Psicomotricidade Terapia Assistida Por Animais DOWN

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    A PSICOMOTRICIDADE UTILIZANDO A TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS COMO RECURSO EMADOLESCENTE DOWN: UM ESTUDO DE CASO

    Snia Maria Prianti1, Ana Cabanas

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    1

    Ps-Graduao em Psicomotricidade, Instituto Superior de Piscomotricidade e Educao eGrupo de Atividades Especializadas, Faculdade de Medicina ABC,Rua Major Prado, 46, Moema, 04517-020, So Paulo, SP, [email protected]

    2 Programa de Ps-Graduao em Gesto e Desenvolvimento Regional, Universidade de Taubat,Rua Visconde do Rio Branco, 20, Centro, 12200-000, Taubat, SP, [email protected]

    Resumo- Trata-se de um estudo de caso com um adolescente com Sndrome de Down, em que sepretendeu mediante atendimento teraputico utilizar como recurso de apoio a Terapia Assistida por Animaiscom dois ces adestrados (Greta e Sharon), a fim de propiciar condies de organizao, independncia,socializao e qualidade de vida. A partir das Avaliaes Psicomotoras do Instituto Superior dePsicomotricidade e Educao Grupo de Atividades Especializadas foram identificados os principais

    problemas do cliente que serviram de base proposta de interveno psicomotora. Os resultados obtidosna reavaliao mostraram-se, em algumas reas, quantitativamente pequenos e, em outras, como Esquemae Imagem Corporal, quali-quantitativamente bom, sempre considerando os dficits caractersticos daSndrome de Down. Observou-se, ainda, um progresso referente ao aspecto da sociabilidade, haja vista quea retrao aparente do incio das atividades realizadas foi superada por um sentimento de colaboraodurante as atividades teraputicas, mas h muitos obstculos a serem vencidos. Nesse sentido, entende-seque o trabalho teraputico com este cliente deve ser de longo prazo, mais aprofundado.

    Palavras-chave: Sndrome de Down. Terapia Assistida por Animais. Psicomotricidade.

    rea do Conhecimento: Cincias da Sade

    Introduo

    Segundo Schwartzman (1999), Pueschel(2005) e Moreira, E-Hani e Gusmo (2000), aSndrome de Down (SD) o distrbiocromossmico mais comum e a mais comumcausa de deficincia mental congnita, que trsem si grandes riscos de patologias associadas:cardiopatia congnita, hipotonia, problemas deviso, problemas de audio, alteraes na colunacervical, distrbios da tireide, baixa imunidade,problemas neurolgicos, obesidade eenvelhecimento precoce.

    A criana com sndrome de Down apresentaum atraso motor significativo em relao acriana normal (sentar, ficar em p, andar), que vaiinterferir na sua percepo e explorao doambiente e conseqentemente na construo doseu conhecimento de mundo.

    Devido deficincia mental, relata Ballone(2006), que a criana com esta sndromeapresenta um cognitivo defasado, com dificuldadede abstrao portanto de fazer associaes econcluses que dependam de raciocnio ematemtica. Assim, aconselha Bissoto (2005), quese torna imprescindvel um trabalho teraputico de

    base, com grande importncia para um incioprecoce, que pode significar um diferencial no

    desenvolvimento cognitivo, na aprendizagem, nodficit de conscincia, adaptao, socializao,autonomia, auto estima, entre outros, em favor doo seu portador.

    De acordo com Loureiro (2005) apsicomotricidade por meio das leis que lhe regemest relacionada ao processo maturacional do serhumano sustentada por trs conhecimentosbsicos: motor, cognitivo e afetivo porintermdio da interao de sete fatorespsicomotores: tonicidade, equilibrao, esquema eimagem corporal (EIC), lateralizao, estruturaoespao-temporal, praxia global e praxia fina,

    observadas as condies de poder-querer-saberfazer. Esses fatores que fornecem subsdios paraa proposio de um tratamento teraputicoholstico com bases neuropsicossocial. No casoem questo, na implementao do tratamentoforam utilizados como recursos motivacionais cesadestrados.

    A TAA, que segundo Dotti (2005), utilizaanimais em atividades para desenvolver o incio deum relacionamento, propiciando entretenimento,motivao e informao com o intuito de melhorara qualidade de vida.

    Ainda pouco conhecida no Brasil, a TAA vem

    se firmando como uma grande aliada deprofissionais de reas diversas no tratamento de

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    seus clientes. Mediante Kaufmann (1997 apudAMORIM et al, 2003), o co se torna especial pelacapacidade que tem de transmitir alegria e cativaras pessoas podendo num primeiro momento serum importante aliado na interveno no tocante aafetividade e formao do vnculo e

    posteriormente com participao ativa nosatendimentos.O objetivo deste estudo foi direcionar o cliente,

    um adolescente com sndrome de Down, naconquista de condies de organizao,independncia, socializao e qualidade de vidautilizando os preceitos cientficos dapsicomotricidade tendo como recurso teraputico aTAA, no caso o ces.

    Materiais e Mtodos

    Foram utilizados dois ces da raa labrador

    (Sharon e Greta), adestrados e tambm objetoscorrelatos de uso dos animais, tais como: coleiras,guias, enforcador, pratos para ces, todos emcores, tamanhos e pesos diversos. Rasqueador,pente e escova, caixa de remdio (vermfugo),rao e ainda tintas, papel manilha, espelho, entreoutros.

    O estudo de caso foi realizado com umadolescente de 12 anos e seis meses comsndrome de Down, com sesses duas vezes porsemana (Tera e Quinta-Feira) com durao decinqenta minutos. Primeiramente foramrealizados testes psicomotores do Instituto

    Superior de Psicomotricidade e Educao-Grupode Atividades Especializadas (ISPEGAE), nosmeses de dezembro de 2005, maro e abril de2006, em oito sesses, para levantar asdificuldades do cliente e, ento, elaborar um planoteraputico adequado. As principais dificuldadesapontadas foram nos seguintes aspectos: EIC,lateralizao, tonicidade, aspecto grafomotor,potencial cognitivo evocado, aspectospsicopedaggicos, aspectos psicoafetivos.

    Os testes mostraram necessidade de trabalhara figura humana, haja vista que o clientedemonstrou ter quase nenhuma noo de EIC.

    Necessidade tambm de serem trabalhadas:sincinesias, persistncia motora, equilibrao,lateralizao e dissociao de movimentos. Suafala e linguagem so pouco compreensveis; tendodificuldade de compreenso de ordens simples,seguir regras e propostas embora sabendo fazer.Seguiram-se a elaborao do plano teraputico ea sua execuo. A interveno aconteceu noperodo de abril a outubro de 2006, perfazendo umtotal de 33 sesses. Os atendimentosaconteceram na sede da SociedadeValeparaibana de Ces Pastores Alemes(SVCPA) de So Jos dos Campos, entidade

    filantrpica de interesse pblico, que apia o grupoMotivao (do qual fao parte e que trabalha com

    TAA h aproximadamente 5 anos), cedendo umespao para o atendimento teraputico spessoas de baixa renda Na interveno foramtrabalhados: resgate da filognese, persistnciamotora, controle tnico (por meio dos opostos:forte/fraco), ritmo, ordens claras (olhos

    abertos/fechados), propriocepo, percepo econscientizao do corpo, funcionalidade,lateralidade, dominncia lateral, ateno,reintegrao teraputica/verbalizao dasatividades entre outras, utilizando-se sempre o cocomo elemento de apoio, que foram realizadasentre novembro e dezembro de 2006.

    Resultados

    Comparando os resultados quali-quantitativosobtidos nos testes bem como o desempenho narealizao das atividade e a relao terapeuta

    cliente foi possvel concluir por um saldo positivodo processo teraputico psicomotor.As avaliaes/reavaliaes demonstraram um

    ganho pequeno, quantitativamente em reascomo lateralizao, cognio, aspectospsicofuncionais, reintegrao teraputica,linguagem e dificuldade de expresso, praxia fina.Em outras reas h um ganho quantitativo equalitativo num nvel bom, como em EIC,verificado atravs dos desenhos da figura humanarealizados. Na equilibrao h uma melhora naqualidade dos movimentos verificados atravs defotos; o antes e o depois no andar com chinelo

    Toc-Toc e o pular corda antes no conseguiapassar a corda pela cabea.No aspecto psicoafetivo demonstrou ter

    alcanado certo grau de iniciativa e de realizaode ordens simples. No tocante a sociabilidade eafetividade os ganhos tambm podem serconsiderados bons, o cliente tornou-se maiscooperativo.

    Discusso

    As avaliaes/reavaliaes ISPEGAEdemonstraram um ganho pequeno,

    quantitativamente, em algumas reas como:lateralizao, cognio, aspectos psicofuncionais,reintegrao teraputica (linguagem e dificuldadede expresso) e praxia fina. Em outras, houve umganho quanti-qualitativo, num nvel bom, como notocante a EIC verificado por meio dos desenhosapresentados. Na equilibrao houve umamelhora na qualidade dos movimentos. Noaspecto psicoafetivo demonstrou ter alcanadocerta iniciativa e realizao de ordens simples.

    Ao comparar os resultados da avaliao e dareavaliao fundamentou-se em Fonseca (1995;1998), elucidando que a partir do momento que

    JLJ reconhece seu o corpo conto inicial sobre oqual se estrutura uma organizao sistmica por

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    meio de sete subsistemas (tonicidade,equilibrao, lateralizao, EIC, estruturaoespao temporal, praxia global e praxia fina)hierarquizados que se organizam, inter-relacioname trabalham de acordo com trs unidadesfuncionais cerebrais, seus rendimentos nas

    atividades teraputicas se elevaram. possvel verificar por intermdio dasFiguras 1 e 2, o desempenho de J.L.J., no teste deequilibrao, no tocante a dinmica global(dinamismo bipedal): Atividade Chinelo de Madeira Toc-Toc:

    durante a avaliao J.L.J. se apresentou rgidoe contrado, por outro lado na reavaliaopercebeu-se um corpo mais relaxado,facilitando a realizao do exerccio comdesenvoltura (Figura 1);

    Figura 1 Paciente em atividade Chinelo deMadeira Toc-Toc

    Atividade Pular Corda: na primeira vez, J.L.J.no passou a corda sobre a cabea, j nasegunda, realizou o exerccio com destreza(Figura 2).

    Figura 2 Paciente em atividade Pular Corda

    Como fomentado por Galvani (2002, p. 23), ohomem, por sua essncia, busca o equilbrio e, pormeio da psicomotricidade, pelo jogo antagnicotnico equilibra suas aes, movimentos eemoes.

    Foram considerados nos resultados os dficitscaractersticos da sndrome que o pacienteapresenta, como ressaltam Mesquita eZimmermann (2004), de maneira a que sejadevidamente estimulado, a fim de que suas

    limitaes sejam minimizadas, tanto quanto

    possvel. Tais estmulos esto relacionados aodesenvolvimento fsico, cognitivo e emocional.

    No tocante a sociabilidade e afetividade, osganhos tambm foram bons. J.L.J. mostrou-semais cooperativo na realizao das atividades emanifestou iniciativas como ser fotografado pela

    me, nas atividades em que mais se identificavacom os ces para que pudesse mostrar ao pai. luz da teoria de Fonseca (2004), a

    insegurana gravitacional ou postural pode trazerinstabilidade emocional, hiperatividade, ansiedade,distratibilidade, entre outras, impossibilitando aoindivduo integrar a informao sensorial e deorganizar as percepes ou as associaes denvel superior. Sob essa instabilidade nenhumaateno seletiva ou controle possvel e odesenvolvimento emocional e psicomotor ficamcomprometidos. J as dificuldades deaprendizagem tendem a aflorar.

    Nesse sentido, conforme as proposiestericas de Amorin et al (2005), que os resultadosobtidos foram decorrente da relao homem-animal proporcionada pela TAA.

    Concluso

    De modo geral, acredita-se que o trabalhointenso, focado na tonicidade e no EIC, realizouseus objetivos, tendo em vista que so bsicospara um desenvolvimento saudvel;imprescindveis para ganhos de aprendizagem e,conseqentemente, em qualidade de vida e

    independncia, itens estes que se delineiam nosresultados obtidos. Ressalta-se que a TerapiaAssistida por Animal (TAA) teve papelpreponderante como recurso de apoio,influenciando as tonicidades afetiva emotivacional.

    Avaliao Reavaliao

    Ressalte-se que a TAA teve papelpreponderante como recurso de apoio, por meiodos ces Sharon e Greta, influenciando atonicidade afetiva e motivacional do adolescenteDown. Isso significa que se a Psicomotricidadeforneceu as linhas a ser seguidas para otratamento, a TAA forneceu o apoio, a motivao

    necessrios para que o tratamento teraputicopudesse acontecer e avanar.

    Corda

    Avaliao Reavaliao

    Foi possvel observar o papel do co notocante a socializao, em manter a ateno, noestimular a realizao das atividades e no aceitardesafios. Porm, o tratamento deve ser vistocomo uma pequena etapa vencida e que temnecessidade de continuao para que os ganhosalcanados possam frutificar e os objetivospropostos serem solidificados.

    Apesar dos resultados obtidos no estudo decaso do adolescente J.L.J. com SD, aindaencontra-se defasado nos aspectos psicomotores:

    EIC, tonicidade, equilibrao, dissociao demovimentos e lateralizao.

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    Referncias

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