Psicomotricidade Em Serviço Do Processo de Aquisição de Linguagem e Letramento
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PSICOMOTRICIDADE EM SERVIÇO DO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE
LINGUAGEM E LETRAMENTO
Leila Sanches Brandão1
Ana Cristina Cury Teodoro de Oliveira2
RESUMO: O presente artigo em visa realizar considerações sobre a importância da
psicomotricidade em serviço do processo de aquisição de linguagem e letramento na
educação infantil baseado em entrevistas de campo com profissionais que atuam na
área. A presente pesquisa busca esclarecer se o desenvolvimento motor e o equilíbrio
são, de fato, características fundamentais para que a criança desenvolva sua mentalidade
intelectual.
PALAVRAS-CHAVE: psicomotricidade; educação infantil; aquisição; linguagem;
letramento.
1. INTRODUÇÃO
Estudos cognitivos apontam que corpo e mente são entes interligados, pois nosso
primeiro contato com o mundo se dá através dos nossos sentidos corporais, e em
conseqüência disso algumas extensões de sentido são estabelecidas. Segundo o
especialista em lingüística cognitiva Mário Eduardo Martelotta (2008),
Segundo esse ponto de vista, nossa estrutura corporal é
extremamente importante, já que a percepção que temos do
mundo é limitada por nossas características físicas. A mente,
portanto, não é separada do corpo. Ao contrário, o pensamento é
corporificado no sentido de que a sua estrutura e a sua
organização estão diretamente associadas à estrutura de nosso
corpo, bem como às nossas restrições de percepção e de
movimento de espaço.
Isso significa dizer que o espaço em que habitamos transpassa em nossas falas, porque o
processo de cognição mescla nosso mundo. Dessa maneira, torna-se imprescindível
enfatizar a importância do corpo e das restrições que ele impõe ao modo como
experienciamos o mundo, pois é a partir disso que será desenvolvido o processo de
1 Graduanda em Pedagogia. 2 Possui graduação em Pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (1996), graduação em Educação Artística Desenho pela Universidade Federal do Paraná (2005) e mestrado em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2006). Tem experiência na área de artes, com ênfase em artes visuais, atuando principalmente nos seguintes temas: educação a distância, formação de professores, ensino de arte, projetos educacionais e educação continuada. Produz trabalhos de artes visuais como pinturas, gravuras, desenhos e esculturas. É professora na Faculdade Educacional da Lapa - FAEL.
significação e expressão do mundo. Para comprovação dessa afirmação é pertinente
citar, novamente, Martelotta "Os cognitivistas tomam os sentidos como sendo entidades
conceptuais que o falante faz de cenas ou fatos da vida cotidiana. [...]", portanto,
segundo os cognitivistas corpo e mente estão intrinsecamente conectados.
Nesta perspectiva, esse pensamento pode ser unificado à educação infantil através da
psicomotricidade para contribuir no desenvolvimento do sujeito no contexto de
aprendizagem, como o psicólogo especialista em educação infantil Henri Wallon afirma,
"o corpo é uma totalidade e uma estrutura interna essencial para o desenvolvimento
mental, afetivo e motor da criança." Logo, a psicomotricidade não atenderia somente a
dimensão motora da construção do corpo, mas também a emotiva e cognitiva, uma vez
que favorece e estimula o processo do conhecimento através da internalização de
construções sociais que se desenvolvem a partir dessa integração. Um corpo que é
atendido nessas três dimensões tende a evoluir e desenvolver suas potencialidades e
habilidades.
Para enfatizar as contribuições que a psicomotricidade fornece para a educação,
podemos citar Fonseca (1995), "A psicomotricidade é um meio inesgotável de
afinamento perceptivo-motor que põe em jogo a complexidade dos processos mentais,
fundamentais para a polivalência preventiva e terapêutica das dificuldades de
aprendizagem.", ou seja, sua utilização possibilita a detecção das dificuldades escolares
nas crianças proporcionando que se tome consciência das relações existentes entre o
gesto e a afetividade. A psicomotricidade nada mais é que um mecanismo - uma saída -
para o educador intervir na aquisição do conhecimento para melhorar seu desempenho
no contexto de educação infantil.
Logo, torna-se de fundamental importância considerar esses pressupostos e realizar
alguns questionamentos: Será que se o professor atrelasse a psicomotricidade à
educação infantil iria obter melhores resultados na educação infantil? Os professores
estão estimulando seus alunos da maneira adequada? Eles valorizam a importância da
psicomotricidade na aprendizagem? Afinal, como afirma Barreto (2000), “O
desenvolvimento psicomotor é de suma importância na prevenção de problemas da
aprendizagem e na reeducação do tônus, da postura, da direcional idade, da lateralidade
e do ritmo”.
Por isso, o presente trabalho decidiu entrevistar alguns profissionais que trabalham
diretamente com educação infantil ou possuem alguma ligação direta a temática
trabalhada com o objetivo de esclarecer sua aplicabilidade. Uma vez que estudos e
pesquisas sobre o tema estão cada vez mais frequentes e alusivos e dificilmente visam o
campo do desenvolvimento contribuindo para relação evolutiva da psicomotricidade
com a inteligência, afeto e emoção, e a aquisição de linguagem.
2. PSICOMOTRICIDADE: SUBSÍDIOS TEÓRICOS
Sabe-se que psicomotricidade enquanto ciência preocupa-se em estudar o movimento
humano, considerando o sujeito em sua totalidade e, como já dito anteriormente, pode
ser utilizada como um meio que auxilia o professor para um melhor desempenho de
seus alunos. Será Wallon (2005) que se debruçará sobre os estudos aprofundados de
psicomotricidade, ressaltando sua importância e relacionando o movimento ao afeto e
a emoção. Fonseca (2008, p. 22), outro especialista na área, reitera "para Wallon, a
evolução da criança processa-se em uma dialética de desenvolvimento na qual entram
em jogo inúmeros fatores: metabólicos, morfológicos, psicotônicos, psicoemocionais,
psicomotores e psicossociais."
No entanto, apesar de todos os estudos realizados na área e especialistas se debruçarem
sobre a causa, fica evidenciado a falta do desenvolvimento dos esquemas psicomotores
por parte dos educadores gerando uma problemática: crianças com dificuldade de
aprendizagem. Cabe ressaltar que o professor em si não é o culpado, pelo menos
acredita-se, uma vez que o educador recebe ordens e precisa seguir uma política própria
da escola, caso contrário é afastado de sua função ou demitido.
O estudo e trabalho da educação psicomotora prevêem a formação indispensável do
desenvolvimento motor, afetivo e psicológico da criança fornecendo a oportunidade
para que essas se conscientizem sobre seu corpo, por meio de jogos, de atividades
lúdicas e será com estudiosos como Le Boulch, Fonseca, Wallon, entre outros, que
buscaremos propor soluções aos questionamentos realizados na pesquisa.
Nesta perspectiva, é através da recreação que a criança desenvolve suas aptidões
perceptivas como meio de ajustamento do comportamento psicomotor. Para que a
criança desenvolva o controle mental de sua expressão motora, a recreação deve ser
realizada como atividades mentais de sua expressão motora, a recreação deve realizar
atividades considerando seus níveis de maturação biológica, assim como Piaget já
tratava na década de 60 e 70.
Ainda que muitos não concordem a brincadeira é a melhor maneira de se comunicar, um
meio para perguntar e explicar o mundo, é por meio desse instrumento que a criança se
relaciona com outras crianças e com o mundo. Brincando e interagindo as crianças
aprendem muito sobre si mesmo e tudo aquilo que as cerca, é oportunidade de procurar
a melhor forma de se integrar a esse mundo que encontram ao nascer.
De acordo com Le Boulch (1987), o desenvolvimento de uma criança é resultado da
interação de seu corpo com os objetos de seu meio, com as pessoas com quem convive e
com o mundo onde estabelece ligações afetivas e emocionais. O corpo, portanto, é a
extensão do seu ser e ver. É através dele que ela estabelece contato com o ambiente, que
entra no mundo, que compreende o outro. Todo ser humano tem seu mundo construído a
partir de suas próprias experiências corporais, sendo assim, a criança terá maior
habilidade para se diferenciar e para sentir essas diferenças, pois é através dele que ela
estabelecerá contato com o meio, interagindo em nível psicológico, psicomotor,
cognitivo e social.
Como já citado anteriormente por Barreto (2000), "o desenvolvimento psicomotor é de
completa importância na prevenção de problemas de aprendizagens e na reeducação do
tônus, da postura, da lateralidade e do ritmo." A educação infantil deve evidenciar a
relação através do movimento de seu próprio corpo, levando em consideração sua idade,
a cultura corporal e seus interesses. A educação psicomotora para ser trabalhada
necessita que sejam utilizadas as funções motoras, perceptivas, afetivo e sócio motoras,
pois somente assim a criança explora o ambiente, passa por experiências concretas,
indispensáveis ao seu desenvolvimento intelectual, e é capaz de tomar consciência de si
mesma e do mundo que a cerca.
Segundo Piaget (1975), é dos 7 aos 12 anos que ocorre a estruturação do esquema
corporal. A criança já adquiriu noções do todo e das partes do corpo, o início desta fase
é marcada pela imagem do corpo estática, mas por volta dos 10 ou 12 anos a criança
passa a ter uma imagem mental do corpo em movimento, e é denominada de estágio das
operações concretas. Este período marca uma modificação decisiva e importante no
desenvolvimento, mental, intelectual, afetivo, relações sociais e ainda outros aspectos
indicados como básicos na psicomotricidade que é a lateralidade, estruturação espacial,
orientação temporal e a percepção através dos cinco sentidos. Logo se trabalhado isso
com o rigor necessário no futuro, a criança pode não apresentar problemas de ordem
cognitiva, motora e afetiva.
Já na estruturação espacial, a criança percebe a posição do seu corpo no espaço. Em
seguida, a posição dos objetos em relação a si mesma. E por fim, aprende a perceber as
relações das posições dos objetos entre si, ou seja, passa a se ver no meio em que vive,
realiza relações entre os objetos e elementos, faz observações, compara, combina,
percebendo as diferenças e semelhanças.
Dando continuidade, é preciso citar sobre a orientação temporal, que é outro elemento
básico a ser trabalhado na psicomotricidade. Nada mais é do que a capacidade que a
criança tem de situar-se a partir de uma sucessão de acontecimentos, duração de tempo
e períodos. Como essas noções são demasiadamente abstratas, elas são adquiridas em
longo prazo e para que ocorra a aquisição da noção de sucessão são necessárias as
experiências sensório-motoras.
Portanto, estimular, analisar e avaliar as aprendizagens significativas das crianças
envolvidas no projeto através da estimulação psicomotora em seu desenvolvimento
motor, cognitivo, afetivo e psíquico, esse é o objetivo central da educação pelo
movimento que contribui para o desenvolvimento psicomotor da criança, da qual
depende, ao mesmo tempo, a evolução de sua personalidade e o sucesso escolar (LE
BOULCH, 1984, p. 24).
2.1 PROBLEMA E PESQUISA.
Diante de todas as teorias apresentadas será que os professores estão, verdadeiramente,
atualizados para aplicarem a psicomotricidade na educação infantil? Será que
compreendem sua importância e utilização em sala de aula? Estariam esses professores
comprometidos com seus alunos a ponto de aplicar a psicomotricidade na prática? Ou
estariam aplicando e ela não surte efeito? Por que, então, tantas críticas? Esse terreno
parece ser muito mais nebuloso do que parece.
Para responder a essas e outras questões foram realizadas duas entrevistas de campo
com uma pedagoga que atua no conselho tutelar de Duque de Caxias e com uma
professora de educação infantil formada em Letras - português/latim.
Seguem as entrevistas:
Entrevista I
Entrevistada: Marcia Cristina Conceição de Albuquerque3.
1. Como você vê a importância da educação psicomotora no desenvolvimento global da
criança na escola?
Marcia: Acredito que atividades psicomotoras auxiliam no desenvolvimento global das
crianças na educação infantil, pois são atividades simples, de origem lúdica que
3 Formada pela Unigranrio em pedagogia plena Unigranrio. Atua no conselho tutelar de Duque de Caxias como conselheira e leciona como professora de ensino fundamental no colégio particular Educacional Sanches Rosa.
abrangem várias áreas e ao serem trabalhadas de forma correta, por um profissional
especializado, colabora para a formação do aluno como um todo. (física, mental, e
afetivas).
2. Como você classifica a importância do desenvolvimento psicomotor na Educação
infantil?
Marcia: Acho interessante a integração entre as atividades psicomotoras, com um
conteúdo das demais disciplinas, fazendo das atividades psicomotoras fonte de criação
para realização de integração multidisciplinar.
3. No que diz respeito sobre o papel do professor da educação infantil, você julga
importante o uso de músicas e jogos? Em sua opinião, o que isso irá somar na educação
infantil?
Marcia: Com a utilização de músicas e jogos o professor poderá desenvolver diversas
áreas como ritmo, equilíbrio, relação interpessoal, regras e outros. Essas atividades são
importantes no processo de aprendizagem e em seu cotidiano.
4. Os pais tratam a psicomotricidade na educação infantil como um mero passatempo,
na condição de professor qual seria sua visão diante disso?
Marcia: É importante a conscientização dos responsáveis quanto às atividades de
psicomotricidade para que através das informações passadas pelos profissionais da área
haja a conscientização e se desfaça o conceito de “brincadeira de criança.”
5. Estudiosos evidenciam que é justamente na educação infantil que podemos perceber
o desenvolvimento da criança, diante dessa evidência qual seria a sua posição diante
disso?
Marcia: Durante atividades psicomotoras podemos sim perceber com clareza se o aluno
está em pleno desenvolvimento ou se há alguma dificuldade. Sendo percebido isso, é
preciso investigação e/ou encaminhamento para outro profissional especializado.
6. Você acredita que uso efetivo da psicomotricidade em serviço do processo de
aquisição de linguagem e letramento na educação infantil pode gerar resultados mais
contundentes que os atuais?
Marcia: Com certeza, o uso efetivo da psicomotricidade a serviço do processo de
linguagem e letramento acelera a aprendizagem e auxilia nas atividades dessa fase.
7. Pensando como educador o que poderia ser trabalhado na psicomotricidade em
serviço do processo de aquisição de linguagem e letramento com crianças da educação
infantil?
Marcia: O uso de atividades com o objetivo do desenvolvimento motor e cognitivo
como: amarelinha de letrinhas, alinhavo, dramatização como pequenas falas e outros,
auxiliam as crianças em seu processo de aprendizagem.
8. O que fazer quando nos deparamos com alunos desatentos, desmotivados,
indisciplinados ou incapazes de desempenhar atividades mais complexas? Diante desse
problema o que você como educador poderá trabalhar com esses alunos?
Marcia: Caso as tentativas do professor e/ou equipe técnica atuarem sem êxito é preciso
uma parceria com a família para que seja diagnosticado os motivos de tal
comportamento, recorrendo a outros profissionais, se necessário for. Dentre as medidas
cabíveis o diálogo, a proposta de atividades motivadoras e a criatividade são destaques
nesse caso.
Entrevista II
Entrevistada: Camila Antonia da Silva Santos4
Questionário
1. Como você vê a importância da educação psicomotora no desenvolvimento global da
criança na escola?
Camila: As crianças, desde muito cedo, conhecem seu corpo e a partir dele descobrem
diferentes sensações. A psicomotricidade auxilia no desenvolvimento da descoberta não
só do próprio corpo como o alheio.
Na educação infantil, percebo que as atividades que envolvem corpo em movimento são
as prediletas e mais desafiadoras. Elas ensinam regras, esquema corporal, ampliam o
vocabulário entre outros benefícios.
2. Como você classifica a importância do desenvolvimento psicomotor na Educação
infantil?
Camila: A importância é indiscutível e as atividades voltadas para essa temática são
presença vital na educação infantil. Presente no Referencial Curricular da Educação
Infantil é um direito da criança o movimentar-se, pois através de um simples
movimento, expressam emoções e pensamento.
O movimento deve ser visto como uma forma da criança, principalmente aquela que
está com a linguagem em construção, expressar seus desejos, angústias e também ser
participar da construção do seu conhecimento.
4 Graduada em Letras - Português/ Latim pela UERJ, com ênfase em Línguas Clássicas. Atua como professora na Creche Municipal Emília Joana Fonseca Marques (RJ/ 7ª CRE).
3. No que diz respeito sobre o papel do professor da educação infantil, você julga
importante o uso de músicas e jogos? Na sua opinião o que isso irá somar na educação
infantil?
Camila: Em 3 (três) anos de educação infantil, passando por diferentes turmas desde
berçário até maternal II, há um unanimidade do momento mais esperado serem as
músicas. Seja na rodinha, antes das atividades, ouvida, dançada; o fato é que as crianças
amam as músicas, principalmente as que envolvem mais gestos e expressões faciais. Ela
está presente em todas as turmas e em diferentes momentos. Então é inegável sua
importância para o desenvolvimento infantil e o prazer que ela proporciona no
ambiente.
Os jogos são desafiadores. Crianças pequenas aprendem pela repetição, então os jogos
são apresentados e gradativamente as crianças vão absorvendo. Em um primeiro
momento, eles têm certa resistência a regras e querem fazer o que querem, mas devagar
vão aprendendo as regras, esperar a vez etc. Até pela fase do egocentrismo os jogos
auxiliam a perceber o outro e respeitá-lo, sendo uma ferramenta que enriquece o
aprendizado.
4. Os pais tratam a psicomotricidade na educação infantil como um mero passatempo,
na condição de professor qual seria sua visão diante disso?
Trabalho em uma área carente em que a maior parte dos pais tem uma baixa
escolaridade e encaram a creche como um depósito de crianças, um mero local onde
deixam seus filhos para brincar e ser cuidado. Percebo que o cuidar é importante para
eles, sendo o educar, muitas vezes, algo que passa despercebido.
Nas atividades no pátio, muitos pais passam e ao ver os filhos brincando não conseguem
ver uma atividade pedagógica. É como se só as atividades nas folhinhas fossem
importantes.
5. Estudiosos evidenciam que é justamente na educação infantil que podemos perceber
o desenvolvimento da criança, diante dessa evidência qual seria a sua posição diante
disso?
Camila: A educação infantil é essencial para a criança. Quanto mais cedo ela entra, mais
percebo seu desenvolvimento. Por exemplo, a criança que passa pela creche antes de
entrar na pré-escola, tem uma adaptação mais fácil, um desenvolvimento e
independência maior.
6. Você acredita que uso efetivo da psicomotricidade em serviço do processo de
aquisição de linguagem e letramento na educação infantil pode gerar resultados mais
contundentes que os atuais?
Camila: Sem dúvidas. A criança para ter um aprendizado significativo é necessário que
ela participe da construção do seu conhecimento. Ela não pode ser um sujeito passivo!
Criança gosta de movimento, tem energia e canalizar isso na aprendizagem é prazeroso.
A criança precisa gostar de aprender e para isso tem que aprender por meio de algo que
goste, que prenda sua atenção.
Muitos profissionais querem uma turma mais calma, passiva e acabam não pensando no
bem-estar da criança, e sim, no próprio. É preciso mesclar atividades calmas e agitadas.
Diversificar sempre, pois quanto menor a idade, menor o poder de concentração. A
criança precisa explorar o corpo, o espaço e tudo que ali está exposto. É explorando que
ela aprende!
7. Pensando como educador o que poderia ser trabalhado na psicomotricidade em
serviço do processo de aquisição de linguagem e letramento com crianças da educação
infantil?
Camila: A psicomotricidade é um poderoso instrumento para o aprendizado. Por
exemplo: ao trabalhar a letra "A" com meus alunos e após apresentar a letra, desenhei-a
no chão para que os alunos caminhassem sobre ela. Assim eles “sentiram” a letra. Achei
essa forma muito mais eficiente e prazerosa.
As atividades com música ampliam o vocabulário da criança, e particularmente, são as
que eu mais uso para desenvolver a oralidade dos meus alunos.
8. O que fazer quando nos deparamos com alunos desatentos, desmotivados,
indisciplinados ou incapazes de desempenhar atividades mais complexas? Diante desse
problema o que você como educador poderá trabalhar com esses alunos?
Camila: É preciso primeiro saber o porquê do problema. O aluno está com problemas
familiares? Não está gostando da atividade? Meus alunos são o meu termômetro. Se
eles estão muito dispersos, percebo que a atividade não está agradando e logo mudo.
Muitos alunos entram indisciplinados por estar acostumado com o ambiente familiar,
então ele precisa de um tempo para adaptar-se. É preciso dar atenção a todos e estar
sempre atenta. Onde trabalho tem um livro chamado “Diário de Bordo”, nele os
professores registram o planejamento e tem um quadro em que colocamos como cada
criança se comportou diariamente. Semanalmente, fazemos o levantamento da turma
como um todo e se há uma criança que necessita mais da nossa atenção e de que forma
podemos reverter esse quadro. A proposta dada pela direção auxiliou muito a perceber
individualmente cada criança.
2.2 RESULTADOS DA PESQUISA
Foi verificado que os termos utilizados pelas professoras demonstram que a educação
psicomotora é um diferencial e é considerada por elas de grande relevância. Ambas
reconhecem a necessidade da empregabilidade de práticas psicomotoras na educação
infantil. Inclusive uma das entrevistadas alega utilizar com suas crianças da maneira
mais lúdica possível:
A psicomotricidade é um poderoso instrumento para o
aprendizado. Por exemplo: ao trabalhar a letra "A" com meus
alunos e após apresentar a letra, desenhei-a no chão para que os
alunos caminhassem sobre ela. Assim eles “sentiram” a letra.
Achei essa forma muito mais eficiente e prazerosa.
As atividades com música ampliam o vocabulário da criança, e
particularmente, são as que eu mais uso para desenvolver a
oralidade dos meus alunos.
(Segunda entrevistada)
No entanto, a primeira entrevistada pareceu desconhecer a temática ou ser mais
superficial que a segunda em vários trechos, demonstrando que há barreiras a serem
ultrapassadas para a verdadeira utilização da psicomotricidade na educação infantil:
2. Como você classifica a importância do desenvolvimento
psicomotor na Educação infantil?
Marcia: Acho interessante a integração entre as atividades
psicomotoras, com um conteúdo das demais disciplinas, fazendo
das atividades psicomotoras fonte de criação para realização de
integração multidisciplinar.
Diante desse contexto, Alves (2011, p. 24) destaca que:
A escola reconhece a necessidade do emprego das condutas
psicomotoras na Educação Infantil para a função de preparar a
criança para aprendizagens futuras. [...] O educador não pode
continuar investindo apenas em seu intelecto e em seu corpo
como instrumento de aprendizagem. A psicomotricidade tem
ação educativa e preventiva.
Nesta perspectiva é por meio da fala das professoras que podemos afirmar que de certa
maneira ambas se apropriam de modelos pedagógicos ora sem analisá-los e ora
utilizando-os com propriedade. A primeira entrevistada muitas vezes deixa de utilizar
alternativas psicomotoras que poderiam contribuir para uma prática pedagógica mais
efetiva e repete ações que impossibilitam um desenvolvimento integral do aluno. A
segunda entrevistada pode ser considerada um diferencial entre muitos educadores, pois
ela apresenta uma conduta mais ativa, atualizada e que valoriza a criança e não o que é
mais "fácil". Isso demonstra um maior domínio da integralização psicomotricidade mais
aquisição de linguagem, principalmente por meio da música, excelente instrumento na
construção da língua materna.
Portanto, ficou claro que a prática psicomotora não pode ser diretiva, uma vez que ela
precisa levar a criança a explorar o mundo exterior por meio de experiências concretas.
Um profissional da educação infantil mais atento e preparado faz com que muitas
dificuldades sejam amenizadas ou superadas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O educador que possui um maior preparo e conhecimento sobre a importância de se
trabalhar o desenvolvimento psicomotor consegue atuar preventivamente. Isso significa
dizer que essa prática diminuiria de forma expressiva intervenções que apenas suavizam
e não solucionam as questões relacionadas a dificuldades de aprendizagem.
Nesse contexto o desenvolvimento da educação psicomotora se torna extremamente
importante na educação infantil, pois o professor ficaria responsável por promover um
trabalho psicomotor com as crianças de maneira que atenderia suas necessidades a fim
de produzir um desenvolvimento completo dos aprendizes.
Contudo, aos professores sem preparo ou que desconhecem o uso da psicomotricidade
aliada ao processo de aquisição de linguagem poderiam ser realizados debates e
reflexões acerca da psicomotricidade no currículo da educação infantil, pois esta seria
uma intervenção direta e mais atuante. Nesta perspectiva, o professor passaria de
observador a facilitador, permitindo à criança situações e estímulos cada vez mais
variados, com experiências concretas e vividas com o corpo inteiro para trazer a
psicomotricidade sob um olhar pedagógico e preventivo.
Portanto, a educação psicomotora por meio de uma intervenção pedagógica lúdica tem
como papel fundamental promover o desenvolvimento de todas as potencialidades da
criança, objetivando sua capacidade intelectual em todas as áreas do conhecimento,
não só da linguagem, mas também no seu espaço de interação: o mundo como um
todo.
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