezapor meiodaqual sealcanaoqueBuckechamoude "conscincia csmica". Outro caso a ioga, emque oindividuobusca a unio como divino, mas esse "divino" no tem de ser,necessariamente, o Transcendente.H vrias drogas quepodemproduzir efeitos muitosemelhantesaos queomstico religiosoexperimenta. Ocaso mais bvioousodeLSD,talvez a droga mais discutida emnossos dias. Aexperin-cia de Aldous Huxley como "peiote" tornou-se clebre no campodaexperimentao comdrogas, apesar doseu poucovalor prpria-mente cientIfico.SegundoEvelynUnderhill, omisticismoapresentaquatrocarac-tersticas fundamentais: o mstco ativo e prtico e no passivoemeramentecontemplativo, como muitoso supem. Omsticobuscauma experincia espiritual comoTranscendentee no se preocupacom estemundo, como sefosse umfimem si. O misticobuscaa Deus,noparareceber algodesuas mos, mas simplesmente para rru-lode modontimoepessoal. Da! por que seu objetivo por excelncia alcanar a unio comoAbsoluto.Aos quedizemque omistico apenas uma forma depsicopata,Guirdhamresponde: "i: possvel que algumlevado por preconceitoou por gnornca diga que So Francisco, Santo Incio de LoyolaouJooWesleyeramloucos, mas difcil determinar de que tipodeinsanidade elessofriam... Odoente mental ordinariamente noproduz verdades religiosas e filosficas que mudemradicalmente avida deseus semelhantes... De fato, a diferena essencial entre overdadeiro msteo e o 'profeta' dos hospitais de alienados queaquele real ou potencialmente muito til sociedade, enquantoeste fundamentalmente umfracassosocial."Captulo IXVOCAO RELIGIOSAAvocao religiosa umdos aspectos mais pessoais da expe-rinciaespiritual dohomem. Geralmente amaneiracomoondv-duose dedica suavocao religiosa reflete a intensidade de suaexperinciacomDeus.Numsentindo muito geral, podemos dizer que todo ndvduoqueprofessauma f pessoal temumavocao religiosa, pois a, f omodopeloqual ohomemrespondeaoestimulodotranscendente.Mas a discusso doassuntonoseusentidolatoseriaextremamentevastoecorreramos oriscode excessiva generalizao. Dal porque,neste capitulo, se bemque faamos meno vocao religiosa emgeral, trataremosespecialmentedeumaspectoparticulardavocaoreligiosa, isto, da vocaoparaumatarefareligiosadefinida. Tra-taremos, aqui, das condies gerais da vocaoreligiosa, das reaestpicas daspessoasvocacionadas para uma obrareligiosa e dos fatoresqueinfluenciamessa vocao.Antes de entrarnadiscusso deis tpicossugeridos, faamosumaligeiradigressosobre adiferenafundamental entreumavocaoeuma ocupao, oficio ou profisso. Nodizer de Paul Johnson: "Osenso de vocaoaparece quando as relaes bscas da pessoadonova profundidade de significao sua ocupao. Uma ocupao) qualquer atividade que conserve algumocupado no espao e notempo, como oindica asignificaobsica da palavra. Umavoca-o, contudo, signIficallteralmenteumachamada, que impllca emcomunicaoeresposta. Ter uma vocao sentir-sechamadoafazeruma obra e aceitar essa chamada. Isso nos faz lembrar a cenafamUlar emque a criana chamada pelo paiou pela mearealizarum. trabalhoqueprecisaser feito. Todavia, oconceitoaqui maisabrangente. Naproporoemque a pessoa amadurece emocional-mente, elapassaaresponder aoutras autoridades, emsuacomuni-dade, almdeseus pais."Avocaotorna-se plenamente religiosa quando a pessoa avem seucontextomais ultraterrenoesente-sechamadapor Deuspara executar seu trabalho. Osignificado religiosoda vocao viversempre diante deDeus, fazer sua vontade eser fiel emseutrabalho."Uma vocao eXige pessoa madura para aceit-la, visto querepresentatrabalho interminvel. No como o trabalhoportarefa,que se completae sedeixade lado, ou de umaocupao que terminadeacordocom orelgio ouquandosoaoapito. Umavocao, defato, uma profisso que envolvemuitas tarefas, comumobjetivocentral queprofessamosemtodosostempos, ondequer queesteja-moa e sejaoque for que faamos. se eutenho'Umamissoacum-prir, ela se tornameudestinoepreocupaosuprema. Paracum-prirumavocao devo darminhavida semreservas aessacausa aque mededico.">Apalavra vocao ou chamada tem. na Blblia Sagrada, doissentidos b.sicos. Doatopeloqual Deuschamaohomemparades-frutar as bnos desua graa- chamada paraa f oupara asalvao(veja, por exemplo, Genesis 12:1-3;15:1-16; 17:1-14; 22:15-19;26:23-25; 28:13-15; 35:9-12; Exodo 3); doatopelo qualDeus chamaohomempara funcionar comoinstrumento especial na transmissode suagraa aoutrohomem- chamadaparaumministrioespe-cial (veja, porexemplo, aexperinciadavocao religiosa deMoiss.IsalM. Jeremias, Paulo e outros. quer na B1blia, quer na histriadocnstansmc) .Paraocristianismo. a idia devocaoreligiosatemtidopro-fundasignificao. Aprincipioparece bvio queoscristos enten-deramosentidounitriodesuavocao. Isto . ser cristo serchamadoporDeus paraumanovarelaocom Deuse como mun-do. NaEpstoladeDiogneto, escrita, aproximadamente, no ano 130da nossa era, a doutrina da vocao apresentada emtermos deuma dupla cidadania. Ocristo deveser bomcidado da ptriaterrena. porque bomcidado do Reino de Deus. Tomando porbaseahistriadoJovemRicoregistradaemMateus 19:16-23, Am-1. Paul Johnson. op. cit., p.gs. 261, 262.brB10 (IV Sculo A.D.) forouumadistinoentre vocao"reU-g1oBa" e trabalho "aecular". Eua distino foi levada ao extremonavidamon8t1ca, que sebaseianopressupostodeque a perfeioespiritual spode ser alcanadana vidareclusa. Os Reformadoresdo Sculo XVI tentaramrestaurar osentido cristo da doutrinab1bl1cadavocao. Advogaram quea vidacrlat devoo aDeuse que todos tmo mesmo dever para com o Criador. Cada crente chamado a servir a Deusna sua prpria ocupaoou proflaso.Aqui temos a base da chamada doutrina dosacerde10 individualdos crentesque, na opinio deMax Weber, umdos esteios daticaprotestante, que, por sua vez, a base dosiatema capitallata deeconomia.Parece ser ponto pacificoentre os cristos hodiernos quesercrente de fatouma vocao, mas, alm~ a chamada dafe para af, existe outra chamada especial paradeterminadasatividadestidascomo tipicamente religiosas.OProf. HenleeB. Barnette, professor defltica Crist no Se-minrio Batlata de Loulav1lle, Kentucty, USA, apresenta osse-guintes critrios para avaliar uma vocaocrlst. Uma vocaocrist aquela emque se presta genuinoservio humanidade.Evidentemente, o autor noestdizendo que forado conceito cristode vocaono haja "genuinoservio humanidade". Mas, paraqual1f1car-se como vocao crlat, elatemapreencher esse requisito.A vocao crist aquela que atendeaumareal necessidade dasoc1edade. Hmuitas atividadeshumanasquenocumprememnadaesse propsito. :I: claroqueumcrlatonopodeacharsuavocaonuma atividadesocialmentell1cita eimoral. outracaracterlsticadeuma vocao crlst, dizocitadoautor, queohomempossaorara seurespeito. A vocao cr1st aquela que est emharmoniacomoamor ea justiahumana. ma vocaoqueexige dohomemosenso de integridade, criatividade, imaginao e ut1l1dade social.Finalmente, umavocaocristaquela emqueh umsensodepropsitonaquelequea praticaousegue.Admitimos, portanto, queh umsentido geral para a palavravocao dentro doensinodocrlatian1smo, mas existe tambmumsentidoespecial, eestesentidoespecial sero objetodestecapitulo.Considerando, ento, a vocaorengiosa emseu sentido malaparticular, notamos, como sugerem Niebuhr e seuscolaboradores, quehumasriede chamadasna vocao rellgiOM,. H uma chamadainicial paraser crlatoou, como geralmente sediz, uma chamadaaodiac1pulado. BxIate, emsegundolugar, oqueoscitados autoreschamamde vocao secreta, isto, apersuasoouexperinciainte-rior pela qual a pessoa se sente diretamente chamada por Deusparaaobrado miniatrio. Humaterceirachamada, queosauto-~ 1 1res chamamde vocao providencial, que consiste no equipamentode talentos e oportunidades necessrios ao exerclcio do ministrioparticular paraoqual a pessoasesente chamada. H, finalmente,a chamadaeclesistica, isto , oconvite de uma igreja oucomuni-dade cristpara oexerc1cio de umministrio especificoemdeter-minadolugar epor determinadotempo. Emtoda vocaoreligiosa,portanto, estasso as condies gerais: Ohomemchamadoparaser cristo; sente ntimamente uma convicode que deve dedicarsuavidainteiramenteaoministrioevanglicoemqualquerdassuasmodalidades; receber. umm1nimo detalentos epotencialidade, quepoderoser desenvolvidosnoexerclciodesuavocao; e, ordinaria-mente, recebeoconvitedeuma instituio, a queservenoexereeode sua vocao.Motivao para oMinistrioSabe-se que ndvtduos que escolhema mesma profisso tmmuito emcomum, emtermos de aptides e disposiesemocionais,salvo, naturalmente, as diferenas individuais. Ora, o mesmo verdadequantoaosquetmuma vocaoreligiosa. Hcertostraosde personalidade que so comuns aos chamados para uma obraespecificamente religiosa. Podemos, ento, dizer que, apesar dasdiferenasindividuaisedas vrias circunstnciasde tempoe lugar,osque tmuma vocaoreligiosa apresentamfundamentalmente amesma motivaoerespondemaos mesmos estmulos.Baseadoempesquisas feitaspor ottoStrunk Jr. epor Niebuhr,vejamos alguns dosmotivos por quehomens emulheres respondema uma chamadareligiosa, a certasearacterstcaacomuns aos voca-conados para oministrio religioso.Otto StrunkJr. fez uma pesquisa entre estudantes da Univer-sidade deBaston quantoaos motivos por queentrarampara omi-nistrio, usandoo mtodoautobiogrfico,e verificouque doze motivosforamos mais freqentemente apresentados. Aqui esto estes mo-tivosmaisfreqentes, conforme aclassificaodeStrunk, citadoporJohnson:1. Oministro respeitado, tem prestigio e posio de lide-rana (Prestigio).2. Fui chamadopor Deus (Vocao).3. Desejava atender s necessidades de outras pessoas e au-xili-las nasoluo deseus problemas (Altrulsmo).4. Meus paisinsistirampara quemetornasse ministro(Influn-cia dos pais).5. Estava interessado nas coisas que os ministros fazem (In-teresse) .6. Desejava expressar minha aptido natural para o mns-trio (Aptido).7. Queria aprender e compreender algo sobre assuntos reli-giosos (Curiosidade).8. O mnstro uma profisso razoavelmente estvel (Se-gurana) .9. Umm.1nistrobemsucedidogeralmentetemrendafinanceiraestvel (Lucromonetrio).10. Queria tomar o mundo umlugar melhor para se viver(Reforma) .11. Otrabalho do ministro atraente (Fascnio).12. Estava ansioso e amedrontado e achei que o ministrioajudasse a reaolver meus problemas emocionais (Inaptido emo-cional) .Essaclassificaodosmotivosfoi entregueaosestudanteseelesforamsolicitados a classificar os motivos emordemdecrescente deimportncia, considerando os motivos iniciais de sua. vocao reli-giosaeosatuais (quatroemeioanos depois). Aqui estumquadrorepresentativodessaclass1f1caofeitapelosalunos.Classificaode12 Declaraes de16Estudantes de TeologiaCategoria Classificaode Classificaodemotivos de motivos atuaisacImIssoAltrulsmoVocaoReformaInteresseCuriosidadeAptidoPrestIgioSeguranaInapetnciaemocionalInflunciadospaisGanhomonetrioFasc1nio123456789101112123546781110912Aeste quadro declassificao Paul Johnsonoferece oseguintecomentrio:"Desses 76 estudantes, 81,58% puseramc'altrusmo'como a primeira, segunda outerceira escolha; 65,79%colocarama'chamada' comoprimeira, segunda ou ter-ceira escolha. Os motivos mais idealistas e religiososfiguramde modo mais consistente na partesuperiorda escala de classificao. Essesmotivos no mudaramdurante o perodo de 4-6 anos. Os motivos menos im-portantes foram mudados mais freqentemente. porexemplo, ointeresse, a curiosidade, a inadequaoemo-cional eoganhomonetrio. Namedida emqueosestu-dantesamadurecememocionalmente, ointeressesetornamais forteeacuriosidadeeganhomonetrocomeamaserreconhecidos como demaiorsignificao, mesmoparaumobreiroreligioso. A esperanadeque o ministriove-nha a solucionar os problemas emocionais diminui naproporo emque os estudantes amadurecem. H duaspossiveisinterpretaes para isso. Oestudante, no pro-cesso de amadurecimento, torna-se menos ansioso ounoconsidera que opropsito de uma vocao religiosaseja ajud-lo emocionalmente, ou talvez isso aconteaemvistadomotivoaltrustaqueo levaaumaconcepomais realista das exigncias emocionais do ministrio.evidente, quando secomparamosmotivosreconhecidospor outras pessoas, emoutras profisses, que as moti-vaes idealistas desempenhampapel importantenaes-colha deuma carreirareligiosa. Omotivomais distinta-mentereligiosoachamadadeDeus paraamareserviraoprximo, numacomunidadedeinteresses mtuos."2Richard Niebuhr, Daniel Day Wlliams e James M. Gustafsonfizerampesquisas emvrios seminrios nos Estados Unidos e che-garam concluso de queh pelomenos dez tipos de padres depersonalidade entre aqueles que tmuma vocao religiosa. Veja-mos, aseguir, quais so estas caractersticas outipos deestudantesministeriais, conforme os autores acimamencionados.1. Umestudante pode entrar para umseminrio porque suafamla, seu pastor oualguma outra pessoa importante lhe incutiunamenteaidiadequeeledeve ser ministrodereligio. Emgeralesse tipo de estudante nunca optou por outra vocao de modoclaro edefinido, da por queeleinterpreta comosendosuadecisoa coerodessas pessoas influentes. Aesseestudanteministerial ospesquisadores deramo ttulo de "coagido". Tipicamente, tal estu-dante achaocurrculo de uma escola teolgica extremamente ma-ante. Mas" no raro, elepodeencontrar noseminrioa atmosferaprpriaparadefinir-sequanto suavocaoepodeouno deixaroseminrioededicar-se a outracarreira, ouajustar-se defato aoministrio, tornandosuaavocao quedecertomodo lhefoiimpostapor seus maiores.2. A pessoa pode ser atradaao seminrio porque sev aterradaemface desrios problemas pessoais. Podeser quea pessoatenha2. Id.. ibid., pg. 262.umsentimentode culpa e procure algummtodo expiatrio no es-tudo da religio eno trabalhoda igreja. Viade regra, esse alunoentra em discusses intelectuais em que, de certo modo, projetasuas lutas interiores. Se oseminriooferece' treinamentoclinico, provvel que tal estudante faa aqui a maior parte de seu tra-balho. ~ experinciaemeducaoteolgeaconrrmaquendvduosquebuscamnosseminriosumaformadeterapiaparaosseus pr-prios problemas podem, noprocessode sua educao, ajustar-se muitobeme setornamexcelentesministros. No entanto, devehavermuitacautela, porque muitos desses podementrar e sair desajustados ecausar muitos danos causa da religio.3. O aluno pode entrar para um seminrio porque desejaencontrar uma carreiraque lhe traga as recompensas de uma boaposio social. li: o tipomanpulador, naclassificaodosautoresqueestamos apresentando. Via de regra, esses ndvduos tirampartidodesua facUldade de expresso (vulgarmente chamada verbosidade)e desua "presena de esprto" ou"personalidade atraente". EssesIndivduos. geralmente, usam pessoas P. instituies para alcanar seuspropsitos. So tipos oportunistas, mas podempermanecer no mi-nistrio, se no achamalgo mais vantajoso, e podemat ser con-siderados por muitos como"ministros bemsucedidos".4. Outro tipo de estudante ministerial aquele que vemaoseminrionoporque julgueque temalgoaaprender ali, mas sim-plesmente para satisfazer a uma exigncia formal (quando suadenominaorequer educaoteolgica formal paraseus ministros).Esse ndvduo ordinariamente jganhou oreconhecimento de suacomunidadecomolder religioso. Quasesempreelecomea apregardesde menino e temocupado vrios cargos de liderana na igrejalocal. Via de regra. esse estudante temuma atitude de desprezopara comolado tericoda educaoteolgica ejulga sabermaisdoque os professores, que conhecem, dize eleapenas a teoria e nadasabemda prticadoministrioprpprtamentedito.5. H um tipo de estudante ministerial a que esses pesqui-sadores chamamde "protegido". Decidiu muito cedo a estudarpara oministrio e quase sempre desfrutou da proteo ou bene-fcio do contato comum grupo de pr-seminaristas. No contatocomesse grupo, ele forma uma auto-imagemque reflete os nveisdeexpectaode suacomunidade. Nesseconvvio, elepodeaprendera linguagemdos candidatos ao ministrio. mas constantemente humelementodeindecisoquanto entregatotal de suavida a umavocao religiosa. Ordnaramente. esse estudante temsido prote-gidocontraoestudocriticoda religio. Resultado: quandovemaoseminrio, temgrandes dificuldades e muitos deles desistemde es-tudar para oministrio...."6. Grande nmero de estudantes ministeriais se caracterizapeloentusiasmo comque abraa sua vocao. So os "zelosos" daclassificao de Niebuhr e seus colaboradores. Tipicamente, esseeo estudante que descobriu na religio uma verdadeira mensagem,que deve ser comunicada a todo omundo. Seu entusiasmo podelev-lo a aceitar posioteolgicasemesprito critico e est cons-tantemente mudando de interpretao. comumtambma esseestudante impressionar-se comdeterminados aspectos da educaoteolgica e negligenciar outros, igualmente importantes. Uma dascaracterstcasmais bvias dessetipo deestudante sua tendnciaparasimplificar osproblemas da vida. Eleachaquesuamensagempode solucionar todos os problemas humanos, o que evidenteexagero.7. H umtipo de estudanteministerial que escolheu essa vo-cao porque viu nela uma resposta sua curiosidade intelectual.Para ele, areligioeos estudosteolgicos constituemumarespostaaseudesejodedebater problemas intelectuais. Semdvida, essetipodeestudante prefere as especulaes tericas aos aspectos prticosda educao teolgica. Ordinariamente, ele gasta mais tempo dis-cutindo do que estudando e aprendendo sistematicamente. Os as-pectos prticos do ministrio religiososo para ele extremamentemaantes e quase sempre ele se decepciona e se dedica a outraatividade, quelhe proporcionemelhores oportunidadespara dar ex-presso sua curiosidade intelectual.8. Outro tipo deestudante ministerial ochamado"humani-trio". Avocao de tal individuo fOi grandemente determinadapor seudesejodefazer algopor aqueles quesofremas misrias dasociedade. Ele acredita que a igreja temos elementos que podemcuraros males dasociedadeealista-secomo voluntriodessa causa.Infelizmente, porm, esse estudante descobre desde logo que, namaioria dos casos, a igreja institucionalizada no se interessa ematacar osmales dasociedade, eeleentose desiludee, quase sem-pre, muda sua vocaopara outra rea, ordinariamente no campoassistencial. No Brasil, por exemplo, muito comumencontrar taisndvlduos numa escola de servio social ou numa faculdade decincias sociais. Nos Estados Unidos elespodemtornar-se Volunt-rios daPaz.9. Muitosestudantes ministeriaisescolheramessa vocaopor-quepensamencontrarnelauma respostaparaaconfusomoral, es-piritual e intelectual que os preocupa. Muitos notmumaconvicontida a respeito do que vo fazer no ministrio. Tudo que elesdesejam permanecer fiis a Deus e realizar algo que d sentido sua vida.10. Finalmente, existeo tipodeestudante ministerial querevelamaturidade emocional e que respondeu chamada de Deus comoresultado de profunda convicopessoal. Esseestudante temalvos,,.,,definidos para o ministrio e revela integridade e genuna consa-graosua v o c a o ~Ostiposaqui apresentadosrevelamumpadrotipicoencontradonosseminriosdosEstadosUnidos. No se devesupor que osautoresestejamfalandode tipos "puros"ou de caractersticas rgidas. So,entretanto, traosgeraisdepersonalidades que encontramosnasins-tituies de educao teolgica. Mais inv-estigao precisa ser feitae, comtoda, certeza, mudadas as circunstncias, outras caracters-ticasaparecero paraosquesededicamauma vocaoreligiosa.John W. Drakeford, emtese apresentada Texas ChristianUniversity(1958), fezinteressantesdescobertas quantos caracters-ticas do lder religioso bemsucedido. Esse trabalho revela que older religiosobemsucedido aquele que sabeoque quer e no sedeixasugestionar facilmente. Outra caracterstica do lder religiosobemsucedido auto-ccnrana. Ele confia no que faz e aceita aresponsabilidadedeseus atos. Older religioso bemsucedidocarac-teriza-se tambmpor seuespritosocivel. Gosta da companhia deoutrosenotemmdo demeter-seentreas multides e atmesmode identificar-se COm elas. Older religioso bemsucedido maisracional e objetivo na exposio de seus sentimentos. Excesso deemotividade atestado de liderana franca. Older eficiente con-serva certadistnciaemoconal dos fatos relativos SU:l liderana.Criatividade outracaracterstca do lder religioso bemsucedido.Older religioso bemsucedidopode fazer oqueoManual prescreve,mas no se limita ssuas regrnhas de trabalho; ele mais livre, paraimprovisar de acordo comas circunstncias. Isto significa que obomlder planejaeexecutaseutrabalho, masnosentenada com-pulsrio acerca dos detalhes de sua execuo. Finalmente, olderreligioso bemsucedido ordinariamente provmde umambientefa-miliar bemajustadoeque proporciona aoindivduo uma atmosferaemocionalmentesaudvel.Pessoas InfluentesSe bemque a vocaoreligiosasejaumdos aspectos mais tipi-camente pessoais da experincia religiosa do homem, no se podesupor que ela sela independente da influncia de fatores outrosque noa imediataconscinciavocacional doindividuo. Certamenteque vrias circunstncias devemser consideradas e entre elas esta presena de pessoas que direta ou indiretamente influenciaramohomemquanto suavocaoreligiosa. Vrios estudos revelamquea decisovecaconal da maioriadaqueles que se dedicama ummi-nistrio religioso especial foi grandemente nfluencada por outraspessoas.3. H. J1icnard Niebuhr et al, The Advancement of Theological Educa-tion, NewYork: Harper & Brothers, Publishers (1957), pgs , 145- 159.917Drakeford menciona os trabalhos de Southard, Crawley, FeltoneDraughon, emqueessainflunciafoi estudada. Osresultadosdes-sas pesquisasindicamque 00quese dedicamauma vocao reli-giosa foram positivamente influenciados por essas pessoas. Porexemplo, o trabalho de Felton revela que 34%dos candidatos poreleestudadostinham sidoinfluenciadospor seus pastores. Conformeosresultadcs dotrabalho de Southard, 27%dos candidatos ao mi-nistrio consultaramseus pastores antes de decidiremdedicar suavida a uma vocao religiosa. Eotrabalho de Draughon ainda mais significativo a esserespeito, poisindica que 54,7%dos candi-datos receberamajuda deseus pastores quanto sua deciso paraoministrioevanglico.Emsegundo lugar, figura a me comopersonalidade mais in-fluentequanto decisovocacional do ndvlduo , Feltonindicouque17%dos candidatos por ele estudados falaramsobre a positiva in-fluncia da me. Eoestudo deSouthardrevelaumnmeroaindamaior- 20% doscandidatosdemonstraramessainfluncia. Eviden-temente, os resultados dessa pesquisa refletemcircunstncias socio-culturais. Numasociedade emquea me no toinfluente, parano dizer importante, os resultados naturalmenteseriamoutros.Conforme os resultados dessa pesquisa, o pai ocupa o terceirolugar de influncia na vocao ministerial dondvduo. OestudodeFeltonindicaapenas 11,2%eodeSouthard, 12%doscandidatosreconhecendo a influncia dopai nasua deciso vocacionaI.Essa pesquisa revela tambmque oprofessor da Escola BlbllcaDominical exercealgumainflunciana decisovocacional dos candi-datosaoministrio, no, porm, como os pesquisadoresanteciparam.Somentecinco por-centodos candidatos estudados porFeltonfalaramda influncia deseu professor da Escola Blblica Dominical. Otra-balhode Draughon registra apenas 3,9%e o de Southard, apenas3%.4Naturalmentequehmuitas outraspessoas que, direta ouindi-retamente, influenciamoindivIduo quanto sua vocao relgosa,mas seria diflcil verificar a nflunca de todos. Dal porque temosdenos contentarcomestageneralizao, isto, dequehpersona-lidadesqueexercemmaioroumenorinflunciana decisovocacionalda pessoa. Omesmose pode dizer comrespeito s vrias circuns-tnciasque levamo homema sededicarinteiramenteaumavocaoreligiosa.Para concluir este captulo, apresentaremos umexemplo tpcode vocao religiosa. Tomaremos comomodelo a vocao religiosadoprofetatsaas, segundoregistrodoseulivrono capitulosexto:4. John Drakeford, Psychology in Search of a Soul, p.ga, 273, 274.218"NOano da morte dorei Uzias, eu vi oSenhor as-sentado sobre umaltoe sublime trono, eas abas de suasvestes enchiamo templo. Serafins estavampor cimadle; cadaumtinhaseis asas: comduas cobriaorosto,com duas cobria os seuspsecomduas voava. Eclama-vamuns paraosoutros, dizendo: Santo, santo, santooSenhor dosexrcitos; a terra toda est cheia da sua glria.AJJ bases dolimiar se moveram vozdoque clamava,e a casa se encheu de fumaa. Ento disse eu: Ai demim! estou perdido! porque sou homemde lbios im-puros, habitono meiodumpovode lbiosimpuros; e osmeus olhosviramorei, oSenhordos exrcitos!"Entoumdosseranns, voouparamimtrazendonamouma brasaviva, quetiraradoaltarcomuma tenaz;coma brasa tocou a minha boca, e disse: Eis que elatocouos teus lbios;ea tuainiqidadefoi tirada, eper-doadooteupecado. Depoisdisto ouvi a vozdoSenhor,que dizia: Aquemenviarei, e quem ir por ns?Disseeu: Eis-me aqui, envia-me a mim" saras 6:1-8).Conforme esse texto, a vocao religiosa pressupe uma visopessoal de Deus. Isalas havia nascido e se criado numa tradioreligiosa. Muitas vezes haviaidoaoTemplo, mas numaocasioes-pecnca teve uma visoespecial de Deus. "Noano emque morreuorei Uzias... (numa situaoconcreta e claramente definida) euvi oSenhor."Euma experinciapessoal. ODeus de tradiotemque tornar-se seu Deus antes que o homemsesinta chamado aproclamarsuamensagem. Somentecomestavisopessoal deDeuspode ohomemtomar-se profeta, visto que suamisso precpua apresentar esse Deus aos homens, e seria tarefa inglria tentarapresentar aseu prximo umDeus que no conhece emsua expe-rinciapessoal. Todavocaoreligiosagenunaterdebasear-senoconhecimento profundamente pessoal do Deus que o vocacionadorepresenta.Outro pressuposto fundamental da genuna vocao religiosaoconhecimentoprprio, isto , ohomemprecisadeconhecer-seasi mesmoda melhormaneirapossvel. "Entodisseeu: Ai demim,quevouperecendo, porque sou homemdelbios impuros ... "Esse autoconhecimento deve resultar no apenas da introspeco,comosugere a clebre inscriono Templo de Delfos, mas da in-trospecoqualificada, isto, daintrospeco "na presena de Deus".SomentenapresenadeDeusohomemchega aoverdadeiroconhe-cimentodesi mesmo. Eaqui queelereconhece tantoasuaflnitudecomooseu valor eterno. Eaqui que ele reconhece tanto as suaspossibilidadescomo as suas limitaes. Esse autoconhecimentofun-damental, porquesassimpodero homemconhecer seusemelhan-te, que oobjetopor excelncia de suavocaoreligiosa.Como corolriodo autoconhecimento, agenuna vocaoreligiosapressupe oconhecimentodoprximo. "... ehabitono meiodum219povode lbios impuros ..." Ohomem vocacionado para servir aumhomemde carne e ossoque vIvenumarealIdade socioculturalhistrica que eleno pode enemdeve ignorar. Oprofeta oumi-nistroreligiosono meroespectador; ele parteintegral dopro-cessohistrico. Paraumtrabalhoeficiente, portanto, ohomemquese dedica a umavocao religiosa precisa conhecer bemo povoaquevai servir, emfunodeseu mnstro.Finalmente, uma genunavocaoreligiosa pressupe oconhe-cimentoeaceitaodas implicaes dessavocao. Isaassabiaqueiria falaraumpovo de coraoendurecidoe quenodeveriaesperar"grandesfrutos" do seuministrio. Seumhomemtemumavocaoreligiosaetemaseurespeitoumaidiaromantca, sermelhorcon-tar at trs antes de tomar sua deciso final. Quando o homemresolveentregar suavida a umavocaoreligiosa, ele deve faz-locomaconvicodequequemaceitaachamadadeveestar dispostoaobedecer plenamentea vozdaqueleque ochama, sejamquais fo-rem as circunstncias, mesmo que isso custe a prprta vida dovocacIonado.SUMARIOA vocaoreligiosa umdosaspectosmaisintimose pessoaisdaexperincIaespiritual dohomem.Emsentido geral, todo ndvduo que temf relgtosa tem, emvirtude dessa f, umavocaoespiritual.Vocaono mera ocupao; ela exige a total consagraodavida.No sentidoblblico, apalavravocaosignificatantoa chamadaparaafcomo aresponsabllldadedeumatarefaespecial arealizar.Extensas pesquisas feitas nessarearevelamqueosmotivos davocao religiosa incluemos seguintes elementos: o desejo de al-canar prestgtnsocial, o desejo de servir ao prximo, o interessenognerode trabalhoque o ministroreligioso faz, a curiosidadeinte-lectual, abusca demaior establlldadeemocional, opropstode re-formara sociedadee o elementodefasclnioque nelaexiste.Entre os candidatos ao mnstro emvrios seminrios teol-gicosefaculdades de teologia, Niebuhr eseus colaboradores encon-trarampelo. menos dez tipos comcaractersticas peculiares. Soeles:1. O "coagido", que oestudanteministerial queescolheuessavocaoporqueseus pais ououtraspessoas influentes de suacomu-nidadeacharamqueeledeviaser ministroreligioso.2202. O"perturbado", que o estudante que veio ao seminriopor causa de srios conflitos emocionais.3. O"manpulador", que veio ao seminrio porque julga en-contrar no ministrio religioso certas vantagens de ordempessoal.4. O"pregador nato" (designao nossa), que vemao semi-nrio apenas parasatisfazer a uma exigncia desua denominao,mas elejsabe tudoqueumhomempodesaber.5. O"protegido", que aquele que desfruta os beneficios dacomunidade teolgica, porm, muitas vezes, ele a usa apenas comotrampolimpara suaascensosocial.6. O"zeloso", queotipoquevnareligio umelementodegrande valor que deveser comunicadoao prximo.7. O "intelectual", queotipoqueamaosdebatesacadmicose odeia olado prticodos estudos teolgicos. Ordinariamente, essetipo merodiletanteintelectual.8. O"humanitrio", que oestudante ministerial que v emsua vocao religiosa uma oportunidade de servir ao semelhante.9. O"confuso", que no sabe exatamente qual sua misso,pormesperaencontrarno ministrioalguma respostaparaa con-fuso moral e espiritual emque omundo se encontra.10. O"maduro", que sabe o que quer e exatamente qual asuamissoa cumprir.Na escolha de uma vocao religiosa h varias pessoas quepodem exercer grande influncia sobre o individuo. Entre essaspessoas figurampastores, pais emes, professores da EscolaBlbUcaDominical el1deresdecomunidades.Uma autntica vocao religiosa muda por completo o destinoda vIdadeumhomem. Exemplotlpico oprofetaIsaas. Naexpe-rincia de Isaas encontramos os elementos bsicos que existem,mutatis mutandis, em todagenuna vocao religiosa. Esses elementosso: uma visopessoal deDeus, conhecimentoprpriotantodesuaslimitaescomodesuaspotencialidades, conhecimentodohomemaquesevai servir e das suas condieshistricas, eoconhecimentoeaceitao das implicaes dessa vocao.Captulo XREUGIO E SADE MENTALArelao cada vezmais estreitaentre o psiquiatra e omns-tro religioso um atestado do reconhecimento de que a religiodesempenha importante papel no desenvolvimento da personal-dade e pode constituir-se fator primordial no equil1brio de suasfunes psqucas. Oministro de religio hoje parte integranteda equipe de sade, nos grandes hospitais e clncas, especialmentenos Estados Unidos. onde o movimento foi nctado, graas ao ex-traordinrio trabalho de Anton BoIsen.Nomundomoderno, otrabalho de capelania nose limita aoshospitais, pormestende-se a outros setores, como as foras arma-das, as grandes indstrias, etc., onde quer que se considere a di-menso religiosa necessria ao bomajustamento da personalidade.Uma vista panormica da histria da medicina revela que areligiosempre teve grande relao como bomfuncionamento dohomem. Isto verdade particularmente no que tange sademental. Podemos dizer que os primeiros pseoterapeutas foramosministros religiosos. A razo principal dessa relao que, nassociedades primitivas, a enfermidade era vista, observa JeromeFrank, como expresso simblica de conflitos internos ou de per-turbao nas relaes como mundo significante do indivduo, ouainda como a combinao de ambos. 11. Jerome D. Frank, Persuasion and Hea.ling: A Comparative Study ofPsychotherapy, New York: Schocken Books (1964), pg. 38.223Conforme a mitologia grega, Higia, filha de Asklpios (nomegrego dodeus egpcioImhotep), era a deusa da sade. Numerosostemplos foram ergdos a essa deusa. Esses templos funcionavamcomo hospitais. Ali praticava-se a incubao, que consistia sim-plesmente emdeixar opaciente dormindo no precinto do templo,e, durante osono, esperava-se que os deuses operassema cura ourevelassem, por meiodesonhos, OSremdios que ele precisava to-mar. Na realidade, porm, o que se dava era simplesmente umprocesso de sugesto. Durante o sono, um sacerdote segredavasugestes aos ouvidosdopaciente, queprvamente havia sido ins-truido a assumir determinada atitude mental. Vrias enfermida-des, especialmente aquelas emque no havia srios concomitantesorgnicos, eram"curadas" por meio dessa sugesto religiosa. Les-lieD.Weatherhead, emseu livroPsychology, ReligionandHealing,menciona aparalisiaea cegueiracomodas mais freqentes enfer-midades emque esse mtodo eramuito bemsucedido.Outra razo por que se tem, atravs dos tempos, relacionadoreligio comsade mental que as chamadas "doenas mentais"foram, por longos sculos, associadas com"possesses demonacas",Vejamos umpouco dessa histria, conforme ovalioso trabalho deJames Coleman, Abnormal Psychology and ModemLife (1964).Desdea Idade da Pedra, ohomemtem-se preocupado comosdistrbios mentais. Aqui, quando o indivduo revelava anormali-dades de comportamento, convulses, dores de cabea, etc., o "m-dico" perfurava comseus instrumentos primitivos o crnio doenfermo, crendo e esperando que, atravs desse orifcio, o dem-nio ou mau esprito que estava ocasionando a enfermidade sasseeopaciente voltasse suavida normal. Essa operaorudimentaraparentemente produzia bons resultados, porque aliviava ocrebrode excessiva presso. Para o primitivo, entretanto, isso represen-tava a confirmao desua crena de que a enfermidade era pro-duzida por demnios e, uma vez que esses demnios sassem damente doindivduo, elevoltavaa funcionar normalmente.Essacrenano exclusivadohomemda Idadeda Pedra, mas,mesmo entre povos de elevado grau de civilizao, vamos encon-trar, fundamentalmente, a mesma idia. Entre chineses, egpcios,hebreus e gregos, a idia de "possesso" aplicava-se tanto a bonscomoa maus espritos. Quando ossintomas indicavamque oho-memestavapossessodeumbomesprito, esseindivduo era, via deregra, tratado com muita venerao e respeito. Em I Samuel21:12-14, aparentemente, Davi tirou vantagemdessa crena popularpara escapar de Aquis, rei de Gate. Quando, porm, os sintomasindicavamque a possessoera maligna, oindividuo era submetidoa umprocessode "tratamento" ordinariamente conhecido peloter-mogeral exorcismo, isto , tcnica de expulsar espritos malignos.Via de regra, o exorcismo inclua orao, purgativos ou simples-224mentebarulho. Emcasos mais graves, usava-seojejumforado atque o indivIduo perdesse suas foras. Noutros casos, batia-se noindivduoemaltratava-se-lheocorpoatque oespritosasse dele.Muitas vezes, oindivduoeracolocadoemlugares e posies extre-mamente desconfortveis para forar oesprito a retirar-se doseucorpo. Ofamoso Malleus Malelicarum talvez o caso mais tIpicoda Idade Mdia para comos doentes mentais. Esse manual pres-creviao'tratamento"paraas possessesdemonacas eexerceutre-menda influncia particularmente na tradio crist, quer cat-lica quer protestante.Erelativamentenova a atitudehumansticaehumanitriaparacomas doenas mentais. Graas ao trabalho de pioneiros comoPhlllpePinel, naFrana, eDorotheaDix, naAmrica, foi introdu-zido no mundo moderno o conceito de "doena mental" e a con-seqente mudana de atitude para como seu tratamento. Con-forme esse coneelto humanstico, o portador de distrbios mentais "doente" e comotal deveser tratado. Nose trata de possessodemonaca, pormde algoquepode edeveser tratadopor mtodoscentneos. :lSemquerer diminuir o mrito da obra daqueles que procura-ramdar aos portadores de distrbios mentais umtratamento maishumano, modernamente temhavido importante mudana de inter-pretao. Comoficou dito acima, prevaleceu, atravs de muitos s-culos, a idiadeque osdistrbios mentais erampossesses de esp-rtos. Passou-se, ento, a consider-los como"doena". Atendnciahoje dizer que oconceito de "doena mental" teve sua utilidade,pormj no serve s cincias do comportamento, por algumasrazes fundamentais. Em prlmeiro lugar, o conceito de "doenamental" no atende ao critrio de uma definio mais precisa deenfermidade. Doena temuma causa identificvel, segue umcursotIpico e tem um ponto terminal predzlvel. Ora, o conceito de"doenamental" escapaa qualquer dessescritrios. Por outrolado,esse conceitotende a excluir a responsabilidade moral dopaciente.Hoje, portanto, prefere-sefalar emdesordemde comportamento,aoinvs de "doena mental", ressalvando-se, entretanto, a diferenaentre "doenas mentais" e "doenas dos nervos". Sabe-se multobemque, nagrande maioriados casos, oschamados "doentes men-tais" no esto enfermos emvirtude de qualquer causa de ordembiolgica ou, comose diz nos meios acadmicos, so enfermidadesfuncionais.Amudanade atitudeparacomosdistrbios mentais possibili-tou oaparecimento de novos mtodos teraputicos, mtodos que, aprncpo, se chocaramcoma postura tradicional da religio. Alis,alguns desses mtodos foramelaborados como que contra a reli-2. James C. Coleman, Abnormal Psychology and Modern Life, Chicago:Scott. Foreman and Company (1965), pA.gs. 25-54.giao. R. Finley Gayle (1956), citado por Drakeford, sugere que aguerra entre religio e cincia resultante dessa nova interpretaodesenvolveu-se ao longo de trs linhas principais: comrelao aomundo aoredor do homem, comrelao aomundo do homemecomrelao ao mundo no homem. Digamos umpouco mais sobreessas reas de conflito.Com relao ao mundo ao redor do homem, essa guerra foicausada grandemente pela Revoluo Cientfica. As descobertas deOoprnco e de Galileu, por exemplo, mudaramo conceito trad-cional do universo. Areligio tradicional recusou-se a acettar aevidncia centnca, para proteger a "f", e o resultado foi o ine-vitvel conflito entre cincia e "religio".Comrelao ao mundo do homem, a teoria da evoluo, espe-cialmente como se encontra no trabalho de Charles Darwin, fezdapessoahumana objetode estudocientlfico, tirando-odapreten-sa posio especial emque por seus prprios preconceitos se haviacolocado emrelao ao universo, e estabeleceu o princpio de quea diferenaentre ohomemeos outros animais mais de graudoque de qualidade. Em outras palavras, a teora da evoluo dasespcies estabeleceu o principio da continuidade entre o compor-tamento humanoe o comportamento animal.Comrelao ao mundo dentro dohomem, essa guerra foi cau-sada. principalmente pela revoluo freudiana. Seja qual for ainterpretao que se d obra de Sigmund Freud, no se podenegar que ele provocou tremenda mudana na interpretao queo homem tradicionalmente deu de si mesmo. Freud chamou aatenopraas causas irracionais docomportamentoesugeriuqueomundointerior dohomem mais decisivo para oseucomporta-mento do que suascircunstncias externas. Comoj foi dito nou-trolugar destelivro, Freudcomparou a religiocomneurose obses-siva, isto , explicoua idia de Deus emtermos doque ele chamoude complexo paterno. Deus, para Freud, nada mais do que aidia magnificada de nosso pai, a quemprofundamente amamoseodiamos ao mesmo tempo e do qual dependemos para nossa se-gurana emocional.Oataque de Freud religio talvez muito mais srio doquequalquer cutro que j tenha sido feito a esse aspecto do compor-tamentohumano. Comoresultado, verificamosque muitos procuramrejeitar a teoria freudiana por razes filosficas. Outros. porm,vo ao extremo de aceitar semesprito crtico tudo o que Freuddisse, apenas para pareceremcentlfcos emsuas atitudes e inter-pretaes do fenmeno religioso. Lamentavelmente, nessa ltimaclasse que se enquadrammuitos autores de livros sobre psicologiada. rellgio. Parece que tais autores esto simplesmente tentandoprovar a tese freudiana. Portanto, ao invs de pesquisas orienta-das pelo esprito cientfico, simplesmente procuramdados compro-batros dos postulados psicanal1ticos. A nossover, a posio maisrecomendvel aquelasegundoa qual se reconhece a grande con-tribuio deFreudemmuitas reas de estudo psicolgicodo fen-meno religioso, eaquela emque se critica a teoria freudiana nonecessariamente embases filosficas, mas embases empricas.O. Hobart Mowrer. diretor de pesquisas psicolgicas naUniver-sidade deIllnos, ataca ofreudansmo embases empricas, isto ,baseado emevidncias coletadas de centenas de fontes experimen-tais. Mowrer, que praticou psicanlise por cerca de vinte anos,chegou. concluso dequea maioriadospostulados freudianos notemo apoio dos fatos observados sob controle experimental. No esseolugar prprioparadiscutira obradeMowrer, queabrangevrios volumes de alto gabarito cientlfico. Bastaria, aqui, indicaraoleitorinteressadodoispequenos volumes: The CrisisinPsychia-tryandReligion eTheNewGroup Therapy, emque Mowrer trata,de modo especncc, doproblema da religio e sua relao comafuno psicolgica normal. Para mencionar apenas dois pontosespecIficos da posiodeMowrer comrelao sua critica da teo-riafreudiana, particularmentenoque se refere religio, diremos,emprimeirolugar, que dados experimentais revelamseremas neu-roses produzidas no pela represso motivada pela censura dosuperego, mas pela falta de expiao dosentimento de culpa real(no neurtico, como queria Freud>, produzdo pela violao dosvalores ticos aceitos pelo individuo. Assim, pois, ao invs de serinterpretada comoneurose obsessiva, a religio sadia pode ser, narealidade, fator de grande importncia no equlbro emocional dohomem. Quanto ao argumento freudiano de que a religio umaespcie de fraqueza congnita, Mowrer advoga que ela fator 1m-portantssmo para a sobrevivncia do individuo face s grandescrises da vida. H evidncias de que ndvduos de profunda con-vicoeexperincia religiosas resistemmelhor s presses da vida.Talvez uma das evidncias mais fortes desse fato seja oextraordi-nrio trabalho de Viktor Frankl, especialmente em seu livrinhoMan's Search for Meaning: An Introduction to Logotherapy, noQual ele conta suas experincias numcampo de concentrao naAlemanha de Hitler. Conforme o testemunho de Frankl, os indi-vduos que tm "uma razo para viver" resistemmuito mais aosterr1veis sofrimentos de umcampo de concentrao. Af religio-sa parece ser umdos fatores principais emdar ao homemessadimenso a que se chama esperana. a respeito da qual existemhoje teorias psicolgicas, comoa prpria Iogoterapa ou psicologiaexistencial, advogadas por Frankl, Rono May e muitos outros, eteorias teolgicas, comoa de JurgenMoltmann, emseu j famosotrabalho Teologia da Esperana.Leslie D. Weatherhead, emseu livro Psychology, Rellcion. andHealing (1950, tentaconciliarsuaposiofreudianacom suainter-pretao do cristianismo. Quanto tese fundamental de Freud227de que religio nada mais doque a projeo de nossas necess-dades e dependncias da imagem paterna, Weatherhead respondecomtrtpleeargumento:1) Desejar umpai noinvalida ofato deque elepossa exis-tir. Weatherhead reconhece que provavelmente a tese de Freudquanto origemda idia de Deus verdadeira, pormacha.que,mesmo assim, isso no prova de que Deus no existe. Aneces-sidade de comer pode levar ohomema pensar no alimento, masofato de desej-lononegasua existncia. Pela mesma razo, anecessidade espiritual no nega a existncia de Deus como reali-dade objetiva. Oerro fundamental de Freud, portanto, constituiemafirmar dogmaticamentequeDeusnoexiste enempode em-tir. Diz ele, emMoiss e o Monotesmo: "Nunca duvidei de queosfenmenos relgtosos devamser encarados apenas comoexemplode sintomas neurticos do ndvduo, sintomas esses familiares atodos ns eque representamumretomo a acontecimentos impor-tantes h muito esquecidos na histria primeva da fam1lla e quedevemseu carter obsessivo a essa mesma origem." E continua:.1 Apsicanlise provouque a idia deDeus na vida doindividuo ena vida dos povos temsua origemna venerao e exaltao dopai." Comov oleitor, as "provas" de Freud nada provam, poisso meras opinies pessoais e, comoopinies pessoais, so to boascomoas de qualquer outroindivIduo. Nopodemos deixar de im-pressionar-nos como tomdogmtico das afirmaes de Freud, oque indica sua atitude pouco cientlfica no s neste ponto, mastambmemtoda a suafabulosa teoria psicanal1tica.2. Ocristianismo uma religio histrica, e no uma reli-gio inventada para atender a uma necessidade. Ocriticismo deFreud, nesse ponto, pode ser vlido se aceitarmos sua definioderelgto tal comoa encontramos emseu livroOFuturodeumaDuso. Freud assim a conceitua: "Areligio consiste de certosdogmas, asseres acercade fatos e condies de realidade externa(ouInterna) que falamao homemalgoque eleno descobriu porsi mesmo e que exigemdele oassentimento ou crena." muitoprovvel que esse conceito se aplique a muitas religies, mas noao cristianismob1blico, pois, comodizBarry, Bispo de Southowell,citado por Weatherhead, "O cristianismo a histria de umjovemdedicadoa uma nova era de Amor e Verdade, Justia eLiberdademorto por umestado totalitrio, emextrema agonia de corpo ealma, quebrantado pelas duras realidades da vida, vendosuas pre-tenses desacreditadas e sua causa perdida, conservando, atravsdo desastre e da derrota, suaserena confiana emDeus, e que fOivitorioso na hora da derrota. Foi-lhe oferecida uma religio deescapismo, mas, nos quarentadias quepassou nodeserto, elea re-jeitou decisivamente. Recusou-se a viver num mundo interior desonhos esemrelaocomosfatos da vida ea atualidade concreta228do munq,o."3 Ocristianismo, conclui Weatherhead, forma devidaquesubentendeafnoCristohistricoeem suarelaonicacomDeus e na transformao da vida do homematravs de seuESplrito.3. O cristianismo por demais austero emsuas exignciaspara ser mera iluso inventada pelo homem. Freud fala de cris-tianismo como se fOSSe algo inventado para, acalmar temores e -fugir das realidades da vida. A histriaeexperincia doerstans-momostramque isso no verdade. Pelocontrrio, ocristianismoverdadeiro ajuda ohomema enfrentar mais objetivamente a rea-lidade desuaprpriafinitude edainescapvel tragdiadomundo.Quanto tese, nosfreudiana, mas tambmdemuitosoutros,dequeareligioemsi umaformadeneurose, temos dereconhe-cer que h formas de religio ou pelo menos certas atitudes rel-gosas que podem resultar em distrbios mentais. Weatherheadapresenta algumas dessas possibilidades de perverso religiosa.Emconsonnciacoma tese freudiana deque a religio umaespcie de iluso, Weatherheadconcorda que, de fato, muitos nd-vduos a usam como fuga da realidade. Neste sentido podemosdizer quetal comportamentoreligiosomuitosemelhanteecumpreos mesmos propsitos dos chamados mecanismos de defesa usadoapelos neurticos.Areligio pode tambmser usada para garantir ao homemumaseguranafalsa. Nestesentido, podemosdizer quea tese mar-xista verdadeira, isto e, tal forma da religio , de fato, umaespcie de pio que conserva o indivIduo fora do contato comarealidade.Outro fato amplamente reconhecido que a religio pode serusada comofuga das conseqncias dos erros cometidos pelond-vlduo. Mowrer critica especialmente certas formas de tradiopro-testante quetmposto toda a nfase da religionas relaes ver-ticais dohomem, negligenciandosuas relaes horizontais. Quandoohomempeca, oconselheiro religiosolhe diz: "Ore a Deus, e eleperdoar o seu pecado." Aqui est a relao vertical da religioentre o homem e Deus. Esquecemos, entretanto, que o pecadoenvolve e afeta as relaes humanas. Aqui temos a relao hor-zontal da r.ellgio - entre ohomeme oseu prXimo. Asimplesconfisso verbal nessa relao vertical, sema devida expiao daculpaqueresultarna curadas relaes horizontais, pode produzircerto aUvio momentneo, mas, emltima anlise, esse efeito nar-ctico nada mais do que uma forma de neurose. Ressalve-se,entretanto, que h casos quando a expiao da culpa no podedar-se pela reparaodo dano causado, mas mesmo assimnose3. LesUe De . Weatherhead, Paychology, Religion and H.aling, NewYork:Abingdon Press (1952), pg. 401.exclui a necessidade de comunicaono nlvel horizontal, quer dire-tamente, isto , coma pessoa afetada por nosso pecado, quer demodo"vcro", atravs de outro agente humano.Finalmente, a religio pode ser usada para dar ao individuouma aparncia de santidade narcisista e egosta.O Prof. Wayne E. Oates, em seu livro Religious Factors inMental llness, procurou investigar opapel da religio nas doenasmentais. Os resultados de seuestudo indicamque 17,2%dos casossugerema existncia de conflito devido rebelio ousubmisso doindivduo crena de seus pais. Para tais ndvduos, a religioera nociva no por ser religio, mas porque ela,. de alguma forma,simbolizavaa autorIdade dos pais, contraquemesses ndvduos, ve-ladaouabertamente, se rebelavam. Empelomenos 10,3%doscasosa religio era usada como uma espcie de ltimo recurso para re-solver problemas insolveis, justificar falhas nas relaes' pessoaise falta de controle prprio. So esses os ndvduos que se torna-ramreligiosos, porque no encontraramqualquer soluo adequa-da para os seus problemas pessoais. Omesmo estudo revelou que20,5%apresentavamsua condio pscttca, "vestida" de idias reli-giosas. Esses ndvtduos usam a linguagemreligiosa simplesmentepara ganhar a ateno do ministro religioso. Em51,5%dos caso",no houve qualquer revelao de interesse religioso ou pelo menoso que se pudesse chamar preocupao religiosa no passado. Essaobservao particularmente significativa porque esses ndvduosprocedemde uma regio no suleste do Estado de Kentucky, conhe-cida como uma das comunidades chamadas de "cinturo blblco",que temproduzidogrande nmero de seitas exticas.Nesse estudo do Prof. Wayne E. Oates, ficou evidenciado queem72%doscasos nohaviaqualquer relaoentrereligioedoen-a mental. Isto, nose pode atribuir ao fator religioso qualquerpeso considervel quanto ao estado mental desses ndvduos.Comparando seu estudo com outro feito pelo Prof. SamuelSouthard, oDr, Oates chegou s seguintes concluses:No h qualquer relao entre afiliao religiosa, quer emtermos da denominaoaque oindividuopertence, quer emtermosde suarelaocomumaigrejalocal eadoenamental doindividuo.Amaneira como a religio ensinada determina grandementea rejeio, aceitao ou os conflitos emocionais causados na vidado individuo.Os pais eresponsveis peloindividuosodecrucial importncianoprocesso doensinoda religio, pois oconceitodeDeus e a ima-gemdos pais facilmente se confundemna percepo do paciente.44. Wayne E. Oates, Religious Factors in Mental IIIness, New York:Assoclation Press (1959), pgs. 1-30.o estudo do Prof. Oates precisa ser examinado mais critica-mente, porque ele apresenta muitas falhas na metodologia e fazmultas generalizaes aparentemente apressadas e baseadas numa"amostra"demasiadopequena. Oautor nos d a impressode que,emmuitas casos, est apenas procurando confirmaes para suashipteses claramente freudianas.Muitoimportantea esserespeitoa clssicadistinofeita porWilliamJames entre o que ele chamou de "relgto da mente sa-dia" e"almadoente", ouseja, a religio da mente doentia.Ar1igioda mente sadia caracteriza-se por seu esprto ale-greeotimista. Nodizer de FrancisW. Newman, citadopor James,essaspessoas tendemaver Deusnocomoumjuizsevero, oucomoumglorioso potentado, mas como Esplrito bondoso, misericordiosoe puro que dvida e harmonia ao unverso, Areligio da mente.lIadia t1picadosndvduos extrovertidos, isto , de indivlduosquese intereasame se preocupammaia como que acontece ao seuredordoquecomaquiloquesepassadentrodoseumundointerior.Ordinariamente, esse tipo de religio mais liberal emsua teolo-gia. OindivIduosempresepreocupa mais comosaspectos prticosda tica ensinada por sua religio do que comseus aspectos pu-ramente tericos ou abstratos. Dlficilmente esse ndvlduose tor-nar professor de teologia. Finalmente, a religio da mente sadia aquela emque o crescimentose d mais comoprocesso gradualdoque comoexperinciabruscae, s vezes,violentaouespetacular.Por outro lado, a "alma doentia" caracterizada por sofrimento.Isso no significa, necessariamente, que tais personalidades sejampsicopatas. Sugere apenas quesua experincia religiosa marcadapor profundo senso de tragdia pessoal. Exemplos tpcos dessaexperneareligiosaencontramosemTolstoi, Bunyane Kierkegaard,todos marcados por grandes sofrimentos pessoais e todos persona-lidades altamente criativas.Muitos autores vem bastante semelhana entre as neurosese certas formas de religio primitiva. O presente autor desejafazer pesquisas nessa rea, especialmente para verificar se h ounoqualquer relaoentreoscultos afro-brasileiros e as chamadasdoenas mentais. ODr. Ren Ribeiro, do Sanatrio Recife, umdos estudosos do assunto. Veja principalmente seu livro CultosAfricanos do Recife: Um Estudo de Ajustamento Social (1952).Freud discute essa relao no seu j citado livro Toteme Tabu.Afirma ele que adorao dos antepassados uma fixao neur-tica no pai ouna me e que incapacita o indivIduo de tal modoqueelepassatodaasuavidasobodomlnioeinflunciadasomb:t'apaterna ou materna. Freudsugere tambma semelhana entre oritual primitivo e certas formas de neuroses compulsivas. ErichFromm, por outro lado, v resqulcios de totemsmo emindivlduoscuja nica devoo ao Estado, a seu partido pol1ticoou a seuclube seeal, Paratais indivlduos oEstado, p a r t i d ~ ouclube socialse toma onico critrio de verdade.Comoj se fez notar noutro lugar, Freud observou tambmsemelhanasentremanifestaes neurticase anooreligiosapri-mitiva de tabu. Tabu umconceito Que contmdois elementoscontraditrios. Tabusignificasagradoouconsagrado, mas aomes-motempo perigoso, proibido, impuro, egeralmenteh proibies erestries a respeito dotabu. Freudmencionou trs formas de re-lao entre tabu e comportamento neurtico.1) Emambos, ondvlduosente-senaobrigaodeobedecer acertasproibies,pormnosabe por quefaz-lo. OindivIduotemcerteza de que a quebra dessa proibio trar inevitvel desastrepara sua vida.2) Nos tabus, como nasneuroses, quasesempre huma prolb-o neurtica quanto ao tocar no objeto sagrado. Essa proibiorelaciona-se no scomotoque direto noobjeto, mas at mesmocomo sentidofigurado desseato detocar. Assim que, emmuitoscasos, at mesmo certos pensamentos so proibidos.3) Emterceiro lugar, observa Freud, tanto o tabu como aneurose compulsiva tm extraordinria capacidade de se transfe-rir de umobjeto para outro.Mesmo admitindoquehajasemelhanaentrecertasformas pri-mitivas de religio e determinados tipos de comportamentoneur-tico, isso no significa que rengo seja necessariamente umaneurose obsessivacoletiva comopretendeuFreud. Talvezseja maisrazovel dizer-sequeas formas imaturasdereligiopodemser pre-judiciais ao bomfuncionamento da personalidade, porma exis-tncia de imaturidade religiosa de muitos no pode e nemdeveinvalidar aexperinciareligiosacriativademilharesdepessoasqueatingemalto nlvel de eficincia pessoal como decorrncia de suacrena religiosa. Podemos dizer, comDrakeford, que existe hoje,nocampodasademental, uma tendnciaparareconhecer ovalorda religio comofator importante na integrao da personalidadehumana. Verificamos, portanto, que, nas relaes entre religioeascincias interessadasnasademental dohomem, passamos dafase de conflito e oposiodeclarada para a fase de coexistncia.pacrca, e agora estamos comeando umperodo de mais estreita icooperao dessas duas reas da atividade humana. Livros comoIPsychiatryand ReJigious Experience, por LousLinn (psiquiatra) eiLeoW. 'Schwarz (ministro dereligio), Minister andDoctor M e e t ~por GrangerE. Westberg, The Doctor andThe Sou}, dofamosoP.SijqulatraViktor E. Frankl, soexemplos doreconhecimento doeresIcente significado da religio para a sade mental. !'Talvez mais do quequalquer outro grandepsiquiatrado m u n d ~moderno, Carl G. Jung tenha contribuldo para o reconhecimentpda significao da experincia religiosa como fator de equ1llbt10emocional doindivIduo. Citando determinado ministro protestanteque afirmaraque hoje emdia opovovai mais ao psiclogo do queao clrigo, paratratar de seus problemas emocionais, Jung contra-argumenta comumdos trechos mais citados de SUa vasta biblio-grafia:"Gostaria de chamar a ateno para os seguintesfatos. Durante os ltimos trinta anos, gente de todasas naes civilizadas da terra me temconsultado. Te-nho tratado muitas centenas de pacientes, a maioriad ~ l e s sendo protestantes, pequeno nmero de judeus eno mais de cinco ou seis catlicos praticantes. Entretodos os meus pacientes, nasegunda metade da vida-isto , almde trinta e cinco anos de idade - nuncahouve umsequer cujo problema no fosse, em ltimaanlise, ode encontrar uma interpretao religiosaparaa vida. Pode-se dizer, semmedo de errar, que cada umdeles adoeceu porque perdeu aquilo que a vida religio-sa temoferecido ao homemde qualquer poca, e ne-nhumdeles foi realmente curado semhaver readquiri..do essa interpretao religiosa da existncia. Isso,entretanto, no quer dizer que tais individuos fizeramprofisso de f em determinado credo ou que se filia-ramao determina.da igreja."5E, na mesma obra, ele diz que o decl1nio da vida religiosaaumentao lndice neurtico. Estas e outras passagens clssicas fi-zeramde Jung uma espcie de patrono da importncia do fatorreligioso. Entretanto, como j fizemos notar noutro lugar, ne-cessrioter cuidado, pois, se seguirmos mais atentamente opensa-mentode Jung, veriticaremos que seudesravor maior do que seufavor quanto . importncia da religio no equillbrio da persona-lidade.Como jfizemos notar neste capitulo, outra expresso da cres-cente cooperaoentre religio e sade mental o reconhecimentode organizaes profissionais que tratamde promover Q bomfun-cionamento do homemna sociedade. Aqui est uma importanteafirmaode "GrupoparaoDesenvolvimentoda Psiquiatria":"Por sculos, religio e medicinase tmrelacionadointimamente. Apsiquiatria, comoramoda medicina, temestado to intimamente relacionada coma religio que,s vezes, era diflcil separ-las. Na proporo em quea cinciase desenvolveu, entretanto, medicina e religiossumram funes distintas na sociedade, mas conti-nuama partilhar o alvo comum, que o bem-estar doser humano. Isso tambm verdade do mtodo psi-quitrico chamado psicanlise. Ns como 'Grupo paraoDesenvolvimento da Psiquiatria' cremos na dignidadee na integridade do individuo. Cremos que o alvo porexcelncia do tratamento levar oindividuo a assumir5. Carl G. Jung. ModernManinSearchof aSoul (translated by W. S. DeltandCa.ry F. Baynes), NewYork: Hat:court, Brace&World, Inc. (1933).p.g. 229.sua responsabilidade nasociedade. Reconhecemos que ainfluncia dolar esua contribuiona educaomoraldo indivduo de crucial importncia. Reconhecemostambmoimportante papel que a religio pode desem-penhar na formao e melhora dos estados emocionaise morais. Os mtodos psiquitricos visama ajudar ospacientes a alcanar sade emsua vida emocional, demodo que possam viver emharmonia coma sociedadee seus padres. Acreditamos que no h conflito entrepsiquiatria e religio. Na prtica de sua profisso ocompetente psiquiatraser, portanto, sempre guiado poressa crena."G 'Outra evidncia da presente relao entre religio e sademental ocrescente interesse da educaoteolgica no estabeleci-mento de cursos destinados preparao de pastores que possamfuncionar como conselheiros de sua comunidade. Especialmente ochamado treinamento clinico doministrio, j mencionado no pri-meiro captulo, de grande importncia nesse respeito.At aqui temos falado da relao geral entre sade mental ereligio. Vejamos agora algo mais especfico quanto contribuioda religio para a sade mental doindivduo.Importante pesquisa feita nos Estados Unidos e publicada emAmericans ViewTheir Mental Health revela que somente 46%dosindividuos que receberamservios psiquitricos acharamque valeua pena haveremprocurado um psiquiatra para ajud-los na so-luo de seus problemas 'emoconas. Por outro lado, 65%dos queprocuraramministros religiosos disseramque receberamajuda er-caz. Pode-seargumentar, comrazo, que OS casos tratados por psi-quiatras seriam ordinariamente muito mais srios, mas, mesmoassim, parece bvioque religio muitoimportante no tratamentode desordens mentais. Oproblema da desintegrao do "eu" temsempre um fundamento de ordemreligiosa. Areligio, portanto,pode contribuir positivamente para o equil1brio emocional dohomem.Drakefordsugere os seguintes pontos como contribuies espe-e1ficas da religiopara a sade mental doIndivduo:a) Areligio pode oferecer ao homemumsentido de segu-ranacsmica. Ohomemmodernosente-seisolado nomundo. Essaisolao fz que ele veja ouniverso emque vive como essencial-mente hostil. Precisa, portanto, de algo que lhe oferea seguranapara que se possa sentir bemno mundo. Ogrande telogo PaulTillich fala da alienao e alheamento do homemcomo um dosproblemas mais srios de todos os tempos. Areligio deve dar aohomemsentido de unidade como universo. Se no encontra essaunidadenareligio, elea buscaremoutras fontes. Acondiodo6. Thomas A. C. Rennie et a1., Mental Health in Modern Society (946).citado por John Drakerord, op. cit., ]!lg. 157.homemmoderno atestafartamente essa afirmao. Drakefordafir-ma, comrazo, que oneurtico obsessivoest, comseu comporta-mento, tentando desesperadamente estabelecer ou criar ummundoemque haja ordeme livre de pavores e eventos que quebremarotina de sua vida dIria. Lembramos mais uma vez, nessa co-nexo, o trabalho de Anton Bosen, que, comoj foi dito, v naesquizofrenIa umesforodohomemno sentido de evitar as forasdestruidoras da integridade doseu 'eu". Claramente a esquizofre-nia uma tentativa baldada eerrnea, mas, doponto de vista doesquizofrnico, talvez o ltimo cartucho a seu dispor. 1: multoprovvel que grupos exticos comoos "hippies" e os viciados emmaconhaeoutras drogas alucnatras representemumdesviocau-sadopor desiluso da religiooupor falta deuma procurahonestapara a soluo dos problemas esprtuas do homem. Em outraspalavras, o que estamos sugerindo que esses problemas so denatureza religiosa, e somente osentido de segurana csmica ore-recIdopela concepo religiosa da vida pode ajudar essa nova ge-rao de desesperados. Uma prova do que estamos dizendo quemuitos"hppes" eadictos aoLSD esto se voltando para as re-Iges orientais, especialmente para o hindusmo. 1: esse o casodos famosos "Beatles" e da no menos famosa atriz Mia Farrow,que hoje so adeptos do mstco hindu que desenvolveu o mtodoioga da chamadaMeditaoTranscendental.b) Areligio pode oferecer motivao para a vida. Algunscriticama rellgio porque ela, fornecendo ao homem este senti-mento desegurana csmica, tende a faz-lo indiferente para coma vida real. Essa a critica por excelncia feita pelos marxistas.Dizemque. a religio, preocupando-se coma vida alm, tende anegligenciar a vida dolado dec. Nestesentidoela uma espciedepio. O homem, aoinvsdetentarresolverseus problemas, lanatudo nas mos de Deus. Religio torna-se, ento, uma forma deescapismo. Concordamos que uma forma imatura de religio pro-duz tal efeito, mas uma genuna experincia religiosa d significa-o vida doindividuo e capaz de mudar ocurso desua exis-tncia. Tal experincia jamais poderia ser considerada pio ouanalgsico. Ao contrriodisso, elatemsido, atravs dos sculos, umadas experincias mais criativas da histria humana.c) Areligio ajuda o homem a aceitar-se a s mesmo. Oneurticotipicamente passaa maor parte doseu tempo procuran-.do"derender-se". Devemos muito teoriapsicanal1tica pela formu-lao da teoria dosmecanismos de defesa. Nocontato com"neu-rticos", vemosa operaodessesmecanismos demodoclaro. Umaprofunda experincia religiosa leva ohomema aceitar sua prprafinltude eesta aceitao capazde lev-lo a evitar suas anseda-des rracoaas. Uma das vantagens de uma profunda experincIarelgosa que ela livra o homemda idolatria, que, na definiode Paul Tillich, significa absolutzar o finito, isto , atribuir valorinfinito aqualquer valor humano.d) Areligio torna possvel a expernca da confisso. Ope-cado, emlinguagemteolgica, ou falha moral, na linguagempura-mente humanista, produz o sentimento de culpa e isolamento. necessrio, ento, que o homemconfesse sua falha moral ou seupecado. Aconfisso tem efeitos catrtcos, Convmnotar, entre-tanto, que confisso sema devida reparao, sempre que possvel,tempouco ou nenhumvalor. Mowrer, no seu j citado livro TheCrisis inPsychiatryandReligion, observa que umdos defeitos b-sicos do mtodo confessional, especialmente nas trades catlicase protestantes, dar mais nfase dimenso vertical do que horizontal. Essa forma de confisso torna-se, diz Mowrer, umamodalidade de escapismo pelo qual o homemtema Ilusode li-vrar-se de suas responsabilidades morais. A verdadeira confisso,que tem, de fato, valor teraputico, aquela que leva ohomemareparar seu erro e a "sarar" suas relaes comseu semelhante.e) A religio oferece estabilidade emocional para os temposdecrises navida. Todohomemnormal temcrises navida. Via deregra, essas crises na vida humana servempara aperfeioar o ca-rter do homem. Parece haver evidncia de que as pessoas quetm uma experincia religiosa resistem melhor s presses dascrises emocionais. Otestemunho de Viktor Frankl significativo aesse respeito.f) Areligio oferece ao homemuma comunidade teraputica.Umdos conceitos fundamentais da Igreja Crist o de Koinoniaoucomunidade. Ofato depertencer a uma comunidade representaalgo muitoimportante para oindividuo. Ohomemprecisa per-tencer a umgrupo deseres humanos comos quais possa comuni-car-se no nvel profundamente pessoal. Na proporo emque osgrupos religiosos se institucionalizame se tornammeros ajunta-mentos formais, surge a necessidade de grupos teraputicos paraatender ao homem moderno. Mowrer, emseu livro New GroupTherap)', mostracomoesses grupos estosurgindo espontaneamenteemvrios lugares. Isso mostra que a religio cumpre importantefuno teraputica.Religio e PsicoterapiaParece haver pouca dvida quanto funo pseoterapnteada religio. Oproblema saber atque pontose pode usar a re-ligioparafins psicoteraputicos. Achamalgunsque, se algumusareligio para fins pragmticos, isso representa uma deturpao doverdadeiro e nobre propsito da religio. Para esses, portanto, oconhecimentoreligiosoea experinciareligiosaso fins emsi mes-mos. Outros, porm, achamque legitimo usar a religio parapromover o equ1l1brio e bem-estar emocional do individuo.No h dvida tambmde que, ao menos emseus primrdios,a psicoterapia temfundamento religioso. Coma independncia dosmtodos pseoteraputcos, entretanto, ela se tornou independenteda religio, e, emmutos casos, sua declarada rival.Nosso propsito aqui mostrar, em linhas gerais, os pontosde semelhana entre religio e psicoterapiaI as diferenas existen-tes entre elas e como podem cooperar para o bem comum dohomem.H, emnossos dias, literalmente, dezenas de mtodos pseote-raputcos. Alguns deles partemda mesma fundamentao tericae divergemapenas emdetalhes mais ou menos insignificantes. Ou-tros soaparentementerivais quanto fundamentaoterica, massejaqual for a situao, todos os mtodos pscoteraputrcos partemde certas pressuposies bsicas etodos,agrosso modo, tmomesmoobjetivo. Albert C. Outler, em seu livro Psychotherapy and theChristianMessage, menciona o que ele chama motivos fundamen-tais da psicoterapia. Entre eles, mencionaremos os seguintes:O primeiro pressuposto da psiquiatria o respeito pessoahumana. Eessa pressuposio que leva opscoterapeuta a relacio-nar-se com o paciente como pessoa humana e no como mero"casopsicolgico"ouumobjetade investigaopsicolgica. Confor-me Rogers, emseu famoso livro Client-Centered TIlerapy , Lisboa: Editorial Aster Ltda., 1962.von Hgel, Baron Friedrich, The Mystical Element 01 Religion asStudiedinSaint Catherine01GenoaandDer Friends (2Vols.),London: J. M. Dent & SomLts., 1961.Weatherhead, Lesl1e D., Psycholol"Y, Religion and Healine, NewYork: Abingdon Press, 1952.Westberg, Granger E., Minister and Doctor Meet, NewYork: Har-per &Brothers Publshers, 1961.Whitehead, Alfred North, Religion in the l\1:lking, NewYork: TheWorld Publlshing Company, 1960.251